Jornal Midia lab: Edição 8 - Por IREX-Moçambique

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Produto experimental dos estagiários do Mídia Lab inserido no Programa Para Fortalecimento da Mídia.

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Seca afecta campos de produção em Namaacha

MÍDIA LABSEGUNDA - FEIRA

09/05/201 6Preço $ 000

PRODUTO EXPERIMENTAL DOSJORNALISTAS-ESTAGIÁRIOSDO MÍDIA LABNÚMERO 8 ANO II

Escola Secundária da Namaachacria horta para minimizar a fomecausada pela seca. Os alunos vão àmachamba em função dos seus horáriosde entrada e saída da escola. Asatisfação destes em produzir seuspróprios al imentos em tempos de secaé acompanhada pela oportunidade deaprender a produzir enquanto seaprende. Nesta escola, os educandostêm também uma criação de galinhaspoedeiras, cujos ovos são servidosduas vezes por semana, ao pequeno-almoço.Página 7

Vendedores do mercado daKatembe reclamam a falta decontentores de lixo próximo aomercado. Eles afirmaram que pagamas taxas referentes ao lixo diariamentee ao espaço de venda mas, continuamsem contentores no mercado earredores, e que os fiscais do ConselhoMunicipal (CM) obrigam que elesmesmos contribuam e comprem oscontentores de lixo. Disseram aindaque, pagam no mínimo 1 5 meticaisde taxas mas não sabem para quêsão canalizadas as receitas.Página 6

Depois de 1 3 anos de jogo econsiderado melhor jogador de futsalmoçambicano, Ricardo Lénio MendesMuendane, mais conhecido por Dino,acredita que agora chegou a hora desair dos campos porque a idade exige,ao contrário dos anos anteriores quefoi por querer dedicar-se a famíl ia.Hoje, sai com um sentimento de alegriapois a sua equipe foi apurada aomundial a realizar-se em Setembrodeste ano. A vida daquele querepresentou melhor o combinadonacional, na última década, vai terminarno Mundial da Colómbia. Página 1 9

o último (a)deus dofutsal nacional

Faltam contetoresno mercado de

Alunos cultivamhorta para mitigar a

“ Consigo ver que este ano, se continuar sem chuva como agora, não terei uma boa colheita, não colhi nada, são cerca de 5 a 6 hectares de onde não saiu nada” - Ricardo Guidela

“Tínhamos semeado amendoim, milho e algumas hortícolas, mas tudo secou”. “Há dias que dormimos sem comer” Página 4 e 5

Dino vai pendurar as chuteiras depois de 13 anos de carreira futebolística

PATRÍCIO MANJATE

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PRODUTO EXPERIMENTAL DOS ESTAGIÁRIOS DO MÍDIA LABM ÍD I A LABSEXTA-FEIRA - 09/05/201 6 destaques2

Anualmente, comemora-se nopaís a 03 de Maio, o DiaMundial da Liberdade de

Imprensa. Em Moçambique a data émarcada por debates e reflexões emtorno do jornal ismo. Este ano, aefeméride foi celebrada sob o lema,“O acesso à informação e àsliberdades fundamentais: Este é seudireito”. As cerimónias centraisdecorreram na cidade de Nampula,norte do país. Apesar da liberdadede imprensa emMoçambique não serefectiva, algunsprofissionais da áreaconsideram que hámelhorias significativasem relação a algunspaíses da região,como por exemplo,Angola.

Como forma decelebrar a data, foilançado um relatóriosobre o Índice deSustentabil idade da Mídia, odocumento aponta cinco pilaresfundamentais: l iberdade de expressão,jornal ismo, plural idade de notícias,gestão de negócios e instituições deapoio.

Nas redacções há uma forteinterferência, do governo (questõespoliticas) e dos patrocinadores(anunciantes) eles é que ditam asregras do jogo, funcionam como umaespécie de Gatekeeper determinamo que deve ou não ser levado a

conhecimento do público. Este tipode interferências nos órgãos decomunicação social acaba minandoa qualidade dos conteúdos produzidos.

No tocante às leis, elas existem,apesar de não serem, na sua maioriaobservada, È inadmissível que umjornalista não conheça as leis queregem a sua atividade, é fundamentalconhecê-las para ter domínio e melhorexercer a profissão. O jornalismo éuma profissão muito l iberal, pessoas

que por algummotivo fracassamnas suas áreasde formação vêmpara o jornal ismoe muitas dasvezes não têmnenhumaformação naárea.

No sector damídia hánecessidade deos profissionais

pensarem em modelos de negóciosustentáveis sob o risco de dependerda mão externa. Muitos órgãos decomunicação social não conseguemcomprar equipamentos, pagar osfuncionários de forma condigna entreoutros benefícios. À medida que osetor público ou privado se vaidesenvolvendo, o crime organizadotambém se sofistica, tendencialmentebuscam capturar os órgãos decomunicação e desviá-lós da sua linhaeditorial .

Hélder Massinga

Editora chefe - Sheila MafuianeEditor executivo - Patrício ManjateEditor de fotografia - Sérgio MosselaMaquetização - Pedro Fumo e Minelda MaússeRevisão: Gabriel Boque e Jul ieta LangaRepórteres: Abdul Ibrahimo, Aida Nhavoto, Amina Nofre,Bernadete Nhavene, Cofe Cumba, Celeste Macuácua, EsterCumbane, Eta Matsinhe, Ernesta Missage, Hélder Massinga, I lídiaAlberto, José Maneira, Keite Branquinho, Letícia Constantino,Minelda Maússe, Magda Mendonça, Miranda Munhua, Mariol inaUlisses, Orbai Nobre, Pedro Fumo, Patrício ManjateSumeia Cassimo, Sheila Mafuiane, Sheila Magumane, SérgioMossela e Vinódia Janete.

Eu repórter

Redacção

Nas redacçõeshá uma forteinterferência, porparte do governo(questõespoliticas) e dospatrocinadores(anunciantes)

Liberdade de imprensa longe deser alcançada em Moçambique

Projecto para Vila Algarvecarece de fundos

OMinistério dos combatentesnão tem fundos paratransformar a Vila Algarve em

Museu Nacional da ResistênciaColonial como pretende. A Assembleiada República aprovou em 201 2/1 3 oprojecto do museu, mas até entãonão se sabe quanto vai custar areabil itação, porque ainda não se fezuma avaliação do edifício.

O Assessor de Imprensa doMinistério dos Combatentes, LourençoTchapo, disse que não sabe se seránecessário partir ou remodelar oedifício. De acordo com o DirectorNacional de História do Ministério dosCombatentes, Vicente Koveke, oobjectivo de criar o museu é imortal izara história da Vila Algarve. Porém, oMinistério depende de Portugal parater acesso aos arquivos que vãopermitir a reconstituição da históriada Vila e fazer réplicas dos objectosque eram usados para tortura na épocacolonial.

A reprodução dos objectos queserão expostos no futuro museu implicaum orçamento adicional para oMinistério que espera ter ajuda externapara a reabil itação. A limpeza do recintofoi feita por uma empresa privada.Durante o processo de limpeza, aspessoas que viviam no edifício foramretiradas pela polícia.

Koveke mostrou-se indiferentepara com as pessoas retiradas doedifício. “Eles sabem de onde vierame para onde vão. São pessoas deorigem duvidosa, queremos garantirque elas não voltem à Vila”, disseVicente Koveke. Para garantir quenão voltem, a instituição instalou, na

Vila Algarve, uma guarnição no local.

Tentativas de reabilitação

Em 2008, à Vila Algarve foi entreguea Ordem dos Advogados que pretendiareabil itá-la e transformá-la na suasede, para restituir a credibi l idade doórgão junto dos associados e dasociedade em geral. A reabil itaçãoestava prevista para um período decinco anos durante o mandato deGilberto Correia que terminou em201 3. Na altura, Correia deixou claroque a ordem não dispunha de verbasuficiente para a reabil itação, masgarantiu que ia fazer um trabalho demobil ização junto aos seus parceirospara conseguir os fundos. Mas, todasa tentativas de arrecadação das verbasforam infel izes, facto que levou esta

entidade a desistir doempreendimento.

Breve historial da Vila

A Vila Algarve foi construída em1 934 por ordem de José dos SantosRufino, comerciante na antigaLourenço Marques, em 1 936 sofreualterações e, em 1 950 passou poruma ampliação.

Durante anos serviu como quartel-general da PIDE (Policia Internacionale Defesa do Estado), ondenacionalistas moçambicanos emil itantes da Frente de Libertação deMoçambique (FRELIMO), eraminterrogados, torturados e oprimidos.

Após a independência, o edifíciofoi abandonado e virou moradia depessoas que não têm onde viver.

Ministério dos Combatentes quer transformar Vila Algarve em Museu deResistência, mas não tem fundos para reabil itar o edifício e depende dePortugal para ter arquivos e replicar materiais para expor no futuro Museu.

{Entrada frontal da Vila Algarve, entre as avenidas Ahmed Sekou Toure e Mártires da Machava, em Maputo

Mariol ina Ulisses e Vinódia Janete

Sobram traços da exuberancia da arquitectura colonial no interior da Vila

MMO

MARIOLINA ULISSES

HélderMassinga, jornalista-estagiário do Mídia Lab

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3PRODUTO EXPERIMENTAL DOS ESTAGIÁRIOS DO MÍDIA LABMÍDIA LAB

SEXTA-FEIRA - 09/05/201 6destaques

Crianças abandonadasencontram abrigo no infantárioDom Orione, no Zimpeto. São

37 meninos e meninas que têmsequelas de doenças comopoliomiel ite, meningite, microcefal ia.Paulo Massango, psicólogo eassistente social, referiu que 90%das crianças é levada ao Orionedepois de ser abandonada pelos paisnas unidades sanitárias. O InfantárioDom Orione protege criançasrejeitadas pelos pais, que, além deestar no mesmo espaço, comungamtambém histórias de vida. Há trêsanos Maria foi encontrada na Lixeirade Hulene. Sofre de microcefal ia edesconhece-se a causa da doença.“Neste momento recebe fisioterapiapara aliviar as dores nasarticulações”, contou Basíl io Bacassa,médico fisioterapeuta. O médicoespecial ista referiu que Maria e outrascrianças acolhidas pelo infantárionão poderão andar ou segurar umacolher. ! Codwel, de 1 0 anos, perdeua mãe e depois foi abandonado pelopai em Inhambane. Como os serviçosde acção social daquele local, quezelava pelo menor, não reunia

condições para cuidar do rapaz, oinfantário aceitou recebê-lo . Masantes, contactaram o pai para saberse o menino poderia voltar para casa.A resposta foi dura: “Façam o quequiserem com o miúdo. Eu não voucuidar de um demente”.

Ao contrário de Maria, Codwelpadece de hidrocefal ia e por conta daindiferença do pai foi parar noinfantário. O posicionamento do paido menor viola o princípio daConvenção sobre os Direitos daCriança que estabelece, no seu artigo1 8 que “as crianças têm o direito deserem criadas pelos seus pais, sempreque isso for possível e ambos têmobrigações comuns em relação àeducação e desenvolvimento delase de sempre terem em conta o que émelhor para cada criança”. A causado abandono de menores, nascomunidades, de acordo com oRelatório sobre a Situação da Criançaem Moçambique 201 4, produzido peloUnicef, está associada à maldição,feitiçaria ou punição. “A deficiência éaceite somente como meio para práticade altruísmo das pessoas”, diz EdsonMugabe, antropólogo. No caso da

pessoa com deficiência, há um outrofenómeno que antropólogo diz serum aproveitamento da mesma paraapelar à caridade das pessoas. “Ascrianças com deficiência sãoabandonadas e acabam sendolevadas por pessoas pobres que asusam para pedir esmola”, refere. Oantropólogo sublinhou “que a criaçãode políticas de inclusão acaba tendoum impacto não desejado. “Osorfanatos são espaços fechados queacabam por excluir pessoas comdeficiência. Se estamos a criar umapolítica de inclusão como se explicaa edificação de centros isolados”,questiona. “Então, a própria instituiçãodos desamparados já é um problema”.Para Socióloga Victória Muticane, “asociedade ainda não está preparadapara receber estas crianças”, disse.”Os centros de acolhimento decrianças deficientes como Orionesão vistos como refúgio”, acrescentou.Entretanto, Muticane adervtiu que aexclusão não é um problemacircunscrito às famíl iasdesfavorecidas. “Os paiseconomicamente estáveis têm maispreconceitos”, final izou.

Crianças consideradas uma “maldição oucastigo” foram abandonadas pelos paisPedro Fumo

Sarita e Vicente foram abandonados pelos pais e vivem num novo lar

Noventa porcento das 37 crianças acolhidas no Dom Orione, com problemas de saúde, foram abandonadas pelos pais nas unidades sanitárias da província e cidade de Maputo

MINELDA MAÚSSE

OBRADOMORIONE.BLOGSPOT

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PRODUTO EXPERIMENTAL DOS ESTAGIÁRIOS DO MÍDIA LABM ÍD I ALABSEGUNDA-FEIRA - 09/05/201 6 destaques4

O distrito da Namaacha, um dosceleiros da capital do país,está a braços com a pior seca

das últimas três décadas, com maisde seis mil pessoas a precisarem deajuda para sobreviverem, e outras 11mil a depositarem esperanças naqueda da chuva.

As autoridades distritais emunicipais assumem-se incapazesde resolver ou minimizar o impactoda crise alimentar que se abate sobrea população. “Não existe capacidadeinterna para responder à seca”, disseSuzete Dança, administradora daqueledistrito.

A fome, segundo dados dasautoridades distritais, afecta 3200agregados famil iares, naquela parcelado país. Aliado à escassez dealimentos, os habitantes daquelacircunscrição geográfica debatem-secom uma crise no fornecimento deágua, há quatro anos.

Dança refere quetem feito apelos aosagentes económicos,parceiros do governodistrital e singularespara mitigar os efeitosda crise alimentar.Também reconhecemque a resposta temsido insuficiente,Dança afirma que setrata “de um sinal quedamos às populações de que estamosjuntos nesta situação que não foiprevista”.

A assistência al imentar a que aAdministradora se refere chegou àcomunidade de Maelane, arredoresda vila municipal da Namaacha. ElisaMarcos Nhune, 54 anos de idade,disse que recebeu apoio, mas foiinsuficiente. “Deram uma porção demilho e uma chávena de feijão a cadafamíl ia”, conta a idosa, responsávelpor um agregado de nove membros.

A fraca precipitação nos últimos1 2 meses comprometeu a produçãoagrícola de duas épocas consecutivas.As temperaturas no distrito, queatingiram entre 35 e 45 grauscentígrados, não permitiram que assementes brotassem da terra.Mequelina Angélica Zove, de 57 anosde idade, vive no bairro de Kokomela,proprietária de cinco hectares, tambémfaz contas à vida. “Tínhamos semeadoamendoim, milho e algumas hortícolas,mas tudo secou e há dias quedormimos sem comer”, disse.

Época agrícola rendeumenos de 50 porcento

Em Namaacha, há uma épocaagrícola por ano. A sementeira coincidecom o período chuvoso, de Setembroa Dezembro. Na época passada, foramcolhidas 45 mil toneladas de culturas,contra as 91 mil previstas. Este déficefez com que pessoas que se dedicavamà produção de seus próprios al imentosficassem expostas à fome.

Ricardo Bernardo Guidela produz

os seus próprios al imentos há maisde 30 anos. Ele refere que umasituação de fraca produção como estanunca tinha acontecido ao longo dasua vida. “Praticamente não colhinada, são cerca de 5 a 6 hectares deonde não saiu nada”. A fraca produçãoda época passada traz dúvidas aocamponês, em relação à presentecampanha agrícola. “ Consigo ver queeste ano, se continuar sem chuvacomo agora, não terei uma boacolheita”, confessou. A escassez dealimentos originada pela seca obrigaas populações a procurarem outrasformas de sobrevivência, recorrendoàs lojas para comprar de produtos deprimeira necessidade. Entretanto, odesemprego que caracterizaNamaacha reduz as possibi l idadesde a maioria poder se beneficiar destaalternativa.

Atravessar afronteira

Sem empregoformal, os“biscates” nasplantações davizinhaSwazilândia têmsido alternativapara vários jovens“namaachenses”,ganharemdinheiro para

sustentar suas famíl ias. São pessoasque deixam suas machambas emNamaacha por causa da seca e tentamganhar a vida no país vizinho.

Rogério Manave, de 34 anos,atravessou a fronteira para trabalharnas plantações de banana. “Façobiscates num branco, lá. O pouco querecebi deu para comprar farinha, óleoe patinhas de frango. Não é tudo,porque as coisas estão caras”,declarou. Manave acrescentou que,em épocas agrícolas bem-sucedidas,não compra alguns destes produtosporque tira da machamba.

