Jornal do Departamento de Ciências da Comunicação...

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01 2ªsérie nº04 Jornal do Departamento de Ciências da Comunicação // ECATI Universidade Lusófona 2017 Dossier Lusófona no 4º Congresso dos Jornalistas Academia Provas de agregação de Luís Cláudio Ribeiro e José Gomes Pinto Prémio para alunas do DCC Artigo de opinião de Mário Mesquita Primavera

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2ªsérienº04

Jornal do Departamento de Ciências da Comunicação // ECATIUniversidade Lusófona

2017

DossierLusófona no 4º Congresso dos Jornalistas

AcademiaProvas de agregação de Luís Cláudio Ribeiro e José Gomes Pinto

Prémio para alunas do DCCArtigo de opinião de Mário Mesquita

Primavera

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Nota da Editora

Ficha técnicaDiretor: Luís Cláudio RibeiroEditoras: Carla Rodrigues Cardoso e Sara PinaColaboraram neste número: Alexandre Sabino, Ana Cristina Soares, Beatriz Costa, Catarina Gonçalves, Jessi Martins, Jéssica Ferreira, Joana Ochôa, Jorge Bruno, Marcelo Teixeira, Margarida Vicente, Mariana Moita, Mário Mesquita, Patrícia Pereira, Pedro Miranda, Ricardo Dias, Rui Coutinho e Sofia Morgado.Projeto Gráfico: Alexandra Barradas e Yulianna ZosymskaTiragem: 250 exemplares – Distribuição GratuitaPré-Impressão, Impressão e Acabamentos: Serisexpresso – Edições e ImpressãoISSN: 351.178 – Propriedade: COFAC

02 Nota da editora

03 Academia

04 Investigar e publicar

05 Prémio para alunas de CCC

06 Conferências

07 Dossier No 4º Congresso dos Jornalistas

08 Testemunhos 10 Fotogaleria 12 Como se faz bom jornalismo em Portugal

14 Entrevista Maria Flor Pedroso

15 Opinião Mário Mesquita

16 Fora do campus A fechar…

Estamos de parabéns!Tinha tudo para correr mal. E não podia ter corrido melhor. Há cerca de um ano, a Lusófona foi convidada para ser parceira do 4º Congresso dos Jornalistas Portugueses, uma iniciativa que não acontecia há quase 20 anos. A comissão organizadora selecionou dez instituições de Ensino Superior com cursos de jornalismo, espalhadas pelo país. Fora do setor público, apenas contou com a Universidade Católica de Lisboa e connosco.

De cada parceiro partiram dois professores e oito estudantes que integrarem, lado a lado com os jornalistas, a redação multiplataforma do Congresso de 12 a 15 de janeiro. Uma das nossas alunas não podia cumprir todo o horário que lhe foi atribuído. Graças a este acaso feliz, a Lusófona participou não com oito mas com nove estudantes. Na tarde do primeiro dia, a equipa esteve presente na totalidade – mais de cem pessoas na Sala 2 do Cinema S. Jorge. Uma sala que deu lugar a uma moderna redação com condições invejáveis – zona de entrevistas, de gravação áudio e vídeo, redes sociais, online, um jornal diário em papel.

Os professores voltaram a sentir a adrenalina de pisarem uma redação como editores, os alunos acordaram jornalistas. E o que poderia ter sido caótico resultou num trabalho inédito. O tema deste ano letivo do Departamento de Ciências da Comunicação (DCC) é «Migrações». E a experiência de quem viveu o 4º Congressos dos Jornalistas não podia ter sido mais transformadora. Todas as equipas misturaram professores, alunos e jornalistas, das mais

variadas origens, a trabalharem como um corpo único e focado no mesmo objetivo.

É necessário sublinhar, ainda, que meses antes do Congresso abrir portas, a equipa da Lusófona começou logo a trabalhar, tendo alimentado o site lançado previamente com quatro reportagens. Nesta parceria acabaram assim por participar não dez, mas 13 pessoas, dez alunos e três professoras: as editoras do MEDIALOGIAS e Helena Mendonça. O dossier deste número, com oito páginas, dá testemunho dessa experiência alucinante, que continua a poder ser revivida no site do Congresso, em http://www.jornalistas.congressodosjornalistas.com/.

Este jornal mostra também a vitalidade do DCC. Visitas de estudo, conferências, publicações e prémios multiplicam-se nas páginas que se seguem. O testemunho da Jéssica Ferreira, na p. 5, mostra bem o que se pode alcançar quando professores e alunos dão mais do que tudo. Contamos com um artigo de opinião de Mário Mesquita na p. 15. E não podemos deixar de sublinhar a notícia que ocupa a p. 3, mesmo aqui ao lado. Em menos de um mês, dois professores do Departamento prestaram com êxito provas de Agregação: o diretor do DCC, Luís Cláudio Ribeiro, e o codiretor da Escola de Comunicação Artes e Tecnologias da Informação, José Gomes Pinto. Este é, por isso, um número de primavera e de muitos parabéns!

Carla Rodrigues Cardoso

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Academia

«Estas provas, defendidas com brilho perante alguns dos principais especialistas em Ciências da Comunicação, constituem um momento importante para a qualificação da equipa docente da ECATI», considera José Bragança de Miranda, diretor da maior unidade orgânica da Lusófona, que agrega quatro departamentos, quatro centros de investigação e mais de três dezenas de cursos entre licenciaturas, mestrados e doutoramentos.

Nas provas públicas de Agregação, a 30 e 31 de janeiro, o diretor do Departamento de Ciências da Comunicação (DCC) apresentou na Universidade da Beira Interior a lição em Cultura do Som, intitulada «Os Desvios do Fundamento Técnico Sonoro». Luís Cláudio Ribeiro está há mais de 20 anos na Lusófona e para além do DCC, dirige a licenciatura em Ciências da Comunicação e da Cultura e o 1º Ciclo de Ciência e Tecnologias do Som. Em paralelo, desenvolve carreira como romancista e poeta.

Menos de um mês depois, a 22 e 23 de fevereiro, na Universidade do Minho, foi a vez do codiretor da ECATI prestar provas públicas com a lição «Para uma retórica da técnica», enquadrada na disciplina de Teoria dos Média. Doutorado em Filosofia pela Universidade de Salamanca, na Especialidade Estética e Teoria das Artes, José Gomes Pinto é professor da Lusófona há cerca de duas décadas, tendo desempenhado os mais diversos cargos de direção na instituição.

