Jornal Comunicação

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Co::: unicação www.jornalcomunicacao.ufpr.br jornal laboratório do curso de jornalismo da ufpr edição 06 | setembro de 2008 COMPORTAMENTO POLÍTICA CULTURA PÁG. 3 PÁG. 7 PÁG. 8 Dificuldades de acesso às grandes editoras levam autores a publicarem suas obras por conta própria Na campanha eleitoral, candidatos a vereador usam as mais diversas estratégias. Descubra quais são elas Ajuda para alcançar o caixa eletrônico, frigobar como geladeira. Conheça a vida cheia de adaptações dos anões Industrializados e aditivos químicos: vantagens e desvantagens

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Jornal laboratório do curso de jornalismo da Universidade Federal do Paraná (UFPR) - Edição de setembro de 2008.

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edição 06 | setembro de 2008

ComportamentopolítiCaCultura

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Dificuldades de acesso àsgrandes editoras levam autoresa publicarem suas obras por conta própria

Na campanha eleitoral,candidatos a vereador usam as mais diversas estratégias. Descubra quais são elas

Ajuda para alcançar o caixa eletrônico, frigobar como geladeira. Conheça a vida cheia de adaptações dos anões

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Editorial A certeza das incertezas

Dizem que o que se come é refle-xo da personalidade de cada um. Há também quem diga que o futuro de alguém pode ser revelado pelo pó de café que resta no fundo de uma xícara. Verdade ou não, a alimentação costu-ma ser coberta de mitos e de dúvidas.

Um dos principais questionamen-tos atuais é em relação aos produtos industrializados. A desconfiança e as dúvidas que surgem não são poucas. Há sempre o produto que é a ‘bola da vez’ nas acusações: Certo refrigeran-te causa leucemia, a sacarina, usada em bebidas de baixa caloria, causa câncer de bexiga.

Essas acusações, entretanto, costu-mam não ser 100% comprovadas. Foi o caso da própria sacarina. Em 1977, nos Estados Unidos, a U.S. Food and Drug Administration (FDA) tentou ti-rá-la do mercado, devido a alguns es-tudos que mostravam que ela causava câncer na bexiga, no útero e no ovário. Até o fim da década de 90, era usada uma tarja de segurança em qualquer alimento que contivesse o aditivo. Já em 2000, o National Cancer Institute (NCI), após uma série de pesquisas, afirmou que não havia nenhum risco no consumo da substância, e a sacari-na foi ‘absolvida’. Mesmo assim, ainda existem inúmeros pareceres sobre a substância: alguns juram que ela cau-sa câncer, outros dizem que engorda.

O certo, portanto, é que nada é muito certo. Até agora, ninguém con-seguiu provar os reais malefícios dos aditivos nos alimentos. É justamente para esclarecer certas dúvidas e re-ceios que o assunto é abordado em nossa matéria de capa este mês.

Outros receios e incertezas estão presentes na própria Universidade. O assédio moral é uma questão tão deli-cada na UFPR que, em nossa matéria sobre o assunto, faltaram pessoas que pudessem esclarecer melhor o tema sem ter medo de falar abertamente.

Todos os dias funcionários sofrem com vários tipos de perseguições. Dentro da UFPR não há espaço para a discussão do problema. Não há nem mesmo uma legislação específica so-bre assédio moral, o que dificulta a punição dos assediadores. Muita gen-te prefere ficar calada ou não se iden-tificar devido ao receio de sofrerem com mais situações constrangedoras.

O resultado foi uma matéria de meia página sobre um assunto que deveria, na verdade, possuir um es-paço muito maior. Não só no Comu-nicação, mas sim na Universidade como um todo.

No Editorial (pág. 2) da edição de agosto, o Comunicação afirmou que 20 mil famílias haviam sido expulsas de suas casas no Jardim Itaqui. Na verdade, foram expulsas 20 famílias.

Todas as segundas-feiras, às 20h, o grupo espírita Sarah Martin se reúne na Vila Tingüi, em Curitiba, para escrever cartas nada comuns. São cartas que, para mais de 400 detentos, significam o único contato com o mundo exterior. A proposta deste grupo de 12 pessoas é levar conforto e mensagens de superação àqueles que há muito tempo não recebem uma mensagem de carinho da família e de amigos.

O Sarah Martin, ligado à Sociedade Brasileira de Estudos Espíritas (SBEE), está em funcionamento desde 1995 e re-aliza trabalhos de correspondência com detentos de algumas penitenciárias de Curitiba, Londrina e Maringá. De acor-do com Elisabeth Curi, coordenadora do grupo, o objetivo é incentivar o estudo e o trabalho entre os presidiários, oferecendo conforto e apoio moral por meio de car-tas. Dessa forma, o grupo contribui para a diminuição da reincidência criminal.

No Brasil, de cada dez presos, sete voltam a cometer crimes, segundo dados do Conselho Nacional de Política Crimi-nal e Penitenciária (CNPCP), órgão do Ministério da Justiça. Além desse tipo de trabalho, que proporciona ao preso um contato permanente com o que se passa fora das prisões, outras políticas conside-radas bem sucedidas pelo CNPCP para combater a reincidência e recuperar essas pessoas são aquelas que dão ao detento a oportunidade de concluir os estudos e po-der trabalhar enquanto ainda cumprem a pena. Uma forma de evitar a diplomação na chamada ‘escola do crime’.

Em entrevista ao Comunicação, Eli-sabeth Curi conta como é o trabalho do grupo e fala sobre os resultados obtidos:

Como funciona o trabalho de correspon-dência?Elisabeth Curi: Os presídios nos for-necem uma lista de presidiários que não recebem visitas ou cartas há algum tem-po. Temos listas de detentos que não têm contato com ninguém do ‘mundo exte-rior’ há mais de dez anos. Então envia-mos um envelope que contém mensagens de conforto retiradas de livros espíritas e uma carta escrita à mão por um integran-te do grupo. Essa carta diminui a distân-cia entre os detentos e nós. Além disso, enviamos também folha e envelope, para que o presidiário possa nos responder.

E eles são receptivos? Vocês recebem mui-tas respostas?Elizabeth Curi: Eles são bastante re-ceptivos, sim. Temos mais de 5 mil cartas de resposta catalogadas desde 1997. Isso é um retorno de quase 50%, um número bastante significativo para esse tipo de tra-balho. No ano passado, enviamos 1.485 cartas, e 799 delas foram respondidas.

Em geral, o que os detentos escrevem nas respostas?Curi: Geralmente, eles agradecem e pe-dem mais informações sobre espiritismo. Muitos falam sobre arrependimento e con-tam o porquê de estarem lá. Eles também fazem desenhos nas cartas, coloridos, bem trabalhados – você percebe que muitos têm

talento para isso. Imagino que se fossem ofertadas oportunidades para essas pessoas, elas poderiam até mesmo se tornar artistas. Algumas cartas são obras de arte. É emocio-nante ver a importância que eles dedicam a esse canal de comunicação conosco – pas-sando por todo esse processo que não deve ser rápido e é bastante trabalhoso.

