Jornal de Ciências Sociais - 6

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Ciências Jornal de Blog da Veja ataca marxismo e taxa Che Guevara de “rato” A Necessidade da Arte Curso de Ciências Sociais - Centro Universitário Fundação Santo André - Ano II - N° 6 Precarização do trabalho Comissão da verdade Revolta da tarifa Primavera Árabe Giovanni Alves explica o Neodesenvolvimentismo e precarização do trabalho no Brasil. Página 3 A necessidade de explicitação e punição dos crimes cometidos pela última ditadura militar brasileira e a importância da Comissão da Verdade. Página 4 A situação dos transportes, a criminalização dos movimentos sociais e as novas formas de organização popular discutidas por alunos e professores. Página 6 A Primavera Árabe foi debatida pelos professores e estudiosos na Semana de Ciências Sociais. Página 8 A exposição Gontran Guanaes Netto: 80 Anos de Resistência, organizada pela Escola Livre de Ciências e Artes em parceria com o Colegiado de Ciências Sociais da FSA, homenageou o artista e revolucionário de Vera Cruz por seu octogésimo aniversário. Nos quadros, além do figurativismo engajado, a internacionalização progressiva de sua obra a partir do exílio na França (1969). P. 7 Sociais A atualidade do pensamento de Gramsci Machado de Assis Informação que não se vende O prof. dr. Marco Vanzulli, da Universidade de Milão, esteve na Semana de Ciências 2013 abordando o papel do intelectual no contexto mundial a partir da obra do escritor e militante italiano Antonio Gramsci, que tratou amplamente desse tema em seus textos. Página 5 Os moldes impositivos da dita publicação direitista tomou, nos últimos tempos, proporções bestiais e eis que um economista, metido a jornalista resolveu montar um espaço online voltado a combater o pensamento de esquerda. P. 2 John Gledson esteve recentemente em São Paulo para o lançamento de Machado de Assis – crônicas esco- lhidas e concedeu entrevista exclusiva ao Jornal de Ciências Sociais, na qual aborda a posição de Machado de Assis acerca da escra- vidão e da abolição, sobre o femi- nismo e o realismo de sua obra. Página 10

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O Jornal de Ciências Sociais é produzido por alunos e professores da Fundação Santo André, e distribuído gratuitamente.

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Ciências

Jorn

al d

e

Blog da Veja ataca marxismo e taxa Che Guevara de “rato”

A Necessidade da Arte

Curso de Ciências Sociais - Centro Universitário Fundação Santo André - Ano II - N° 6

Precarização do trabalho

Comissãoda verdade

Revolta da tarifa

PrimaveraÁrabe

Giovanni Alves explica o Neodesenvolvimentismo e precarização do trabalho

no Brasil.Página 3

A necessidade de explicitação e punição dos crimes cometidos pela última ditadura militar brasileira e a importância da

Comissão da Verdade.Página 4

A situação dos transportes, acriminalização dos movimentos

sociais e as novas formas de organização popular discutidas

por alunos e professores.Página 6

A Primavera Árabe foi debatida pelos professores e estudiosos na Semana de Ciências Sociais.

Página 8

A exposição Gontran Guanaes Netto: 80 Anos de Resistência, organizada pela Escola Livre de Ciências e Artes em parceria com o Colegiado de Ciências Sociais da FSA, homenageou o artista e revolucionário de Vera Cruz por seu octogésimo aniversário. Nos quadros, além do figurativismo engajado, a internacionalização progressiva de sua obra a partir do exílio na França (1969). P. 7

SociaisA atualidade do pensamento de Gramsci

Machado de Assis

Informação que não se vende

O prof. dr. Marco Vanzulli, da Universidade de Milão, esteve na Semana de Ciências 2013 abordando o papel do intelectual no contexto mundial a partir da obra do escritor e militante italiano Antonio Gramsci, que tratou amplamente desse tema em seus textos.Página 5

Os moldes impositivos da dita publicação direitista tomou, nos últimos tempos, proporções bestiais e eis que um economista, metido a jornalista resolveu montar um espaço online voltado a combater o pensamento de esquerda. P. 2

John Gledson esteve recentemente em São Paulo para o lançamento de Machado de Assis – crônicas esco-

lhidas e concedeu entrevista exclusiva ao Jornal de Ciências

Sociais, na qual aborda a posição de Machado de Assis acerca da escra-vidão e da abolição, sobre o femi-

nismo e o realismo de sua obra.Página 10

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Jornal de Ciências Sociais - nº 6 novembro de 20132 www.colegiadosociais.com

Colaboraram nesta edição:

Alessandro Rodrigues ChavesEuller Félix da Silva Geraldo de Souza PereiraCarlos César AlmendraRaul FlorindoFábio Ribeiro Leandro Candido de SouzaFernanda Jeane LeonelHosana Meira da SilvaDaniel Fonseca

Fundação Santo AndréAv. Príncipe de Gales, 821, bairro Príncipe de GalesSanto André - SP - CEP: 09060-870Tel.: (11) [email protected]

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Ciências

Jor

nal

de

Sociais

Tiragem: 5.000 exemplaresO Jornal de Ciências Sociais é uma publicação do Colegiado de Ciências Sociais da Fundação Santo André, distribuído gratuitamente.

Jornalista ResponsávelEduardo Kaze - MTB: 62857

EditorialManter uma publicação como o

Jornal de Ciências Sociais não é tarefa das mais simples. Primeiro, é necesário digladiar-se com as imposições financeiras, burocrá-ticas e, muitas vezes, autoritárias advindas de variadas instâncias. Segundo, é necessário o empenho despretencioso de um considerá-vel número de pessoas - que, por fim, recebem de retorno somente o prazer proveniente de poder ex-pressar a própria análise dos fatos (atividade esta indispensável à crítica eficaz da sociedade).

Chegamos ao sexto número e, apesar da experiência adquirida, é sempre um novo desafio con-densar conteúdo de qualidade para o leitor – o qual, sabemos, é o nosso principal crítico, cor-retor e distribuidor. Ou seja, é no leitor que encontramos nossas principais armas para a melhoria deste periódico, sua dissemina-ção e seu sucesso.

Com isso em mente, contamos com você, leitor, como colabora-dor e o convocamos a contribuir com este jornal - com esta ideia.

Nesta edição em especial , trazemos a público a existência de um blog, inserido no portal da revista Veja, que presta um disserviço ao pensamento crítico em geral.

Apresentamos ainda os resul-tados da Semana de Ciências Sociais 2013 da Fundação Santo André, cujo tema foi Sociedade em Convulsão - Revoltas e Re-sistências.

Uma en t rev is ta com John Gledson, profundo conhecedor da obra de Machado de Assis, ilustra também nossas páginas.

Por fim, o leitor encontrará um mini-compêndio sobre a profis-são de cientista social.

O portal Brasil Profissões designa como cientista social os “profissionais que analisam hábitos, costumes, característi-cas religiosas, relações familia-res, organização institucional e econômica de diversos grupos sociais, com base em pesqui-sas e observações. Pesquisam fenômenos como migrações, conflitos sociais e movimentos políticos. Tais conhecimentos podem ser aplicados na solução de problemas nas áreas de edu-cação, saúde, violência urbana, entre outros. A pesquisa cien-tífica é a base do trabalho do cientista social, este profissional pode atuar em três linhas: na Sociologia, na Antropologia e na Ciência Política. Tais áreas da ciência são diferentes, porém estão interligadas, pois estudam vários tipos de sociedades e de culturas em diversas épocas da história da humanidade”.

Ok, é um dos pontos. Contudo, nada é dito sobre a disseminação destas análises, tampouco suas efetivações em sociedade.

A isto é o que o Jornal de Ciên-cias Sociais se propõe: contribuir criticamente, empiricamente, na sociedade, como um instrumento a ser usado em conjunto com tantos outros. Jamais na figura de impositor de ideais e ideias, mas sempre com o objetivo de apontar novos caminhos e soluções para os problemas experimentados em sociedade.

E assim continuaremos. Boa Leitura!

Que a revista Veja é uma piada de mau gosto, qual-quer indivíduo pensante

sabe. Mas – como já se previa – os moldes impositivos da dita publi-cação direitista tomou, nos últimos tempos, proporções bestiais. Eis que um economista, metido a jor-nalista, resolveu montar um espaço online voltado a combater o pen-samento de esquerda. O sítio está estabelecido, claro, no portal da Veja. O nome do sujeito, Rodrigo Constantino. O blog, “analises de um liberal sem medo de polêmica”.

Os textos e os comentários são unilaterais, sem espaço para contraposições. Os liberais detêm o osso e não pretendem largá-lo. Taxam o comunismo como cri-minoso, sem ao menos ponderar o assunto pela ótica da análise imanente dos textos relacionados. Afirmam que o marxismo é uma doutrina, sem se darem conta da doutrina que impõem ao criticá--lo sem chance de defesa.

Como de costume, a burguesia considera-se detentora do pro-gresso. Os grandes empresários, ao explorar o trabalho alheio, acham-se no direito de fazê-lo pelo simples fato de possuírem os meios de produção, e, portanto, serem os únicos com capacidade imediata para atingir o dito progresso.

É muito característico o ideário liberal segundo o qual a classe trabalhadora se beneficia por in-termédio da atividade capitalista. Contudo, quem se beneficia mais largamente dessa atividade?

Dizem,os liberais por intermé-dio de economistas como Ludwig von Mises, que “o progresso do capitalismo não empobrece os assalariados de modo crescente; ao contrário, melhora seu padrão de vida”. Na visão dos trabalha-dores, a melhora do padrão de vida só pode ser compreendida como uma série de medidas pa-liativas para justificar o acúmulo excedente do valor produzido pelo trabalho proletário.

