JORNAL DA APT 16 - JUNHO 2013 - REVISTO 5-7-2013 APT/apt_tradutores_JORNAL_APT… · Os textos...

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1 Ano 16 – N.º 54 – Janeiro / Junho 2013 [email protected] ── [email protected] ── http://www.apt.pt Anos! Associação Portuguesa de Tradutores Jornal da APT 25 ANOS 19882013

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Ano 16 – N.º 54 – Janeiro / Junho 2013

[email protected] ── [email protected] ── http://www.apt.pt

Anos!

Associação Portuguesa de Tradutores

Jornal da APT

25 ANOS

1988─2013

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Membros Honorários

Yvette Centeno (1.ª Presidente), Fernanda Portela (2.ª Presidente), Francisco José Magalhães (3.º Presidente)

Corpos Gerentes Biénio 2013-2014

Direcção

Presidente Francisco José Magalhães ─ tradutor independente Vice-Presidentes Odette Jacqueline Collas ─ tradutora independente Ana Cristina Alves ─ tradutora independente Secretário Ana Bela Cabral ─ tradutora independente Tesoureiro Brigitte Laporte Saramago ─ tradutora independente Assessora da Direcção Elizabeth Barreiros ─ tradutora independente

Comissões Especializadas

Webmaster (Gestora do Site) Elizabeth Barreiros Assistente da Direcção (Informações) António Moreira Delegações Bogotá ― Martha Esperanza de Echandía Braga ─ Ana Maria Pimentel Macau ─ Ana Cristina Alves Paris ─ Carminda Gomes Porto ─ Prémios de Tradução ― Teresa Seruya Prémio de Tradução Literária APT/SPA Prémio de Trad. Casa da América Latina Formação - Francisco José Magalhães Relações Institucionais (Francófonas) ─ Brigitte L. Saramago

*

Jornal da APT - Ficha Técnica Director: Direcção da APT Editor: Direcção Coordenador: Francisco José Magalhães Revisão: Ana Cabral, Ana Cristina Alves, Brigitte Saramago, Elizabeth Barreiros, Hannelore Correia e Odette Collas Morada da APT Rua de Ceuta, 4/B─A/5 2795-056 Linda-a-Velha - Portugal Tel.: + 351. 93 887 13 91 Internet: http://www.apt.pt E-mail: [email protected] — ou — [email protected]

Conselho Fiscal

Presidente Hannelore Correia ─ tradutora independente Vogais Filipa Sacoto ─ tradutora independente Artur Luiz Ferreira Alves Pinto ─ tradutor independente

Mesa da Assembleia Geral Presidente Maria Santa Montez ─ tradutora independente Vice-Presidente Dorothea Schurig ─ tradutora independente Secretário Carlota M. P. Rodrigues ─ tradutora independente Suplentes Maria Margarida Pereira-Müller ─ tradutora independente Ana Sofia Saldanha ─ tradutora independente Carminda Gomes ─ tradutora independente

Os textos digitalizados em OCR podem conter erros, pelo que pedimos desculpa aos autores. Os textos identificados enviados à Direcção são da responsabilidade dos autores no que se refere a qualquer implicação de natureza jurídica e de direitos autorais.

QUOTA - 2012

Portugal: 40,00 €

Estrangeiro: 50,00 €

QUOTA – 2013

Residentes em Portugal: 40,00 Residentes no Estrangeiro: 50,00

Pagamentos por transferência bancária

(p. f. não se esqueça de nos enviar o comprovativo)

Montepio Geral NIB: 0036 0199 99100033216 22

IBAN: PT50 0036 0199 9910 0033 2162 2 BIC/SWIFT: MPIOPTPL

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Acordo Ortográfico

A Direcção da APT optou pela liberdade de critérios nos textos publicados no Jornal da APT. Mais adiante voltaremos ao assunto.

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Editorial No momento em que celebramos 25 Anos, não podemos esquecer os sócios fundadores da APT. Recordamos aqui os

primeiros Corpos Gerentes, conforme a Acta nº 1, de 6 de Maio de 1988:

Yvette K. Centeno ─ Presidente, Fernanda Portela ─ Vice-Presidente, Manuel João Gomes ─ Vice-Presidente, (†) Fernando Ribeiro ─ Secretário, José Hartying de Freitas ─ Tesoureiro, Artur Morão ─ Presidente do Conselho Fiscal, (†) Fernanda Pinto Rodrigues ─ Vogal,

Leopoldina Almeida ─ Vogal, (†) João Barrento ─ Presidente da Mesa da Assembleia-Geral, Teresa Balté ─ Vice-Presidente, Vera San Paio Lemos ─ Secretário, Ana Tönnies ─ Suplente, José Ribeiro da Fonte ─ Suplente, (†) Sara Seruya ─ Suplente.

Estes reputados tradutores são um exemplo de profissionalismo, de rectidão de carácter e de convicções culturais, qualidades

humanas que nos têm servido de modelo. Não esquecemos, em particular, os colegas que nos deixaram, criando um vazio irreparável.

A celebração deste quarto de século da APT recai sobre os Corpos Gerentes eleitos na Assembleia-Geral Eleitoral do dia 27 de Fevereiro último. Registamos aqui o fair play da Lista A que desistiu a favor da outra lista concorrente.

Os novos Corpos Gerentes querem exprimir os seus agradecimentos à anterior Direcção, em particular à Annabela Rita, Odette Collas e Elizabeth Barreiros, respectivamente Presidente e Vice-Presidentes da Direcção. Querem ainda agradecer à Maria Santa Montez e à Hannelore Correia, Presidentes da Mesa da Assembleia-Geral e do Conselho Fiscal. Estes agradecimentos são extensíveis a António Moreira, contabilista que há 20 anos colabora com a APT e sempre com renovada lealdade, empenho e dedicação. Todos estes colegas garantiram, apesar das pedras do caminho, a sobrevivência da APT num período difícil da sua existência. Por todas estas razões, os actuais Corpos Gerentes procurarão ser dignos da confiança dos sócios e cumprir os Estatutos no próximo biénio.

Por definição, uma associação cultural perpetua-se graças à contribuição dos seus sócios e ao trabalho dos Corpos Gerentes que, dentro das suas possibilidades e limitações, concretizam o que julgam ser melhor para a Associação. Parabéns, por conseguinte, a todos os sócios e Corpos Gerentes passados e presentes que lutaram e lutam diariamente pela defesa do prestígio da classe e pela defesa dos seus interesses. Quantos mais formos e mais unidos estivermos, mais forte será a nossa determinação.

Quem nunca fez nada pela classe, diz-nos que podíamos ter feito mais. Sem dúvida. Mas fizemos o que foi possível e no país em que vivemos.

Apesar de sabermos que os Estatutos definem as responsabilidades da Direcção, da Mesa da Assembleia Geral e do Conselho Fiscal, decidimos consultar e incluir nas suas reuniões de trabalho as colegas que representam os outros dois órgãos estatutários. Por espírito de justiça, devemos dizer que as decisões da Direcção têm sido, de uma forma geral, verdadeiramente colegiais. Numa palavra, o dia-a-dia da APT ocupa todo o tempo da Direcção. Da Direcção no sentido alargado.

No último trimestre decidimos encomendar um novo site, fazer uma campanha de “recuperação” de antigos colegas e de angariação de novos sócios, regressar ao seio do CNT e celebrar os 25 Anos da APT com um encontro no dia 30 de Setembro, data do nosso patrono, São Jerónimo.

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Um Quarto de Século

Fundada há 25 anos, em Maio de 1988, por um grupo de tradutores de reconhecido mérito, a APT registou desde então mais de mil e quatrocentos associados residentes em Portugal, em países europeus, africanos e asiáticos.

Segundo as atribuições estatutárias, a APT defende e dignifica os interesses morais, intelectuais e sócio-profissionais dos

tradutores. Para corporizar estes objectivos, a APT organiza encontros, congressos, colóquios e mesas redondas nas áreas relacionadas

com o trabalho do tradutor, atribui prémios de tradução, participa nos respectivos júris e oferece cursos de formação profissional.

Ao nível da formação, a APT colaborou, desenhou de raiz ou deu pareceres técnicos sobre os cursos de licenciatura em

tradução, como na Universidade Aberta, Universidade de Évora, Universidade do Minho e Instituto Politécnico de Leiria e cursos de formação profissional em escolas privadas, tais como no CIAL.

A pedido do Instituto Politécnico de Macau, a APT propôs um plano de curso de licenciatura em tradução e formou os

professores em conformidade com as necessidades locais e regionais. No início da década de 90, a APT fez um estudo de mercado para elaborar a Tabela de Honorários, um guia realista dos

vários tipos de remuneração dos tradutores, revisores e tradutores de legendas. Uma interdição comunitária obrigou-nos a deixar de publicar esta ferramenta útil para os sócios.

Durante uma década a APT organizou anualmente colóquios onde participaram os melhores especialistas nacionais e

europeus da tradução literária, técnica, jurídica, da legendagem e da formação de tradutores. Recordamos em particular os encontros internacionais organizados pela APT em parceria com o Instituto Nacional de

Administração, a Sociedade da Língua Portuguesa, a Sociedade Portuguesa de Autores e universidades nacionais e estrangeiras.

Durante 20 anos, a APT assegurou um pavilhão na EXPOLINGUA/PORTUGAL onde prestava informações relevantes

para a nossa actividade. No âmbito da EXPOLINGUA/PORTUGAL, a APT coordenou debates, conferências e mesas redondas com a participação

de especialistas nacionais e internacionais. Um dos oradores assíduos era o nosso saudoso amigo Geoffrey Kingscott, conhecido no mundo como o “Sr. Tradução”,

autor do livro Applications of Machine Translation: Study for the Commission of the European Communities (1989) e impulsionador de ferramentas terminológicas e de tradução assistida por computador.

A APT organizou em Portugal dezenas de fóruns internacionais e participou em conferências na Europa, América Latina e Ásia.

Até à transferência da administração de Macau para a China, a APT participou activamente nas conferências internacionais

do Instituto Politécnico de Macau, organizadas pela directora do curso de tradução e especialista da história da tradução (e da interpretação) na Ásia, Mestre Manuela Paiva.

Desde a sua fundação, a APT, com o PEN Clube, participou no júri e organizou a cerimónia de atribuição do Grande

Prémio de Tradução Literária, subsidiado pelo Instituto Português de Livro e das Bibliotecas ─ Ministério da Cultura. Este prémio deixou de ser atribuído, embora a APT nunca fosse informada, oficial ou oficiosamente.

Desde a sua criação, em 1993, até à extinção, em 2000, a APT fez parte do júri nacional do Prémio Europeu de Tradução,

denominado Prémio Aristeion. A fim de celebrar a iniciativa “Lisboa 94 - Capital Europeia da Cultura”, a pedido das autoridades, a APT coordenou uma

conferência internacional sobre tradução que decorreu no Centro Cultural de Belém e organizou a cerimónia de entrega do Prémio. Nota de roda pé: a APT não foi convidada para a cerimónia oficial.

A APT esteve na génese do Prémio de Tradução Científica e Técnica em Língua Portuguesa ─ Fundação para a Ciência e a

Tecnologia/União Latina e fez parte do júri durante vinte (20) anos.

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Desde a primeira edição do Prémio de Tradução Literária Casa da América Latina que a APT participa no júri. A APT organizou os primeiros cursos de legendagem ministrados por três profissionais do sector: Ana Paula Mota, Rosário

Valadas Vieira e Mafalda Eliseu e, em colaboração com o Instituto Nacional de Administração, organizou um importante workshop confiado a especialistas internacionais, entre outros, Yves Gambier.

A APT organizou, com “lotação esgotada”, um importante workshop de tradução literária coordenado por duas

reconhecidas personalidades europeias: Françoise Wilmart (Prémio Aristeion) e Julia Escobar (Prémio Francisco de Quevedo). A APT organizou com a Universidade do Minho e a Universidade Lusófona workshops de Tradução Jurídica (Francês)

coordenados por Jacques Pelage (Doutor em Direito, Professor da ESIT e tradutor/intérprete ajuramentado dos tribunais de Paris).

A APT teve uma participação activa nos cursos de tradução do Instituto Nacional de Administração, que contribuíram para

a renovação da formação dos tradutores em Portugal. Estes cursos foram frequentados por meio milhar de tradutores da função pública, tradutores independentes, gestores de

empresas de tradução, professores de tradução (sector público e privado) e finalistas dos cursos de tradução. Durante vinte anos, a APT ministrou, em parceria com o CIAL, cursos de formação profissional. No âmbito nacional, a APT fez vários inquéritos sócio-profissionais junto dos seus associados e, no âmbito internacional, a

pedido do CEATL e das congéneres europeias. A APT publicou, em harmonia com as convenções seguidas por outras associações europeias, o Contrato de Tradução da

APT e o Código Deontológico. A pedido da Biblioteca Nacional, a APT colaborou, no que diz respeito à Tradução, na transposição da norma europeia de

informação e documentação. A APT concedeu centenas de horas de entrevistas telefónicas e presenciais a sócios, não sócios, estudantes de tradução,

professores de tradução e empresas de tradução nacionais e estrangeiras em todos os assuntos relacionados com a área de intervenção associativa.

Sem se substituir aos advogados, a APT deu (e dá) uma primeira orientação jurídica, antes de os sócios reagirem, por vezes,

de forma emocional contra os clientes e as editoras. Em 1992 ─ a pedido do Instituto Português do Livro e da Leitura, Ministério da Cultura, a APT publicou o primeiro

Anuário dos Tradutores. Nesse ano, a APT iniciou diligências com a Direcção-Geral da Administração Pública, cuja responsável na altura era a Drª

Manuela Ferreira Leite, a fim de alterar a designação do tradutor da função pública. Segundo o Regulamento do Acesso à Profissão de Tradutor publicado na Classificação Nacional das Profissões do Ministério do Emprego, o tradutor (e o intérprete) da função pública é um “técnico auxiliar”. Após meses de reuniões, a Directora da DGAP recusou-se a atribuir a categoria de técnicos superiores aos tradutores da função pública, ou seja, que estes obtivessem o nível correspondente a licenciados. Os tradutores licenciados que efectuam tradução tinham (e têm) a designação de “especialistas em línguas estrangeiras”, como os professores de línguas, lexicógrafos, etc.

Nesse ano, a APT iniciou diligências na Assembleia da República tendo em vista a criação de uma “associação

profissional”. O processo foi longo e complexo. A APT obteve o parecer de um reputado jurista sobre a importância de haver uma “associação profissional”. O referido parecer aponta antes para a criação de uma “câmara do tradutor”, uma vez que os constitucionalistas e juristas nacionais se opõem à ideia de proliferação das “ordens profissionais”.

Uma das razões que dificultam a criação da “ordem profissional” é o número reduzido de tradutores registados em Portugal. Dedução lógica: a multiplicação de “associações” contribui para que nunca haja uma “ordem profissional”. Recordemos que os professores do ensino secundário, que são centenas de milhares, não conseguem ter uma “ordem profissional”. Não é uma “meia-dúzia” de tradutores de uma associação que terá influência na Assembleia da República.