Os detentos relatam algum problema so-frido dentro do presídio?Curi: Nada estrutural, como superlo-tação e outros problemas que sabemos serem comuns nesses lugares. Eles falam sobre problemas com a documentação deles, pedem ajuda para poder sair. Tam-bém pedem roupas, o que parece ser a maior carência deles. Muitas vezes, eles nos pedem livros sobre espiritismo, ma-terial para escrever as cartas e até mesmo lápis de cor para decorá-las.

O grupo já visitou as penitenciárias e teve contato direto com os detentos?Curi: Há alguns anos era menos compli-cado fazer as visitas às penitenciárias, então tínhamos chance de ter esse contato. Agora há burocracia para conseguir fazer visitas. Mas o contato que tivemos foi realmente gratificante. Visitamos as oficinas que eles têm no presídio, para produzir materiais de limpeza. E a chance de conhecer pes-soalmente alguém que escreveu uma carta particularmente marcante é única.

Vocês trabalham apenas com penitenciá-rias masculinas ou também têm contato com as femininas? Há diferenças na re-ceptividade dos detentos?Curi: Trabalhamos com os dois tipos de penitenciária. Eu diria que não há di-ferença na receptividade. Obviamente, os assuntos abordados nas respostas são diferentes, o tom da carta não é o mesmo. Mas o nosso contato é o mesmo, nossa mensagem é a mesma.

Vocês acompanham casos dos detentos que ganham liberdade? Eles continuam a ter contato com o grupo?Curi: Não é possível manter contato com

todos, mas sabemos de alguns casos. Al-guns ex-detentos nos procuram para agra-decer o apoio e até para pedir mais ajuda nesse período de retorno à vida normal que, sabemos, é uma hora em que eles ne-cessitam muito de apoio. As pessoas viram as costas, os conhecidos, a família. E se eles não tiverem um ombro amigo, podem voltar muito facilmente para o crime. Um caso bem emblemático e noticiado por todos os jornais foi o de uma moça que estudou durante o período em que esteve presa e, assim que saiu, prestou vestibular e passou. Emprestamos dinheiro para que ela pudesse fazer a matrícula na faculdade e hoje ela é formada. É incrível testemu-nhar a recuperação destas pessoas – afinal, é um retorno à vida.

São muitos os que voltam para o crime?Curi: Acho que a mídia noticia isso por-que dá mais audiência. É difícil sabermos pelos jornais quem saiu da prisão e se deu bem na vida. E são essas coisas que de-viam ser noticiadas. A força de vontade, a resistência ao caminho mais fácil.

Você tem receio dessa aproximação dos ex-detentos?Curi: Eu acredito muito na recupera-ção deles. Depois de todo esse trabalho, acho que eles não nos procurariam com más intenções. Veja só, meu rosto já saiu no jornal algumas vezes, com meu nome completo embaixo, e até agora não tive uma experiência negativa sequer.

De onde surgiu o nome do grupo?Curi: Sarah Martin foi uma mulher in-glesa que viveu no século XIX. Ela dedi-cou sua vida aos presidiários e à recupe-ração dessas pessoas. Hoje, há um museu dedicado a ela – aliás, é o presídio em que ela trabalhou, já desativado – tamanha a significação do seu trabalho. Batizamos o grupo como uma homenagem a ela, afi-nal, naqueles tempos, uma mulher que re-alizasse esse trabalho era realmente cora-josa. Ela enfrentou muitos preconceitos.

Errata

luCiana galastri

À espera de uma mensagem

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culturaMERCADO EDITORIAL Autores iniciantes encontram na auto publicação uma alternativa para a divulgação

Das mãos do autor às do leitor

O funcionário dos correios e poeta Enio Pypcak decidiu publicar por conta própria seu livro de poesias

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Eventos como a Bienal Internacional do Livro de São Paulo são sempre gran-des e trazem títulos que provavelmen-te terão boa visibilidade na imprensa e nas livrarias. Este ano, 800 mil visitantes compareceram ao local, e puderam as-sistir ao lançamento de quase quatro mil títulos. À venda, havia aproximadamente dois milhões de livros.

Alguns outros eventos de lançamen-to de livros, em oposição à Bienal, não são tão grandes assim. Um exemplo é o do funcionário dos correios e poeta Enio Pypcak, que organizou sua própria noite de lançamento, para cerca de 80 pessoas. Seu livro de poesia Meninas dos Olhos pertence a uma categoria literária que não interessa às grandes editoras. Pypcak produziu seu próprio livro, e uma peque-na editora de São Paulo, paga pelo autor, providenciou o registro (ISBN), impri-miu e enviou as 700 unidades que Pyp-cak negociou com uma única livraria, já que a editora não se comprometeu com a distribuição e venda dos livros.

O livro de Enio Pypcak não poderia ter sido lançado junto aos holofotes da Bienal porque pertence a uma outra esfera do campo literário. São as ‘edições do autor’, publicadas essencialmente por autores ini-ciantes que não conseguem ter seus livros inseridos no catálogo de grandes editoras.

Escrevi... e agora?

Em mercados editoriais como o dos Estados Unidos as editoras não recebem originais direto do autor, mas sim por meio de agentes. Não é o caso do Brasil. “Em um mercado menos desenvolvido e sofisticado como o nosso, temos alguns agentes trabalhando, mas o mais comum é que autores entrem diretamente em contato com as editores”, afirma o diretor executivo da Editora Martins Fontes, Ale-xandre Martins Fontes.

As maiores editoras brasileiras che-gam a receber 60 originais por mês. A avaliação de um volume de material como este – apelidado de ‘pilha de lama’ (slush pile, na expressão em inglês) – é demora-da e pode ser frustrante para o escritor. Pior, é possível que uma parte dele jamais seja avaliada. O mínimo que os autores iniciantes devem fazer, para começar, é procurar a editora certa para mandarem seus originais. “Não adianta procurar a Sextante para publicar poesia surrealista”, brinca o editor de literatura e ensaio da Editora Globo, Joaci Furtado. “A Sextante esta atrás do novo Código da Vinci”, diz.

Furtado sugere que os escritores de-vem aprender mais sobre o mercado edi-torial e insistir, convencer a editora da qualidade do trabalho. Mas ele revela que o processo torna-se mais fácil com uma indicação de outro autor publicado ou um contato do meio editorial. Um pouco mais pessimista, o escritor e jornalista Rodrigo Novaes conta que tentou publicar um livro de crônicas por dez anos, sem sucesso. Ele explica que os autores iniciantes, ao serem recusados pelas grandes editoras, procu-ram as médias. Em seguida, as pequenas.

Nesse ponto, podem se deparar com uma proposta de parceria, que Novaes conside-ra arriscada, pois que o autor arca com as despesas e fica com o risco que as editoras maiores não querem assumir.

A auto publicação

Enio Pypcak sonhava com a publica-ção de seu livro há 30 anos. Acabou ‘ban-cando’ sua realização, mesmo sabendo dos riscos. Esse tipo de investimento por parte do autor é o ganha-pão de muitas pequenas editoras. “Está pagando, publica”, critica Rodrigo Novaes. Ele argumenta que algu-mas destas editoras não consideram qua-lidade literária e sequer se comprometem com a distribuição ou com a venda do que publicam. O custo da impressão gera lucro para elas, e o risco do prejuízo fica para o autor. Por isso, as parcerias precisam ficar claras na hora do autor fechar o contrato. Os resultados vão desde o uso de direitos autorais com desvantagens para o autor até pilhas de livros ‘encalhados’ em casa.