“Por que as massas seriam inevi-tavelmente induzidas a se revolta-rem quando se sabe que elas estão tendo acesso a mais e melhores

Em busca do verdadeiro ratoEduardo KazeJornalista por profissão, pós-Graduado em Ciências Sociais pela Fundação Santo André

O nível de existência de vocês, liberais, remete mais fielmente a um roedor

Opinião

alimentos, habitações e vestuá-rios, carros e geladeiras, rádios e aparelhos de televisão, nylon e outros produtos sintéticos?”. Pelo motivo simples, respondemos, nós os trabalhadores, de que a ideologia dominante é, invariavelmente, a ideologia da classe dominante. A falácia vendida ao povo é a de que este é o fim da história, o ápice da humanidade. Os problemas serão resolvidos gradualmente, dizem os liberais, inflando o bolo para dividi--lo – a gula liberal, entretanto, deixa somente migalhas ao proletariado.

Os liberais afirmam que a miséria se reduzirá à medida do crescimen-to do capital. Somente se esquecem de que a base do capital é o paupe-rismo. Sem a exploração do traba-lho, não há capitalismo. E se isso é evolução, perguntamos: evolução de quem? Do gênero humano? Ou dos liberais e do capitalismo?

A vida somente pode ser emba-sada num fundamento básico: “de cada um, segundo sua possibilida-de, para cada um, segundo sua ne-cessidade”. Sem isso, a igualdade é falha – e, antes de ser igualdade, é sempre exploração.

Parabéns liberais! Vocês estão na crista da onda desde a Revolução

Francesa, ainda se gabando do Sonho Americano. As crises fi-nanceiras, claro – dirão os liberais –, são culpa dos inadimplentes, de-socupados, hippies que deveriam colocar gravata e trabalhar, pois são vagabundos. O sistema é ina-balável. Perfeito! Os descontentes são “ratos” (como eloquentemente Constantino apontou em seu post relacionado ao Che Guevara, pego numa foto bebendo Coca-Cola - http://veja.abril.com.br/blog/rodrigo-constantino/comunismo--2/o-rato-na-coca-cola/).

Mas o nível de existência de vocês, liberais, remete mais fiel-mente a um roedor: o hamster, cujo nome vem da palavra alemã “ha-mstern” que significa “acumular” ou “armazenar” - uma referência ao que este mamífero faz com a comida. Isso lembra os liberais, que enchem as bochechas com o fruto de nosso trabalho para, mais tarde, regurgitar a parcela mínima nas classes subalternas, esperando, ainda, a ovação cega dos que, para eles, não são “ratos”, pois lhe ser-vem como “ovelhas”.

Ficam aqui as desculpas aos hamsters, muito mais dóceis que os liberais.

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3www.fsa.br Jornal de Ciências Sociais - nº 6 novembro de 2013

Giovanni Alves compa-receu na Semana de Ciências Sociais para

realizar a conferência Neodesen-volvimentismo e precarização do trabalho no Brasil e lançar seu livro Dimensões da precarização do trabalho (Praxis, 2013).

O tema apresentado pelo soció-logo ganha cada vez mais reper-cussão no mundo acadêmico e para os que buscam compreender as possíveis transformações ocor-ridas na economia, na política e na sociedade brasileira neste início de século XXI. Diversos autores já publicaram suas con-tribuições (Emir Sader, André Singer, Armando Boito Jr., entre outros) e, em alguma medida, Alves dialoga com esses autores.

Alves compreende o neode-senvolvimentismo como uma frente política que difere da antecessora neoliberal. Termos como pós-neoliberalismo e neo-desenvolvimentismo foram utili-zados pelo palestrante para dizer basicamente que o momento político-ideológico do atual go-verno é diferente do da década de 1990. Embora o autor não tenha entrado de fato no debate acerca das diferenças entre a atual frente política neodesenvolvimentista e a antecessora neoliberal, ele indicou que a diferença está na retomada da capacidade do Es-tado intervir na economia e nas políticas sociais características do atual governo.

A Precarização NeodesenvolvimentistaAlessandro Rodrigues Chaves Estudante de Ciências Sociais da Fundação Santo André

Tema apresentado pelo sociólogo ganha cada vez mais repercussão no mundo

Semana de Ciências Sociais

Voltado ao aprimoramento da formação de cientistas sociais e profissionais vinculados a áreas correlatas, o curso visa a aten-der demandas relativas às atividades de pesquisa, docência e outras formas de atuação social e política, aprofundando o conhecimento dos dilemas contemporâneos da existência humano-societária e ampliando a capacidade de discer-nir alternativas. O curso conta com professores doutores em diferentes campos (sociologia, política, antropologia, história, filosofia, letras), oriundos tanto do Centro Universitário Fundação Santo André quanto de outras universidades.

Inscrições Abertas! Mais informações em www.fsa.br

Pós-Graduação: Ciências SociaisEconomia-mundo, Arte e Sociedade

Se por um lado ocorre, segun-do Alves, uma importante altera-ção na política brasileira a partir da eleição de Lula em 2002, por outro, o trabalho, as formas de inserção dos indivíduos no mercado de trabalho se dão em condições cada vez mais precá-rias. Este é o segundo tema sobre o qual o sociólogo se debruçou em sua palestra assim como é o tema central do livro lançado. Basta ler o capítulo VII para notar que emergiram na década neoliberal diversos processos e decisões políticas que precari-zaram a situação do trabalhador, inclusive afetando sua saúde e aumentando a superexploração do trabalho. Neste mesmo ca-pítulo identificamos elementos

que confirmam a situação de precarização do trabalhador do Brasil atual, enfatizando que o que predomina é a flexibilização seja da jornada de trabalho (ban-co de horas), seja da renumeração salarial (Participação nos Lucros e Resultados). Grosso modo, são “novas” formas encontradas para a geração de mais-valor que encontram origens no período neoliberal.

Vejamos um pouco mais de perto os dois temas expostos pelo sociólogo. Primeiro, ele identifica que existe um novo modelo político no país que di-fere do neoliberal, assim como percebe que se mantêm e se intensifica a precarização do trabalho resultante do próprio

neoliberalismo. Fica, contudo uma indagação: como é possí-vel termos por um lado a supe-ração do neoliberalismo sendo que por outro ele se mantêm (devido à condição de preca-rização do trabalho originada pelo neoliberalismo)?

Esclarecendo um pouco mais a questão: em texto de 1998, Alves compreendia o neolibera-lismo como uma superestrutura político-ideológica resultante das transformações estruturais ocorridas na produção, ou seja, a reestruturação produtiva origi-nada pelo declínio do modelo fordista de produção. Nota-se que neste momento, o autor percebe um vínculo entre a política e o modo de produção capitalista vigente. Teríamos novas formas de organizar a produção e uma superestrutura político-ideológica resultante do novo modelo que visava assegurar que ele ocorresse.

Ora, parece que na exposição do autor este vínculo se perdeu. Mesmo que considerássemos que, na afirmação de 1998, a associação entre uma estrutura e superestrutura se dá sem ne-cessárias mediações, talvez de forma automática, a exposição feita pelo sociólogo não indica nenhuma associação, nem real e nem lógica, entre o neodesen-volvimentismo enquanto uma política e a permanência das características neoliberais na

esfera produtiva, na esfera do tra-balho. Ao ser questionado sobre o seu escrito de 1998, limitou-se a responder que tal texto esta-va equivocado, sem, contudo, apresentar qualquer alternativa a essa posição que vinculasse as questões da base produtiva à estrutura política.

Só é possível compreender a relação existente entre a atual política e a precarização do trabalho, a nosso ver, quando se percebe que a política atual garante e intensifica o trabalho precário. Em outros termos, a política inaugurada, principal-mente após 2004, é neoliberal na medida em que não rompe e nem visa superar o modelo de produ-ção neoliberal, responsável pela precarização identificada por Alves. Poderiamos, então, dizer que uma denominação provisória para o atual momento seria de ne-odesenvolvimentismo neoliberal.

Para Ler:Alves, Giovanni. Dimensões da precarização do trabalho. Praxis, 2013.Alves, Giovanni. “Nova Ofensi-va do Capital, Crise do Sindica-lismo e as Perspectivas do Traba-lho - O Brasil nos Anos Noven-ta”. In: Teixeira, Francisco J.S. e Oliveira, Manfredo Araújo de. Neoliberalismo e Reestruturação Produtiva. São Paulo/Fortaleza: Cortez/UEC, 1998.

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Jornal de Ciências Sociais - nº 6 novembro de 20134 www.colegiadosociais.com

A necessidade de ex-plicitação e punição dos crimes cometidos

pela última ditadura militar brasileira e a importância da Comissão da Verdade foram debatidos pelo historiador da PUC Nilo Dias Oliveira, San R. Assumpção (membro da Comissão Nacional da Verda-de), e por Maria Amélia Teles (militante contra a ditadura, ex-presa política e membro da Comissão Estadual da Ver-dade), que, ao lado de outros membros de sua família, vem desenvolvendo um incansável esforço por explicitar a res-ponsabilidade do estado pelos crimes cometidos durante a ditadura. Graças a esse esfor-ço, conseguiu que, em 2008, a justiça declarasse o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra como torturador (ainda que não conseguisse condená-lo por isso, graças à Lei da anis-tia, que impede a punição dos torturadores).