Ainda nesse ano, APT iniciou diligências junto do Instituto Português do Livro e das Bibliotecas ─ Ministério da Cultura

para criar a Casa do Tradutor Literário. Depois de muitos relatórios preliminares, foi-nos prometido uma parte do Palácio de Monserrate, em Sintra. Anos mais tarde, o IPLL-MC ventilou a hipótese de alugar aposentos no Palácio dos Marqueses de Fronteira, em Benfica. Por fim, o Presidente da Câmara de Lisboa, Dr. João Soares, prometeu-nos um edifício camarário em regime de comodato, à condição de a APT pagar as obras de recuperação (estimadas em meio milhão de euros).

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Em 1993 ─ a APT e o SNATTI iniciaram junto do Instituto de Emprego e Formação Profissional o processo de Acreditação Profissional dos Tradutores (e dos Intérpretes). Após várias reuniões com o director de então, foi-nos garantido que o próprio IEFP asseguraria, em colaboração com a APT e o SNATTI, a formação, avaliação e acreditação dos tradutores. Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, e os sucessivos directores do IEFP deixaram de dar sinal de vida.

O problema não é acreditar os tradutores (ou os intérpretes). O problema é a credibilidade de quem concede a acreditação. Na maioria dos países a acreditação dos tradutores não é independente. Para dar um exemplo, a Associação Americana de Tradutores acreditou tradutores portugueses que não sabem escrever português (europeu) e não sabem traduzir. Uma acreditação exigente e independente teria custos elevados. Ora a maioria dos tradutores portugueses não poderia suportar os encargos de uma estrutura credível de acreditação.

Em 1994 iniciámos a publicação do JORNAL DA APT. Até 2011 garantimos 54 números, excluindo suplementos especiais.

O JORNAL DA APT teve a colaboração de dezenas de especialistas nacionais e internacionais, entre os quais destacamos os que mais assiduamente enviaram artigos: Françoise Wilmart (tradução literária), Jacques Pelage (tradução jurídica), José António Sabio Pinilla (história da tradução em Portugal) e Oscar Diaz Fouces (didáctica da tradução). Durantes anos, o JORNAL DA APT foi a única fonte de informação para os tradutores nacionais. Aí encontravam referências a dicionários especializados, glossários, obras teóricas, história da tradução, ferramentas de tradução, prémios de tradução e listas de cursos no estrangeiro.

1994-1995 – A APT coordenou o curso de quatro semestres para docentes de tradução do ensino superior Desenvolvimento

de Currículos de Formação de Formadores de Profissionais de Tradução e Respectivo Material de Apoio, em parceria com o Departamento de Língua e Cultura Portuguesa da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Universitat Autónoma de Barcelona, Université de Mons-Hainaut e o Instituto Camões. Projecto subsidiado pelo Programa SÓCRATES/LINGUA.

Em 1996 ─ A APT colocou na Internet o Anuário dos Tradutores (sócios da APT), sendo uma das primeiras associações de

tradutores no mundo a fazê-lo. Desde então, centenas de sócios têm obtido trabalho através do nosso site. Muitos deles acabaram por trabalhar exclusivamente para clientes estrangeiros, graças aos contactos disponibilizados no site.

Nesse ano, a APT foi convidada para apresentar o projecto de criação do Centre de formation en traduction et en

interprétation dans le cadre du B.A.S.E. – O.U.A., solicitada pelo Prof. Doutor Ambrosio Lukoki, Presidente do BASE – OUA, Brazzaville.

Em 2000 ─ a APT iniciou o processo do Seguro Profissional de Grupo para os sócios que aderissem ao serviço. Para o

efeito, apresentou propostas a várias companhias de seguros. Todas as apólices eram simplesmente proibitivas, devido aos factores de risco calculados pelas seguradoras. Por fim, revelou-se aconselhável que os sócios fizessem individualmente o seguro profissional.

Mais uma vez, se a Associação representasse a maioria dos tradutores que trabalham em Portugal, o seguro de grupo ficaria mais barato para todos.

Durante três anos ─ A APT coordenou o projecto científico Prontuário Multimédia da Língua Portuguesa no Domínio dos

Verbos, efectuado pelo departamento de informática do INETI e pela Universidade do Porto. O projecto teve ainda o apoio da União Latina e foi subsidiado pela JNICT ─ Junta Nacional de Investigação Científica.

Ainda em 2000 ─ A APT iniciou o processo de regulamentação do Tradutor Ajuramentado e do Intérprete Ajuramentado

junto da Assembleia da República. Esta reenviou o processo para o Ministro da Justiça, na altura o Dr. Vera Jardim. O Ministro determinou a constituição “urgente” de um grupo de trabalho para elaborar o diploma do regime jurídico do Tradutor Ajuramentado e do Intérprete Ajuramentado (ou outra designação).

O grupo de trabalho foi (é) constituído pelas seguintes instituições: APT, APIC, APROFIC, SNATTI, Procuradoria-Geral da República, Direcção-Geral dos Serviços Notariais e Direcção-Geral da Administração da Justiça ─ Direcção de Serviços Jurídicos do Ministério da Justiça.

Passados quatro anos, o grupo de trabalho entregou a proposta de Diploma que define o trabalho do Tradutor e do Intérprete Ajuramentado. Aguardamos até hoje que o Ministro da Justiça se digne aprovar o Diploma. O que é a primeira fase de um processo complexo e demorado.

Em 2003 ─ a APT participou no seminário Aequalitas, Equal Access to Justice Across Language and Culture in the EU, no

âmbito do projecto Grotius 2001/GRP/015, que decorreu no Departamento de Tradução e Interpretação da Universidade Lessius, Antuérpia. A APIC esteve representada pela nossa saudosa colega e amiga Isabel Feijó.

Em 2005 ─ A APT foi designada pela ONU para avaliar o curso de tradução e o resultado final do Pilot Project for

Capacity Development for Translators and Interpreters in Timor-Leste, que decorreu na Universidade Nacional de Timor-Leste, financiado pelo PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento.

Por discordar com o lobbying, o vedetismo e as intrigas de corredor da FIT, a APT abandonou este organismo internacional.

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No entanto, há 25 anos que a APT é membro do CEATL ─ Concelho Europeu das Associações de Tradutores Literários e participa activamente nas suas Assembleias-Gerais, duas das quais decorreram em Portugal.

A nível interno, a APT é membro fundador do Conselho Nacional de Tradução ─ CNT, cujo registo notarial dos Estatutos

foi assinado em 2011. O caminho percorrido deve-se à iniciativa dos tradutores que lançaram as bases estatutárias, fundaram a APT e, entre

outros, fizeram parte dos Corpos Gerentes: Yvette K. Centeno, Fernanda Portela, Manuel João Gomes (†), Fernando Ribeiro, José Harting de Freitas, Artur Morão (†), Fernanda Pinto Rodrigues, Leopoldina Almeida (†), João Barrento, Teresa Balté, Vera San Paio Lemos, Ana Tönnies, José Ribeiro da Fonte (†) e Sara Seruya.

Neste momento do nosso percurso também não esquecemos os colegas que nos deixaram. A terminar, prestamos homenagem a todos os Corpos Gerentes da APT que, apesar das dificuldades do trabalho de

voluntariado cultural em Portugal, asseguraram a sua continuidade nestes 25 anos. O futuro da APT depende do empenho individual dos sócios e do esforço colectivo que motiva novas acções dos Corpos Gerentes. A Direcção Junho, 2103

* Calendário de Actividades

PROGRAMA DIA DE SÃO JERÓNIMO

30 de Setembro 25º Aniversário da APT (1988/2013)

Passado — Presente — Futuro Local: Sociedade Portuguesa de Autores

AV. Duque de Loulé,31 — 1069-153 Lisboa 14h30 — Sessão de Abertura 14h30 — Mesa de Honra 15h00 — Mesa Presidentes da Direcção da APT 15h30 — Mesa Redonda (Acordo Ortográfico, História da Tradução em

em Portugal, Tradução Institucional, Empresa de Tradução)

17h15 — Coro do Banco de Portugal 17h45-18h00 — Sessão de Encerramento Direcção da APT

São Jerónimo e o Leão

de Albrecht Dürer (1514)

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Apoio Jurídico

No seguimento das promessas de uma associação de tradutores em embrião, que pretende rivalizar com a APT, a ideia de apoio jurídico reemergiu nos últimos tempos. Basta estar atento à comunicação social para saber que uma coisa é promessa e outra é realidade. Isso é no mundo da política. A política da APT é não prometer aos sócios o que não pode cumprir.

A APT teve há anos uma avença com advogados do Porto e de Lisboa, onde reside a maioria dos sócios. O mínimo que se pode dizer é que foi um fracasso. Durante esses anos nenhum sócio precisou de apoio jurídico. Mal acabámos com a avença, surgiram sócios a pedir apoio jurídico para casos perdidos à partida.

A experiência ensinou-nos que a questão do apoio jurídico é mais complexa do que parece à primeira vista. A posição actual da APT é conhecida. Para melhor exemplificar a nossa opinião, vamos referir um caso real que

acompanhamos de perto. O processo judicial arrastou-se durante anos, sendo uma parte dos custos paga em escudos e outra em euros. Por fim, convertemos os custos em euros.

O processo jurídico custou ao tradutor, excluindo os recursos cujas despesas ignoramos:

Descritivo Euros Remuneração do advogado (considerada simbólica) 500 Preparos judiciais (na antiga tabela), excluindo os recursos 2.500 Dois relatórios assinados por peritos alemães na área das barragens exigido pelo tribunal (custos pagos pelo tradutor)

500

Indemnização pedida pelo cliente 50.000 Total 53.250

Perguntamos: onde é que a APT vai buscar 53 mil euros — ou seja o equivalente à quota de 1.300 sócios — esquecendo

todas as outras despesas fixas? Acresce que as indemnizações são variáveis e podem ser elevadas. Conhecemos o caso de um cliente alemão que pediu 16

milhões de contos (80 milhões de euros) de indeminização a um tradutor num tribunal do Porto. Por sua vez, o tradutor teve de mover ao cliente uma acção judicial. Como o cliente, uma grande empresa de construção de autoestradas, tinha dinheiro e advogados bem pagos, de recurso em recurso protelou o processo até prescrever. Mas o tradutor perdeu 3.500 euros.

Imaginemos que um apoio jurídico custaria à APT 16 mil euros, o equivalente ao total das quotas pagas anualmente pelos

sócios. E se tivermos dois casos por ano? A nossa pergunta é: estão os sócios da APT solidários para pagar do seu bolso as despesas fixas desse ano? Ou deixam essa matéria de somenos importância para a Direcção?

Para repensar no assunto, precisamos de ter números em cima da mesa e ponderar as respostas à pergunta: com uma quota anual de 40 euros, pode a APT oferecer aos sócios apoio jurídico e judicial?

* A nossa colega da Direcção Brigitte Saramago pediu à companhia Hiscox Portugal uma simulação de seguro profissional

para tradutores dentro dos seguintes parâmetros: “grupo de 350 sócios, todos tradutores experimentados — riscos quase nulos. Resolução de litígios com clientes com um plafond a definir. Assistência jurídica, mais para clientes maus pagadores. Eventualmente, pagamento de trabalho de releitura para definir a qualidade da tradução. A APT é uma associação que só pode contar para este seguro 5 euros por sócio. O que se pode fazer, digamos, com 2.000 euros por ano?”

Resposta da Hiscox Portugal, com data de 3 de Junho de 2013.

“Boa tarde Dra. Brigitte Saramago, Tenho o prazer através do presente e-mail de lhe remeter as nossas melhores condições para garantia do risco de

responsabilidade civil profissional dos tradutores membros da APT. A apólice seria construída numa base de apólice de grupo, em que cada tradutor teria acesso automático à cobertura de

seguro, bastando estar inscrito na APT e ter as quotas em dia. Infelizmente o valor de acréscimo de 5€ é insuficiente para criar o suporte e equilíbrio necessários à viabilidade deste contrato a médio prazo, por isso sugerimos para a primeira anuidade um valor de 40€ por pessoa, como compensação por um capital seguro de €50.000. Podemos cotar capitais superiores, mas o capital atrás indicado corresponde ao mínimo possível para o prémio indicado.

(…) Mais informo que a actividade de tradução de manuais técnicos carece de informação prévia ao Segurador, pois pretendemos

avaliar os riscos inerentes a este tipo de trabalhos que consideramos de exposição mais agravada. (…) Com os melhores cumprimentos, Vitor Vieira Underwriter — Hiscox Portugal”.

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Comentário da Direcção da APT

Esta simulação confirma o que dizemos mais acima: o seguro de grupo custaria anualmente o total das quotas pagas pelos

sócios. Como pagar as outras despesas fixas, como por exemplo, como manter activo o site da APT ou divulgar o contacto dos sócios na base de dados?

Embora se trate da melhor cotação recebida ao longo dos anos, torna-se evidente que o seguro de grupo para os nossos sócios é incomportável no quadro da quota actual. A solução tecnocrática seria aumentar a quota anual para 80 euros. Perguntamos: quantos sócios estariam disponíveis para pagar 80 euros de quota? Não é preciso ser ministro das finanças para prever que muitos sócios deixariam de pertencer à APT.

Como fizemos nos anos 90 com a proposta da Companhia Fidelidade, vamos fazer um inquérito aos associados. Até termos uma fotografia da vontade dos sócios, a ideia do seguro de grupo fica, mais uma vez, adiada.

* Como em quase tudo que diz respeito aos euroburocratas que nos conduzem “pela ponta do nariz” (Brassens) os projectos

de apoio à tradução literária sucedem-se ao ritmo dos interesses dos grandes editores. De resto existe mesmo uma “fábrica europeia de tradutores” (Fabrique européenne des traducteurs) que funciona no Collège International des Traducteurs Littéraires em Arles, França, em parceria, entre outras, com a Association Kalem Kültür, Istanbul, Turquia e a Fondation Dar Al-Ma’mûn, Marraquexe, Marrocos, países europeus, como se sabe. O governo português não subsidia a participação dos nossos tradutores literários, pela simples razão que Portugal fica no norte de África. Surge mais um programa de apoio à tradução literária chamado PETRAS. Quem estiver interessado pode pedir o programa, distribuído gratuitamente, escrito em alemão, francês e inglês para o endereço “[email protected]”. Ver mais informações em “www.passaporta.be”.

Abaixo transcrevemos dois textos da autoria dos nossos amigos Peter Bergsma e Françoise Wuilmart, dois membros fundadores do CEATL.

Tradução Literária na Europa Recomendações do Programa PETRAS

Table des matières préface Carburant, ciment et boussole, 07 par Jacques De Decker introduction A propos de PETRA, 09 par Paul Buekenhout et Bart Vonck les recommandations PETRA Enseignement et formation du traducteur littéraire, 13 par Henri Bloemen et Vincenzo Barca Gestion des droits d'auteur, y compris des droits numériques, 17 par Andy Jelčiċ Perception culturelle et visibilité du traducteur, 21 par Jùrgen Jakob Becker et Martin de Haan Politiques éditoriales et le marche, 25 par Peter Bergsma Situation matérielle et sociale des traducteurs littéraires, 29 par lldikó Lörinszky et Holger Fock conclusions Synthèse des recommandations PETRA ,33 par Françoise Wuilmart appendices Les organisations PETRA, 37 Congrès PETRA : le programme, 40 Congrès PETRA : les participants et leurs organisations, 41 Remerciements, 45

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Politiques éditoriales et marché Peter Bergsma

Traduit de l'anglais par Anne Damour pp. 25-26

A une époque où de nombreux pays européens réduisent brutalement Leur soutien aux activités artistiques, et où L'attrait de

La banalité noie Les arguments politiques et culturels, le besoin de traducteurs Littéraires jouant Le rôle de médiateurs culturels est en augmentation. Ils servent de correctif à un climat qui étouffe nor seulement les arguments rationnels, mais aussi la créativité sous toutes ses formes. En outre, les échanges culturels sont profitables même en termes purement économiques et peuvent servir de moteur à l'intégration européenne, qui semble aujourd'hui se déliter.