«Um momento importante para a qualificação da equipa docente da ECATI»

«É com alegria que registamos este acontecimento»«Para além de testemunharem a capacidade de investigação, a riqueza do trabalho de escrita e de divulgação científicas destes nossos colegas, as provas de agregação correspondem ao reconhecimento a nível nacional e europeu de que estamos diante de intelectuais produtivos, capazes de contribuir com saber novo para a comunidade académica», considera Bragança de Miranda.

O diretor da ECATI afirma que «é com alegria que registamos este acontecimento, pois trata-se de colegas que todos nos temos habituado a admirar pela nobreza de carácter e pelo maneira como têm dado o seu melhor para o desenvolvimento da estratégia da ECATI e da Universidade, que assim se vê reforçada e consolidada».

Os primeiros dois meses de 2017 enriqueceram o Departamento de Ciências da Comunicação, a Escola de Comunicação, Arquitetura, Artes e Tecnologias da Informação (ECATI) e a Universidade Lusófona. José Gomes Pinto e Luís Cláudio Ribeiro prestaram provas para a obtenção de Agregação e conquistaram o novo título académico.

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Investigar e Publicar

«Média e Género» de regresso e muito mais

José Carlos Neves defendeu a 16 de dezembro tese de doutoramento em Ciências da Comunicação na Universidade Lusófona. Orientada por José Gomes Pinto e coorientada por Isabel Secca Ruivo, a tese, intitulada Amachina – a dimensão paradoxal do interface na obra interativa, foi aprovada com distinção e louvor. Para além de docente, o novo doutorado do Departamento de Ciências da Comunicação é o responsável pela coordenação das unidades curriculares de design e tecnologias. A 6 de março foi a vez de Possidónio Cachapa defender tese também em Ciências da Comunicação. Com o título «A produtividade na adaptação cinematográfica de romance: O caso ‘materna Doçura’», a tese foi orientada por José Bragança de Miranda, diretor da ECATI.

Mais dois doutorados em Ciências da Comunicação

O elefante que teima em manter-se na sala

Carla Martins publicou em janeiro o artigo «A desigualdade de género é o elefante na sala» no livro A Crise do Jornalismo em Portugal, uma edição Deriva e Le Monde Diplomatique. A professora do Departamento de Ciências da Comunicação, que dirige o mestrado em Jornalismo, História e Política Contemporânea, é também especialista em análise dos média na Entidade Reguladora para a Comunicação Social. Neste artigo aborda os desequilíbrios na cobertura mediática de homens e mulheres.

Jorge Humberto lançou a 10 de fevereiro Bairro Cova da Moura nos títulos de imprensa, obra que resulta da tese de mestrado em Comunicação Organizacional do Departamento de Ciências da Comunicação, que defendeu em 2011. O livro «é o resultado da análise do conteúdo informativo sobre o bairro nos títulos de imprensa, na tentativa de vermos como é que os assuntos relacionados com o mesmo são retratados na comunicação social», explica o autor. Público, Correio da Manhã e Expresso foram os jornais analisados pelo investigador.

Em sete anos fecharam quatro bancos em Portugal. Porquê? Helena Garrido foi à procura de respostas. A jornalista e professora de Jornalismo Económico do Departamento de Ciências da Comunicação, desvenda «operações financeiras no fio da navalha» e demonstra que «os poderosos» sabiam «que o edifício estava a ruir». Está tudo no livro A Vida e a Morte dos Nossos Bancos, que Helena Garrido lançou a 15 de novembro. A obra foi apresentada pelos jornalistas António José Teixeira e Paulo Ferreira.

Crise bancária à lupa

Cova da Moura nos títulos de imprensa

Arrancou a 17 de fevereiro a 2ª edição do curso livre «Média e Género», organizado por Daniel Cardoso. Esta formação do Departamento de Ciências da Comunicação (DCC) explora o conceito de género e traça a sua história, fora e dentro do contexto académico.

Um ano após se ter doutorado com a classificação máxima na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, com a tese «Entre corpos e ecrãs - Identidades e Sexualidades dos jovens nos novos media», Daniel Cardoso não tem parado.

Entre as crónicas online no P3 do jornal Público e a participação em conferências, o professor do DCC assinou um capítulo no livro LGBTQs, Media and Culture in Europe, editado pela Routledge, em dezembro do ano passado.

Em janeiro, Daniel Cardoso esteve na Universidade de Pádua, em Itália, onde participou no ciclo «Sexuality, Gender, Communication & Culture», ao abrigo de uma bolsa Erasmus Staff Mobility. No primeiro mês de 2017 ainda encontrou tempo para terminar as gravações do MOOC «Introdução aos Feminismos», que entrou em pós-produção no início de março.

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Prémio

«Ser jornalista é mesmo a melhor profissão do mundo»

«Há experiências e histórias que nos marcam e esta sem dúvida que foi uma delas».

Das salas da Lusófona, em Lisboa, para a redação do Diário do Alentejo, em Beja, para serem jornalistas. Um desafio inesquecível para os estudantes do 1º ano da licenciatura em Ciências da Comunicação e da Cultura, acompanhados pelo professor Ricado J. Rodrigues. Mas as emoções não ficaram por aqui. O artigo «Depois da Tempestade, o Alentejo», assinado por três alunas, ganhou o Prémio Jovem para melhor reportagem do Alto Comissariado para as Migrações. Jéssica Ferreira, uma das premiadas, conta ao MEDIALOGIAS como foi.

Dias depois partimos para Beja. Assim que lá chegámos fomos para o jornal e, logo de seguida, começámos a trabalhar no terreno. A fasquia estava alta e não podíamos deixar ninguém ficar mal. Tínhamos uma reunião agendada com a psicóloga e técnica da Cruz Vermelha – Vânia Castanheira – que acompanhou todo o processo dos quatros homens. Depois de algumas horas de conversa, rapidamente a questionámos: «Podemos vê-los? E falar com eles?». Quando demos por nós tínhamos conseguido contactar com os refugiados e a história era nossa, foi incrível!

