Jornal Contrapontos 14

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ESTRADA DE S. MAMEDE, 7 — 2705-637 S. JOÃO DAS LAMPAS • PUBLICAÇÃO PERIÓDICA TRIMESTRAL • ANO III • MAR-JUN DE 2011 • DISTRIBUIÇÃO GRATUITA 14 INVESTIGAÇÃO Portuguesa na Antárctida ENTREVISTA a João Rodil Escritor, historiador e um saloio convicto AMBIENTE Por uma democracia do território Célula fotográfica/Foto João Vieira

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Jornal de expressão livre e criativa, tem como temas dominantes a Arte, o Ambiente e a Cultura. Visa dar voz à sociedade civil sintrense e não só, através de textos, fotografias, desenhos, etc. Este projecto corresponde a um núcleo de trabalho da Associação 3pontos

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ESTRADA DE S. MAMEDE, 7 — 2705-637 S. JOÃO DAS LAMPAS • PUBLICAÇÃO PERIÓDICA TRIMESTRAL • ANO III • MAR-JUN DE 2011 • DISTRIBUIÇÃO GRATUITA14

INVESTIGAÇÃO

Portuguesa na Antárctida

ENTREVISTA

a João Rodil Escritor, historiador e um saloio convicto

AMBIENTE

Por uma democracia do território

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Estrada de S. Mamede, 7 — 2705-637 S. João das LampasTelef.: 925 889 017e-mail: [email protected][email protected]

Publicação periódica trimestral • Ano III • Novembro de 2011 • N.o 14 • Distribuição gratuitaColaboram neste número: Adelino Pedro, Alice Aguiam, Carlos Zoio, Fernando Cerqueira,João Vasco Castro, João Vieira, João Rodil, José Domingos Costa, Minerva de Carvalho,Rafael Alexandre, Rita Bento, Vanessa Batista, Vasco de Castro, Verónica SousaGrafismo: Luís BordaloComposição e paginação: Jornal ContrapontosImpressão e acabamento: GuimarãesTiragem: 1000 exemplaresDepósito legal n.o 233 880/05

Contrapontos destina-se a dar eco das opiniões dos sócios e não sócios, da Associação3pontos — ambiente, arte, cultura, sendo uma tribuna de livre opinião e um espaço abertoa todos. Os artigos publicados responsabilizam unicamente o seu autor.

Se tiveres interessado em divulgaros teus eventos na «Agenda» doContrapontos, envia-nos um e-mailpara: [email protected],no máximo até uma semana antes domês de publicação do jornal. Nesse e-mail deves incluir: o tipo e o nome doevento, a entidade organizadora, osrespectivos contactos, o local, a horae a data.

Veja todas as edições do Contra-pontos online em:

www.jornalcontrapontos.blogspot.com

Breves

Jornal i ganha prémio de melhordesign do mundo

Lord Byron

Quando se fala de Sintra no sec.XIX a figura mais recorrente é a deByron, que no Lawrence Hotel teráescrito parte do seu Child HaroldPilgrimage, onde dedica uns versos aSintra:

«Lo! Cintra’s glorious Edenintervenes

In variegated maze of mount andglen.

Ah me! what hand can pencilguide, or pen,

To follow half on which the eyedilates

Through views more dazzling untomortal ken

Than those whereof such thingsthe bard relates,

Who to the awe-struck worldunlocked Elysium’s gates?»

A sua passagem por Portugal émarcada por um infortúnio amorosocausado por um marido ciumento, oque, segundo biógrafos seus, está naorigem das depreciativas referênciasque faz, na sua obra Childe Harold’sPilgrimage, não só a Portugal mas tam-bém aos Portugueses.

O jornal i venceu a 32.ª edição dacompetição criativa. The best ofNewspaper Design, da Society, com o júrirendido ao carácter inovador da publica-ção lançada em 2009.

«Nesta Era de grande sublevação nosmedia, a decisão foi tomada pelo critérioda inovação», explicam numa nota osjúris.

Muitas publicações, devido à crise,têm revelado grande «tenacidade» e«inteligência» para se reforçarem, os res-ponsáveis sublinharam que «o jornal diá-rio português i se destacou pela suahabilidade em aproveitar da melhormaneira a linguagem visual dos jornais,revistas e outras publicações, e criar algonovo que é mais do que a soma daspartes.»

Prémios de Arquitectura

Edifício Vodafone, dos arquitectosJosé António Barbosa e Pedro LopesGuimarães, distinguido na categoria deArquitectura Institucional. Closet House,de Marta Costa e Henrique Pinto, com oprémio para o melhor projecto de interio-res. E, um bar da autoria de Diogo Aguiare Teresa Otto, que venceu na categoriaHotéis e Restaurantes.

São os três edifícios portugueses pre-miados. Pelo meio, a coincidência deserem todos produto da chamada Escolado Porto. José António Barbosa, PedroLopes Guimarães, Marta Costa, DiogoAguiar e Teresa Otto estudaram todos naFaculdade de Arquitectura do Porto.

«Parva que eu sou»

A canção que tanto tem dado quefalar nas redes sociais foi lançada nosrecentes concertos nos coliseus do Portoe de Lisboa.

Já tomada como hino de revolta deuma «geração sem remuneração», a can-ção foi recebida com muitos aplausos.«Durante os ensaios e até em apresenta-ções feitas a amigos nunca imaginámos adimensão que a sua letra poderia tomar.»

«Foi com grande surpresa e emoçãoque assistimos a uma reacção tão intensae espontânea por parte das pessoas queestavam a ouvir uma música inédita. Ver-so a verso, fomos sentindo o público aapropriar-se da canção e a tomá-la comosua.» - Deolinda

Gonçalo M. Tavares distinguidocom o Prémio de Melhor LivroEstrangeiro, em 2010

O livro publicado em Portugal, em2007, pela Editorial Caminho, chegou em2010 às livrarias francesas com o títuloApprendre à Prier à l”re de la Technique.Este livro é o quarto romance da série OReino, da qual fazem ainda parte os livrosUm Homem: Klaus Klump, A Máquina deJoseph Walser e Jerusalém. Aprender aRezar na Era da Técnica foi também fina-lista de dois prestigiados prémios literá-rios franceses: Femina e Médicis.

O romance conta a história de LenzBuchmann, um médico que, a determi-nada altura, decide seguir a carreira polí-tica. Mais do que isto, o livro faz umaviagem pela condição humana, dando aconhecer uma personagem fria e calculis-ta que despreza a sociedade.

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Célula Fotográfica

Editorial

A Célula Fotográfica tem o prazer deanunciar o seu mais recente projecto, osite www.celulafotografica3pontos.com.

Esta plataforma virtual é compostapor uma serie de espaços, onde os artis-tas do colectivo, e não só, terão a possi-bilidade de expor as suas imagens e tra-balhos. Na sua estrutura fazem partequatro galerias distintas: Imagens Soltas;Exposição Aberta; 3pontos e Contrapon-tos.

A Exposição Aberta é um espaço paraos autores mostrarem os seus trabalhos eas suas histórias, trabalhos que podemser individuais ou colectivos. ImagensSoltas surge da necessidade de existir umespaço exclusivamente dedicado a foto-grafias livres de temas, pois todos nós,aqui ou ali, possuímos fotografias que,não conseguimos integrar num trabalho.Vivem sozinhas, consideramo-las interes-santes e queremos mostra-las.

Não esquecendo um dos nossosobjectivos, a estreita cooperação com aassociação 3pontos, surgem as galerias3pontos e Contrapontos. Todos os acon-tecimentos promovidos e organizadospela associação merecerão umcobrimento fotográfico e a colaboraçãocom o jornal Contrapontos será uma rea-lidade.

Por fim e não menos importante, cadamembro possui o seu espaço pessoal,onde se dá a conhecer através de umportfólio, auto-retrato e biografia.

A Célula Fotográfica tem como base oseu colectivo de fotógrafos, individuali-dades distintas umas das outras, ondecada um conta com a sua própria visão einterpretação das coisas. Linguagens,ideias e métodos diferentes, mas todoscom o mesmo gosto e dedicação pelafotografia.

Em nome da Associação 3pontos e donúcleo Célula Fotográfica queria agrade-cer, o esforço e disponibilidade do AndréBento.

Espero que gostem.