La situation Dans Le domaine de La médiation Littéraire, les acteurs

principaux sont naturellement les maisons d'édition, car ce sont elles qui déterminent quelle littérature traduite va être mise sur Le marché. Idéalement, ces décisions devraient être guidées par le principe de réciprocité, qui est fondamental dans Le dialogue interculturel : ceux qui désirent voir leurs Livres publiés dans une Langue étrangère doivent être disposés à publier des traductions, de leur côté. Et tout éditeur conscient de ses responsabilités doit reconnaître L'importance de cette médiation culturelle et faire tout son possible pour faire avancer cette cause. Mais il y a aussi le besoin évident de faire un profit, et les profits sont plus faciles à faire avec des traductions de best-sellers internationaux qu'avec des traductions de perles littéraires appréciées seulement par un lectorat limité. Ceci explique l'émergence d'une culture de best-sellers, qui a pour objectif principal de publier des traductions - particulièrement d'ouvrages de langue anglaise-qui atteignent des chiffres de vente élevés sur les marchés internationaux. Qui plus est, ces traductions doivent être mises en place sur les rayons aussi vite que possible, pour profiter d'une vague de promotions internationales.

Bien que les éditeurs aient toujours financé des trouvailles littéraires destinées à un public réduit grâce aux revenus des best-sellers - même s'il arrive qu'un best seller soit une perle littéraire - nous constatons aujourd'hui que le nombre de traductions de grande qualité est en régression. Il est vrai que dans de nombreux pays règne une certaine surproduction depuis des années, et il n'est pas mauvais que la crise actuelle arrête cette tendance. Mais il est regrettable que des œuvres littéraires d'une valeur exceptionnelle perdent du terrain, en particulier des écrits dans une langue autre que l'anglais. On ne peut en nier les conséquences sur le catalogue des œuvres littéraires disponibles, et donc sur la diversité du dialogue international.

La culture émergente du best-seller a également des incidences radicales pour les traducteurs littéraires. Ils sont d'abord appelés à rendre leurs traductions dans des délais toujours plus brefs, pour permettre aux éditeurs de profiter de la promotion internationale. Mais ils sont également confrontés à une liste réduite d'ouvrages, en particulier dans des langues autres que l'anglais.

Aussi paradoxal que cela puisse paraître, on constate en même temps un manque de traducteurs littéraires dû au vieillissement de la profession. Et le nombre déjeunes traducteurs qui entrent sur le marché est insuffisant dans la plupart des pays européens pour contrebalancer cette évolution.

En résumé, le marché de la traduction littéraire doit faire

face à trois problèmes : 1. Les traducteurs victimes de la culture des best-sellers

Ce sont d'abord les éditeurs qui peuvent inverser le déclin

de la diversité littéraire. Malheureusement, les grandes maisons d'édition, nées de fusions transnationales, ne sont plus innovatrices depuis de longues années, elles sont devenues des adeptes du marché. Le résultat de cette situation est qu'à travers toute l'Europe, nous avons de plus en plus de chances de tomber sur des traductions des mêmes titres, tout comme nous trouvons les mêmes magasins dans toutes les rues commerçantes du continent.

Un fonds de la Commission européenne octroyant aux éditeurs des subventions à la traduction n'est pas encore en mesure de changer le cours de cette tendance, ce qui en réalité est à l'opposé d'un des principaux objectifs culturels de l'Union européenne : la diversité culturelle. Il serait possible d'approcher de ce but en posant des actes plus définitifs dans le sens d'un soutien de traductions ambitieuses d'œuvres moins connues et de haute qualité littéraire, en particulier de langues moins répandues.

Pour tenter d'inverser cette tendance, la Fondation néerlandaise des Lettres a créé sur internet le site Schwob, nommé d'après l'auteur, essayiste et traducteur Marcel Schwob. Le site www.schwob.nl présente des ouvrages littéraires majeurs de toutes les parties du monde qui ne sont pas encore disponibles en traduction néerlandaise. Y sont inclus des classiques oubliés ainsi que des auteurs contemporains inédits. En 2012, la Fondation néerlandaise des Lettres et quatre partenaires européens feront une demande de subvention auprès du Programme Culturel de la

Commission européenne afin de donner au projet Schwob une véritable dimension européenne.

2. Le travail des traducteurs littéraires sous pression Ici encore nous devons nous tourner vers Les éditeurs, pour

qu'ils offrent aux traducteurs une rémunération correspondant à leur niveau de connaissances et à la créativité qui est exigée d'eux, au temps qu'ils investissent, et à l'influence de leur travail dans le domaine culturel. A ce sujet, presque tous les pays européens ont encore beaucoup à faire, non seulement en ce qui concerne les rémunérations, domaine où l'Italie, le Portugal, l'Espagne et la plupart des pays de L'est sont au bas de l'échelle, mais aussi sur la question des contrats type, des royalties et des droits d'auteur, pour lesquels la situation est insatisfaisante dans presque tous les pays d'Europe.

S'il est vrai que les éditeurs d'ouvrages littéraires pourraient faire un effort plus conséquent pour améliorer le traitement des traducteurs, ils ne pourront sans doute jamais leur octroyer des revenus suffisants pour vivre décemment, au risque de rendre les ouvrages traduits inabordables. Les Pays-Bas et la Flandre accordent des subventions directes aux tra-ducteurs littéraires, afin de leur garantir un revenu acceptable, de leur donner plus de temps pour leurs traductions, avec pour résultat une meilleure qualité de leur travail.

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Outre une rémunération et un statut professionnel décents, les traducteurs littéraires ont besoin d'être en contact avec leur langue source, leur culture et leurs collègues traducteurs venant d'autres pays qui travaillent à partir de ou vers La même langue. Un moyen d'y parvenir à un coût raisonnable est Le système des centres de traducteurs.

La plupart des pays européens possèdent un ou deux centres de ce type, et quatorze d'entre eux sont alliés au sein du réseau RECIT11'. Les centres RECIT reçoivent cinq cents traducteurs chaque année pour des périodes allant de deux semaines à deux mois et organisent annuellement des dizaines d'ateliers de traduction destinés tant à des débutants qu'à des traducteurs expérimentés. Jusqu'en 2006, Les centres RECIT étaient financés par La Commission européenne, ce qui n'est plus le cas depuis l'adoption du nouveau Programme Culture de 2007, et son approche non sectorielle. Le renouvellement de ce type de soutien de La part de L'Europe est plus que jamais nécessaire.

3. Une pénurie prévisible de traducteurs littéraires Des études ont montré que La profession de traducteurs

vieillit rapidement dans presque tous Les pays européens. La plupart de ces pays offrent des cours de traduction à des étudiants sortant du secondaire, à l'intérieur ou à L'extérieur de l'université. Le CEATL examine des données plus spécifiques portant sur la formation des traducteurs Littéraires en Europe. Cependant, ces jeunes diplômés sont apparemment en nombre insuffisant pour compenser La tendance au vieillissement, un trait certainement dû au manque d'attractivité sociale et financière de La profession. Situation qui ne peut être inversée que par un effort conjoint des institutions nationales et européennes. Une démarche vitale dans cette direction est de renforcer la visibilité des traducteurs littéraires, afin non seulement d'améliorer Leur

statut culturel et économique, mais d'accroître leur reconnaissance par Les lecteurs et Les critiques, et d'éveiller de nouvelles vocations chez les jeunes.

Recommandations Les fondations littéraires nationales ainsi que La

Commission européenne devraient encourager les éditeurs littéraires à élargir leur catalogue de livres traduits.

La Commission européenne, les fondations littéraires nationales, et les éditeurs Littéraires devraient tous s'efforcer d'améliorer le statut social et la rémunération des traducteurs littéraires. Dans ce but, les institutions nationales et européennes devraient coopérer pour développer un système de subventions directes aux traducteurs, et les éditeurs devraient décider de ne pas traiter les traducteurs comme un ajout budgétaire, mais d'une manière adaptée à leur niveau de connaissances, à leur contribution créative, au temps qu'ils investissent dans Leur travail et à l'influence culturelle de ce dernier.

La Commission européenne doit renouveler son soutien aux centres de traduction littéraire et encourager l'ouverture de centres de traduction là où il n'en existe pas encore. Ce soutien pourrait prendre deux formes distinctes : une subvention régulière sur une base annuelle pour les centres de traduction, et un système inspiré du Programme Erasmus, qui octroierait des bourses de voyage aux traducteurs désirant fréquenter un de ces centres.

Les fondations Littéraires nationales, la Commission européenne et Les éditeurs littéraires devraient joindre leurs forces pour améliorer la visibilité des traducteurs littéraires, afin de renforcer leur statut social et financier, et rendre la profession plus attractive pour les jeunes générations.

(1) www.re-cit.eu

* Les recommandations PETRA

Synthèse des recommandations PETRA Françoise Wuilmart

pp. 33-35 La synthèse ci-après tente de résumer et de refléter fidèlement, dans l'esprit et la lettre, l'essentiel des recomandations PETRA.

Ambivalence de la situation actuelle du traducteur littéraire

L'ambivalence de la situation actuelle du traducteur

littéraire est à l'origine des revendications de réformes de son statut, devenues incontournables tant aux niveaux national qu'européen.

D'une part : son rôle de médiateur dans l'interculturalité

est une évidence. Si les belles-lettres sont appréciées dans tous Les azimuts, c'est grâce à la médiation du traducteur littéraire et les penseurs ne pourraient dialoguer dans le temps et dans l'espace sans passer par le texte traduit. C'est donc la mobilité du patrimoine spirituel de l'humanité qui est confiée à la lecture attentive et recréatrice du traducteur littéraire.

D'autre part : l'essence même de son entreprise est à

l'origine de son infortune. En effet, entièrement au service de l'auteur de L'original et de son écriture, il est contraint de s'effacer et sa performance sera d'autant plus réussie qu'elle

est invisible. Le co-auteur qu'il est, sera alors relégué aux oubliettes. Si au contraire ses traces sont perceptibles, il sera nommé pour être critiqué. Dans les deux cas il est perdant.

La spécificité même de son rôle a donc des effets

pervers : le traducteur invisible ne jouira pas de la

reconnaissance, morale et financière, à laquelle il a droit en tant qu'auteur d'une œuvre recréée ;

la critique littéraire, généralement peu au fait de la spécificité du métier, l'ignorera ou à l'inverse ne parlera de lui qu'en termes négatifs ;

L'éditeur le considérera comme un poids financier. Pour des raisons économiques : il le pressera dans son travail, ne le rémunérera pas à sa juste valeur et lui imposera des textes de moindre qualité, tels qu'ils fleurissent aujourd'hui dans la culture des best-sellers.

Les conséquences de ce triple traitement coulent de source : le traducteur Littéraire déconsidéré, mal rémunéré et privé

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de temps ne pourra fournir un travail de qualité. Car il doit survivre.

Dans un premier temps, il serait donc souhaitable : 1. d'assurer au traducteur littéraire la même visibilité que

celle dévolue à tout créateur et partout où l'est tout autre créateur;

2. de veiller à ce que tout projet de digitalisation respecte la loi du copyright pour le traducteur littéraire aussi, en s'adaptant aux besoins spécifiques de ce métier ;

3. de sensibiliser et former la critique littéraire à la spécificité du métier ;

4. d'encourager au niveau national et européen des programmes de bourses et de soutiens directs au tra-ducteur littéraire, qui viendraient combler le déficit des rémunérations de base ;

5. de s'inspirer des bonnes pratiques ponctuelles et de les multiplier au niveau européen, notamment :

en soutenant les revendications et les actions existantes

de groupes, comme les associations de traducteurs littéraires, qui dans certains pays ont remporté des premières victoires, par l'introduction de codes des usages soumis aux éditeurs ;

en établissant au niveau européen un contrat-type dont les clauses seront respectueuses tant du travail du traducteur que de l'éditeur ;

en encourageant et en soutenant les initiatives qui ont fait leurs preuves dans la réalisation d'un contexte idéal de travail : les collèges ou maisons de traducteurs, résidences d'accueil offrant aux professionnels la sérénité nécessaire, l'immersion dans la culture étrangère, l'occasion de dialoguer avec des homologues ou avec les auteurs, et de faire des recherches ou des découvertes ;

en multipliant les manifestations destinées à sensibiliser le public à la complexité et à l'importance du processus de traduction littéraire ;

en multipliant les prix nationaux à l'instar des grands prix littéraires couronnant les écrivains.

Pour une formation de qualité Toute création de qualité a deux composantes

indissociables : le talent, qui est inné, et le savoir-faire, qui s'acquiert. Le savoir-faire est nourri à la fois des réflexions théoriques accumulées au fil du temps et des pratiques qui constituent une tradition artisanale. La théorie s'enseigne, La pratique se transmet. La complexité du processus de traduction littéraire mérite donc d'être analysée et transmise dans une formation adéquate à dispenser à l'apprenti talentueux.

Aucun consensus n'existe encore au niveau tant national qu'européen sur la conception d'une telle formation. Dans tel cas, il est entendu que la formation linguistique ou philologique qui privilégie la part de réflexion analytique et descriptive au détriment de l'acte créatif suffît à préparer le traducteur à son métier, dans tel autre, les formateurs improvisés sont des professionnels désireux de transmettre une pratique, dans la durée ou l'événement ponctuel et aléatoire. Il est rare que les deux dimensions, réflexives et pratiques, soient conjuguées au sein d'un même enseignement ciblé.

Il serait donc souhaitable :

1. de créer, au niveau européen, des structures de réflexions sur l'organisation de cursus ciblés sur la traduction littéraire ;

2. d'initier, au sein de telles structures, un débat de fond visant à établir un consensus sur les lignes directrices d'un enseignement prenant en compte la durée, l'organisation et les contenus de programmes ciblés ;

3. de prendre en compte, dans les contenus de la formation, trois composantes essentielles :

un acquis culturel et littéraire substantiel le développement de la maîtrise de la langue

maternelle (d'arrivée) la dimension créative et artisanale du processus : en

confiant à des praticiens de haut niveau une part substantielle de la formation ;

4. de soutenir ou développer les formations universitaires axées sur la traduction littéraire ;

5. d'encourager et soutenir les structures de formations non universitaires existantes et qui ont fait leurs preuves ainsi que les formations continues, garantes d'une perpétuation de la qualité ;

6. de susciter l'intérêt pour tous ces types de formations, aux fins de renouveler les effectifs de traducteurs littéraires qui vont en s'appauvrissant.