O medo de não conseguirmos a história foi substituído pelo peso da responsabilidade, que era enorme. Nós tínhamos «ouro» nas mãos e só nos restava saber trabalhá-lo. Quando regressámos à redação e contámos a novidade, não cabíamos em nós de emoção. Fomos as primeiras na comunicação social a ter acesso a esta história e à informação de que nessa mesma semana os quatro refugiados iriam reunir com o Presidente da República. Regressámos a Lisboa de coração cheio e com a sensação de «missão cumprida». Há experiências e histórias que nos marcam e esta sem dúvida que foi uma delas, pois permitiu que alargássemos os nossos horizontes e, que tivéssemos outra perceção acerca do assunto.

Em Abril de 2016 o professor Ricardo J. Rodrigues levou a minha turma a Beja para escrevermos uma edição do jornal do Diário do Alentejo. Quando o professor nos dividiu em grupos e distribuiu os temas, calhou-me em mãos um tema bastante atual, que nunca pensei vir a dar frutos. Em parceria com as minhas colegas Filipa Coelho e Juliana Rocha escrevemos a reportagem de primeira página – «Depois da Tempestade, o Alentejo» – que retrata o percurso de quatro refugiados sírios pelo Mediterrâneo até chegarem a Beja.

Por ser um assunto atual, regido por inúmeras e distintas opiniões, era fundamental ter em atenção a forma como iríamos tratar o tema… Foi aí que se manifestaram as primeiras inseguranças e os primeiros medos. Inicialmente não surgiram ideias. Não sabíamos se era possível chegar até aos refugiados ou até mesmo falar com eles. Afinal como é que iríamos «sacar» a história? Estávamos perante uma incógnita e, por isso, as aulas de preparação que tivemos antes de iniciarmos este projeto foram fundamentais. Numa dessas aulas contámos com a participação de vários jornalistas, grandes profissionais que nos ajudaram a construir os projetos, entre eles estava a Rita Garcia que foi uma mais-valia para nós e para a preparação desta reportagem.

Um mês após termos embarcado nesta aventura, o Alto Comissariado para as Migrações lançou uma 2ª edição do Prémio Comunicação «Pela Diversidade Cultural» e o professor Ricardo J. Rodrigues sugeriu que nos candidatássemos à categoria de Prémio Jovem com a nossa reportagem. Assim o fizemos. Nunca nos passou pela cabeça que uma mera reportagem que teve origem em Beja, no âmbito de um trabalho académico, pudesse ter uma dimensão tão grande. A entrega do prémio foi no dia 20 de dezembro e, quando soube que tínhamos ganho senti que todo o esforço tinha sido recompensado. A reportagem foi fruto de muito trabalho, no qual estiveram presentes os nossos medos e as nossas inseguranças mas que no final teve um sabor muito especial.

No entanto, nada disto seria possível sem a ajuda do professor Ricardo J. Rodrigues que foi incansável e nos ensinou muito, e de Paulo Barriga – diretor do Diário do Alentejo – que sem nos conhecer deixou que a malta da Lusófona lhe invadisse a redação por dois dias acreditando sempre em nós e no nosso trabalho. São duas pessoas que, com toda a certeza, vamos levar connosco no nosso percurso de aprendizagem. Agradeço-lhes por me fazerem acreditar que ser jornalista é mesmo a melhor profissão do mundo.

Jéssica Ferreira

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Conferências

Após o sucesso alcançado em 2015, a conferência internacional «Stereo & Immersive Media» regressou para a segunda edição de 27 a 29 de outubro, novamente organizada por Victor Flores, professor e investigador do Departamento de Ciências da Comunicação. O encontro, que decorreu entre o campus da Lusófona e a Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa, reuniu os campos de investigação da imagem fotográfica e do som.

O Ciclo de Conferências Internacionais ECATI/MCB mantém a sua vitalidade. Mais três encontros fecharam a VI Edição, com as participações de Mário Krüger, Joseph Vogl e Pedro Lapa. Com 2017 iniciou-se o VII Edição, enquadrada pelo tema «Do impulso arquivial». O pontapé de saída, em janeiro, começou com José Bragança de Miranda com «Anarquivo», Victor del Rio com «O arquivo: o subjectivo do meio» e José Gomes Pinto com «Arquivo: uma teologia democratizada e tecnificada». Em fevereiro, Luísa Ribas e Sara Orsi abordaram o tema: «Do Arquivo ao Novo: Impactos da Tecnologia Digital na Noção de Arquivo». José Maçãs de Carvalho e Ana Rito são os convidados da terceira conferência, a 22 de março, sobre o tema «Travelling – O ‘acontecimento’ arquivial». As edições de abril e maio vão contar com a participação de Moisés Lemos Martins e Wolfgang Ernst, respetivamente. Sempre às 18.00, no auditório do Museu Colecção Berardo, no Centro Cultural de Belém.

Os intelectuais estão de regresso?

Ao longo de dois meses, Mário Mesquita coordenou e moderou o ciclo de conferências «O regresso dos intelectuais em tempos de crise». As quatro sessões acolhidas pelo El Corte Inglés começaram com uma conferência de abertura de Eduardo Lourenço a 27 de setembro, que esgotou as inscrições. Seguiram-se três mesas-redondas com três convidados, uma em outubro sobre «Os intelectuais na crise europeia» e duas em novembro sobre «Os intelectuais na era dos media» e «Os intelectuais na democracia». Do livro às redes sociais, os debates procuraram respostas «num tempo», explica o jornalista e professor do Departamento de Ciências da Comunicação, «em que o desenvolvimento da sociedade em rede significa, paradoxalmente, multiplicação de atores no espaço público e falta de referências».

A caracterização e a regulamentação do setor, a falta de estudos de audiência, e o ordenamento e enquadramento do meio no espaço público, foram temas que marcaram o 2º encontro Nacional – O Meio Outdoor em Portugal. Uma organização da Associação Portuguesa das Empresas de Publicidade Exterior, acolhida pelo Departamento de Ciências da Comunicação (DCC), que a 15 de Novembro reuniu na Lusófona vários profissionais e contou com a participação do publicitário brasileiro Edson Athayde. A moderação dos painéis esteve a cargo do diretor da Licenciatura em Comunicação Aplicada, Rui Estrela, e dos professores do DCC, Jorge Bruno e Paula Lopes.

