Jornal Comunicação

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www.jornalcomunicacao.ufpr.br jornal laboratório do curso de jornalismo da ufpr edição 07 | outubro de 2008 POLÍTICA PÁG. 3 Caráter hereditário da política paranaense tem raízes históricas e pode influenciar no resultado das eleições ESPORTES PÁG. 4 Pilotos de kart encontram dificuldades financeiras ao tentar seguir carreira no automobilismo CULTURA PÁG. 8 Mercado de artes plásticas em Curitiba sofre com pouca divulgação e baixo interesse dos compradores Co::: unicação Novo reitor fala sobre suas posições políticas e debate temas polêmicos da UFPR

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Jornal laboratório do curso de jornalismo da Universidade Federal do Paraná (UFPR) - Edição 07 de outubro de 2008.

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www.jornalcomunicacao.ufpr.br jornal laboratório do curso de jornalismo da ufpredição 07 | outubro de 2008

Política

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Caráter hereditário da política paranaense tem raízes históricas e pode influenciarno resultado das eleições

EsPortEs

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Pilotos de kart encontram dificuldades financeiras ao tentar seguir carreira no automobilismo

cultura

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Mercado de artes plásticas em Curitiba sofre com pouca divulgação e baixo interesse dos compradores

Co:::unicação

Novo reitor fala sobre suas posições políticas e debate temas polêmicos da UFPR

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Co:::unicaçãooutubro de 20082 opinião

EditorialNova gestão,

velhos problemas

RodRigo Batista

A ética pelos olhos do Grande IrmãoNos últimos dez anos, os reality shows

viraram mania nas emissoras de TV do Brasil. O primeiro programa do gênero que mais atraiu a atenção dos telespecta-dores foi o No limite. Produzido pela Rede Globo entre 2000 e 2001, o programa era baseado na atração norte-americana Sur-vivor, na qual os participantes passavam por provas de resistências até mesmo para obter comida.

Em 2001, a emissora produziu a primeira edição do Big Brother Brasil (BBB), modelo de reality em que os par-ticipantes ficam confinados dentro de uma casa, vigiados durante três meses. Até hoje é o reality show de maior su-cesso no país. Além de atrair inúmeras pessoas que desejam participar, seduz milhões de telespectadores.

Uma das principais críticas ao BBB é em relação a como as pessoas se utilizam de tantos artifícios em busca de prêmios em dinheiro. E foi este o tema utilizado pelo professor de Sociologia Luiz Belmi-ro em sua tese de mestrado na UFPR: A paixão dos cínicos: a cultura em tempos de reality shows, defendida em 2006. Belmi-ro utilizou o programa para decifrar a cul-tura contemporânea.

Seus estudos tiveram como referên-cia o livro 1984, de George Orwell. A obra trata de pessoas controladas atra-vés de câmeras durante as 24 horas do dia pelo ‘Grande Irmão’ (Big Brother). Na época, Belmiro comparou a trama do livro com as situações vividas pelos participantes nas primeiras edições da Casa dos Artistas, outro reality show de sucesso, e do BBB, e levantou o ques-tionamento: “por que as pessoas agora sentem vontade de ser vigiadas a todo o momento?” Em entrevista ao Comu-nicação, o professor explica como res-pondeu a esta questão e como o reality show é um exemplo da maneira como as pessoas agem diariamente.

Há alguma fórmula de sucesso para que os reality shows agradem tanto o público?Luiz Belmiro: Não existe fórmula de sucesso. Na verdade, esses programas de TV exercem tanto fascínio porque fun-cionam como espelho da sociedade aqui fora. As atitudes que os participantes têm dentro do programa para alcançar o prê-mio em dinheiro é um modelo do que ele ou qualquer pessoa seria capaz de fazer fora daquele contexto para conseguir um cargo melhor em uma empresa, por exemplo. Isso mostra a falta de ética en-tre as pessoas, a deterioração dos valores humanos e a que ponto as relações hu-manas chegaram.

Qual a maior motivação para tantas pessoas desejarem participar desses programas?Belmiro: Cada participante possui sua motivação particular. Alguns querem simplesmente aparecer na TV, conseguir seus 15 minutos de fama; outros querem seguir a carreira de ator ou atriz. Mas o principal motivo que leva tanta gente a almejar uma vaga dentro da ‘casa’ é o prê-mio em dinheiro.

Muitas pessoas falam que o programa é manipulado pela produção e que muito do que acontece ali é incentivado pela di-reção. Isso realmente acontece?Belmiro: Eu conversei com três ex-participantes do BBB4. Existem várias cláusulas que os impedem de dizer algo sobre o formato do programa. Mas não é necessário um roteiro para dizer ‘quem deve brigar com quem’. O ambiente da casa incentiva os participantes a agirem daquela forma que vemos na TV. Isso ocorre porque eles ficam fechados den-tro do ambiente, privados de qualquer distração. Não podem fazer jogos entre si, ver televisão. Música só na hora em que a produção estipula. Tudo isso estimula as pessoas a apenas falar umas das outras, se dividir em grupos, formar intrigas, discu-tir sobre as eliminações. Aquele é um es-paço que coloca as relações humanas em seu estado mais cru, de individualismo exacerbado, quando um ‘passa a perna’ no outro. Quaisquer laços solidários não são bem aceitos e os participantes vêem a formação de grupos como ameaça. Os integrantes do ‘jogo’ fazem valer a regra do ‘cada um por si’.

O público se interessa tanto por esse tipo de programa justamente pelo poder que tem de definir quem ganhará e quem sai-rá perdendo? Há uma espécie de sadismo ou gosto pelo poder nesses casos?Belmiro: Para se saber ao certo o por-quê dessa atitude do público é necessá-rio uma pesquisa de receptividade do telespectador. Mas quanto à questão do poder de decisão de quem assiste, eu acho que aí existe uma democracia falsi-ficada. É uma simulação do que aconte-ce no processo democrático. Na demo-cracia, o que vale é a vontade do coletivo e não de um grupo, mas na prática, aqui, acontece o contrário. Numa eleição, os eleitores escolhem aqueles candidatos que os partidos julgam os melhores para concorrerem à disputa. Isso também acontece nas votações do Big Brother. Nessas ocasiões, o público já escolhe en-tre duas pessoas escolhidas pelos outros

participantes para deixar o confinamen-to. Os telespectadores se sentem numa democracia que na verdade é falsa, pois são condicionados a votar em determi-nadas pessoas.

Qual a influência que o programa exerce sobre o telespectador?Belmiro: Os meios de comunicação são retratos da sociedade. Cada meio em si não é bom nem ruim. A sociedade é que vai atribuir a ele os valores a serem passados, que por sua vez vão legitimar e guiar quem assiste. Assim, não só o Big Brother, mas a TV legitima o teles-pectador. No programa Super Nanny, a orientadora do reality, Cris Poli, só tem prestígio social porque está na TV. Se as orientações dela não fossem transmiti-das através de uma emissora de televi-são, o efeito não seria o mesmo.