Para a escritora e pesquisadora paulis-tana Márcia Denser, “auto-edição é antes um ‘desacontecimento’”. Ela acredita que as edições do autor são um “furo n’água”. “É como se você tivesse ‘publicado em sigilo’ – uma piada, claro, não fosse uma contradição nos termos”, afirma. Entre-tanto, ela considera muitas editoras pe-quenas como “sérias e de qualidade”.

Alexandre Martins Fontes também desaconselha esse tipo de publicação. “O autor que decide publicar o seu próprio livro não está prestando um bom serviço para a sua carreira”, sentencia. Fontes afir-

ma que a distribuição e a divulgação fa-zem parte do trabalho das editoras, e que livro impresso não é garantia de nada.

Se é assim, em que estes autores estão pensando? Segundo Rodrigo Novaes, tan-to em realizar o sonho de ter o livro publica-do como em chamar a atenção de editoras maiores. O escritor e doutorando em Le-tras na USP Nelson de Oliveira afirma que funciona. Com mais de vinte livros publi-cados, entre eles A oficina do escritor: sobre ler, escrever e publicar (Ateliê Editorial), Oli-veira diz conhecer muitos autores inician-tes que pagaram a edição de seus livros de estréia e em pouco tempo venderam todos os exemplares. “Vários desses autores fize-ram tão bem o trabalho de auto divulgação, principalmente na Internet, que logo em seguida foram procurados pelos olheiros das grandes editoras”, diz.

Dá para viver de literatura?

E esses olheiros estão procurando. Mar-tins Fontes afirma que o próximo best-seller é o maior tesouro desses profissionais. Mui-tas editoras brasileiras importam sucessos de outros países. Segundo Joaci Furtado, há um método ‘manjado’, que é acompanhar a lista de mais-vendidos publicada no jor-nal The New York Times. Segundo Nelson de Oliveira, porém, é o dinheiro da venda desses best-sellers que permite que edito-ras continuem publicando livros de prosa e poesia, que, normalmente, trazem prejuízo. Os preferidos do mercado, entretanto, ge-ram críticas severas no meio literário. “Pau-lo Coelho, esoterismo de quinta categoria, auto-ajuda idiota, apenas tinta sobre o pa-

pel, alimento para o esquecimento, essas bobagens”, analisa Márcia Denser.

Entretanto, em teoria, a dinâmica do mercado nada tem a ver com a produção li-terária. “Tudo isso vem depois da criação”, explica Denser. Segundo ela, o investimen-to num projeto de ficção é o mais alto do mundo literário. Ela cita Guimarães Rosa, Clarice Lispector, Mário de Andrade, e lembra: “Todos eles foram pouco lucra-tivos em certa época, mas têm um valor literário inestimável”. Nelson de Oliveira também faz questão de separar o merca-do do campo literário. “Quem tem que se preocupar com o comércio de livros são os comerciantes, não os escritores”, afirma.

Se a preocupação com as vendas não deve existir, será possível ao escritor viver de sua obra e publicar o seu trabalho? O po-eta curitibano Ricardo Pozzo acredita que é muito difícil. Ele lembra que poesia vende muito pouco. “Poesia, como diz Leminski, é um inutensílio”, afirma ele. Já Márcia Denser afirma que é possível, se a literatura entendida como grande arte for o projeto de vida do escritor. E Nelson de Oliveira explica que o atrito entre o mercado e a arte sempre existirá. “O escritor movimenta-se entre esses pólos, negociando com ambos e consigo mesmo, tentando produzir uma obra-prima que não seja totalmente inven-dável”, analisa Oliveira. E arremata: “Não é fácil. Mas, se fosse, que graça teria?”

Saiba mais sobre a relação do merca-do editorial com a internet no Comuni-cação Online, editorial de Cultura.

rafael rodrigues

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GINÁSTICA Fim do CT pode descentralizar a prática do esporte, que está concentrada em Curitiba

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Muita gente pode não saber, mas Curi-tiba é hoje um dos maiores pólos de trei-namento de ginástica artística do Brasil. Atual sede da Confederação Brasileira de Ginástica (CBG) e do Centro de Excelên-cia de Ginástica Artística (CT) – conside-rado o mais moderno do país, que treina grande parte dos atletas da Seleção Brasi-leira de Ginástica –, a cidade já abrigou ta-lentos como Daiane dos Santos e Daniele Hypolito, e é referência para o esporte.

Com uma estrutura como essa, são várias as crianças que têm oportunidade de treinar. “O treinamento começa aos 4 anos, mas são atividades mais leves, para a criança descobrir se gosta mesmo de ginás-tica”, diz a professora de ginástica artística do CT Deise Mercer. “Aos 6 ou 7 anos as meninas mais talentosas são selecionadas para um treinamento mais forte e encora-jadas a uma carreira no esporte” completa.

Rafaela de Souza, de 6 anos, treina todas as manhãs e já sonha em ir para as Olimpíadas. “Fazemos todo o circui-to de aparelhos no treinamento” explica Souza. Ela conta que sonha em ser como Jade Barbosa (décimo lugar no individu-al geral das Olimpíadas de Pequim).

Mas não é apenas o CT que oferece oportunidade de entrar em contato com a ginástica artística. O professor do Departa-mento de Educação Física da UFPR Sérgio Abrahão realiza o projeto “A ação da UFPR no desenvolvimento da Ginástica Artística não-discriminatória”. Segundo ele, a inicia-tiva não visa apenas criar atletas de alto ren-dimento, mas oferecer a oportunidade de conhecer a ginástica e praticá-la apenas por prazer, como um simples exercício físico.

“O projeto tem um forte cunho social. Nós também formamos atletas de alto rendimento, como a Patrícia de Moura, que foi campeã estadual no solo e no sal-

to” explica Abrahão. “Mas nosso objetivo é mostrar que a ginástica pode ser parte da cultura corporal do povo brasileiro, uma alternativa para uma vida saudável”. Segundo ele, a UFPR tem toda a estrutura para receber interessados e atletas, e está aberta para qualquer um que possua afini-dade com o esporte.

Patrícia de Moura, 15 anos, participa do projeto da UFPR: “Treino quatro ho-ras por dia, de segunda a sábado, e é um grande desafio conciliar a escola com o treinamento”, declara. “Meu sonho não é ir para as Olimpíadas, não pretendo ir tão longe. Se acontecer, ótimo, mas penso sempre em fazer o meu melhor”.

Além disso, o projeto busca a formação de técnicos especializados em ginástica artística, que, mais tarde, possam buscar novos atletas e ajudar na construção de um esporte cada vez mais forte. “Temos três bolsistas selecionados para participar do projeto” explica Abrahão. “Confio ne-les para continuar promovendo o esporte e a saúde”, completa.

O fim do CT?

O Centro de Treinamento tem sua sede em Curitiba desde 2002 e vem trei-nando grande parte dos atletas que parti-cipam das equipes de ginástica artística. Entretanto, desde novembro do ano pas-sado, quando a ginasta Daiane dos San-tos declarou à imprensa que o CT estava prestes a acabar, surgiram dúvidas sobre o destino do esporte na cidade e dos atletas da Seleção Brasileira. Após as Olimpíadas de Pequim, eles supostamente voltariam a treinar em seus respectivos clubes e não mais juntos.