«Impulso arquivial» em destaque nas Conferências ECATI/MCB

Seis painéis temáticos, 56 comunicações e 250 participantes animaram o encontro que reuniu investigadores oriundos de 14 países, não só europeus, como Espanha, Alemanha ou Reino Unido, mas de todos os pontos do globo: Índia, Rússia, Brasil, Canadá ou Estados Unidos são alguns exemplos. A terceira edição está agendada para junho de 2018, mas até lá prometem-se novidades que o MEDIALOGIAS irá acompanhar.

«Stereo & Immersive Media»: nova edição, novo êxito

Edson Athayde no 2º encontro Nacional – O Meio Outdoor

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Dossier

Lusófona no 4º Congresso dos Jornalistas

De 12 a 15 de janeiro, mais de 100 alunos e professores de dez instituições de Ensino Superior, de Norte a Sul do país, reuniram-se na Sala 2 do Cinema S. Jorge. Deram vida a uma ideia sonhada pela jornalista Dina Soares: uma redação multiplataforma que reunisse profissionais e academia, no 4º Congresso dos Jornalistas Portugueses.

Da Lusófona, rumaram seis alunos da Licenciatura em Comunicação e Jornalismo (CJ) e três da Licenciatura em Ciências da Comunicação e da Cultura (CCC), na companhia das professoras Carla Rodrigues Cardoso, diretora de CJ, e Sara Pina, coordenadora da área de Jornalismo de CCC. Na fase inicial da parceria colaboraram ainda a aluna Anna Escobar e a professora Helena Mendonça.

Mas existe um 14º elemento que merece um destaque especial: Helena Garrido. A jornalista, que é também professora na Lusófona, integrou a Comissão Executiva do Congresso – um grupo restrito de oito pessoas, responsáveis por todas as decisões operacionais que fizeram desta iniciativa uma realidade.

Nas páginas que se seguem vislumbra-se a intensidade desta aventura…

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Dossier | Congresso dos Jornalistas

Jornalistas por quatro diasQuando entraram na Sala 2 do Cinema S. Jorge, a 12 de janeiro, as transformações superaram as expetativas mais elevadas. À sua frente estendia-se uma moderna redação multiplataforma pronta a estrear. Jornalistas, professores e alunos de dez instituições de Ensino Superior circulavam entre computadores, câmaras de vídeo, máquinas fotográficas, postos de gravação de som. De repente, os nove alunos da Lusófona perceberam: eram jornalistas. Aqui ficam os testemunhos de quatro dias inesquecíveis.

Alexandre Sabino2º ano de CCC / Fotojornalista

«Poder estar presente no 4º Congresso dos Jornalistas, a trabalhar com colegas e professores da área em que eu quero ingressar é o melhor que guardo desta tão boa experiência. Poder ouvir quem sabe e quem tem intenções de tornar o jornalismo numa profissão melhor é um privilégio que me deixa bastante feliz. As expectativas eram altas e, no fim, para além de as cumprir, ainda saí do Cinema São Jorge com mais vontade de praticar esta profissão: o jornalismo. A fotografia é, sem dúvida, uma área importante para demonstrar ao leitor o que se relata em formato escrito e poder captar certas imagens, certos sentimentos e certos momentos.»

Ana Cristina Soares2º ano de CJ / Jornalista de redes sociais

«Trabalhar na redação multiplataforma no 4º Congresso dos Jornalistas Portugueses foi o mais próximo que estive do mundo real, no que ao trabalho como jornalista diz respeito. Foi exigente, mas será, sem dúvida, uma experiência que irei guardar na memória. Gostei de editar vídeos e de colocá-los no YouTube, assim como de atualizar a rede social Facebook com artigos e iniciativas relacionados com o Congresso. O acompanhamento minuto a minuto de algumas conferências no Twitter foi emocionante: sem rede e sem poder falhar.»

Beatriz Costa2º ano de CJ / Jornalista de vídeo

«Trabalhar pela primeira vez num congresso que não ocorria há quase 20 anos foi uma grande experiência. Do ponto de vista pessoal e académico, esta iniciativa permitiu conhecer melhor a profissão de jornalista em Portugal, adquirir conhecimentos e aprender a trabalhar sob pressão.  Foi especialmente notável o esforço dos 80 alunos que nunca tinham trabalhado como jornalistas e que conseguiram cumprir o seu propósito, com a ajuda dos profissionais. Obrigada pela oportunidade!»

Catarina Gonçalves2º ano de CJ / Fotojornalista

«Fazer parte do 4º Congresso dos Jornalistas foi uma experiência inesquecível e bastante enriquecedora. Foi um evento muito bem conseguido, com uma equipa extremamente bem constituída e organizada. Juntar alunos de diversas universidades revelou ser uma excelente iniciativa e algo que acabou por tornar a experiência ainda melhor. Aprendi bastante, essencialmente a trabalhar sob pressão e desenvolvi imensas capacidades e conhecimentos. Foi um privilégio enorme representar a universidade e poder trabalhar pela primeira vez no campo do jornalismo.»

Jessi Martins 3º ano de CJ / Jornalista de online

«Fazer parte do 4º Congresso dos Jornalistas Portugueses foi uma honra muito grande para nós jovens universitários, envolvidos no projeto. Para mim, a experiência foi marcante. Entrei nesta aventura a convite da professora Carla Cardoso, a quem agradeço imenso. Primeiro, pensei que seria apenas uma formação, algo que me enriquecesse o currículo. Hoje, afirmo com sinceridade que foi um divisor de águas para mim. Durante os quatro dias mostrei muito e dei tudo, mas sem dúvida aprendi muito mais. Foi a primeira vez na minha vida que senti a adrenalina de publicar uma peça de grande importância, feita num curto prazo, onde ao mesmo tempo tive que lidar com a pressão de trabalhar ao lado dos melhores jornalistas do país e não só. Participei na entrevista ao presidente Marcelo Rebelo de Sousa, oportunidade esta que me deixou confiante para entrevistar qualquer pessoa a partir de agora. Confesso que vivi alguns momentos difíceis em que me sentia uma ‘simples aluna perdida’ devido à quantidade de coisas novas para lidar: uma secção online a todo o vapor, entrevistas, textos, tudo muito rápido. E em outros momentos estava tão focada e envolvida no trabalho que me sentia uma jornalista ‘a sério’. Estou de facto muito orgulhosa do trabalho que fiz, não só do meu, mas de todos os que lá estiveram. Fizemos algo marcante: pela primeira vez uma redação foi constituída por alunos, professores e jornalistas. No fim da experiência, fica a saudade da sala número dois que dava lugar a uma redação em que o ambiente era tão acolhedor e ao mesmo tempo tão tenso e cheio de vida que me reacendeu a paixão pelo jornalismo.»