Em certo momento da tese você afirma que “da mesma forma que a televisão, meu objetivo também sofre uma espécie de preconceito, pois de antemão é con-siderado apenas mais um exemplo do que a televisão pode produzir de pior”. Que tipos de preconceito você sofreu ao abordar o Big Brother em seus estudos de mestrado?Belmiro: Na verdade, não é preconcei-to propriamente dito. O que ocorre é que na Sociologia existem assuntos conside-rados mais sérios do que outros como objetos de estudo. A indústria cultural como um todo é avaliada como tema de menor valor para as ciências sociais, e o Big Brother está incluso nisso.

Você assiste ao programa? Gosta dele?Belmiro: Eu assisti mais à quarta edição para estudar o programa e utilizar na aná-lise na tese. Todo mundo algum dia pas-sou alguns minutos assistindo. Mas não tem como assistir sempre. São valores tão mesquinhos expostos pelos participantes que a gente não consegue acompanhar o programa por muito tempo.

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O Programa de Apoio ao Plano de Reestruturação e Expansão das Uni-versidades Federais (Reuni) foi lan-çado pelo Governo Federal em abril de 2007. Seu objetivo é aumentar o número de vagas e reduzir as taxas de evasão, com uma meta de no mínimo 90% de diplomação e a relação de um professor para cada 18 alunos. Em ou-tubro de 2007, o Reuni foi aprovado pela UFPR.

Implantado porque as instituições privadas já detinham 70% das vagas de todo o ensino superior (que não poderiam se expandir mais devido à saturação do mercado), o Reuni se-gue, principalmente, a lógica da quan-tidade. Por isso, o Programa pode não analisar de forma satisfatória a reali-dade específica de cada curso, o que prejudicaria a qualidade no ensino. Esse é um dos pontos que mais deixa os estudantes inseguros e gera protes-tos por parte do DCE.

Uma segunda situação proble-mática, em debate na Universidade, é a possibilidade de fechamento do Hospital de Clínicas (HC). Motivo: é considerado ilegal um hospital público empregar funcionários terceirizados. Atualmente, o HC conta com mil tra-balhadores contratados pelo convênio com a Fundação da Universidade Fe-deral do Paraná (Funpar) e 290 tercei-rizados. Esta situação deve ser regula-rizada até 2010.

À questão do HC soma-se uma ou-tra situação polêmica: a da própria ter-ceirização. O edital para contratação de uma empresa para atuar no Centro de Computação Eletrônica (CCE) ge-rou controvérsia no último mês. Em primeiro lugar, por se tratar da trans-ferência de dados essenciais da UFPR para terceiros e, em segundo, porque a terceirização causa a perda de funcio-nários já qualificados.

A polêmica toda evidenciou ain-da mais o problema na Funpar, órgão que viabiliza a gestão de projetos de ensino, pesquisa e extensão. A aber-tura de editais para terceirização teria sido impulsionada justamente por irregularidades na contratação direta de funcionários através da Fundação.

Além dessas, muitas outras ques-tões geram dúvidas entre a comuni-dade acadêmica. A maior delas, no entanto, é saber como a nova gestão irá lidar com todas essas situações.

No dia 10 de setembro, Zaki Akel foi confirmado reitor da UFPR (ten-do Rogério Mulinari como vice). Ao que tudo indica, nos próximos dias, a Universidade deve passar por grandes mudanças. Para esclarecer as posições políticas da nova administração e os rumos a serem tomados com relação a todas as questões expostas acima, o Comunicação propôs um debate entre os estudantes e o novo reitor. Confira o resultado na página 5.

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Co:::unicaçãooutubro de 2008 3política

SuceSSão Cientista social demonstra que política paranaense apresenta forte tradição familiar

Como herança, um cargo políticoApesar das palavras ‘inovação’ e ‘mu-

dança’ estarem presentes nos discursos e propostas dos candidatos a prefeito e vereador, o caráter hereditário da política paranaense é forte. Entre os ex-candidatos a prefeito de Curitiba, por exemplo, exis-tem descendentes diretos de políticos de destaque no estado: Beto Richa é filho do ex-governador José Richa e Lauro Rodri-gues tem como pai Horácio Rodrigues, ex-deputado e ex-presidente da Câma-ra Municipal de Curitiba. Além desses, Gleisi Hoffmann é casada com o Ministro de Planejamento Paulo Bernardo, e Fábio Camargo é parente do deputado federal Affonso Camargo.

Entre os ex-candidatos a vereador não é diferente. Nas fileiras do PT, estão Jonny Stica, filho do deputado estadual Natálio Stica, e Bruno Vanhoni, sobrinho do de-putado federal Ângelo Vanhoni. No PPS, a vereadora eleita Renata Bueno é filha do ex-candidato Rubens Bueno. Mesmo caso é o de Bruno Villani, do PV, neto de Basilio Villani, deputado federal por 16 anos.

Entre os parlamentares mais proe-minentes no cenário político do Paraná existe uma grande recorrência de des-cendentes de ex-governadores, ministros, prefeitos e deputados. Nas eleições de 2006, os deputados federal e estadual mais votados foram, respectivamente, Gusta-vo Fruet (PSDB), filho do ex-prefeito de Curitiba Maurício Fruet, e Alexandre Curi (PMDB), neto do ex-presidente da As-sembléia Legislativa Aníbal Khoury. Além deles, o deputado estadual Ney Leprevost Neto (PP) e o deputado federal Abelardo Lupion (DEM) são descendentes diretos de ex-governadores. Existem até mesmo situações curiosas: o atual ministro da agricultura Reinhold Stephanes (PMDB) foi eleito deputado federal na mesma elei-ção em que seu filho, Reinhold Stephanes Júnior (também do PMDB), se elegeu de-putado estadual.

A oligarquia na política familiar

O professor de Ciências Sociais da UFPR Ricardo de Oliveira, autor do livro O Silêncio dos vencedores. Genealogia, classe dominante e Estado no Paraná (Moinho do Verbo, 2001), explica que o caráter familiar da política é uma tendência nacional, mas que se desenvolveu de forma mais acentu-ada no poder público paranaense. “Ao ana-lisarmos as primeiras grandes sesmarias do estado do Paraná, na região de Curitiba e Paranaguá, e analisarmos a genealogia das famílias que detinham o poder naquela época, veremos que grande parte da elite política paranaense até o século XXI des-cende destas famílias”.

Segundo Oliveira, a rede de poder fa-miliar não se limita apenas ao poder polí-tico, ela agrega também os poderes Judici-ário e Executivo. “Os cartórios, tribunais e câmaras são dominados de maneira con-junta por um mesmo grupo de pessoas. Essa rede político-financeira ou rede social dos dominantes é que sustenta um mesmo sobrenome por décadas no poder”, diz. CíCero BittenCourt

Os ‘candidatos júnior’ das famílias po-líticas apresentam, em sua maioria, plata-formas de governo semelhantes à de seus parentes, mantendo o mesmo posicio-namento político. Para Oliveira, este fato comprova as relações de coronelismo e submissão existentes entre herdeiros e seus padrinhos políticos. “Essa cultura faz com que braços de um mesmo tronco familiar sejam eleitos, e com isso não há renovação efetiva nos poderes públicos”, afirma.

Segundo ele, as diferenças entre fami-lismo e nepotismo estão cada vez mais es-treitas. “No Paraná temos um governo de poucos. Tanto em cargos eletivos quanto em cargos administrativos. O governo es-tadual e o governo municipal de Curitiba possuem diversos familiares nomeados para cargos importantes e isso é reflexo e, ao mesmo tempo, reflete-se em todas as outras estruturas do poder público”, alerta.

