Jornal Sem Terra - 314

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www.mst.org.br ANO XXX– Nº 314 – AGOSTO 2011 JORNADA A plataforma unitária da classe trabalhadora Páginas 8 e 9 ENTREVISTA O papel dos acampamentos na atual conjuntura Páginas 4 e 5 REFORMA AGRÁRIA MST organiza competição de regatas no Ceará Página 7

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EDIÇÃO 314

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Page 1: Jornal Sem Terra - 314

www.ms t . o rg . b r ANO XXX– Nº 314 – AGOSTO 2011

JORNADA

A plataforma unitáriada classe trabalhadoraPáginas 8 e 9

ENTREVISTA

O papel dos acampamentosna atual conjunturaPáginas 4 e 5

REFORMA AGRÁRIA

MST organiza competiçãode regatas no CearáPágina 7

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2 JORNAL SEM TERRA • AGOSTO 2011

EDITORIAL Situação dos acampados deve ser resolvida em curto prazo se a prioridade é a superação da miséria

Palavra do leitor FRASE DO MÊS

DIREÇÃO NACIONAL DO MST

Edição: Igor Felippe Santos. Revisão: Vanessa Ramos e VivianFernandes. Edição de imagens: Marina Tavares. Projeto gráfico ediagramação: Eliel Almeida. Assinaturas: Mary Cardoso da Silva.Impressão: Atlântica Gráfica e Editora Ltda.. Tiragem: 10 milexemplares. Endereço: Al. Barão de Limeira, 1232 – CEP 01202-002 –São Paulo/SP – Tel/fax: (11) 2131-0840. Correio eletrônico:[email protected]. Página na internet: www.mst.org.br. Todos os textos doJornal Sem Terra podem ser reproduzidas por qualquer veículo decomunicação, desde que citada a fonte e mantida a íntegra do material.

Mande sua mensagempara o Jornal Sem Terra

Sua participação é muito importante. Ascorrespondências podem ser enviadas [email protected] ou para a Alameda Barão de Limeira,1232, Campos Elíseos, São Paulo/SP, CEP 01202-002. Asopiniões expressas na seção “Palavra do leitor” nãorefletem, necessariamente, as opiniões do Jornal sobreos temas abordados. A equipe do JST pode,eventualmente, ter de editar as cartas recebidas.

EriusTiaraju/Elitiel

O MÊS DE AGOSTO foi escolhido porvárias organizações de movimento sociale sindical para fazer lutas. Apesar da difi-culdade de fazer ações unitárias nas mes-mas datas, é importante ressaltar que todasas forças convocaram seus militantes e fo-ram às ruas fazer diversos tipos de ativida-des, como atos, marchas, paralisações, ocu-pações por todo o país.

O primeiro semestre também foi mar-cado por muitas lutas, protestos, greves eparalisações em várias categorias, como

professores, metalúrgicos, aeroportuários,trabalhadores da construção civil, servi-dores públicos das universidades federais...Além disso, foram realizadas mais decem ocupações de terras em latifúndiosimprodutivos. Essas ações demonstrama disponibilidade de lutar do conjuntoda classe trabalhadora.

O que chamou atenção nessas lutas foique todas as forças defenderam a ne-

cessidade da realização da Reforma Agráriacomo forma de resolver os conflitos sociaise, ao mesmo tempo, distribuir a renda eriqueza, que continuam tão concentradasnas mãos de tão poucos.

Continuamos com mais 60 mil famíliasacampadas em todo o país. Nenhuma fa-mília foi assentada neste ano e mais de60% de nossos assentados estão inadim-plentes, sem conseguir acessar novos crédi-tos do Programa Nacional de Fortaleci-mento da Agricultura Familiar (Pronaf).

Mesmo que o governo se pronunciepublicamente (ou por meio dos seus por-ta-vozes) que defende a Reforma Agrá-ria, até o momento não foram imple-mentadas medidas que caminhem nessesentido, o que faz com que esses dis-cursos não passem de palavras ao vento.E como diz o ditado popular, de boasintenções o inferno está cheio...

Estamos vivendo o 9º ano do governodo PT. Embora seja o primeiro semestreda presidenta Dilma Rousseff, nada justifi-ca tanta dificuldade de fazer novos assen-tamentos, liberar e garantir o orçamento enomear os diretores do Instituto Nacionalde Colonização e Reforma Agrária (Incra).

Diante desse quadro, precisamos fazeruma grande jornada de lutas em defesa dademocratização da terra e da ReformaAgrária, como uma política estruturante

que enfrente os problemas da pobreza nocampo. E a prioridade central é o assenta-mento das famílias acampadas, que vivemem uma situação de enfretamento diretocom o latifúndio, sem nenhuma garantiade acesso à escola, saneamento básico,moradia decente ou acesso a água potável.

Um governo que coloca com firmezaa prioridade da superação da misériadeve resolver, em curtíssimo prazo, asituação dessas famílias, assinando asdesapropriações para assentar famíliasque vivem nessa situação.

Precisamos arrancar do governo fe-deral, por meio das lutas e das pres-sões dos diferentes campos políticos,o compromisso de garantir recursosnecessários para o Incra agilizar osprocessos de desapropriação.