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Congresso dos Jornalistas | Dossier

1. Alexandre Sabino a ser entrevistado na redação do Congresso de onde saiu «com mais vontade de praticar esta profissão: o Jornalismo».2. Ana Cristina Soares em funções como jornalista de redes sociais.3. Mariana Moita com algum do seu material de trabalho, a caneta do Cenjor, o caderno do Congresso e o badge atribuído a todos os participantes.4. Para Patrícia Pereira, «ficou a sensação de dever cumprido».5. Jessi Martins, a primeira à direita, a representar a Lusófona na entrevista coletiva ao presidente Marcelo Rebelo de Sousa.6. Marcelo Teixeira começou a trabalhar meses antes do Congresso e preparou uma entrevista para o Nº 1 do jornal diário.7. Sofia Morgado, jornalista de rádio, está na fila de baixo e é a quarta a contar da esquerda, logo seguida de Beatriz Costa e Patrícia Pereira, jornalistas de vídeo, entre as dezenas de alunos acabados de chegar à redação no primeiro dia do Congresso.

Patrícia Pereira2º ano de CJ / Jornalista de vídeo

«Após a semana de formação no Cenjor fiquei logo ansiosa para que chegasse a semana do Congresso para poder aplicar tudo o que tinha aprendido, tanto na formação como no curso da faculdade. No primeiro dia estava um pouco nervosa, confesso. Ser uma das participantes nesta iniciativa era um enorme prazer e responsabilidade, não sabia se iria estar à altura.Após nos ter sido apresentado todo o programa, bem como os orientadores, começámos logo a pôr em prática os nossos conhecimentos. Cada grupo ocupou a sua secção. Tinha escolhido o vídeo. A minha tarefa era assistir às conferências, filmá-las e, posteriormente, editá-las. Isto tudo em poucas horas, o trabalho tinha de estar pronto no final do dia, para ser reeditado pelos orientadores e, em seguida, publicado no site do Congresso.Foram quatro dias que passaram num ápice, andar de um lado para o outro, fazer planos, entrevistar pessoas, correr para conseguir aquela entrevista que era fulcral, voltar para a redação e ainda ter de editar tudo, foi bastante stressante, mas ao mesmo tempo ficou a sensação de dever cumprido.Obviamente que nem tudo foi ‘um mar de rosas’, nos momentos de maior stress houve pequenos conflitos devido à pressão ou pelo pouco tempo que faltava para a peça ter de estar acabada.No final de cada dia, assim que chegava a casa, acedia ao site e via uma peça minha. Sentia um enorme orgulho, não só por ser minha, mas por sentir que todo o trabalho era recompensado. Valeu a pena, mesmo. Foi uma ótima experiência, não só a nível pessoal como ‘profissional’. Fiquei a perceber o que se passa numa redação, tudo o que é feito nos bastidores, o trabalho de equipa envolvido. Serviu para me mostrar como é ser jornalista, nem que tenha sido por quatro dias. Espero mesmo que haja um 5º Congresso.»

Sofia Morgado3º ano de CCC / Jornalista de rádio

«Numa das tardes antes de chegar à redação deparo-me com um protesto. Um dos manifestantes ao abordar-me diz: ‘e estamos aqui para os seus colegas nos ouvirem’. Paro e penso: este senhor refere-se aos jornalistas ‘a sério’, os que tem carteira profissional. E não o corrigi porque estava a gostar de ser considerada uma jornalista. E assim foi durante os quatro dias do Congresso, em que nós, alunos universitários e jornalistas, tínhamos todos o mesmo estatuto.

Estivemos em contacto com várias figuras conhecidas do mundo da informação e fizemos entrevistas, noticiários e reportagens radiofónicas, televisivas e escritas. Senti um grande trabalho de equipa e esta foi uma ótima iniciativa, a de convidarem alunos da área a fazer o trabalho dos ‘grandes’ para sentirmos na pele a realidade.Fiquei na rádio, estava nervosa: era a pressão de saber o que perguntar aos entrevistados e não queria falhar, mas adorei. Já gostava de rádio mas não sabia que a paixão era tão grande.»

Marcelo Teixeira 3º ano de CCC / Jornalista do jornal

«A sinergia da redação multiplataforma do Congresso foi o clímax do evento. E é assim, muitas vezes, que o trabalho ambiciona e se materializa em amizade. A transversalidade comunicativa nas diferentes hierarquias conseguiu indubitavelmente corresponder a uma temática: afirmar o jornalismo. Foi também interessante observar a sessão das propostas, momento intenso e humano!»

Mariana Moita2º ano de CJ / Jornalista de redes sociais

«Oitenta alunos, dos quatro cantos de Portugal, tiveram a oportunidade de participar no 4º Congresso dos Jornalistas. Vinte professores incansáveis, que nos apoiaram do início ao fim, sempre com uma palavra de incentivo. O rigor, a responsabilidade, o conhecimento, a aprendizagem e, essencialmente, a vontade e o gosto por aquilo que se estava a fazer, eram notórios em toda aquela redação improvisada. Uma experiência enriquecedora, da qual tive o privilégio de fazer parte, e que repetiria vezes sem conta. É tão bom quando podemos ter contacto com tantos profissionais do jornalismo e partilhar imensos conhecimentos. Sem dúvida, uma experiência que irei guardar com o maior gosto.»

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Dossier | Congresso dos Jornalistas

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Como se faz bom jornalismo em Portugal?Quatro vencedores dos Prémios Gazeta traçam as coordenadas para se desenvolver jornalismo de qualidade, apesar de todas as dificuldades que a profissão enfrenta. Entre eles está Ricardo J. Rodrigues, professor de jornalismo do Departamento de Ciências da Comunicação.