De acordo com a assessoria de im-prensa da CBG, é normal que no fim do

ciclo olímpico os atletas retornem às suas cidades e aos seus clubes. Quanto ao fim do CT em Curitiba, não há nada decidi-do. O que ocorre é que a gestão da atual presidente da Confederação, Vicélia Flo-renzano, está chegando ao fim, e em de-zembro desse ano será realizada a eleição para definir o novo presidente. “A CBG deve estar localizada junto ao presidente. Como não há pré-candidatos paranaen-ses, é possível que a estrutura administra-tiva tenha que ser transferida” declara a professora Deise Mercer. “O presidente é quem decide se os atletas da seleção continuam treinando em uma mesma ci-dade, estabelecida pela CBG, ou se retor-nam aos seus clubes”, completa.

Sobre a situação dos atletas locais e de Curitiba como referência no esporte, Mercer explica que a cidade e os pratican-tes não serão prejudicados. “Se houver a transferência, será apenas da parte admi-nistrativa. Toda a estrutura, os aparelhos e os professores não ligados à seleção per-manecem aqui” diz.

Muitas opiniões contrárias ao fim do CT em Curitiba foram formadas. No entanto, há o outro lado da questão, o da descentralização da prática. Para Abrahão, esse poderia ser um ponto fa-vorável para o incentivo do esporte em outros lugares do país.

A volta das Olimpíadas A integrante da Seleção Brasileira

Ana Cláudia Silva, de 16 anos, que trei-na em Curitiba, conseguiu realizar um dos maiores desejos de qualquer atleta: ir para uma Olimpíada. “Foi incrível es-tar em Pequim, ainda mais em uma final. Não tem como descrever a sensação de estar entre uma das melhores do mundo”

conta Silva, que obteve o 22º lugar na classificação do individual geral.

Ela nasceu em Natal (RN) e veio para Curitiba com apenas 8 anos. Desde então, treina no CT com os técnicos da seleção Oleg Ostapenko e Irina Ilyiashenko. “Fiz o meu melhor nas Olimpíadas e estou sa-tisfeita com o resultado. Agora penso em curtir a volta para casa, matar as saudades e, lógico, voltar a treinar”, afirma.

A delegação de ginástica retornou de Pequim no dia 23 de agosto carregando bons resultados: o 6º lugar no solo femi-nino com Daiane dos Santos, o 6º lugar no solo masculino com Diego Hypólito e o 10º lugar no individual geral com Jade Barbosa. No entanto, a seleção não conseguiu a medalha que os brasileiros esperavam.

“O desempenho da equipe brasileira em Pequim foi brilhante” declara Abrahão. “Acredito que as críticas feitas só provam a falta de cultura esportiva do país. O erro faz parte do esporte, a queda faz parte da vida”. Para o professor, priorizar mais uma medalha olímpica do que o ato esportivo, a saúde e a atividade física é impensável.

Ele aponta ainda a a falta de incentivo à ginástica artística no país: “Se o Brasil quer ter uma medalha olímpica, deveria investir mais no esporte, qualificar mais treinado-res, ter mais políticas nesse sentido”.

De acordo com o professor, a descen-tralização da ginástica em Curitiba é ne-cessária para alcançar esse incentivo. “Por que centralizar a ginástica em uma cidade apenas? Por que não ter vários centros de treinamento com a mesma estrutura do nosso, espalhados pelo país, prontos para receber novos talentos e popularizar um hábito saudável?”, questiona Abrahão.

A capital da ginástica artística A capital da ginástica artística

luCiana galastri

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Co:::unicaçãosetembro de 2008 5ciência e tecnologia

ALIMENTOS INDUSTRIALIZADOS Consumo de aditivos químicos pode ser menos prejudicial quanto se imagina

Por trás do rótulo complexo, comida aditivada

Co:::unicação 5

A vida sem aditivos

O modelo de alimentação moderno, desde o armazenamento até a variedade de alimentos disponíveis, depende dos aditi-vos. Segundo Degáspari, por enquanto não existem alternativas que reúnam as vanta-gens dos alimentos industrializados sem a inclusão destas substâncias. “Se o receio quanto aos aditivos nos levasse a eliminar os industrializados, metade da população mundial morreria de fome”, retrata Wille. Degáspari afirma que substituir os indus-trializados pelos naturais “é uma proposta inviável sob vários aspectos dentro do esti-lo de vida que levamos hoje”.

“Temos que tomar muito cuidado com a dose”, ressalta Wille – tudo pode ser tóxico, dependendo da quantidade consumida. A pesquisadora observa, tam-bém, que o indutor de uma doença como o câncer pode ser não só a quantidade in-gerida, mas também a freqüência de seu consumo. “Por isso, a melhor alimentação é a variada – que não precisa dispensar os industrializados, mas os mistura com ali-mentos naturais”, recomenda.

Vale lembrar que, ao ‘absolver’ os ali-mentos industrializados, as pesquisadoras se referem apenas aos aditivos químicos. Contudo, a gordura, o sal e o açúcar pre-sentes nesses produtos não podem ser deixados de lado. “Quando você come um produto industrializado, fica mais difí-cil controlar a quantidade de sal consumi-da, por exemplo”, comenta Degáspari. Por isso, alimentos processados são atacados como vilões da saúde contemporânea, relacionados a males como obesidade, diabetes e hipertensão. Para Wille, a causa dessas doenças está apenas nas escolhas ruins: “na verdade, temos que culpar a nossa boca, o nosso comodismo”, diz ela.

setembro de 2008

Aromatizantes, corantes, conservantes, estabilizantes e outros tantos ‘antes’: um universo de substâncias para tornar viável a alimentação tal qual é conhecida hoje. Apesar da fama de tóxicos, os aditivos quí-micos ainda são a única forma de preservar e dar sabor, cheiro e aparência agradável aos alimentos industrializados. Pesquisa-dores da área, como a mestre em Nutrição Humana e doutora em Tecnologia de Ali-mentos Grace Maria Wille, garantem que esses produtos não são tão prejudiciais quanto se imagina. “Chamar nossa alimen-tação de tóxica é um exagero”, afirma.

A especialista conta que muitas subs-tâncias utilizadas como aditivos pela in-dústria já foram apontadas como causas de doenças graves, mas, dentro do que é permitido pela legislação, até agora nin-guém conseguiu provar nada. “Não dá para englobar os aditivos como sendo bons ou ruins. O fato é que eles são estu-dados para que tenham a maior seguran-ça possível”, diz.

Segundo a engenheira de alimentos Claudia Degáspari, no Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvi-sa) é o órgão responsável pela legislação da indústria alimentícia, que prevê os li-mites da inclusão de alguns compostos por porção de alimento. Este número é obtido com base num índice chamado IDA (Ingestão Diária Admissível) – va-lor calculado em mg/kg de massa corpo-ral, que determina a quantidade segura para ingestão diária, por toda a vida, de algumas substâncias. “Se as quantias esti-verem dentro dos limites aceitáveis, não há problema”, afirma Degáspari.