O debate foi iniciado pelo historiador Nilo Oliveira, que se contrapôs à versão da historiografia que considera como democrático o período entre 1946 a 1964, interme-diário entre duas ditaduras (a do Estado Novo, de 1937 a 1945, e a ditadura militar

A Comissão da Verdade e os Crimes da Ditadura MilitarEuller Félix da Silva Estudante de Ciências Sociais da Fundação Santo André

“Na tarde desse dia (28 de dezembro de 1972), por volta das 7 horas, foram trazidos, sequestrados, também para a OBAN, meus dois filhos, Janaína de Almeida Teles, de 5 anos, e Edson Luiz de Almeida Teles, de 4 anos, quando fomos mostrados com as vestes rasgadas, sujos, pálidos, cobertos de hema-

tomas. Sofremos ameaças por algumas horas de que nossos filhos seriam molestados”

Maria Amélia no livro Brasil Nunca Mais

... de fato havia colaborações

de empresas, que denunciavam seus

empregados e entregavam os

dados pessoais para as policias

políticas.

de 1964 a 1985). Oliveira mostrou que, nesses anos, houve repressões e formas de espionagem semelhantes aos períodos ditatoriais, e que os mesmos órgãos repressivos utilizados nos períodos de ata-ques mais atrozes aos direitos civis foram também utilizados no período democrático com o fim de espionar e reprimir os movimentos que surgiam pelo país. O historiador ex-põe a contradição presente no uso tais métodos para buscar a democracia, justificados pela suposta necessidade de expulsar a qualquer custo o “espectro do comunismo” e tudo que se aparente a ele. Foi esta a justificativa para a atuação do SFICI (Serviço Federal de Informações e Contrainformações) contra os movimentos sindicais e operários, pois estes seriam sinônimos de comunismo.

Maria Amélia Teles começou sua fala relembrando suas ex-periências da década de 1950, quando foi obrigada a fugir da perseguição ordenada pela igreja católica aos comunistas. Na luta anticomunista, a igreja católica tinha um aliado, as forças armadas, pois a igreja defendia que os católicos de-nunciassem se afastassem dos

comunistas e os denunciassem aos militares. Teles desta-cou também o equívoco de considerar a ditadura apenas militar, pois toda a sociedade é dividida em classes sociais, e uma parte dela, como é o caso dos empresários e da grande mídia, se colocaram a favor da ditadura militar. Do

mesmo modo, assim como havia civis que lutaram contra a ditadura militar, também é preciso lembrar que, quando a ditadura militar se instaurou, os militares que se opunham ao golpe foram brutalmente assassinados.

Maria Amélia Teles insiste

em que o estado tem que ser responsabilizado pelas 47 mortes que comprovadamente foram causadas pela ditadura militar, e recusa a argumenta-ção que pretende minimizar as atrocidades cometidas ale-gando que o número de mortes foi supostamente baixo, pois, como afirma, cada vida é uma vida e tem de ser prezada e levada em consideração; sen-do assim, é preciso lutar para que o estado responda por tais atrocidades. E falando destas atrocidades, Amélia relembra o caso recente do Amarildo e toda a repercussão que alcan-çou, repercussão que deixou uma pergunta no ar: onde es-tão os desaparecidos políticos da ditadura militar? É busca de resposta a esta pergunta esta, como disse Amélia, move sua atividade na Comissão Esta-dual da Verdade. Esta pergunta deve ser de fato respondida e também utilizada como pro-va para que os militares que cometiam estas atrocidades paguem pelos seus crimes, pois não se deve apenas res-ponsabilizar o estado como estado como uma entidade, mas sim também os indivíduos que estavam no comando do estado militar, e os indiví-duos que praticaram torturas

e assassinaram os militantes que lutaram pela democracia e pela liberdade.

San R. Assunção explicou a finalidade da Comissão da Verdade: investigar crimes cometidos pelo estado durante a ditadura, crimes pelos quais o estado deve prestar contas e ser punido. Ainda que cri-ticada por veículos da mídia com a acusação de ser parcial, a Comissão busca se pautar pelas historias das vitimas das atrocidades cometidas pelo estado militar. Assunção des-tacou também que a ditadura era uma ditadura civil-militar. Apoiada na afirmação de Max Weber de que um regime político duradouro só sobre-vive se a sociedade lhe der suporte, mostra que o regime militar instaurado em 1954 só conseguiu se manter até 1985 por ter apoio dos civis. E de fato havia colaborações de empresas, que denunciavam seus empregados e entrega-vam os dados pessoais para as policias políticas. Se forem provadas tais colaborações, a Comissão da Verdade reivin-dicará que as empresas façam doações compulsórias a um fundo que terá como objetivo indenizar os trabalhadores prejudicados por estas ações.

Semana de Ciências Sociais

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5www.fsa.br Jornal de Ciências Sociais - nº 6 novembro de 2013

Semana de Ciências Sociais

O prof. dr. Marco Van-zulli, da Universidade de Milão, esteve na

Semana de Ciências 2013 abor-dando o papel do intelectual no contexto mundial a partir da obra do escritor e militante italiano Antonio Gramsci, que tratou amplamente desse tema em seus textos.

Vanzulli destacou inicialmente o aparente paradoxo que marca a obra de Gramsci: este poderia ser considerado um escritor provinciano, pois seus textos carregam o contexto histórico italiano, porém teve sua obra traduzida para diversos idio-mas, sendo inclusive utilizado para o entendimento do contex-to histórico brasileiro; o escritor Carlos Nelson Coutinho (1943 – 2012) foi um dos expoentes dessa tendência.

Gramsci não teve carreira aca-dêmica, mas uma grande curio-sidade intelectual, que o levou a sempre pesquisar, dando um sentido bem próprio a sua obra, marcada por um forte sentido de independência presente desde a gênese de suas ideias políticas e carregado pelo contexto do lugar onde passou a primeira parte de sua vida, a ilha da Sar-denha, colonizada por italianos e outros povos europeus. Essa curiosidade concentrou-se no esforço para descobrir qual o papel do intelectual no contex-to mundial, e principalmente, apoiado no marxismo, conceber como a cultura pode ser útil à revolução.

Para Gramsci, o intelectual é aquele que organiza os grupos, porém não somente na teoria; buscando conceber como as ideias se tornam forças práticas, o autor procura formular a teoria da atividade, da práxis, pois para Gramsci consciência, evolução, espírito e liberdade são fontes de

Gramsci: Os Intelectuais e a organização da CulturaGeraldo de Souza PereiraEstudante de Ciências Sociais da Fundação Santo André

intelectualidade, e a produção de ideias que compõem a sociedade, formam sua ideologia.

A produção de tais ideias e conceitos é abordada em sua obra A Questão Meridional (a última que escreveu antes de ser preso) e principalmente nos Cadernos do Cárcere, es-critos entre os anos de 1926 a 1937 e publicados em 1947; o afastamento da esfera de ativi-dade política, seja do autor e mesmo da sociedade italiana (que sofreu tal afastamento durante o fascismo, instaurado por Mussolini), fez com que, à época do lançamento, Gramsci fosse quase um desconhecido, tendo sua obra primordialmente isolada aos restritos círculos políticos existentes.

A questão do intelectual pode ser problematizada no contex-to atual; em uma entrevista recente na edição de setembro de 2013 da revista E (Sesc-

-SP), o filósofo brasileiro José Arthur Giannotti reflete sobre a questão do intelectual nos dias de hoje, indicando que o intelectual, durante um proces-so de democratização, sempre participa mais ativamente, po-rém em tempos de estabilidade, não encontra muito espaço para refletir. O principal fator que impossibilita essa ação, segun-do o filósofo, é que “entramos em uma sociedade de massa, e a massificação bloqueia a inter-venção dos intelectuais, junto da massificação da mídia, onde o intelectual não tem muito espaço para refletir”.

Mas quem é esse intelectual atualmente?

Questionado sobre se o con-ceito de Gramsci ainda pode ser válido nos dias atuais e sobre quem seria esse intelec-tual que ordena os grupos e as massas, a resposta do prof. Marco Vanzulli foi o reflexo

da situação em que o mundo se encontra: nos dias atuais, o intelectual descrito por Gramsci (aquele que ordena os grupos), é o homem de negócios.

Os escritos de Gramsci podem suscitar diversas reflexões e ampliar a compreensão dos mo-vimentos sociais que explodem mundo afora. Considerar a im-portância da cultura e da inte-lectualidade nas ações humanas contribui para o entendimento dessas ações, até mesmo por-que, como destacou Vanzulli, não existe atividade humana que não seja intelectual; seguin-do esse preceito, e ressaltando a importância de que a teoria en-contre um meio de formar ações práticas, finalizo com uma frase do próprio Gramsci, que nos chama a atenção para apreender o passado e aprender com ele lições para atuar no presente, para construir o futuro: “Na desvalorização do passado está implícita uma justificativa da nulidade do presente”.

Para Ler: Gramsci, Antonio. Cadernos

do Cárcere. 6 vols. Edição de Carlos Nelson Coutinho, com a colaboração de Luiz Sérgio Henriques e Marco Aurélio Nogueira. Rio de Janeiro: Civi-lização Brasileira, 1999-2002.

Gramsci, Antonio. A Ques-tão Meridional. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.

Vanzulli, Marco. “Gramsci e Labriola: Teoria da História e Filosofia Política”. In: Crítica Marxista nº. 27, dez. 2008.