Se a falta de chuva comprometeo acesso à água e produção dealimentos, a subida de preços dosprodutos de primeiranecessidade agrava umproblema que ameaçase tornar crónico. Osprincipais produtoscomo pão, farinha,amendoim, arroz eaçúcar são os maisprocurados e registamum agravamento médiode 1 5 a 20%, emrelação aos preçospraticados na cidade deMaputo, por exemplo.

Manave acusa os comerciantesde especular preços para tirar proveitoda procura que se regista nos produtosde primeira necessidade, “a farinhade 1 2 kg ronda os 500, arroz de 25kg, nos 1 000 a 1 200 mt. Se você temuma famíl ia de verdade, como a minhacom 9 membros, não dá para

aguentar”, disse.Albertina Rafael Nhancale e seu

marido, ambos desempregados,procuram saídas localmente. “Sehouvesse emprego era razoável,porque as coisas mesmo que caras,íamos tentar aguentar até ondeconseguirmos”, confessou. Com afi lha de 3 anos doente, Nhancale dizque todos os dias fica de olho no queo marido traz dos biscates que tem feito.

Em Namaacha, a busca pelasobrevivência implicaintrodução de novoshábitos e adaptação auma realidade quecontraria a história de umdistrito que distribuíaprodutos alimentares àcidade de Maputo. DonaAlbertina Maliba cultivauma pequena hortadentro do seu quintalpara tentar minimizar osefeitos da seca. “Podia

ser maior, mas a falta de água nãopermite mais”, lamentou Maliba.

Na pequena plantação, donaAlbertina usa a pouca água queconsegue tirar do poço para irrigação,“quando o poço seca, tiro uma canecada água que compramos para beber”.No pequeno canteiro, plantou couve,alface, tomate, espinafre, produtos

que ajudam a minimizar a fome e aalta dos preços de produtos nas lojas.“Na minha vida, nunca dependi deloja para alimentar a minha famíl ia”,confessou. Perda de postos detrabalho e cabeças de gado A seca,em Namaacha, tem consequênciasem cadeia, para a vida dos pequenosempregadores e seus empregados.Pessoas como Fil imone Machavela,régulo de Kokomela, despediutrabalhadores e ele também perdeuo emprego. Em tempos de boaprodução, lavra terras de outroscamponeses, com o seu tractor e erapago por isso.

A incerteza sobre a chuva e odesconforto da fome fez com que assolicitações de serviços de lavraparassem, atirando para aimprodutividade pessoas comoMachavela, que viviam disso. “Commeu tractor, ajudava outroscamponeses e por hora pagavam 800meticais, mas agora não faço nada”,desabafou o régulo.

Fi l imone Machavela é tambémagricultor, e nos seus camposagrícolas, de aproximadamente 1 0hectares empregava pessoas parafazer a sacha depois da sementeira.Em quase duas épocas sem chuvaas pessoas caíram no desemprego.O régulo de Kokomela teve de despedir

“Tínhamossemeadoamendoim, milho ealgumas hortícolas,mas tudo secou”,conta. “Há dias quedormimos semcomer”

“Se houvesseemprego, erarazoável porque ascoisas mesmo quecaras, íamos tentaraguentar até aondeconseguirmos”,

Mequelina Angélica Zove, de 57 anos de idade, vive no bairro de Kokomela, proprietária de cinco hectares, também faz contas à vida. “Tínhamos semeado amendoim, milho e algumas hortícolas, mas tudo secou e dormimos sem comer”

Patrício Manjate

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Fome afecta 6,1mil pessoas emNamaacha

os 1 2 trabalhadores que tinha, porque estátudo seco, até ele passa fome. Em troca, ostrabalhadores recebiam produtos alimentaresou dinheiro para o sustento das suas famíl ias.No bairro de Kokomela, a seca, segundoinforma o régulo, resultou na perda de poucomais de 300 postos de trabalho nas machambas,atirando para uma situação de emergênciaal imentar há mais de 1 500 pessoas.

Florinda Alfredo Mutote, uma das ex-empregadas de Fil imone Machava, diz que a

A administração distrital e municipail assume-se incapaz de solucionar o problema da seca

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5PRODUTO EXPERIMENTAL DOS ESTAGIÁRIOS DO MÍDIA LABMÍDIA LAB

SEGUNDA-FEIRA - 09/05/201 6destaques

vida tornou-se difíci l para ela e sua famíl ia.“As coisas estão caras, pior agora que fiqueisem trabalho”. Sachar era o trabalho queFlorinda e outras pessoas faziam, mas comoos grandes agricultores não semearam nada,perdeu o trabalho.

Para minimizar os efeitos da seca e dafalta de trabalho, Florinda faz pequenoscanteiros, onde planta hortícolas, numa zonaproibida pelo Município. “Sei que proíbem,mas faço isto porque estamos a passar mal

de fome. Aqui, pelo menos conseguimosum pouco de água para regar”, disse.

A seca em todo o distrito deNamaacha levou à perda de 600cabeças de gado bovino, segundoinformações disponibi l izadas pelaadministração local. O postoadministrativo de Changalane é o maisafectado, com 94 perdas até o primeirotrimestre de 201 6.

Jaime Mbate, de 61 anos, agricultore criador, perdeu cinco hectares demilho e feijão, e teve de despedir setepessoas que trabalhavam para si. Emtermos de cabeças perdidas, Mbatecontabil iza nove de gado bovino e 1 0caprinos que tombaram por falta depasto e água. No meio do desesperoe perante um olhar impávido dasautoridades, o idoso conta que só lheresta uma única salvação, “só Deuspara ouvir nossos choros para quepossa chover”, pediu Mbate.

O fenomeno "El Niño", responsávelpela seca no sul e centro do país, estáa terminar, segundo informou o Director-geral do Instituto Nacional de Gestãodas Catástrofes, João Machatine, eespera-se que até ao final de anocomece a chover.

Crianças faltam à escolapara ajudar os pais

A perda de colheitas obriga famíl iasa concentrar esforços na busca decomida e água em Namaacha, talcomo noutros pontos afectados pelaseca. Os impactos disso se fazen sentirnas escolas, onde crianças faltam àescola para ajudar os pais em algumasactividades tais como produção decarvão, percorrer quilómetros à procurade água, no comércio informal, entreoutras actividades de subsistência.

A nossa equipa de reportagemvisitou duas escolas primarias deKokomela e de Maelane A. Em ambasas instituições de ensino, as direcçõesconfirmam o facto e dizem que muitascrianças faltam para ajudar emactividades de rendimento famil iar,mas ainda não há desistências. “Nestemomento a situação ainda não é crítica.Há crianças cujos pais às vezes levampara fazer carvão e carregar paravender na vila, mas sempre voltam àescola”, revelou Alberto Guambe,Director da Escola Primária deMatianine A.

As províncias de Maputo, Gaza,Inhambane, Tete Manica, Sofala eZambézia estão a atravessar umperíodo de seca. Em todas elas, sãomais de 1 .5 milhões de pessoas queprecisam de assistência al imentar.Entretanto, o Instituto Nacional deGestão de Calamidades (INGC)

anunciou que o Governo vaidisponibi l izar 360 milhões de meticaispara ajudar pessoas que passam fome.

O valor anunciado, de acordo comJoão Machaine, Director-geral doINGC, representa metade do que opaís precisa, 1 1 milhões de dólares,para ajudar pessoas afectadas pelacrise alimentar. Quando foi declaradoo alerta vermelho sobre os efeitos daseca, apenas 7% do valor estavagarantido.

Crise no abastecimento deágua longe de sersolucionada

Namaacha enfrenta uma gravecrise de abastecimento de água, quedura há mais de 4 anos. As autoridadesdistritais e municipais assumem oproblema, mas tal como na crisealimentar, declaram incapacidade ese rendem perante o sofrimento daspopulações.

Para minimizar a falta de água, aadministradora Suzete Dança, dizprecisar de aproximadamente 5 milhõesde meticais para abertura de oito furosde água, valor que neste momentonão existe.

Na vila municipal, o Presidente,Jorge Tinga diz que só conseguefornecer água aos munícipes apenasuma vez por semana. O edíl subl inhaque a situação pode piorar nos próximosmeses, se não chover, “a nossaesperança é que venha a épocachuvosa mais cedo que no anopassado”. Neste caso, enquanto nãohouver chuva, os moradores daNamaacha continuarão sem água e acontas com uma grave crise alimentar,dada a incapacidade declarada pelasautoridades. No bairro de Kokomela,no único fontanário que existe, não saiágua com regularidade. Os moradorescontam que, para ter um bidom de 20litros, é preciso esperar um tempo deaproximadamente duas horas.

A forte procura de água obriga osmoradores a madrugarem para poderter água para beber. Naquelacomunidade existe apenas uma fontede água. Amélia António Mapossa,residente de Kokomela, declarou queacorda às 3h para ter, pelo menos, umbidom de água por dia. “Temos de nosceder para que cada famíl ia tenha no

mínimo 20 litros”. Amelia acrescentouque, para outros fins, os moradoresdaquele bairro minimizavam a demandade água através de água da chuva,mas a seca obriga a todos dependeremdaquele fontanário.

A falta de água em Namaachaserviu de oportunidade de negóciopara alguns operadores privados quese deslocam para o rio Umbeluzi paracartar água vender na vila. “O bidomde mil l itros compramos a 500 meticaise o de 20 litros compramos a 1 0meticais”, revela Elisa Nhume.

Nhume acrescentou que o maiordesafio tem sido ter água parasaneamento, “somos obrigados amudar as casas de banho de autocl ismopelas latrinas”. Esta realidade expõeinúmeras famíl ias ao risco de contrairdoenças como cólera, mas, de acordocom as autoridades de Namaacha, afalta de água ainda não representa umproblema de saúde pública.

Dois projectos de baragensno papel por falta dedinheiro

O Presidente do Município daNamaacha, Jorge Tinga, disse que oactual sistema de abastecimento deágua é insustentável e não há previsãopara se resolver o problema.

No sistema constituído por trêsrepresas está, neste momento, diz oPresidente, a funcionar uma, porqueas restantes não têm água, devido àseca. Entretanto, há mais de três anosexiste um plano de construção de umaoutra represa, em Govuza, com umacapacidade seis vezes maior que aanterior.

Esta represa custaria ao Municípioum valor de aproximadamente 72 milmilhões de meticais, dinheiro que oMunicípio não tem, de acordo com oPresidente, Jorge Tinga. Por falta defundos, o presidente informou queexiste outro plano para a construçãode uma represa na zona do Pide, comcapacidade três vezes maior que asrepresas que o Município tem nestem. “A Direcção Nacional de Águas(DNA) ainda está à procura definanciamento, para se avançar comeste projecto e a expectativa é que nopróximo ano inicie a construção”,revelou o Presidente.

Mequelina Angélica Zove, de 57 anos de idade, vive no bairro de Kokomela, proprietária de cinco hectares, também faz contas à vida. “Tínhamos semeado amendoim, milho e algumas hortícolas, mas tudo secou e dormimos sem comer”

Rogério Manave ganha a vida através de “biscates” que faz na Swazilândia

PATRÍCIO MANJATE PATRÍCIO MANJATE

PATRÍCIO MANJATE

A administração distrital e municipail assume-se incapaz de solucionar o problema da seca

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PRODUTO EXPERIMENTAL DOS ESTAGIÁRIOS DO MÍDIA LABM ÍD I A LABSEGUNDA-FEIRA - 09/05/201 6 destaques6

Faltam contentoresde lixo no mercadoda Katembe

Os vendedores do mercado earredores da KaTembequeixam-seda falta de

contentores de lixo, no mercado, eafirmam que os fiscais do ConselhoMunicipal obrigam, toda vez que sequeixem, que eles mesmos contribuame adquiram oscontetores de lixo,apesar de pagarem as taxas domercado e as taxas diárias de recolhade lixo ao município.

Laura Alberto, 36 anos, vendedora,afirmou que não hácontentor de lixono mercado, mas paga uma taxa diáriade lixo ao fiscal do Conselho Municipal,no valor de 1 5 meticais. “Toda a vezque nos juntamos para falar sobre oscontentores, os fiscais do mercadodizem que nós, osvendedores do mercado eambulantes, é quedevemos contribuir ecomprar os contentores del ixo”, desabafou.Disseainda que as pessoasindicadas para fazer alimpeza na vila e arredoresdo mercado são apenastrês senhorasque não conseguem darconta do trabalho. “A vila continuasempre cheia de lixo por recolher,principalmente na praia, perto da zonados pescadores. As pessoas continuama deitar l ixo na rua e na praia por faltade contentores”, acrescentou Laura.

Anete Celestino, vendedora, disseque tem uma barraca na viladaKatembefaz quatro anose, de lápara cá, o preço da taxa mensal domercado, incluindo a taxa diária delixo, subiu de 280 para 400 meticais,no entanto, as condições sanitárias,

como a limpeza das ruas, nãomelhoraram. “Não se justifica isso.Pagamos as taxasde lixo, masnósmesmos é que limpamos o nossopróprio espaço e tiramos o nossopróprio l ixo. Nada melhorou”,enfatizou.Anete referiu que as taxasque pagam não são iguais para todos.“Nem todos pagam o mesmo valor. Hábarracas, aqui, que pagam preçoselevados”, confidenciou.

De acordo com a Resolução n°41 /AMM/201 5, de 1 9 de Agosto, sobretaxas dos mercados municipais, daDirecção de Mercados e Feiras, doConselho Municipal de Maputo, o valorreferente às taxas diárias de mercadovaria entre três e 50 meticais por metro,

valor que deve serpago porvendedores dehortícolas,ambulantes e outrasbancas de pequenocomércio. Quantoao valor mensalpago pelosvendedores, varia

de 60 meticais a 6 000 meticais, deacordo com o tipo de negócio etamanho das bancas.

No entanto, cada contentor de lixo,plástico e com rodas, com capacidadede 1 000 litros, se encomendadoatravés da internet, custaaproximadamente 1 9 mil meticais. Umcontentor deste tipo poderia sercomprado com o fundo das taxas demercado e entregue à vila de KaTembepara ser usado no mercado e arredores,de forma a satisfazer as necessidadesde deposição de lixo. Como exemplo,

Vendedores do mercado da Katembe e arredoresreclamam contra a falta de contentores de lixoperto do mercado. Os vendedores afirmaram quepagam as taxas de lixo e de ocupação do espaçode venda mas, continuam sem contentores nomercado e arredores. E que os fiscais doConselho Municipal obrigam que vendedores acontribuir para a compra de contentores de lixo.

“Nem todos pagamo mesmo valor. Têmbarracas aqui quepagam preçoselevados”

multipl icando o valor das taxas demercado mensais de 700 meticais,num prazo de 1 2 meses, com o númerode dez estabelecimentos comobarracas de mercearia, previsto naResolução como sendo do tipo A, épossível obter-se um valor de 84 milmeticais, valor suficiente para adquirirpelo menos quatro contentores.

Amélia Nhantemba, vendedora,explicou que a maioria dos vendedoresdo mercado daKatembe e arredoresnão sabe exactamente porque continuaa pagaras taxas de mercado, uma vezque o dinheiro não está sendocanalizado para resolver a situaçãode higiene e limpeza de toda a vila.Acrescentouque pagava as taxas naDirecção de Mercados e Feiras doConselho Municipal, na baixa dacidade de Maputo, mas,actualmente,paga aos fiscais domercado.

Guilherme Tembe, Técnico Fiscaldo Conselho Municipal e chefe domercado da Katembeconfirmou queos vendedores pagam uma taxamensal e diária correspondente aoespaço que ocupam no mercado earredores, à Direcção de Mercadose Feiras doConselhoMunicipal.Comesse dinheiro, omunicípio l impa osespaços uma vezpor semana, àsquintas-feiras, masexplicou que osvendedores têm odever de manter seus próprios espaçosl impos, mesmo depois de pagar astaxas ao município, porque não háfuncionários de limpeza suficientes.

Vanessa Cumbe, vendedora,lamentou queos vendedores nosarredores do mercado tenham depagar as taxas pelo dia de domingo,o que não era suposto acontecer.“Entregam-nos um cartão para oregisto de pagamento, onde apenasdeveríamos marcar e pagar pelos diasúteis de trabalho. Em caso de doençaou licença para ficar em casa, nãodeveríamos pagar. Todavia,os fiscaisdizem que devemos pagar por estes

dias também”, explicou.Manuel Domingos, também

vendedor, contou que pagamensalmente,uma taxa de 700meticaispelo espaço, e confirmou que nemtodos os vendedores pagam o mesmo

valor, e que háapenas umúnico contentor usado portodaa vila daKatembepara sedepositar o l ixo.

Francisco Gomes,morador da Katembe,declarou que o contentor nãosatisfaz as necessidades,tanto dos vendedores quantodos moradores da vila, por

estar longe do mercado. “Se houvesseum contentor próximo ao mercado,eles deitariam o lixolá.Por isso deveria serobrigatório que todas asbarracas tivessem umrecipientede lixo. OConselho Municipaltemfiscais que cobram taxasaos vendedores, entãodevem comprarcontentores de lixo parao mercado e arredores”,opinou.

