Jornal Contramão

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contr mão a JORNAL LABORÁTORIO DO CURSO DE JORNALISMO MULTIMÍDIA - UNA Ano 4-2011 Distribuição Gratuita nº16 HIV e o mundo do trabalho

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JORNAL LABORÁTORIO DO CURSO DE JORNALISMO

MULTIMÍDIA - UNA

Ano 4-2011 Distribuição Gratuita

nº16

HIV e o mundo do trabalho

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EXPEDIENTE

Jornal laboratório do curso de Jornalismo Multimídia doInstituto de Comunicação e Artes - Centro Universitário UNA Reitor: Prof. Pe. Geraldo Magela TeixeiraVice-reitor: Átila SimõesDiretor do ICA: Prof. Silvério Otávio Marinho Bacelar DiasCoordenadora do curso de Jornalismo Multimídia: Profª Piedra Magnani da CunhaContramão - Tel: (31) 3224-2950 - contramao.una.brCoordenação: Reinaldo Maximiano (MTb 06489), Tatiana Carv-alho e Cândida Lemos Diagramação: Débora Gomes, Paulo Lopes e Reinaldo Maximi-anoRevisor: Roberto Alves ReisRepórteres/redatores: Etiene Martins, Natalie Boscato, Nélio Sou-to, Paulo Lopes, Verônica Cruz, Thiago Almeida, Wilton MelloWilton MelloTiragem: 2.000 exemplaresImpressão: Sempre Editora

Foto da capa

EditorialReprodução do quadro Operários -1933

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do

Amar

al) Remédios que curam o preconceito contra a aids

Marina Sophia

Opinião

A única exigência que tínhamos, quanto qual se-ria nossa pauta era falar sobre a imersão dos excluídos de forma preconceituosa no mercado de trabalho. Mas é tão vasta a lista de excluídos (obesos, negros, defici-entes...) que foi fácil escolher. Decidimos falar sobre as dificuldades que os portadores do vírus HIV enfren-tam. Conseguimos muitos materiais, fomos muito bem recebidos e atendidos em algumas ONGs que tratam desse assunto, o difícil foi encontrar um personagem verídico, ou seja, um soropositivo que quisesse falar com a nossa equipe. Contar seus medos e anseios. Procuramos na família, no círculo de amizades e ainda assim ninguém quis falar. Recorremos então aos hos-pitais, e clínicas e mesmo informando que seria com um nome fictício ninguém quis nos dar entrevista, por medo do preconceito. Por um momento pensamos em desistir, mas fomos tão bem recebidos na ONG VHIVER que não achamos justo “jogar fora” o trabalho e a confiança que nos foi passado. Lá Encontramos um soropositivo que se dispôs a nos contar sobre seu dia a dia e as dificuldades vencidas no concorrido mercado de trab-alho. Está aí então para vocês, esse caderno especial sobre a inserção dos portadores de HIV no mercado de trabalho. Esperamos que seja útil... Boa leitura!

