Jornal Comunicação

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Co::: unicação www.jornalcomunicacao.ufpr.br jornal laboratório do curso de jornalismo da ufpr edição 02 | maio de 2009 POLÍTICA PÁG. 7 Fiscalização dos deputados paranaenses ganha um novo aliado SOCIEDADE PÁG. 8 Rios de Curitiba: ainda há como salvá-los da poluição? Irregularidades na CEU: inexperiência ou má-fé?

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Jornal laboratório do curso de jornalismo da Universidade Federal do Paraná (UFPR) - edição de maio de 2009

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jornal laboratório do curso de jornalismo da ufpredição 02 | maio de 2009

Política

Pág. 7

Fiscalização dos deputados paranaenses ganha um novo aliado

Sociedade

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Rios de Curitiba: ainda há como salvá-los da poluição?

Irregularidadesna CEU: inexperiência ou má-fé?

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No tempo certo No jornalismo, o tempo é o essencial. A periodicidade

é uma das características mais marcantes dessa nossa atividade. Tanto que o próprio nome diz: jornal, do francês, journal, que significa diário, o relato do dia. Em espanhol, mais ‘descarado’ ainda, são os periódicos. A relação do jornalismo com o tempo é fundamental; marcamos nossos dias pelo horário do telejornal. Seqüestrados são forçados por seus algozes a posarem para fotos e vídeos com um jornal do dia, para provarem que estão vivos.

No entanto, ainda acreditamos que, antes de marcar o tem-po, a principal função do jornalismo é informar. E informar bem. Nossa prioridade não é a primeira informação, e sim a melhor. Por acreditar nisso, decidimos atrasar nossa edição de maio do jornal por dois motivos: para uma melhor apuração das irregula-ridades da CEU e para termos a definição do que será o vestibu-lar, para poder informar melhor nossa comunidade.

Esses assuntos são de interesse imediato da comunidade da UFPR. O novo modelo de ingresso na universidade proposto pelo Governo Federal, baseado no Enem, traz consigo várias pos-sibilidades de mudar radicalmente, para o bem ou para o mal, o Ensino Médio do país. No entanto, ao mesmo tempo ele retira a possibilidade da universidade escolher o perfil de aluno que de-seja em seus quadros. Sem contar que a exiguidade do prazo para decidir pela adesão ou pela manutenção do sistema antigo pode levar muitas instituições a tomar decisões precipitadas.

Aderir parcialmente ao programa parece ‘ficar em cima do muro’, mas acabou sendo uma decisão inteligente. Ao mesmo tempo, podemos analisar os resultados desse novo modelo sem, necessariamente, ficar ‘refém’ de seus possíveis pontos negativos. No entanto, é necessário que a comunidade pressione a reitoria para que haja um debate aberto e democrático para podermos avaliar e analisar juntos os pontos positivos e negativos de cada modelo.

Já a CEU abriga cerca de cem alunos da instituição. Na repor-tagem de Ciro Campos, você poderá saber quais as irregularida-des apontadas no relatório do Ministério Público que causaram, entre outras coisas, a exoneração do presidente Jeulliano Pedro-so.

Não podemos saber se todas as irregularidades comprovadas foram feitas de má-fé, como alegam os opositores da gestão de Pedroso, ou por inexperiência dos administradores, como alega o ex-presidente. No entanto, a reportagem aponta para um peri-go bastante notável dentro da política estudantil: o uso do movi-mento como palanque para disputas entre facções partidárias.

É necessário dizer que não somos contra partidos nem contra a política; é um erro que os grandes jornais muitas vezes come-tem condenar a prática política em si. Tentar refutar sua existên-cia é ignorância, pois é apenas com uma política apropriada que uma boa administração se torna possível. No entanto, quando a moradia de duas centenas de estudantes se torna palco para pi-cuinhas entre partidos que jamais se aproximaram das demandas do movimento estudantil, como apontam muitas das fontes, esse partidarismo se torna bastante perigoso.

O Comunicação é uma publicação do curso de Jornalismo da Universi-dade Federal do Paraná, com a participação de alunos das disciplinas de Laboratório de Jornalismo Impresso e Laboratório Avançado de Jornalis-mo Impresso.

Professor orientador: Toni Andre Scharlau Vieira. (jornalista respon-sável – RP/MT 6680 - RS).editor Chefe: Fábio Pupo.seCretaria de redação (imPresso): Chico Marés e Manuela Salazar. seCretária de redação (on-line): Iasa Monique. subseCretárias: Ju-liane Massaoka, Lina Hamdar e Luciana Galastri. Webmaster: Tiago Capdeville. Chefe de rePortagem: Mário Messagi Jr.

editores: CiênCia e TeCnologia: Guilherme de Souza. CoMPoRTaMenTo: Rodrigo Batista. CulTuRa: Rafael Rodrigues e Ilana Stivelberg. eS-PoRTeS: Gabriela Bastos. PolíTiCa: Cícero Bittencourt e Luciane Belin. SoCiedade: Juliana Vitulski e Henrique Kugler. ufPR: Lilian Wiczneski, Nayara Brante e Sharon Abdalla.

fotografia: Julia Guedes. Arte: Renata Bossle. CaPa: angéliCa RodRigueS. Charge: Yuri Alhanati. infografiCos: Tiago PizzoloProjeto gráfiCo: Juliana Karpinski. diagramação:Juliana Karpinski.

endereço: Rua Bom Jesus, 650 – Juvevê – Curitiba-PR. telefone: (41) 3313-2017.

e-mail:[email protected] site:www.jornalcomunicacao.ufpr.br

tiragem: 4 mil exemplares. imPressão: Gráfica O Estado do Paraná.

expediente

editorialopinião

Ainda não está claro até que ponto as mudanças no vestibu-lar serão positivas para os estu-dantes e para as instituições de ensino superior. No final de março, o ministro da Educação, Fernando Haddad, apresentou em reunião com a Associação Nacional dos Dirigentes de Ins-tituições Federais de Ensino Superior (Andifes) uma pro-posta de unificação dos vestibu-lares das universidades federais brasileiras. Segundo ele, os can-didatos terão acesso às vagas das universidades através de realiza-ção de uma única prova, batiza-da de “novo Enem” – o Exame Nacional do Ensino Médio pas-sará por uma reformulação para atender ao novo objetivo –, que terá validade nacional.

Em entrevista ao Comunica-ção, o professor de metodologia e prática de ensino de língua por-tuguesa da UFPR Altair Pivovar discute o vestibular, o Enem e a proposta de unificação.

Na sua opinião, qual o modelo de vestibular que se aproxima do ideal?Altair Pivovar: O ideal é aque-le que muda constantemente. Claro que não se fazem mu-danças aleatórias, elas se dão em função de uma avaliação do processo. Mas, mesmo que você chegue à conclusão de que ele é muito bom, em determinado momento, tem que mudar. Então, não existe “o vestibular ideal”, o ideal é aquele que está em constante mudança. Não se pode manter o vestibular igual por muito tempo porque se cria um direcionamento limitador do ensino na educação básica. Nós vamos desenvolvendo es-tratégias e encontrando outros caminhos para responder às questões que não passam, exa-tamente, pelo conteúdo que é cobrado. O vestibular sempre vai ter problemas, ele sempre vai parecer injusto, daí a ne-cessidade de que ele mude. Do ponto de vista da educação, eu acho que isso é o ideal.