Os políticos negam essa relação. Para o deputado estadual Reinhold Stephanes Júnior, o nepotismo está relacionado ape-nas à indicação de parentes para cargos comissionados. Já o familismo, segundo ele, não carrega nenhum traço dessa ca-racterística, pois quem elege o político são os eleitores. “O parente político não tem nenhuma influência direta sobre os votos do povo. Misturar as duas coisas não faz nenhum sentido”, garante.

Os herdeiros e a herança

Utilizar numa candidatura o sobreno-me de um político de sucesso, por si só, representa uma vontade dos ‘candidatos júnior’ em ligar as suas imagens às de seus parentes. E eles afirmam que um sobre-nome famoso realmente ajuda na hora do contato com os eleitores. Segundo o can-

didato Bruno Vanhoni, isso desperta uma curiosidade nas pessoas em saber qual a relação do político jovem e desconhecido com o experiente. “Sempre me perguntam se eu sou filho do Ângelo”, afirma. Para ele, indiretamente, essa proximidade familiar acaba puxando votos. “É claro que muitas pessoas que votaram no meu tio e sabem que ele concorda com as pautas que eu de-fendo, acabam também votando em mim”, conta ele, mas deixa claro: “As pessoas não votam em mim exclusivamente porque sou sobrinho do Ângelo, mas porque con-fiam que eu posso desempenhar um papel tão bom quanto o dele”.

Para os ‘candidatos júnior’, é fato que a proximidade familiar e o acompanha-mento, desde jovens, das campanhas e das relações políticas dos candidatos com seus parentes, contribui para o aprendizado e conquista de experiência. “É o mesmo caso com o filho de médico que cresce acompanhando o pai dentro de um hospital. A pessoa acaba desen-volvendo a vocação e querendo seguir o exemplo”, afirma a candidata Renata Bueno. Segundo ela, que usou como slogan de campanha ‘Tal pai, tal filha’, a referência de seu pai em sua candida-tura foi motivo de orgulho. ”Não tenho porque esconder meus laços familiares. Não temos tempo de fazer uma campa-nha com um grande debate e exposição de idéias, mas tenho certeza que depois de eleita conseguirei construir minha própria identidade política”, diz.

A militância precoce destes candida-tos dentro dos partidos é uma constante e justifica a pouca idade com que a maioria deles se lança na carreira política. Para o candidato Bruno Villani, experiência não está ligada com quantos anos uma pessoa tem. “Eu acompanho meu avô fazer polí-tica desde os meus 10 anos”, afirma. “Me preparei desde os 17 para essa candidatu-ra, tenho certeza de que estou mais bem preparado que muita gente que caiu de pá-ra-quedas na eleição”, completa. Segundo Villani, apesar de não possuírem divergên-cias políticas, ele e seu avô, Basílio Villani, são políticos completamente diferentes. “Eu não sou a cópia mais jovem do meu avô, eu tenho meus ideais, minhas con-cepções e minhas propostas”, diz. “É lógi-co que ele teve uma grande influência na minha formação política, mas eu sou uma pessoa e ele é outra”, garante Villani.

No entanto, segundo o professor Ri-cardo Oliveira, não restam dúvidas de que um sobrenome forte tem papel fundamen-tal na eleição de um político. “Ninguém ganha uma eleição sozinho. Nem mesmo um sobrenome. Mas, com certeza ter um político consagrado na família ajuda e muito no pleito eleitoral”. Para Oliveira, o poder financeiro, a rede social de contatos e a estrutura política são as principais he-ranças destas famílias para um ‘candidato júnior’. “Funciona como os pés de uma mesa, que dão sustentação para a campa-nha de um jovem político”, conclui.

Basilio Villanideputado federal

De pai para filho

RuBens Buenoex-deputado estadual

Renata Buenovereadora eleita

BRuno Villaniex-candidato a vereador

Ângelo Vanhonideputado federal

BRuno Vanhoniex-candidato a vereador

natálio sticadeputado estadual

Jonny sticavereador eleito

José Richaex-governador do Paraná

Beto Richaprefeito de Curitiba

hoRácio RodRiguespresidente da Câmara

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Co:::unicaçãooutubro de 20084 esportes

AUTOMOBILISMO Pilotos de kart investem grandes quantias na tentativa de chegar às categorias prestigiadas

Do kart à Fórmula 1, uma barreira financeira

“Quando Ayrton Senna morreu, jurei a mim mesmo que seria tão bom quanto ele”, conta o piloto de kart Victor Zavan, que, na época, tinha 5 anos. Desde então, seu pai – que também já havia corrido de kart, apesar de não ter se tornado profissio-nal – começou a incentivá-lo. Hoje, com 18 anos, Zavan afirma: “Pelo jeito, o rumo do meu sonho vai ser o mesmo do meu pai: a frustração”. Ele já foi bi-campeão pa-ranaense, campeão paulista e catarinense, mas atualmente não disputa campeonatos por falta de incentivo financeiro.

Para entender a situação de Zavan, basta saber o quanto custa ser piloto de kart. O mecânico Robson Jardim calcula que apenas na montagem de um veículo para competições oficiais são gastos em média R$11 mil. Para a manutenção do kart, Jardim explica que o valor varia de R$700 a mais de R$15 mil, conforme a ca-tegoria disputada. Zavan conta que desde os cinco anos até agora, teve uma despesa de cerca de R$40 mil. “Apesar de ser alto, para um piloto esse valor é pouco”, afirma. De família humilde, ele contava com a aju-da de amigos, mecânicos e pais de outros pilotos para se manter no esporte.

Além dos gastos para adquirir e man-ter um kart, os pilotos que disputam competições oficiais têm outras despe-sas. Segundo Zavan, para se filiar à Con-federação Brasileira de Kart e competir nacionalmente, há um custo de mais de R$600 por ano, além de despesas com inscrições, que variam conforme a com-petição. “O Campeonato Brasileiro, o mais importante do país, tem como va-lor de inscrição R$800”, afirma. Além disso, em toda corrida é necessário pagar o preparador de motores, o acertador de chassis, o combustível, os pneus e outras peças. “Há uma série de requisitos que Gabriela bastos

Co:::unicação4 outubro de 2008

tornam o kart um esporte muito caro. Em uma etapa do Sul Brasileiro, por exemplo, gasta-se em média R$10 mil”, revela o piloto Pietro Fantin, de 16 anos.

De acordo com o presidente da Fe-deração Paranaense de Automobilismo (FPRA), Rubens Gatti, esse valor é vari-ável. “Nas categorias menores o gasto é mais baixo, já nas intermediárias as des-pesas vão de R$700 a R$5 mil por mês”. Em cada corrida os pilotos das categorias de base alugam o motor por R$250 e um jogo de pneus de R$280; já nas mais avan-çadas, o piloto deve ter seu motor e alugar, por corrida, um jogo de pneus no valor de R$450. De acordo com Cristiane Finaldo, assistente administrativa de um kartódro-mo paranaense, o custo mensal para man-ter uma pista e seus aparatos também é alto – em torno de R$5 mil.