JOÃO VIEIRA

Mais um número do Contrapontosna rua. Apesar de, por vezes, pareceruma eternidade, estes intervalos detempo dependem da disponibilidade emuito trabalho por parte desta juven-tude, que insiste (com prazer), em criaralgo que seja aprazível e útil para quemlê.

Nesse sentido, e com o intuito demelhorar o desempenho de toda aassociação, este tempo de ausência,serviu também para a 3pontos «arru-mar a casa».

Foi no dia 11 de Setembro, queessa arrumação se traduziu, como nãopoderia deixar de ser, na realização deuma Assembleia Geral, onde foram dis-cutidos diversos temas fundamentaispara o futuro da associação.

Entre os vários pontos discutidos,destacamos a decisão, unânime, namudança do local da sede da associa-ção, sendo que a 3pontos se encontraem instalações provisórias.

A apresentação de um projectoambicioso, que consiste na criação deum núcleo de teatro da associação, foium dos pontos altos deste encontro.

A Assembleia Geral, terminou coma substituição de cinco dos membrosda lista original. Como tal, a 3pontosgostaria de agradecer à Alice, aoAndré, à Mariana, à Susana e ao Luís,todo o tempo e trabalho dispensadobem como, desejar o melhor sucessopessoal e profissional. Por outro lado,a 3pontos dá as boas vindas à Veró-nica Vieira, Teresa Talagão, Rita Leal,João Sol e Carlos Viçoso, desejandomuito trabalho e ambição, para queesta associação continue no seu bomcaminho.

Neste número fomos conhecermelhor a cultura que nos rodeia, a cul-tura Saloia, o seu passado, presente efuturo, pela voz de João Rodil. Histo-riador, escritor e saloio... com muitoorgulho. Podemos ler ainda nesta edi-ção diversos artigos de opinião,nomeadamente, Fernando MoraisGomes, que nos elucida acerca dosgraves problemas territoriais e urbanís-ticos do Concelho de Sintra. Pode ler--se ainda o testemunho de uma joveminvestigadora portuguesa, que naAntárctida, estudou e procurou com-preender melhor, os factores que con-trolam a distribuição espacial e a dinâ-mica do solo gelado.

Sérgio Cardoso, 22 anosMonte Abraão

C – Costumas vir aqui muitasvezes (Çahroi)?

S – Uma vez por semana.C – E quando não vens aqui vais

para onde?S – ... Quando não saio aqui, difi-

cilmente saio mas… vou à praia, Cas-cais… pouco mais.

C – Fazes o quê?S – Eu sou consultor de segurança

alimentar.C – Fazes parte ou alguma vez

pertenceste a alguma Associação ouMovimento Associativo?

S – Para além da escola, de algu-mas actividades da Associação deEstudantes, tunas, comissões de pra-xe, nunca, nunca tive, que me lembronão.

C – Conheces alguma associaçãode Sintra?

S – Curiosamente, as poucasAssociações que oiço falar, é precisa-mente aqui no Çahroi, associações deTeatro, através de alguma publicidadeque vai havendo por aí, pelas mesas e,outras associações que às vezes pas-sam mais despercebidas e que, sousincero, não presto muita atenção. C-Publicidade nas mesas... S – Sim,eventos, peças de teatro, exposiçõesde arte, livros, eventos que vouconhecendo mas mais por aqui, peloÇahroi, mais nada.

Teatro«Jonas nunca teve pai. Já dulto,

vive no Brasil com a mãe aposenta-da. Um dia, descobre que a sua que-rida e obesa mamãe sempre mentiu(...)»

O núcleo de teatro da associação3pontos teve o seu primeiro projectocom a apresentação pública do textoda peça «Coração de Basalto» noAtelier CriArt na Quinta da BoaVista, em São Pedro de Sintra.

Com texto de Celso Cruz, direc-ção de Rita Leal e Guilherme Freitase direcção musical a cargo de JoãoSol, este encontro, contou com apresença de muitos amigos, anóni-mos e agentes culturais que enche-ram a sala.

A entrada em cena está previstapara próximo mês de Abril.

Vox jovem

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Para uma democracia do territórioOpinião

Trinta e cinco anos de poder local sãotempo suficiente para se ponderar as vir-tualidades e patologias do nosso sistemade governo das autarquias, bem como daspolíticas que lhe estão cometidas.

A começar pelo número e dimensãodas mesmas. Desde Mouzinho da Silveiraque não há uma reforma de fundo doquadro das câmaras e freguesias comounidades coerentes, soçobrando até hojeo critério de campanário e os re-gionalismos bacocos sem liga-ção com uma correcta racionali-zação de serviços e recursoshumanos a nível regional. Autar-quias há que têm uma populaçãoque cabe toda em 3 ou 4 ruas deLisboa, por exemplo.

Também ao nível da escolhados eleitos e governo da polis, osistema se revela desajustado,produto dum obsoleto métodode Hondt e da distribuição demandatos de forma proporcional,obrigando a coligações contranatura. Mais curial seria a elei-ção de listas apenas para aAssembleia Municipal, dasquais o primeiro candidato seriapresidente da câmara e livre-mente escolheria a equipa degestão, com apresentação de programa naAssembleia Municipal e aí negociandomaiorias e políticas. Com o sistema actual,alguém que por virtude tenha sido candi-dato para agradar à secção local do par-tido proponente, pode ter de repartir opoder sem que seja particularmentedotado para o lugar, e apenas por méritopartidário. Igualmente a queda do exe-cutivo por via de moções de censura seriaum critério mais transparente e dinâmico,no fundo semelhante ao que já funcionapara o Governo.

Igualmente deveriam ser definidasquais as áreas que deve manter na esferadas competências próprias e aquelas quese pode contratar com privadas a suagestão conjunta, ou seja, definir os prin-cípios gerais e estratégias globais e secto-riais, tanto de desenvolvimento como deimplementação.

A chave está na imposição de umacultura de responsabilidade. É imperativa

a avaliação de situações, critérios de jul-gamento, capacidade de decisão, lidarcom o conflito, construir consensos,distinguir o essencial do acessório.Acresce ainda a gestão do tempo comobem escasso, embora temperado com anecessária ponderação que o interessepúblico importa; a gestão dos recursosfinanceiros e dos recursos naturais comresponsabilidade, de forma a evitar que

o solo urbano ou a urbanizar sejaparasitado pelas autarquias que vejamnas mais valias a taxar a forma de finan-ciar os programas municipais, ao mesmotempo que não indemnizam aqueles queperdem valor com a classificação dosseus terrenos como zona nãoaedificandi, numa verdadeira falta dejustiça distributiva balizada pela propor-cionalidade.

As reformas deveriam incluir a rees-truturação dos quadros de pessoal, ade-quando-os às necessidades e evitandoduplicações de tarefas com outras jáexercidas por privados ou empresasmunicipais. Igualmente o estatuto daspolícias municipais em nome da neces-sária proximidade deveria evoluir paraum assumir da maioria das competênciashoje afectas à PSP e GNR, apenas seexcluindo a investigação judiciária.

Na área dos planos de ordenamentodo território, a decisão sobre localiza-

ção e realização de investimentos públi-cos com impacte no ambiente e vida doscidadãos deveria estar sujeita a um efec-tivo e não semântico dever legal de par-ticipação, consagrando-se como umdireito fundamental dos cidadãos e nãoapenas como tarefa, incumbência ou fimdo Estado, como um interesse colectivoconfiado à Administração como interessepúblico, em que o fim último está em

prevenir danos e não tentarremediá-los.

Os PDM deveriam serobjecto de revisão em perma-nência e não apenas nas datasactualmente previstas, ade-quando-os à dinâmica daeconomia local e num quadrointer regional, corrigindo oserros dos PDM de 1ª geração.Nessa perspectiva, seria impor-tante um quadro geral em quea pró-acção fosse a captaçãode investimentos sustentáveise geradores de qualidade ereceita qualitativa, através dumquadro urbanístico, ambiental efiscal claro e supervisionadopor uma Agência Municipal deInvestimentos; fazer coincidiras ambições de gestão do terri-

tório das várias entidades num mesmoespaço categorial, seja no PDM, PP’s ououtras servidões administrativas vincula-tivas para a gestão do território; promo-ver uma carta de redes que permita inte-grar e orientar as intervenções dosfornecedores de serviços públicos eassim planear o seu modus operandi, bem como reforçar o papel de autorida-des locais de transportes e acessibilida-des. E, sendo o PDM um plano de esta-bilidade mais duradoura, agilizar oprocesso da elaboração de planos depormenor que estariam em actualizaçãopermanente, abertos á sociedade e aoescrutínio dos destinatários duma verda-deira Democracia do Território.