Entrevista de José Ar-thur Giannotti à Revista E (nº 195, setembro/2013): h t t p : / / w w w. s e s c s p . o r g .b r / o n l i n e / a r t i g o / 6 9 0 9 _E+ARTHUR+GIANNOTTI#/tagcloud=listaJOSE+ARTHUR+GIANNOTTI#/tagcloud=lista

C o l e g i a d o de Ciências Sociais promove atividades na FSAPalestra: Maurício Tragtenberg: anarquismo, educação e socialismoDoris Accioly (USP)Antônio Rago Filho (FSA)Data: 22/11Horário: 19h30Local: Auditório da Fafil

Palestra:Relação Brasil Angola: passado, presente e futuroJosé Francisco dos Santos (UEL)Antônio Rago Filho (FSA)Data: 25/11Horário: 19h30Local: Auditório da Fafil

Lançamento: A mulher na sociedade de classes - mito e realidade, de Heleieth SaffiottiSônia Coelho (Marcha Mundial das Mulheres)Thaís Lapa (FSA)Lívia Cotrim (FSA)Data: 29/11Horário: 19h30Local: Auditório da Fafil

Atividades abertas e gratuitasInformações: [email protected] e www.co-legiadosociais.com.

A Fundação Santo André fica na Avenida Príncipe de Gales, 821, Bairro Príncipe de Gales, em Santo André

Gramsci não teve carreira acadêmica, mas uma grande curiosidade intelectual

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Jornal de Ciências Sociais - nº 6 novembro de 20136 www.colegiadosociais.com

A situação dos transportes, o direito à cidade, a criminalização dos movimentos sociais e as novas formas de organização popular – debater e refletir sobre estes temas foi a proposta do ciclo de debates “A Revolta da Tarifa e a Ques-tão Urbana”, realizado durante a Semana de Ciências Sociais. Os encontros foram realizados entre os dias 24 e 26,l com a presença do ex-secretário dos transportes da cidade de S. Paulo, Lúcio Gregori, MPL/ABC, Leandro Candido de Souza (doutorando na PUC) e Daniel Delfino (graduado em Ciências Sociais pela FSA). Nos debates a questão da mobilidade urbana, colocada como central foi discutida entre o MPL/ABC e o ex--secretário dos transportes de São Paulo, concordando que o deslo-camento não é de responsabilidade do usuário e que é necessária a apropriação da cidade pelos produ-tores da riqueza social, ou seja, os trabalhadores para uma verdadeira democratização do espaço urbano.

O transporte e a mobilidade ur-bana como direitos e pressupostos para a tarifa zero foram discutidos à luz dos levantes de junho, assim como a intervenção do MPL junto aos movimentos sociais e as organizações de esquerda nas manifestações que tomaram as ruas a partir de junho; e a reestruturação do MPL/ABC após as revoltas ocorridas no período.

No debate sobre as novas formas de organização popular foi exposto um panorama histórico focando

A Revolta da Tarifa e a Questão Urbana

T r a b a l h o n o c o m p l e x o agroindustrial canavieiro brasileiro Mábia Oliveira

Estudante de Ciências Sociais da Fundação Santo André; militante do Espaço Socialista.

Semana de Ciências Sociais

Carlos César Almendra Professor do curso de Ciências Sociais da Fundação Santo André

Os problemas dos tra-balhadores da indús-tria canavieira foram

tratados, durante a Semana de Ciências Sociais, pelo professor e pesquisador Francisco Alves (UFSCAR).

Sua exposição traçou um pa-norama da história da indústria canavieira no Brasil, o ciclo da cana e sua queda, a importância da cana na economia brasileira atual, o Pró-Álcool e, especial-mente, a situação econômico--social dos trabalhadores da agro-indústria canavieira.

Salientou que o Brasil passou a ser um grande exportador de açúcar a partir da década de 60, no momento em que ocupou o espaço deixado por Cuba que, até a sua Revolução de 1959, era um grande fornecedor da Europa e EUA. A partir do golpe militar brasileiro, os governos contri-buíram para a modernização da produção e colheita, uma vez que ofereciam créditos de longo prazo pelo Sistema Nacional de Crédito (SNC), concomitantemente à expulsão dos trabalhadores do campo. Assim, não só evitou a reforma agrária como ajudou os fazendeiros com a popularização do “boia-fria”, um trabalhadores assalariado, que não mais mora no campo, mas tão somente trabalha sazonalmente nas fazendas. Alves asseverou que somente no estado de São Paulo, cerca de 5.000.000 de trabalhadores rurais foram expulsos na virada da década de 60. O professor enfatizou que o projeto do Pró-Álcool não foi uma alternativa ao petróleo e sim uma “alternativa” pela qual os militares vendiam esta ideia à opinião pública, uma vez que os preços do açúcar internacional tinham caído vertiginosamente no início da década de 70 e transformar em combustível o

excedente produtivo era uma saída para estes fazendeiros. A legislação trabalhista só come-çou a chegar ao campo a partir da greve de Guariba de 1984, década também do surgimento do MST (Movimento dos Traba-lhadores Rurais Sem-Terra), que intensificou as lutas no campo; na virada do século 21, elemen-tos importantes se puseram: os transgênicos e os biocombustí-veis, nome politicamente cor-reto para alavancar a produção agrária voltada para estes fins na forma do “agronegócio”, mais um neologismo para escamotear a exploração e as péssimas con-dições de trabalhos no campo.

Mesmo nos setores que foram mecanizados recentemente, conforme pesquisas realizadas por Alves, a pressão sobre os trabalhadores é enorme. Exem-plo disso é o caso dos tratoristas, que não têm hora para o almoço, ganham por produtividade, tra-balham sob a tensão por estar conduzindo uma máquina cujo preço variou entre R$ 800 mil a R$ 1 milhão e que não deve que-brar, o que ocasionaria enormes gastos com manutenção bem como horas paradas na produ-

o fim do Estado de Bem-Estar Social, a crise de 1970, o avanço neoliberal e o fim do socialismo real. Entendendo a crise dos anos 1970 como o início e sinal de uma crise estrutural do próprio modo de produção capitalista, em contraposição foi analisada a crise de alternativas socialistas e somadas a estas o advento das ideias pós-modernas que expres-sam sobretudo o conformismo, a falta de ideologias, e decretam o fim da história, propagando a mais absurda submissão e adap-tação ao sistema do capital. Em relação aos pacifistas/nacionalistas teleguiados por grupos da direita, pela pseudo-esquerda, pela grande mídia e pelo governo federal, não restaram dúvidas, se configuram de uma forma cada vez mais cla-ra como os inimigos internos de um levante popular. Aqueles que vão vigiar e punir os “vândalos” e “arruaceiros”, a polícia interna da manifestação. O movimento pacifista é essencialmente anti--revolucionário e conciliador. Pre-ocupa-se sobretudo em preservar a propriedade e a arquitetura burgue-sa, e silencia quanto as prisões e agressões promovidas pela polícia, enxergando o policial como um trabalhador que apenas cumpre sua função. Preferem o voto e a representatividade da democracia burguesa à ação direta das massas. Por isso não podemos deixar que o posicionamento pacifista cale o grito dos indignados e a urgência das ruas.

ção/colheita, o que diminuiria o salário do próprio tratorista, não obstante a possibilidade de sua demissão.

Por fim, o palestrante pro-cura relatar o convívio dos trabalhadores rurais com a intensificação dos meios me-cânicos de produção, gerando uma disputa desigual, pois o trabalhador é colocado numa posição secundária, uma vez que o uso das máquinas cada vez mais constante obriga-o a aceitar condições de trabalho cada vez mais degradantes, pois não têm outra opção de trabalho. Em suma, o quadro apresentado pelo prof. Francis-co Alves mostrou a realidade de nossa indústria canavieira, gerando cada vez mais uma situação de descaso para com o trabalhador braçal, que fica à mercê dos desmandos dos empresários do setor, chegando ao ponto em que, em algumas cidades, ocorrem “desfiles” de tratores recém-comprados mas ainda não utilizados no campo, como forma de coagir os tra-balhadores manuais para não pedirem aumento de salário, benefícios ou similares.

Brasil passou a ser um grande exportador de açucar a partir da década de 60

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7www.fsa.br Jornal de Ciências Sociais - nº 6 novembro de 2013

Semana de Ciências Sociais

Entre os dias 23/09 e 19/10/2013, a exposi-ção Gontran Guanaes

Netto: 80 Anos de Resistência, organizada pela Escola Livre de Ciências e Artes em parceria com o Colegiado de Ciências Sociais da FSA, homenageou o artista e revolucionário de Vera Cruz por seu octogésimo aniversário. Nos quadros, além do figurativismo engajado, a internacionalização progressiva de sua obra a partir do exílio na França (1969).

O evento, que também trouxe desenhos de sua mais recente pro-dução, confirmou que a via classi-cizante de seu realismo sempre foi atualizada por uma politização de tipo vanguardista adquirida junto à figuração narrativa. Também é pos-sível, a partir daí, repensar os cami-nhos da pintura social no Brasil e o aparente fim das utopias no mundo pós-moderno: a “paixão pelo real”, a recusa antecipada a todo projeto coletivo ligado à universalidade de uma luta que reponha alternativas ao mundo existente.

Sua pintura nega, assim, o deser-to da objetividade pós-moderna e se envereda numa batalha corpo-a--corpo animada pela necessidade de destituição dos mecanismos de exploração, a fim de construir uma sociedade onde a autodetermina-ção do homem seja a condição própria do humano.