Fantin, ao contrário de Zavan, con-seguiu patrocínio para arcar com todas essas despesas. O garoto começou a pi-lotar em 2007, e estima que, até hoje, já gastou R$500 mil (cerca de R$40 mil por mês). Seu patrocinador lhe envia mensalmente uma determinada quantia para cobrir estes gastos.

Apesar do pouco tempo de carreira, Fantin já conquistou títulos importantes. “Fui campeão Sul Brasileiro de 2008, fiz todas as poles e as melhores voltas do cam-peonato. Ganhei todas as baterias e no fim fui campeão invicto”, orgulha-se. Em julho desse ano o piloto foi para o Ceará dispu-tar o Campeonato Brasileiro. Segundo ele, embora tenha tido um ótimo desempe-nho, alguns problemas no equipamento o impediram de ficar com o título. “O mun-do do kart é cheio de surpresas, você tem mais decepções do que alegrias”, lamenta. Atualmente, Fantin lidera os campeona-tos Paulista e Paranaense.

Sonho distante

Muitas vezes o kart é apenas o início de um o objetivo maior. “A minha meta é a Fórmula 1. Vou trabalhar muito para chegar lá, mas tenho que viver cada cate-goria de uma vez”, conta Fantin. Enquan-to isso, Zavan vê seu sonho mais distante, embora ainda acredite que é possível rea-lizá-lo. “É algo que parece ser impossível pela falta de patrocínio e de dinheiro, mas ainda tenho uma pontinha de esperança”. Já o ex-piloto Luiz Fernando Costa corre apenas para se divertir. “Nunca sonhei em chegar à Fórmula 1, é um caminho muito difícil, com uma série de fatores como conseguir um bom investidor, ter talento e, principalmente, sorte”.

Fantin conta que muitos pilotos desis-tem do sonho por causa dos altos custos. “Sem condições para bancar o esporte e por falta de patrocínio, os pilotos abando-nam as carreiras, que poderiam ser bas-tante vitoriosas”. Zavan sente na pele: “Já procurei mais de dez empresas e, apesar do meu bom desempenho nas pistas, ain-da não consegui investidores”.

Em meio a tantas barreiras, Costa afirma que, a princípio, não há muito o que fazer. “O automobilismo sempre foi um esporte caro e talvez sempre seja”. Se-gundo ele, um dos únicos exemplos de incentivo no Brasil é a seletiva de pilotos feita pela Petrobrás, que dá um prêmio de R$110 mil para o campeão. Zavan concorda e reivindica que mais iniciati-vas como essa sejam tomadas, inclusive pela FPRA que, segundo ele, não dá o de-vido apoio aos pilotos paranaenses.

Fantin só vê dois jeitos de amenizar o problema: “Um deles seria a diminuição de preço de tudo que é relacionado ao kart e o outro, um aumento de interesse

das empresas pelo automobilismo, para fornecer mais patrocínio”. O piloto discor-da de Zavan quanto à atuação da FPRA e afirma que a instituição cumpre bem o seu papel. “Eles sempre dão prêmios aos campeões das etapas do paranaense para incentivar pilotos de outros estados a vi-rem correr aqui, aumentando assim o nú-mero de competidores”, explica.

Segundo o presidente da FPRA, hoje qualquer esporte exige tecnologia para um bom desenvolvimento, principal-mente os motorizados. “E a tecnologia custa caro”, comenta. Gatti assegura que a instituição já está tomando medidas no sentido de baratear o kartismo, como a limitação das tecnologias utilizadas através do regulamento dos campeona-tos – em uma tentativa de dar chances iguais a todos os competidores. “No en-tanto, não podemos restringi-los radical-mente. Assim, quem investe mais chega na frente”, diz.

Além disso, há um projeto para a for-mação de pilotos e outros profissionais do kart. “Mas para colocar isso em prática precisamos de uma parceria com o po-der público ou com empresas, devido ao alto custo de implantação”, reclama Gatti. Para ele, é necessário que tanto o governo quanto a iniciativa privada vislumbrem o kartismo como uma indústria de eventos que gera lucros e muitos empregos.

Kartismo paranaense♦São 170 pilotos filiados à FPRA;

♦Paranaenses que já correram em categorias maiores, como Ricardo Zonta e David Muffato, começaram no kart;

♦Está localizada no município de Pinhais a segunda maior pista de kart do mundo, com selo da Fede-ração Internacional de Automobilis-mo (FIA).

CategoriasMirim: 6 e 7 anosCadete: 8 a 10 anosJúnior menor: 11 e 12 anosJúnior: 13 e 14 anosGraduados A e B: 15 a 24 anosSênior A e B: acima de 25 anosNovatos: estreantes de 15 a 25 anosF4 ou 13HT: não há limite de idadeSpeed 5: diferem pelo equipamento

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ADMINISTRAÇÃO Novo reitor é favorável ao Reuni e diz que irá resistir a um possível fechamento do HC

Akel discute polêmicas da Universidade

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samantha costa

A consulta à comunidade acadêmica para a eleição do novo reitor da UFPR, re-alizada no último dia 10, definiu Zaki Akel e Rogério Mulinari para a nova gestão dos cargos de reitor e vice-reitor. No dia 30, o Conselho Universitário (Coun) e o Con-selho de Curadores (Concur) confirma-ram a eleição dos novos administradores.

Para uma análise da relação entre as propostas do reitor e os problemas mais urgentes da Universidade, o Comunica-ção propôs um debate. Em enquete, os estudantes apontaram os maiores proble-mas da UFPR, nem sempre abordados durante as campanhas dos candidatos. Os temas foram lançados ao novo reitor.

A eleiçãoEntre técnicos e servidores da UFPR,

Zaki foi eleito reitor – mas os votos dos alunos elegeriam o candidato Cid Aimbiré. Foram 3.277 votos para Cid, 2.246 para Zaki, 167 nulos e 47 brancos (a fórmula de votação faz com que o voto dos estudantes seja dividido por 26 mil; o dos técnicos administrativos por 4 mil; e o dos professores por 3 mil, dimi-nuindo a representatividade estudantil). O Diretório Central dos Estudantes (DCE) se posicionou contra a candidatura de Akel.

Zaki Akel: Uma candidatura de oposi-ção sempre tem um apelo mais forte para os alunos. O professor Cid deixou claro que sua candidatura era de oposição e tentou caracterizar a nossa como de con-tinuidade. Mas eu ressaltei o tempo todo que nossa candidatura era independente. Eu fiz parte da gestão no período 2002 a 2006. Desde 2006 eu estava afastado da administração central da Universidade. Eu entendo que os alunos se sintam mais sensibilizados com uma postura de opo-sição, principalmente em relação ao Reu-ni, mas eu tenho certeza de que com o diálogo que vamos estabelecer nós vamos trazer os alunos para o nosso lado.

ReuniO Programa de Apoio ao Plano de Re-

estruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni) foi lançado pelo Governo Federal com o objetivo de expandir universi-dades federais. Foi adotado pela UFPR em 2007, na gestão de Carlos Moreira. O DCE se posicionou contra o Reuni, afirmando que o Programa impõe metas globais para todas as universidades – sem analisar profunda-mente a situação de cada curso – e exige uma produtividade intensa que só seria pos-sível depois de uma injeção de recursos e um aumento no quadro de discentes.