Gomes faz parte da Associação“Amigos da Katembe”, que faz a

recolha do lixo na praia, e já propôsao Conselho Municipal que se adquiracontentores para uso do mercado ebarracas,de forma a impedir que osvendedores continuem a deitar l ixo napraia. Esta proposta, “não foi levadaem consideração. Mas deve serobrigação do Conselho Municipalgarantir a l impeza da vila, começandopor adquirir contentores para o mercadoe barracas ao redor”, enfatizou Gomes.

Quando questionadoa respeito dagestão das receitas fiscais municipais,Guilherme Tembe, Técnico Fiscal doConselho Municipal e Chefe domercado de Katembe,respondeu quea Direcção de Mercados e Feiras éque faz a gestão. Porém, até o

momento de fechodesta edição, adirecção não sepronunciou em relaçãoao nosso pedido deentrevista sobre agestão das receitasfiscais municipais quedeveriam sercanalizadas tambémpara a compra denovos contentores de

lixo para o mercado e arredores deKatembe.

"Se houvesseum contentorpróximo aomercado, elesdeitariam o lixo lá"

{

{

Lixo depositado pelos vendedores, atrás de suas barracas, no mercado de Katembe, atinge o espaço da praia

Cartão de vendedor, onde são marcados os dias úteis de trabalho

O único contentor atrelado usado para deitar lixo no mercado da Katembe

Keite Branquinho

"Deve serobrigação doConselho Municipalgarantir a limpezada vila, começandoporadquirircontentores para omercado e barracasao redor"

{

KEITE BRANQUINHO

KEITE BRANQUINHO

KEITE BRANQUINHO

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7PRODUTO EXPERIMENTAL DOS ESTAGIÁRIOS DO MÍDIA LABMÍDIA LAB

SEGUNDA-FEIRA - 09/05/201 6destaques

A Rádio Comunitária Cascatas,pertencente ao distrito de Namaachana província de Maputo, foi assaltadana noite de 1 0 para 11 de Janeiro de201 6. Os ladrões levaram equipamentosde transmissão do sinal, de som ecomputadores.

Os colaboradores da rádio dirigiram-se ao comando da PRM do distrito deNamaacha, onde registaram aocorrência. Listaram os bens eestimaram o valor do equipamentoroubado. Segundo o professorHortêncio Jeremias, colaborador darádio, até ao momento, a polícia nãoos chamou para informar sobre oandamento da investigação do caso.

Em conversa com o chefe dasoperações do Comando da PRM naNamaacha, a nossa equipa ficou asaber que o caso estava resolvido. “Ocaso do furto na rádio já foi solucionado,recuperamos os equipamentos edevolvemos aos representantes darádio”, explicou Alberto Aficha Egimo.Questionado sobre a data da devoluçãodos bens, o chefe das operaçõesafirmou que foram entregues à rádioem Dezembro de 201 5.

Explicamos ao senhor Egimo quenos referíamos ao roubo ocorrido emJaneiro do presente ano. “Este ano, apolícia não recebeu nenhum caso vindoda rádio, não temos conhecimento dofacto”, respondeu o representante daPRM. Tentamos contactar novamenteo professor Jeremias, mas estava forado distrito.

Depois do furto, a emissão parou.“É com muita tristeza que vejo o fechoda rádio, éramos o elo entre o Estadoe a comunidade”, lamentou HortêncioJeremias.

Um ouvinte que não quis seridentificado disse que sente falta dosprogramas. “Nós ligávamos para arádio, contávamos os nossos problemas

e aprendíamos como cuidar das nossascrianças”, explicou.

“Infel izmente, nãosei quando voltaremosao ar. Não temosdinheiro para comprarnovo equipamento e apolícia não nos dánenhuma esperançade recuperação dosbens roubados”,afirmou Jeremias.Hortêncio Jeremias contou que oscolaboradores estão a trabalhar em

parceria com o comité da rádio,formado por membros da comunidade,

para encontrarempossíveis soluçõespara a rádio voltara funcionar.

Jeremiasassume que gostade trabalhar narádio, masreconhece aexistência de

dificuldades para a execução dasactividades. “O trabalho na rádio é

gratificante, mas é difíci l manter aspessoas a trabalharemvoluntariamente”, afirmou ocolaborador.

Os voluntários trabalham a tempoparcial ou inteiro, de acordo com asua disponibi l idade, mas muitos,quando têm oportunidade de empregoremunerável, abandonam a iniciativacomunitária. “Cada colega que saicria um vazio, é muito trabalhosoencontrar alguém para ocupar o lugarvago”, concluiu Jeremias. Asdeslocações dos repórteres eram por

custo próprio. Nem sempre osrepórteres tinham o valor necessáriopara as deslocações e perdiam algunsacontecimentos da região.

Mesmo com dificuldades, aemissão comunitária gerou mudançasde comportamento no distrito. Umdos maiores ganhos da rádio foi oaumento do número de adolescentese jovens que frequentam a escola.“Em 2003, quando a emissãocomeçou a taxa de frequência escolarera baixa, os adolescentes e jovenspreferiam procurar trabalho naSuazilândia ou na África do Sul.

Com os programas queveiculávamos, as famíl ias forampercebendo que estudar é o melhorpara garantir o futuro”, explicou oprofessor.

A rádio emitia programas deeducação - comunicação para odesenvolvimento comunitário, saúde,ambiente, género, cuidadosdomésticos, empoderamento damulher, entre outros. Os programaseram feitos em regime semanal, paramaior alcance da comunidade. Osprogramas eram emitidos em duaslínguas, Português e Changana. Osprogramas em Changana eramtraduzidos para português e vice-versa

Inicialmente a rádio cobria umraio de 72km, mas em 201 5 recebeudo Ministério da Ciência e Tecnologiaum transmissor com alcance de1 00km.

Apesar da incerteza, oscolaboradores da rádio não se deixamabater e acreditam que voltarão aemitir. “Eu e os meus colegas temosesperança de que um dia voltaremosa trabalhar, e a ajudar a nossacomunidade através dos nossosprogramas”, concluiu HortêncioJeremias.

Escola cria horta para minimizar fome causada pela seca

A Escola Secundária da Namaacha,com um regime de internato, cujacapacidade é de 200 alunos, adoptoua criação de horta escolar, para fazerface à falta de alimentos que assola1 600 pessoas do distrito.

Raimundo Cuava,director da escola, contaque, devido à seca,implementou um novomodelo de trabalho, queconsiste em “um estudante,um canteiro”, paraincrementar a produçãoagrícola, mas a prática daagricultura na escola dura hámais de oito anos. Nestemomento, segundo informao director, a escola conta com 4 hectaresde produtos diversos.

Para regar a horta, uti l iza-se a águausada na lavagem de roupa, que, porcausa do tipo de construção da escola,

é canalizada para um tanque, podendodepois ser reaproveitada. Porém,apesar disso, culturas que exigemmaior capacidade de irrigação, foramperdidas devido à estiagem.

“Desde o ano passado, estamosa ser afectados pelaseca. A produção nasduas últimas épocasnão foi satisfatória, e emresultado dissoperdemos muito milho”,disse o director.

Os alunos vão àmachamba em funçãodos respectivos horáriosda escola. Os que têmaulas no turno da

manhã, cuidam de seus canteiros detarde e os de tarde, no período damanhã. As culturas produzidas sãousadas para melhorar as refeições ea dieta dos internos.

“Gosto de trabalhar na horta porquepermite-nos comer bem e variarmosos alimentos”, disse Luís, estudantede 1 7 anos.

“Nós comemos bem, muitoscolegas nossos, nativos daqui daNamaacha, reclamam de fome porcausa da seca, mas nós não temosesse problema”, apontou Gerson,estudante, natural de Inhambane.

A satisfação dos alunos em produziros seus próprios al imentos em temposde seca é acompanhada pelaoportunidade de aprenderem a produzirenquanto estudam.

Na Escola Secundária daNamaacha, os educandos têm,também, uma criação de galinhaspoedeiras, graças ao incentivo domunicípio local, que doou 200 galinhas.Os ovos produzidos são servidos aopequeno-almoço dos internos, duasvezes por semana.

“O trabalho na rádio égratificante, mas édifícil manter aspessoas a trabalharemvoluntariamente”

Furto "si lencia" Rádio Comunitária Cascatas

As portas da rádio Cascatas encerraram e os programas foram interrompidos, depois do furto em Janeiro de 2016

Os alimentosservem para melhorar a dieta alimentar dos alunos internos

“Gosto detrabalhar nahorta porquenos permitecomer bem evariamos osalimentos”

I l ídia Alberto

Minelda Maússe

{

{

“Infel izmente, não sei quando voltaremos ao ar. Não temos dinheiro para comprar novo equipamento e a polícia não nosdá nenhuma esperança sobre a recuperação dos bens roubados”

Os alunos intercalam as actividades de produção com as aulas. Os produtos da machamba servem para auxil iar as refeições emelhorar a dieta al imentar dos alunos internados.

PATRÍCIO MANJATE

PATRÍCIO MANJATE

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PRODUTO EXPERIMENTAL DOS ESTAGIÁRIOS DO MÍDIA LABM ÍD I ALABSEGUNDA-FEIRA - 09/05/201 6 sociedade8

Glória Quitissane tem 27 anose é deficiente física.Quitissane é natural de

Inhambane e vive na cidade da Matolahá 2 anos. Adquiriu a deficiência nosprimeiros dias de vida. “O meu irmãotrazia-me ao colo e estávamos pertodo lume, a capulana incendiou, apesarde graves queimaduras, eu sobrevivimas meu irmão não teve a mesmasorte, morreu”, conta Glória. Asconsequências doacidente a privaram devárias oportunidades,Glória não brincou, nãoestudou como todas ascrianças da sua idade.Pois, tinha de se arrastarpara se movimentar.

Durante anos, lutoupara cicatrizar àsqueimaduras, o braço e aperna do lado direitoforam os mais afectados.As marcas no corpo denunciam àquantidade de cirurgias por quepassou. “A minha pele colava no osso.Para minimizar os efeitos do acidente,os médicos tiveram de tirar parte dapele da barriga para colocar na perna”,revela Quitissane. .

Crianças sem paiNo início da adolescência, Glória

teve o primeiro fi lho. Com apenas 1 3anos a sua vida transformou-se,passou de criança a mãe. Tal comoa primeira gravidez, as quatro restantes

A realidade de uma mãe que tem deconviver com a pobreza e a deficiência

não foram assumidas. Hoje, Quitissaneé mãe de cinco fi lhos de 1 4, 1 1 , 8 ,7e 5 anos, sendo que cada criançatem o seu pai. “Eles me usaram equando eu contava que estava grávida,fugiam”, contou. Quando a sua mãemorreu, a única pessoa que cuidavade Glória, ela teve de vir a Maputo,pois as suas madrastas maltratavam-na e não a davam de comer.

Em Maputo, ela esperava que avida fosse melhorar, mas nada depositivo aconteceu. Glória vive no

terreno que pertenciaà sua falecida mãe.No mesmo espaço,os irmãos aimpediram de ocuparas duas casas dematerialconvencional, umafoi arrendada e aoutra usada comoarmazém, por eles.Glória Quitissane,construiu com ajuda

de vizinhos uma “barraca” de palha,caniço, papelão, sem portas e do ladode fora é possível ver tudo o queacontece no interior.

Crianças trabalhando em troca decomida Para garantir que não faltecomida, todos contribuem para osustento da famíl ia. Glória dependeda boa vontade dos vizinhos, paraquem lava roupa, loiça, em troca decomida ou dinheiro. As criançastambém trabalham, apesar de nenhumdeles ter 1 5 anos. Idade em que se

pode começar a trabalhar, de acordocom a lei moçambicana. “Logo cedo,os três mais velhos fazem trabalhosdomésticos na vizinhança, em trocade 20 a 50 meticais, para garantir quenão fiquemos sem comer”, revelouQuitissane. Questionada se estariadisposta a entregar os fi lhos a famíl iasque têm melhores condiçõesfinanceiras, a fonte afirmou “os meusfi lhos estão bem comigo, ficarei comeles até morrer”, afirmou Quitissane.

Por vezes, a famíl ia Quitissanerecebe ajuda do Município da Matola,“uma vez por semana, à sexta-feira,recebo uma caneca de arroz e deaçúcar para 6 pessoas”, acrescentaa fonte.

Tia Joana é a única vizinha queajuda Glória. “Eu parti lho tudo, e atéo nada com ela”, declarou Joana. Avizinha pediu que se construa umacasa para a Glória e seus fi lhos, poisa casa onde a famíl ia vive atualmente,não tem condições mínimas de serhabitada, não protege esta famíl ia dachuva, nem de outros perigos quepossam surgir.

O Inquérito Demográfico de Saúde,do ano 2007, revela que o númerode deficientes físicos acima dos 1 4anos de idade, em Moçambique, éde 1 5 546. Deste universo, 337 estãona cidade da Matola, sendo que 1 01são do sexo masculino e 236 feminino.

Portanto, estes dados indicamque muitas outras mulheres seencontram na mesma situação quea de Glória Quitissane.

“Logo cedo ostrês mais velhosfazem trabalhosdomésticos navizinhança emtroca de 20 a 50meticais"{

Sheila Mafuiane

Glória afirma que está bem com os filhos e conta a ajuda dos vizinhos

SHEILA MAFUIANE

Está instalada uma rede de jovensque burlam clientes no MercadoGrossista do Zimpeto, em Maputo.Chamam-se Modjeiros e têm idadescompreendidas entre 20 e 35 anos.Além angariar cl ientes para osprodutores, cujos produtos sãovendidos a grosso no Zimpeto, estesjovens acrescentam uma taxa quevaria entre 1 0 e 200 meticais ao preçoreal do produto. O valor acrescentadodenomina-se de “voto”.

Os burladores actuam à luz dodia e as principais vítimas são assenhoras que têm na revenda dessesprodutos uma fonte de renda. “Nãoestamos satisfeitas com essa coisado ‘voto’ porque, quando revendemosos produtos, os cl ientes não aceitamo preço que praticamos. Temos devender a um baixo preço e assim nãotemos vantagem”, reclama arevendedora Rosa Manhiça,acrescentando que é obrigada aaumentar o preço quando faz arevenda em casa.

Além de insultá-las ou revendêlasprodutos de péssima qualidade,quando as senhoras se recusam apagar o preço do “voto”, os “Modjeiros”agridem-nas. As pessoas, na suamaioria senhoras que recorrem aquelemercado para comprar produtos erevende'los, dizem não ter outra

Aida Nhavoto

alternativa de sobrevivencia. É issoque que explica a sua submissão ao“voto”. “Não estamos a acostumadasa ficar em casa sem fazem nada.Temos que correr de um lado para ooutro. De qualquer modo, não estamosde acordo com o ‘voto’”, explica donaRosa. Segundo depoimentos, o que

intriga às revendedoras é o facto denão saberem o destino da taxa que

lhes é cobrada. “Estamoscansadas”, desabafou FátimaMunguambe afastando qualquerenvolvimento dos produtores na burla:“O dono não sabe de nada, elessimplesmente o ignoram. Os

‘Modjeiros’ são quem marca o preçodo ‘voto’.

Quando o produtor se recusa aosistema, eles proíbem-no de vender”.Os burladores que reconhecem ailegalidade “voto”, explicandoa comouma espécie de imposto, afirmandoque praticam essa actividade comocondição para garantir a sua renda.“Sabemos que o que estamos a fazernão é legal. Mas não temos outrasaída, porque somos desempregadose não queremos roubar”, afirmou ummodjeiro”sem revelar o nome. Sobum olhar impávido das autoridadesos “Modjeiros”dominam o comércioe prejudicam pessoas honestas queprocuram ganhar a vida vendendo.Tentamos ouvir o vereador demercados e feiras no ConselhoMunicipal de Maputo, mas até aofecho da presente edição não tinharespondido o nosso pedido.

Os agentes da Polícia Municipalque trabalha na área administrativado Mercado Grossista de Zimpetotambém recusou-se a prestardepoimentos sem autorização docomando da corporação.

Modjeiros burlam clientes no Mercado Grossista de Zimpeto

Os burladores actuam à luz do dia e as principais vítimas são as senhoras que têm na revenda desses produtos

No Mercado, em Maputo, funciona um esquema ilegal de fixação de preços, denominado por "voto" . Os produtores são impedidosde marcar preço para seus prórios produtos. Quem manda são os "Modjeiros" sob olhar das autoridades do mercado.

História de uma mãe com deficiência física de 27 anos de idade vítima de abuso sexual, resultando em 5 fi lhos de pais diferentes.