Em 1996, eu tinha três anos de idade. Naquele período estava doente, debilitada e perdendo peso. To-dos achavam que tinha câncer. Uma tia me levou ao médico, foram feitos vários exames e um deles compro-vou que estava com vírus HIV. Logo após a descoberta, começaram as internações que duraram até os 14 anos.As minhas lembranças da infância estão ligadas à solidão dos quartos de hospitais. Não conhecia detalhes da minha doença. Apenas parecia que definhava, os cabelos caíam e estava cada vez mais magra. Nessa fase tinha aversão a espelhos. A minha imagem era uma mistura de tristeza e angústia. Temia ver a sombra da morte que se aproximava. Acho que todo o medo era fruto do precon-ceito da minha família. O desconhecimento sobre a doença fez com que me isolassem, não deixando que brincasse com meus primos, separando e marcando o meu copo, prato e talheres. Toda essa segregação fa-zia do quarto, mais uma vez, o meu único refúgio. Na casa dos meus avós, utilizei o mesmo dor-mitório em que minha mãe havia permanecido antes de morrer com o vírus da AIDS. Fui a única dos quatro irmãos que contraiu o HIV. Cheguei a sentir raiva da minha mãe, mas ela se foi há 14 anos e hoje sei que também sofreu com o preconceito que é, sem dúv-ida, a pior doença, pois provoca feridas na alma. Até os 10 anos de idade, alternei a minha es-tadia entre a casa dos meus avós e os hospitais. Depois desse período, a minha família me en-tregou para uma instituição que cuidava de portado-res do vírus HIV, alegando que tomar conta de mim era algo trabalhoso. Essa experiência de rejeição fez com que eu perdesse a confiança nas pessoas que me cercavam. Esse quadro começou a mudar, quando conheci uma voluntária, a Vovó Vicky, que me aju-dou a ver um outro lado da vida: a aceitação de quem sou eu. Há mais de três anos essa voluntária criou a Vida Positiva e hoje faço parte de uma grande famí-lia que convive com crianças e jovens soropositivos. Hoje o espelho não é mais o vilão. Pelo con-trário, adoro me arrumar, usar maquiagem e cuidar do meu cabelo. Acho que sou uma garota vaidosa. Gosto de acessar a internet, ir ao cinema e conversar com as colegas da escola. Fico feliz quando recebo a vis-ita da minha irmã e das minhas primas. É bom man-ter o vínculo com familiares que me amam como sou. A última vez em que estive internada, há alguns anos, os médicos acharam que eu não sobreviveria, pois os meus pulmões quase não funcionavam, contudo me foi dada uma segunda vida que agarrei com todas as forças. Por enquanto só posso afirmar que a maior das minhas vitórias é olhar para as pessoas sem medo e, sobretudo, olhar para mim mesma e ver que sou capaz, amada e feliz.

Guia do Soropositivo para o mercado de trabalho

1. Meu exame anti-HIV deu resultado positivo. Posso perder meu em-prego por isso?NÃO. O resultado posi-tivo em um exame não é motivo suficiente para que o trabalhador seja demitido, sendo esse fato caracterizado como ati-tude discriminatória. 2. Sou obrigado a dizer a minha sorologia? NÃO. A Lei garante o di-reito de não declarar a sua sorologia positiva. 3. A empresa pode exigir o exame anti-HIV para ad-missão? NÃO. O exame admission-al tem em vista apenas a avaliação da capacidade laborativa do empregado. 4. Por ser portador do vírus da Aids, tenho es-tabilidade no meu em-prego?NÃO. O simples fato de ser soropositivo não lhe garante qualquer estabili-dade no emprego já que as condições são as mesmas do não portador do vírus. 5. Sendo soropositivo,

posso trabalhar em qual-quer atividade?SIM. O convívio social ou profissional com o em-pregado soropositivo ou doente de Aids não rep-resenta qualquer situação de risco, salvo recomen-dado a não-realização de procedimentos invasivos que, acidentalmente, pos-sam provocar ferimentos. 6. O médico da empresa pode dizer ao meu em-pregador que sou porta-dor do vírus da Aids ?NÃO. O médico não pode dar informações confiden-ciais quando do exame de trabalhadores, ca-bendo-lhe informar ex-clusivamente, quanto à capacidade ou não de ex-ercer determinada função. 7- O que deve fazer o em-pregador, se a condição de soropositivo do em-pregado for pública e conhecida pelos demais trabalhadores? A empresa deve informar e esclarecer sobre questões pertinentes à saúde, pro-mover programas de prevenção e esclareci-

mento sobre o HIV e cam-panhas contra a discrimi-nação e o preconceito. 8. E quando o portador de HIV tem sua capacidade de trabalho reduzida, o que fazer? Geralmente a presença de HIV não reduz a capa-cidade de trabalho, mas caso ocorra, o emprega-do pode ser transferido de função ou na impos-sibilidade dessa, ser en-caminhado para o auxílio-doença (por incapacidade temporária) ou aposenta-doria por invalidez (por in-capacidade permanente). 9. Quais os direitos e de-veres do trabalhador so-ropositivo e do seu em-pregador?Os mesmos direitos e de-veres dos demais trabal-hadores, sem exceção. Ao empregador cabe imple-mentar programas de pre-venção no local de trabal-ho, independentemente da existência de empregado soropositivo na empresa.10. Em caso de acidente de trabalho, qual o pro-cedimento a ser adotado