Texto*: Ana Cristina Soares e Mariana Moita

O jornalismo ocidental vive uma longa crise, marcada pelo fecho de jornais, despedimentos e cortes nas despesas. A dificuldade em encontrar um modelo de negócio sustentável, que garanta o futuro da profissão num mundo pós-digital, levanta questões sobre as cedências dos jornalistas a interesses, especialmente, empresariais. Publicar primeiro, confirmar depois, optar pelo sensacionalismo, esquecer as regras deontológicas… Existem acusações para todos os gostos.

Mas a verdade é que, dia após dia, continua a fazer-se bom jornalismo nas redações portuguesas. E os Prémios Gazeta, atribuídos pelo Clube de Jornalistas, distinguem-no. No ano passado, Catarina Santos, Sibila Lind, Ricardo J. Rodrigues e Rita Colaço, foram premiados por trabalhos desenvolvidos em 2015. Contam-nos agora, na primeira pessoa, o que é necessário para promover a qualidade.

Jornalista do Público, Sibila Lind conquistou o prémio Revelação com o trabalho «Anatomia de uma Ópera» que implicou um mês de trabalho. «Tempo e meios», são as condições essenciais que aponta para se fazer jornalismo de qualidade. O tempo, explica, é necessário «para descobrir, acompanhar e aprofundar uma história, para que ela não seja mais uma no meio de tantas». Já os meios, possibilitam desenvolver e contar cada história da melhor maneira e são muito

importantes, quer os humanos, como «jornalistas, Web designers, fotógrafos», quer os técnicos, «para não termos limites de criatividade». «Independência financeira» é também uma necessidade incontornável, afirma Catarina Santos, jornalista da rádio Renascença, vencedora do Prémio Gazeta Multimédia com a reportagem «20 anos são dois dias». «Sem um modelo de negócio sustentável, não se faz jornalismo», afirma. «O problema é que o modelo de negócio que funcionou durante muito tempo já não serve», o que se tem traduzido numa «escassez de jornalismo de investigação» e numa «gravíssima precarização da profissão». À procura de soluções, «muitos têm apostado na procura do clique a qualquer preço − o que manifestamente não resolve o problema de fundo e até o agrava, por descredibilizar o nosso papel».

Para Ricardo J. Rodrigues, jornalista e professor do Departamento de Ciências da Comunicação, só duas condições são importantes para se fazer jornalismo de qualidade: «curiosidade e rigor», o que implica «um grande trabalho de verificação». O jornalista do Diário de Notícias conquistou o prémio Imprensa com «Um milagre na Guerra ou as muitas vidas de Isabel Batata Doce» e é perentório: nada mais é «verdadeiramente necessário», pois tudo «o resto é técnica».

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«Mau jornalismo não é jornalismo»Distinguida na categoria Rádio com a reportagem «Mar da Palha, Zona C», Rita Colaço, jornalista da Antena 1, considera bom jornalismo aquele que está «atento ao Outro, olhando em todas as direções e para as diferentes camadas de uma vida, vidas ou fenómenos, confrontando-as». Para Rita Colaço, «o jornalismo deve ser livre, responsável, comprometido com a verdade, ético e sensível». Logo, só pode ter qualidade. Assim, «mau jornalismo não é jornalismo. É outro ofício qualquer…». Uma opinião partilhada por Catarina Santos, que sublinha a necessidade absoluta de isenção, rigor e ética desta profissão.

«Bom jornalismo é, na maior parte das vezes, saber olhar − ver aquilo em que ninguém reparou, mesmo quando está e sempre esteve à frente dos nossos olhos», considera Ricardo J. Rodrigues. Isto porque, «jornalismo é testemunho do mundo, denúncia das injustiças, controlo dos poderes». Assim sendo, «sem jornalismo, bem vistas as coisas, não há democracia», afirma. Através do olhar sobre o mundo que transmite, é responsabilidade do jornalista «dar aos cidadãos ferramentas para que eles possam tomar as suas próprias decisões esclarecidamente».

Mas, afinal, o jornalismo é hoje uma realidade diferente? As opiniões dividem-se. «Não sei

se o jornalismo já não é o que era», diz Rita Colaço. «O que temos é ‘jornalismo’ que não devia ser o que é: a reboque de agendas, de comunicados de imprensa, de escolhas editoriais mais sexy e lucrativas e menos cumpridoras do dever de informar com seriedade, sensibilidade e responsabilidade», critica. Catarina Santos, por seu turno, considera que «são as circunstâncias em que a maioria tem hoje de fazer o seu trabalho» que condicionam o jornalismo.

Uma dessas circunstâncias é a aceleração da informação. «Os jornalistas são chamados a cumprir mais em menos tempo, comprometendo o olhar, a reflexão, a investigação, a recolha e a edição», explica Rita Colaço. O trabalho do jornalista assemelha-se a «um comboio de alta-velocidade que deixa de parar em muitas estações e apeadeiros». E ao seguir viagem desenfreadamente, «deixa para trás, porventura, o essencial e deixa passageiros que, não tendo outros recursos ou alternativas, ficam parados no mesmo lugar e afinam o mundo pelos seus próprios mundos».

Tempos difíceis, mas desafiantesApesar de reconhecer que o jornalismo vive «um momento crítico e de muitas mudanças», Catarina Santos considera que «este é um tempo extraordinário para se ser jornalista». Isto porque «nunca tivemos tantas ferramentas ao nosso dispor para enriquecer uma história e a forma como a contamos; para trazer os leitores para dentro das notícias, interagindo com elas; para verificar informação e obter novas leituras a partir dos dados».

Ricardo J. Rodrigues também considera que «nos últimos anos assistimos a profundas transformações na forma de contamos histórias», mas sublinha que «jornalismo é jornalismo, seja qual for o formato», ou seja, «a ossatura é a mesma, o conteúdo é e será sempre o mesmo». As narrativas relevantes e significativas mantêm-se, assim, indiferentes à evolução dos suportes técnicos.

Ao contrário do jornalista do Diário de Notícias, Sibila Lind prefere destacar as diferenças. O jornalismo, agora, «é feito numa secretária, através de telefonemas, entrevistas à distância. A escrever sobre o que os outros média escrevem. É mais rápido, competitivo, muitas vezes excessivo e tão igual». Fatores que tornam vital «pensar diferente». Para a jornalista do Público, «é preciso não só encontrar uma boa história», como «a melhor forma de a contar». Essa necessidade ganha asas com o advento do multimédia, com a possibilidade de misturar fotografia, áudio, vídeo, ilustração e texto. «É um desafio que antes não existia», constata. Contudo,

os valores do jornalismo, sublinha, mantêm-se: «informar mantendo a ética», mas «agora com alguma criatividade à mistura».