Page 9: Jornal Midia lab: Edição 8 - Por IREX-Moçambique

9PRODUTO EXPERIMENTAL DOS ESTAGIÁRIOS DO MÍDIA LABMÍDIA LAB

SEGUNDA-FEIRA - 09/05/201 6sociedade

Vendedores violam oRegulamento de Gestão eControlo do Saco Plástico e

comercial izam plástico nocivo ao meioambiente, oito meses depois daaprovação e entrada em vigor, a 5 deFevereiro de 201 6 do decreto n°1 6/201 5.

Os comerciantes dos mercadosde Xipamanine, Mandela e do Povoinfringem os princípios estabelecidose continuam a vender o plástico comespessura inferior a trinta micrómetros.

Eduardo Mathe, vendedor nomercado Mandela, contou que oplástico que comercial izava é do stockque adquiriu e desfazer-se daquantidade que tem seria um prejuízo.“Comprei a grosso os plásticos queestou a vender, antes da aprovaçãodo decreto e não os posso,simplesmente, queimar, antes dereaver o valor gasto”, revelou Mathe.

Dona Marta, nome fictício,revendedora de plástico no mercadodo Xipamanine, contou que aindacompra o plástico proibido por lei, paraobter uma margem de lucro razoável.Segundo Marta, o saco plásticorecomendado é comercial izado nafábrica a preços elevados. "Algumaspessoas têm aparecido a vender oplástico que deve ser banido. Eucompro-o, porque aquele que nosaconselharam a vender está muitocaro e, se eu comprá-lo, não tereilucros". Questionada se estava cienteda irregularidade que cometia, donaMarta respondeu꞉ “Não tenho medo,nunca apareceu ninguém a fazer

inspecção. As únicas pessoas quevieram só nos apresentaram os novosplásticos e nunca mais apareceram”,reafirmando que continuará acomercial izar o plástico proibido porlei.

A comercial ização do plásticonocivo ao meio ambiente prevê opagamento de uma multa que variade 25 a 80 salários mínimos,equivalente a 79.900 e 255.680meticais, respectivamente. A multaserá aplicada a todas entidadespúblicas e privadas, pessoassingulares e colectivas, envolvidasna produção, importação,comercial ização e uso do plástico.

Dona Marta acrescentou que osutentes do mercado continuam a terpreferência pelo plástico nocivo porcausa do preço e afirmou que umaembalagem de 1 00 plásticos nocivoscusta 250, enquanto o recomendadopor lei, 350 meticais.

Falando à nossa reportagem,Mouzinho Nicol´s, presidente daAssociação de Defesa do Consumidorde Moçambique (ADECOM), disseque a comercial ização do saco plásticoé um assunto problemático. “Se osaco plástico não é benéfico ao meioambiente, que se tire do circuitocomercial. A venda do saco plásticoencarece o poder de compra doconsumidor e está a tornar-se numnegócio lucrativo”, conclui Nicol´s.

Questionado sobre as possíveisacções da ADECOM, tendo em contaa venda do plástico nocivo ao meioambiente, Nicol´s disse que a tarefa

será denunciar, criar espaços dereflexão, pois a ADECOM é um grupode pressão e usará todos parâmetroslegais para fazer valer a lei.

Gestores estão insatisfeitos como regulamento de gestãode saco plástico

Depois daimplementação doRegulamento de Gestãoe Controlo do SacoPlástico, gestores dasempresas fabricantesafirmam que a normatrouxe mais prejuízosque ganhos.

“Despedimos 50% dostrabalhadores por causa dos prejuízosde matéria-prima armazenadaavaliadas em 70 mil dólares”, lamentou

António Afonso Chirindza, gestor deRecursos Humanos da Indústria deProdução de Sacos Plásticos (IPED),local izada no bairro de Tsalala, nomunicípio da Matola. Chirindza

acrescentou que hoje aIPED tem um númeroreduzido de clientes,comparado ao períodoanterior àimplementação dodecreto. Associado aoselementosapresentados, aempresa tambémenfrenta insuficiência de

equipamentos para a execução deactividades.

Os revendedores de sacos plásticostambém se sentem lesados com a

nova lei. Um comerciante que não quisse identificar afirmou que não é fácilvender os seus produtos. “Actualmente,levo três dias para acabar o stock quevendia num dia”, esclareceu. Orevendedor também diz que reduziua quantidade de sacos plásticos quecomercial iza, devido ao aumento dopreço de compra. “O saco quecomprávamos a 1 .500 meticais,actualmente, custa 2.200”.

O regulamento obriga aosprodutores a rotular o saco plástico,indicar o nome da empresa e⁄oulogótipo, inserir o endereço, ascaracterísticas do produto incluindo ovolume, o material usado, símbolo doplástico e a espessura. Caso contenhamaterial reciclado, o produtor deveindicar a sua percentagem.

Bernadete Nhaveve e Sérgio Mossela

Crianças serão registadas a partir de um sistema electrónico

O registo de nascimento decrianças será feito a partir de umsistema electrónico, onde serãoarmazenados todos os dados dosbebés. A informação foi parti lhada nodia 04 de Maio de 201 6, pelorepresentante da UNICEF, MarcoluigiCorsi, aquando da assinatura do acordoque visa contribuir para o reforço doSistema Nacional de Registo Civi l eEstatísticas Vitais em Moçambique.O memorando foi assinado pelorepresentante da UNICEF, MarcoluigiCorsi e pelo alto-comissário do Canadáem Moçambique, Mhairi Piterson e foitestemunhado pelo ministro da Justiça,Assuntos Constitucionais e Religiosos,Isaque Chande. Desta contribuiçãoserá disponibi l izado, o valor de 1 9.5milhões de dólares canadianos para

um período de 5 anos. Na ocasião,Corsi disse que o financiamento é umdonativo e não um empréstimo, poiso objectivo do UNICEF é priorizartodas as áreas que afectam ascrianças. “As famíl ias terão apossibi l idade de registar os seusbebés, através de um sistemaelectrónico. O valor foi doado e vaipassar pela UNICEF, para ser usadopelo Ministério da Justiça, AssuntosConstitucionais e Religiosos” afirmouCorsi. O representante acrescentouque: “A iniciativa vai abranger tambémas zonas rurais, pois o direito civi l ,registo de nascimento é um direitopara todas as crianças”.

No país nascem em cada ano950.000 crianças, das quais 83.000morrem antes de completar os cinco

anos de idade. Do número denascimento mais de 52% das criançasem Moçambique não foram registadase só 1 2.1 % dos óbitos foram registados.Os dados foram trazidos em 201 4,pela Direção Nacional dos Registo eNotariado (DNRN). Foi por causa dobaixo número de registos denascimentos e de óbitos de criançasque o Governo aprovou em 2004, oPlano Nacional de Acção sobre oRegisto de Nascimento visandoacelerar as actividades de registo denascimentos e reforçar o sistema deregisto como rotina a nível nacional.O registo de nascimento é obrigatórioe gratuito, mas passados 1 20 dias donascimento da criança, os pais devempagar uma taxa de 60 meticais.

“Não tenho medo,nunca apareceu alguéma fazer a inspecção"{

Comerciantes ignoram a lei e vendemplástico nocivo à saúde e ao meio ambiete

Ernesta Missage

Revendedores preferem vender o saco plástico proibido por lei para term oretorno do investimento.

O registo electrónico vai abranger também crianças que vivem zonas rurais

Vendedores dos mercados violam o Regulamentode Gestão e Controlo do Saco Plástico ecomercial izam plástico nocivo ao meio ambiente,oito meses depois da aprovação do decreto n°1 6/201 5 e entrada em vigor a 5 de Fevereiro de201 6. O plástico deve ter espessura superior a 30micrómetros e não deve conter material reciclávelacima de 40%.

BERNADETE NHAVENE

COMUNIDADE SANT'EGIDIO

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PRODUTO EXPERIMENTAL DOS ESTAGIÁRIOS DO MÍDIA LABM ÍD I A LABSEGUNDA-FEIRA 09/05/201 6 sociedade1 0

Funcionários públicos contestam saláriobaseado na competência técnica

Amedida anunciada pelo Vice-Ministro da AdministraçãoEstatal, Roque Silva, a 3 de

Abril , sobre a atribuição do salário porcompetência técnica, gera insegurançae contestação nos funcionáriospúblicos em Moçambique. El iasMatusse, funcionário do Estado, noConselho Municipal de Maputo, disseque a medida privi legiará oscolaboradores mais antigos ediscriminará os poucoexperientes. “Osfuncionários com maistempo de serviço terãovantagens do que osoutros. Deve-se olharpara a competência”,defendeu Matusse.

Outro funcionário doEstado, que não quis seridentificado, disse que aFunção Pública moçambicana nãoconsegue gerir com eficiência o actualmodelo de remuneração e optar pelapolítica seria burocratizar a funçãopública. Contrariamente, CarlosCaixote, especial ista em gestão derecursos humanos e docente naUniversidade Eduardo Mondlane,afirmou que a política é bem-vinda,mas é necessário conceber um quadrode referências e competências a partirdo nível central ao mais baixo.

Caixote explica que aimplementação da política salarial porcompetência técnica exige a revisãodo Decreto n° 55/2009, de 1 2 deOutubro – Sistema de Gestão deDesempenho na Administração Pública

(SIGEDAP), e não apenas a revisãodo Sistema Nacional de Carreiras eRemuneração, contrariando ospronunciamentos do Vice-Ministro daAdministração Estatal, citado peloJornal Notícias (04.04.1 6), “o SistemaNacional de Carreiras e Remuneraçãoestá em revisão, num processo quevisa passar a atribuir salários aosfuncionários e agentes do Estado deacordo com as suas competênciastécnicas e não apenas pelo certificadode habil itações literárias”. Para Caixote,as carreiras podem manter-se como

estão, o que tem de mudarsão os termos dereferência de cadafuncionário. “Os termosde referência porcompetência prevêem osresultados, e os resultadosestão no quadro decompetências individuaise no quadro dasreferências dos órgãos da

administração pública. Dependendode cada área de actuação, osindicadores para os resultados podemvariar, sendo qualitativos ouquantitativos. O que determina osqualificadores são os termos dereferências de cada carreira e de cadafunção, e fazer estas reformaspressupõe mudar o SIGEDAP e todosinstrumentos de medição decompetências”, explicou o especial ista.

Os funcionários públicos sãoremunerados tendo em conta trêspilares: nível académico, tempo deserviço e confiança. Os grupos salariaisde uma ou mais carreiras comcategorias da mesma complexidadee responsabil idade correspondem à

mesma série de índices salariais,subdivididos em faixa, para cadaclasse da carreira. O Sistema deCarreiras e Remuneração estabelece1 2 grupos salariais de 01 a 1 2, paraas carreiras de regime geral, e outros24 grupos salariais, salteados, de 1 3a 99, para as carreiras de regimeespecial. Segundo Caixote, mudarseria um trabalho que parte do nívelcentrar ao posto administrativo e quepoderia levar no mínimo três anos.

A subjectividade do SIGEDAP e aimprecisão da ferramenta na avaliaçãodo desempenho são questiões sobrea legitimidade da avaliação que podeconferir competência técnica para

determinar salários. “O sistema deavaliação de desempenho não éobjectivo. Quem vai fiscal izar acompetência dos funcionáriospúblicos?” Questionou Matusse.

Para além dos problemas decarácter normativo, o académicoCarlos Caixote diz que o novo sistemadeve ter em conta o tempo de obtençãode resultados, em si, e o alinhamentocom os objectivos da organização. Oimpacto das competências que ofuncionário tem aumenta a eficiênciaorganizacional, porém, existemcondições para avançar para aremuneração por competências.“Temos de mudar o currículo dos

IFAPA, do ISAP e de algumasinstituições”, advertiu Caixote. Oacadémico defende que os currículosdevem estar virados para ascompetências. “Precisamos de maiorpercentagem de competênciastécnicas e menor percentagem deteoria. Não basta a administraçãopública dizer que quer mudar, asescolas também devem mudar edeixar de formar as pessoas combase em teorias. Até ao fecho destaa edição, a Comissão de Revisão doSistema Nacional de Carreiras eRemuneração do Ministério daAdministração Estatal não tinharespondido ao pedido de entrevista.

Os funcionários públicos são remunerados tendo em conta o nível académico, tempo de serviço e confiança.

"Não basta aadministraçãopública dizerquequermudar, asescolas tambémdevem mudaredeixarde formaras pessoas combase nas teorias"

Empresa Maputo Sul viola decretono processo de reassentamento

A empresa Maputo Sul violou odecreto 31 /201 2, de 8 de Agosto, queaprova o Regulamento sobre o processode Reassentamento, resultante deactividades económicas emMoçambique.

De acordo com o artigo 1 6 dodecreto, o processo de reassentamentoé acompanhado pela implantação devias de acesso, sistema deabastecimento de água, saneamentodo meio, electrificação, posto sanitário,escola, centro infanti l , mercado, lojaspostos policias, locais de lazer, deprática de desporto, recriação, de cultoe de reunião.

Artimisa Jul ião, de 57 anos residenteno bairro da Malanga desde 1 999,afirma que teve informação de quetinha de abandonar este local, depoisde uma equipa da Empresa MaputoSul ter informado que por aquele lugar,passará a ponte que liga Maputo aKatembe. “Depois de avaliarem aminha casa, trouxeram um documento

que indicava o valor da minha casa edisseram-me que tinha de assinar.Recusei de assinar, porque o lugar dereassentamento é mato e cheio dearvores, capim e não tem vias deacesso”, explicou Artemisa.

“Perguntei como iríamos construir,neste lugar? O pior é que a zona nãotem condições, não tem água, estradas,hospitais e nem energia elétrica. Eutenho fi lhos onde e que os meus fi lhosvão estudar? E para eles virarembandidos”, questionou. Por outro lado,dona Cacilda residente neste bairrodesde 1 991 , apresenta um outroproblema. “A empresa Maputo suldeterminou um certo valor para minhacasa. Aminha casa não vale 350mil , ”desabafou. De acordo com ela, a suacasa é tipo 3, com uma dependênciae merecia mais do que isso. “Quandoreclamei, dissera-me que não podiamfazer mais nada”. Cacilda afirma queo prazo dado pela empresa MaputoSul, que são trinta dias a contar do dia

da assinatura do documento deretirada, não é suficiente. De acordocom o Sociólogo Marcelo Kantu,existem vários critérios que se deveobdecer antes de se retirar umapopulação de uma determinada zona:Primeiro, deve-se localizar o espaçoonde vai se alocar as pessoasafectadas, para depois negociar comelas a sua retirada. “Depois de ambaspartes concordarem com a negociação,deve-se começar a criar as mínimascondições habitabil idade, abrir viasde acesso, construir escolas, hospitaisum posto policial , colocar água eenergia”, explicou. O sociólogo afirmaque muitas instituições têm ignoradoeste princípio. Para ele, o Governodevia rever as politícas públicas eaplicar sanções para quem viola estedecreto. “Não tivemos uma boarelação, em algum momentoestávamos a sentir os direitos daquelasfamíl ias a serem violados, e tivemosde intervir”, afirmou.

Miranda Munhua

{

NOTÍCIASMOÇAMBIQUE.COM

‘Modjeiros’ são quem marca o preçodo ‘voto’.

Quando o produtor se recusa aosistema, eles proíbem-no de vender”.Os burladores que reconhecem ailegalidade “voto”, explicandoa comouma espécie de imposto, afirmandoque praticam essa actividade comocondição para garantir a sua renda.“Sabemos que o que estamos a fazernão é legal. Mas não temos outrasaída, porque somos desempregadose não queremos roubar”, afirmou ummodjeiro”sem revelar o nome. Sobum olhar impávido das autoridadesos “Modjeiros”dominam o comércioe prejudicam pessoas honestas queprocuram ganhar a vida vendendo.Tentamos ouvir o vereador demercados e feiras no ConselhoMunicipal de Maputo, mas até aofecho da presente edição não tinharespondido o nosso pedido.

Os agentes da Polícia Municipalque trabalha na área administrativado Mercado Grossista de Zimpetotambém recusou-se a prestardepoimentos sem autorização docomando da corporação.

O sistema Nacional de Carreiras e Remuneração vai passar a atribuir salários aos funcionários e agentes do Estado de acordocom as suas competências técnicas e não apenas pelo certificado de habil itações literárias.

Cofe Cumba

COFE CUMBA

Uma das casas demolidas em Malanga no âmbito da construção da ponte

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11PRODUTO EXPERIMENTAL DOS ESTAGIÁRIOS DO MÍDIA LABMÍDIA LAB

SEGUNDA-FEIRA - 09/05/201 6sociedade

Em Moçambique, nos últimos anos, crianças,na sua maioria do sexo feminino, com idadecompreendida entre 1 3 e 1 7 anos, provenientesdas zonas rurais, são contratadas ou entreguespelos seus pais, para trabalhar nas capitaisprovinciais como empregadas domésticas,cuidando de bebés ou de crianças.