Como escrevia Vitor Hugo, «saberexactamente qual a parte do futuro quepode ser introduzida no presente é osegredo de um bom governo».

FERNANDO MORAIS GOMES

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Ambiente

Investigadora portuguesa na AntárctidaFormada em Geologia, com especiali-

zação em Geologia Aplicada e doAmbiente, Vanessa Batista está actual-mente a terminar o mestrado em Geogra-fia Física e Ordenamento do Território.

Por convite do Professor GonçaloVieira, tomou a decisão de ir um poucomais além no mestrado e seguir a investi-gação propriamente dita, direccionando-apara o estudo do solo permanentementegelado (permafrost) da Antárctida.

Contudo, foi após a primeira campa-nha na Antárctida que a vontade deseguir uma carreira como investigadorase instalou de forma mais consistente.

Como Portugal não tem uma base naAntárctida, apesar de actualmente come-çar a dar a sua contribuição em termoslogísticos, as deslocações sempre se in-tegraram em equipas internacionais,essencialmente espanholas e argentinas,as quais têm uma logística estável naAntárctida, há já alguns anos.

Por lá, encontrou pinguins, focas,lobos-marinhos e skuas, e foi pontual-mente visitada por elefantes marinhos.

Segundo Vanessa, o fascinante foi oestado puro e virgem em que a Antárc-tida, no meio de um mundo industriali-zado e globalizado, se consegue manter.

Um local em que os animais vivem noseu estado natural, sem se aperceberemde que o ser humano, apesar de ser umanimal racional, é por vezes perigoso.

Fascinou-se pela antítese entre osilêncio «ensurdecedor», sentido nosdias sem vento e o ruído avassalador deum dia normal.

A surpresa, que se prende com o fas-cínio, é poder ter a possibilidade de estarnum ambiente que evoluí quase seminterferência humana, onde se vive emharmonia com os elementos da natureza.Ainda a surpresa de encontrar, equipasde logística excepcionais: civis (Base An-tárctica Juan Carlos I), militares (BaseEspanhola Gabriel de Castilla e BaseArgentina Decepción), espanhóis, argen-tinos ou búlgaros. São eles que facilitama vida na Antárctida, são eles que cuidamdos pormenores do dia-a-dia, para que osinvestigdores possam estar dedicadosexclusivamente ao trabalho – a Ciência.

Através da participação na IPY Oslo

S c i e n c eConference, comuma bolsa daA P E C S(Association of Polar Early CareerS c i e n t i s t s )f inanc iada pe loThe ResearchCouncil ofNorway, o posterelaborado e res-pectiva investiga-ção levada acabopela Vanessa, fica-ram de imediatatosujeitos ao con-curso no qual, a APECS, pretendia distin-guir as melhores apresentações nas dis-tintas áreas de investigaçãorepresentadas. Assim, e no meio de 750jovens cientistas polares o seu poster,conjuntamente com outros 11 trabalhosdas diversas áreas temáticas, foi distin-guido com o prémio Outstanding PosterPresentation.

A elaboração do poster, em co-autoriacom colegas da Universidade de BuenosAires (Argentina) e de Alcalá de Henares(Espanha), consistia na apresentaçãodos resultados obtidos na Ilha Deception(Ilhas Shetland do Sul – Antárctida Marí-tima), durante os Verões austrais de 2008-2009 e de 2009-2010, com os quais sepretendia estudar os factores que contro-lam a camada activa (espessura do soloque descongela e congela sazonalmente)do permafrost, a nível espacial e tempo-ral. Para tal, foram instalados, nesseVerão, 6 locais de monitorização dacamada activa, utilizando um protocolointernacionalmente estabelecido paraáreas maiores, denominado CALM Site(Circumpolar Active Layer Monitoring),adaptando-se a uma experiência menor,replicada a diferentes altitudes e exposi-ções, as quais permitem ter uma primeiraideia dos factores que controlam a evo-lução da camada activa nesta região.Nesta fase, os dados obtidos permitiramconcluir que a espessura da camadaactiva diminui com o aumento da altitudee que existe um controlo acentuado daradiação solar incidente sobre, a qual faz

com que a espessura seja maior na ver-tente exposta a Norte do que na vertenteexposta a Sul.

Este estudo, permitiu efectuar umamelhor avaliação, a uma escala local, dainfluência da radiação solar recebida e daaltitude, no comportamento da camadaactiva no período em que o solo seencontra em regime de descongelamento(estação quente).

Em simultâneo, esta investigadora,tem também colaborado nas restantesactividades do seu grupo de investiga-ção (Antarctic Environments and ClimateChange do CEG/IGOT-UL), mais relacio-nadas com a monitorização temporal dopermafrost e do clima, tanto na IlhaDeception, como na Ilha Livingston, estaúltima também situada no arquipélagodas Shetland do Sul.

O principal interesse com o desenvol-vimento dos referidos estudos é com-preender melhor os factores que contro-lam a distribuição espacial e a dinâmicado solo gelado, numa das regiões doplaneta mais marcadas pelo aumento dastemperaturas do ar no último meioséculo, a região da Península Antárctica.

De referir ainda que o trabalho seintegra no projecto ANTPAS – AntarcticPermafrost and Soils, do Ano Polar Inter-nacional, bem como no projectoPERMANTAR da Fundação para a Ciên-cia e Tecnologia.

VANESSA BAPTISTA

CONTRAPONTOS

Foto Vanessa Batista

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A propósito do falar e do escrever

Literatura

Recorrentemente e em alturas decrise, propícias à xenofobia, a propósitoda língua, arrogamo-nos de ser os falan-tes, os puros, aqueles que melhor falamem português, já se vê. Há que dizercomo ponto de partida que não há serneste universo que nasça, a falar esta ouaquela língua das cerca de 6 900 existen-tes no planeta.

Recentemente os países da CPLP as-sinaram um acordo ortográfico e lá veioa conversa da nossa submissão aos bra-sileiros. «É uma vergonha» «Já nem nanossa língua mandamos» são frases queescutamos um pouco por todo o lado.Antes de mais nada vale a pena reflectirsobre a propriedade da língua. Comopodemos ser os detentores de algo comque não nascemos? Como o adquirimos?Qual o seu valor?

Verdadeiramente qualquer serhumano nasce com a capacidade da lin-guagem. Seja esta português, malaio,cherokee, inglês ou outra qualquer. Ofacto de uma criança estar iserida numcontexto fornece-lhe os elementos neces-sários ao desenvolvimento da faculdadeda linguagem. É uma evidência que umacriança neurologicamente normal podeaprender qualquer língua humanaquando imersa entre falantes de umaqualquer língua. Assim sendo podemosimaginar que uma criança portuguesasubtraída do seu contexto familiar e a

viver entre os cherokees onde só se falacherokee ganha a capacidade de se expri-mir nesta língua, sendo ela a sua línguamaterna, e não imagina sequer o portu-guês, a não ser que o venha a adquirircomo uma segunda língua, numa faseposterior da vida. Logo quando nasce-mos não temos em nós uma língua, massim um sistema linguístico de basescomuns aos seres humanos — a facul-dade de comunicar através da linguagem.Através de um sistema de símbolos édado corpo à língua — a ortografia. Sím-bolos que procuram representar a orali-dade, mas que na verdade não o fazeminteiramente. Reparemos na palavra<pata> onde a um único símbolo ou gra-fema <a> correspondem dois sons com-pletamente diferentes ou <pele> para ografema <e>. Assim sendo começamos aampliar as nossas vogais para além dascinco habitualmente descritas. Isto tudopara dizer que ortografia não é mais doque uma convenção, um código, que fazcom que todos nos entendamos desdeque conheçamos a chave para aceder àdescodificação.

Ao longo dos anos a língua bemcomo a escrita têm vindo a sofrer altera-ções. Primeiramente foi a evolução dolatim, vindo com a expansão do ImpérioRomano, para um sistema linguístico pró-prio, na área noroeste da Península Ibé-rica — o galaico-português, em seguida

começa-se a formar aquilo que hojedesignamos por português ao mesmotempo que na península ibérica se vãoconstituindo outros sistemas linguísticocomo o castelhano, o catalão e por aífora.