A aplicação dos planos do Reuni pro-vocaram a abertura de 1.129 novas vagas já para o processo seletivo deste ano. Gran-de parte dos estudantes não acredita que a estrutura atual da Universidade está apta a comportá-las e critica a postura do Ministé-rio da Educação (MEC), com receio de que ele ‘esqueça’ da Universidade caso ela não ceda ao Programa.

Akel: O Reuni foi uma oportunidade dada pelo MEC. Mas ele não obrigou ninguém a adotá-lo. Em nosso próprio setor [Setor de Ciências Sociais Aplicadas] tivemos uni-

dades que optaram por não ingressar. A questão que será um desafio para a nossa Universidade vai ser combinar qualidade e quantidade. Quando aderimos ao Reuni, os projetos foram muito consistentes e bem estudados. Eu acho que a nossa Universi-dade foi equilibrada na decisão. Acredito que a discussão do Reuni não chegou até as bases, então o projeto estigmatizou-se logo de início como uma coisa do MEC, uma imposição de uma política de expansão forçada. Estamos recebendo recursos do MEC e vamos receber vagas de docentes e técnicos administrativos. São ganhos que vão ajudar na expansão, e quem sabe até corrigir problemas históricos da UFPR.

Classificação insatisfatória da Universidade

O resultado do Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade) classi-ficou apenas um curso da UFPR – Terapia Ocupacional – com conceito máximo. No ranking Nacional do MEC, divulgado recen-temente, a Universidade ficou em 47º lugar.

Akel: A posição da nossa Universidade na avaliação não é boa e isso requer uma re-flexão e uma avaliação dos problemas. O que estamos propondo é um grande diag-nóstico em várias áreas, seja no ensino, na pesquisa, na extensão ou na parte de ges-tão universitária. Agora temos o desafio de mobilizar o Fórum de Coordenadores. Acho que os coordenadores que conhe-

cem bem o cotidiano dos cursos sabem das dificuldades que têm: se o problema é o acervo bibliográfico, se o problema é de laboratório, se são as disciplinas que têm um índice alto de reprovação. Isso fará parte da avaliação curso a curso.

Terceirização de serviçosA questão está em discussão desde o

lançamento do edital para a contratação de servidores externos no Centro de Com-putação Eletrônica (CCE). Recentemente, o Tribunal de Contas da União encontrou irregularidades na contratação sem licita-ção de funcionários através da Fundação da Universidade Federal do Paraná (Funpar). O Hospital de Clínicas (HC) corre o risco de ter suas portas fechadas se não regulari-zar a situação do quadro de funcionários até

2010 – há dez anos, o procurador do traba-lho em exercício considerou ilegal um hospi-tal público ter como funcionários servidores terceirizados, e obrigou a administração a fa-zer a substituição por pessoal concursado. De lá para cá, o número de servidores demitidos é muito maior do que o de contratados.

Akel: Vamos resistir ao máximo a essa medida [fechamento das portas do HC] pois entendemos que é impossível o hos-pital funcionar demitindo 1.200 servi-dores. São 1.200 famílias que dependem desse salário. Além disso, nós temos ou-tros caminhos para tentar trabalhar jun-to ao MEC e evitar a demissão de tantos trabalhadores do quadro da Funpar. Es-tamos estudando algumas alternativas, como criar um ‘quadro em extinção’, que não admitiria novos funcionários e faria permanecer os que estão. Mas vamos ter que envolver inclusive a nossa bancada de políticos para nos ajudar nessa briga.

Funpar e a administração de verbas

A Fundação recebe diversas críticas quanto à administração das verbas, sendo acusada de nebulosidade quanto à presta-ção de contas à comunidade acadêmica.

Akel: A Fundação é indispensável para a Universidade. As pessoas reclamam da fal-ta de transparência, mas a Funpar tem pro-curado dar essa transparência. Ela está sob o controle do Tribunal de Contas do Esta-do, da União, e é auditada. Nós não temos tido grande problemas. No debate durante a campanha, perguntaram se eu era a favor das fundações. Eu sou, porque ela é indis-pensável para o funcionamento dos hos-pitais. Se amanhã algum dirigente quiser fechar a fundação de apoio, simplesmente param todos os nossos hospitais: o HP, a Maternidade Vitor do Amaral e o HC.

Quadros-chaveEm coletiva de imprensa, o vice-reitor

eleito, Rogério Mulinari, afirmou que os funcionários, assim como os pró-reitores, podem ser substituídos ‘sem traumas’ – pois são executores de políticas e não formulado-res, como é o caso de coordenadores e chefes de setor. A comunidade acadêmica passou a se perguntar se o processo de substituição dos quadros-chave se daria a partir de crité-rios técnicos ou de ‘confiança’.

Akel: Como são cargos de confiança, são pessoas que devem estar alinhadas com a nossa maneira de pensar e de conduzir a Universidade. Esse será um dos fatores essenciais na escolha dos quadros. O se-gundo critério é a questão da competên-cia e experiência na área, porque vimos que quando adotamos critérios políticos, fazemos escolhas de pessoas que, apesar de bem intencionadas, não estão prepara-das. E nós precisamos de um choque de gestão na Universidade. A UFPR possui uma máquina enorme, mas ela está lenta, principalmente para podermos implantar o Reuni e melhorar a qualidade.

Co:::unicação 5outubro de 2008

O que nós precisamos é de um choque de gestão na

Universidade. A UFPR possui uma

máquina enorme, mas ela está lenta”

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novo reitor da UFPr

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Co:::unicaçãooutubro de 20086 ciência e tecnologia/geral

ÉTICA Comitês norteiam experimentos em nome do bem-estar do indivíduo

Pela humanização das pesquisas

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TURISMO Turistas têm a disposição alternativas que vão desde o ecoturismo até o chamado ‘turismo macabro’

Passeios pouco convencionais

O Ministério da Saúde determina a criação de Comitês de Ética em Pesquisa (CEPs) em toda instituição onde há estu-dos que envolvam seres humanos. “Os co-mitês existem para garantir a proteção dos sujeitos”, afirma o médico Cícero Urban, coordenador do Comitê de Bioética do Hospital das Clínicas (HC). A existência desses órgãos se baseia no pressuposto de que todo experimento traz riscos ao bem-estar psicológico e físico do indivíduo. “Qualquer pesquisa – até mesmo uma entrevista jornalística – pode causar danos emocionais. Então, imagine o que pode acontecer se uma pesquisa com pacientes portadores de HIV for conduzida de for-ma antiética?”, exemplifica. Para a coorde-nadora do Comitê de Ética em Pesquisa do Setor de Ciências da Saúde da UFPR, Liliana Labronici, “o princípio fundamen-tal da ética é o respeito pela vida”.

Os CEPs são interdisciplinares e não podem possuir vínculos nem com o pes-quisador nem com algum patrocinador. Esses comitês são estabelecidos como obrigatórios pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep), o órgão res-ponsável pela regulamentação de estu-dos científicos. Vinculada ao Conselho Nacional de Saúde, a Conep segue a De-claração de Helsinki V, firmada em 1996 pela Associação Médica Mundial, que instituiu a obrigatoriedade dos comitês de pesquisa independentes.