Muitas destas meninas pertencem a famíl iascarenciadas, por isso, os pais vêm a sua saídado campo para cidade como uma oportunidadepara mudarem de vida, ajudando com o salário,nas despesas de casa. São casos de Esméniae Clara, que saíram da província da Zambézia,sua terra natal, para trabalhar na capital dopaís como babás.

"Sempre diz que não soufamília dela, mas simempregada"

Esménia Augusto, de 1 6 anos de idade,natural da Zambézia, distrito deNamacura, saiu da sua provínciacom o consentimento dos seuspais, para trabalhar como"Babá" em Maputo. Chegou àcidade com ajuda da donaNoémia, uma mulher de 40 anosde idade, natural da mesmaprovíncia e residente na capitaldos pais, que frequentementesai de Maputo para aquele pontodo país, para visitar seus pais e,por vezes, ao regressar, levameninas cujas famíl ias têmmuitos fi lhos e sem condiçõespara os sustentar.

A menor Esménia reside no bairro doAeroporto e diz estar a sofrer maus tratos porparte da patroa, que a agride fisicamente.Quando pede para voltar para a sua terra natal,a senhora se recusa, "ela bate-mefrequentemente com pau de vassora e semprediz que não sou famíl ia dela, mas sim

empregada". Esta menor trabalha há mais deum ano e neste período nunca teve nenhumarecompensa da patroa.

O mais grave é que não adeixa falar com os seus pais.Com lágrimas escorrendo pelorosto, a adolescente diz quesente muita falta do carinho dosseus pais.

Quando vivia com os seuspais, frequentava a segundaclasse, chegando aqui, foiobrigada a abandonar a escola,porque tinha de cuidar de criançae da casa, "quando eu peço a tiapara estudar, ela sempre mentepara mim, dizendo que já mematriculou, mas, não me leva àescola". A fonte acrescentou que a roupa quetem e traz no corpo foi oferta das vizinhas, quetêm acompanhado a sua história de perto.

Devido aos maustratos que sofria,Anatércia José, uma dasvizinhas que acompanhaa história da miúda,levou-a à Matola Gare,em casa dos seus tios,porque a adolescentechorava todo dia,pedindo ajuda. "Eu tivede interferir, porque jánão aguentava ver acriança a sofrer de maustratos, então levei-a paracasa dos meus tios, já

que não tinha com quem contar". Disse a nossaentrevistada

A fonte afirmou que, depois de levar a miúdapara a casa do seu tio, a patroa foi à políciadenunciar, alegando que tinha sido raptada."Fomos até à esquadra daqui do bairro, e lá,a polícia aconselhou a menina a voltar parasua terra, essa seria a condição de todos os

envolvidos saírem impunes". A fonteacrescentou ainda que tirou um valor de trêsmil meticais e entregou à patroa da menina

para a sua passagem, masisso não chegou a serealizar, pois a criançaainda continua nas suasmãos.

“Em vez de cuidarde criança,trabalhava namachamba”

Clara Arl indo, de 1 2anos, vive na capital dopaís há quase um ano. Talcomo Esménia, saiu da

sua província para trabalhar como babá.Também chegou a Maputo, trazida por Noémia,que também levou a sua irmã mais velha, de1 4 anos, para fazer o mesmo serviço.

Clara diz que não queria sair de casa, masos seus pais a obrigaram, pensando que erauma oportunidade de continuar a estudar.Chegada a Maputo, Clara foi levada pelasenhora prometida, e esta, por sua vez, entregouà sua mãe, que reside no bairro 25, no distritode Boane. "Quando eu vim, era só para cuidarda criança, mas a tia levou-me para casa damãe para ajudar-lhe na machamba".

Clara conta que ela e a idosa, diariamente,saiam de casa para machamba às 5 horas esó voltavam às 1 8 horas, não lhe permitindofrequentar a escola, "trabalhávamos todo dia,não me sobrando tempo para fazer mais nada".Declarou a fonte.

No período em que Clara esteve a trabalharem casa da idosa, não teve nenhum salário,enquanto o combinado era que a senhora comquem iria viver, enviasse um valor, mensalmente,para os seus pais, situação que deixou a donaNoémia revoltada.

Clara frequentava a segunda classe na sua

terra, em Namacura, não sabe ler e nem escrever,o mais agravante é que nem sabe a sua idade.Quando questionada qual o seu maior sonho,a miúda respondeu que gostaria de cuidar decasa. Neste momento, ela encontra-se no bairrodo Alto Maé, em casa da senhora Noémia, apessoa que a tirou de Namacura para Maputo,preparando-se para regressar à sua terra natal,juntamente com a irmã.

“Levo as crianças para ajudar aelas família”

Noémia, a senhora que trouxe Esménia eClara da Zambézia, admite trazer as criançascom o propósito de ajudá-las, uma vez quepertencem a famíl ias desfavorecidaseconomicamente. A fonte diz estar arrependidapor ter entregue as duas crianças a pessoasque as maltratavam.

Noémia mostra-se preocupada com o casoda Clara, por ser ainda mais nova, com apenas1 2 anos de idade. Segundo a fonte, a menorestava a trabalhar para uma senhora que nãoé sua conhecida, que a contactou por via deuma amiga. "A minha amiga disse que tinha umaconhecida que precisava de uma criança paraficar com as suas duas fi lhas, mas que a miúdafrequentaria a escola e daria uma recompensaà famíl ia".

A história destas duas crianças é exemplodo sofrimento que muitas passam ao ser entreguespelos próprios pais, para trabalhar comoempregadas domésticas nas capitais provinciais.

No entanto, o que muitos não sabem é queeste tipo de trabalho infanti l para além de impedira sua formação escolar e violar seus direitos, éuma forma de tráfico humano.

De acordo com Virgínia Madeira, juíza deDireito, no tribunal do distrito de Xamanculo,falando num debate sobre tráfico humano,organizado pela Irex Moçambique, em Dezembrode 201 5, são três, os elementos que identificamo tráfico: recrutamento (através de aliciamento),transporte e exploração.

Estes elementos também são envolvidosquando se tira uma criança duma província paraoutra ou do campo para a cidade, para servircomo empregada doméstica.

No processo de recrutamento, os paisentregam suas fi lhas, por vezes, convencidosde que estas vão continuar a estudar na cidadee também pelo valor que eles vão receber pelotrabalho que elas irão fazer. Estas crianças,além de cuidar de outras crianças, isto é, trabalharcomo babás, fazem outros trabalhos domésticose, muitas vezes, sem nenhum descanso. Assim,mesmo que os patrões tenham prometido aospais que elas iriam continuar a estudar, quandochegam a Maputo, não são matriculadas. Estatambém, segundo Madeira, é uma forma deexploração de menores, porque, muitas vezes,elas não respondem por si.

Ter crianças como empregadas domésticasé uma prática muito comum, principalmente nacidade de Maputo. Apesar de ser uma forma deexploração de menores, tornou-se normal, jáque muitas pessoas aderem a ela.

E porque a lei do trabalho doméstico emMoçambique estabelece que, todos menoresde 1 5 anos não podem ser empregadosdomésticos. Porém, se estes forem autorizadospelos pais, pode ser até ao mínimo de 1 2 anos.Esta lei, de certa forma, contribui para acontinuidade desta prática, porque os pais dasmeninas, muitas vezes analfabetos, não priorizama educação das fi lhas, mesmo sabendo que osalário é muito baixo.

"Eu tive queinterferir porque jánão aguentava ver acriança a sofrerdemaus tratos, entãolevei a ela para casados meus tios, já queela não tinha comquem contar"{

“Quando eu vim erasó para cuidar da criança,mas a tia levou-me paracasa da mãe para ajudar– lhe na machamba,trabalhávamos todo dia,não me sobrando tempopara fazer nada”{

Sheila Magumane e Sumeia Cassimo

Crianças dos 10 aos 17 anos de ambos sexos trabalham como empregados domésticos e vendedores ambulantes nos centros urbanos

Trabalho doméstico infanti l é consideradouma forma de tráfico humanoDe acordo com Virginia Madeira, Juíza de Direito no Tribunal do distrito de Ka-Lhamankulo, o trabalho infanti l doméstico enquadra-se nos três elementos do tráfico humano: recrutamento, transporte e exploração

SUMEIA CASSIMO

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PRODUTO EXPERIMENTAL DOS ESTAGIÁRIOS DO MÍDIA LABM ÍD I A LABSEGUNDA-FEIRA - 09/05/201 6 saúde1 2

Pacientes do Centro de SaúdeDzowo, localizado no distritode Marracuene, na província

de Maputo, queixam-se dos efeitoscolaterais dos métodos contraceptivos,DIU (Dispositivo Intra Uterino) eImplante, ambos invasivos na mulher,e da falta de um acompanhamentoclínico regular. Para elas, o que erapara ser um Planeamento Famil iar(PF) tornou-se prejudicial para a suasaúde. O PF tem como final idadeprevenir a gravidez indesejada, permitirao casal escolher o número de fi lhose dar espaçamento entre onascimento de seus fi lhos.

No entanto, o cenárioencontrado no Centro deSaúde Dzowo contradiz afinal idade do uso do PF. Asmulheres que ali estavamqueixam-se de váriosefeitos causados pelosmétodos contraceptivos.Umas, pela ausência damenstruação há mais de umano, outras, pelashemorragias constantes hámais de dez meses eoutras, ainda, que estavam grávidashá semanas. Esta realidade fez comque as mulheres viessem interrompero PF, no centro de Saúde Dzowo,retirando os métodos DIU e Implantede seu corpo. Para as pacientes, nãofoi fácil decidirem remover os métodos,porque a consequência disto será umagravidez indesejada.

Rosa Tivane, de 29 anos de idadee mãe de dois fi lhos, é paciente docentro há mais de 6 anos e usa ométodo contraceptivo Implante há 5anos. A utente descobriu que éseropositiva no ano passado, mas dizque os seus fi lhos são seronegativos.Rosa, assim como outras mulheres,quer remover o Implante. Conta queestá grávida há 2 semanas e nãopretende ter mais fi lhos, daí que, paraalém de retirar o Implante a pacientepretende abortar. “Só posso fazeraborto, não tenho outra alternativa,porque já não quero mais bebé e ométodo não me caiu bem”, confessou

a paciente.No mesmo

centro, um outrocaso foi detectado.É o da EditeTeixeira, de 30anos de idade émãe de três fi lhos.A utente é usuáriado métodoImplante há 11meses e revelaque os resultados

não estão a ser satisfatórios. “Desdeque coloquei o Implante, tenho sentidoumas dores nas minhas mamas e nãomenstruo há 4 meses. Este métodonão me favorece, por isso venho retirá-lo”, disse a utente.

Assim como Rosa e Edite, InêsRungo é também paciente do centrode Saúde Dzowo. Ela tem 25 anos

Contraceptivosperigam saúdede mulheres

Há fraca divulgação de palestras sobredesnutrição no distrito da Namaacha

O maior centro de saúde daNamaacha registou, de 201 4 a 201 5,cerca de 1 99 casos de maucrescimento, 25 de internamento eum óbito. A falta de água para aprodução de alimentos, a escassezde informação sobre como prepararpapas enriquecidas, com os poucosprodutos disponíveis são apontadospelas mães como os principais motivospara a desnutrição crónica das criançasno distrito de Namaacha, provínciade Maputo.

Apesar de a técnica de nutriҫãoEva Sumindila garantir que são feitaspalestras e demonstraҫões de culináriaaos moradores daquele distrito, hámães que nunca ouviram falar destaspalestras. Joana Coane vive no bairroMadlanine e não tem informaçõessobre palestras feitas pelo sector daMedicina Preventiva do Centro deSaúde de Namaacha.

Residente no distrito há mais de 5anos Joana Coane tem dois fi lhos.Ela conta que nunca participou emnenhuma apresentaҫão de técnicosde nutriҫão, no seu bairro. “Desde que

tive o meu primeiro bebé até hoje,não vi demonstrações de comomelhorar a saúde alimentar dos meusfi lhos”, disse Coane. A fi lha mais novada Joana tem cinco meses e pesa 6kilos. O peso recomendável nestecaso é 9, 3 kg.

De acordo com atécnica de nutriҫão, aspalestras são feitasdiariamente emensalmente nos centrosde saúde e nasescolas.“Sensibi l izamos apopulaҫão para melhorara sua dieta al imentar.Ensinamos como fazer aspapas dos bebés com osprodutos que possuem”,disse Eva Sumindila.

Maria Albertina e Percina Carlossão mães e vivem no bairro A. Segundoelas, nem nos dias em que levam osseus fi lhos ao peso tiveram aoportunidade de ver palestras. Todavia,a técnica de nutriҫão diz que o trabalhode sensibi l izaҫão decorre em todosos bairros até nas zonas mais

recônditas. “É um desafio para nós,pois temos poucos centros de saúdeno distrito, mas conseguimos fazercom que as comunidades maisrecônditas tenham acesso aos nossosserviços”, realçou.

A nossa equipa de reportagemesteve no distrito daNamaacha nos dias 5, 8 e1 2 de Abri l . E nessas datasnão tivemos indícios deapresentações sobredesnutrição crónica. Dadosdo Fundo das NaçõesUnidas para a Infância(UNICEF), de 201 4, citandoá Sitan, indicam que, emMoçambique, 44% dascrianças sofrem de

desnutrição crónica. Uma em cadaduas crianças menores de 5 anos deidade não consegue atingir o seupotencial de crescimento físico.Existem vários factores queinfluenciam a desnutrição crónica dacriança, dentre eles o estado desaúde e nutrição da mãe antes edurante a gravidez. Além disso, de

de idade e é mãe pela primeira vez.O seu bebé tem 9 meses de vida. Inêsusa o método contraceptivo DIU háum mês e conta que foi o marido quema aconselhou a fazer o PF. A utentetem tido sangramentos constantes,facto que a levou a uma anemia. Talcomo as outras utentes, Inês pretenderetirar o aparelho, porque está aprejudicar a sua saúde e a do seubebé. “O aparelho DIU caiu-me muitomal, tenho hemorragias que não párame agora tenho anemia, por falta desangue e o meu bebé já não podemamar”, lamentou a paciente.

Dados do Ministério da Saúde(MISAU) apontam que, em

Moçambique, o PF está a ser cadavez mais usado, principalmente como aumento contínuo da população.Para a técnica de Saúde MaternoInfanti l do Centro de Saúde Dzowo,Felícia Boane, as queixas pelos efeitoscolaterais dos métodos contraceptivossão constantes e preocupam osresponsáveis do centro.

Questionada se é possível testara compatibi l idade dos métodos namulher, a técnica respondeu que eraimpossível fazer a testagem, mas, oque é feito no processo de aberturado PF é buscar a história clínica decada utente. A técnica de saúdeacrescentou, que a mulher tem direito

a um acompanhamento, após ainserção do DIU, bem como doImplante, mas esta afirmação contradizos depoimentos das pacientes. Amesma fonte explica que está a serfeito um estudo, dentro do centro, emparceria com a DKT, uma empresa demarketing e publicidade do uso dosmétodos DIU e Implante, para sabercomo as famíl ias encaram estesmétodos. “O nosso centro tem recebidovárias mulheres que vêm colocar oImplante e o DIU, mas ao mesmotempo recebe mulheres que vêmremover os aparelhos. Esta situaçãodeixa-nos preocupados”, lamentou atécnica.

“Só posso retirara gravidez, não tenhooutra alternativaporque já não queromais bebé e o métodonão me caiu bem”

Ernesta Missage

acordo com a Organização Mundialda Saúde (OMS), a qualidade e aquantidade da alimentação da criança,os cuidados que ela recebe nosprimeiros dois anos de vida são outrosfactores que influenciam. Adesnutriҫão tem implicaҫõesnegativas na vida das crianҫas. Dados

da OMS, revelam que a crianҫa podeter baixa estatura, chegando a nãodesenvolver sua capacidade física,sofrer reduҫão da sua funҫãocognitiva exercendo inpacto directonos resultados escolares. As criançasdesnutridas são mais propensas àdoenças como diabetes e obesidades.

Vinódia Janete

FOLHA DE MAPUTO-201 5

Técnica de Saúde explicando o funcionamento do aparelho reprodutivo da mulher e sobre o uso de contraceptivos{

“Desde quetive o meuprimeiro bebéaté hoje, nãovidemonstrações de comomelhorar asaúde"

ERNESTA MISSAGE

{Desnutrição infantil atrasa o crescimento físico e psicológico das crianças

Page 13: Jornal Midia lab: Edição 8 - Por IREX-Moçambique

1 3PRODUTO EXPERIMENTAL DOS ESTAGIÁRIOS DO MÍDIA LABMÍDIA LAB

SEGUNDA-FEIRA - 09/05/201 6saúdeMenor privada de apoio por falta de informação

Albertina tem actualmente cincoanos e vive com os paisdesempregados, no bairro

Kokomela, no distrito de Namaacha.A menor nasceu sem deficiênciamas sua vida mudou quando aosdois anos ficou deficiente auditiva ealgum tempo depoisepiléptica.