Contenus du marché de la traduction Ce sont prioritairement les éditeurs qui, guidés par des

intérêts économiques, déterminent les contenus du marché de la traduction : sur le plan des langues traduites : le principe de

réciprocité est inexistant. Les traductions de l'anglais l'emportent haut la main dans une majorité de pays tandis qu'en Grande Bretagne les livres traduits ne constituent que 3 % des nouveautés. Les cultures non dominantes et les langues de moindre diffusion sont Les premières à en pâtir;

sur le choix des œuvres à traduire : nous assistons à L'émergence internationale d'une culture de best-sellers, entraînant un appauvrissement considérable dans la publication d'ceuvres de qualité.

Il serait donc souhaitable : 1. de repérer et de divulguer au niveau européen les

ouvrages de qualité encore à traduire ou à retraduire, en s'inspirant notamment de bonnes pratiques déjà en vigueur dans certains pays ;

2. de susciter l'intérêt envers les cultures moins connues et d'encourager l'apprentissage de langues de moindre diffusion pour éviter le recours à la traduction-relais.

La mise en œuvre de toutes ces revendications justifiées

conduira à l'amélioration du statut d'un des principaux acteurs de l'interculturalité, et partant, contribuera à promouvoir la notion de qualité dans la connaissance réciproque des cultures.

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26.ª Feira Internacional do Livro de Bogotá

26.ª Feira Internacional do Livro de Bogotá 18 de Abril ― 1 de Maio de 2013

«Letras Portuguesas para Colombia», é um dos títulos nos

jornais colombianos que anunciam o evento. A FILBo é a segunda maior feira do livro da América Latina, durante a qual organiza exposições, debates e concertos musicais.

Portugal foi o convidado de honra nesta edição da FILBo.

Para o efeito deslocou-se a essa cidade sul-americana uma importante “embaixada” nacional. A comitiva portuguesa foi encimada pelo “embaixador” das letras nacionais, o Presidente da República, leitor desinteressado de Os Lusíadas. O resto da embaixada era constituído por 23 escritores, poetas, editores, homens e mulheres de letras, ilustradores de literatura infanto-juvenil, críticos e funcionários públicos do Ministério da Cultura.

Embora a comitiva nacional incluísse reputados tradutores, entre outros, Vasco Graça Moura, Nuno Júdice e Ana Luísa Amaral, estes estiveram no certame em representação dos escritores. Pilar del Río, tradutora para a língua castelhana da obra de José Saramago, apresentou-se como Presidente da Fundação José Saramago e divulgadora da obra do Prémio Nobel. Ninguém representou os tradutores. Das 1200 atividades culturais nem uma foi dedicada à tradução.

No discurso de abertura, o chefe da missão portuguesa,

Cavaco Silva, “esqueceu-se” de referir o nome do autor do Memorial do Convento ― o homenageado da Feira. Isto no certame onde seria lançado um livro inédito de Saramago. O que na altura os mass media portugueses consideraram ser uma gaffe, não passou afinal da expressão de um sentimento bem nacional: a mesquinhes de espírito, a inveja, a vindicta contra os mais fracos (neste caso alguém falecido) e a necessidade de lavar a roupa suja na praça pública.

Desenterrar no outro lado da América do Sul o enferrujado

machado de guerra com 21 anos é um gesto inútil, medíocre e revelador do carácter dos políticos que nos representam. Provavelmente nenhum colombiano sabia que em 1992 o governo do então primeiro-ministro Cavaco Silva censurou o romance de José Saramago Evangelho segundo Jesus Cristo. Precisamente na Feira do Livro de Madrid. Imagina-se a coincidência simbólica: inaugurada no dia 25 de Abril!

Em Bogotá a honra do convento foi salva pela viúva do

Nobel português da Literatura e por outras figuras do mundo da cultura que sublinharam a obra de Saramago, inclusive o presidente da Colômbia. Ofuscado pelo brilho do seu umbigo, o leitor desinteressado de Os Lusíadas indignou as personalidades ligadas à cultura portuguesa e latino-americana. Valeu a ironia do destino: José Saramago foi o autor mais vendido da literatura portuguesa durante as duas semanas.

No entanto, o pior gaffe vem a seguir e que os mass media portugueses não referiram.

À boa maneira portuguesa, os nossos burocratas esqueceram-se que os 4 mil títulos publicados em castelhano não caíram do céu como os meteoritos. Há quatro mil anos, não é de hoje, os Egípcios compreenderam que o primeiro embaixador dos escritores nacionais é o Tradutor. Alguém ignora que em todos os países da União Europeia (como na maioria dos países do mundo), o Tradutor está representado em associações. Alguém ignora que o Tradutor português é representado pela Associação Portuguesa de Tradutores.

O responsável por esta gaffe parece ser o comissário da Feira, que aparentemente nunca ouviu falar de tradutores. Tanto mais criticável porque se trata de um especialista da obra de Fernando Pessoa. Ora se há pessoa associada ao exercício da tradução é precisamente Pessoa. O comissário esqueceu-se que uma parte dos 800 mil euros que a Feira custou ao erário público vem — também — dos impostos dos tradutores.

Um político nacional, conhecido pelo seu espírito simples,

proclamou que a emigração é uma oportunidade para os jovens. Desde então os nossos mass media não se cansam de relatar que “existem portugueses espalhados pelo mundo”. É precisamente o caso de uma luso-colombiana. A diferença é que esta não aceitou a gaffe do nosso comissário da FILBo: a tradutora Martha Esperanza.

Indignada, a tradutora preguntou na embaixada portuguesa por que razão os tradutores portugueses não foram convida-dos para a FILBo? As respostas do adido cultural e da conselheira da embaixada limitaram-se a dizer que os convites tinham sido feitos em Portugal. Segundo eles, a organização da delegação portuguesa foi feita em Lisboa pelo Instituto Português do Livro e da Leitura. Quanto ao comissário, “pago por el estado portugués”, encarregou-se dos convites feitos em Bogotá.

Insatisfeita com a justificação dada na embaixada, a tradutora escreveu ao responsável pelo IPLL, que, evidentemente, não respondeu, embora a sua secretária confirmasse a recepção da mensagem. Se no início a tradutora se mostrara insatisfeita, acabou por ficar indignada. Telefonou de Bogotá e confirmou junto do IPLL que os seus e-mail tinham chegado às mãos dos devidos funcionários.

Insatisfeita, indignada e, entretanto, revoltada, a tradutora escreveu ao comissário português da FILBo, que respondeu através da secretária que “não havia espaço, porque a programação já estava completa”.

Observação da tradutora luso-colombiana Martha Esperanza ao Jornal da APT: “Dá-me pena (de vergonha e de tristeza por comprovar a mesquinhez do ser humano) comentar-lhe isto, mas é assim”.

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A insatisfeita, indignada e revoltada tradutora luso-colombiana é, por acaso, sócia da APT. Nesta qualidade, teve a amabilidade de nos informar do sucedido:

Dr. Magalhães, consegui que os meus livros estejam na

feira, no pavilhão de Portugal, que maneja o fundo de cultura económica, nos 4 pavilhões de Panamericana y Leyer e num stand próprio no pavilhão nº 1, que é o pavilhão das nações. Este pavilhão é virtual. [..].

Martha Esperanza” Como em Portugal “um mal nunca vem só”, segundo um

ditado popular, ficou-se a saber no fecho da FILBo que neste ano (2013) não haverá Feira do Livro do Porto. Assim decidiu o Presidente da Câmara do Porto. Um dia acordou mal disposto, viu-se ao espelho e decidiu com os seus botões que O Zé Povinho não precisa de cultura. Aquele edil,

esquecendo-se que é funcionário público, mal segurou nas mãos o chicote do poder, envolveu-se em guerras de trincheira com os representantes da cultura nortenha, fechando teatros e usando os dinheiros públicos como arma de chantagem para promover o que ele entende ser cultura: as corridas de bólides na cidade. Este entusiasmo intelectual valeu-lhe uma capa na revista Porto Menu, com o título “Rio és um FDP” ― que os autores traduziram por “fanático dos popós”.

O lema do pavilhão português na FILBo foi tirado de

Vergílio Ferreira — “Da minha língua vê-se o mar” —. Lamentamos que os tais senhores (e senhoras) remunerados com o nosso dinheiro decidam “Onde a terra se acaba e o mar começa”, para usar o verso da obra dividida em “quatro cantos”, segundo o “embaixador” das letras nacionais e Presidente da República.

* Livros disponíveis na FILBo

Com o apoio do Instituto Camões

Cuentos para mis nietos

Autora; Elzira Dantas Machado Traducción al Español de Martha Esperanza Ramos de Echandía Prólogo: Doctor Mário Soares expresidente y ex primer ministro de Portugal Sesenta y dos cuentos ilustrados en esmerada edición constituven un homenaje no solo a su autora, sino a la narrativa infantil de Portugal, tienen como tema los niños, los animales y la naturaleza. Formato: 13.5 x 20.5cm

Com Mário Soares e Manuel Machado Sá Marques aquando do lançamento do livro na Fundação Mário Soares

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Cuentos portugueses para adultos

Autor: José María Eça de Queirós

Traducción al Español de Martha Esperanza Ramos de Echandía Prólogo: Jorge Iván Parra crítico literario periódico El Tiempo El irresistible mundo de mujer adultera de doña María de la Piedad, víctima del amor no

correspondido que se describe en Un destino destrozado, y Excentricidades de una chica rubia, que cuenta la historia de amor de Macario, un joven que se enamora de luisa, una chica rubia que decía a todo: Pues sí… Formato. 13.5 x 20.5 cm

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APRENDIENDO CON LOS ANIMALES Autora: Elzira Dantas Machado Traducción al Español de Martha Esperanza Ramos de Echandía Prólogo: Francisco José Magalhães Presidente de la Asociación Portuguesa de Traductores

Selección de algunos de los Cuentos para mis nietos, el clásico de la literatura infantil portuguesa escrito por Dona Elzira Dantas Machado que se ofrece en edición bilingüe; es una obra que invita a la lectura "A dos voces", para hacer más intenso el amor intergeneracional. Formato: 22.0 x 22.0 cm

* Derecho Administrativo General

Autor: Marcelo Rebelo de Sousa e André Salgado de Matos Traducción al Español de Martha Esperanza Ramos de Echandía

Primer tomo que contiene la introducción al derecho administrativo portugués y sus principios fundamentales. Expone las ideas y conocimientos adquiridos en las clases dictadas por los autores en la facultad de Derecho de la Universidad de Lisboa. Formato: 17.5 x 25.0 cm

* Comunicações

Lemos no blog http://paulocoelhoblog.com um texto interessante de Paulo Coelho sobre o tradutor, com o título O Outro

Lado da Torre de Babel, cuja leitura recomendamos. Aqui apenas divulgamos as duas pequenas passagens: “Hoje é dia 9 de outubro de 2004, a cidade chama-se Oshakan, e a Arménia, pelo que sei, é o único lugar do mundo que

declara feriado nacional e celebra em grande estilo o Dia do Santo Tradutor, São Mesrob. Além de ter criado o alfabeto arménio (a língua já existia, mas apenas na forma oral), dedicou a sua vida a passar para o seu idioma natal os mais importantes textos da época - que eram escritos em grego, persa ou cirílico. Ele e os seus discípulos dedicaram-se à gigantesca tarefa de traduzir a Bíblia e os principais clássicos da literatura do seu tempo. A partir daquele momento, a cultura do país ganhou a sua própria identidade, que se mantém até hoje.”

(…) “Quando o Homem mostrou a sua arrogância, Deus destruiu a Torre de Babel e todos passaram a falar línguas diferentes.

Mas na Sua infinita graça, criou também um tipo de gente que iria reconstruir estas pontes, permitir o diálogo e a difusão do pensamento humano. Este homem (ou mulher) cujo nome raramente nos damos ao trabalho de saber quando abrimos um livro estrangeiro: o tradutor.”

Paulo Coelho in O Outro Lado da Torre de Babel

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Recebemos do nosso amigo Jacinto Tinoco, Presidente de Associação Cultural Luso-Timorense, o seguinte texto publicado pela Lusa:

CPLP precisa fazer mais para defender a língua portuguesa ― Presidente da Fretilin —

MSE – ZO - Lusa Díli, 05 mai (Lusa) - O presidente da Frente Revolucionária

do Timor-Leste Independente (Fretilin), Francisco Guterres Lu Olo, afirmou hoje, dia da Língua Portuguesa, que a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa precisa de fazer mais para defender o português.

"Há ainda muito a fazer pela defesa de uma língua que é nossa, pela defesa do nosso património comum", disse o ex-presidente do parlamento timorense em comunicado divulgado à imprensa.

Francisco Guterres Lu Olo sublinhou que na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) há "ainda cidadãos que não falam português" e que a defesa da língua é essencial para "ajudar a reforçar" a "identidade e a posição" daquela organização no mundo.

"Nos países da CPLP é possível e desejável que a língua portuguesa se consolide e que coexista em harmonia com

outros idiomas nacionais, que enriquecem as nossas sociedades. Defender a língua portuguesa e aquilo que nos é comum não significa desrespeitar ou ignorar aquilo que nos é próprio, de cada país", disse.

Para Francisco Guterres Lu Olo, Timor-Leste precisa também de fazer "mais e melhor pela promoção e defesa da língua", salientando que o Estado timorense deveria prestar mais atenção ao dia da Língua Portuguesa, que não foi comemorado pelas autoridades timorenses.

O Dia da Língua Portuguesa foi assinalado em Díli pelo Camões - Instituto da Cooperação e da Língua - com a projeção do documentário "Língua - Vidas em Português", de Victor Lopes, e com uma mostra de gastronomia portuguesa.

Nota do Jornal da APT: podem ler mais sobre Timor-

Leste em Timor Lorosae Nação

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A Direcção da APT agradece ao autor a autorização para divulgar no Jornal da APT o texto lido no Teet. Consta da sua biografia que Kelli Semolini nasceu em São Carlos, em 1983, e desde muito nova se interessa por inglês, que começou a ensinar antes de entrar na UNESP, em Araraquara, em 2002. Na faculdade, além de se aprofundar no inglês e no português, aprendeu a jogar truco. Ao se formar, continuou com as aulas de inglês, mas começou a procurar serviços de tradução e revisão.

ABC de como se tornar tradutor Kelli Semolini

Toda semana recebemos e-mails de pessoas que querem ser

tradutoras. Para alguns, é possível prever um futuro brilhante já pela apresentação. A grande maioria, no entanto (e como é comum em qualquer profissão), chega a dar desespero. Gente que diz que “visitou” cursos de tradução, que não sabe inglês tão bem assim, que não sabe procurar informação sobre cursos no Google, que diz que leu o blog todo e faz uma pergunta já respondida umas 357,48 vezes. Tem os que pontuam impecavelmente, tem os que escrevem mais de cem palavras sem uma vírgula sequer. Para uns, dá gosto responder. Em outros casos, a vontade maior é encostar ali no cantinho e morrer, seja de rir ou de chorar. Pensando nesses muitos e-mails, decidimos escrever o ABC de como se tornar tradutor. O texto principal é meu, com palpites do Danilo. Espero que gostem.

Tradutor não tem idade. Aliás, quanto mais velho, melhor: experiência de vida conta MUITO na hora de traduzir. O Danilo cansa de me falar aquele ditado que diz que mais sabe o diabo por ser velho que por ser diabo. É por aí. Isso não quer dizer, em absoluto, que os jovens não possam traduzir. É só um “plus a mais” que os mais velhos têm.