Na Europa o recuo da civilizaçãoromana deixa a sua semente e a partir dolatim falado pelos soldados (o latim vul-gar) e em contacto com os povos dasdiferentes regiões vão-se formando asvárias línguas que hoje conhecemos naEuropa, nenhuma delas com expressãoescrita. A escrita é pois o resultado danecessidade de comunicar, de registar, detrocar conhecimento. É neste contactoentre diversas formas de cultura que vãosurgindo novos termos, uns tomados deempréstimo à língua de ocupação, outrosrecriados, outros adquiridos pelo con-tacto cultural.

Durante o século XVIII, os vários tra-balhos surgidos sobre a língua portu-guesa adoptam a variedade da Estrema-dura, concretamente a da corte, comosendo a norma culta — o portuguêspadrão. De acordo com Luís António deVerney em o Verdadeiro Método deEstudar, publicado em 1746 «Em materiade pronuncia, sempre se devem preferiros que sam mais cultos e falam bem naEstramadura, que todos os das outrasProvíncias juntas.» Observe-se a orto-grafia!!!

O século seguinte encontra Portugalnum turbilhão de convulsões sociais epolíticas. A corte, na sequência das Inva-sões Francesas, refugia-se no Brasil(1807) enquanto Portugal é ocupadopelos ingleses que cá fazem guerra àstropas gaulesas. A revolução liberal de1820 é entusiasticamente celebrada porintelectuais como Almeida Garrett e Ale-xandre Herculano que haviam travadocontacto no exílio com as ideias euro-peias favoráveis aos regimes constitucio-nais. Com a difusão de uma literaturapopular e nacional e a criação do Liceu(1836) surgem trabalhos que para além deabordarem o ensino da língua, procuramcompreender e descrever o seu funciona-mento, sendo de realçar o de AdolfoCoelho (A Língua Portugueza, 1868) que

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inaugura a moderna filologia portuguesa.O ano de 1911 assiste à constituição

de uma comissão para estabelecer a orto-grafia, sendo esta já muito próximadaquela que agora praticamos. A escritapassa a estar regulamentada, abandonaHerculano e Garrett e passa a ser de Eçae Pessoa, mas também de Saramago.Posteriormente, em 1945, surge uma novagrande reforma, resultado do acordoentre Portugal e Brasil, e mais tarde, em1990, a Academia das Ciências de Lisboae a Academia Brasileira de Letras elabo-ram a base do Acordo Ortográfico daLíngua Portuguesa. Em 2004, os minis-tros da Educação dos vários países daCPLP reúnem-se em Fortaleza, no Brasil,para a aprovação do Segundo ProtocoloModificativo ao Acordo Ortográfico daLíngua Portuguesa. Fica assim determi-nado que basta a ratificação de três mem-bros para que o Acordo Ortográficopossa entrar em vigor e em 2006, Brasil,Cabo Verde e São Tomé e Príncipe ratifi-cam o documento, possibilitando aentrada em vigor do Acordo Ortográficode 1990. Actualmente, além de Portugal edo Brasil, também São Tomé e Príncipe,Cabo Verde, Timor-Leste e Guiné-Bissauratificaram o Acordo Ortográfico de 1990,embora estes últimos não o tenhamimplementado. Fica apenas a faltar a rati-ficação de Angola e Moçambique.

Tem sido um processo longo de uni-formização da escrita do português, masque em nada irá influenciar a expressãooral de cada um destes países com umelo comum — falar português. Escre-vendo desta ou daquela maneira, usandoeste ou aquele código, a língua manter-se-á a mesma e continuará a sua sendaevolutiva. Celso Cunha escreveu: «Oportuguês era uma língua de basevocálica, e assim continua na modalidadebrasileira. Há cêrca de dois séculoscomeçou o português europeu a seguiroutra deriva, ou seja, a fortalecer as con-soantes e a obscurecer as vogais áto-nas.» No Brasil estas vogais continuamaudíveis ao passo que em Portugal elasdeixaram de ser articuladas. Hoje em diapronunciamos esprar e muito poucagente esperar. Ninguém de bom sensodirá que que o falante que diz azêtona(característica dialectal meridional) emlugar de azeitona deixou de falar portu-

guês ou aquele que diz baca em lugar devaca, isto para não falar das variantesmadeirense ou açoriana. Da mesma formao que no português do Brasil o falantearticula pineu em lugar de pneu, mas éigualmente português.

A partir da sua chegada ao Brasil, alíngua portuguesa sofreu transformaçõesnem sempre coincidentes nos dois paí-ses. Chegados a este ponto será quePortugal e Brasil ainda falam a mesmalíngua? Ambos os povos têm respondidoafirmativamente apesar de constatarmosa existência de duas normas autónomas.

Todos nós participamos em mudan-ças constantes, mas nenhum falante con-trola a velocidade, a trajectória ou acaracterística da mudança. As línguassão sistemas auto-organizados num fluxopermanente. A forma como os nossosantepassados, não muito longínquos,falavam, nada tem a ver com a «con-versa» no facebook. Mesmo a rainha de

Ainda não percorri, mas é um factoque já podemos ir de auto-estrada atéa Ericeira. Obra certa para o desenvol-vimento desta pequena vila piscatóriaque padecia desta infra-estrutura hàlongos anos e estranhamente esque-cida nos tempos cavaquistas.

Daí, e como Sintrense de gema, nãoquero ficar atrás. Ou melhor, típico por-tuguês, quero uma galinha igual à davizinha. Pois claro! Ou continuaremosindiferentes ao progresso?

Ou seja, venho aqui lançar, a todosos sintrenses, o projecto/ideia de umaauto estrada Sintra - Praia das Maças.E Porquê? Porque eu quero, nós que-remos, e vós quereis com toda a cer-teza mais.

Mais progresso, mais dinheiro, mais

Inglaterra mudou a sua forma de falarcomo atesta a medição das vogais, noseu discurso anual, na rádio, pelo Natal,desde os anos de 1950 até aos de 1980.

Do romance constituído, há séculos,no Ocidente da Península Ibérica, nasce-ram duas línguas nacionais, o Galego e oPortuguês. Ao longo da sua história, oPortuguês evoluiu, transportou-se paraoutros continentes, transformou-se emcontacto com outras línguas, ramificou-se em duas normas linguísticas que ser-vem culturas diferentes, em Portugal e noBrasil, e pode, no futuro, dividir-se aindamais, com o surgimento de normas africa-nas. O mundo mudou, a língua mudou. OPortuguês evoluiu e diversificou-se. Masa diversidade não impediu a unidade. E éainda a língua portuguesa que une, hoje,povos que os oceanos separam.

FERNANDO CERQUEIRA

Arroto(s)pessoas, mais desenvolvimento sócio/económico, mais tudo. Por fim, e talvez omais importante, chegar mais rápido àpraia.

Dois pontos ligados por uma linharecta. Acabando com curvas econtracurvas, desviando vilas e aldeias,serras e montes, arvores e arbustos, casi-nhas e palácios, tudo em nome do bemdito progresso.

Jesus Cristo foi a pé, Vasco da Gamade caravela, Neil Amstrong de foguetão,e nós, amantes da Sintra saloia, iremos deauto-estrada até à Praia da Maças.

P.s. – Este texto lê-se em voz alta.

JOÃO VASCO

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João RodilEntrevista

Que «Sintras» podemos encontrarnos teus livros?

Sintra é mais para se sentir do quepara se falar. Mesmo eu, que passei umavida a falar e a escrever sobre Sintra,continuo a ter alguma dificuldade. Algu-mas coisas são muito mais sensitivas doque traduzíveis em palavras.

Nos meus livros, tratando-se de umensaio estritamente histórico ou literário,procuro ser o mais rigoroso possível, deforma a fundamentar as minhas teoriasperante o assunto. Muitas vezes, tentojuntar a esse conhecimento científico,uma sabedoria empírica que fuiganhando ao longo da vida e não seaprende nas universidades mas, sobre-tudo, no contacto com as pessoas e oslugares.