Complementando a atração principal, e no mesmo clima de agitação, membros da Escola Livre fizeram uma subexposição-protes-to em que abriram mão da autoria e título das obras para adotarem a legenda coletiva “Este Muro Vai Cair”. Assim, alunos, ex-alunos e comunidade acadêmica reivindi-caram legitimamente o direito de reutilização do espaço histórico do Diretório Acadêmico Honestino Guimarães que lhes foi roubado. Vale lembrar que foi nesse espaço do DA (hoje interditado) que surgi-ram as atividades da Escola Livre como consecução de um trabalho coletivo, não hierarquizado e sem

A Necessidade da ArteRaul Florindo, Fábio Ribeiro e Leandro Candido de Souza Quartanista e ex-alunos do Curso de Ciências Sociais da Fundação Santo André

fins lucrativos que se realiza desde 2007.

A tomada autocrática do espaço prova que os estudantes continu-am, desde a época de Honestino, vitimados por um movimento de autoperpetuação no poder que implica a revogação de direitos e conquistas elementares como, por exemplo, permitir ao jovem que pense e sonhe livremente. Murar um espaço de organização estudantil é exemplificar a conduta tematizada na exposição do pátio central: uma prática ditatorial e truculenta que jamais será ad-mitida impunemente. Honestino pervive com os estudantes, por isso seu nome continuará a ser honrado pelas novas gerações de trabalhadores.

Para encerrar a Semana, Luciana Cardoso (cantora) e Humberto Colácio (violão) homenagearam Vinícius de Moraes com o projeto Sons e Palavras. No espetáculo, 16 arranjos, preparados pelo pró-prio Humberto, que selecionam momentos do poeta-músico. Seu critério foi a variação: de ritmos e parcerias.

Certamente, não há em Vinicius aquele protocolo de vigilância política da arte pela suposição de

uma verdade dialética, como existe em Gontran e nos jovens pintores da Escola Livre. Mas há aqui algo que não consta naqueles: a embrea-gem real da terapêutica artística das paixões que é própria ao hedonis-mo estético, algo que Humberto e Luciana comprovaram.

Portanto, quando Karl Marx falou na arte como “educação dos cinco sentidos”, ele não estava construindo uma metáfora, mas mostrando como a arte é aquela esfera da vida responsável pela atualização de nossa sensibilidade para o enfrentamento da realidade sempre mutante. Então, a arte importa, entre outras coisas, para que tenhamos a sensibilidade ne-cessária à percepção das constantes transformações de nosso cotidiano.

O artista é, nessa concepção, aquele que desempenha no cerne da comunicação (na linguagem), a função de guardião obliterado do aberto, na medida em que nos incita à reflexão sobre o que há por detrás do produto acabado. Quanta falta faz uma arte anti-contemplati-va como as de Gontran ou a subtra-ção intimista ante os pendores do prosaísmo que Vinícius encerrou em suas contradições. A despeito da biografia, a obra do poetinha

restringe-se rigorosamente às verdades que prodigaliza e nisso é também utópica.

Em última palavra, o po-der de uma obra não está em seu conteúdo, mas na força emancipadora que ela é capaz de exercer sobre o indivíduo, o que envolve conteúdo, técnica, forma, expressão e, principalmente, a institucionalidade em que ela funciona. O que só prova que, na existência da arte, nada pode ser demonstrado de outro modo que não o seu. Não existe discurso substitutivo de sua experi-ência singular seja ela de ordem estética ou política. Eis a necessidade da arte.

Maio de 1968, Gontran Guanaes Netto (1974). Nos painéis, a in-ternacionalidade dos levantes da juventude em 1968 e o tratamento comum que lhes foi oferecido: a repressão. No centro, o presidente francês Georges Pompidou e a polícia de seu país, à esquerda a ação policial italiana e à direita a norte-americana. Sintomatica-mente, esta tela serviu de fundo para a assembleia dos estudan-tes da FAFIL (em 16/10/2013) e mostrou sua atualidade, pois, a Polícia Militar também interveio na manifestação dos que reivindi-cam a retomada do D.A. e o não

aumento das mensalidades.

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Jornal de Ciências Sociais - nº 6 novembro de 20138 www.colegiadosociais.com

Dilemas da Primavera ÁrabeFernanda Jeane Leonel Estudante de Ciências Sociais da Fundação Santo André

Semana de Ciências Sociais

Os conflitos no Oriente Médio, além dos problemas de identidade e territorialização, têm raízes diretamente econômicas

A Primavera Árabe, com suas contradições e perspectivas, foi debati-

da pelos professores e estudiosos da área Soraya Misleh e Salem Nasser, ambos membros do Ins-tituto da Cultura Árabe.

Abrindo o debate, Soraya Mis-leh homenageou Edward Said, um dos mais importantes intelec-tuais palestinos, crítico literário e ativista da causa palestina. Sua obra Orientalismo, publicada em 1978 e traduzida em 36 línguas, é considerada um dos textos funda-dores dos estudos pós-coloniais.

Oferecendo um amplo e interes-sante panorama sobre os conflitos do Oriente Médio, Misleh enfa-tizou a luta no Egito e Palestina que, de acordo com seus estudos, caminham para uma revolução, e na Arábia, que já se encontra num processo revolucionário.

Tratando do golpe militar ocor-rido no Egito, ressaltou que, mesmo com a queda de Mubarak, não houve alteração no regime. Historiando a situação, mostrou que desde 2000 a população vinha questionando a situação na Palestina, na Arábia e no Egito, começando pela Palestina e produzindo um “efeito domi-nó”. Na Palestina, desde 2000 as manifestações aumentaram e se espalharam, culminando em movimentos grevistas de 2006 a 2008. Depois, em 2011 explode a revolução no Egito levando à queda de Mubarak e à eleição de Mohamed Morce; este, no entan-to, não cumpre as reivindicações do movimento popular, que passa a exigir sua renúncia.

Mubarak havia caído, mas o regime permanecera. Para garan-tir a permanência do regime, os militares se antecipam às ações do povo, ou seja, tirando à força Morce do poder e substituindo-o, para evitar que a continuidade da mobilização popular levasse à transformação do próprio regime.

Os conflitos no Oriente Médio, além dos problemas de identidade e territorialização, têm raízes dire-

tamente econômicas. Os jovens não tinham perspectiva de vida, o índice de desemprego é mais que o dobro da média mundial, que está em torno de 6%. A isso se acrescentou o início de uma forte crise financeira, o fecha-mento das fronteiras para impedir o trânsito de pessoas em busca de oportunidades de emprego e melhores condições de vida, desencadeando os conflitos.

Salem Nasser, discordando de algumas posições de Soraya Mis-leh, afirma a necessidade de olhar criticamente tudo o que se refere às revoltas do mundo árabe, inclusive pela dificuldade de identificar o que de fato acontece, inclusive no momento atual. Em suas palavras, “As mentiras passam junto com a verdade e é difícil saber o que está acontecendo no exato momento, pois nos colocamos em ângulos diversos de observação. A questão da mídia e do lugar de onde se tira a informação são fundamentais; tanto no Brasil como no mundo há uma reprodução acrítica do que está acontecendo”.

Nasser expressou sua desconfian-ça de nomes como “primavera”, “despertar” e outros semelhantes

para designar os últimos aconteci-mentos, pois acabam transmitindo a ideia de que o povo árabe é pre-guiçoso ou que estava dormindo. Contrapôs-se também a um certo romantismo na leitura dos conflitos do oriente médio, que dificulta a compreensão do que ocorre.

Assim, a respeito do papel da Irmandade Muçulmana no Egito, questionou até que ponto pode ser classificado como revolucionário ou contra-revolucionário, indican-do que há várias chaves de leitura para interpretar a situação. Uma delas seria a chave da democracia e dos direitos humanos, que essen-cialmente opunha o povo a um re-gime ditatorial; outra seria a chave dos jogos de poder que envolvem desde há muito o Oriente Médio.

Também pôs em questão a avaliação da situação na Síria, indicando que o regime sírio in-comodava muito os EUA; além da denúncia dos crimes bárbaros certamente cometidos por esse regime, é preciso se perguntar se também não haveria, desde o começo, a presença de grupos militarizados vindos de fora do país. Também nesse caso seria preciso, diz o pesquisador, ir

além da chave da luta pela de-mocracia ou ditadura.

Nasser ressaltou que é preciso muito cuidado ao analisar os conflitos do Oriente Médio. Considerando que há interesses ocidentais influenciando certos grupos, deveríamos questionar o motivo do apoio e financiamento a certos grupos dentro daquele contexto, como exemplo, se a Irmandade Muçulmana é revolu-cionária ou contra-revolucioná-ria, como isso nos afeta direta ou indiretamente, bem como qual o significado da presença dos EUA nesses conflitos.

Ressaltou seu principal ponto de discordância com Misleh ao dizer que a chave dos jogos de poder se sobrepõe e, mais do que isso, sequestra a chave da luta pela democracia e a instru-mentaliza muito cedo.

O debate protagonizado pelos dois pesquisadores, com aná-lises diferenciadas, levantou questões essenciais para a refle-xão sobre a luta palestina, dos egípcios e os demais confrontos no Oriente Médio, reflexão ainda mais necessária nesse momento de transformações.

David Harvey (foto acima), geógrafo britânico, professor de antropologia na pós-gradu-ação da Universidade da cida-de de Nova York e professor de geografia aposentado das universidades Johns Hopkins e Oxford, estará em São Paulo para apresentar a conferência Os limites do capital e o di-reito à cidade.