Tradutor não tem endereço. Contanto que você tenha banda larga, pode traduzir de qualquer lugar do mundo, seja uma grande metrópole ou Xiririquinha da Serra. Moro em São Carlos e não tenho um único cliente na minha cidade; o Danilo mora em São Bernardo e também não tem. Coisa mais

século XX isso de achar que tem que trabalhar só com clientes da mesma cidade! Depois da Internet isso não existe mais, sinto informar. Nem sequer conheço meus clientes pessoalmente.

Tradução não é profissão regulamentada. Então, tanto faz se você é formado em Letras, Tradução ou Física Quântica Aplicada aos Guaxinins do Deserto do Saara.

Existem os prós e os contras de qualquer formação (ou falta de). A vantagem dos formados em Letras e/ou Tradução é que talvez (taaaalvez), com um conhecimento mais aprofundado de Linguística, Gramática, Análise do Discurso e mil outras disciplinas teóricas, eles tenham mais base para brincar com as palavras sem ferir a norma culta, por exemplo.

Mas formados em Letras e Tradução não têm uma coisa que os formados em outras áreas têm: nicho. Se você fez Direito, oras, vá traduzir textos jurídicos! Dá uma boa grana. Se fez Engenharia, tem tanta coisa de porca e parafuso por traduzir! E assim em todas as áreas. Talvez, muito provavelmente, vai ser preciso estudar português muito mais do que os formados em Letras; mas eles têm que estudar a área a traduzir, então acaba ficando elas por elas, com a possível exceção da tradução literária ou de filmes.

Mas não se anime muito, não há tanta tradução literária assim e uma boa parte dos audivisuais a traduzir, seja legenda, dublagem ou voiceover, é de cursos de treinamento em assuntos técnicos. Se você não tem formação alguma…

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bom, o Danilo também não tem e aprendeu contabilidade a força — e o pior é que eu estou indo pelo mesmo caminho. É o caminho mais árduo, mais difícil, mas quem disse que ia ser fácil? Mãos à obra, meu povo.

Todo tradutor “ama” línguas (idiomas, sua mente suja). Isso não é, nem nunca foi, diferencial para quem quer traduzir. Não tem como passar a vida trabalhando com idiomas sem ter amor por eles. Mas “amar” línguas não é suficiente. Nem de longe. Aliás, o mundo tá cheinho de gente que adora inglês mas não sabe traduzir. Porque não basta amar inglês, ser fluente em francês ou ter morado vinte anos na Alemanha. Também não basta saber escrever brilhantemente em português, embora isso seja pré-requisito. Para traduzir, é necessário, fundamental e vital ter habilidade para ler o que o autor não quer dizer, mas é obrigado — e aprender a reescrever tudo na língua de chegada, no estilinho apropriado. É preciso saber olhar um texto e enxergar além da maquiagem, cada defeitinho, cada gordurinha disfarçada. E, infelizmente, é uma habilidade que eu nunca vi alguém aprender na escola.

Tem tradutor, principalmente entre os mais velhos, mas não só, que se orgulha de não saber usar o computador direito. Tenho uma novidade: computador não é uma máquina de escrever mais molinha ou mais bonita. Aprenda a usar o Word, tem recursos fenomenais. Aprenda a usar as marcas de revisão. Aprenda a mexer com tabelas, tabulação, folhas de estilo, paragrafação. Aprenda a trabalhar com pdfs, mesmo os mais ferrados, porque os simples, bom, os simples qualquer

um faz. Aprenda, acima de tudo, o que são e como funcionam as CATs. Experimente várias, escolha a que melhor combina com você e seu bolso. Tem para todos os gostos. Tudo isso é necessário para poder oferecer ao seu cliente, agência ou direto, um serviço diferenciado.

Acho que a pergunta que os tradutores mais temem, daquelas que os iniciantes/aspirantes sempre fazem, é sobre conseguir clientes. Não por se sentirem ameaçados, que tradutor bom sempre se vira, mesmo que perca o cliente. Arruma outro. Eu, particularmente, não gosto dessa pergunta porque, em primeiro lugar, nunca perguntei nem ninguém nunca me falou. Como se consegue trabalho em outras áreas? Mandando currículos, conhecendo gente da área, construindo sua rede de contatos? Pois é, em tradução não é diferente. Você pode ser o tradutor mais brilhante do mundo. Mesmo assim, se não se mostrar, se não for atrás, se não houver esforço e marketing da sua parte, vai passar fome. Estou cansada de ver tradutor nem tão bom assim com serviço vazando pelo ladrão. São bons vendedores de si mesmos, e isso é algo que eu respeito. Se eles, com serviço assim meio mais ou menos, conseguem clientes, por que você, um tradutor dos bons, não conseguiria? Mostre-se. Participe de eventos, tanto de tradutores quanto da sua área de especialidade. Você trabalha em casa, mas o contato com o mundo exterior é fundamental. E, por último, tenha em mente que não se constrói uma carreira de sucesso em duas semanas. A persistência é a chave.

* Transcrevemos a série de respostas a jovens tradutores da autoria do tradutor profissional brasileiro Danilo Nogueira.

Mantivemos os erros de português dos entusiastas à tradução:

RespostaaumjovemquepensaemsertradutorDanilo Nogueira

2007—2008

“Recebi ontem a mensagem abaixo. Respondo aqui, respeitando o anonimato do autor.” Meu nome é … tenho 17 anos, e estou começando este ano o terceiro colegial…. Sempre me dei muito bem com o inglês, faço curso

há 10 anos, sendo que na metade deste ano termino o curso completamente…. Depois disso vem a faculdade… sempre mexi bem com computadores…. mas a faculdade em si é outra coisa…. Quando vi sobre o

curso de Tradução… me entusiasmei… mas tenho parentes no exterior… e me dizem que a profissão não é boa…. que ganha muito mal… etc… Bem… eu moro em…, uma cidade no interior de São Paulo… mas me parece que naum preciso me locomover para consiguir clientes, sendo tradutor free lance, ou não? gostaria de saber como isso funciona… mas o que você me diz sobre isso? acha que Tradução é um curso bom? Quantas e quais línguas o senhor acha necessário saber hoje para ser um bom tradutor? desculpe a minha pergunta, mas é uma profissão de salário bom? E por último, quais as melhores faculdades desse curso???

“Pensando no futuro bem cedo, não? Isso é ótimo. Não posso dizer a você o que fazer da sua vida, não sou consultor de carreira; mas

sempre posso dizer algumas verdades que podem ajudar você a tomar uma decisão. Na tradução, como em qualquer outra área, o grau de sucesso profissional vai do fracasso total (“tenho diploma de X, nunca consegui

serviço na minha área”) a um grande sucesso (“ainda estava na faculdade quando comecei a trabalhar na minha profissão”). Não se fica rico traduzindo, mas vivo exclusivamente das minhas traduçõezinhas há quase quarenta anos e estou até que bem gorducho. É necessário profissionalizar-se, quer dizer, tradução não é bico. Ou você é tradutor profissional, ou não é.

Nem todo mundo leva jeito para profissional da tradução. Precisa muita disciplina, vontade de pesquisar, habilidade para gerenciar finanças pessoais e clientes, quer dizer, uma porção de qualidades que muita gente não tem. E os serviços mais bem pagos vão para os profissionais, para a gente que investiu muito tempo e dinheiro para cobrir aquele enorme buraco que separa o “saber inglês” do “ser tradutor”. Aliás, traduzo exclusivamente finanças e inglês e não me falta serviço.

Não há nada de especial em “morar no interior e trabalhar no exterior”. Como tradutor, você “mora” na Internet e pode tanto ter clientes num país como em outro. Tenho clientes em quatro países e estou longe de ser uma exceção. Curiosamente, não tenho um só cliente na região em que moro e raramente me aparece algo da cidade de São Paulo, que fica aqui do lado. Quanto ao número de línguas, o grosso do mercado é inglês, depois vem o espanhol e, em seguida, francês alemão e italiano, mais ou

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menos nessa ordem. Se você tem um grande amor, digamos, pelo búlgaro, estude e, se aparecer uma tradução, faça. Mas viver de búlgaro é impossível. Nesse caso, você teria que fazer uma outra “das grandes” para ganhar dinheiro.

Por outro lado, saber várias línguas não é a solução, porque é muito difícil saber várias línguas no nível necessário para traduzir e, além disso, cada língua exige um investimentozinho a mais. Porém, o que limita o seu ganho é o número de horas que você consegue trabalhar, não o número de línguas que você conhece. Saber cinco línguas é como ter um táxi, uma carreta, um furgão e um micro-ônibus: como você não pode dirigir todos ao mesmo tempo, acaba sendo um mau investimento.

Por fim, não sou especialista em cursos, mas a UNESP, em São José do Rio Preto, bem aí perto de você, tem um curso de excelente reputação. Vale a pena ir lá ver como é.

Obrigado pela visita e, por hoje, é só. Volte amanhã que tem mais. Não se esqueça de dar uma olhada na pausa para os comerciais, aqui abaixo, onde, por incrível que pareça, há um evento grátis. Estamos em promoção.”

Mais uma pergunta de outra anónima:

Olá! Tenho 18 anos e admiro muito o trabalho dos tradutores. Eu não falo aquelas coisas de inglês e nem entendo muito bem sobre literatura, mas tenho um desejo enorme de ser tradutora. Gostaria de saber se para dublar filmes a faculdade certa seria mesmo tradutor e intérprete e como andam as vagas para esse tipo de dublagem.

Não me importo com o salário eu me importo mais com o reconhecimento com a motivação e acho q isso sim tem nessa profissão porque senão você também talves não estaria onde você está,se esta é porque você gosta.

E gostaria de saber também se depois disso teria que fazer letras ou talves cinema e vídeo….. Obrigada!

Aguardo anciosamente sua resposta.

Pergunta de uma jovem de nome Tamara, com data de Junho 10, 2008: olá! como vai? eu tenho 17 anos e estou cursando o 3° ano do ensino medio. Sou uma pessoa que sempre tive um facínio por líguas

estrangeiras. Sei que em tradução existem os bons profissionais e os ruins também. Gostaria muito de ser tradutora principalmente de filmes e canais de Tv á cabo. Será que existe um bom mercado para esse ramo em um outro país além do Brasil? O senhor acha que é preciso encarar esse tipo de profissão como um segundo emprego e estar trabalhando como professor de línguas por exemplo, para conseguir um bom retorno financeiro?

obrigada. atenciosamente.

Pergunta de uma jovem de nome Geisi, com data de Setembro 10, 2009 Sr Danilo Nogueira, adorei os comentarios feitos nesse site e principalmente das suas honestas respostas. tenho 22 anos e gostaria de iniciar o

curso de Letras no ano que vem, meu sonho é ser tradutor interprete em alemão, quais as chances que tenho de conseguir trabalho nessa area ? outra pergunta: na minha cidade o curso de Letras é só Ingles e Portugues tem como eu fazer o curso aqui e depois me especializar em alemao?

desde ja obrigada Mail de um estudante de tradução, com data de Novembro 16, 2009: olá a todos! Estou a fazer o Mestrado em Estudos de Tradução e já concluí a minha licenciatura em Tradução. Por isso,

quero dizer-vos que ser tradutor não é apenas passar de um língua para outra. Exige técnicas, muito conhecimento e cultura. Não pensam que ao tirar um curso de Tradução vão saber traduzir. Longe disso. A faculdade ajudou-me muito, aprendi muita coisa sobre tradução, normas, metodologias, mas o que é isso se não saber se exprimir bem na sua língua. É por isso que digo: comecem desde já a escrever e a ler muito. O vosso português tem que ser perfeito. Não estou de maneira nenhuma a desanimar alguém, apenas estou a tentar abrir os olhos a muitas pessoas, já que ninguém fez isso comigo. O curso é duro, mas se tiver interesse, estudar e pesquisar muito vão conseguir ser bons tradutores. Boa sorte para todos!!

*

Cartas à Direcção

“A lei da rolha”

A censura chegou ao mundo da tradução. Acima falámos de tradutores que são mal pagos. Todos sentimos na pele este facto. Porém a situação é tal, que já nos damos por contentes quando recebemos alguma coisa. Mesmo que seja uma fracção do acordado.

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Pois bem, parece que a escala subiu (ou desceu) um grau. Sempre foi moda as empresas de tradução não pagarem aos tradutores. Porém, o vento está a mudar de feição. Confiando no novo clima de impunidade, começam a urgir empresas caloteiras que apresentam queixa-crime na Polícia Judiciária e na Autoridade da Concorrência contra os tradutores que denunciam as dívidas dessas empresas.

À imagem de outros profissionais, as conversas entre tradutores acabam, frequentemente, por falar das remunerações. Todos

sabemos que os tradutores são mal pagos. Quando são pagos, quando têm sorte e recebem a remuneração negociada. Quando têm azar, não recebem nada e ainda por cima são perseguidos judicialmente, como vimos acima.

Alguns sócios acusam a Direcção da APT de não ir para a rua de espada na mão lutar contra as empresas de tradução e exigir melhores remunerações. Os nossos colegas intérpretes queixam-se do mesmo. Aqui divulgamos um excerto de um relatório interno da AIIC:

" Let me also inform you that yesterday I accompanied xxxx to a meeting with EUATC (European Union of Associations

of Translation Companies) for a first contact meeting where we tried to put our point of view about worsening rates of pay and working conditions in the industry (many of the companies which are members of these associations also deal with interpreting: such as Capita in the UK and Concorde in the NL). Contrary to the stony silence which we had expected, there was quite a lively debate and we think that some of those around the table understood our point that if translation and interpretation in some areas are done by poor non-professionals then the whole industry will suffer in the end - including them. In the case of the justice sector of course, it's also a question of the possible miscarriage of justice".

*

Recebemos de uma sócia a sugestão de a APT ter um pavilhão na Feira do Livro. É uma ideia a explorar de futuro. A Feira do Livro de Lisboa é organizada pela Associação Portuguesa de Editores e Livreiros e visa vender a mercadoria dos

seus sócios. Alguns editores organizam sessões com tradutores de livros por si publicados. Uma ou duas vezes convidaram a APT para participar em mesas redondas sobre a tradução. Por definição, a Feira do Livro não está aberta à APT.

Caso os sócios queiram divulgar as suas traduções na Feira, a organização costuma ter um pavilhão para pequenos editores e autores por conta própria. Para o ano, os tradutores interessados podem dirigir-se directamente à APEL e pedir para expor os seus livros num desses pavilhões. Também podem expor os livros nos pavilhões das editoras que publicaram as suas traduções.

*

Recebemos em Abril último uma Carta Aberta à APT de uma colega denunciando que fez uma tradução e que o cliente não quis pagar. Segundo este, “apesar do excelente francês, faltava-lhe os termos técnicos apropriados, que ele próprio teve de corrigir”. E, segundo a colega, o documento teria sido utilizado pelo cliente numa apresentação pública.

A nossa colega perguntou-nos “se existe alguma lei, algo que proteja o tradutor contra este género de clientes”? Não existe.

Em Portugal não existe legislação específica para os tradutores. O tradutor tem sempre, como qualquer cidadão, o recurso à justiça. A única defesa do tradutor é mover uma acção judicial ao cliente faltoso, pagar o advogado e os custos judiciais. Ou ter um seguro profissional proibitivo, como vimos acima quando falámos do “apoio jurídico”.