Mesmo assim, a nutricionista Luciana Laffitte prefere aconselhar seus pacientes a evitarem alimentos industrializados. Ela explica que alguns aditivos químicos se agregam às moléculas dos nutrientes e, assim, impedem que o organismo absor-va o conteúdo desejável. “Além do mais, fica a dúvida: até que ponto essas subs-tâncias artificiais são eliminadas 100% do organismo?”, afirma.

Aditivo natural é melhor?

De acordo com a engenheira quími-ca e pesquisadora da área de Biotecnolo-gia da UFPR Adriane Medeiros, o termo ‘natural’ tem um bom apelo comercial, mas tecnicamente não existe diferença entre o composto obtido via natural ou sintética. “Eles têm exatamente a mesma estrutura química”, explica. Segundo a pesquisadora, a diferença entre as subs-tâncias está apenas no processo produti-vo e na legislação, que determina o que é natural e artificial.

Para Degáspari, a ingestão de co-rantes naturais, extraídos de plantas, se-mentes e até de insetos, não costuma ser problemática, mas o consumo de alguns corantes artificiais pode ser complicado para pessoas mais sensíveis. É o caso do Amarelo Tartrazina, cuja simples presen-ça é capaz de despertar uma crise alér-gica. “Por isso, esse corante é indicado por extenso nos rótulos dos produtos, ao contrário dos demais, que podem apare-cer como códigos”, esclarece.

A doutora em Biotecnologia Luciana Vandenberghe explica que a vantagem da obtenção via natural está mais relacio-nada à produção do que ao consumo: o processo biotecnológico é mais barato e permite um melhor aproveitamento de matéria, pois os resíduos de um processo podem ser usados em outro. “É mais in-teressante do ponto de vista econômico e ambiental”, ressalta. Mas, para a saúde, essa vantagem pode não contar tanto. A nutricionista Luci de Souza exemplifica que alguns corantes podem ferir a parede do estômago, causando gastrite. “Além disso, a alimentação natural aumenta a imunidade do organismo, porque con-tém mais vitaminas”, defende.

Naturais ou artificiais, aditivos quími-

cos são freqüentes alvos de críticas. Mui-tos já foram retirados do mercado, ou são evitados pelos consumidores devido à má fama adquirida. É o caso da sacari-na, um adoçante que foi relacionado ao desenvolvimento de câncer nas glându-las supra-renais. “Temos que questionar como são feitas as pesquisas que levam a essas constatações”, alerta Wille. Ela afir-ma que, nesse caso, os ratos de laborató-rio testados foram superexpostos à subs-tância. “Para que um ser humano fosse afetado, seria necessário consumir pelo menos uma vez o seu peso em sacarina, o que é simplesmente impraticável”, diz. Segundo a pesquisadora, há muitos inte-resses comerciais em jogo nesse tipo de divulgação: “Às vezes, uma substância é condenada por ser concorrente de outra que precisa ser desovada no mercado”.

Ao se deparar com um rótulo que parece uma bula de remédio, saiba reconhe-cer os principais aditivos encontrados nos alimentos e para que servem: Corantes – Substâncias que dão cor aos alimentos. Apresentam os códigos C1 (naturais) e C2 (artificiais). Amarelo Crepúsculo e Tartrazina são dois exemplos. Aromatizantes e Flavorizantes – Dão gosto e cheiro aos alimentos. É comum serem identificados pelo efeito que provocam, como aroma artificial de baunilha. São caracterizados pelos códigos F1 a F4. Conservantes – Evitam que microorganismos deteriorem os alimentos. O ácido sórbico, por exemplo, é responsável por conservar alguns produtos derivados de leite. Usam-se os códigos P1 a P10 para identificação. Antioxidantes – Evitam a degradação das gorduras, e são caracterizados pelos códigos A1 a A13. Estabilizantes – Mantêm a aparência do produto e evitam que ele “desande”, através da estabilização de proteínas. São identificados pelo código ET.Acidulantes – Produzem ou intensificam o sabor azedo ou agridoce. Um dos mais conhecidos é o ácido cítrico. São caracterizados pelo códigos H1 até H10.

Equipamento para análise de aromas gasosos

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Principais aditivos químicos

Não dá para reunir os aditivos em

bons ou ruins. O que acontece é que

eles são estudados para que tenham a maior segurança

possível”Grace Maria Wille,

doutora em tecnologia de alimentos

O equipamento que analisa aromas gasosos é um dos muitos que são utilizados no processo industrial

Page 6: Jornal Comunicação

Co:::unicaçãosetembro de 20086 ufpr/geral

ASSÉDIO MORAL Funcionários da UFPR sofrem com situações danosas e não têm a quem recorrer

Relações de trabalho são desrespeitadas

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SISTEMA CARCERÁRIO Penas alternativas são uma opção para combater a superlotação nos presídios

A alternativa das penas alternativas

Troca de turno forçada, escala de tra-balho sem a concordância do servidor e a prática da perseguição: o assédio mo-ral é uma realidade para os servidores e funcionários da Universidade. Segundo a assessoria de imprensa do Sindicato dos Funcionários do Terceiro Grau da UFPR (Sinditest), as práticas relatadas por asse-diados acontecem por parte de colegas de trabalho, da chefia e da própria instituição. Os principais prejuízos causados são da-nos à saúde física e mental.

Um exemplo é o professor do Setorial de Educação da UFPR, Ricardo Antunes de Sá. O caso dele começou em 2002 e provocou seu afastamento para trata-mento de saúde. “O que me indignou foi que eu não fiz nada de errado. Não é a lógica que vale, pois o que o assediador quer é desqualificar e destruir profissio-nal, pessoal e intelectualmente”, afirma.

A funcionária do Hospital de Clínicas, M.L.G., diz que a perseguição não leva em conta a qualidade do trabalho. “Você pode ser um ótimo funcionário, mas se discordar de alguma situação a persegui-ção já começa”, conta.

Foi o que aconteceu com a auxiliar de enfermagem M. F. O caso dela começou em 2001, quando medicava seus pacien-tes e precisava que os remédios fossem preparados com antecedência por suas superiores. “Como a medicação não fica-va pronta no horário, eu cobrava e a che-fia ficava brava. Elas se sentiram ameaça-

das e começaram a me perseguir”, relata.Ela conta que foi transferida de setor

sem que fosse alegado motivo, e que con-tinuou sofrendo assédio nos demais se-tores por onde passou. M.F. foi afastada duas vezes para tratamento médico devi-do à depressão e respondeu a um proces-so administrativo, no qual foi considera-da inocente, devido à falta de provas.

A diretoria do HC, a Associação dos Professores da UFPR (Apuf-PR) e a Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas (Progepe, antiga Phrae) foram procuradas pelo Co-

municação, mas não se manifestaram.Uma maneira encontrada pelos fun-

cionários da UFPR para discutir a prática do assédio moral foi um blog, criado pelo Sinditest (www.assediomoralnaufpr.blo-gspot.com), no qual são expostas denún-cias e depoimentos de quem sofre com o problema. Entretanto, como afirma An-tunes de Sá, não há espaço para a discus-são do problema dentro da Universidade. “Nenhuma instância administrativa está aparelhada e disposta a ouvir”, diz ele.