Onde consegui passar melhor estamensagem, foi no meu livro «Serra, Lua eLiteratura» onde falo de 2 mil anos deliteratura sobre Sintra, divididos pelasestações do ano, pelos equinócios epelos solstícios, relacionando o que sefaz na terra com as crenças, superstiçõesou ainda a arte de trabalhar a terra e omar.

No fundo, Sintra é a tua Paixão?É a paixão de quem ama a terra onde

nasce. No entanto, há muita gente quenão nasce cá e acaba por se apaixonar.Nos inúmeros contactos que mantivecom as pessoas, muitos deles atravésdos roteiros que criei, como queirosianoe romântico, as pessoas saem maravilha-das com a beleza e a história de Sintra.

Para conhecer verdadeiramente Sintrahá que acreditar no seu mistério, na suamagia, muito própria, no que está paraalém das neblinas. Só quem acreditanesta transcendência de Sintra é que,verdadeiramente, poderá penetrar nela.Ver Sintra é fácil, mas para isso compra-mos um postal. Para senti-la é necessárioacreditar em alguma transcendência, emparticular no registo humano que tornouSintra num lugar sagrado.

Qual a importância do registo popu-lar que tens feito, nomeadamente dasfreguesias?

Este registo é muito importante mas,mais do que isso, é o projecto que tenhovindo a apresentar, repetidamente, àCâmara Municipal de Sintra e a todas asforças políticas: um «Centro de Interpre-

tação da RegiãoSaloia».

Não me interes-sava fazer um Museuda Região Saloia, seriauma coisa morta. Masfazer uma casa tipica-mente saloia, ondepoderíamos encontrargastronomia, produ-tos agrícolas, agricul-tura, arquitectura, numtipo de quinta pedagó-gica visitável por

todas as crianças e público em geral e, aomesmo tempo, fazer um centro documen-tal e pesquisa etnográfica saloia. É umprojecto ambicioso e traria uma outra rea-lidade a esta região, tanto na vertenteeconómica como social.

Neste sentido, o produto saloio é algovendável?

Sem dúvida. Quando conto às pes-soas o que é ser saloio, qual o nosso tipode cultura e lhes mostro algumas dasnossas «coisas», elas saem extrema-mente maravilhadas, a quererem mais.

Na década de 80, eu e um grupo alar-gado de pessoas, fomos responsáveispor uma petição/abaixo-assinado queconduziu à chamada Zona de PaisagemProtegida, de forma a travar o avanço daconstrução desenfreada. Depois nadécada de 90, passou a designar-se porÁrea de Paisagem Protegida e, maistarde, Parque Natural Sintra/Cascais.

Quando foi constituída, achei quetinha participado num feito interessante.No entanto, uma forte estrutura governa-mental tomou conta de nós, sem falarcom os saloios. Ou seja, vieram policiaresta zona, matando completamente aeconomia local, nomeadamente a agricul-tura.

Esta perda de identidade faz com quenós percamos a nossa cultura…

Pois, não é aquilo que devia ser e aEuropa teve alguma culpa nisto porquehouve um período da União Europeia,que incentivou a cultura massiva.

Ora, acontecia que tínhamos umaagricultura muito parcelar de pequenaspropriedades. Ultimamente, a Europa deuum passo atrás, reconsiderou estas teo-rias de massividade da agricultura e pas-sou a apoiar também os produtos deexcelência.

O que nós temos na região saloia são

Sintra, para além de romântica, é saloia. Com um extenso património que trans-borda para os concelhos vizinhos, a tendência é para este desapareça com inexplicávele extrema complacência dos poderes centrais que não respeitam as verdadeiras ques-tões autóctones.

A causa saloia é preponderante na vida e obra do escritor, historiador e, acima detudo, do saloio João Rodil. Um luta constante e por vezes inglória pela preservaçãodo património vernáculo que hoje, mais do que nunca, necessita de princípios, meiose fins.

Uma conversa real sobre «o Saloio».

«Sintra é mais para se sen-tir do que para se falar dela»

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exactamente produtos de excelência, quenão existem em mais nenhuma parte domundo e que originam um produto maiscaro, mas gourmet, como o pêssego rosa,com o triplo do tamanho, já sem falar dovinho Ramisco. Perder isto, é perder anossa identidade.

Achas que o sistema vê a questãosaloia como algo para recordar e nãopara aproveitar?

Eu já fui mais romântico em relação aesses valores, mas continuo a defendê--los com todas a minhas forças. Mas hojesou muito frio na análise que faço.

É complicado quando uma freguesiacomo S. João das Lampas, que tem umterritório enorme, tem tantos eleitorescomo um prédio ou dois da Tapada dasMercês.

Neste sentido, os políticos olhampara onde? Para a Tapada das Mercês,não olham para aqui. Talvez, quem sabe,chegará o momento da repartição doconcelho de Sintra em dois ou três con-celhos. Provavelmente, um concelho deQueluz, um concelho de Agualva/Cacéme depois, de Rio de Mouro para cá.

Portanto, eu acho que isto é umadecisão política, ou seja, ou queremosdefender uma cultura, defender um patri-mónio, uma identidade ou não, e deixa-mos as coisas andarem assim.

Por isso, volto à mesma questão: parase fazer as coisas bem é necessário amaraquilo que se faz. Ser saloio é amar aterra.

Ainda há saloios?Há. Eu acho que ainda há saloios em

todas as gerações.Porque ser saloio é uma condição.

Somos uma mistura de raças, uma identi-dade, uma cultura muito própria e umamaneira de estar na vida, que tem coisasboas e más. No entanto, é necessárioconstatar uma coisa: de todas as zonasde Portugal, aqueles que menos imigramsão os saloios, devido ao seu apego àterra natal.

Temos um grande amor à terra, umpedaço de terra para um saloio é muitoimportante e depois, quando aparecemumas entidades a dizer que não pode cul-

tivar isto ou aquilo, não podecortar um pinheiro, não podeplantar não sei o quê, é claro queesse amor à terra vai-se esvain-do.

Existe uma parcela, algo signi-ficativa da juventude e, falo dejovens que hoje têm cerca de 20/30 anos, que gostariam muito depegar nas terras e voltar à agricultura, seela fosse rentável, de uma forma mais me-canizada, mantendo as culturas e os pro-dutos tradicionais, aliados a uma políticade divulgação e comercialização dessesprodutos.

Em Almargem do Bispo, na década de90, aconteceu que, uma nova geração defilhos de agricultores, com alguma capaci-dade financeira para o investimento e como conhecimento científico, criaram algu-mas firmas de transformação de produtosagrícolas na freguesia. Essas firmas trans-formam os produtos e comercializam-noscom as grandes superfícies, chegandomesmo a exportar. Tiveram sucesso.

O que é que é a «esperteza saloia»?Geralmente utiliza-se a expressão para

simbolizar o «chico-esperto», mas a histó-ria é outra. Isto teve origem num casa-mento, quando o príncipe D. Afonso -filho de D. João II - casou com uma prin-cesa de Castela. Foi muito festejado portodo o país, por duas razões. Primeiro,porque D. Afonso já tinha uma certa idade- já passava dos 20 anos que, para aépoca já era uma idade avançada, e aindanão havia descendentes para o trono -segundo, porque se sabia e era correnteno país, que D. Afonso, gostaria muitomais de homens do que de mulheres. Foium acontecimento muito interessante portodo o país, tão interessante que todas asvilas da corte e da realeza, como a deSintra, festejaram a notícia do noivado.

Então, uma das coisas que se arranjoupara festejar na vila de Sintra, no dia dacomemoração, foi o chafariz do largo doPaço Real - que já lá não está – que, emvez de correr água deveria, naquele dia,correr leite.

Para isso, pediu-se ao povo, que trou-xesse um cajeirão de leite para deitar numdepósito que faria o chafariz jorrar leite.

Houve um saloio que pensou que, nomeio de tanto leite, se levasse um cajeirão

de água, ninguém iria notar.O que aconteceu foi que todos eles

pensaram a mesma coisa e no dia donoivado correu água limpinha. Daí a talexpressão «esperteza saloia». Houve umque pensou, pensaram todos.

O que é que falta para as coisasacontecerem? Qual o papel dos jovens?