Como avalia o atual Enem?Pivovar: O Enem tentou re-solver o problema da ‘decoreba’, mas se você pegar questões pon-tuais vê que se o aluno não sou-ber uma determinada informa-ção ele não responde a questão. Uma das propostas que o Enem considera fundamental é não trabalhar com o excesso de teo-ria. Para mim, a questão não é essa, é a metodologia. É o modo como você explora a questão que determina a eficácia dela em termos de avaliar o apren-dizado do candidato. O Enem possui questões que são simples re c o n h e c i -mento, o

candidato olha um gráfico, por exemplo, e diz: ‘esse aqui é maior do que o outro’. Isso demonstra um conteúdo de leitura de grá-fico acessível ao aluno, mas não uma compreensão do fenôme-no. Então, às vezes, por trás da boa intenção ocorre um deslize na concepção.

Como você vê a proposta de unificação do vestibular?Pivovar: Considero um proble-ma, porque ela tira das univer-sidades um aspecto pedagógico da formação do professor. Se os professores forem dispensados de pensar no processo de in-gresso dos estudantes, eles dei-xarão de desenvolver uma fer-ramenta de aproximação com o aluno. Os professores têm uma trajetória no sentido da espe-cialização, eles vão se fechando na área deles e o aluno que en-tra na universidade passa por todo um processo de adaptação ao novo discurso, às novas for-mas de relacionamento com o conhecimento. Às vezes, o salto que o professor quer que o alu-no dê é muito grande e ele não consegue compreender, não as-simila com eficiência o conheci-mento. Se hoje já existe uma distância entre o ensino supe-rior e o ensino médio, imagine se a universidade só receber os alunos, sem participar do pro-cesso de seleção deles? Aí sim o professor fica mais desobrigado ainda de fazer essa ponte.

O “novo Enem”, que terá 200 questões e uma redação, pode ser considerado melhor como forma de seleção?Pivovar: Para ser melhor, ele tem que passar pela questão que para mim é metodológica. Não adianta fazer perguntas em que o aluno apenas reconhece as respostas. Poderiam ser feitas questões em que o aluno tivesse que confrontar o conhecimento funcional que tem, para que alar-gue seus horizontes e trabalhe com a interpretação.

Corre-se o risco, então, de ele não trazer melhorias para o processo de seleção?Pivovar: Sim. Aumenta-se o número de questões e o alu-no tem que criar estraté-gias para fazer a prova mais rapidamente. A própria escola vai criar estratégias para que o aluno seja eficiente naquele tipo de leitura. Mas é somente um tipo de leitura, que deixa de se preo-cupar com uma

formação mais

abrangente. É preciso fazer do aluno uma pessoa capaz de, dian-te de qualquer leitura, saber como dar respostas. É muito mais com-plexo do que discutir se serão 200 questões, se elas serão divididas em quatro provas.

O novo Enem pode mudar o ensino médio? A unificação do vestibular pode trazer uma uni-formidade do ensino no Brasil?Pivovar: Se houver a unificação, ela vai acabar na uniformidade. As provas devem ser pensadas de forma a promover mudanças no ensino básico, porém não uma mudança “espelho” da pro-va, que se limite ao momento da prova, mas que vá além dela. Se a prova não for pensada assim, ela pode uniformizar, mas não aumentar a qualidade do ensino. Aumenta a qualidade no sentido de que haverá uma maior aprova-ção, mas não, necessariamente, uma melhor formação.

Qual a sua opinião sobre o ves-tibular da UFPR? Pivovar: É um bom vestibular: ele não foi feito em um determi-nado momento e vem se repe-tindo. Ele foi reelaborado, repen-sado com base em estudos, é um processo que passou, ao longo dos anos, por várias transforma-ções. Antes havia, por exemplo, uma redação. Hoje, nós temos uma prova constituída de sete. As questões de múltipla escolha já foram de somatória, hoje são objetivas. Eu acho salutar e in-teressante que haja essa análise constante dos resultados que os modelos de prova vêm apre-sentando e essa modificação, até para criar uma oxigenação do ensino básico. Senão, as pessoas começam a se preparar e limitam o viés escolar do ensino básico para a preparação para o ves-tibular. Quando você modifica, você obriga as escolas a fazerem essa mudança também. Esse é um ponto que eu acho bastante positivo no processo seletivo da UFPR, essa constante revisão do processo.

Existe vestibular ideal?Proposta de unificação do vestibular divide universidades

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O próximo vestibular da UFPR já deve vir com novidades. No dia 20 de maio, a universidade decidiu por aderir parcialmente ao Sistema de Seleção Unificado (SSU), pro-posta do Ministério da Educação (MEC) para unificar os processos seletivos através do Exame Nacio-nal do Ensino Médio (Enem). Os resultados do Enem já devem con-tar como 10% da nota do vestibu-lar. De acordo com o reitor Zaki Akel Sobrinho, esta foi uma de-cisão conservadora. “Temos todo o interesse de valorizar o Enem, mas adota-lo de forma única poderia ser perigoso”, afirma.

A obrigatoriedade do Enem ainda deve ser discutida pelo Conselho de Educação e Pesquisa (Cepe). Existem duas possibili-dades: a primeira, do Enem não ser considerado uma nota obrigatória. Nesse caso, o resultado do vestibu-lar dos alunos que não fizeram o exame será equivalente a nota total, enquanto o dos que fizeram valerá apenas 90%, que serão somados às notas do Enem. Já no segundo caso, o Enem é parte integrante do vestibular, ou seja, caso o aluno não tenha feito o exame, ele receberá apenas os 90% da nota equiva-lentes à prova da UFPR. A decisão deve sair até o final de junho.

O projeto oficial de criação do SSU foi entregue pelo ministro da Educação, Fernando Haddad, à Associação Nacional dos Diri-

gentes de Instituições Federais (Andifes) no dia 30 de março, su-gerindo a unificação dos processos seletivos das instituições de ensino superior a partir da reestruturação e reformulação do Exame Nacio-nal do Ensino Médio (Enem). De acordo com o documento, um dos objetivos da proposta é “democra-tizar a participação nos processos de seleção para vagas em diferentes regiões do país”, além de refletir sobre “a influência dos vestibulares tradicionais nos conteúdos minis-trados no ensino médio”.

Em princípio, as universidades tinham somente a opção de aderir ou não ao SSU. A partir da deman-da das instituições, foram criadas quatro opções de utilização do “novo Enem” nos processos sele-tivos das instituições. “As univer-sidades poderão aderir ao Sistema de Seleção Unificado, utilizar o Enem como primeira fase de seus processos seletivos, como uma porcentagem da nota, ou utilizá-lo como processo seletivo para vagas remanescentes”, esclarece o presi-dente da Andifes e reitor da Uni-versidade Federal de Pernambuco (UFPE), Amaro Lins.

Virada de 180º

“Eu acredito que o MEC está propondo uma virada de 180º”, diz a diretora do Setor de Ciên-cias Humanas, Letras e Artes da

UFPR, Maria Tarcisa Bega. Se-gundo ela, uma das vantagens da unificação, que também foi ab-erta a universidades estaduais e particulares, é o fim dos vestibu-lares agendados, o que acabaria com alguns processos seletivos de baixa qualidade. Maria Tar-cisa cita ainda a possibilidade de uma maior democratização do acesso ao ensino superior. “Um menino de uma cidadezinha no interior do Piauí, por exemplo, que nunca teve acesso a muitas coisas, pode ser um bom aluno, tirar uma boa nota e escolher onde vai estudar”, comenta.