A falta de uma legislação específica

sobre assédio moral é também uma das principais dificuldades referente à punição dos assediadores, de acordo com o Sindi-test. “O não reconhecimento da existência dessa prática pela Universidade também dificulta o processo”, complementa. Sá confirma a situação: “As pessoas que me assediaram até hoje não foram punidas”.

Segundo o advogado com atuação em direito administrativo Júlio Brotto, o funcionário público que pratica assédio moral viola, simultaneamente, os três princípios que, de acordo com o artigo 37 da Constituição, devem ser observa-dos pela instituição pública: legalidade, impessoalidade e moralidade. “Ele pode responder na esfera civil, recebendo como punição o pagamento de indeniza-ção à vítima, e estar sujeito a um processo administrativo interno que, dependendo do caso, pode levar à exoneração do car-go”, explica.

De acordo com Sá, para que o assédio moral seja solucionado é necessário que o órgão responsável pela investigação seja externo à Universidade. “Os órgãos internos não têm independência para fazer um trabalho desses”, opina. Para a assessoria de imprensa do Sindicato, a divulgação do assunto também funciona como uma tática para coibir o assédio. “Com mais divulgação, a pessoa vai pen-sar duas vezes antes de agir”.

Ter que trocar os treinos de futebol pelos pratos sujos de um asilo de Curiti-ba. Foi o que aconteceu com o estudante H. S., de 17 anos. Recentemente, ele e alguns de seus amigos foram surpreendi-dos pela polícia pichando muros. Depois de duas audiências, foi decidido: H. S. deveria prestar serviço comunitário por três meses em um asilo. “Lavo e seco os pratos, limpo o chão, organizo os alimen-tos e o refeitório”, conta ele. O rapaz é apenas um exemplo entre as mais de 20 mil pessoas que cumprem penas alterna-tivas no Paraná.

De acordo com o juiz da Vara de Exe-cuções Penais e Medidas Alternativas de Curitiba, Lourival Chemim, as penas al-ternativas são pouco freqüentes no Brasil. “80% dos crimes que são previstos no có-digo penal e nas leis cabem em penas al-ternativas, no entanto, as penas de regime fechado e semi-aberto aparecem mais”, afirma. As penas alternativas podem ser aplicadas tanto nos crimes culposos, não importando o tempo da pena imposta, quanto nos dolosos (intencionais) em que a pena não seja superior a quatro anos, desde que o réu não seja reincidente ou o crime não tenha sido cometido com

violência ou grave ameaça à vítima.O conselheiro do Instituto Brasileiro

de Justiça Restaurativa (IBJR), Neemias Moretti, conta que as penas alternativas só podem ser aplicadas em substituição à prisão. “A substituição é obrigatória se pre-sentes as condições de admissibilidade”. Dentre as condições estão a culpabilidade, os antecedentes e a conduta social.

De acordo com Moretti, as penas alter-nativas combatem os efeitos e limitações do sistema carcerário, já que sua aplicação diminui a superlotação dos presídios e reduz os custos do sistema penitenciário. “O cárcere estigmatiza, danifica, destrói o individuo e os que estão à sua volta”, afir-ma Moretti. “No Brasil, aproximadamen-te 30% dos presos teriam direito a penas alternativas. Elas devem ser a regra, e não a exceção”, opina o especialista.

Segundo Moretti, a pena alternativa faz com que os índices de reincidência criminal despenquem. “Entre os presos, o índice de reincidência chega a 85%. Já entre quem cumpre pena alternativa, a porcentagem fica entre 2% a 12%”. H. S. afirma que não voltou a cometer crimes: “Não acho que a gente precise pagar caro para se arrepender. Eu ajudei quem preci-

sava e não convivi com pessoas que come-teram crimes mais graves e pudessem me influenciar”.

Embora as penas alternativas tentem melhorar a realidade do sistema peniten-ciário, problemas no controle penal, pou-ca conscientização do condenado e falta de uma efetiva fiscalização pelo judiciá-rio no cumprimento dessas penas dificul-tam sua execução. “O que tem havido em muitos estados é uma impunidade, pois se condena alguém à prisão, converte-se essa pena em alternativa, remete-se à vara de execuções, o condenado fica sol-to e o feito é prescrito”, declara Moretti, que explica: “As varas de execução já se encontram assoberbadas de processos de presos e enfrentam enormes problemas”.

Outra questão é a falta de conscien-tização do condenado. N. I. de 18 anos, ganhou sua primeira moto aos 11. Aos 15, ela foi condenada a cumprir pena al-ternativa por dirigir sem autorização. No entanto, isso não inibiu suas saídas de moto. “Pra falar a verdade, pra mim não mudou em nada, eu continuei andando de moto sem carteira”, confessa.

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80% dos crimes previstos no código penal e nas

leis cabem em penas alternativas”

Lourival Chemim,juiz da Vara de execuções Penais

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Grande parte dos episódios de assédio moral aconteceu no HC, segundo funcionários

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Co:::unicaçãosetembro de 2008 7política

ELEIÇÕES Partidos e especialistas explicam estratégias da campanha eleitoral

A política da boa aparênciaAlguns respeitam o clichê terno-e-

gravata, outros customizam a bandeira de determinados grupos sociais. Há quem prefere agir silenciosamente e quem faz questão de chamar atenção com as arti-manhas mais inusitadas. Em comum, o desejo de conquistar a confiança e o voto do eleitor. Como os candidatos a verea-dor preparam suas campanhas?

Qualquer cidadão maior de 21 anos – na eleição para prefeito – ou 18 – para ve-reador – e que tenha título eleitoral pode candidatar-se, desde que esteja filiado a algum partido político há mais de um ano. “O que existe é uma limitação para o número de vagas por partido”, acrescen-ta o publicitário e candidato a vereador pelo PPS Rafael Schroeder. Nesse caso, quem define os critérios de seleção dos interessados são os próprios partidos.

Grande parte dos aspirantes a uma cadeira na Câmara de Vereadores decide por conta própria tentar a candidatura. Há aqueles que se identificam com a li-nha de pensamento de um partido e os que se filiam apenas porque esse é um pré-requisito à candidatura. Este último é o caso do candidato a vereador Profes-sor Galdino, que se filiou ao Partido Ver-de (PV) apenas para cumprir a exigência legal. “O próprio PV sabe que eu queria

ser candidato independente. Como a lei não permite, escolhi um partido que me garantiu a candidatura”, explica.

Registradas as candidaturas, chega a hora de os partidos distribuírem dinheiro e tempo nas propagandas eleitorais entre os candidatos. O que pode acontecer, de acordo com a cientista política Luciana Veiga, é a destinação prioritária de alguns recursos partidários para determinadas pessoas. “Aqueles em que o partido acre-dita terem mais chance de vencer recebem números de votação mais fáceis de recor-dar ou recebem mais tempo no horário eleitoral”, afirma.

Estratégias de marketing

Quando os candidatos têm sua candi-datura lançada, a instrução sobre a forma como conduzir a campanha possui papel fundamental. A advogada Elza Dembiski (PCdoB) disputa uma cadeira no Legisla-tivo municipal e acredita que “é imprescin-dível que todos passem por cursos prepa-ratórios, pois muitos se arriscam sem saber nada do que vão enfrentar”. Schroeder, que participou de um curso preparatório antes de iniciar a campanha, concorda. “A preparação envolve desde a compreensão dos objetivos da campanha até os aspectos

legais de uma eleição”. É também o que pensa o vereador Tito Zeglin (PDT). Para ele, o partido deve preparar os interessa-dos desde antes do início das campanhas. “Eleição não se ganha em 90 dias. Nesse período, só se consegue fixar o nome e o número perante o eleitorado”, garante.