Para mim, os jovens têm um papelfundamental e eu acredito muito nasnovas gerações. Pelo contrário, nãoacredito no poder político. Acredito queos jovens vão preservar e defenderaquilo que amam, seja a cultura, a natu-reza ou outras causas. Estou certo quemelhores dias virão, pois os jovens têmuma forte consciência ambiental e cultu-ral. Estão bem preparados para exerce-rem e exigirem os seus direitos de cida-dãos.

A minha geração talvez tenha sidoresponsável por isso e eu quero acredi-tar que fizemos algum trabalho útil.

Quero acreditar que os jovens vãoter um papel preponderante nas mudan-ças de consciência que o mundo pre-cisa, na sua capacidade de se associa-rem e de unirem esforços. Eu tenho sidoum homem muito mais associativo quepolítico, embora também tenha algumasresponsabilidades políticas.

Prefiro ir por aí, porque já não acre-dito na outra parte, ou seja, pela uniãoque pode e deve nascer no meio asso-ciativo, encabeçada por gente jovem,com ideias novas, que levarão à uniãomáxima desta região e que poderão for-çar o poder político a intervir e a fazercoisas.

JOÃO VASCO

CARLOS ZOIO

«Ser saloio éamar a terra»

«os jovens têm um papelfundamental e eu acreditomuito nas novas gerações»

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Destruição de provas

Conto

Os Arcos era uma vila pacata. A únicacoisa de mais inusitado que aconteceraao longo de toda a sua história, fora ofacto de, nos primórdios do século XVI,D. Manuel I lhe ter concedido foral: a umaglomerado de casas miseráveis, comparedes feitas de pedras sobrepostas emfrágil equilíbrio, com cobertura de colmoque era preciso renovar todos os verões,de janelas onde mal cabia a cabeça de umadulto. Caminhos imundos e lodacentos,com porcos, galinhas e cabras tentandosobreviver do esterco que eles própriosse encarregavam de criar, um rio -pequeno - que bordejava o povoado eum fidalgo bastardo, num arremedo depaço, com pretensões a visconde.

Passaram-se séculos sem que nos Ar-cos se desse por nada do que aconteciano mundo: descobriram-se novas terras;tornámo-nos espanhóis; a natureza,endemoninhada, destruiu Lisboa inteira.Da Madre de Deus a Belém, do Paço daRainha a S. Vicente de Fora. A cortemudou-se para o Brasil; Napoleão inva-diu-nos; o ouro de Minas Gerais, queenchia o bandulho à fidalguia, foi-se damesma forma que veio; passeou-se oGungunhana pela baixa pombalina; um reifoi morto na Praça do Comércio; implan-

tou-se a República. E os Arcos, sem darpor nada. Um caramelo qualquer man-teve-nos a ferro e fogo durante quarentae oito anos e os Arcos, nada.

Até que, aleluia, algo de bom acon-teceu de repente: o Almeidinha apareceumorto. Como? De borco, na escrivani-nha, com a cabeça entre os papéis queo seu ofício levava a escrever. Do cora-ção, concluiria o inquérito preliminar ela-borado pelo cabo Barata, comandantedo posto da Guarda e responsável pelasinvestigações, atestado pelo doutorInocêncio Aranha, Subdelegado deSaúde e compadre da vítima, encarre-gado dos exames periciais e da autópsiaao cadáver e que o Delegado do Minis-tério Público, o doutor Grilo dos Anjos,a quem couberam as formalidadeslegais, audição das testemunhas e ins-trução processual, datou e assinou porbaixo.

Das mãos do falecido, amarfanhado,retirara, entretanto, o cabo Barata, cau-teloso, um papel, com esta estranha ins-crição: «Durante a noite, um insectodevia ter-se introduzido no meu ouvidoe, agora, o grande desavergonhado,fazia-me cócegas no tímpano.»

Deste enigmático escrito, que pode-

ria bem constituir importante e conclu-dente pista, para investigador minima-mente habilitado, partir à descoberta doresponsável por tão infausta ocorrência,pensou Barata tratar-se do primeiro pará-grafo daquelas crónicas estapafúrdiasque o falecido costumava dar à estampa,quinzenalmente, nas páginas do seu jor-nal. E rasgou o documento.

Do fino fio de sangue seco quedeambulara, sinuoso, por um dos ouvi-dos do extinto fora, julgou o cabo sercera. E livrou-o do mau aspecto, lim-pando-o com um lenço.

Dos seus cabelos eriçados e em per-feito desalinho, imaginou ele correspon-der à mais recente adesão do infelizhomem da escrita a um dos mais emble-máticos ícones da intelectualidade.Melhorou-lhe substancialmente a ima-gem, valendo-se do seu próprio pente.

Sentado um pouco atrás do finado,de cabeça baixa, o guarda-republicano,enquanto aguardava a chegada doSubdelegado de Saúde e do doutor Grilodos Anjos, entretinha-se, de consciênciatranquila, por mais uma tarefa cumprida,a fazer um cigarro, enrolando tabaconuma mortalha. Num movimento lento,medido, preguiçoso, molhou-a com a lín-

gua húmida; inspi-rou, inebriado, oaroma acre, cortan-te, do resultadofinal e, de seguida,levou o cigarrocilíndrico, bemboleado, perfeito,aos lábios, sôfregospor tão irrecusávelsabor.

Soergueu, entre-tanto, os olhos,espreitando, atra-vés da vidraça, asnuvens negras que,vindas dos ladosdo Viana, prenunci-avam borrasca láfora.

JOSÉ DOMINGOS

COSTA

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Opinião

Seja livre, use Linux!Caso o leitor possua no seu sótão ou

arrecadação o velho computador queusava à 10 anos atrás e que ainda fun-cione, embora ultrapassado por, lamenta-velmente, não correr a última versão doWindows, existe uma simples maneira deo rentabilizar, dando-lhe vida nova comum sistema operativo seguro, fiável eactual, e ainda melhor, gratuito, chamadoGNU/Linux.

Por incrível que pareça muita genteadquire como certo na compra de umnovo computador, o Windows incluído,pagando-se esse mesmo sistema novalor global. Pior, é quando, no meu casopor exemplo, que não uso Windows,tenho que pagar o preço do sistemaoperativo e depois elimina-lo completa-mente da minha máquina, para instalar oLinux. Realmente, o Windows não medeixa saudades. Não é possível pensarque, no século XXI, ainda seja necessá-rio a presença de anti-vírus, em compu-tadores, que ficam cada vez mais lentoscom o tempo, que precisam de serdesfragmentados, e pior, sistemas opera-tivos pagos que a cada nova versão (quefaz exactamente o mesmo que a anterior)pedem requisitos de hardware duasvezes superiores.

Muita gente não conhece o sistemaoperativo GNU/Linux, que é uma alterna-tiva livre e gratuita, e com uma filosofiade existência baseada na partilha deinformação e na comunidade, ao invés daocultação de segredos informáticos erestrições dos mesmos, controlados ape-nas por um pequeno grupo de funcioná-rios de uma empresa.

O Linux é rápido, e ligeiro o sufi-ciente, para uma versão actual correr per-feitamente num computador a 400Mhz,do tempo do Windows 98. Seguro e fiá-vel, graças a maneira como a hierarquiado seu sistema de ficheiros funciona,não necessita de antivírus para estar pro-tegido, e possui todo um conjunto demilhares de programas gratuitos disponí-veis para todo o tipo de actividades.

O segredo é mesmo a sua filosofia.Simplesmente, é um sistema que fun-ciona em torno de uma comunidade,qualquer um pode desenvolver software

para o Linux, altera-lo e partilha-lo paraqualquer uso chamando-se o processode «software livre» e a licença de GPL.

O simpático pinguim chamado Tux, osímbolo do Linux.

Um software é considerado comolivre quando atende aos quatro tipos deliberdades para os utilizadores dosoftware definidas pela Free SoftwareFoundation:

- A liberdade para executar o pro-grama, para qualquer propósito (liber-dade nº 0);

- A liberdade de estudar como o pro-grama funciona, e adapta-lo para as suasnecessidades (liberdade nº 1). Acesso aocódigo-fonte é um pré-requisito para estaliberdade;

- A liberdade de redistribuir, inclusivevender, cópias de modo que você possaajudar ao seu próximo (liberdade nº 2);

- A liberdade de modificar o pro-grama, e liberar estas modificações, demodo que toda a comunidade se benefi-cie (liberdade nº 3). Acesso ao código-fonte é um pré-requisito para esta liber-dade.