Na opinião de Catarina Santos, «urgente é que os órgãos de comunicação social se concentrem em olhar para a frente, procurar diversificar fontes de receitas que não comprometam a independência, arriscar outros modelos». Um caminho que não é fácil, admite. «Mas quanto mais tempo perdermos a lamentar o inevitável, mais tiros nos pés continuaremos a dar», com custos enormes «para a qualidade da democracia». E é por isso que não há tempo a perder: mais, ou seja, melhor jornalismo, precisa-se!

*Redigido para o site do 4º Congresso dos Jornalistas Portugueses no âmbito da parceria com a Universidade Lusófona. Online desde 30 de dezembro.

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da revista Visão, deu conta que grande parte dos camaradas está desempregada. Tivemos uma exposição de fotografia com os seus trabalhos.

Quais foram os temas fundamentais que prevaleceram ao longo dos quatro dias do Congresso?A primeira sessão foi sobre o estado do jornalismo, onde tentámos reunir diferentes gerações de jornalistas de áreas distintas. O objetivo deste debate foi interrogar o «estado da arte». Como estamos? Porque fazemos assim? As outras sessões abordaram temas propostos pela volta ao país que fizemos.

O jornalismo tem que apostar mais na formação?Uma das coisas fundamentais é a reciclagem da profissão. Houve um painel de pessoas «com a mão na massa» na formação. Outra sessão recaiu sobre a regulação, ética e deontologia. No terceiro dia de congresso o foco da discussão foram as condições de trabalho dos jornalistas. A situação é grave?Começou com uma manhã inteira de sessão que tratou a questão laboral e os vínculos precários. Uma camarada que quis fazer uma peça sobre algumas pessoas que estão nessa situação de precariedade contactou cinco pessoas e nenhuma quis falar. Isso levanta questões acerca do medo e da condição do jornalista.

«Afirmar o jornalismo» foi o tema de encerramento. Porquê?Temos que afirmar o jornalismo, a independência e a credibilidade. A isenção e a pluralidade. Para isso são precisas condições para os jornalistas não fazerem o que parece. Há uma frase célebre de Salazar: «em política, o que parece é». E já foi muitas vezes citada por democratas, o que Salazar não era. Os jornalistas não podem trabalhar para o que parece, mas para o que é.

Texto*: Marcelo TeixeiraFoto: Alexandre Sabino

Maria Flor Pedroso foi a presidente da Comissão Organizadora do 4º Congresso dos Jornalistas Portugueses. Nesta entrevista explica o que foi possível apurar naquele que foi o primeiro encontro de jornalistas em quase duas décadas.

«Os jornalistas não podem trabalhar para o que parece, mas para o que é»

* Esta entrevista foi elaborada para a Edição 1 do jornal do 4ª Congresso dos Jornalistas Portugueses, no âmbito da parceria com a Universidade Lusófona. A fotografia foi realizada na mesma altura. O texto foi atualizado, sem prejuízo do conteúdo.

O último Congresso dos Jornalistas tinha sido há dezoito anos. Porquê tanto tempo de intervalo?É uma pergunta que todos os profissionais jornalistas e ligados ao jornalismo se devem colocar. De facto é muito tempo sem uma reflexão em conjunto. Quando refletimos em conjunto chegamos mais longe do que cada um a refletir por si. Tivemos muitos profissionais a trabalhar na nossa comissão organizadora, alguns que são identificados como freelancers, que é o novo eufemismo para jornalista desempregado.

Com a crise económica, o jornalismo tem grandes desafios. O que é preciso para enfrentar esta realidade?Ter condições para existir com responsabilidade, independência, isenção e rigor. Esse é o grande desafio do jornalismo. Tem de existir viabilidade financeira do negócio, mas também condições de trabalho para os jornalistas. As condições dos jornalistas são mais que financeiras, são editoriais. No congresso foi distribuído o Código Deontológico e a Constituição, daquelas pequenas da Assembleia da Republica. Foi um sinal. Como foi edificado este Congresso?Não foi fácil ao fim de quase 20 anos montar este evento. Foi o primeiro Congresso promovido por três instituições: o Clube dos Jornalistas, o Sindicato dos Jornalistas e a Casa da Imprensa. Foi constituído de forma aberta e democrática. Ninguém obrigou ninguém a participar, foi igual às eleições políticas, quem não participou não tem credibilidade para opinar sobre o que se está a passar. No programa que antecedeu o Congresso, houve um ciclo de cinema, seguido de debates. Quais eram os objetivos?A lógica do Congresso foi baseada na perspectiva e nas ideias dos jornalistas que recolhemos pelo país fora. Ter sido aberto à sociedade civil para estimular as pessoas a virem ao Congresso foi o ponto de partida. Então, pensámos num ciclo de cinema que decorreu de 8 a 12 de janeiro com conversas entre diferentes personalidades. Refletir sobre a fotografia também foi uma preocupação?Um dos elementos da comissão organizadora, o fotojornalista José Carlos Carvalho,

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Opinião

Transparência e opacidade no jornalismo português*

A oscilação entre a transparência e a opacidade ajuda a compreender a situação presente do jornalismo em Portugal. A transparência faz parte da agenda do jornalismo de hoje. Invocada em nome da democracia e do interesse público, justifica políticas de investigação jornalística que, nalguns casos, conduzem à compressão da esfera de privacidade dos governantes e de outras figuras públicas. Contudo, o proclamado intuito de tornar transparente a vida pública não se aplica ao interior das empresas e das redações, onde as decisões mais relevantes, no que se refere a definir o que é ou não é notícia, são frequentemente tomadas numa zona de opacidade: a caixa negra, lugar onde podem coabitar administradores e diretores, gestores e editores.