O diretor de avaliações da edu-cação básica do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacio-nais Anísio Teixeira (Inep) - órgão ligado ao MEC que elabora as pro-vas do Enem - Heliton Ribeiro Ta-vares, aponta como maior benefí-cio do processo unificado uma possível mudança tanto no ensino médio quanto no fundamen-tal. “A unificação vai causar uma revolução na educação básica. Haverá uma diminuição nos con-teúdos, mas uma intensificação da análise deles”, explica.

O SSU poderá, além disso, gerar uma maior mobilidade entre os estudantes. Esta questão pro-voca reações diversas. Lins avalia essa possibilidade de forma posi-tiva ao dizer que ela resultará em uma maior troca de experiências

entre alunos de diversas origens. Já o reitor da UFPR, Zaki Akel Sobrinho, explicita o risco por trás dela: “os alunos de estados como São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul, onde o ensino é mais forte, podem acabar ocupando todas as vagas do sistema público. Além disso, o aluno que se deslocar vai precisar de moradia estudantil, de alimentação, de bolsa”, afirma.

Akel destaca o sigilo da prova como outra questão que ainda precisa ser esclarecida. “Será que o Inep vai conseguir realizar a prova, operacionalmente, com confiabilidade e segurança? Nós sabemos sobre as questões de segurança e de sigilo, sobre os ‘pilotos’, que são aqueles alunos que vão fazer a prova por outros”, questiona. De acordo com Lins, a segurança não poderá ser menor que a utilizada hoje nas provas do Enem. Para garanti-la, ele ressalta a importância da participação das universidades na aplicação dela.

A unificação também oca-sionará a perda de características específicas tanto da prova quanto do corpo discente das univer-sidades. Questões de literatura, geografia e história voltadas para assuntos regionais deixarão de existir. “Além disso, a universi-dade perde o controle sobre o perfil de aluno que seleciona”, afirma Maria Tarcisa.

Possibilidades de participação

A formulação do novo exame será feita pelo Inep. As questões serão retiradas do banco nacional do órgão e, depois de avaliadas pelo Instituto, serão ou não sele-cionadas para formar a prova. “As universidades poderão criar exer-cícios para fazer parte do banco de questões que poderão ser usa-dos em exames futuros. Todas serão convidadas a acompanhar o processo de aplicação, mas, por questões de segurança, nem todas terão acesso à prova antes disso”, explica Tavares.

Algumas universidades, como a UFPR, já demonstraram inter-esse em participar da formulação. ”Nosso vestibular é bem avaliado,

ufprVESTIBULAR

UFPR adere parcialmente ao ‘novo vestibular’

Obrigatoriedade do Enem ainda será discutida pelo Cepe

então vamos nos oferecer para ajudar pela nossa experiência”, afirma Akel.

Mudança ‘em cima da hora’

Os cursinhos de Curitiba aprovam a cautela da UFPR. O diretor do curso pré-vestibular Dom Bosco, Ari Herculano de Souza, considera a unificação um possível problema. “Troca-se a diversidade pelo consenso, porém é o conflito que gera o progresso”, diz. Apesar das in-certezas, os cursinhos declaram-se preparados para a adoção do novo modelo. “Teríamos que mudar simulados, reformular o material didático e o planeja-mento. Provavelmente daríamos aula de segunda a domingo, mas conseguiríamos”, afirma o diretor pedagógico do curso pré-vestibu-lar Acesso, Pedro Brandalize, que acrescenta: “Todos os cursinhos privados têm capacidade para se adequar, mas e as escolas públi-cas?”, questiona.

Quem mais vai participar?

A Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) já decidiu, através de votação unânime do Conselho Univer-sitário, pela adesão ao SSU. A decisão valerá para o processo seletivo do verão de 2010. Se-gundo a assessoria da UTFPR, essa mudança resultará em uma seleção mais competitiva e em uma reestruturação do ensino médio.

A Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR) ainda está avaliando a proposta. “A avaliação preliminar determinou que as modificações serão positi-vas, mas uma decisão depende do esclarecimento das regras”, comen-ta o pró-reitor de Administração, Desenvolvimento e Planejamento, Valdecir Cavalheiro. Entretanto, o pró-reitor aponta como improvável a adesão para o processo seletivo de 2010 devido ao planejamento da universidade.

ViVian faRiaCursinhos afirmam que já estão se adaptando ao novo formato do vestibular

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Mudanças na prova:

- 200 questões divididas em quatro áreas de conhecimento: linguagens, códigos e suas tecnologias; ciências humanas e suas tecnologias; ciências da natureza e suas tecnologias; e matemática e suas tecnologias

- uma redação

- a prova será realizada em dois dias. A previsão é a de que ela seja aplicada nos dias três e quatro de outubro

- os alunos terão 2h30 para resolver as questões de cada área e 1h30 para a redação

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A Fundação Casa do Estu-dante Universitário (CEU) tem passado por um período turbulen-to nos últimos meses. Denúncias de irregularidades na prestação de contas da Casa fizeram com que o Conselho Administrativo (CA) fosse dissolvido, e o caso en-caminhado ao Ministério Público Estadual (MP). O Comunicação teve acesso com exclusividade ao relatório de auditoria do MP que atesta as falhas, emitido no final do último mês. Entre as irregulari-dades estão a compra de bebidas em uma distribuidora que havia encerrado suas atividades e gastos não declarados com combustível e corridas de táxi.

As denúncias começaram em janeiro deste ano, de forma anô-nima. “Alguém deixava um papel debaixo da porta apontando os erros”, diz o autor da denúncia ao MP, ex-presidente do Conselho Fiscal (CF) da Casa e atual presi-dente do CA, Elizeu Alves. “Foi feita a auditoria e deixamos em segredo para preservar as pessoas envolvidas”, justifica Alves. Du-rante esses trabalhos, as irregulari-dades foram encontradas e o CA foi inteiramente exonerado pelo Conselho Curador (CC) da Casa.

Em março foi enviado um relatório ao MP, que realizou uma auditoria própria para apurar o caso. De acordo com o texto, os problemas encontrados incluem notas fiscais sem validade, despe-sas não comprovadas e não-cum-primento do estatuto.

Irregularidades

O texto do MP questiona a fal-ta de declaração de gastos em corri-das de táxi, abastecimentos em car-ros particulares (a CEU não possui carro) e compra de bebidas para

festas. Nesses casos, não houve um parecer claro por parte do CA sobre comprovação das despesas e o real uso delas para serviços da Casa. No caso das corridas de táxi, por exem-plo, muitos recibos não estão em nome da CEU e não explicitam o trajeto utilizado pelo taxista na oca-sião. Além disso, o MP evidencia o gasto excessivo com celulares – em 2008, foram gastos mais de R$1300 além da franquia contratada.

Outro ponto questionado pelo relatório são os gastos com com-pras para um churrasco, que acon-teceu em abril do ano passado. As bebidas e a carne adquiridas têm notas fiscais com data de emissão de abril de 2008 e julho de 2008, respectivamente. Ou seja, datas que não coin- cidem. Além disso, a distribui-d o r a onde as bebidas

foram compradas encerrou suas atividades junto à Secretaria da Fazenda Estadual em março de 2007, período muito anterior à re-alização do evento.