em relação ao trabalha-dor acidentado?No caso de acidente com exposição a material con-taminado, deve ser emiti-da a Comunicação de Aci-dente de Trabalho (CAT) para acompanhamento do serviço médico com-petente, resguardando os direitos do empregado em caso de contaminação. Mesmo nesse caso para realização do exame anti-HIV, é necessário o con-sentimento do empregado. 11. O trabalhador porta-dor de HIV com menos de 12 meses de contribuição ao INSS, tem direito ao auxílio-doença?SIM. Com o que dispõe a Lei, não há obrigatoriedade do período de carência de 12 meses, ao portador de HIV. Estando empregado, o por-tador do vírus deve efetuar o pagamento dos primeiros 15 dias de afastamento, por motivo de doença, encaminhá-lo ao INSS. (Texto adaptado)Fonte: Ministério do Trabalho e Emprego

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“Por lei não devem haver diferenças, no ambiente de trabalho, mas na prática o que se vê com relação aos portadores de HIV é que

poucos sabem dos seus direitos no mundo do trabalho. “

Juliana Morais, advogada do trabalho.

Portadores de HIV no mercado de trabalho

59, fundador da ONG Li-bertos Comunicação que desenvolve ações de de-fesa da diversidade sexual e de prevenção das DSTs/AIDS, em Belo Horizonte.Para Rezende, muitas vezes, o que se verifica é que o soropositivo fica na defensiva e se prejudica por não conhecer os seus direitos. De acordo com Rezende, o problema passa pela omissão da sociedade. “Este foi o ponto mais de-batido durante o seminário ‘(Des)Criminalização de soropositivos’, realizado em Junho de 2010”, infor-ma. A assistente social, Raquel Damaris, 23, trabalha com ações de prevenção e con-scientização e defende que o soropositivo precisa ser ouvido e se sentir apoia-do pela sociedade. “Mui-tos recebem a notícia da

sou de uma política de in-serção no mercado de tra-balho, porque, às vezes, a sua condição dificultava essa entrada. Mas o porta-dor do vírus não dispõe de nenhum privilégio porque é um profissional habilita-do, nas mesmas condições de quem não tem o vírus”, explica a advogada. A perspectiva da conscientização, defen-dida por Morais, está em consonância com a postura da OIT de incentivar mu-danças de atitudes e de comportamento em rela-ção à epidemia, dentro do chamado “Mundo do Trab-alho”. Nesse sentido, um dos maiores desafios é li-dar com o preconceito. “O próprio tema é melindroso porque, às vezes, existem lados que não querem se-quer falar sobre o assunto”, explica Osmar Rezende,

erado o mais propício para a promoção de políticas e programas de prevenção e de assistência às pes-soas que vivem com o HIV.Segundo a advogada do tra-balho Juliana Morais, uma empresa não pode demitir ou deixar de contratar um funcionário (ou candidato) por ele ser portador do HIV. Para a advogada O que se faz necessário, então, são ações políticas de con-scientização mais efetivas. “O deficiente físico preci-

De acordo com a Or-ganização Internacional do Trabalho (OIT), há 42 mil-hões de pessoas infectadas pelo HIV no mundo; des-sas, 26 milhões tem idades compreendidas entre 15 e 49 anos, ou seja, 62% dos portadores do vírus inte-gram a força de trabalho ativa. A OIT desenvolve políticas de acompanha-mento da relação entre portadores do vírus e em-pregadores, pois o ambi-ente de trabalho é consid-

doença como uma bomba e precisam de apoio para entender os processos, entender o seu corpo e a sua relação com o vírus”, explica. Nesse processo, o assistente social assume o papel de orientador. “Esse atendimento se estende da orientação sobre o trata-mento até o conhecimen-to dos direitos e deveres do soropositivo, como as questões trabalhistas, previdenciárias e jurídi-cas envolvidas”, reforça. Preconceito Embora, na teoria, o direito do soropositivo não seja diferente de um funcionário que não é por-tador do vírus, na prática,

trabalhadores são vítimas de preconceito e temem a demissão. Por esse mo-tivo muitos portadores do vírus preferem não falar sobre o assunto. Segundo Thiago Pereira, 26 anos, educador da ONG Vhiver, e portador do HIV, a adap-tação após o diagnósti-co é a etapa mais difícil. “Há dois anos, eu trabalhei numa empresa, com car-teira assinada, e em 2010 recebi o resultado do meu exame de HIV. O impacto foi tão forte que atrapalhou o andamento das minhas atividades”, lembra.Thia-go Pereira não teve acom-panhamento adequado e, após o diagnóstico, pas-sou a temer o preconceito