Baseado neste principio existem por-tanto vários «sabores» de Linux. Gruposdiferentes de pessoas e até mesmoempresas que juntaram um conjunto depacotes de software diferentes para criaruma «distribuição Linux».

Existem distribuições dedicadas atemas específicos como música, astrono-mia, ou jogos. As distribuições genéricas

contêm geralmente «pacotes» de todosos estilos e para todos os fins.

Incluirei aqui uma pequena lista dedistribuições genéricas com os links parao site da Internet onde é possível descar-regar o sistema operativo Linux gratuita-mente, grava-lo num CD e testá-lo no seucomputador sem necessidade de apagaro seu sistema antigo através de um LiveCD, um processo em que o sistema ope-rativo corre directamente do CD. Informa-ções de como proceder deverão estardisponíveis nos diversos sites:

- UBUNTU (A distro Linux maisconhecida e mais fácil de usar actual-mente) - http://www.ubuntu-pt.org/

- FEDORA (Distribuição genéricamais virada para o uso de escritório) -http://fedoraproject.org/pt/

- CAIXA MÁGICA (Distribuição Por-tuguesa de Linux, pois é!) - http://www.caixamagica.pt/

Existem outras distros importantes,como o OpenSuse, Slackware, Mandrivae Debian, entre várias centenas deoutras, cada uma com as suas caracterís-ticas, e nada mais fácil do que uma pes-quisa pela Internet para descobrir a quemais se adaptará a si.

Pois, caro leitor, deixe que lhe digaantes de experimentar o Linux, que omesmo não é uma cópia gratuita doWindows. É bastante diferente e, naminha perspectiva, substancialmentemelhor em todos os aspectos, na medidaem que, permite realmente aprender ecompreender o funcionamento de com-putadores. Mesmo que não lhe agrade oLinux, decerto será uma oportunidade deexpandir os seus horizontes informáticosnuma nova direcção.

LINO

É possível ler mais sobre o softwarelivre na Internet em http://pt.wikipedia.org/wiki/Software_livre

...e sobre a licença GPL em http://p t . w i k i p e d i a . o r g / w i k i /GNU_General_Public_License

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John Winston Lennon nasceu a 9 deOutubro de 1940 em Liverpool, Inglaterra.Filho único de Alfred Lennon e JuliaStanley Lennon. Os seus prenomesforam uma homenagem ao avô paternoJohn «Jack» Lennon e ao primeiro-minis-tro britânico da época Winston Churchill.

A primeira guitarra de John Lennonfoi oferecida pela sua mãe, no entanto,devido à dificuldade que este tinha emaprender acordes, Julia ensinou-osusando um banjo e um ukelele que eraminstrumentos mais simples.

John estudou na Dovedale CountyPrimary School até passar no exameEleven-Plus. De 1952 a 1957, frequentoua Quarry Bank Grammar School emLiverpool, onde ficou conhecido pelosseus desenhos e mímicas. Nessa escola,em 1956, fundou uma banda de rock cha-mada The Quarrymen, que daria origemaos Beatles.

Embora tenha sido um aluno proble-mático, mesmo assim foi aceite naLiverpool College of Art. Foi nesta escolaque ele conheceu sua futura esposaCynthia Powell e com ela teve um filho,Julian.

Lennon foi um músico, compositor,escritor e activista em favor da paz.Ganhou notoriedade mundial como fun-dador do grupo de rock britânico: TheBeatles. Na época da existência dosBeatles, John Lennon formou com PaulMcCartney o que seria uma das maisfamosas duplas de compositores detodos os tempos, a dupla Lennon/McCartney. Em 1966, conheceu a artistaplástica japonesa Yoko Ono. Em 1968,Lennon e Yoko produziram um álbumexperimental, «Unfinished Music No.1:Two Virgins», que causou controvérsia

Imagine... John Lennon

Música

por apresentar o casal nu, de frente e decostas, na capa e contracapa. A partirdeste momento, John e Yoko iniciariamuma parceria artística e amorosa. CynthiaPowell pediu o divórcio no mesmo ano,alegando adultério. Em 1969, o casalcasou-se numa cerimónia privada norochedo de Gibraltar. Usaram a reper-cussão do casamento para divulgar umevento pela paz, chamado de «Bed in»,ou «John e Yoko na cama pela paz»,como um resultado prático da lua-de-melde ambos, realizada no Hotel Hilton, emAmesterdão. No final do mesmo ano,Lennon comunicou aos seus parceirosde banda que estava ia deixar os Beatles.Ainda no mesmo período, Lennon devol-veu sua medalha de Membro do ImpérioBritânico à Rainha Elizabeth, como umaforma de protesto contra o apoio da Grã-Bretanha à guerra do Vietname, o envol-vimento da Inglaterra no conflito deBiafra e «o fraco desenvolvimento deCold Turkey nas paradas de sucesso».

Em 10 de Abril de 1970, PaulMcCartney anunciou oficialmente o fimdos Beatles. Antes disso, John Lennonacabara de lançar outros dois álbunsexperimentais, «Life with lions» e«Wedding album». Também lançara ocompacto «Cold Turkey» e o disco aovivo «Live peace in Toronto», creditadosà banda «Plastic Ono Band», com a par-ticipação de Eric Clapton. No final doano, sai o primeiro disco a solo deLennon, após o fim dos Beatles: JohnLennon/Plastic Ono Band, que contoucom a participação de Ringo Starr, YokoOno e Klaus Voormann.

Durante a década de 1970, John eYoko envolveram-se em vários eventospolíticos, como promoção da paz, pelos

direitos das mulheres e trabalha-dores e também exigindo o fim daGuerra do Vietname. O seuenvolvimento com líderes daextrema-esquerda, com JerryRubin, Abbie Hoffman e JohnSinclair, além de seu apoio formalao Partido dos Panteras Negras,deu início a uma perseguição ile-gal do governo de Nixon aocasal. A pedido do Governo, aImigração deu início a um pro-

cesso de extradição de John Lennon dosEUA, que durou cerca de 3 anos, períodoem que John ficou separado de YokoOno por 18 meses, entre 1973 e 1975.

Após reconciliar-se com Yoko, vencero processo de imigração e conseguir oGreen Card, Lennon decidiu afastar-se damúsica para se dedicar ao crescimento doseu filho Sean Taro Ono Lennon, nascidono mesmo dia do seu aniversário em1975.

O casal voltou aos estúdios em 1980para gravar um novo álbum, DoubleFantasy, lançado em Novembro. Eracomo um recomeço. Porém em 8 deDezembro do mesmo ano, John foi assas-sinado em Nova York por Mark DavidChapman, quando retornava do estúdiode gravação junto com a mulher.

Entre as composições de destaque deJohn Lennon (creditadas a Lennon/McCartney) estão «Help!», «StrawberryFields Forever» e «All You Need IsLove», «Revolution», «Lucy in the Skywith Diamonds», «Come Together»,«Across the Universe», «Don’t Let MeDown» e na carreira solo «Imagine»,«Instant Karma!», «Happy Xmas (War IsOver)», «Woman», «(Just Like) StartingOver» e «Watching the Wheels».

Em 2002, John Lennon entrou emoitavo lugar numa pesquisa feita pelaBBC, sobre os 100 mais importantes bri-tânicos de todos os tempos.

Recentemente, em 2008, John foi con-siderado pela revista Rolling Stone, o 5ºmelhor cantor de todos os tempos.

VERÓNICA SOUSA

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Sociedade

Imagens Soltas

Where is my mind - Rita Baleia, CÉLULA FOTOGRÁFICA

Cães perigosos, Homens Negligentes!Vimos por este meio expressar a

nossa revolta e indignidade por umasituação que não pode continuar.

No nosso país reina a impunidade.Fala-se de fiscalização e leis relativas

a animais perigosos, mas qualquer um ospode ter presos na extremidade de umacorrente.

Entre Fontanelas e Gouveia, nopinhal do Alto do Moinho, tudo se passae nada se faz.

Neste local há pessoas que têm estescães, já por si perigosos, em condiçõessub-humanas, agravando o seu instintode ataque e sobrevivência.

Os animais são privados de comida e,ou morrem à fome, ou soltam-se e atacamtudo o que vêem.