Nessas duas ocasiões de ven-da, as notas vieram numeradas: em abril com número 210 e, em julho, 211, o que foi considerado como questionável pelo MP. “É estranho que de abril a julho (3 meses) a referida empresa não tenha emitido nenhuma nota fiscal de venda a consumidor, além do fato que já estaria com as atividades encerradas segundo certidão da Fazenda Estadual”, comenta o texto. O ex-presidente do CA Jeulliano Pedroso, exo-nerado em fevereiro, diz que não tinha como saber que a distribui-dora de bebida estava irregular.

A auditoria também encon-trou irregularidades na Festa de

60 Anos da CEU, pro-movida no ano pas-sado. Os organiza-dores consideraram mais barato comprar as bebidas na filial da Duty Free na Ar-gentina, local onde é possível comprar sem impostos, ao preço de

R$1200, mas não foi apre-sentado documento que com-provasse a despesa. Além disso, o estatuto da Casa proíbe a com-pra de bebidas alcoólicas com o dinheiro da Fundação. “Pagaría-mos R$1500 a mais em Curitiba. Sabíamos que estávamos errando ao comprar bebidas, mas isso foi aprovado por todos em reunião, e um dos membros do CC até nos emprestou o carro”, conta Pedroso. O presidente do CF na época, Elizeu Alves, diz que não sabia dessa viagem.

O MP questiona ainda a cessão de benefícios ou vantagens a moradores, por serviços presta-dos por moradores da Casa, o que é irregular pelo estatuto. Foi assinado um contrato com um advogado profissional morador da CEU, que recebeu R$600 mensais da instituição de março a dezembro de 2008. Uma de suas atribuições, segundo destaca o MP, era a seguinte: “Obriga-se a prestar consultoria jurídica ape- nas verbalmente nos mais varia-dos campos do Direito.” Pedroso defende a contratação. “O serviço contratado custaria a metade do preço que vínhamos pagando a outro advogado”, diz.

O relatório questiona tam-bém o atraso do pagamento de funcionários, irregularidades em contratos e em demais declara-ções de despesas.

Inexperiência administrativa

Segundo Pedroso, todos os er-ros citados no relatório são resul-tado de sua inexperiência na área administrativa e contábil para lidar com prestações de contas e notas fiscais. “Um amador certa-mente vai fazer uma administra-ção com erros”, alega. O Minis-tério Público também chama atenção para a inexperiência dos administradores. “Cons-tata-se que a administração deixa ocor-rer uma série de irregularidades, por imperícia ou negligên-cia, que com-prometem o p a t r i m ô n i o da Funda-ção”, conclui o relatório.

P e d r o s o afirma que desde o começo da auditoria interna não foi dado a ele o direito de se defender e ter acesso aos le-vantamentos. “Todo mundo que é citado em algum processo tem o direito de acessar os au-tos”, reclama. Na opini ão dele, a denúncia foi protocolada por motivações pessoais e político-partidárias, com influências externas – Pedroso é filiado ao PSDB, enquanto Alves (atual presidente) é filiado ao PMDB.

“O CA, o CF e o CC eram todos da mesma chapa e o meu maior erro foi ter colocado gente de partido político nela”, comen-ta. O ex-presidente afirma que o caso serviu para ajudar na eleição de Elizeu Alves como presidente do CA, no começo de maio.

“Não foi dada chance para defesa. Só fui saber do relatório quando vi minha exoneração”, critica também o ex-primeiro secretário do CA, Edir Du-maszak. Para o membro do CC da CEU, Bohdan Metchko Filho, a auditoria feita pelo MP foi de caráter técnico-administrativo e não político. Alves complementa que em todo o caso, não houve

interferência por vaidade pes-soal ou influência política. “Eu sou filiado a um partido, mas tem que saber separar a vida política da CEU. O que houve foi um tra-balho padrão”, afirma.

Ele também descarta qualquer ligação entre a denúncia e sua eleição ao cargo de presidente do CA, e acredita ser difícil afirmar se as irregularidades são resul-tado de má fé ou de inexperiência administrativa.

Os moradores

Na opinião do estudante Ed-uardo Nito, essa é uma oportuni-dade de trazer melhorias à CEU. “Esse trauma é necessário para extirpar daqui tudo o que há de

mal. Essa audi-toria deveria ocorrer em out-ras gestões tam-bém”, afirma.

Nito elogia o relatório do MP e afirma que a Casa é usada como um ‘tram-polim’ político. “Aqui há clien-telismo e benefí-cios a certos grupos”, critica. Outro morador com a mesma opinião é Ro-gério Santana.

Ele acredita que a denúncia foi mo-tivada por divergência partidária. “A Casa é um micro-celeiro da política”, denuncia. “As denúncias foram usadas por algumas pessoas para tomar o poder e isso deixou alguns moradores indignados”, ob-serva o morador Emanuel Lisboa.

A CEU tem atualmente 201 moradores, cem deles alunos da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Para esses entrevis-tados, o ideal seria que a Casa tivesse um administrador profis-sional para gerir as contas.

No Ministério Público, o caso segue sob análise da assessoria jurídica da Promotoria de Justiça das Fundações e do Terceiro Setor. Ao final dessas investiga-ções será decidido se uma ação será proposta ou se haverá arqui-vamento. Não há prazo definido.

Confira novos fatos emwww.jornalcomunicacao.ufpr.br.

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Ministério Público faz auditoria em contas da CEU Denúncias de irregularidades causam exoneração de cargos e polêmicas na Casa

O CA, o CF e o CC eram todos da mesma chapa e o meu

maior erro foi ter colocado gente de

partido político nela”Jeulliano Pedroso

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A CEU passa por um período conturbado: reforma estrutural e a dissolução de seu conselho administrativo devido à denúncias de irregularidade

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Co:::unicação 5maio de 2009ciência e tecnologiaINFORMÁTICA

A troca da licença de uso pela da liberdade Software livre permite a soberania do usuário sobre o programa

Em 1983, Richard Matthew Stallman, funcionário do Institu-to de Tecnologia de Massachu-setts (MIT, na sigla em inglês), estava tendo problemas com a impressora do seu trabalho. Havia poucas funções no pro-grama de utilização da máquina, o que limitava bastante seu uso. Como ele trabalhava justa-mente com o desenvolvimento de softwares, resolveu pedir ao fabricante o código-fonte do programa, para que pudesse adi-cionar novas funções e melhorar o desempenho do produto. Teve seu pedido negado.

Diante dessa recusa, Stall-man resolveu criar um mo-vimento formal dos softwares livres. Surge então, em setem-bro daquele ano, o chamado Projeto GNU, cujo objetivo é desenvolver um sistema ope-racional – software principal que coordena todas as funções básicas do computador, como o Linux ou o Windows – total-mente livre. Posteriormente, o movimento se expande e é cria-da a Free Software Foundation (FSF), uma organização com a função de promover o desen-volvimento dos softwares livres e defender os direitos dos seus usuários.

Segundo a definição da FSF, é considerado livre o software que o usuário pode usar, modificar de acordo com as suas necessidades, redistribuir cópias – fornecendo gratuitamente ou vendendo – e liberar as versões modificadas para que toda a comunidade se beneficie dessas inovações.