Não faz sentido equiparar todas as empresas jornalísticas ou todas as redações no que respeita à permeabilidade a decisões provenientes de conluios políticos, guiados por interesses de natureza económica ou outros. A pressão dos poderes económicos, através de organizações empresariais, de grupos de pressão, «think tanks», fundações e outras entidades, exerce-se com diferentes graus de eficácia. O jornalismo transformou-se no sentido de uma maior sofisticação. Os relatórios ou estudos elaborados por centros de investigação ou departamentos governamentais transformam-se com facilidade em acontecimentos mediáticos capazes de orientar a agenda pública.

No período entre o 25 de Abril e a entrada para a então CEE, avaliava-se a autonomia do jornalismo tendo como referência o distanciamento do poder executivo nacional. Na fase atual do Portugal pós-troika, o jornalismo converte-se em gestor do calendário e das decisões europeias, administrando o tempo político-mediático como se fosse representante local de organizações internacionais, seja a União Europeia, o FMI ou a OCDE. Também aqui, se nada é gratuito ou inocente, a transparência reduz-se à categoria de teatro nem sempre bem encenado.

Na informação televisiva, destacam-se os critérios de seleção de comentadores, sendo visível a presença de «especialistas»

que, com diferentes graus de qualidade, legitimam, em nome do saber (real ou suposto), determinadas políticas públicas ou a respetiva rejeição. A escolha de atores políticos para exercerem funções que, noutras democracias, são em regra atribuídas a jornalistas ou a comentadores especializados, representa uma tendência cada vez mais acentuada. Por vezes a não identificação precisa dos comentadores, em termos de qualificações profissionais ou de tendência política, contribui para «naturalizar» as respetivas intervenções, como se emanassem diretamente da «poção mágica» da sabedoria. A margem de decisão do jornalista depende da periodicidade e do sistema organizativo adotado pela empresa e grupo, pelas tradições da redação e do país onde está radicada. A questão das tecnologias também pode ser observada como fator de autonomia dos média e dos jornalistas, sendo que na atualidade qualquer estratégia mediática necessita de ser pensada tendo em conta a Internet e as redes sociais, mesmo que parta dos meios ditos tradicionais – televisão, rádio ou imprensa.

Apesar de múltiplas convergências entre o poder político e os media, estes atuam na prática igualmente com base na rivalidade com as instituições e os atores políticos. Se não forem propriamente contrapoder (salvo em momentos críticos, como o Watergate ou o Rainbow Warrior), possuem contudo uma vocação anti-institucional. Em contraponto ao poder económico e político, no sentido clássico, o poder mediático surge como uma «enorme força de inibição» (Marcel Gauchet) para os decisores políticos.

Talvez seja mais rigoroso passar da grandeza da expressão «independência do jornalismo» para a modéstia da palavra «autonomia». Autonomia em face das forças políticas, económicas, das formas retóricas e das permanentes mudanças tecnológicas. Autonomia que varia de país para país, de meio para meio e de redação para redação. A autonomia do jornalismo e dos jornalistas é sempre uma questão de grau, mas vale a pena sublinhar que se a profissão é condicionada e dependente não deixa de possuir uma área própria de decisão.

Mário Mesquita

* Este artigo constitui uma versão reduzida e adaptada do texto com o mesmo título publicado na edição portuguesa do mensário Le Monde Diplomatique (II série, nº122, Dezembro de 2016).

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Está de parabéns a nossa professora de jornalismo televisivo, Ana Luísa Rodrigues. «A Guerra também foi nossa», retrata histórias que a jornalista da RTP descobriu sobre portugueses que sentiram na pele a Guerra Civil de Espanha. A qualidade da grande reportagem de 44 minutos foi reconhecida com a nomeação para os Prémios da Sociedade Portuguesa de Autores, colocando-a entre os três melhores programas de informação televisiva de 2016.

De 20 a 24 de março, regressa a Semana de Comunicação, Artes e Tecnologias que entra em 2017 na sua quinta edição. Durante esta semana de atividades organizada pelo Departamento de Ciências da Comunicação, há lugar para conferências, workshops e lançamento de livros. À Lusófona vêm Walter Dean, Luís Paixão Martins, Wilton Fonseca e José Carlos Abrantes, entre muitos outros.

A segunda edição do Game Over já tem data marcada. A 29 de junho regressa a mostra do que melhor se faz no Departamento de Ciências da Comunicação. Um dia de festa e de apresentação dos trabalhos desenvolvidos pelos alunos ao longo do ano letivo. Família e amigos estão convidados e a entrada é livre.

Fora do campus

A fechar...

A 6 de janeiro, o NewsMuseum, em Sintra, foi invadido pelos alunos da Universidade Lusófona. De manhã, os alunos do primeiro ano de Ciências da Comunicação e da Cultura visitaram o espaço na companhia do professor Ricardo J. Rodrigues. À tarde, foi a vez dos estudantes de Comunicação e Jornalismo,

Na companhia da professora Carla Martins, os alunos do 1º ano de Comunicação e Jornalismo partiram, a 16 de dezembro, à descoberta da rádio e televisão públicas. Visitaram o museu, onde fizeram uma simulação com a mesa de mistura e gravaram um pequeno vídeo de apresentação. Depois foi a vez dos estúdios da televisão e rádio, onde encontraram o jornalista José Manuel Rosendo, recém-chegado do Iraque. Se querem fazer jornalismo não devem pensar em fazer outra coisa qualquer na comunicação se não jornalismo: foi o conselho que o repórter lhes deixou.

Os alunos finalistas de jornalismo do Departamento de Ciências da Comunicação visitaram a Cofina a 25 de novembro, acompanhados pela professora Carla Rodrigues Cardoso. Foram recebidos por Nuno Jerónimo, diretor de Recursos Humanos do Grupo de Comunicação Social, que lhes explicou a estruturação das várias empresas e o que se espera de quem lá trabalha: empenho a 200%. Acompanhados pelo jornalista Ricardo Tavares, os estudantes visitaram a redação multiplataforma do Correio da Manhã, e perceberam como se articula o jornal diário, com a CMTV e o online.

Todos ao NewsMuseum!

Nos bastidores da RTPAlunos de jornalismo visitam Cofina

com as professoras Carla Rodrigues Cardoso e Sara Pina. Realidade virtual, quiz de perguntas mediáticas, fazer um direto que entra de imediato no Youtube – estas foram apenas algumas das experiências vividas. As gravações áudio e vídeo podem ser recordadas no site do museu.

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