Vários cães já faleceram nesta zona,atacaram e mataram outros cães em pro-priedades vizinhas. Tratando-se de umazona onde há idosos e crianças a passarcom alguma frequência, há que tomaruma atitude antes que algo aconteça.

Neste local estão enterrados várioscães e animais de grande porte, quemorreram por negligência. Num passeio,podem encontrar-se animais ferozes detão esfomeados que estão.

Não se trata de ser contra os animais,mas contra as pessoas que gerem aquelelocal e contra as acções consequentesdas suas negligências.

Mais do que pedir, esperamos e exigi-mos uma atitude.

POLVO

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Poesia

Naquele, nesse, neste dia

Talvez tenha passado despercebida nesse diaA admiração e a inspiração, ficou escondidaMas algo que posso ter denominado alegriaTerá surgido algures nesse mesmo instantePonta de luz, ou lua cheia, tua desconhecidaSe te quiseres manter longe… ficarás distante

Pensei então que a angústia do pensamentoEntrelaçada em lianas de tristeza enfadonhaFossem apenas casualidades do momentoFrutos da auto-estima fraca e de vergonhaAssim entre as ruas frias onde tudo aconteciaEncruzilhavam-se dissertações embriagadasHavia verbos conjugados no preterito perfeitoNum desencantamento, soando a hipocrisíaDistantes e alheias , as almas mais chegadasNão possuiam coração nem p’ra untar o peito

Talvez se os olhos vissem encontrassem nelaMatéria química que produzisse essa enrgiaUm coração na mão e um vidro na janelaPara manter chama que resite à brisa friaE não soasse num desmantelar estridenteDe tocha erguida e apagada contra o ventoA procissão gritando e aplaudindo o inconsciente

ALICE COELHO

Ilust

raçã

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Min

erva

de

Car

valh

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ContraAgendaMUSEUS

Casa das Histórias – Paula RegoAv. Da Republica 3ooCascaisTodos os dias das 10:00h às 20:00hGratuito

Museu de História Natural de SintraRua do Paço – Vila de SintraDe 3ª a 6ª das 10:00h às 18:00hSáb, Dom e Feriados das 14h às 18hGratuito

Museu Arqueológico de OdrinhasAv. Prof. Dr. D. Fernando d’Almeida,OdrinhasDas 10:00h às 13:00h e das 14:00h às18:00hEncerra aos domingos e segunda-feiraTel.: 219 609 520

Centro Ciência Viva de SintraEstrada Nacional 247SintraDas 10h às 18hSábado, domingos e feriados, das 11h às19hTel.: 219 247 730

EXPOSIÇÕES«Ìndia – Mito, Sensualidade eFicção»Sintra Museu de Arte ModernaColecção Berardo, até 11 de AbrilAv. Heliodoro SalgadoSintraTel.: 219 248 177

«Os primórdios do brinquedo do

séc. XX»Centro de Ciência VivaSintra

TEATROGrupo de Teatro Fontanelas e

GouveiaGrande Revista à Portuguesa – A rir éque a gente se entente – A partir de 19de Fevereiro de 2011Sábados às 21:45h, domingos às 16:30hContactos: 219 280 791 968 791 307

Teatro TapafurosCiranda – Baú de LendasQuinta da RegaleiraSábados às 16:00h, domingos às11:00hTel.: 219 106 65

Holiday Ranters TheatreCulturgestEdifício Sede da Caixa Geral deDepósitosRua Arco do Cego, Piso 1LisboaDe 17 a 19 de Março às 21:30hTel.: 217 905 155

CONCERTOSLaurent Filipe & António Zambujo11 de Março às 22:00hCentro Cultural Olga CadavalAuditório Jorge SampaioTel.: 219 107 110

Gotan ProjectColiseu dos RecreiosLisboa8 de Abril às 22:00hTel.: 213 420 434

Aloe BlaccAula MagnaLisboa4 de Maio às 22h

PJ HarveyAula MagnaLisboa25 e 26 de Maio às 21:00h

CRIANÇASConcertos para BebésCantar Abril - 18 de Abril às 10h e 11h30Paisagens de Sons - 2 de Maio às 10h e11h30Centro Cultural Olga CadavalTel.: 21 910 71 10

Lusí@dasCentro Cultural Olga CadavalSintraSala de Ensaio7 de Maio às 16:00h

OFICINAS/WORKSHOPSOficinas de Teatro de Papel20 de Março às 16:00hCentro Cultural Olga CadavalSala de Ensaio219 107 110

Workshop de CaracterizaçãoCenográficaRua neves da Costa, 45LisboaTel.: 930 818 777

Cursos LivresFaculdade de Ciências Sociais e Huma-nas da Universidade Nova de LisboaAv. de Berna, 26LisboaTel.: 217 908 300

«A Ásia em Livros»Museu do OrienteAv. de Brasília, doca de AlcântaraLisboa31 de Março às 18:30hTel.: 213 534 746

FEIRAS/ ENCONTROSFeira do Livro de Lisboa 2011Parque Eduardo VII, de 28 de Abril a

15 de Maio de 2011

MANIFESTAÇÕESProtesto «Geração à Rasca»12 de MarçoAv. da Liberdade às 15:00h

«Contra o desemprego, a vida carae as injustiças»19 de MarçoSaldanha e Amoreiras

Lisboa, às 5:00h

Dia da Liberdade - 25 de AbrilSempre25 de AbrilAv. Liberdade às 15:00h

Dia do Trabalhador1 de MaioAv. Liberdade às 15:00h

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Page 16: Jornal Contrapontos  14

A fuga e os furos

Cartoon Vasco

Diz o ditado que, quem diz a ver-dade não merece castigo e a perguntaque faço, neste mundo virtual e tecno-lógico em que vivemos, é: quempublica a verdade numa qualquer redesocial ou sitio da internet merece?!

Vamos por partes, se por acaso euquiser publicar alguma coisa verídica ereal, sobre algo que alguém meuconhecido tenha feito, na minha «carade livro», o que poderá acontecer?Provavelmente irei ter 475 amigos que«gostam» do que eu publiquei, e 1amigo virtual perdido, devido ao factode eu partilhar o que ele me tinhaconfidênciado... de resto tudo conti-nuará na mesma, o mundo continuaráa rodar como sempre rodou e o solcontinuará a nascer e a pôr-se...

Elevando este pensamento paraoutro patamar, gostaria então de utili-zar este meu espacinho do costume,para partilhar a minha opinião sobre osite/polémica do momento o«wikileaks».

No fundo trata-se de uma páginana internet, que se destina a dar a

conhecer a qualquer cibernauta inte-ressado, as verdades (ou os podres sepreferirem) de tudo o que é país, orga-nização ou personalidade importante,ou seja, tudo o que for fuga de infor-mação está concentrada nesta página.Uma das polémicas sobre este siteprende-se com o facto de quererem«calar» o seu fundador, o australianoJulian Assange. Realmente não per-cebo... um homem que mostra aomundo as verdades, e que possuidocumentos que o provam, não deve-ria ser apenas considerado por todosum excelente e exímio jornalista?! Poisclaro que não... um elefante incomodamuita gente e, ainda por cima, esteespalha notícias que não se queremchamar como tal, preferem ser trata-das, por exemplo, por documentosconfidenciais, segredos de estado ouaté mesmo telegramas diplomáticos.Sendo que, tudo o que é agora doconhecimento publico, verdadeiro, oque falta para também castigar aquelesque realmente erraram?! Na verdadefalta tudo, a única diferença, agora,

sobre aquilo que existia antes do sur-gimento do WikiLeaks é que temos oconhecimento de que, quem manda,afinal fez mais borrada que aquilo quepensávamos... de resto, e para a maio-ria dos comuns mortais, tudo conti-nuará na mesma, o mundo continuaráa rodar como sempre rodou e o solcontinuará a nascer e a pôr-se...

Criando aqui, em primeira mão, aminha própria teoria da conspiraçãopergunto-me, porquê agora?! Tantafuga de informação de repente, oumelhor tantos milhões gastos em segu-rança, para isto?! Será mais uma das jáconhecidas manobras para distrair o«zé povinho» mundial, enquantooutros problemas mais graves real-mente acontecem? Se assim for, sóacho que a aquela «cena» da crisemundial, a fome, as guerras, o clima,os FMI, as medidas de austeridade e ofutebol, chega para encher os noticiá-rios...

Boas Leituras

CARLOS ZOIO