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Toda instituição que desenvolve trabalhos com seres humanos deve possuir CEPs

A Comissão atua junto com os CEPs e também é transdisciplinar. Ela tem como função examinar os aspectos éticos de casos especiais encaminhados pelas ins-tituições, além de elaborar normas espe-cíficas para diversos tipos de experimen-tos. Aos CEPs, cabe revisar os protocolos de pesquisa dentro de suas instituições.

O sistema de regulamentação aplica-

do no Brasil, segundo Urban, funciona de forma adequada. “Vivi muito tempo fora do país e posso afirmar que, mesmo com as nossas falhas, o sistema CEP/Conep é um dos melhores do mundo. Ele segue normativas éticas muito rígidas”, avalia.

Quanto à questão da possível barreira que os comitês poderiam representar aos avanços nas pesquisas, Labronici afirma

Visitas a cemitérios, com direito a conhecer mitos da cidade e passeios em ônibus com decoração macabra. Esse é o chamado ‘turismo macabro’, apenas um dos muitos roteiros alternativos que vêm sendo preparados por diversas agências de turismo em todo país. Embora inte-ressantes, essas opções pouco habituais e direcionadas a um público bastante es-pecífico ainda têm um espaço pequeno no Paraná.

De acordo com a Secretaria de Turis-mo, diferente de outros estados, o Paraná tem poucas agências especializadas em pacotes alternativos. A sócio-gerente de uma agência de Curitiba Leandra Be-rehulka afirma que isso é conseqüência da baixa procura por passeios diferencia-dos. “Quando abrimos a agência, querí-amos focar apenas no turismo de aven-tura. Com o tempo, não tivemos retorno e fomos obrigados a expandir o negócio para todas as áreas”, diz ela.

Márcia Santos, diretora de uma agên-cia que trabalha com ecoturismo, confir-ma a situação. “A procura por esse tipo de passeio é muito pequena. As pessoas acham caro pagar determinado valor para conhecer comunidades do Paraná e preferem pagar um pouco mais para co-nhecer cidades do Nordeste”, reclama.

que não há como a ética interferir a esse ponto em uma pesquisa. “Ela apenas nor-teia a conduta dos pesquisadores, mas não obriga ninguém a segui-la”. Urban concorda: “O Comitê de Bioética é mais um fórum de discussão sobre as situações ocorridas dentro do Hospital, e normal-mente a decisão final cabe apenas ao mé-dico responsável pelo caso”.

Embora a maioria dos dilemas éticos ocorra nas Ciências da Saúde, também há casos nas Ciências Humanas. No en-tanto, não há um órgão específico que regule essa área na UFPR. Até agora, os pesquisadores têm encaminhado seus projetos para qualquer outro CEP – seja o do Setor de Ciências da Saúde, o do Hospital de Clínicas ou até mesmo os de outras instituições.

Alessandra Bianchi, professora do Departamento de Psicologia, é uma das envolvidas em um projeto de criação de um comitê próprio ao Setor de Ciên-cias Humanas, Letras e Artes. “Estamos trabalhando na proposta desde junho e devemos apresentá-la no máximo até a metade de novembro”. Ela explica que, com criação desse comitê, os demais fi-carão menos sobrecarregados. “Acredito plenamente que o projeto vai ser apro-vado, já que existe uma necessidade tão grande na UFPR”.

O estudante João Guilherme Ramos-faz parte dos admiradores do turismo de aventura e do ecoturismo. Apesar do gos-to, ele confirma que há poucos interessa-dos nesse segmento. “Eu até gostaria de fazer mais esse tipo viagem. Mas às vezes é difícil encontrar companhia, as pessoas não gostam da idéia de dormir em barra-cas e praticar esportes radicais”, diz.

Já o chamado turismo macabro ganhou espaço em São Paulo, onde os turistas vi-sitam dois cemitérios da cidade, o Largo da Liberdade e a Capela dos Aflitos. Para incrementar o clima de terror, os ônibus e o serviço são temático. “Usamos flores de velórios e incensos para decorar o ambien-te”, conta Carlos Roberto Silvério, diretor de uma agência de turismo de São Paulo.

Da lista dos roteiros alternativos não se pode excluir o turismo de aventura, em que o interessado escolhe o local e o esporte que quer praticar. Outra opção é o ecoturismo, que trabalha para fortale-cer comunidades locais, além de oferecer visitas a lugares históricos.

O estudante de História Marcos Am-brozie fez um roteiro histórico por curio-sidade. Ele visitou a região do Contesta-do, onde ocorreram conflitos e pessoas foram executadas. “Parece que esses lu-gares têm um clima diferente, é impossí-

vel não pensar em toda a gente que mor-reu”, afirma o estudante, que completa: “é trágico, mas com certeza deixa o passeio interessante”.

Uma outra alternativa lançada recente-mente no Paraná é o trem de luxo. A pro-posta turística tem como objetivo resgatar o passado em um tradicional passeio de trem. O ambiente é bastante sofisticado,

mas o passeio não sai barato ao bolso dos turistas (cerca de R$3 mil a viagem). Um dos investidores do trem, Adonai Aires de Arruda, justifica: “esse equipamento tem o propósito de evidenciar ao mundo um outro aspecto do turismo brasileiro. As belezas naturais aqui vão além das praias”.

Passeio em trem de luxo é uma das opções disponíveis para os turistas do Paraná

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Page 7: Jornal Comunicação

Co:::unicaçãooutubro de 2008 7comportamento

REALITY SHOWS Cada vez mais brasileiros disputam vagas nos shows da vida real

Em busca de fama e dinheiro‘Com que freqüência você fica

bêbado(a)?’; ‘Você já imaginou ou fez algum ensaio nu? Explique’; ‘Quando foi a última vez que você bateu, socou, chu-tou ou atirou alguma coisa com raiva? Por favor, detalhe’. Essas são só algumas das perguntas que os inscritos no Big Brother Brasil 9 (BBB), programa exibi-do pela Rede Globo, têm que responder na ficha de inscrição (que ao todo, tem 13 páginas). E não são poucas as pessoas que respondem a esse questionário para conquistar uma vaga no programa.

Não só o BBB, mas outros reality shows movimentam milhares de pessoas no país, em busca de diferentes objeti-vos. O professor de Sociologia Luiz Bel-miro, autor da dissertação de mestrado A Paixão dos Cínicos: a cultura em tempos de Reality Show, afirma que as pessoas que desejam participar desses progra-mas possuem algo em comum. “Eles têm seus sonhos particulares, mas o principal deles é o prêmio em dinheiro”, diz.

Marcos Aurélio de Campos é um dos curitibanos que quer uma vaga na próxima edição do BBB. Ele está ten-tando pela quarta vez e confirma o que foi dito por Belmiro. “Além do dinheiro, sonho ser reconhecido pelos outros e seguir carreira na TV”. Como ele, Fer-nando da Silva, que é vendedor de au-tomóveis, também quer uma chance em frente às câmeras. “Profissionalmente o Big Brother dá a chance de trabalhar no meio artístico. Quem sabe posso seguir carreira de ator ou até mesmo num pro-grama humorístico. Acho que levo mui-to jeito pra isso”, diz.