dentro do ambiente de tra-balho. “Eu pedi demissão da empresa por medo. Não contei para os colegas de trabalho que eu era porta-dor do vírus, mas, às vezes tocava no assunto, só para ver a reação, e constatei que havia preconceito e que não seria fácil con-tinuar trabalhando lá”. Hoje, com a experiência do trabalho na ONG Vhiver, Thiago Pereira reconhece que a decisão foi equivo-cada. “Pedi demissão por medo do preconceito, a gente fica com tanto medo de ser descoberto que a gente se fecha”. “Hoje, eu sei que uma pessoa com HIV pode exercer qual-quer função desde que

ela se cuide, faça uma boa adesão ao tratamen-to e tenha acompanha-mento médico.”, explica. Com relação ao mercado de trabalho, Thiago Pereira defende que o maior desa-fio é combater o precon-ceito e promover debates na sociedade sobre o tema DSTs/AIDS. “Hoje, na ONG, nós temos profissionais que nos orientam nesse sentido e existem algumas empre-sas parceiras, que a gente sabe que não tem precon-ceito e estão na luta pela socialização”, informa. “Não é fácil manter uma ONG, não temos recur-sos próprios e depende-mos da ajuda do governo e das empresas privadas.

1º Passo. Digite o endereço a seguir no navegador de internet do seu computador. www.ezflar.com/gen/97893 Autorize sua web-cam a ler o aplicativo e participe da Ação: VHIVER COM AIDS É PÓSSÍVEL. COM O PRE-CONCEITO NÃO!

Relidade Aumentada: Não Aumente o Preconceito

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Thiago Pereira, 26 anos, educador.

Acompanhe a entrevista com o educador da ONG Vhiver, Thiago Pereira, que desenvolve ações de conscientização e preven-ção às DSTs/AIDS, em BH, a partir da sua experiên-cia pessoal. “Eu não me informava sobre os riscos de uma relação sexual sem cuidados, sobre como pode ser o futuro de um portador do HIV. Antes, eu não me preocupava em ter um plano de saúde, porque não ligava para a saúde. Hoje, eu estudo, procuro me informar mais sobre política, saúde e cul-tura. Eu tenho uma quali-dade de vida muito mel-hor que antes”, garante.

A partir do diagnósti-co, como foi o seu pro-cesso de aceitação?Foi em maio de 2010, o processo de aceitação foi muito complicado. A aceit-

ação só veio mais tarde, quando tive acompanha-mento psicológico e quan-do eu comecei a trabalhar no Vhiver. O contato com outras pessoas que vivem com HIV ajuda. Hoje, eu luto para permanecer vivo.Houve impactos no seu desempenho profissional?Sim, houve. Um mês de-pois [do diagnóstico], eu pedi demissão, por medo do preconceito e por questão de saúde. Eu fiquei muito debilitado quando descobri o HIV, tive prob-lemas psicológicos, tive depressão. Eu não con-seguia desempenhar com tanta eficiência o trab-alho, tinha sempre que ir ao médico, pois era o iní-cio do tratamento. O pes-soal da empresa começou a estranhar e pedir ex-plicações demais e, por medo, eu pedi demissão.Mas você chegou a so-

frer discriminação no ambiente de trabalho?Não. Eu não cheguei a reve-lar que era soropositivo, mas antes de sair, eu per-guntava para os colegas: “como você reagiria se um funcionário soubesse que é HIV positivo?”. Constatei que seria difícil continu-ar trabalhando naquela empresa, pois as pessoas não entendiam o que é HIV, percebi que ia “ro-lar” preconceito. Depois, no hospital, me indicaram a ONG Vhiver, onde com-ecei um trabalho volun-tário e, hoje, exerço uma atividade remunerada.Você encontrou dificul-dades para justificar as suas ausências ao trabalho dev-ido às consultas médicas?Encontrei. Como eu rev-elei que era soropositivo, no trabalho, eu passei inventar desculpas, diz-ia que estava com uma