Apesar de em sua maioria serem gratuitos, essa não é uma condição para o software ser con-siderado livre. O termo ‘free’ (da denominação em inglês free soft-ware) faz referência à liberdade – de reproduzir, analisar, compartilhar, modificar – que não existe nas versões proprietárias. Essa liber-dade é considerada imprescin-dível para um programa ser con-siderado livre, segundo a definição oficial da FSF.

Existem inclusive progra-mas disponibilizados das duas maneiras, como por exemplo o MySQL – um dos gerencia-dores de banco de dados mais utilizados na internet. “Se for utilizado com fins comerciais, é pago, mas para fins acadêmicos ou pessoais, é gratuito”, explica o diretor do Centro de Com-putação Eletrônica (CCE) da UFPR, José Simão de Paula. “É exatamente o mesmo progra-ma”, confirma.

Muito dessa liberdade vem da possibilidade de acessar o código-fonte, uma espécie de ‘código genético’ do software. O analista de sistemas Tiago Hermann propõe uma maneira simplificada para se entender o processo: imaginar o programa como um bolo, e o código como a receita. “O que é disponibili-zado e pode ser editado pelos usuários é a receita desse bolo. Sendo possível alterá-la, os usuários podem criar ‘bolos’ diferentes conforme suas ne-cessidades”, explica.

História antiga

Apesar de o movimento for-mal só ter surgido com Richard Stallmann, a história dos soft-wares livres é bem mais antiga. Segundo o tecnólogo em in-formática Tiago Souza, desde o início da era da computação (que começou em meados dos anos 50) o compartilhamento de códigos e de soluções para problemas com esses progra-mas sempre foi muito comum.

“Nos anos 80, com a des-culpa de fortalecer seus direi-tos e combater a pirataria, os fabricantes passaram a usar sistemas operacionais baseados em softwares proprietários”, explica. Esse tipo de programa não pode ser compartilhado e muito menos modificado pelos usuários, o que dificultava a e-xistência dessa ‘comunidade de cooperação’ que existia entre

programadores.

Elogios e resistência

Para Hermann, a maior qualidade do software livre é ser baseado no comparti-lhamento de conheci-mento. “Por mais que você não tenha de-terminada competên-cia para me-

lhorar um soft-ware, outras pessoas po-dem dispor dessa capacidade”, lembra. “Trabalhando dessa maneira, é possível prover um produto melhor para todo mun-do”.

Outra vantagem é a rapidez com que os problemas são re-solvidos. “Existe uma base maior de pessoas que podem mexer no código e resolver as falhas detectadas”, aponta Souza. Há diversos fóruns pela internet nos quais os usuários veiculam dificuldades e soluções relacio-nadas a programas de computa-dor. No caso de softwares pro-prietários, os problemas devem ser encaminhados diretamente aos desenvolvedores, uma vez que não é possível alterar suas bases sem autorização.

Apesar dessas qualidades, existe uma grande resistência das pessoas em utilizar os soft-wares livres. Segundo de Paula, isso se deve principalmente a um estranhamento com relação aos programas. “As pessoas têm a falsa idéia de que é preciso ser programador ou receber um treinamento específico para uti-

lizar qualquer software livre”, afirma.

De acordo com o diretor do CCE, assim como é pre-ciso ter aulas para aprender a usar softwares proprie-tários mais complexos – AutoCAD ou Photoshop, por exemplo – para tra-balhar com programas livres mais específicos os cursos realmente são necessários. “Mas para usar um editor

de texto ou de apresenta-ções, por exemplo, não é preciso um treinamento”, esclarece de Paula. Além disso, a variedade de opções própria do movimento dos softwares livres garante que os usuários possam encontrar

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ver sões diferentes – mais simples ou com mais recursos – de um programa com a mesma função.

Alternativa à pirataria

Mesmo assim, os programas pagos de código fechado ainda estão presentes na maioria dos computadores. Às vezes, nem a academia dá o exemplo: no cur-so de inclusão digital da UFPR, o Inclusão Digital Social (IDS), são ministradas aulas com soft-wares proprietários como Word e Excel. O fato é que o custo de equipar um computador com esses programas não faz parte da realidade das pessoas de baixa renda, o público-alvo desse cur-so. Assim, é bastante comum a opção pelos programas piratas, com todos os seus riscos (vírus e mal funcionamento, por exem-plo). “De certa forma, há um in-centivo ao uso do software ilegal

porque o treina-mento não

é dado na

solução gratuita”,

afirma o diretor.

A dis-seminação do

uso de softwares livres pode ser uma alternativa à pira-taria e, ao mesmo

tempo, uma resposta aos elevados preços

cobrados pelos programas pro-prietários – o preço médio do aplicativo para

projetos gráficos CorelDraw é de R$ 500 para uso pessoal, podendo chegar a R$ 1.700 se for para utilização cor-porativa. Versões de programas específicos, como o editor de vídeo Final Cut, podem passar da casa dos R$ 10 mil.

Apesar de serem mais aces-síveis, os softwares livres não são necessariamente versões mais básicas ou com menos funções que os proprietários. Segundo de Paula, para quem não precisa de aplicações espe-cíficas – softwares jurídicos ou médicos, por exemplo – é pos-sível trabalhar usando apenas programas livres. “Hoje é pos-sível ter um sistema operacio-nal, um ambiente de trabalho na internet e aplicativos de es-critório totalmente gratuitos e de excelente qualidade. É um excelente motivo para não usar o software pirata”, completa.

Utilização de softwares livres na UFPR

O diretor do Centro de Computação Eletrônica da UFPR José Simão de Paula estima que hoje menos de 25% dos com-putadores da Universidade utilizem softwares livres. Ele explica que existe um projeto para que toda a parte administrativa da UFPR passe a operar utilizando esses softwares e para que os alunos disponham das duas opções de sistema nos computado-res do ambiente acadêmico.

O CCE – responsável por desenvolver sistemas para a Uni-versidade – já usa softwares livres em aproximadamente 70% dos seus projetos. Além disso, o Centro também desenvolve soluções a partir dos aplicativos gratuitos.

Page 6: Jornal Comunicação

Co:::unicaçãomaio de 20096

O Serviço de Ação Social (SAS) da Policia Militar do Paraná criou em 2004 o Progra-ma de Orientação para a Reserva para que policiais militares apo-sentados não se deparem com problemas psicológicos ao encer-rar a carreira. A iniciativa realiza orientação social, psicológica e filosófica, de grupo e individual, aos futuros aposentados.

Desde a criação do projeto, verificou-se que algumas das maiores dificuldades dos poli-cias militares aposentados estão relacionadas ao convívio famil-iar, à formação de um novo es-paço de relacionamento fora da instituição e à manutenção de hábitos saudáveis.

O policial Rafael Penkal ex-plica que o conhecimento de vida adquirido pelos policiais é muito vasto. “Durante a vida profissional, eles já se depararam com diversos tipos de crises. Desde uma simples discussão a um homicídio, todos tiveram de gerenciar questões sociais relevantes”, afirma. Para ele, na teoria, o profissional teria mais condições de administrar suas

próprias crises. “No entanto, neste ponto, nos deparamos com a vivência emocional de cada um”, afirma.

A moder-nidade exige agili-dade e constantes mudanças, e isso reflete na vida dos recém aposentados, que buscam no-vos serviços e atividades. “O ser humano é, em essência, produtivo, gosta de se sentir útil, e a ociosidade causa a sen-sação de inutilidade”, explica o psicólogo Raphael Di Lascio. Ele esclarece que essa desocu-pação pode trazer consequên-cias negativas, como isolamen-to, depressão, angústia, pânico, medo, crises de ansiedade e agressividade.