Tudo começouquando Nhancale, numamanhã de sexta-feira,em 201 3, ao acordarpediu que a mãe álevasse ao colo. “Minhafi lha não conseguiamover algumas partesdo seu corpo. Fiqueiassustada e corri para pedir ajuda àminha vizinha”, contou Celina Palavio,mãe da menor.

Na altura, ela e sua famíl iamoravam na cidade de Maputo porisso foram para o Hospital Geral JoséMacamo. “Quando chegamos aohospital, minha fi lha já havia perdidoos sentidos. Os médicos a internarame só saíu do coma uma semanadepois”, explicou Celina.

Depois que despertou, Albertinafoi transferida para o Hospital Centralde Maputo (HCM) onde fizeram osExames de Fisioterapia e Radiografia(Raios X) em um dos pés e braço.Celina acrescenta que, sua fi lha nãovoltou a ser a mesma, “não falava,não ouvia e nem movia algumaspartes do seu corpo. Até hoje, elanão ouve nem fala”.

Passado poucos meses a menorficou epiléptica, doença que secaracteriza por crises convulsivas eperda repentina dos sentidos. Deacordo com a técnica de Acção Socialdo Centro de Saúde de Namaacha,Maria Machava, “a epilpsia pode sercontrolada, desde que osresponsáveis pela criança

encaminhem-na ao Centro de Saúde”,explicou.

Albertina continuou internada pormais um período não específicoenquanto fazia o tratamentofisioterapêutico, pois, um dos seusbraços e pé não se moviam. Quando

começou a registarmelhorias, ela voltou àcasa mas sua mãe,Celina, devia darcontinuidade àsrecomendaçõesmédicas.

Actualmente, amenor tem boaapresentação física,porém, não ouve, nem

fala. No ano seguinte, ela e seus paismudaram-se da cidade de Maputopara arrendar na Vila de Namaacha.Passado alguns meses, a famíl iapassou a viver de favor numa dascasas da esposa do régulo de

Kokomela pois de uns tempos paracá, o casal não conseguia pagar arenda da casa em que vivia, na vilade Namaacha.

Pais privam Educação afilha por medo

“Eu quero que a minha fi lha vá àescola, mas tenho medo que passemal durante as aulas”, revelou a mãe.Celina explica que o seu medo partedo que vê a acontecer com a fi lha,no dia-a-dia. “Mesmo quando ela estáa brincar sozinha, do nada desmaia.No mês passado, ela caíu e mordeu-se o lábio de baixo. Tem vezes quecai e quando não estamos atentos,o pior pode acontecer”, acrescentou.

Outro aspecto que desencorajouCelina de matricular Albertina foi aresposta que lhe foi dada pela direcçãode uma das escolas de Kokomela.

“A directora da escola, disse que nãoa podia matricular por ser epiléptica”,revelou.

Palavio afirma que depois de quatrotentativas, não conseguiu ajuda nohospital, optou em procurar alguémque pudesse tratar a fi lhatradicionalmente. Mas afalta de dinheiro é umadificuldade, pois apessoa está a cobrar2.500 meticais.

“Eu e o meu esposonão temos esse valor”,frisou, tendoacrescentado que, “seao menos euconseguisse um trabalho, pelo menosconseguiria esse valor e pagava otratamento para a minha fi lha, masestá difíci l porque nem mesmo o paitrabalha. Vivemos na base de seusbiscates. Vezes há em que passa atéum mês sem que consiga algum”,contou.

A mãe insistiu afirmando que sódepois de curar a epilepsia é quelevará sua fi lha à escola. “Ainda queseja para não aprender muita coisa,mas, pelo menos vai se ambientarcom as outras crianças”, disse Celina.

Falta de fundos dificulta otrabalho da Acção Social

A Acção Social(AS), no distrito deNamaacha, não está adifundir de forma eficaze inclusiva os seusserviços o que põe emcausa a saúde devárias crianças cujonúmero náo foirevelado, pelo InstitutoNacional de Estatística(INE).

De acordo com a técnica de AcçãoSocial, funcionária há dois anos noCentro de Saúde daquele distrito,Maria Machava, a falta de fundos,transporte e meios demonstrativos

no trabalho são os factores que maisprejudicam o funcionamento da AS,principalmente nas zonas maisrecônditas.

Outro aspecto é o facto de a ASnão ter uma Sede própria e de fácilacesso. Apesar disso alguns

moradores, do distrito deNamaacha, foram unânimesem afirmar que ouvem falarda Acção Social quandovão ao Centro de Saúde,mas nunca souberam paraque fins ela existe porqueos seus serviços não sefazem sentir.

“Eles não podem dizerque a falta de transporte

lhes priva de trabalhar em lugaresmais distantes porque indo de “chapa”,pelo menos daqui onde estamos,bairro de KalaKala até ao bairroKokomela, gasta-se, no mínimo,1 0meticais”, contou um dos pacientesque não quiz se identificar.

Portanto, devido à fracadisseminação dos serviços, a AcçãoSocial, em Namaacha, tem registadoum número reduzido de pessoas quesolicitam ajuda. “Nunca ouvi falar deAcção Social, mesmo das vezes emque fui ao hospital, ninguém meencaminhou para lá”, afirmou a mãeda Albertina. “Pelos menos pediram-me que tratasse alguma documentaçãono Hospital Central de Maputo,

somente assim é que obteriaajuda. Assim o fiz. Masnunca mais obtive retorno”,esclareceu.

De acordo comMachava, a Acção Socialnão recebe fundos paraapoiar as pessoas quepedem ajuda, seu papel édifundir a informação àscomunidades e, caso

necessitem de ajuda, encaminhá-lasao Instituto Nacional de Acção Social(INAS). O INAS recebe as pessoas edá o devido tratamento.

Segundo a base de dados fornecidaá equipa de reportagem do Mídia Lab,pela Técnica de Acção Social, naqueleCentro de Saúde, durante o primeirotrimestre deste ano, apenas duascrianças foram encaminhada ao INASno mês de Fevereiro, para receberassistência.

Durante os meses de Janeiro eMarço, nenhuma criança foiencaminhada, mas, para o mês deAbril , já existem duas crianças gêmeasque serão guiadas logo que a AcçãoSocial receber a sua Declaração deBairro. AAcção Social do distrito deNamaacha, não tem fundos para darapoio ás pessoas que remetem opedido de ajuda. Por essa razão, elasomente recebe as pessoas e asencaminha para o INAS, este que temfundos e oferece apoio emalimentação, educação, saúde eassistência psicossocial. Apesar disso,Albertina não faz parte das criançasque se beneficiam pela assistênciapsicossocial.

A falta de informação sobre o direito à assistência social, em caso de doença ou deficiência, coloca em causa a saúde deAlbertina Rafael Nhancale, que faz parte de um universo não revelado de crianças com deficiência auditiva, no distrito deNamaacha. O Instituto Nacional de Estatística (INE) e a Acção Social não apresentam números actual izados de crianças comdeficiência auditiva, naquele distrito.

“Eu quero que aminha filha vá paraescola, mas o meumedo é que elachegue lá, passemal e desmaie”,revelou a mãe"

“Nunca ouvifalarde AcçãoSocial, mesmodas vezes quefui ao hospital"

Celeste Macuácua

{

Celina Palavio, com Albertina no colo, não tem informação sobre seu direito de assistência social para a menor

“Ainda queseja para nãoaprendermuitacoisa, mas, pelomenos vai seambientar com asoutras crianças”

Albertina Rafael Nhancale, menor com deficiência auditiva, não pode ir à escola por falta de tratamento

{

ABDUL REMANE

{ABDUL REMANE

Desnutrição infantil atrasa o crescimento físico e psicológico das crianças

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PRODUTO EXPERIMENTAL DOS ESTAGIÁRIOS DO MÍDIA LABM ÍD I A LABSEGUNDA-FEIRA -09/05/201 6 economia1 4

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1 5PRODUTO EXPERIMENTAL DOS ESTAGIÁRIOS DO MÍDIA LABMÍDIA LAB

SEGUNDA-FEIRA - 09/05/201 6economia

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PRODUTO EXPERIMENTAL DOS ESTAGIÁRIOS DO MÍDIA LABM ÍD I A LABSEGUNDA-FEIRA - 09/05/201 6 educação1 6

Onze professores vão estagiar na Turquia

Onze professoresmoçambicanos premiados peloseu bom desempenho estão

na Turquia desde o dia seis de Maiode 201 6. A cerimónia de premiaçãofoi real izada no dia 4 de Maio docorrente ano e está prevista noestatuto do estado. Os professoreshomenageados pertencem a onzeprovíncias do país. A assiduidade,engajamento, pontual idade, discipl ina,cumprimento exemplar das actividades,bom desempenho, produção dematerial didático e a sensibi l izaçãodos encarregados de educação para

levar os educandos às escola sãoapontados como os elementosfundamentais para a premiação.

A iniciativa do Ministério daEducação e Desenvolvimento Humano,em parceria com a Embaixada daTurquia visa de incentivar osprofessores.

O ministro de Educação eDesenvolvimento Humano, JorgeFerrão disse que apesar das condiçõesdifíceis de trabalho, os professoressão a solução para os problemas dopaís. “Apesar da falta de recursos econdições adversas de trabalho em

que os professores se encontram atrabalhar, eles fizeram a diferença etransmitiram o conhecimento às nossascrianças. Portanto, são dignos nonosso apreço, reconhecimento eestímulo. Como ministério,pretendemos com actos dessanatureza, instituir um movimento noqual o bom trabalho é premiado, osmelhores professores também, maso mau trabalho e os piores professoresdesencorajados”, declarou Ferrão.

Bernardo José, um dos professorespremiados, da província de Inhambane,disse que se sente fel iz em ter sido

distinguido a nível de Moçambique.“ Estou fel iz e satisfeito, e esperotrazer o que vou colher na Turquiapara melhorar o ensino emMoçambique”, declarou.

Rachide Masive, professor emGaza, espera aprender muita coisana Turquia, comparar com o ensinoem Moçambique e trazer experiênciasnovas para melhorar o ensino no país.“ Pretendo continuar a coordenaracções de leitura e escrita, produçãode material didáctico com materiaislocais. Para Bibiana David, professoraem Niassa, o prêmio é gratificante,

deixa-a satisfeita e incentiva amelhorar as l ições. Ela acrescentouque os professores devem ensinarmelhor às crianças a ler e escreverpara o progresso da educação nopaís. David pretende trazer àMoçambique a interação que colherna Turquia e ensinar.

Na Turquia, os professores vãovisitar as cidades de Ancara e Istambul,onde irão aos locais históricos, fazerintercâmbio com professores daquelepaís. Os professores distinguidos sãoreconhecidos por serem dedicadosna execução do plano da escola.

A Escola Técnica São Franciscode Assis, local izada na província doMaputo, distrito de Marracuene,localidade de Mumemo, começou afuncionar em 2005 com cerca de 80alunas tendo tripl icado para 250, em201 6. O número de alunos tambémcresceu de 1 83 para 550. Actualmente,conta com cerca de 800 formandos,dentre os quais, 250 mulheres, contracerca de 550 homens. Até esta parte,já formou cerca de 11 80 alunos.

Segundo Francisco Augusto,director adjunto da escola desde 2008,apesar de a escola ministrar maiscursos que, aparentemente, são viradospara homens, anualmente o númerode mulheres tem crescido e elas optam

pelos cursos considerados"masculinos": "as meninas, hoje emdia, estão a fazer os cursos demecânica, construção civi l ecarpintaria", disse.

Glória Moisés Chaúque é aluna do2º ano do curso de Pedreiros do limpoou, simplesmente, construção civi l .Segundo ela, optou pelo curso pelofacto de poucas mulhreres escolhem-no. Tem tido dificuldades na discipl inade tecnologia, por causa dos cálculos."Quando terminar, gostaria de entrarno instituto e continuar a fazer o cursode engenharia civi l", referiu.

Jenifa Castigo é aluna do 2º anodo curso de mecânica-auto. Tem tidodificuldades na montagem de motor,

mas, os colegas e o professor a têmapoiado nas aulas, sobretudo naspráticas. "Quero entrar para o institutoe fazer o curso de engenhariamecânica, porque gosto muito docurso".

Carmen Estevão, estudante do 2ºano de seralharia, disse que faz ocurso porque sempre quis entrar numaescola profissional, teve dificuldadesno 1 º ano, por causa da soldadura,tinha muito medo, mas, com ajuda doprofessor, conseguiu superar epretende dar continuidade ao cursono instituto superior.

Os cursos ministrados naquelaescola têm duração de dois anos etêm um estágio de três meses.

Tripl ica o número de mulheres que optam por cursos técnicos

O MINED pretende encorajar os professores a promoverem trabalhos de qualidade através da premiação com melhores resultados no fim de cada ano lectivo

Amina Nofre

Alunas da Escola São Francisco de Assis durante uma aula prática

Magda Mendoça

AMINA NOFRE

MAGDA MENDOÇA

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1 7PRODUTO EXPERIMENTAL DOS ESTAGIÁRIOS DO MÍDIA LABMÍDIA LAB

SEGUNDA-FEIRA - 09/05/201 6educação

O Mídia Lab é um programa deestágio profissionalizante, parajornal istas recém-formados, em queos participantes adquiremconhecimentos para produzir, editare publicar conteúdos noticiosos quecriem impacto positivo na sociedademoçambicana, como parte relevanteda prática jornalística.

Trinta e quatro estagiários foram

seleccionados num grupo de 240candidatos elegíveis e de várias áreasde formação, para desenvolverprodutos multimídia durante 1 0 meses(de Agosto de 201 5 a Junho de 201 6).Porém, no decorrer do estágio,apenas 26 permanecem no programa.Os participantes aprendem jornalismoimpresso, televisivo e on-l ine, edesenvolvem produtos multimídia,design gráfico e empreendedorismo.

Logo no início do programa, osseleccionados passaram por um“boot camp”, que durou um mês, eaprenderam fundamentos dejornalismo e a produção de um jornal

e telejornal. Enquanto passavam pelo“boot camp” aprenderam o ciclo deprodução da notícia, rotinas eprocessos, introdução à éticajornalística, desenvolvimento deprodutos, e tiveram a oportunidadede realizar trabalhos de campo,formando 11 grupos de três pessoas.Também aprenderam a preparar eeditar reportagens e a publicar, nojornal do Mídia Lab e no telejornal,produtos experimentais do programa.

O conceito que melhor caracterizao Mídia Lab é o de aprender fazendo,como disse Ricardo Fontes Mendes,facil itador do programa, ao afirmarque uma das estratégias pedagógicasda formação é permitir que os

participantes experimentem, paraaprenderem de modo efectivo enecessário para a inserção no mercadode trabalho. Depois de aprenderemos fundamentos de jornal ismo, osparticipantes passaram pela fase 1do estágio, com três meses deduração. Nessa fase, eles adquiriramhabil idades em jornalismo on-l ine,desenvolvendo produtos multimídiae conteúdos convergentes, comotexto, imagem, som e vídeo, e aintegração destes conteúdos. Edesenvolveram, ainda, meta-habil idades, como seguimento denormas e padrões, qualidade naentrega de resultados e fortalecimentodo raciocínio analítico, como confirmaRui Lamarques, facil itador. “O grupotem uma vantagem em relação a

outros jornal istas, porque os outrosnão fazem jornalismo multimídia. Nãosabem paginar, pensar num boafotografia, fazer jornal ismo on-l ine.Entretanto, os participantes têm essediferencial. E estão prontos para fazercomunicação neste país. Houve umagrande evolução. No geral, estamosnum bom caminho”.

Nas fases seguintes, fases 2 e 3do programa Mídia Lab, os estagiárioscomeçaram a estabelecer ciclosregulares de produção jornalística,com um padrão de qualidade pré-definido, intercalando estes ciclos comcursos intensivos de curta duraçãosobre criação de websites,empreendedorismo, edição de vídeose produção audiovisual para odesenvolvimento de produtos eaprimoramento de competências.Estão ainda a ser formados empreparação de conteúdos a seremexibidos e publicados pelas empresasde mídia moçambicanas, e naapresentação do seu potencial nomercado, para serem contratados poressas empresas.

Ao longo das fases do programa,foram produzidas oito edições do jornalMídia Lab, cinco edições do telejornal,disponíveis no canal do Youtube daIREX Mozambique e 1 43 artigosjornalísticos publicados no website doMídia Lab (www.midialab.org/www2).Além dos produtos acimamencionados, os jornal istas-estagiáriosproduziram uma edição experimentaldo Mídia Lab Entrevista, organizaram1 4 conferências de imprensa paratreinar habil idades de gestão deeventos de mídia e, até ao final doestágio, vão continuar a desenvolverhabil idades e competências na áreada mídia. Por fim, para Ricardo FontesMendes, “o Mídia Lab é um processoem curso.