alergia e tinha que me ausentar. Nas consultas, eu pedia ao médico para que nos atestados e nas receitas não constas-sem, de forma explícita, a razão de eu estar ali. Eu pedia ao médico um prontuário que atestasse alergia ou incapacidade psicológica pra trabalhar.Pode parecer uma pergun-ta banal, mas o que muda na vida de um soropositivo?Tudo. Eu não moro mais com minha família. Eu não tenho mais os amigos de antigamente. Não convivo mais com as mesmas pes-soas com quem convivo e a minha forma de pen-sar sobre a vida mudou. Hoje, eu me cuido muito mais do que antes. Hoje, eu estudo, procuro me in-formar. Digamos que eu esteja mais “antenado”.É possível verificar se o recém-contratado em

uma empresa é porta-dor ou não do HIV nos exames de admissão?Hoje, quando você vai ser admitido você tem que fazer uma série de exam-es e é, terminantemente, proibido pedir o exame de HIV. Porém, quando você vai fazer o exame você não sabe se o médico vai analisar seu sangue para HIV ou não. Então, se a empresa solicitar que o HIV seja verificado, isso será feito sem o trabalha-dor saber. Se o resultado for positivo e a empresa optar por não contratar, ela simplesmente justi-fica: o trabalhador não se enquadra nos padrões.Você conhece alguma situação semelhante? Nossa, demais da conta! Um colega aqui do Vhiver, quando descobriu ser por-tador, ficou muito debil-

itado. A empresa tomou conhecimento disso e o demitiu de imediato. Como ele cuidava de crianças, a empresa alegou que não poderia deixar os filhos dos seus clientes correrem riscos com uma pessoa que não tinha uma saúde boa.Então, o preconceito con-tinua sendo uma das maio-res dificuldades para tra-balhador soropositivo.Sim. Porque a pessoa fica com muito medo de ser descoberta. Algumas nem buscam emprego. Algumas pessoas com AIDS, em esta-do avançado, desenvolvem alguns efeitos colater-ais, como a lipodistrofia, causado até mesmo pelo medicamento que toma-mos, que complica muito a vida da pessoa, pois atrofia alguns membros do corpo. A aparência física da pes-soa não fica agradável, por

assim dizer. Então, ela se isola. A empresas tem cri-térios de admissão rigoro-sos e se a pessoa desen-volveu alguma lesão física (ela manca, por exemplo), dependendo da função, ela não vai ser contrata-da. E os remédios, até a adaptação, atrapalham, sim, pra arrumar emprego.Por quê? O medicamen-to antiretroviral tem efeitos colaterais que prejudicam o desem-penho do trabalhador? Depende. Quando eu com-ecei a tomar os meus antiretrovirais, eu tive dificuldade com um dos medicamentos que me dava muito sono, eu só po-dia tomá-lo à noite. Assim, eu não poderia mais trabal-har à noite. Algumas medi-cações causam diarréias e, outras, causam mudanças de humor. Até a pessoa se

adaptar, esses efeitos po-dem atrapalhar o desem-penho no trabalho, sim.Na sua avaliação a relação não apenas do soropositivo com o “Mundo do Trabal-ho”, mas dele com a vida. São temas importantes. Eu trabalho justamente com isso nas empresas e nas es-colas. O objetivo é consci-entizar mesmo, falar para a população que uma pes-soa com HIV pode viver, sim! Ela pode viver social-mente, pode dar e rece-ber abraço ou beijo. Ela pode trabalhar. Ela pode namorar. Ela pode ter ami-gos e pode ir para balada. A vida é apenas mais regra-da com os medicamentos e com a saúde. Mas o soro-positivo pode ter uma vida normal, por assim dizer. Precisamos de uma maior conscientização e uma quebra de preconceito.

Entrevista

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“Hoje, eu me cuido muito mais do que an-tes. Hoje, eu estudo, procuro me informar. Digamos que eu esteja mais antenado.” Thiago Pereira, educador da ONG Vhiver

“Muitos recebem a notícia da doença como uma bomba e precisam de apoio para entender os processos, entender o seu corpo e a sua relação com o vírus” Raquel Damaris, assistente social,

“O resultado positivo em um exame não é motivo suficiente para que o trabalhador seja demitido, sendo esse fato caracteriza-do como atitude discriminatória.”Ministério do Trabalho e Emprego

“Ao empregador cabe implementar pro-gramas de prevenção no local de trabalho, independentemente da existência de em-pregado soropositivo na empresa.”Ministério do Trabalho e Emprego