O ex-policial militar Adair Cattoni, 49 anos, sabe bem o que é isso. Ele trabalhou duran-te 27 anos no atendimento de ocorrências na rua e se depa-rou com todo tipo de situação, desde brigas entre casais até crimes pesados. Ele frequentou o SAS por três meses, enquan-to aguardava a aposentadoria. “Quando um passarinho preso muito tempo na gaiola é solto,

ele fica perdido. O trabalho feito antes da reserva ajuda a evitar que isso aconteça com a gente”, reflete. Cattoni está aposentado a três anos e atual-mente trabalha num frigorífico em Campo Magro, com gestão em segurança. “Eu não consigo ficar parado, por isso logo que me aposentei arrumei outro trabalho numa área que eu já conhecia”, relata.

esporte/comportamento

Policiais aposentados ganham chance de recomeçar APOSENTADOS

Orientação para a Reserva auxilia policiais para evitar futuros problemas pessoais

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Aposentadoria e trabalho

Não só os PMs precisam de auxílio e sentem vontade de continuar no trabalho: é grande o número de apo-sentados que continuam em seus cargos ou buscam novas funções. Se-gundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2007, 74% dos 3 mi-lhões de brasi-leiros com mais de 65 anos

em atividade eram aposentados.Isso ocorre com frequência

com trabalhadores que se apo-sentam por volta dos 50 anos: seguem em atividade por ainda se sentirem capazes de enfren-tar a rotina de trabalho. “A lon-gevidade vem aumentando e as pessoas procuram tornar esses anos mais produtivos”, diz Di Lascio.. Para ele, o mundo hoje oferece mais oportunidades para pessoas com mais idade. “Eles frequentam cursos superi-ores, buscam novas profissões, fazem turismo”.

Maria Regina Giesen, 59 anos, é prova dessa mudança. Ela se aposentou há cinco anos, mas ainda trabalha como professora de língua portuguesa na Funda-ção de Estudos Sociais do Paraná (FESP), onde está há 26 anos. “Eu me aposentei, mas minha cabeça continua viva. Não posso jogar fora todo o conhecimento que adquiri ao longo dos anos”, afirma. “Ficar parada faz mal à saúde; sempre procuro estudar, ler e aprender novas culturas”.

Apesar do alto custo, es-portes considerados de elite vêm sendo utilizados em projetos sociais voltados para crianças e adolescentes carentes. Diversas iniciativas conseguem ultrapas-sar as dificuldades e atendem esses jovens, oferecendo, além da atividade esportiva, possibili-dades de inclusão social.

O Instituto Ícaro atende mais de 500 crianças, todas da rede pública de ensino em seus seis anos de existência. “O principal objetivo do projeto é tornar o tênis acessível para todas as camadas sociais, combatendo a imagem de esporte de elite”, explica Edu-ardo Luiz Marcolin, responsável pelo instituto. Segundo ele, o es-porte estimula os alunos, pois há possibilidade de participarem de competições e até chegarem a ser atletas de alto nível. Além disso, Marcolin ressalta que o Instituto oferece também reforço escolar, aulas de xadrez, línguas e artes, com o intuito de ajudar as crianças na educação e inclusão social.

Apesar de ser uma modali-dade mais praticada, a natação também encontra dificuldades para atingir camadas mais po-pulares. De acordo com o vice-presidente da Federação de Desportos Aquáticos do Paraná (Fdap), Mirley Lemos Corrado, o grande problema é que a mo-

dalidade depende de manuten-ção das piscinas, e isso encarece a prática. Entretanto, isso não impede a realização de projetos sociais bem sucedidos, como a Fundação Nadar.

Através de parcerias de pes-soas físicas e jurídicas, o projeto social realizado pela fundação ex-iste há sete anos e atendeu mais de 680 crianças. “A ideia era criar uma entidade que viabilizasse, através da natação, o desenvolvimento social, a autoestima e a coragem para mudar uma realidade”, ex-plica a presidente da fundação Jo-sefa Carneiro. A Fundação Nadar acolhe crianças, após uma seletiva, com preenchimento de uma ficha cadastral e uma entrevista com as-sistentes sociais.

No entanto, o custo da prática desses esportes ainda é bastante caro. O gasto mensal com aulas de natação pode chegar a até R$ 200 . As de tênis chegam a bater na casa dos R$ 1000, sem contar o mate-rial (raquete, bolinha e tênis), que pode chegar a R$ 750 .

Hipismo longe dos incentivos

Outro esporte com poten-cial para novos talentos é o hi-pismo. No Paraná, entretanto, não há nenhum projeto social dedicado a isso. A modalidade continua restrita à elite, mesmo

após o crescimento da exposição do esporte na mídia, com o bom desempenho de cavaleiros como Rodrigo Pessoa, grande vencedor de competições internacionais.

“O primeiro passo para po-pularizar o hipismo é incentivar a cultura equestre, para que as pessoas adquiram hábitos de as-sistir às provas”, explica Rodrigo Otávio Kost, presidente da Fe-deração Paranaense de Hipismo (FPrH). Segundo ele, é impor-tante que o hipismo seja visto também como lazer, e não apenas como um esporte de competição, o que pode baratear a prática. O hipismo proporciona, princi-palmente entre as crianças, uma melhor relação entre as pessoas e os animais, com a preservação de valores como respeito e cuidado.

O professor da Sociedade Hípica Paranaense, Alexandre Macedo, expõe a necessidade de projetos sociais que ensinem crianças carentes a tratar dos cavalos e também a mexer com os equipamentos, para que no futuro possam trabalhar como instrutores ou treinadores. “O hipismo abre muitas oportuni-dades de emprego, e os salários podem chegar, por exemplo, a R$ 2.500 para um tratador de cavalo”, argumenta Macedo.

Projetos oferecem esportes ‘de elite’ para crianças carentes

INCLUSÃO

Iniciativas são uma boa saída, mas dependem de parceiros para se manter

O convívio com os animais é bom... ...e gera empregosana Cláudia CiChon

Iniciativa ajuda policiais a enfrentar as dificuldades da aposentadoria

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Page 7: Jornal Comunicação

Co:::unicaçãomaio de 2009 7política

A Assembleia Legislativa aprovou, em duas reuniões con-secutivas, a proposta de cria-ção do Portal da Transparência Pública no Paraná. Composto por três projetos de resolução, o sistema representa uma alter-nativa para acompanhar e fis-calizar os gastos dos parlamen-tares eleitos pelos paranaenses. O Portal faz parte de um pacote de medidas que preveem a regu-lamentação dos gastos da casa com funcionários e com verbas indenizatórias.

O Portal da Transparência será um link no site oficial do Legislativo (www.alep.pr.gov.br), com o objetivo de expor in-formações financeiras sobre os gabinetes. A previsão do grupo de deputados que elaborou o projeto é que o site esteja pronto em outubro deste ano, a fim de efetivar ajustes técnicos. Contu-do, algumas informações (como os gastos com a verba de inde-nização) já estarão disponíveis dentro do prazo de 60 dias a partir da data em que a proposta foi aprovada (06/04).