José Maneira, licenciado emAdministração pública

“O Mídia Lab para mim significatransformação. Aprendi a ter posturaprofissional. Aprendi a desenvolver econfigurar websites e a usarferramentas digitais. Tenho aplicadoestes conhecimentos em parceria comoutros três colegas do Mídia Lab, eestamos a desenvolver uma empresaque cria aplicativos e softwares parao sector da mídia. Aprendi também atrabalhar com jornalismo de dados ejornal ismo investigativo. Por fim, oMídia Lab ajudou-me a identificar osmeus objectivos a nível profissional”.

Mariolina Ulisses, finalista docurso de Jornalismo

“Aprendi muita coisa durante oestágio. Sei real izar programas detelevisão, editar vídeos, criar websites,fotografar, e com essas habil idadesme sinto uma jornalista completa paraenfretar o mercado de trabalho. Souuma jornalista multimídia. E aprenditambém as técnicas de entrevista,isto é, a entrevistar as fontes semconfrontá-las de forma brusca mas,a l idar melhor com elas”.

Pedro Fumo, licenciado emLinguística

“No Mídia Lab pude aprender sobremarketing digital . E continuo a aprendermuito. Minha auto-estima profissionalestá a crescer, estou sendo formadocomo profissional e tenho que meposicionar dessa forma no mercadode trabalho. Tenho agora competênciastécnicas em: operar câmara, editarvídeos, maquetizar e design gráfico”.

Letícia Constantino, licenciadaem Comunicação

“O Mídia Lab significa para mimuma alavanca e uma maneira deconcil iar a teoria e a prática emJornalismo. Aprendi a l idar com asfontes, a contacta-las, a entrevista-las e a criar mais redes de contacto.Aprendi também a ser maisprofissional na gestão de tarefas. Oprograma ajudou-me imenso aperceber quem eu era através dassessões de marketing pessoal, epercebi como os meus colegas mevêem, isso ajudou-me a desenvolvera minha capacidade de receber e darfeedbacks. E em relação a áreatécnica, posso dizer que agora seireal izar programas de televisão.

Mídia Lab: Nova geração de jornal istas

Keite Branquinnho

PATRÍCIO MANJATE

O estágio profissionalizante conta com 26 jornalistas-estagiários que ao longo de 10 meses aprenderam a fazer Jornalismo para diversas plataformas, com enfoque para as novas mídia

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PRODUTO EXPERIMENTAL DOS ESTAGIÁRIOS DO MÍDIA LABM ÍD I ALABSEGUNDA-FEIRA - educação1 8

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1 9PRODUTO EXPERIMENTAL DOS ESTAGIÁRIOS DO MÍDIA LABMÍDIA LAB

SEGUNDA-FEIRA - 09/05/201 6desportoO último(a)deus do futsalnacional

Poucas vezes, uma qualificaçãoao Mundial criou tanta incertezanuma modalidade. A decisão dependurar as chuteiras, depois dacompetição, de Ricardo LénioMendes, vai deixar o combinadonacional carente de referênciaspara as próximas gerações.

Ricardo Lénio MendesMuendane - Dino -conquistou por mérito próprio

o título de melhor jogadormoçambicano de futsal. Aos 35anos, o pivô criado na ex-LigaDesportiva Muçulmana ergueu váriostítulos colectivos e individuais, secontamos as duas vezes que sesagrou melhor marcador do africanode futsal, nos seus 1 3 anos decarreira.

A sua história dá para um livro.A vida daquele que representoumelhor o combinado nacional, naúltima década, vai terminar noMundial da Colômbia. O terceirolugar que valeu a classificação aocombinado nacional contou com trêsgolos da sua autoria.

Ao contrário da promessa de201 2 o adeus, desta vez, é definitivo.Dino vai mesmo deixar a modalidade.Com 35 anos pensa que já atingiua idade limite. “Parei de 2009 a 2011por questões famil iares, mas retorneiem 201 2”, conta. “Este é o meu últimoano”, acrescenta. Di-lo com nostalgiae ciente de que a melhor geraçãodo futsal foi aquela l iderada por InácioSambo, de 2004 a 2008, na qualjogava com os seu ídolo e amigo:Mauro Sales.

Dino chegou ao futsal pelas mãosde Mauro Sales, em 2003. Volvidostrês anos, foi considerado melhorjogador nacional. Feito repetido em2007. Estes títulos foram

conquistados ao serviço da LigaDesportiva Muçulmana (actual LigaDesportiva de Maputo). Apesar daclassificação, Dino tece algumascríticas ao estágio da modalidade.

Qual foi a sua reacçãoquando recebeu o convitepara jogar na ex-LigaDesportiva Muçulmana?

Natural, porque acreditava queera o mesmo desporto que praticavana Escola 1 6 de Junho mas, chegadoao terreno deparei-me com outrarealidade. O jogo era mais táctico eo nível de exigência era bem maior.A participação em campeonatos e ofacto de os atletas serem pagosaumentava a pressão.Em entrevista concedidaao jornal @Verdade, em201 2, afirmou que era oseu último ano. Estamosem 201 6 e continua ajogar...

Decidi voltar pelo convite de algunscolegas de outros clubes com osquais disputava os campeonatosnacionais. Decidimos unir esforçose formar uma equipa. É que o desportovira um vício e, em algum momento,por mais que não queiras praticarsurge uma vontade de entrar nocampo e competir.O seu regresso, assimcomo de alguns dos seuscolegas, não tira o espaçopara emergência de novostalentos?

Ninguém tira o espaço deninguém. O que os novos talentosdevem fazer é conquistar o lugardeles. Eu já estive fora do campo pordois anos e pouco se falou do futsal.Não se explica, portanto, eu que fuiconsiderado o melhor jogador há oito

anos ainda continuar a ganhar o mesmotítulo nos dias de hoje.Dentro deste pensamento,como avalia a qualidade dofutsal actual?

Bom! Ainda há muito a ser feito,pois sinto um desinteresse por essedesporto por parte dos jovens, masisso não é tudo, porque a falta decondições, como os espaçosapropriados para o jogo tambéminfluenciam. Eu e os outros colegastivemos a sorte de ter pessoas de boafé que nos apoiavam. Patrocinavamos nossos campeonatos, mas isso hojeé raro. Não basta ter o talento énecessário investir.

Recentemente, a vossa equipaconquistou o terceiro lugar no CAN,realizado na vizinha África do Sul,o que vos leva a participar no mundialde futsal, a realizar-se em Setembrodeste ano na Colômbia. Qual é a sua

opinião em torno desta conquista?É uma oportunidade única de

representar o nosso país a nívelmundial, uma vez que passamos avida inteira tentando participar numacompetição dessa dimensão. Isso sófoi possível por termos a iniciativa deformar uma equipa com o pessoal queparticipava nos campeonatos nacionais.Hoje, ainda pensa emdesistir de jogar?

Sim, mas não só por opção, comonos anos anteriores em que pretendiadedicar-me à famíl ia, mas tambémpela idade, pois este ano faço 35 anos.Mas quero continuar nesta área comotreinador, por essa razão já penso emser treinador-adjunto de um dos clubes,para ter conhecimentos, uma vez quepassei os 1 3 anos apenas jogando.Porquê quer continuar aindano mundo do desporto?

Porque é algo que faz parte de

mim, e creio que tenho conhecimentosa parti lhar com os novos talentos esó farei isso com o papel de treinador.Em formadeconclusão, oquedevemosesperar dovossolado emrelação àparticipaçãono mundial?

É prematuroavançar uma

resposta,

porque tudo vaidepender do nossoesforço e para talestamos econtinuaremosa treinar paracolher bonsresultados.

Sumeia Cassimo

Dino, melhor jogador de futsal, vai pendurar as chuteiras depois de 13 anos de carreira futebolística

WWW.MOZ.LIFE

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PRODUTO EXPERIMENTAL DOS ESTAGIÁRIOS DO MÍDIA LABM ÍD I A LABSEGUNDA-FEIRA - 09/05/201 6 desporto20

A Federação Moçambicana deFutebol (FMF) não vai contribuir nasdespesas de alimentação, alojamentoe transporte, tal como era o desejodas equipas que tomarão parte noCampeonato Nacional da Divisão deHonra. No capítulo I I I do regulamentoda prova, artigo 1 6, a FMF indica queesses encargos serão da inteiraresponsabil idade dos clubesconcorrentes.

O Campeonato Nacional da Divisãode Honra arranca este fim-de-semana(1 4,1 5 de Maio de 201 6), apenas naszonas sul e norte. Não se sabe aocerto quando é que irá arrancar nazona centro, devido à tensão político-mil itar. Numa decisão da FMF, osclubes viram fracassado, o desejo dea instituição comparticipar nasdespesas de alimentação, alojamentoe transporte, conforme o interesse

manifestado pelos participantes aquando da realização do sorteio daprova, uma vez considerarem quenão estão em condições de arcar comessas despesas devido à crisefinanceira que muitos deles enfrentam.

Pelo sim ou pelo não, a verdadeé que este fim-de-semana a Divisãode Honra irá conhecer o seu pontapéde saída nas zonas sul e norte dopaís, não se sabendo quando é quea zona centro irá entrar em cena,devido á falta de segurança. Ovencedor da Divisão de Honra nastrês zonas do País terá como prémio30.000 mt( trinta mil meticais), umataça e medalhas, numa prova queserá disputada no Sistema de todoscontra todos em duas voltas, sendoque para participar nesta cada equipatem de pagar uma taxa de 4.500.00Meticais á respectiva associação.

A Selecção Nacional de Futsal vai participarde um estágio pré-competitivo

A Federação Moçambicana deFutebol não vai ajudar os clubesda Segunda Divisão

ASelecção Nacional de Futsaldirigida por Naymo Abdul játem um programa de

preparação para o CampeonatoMundial de Futsal que terá lugar naColômbia, de 1 0 de Setembro a 1 deOutubro deste ano. O plano serásubmetido oficialmente à FederaçãoMoçambicana de Futebol (FMF) paraapreciação, ainda esta semana.

A preparação vai cingir-seprincipalmente a jogos de controlo e

um estágio na Europa, depois dealguns jogos amigáveis com asselecções do Egipto, Marrocos e Líbia.Segundo o seleccionador nacional, oestágio deve ser feito fora para quese realizem treinos bidiários com osjogadores, uma vez que alguns sãoestudantes e trabalhadores e é muitodifíci l concil iar o futsal com outrasactividades.

A participação de Moçambique naColômbia tem objectivos definidos.

De acordo com Naymo Abdul o grandedesafio no campeonato é passar pelomenos a fase dos grupos e depoisgarantir uma boa prestação parachegar nos 1 6-avos do final. Todavia,a ambição do seleccionador é ir aColômbia não para fazer turismo, maspara ganhar os jogos.

Naymo e a sua equipa estão cientesdas dificuldades que vão enfrentar nomundial. “Não esperamos facil idadesde nenhum dos nossos adversários

durante o campeonato. Existem boasequipas e conhecedoras damodalidade, mas prometemos fazero nosso melhor”. O seleccionadoraponta a união do grupo e a ajudaentre os jogadores como o grandesegredo para a vitória da equipa. “Domesmo jeito que ganhamos emJoanesburgo, podemos sair vitoriososna Colômbia, quando saimos deMaputo comprometemo-nos a vencere saimos com a missão de exaltar o

país. Entravámos no campo a pensarnos vinte e três milhões demoçambicanos”, disse Naymo.

Por conhecer o potencial dos seusadversários, Abdul diz exigir muitaorganização defensiva dos seusjogadores. Para ele uma equipe quedefende muito bem e comete poucoerros defensivos tem 50 porcento decaminho andado para a vitória.

Nos jogos na África do Sul, agrande dificuldade de acordo com otécnico, foi o desconhecimento dealgumas selecções. “A selecção Sul-africana evolui bastante. Tivemos oprimeiro jogo com a equipe da Zâmbiae depois a Tunísia. Apesar de termosfeito alguns jogos no passado com aZâmbia não conhecíamos na total idadeas táticas desta selecção, isto até certoponto colocava a nossa selecção emdesvantagem”, comentou.

Para Naymo, o actual estágio damodalidade é muito bom. Segundo otécnico não é facíl num continente de55 países africanos estar entre os trêsmelhores. “Muitas selecções queriamestar no nosso lugar, o que mostraque o nosso futsal evoluiu bastante.Há anos esta modalidade estavaadormecida no país”, anotou.

Apesar de reconhecer a evoluçãodo futsal, Naymo Abdul diz que énecessário que os empresáriosabracem esta modalidade , porque vaidar muitos frutos no país. “É precisoque as empresas apoiem asassociacções provincias de modo adesenvolverem os campeonatos parafortificar os clubes e depois a selecção.Moçambique tem jogadores talentososnesta especial idade, então se nãoexiste este apoio difici lmente o futsalvai evoluir”, afirmou Abdul.

Vinódia Janete

Abdul Remane

Naymo e a sua equipa estão cientes das dificuldades que vão enfrentar no mundial. “Não esperamos facilidades de nenhum dos nossos adversários“

Simango Júnior, presidenteda federação

Mourinho "SpecialOne" até 201 9

Mourinho já é treinador doManchester United. A informação foiavançada pelo clube de Old Trafford,que confirmou que o técnico portuguêsrubricou um contrato válido até 201 9com opção por mais uma temporada.

Mourinho chega ao ManchesterUnited cerca de meio ano depois deter sido demitido do Chelsea nasequência de maus resultados.

"É uma honra tornar-me treinadordo Manchester United. É um clubeconhecido e admirado em todo omundo. Tem mística e romance quenenhum outro clube consegue igualar",referiu o "Special One" em declaraçõesreproduzidas pelo site do clube inglês.

"Sempre senti uma afinidade comOld Trafford", disse, lembrando asboas memórias que construiu naqueleestádio. "Estou ansioso por tornar-metreinador deles [adeptos] e desfrutar

do magnífico apoio nos próximos anos",acrescentou. José Mourinho sucedea Louis Van Gaal no comando técnicodo Manchester United.

José Mourinho é oficialmente treinador doManchester United por três épocas.

Novo selecionador do Manchester

WWW.PÚBLICO.PT

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21PRODUTO EXPERIMENTAL DOS ESTAGIÁRIOS DO MÍDIA LABMÍDIA LAB

SEGUNDA-FEIRA - 09/05/201 6cultura

Os cantores moçambicanos,Chico António e Mingas,celebraram 25 anos de dueto

na música “Baila Mariaˮ, na noite deontem, sexta-feira (06), no CentroCultural Franco Moçambicano, nacapital do país. O espetaculo contoucom a presença do cantor sul africanoMadala Kunene, foi o convidadoespecial que abriu o concerto.

Amúsica “Baila Maria” da autoriade Chico António e Mingas, ganhoumaior relevância na decada 90 quandoconquistou internacionalmente oGrande Prémio do ConcursoDescobertas (Grand Prix Decouvertes

90), organizado pela Rádio FranceInternational (RFI). Na altura, o temapermitiu que a dupla setornassem mais notórios nopanorama musical nacionale internacional. Abriuespaço para que o paísfosse conhecido ereconhecido no que tange adescoberta de talentos.

Chico António vemdesde 201 5 a juntarenergias em busca depatrocínio para realizar oconcerto em celebração da música“Baila Maria”, porém o apoio só foi

possível graças ao parceria do CentroCultural Franco-Moçambicano e a

N´tchaila Produçõese Entretenimento.

Transcorridos 25anos, alguns dosnossosentrevistadosafirmam que “nãose pode negar quea composiçãomusical continuasendo um dosgrandes êxitos do

nosso tempo e atravessa geraçoes”.Para Nelson Jossias, “o espetaculo

Chico António e Mingas cruzam geraçõescantando a música “Baila Mariaˮ

Moçambique participa da1 2ᵃ edição de artecontemporânea de África

A artista visual moçambicana,Eurídice Kala que participa na 1 2ᵃedição de arte contemporânea deÁfrica intitulada “Dak'Art” revela asnovas tendências artísticas africanas.Este evento bienal decorre de 3 Maioa 3 de Junho próximo, em Dakar,capital do Senegal.

A artista leva uma colentâneaintitulada "Imagina Se A Verdade FosseUma Mulherbe Porque Não?". Estapesquisa é uma continuação de umestudo fotográfico que iniciou em 201 2denominado "Entre-de-Lado". Umconceito que questiona a cor branca

usada no vestido de noiva nos elancesmatrimoniais na cultura Africana comoé o caso de Moçambique.

De acordo com Eurídice ainvestigacão causa tensões tendoem conta os hábitos culturais africanose a desconstrução do discurso colonial.