Relativamente ao assunto de fundo, existem três situações: a) o tradutor é especialista na área de trabalho e, portanto, não

depende do cliente para solucionar a terminológica; b) o tradutor não é generalista e esclarece com o cliente que este deve facultar a nomenclatura; e c) o cliente disponibiliza os termos técnicos específicos no momento em que encomenda o trabalho. Esta colaboração é do interesse de ambas as partes. O que acontece na maioria dos casos. O que deve ficar claro no “contrato” é quem se responsabiliza pela terminologia adequada. Por “contrato” entende-se qualquer prova escrita das condições de trabalho, tais como prazos, revisão, remuneração, etc. A prova contratual pode ser, por exemplo, a troca de e-mails ou de fax. No caso da “contratação” telefónica, o tradutor deve listar por escrito, antes de iniciar o trabalho, o que ficou acordado e pedir ao cliente para confirmar.

Diz uma das nossas colegas que “Numa tradução técnica a entidade que pede a tradução terá de providenciar o vocabulário

técnico — de contrário, o tradutor terá de mencionar por escrito ao cliente que se torna necessária uma revisão técnica. Há tempos um colega tradutor pediu-me para ser testemunha dele em tribunal devido a um caso semelhante em que ele foi o réu. O cliente exigia-lhe mesmo uma indemnização — a tradução tinha sido de um manual de uma máquina e embora ele exigisse conhecer a máquina isso foi-lhe sempre negado pelo cliente. Acabou por ganhar o processo mas após 3 anos, teve de pagar a advogado, etc. As traduções técnicas de matérias que não conhecemos são sempre um risco”.

Nem sempre o cliente conhece a terminologia técnica. Por isso precisa de ter acesso ao texto estrangeiro, isto é, precisa da

tradução.

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* Publicamos a pergunta de uma autora e a resposta da eventual tradutora: — “ Tenho um romance de 600 páginas, que já finalizei, e preciso de o traduzir para o inglês. Gostaria de saber o preço para

essa tarefa”. — Lamento, mas não posso aceitar fazer a tradução do seu livro, e não conheço ninguém que queira aceitar essa tarefa. É

provável que encontre muita gente disposta a aceitar o encargo, mas raros terão o conhecimento e experiência exigidos pela empreitada. A maioria das pessoas que se considera à altura de um trabalho dessa envergadura, simplesmente não tem autocrítica.

A maioria dos tradutores não cobra por página. Há que ver que o número de palavras por página varia dependendo da formatação que o autor deu ao livro (tamanho da fonte, margens, entrelinhas, espaços em branco).

A tendência atual do mercado é cobrar por palavra. Aliás, o próprio programa de processamento de texto conta as palavras. Procure profissionais tarimbados que já tenham obra traduzida e longa experiência, e não entregue essa tarefa a quem lhe

apresenta um orçamento mais em conta, pois uma tradução de má qualidade e barata pode tornar-se caríssima. Comentário da APT: Um tradutor tem de saber dizer NÃO.

*

Recebemos de um sócio a carta que segue, que serve de aviso para todos os tradutores:

Caros Colegas, “Sou tradutor de língua árabe, membro da APT desde 2009, e venho por este meio pedir o vosso conselho e o vosso apoio

num assunto de tradução. Recebi no mês de Janeiro de 2013, uma solicitação de orçamento para realizar uma tradução de português para o árabe.

Entreguei de facto o orçamento que foi aceite pela empresa espanhola, que me enviou um Puchaseorder como prova de adjudicação. Acabei a tradução dentro do prazo adjudicado, o director da empresa pediu 45 dias para pagar os meus honorários. Pediu também o recibo verde ou a factura, que foi efectivamente entregue no mesmo dia da solicitação. Aguardei mais de 50 dias sem receber nada. Fartei-me de ligar para o mencionado director espanhol que tem outra empresa cá em Portugal. Mas a resposta dele foi: Tem de esperar.

No momento desta mensagem, já passaram mais de 115 dias da data prevista para o pagamento e o director continua sem pagar os meus honorários e sem responder aos meus mails.

O que devo fazer neste caso, sabendo que tenho toda a correspondência do mencionado director da empresa de tradução? Devo seguir uma via jurídica ou outra coisa?

Aguardo a vossa resposta e o vosso conselho para saber o passo que tenho de seguir. Com os melhores cumprimentos, M. B.

Resposta da APT

Caro Colega, Infelizmente, casos como o seu são frequentes e estão a aumentar. Pode fazer o seguinte: 1.º Como o cliente tem um escritório em Portugal, pode dirigir-se ao escritório levando consigo uma testemunha, pedir para

falar com o cliente e exigir-lhe o pagamento imediato. Se ele não estiver no escritório fale com um seu representante. Entregue-lhe uma carta a pedir o pagamento e peça para carimbar uma cópia da carta como prova que entregou um exemplar do pedido. Se não resultar:

2º Enviar ao cliente uma carta registada com aviso de recepção dando-lhe o prazo de 15 dias úteis para regular o pagamento. 3º Dirigir-se ao tribunal de trabalho, levar uma CÓPIA dos documentos que tem em seu poder. Se o tribunal de trabalho não

aceitar a queixa, 4º Resta-lhe entregar o caso a um advogado e pedir-lhe para meter no tribunal uma acção sumaríssima contra o cliente, com

pedido de indemnização. Guarde bem uma cópia dos documentos porque são uma prova de “contrato de prestação de serviços”. Se ele não pagar a APT pode enviar uma carta ao cliente. Cumprimentos, APT

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Nota A legislação relativo à entrega antecipada do “recibo verde” é ambígua. O tradutor apenas deve entregar o “recibo verde” ao cliente no acto de pagamento dos honorários. Pode, quando muito,

enviar uma declaração dizendo que emitirá o original do “recibo verde” contra o pagamento dos honorários. Pode ainda anexar à declaração a fotocópia do “recibo verde” emitido em nome do cliente. Se o cliente for honesto, o tradutor não vai pagar impostos por dinheiro que não recebeu. Se o cliente não pagar, o tradutor anula o “recibo verde”. Caso o cliente não aceite a primeira alternativa, é porque tem a intenção de não pagar o devido.

Se o cliente já tiver do seu lado o “recibo verde” e não pagar ao tradutor, este deve imediatamente declarar o caso nas Finanças. Se a quantia for importante, o tradutor pode alegar que o cliente fugiu ao pagamento do IVA. Provavelmente terá uma inspecção das Finanças e aprenderá a lição.

*

Publicações Acima referimos a indignação da tradutora luso-colombiana, sócia da APT, quando constatou que os tradutores

portugueses e colombianos tinham sido excluídos da 26.ª Feira Internacional do Livro de Bogotá por um grupo de funcionários públicos, pagos pelo erário nacional, isto é, pelos impostos dos tradutores. Há 4 mil anos, não é de ontem, os faraós chegaram à conclusão que os melhores embaixadores do país eram os “línguas”, os tradutores. O Egipto fica longe, diria Eça de Queirós, e os funcionários públicos não são pagos para pensar duas vezes. Ora a tradutora Martha Esperanza é uma boa embaixatriz da cultura portuguesa na Colômbia e nos países de língua castelhana. E em Portugal, claro.

Quem é esta tradutora? Para a conhecermos melhor, podemos ver e ouvir a entrevista dada à colombiana no site: https://www.youtube.com/watch?v=ZzMGfunJ8pI&feature=youtube_gdata_player.

“El vivir en Portugal, conocer su

lengua, estudiar sus leyes e integrarme a su cultura, me ha hecho sentir la urgente necesidad de compartirles un poco de lo mucho que es Portugal, por eso he traducido para ustedes varias obras de la literatura e del derecho portugués” ― declarou a tradutora na entrevista a uma rádio de Bogotá.”

O texto de apresentação à direita é

o resumo biográfico publicado em Micrófono En Órbita, Segunda-feira, 6 de Maio de 2013.

A tradutora: Martha Esperanza Martha Esperanza, es la primera de una familia tolimense de seis hermanos: Carlos

Aníbal, médico ginecólogo, Nicolás Ignacio, médico pediatra, Fredy Alberto, ingeniero civil y abogado, Elvia Piedad, inginiera química y giovany zootécnista. Contrajo matrimonio con el periodista y dirigente liberal, Alvaro Echandia Santofimio (q.e.p.d.*).

Es una abogada y escritora colombo-portuguesa. Se formó como abogada en la

facultad de derecho de la universidad externado de Colombia en Bogotá y la facultad de derecho de la universidad de Lisboa en Portugal le concedió la equivalencia de su licenciatura. Ha ejercido la política e el periodismo. Es una distinguida jurista, representante de la intelectualidad colombiana, estudiosa de nuestra realidad.

Aprendió el portugués, en la facultad de la universidad de Lisboa y obtuvo la

nacionalidad portuguesa y en ése país europeo tiene la satisfacción de haber representado la imagen de Colombia, en diversos escenarios en forma, excelente.

Actualmente vive entre Portugal y Colombia, porque mantiene un estrecho vínculo con sus dos patrias. Entre actividades intelectuales y de servicio a sus conciudadanos, se ha dedicado a escribir.

La trayectoria de Martha Esperanza, nos revela a una mujer comprometida política y

socialmente, que se empeña en sacar adelante lo que se propone y lo consigue. Es una mujer de acción, de resultados. Alejada de la retórica. La formula de su éxito,

es la perseverancia. Posee un espíritu fuerte un carácter indomable y una tesonera voluntad siempre dispuesta a salvar todos los obstáculos, hasta lograr sus objectivos.

Una prueba de ello, es el plan de vivienda de interés social en chaparral Tolima, a quienes las 50 famílias beneficiadas, illamaron villa esperanza, porque es la materialización de lo que anhelaban y consideraban imposible.

Es miembro de APT (asociación de traductores portugueses). in: http://m.elnuevodia.com.co/nuevodia/sociales/cultural/180497-martha-ramos-nos-

acerca-al-lenguaje-de-portugal * q.e.p.d., que en paz descanse.

*

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Já 30 números

Recebemos os Cadernos de Tradução números XXIX e XXX de 2012, publicados pelo departamento de Pós-Gradução em Estudos de Tradução ― PGET da Universidade Federal de Santa Catarina, cujo Conselho Consultivo inclui o nosso sócio Francisco José Magalhães.

Recordamos que os Cadernos do Tradução começaram a ser publicados em 1996 graças ao esforço de Walter Carlos Costa e Dorothée de Bruchard e, ainda, de Marie-Hélène Catherine Torres e Mauri Furlan.

Ao longo destes 17 anos, os seus responsáveis garantiram que a revista tenha entre 200 e 400 páginas. Sendo notável em si, os 30 números têm assegurado a colaboração dos melhores especialistas do mundo, abordado todo o espectro da área da tradução e, o que a torna ainda mais humanista, é multilingue.

Os Cadernos de Tradução são, sem dúvida, a melhor revista do mundo da especialidade. Existem outras, é certo, mas nenhuma com a mesma importância.

Permitam-nos uma nota pessoal. Conhecemos o Walter Carlos Costa e Dorothée de Bruchard em Lisboa. Vinham de Inglaterra, onde o Walter acabara de obter o doutoramento, a caminho do Brasil. Das poucas horas que passámos juntos era evidente a cumplicidade do casal e o complemento. O Walter acabava uma emersão e familiarização com a cultura britânica, enquanto a Dorothée estava enfarinhada da cultura francesa. Já nessa época falaram do projecto de uma “pequena” revista de tradução. Quando saiu o primeiro número a revista não era pequena nem em tamanho nem em qualidade. Ao longo destes 30 números dos Cadernos de Tradução praticamente todos os especialistas mundiais colaboraram com os nossos amigos da Universidade de Santa Catarina.

Cadernos de Tradução

Nº 29-2012/1

Publicação semestral da Pós-graduação em Estudos da Tradução - PGET

Universidade Federal de Santa Catarina ISSN: 1414-526X

Revisão

Andréia Guerini, Anatália C. Corrêa

Capa Dorothée de Bruchard

sobre ilustração do frontispício da Bíblia traduzida para o francês por Lefèvre d'Étaples

em 1530.

Endereço para Correspondência Caixa Postal 5211 - 88040-970 -

SUMÁRIO Artigos Evolución histórica do concepto de equivalência en tradutoloxía, por Maria

Magdalena Vila Barbosa, 11 A importância do trabalho do tradutor derrida para o trabalho do filósofo

Derrida, por Eric Luciene Lima de Paulo, 31 O problema da oralidade em três traduções de Of mice and

meu, de John Steinbeck, por Johnwill Costa Faria & Válmi Hatje-Faggion 53 Investigando o processamento cognitivo de tradutores profissionais cm

tradução direta e inversa no par linguístico inglês-português, por Aline Alves Ferreira, 73

Caracterización de los hábitos de documentación terminológica de los estudiantes de traducción, por Alicia Bolaños-Medina & Ana-María Monterde-Rey, 93

Las siglas en el lenguaje económico de la prensa española generalista, por Marie-Evelyne Le Poder, 115

On the relevance of script writing basics in audiovisual translation practice and training, por Juan José Martínez-Sierra,145

Resenhas David Bellos. Le Poisson et le bananier: une histoire fabuleuse de la

traduction (por Émilie Audigier), 167 Edwin Gentzler. Translation and Identity in the Americans, New Directions

in Translation Theory (por Anabel Castelán), 176 Francis R. Jones. Poetry Translating as Expert Action: Processes, Priorities

and Networks (por Bridget O'Leary), 179 Federico Federia. Translation as Stylistic Evolution: Italo Calvino Creative

Translator of Raymond Queneau (por Andreia Guerini & Tânia Mara Moysés ), 183

Resenhas de Traduções A conversa infinita: a ausência de livro de Maurice Blanchot, Tradução de

João Moura Jr. (por Amanda Mendes Casal & Eclair Antonio Almeida Filho), 195

Entrevistas Entrevista com Horácio Costa (por Geylson Alves), 213 Entrevista com Pierre-Marc De Biasi (por Sergio Romanelli & Hanna

BetinaGõtz), 223

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Florianópolis -SC Tel:+55 XX 48 3721-6647Fax:+55 XX 48 3721-9988 E-mail: [email protected] http://www.periodicos.ufsc.br/index.php/traducao

*

SUMÁRIO

Artigos Apresentação por Christiane Stallaert & Evelyn Schuler Zea, 11 Aufführung e Aufzeichnung: arte da ciência? por Gabriele

Brandstetter , 19 Línguas ameríndias: modos e caminhos da tradução por Bruna

Franchetto, 35 Traduções e aproximações indígenas à mensagem cristã por

Dominique Tilkin Gallois, 63 O Duplo Cego da Antropologia: breve reflexão sobre o estatuto da

descrição por Jean Segata, 83 D. Pedro II tradutor: análise do processo criativo por Sérgio

Romanelli, Adriano Mafra & Rosane de Souza, 101 From Quebec to Brazil: translation as a fruitful dialogue between

"américanité" and "amerícanidade" por Marc Charron & Luise von Flotow, 119

De la matéria a la palabra: la interrelación entre la antropologia y la traducción en la producción de José Maria Arguedas por Roseli Barros Cunha, 139

Teoria e software: reflexões sobre a divisão de trabalho nas letras ontem e hoje por Márcio Seligmann-Silva,155

A inquietude do tradutor: notas sobre uma lógica das partes em La chute du ciel por Evelyn Schuler Zea , 171

Bibliografia parcial por Christiane Stallaert & Evelyn Schuler Zea,

185

― * — Revisão

Andreia Guerini, Letícia Goellner, Christiane Stallaert, Evelyn Schuler Zea William Franklin Hanes (Inglês)

Capa Dorothée de Bruchard

sobre ilustração do frontispício da Bíblia traduzida para o francês por Lefèvre d'Étaples em 1530.