Quanto à estratégia a ser usada na campanha, alguns partidos preferem se-guir uma linha única de atividade. O co-ordenador de campanha Joel Benin, do PCdoB, preferiu padronizar. “Procura-mos estabelecer uma unidade de pensa-mento e de campanha entre os que con-correm para prefeito e vereador, porque isso dá mais credibilidade”, explica.

A campanha deste ano do PSOL tam-bém unificou suas propostas. O candida-to a prefeito do partido, Bruno Meirinho, diz que todos os candidatos do diretório trazem o mesmo lema. “Buscamos uti-lizar o mesmo princípio, valorizando a identidade do partido”, explica.

A especialista em Marketing Político Luciana Panke acredita que estruturar a campanha com base nas características do candidato pode ser mais eficiente. “É importante lapidar as qualidades do sujeito, e depois convergir todas as estra-tégias de marketing para essa mesma ca-racterística da pessoa, o que fará com que ela tenha uma imagem coerente”, explica. Entretanto, ela destaca que isso deve acontecer sem fugir da ideologia geral do partido. “Há três aspectos fundamentais, que são as características do candidato em si, as suas propostas e as propostas do partido. Esses três aspectos não podem ter contradição”, completa Panke.

O coordenador de campanha do PT André Passos também procura trabalhar com esse objetivo. Para ele, não se pode fabricar um candidato. “O que podemos fazer é valorizar seu histórico de militância e atividade política, depois orientá-lo so-bre a forma de representar as idéias do co-letivo. Quanto mais ele for compreendido, melhor será seu desempenho”, acredita.

Já o candidato a vereador Professor Galdino acredita no chamado ‘corpo-a-corpo’ e sai às ruas propagando o próprio nome. É sua segunda candidatura – na primeira não foi eleito – e ele acredita que o trabalho realizado durante a cam-panha anterior terá efeito este ano. “Ago-ra as pessoas já me conhecem. Acredito que seja porque me envolvo diretamen-te, apresentando a mim mesmo para o povo”, se anima.

Panke considera questionável a eficá-cia do método corpo-a-corpo em situa-ções como a do professor, mas destaca que a comunicabilidade e a divulgação são fundamentais. “Não sei até que pon-to as pessoas dão crédito a quem vai ao povo tão profundamente. Entretanto, a essência da política é o trato público, que se faz com discurso e a partir da fala”, conclui.

Quem compartilha dessa opinião é Schroeder, que valoriza o relacionamento do candidato com a imprensa e o eleitora-do. “Saber se relacionar com os veículos de

comunicação e, principalmente, estabele-cer canais para ouvir a população torna mais fácil definir e focar os públicos, ana-lisar as melhores ferramentas ou mesmo inovar em algumas estratégias”, acredita.

Pesquisas de opinião

Estruturar uma campanha política com base em avaliações de aceitação do candidato é outra estratégia bastante utilizada pelos políticos. “Todo o plane-jamento é baseado em pesquisas qua-litativas e quantitativas, que fornecem um diagnóstico de como a campanha está sendo vista pelo eleitor e, ao mesmo tempo, indica caminhos, direções, posi-cionamentos”, explica o coordenador de campanha do PSDB Deonilson Roldo.

De acordo com Luciana Veiga, as pes-quisas qualitativas direcionam as estraté-gias de campanha. “É onde estão os mo-tivos para rejeição ou aceitação, e onde os coordenadores encontram motivação para reforçar e diversificar a campanha”, com-plementa. Ela recomenda que se façam também pesquisas quantitativas – que trazem apenas dados numéricos a partir de públicos mesclados –, mas sugere uma alternativa para quem não possui recursos financeiros para realizar os dois tipos de pesquisa. “É possível fazer uma pesquisa qualitativa com pessoas que conhecem o candidato. Dessa forma são identificados pontos fortes e fracos da pessoa”.

Segundo Roldo, outra forma do can-didato se fortalecer é promover debates e mobilização entre os filiados. “É preciso aglutinar pessoas, apoios e propostas, e estar certo que suas idéias são compar-tilhadas por mais pessoas, pois assim a chance de ter sucesso na disputa é muito maior”, esclarece.

Entretanto, não há espaço para todos os que desejam alcançar um cargo no po-der público e, por isso, muitos dos can-didatos iniciantes não conseguem se ele-ger. Schroeder diz que recebe incentivos do eleitorado e acredita que sua situação pode mudar. “Muitos incentivam que, se não conseguirmos ser eleitos, continue-mos tentando”, diz.

Alguns candidatos preferem estratégias de ‘corpo a corpo’

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É importante lapidar as qualidades

do candidato e convergir as estratégias de marketing para essas mesmas características,

o que lhe dará uma imagem coerente”

Luciana Panke,esPecialista em marketing Político

Page 8: Jornal Comunicação

O Comunicação é uma publicação do curso de Jornalismo da Universidade Federal do Paraná, com a participação de alunos das disciplinas de Laboratório de Jornalismo Impres-so e Laboratório Avançado de Jornalismo Impresso.

Professor orientador: Mário Messagi Jr. (jornalista res-ponsável - DRT 2963/PR).editora Chefe: Renata Ortega.seCretária de redação (imPresso): Mariana Cioffi. subse-Cretária: Julia Guedes.

seCretária de redação (on-line): Aline Baroni. subseCre-tário: Fábio Pupo. Webmaster: César A. Souza. ComuniCação instituCional: Elizângela Larini. Chefe de rePortagem: Toni Scharlau. editores: CiênCia e teCnologia: Suelen Trevizan. Comporta-mento: Flávia Silveira. Cultura: Manuela Salazar. esportes: Franciele Bueno. geral: Mariana Ohde. opinião: Vanes-sa Prateano. polítiCa: Fábio Pupo e Thaíse Mendonça. ufpr: Iasa Monique, Renata Bossle e Chico Marés. foto-grafia: Fernanda Trisotto.

CaPa: Fernando Vieira. Charge: Antoni Wroblewski. Projeto gráfiCo: Renata Bossle.diagramação: Aida Mangue e Renata Ortega.endereço: Rua Bom Jesus, 650 – Juvevê – Curitiba-PR. telefone: (41) 3313-2017. e-mail: [email protected] site: www.jornalcomunicacao.ufpr.br tiragem: 4 mil exemplares. imPressão: Gráfica O Estado do Paraná.

expediente

Co:::unicaçãosetembro de 20088 comportamento

ANÕES Adaptações em casa e dificuldades em realizar certas tarefas fazem parte da rotina dos pequenos

O dia-a-dia de gente pequena

Na auto-escola, o instrutor é normal, só o carro é especial”“ Douglas Breger,

ator e designer gráfico

Os anões da Branca de Neve, do Mun-do Mágico de Oz, do Senhor dos Anéis, dos jogos de RPG – todos esses são famosos. Mas os pequenos que muita gente não conhece são os anões da vida real. Apesar das dificuldades, eles trabalham, estudam, têm seus momentos de lazer e se relacio-nam com pessoas de todos os tamanhos. “Com certeza nossa vida não é igual a dos outros, mas muito do que pensam sobre nós não é real”, diz Luiz Verdasca, que tem 26 anos e 1,15m altura.