O trabalho convida os expositorese o público a reescrever a trajectóriade África, focando a história de lutapelas independências do continentee expansão dos acervos, incluindonomes e individual idades femininasque se encontram na periferia.

Mingas e Chico António, a velha guarda da música ligeira da pérola do índico, clebrando os 25 anos de dueto na música Baila Maria, no Centro Cultural Franco Moçambicano

foi bom, são 25 anos de “Baila Maria”isso é uma vida”. Já para IvanLaranjeira, Chico António é um artistamultefacitado, na primeira parte cantoumarrabenta e já na segunda trouxeuma abordagem muito diferenteestremamente inovadora. “São 25anos isso mostra maturidade do artista,o intercâmbio com Madala Lunenesurprendeu-me”, disse Laranjeira. Ogrupo que lhe acompanhou tambémfoi fantástico, esteve acompanhadopor uma banda de luxo e isso tudosó é possível quando temos um grandemaestro, considerou Ivan. Todavia,Assiana Mabica observou que o

concerto poderia ter sido melhor “nãogostei da sequência das músicas e osom estava muito alto não conseguiaouvir o artista”. concluiu. Mabica afirmouque o músico não cantou as suascanções de preferência.

“Baila Maria” é uma obraincontornável no panorama musicalmoçambicano, serviu para alavancarvalores e principios na arena culturale ajudou a mulher a se inserir nacultura.

Amúsica resistiu e cruzou gerações,não se deixou levar pelo tempo, elevouo nome do país além-fronteiras eprojectou os artistas.

“São 25 anos issomostra maturidadedo artista, ointercâmbio comMadala Lunenesurprendeu-me”

Hélder Massinga

{

Eurídice Kala apresenta a sua nova colentâniaintitulada ” Imagina se a Verdade Fosse UmaMulher, e porque não?

WWW.MINGAS.COM/201 4

Euridice Kala, uma das caras mais sonantes da cultura contemporânea em artes visuais de Moçambique

ASIKO

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PRODUTO EXPERIMENTAL DOS ESTAGIÁRIOS DO MÍDIA LABM ÍD I ALABSEGUNDA-FEIRA - 09/05/201 6 cultura22

O grupo Timbila Muzimba estáa capacitar jovens do bairroUnidade 7 através da cultura

“chope”. A orquestra conta agora comdezasseis participantes. O objectivoda criação do grupo é mais do queensinar a cultura, educar.

Alfredo Zando, de 24 anos de idade,faz parte dos dezasseis jovensformados pelo grupo Timbila Muzimana Unidade 7. Entrou para o grupocom 11 anos e vê a sua vidatransformada “antes eu fazia coisasmás, mas ganhei responsabil idade erespeito pelas pessoas ao entrar paraa orquestra. Ganhei uma famíl ia queme educa”.

Alfredo, para além de dançartrabalha como bate-chapa de carrose tem sonhos no grupo “ quero crescere aprender mais com eles, além detocar”.

O director musical do grupo,Matchume Zango que já trabalha comjovens dos bairros há sete anos, dizser satisfatório “trabalhar com essesjovens é interessante porque estamosa construir a vida de alguém, no lugarde eles serem criminosos, tem algopor se divertir, a cultura é para elesum instrumento de educação”.

No princípio de Abri l os jovens daUnidade 7 tiveram a sua terceiraapresentação acústica com o grupoTimbila Muzimba. O evento era alusivoaos jovens.

Segundo o director musical,Matchume Zango, o objectivo daformação dos jovens é mostrar que asociedade pode fazer algo para osjovens e não somente criticar “asociedade estará aqui para ver queesses jovens que criticam têmesperança, pode-se fazer algo poreles. E nós pelo menos estamos acontribuir. Não estamos a dar dinheiromas estamos a dar educação”.

Timbila Muzimba existe há 1 9 anosé um grupo formado por jovens,amantes de música tradicional-urbana,compositores dos seus próprios temase intérpretes de músicas originais.

A falta de financiamento evalorização interna, preocupa osmembros do grupo.

“Não está fácil mas fazer o quê,vamos trabalhar sem financiamentoporque amamos a nossa cultura, nãosou o único artista mas eu já nãoreclamo. É muita pena que dentro dopaís não se valoriza o que é nosso,mas o que vem de fora.

Nós representamos uma parte dacultura. Existem muitas pessoas aestudarem a timbila mas no país quaseninguém se interessa pela área”,lamentou Matchume.

Para o grupo conseguir se sustentartrabalha em outras áreas, fazemworkshops em universidadesinternacionais quando convidados,são professores e comerciantes.

Timbila Muzimba educa jovens da Unidade 7através da cultura “chope”Orbai Nobre

O secretário-geral adjunto daAssociação dos MúsicosMoçambicanos (AMMO) recusa queo organismo não funciona ou nadafaz em prol à classe artística. A reaçãovem depois de aagremiação ter sofridocríticas por parte do DaygoBoy, cantor e apresentadorde um programa televisivode promoção de músicamoçambicana“Atracções”.

O apresentador do“Atracções” disse que aAMMO não se faz sentirna interação e promoção dos músicosà nível do País. Para ele, a melhorsaída para a AMMO seria firmarparcerias com outras organizaçõesque trabalham em prol dos artistas.

“Sugiro que a Associação dos músicosentre em contacto com a SOMAS parase orientar melhor, de modo que asorganizações envolvidas no apoio aoartista, estejam em sintonia”

acrescentou.O secretário-geral da

AMMO Douglas BabaHarris, diz que aassociação faz o que podedentro das suascapacidades. “Apoiamosartistas para gravaremálbuns, disponibi l izaçãode estúdio de ensaio e degravação, equipamento e

técnico de som para a preparaçãodos concerto a um preço simbólico”,apontou Harris.

O secretário-geral adjunto faloutambém de um evento, Jam Session,

Secretário-geral adjunto da AMMOnega inoperância do organismoque dirige

Secretário-geral da AMMO, Douglas Baba Harris

Timbila Muzimba, um grupo perocupado com desenvolvimento cultural e moral dos jovens do bairro Unidade 7

“Apoiamos artistas através de gravação de álbuns, disponibi l ização deestúdio de gravação e de ensaio, equipamento e técnico de som para apreparação dos concertos a um preço simbólico”

que acontece às quintas e sextas-feiras, em que os aspirantes a músicospodem cantar ou tocar instrumentosque quiserem. Harris, disse que assessões surgem para dar oportunidadeaos que não tem espaço de actuarem grandes palcos, “estes artistaspodem começar aqui”, frisou.

Douglas apontou a falta deassociativismo e o não cumprimentosde obrigações por parte da maioriados músicos, facto que contribui parao fraco desenvolvimento da AMMO.“Para que a associação desenvolvarapidamente é necessários que osmembros honrem os seuscompromissos pagando as cotas,50mt por mês, participem nosseminários e em actividades, debatese contribuam através de trabalhosvoluntários” acrescentou Douglas.

Ester Cumbane

“Sugiro quea Associaçãodos músicosentre emcontacto com aSOMAS para seorientarmelhor"

{

CASSIMANO

ESTER CUMBANE

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23PRODUTO EXPERIMENTAL DOS ESTAGIÁRIOS DO MÍDIA LABMÍDIA LAB

SEGUNDA-FEIRA - 09/05/201 6ambiente

Oreramo é o nome da primeiraempresa moçambicanadedicada à reciclagem de

pneus, criada pelos jovens LuísFernando Júnior e Cláudio Ferrão.O material que antes iaao lixo ou acumuladoem locais abandonadosou até em residências,agora é transformadoem móveis como pufes,mesinhas de centro ecarteiras escolares. AOreramo tambémproduz brinquedos eanimais decorativos para jardinsinfantis e orfanatos, com pneusvelhos.

O projecto está a serdesenvolvido há cinco meses e nesteperíodo já foram transformados 50pneus velhos em mobil iário.

Luís conta que a ideia de reuti l izaros pneus usados surgiu como formade ajudar na conservação doambiente e, aos poucos, foi-setransformando num negócio rentável.Neste momento a empresa está emprocesso de formalização e o atel ierjá está a ser montado.

Os proprietários da Oreramo

dizem ter sido bem aceites, mesmose tratando de produtos novos nomercado. Criaram um protótipo decarteira escolar feita com pneus usadose estão a preparar-se para oferecer

artigos produzidos comoutros tipos de materiaisrecicláveis, comotambores metál icos.

O pneu tem emmédia 5 anos de vidaúti l , caso não apresentedanos como bolhas,furos ou desgaste. Estematerial não se

decompõe facilmente, levando maisde 600 anos para desaparecertotalmente. O primeiro pneu foiproduzido em 1 888, e até hoje não sedecompôs.

Os pneus velhos quando sãolargados em locais abertos acumulamágua, durante a época chuvosa, ondeos mosquitos põem os seus ovos.

A queima do pneu por sua vezemite uma fumaça tóxica e poderepresentar riscos de mortal idadeprematura, deterioração das funçõespulmonares, problemas do coraçãoe depressão do sistema nervosocentral.

Jovens criamempresa para re-aproveitar pneus

"Ideia dereutilizar asrodas usadassurgiu comoforma de ajudarna conservaçãodo ambiente"

Novas espécies de rãsão descobertas emMoçambique

Hairth Farooq, biólogomoçambicano, revelou que foramdescobertas em Moçambique quatronovas espécies de rã. Os resultadosdo estudo de uma equipa de cientistasprovenientes de vários países forampublicados na revista MolecularPhylogenetics and Evolution, emMarço e dão conta da descoberta dequatro novas espécies de anfíbios emsistemas montanhosos no centro enorte do país.

Uma das descobertas foi na áreade conservação de Taratibu, em CaboDelgado, por Harith Farooq, directorda Faculdade de Ciências Naturaisda Universidade Lúrio, e um dosautores do estudo.

"A análise molecular do ADN foifeita na Suíça, na Universidade deBasileia, onde se confirmouefectivamente tratar-se de uma espécienova", referiu o biólogo.

O passo seguinte, segundo Farooq,é descrever as espécies, pertencentesao género Nothophryne, e atribuir-

lhes um nome, que, no caso dadescoberta feita pelo docente daUniversidade Lúrio, deverá serNothophryne uniluriensis.

As restantes descobertas,documentadas no estudo porinvestigadores da África do Sul, ReinoUnido, Irlanda, Suíça e Itál ia,ocorreram nas províncias da Zambéziae Nampula.

No estudo, os autores alertampara a necessidade de maisinvestigação sobre a distribuição dogénero Nothophryne e também paraa degradação dos habitats,nomeadamente a desflorestaçãopara a prática da agricultura, o queleva a que aquelas espécies"enfrentem uma séria ameaça dedesaparecimento".

O investigador moçambicanoavançou que um outro anfíbio e umcamaleão foram encontrados nomesmo local e que decorrem os testesgenéticos para se confirmar que sãoigualmente novos para a ciência. A descoberta feita pelo Biólogo Hairth Farooq poderá receber o nome de Nothophryne uniluriensis

Jovens inovadores e amigos do ambiente ganham o sustento diário através do reaproveitamento de pneus.

{Eta Matsinhe

Jovens empreendedores reciclam pneus para fazermóveis como pufes, mesinhas de centro e carteirasescolares. O projecto existe há 5 anos e pretendecontribuir na conservação do meio ambiente.

ETA MATSINHE

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Minelda Maússe

Page 24: Jornal Midia lab: Edição 8 - Por IREX-Moçambique

PRODUTO EXPERIMENTAL DOS ESTAGIÁRIOS DO MÍDIA LABM ÍD I A LABSEGUNDA-FEIRA - mundo24

Moçambique possui o menor índice deaproveitamento de água dos riosparti lhados com os países da região

austral de áfrica, segundo Sérgio Sitoe, chefeda repartição de rios internacionais, na DirecçãoNacional de Águas (DNA).

Moçambique parti lha nove das 1 4 baciashidrográficas da região da (Comunidade parao Desenvolvimento da África Austral (SADC).Relativamente a todos eles, o país situa-se àjusante, com excepção do rio Rovuma situadona região norte, fazendo fronteira com Tanzania.De acordo com o chefe da repartição dos riosinternacionais na DNA, o país enfrenta desafiosem termos infraestruturas de armazenamentode água. Este factor aumenta a vulnerabil idadee a dependência dos países à montante. “Sehá cheias, nós não temos como controlar ocurso das águas no nosso território, mesmoquando há seca como agora, ficamos sem águapara irrigação porque o caudal de Incomati porexemplo, baixou do nosso lado”, analisou.

A situação mais grave vive-se no sul dopaís, devido à seca que assola esta região háquase um ano. “este ano prevê-se dificuldadesde acesso à água para abastecimento daspopulações e animais ao longo do rio Incomati”,confessou Sitoe, acrescentando que hánegociações constantes com a parte sul-africanae da SADC, onde se discute a parti lha de riosda região.

No mesmo rio Incomati, a África do Sulconstruiu diques de armazenamento de águasuficiente para abastecer água para beber,agricultura e pastagem, durante 4 anos semchuva. Em Moçambique, o rio Incomati entrapela vila de Ressano Garcia, com uma áres de46.200km2, dos quais, somente 32% situam-se no território moçambicano, 6% na Swazilandiae os restantes 62% na África do Sul. Sobre oIncomati, o país beneficia-se da barragem deCorrumane, construída na década de 80, como principal objectivo de garantir água para asregiões de médio e baixo Incomati. Entretanto,devido à baixa capacidade de armazenamento(456m2), a barragem depende em larga escalado curso de água libertado a partir da barragem

de Incomati, na África do Sul.O abastecimento de água para alimentação

nas zonas urbanas e rurais constitui ainda umdesafio longe de ser satisfeito, considerandoas necessidades actuais do país. A agricultura,também se ressente da indisponibi l idade deágua, apesar de o país possuir cerca de 40milhões de hectares de terra arável.

Abastecimento de água esaneamento

De acordo com a política de distribuição deágua vigente até 201 5, o governo só conseguiuabastecer 6 milhões de habitantes, de um totalde 9 milhões nas zonas urbanas. Nas zonasrurais, onde reside a maior parte da populaçãomoçambicana, de um total de 1 7 milhões dehabitantes, o governo só conseguiu abastecerágua para 5 milhões, o que corresponde a umacobertura de 29%.

O estudo realizado pelo UNICEF revelaque, desde 1 990, a cobertura total dosaneamento aumentou para 21%, mas a

disparidade entre a cobertura nas zonas urbanase rurais continua grande: 44% nas zonas urbanascontra 11 % nas zonas rurais. 40% das pessoasainda praticam a defecação a céu aberto, tendodiminuído de 66% em 1 990. A falta desaneamento melhorado custa a Moçambiquecerca de 4 bil iões de Meticais por ano devidoàs mortes prematuras, custos médicos e perdasde produtividade.

Agricultura

De acordo com Adelson Rafael, docente einvestigador, é triste constatar que a produçãoalimentar em Moçambique depende mais daschuvas do que da irrigação, apesar de todopotencial existente. “Infel izmente a pobreza nonosso país está l igada à dependência daagricultura do sequeiro de subsistência”,analisou, frisando enquanto não chove apopulação passa fome, ou se de contrário sãocheias. Para o académico, a irrigação podeconstituir um factor determinante para aumentara produtividade agrícola e segurança alimentar,

Moçambique regista baixo aproveitamentode águas parti lhadas na região“Se há cheias nós não temos como controlar o curso das águas no nosso território, mesmo quando há seca como agora, ficamos sem água para irrigaçãoporque o caudal de Incomati por exemplo, baixou do nosso lado” - Sérgio Sitoe

Patrício Manjate

pois ajuda a diversificar os rendimentos depequenos agricultores e reduzir os riscosrelacionados com a precipitação. Entretanto, apolítica nacional de irrigação indica que opotencial de irrigação em Moçambique é estimadoem 3 072 000 hectares, mas dos 11 8 1 20 hectaresequipados para o efeito, apenas,aproximadamente, 40 000 hectares sãoactualmente irrigados. Estes resultados, deacordo com Rafael, apontam para o fracoaproveitamento dos rios que atravessam oudesaguam no país. Indo mais a fundo, oacadémico afirma que, se esta situaçãoprevalecer, o país poderá entrar em “waterstress” que resulta da falta de fontes alternativasde água devido ao aumento de infraestruturasde armazenamento nos países à montante dosrios que entram em Moçambique.

Moçambique parti lha as Bacias dos RiosMaputo, Umbeluzi, Incomati, Limpopo, Save,Búzi, Púnguè, Zambeze e Rovuma, com Áfricado Sul, Swazilândia, Zimbabwe, Zâmbia,Botswana, Malawi, Angola e Tanzânia.

O país enfrenta desafios em termos infraestruturas de armazenamento de água. Este factor aumenta a vulnerabilidade e a dependência dos países à montante

O abastecimento de água para alimentação nas zonas urbanas e rurais constitui ainda um desafio longe de ser satisfeito

DNA

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