David HarveyTerça-feira, 26 de novembro, às 14h, no Centro Cultural São Paulo - Sala Adoniran Barbosa(R. Vergueiro, 1000, Paraíso)

Mészáros lança livro e realiza palestra em São Paulo

O filósofo húngaro István Mészáros, professor emérito da Universidade de Sussex e um dos mais destacados pensadores marxistas da atualidade, visitou o Brasil no último dia 18 de novembro para lançar livros e participar do ciclo de conferên-cias “A dialética em Lukács e o enigma do Estado”, prmovido pela editora Boitempo.

Principal intérprete do pensa-mento de Lukács e um de seus maiores discípulos, Mészáros aproveitou sua vinda para lan-çar o livro O conceito de dia-lética em Lukács, considerado por José Paulo Netto (professor da UFRJ), “um dos melhores e mais criativos estudos já publicados sobre a concepção de dialética que se articula e se desenvolve no conjunto da obra de György Lukács”.

M é s z á r o s e Harvey no Brasil

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9www.fsa.br Jornal de Ciências Sociais - nº 6 novembro de 2013

As Ciências Sociais e as relações raciais no BrasilHosana Meira da Silva Estudante de Ciências Sociais da Fundação Santo André

O Colegiado de Ciências Sociais realizou o curso de extensão “Homena-

gem a Clóvis Moura - Um ativista sem repouso”, organizado por Weber Lopes Goes, ex-aluno da FSA e mestrando Ciências Sociais pela Unesp e contando com a presença de diversos pes-quisadores, entre os quais o prof. dr. Salloma Salomão Jovino da Silva, da FSA. O curso teve como finalidade abordar a biografia do intelectual e militante Clóvis Moura (1925-2003); demonstrar a sua contribuição teórica aos movimentos sociais de esquerda no Brasil, e propiciar aos estu-dantes o acesso a sua produção teórica e ao debate que ela vem suscitando.

Soraya Moura, filha de Cló-vis Moura, fez a exposição de encerramento do curso e da Semana de Ciências Sociais. Soraya falou sobre o legado de seu pai e o exemplo que deixou. Destacou que Clóvis Moura não fazia distinção entre as pessoas, recebendo em sua casa da mes-ma forma carinhosa políticos e intelectuais, “ditos importantes”, e os vizinhos, até mesmo o padre da paróquia de seu bairro, que era um grande amigo de seu pai. Soraya destacou também a dificuldade que Moura tinha em conviver com as estruturas, tanto partidárias quanto acadêmicas, lembrando que ele sempre dizia que jamais deixaria nenhuma dessas estruturas engessar seu pensamento.

Soraya Moura presenteou o Colegiado de Ciências Sociais com algumas obras de Clóvis Moura, que já estão disponíveis na biblioteca.

A luta contra o racismo e as con-tribuições das Ciências Sociais para o estudo da presença negra e as relações raciais no Brasil também foram abordadas numa

Curso de extensão

roda de conversa coordenada por Hosana Meira da Silva (2º ano de Ciências Sociais), e que também contou com a participa-ção de Weber Lopes Goés e do prof. Salloma Salomão Jovino da Silva.

A discussão abordou, numa perspectiva histórica, como as relações étnico-raciais foram tra-tadas, no Brasil, desde o final do século XIX até meados do século XX. Duas formas de abordagem desse tema sucederam-se na produção acadêmica: uma socio-logia e uma antropologia “sobre o negro” e outra “do negro”.

A primeira está ligada aos teóri-cos que buscaram escrever sobre o negro no Brasil a partir de uma perspectiva que colocava o des-cendente de africano escravizado como objeto de estudos. Nina Rodrigues é um dos expoentes dessa corrente. Em suas obras As

Coletividades Anormais, Raça e Responsabilidade Penal e Africa-nos no Brasil, construiu toda uma produção teórica buscando enten-der a cultura e a religiosidade dos africanos no nosso país, mas ao mesmo tempo teve como escopo oferecer subsídios para as elites, e instrumentos ao Estado brasileiro para criminalizar os africanos após a abolição da escravidão. Nesse mesmo sentido, outros pensadores, entre os quais Eu-clides da Cunha, Arthur Ramos, Oliveira Viana, Gilberto Freyre, produziram estudos sociológicos e antropológicos colocando os africanos enquanto objeto de estudos.

O debate também tratou do período em que os(as) negros(as) passaram a ser colocados como objeto de “ciência”. Seu marco é o comentário de Silvio Romero à obra Os Africanos no Brasil, de

Nina Rodrigues: “É uma vergonha para a ciência do Brasil que nada tenhamos consagrado de nossos trabalhos aos estudos das línguas e das religiões africanas. Quando vemos homens, como Bleek, refu-giarem-se dezenas de anos nos cen-tros da África somente para estudar uma língua e coligir uns mitos, nós que temos o material em casa, que temos a África em nossas cozinhas, como a América em nossas selvas, e a Europa em nossos salões, nada havemos produzido neste sentido! É uma desgraça. /.../ Apressem-se os especialistas, visto que os pobres moçambiques, benguelas, monjo-los, congos, cabindas, caçangas... vão morrendo. O melhor ensejo, pode-se dizer, está passando com a benéfica extinção do tráfico. Apressem-se, porém, senão terão de perdê-lo de todo”. (Romero, Sílvio. Estudos sobre a poesia popular, Rio de Janeiro, 1888,

p. 10-11). Por essa observação, Sílvio Romero passou a ser con-siderado como o precursor do negro enquanto objeto de ciência.

A partir daí, diversos pensa-dores passaram a elaborar uma sociologia e uma antropologia “do negro”, destacando-se Flo-restan Fernandes, Roger Basti-de, Oracy Nogueira, Guerreiro Ramos, Abdias do Nascimento, Emilia Viotti da Costa, Clovis Moura, Carlos Hosenbalg, Otavio Ianni, Édison Carneiro, Kabengele Munanga. Todas essas produções colocaram em questão a suposta “democracia racial” que, conforme então se propagava, existira no Brasil. Ou seja, a partir daqueles estudos dos teóricos o o racismo efetivamente existente passou a ser evidenciado e escancarado, contrariando a existência de um “paraíso étnico-racial” em nosso país; a produção dos autores em tela demonstrou que aqui existe uma sociedade desigual do ponto de vista econômico, desigualdade balizada na estrutura de “raça”. Dito de outra forma, os nossos intelectuais que fizeram uma so-ciologia e antropologia do negro, expuseram que a contradição de classes estava concatenada e pode-ria ser identificada a partir das desi-gualdades entres brancos e negros. Essa produção teórica tratou de uma temática tão espinhosa (o ra-cismo no Brasil) colocando os(as) negros(as) como protagonistas da história do nosso país, membros da classe trabalhadora e sujeitos dos movimentos sociais existentes, ul-trapassando a situação até então existente, em que as formas de manifestações dos descendentes de africanos em nosso país não eram consideradas. Desse modo, a partir dos autores citados acima, as Ciências Sociais trouxeram a lume, no seio da luta de classes, a presença dos africanos enquanto expressão da classe do trabalho.

Clóvis Moura e o Prof.Zelbert L. Moore, Ph.D em Antropologia, na biblioteca da sua casa. São Paulo em 2000

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Jornal de Ciências Sociais - nº 6 novembro de 201310 www.colegiadosociais.com

John Gledson debate Machado de AssisJohn Gledson esteve recentemente em São Paulo para o lançamento de Machado de Assis – crônicas escolhidas (Cia das Letras). Na introdução

desse livro, situa a produção desses escritos em função da vida e da obra de Machado e, ao final, apresenta uma história das edições de suas crônicas. Cada um dos 50 textos que compõem o volume foi cuidadosamente anotado e introduzido, para recuperar ao leitor de hoje seu contex-

to de publicação. Nessa entrevista exclusiva concedida a Daniel Fonseca (graduado e mestrando em Letras pela USP), o professor da Universidade de Liverpool fala também sobre a posição de Machado de Assis acerca da escravidão e da abolição, sobre o feminismo e o realismo de sua obra, e ainda sobre como conheceu e se apaixonou pelo trabalho do escritor.

Entrevista

Jornal de Ciências Sociais: Em sua palestra recente na USP, o senhor salientou o fato de que Machado produziu crônicas durante quase toda a vida e que elas constituem pelo menos um quarto das Obras Completas. Em sua opinião, quais aspectos ou fatos históricos mais atraíram a atenção de Machado nessas crônicas? Nelas, ele manifesta mais explicitamente uma posição acerca dos problemas sociais de seu tempo do que nos romances ou contos, por exemplo?

John Gledson: Não há dúvida de que as crônicas manifestam as reações de Machado acerca dos eventos contemporâneos mais explicitamente que os romances e contos: em grande parte, é uma questão de gênero, porque as crônicas comentam os eventos da semana, são mais imediatas – por isso, às vezes, são difíceis de entender para nós, que compartilhamos me-nos, por assim dizer, do ponto de vista do leitor para quem Machado escrevia. A rigor, muitas não são legíveis sem o suporte de notas informativas – mas com elas, revelam-se entre os escritos mais interessantes e pessoais deste escritor discreto.

Vamos tomar um caso concre-to: a Abolição da escravidão em maio de 1888. Nesse momen-to, Machado deliberadamente escolheu um novo “formato” de crônica para comentar esse evento tão importante – é a sua penúltima série, “Bons Dias!” Lá, através da ironia (e portanto sem ser totalmente explícito), ele nos dá as suas opiniões sobre o processo da abolição, de muitos pontos de vista – visto do interior do país (os ex-escravos à procura de trabalho), de um escravo do-méstico (cujo status quase não mudou – é a famosa crônica de

Pancrácio), das mudanças polí-ticas que permitiram a Abolição (que vê com detalhes, e com um certo cinismo) etc. São várias perspectivas, digamos, mas que jogam uma luz complexa sobre os eventos.