Já o coach de talentos Marcos Rezende tem um objetivo diferente. O dinheiro não é o que lhe chama mais atenção no pro-grama. “O interesse é de divulgar o meu trabalho e me superar no confinamento junto a pessoas desconhecidas.”, afirma. Isso, segundo ele, tem tudo a ver com sua profissão, já que o coach de talentos esti-mula as pessoas a descobrirem e desen-volverem suas aptidões através de novas atitudes e competências profissionais.

O segredo para conseguir entrar na disputa

Assim como Marcos Aurélio, Fernan-do também não é novato nas tentativas de participar do BBB. E eles não estão sozinhos. São poucos os casos em que o sucesso ou a vaga no confinamento vêm logo na primeira tentativa. Mas qual seria o segredo para conquistar pelo menos a chance de participar dos programas?

Cada tipo de reality possui critérios de seleção específicos. No caso dos que envolvem confinamento, algumas pesso-as acreditam que corpos bonitos e sara-dos são essenciais.

Fernando não concorda com isso. “As pessoas querem participantes com huma-nidade, companheirismo e seriedade”. Ele também garante que possui um diferen-cial para cair no gosto do público. “Tenho personalidade e não sou falso. Acho que RodRigo Batista

me daria bem por isso”, completa.Já nos programas que buscam novos

nomes para a música, o que é preciso, an-tes de tudo, é talento. Júlia Jones, hoje can-tora profissional, participou do programa Fama, também exibido pela Rede Globo entre os anos de 2002 e 2005. Em sua passagem pela atração, chegou até a semi-final e saiu satisfeita. “É lógico que queria ter continuado no programa, mas sei que a semifinal, para mim, com a minha ida-

de na época e sem muita experiência, foi um grande feito”. Quando participou, Jú-lia tinha apenas 18 anos e concorreu com pessoas não só mais velhas, mas que tenta-vam há algum tempo emplacar a carreira. Mas sua confiança a ajudou a chegar onde queria. “Eu era a mais novinha dos meus concorrentes e estava rodeada por pesso-as com muito mais estrada. Mas cheguei onde queria, conquistei meu espaço. Foi uma experiência inesquecível”, conta.

Se pudesse escolher entre o bem e o mal...

Não é raro ver em uma edição do Big Brother intrigas, cochichos e ‘tramóias’ entre grupos rivais dentro da casa para a eliminação deste ou daquele brother. “Esse é um comportamento típico de participantes desse tipo de reality show que buscam o prêmio em dinheiro”, afirma Luiz Belmiro. É comum ver os integrantes, quando deixam a atração, afirmar que os atos condenáveis não se repetem fora da ‘casa’. Mas segundo Bel-miro, essas atitudes não se restringem ao confinamento. “Apesar de o ambiente criado ser propício às intrigas, o progra-ma é na verdade um espelho da socieda-de. O participante tomaria aquela atitude reprovável em outras situações”, diz.

Para Marcos Rezende, o que determi-na se uma pessoa é mesmo mau-caráter, como demonstrou no programa, é o que ela tem a esconder. “Depende de qual máscara eu carregue no dia-a-dia. Eu não acho tão arriscado, pois não tenho medo de expor os meus pensamentos assim”. Já Fernando da Silva acha que a preocupa-ção com a imagem fora do programa é exagerada. “Não tenho medo de me ex-por. Aonde vou sou bem visto”, garante.

Mas essa não é a principal nem a única preocupação de ex-integrantes de reality shows. Junto a isso está a questão do futuro artístico que muitos procuram. No ‘pós-reality’ nada é garantido. “A pes-soa que passa por uma experiência des-sas deve estar consciente de que terá que lutar muito antes e depois de passar pelo programa para conseguir sucesso”, acon-selha Júlia Jones.

A cantora também destaca que não é inútil participar de um reality, apesar de os benefícios para emissoras serem maiores, já que eles lucram muito com as votações e a altíssima audiência. “Cada programa tem o seu propósito, seja o re-conhecimento musical ou o simples fato de aparecer”. Para ela a participação no Fama trouxe vantagens. “O contato com pessoas do meio musical, muito mais ex-perientes que eu, me trouxe muita inspi-ração”, completa.

Não é raro ver alguns ex-BBBs fazendo participações em outras emissoras após o fim da edição da qual participaram, ou posando para ensaios fotográficos de re-vistas. Mas poucos são aqueles que con-seguiram emplacar a tão sonhada carreira artística. Fernando da Silva não menos-preza os trabalhos dos ex-participantes. Ele diz que algum dia pode passar pela mesma situação. “Quem somos nós para agradar todo o mundo? Se a pessoa faz o seu trabalho decentemente, ele é válido”. E essa vida de incertezas que a participação em reality shows pode trazer não o assus-ta. Nem mesmo tendo emprego e salário garantidos, Silva muda de idéia na hora da inscrição. “Se a chance aparecer eu lar-go tudo para participar”, finaliza.

Assim como o Big Brother Brasil, outros reality shows, tanto na TV Globo como em outras emissoras, viraram febre nacional. Apesar disso, esse tipo de atração, que busca retratar a vida real, não é tão recente quanto parece. O primeiro do gê-nero surgiu nos Estados Unidos, em 1973. Chamava-se An American Life e mos-trava o cotidiano de uma família americana comum.

No Brasil, o primeiro a ser lançado foi o também americano The Real Word (Na Real), exibido pela MTV e produzido em 1989. Mas somente dez anos depois os brasileiros tomaram gosto por esse tipo de programa. O Big Brother, o mais famoso deles, foi criado na Holanda e hoje é exibido em mais de 17 países. Outros reality shows conhecidos no Brasil são Troca de Família, Queer Eye for the Straight Guy, Casa dos Artistas, Ídolos (American Idol) e O Aprendiz.

A vida real nas telas brasileiras

Page 8: Jornal Comunicação

O Comunicação é uma publicação do curso de Jornalismo da Universidade Federal do Paraná, com a participação de alunos das disciplinas de Laboratório de Jornalismo Impres-so e Laboratório Avançado de Jornalismo Impresso. Professor orientador: Mário Messagi Jr. (jornalista res-ponsável – DRT 2963/PR).editora Chefe: Renata Ortega.seCretária de redação (imPresso): Mariana Cioffi. subse-Cretária: Julia Guedes.

seCretária de redação (on-line): Aline Baroni. subseCre-tário: Fábio Pupo. Webmaster: César A. Souza. Chefe de rePortagem: Toni Scharlau. editores: CiênCia e TeCnologia: Suelen Trevizan. Compor-TamenTo: Flávia Silveira. CulTura: Manuela Salazar. es-porTes: Franciele Bueno. geral: Mariana Ohde. opinião: Vanessa Prateano. políTiCa: Chico Marés e Thaíse Men-donça. uFpr: Iasa Monique e Renata Bossle. FoTograFia: Fernanda Trisotto.