O secretário de organização do PT em Curitiba, João Paulo Mehl, acredita que a proposta é fundamental para garantir a fisca-lização e o acompanhamento do público sobre as questões políti-cas. “O Portal da Transparência vai expor todas as informações que se referem à administração da verba que os parlamentares recebem para o ressarcimento de despesas. É uma maneira de vi-giar os políticos e a forma como aplicam o dinheiro da popula-ção”, defende.

Para exemplificar a im-portância da medida, Mehl cita o polêmico caso dos cartões corporativos. Segundo ele, o Portal da Transparência nacio-nal (que expõe os gastos dos deputados federais e no qual se inspira a nova proposta do governo paranaense) permi-tiu que se constatasse a forma como os políticos estavam ad-ministrando o dinheiro público. “As suspeitas do uso irregular da verba foram confirmadas a partir de dados financeiros con-

tidos no portal”, afirma. “Dessa forma, foi possível punir os abu-sos e mostrar aos políticos que a população estava atenta”.

O que é o pacote Além da divulgação pública

dos gastos da casa, o pacote regulamenta a contratação e o exercício de servidores públi-cos, assessores e secretários de parlamentares, conforme prevê o projeto de resolução 003/09. Na primeira reunião, ficou de-cretado que os funcionários comissionados deveriam com-provar que estavam em pleno gozo de seus direitos políticos e que não recebiam benefícios de aposentadoria por invalidez ou auxílio-doença do INSS. Deveriam, também, comunicar ao Departamento Pessoal da As-sembleia Legislativa quaisquer alterações em sua vida funcio-nal. O terceiro termo do projeto

determinava que os emprega-dos não poderiam ocupar outro cargo público, e empregos na iniciativa privada só seriam per-

mitidos se comprovada a com-patibilidade de horário. Tais me-didas expressam a tentativa de reprimir a contratação irregular e os funcionários fantasmas.

Alguns deputados, en-tretanto, consideram rigoroso demais o trecho da proposta que proíbe a incompatibilidade

de horário. Os parlamentares re-cebem a verba mensal de R$39,5 mil destinada à contratação de pessoal e há casos em que os funcionários podem efetivar o

Portal da Transparência vai possibilitar a inspeção dos gastos dos deputados paranaenses

TRANSPARÊNCIA

Fiscalização de políticos ganha mais um aliado

serviço demandado em alguns minutos. Nas normas do pro-jeto, eles receberiam o salário integral pela exigência da exclu-sividade. Por isso, o deputado estadual Elton Welter (PT) apresentou uma emenda, apro-vada na segunda reunião, que atenua as regras de contratação. As modificações apresentadas pelo deputado no projeto origi-nal criam o funcionário “par-cial”. Este pode prestar assistên-cia dentro de seu próprio local de trabalho quando solicitado e, portanto, não precisaria rece-ber a remuneração integral, já que não trabalharia exclusiva-mente para o deputado e pode-ria atender simultaneamente outros clientes. “Deve haver possibilidade de o parlamen-tar dispor de servidores profis-sionais com presença em tempo parcial no gabinete”, defende Welter. O projeto de resolução 003/09, originalmente, impe-dia que funcionários externos prestassem serviço aos deputa-dos. “Pode-se, assim, viabilizar um trabalho de base, com es-pecialistas à disposição dos leg-isladores – um advogado, por exemplo, pode prestar assesso-ria jurídica dentro do próprio escritório, fora do Legislativo”, argumenta o deputado.

Já o projeto de resolução 005/09 foi aprovado por una-nimidade na primeira reunião. Esse ponto do pacote regula-menta os gastos com as verbas de indenização, de até R$ 27,5 mil mensais por deputado. O site do portal vai expor detal-hada e individualmente os gas-tos de cada parlamentar, além de despesas administrativas da Assembleia, movimenta-ções financeiras e execução do orçamento, atualizados men-salmente. Prevê, também, a divisão das verbas de ressarci-mento e limites para os gastos, que deverão ser comprovados por meio de notas fiscais, com a inscrição do CNPJ (Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica) ou do CPF (Cadastro de Pes-soas Físicas) dos prestadores de serviços.

O Portal da Transparência do Paraná não é novidade nacional em termos de fiscalização políti-ca. No governo federal, um portal semelhante lançado em novem-bro de 2004 expõe à população informações sobre os recursos públicos federais transferidos pelo governo a estados, municí-pios e Distrito Federal, segundo a própria descrição do site (www.portaldatransparencia.gov.br).

O site paranaense Vigilantes da Democracia (www.vigilantes-dademocracia.com.br) mantém uma linha de atuação indepen-dente. Representa, segundo o

cientista político e monitor do projeto Augusto de Franco, a co-leta de informações jornalísticas sobre os parlamentares estaduais e os federais eleitos pelo Paraná. “Nosso trabalho é armazenar notícias sobre as atividades dos parlamentares e reuni-las no site”, explica. O trabalho dos Vigilantes é coordenado por Sérgio Braga, professor de ciência política da UFPR, que, juntamente com um grupo de alunos do curso que ministra, e em parceria com o Vigilantes da Democracia, pu-blica na internet as informações.

Para o coordenador da Rede

O Portal da Transparência vai expor todas as informações que se

referem à administração da verba que os parlamentares recebem para o ressarcimento

de despesas. É uma maneira de vigiar os políticos e a forma como aplicam o dinheiro

da população” João Paulo Mehl

SeCretário de orgAnizAção do pt em CuritiBA

“Através do portal, o contribuinte poderá fiscalizar os gastos de todos os deputados estaduais

O povo também pode fiscalizar

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de Participação Política do Em-presariado (RPPE), José Marin-ho, o Vigilantes da Democracia permite o acesso e a participa-ção da sociedade nas questões políticas e surgiu por meio de uma iniciativa da RPPE. A teia de relações é parte de um pro-jeto de conscientização política promovida pela FIEP (Fed-eração das Indústrias do Estado do Paraná). “Tanto o Vigilantes quanto a RPPE são formados por um grupo não-governamental de estudiosos, que selecionam as notícias sem viés ideológico ou partidário e com a pretensão de

incentivar a fiscalização pública”, explica Marinho.

Já o Transparência Brasil (www.transparenciabrasil.org.br) tem como objetivo principal o combate à corrupção e trabalha com a exposição de notícias dos deputados, assim como o Vigi-lantes da Democracia, mas em nível nacional – registra todos os deputados estaduais e federais em exercício no país.

Rosangela Giembinsky, co-ordenadora do movimento Voto Consciente (www.votoconsciente.org.br), orienta o projeto “Votar/Cobrar/Participar”, por meio do

qual procura promover a con-scientização pública sobre a im-portância de participar da política, tanto nas decisões de voto quanto após as eleições. “Procuramos acompanhar o que ocorre dentro do parlamento e expor à popula-ção. Mais que um direito, é dever da sociedade fiscalizar as atitudes dos representantes que elegeram e, inclusive, dos que não elegeram. O Portal da Transparência vai fa-cilitar o acesso a um conjunto de dados antes distantes do cidadão”, explica.

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Page 8: Jornal Comunicação

Co:::unicaçãomaio de 20098

A cidade de Curitiba é in-teira cortada por rios. Apesar de pouco conhecidos, eles contabi-lizam centenas de quilômetros, divididos em seis micro-bacias principais: Barigui, Belém, Atuba, Passaúna, Alto Iguaçu e Ribeirão do Padilha. A situação deles, no entanto, não é nada animadora: de tão poluídos, muitas vezes são confundidos com esgotos.