O último romance de Machado, Memorial de Aires, de 1908, é também contemporâneo destes eventos – é um “diário” ficcio-nal, escrito pelo conselheiro Ai-res em 1888 e 1889. Entretanto, parece ocupar-se, não da Abo-lição e de suas consequências, mas de assuntos pessoais – o namoro entre a viúva Fidélia e Tristão, que acaba em casamen-to, e na volta do feliz casal para Lisboa, namoro observado com certa simpatia pelo conselheiro. No entanto, Fidélia é filha de um “barão do café”, o barão de Santa Pia, e herda a fazenda do pai, na região mais afetada pela abolição, o vale do Paraíba do Sul. Quando ela vende a fazenda, o conselheiro se pergunta que fim levarão os libertos: “Pode-rão estes fazer a obra comum e corresponder à boa vontade da sinhá-moça? É outra questão, mas não se me dá de a ver ou não resolvida; há muita outra coisa neste mundo mais interessante”. Desprendimento ou cinismo? Aqui, por causa da atitude do diarista-narrador, ficamos bem mais distantes do processo, ao ponto de alguns críticos pensa-rem que os eventos históricos são um mero “pano de fundo”. A distância é maior do que nas crônicas. Isso sim, as crônicas são mais explícitas: embora, não esqueçamos, com ironia. Mas o ponto de vista da ficção não é tão diferente. Machado sempre procura manter certa distância, como escritor. Como pessoa, ele saiu na rua no dia da Abolição: “o único dia de

delírio público que me lembra ter visto”, diz, noutra crônica de 1893.

JCS: Nessa mesma palestra, o senhor afirmou que Machado só interrompeu a produção de crô-nicas durante dois breves perí-odos (entre 1878 e 83, e entre agosto de 1889 e abril de 92). Você poderia nos apresentar, em linhas gerais, suas hipóteses para essas interrupções?

JG: As causas, na medida em que as conhecemos, são bem diferentes, e jogam uma luz curiosa sobre a função das crônicas para Machado. No pri-meiro caso (1878-1883), parece que uma crise fundamental no processo criativo (geral, seja nos romances, nos contos, nas crônicas) calou o cronista durante cinco anos. No meio desse período, em 1880-1881, publica Memórias póstumas de Brás Cubas, que é, como todos sabemos, uma ruptura total na sua ficção. Curiosamente, a úl-tima série de crônicas antes do silêncio, as “Notas semanais” de 1878, têm algo da ousadia e do tom meio enlouquecido das Memórias póstumas, e foi precedida no mesmo espaço do mesmo jornal (O Cruzeiro) por uma série de itens disparatados – “Um cão de lata ao rabo”, “A sonâmbula – ópera em sete colunas”, “Filosofia de um par de botas” etc. – que também participam da mesma atmos-fera criativa. Aqui, Machado usa a crônica, e o espaço do “folhetim” no jornal, para fazer experiências. Aproveita, nou-tras palavras, a liberdade que esse gênero multiforme e pou-co “sério” lhe providenciava (Lúcia Granja e eu publicamos uma edição muito bem anotada das “Notas semanais” pela edi-tora da Unicamp). Mas depois

do intervalo, quando volta à crônica, é num papel menos individualista, digamos – como parte de um grupo de escritores que escreveram as “Balas de estalo” para a Gazeta de Notí-cias, o jornal mais reputado do Rio de Janeiro.

Continuou a escrever para a Gazeta até 1897, quando parou definitivamente de escrever crônica (com a exceção de duas que publicou em 1900, quan-do o cronista habitual, Olavo Bilac, estava fora). Mas há um intervalo importante, entre 1889 e 1892. Machado parou antes da chegada da república (que ele sabia que cedo ou tarde viria, mas que não queria), e silenciou durante os primeiros dois anos do novo regime – anos caóticos na política, e so-bretudo na economia, quando o Brasil experimentou o maior “boom” e “crash” da sua histó-ria, o chamado Encilhamento. Tudo indica que Machado, que tinha um agudo senso da história, não compartilhava a euforia dos seus concidadãos durante este episódio: o que sem dúvida o impedia de es-crever crônicas, porque o cro-nista precisa compartilhar até certo ponto a mentalidade dos seus leitores. Quando voltou a escrever crônica, a “febre” das ações já sofrera o “quinino” do desengano (a imagem é dele), e começa a escrever a série mais ambiciosa e longa da sua vida, “A Semana”. Essas crônicas refletem, entre muitas outras coisas, um ceticismo perante o novo regime, e uma consci-ência de quanto o mundo tinha mudado em tão pouco tempo.

JCS: Difundiu-se e, por in-crível que pareça, ainda se difunde uma visão de Ma-chado “absenteísta” quanto à

condição do negro e quanto à escravidão. Há quem o acuse de “branqueamento”... Pouco tem-po atrás, um anúncio da Caixa Econômica que apresentava um ator branco no papel de Macha-do causou tanta comoção social que foi tirado do ar depois de alguns dias. Ele realmente foi omisso com relação à condição do negro e à escravidão? As crônicas transparecem a posi-ção dele sobre esses assuntos?

JG: Algumas vezes, sim, sobretudo nas crônicas já men-cionadas de “Bons Dias!”. A sua oposição à escravidão foi permanente, e prática – durante os anos 1870 e 1880, no seu papel de funcionário, teve que dar o seu parecer sobre casos controversos na aplicação da Lei do Ventre Livre, e sempre procurou fazê-lo em benefício dos escravos e escravas.

Mas a verdade é que Machado fala mais na escravidão do que na cor da pele. Evidentemente, uma coisa implica outra, mas raramente Machado se refere diretamente à cor das pessoas nos seus escritos em geral, e menos em termos, digamos assim, raciais (Capitu é “more-na”). Que eu saiba, só uma vez nos seus escritos usa a palavra “mulato” – refere-se a “uma mulatinha alta e elegante” no conto “A parasita azul”, de 1872. Bem possível que haja outras ocasiões, mas não me lembro de nenhum. Curiosa-mente, numa crônica de “Bons Dias!”, ele faz um trocadilho entre duas línguas, quando alguém que vê alguma coisa “no ar” (em francês “noire” = negra), mas diz que a república que vem será “Aussi blanche qu’une autre” (“Tão branca como qualquer uma”) – isto é, a república será (como foi) uma

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11www.fsa.br Jornal de Ciências Sociais - nº 6 novembro de 2013

John Gledson debate Machado de Assisoligarquia branca. Não deixa de ser curioso que só se refere à coisa mesma, à cor da pele, através de um procedimento afinal tão rebuscado, tão pouco “terra a terra”, digamos.

Parece que na sociedade, evi-tava o assunto, e o resultado foi o que a gente vê, atores brancos fazendo o papel dele. Há o caso famoso de Joaquim Nabuco, que achava Machado “um grego da melhor época”, e soltou estas palavras incríveis, dizendo que era “um branco, e creio que por tal se tomava; quando houvesse sangue es-tranho, isto em nada afetava a sua perfeita caracterização caucásica”!! Mais incrível que tudo, talvez, é que a certidão de óbito diz que “o falecido era de cor branca”! É só ver as fotos da máscara mortuária dele, onde a herança africana transparece como nunca, para ver o absurdo (a hipocrisia?) dessas palavras. (Tiro uma parte dessas informa-ções do excelente Dicionário de Machado de Assis, de Ubiratan Machado, publicado pela Aca-demia Brasileira de Letras.)

JCS: Na introdução de “Por um novo Machado de Assis”, o senhor afirma que vem desco-brindo e revelando aos leitores “um novo e diferente” Macha-do. Você poderia falar um pou-co sobre esse assunto? Poderia nos dar algumas indicações do que era o “velho” e do que é esse “novo” Machado?

JG: Como se sabe, a imagem que temos de Machado mudou muito ao longo dos mais de cem anos desde a sua morte. Tem havido verdadeiras viravoltas, o caso mais evidente sendo a “descoberta” da possível ino-cência de Capitu, que provocou tanta discussão, e gerou, como costumo dizer, mais calor do que luz. Mas serve para ilustrar um dos aspectos deste “novo” Machado: ele questiona os este-reótipos, sexuais e outros, mais ou menos aceitos no tempo dele, e que, em maior ou menor grau, sobrevivem no nosso tem-po. Quando percebemos que Bento constrói o seu romance sobre alguns desses estereóti-pos, começamos um processo (fascinante e revelador) de “desconstruí-los”. Para mim, esse processo proporciona uma parte importante do prazer de ler o romance; ao entrar na

cabeça de Bento, e entender como todas as sutilezas dele se sustentam sobre uma atitude profundamente patriarcal, de menino mimado e adorador da mãezinha, estamos explo-rando, e entendendo o mundo desse tempo, e o nosso mundo também – nós mesmos, até – melhor. Devo insistir que, para mim, isso não significa que pos-samos “desprezar” Bentinho, nem precisamos fazer de Capitu uma santa. Ninguém nesse romance é um “malvado”. Um dos antecedentes de José Dias, por exemplo, é, sem dúvida, Uriah Heep, o “very ’umble man” de David Copperfield, de Dickens, que também é um intruso, protegido de uma famí-lia que ele acaba dominando e quase destruindo. Mas Heep é odioso, e José Dias, meramente cômico – ou tem alguma coisa da malvadez do inglês? É um manipulador, que está fazendo tudo para que Bentinho não te-nha filhos que poriam a posição dele na casa em perigo – sem querer exagerar, está “castran-do” o moço. Mas não o faz por malvadez: está defendendo a sua posição na família, coisa perfeitamente compreensível.