CaPa: Fernando Vieira. Charge: Antoni Wroblewski. Projeto gráfiCo: Renata Bossle.diagramação: Aida Mangue e Renata Ortega.endereço: Rua Bom Jesus, 650 – Juvevê – Curitiba-PR. telefone: (41) 3313-2017. e-mail: [email protected] site: www.jornalcomunicacao.ufpr.br tiragem: 4 mil exemplares. imPressão: Gráfica O Estado do Paraná.

expediente

Co:::unicaçãooutubro de 20088 cultura

ARTES PLÁSTICAS Curitiba ainda não tem expressividade no cenário artístico nacional

O frágil mercado de artes em Curitiba

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Mercado de artes curitibano é caracterizado como como flutuante, inconstante e disperso

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Cem milhões de dólares: esse foi o valor pago pela obra For the Love of God, do britânico Damien Hirst, na casa de leilão inglesa Sotheby’s, no mês passado. A quantia (a maior já alcançada por um artista vivo) deixa claro que as artes plás-ticas contemporâneas podem constituir um mercado altamente lucrativo. Mas fora do circuito internacional, a compra e a venda de obras em Curitiba pode não ser assim tão vantajosa.

A artista plástica, marchand (profis-sional que faz circular a produção artísti-ca), consultora e assessora em arte Gláu-cia Severo é categórica: “O mercado de arte curitibano é flutuante, inconstante e disperso”. Com 30 anos de experiência na área e tendo assessorado mais de mil artistas, ela aponta a falta de divulgação, o desinteresse do público e a própria característica da produção paranaense como justificativas da sua afirmação.

Para ela, nem mesmo o cenário artís-tico nacional tem espaço para divulga-ção. “Não temos meios de comunicação que façam esse trabalho. O que vemos são alguns comentários em colunas pa-gas, mas não um verdadeiro interesse no assunto”, afirma.

Em Curitiba, as obras de arte sofrem ainda com a falta de identidade regional. De acordo com a consultora, muitos dos artistas paranaenses vêem o que está sen-do produzido em outros lugares e fazem trabalhos parecidos. “É uma arte quase que por osmose”, brinca. Nesse contexto, procurar entender os processos constru-tivos da arte é fundamental para que os artistas criem uma identidade própria. “É preciso ser exclusivo, porque isso é o que traz interesse”, diz.

Gláucia afirma ainda que grande parte dos artistas tem uma alta produtividade, mas de forma dispersa. “Não adianta pin-tar freneticamente e esperar vender mui-tos quadros se não se há controle sobre a qualidade das peças”, adverte. Ela pon-dera, no entanto, que há grandes artistas no Paraná. “Pessoas muito talentosas, mas que nem sempre recebem o devido reco-nhecimento”, afirma.

Ilustres desconhecidos

Muitos nomes ainda são pouco recor-rentes na grande imprensa, mas já têm muitos de seus trabalhos reconhecidos. Contudo, para a maioria dos artistas pa-ranaenses, a situação é mais complicada. Segundo Gláucia, grande parte dos no-

bijuterias, pratos, além de outros utensí-lios. Mas sempre seguindo a minha lin-guagem", afirma. A pintora Lizete Zem também tenta vender suas obras. "Mas o mercado está bastante complicado, prati-camente inexistente". Todas as artistas já realizaram exposições em galerias de arte e ressaltam a importância desses espaços para a divulgação de seus trabalhos.

Há 17 anos representando artistas paranaenses, Marco Melo afirma que o papel das galerias é o de ajudar a formar um mercado crescente, através da divul-gação do trabalho dos artistas e da for-mação de um público com maior visão poética sobre as obras. “Ao contrário do que acontece em outras áreas, a arte ain-da não é uma necessidade posta. Mas ela forma um olhar diferente, e por isso é tão importante”, argumenta.

Disputas

A disputa no mundo da arte, no en-tanto, pode também gerar complicações. Aldo Neto manteve sua galeria por um ano e meio, mas optou por fechá-la nes-se semestre – as paredes já estão com-pletamente brancas. “A circulação entre artistas e galeristas se faz em pequenos grupos na cidade. É muito difícil uma galeria nova interagir com esses guetos já formados”, justifica.

Ele ressalta também que muitos ar-tistas vêem os galeristas como inimigos. “Eles não reconhecem o espaço como um instrumento legítimo e preferem manter pequenos ateliês, sem dialogar com o trabalho de outros profissionais”, afirma. O galerista Nure Calluf argu-menta que esse receio acontece porque muitos galeristas não respeitam os artis-tas. “Eles ficam enrolando, geralmente não pagam toda a quantia combinada, ou pagam com atraso”, critica.

Da arte clássica à contemporânea, as galerias trabalham com diferentes nichos de mercado. Segundo Aldo Neto, contu-do, o gosto médio do público curitibano ainda não dá o devido valor à arte con-temporânea, interessando-se mais pela paisagem e pelo que chama de ‘arte bur-guesa’. Além disso, para Gláucia Severo, em Curitiba a arte está mais relacionada ao status do que ao valor estético da obra. "As pessoas estão mais interessadas em quem vai comprar o quê do que em en-tender o artista e sua produção”, opina.

vos talentos tem dificuldade em divulgar suas obras, principalmente devido à falta de incentivo à produção local. “O pró-prio Museu Oscar Niemeyer (MON), trazendo somente obras consagradas, não faz esse trabalho”, ilustra.

Além disso, há o desinteresse do pú-blico paranaense. Para a marchand, mui-to do que se compra hoje em Curitiba está ligado à decoração. “Nesse caso, as decisões são baseadas muito no gosto pessoal, o que fragiliza a comercializa-ção da arte”, afirma. O artista e professor do Departamento de Artes da UFPR Geraldo Leão tem opinião parecida: “Apesar de também serem importantes, compradores individuais não fazem a carreira de um artista”.

Os colecionadores, no entanto, são poucos. “A verdade é que não temos clientes fazendo fila nas portas das ga-lerias ou ligando em busca de telas”, resume Gláucia. A conseqüência disso é que os artistas paranaenses não vêem sua qualidade reconhecida em lugar ne-nhum. Ela exemplifica: "No cenário na-cional, por exemplo, pode-se dizer que somente os consagrados Alfredo Ander-sen e Guido Viaro são conhecidos".

Segundo o galerista Aldo Neto, o mercado de artes no Brasil ganha mais destaque no Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre e Belo Horizonte, e somen-te depois em Curitiba. "O próprio poder

de renda nesses centros justifica as maio-res possibilidades de comercialização da arte", analisa Leão.

Para o professor da UFPR, o merca-do de arte tem crescido bastante, em es-pecial para arte contemporânea. “E não somente em número de galerias e obras, mas também em relação à profissionali-zação dos artistas”, ressalta. O galerista Marco Melo complementa: “Em relação aos últimos anos, o número de espaços e de circuitos dedicados à arte são mui-to maiores”.

Vivendo da arte

Geraldo Leão alega que viver de arte em Curitiba é possível, embora mui-tas pessoas afirmem o contrário. “Não é fácil, mas as oportunidades existem”, pondera. Como exemplo, ele cita o seu próprio trabalho. “Vendi meu primeiro quadro importante em 1984 e vivi exclu-sivamente da pintura até 1997, quando ingressei na UFPR”.

"Mas nem todos os artistas conseguem divulgar o próprio trabalho", alerta Gláu-cia Severo. A artista plástica Soraia Sava-ris, por exemplo, confessa que não possui o toque de comerciante para vender suas peças. "Mas, para balancear isso, dou aulas de cerâmica em um ateliê", conta.

A artista Claudine Watanabe também trabalha com cerâmica. "Para vender, faço