Endereço para Correspondência Caixa Postal 5211 - 88040-970 - Florianópolis -SC Tel: + 55 XX 48 3721-6647 Fax: +55 XX 48 3721-9988 E-mail: [email protected] http: //www .periódicos .ufsc. br/index .php/traducao

Cadernos de Tradução

Nº 30 - 2012/2

Tradução e Antropologia, Christiane Stallaert & Evelyn Schuler Zea (Orgs.)

Pós-Graduação em Estudos da Tradução - PGET

Universidade Federal de Santa Catarina ISSN: 1414-526X

*

Agradecemos aos nossos amigos Margarida Fonseca e Sílvio Oliveira o envio do nº 45 da revista magazinephilos, de Março 2013. Ao longo dos anos os directores da revista, propriedade da empresa de tradução Philos, têm assegurado uma elevada qualidade e variedade temática. Destacamos, em particular, as fotografias “de impressões de viagem” que acompanham os textos.

Contacto: [email protected]

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Índice ― Contents 3 Contra a Corrente ― Against the Current Olhares sobre 2012 A loot back at 2012 4 Questões da Qualidade ― Quality Issues Prémio da Qualidade philos 2012 5 ... da Ocidental praia lusitana" ― “... from the Western lusitanian shore" Montargil 6 Em português ― In portuguese Crónica de Carlos Castilho Pais / Chronicle by Carlos Castilho Pais 7 Gosta de flores? ― Are you a flower fan? Lírio-Tocha / Tortch Lily 8 Passatempo ― For fun 9 Crónica das Leiras ― Leiras' farm chronicle O coelhinho saltitão The bouncing bunny 10 An Enghishman in Lisbon ― Um inglês em Lisboa? 11 Biblioteca ― Library

(Re)leituras ― (Re)Reading Poemas de Vida ― Lifetime Poems 12 Daqui houve nome Portugal ― From here Portugal got its name Questões de capital importância Quetions of capital importance

13 Tradumática ― Tradumatics GALA 2013 / 2013 GALA 14 Artes ― Arts 15 Impressões de Viagem ― Travel Musing Brno ― in Kundera’s imanginary space

* A Direcção da APT agradece ao poeta, tradutor e editor Francisco Acuyo o convite para o lançamento dos seus dois

últimos livros, que aqui divulgamos. A sua obra está traduzida para português, inglês, francês, polaco e russo. Em os vários poemas traduzidos para português, referimos, entre outros,“Quatro poemas para uma antología, Hykma,

Revista de traducción, nº 9, Universidad de Córdoba, 2010, ISSN: 1579-9794.

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Para Rir

Aula de Alemão A língua alemã é relativamente fácil. Quem sabe Latim e está habituado com as declinações, pode aprendê-la sem grandes dificuldades - ao menos é o que os

professores de alemão dizem em suas primeiras aulas. Em seguida, quando começamos a estudar os der, des, den, dem, die, eles dizem que é moleza: tudo é apenas uma questão de

lógica. Realmente é muito simples; podemos constatar isso no exemplo que agora passamos a examinar. Tomemos um honesto livro alemão: um volume magnífico, encadernado em couro, publicado em Dortmund, que descreve

os usos e costumes dos hotentotes (em Alemão, hottentotten). O livro nos conta que os cangurus, Beutelratten, são capturados e colocados em jaulas, Kotter, cobertas de um tecido,

Lattengitter, para abrigá-los do mau tempo. Essas jaulas são chamadas, em Alemão, "jaulas cobertas de tecido", Lattengitterkotter; assim que botam um canguru dentro

delas, ele é chamado Lattengitterkotterbeutelratten, "o canguru da jaula coberta de tecido". Um dia os hotentotes capturaram um assassino, Attentater, acusado de ter matado uma mãe, Mutter, hotentote -

Hottentottermutter -, que tinha um filho tonto e gago, stottertrottel. Essa pobre mãe se chama, em alemão, Hottentottenstottertrottelmutter, e seu assassino é chamado de

Hottentottenstottertrottelmutterattentater. A polícia prendeu o assassino e o enfiou provisoriamente numa gaiola de canguru, Beutelrattenlattengitterkotter, mas o

prisioneiro escapou. As buscas mal tinham começado, quando surgiu um guerreiro hotentote, gritando: ― Capturei o Attentater (assassino)! ― Sim? Qual? - perguntou o chefe. ― O Lattengitterkotterbeutelratterattentater ! respondeu o guerreiro. ― Como assim? O assassino que estava na jaula de cangurus coberta de tecido? perguntou o chefe dos hotentotes. ― É, sim, é o Hottentottenstottertrottelmutteratentater (o assassino da mãe hotentote de um menino tonto e gago)... respondeu o nativo. ― Ora , respondeu o chefe, tu poderias ter dito desde o início que tinhas capturado o Hottentotterstottertrottelmutterlattengitterkotterbeutelrattenattentater. Como dá para ver, o Alemão é uma língua fácil; basta a gente se interessar um pouquinho... (Repasse com os devidos créditos) Fonte: www.azideias.net ― Formatação: Mima (Wilma) Badan ― [email protected] ― Música: The Cuckoo

Waltz ― Interpretação: Floyd Cramer ― www.mimabadan.blogspot.com ― www.slideshare.net/mimabadan

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Très mauvaises traductions anglais-français. Vive le bilinguisme!

Le Mercredi 6 mai 2009 Transcrevemos abaixo uma “peça”, com data de Maio 2009, publicada por AmériQuébec com o título: Très mauvaises

traductions anglais-français. Vive le bilinguisme! seguido do comentário « Polissez la saucisse, sac de blanchisserie du bébé, insérer le magicien de CD et de course, et revendeur de drogue de neige… Ces produits vous disent-ils quelque chose? Pourtant, ils se vendent sur le marché! »

Quand la traduction n’est pas professionnelle Aujourd’hui, au Québec, il vaut mieux être BILINGUE! Voici à ce titre quelques exemples de mauvaises traductions de

produits qui se vendent sur le marché. On se rend vite compte que certaines compagnies n’ont aucune considération pour la clientèle francophone.

N’hésitez pas à faire circuler ces images et à boycotter les compagnies qui ne se donnent pas la peine de se payer ne serait-ce qu’un traducteur et qui se contentent plutôt d’utiliser des traducteurs automatiques sur internet.

Polissez la saucisse! Vos assiettes sont-elles « coffre-fort de lave-vaisselle » ?

Qui n’a jamais lu la notice ou l’étiquette d’un produit sans comprendre la moitié de ce qui était écrit ? Les mauvaises traductions ne sont pas un mythe. Le célèbre « Made in Turkey » (Fabriqué en Turquie) traduit par « Fait en dinde » existe bel et bien.

Comment est-ce possible ? Ce ne sont tout simplement pas des traducteurs professionnels qui effectuent ces traductions, ni des traducteurs dont la langue « cible » est la langue maternelle. Parfois même, certaines sociétés font appel à des personnes qui ne parlent même pas la langue mais qui cherchent directement les mots dans les dictionnaires, sans comprendre, donnant ainsi naissance à des traductions très comiques.

L’importance d’une traduction de qualité, effectuée par des traducteurs professionnels formés à la traduction ou ayant une longue expérience dans ce domaine, n’est plus à prouver. Et pourtant, les photos ci-dessus semblent montrer qu’il y a encore du chemin à faire… Jugez par vous-même !

« Nut » traduit par « écrou » au lieu de « noix »… Un gâteau aux écrous, ça vous tente ?

« Polish » traduit par le verbe « polir » au lieu de l’adjectif « polonais » (Saucisse polonaise / de Pologne).

On peut lire en plus petit: “La blanchisserie du bébé de

subsistance dans la commande pendant laver et sécher fait un

cycle!”

Pas coffre-fort à micro-ondes Plutôt que de dire que cela ne va pas au micro-ondes…

Posez l’appartement pour

vous sécher

“La machine lave le froid.” Et surtout, “Ne tombez pas secs”

et “Ne vous séchez pas propre”.

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Et même de grandes enseignes préfèrent payer un peu moins cher leurs traductions… même si au final cela ne veut rien dire!

Pour les mauvaises traductions en anglais (certaines sont très drôles). Pour conclure, en effet certaines mauvaises traductions peuvent s’avérer comiques. N’oublions pas cependant les cas pour

lesquels les conséquences d’une mauvaise traduction peuvent être extrêmement importantes : notices d’appareils médicaux, listes d’ingrédients d’un produit (pour les personnes allergiques notamment), contrats, bilans et rapports annuels de sociétés, spécifications techniques dans des domaines comme l’aéronautique ou l’automobile, etc. On sous-estime souvent le rôle de la traduction dans notre monde.

Enfin, même si certaines mauvaises traductions sont sans conséquences « graves », qu’en est-il du manque de respect par rapport au public cible qui ne comprend pas comment utiliser le produit qu’il vient d’acheter ?

Aussi, nous le proclamons haut et fort : la traduction est un véritable métier !

* Lemos na HUMANITATES — Uma publicação do Centro de Ciências de Edução e Humanidades — CCEH Universidade

Católica de Brasília –UCB — Volume 1 — Número 2 -Novembro 2OO4 — ISSN 18O7-538X

Traduzir Poesia Virgílio Pereira de Almeida

Se o livro Traduzir poesia, de Anderson Braga Horta, apenas trouxesse seus vários poemas em versão bilíngüe, a original e a

do autor, já seria uma grande obra para os interessados em poesias e em tradução das mesmas. Entretanto, Horta enriquece a obra de maneira especial ao incluir vários textos sobre o mister de tradutor de poesia. Provenientes de palestras proferidas pelo autor e de apresentações de outros livros de poemas traduzidos por vários poetas, os textos sobre tradução às poesias mostram, de maneira didática e esclarecedora, os desafios que o tradutor de poesia enfrenta em seu trabalho.

O autor, que na introdução ao livro confessa não dominar nenhum dos idiomas dos quais traduz — o espanhol, o francês, o

alemão, o italiano e o inglês —, prova em seu trabalho a máxima que afirma que o bom tradutor é o grande conhecedor não da língua da qual traduz, mas daquela para a qual traduz. E Horta o faz com maestria, mas não sem dificuldades. Essas, o autor exemplifica com os vários caminhos que toma antes de chegar à versão que mais lhe agrada.

No primeiro texto — prefácio a Poesia Francesa: Pequena Antologia bilíngue — de José Jeronymo Rivera — não responde

ao desafio de justificar a tradução de poesias. Com conhecimento de causa, o autor descreve os problemas que o tradutor de poesia enfrenta citando mestres da (teoria da) tradução como Paulo Rónai e Valentín Garcia.

No segundo texto da obra — dobras da capa de Poemas Necessários, de Ángel Crespo, traduzidos por Domingos Carvalho

da Silva — Anderson Braga Horta analisa a falaciosa facilidade de se traduzir poemas entre línguas tão semelhantes quanto o espanhol e o português.

O texto seguinte refere-se a uma palestra proferida por Horta na Associação-Nacional de Escritores em 2001 e se intitula

Dilemas de um tradutor. A palestra versa sobre o praticamente insolúvel embate entre a forma e o conteúdo na tradução de poesia. Com inúmeros exemplos de várias versões para o mesmo original — incluindo seu primeiro trabalho, como tradutor, quando ainda era estudante de Direito e venceu um concurso de tradução promovido pelo Centro Acadêmico —, o autor ilustra tal embate, ora cedendo à forma, ora ao conteúdo.

No texto seguinte, intitulado Traduzindo um soneto ilustre, Anderson Braga Horta enfatiza a imperial necessidade de o

tradutor estar absolutamente atento ao texto que traduz sob o risco de cometer cincadas indesculpáveis. O soneto ilustre do título trata-se de obra de Quevedo, Amor constante mas allá de la muerte.

O último texto do livro trata-se de palestra novamente pronunciada na Associação Nacional de Escritores em 2002 e se

intitula Razões de traduzir. Duas questões servem de pretexto para o desenvolvimento da palestra: poesia é ou não é traduzível? e por que traduzir poesia? Mais uma vez com exemplos vários, Anderson Braga Horta aponta os desafios e os desembaraços possíveis ao tradutor.

Através da história, muitos foram os teóricos e também poetas que defenderam a intraduzibilidade da poesia. O poeta norte-

americano Robert Frost, por exemplo, dizia que poesia é o que se perde na tradução. Horta, entretanto, defende que traduzir poesia equivale a criar poesia. "Traduzir é, além do mais, um ato lúdico, à semelhança do ato de compor poesia original... que é, por sua vez, uma forma do tradução, a tradução primeira, da nebulosa que gira no espírito do poeta (que nele se gerou? ou que se fisgou sabe-se lá de onde) para a organicidade do poema." (p. 131)

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O restante do livro, Anderson Braga Horta o recheia de poemas em versões bilíngües de qua autoria. Dentre os poetas traduzidos pelo autor estão Charles Baudelaire, Francisco de Quevedo., Francesco Petrarca, Jean-Arthur Rimbaud, Jorge Luis Borges, Octavio Paz, Pablo Neruda, Paul Verlaine, Rainer Maria Rilke, Ruben Darío, William Blake e William Shakespeare.

* Entrevista à Revista Tradução & Comunicação

Anderson Braga Horta *

Anderson Braga Horta, filho dos poetas Anderson de Araújo Horta e Maria Braga Horta, nasceu em Carangola, Estado de Minas Gerais, em 17 de novembro de 1934. Morou em várias cidades mineiras, no Rio de Janeiro, na Cidade de Goiás e em Goiânia. Está hoje em Brasília. É poeta, contista e ensaísta.

Seus livros Altiplano e Outros Poemas (1971), Marvário (1976), Incomunicação (1977), Exercícios de Homem (1978), Cronoscópio (1983), O Cordeiro e a Nuvem (1984), O Pássaro no Aquário (1990) e outros até então inéditos foram enfeixados em Fragmentos da Paixão – Poemas Reunidos (Massao Ohno, São Paulo, 2000). Além disso, publicou Dos Sonetos na Corda de Sol (EGM–Guararapes, 1999), Pulso (Barcarola, São Paulo, 2000), Quarteto Arcaico e Trinta e Três Sonetos (EGM, 2000 e 2001), Antologia Pessoal (Thesaurus, Brasília, 2001), 50 Poemas Escolhidos pelo Autor (Galo Branco, Rio, 2003), Soneto Antigo (Thesaurus / FAC, 2009), Signo – Antologia Metapoética (Thesaurus / FAC, 2010).

Em prosa, pela Thesaurus / Fundo da Arte e da Cultura: A Aventura Espiritual de Álvares de Azevedo: Estudo e Antologia (2002), Sob o Signo da Poesia: Literatura em Brasília (2003), Testemunho & Participação: Ensaio e Crítica Literária (2005), Criadores de Mantras: Ensaios e Conferências (2007) e os contos de Pulso Instantâneo (2008).