Existem mais de 200 formas de nanis-mo e os portadores podem ter entre 70cm e 1,40m na vida adulta. “Os mais conheci-dos são a Acondroplasia e o Nanismo Hi-pofisário”, explica Douglas Breger, que tem 89,5cm de altura. Ele e Claudia Pereira, que mede 92,5cm, formam o menor casal do mundo, certificados pelo Guinness Book e Rankbrasil. O nanismo deles é o Hipofi-sário, um distúrbio na glândula de cresci-mento, que apesar de conhecido, é raro.

Já a Acondroplasia, o tipo mais co-mum, é uma síndrome genética, mas que pode ocorrer sem histórico familiar, já que em 90% dos casos é gerada por uma mu-tação nova que causa a substituição de um único aminoácido. É o caso de Cláudio Castro, o Claudinho, ator e um dos dan-çarinos do vídeo da Dança do Quadrado, que já tem mais de 10 milhões de acessos no Youtube. Sobre sua condição, Claudi-nho comenta que “geralmente, quando nasce um anão, os pais protegem muito. A minha mãe achou maravilhoso, disse que ia ter uma criança para o resto da vida”.

Breger acredita que os anões sofrem mais preconceito que outros deficientes físicos ou minorias sociais. “Fazem bem mais piada com a gente, o que incomo-da bastante”, diz. Segundo ele, os termos ‘anão’ ou ‘portador de nanismo’ podem ser considerados pejorativos pelos pequenos. “O correto é ‘gente pequena’”, explica.

Breger conta que está organizando uma associação em Curitiba, que já pos-sui cerca de 30 pessoas, nos moldes da Associação de Gente Pequena do Brasil (AGP), de São Paulo. Inspirado na organi-zação Little People, dos Estados Unidos, o movimento começou no Brasil há cerca de dez anos. A principal preocupação é apro-ximar os que não conseguem se integrar à sociedade. “Muitos ficam escondidos, são pessoas retraídas, não se aceitam como são, têm medo, vergonha”, explica Breger. Ele acredita que a convivência com gente pequena como eles pode mostrar que é possível levar uma vida normal.

Vida profissional

Claudinho experimentou vários tipos de trabalho até conseguir viver do que real-mente gosta: o teatro. Atualmente faz parte da Cia Máscaras de Teatro e do Mama Djo Djo, além de trabalhar no setor adminis-trativo de um teatro de Curitiba. “Eu sou um ator que é anão. Tive que batalhar para mostrar que não é qualquer um que faz o que eu faço”, afirma. Ele já teve empregos considerados apelativos, mas diz que agora só aceita trabalhos artísticos.

Breger também é ator e trabalha com design gráfico. Já trabalhou como caixa, cobrador de ônibus e assessor parlamentar na Câmara dos Vereadores em Curitiba. Cláudia é atriz, maquiadora, faz telemarke-ting e ainda encontra tempo para bordar.

“Como autônomos, nos adaptamos melhor a certas situações”, explica Breger. Ele acredita que a aprovação da Lei de Acessibilidade, que estabeleceu normas para facilitar o acesso de portadores de de-ficiência a edifícios de uso coletivo e para incluir deficientes no mercado de traba-lho, ajudou um pouco. “Mas as empresas em geral ainda não estão preparadas para atender a demanda”, pondera.

As maneiras de se relacionar

Luiz Henrique Verdasca mora sozi-nho. É artista plástico, pintor e fotógrafo e diz que encara bem o fato de ser diferen-

te, apesar de ter passado por momentos difíceis. “Na infância e na adolescência é complicado. A gente tem mais vergonha e ainda não sabe lidar com algumas situa-ções”, afirma. O apoio vem da família, dos amigos e, atualmente, da namorada. Ele só convive com pessoas ‘grandes’ e não conhece nenhum portador de nanismo.

Já Breger prefere se relacionar com gente pequena. “Não sei se foi por causa da educação da família, ou uma percep-ção minha, mas nunca tive uma experi-ência que não fosse com pessoas peque-nas como eu”. Conheceu Cláudia Pereira por um primo, estão casados há quase dez anos e planejam ter um filho. O casal mantém uma vida social normal. “Saí-mos para dançar, vamos ao teatro, cine-ma, parques e barzinhos”, exemplifica.

Claudinho também gosta de ir a bares e restaurantes com os amigos. Quanto às mulheres, prefere as mais altas. “Mas alta mesmo! É meu fetiche”, revela. Quando está namorando, ele diz ser fiel. “Mas não sou assim quando estou solteiro”, confessa.

A arte de ‘se virar’

Alcançar botão de elevador, balcão de lojas e caixas eletrônicos podem ser tarefas difíceis. “A gente sempre tem que pedir aju-da nesses casos”, conta Breger. “Mesmo um cadeirante tem mais acessibilidade. Nós, perto deles, somos bem pequenininhos”, completa. Em casa, ele e a esposa usam uma escadinha com rodas. “A gente leva na pia e em outros lugares altos. Nossa gela-deira é um frigobar e o balcão do escritório onde trabalhamos é baixinho”, diz.

Claudinho também reclama. “Ir ao banco ou usar caixa eletrônico é a coisa mais chata do mundo, sempre tem que pedir ajuda pra alguém”. Mas as adap-tações necessárias, na opinião dele, são poucas. Em casa, se vira com um ban-quinho. “No trabalho, a única coisa foi uma cordinha mais comprida colocada na descarga”. As roupas que ele usa são infantis, ou precisam de ajustes.

Para dirigir automóveis, os pequenos precisam instalar extensores nos pedais e adaptar a altura do banco. “Direção hi-dráulica e câmbio automático facilitam bastante também”, diz Breger, que há cer-ca de um ano obteve a primeira habilita-ção. “Na auto-escola, o instrutor é normal, só o carro que é especial”, explica. Para quem anda de ônibus, é mais fácil utilizar a rede de Biarticulados, porque os tubos facilitam o acesso. “Já ônibus que é mais alto tem que parar bem perto do meio fio, para não precisar de ajuda para alcançar o degrau”, completa Breger.

Em muitos casos, eles precisam de tratamento para correção de postura ou mau desenvolvimento de ossos e mem-bros. Verdasca teve um problema com uma das pernas e precisou fazer uma operação no joelho. Atualmente pratica esportes de pouco impacto. Corre, fre-qüenta academia, anda de caiaque.

Apesar de todas as dificuldades, tam-bém existem vantagens. Para Verdasca, a parte boa é a superação. “Talvez isso me faça ser mais criativo para lidar com al-gumas barreiras que enfrento”. Breger vê vantagem no envelhecimento mais lento. “Também ocupamos menos espaço, co-memos menos, somos mais ágeis”, diz. Claudinho acha que é bem mais fácil fa-zer amizades, além de não ser esquecido com facilidade. “Tem várias outras van-tagens ainda, mas não vou falar porque estão embutidas em sacanagens”, brinca.

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A altura dos pedais e do banco não impediram Douglas Breger de tirar a carteira de motorista

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