Em 2008 o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou o Índice de Desenvolvi-mento Sustentável (IDS), em que o Rio Iguaçu aparece como o se-gundo mais poluído do país. Ou-tro rio que também é considerado quase inteiro morto é o Belém, o ‘mais curitibano’ dos rios – por ter a nascente e a foz dentro do mu-nicípio de Curitiba. No passado, até a primeira metade do século 20, ele contribuiu para a forma-ção da cidade como um eixo es-truturador do desenvolvimento urbano, segundo o professor de mestrado em Gestão Urbana da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), Fábio Du-arte. “Depois se tornou um prob-lema ambiental e urbano, quando a cidade avançou sobre suas mar-gens provocando alagamentos de bairros nas últimas décadas”, acrescenta. A última grande parte a ser canalizada do rio é a que está sob a Avenida das Torres, coberta na década de 70.

A sub-bacia do Rio Belém é uma das mais importantes, pois ocupa uma área de drenagem de 87,80 km², equivalente a 20,32% da área total da cidade, onde vive cerca de 30% de seus habitantes. Ele está canalizado a partir do Centro Cívico até a Rodoviária.

Em muitos pontos da cidade, principalmente nas áreas centrais, os rios estão canalizados – cerca de 80% deles se encontram dessa maneira – e por esse motivo são pouco notados pela população. O

Diretor de Recursos Hídricos da Superintendência de Desenvolvi-mento de Recursos Hídricos e Sa-neamento Ambiental (Suderhsa), Emílio Trevisan, não vê com bons olhos essa prática. “É ambiental-mente incorreto e esconde o rio”, declara. Ele comenta que vários pedidos de outorga de canalização têm sido negados. “O procedi-mento está muito mais restritivo do que era antes”, diz.

O problema de perto

A poluição não se restringe ao rio Belém e ao Iguaçu. Morador das proximidades do Rio Barigui (rio com maior extensão no mu-nicípio de Curitiba, 60 km) desde que nasceu, João Vitor de Marchi se diz acostumado com o cheiro. “O odor fica mais forte em dias de sol intenso”, comenta. Moradores mais antigos do bairro dizem que o rio já foi muito limpo, e que existia até mesmo a prática da pesca. “De uns tempos pra cá, porém, começaram a apare-cer pneus, garrafas plásticas e até despejos da tubulação de esgoto”, relata João Vitor.

José Wilson de Moura, que vive no Campo Comprido, tam-bém tem reclamações a fazer sobre o Rio Barigui. “O rio é podre”. Ele afirma que ele e seus vizinhos já fizeram vários pedidos à prefeitura para que uma dragagem, mas não obtiveram resposta. “A prefeitura não faz nada, não tenho mais pers-pectiva de melhora”, diz.

Culpados

Os responsáveis pelo atual quadro são, em grande parte, os próprios habitantes da cidade. “A poluição dos rios é predomi-nantemente de origem orgânica, ou seja, esgoto doméstico não tratado”, esclarece Leda Neiva Dias, bióloga do IAP e mestre em

sociedadeMEIO AMBIENTE

Rios curitibanos pedem socorro Condição atual dos rios da cidade preocupa especialistas e exige soluções

BRuno CalzaVaRa Muitos rios de Curitiba estão escondidos, e as vezes são até confundidos com esgotos

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A Prefeitura de Curitiba iniciou em março de 2007 um planeja-mento estratégico, cujo objetivo é revitalizar o maior rio em área urba-na da cidade, que concentra quase um terço da população curitibana. Trata-se do Viva Barigui, composto por três pilares: fiscalização, edu-cação ambiental e infra-estrutura. Nesse último aspecto, a ideia é unir os Parques Tingui, Tanguá e Barigui num corredor verde com ciclovias,

canchas e espaços de lazer para a população. As margens do rio terão sua mata ciliar recomposta ou preservada, formando Áreas de Preservação Permanente.

O que atrapalha a imple-mentação do Viva Barigui são as ocupações irregulares ao longo do rio, problema a ser resolvido em parceria com a Companhia de Habitação Popular de Cu-ritiba (Cohab). “Os cadastros das famílias já estão sendo feitos e até 2011, 750 delas serão realocadas”, afirma a coordenadora técnica de Recursos Hídricos da Secretaria Municipal do Meio Ambiente Cláudia Boscardin.

Algumas obras inicialmente previstas já foram realizadas, como o desassoriamento do Rio Barigui e a inauguração do Parque Cambuí. “A previsão é de que os projetos executivos sejam entregues em julho, para que o grosso das obras aconteça já em 2010”, afirma Cláudia. Entretan-to, o encerramento de todas as obras de infra-estrutura, por serem empreendimentos a longo prazo, não tem data definida.

Sociedade organizada

A Associação dos Moradores e Amigos do São Lourenço (AMASL) trabalha com diversas iniciativas comunitárias, incluin-do nove projetos ambientais. A menina dos olhos da AMASL é um projeto chamado Patrulha

Ambiental, que atua em diversas partes de Curitiba, mobilizando a comunidade para que formem suas redes comunitárias de pro-teção ambiental.

Na bacia do rio Belém, em Cu-ritiba, atua a pioneira dessas redes, a Viva Belém. Em quase dez anos de existência, o projeto recebeu vários prêmios, sendo considerada pelo Informativo BR das Nações Unidas para o Meio Ambiente um “exemplo de ação comunitária lo-cal” a ser seguido na recuperação de bacias hidrográficas. “A avalia-ção até agora é a melhor possível”, garante o presidente da Associa-ção, César Paes Leme.

Ele conta que, de 1999 a 2006, a porcentagem das residências nos entornos da microbacia co-nhecida como Alto Belém (que compreende dezenas de riachos nas nascentes do Rio Belém) liga-das corretamente à rede de esgoto passou de 42% para mais de 90%. “Tudo isso conscientizando as pes-soas, sem multa!”, afirma. O projeto é movido por mais de 6.000 volun-tários e envolve 100 escolas (com mais de 25 mil alunos), associações de moradores, grupos escoteiros, universidades e parceiros do poder público. Para garantir o sucesso da empreitada, ação e conscientiza-ção andam juntas. “Concentra-mos 30% de nosso tempo com a cons-cientização e 70% com ação”, contabiliza Paes Leme.

Hidráulica e Saneamento Segundo dados recentes,

85% das residências curitiba-nas são atendidas por rede de esgoto. Porém, não é o que parece. “Basta ter olhos e nariz ao passar pelo Rio Belém próximo à PUC, por exemplo, para sentir o caos que está”, analisa Cláudia Boscardin, coordenadora técnica de Recursos Hídri-cos da Secretaria Municipal do Meio Ambiente. “Além disso, as pessoas não têm conhecimento algum dos rios”, emenda.

Trevisan também alerta para o perigo de ocupações às mar-gens dos rios. “É um processo natural o rio transbordar, o problema é quando há habitações muito próximas a ele”, enfatiza. Lúcia Isabel de Araújo, en-fermeira coordenadora da Vigilância em Saúde Ambiental de Curitiba, destaca que doenças podem ser transmissíveis tanto por ingestão quanto por contato com água contaminada. “Após uma enxurrada, por exemplo, é comum as pessoas apresen-tarem irritações na pele devido aos micro-organismos da água poluída”, alerta. Portanto, uma enchente pode colocar em risco a saúde dos mora-dores vizinhos a um rio cuja água apresenta poluição.

Levando vida de volta aos rios