Como tradutor, lançou Traduzir Poesia (Thesaurus,

2004); e em parceria, entre outros: Poetas do Século de Ouro Espanhol, com Fernando Mendes Vianna e José Jeronymo Rivera; estudo introdutório de Manuel Morillo Caballero (Thesaurus / Consejería de Educación y Ciencia de la Embajada de España, Brasília, 2000); Poetas Portugueses y Brasileños de los Simbolistas a los Modernistas, org. de José Augusto Seabra (Instituto Camões / Embaixada de Portugal em Buenos Aires / Thesaurus Editora de Brasília, 2002; versão para o espanhol, com Rodolfo Alonso, José Jeronymo Rivera, José Antonio Pérez, Kori Bolivia, Manuel Graña Etcheverry, Rumen Stoyanov e Ángel Crespo; notas sobre os poetas brasileiros por José Santiago Naud); Victor Hugo: Dois Séculos de Poesia, com Fernando Mendes Vianna e José Jeronymo Rivera (Thesaurus, 2002); O Sátiro e Outros Poemas de Victor Hugo, também com FMV e JJR (Edições Galo Branco, Rio de Janeiro, 2002); Antologia Pessoal de Rodolfo Alonso, com José Augusto Seabra e José Jeronymo Rivera (Thesaurus, Brasília, 2003); Contos de Tenetz, antologia de Yordan Raditchkov, com Rumen Stoyanov (Thesaurus, 2004); História dos Ideais, de Eduardo Mora-Anda (Thesaurus, 2006); Antologia Poética Ibero-Americana, com Fernando Mendes Vianna e José Jeronymo Rivera, org. de Pavel Égüez (Asociación de Agregados Culturales Iberoamericanos, Cuiabá, 2006).

Revista Tradução e Comunicação (RTC): Como e desde quando iniciou sua atividade de tradutor e quais línguas e autores você traduz? Anderson Braga Horta (ABH): Comecei em 1957. Cursava a Faculdade Nacional de Direito e contava já mais de “sete anos de pastor”, em termos de poesia, que comecei a escrever em 1950. A revista A Época, do CACO (Centro Acadêmico Cândido de Oliveira), instituiu um concurso de tradução de um poeminha de Jean Cocteau, e resolvi participar. O prêmio me foi concedido por parecer de Carlos Drummond de Andrade. Tomei gosto. Traduzo do espanhol e do francês. Eventualmente, do italiano e do inglês. Já traduzi do alemão, que não sei... Utilizei uma edição francesa bilíngüe de poemas de Rilke e consultei o original especialmente para conferir metro, ritmo, rimas. Traduzir de tradução, particularmente se se trata de poesia, é acrescentar perigo ao perigo: não se sabe que voltas o primeiro tradutor teve de fazer, que interpretação deu às passagens mais complexas, que liberdades terá tomado. Acho que o risco não foi tão grande, no caso, porque a versão francesa de que me servi parece ter seguido o caminho da literalidade.

O mais espantoso, em minha experiência de traditore, foi ter traduzido do búlgaro, língua de que, costumo dizer por brincadeira, não conheço uma letra... Na verdade, Rumen Stoyanov tinha passado ao espanhol uma seleta de contos de seu compatriota Yordan Raditchkov e resolvemos promover-lhe, juntos, a travessia para o português. Não me limitei a verter do espanhol, mas

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esmiucei com o amigo o texto e o que poderia haver por baixo dele, pedi-lhe explicação detalhada de situações e expressões, de usos e costumes, e ao fim Rumen achou que eu devia figurar como cotradutor. (O livro é Contos de Tenetz, editado pela Thesaurus, de Brasília, em 2004.) Com isso, tornei-me uma espécie de paráfrase viva do homem que sabia javanês, de Lima Barreto... (RTC): O que representa para você o ato de traduzir? ABH: Deixando de lado o objetivo óbvio que é trazer para nossa língua (“con la corrección y naturalidad que permita la lengua a la cual se traduce”, como pontifica Valentín García Yebra) o poema originalmente composto em outra –e falo em poema porque a tradução que prefiro fazer é a de poesia–, digo que traduzir é a melhor maneira de se enfronhar na intimidade do poema, o caminho melhor para chegar a sua plena fruição. Além disso, traduzir boa poesia é quase tão deleitoso como fazer poesia, com a vantagem de não se ter de esperar pela inspiração (entenda-se cum grano salis, pois há também, como entre os poetas, tradutores e momentos mais ou menos inspirados). (RTC): Existe algum preparo ou projeto de tradução de sua parte antes de enfrentar a árdua tarefa de traduzir literatura? Procura, por exemplo, ler outras traduções e/ou obras do mesmo autor, críticas, artigos, estudos biográficos sobre ele? ABH: O tradutor deve-se valer de tudo para situar e compreender o texto sobre o qual trabalha. Apenas evito ler outras traduções antes de dar pelo menos o primeiro contorno da minha, receoso de me deixar condicionar pelo já feito. A leitura posterior pode me dar um parâmetro e, eventualmente, dirimir ou suscitar dúvidas. A tradução em terceira língua é também de consulta importante e apresenta menos risco –mas risco há sempre– de condicionamento. (RTC): Você procura privilegiar a língua de chegada, levando o autor para o leitor, ou a língua de partida, aproximando o leitor da escrita do autor? ABH: A língua de chegada é aquela em que o leitor vai

tomar conhecimento da tradução. No caso do leitor bilíngüe, o texto nela transvasado vai ser objeto de confronto com o original. Se privilegiar a língua de partida significa ceder aos seus torneios, aos seus modismos, fazê-lo seria maltratar o tradutor a própria língua. Cito novamente García Yebra, que é radical: “No puede ser buen traductor quien no sea maestro en su propia lengua.” O ideal é privilegiar na língua de chegada –o que implica bem conhecê-la, respeitá-la e amá-la– não o idioma em que foi composto, mas o sentido, as sonoridades, as conotações, o clima do texto original, recompondo-os tão eficazmente quanto se possa. A língua de chegada é a que recebe a criação originada em outra; que seja boa madrasta! Conclusão e moral da história: todo o privilégio à língua de chegada! (RTC): Qual é a sua postura tradutória perante os elementos estilísticos e estéticos de um autor? ABH: De respeito e acatamento. Se traduzo “Vénus Anadyomène”, de Rimbaud, não tenho o direito de amenizar-lhe a finalização “belle hideusement”. Se verto Darío, quero que, em português, continue sendo Darío, que pareça Darío, não uma impostação de Anderson. Mas, é claro, posso preferir à tradução a paráfrase, em que é cabível mais liberdades. (RTC): Quais são as características da poesia de Victor Hugo que mais lhe agradaram e/ou apresentaram dificuldades? ABH: A poesia de Victor Hugo é perfeita em concepção e estruturação, calorosa na dicção, rica em imagens, ritmos e timbres, elevada sempre. Quanto a dificuldades, lembro especialmente a de botar em português, sem omissões e sem tropeços versificatórios, as seqüências de nomes da mitologia grega em “Le Satyre”. (RTC): Quando você traduziu a obra Poetas do século de ouro espanhol, quais foram os maiores desafios encontrados, notadamente, quanto à linguagem da época? ABH: Manter a linguagem do século de ouro é decerto um desafio, mas não chega quase nunca a se constituir

num bicho-de-sete-cabeças para quem afeito ao português coevo. Grande complicação foi, sim, o enfrentamento da “Fábula de Polifemo y Galatea”, de Góngora, para o que, felizmente, contei com a forte colaboração de Fernando Mendes Vianna. Isso me convida a voltar à sua terceira pergunta. Concluída a nossa tradução (proposta a nós dois, antes, por Domingos Carvalho da Silva, mas realizada após, quando já morto o ilustre poeta luso-brasileiro), pudemos confrontá-la com a de Péricles Eugênio da Silva Ramos, a fim de nos certificarmos da solução dada a certos quebra-cabeças.

(RTC): Como ocorreu sua colaboração com José Jeronymo Rivera e Fernando Mendes Vianna para as traduções realizadas em conjunto?

ABH: Grandes amigos, costumávamos nos reunir, geralmente em casa de Fernando, para tomar uns vinhos ou uns uísques, ouvir música e conversar fiado. Fernando, que já traduzira Quevedo para a Embaixada de Espanha, recebeu a nova encomenda e nos propôs reparti-la. Topamos. E assim começou fecunda parceria, que acabou de cimentar nossa amizade com um trabalho verdadeiramente de equipe, realizado com alegria e devoção.

(RTC): Você conseguiu perceber alguma evolução,

influência, algum benefício e/ou aprendizado nessa parceria em sua própria prática de tradução?

ABH: As traduções eram feitas, em geral, por um de nós e revistas pelo grupo, daí o cabimento da expressão “trabalho de equipe”. Algumas foram, do início ao fim, feitas em conjunto por dois de nós, outras pelos três. Essa interação contribuiu, sem dúvida, para o aperfeiçoamento da técnica tradutória de cada um.

(RTC): Os autores que traduziu influenciaram de algum modo a sua escrita/poesia?

ABH: Toda boa poesia de um modo ou de outro influi em nossa escrita. Traduzo poesia prazerosamente. Com poucas exceções, devidas a injunções editoriais, traduzo a poesia de que gosto. A resposta é positiva.

(RTC): Que aspectos da atividade tradutória ou do papel do tradutor você considera mais gratificantes? Há gêneros e autores mais gratificantes que outros?

ABH: O mergulho íntimo na criação alheia, sua incorporação ao nosso universo particular pelo trabalho até certo ponto recriativo da tradução, eis um dos aspectos mais estimulantes dessa atividade. Prefiro o poema à prosa. Já o disse na segunda questão: traduzir poesia é, de alguma forma, como fazer poesia. Góngora, Quevedo, Rubén Darío, Victor Hugo, Baudelaire, Rimbaud, Blake, Swinburne... Verter alguns de seus poemas ao português foi uma experiência maravilhosa.

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(RTC): Poderia descrever suas relações de trabalho com a editora que publica suas traduções? Como percebe a relação tradutor/editora e tradutor/leitor no Brasil?

ABH: Não tenho muito a dizer quanto a essas relações em termos nacionais, principalmente no caso das editoras maiores. No que me concerne, o relacionamento é bom, na sua bilateralidade; mas deficitário exatamente porque lhe falta a fecundidade representada pelo terceiro elemento, a distribuição. A edição de Poetas do Século de Ouro Espanhol foi encomenda da Embaixada de Espanha; a de Poetas Portugueses y Brasileños de los Simbolistas a los Modernistas, organizada por José Augusto Seabra, teve o

patrocínio do Instituto Camões; a Antologia Poética Ibero-Americana foi projetada e custeada pela Asociación de Agregados Culturales Iberoamericanos; sua destinação foram, naturalmente, grupos restritos de leitores. Quanto às demais obras, bancadas pela editora, financiadas pelos próprios tradutores ou por instituição pública de fomento à cultura, não tiveram distribuição às livrarias. Desse modo, o relacionamento tradutor/leitor fica seriamente prejudicado. Esse é, hoje em dia –creio que posso generalizar–, o grande problema do autor nacional, especialmente quanto ao livro de poesia.

Entrevista concedida a Andréa Cesco e Gilles Jean Abes - UFSC.

* Anderson Braga Horta tem 4 traduções publicadas e mais de 20 obras publicadas

*

Divulgamos no Jornal da APT as Acções de Formação de Curta Duração para Tradutores ministradas, gratuitamente, pelo nosso sócio Luís Almeida Espinoza. Sobre essas acções, ouvimos as melhores referências.

Em virtude de estes cursos decorrem em várias datas, cidades do país e horários, aconselhamos que os interessados contactem directamente o formador.

Apesar da formação académica do formador na área da economia e da avaliação positiva dos formados, estas acções de formação têm sido criticadas, ou não vivêssemos em Portugal. Abaixo publicamos a resposta do formador a essas críticas.

Formação

A Tributação dos Tradutores e o Mercado da Tradução Tópicos: A Tributação dos Tradutores Independentes Benefícios Fiscais Específicos da Tradução IVA: vantagens e desvantagens da isenção, direito à dedução 

IRS: regime simplificado e regime de contabilidade organizada 

Vantagens e inconvenientes de cada regime de IRS e de IVA 

Benefícios fiscais específicos do tradutor em sede de IRS 

Segurança social: regime dos trabalhadores independentes  Tópico: O Mercado de Tradução em Portugal Características do mercado de tradução em Portugal 

Preços da tradução e empresas de tradução 

O mercado da legendagem em Portugal 

Formação dos tradutores e especialização 

Legislação e direitos do tradutor 

Regulamentação, associativismo e ordens profissionais  Tópico: Medidas para o Crescimento Económico Na sessão serão igualmente apresentadas propostas para o crescimento da economia portuguesa, aumento da receita fiscal e

contributiva, redução da dívida pública e da dívida externa e do desemprego e aumento do investimento. Serão apresentadas medidas viáveis, sem investimento público e com aplicação noutros países. Todas as propostas que iremos apresentar estão prontas a legislar e têm um impacto de curto prazo sem investimento público.

Contrato de trabalho progressivo 

Autorização fiscal de residência 

Número uniforme de factura  Inscrições gratuitas: [email protected] Atendimento: tel 22 954 5152, 93 626 8642

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Certificado: é entregue certificado de participação; o formador é membro da ordem dos economistas, mas a sessão não é patrocinada por qualquer entidade.

* RESPOSTA ÀS CRÍTICAS

Em seguida apresento a resposta a 3 críticas que têm sido dirigidas às acções de formação que tenho realizado nos últimos 9

anos (site www.terminologias.com). 1. O facto de realizar acções de formação para tradutores apenas em algumas cidades. Nos últimos 9 anos tenho realizado

acções de formação para tradutores na Régua, Guarda, Braga, Porto, Leiria, São Mamede da Infesta, Senhora da Hora, Óbidos, Lisboa, Coimbra, Faro e Albufeira. A reduzida dimensão do mercado português não tem possibilitado a realização de formação noutras cidades.

2. O facto de as acções de formação terem passado a ser gratuitas. Devido à degradação da situação económica, optei por

passar a realizar as acções de formação gratuitamente, possibilitando assim que todos os tradutores ou potenciais tradutores assistissem independentemente da sua situação económica. Passei a fazê‐lo na mesma altura em que a ordem dos economistas (da qual sou membro) também começou a organizar acções de formação gratuitas para os seus membros.

3. O facto de incluir nas acções de formação a apresentação de propostas de medidas para o crescimento e recomendações

sobre o metro do Porto Nas acções de formação tenho incluído a apresentação de 4 propostas de medidas para o crescimento económico em Portugal. Esta apresentação é útil para os tradutores por 3 razões: conhecer a situação económica do nosso país e as formas de sair da crise, conhecer propostas que resultam da nossa experiência como tradutores no relacionamento com clientes e com outros países e promover medidas que beneficiam os tradutores, dado que somos um dos sectores mais prejudicados no relacionamento com o Estado.

O facto de incluir também recomendações sobre o metro do Porto tem carácter preventivo para evitar que os formandos sejam multados ao usar este meio, dado que é o sistema de bilhetes mais complicado do mundo (por exemplo, 736 trajectos têm um preço de ida diferente do preço de volta). De qualquer modo, estes 2 temas ocupam apenas uma pequena fracção do tempo da acção de formação.

Luís Almeida Espinoza

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