Voltando à pergunta específi-ca, creio que o “novo” Machado que quero revelar é um Macha-do “realista” no melhor sentido da palavra, que revela e expõe uma realidade multiforme, não--dogmática. O maior prazer que proporciona talvez é a sensação que ele abre o mundo para nós, e que nada lhe era estranho – o que significa que podemos ex-plorar com a certeza de fazer novas descobertas. Por exem-plo: numa crônica que editei agora para a nova antologia publicada pela Companhia das Letras, “descobri” um caso de amor lésbico que acabou em tragédia (no suicídio de uma das duas mulheres). Mas o bom do caso é a recusa de Machado de “categorizar” esse amor, como se fosse compreensível em termos “científicos”: ironi-camente, ele acaba imaginando alguém que pudesse “passear na alma da gente, como tu por tua casa”. Até que ponto compre-endemos nossos semelhantes? É isso que quero dizer quando digo que ele “abre” o mundo para nós.

JCS: Sua obra demonstra um

carinho especial pela perso-nagem Capitu. Depois de seu livro sobre Dom Casmurro, “Machado de Assis: impostura e realismo”, você retorna a ela no ensaio “Capitu, a persona-gem”. Nele, lê-se que ela tem algo do novo feminismo “agres-sivo” e “liberador” de Nora, personagem de Ibsen, e que há “algo de honestidade, realismo e integridade nela, um ímpeto, que talvez não esteja presente nesse grau em nenhuma das outras mulheres de Machado, antes ou depois”. Você poderia falar um pouco sobre Capitu e as mulheres de Machado de Assis?, o que há de feminismo na forma como ele figura essas personagens?

... Quando li Machado pela

primeira vez, por volta de 1970,

confesso que não entendia nem

vibrava

JG: O feminismo de Machado de Assis, como nunca devemos esquecer, como aliás muitos fe-minismos do séc. XIX, parte de um ponto muito baixo – a saber, a situação da mulher nessa socieda-de. Dona Fernanda, personagem curiosa de Quincas Borba, diz a Maria Benedita que “um ma-rido, ainda sendo mau, sempre é melhor que o melhor dos so-nhos”. Isso porque, sem marido, a mulher não tinha posição fixa na sociedade. Esta dependência da mulher tinha consequências profundas na sociedade – veja o caso de Estela, de Iaiá Garcia, que quando fica sem marido no fim do romance, vai ser professora no interior de São Paulo – não tem condições de existir no Rio de Ja-neiro, a não ser humilhantes. Ou o caso mais complexo talvez de Dona Glória, em Dom Casmurro, que, apesar de ser uma senhora rica, ainda finge que é mera dona de casa: “Lidava assim, com os seus sapatos de cordovão rasos e surdos, a um lado e outro, ven-do e guiando os serviços todos da casa inteira, desde manhã

até à noite.” A consequência é um vácuo na casa, preenchido (mal) pelo tio Cosme, e (ainda pior) por José Dias.

Na sua ficção “madura” (de 1880 em diante), Machado explora esta situação de mil maneiras. Na década de 1880, creio que isto até toma aspectos sistemáticos, nos (muitos) con-tos desses anos, e em Quincas Borba. Nos primeiros, explora alguns dos limites trágicos des-sa situação – um caso “simples” de adultério, que termina como tinha que terminar n’ “A car-tomante”, a prostituição num dos melhores contos, “Singular ocorrência”. Noutros casos, a mesma situação serve para fins cômicos, como em “Capítulo dos chapéus”, onde as velei-dades de rebelião da Mariana contra o marido “autoritário e voluntarioso” terminam em nada, mas acabamos sabendo que ela ouvira da sua amiga Sofia, que conseguiu dominar o marido dela, “uma porção de histórias de chapéus masculinos e femininos, coisa mais grave do que uma simples briga de casados”. E assim, muitos outros contos – não devemos esquecer também que uma boa parte dos leitores de Machado eram lei-toras, e ele frequentemente se endereça a elas. Quincas Borba é uma espécie de clímax dessa exploração quase sistemática da posição da mulher na sociedade: vemos um leque de mulheres – Sofia, Maria Benedita, Dona To-nica, Dona Fernanda – que todas lidam com a situação exposta por esta última, cada uma à sua ma-neira. Fora do âmbito da ficção, em termos práticos, do pouco que sabemos, Machado era a favor, por exemplo, da educação das mulheres, e diz isto mesmo num artigo curto n’A Estação, jornal feminino, de modas, com que ele contribuiu ao longo de mui-tos anos, chamado “Cherchez la femme”, de 1881.

Capitu talvez seja outro clímax neste feminismo tão importante na ficção machadiana – apesar de ser vista só através do olhar e da memória de Bentinho, Machado deixa adivinhar uma força maior, uma vontade de se realizar que acaba sendo aplas-tada pelos ciúmes do marido. Novamente, não estou falando em termos morais, muito me-nos em possível adultério, mas

simplesmente numa vontade de se afirmar – se realizar, enfim. Mas não quero repetir o que já disse em Impostura e realismo e no ensaio de Por um novo Machado de Assis.

JCS: O senhor poderia falar um pouco sobre como conhe-ceu e “se apaixonou” pela obra de Machado de Assis?

JG: Quando li Machado pela primeira vez, por volta de 1970, confesso que não entendia nem vibrava – talvez por ter come-çado por Esaú e Jacó, que é um grande romance, mas um mau começo para um principiante. Não sei – talvez as duas coisas mais essenciais para entender e gostar de ler Machado, de vibrar mesmo, sejam uma apre-ciação da ironia, e um entendi-mento, por precário que seja, do modus operandi da sociedade brasileira. A primeira, creio que tenho de nascença, talvez até um pouco pela nacionalidade – os ingleses temos fama de ser congenitamente irônicos, e alguns nos nossos maiores escritores, a começar por Jane Austen, dependem de um uso variado e sutil dessa arma. Co-mecei a explorar essa ironia em termos brasileiros pela mão de Drummond, o primeiro escritor que explorei a fundo, e que amo até hoje.

Ao longo dos anos (a década de 1970, mais ou menos) em que estudei Drummond, vinha em contato com a sociedade e a história brasileiras, mas só no fim da década comecei a en-tender um pouco melhor como funciona – digo um pouco me-lhor, porque é um processo que continua. Mas uma descoberta fundamental, que me ajudou a entender melhor os brasileiros e Machado, foi a leitura de Ao vencedor as batatas, de Rober-to Schwarz, livro publicado em 1977 e que devo ter lido no ano seguinte. Sobretudo, a sua análise dos primeiros romances de Machado em termos das relações de favor, e da posição dos “agregados”, os homens livres e pobres, foi a chave para entender Machado. Nesses anos, li os romances e contos um pouco sistematicamente, e topei com Casa velha. Com a ajuda de Ao vencedor..., comecei a ver coisas... e daí em diante, não terminei.

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Jornal de Ciências Sociais - nº 6 novembro de 201312 www.colegiadosociais.com

Profissão: cientista socialPré-requisitos fundamentaisCapacidade de investigação científico-social - observação, pesquisa e análise dos fenômenos sociais (políticos e econômicos) e o interesse pela renovação da sociedade. São esses os atributos de que necessita o Cientista Social, profissional que lida diariamente com os desafios do mundo contemporâneo, seus meandros históricos e as perspectivas de sua transformação.

Demanda em altaAlém da já consolidada carreira de pesquisador e docente no ensino superior, no ensino médio e no fundamental, uma ampla gama de atividades de plane-jamento, consultoria e pesquisas sociais são do universo do profissional de Ciências Sociais (veja ao lado): Sociólogo (profissão reconhecida pela Lei 6.888, de 10/12/1980), Cientista Político ou Antropólogo. O curso de Ciências Sociais da Fundação Santo André prepara o estudante para exercer essas atividades, oferecendo o bacharelado integrado à licenciatura, ne-cessária para atuar como professor no ensino médio e fundamental.

Depoimentos de ex-alunos“Estudar na Fundação foi fundamental para minha militância e para minha vida pessoal e profissional. Se hoje me considero uma pessoa crítica e uma profissional de respeito, devo isso, em grande medida, à minha vida acadêmica na Fundação. Tenho orgulho de fazer parte desta história.”Vânia Noeli Ferreira de Assunção (Socióloga pela FSA, professora univer-sitária, doutora em Ciências Sociais pela PUC-SP). “Concluí o curso de Ciências Sociais na FSA em 2007. A formação crítica e humanista que tive no curso, o referencial teórico consistente e as relações que estabeleci com professores e colegas foram de extrema importância para minha formação individual e para o amplo leque atividades profissionais que já desenvolvi.” Thaís de Souza Lapa (mestranda em Sociologia pela USP; professora da FSA, coautora do livro Aborto e Religião nos Tribunais Brasileiros).

“O curso de Ciências Sociais da FSA me possibilitou não apenas a qualifi-cação necessária para trabalhar em institutos de pesquisa, mas também a ampliação de horizontes no tocante ao prosseguimento da vida acadêmica.” Vladmir Luis da Silva (mestre em História Social pela PUC; professor de Sociologia).

Num mundo em que as transformações econômicas, políticas e culturais têm sido tão constantes e profundas, são as Ciências Sociais que oferecem os meios mais adequados para a compreensão teórica das novas condições humano societárias, sua complexidade e instrumental teórico para a intervenção transformadora.

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