O momento é de lutas! Precisamosintensificar o trabalho de base, fazer muitasocupações de latifúndios improdutivos edenunciar as áreas do agronegócio que nãocumprem sua função social. A ReformaAgrária só será prioridade se for fruto daslutas sociais e do apoio popular.

Precisamos aumentar a nossa baseacampada e fazer o enfretamento contraos latifundiários e o agronegócio. Issoexige um movimento de massa forte compresença em todos os municípios que têmlatifúndios improdutivos. Ao mesmo

tempo, temos que articular ações regionaiscom outras organizações políticas de lutano campo e na cidade.

Nesse sentido, é importante o nossoenvolvimento na lutas de outros setoresda classe trabalhadora, que estão emluta pela redução da jornada de trabalhosem redução salarial, pelos 10% Produ-to Interno Bruto (PIB) para educação,contra os leilões de blocos de petróleoe contra uso de agrotóxico.

A defesa dessas bandeiras, que sãofundamentais para fazer a resistência eabrir uma nova janela para a nossa ofensiva,é importante para o nosso Movimentodialogar com os diversos campos políticosdas organizações da classe trabalhadora.

Reforma Agrária, uma luta de todos

É importante o nossoenvolvimento na lutas de outrossetores da classe trabalhadora,que estão em luta pela reduçãoda jornada de trabalho

Embora seja o primeirosemestre da presidenta

Dilma Rousseff, nadajustifica tanta

dificuldade de fazernovos assentamentos

Apoio o MSTCresci com preconceito ao MST. NaAcademia Militar “aprendi” a vê-loscomo inimigos, pelo fato dos policiaisterem de manter a lei e a ordem. Issome trazia conflitos internos, devido àeducação humanista que recebi deminha mãe. Mas compreendi quepoliciais também são trabalhadoresexplorados e desprovidos, em suagrande maioria, de direitos sociais(como terra ou casa própria). Venho

reorganizando minha vida para apoiarmovimentos que busquem promover ajustiça social. Parabéns MST!

ANGELO, tenente da Polícia Militar

Não parem a lutaGostaria de tornar explícito meu apoioao MST. As informações repassadassobre o movimento pela imprensagolpista criaram uma imagem, para umaparcela da população, que nãocorresponde com a verdade. E isso é triste.

Não parem a luta. Não abaixem a cabeça enão deixem que manchem essa luta.

CRISTIANE

Na escolaEstou estudando o MST para aminha aula de geografia. Eu admiroe apoio totalmente o Movimento. Euusei muitas informações do site devocês para justificar porque euescolhi esse tema.

BIANCA BELLUOMINI

“Eu apoio o MST,antes de maisnada, porque oMST é o maisimportantemovimento social brasileiro.Porque defende causas justas, comoa distribuição da propriedadeagrária e o fim do monopólio daterra. E porque sabe articular essaluta de setores da população, cominteresses gerais da sociedade,colocando no horizonte a construçãode uma outra ordem social “

CARLOS NELSON COUTINHO,filósofo marxista, um dos maiores

especialistas no pensamento de Gramsci e

professor de teoria política da Universidade

Federal do Rio de Janeiro

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3JORNAL SEM TERRA • AGOSTO 2011

ESTUDO Campanha por mais recursos para o ensino reúne movimentos sociais, sindicatos e entidades científicas

A 52ª edição do Congresso Nacional da UniãoNacional dos Estudante (Conune) reuniu mais de 10 miljovens de todo o Brasil, entre 13 e 17 de julho, em Goiânia (GO).Uma das bandeiras defendidas pelos estudantes é a destinaçãode 10% do PIB para educação. O MST acompanhou asatividades do Conune, inclusive montou uma tenda paravender produtos da Reforma Agrária. Foi realizado tambémum debate sobre os impactos dos agrotóxicos na saúde pública,promovido pela Campanha Permanente contra os Agrotóxicos.

LISETE ARELARO

PROFESSORA DA FACULDADE DE EDUCAÇÃO

DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

ESTAMOS EM DISPUTA, no Brasil,por um novo Plano Nacional de Educação(PNE), com duração de 10 anos, que deveser votado neste segundo semestre paraaté 2020. O 1º PNE, que vigorou de 2001a 2010, foi aprovado no governoFernando Henrique Cardoso (FHC).

A realização dos direitos sociais – saú-de, educação, moradia, segurança, trabalho,dentre outros - só será possível se houverrecursos financeiros disponíveis. Para saberas prioridades de um governo, basta verifi-car onde o dinheiro público foi aplicado.

Educação, no discurso, sempre é pri-meira prioridade para qualquer governo –conservador ou progressista. No entanto,na prática, os interesses econômicos, a sua“estabilidade” e o pagamento dos juros eserviços da dívida têm sido consideradosmais importantes que o atendimento dasnecessidades básicas do povo.

O Brasil não é um país pobre, masdesigual. Portanto, um bom começopara torná-lo menos injusto é garantiruma educação pública de qualidade paratoda a população. Neste momento,vivemos uma disputa importante, poismovimentos sociais, sindicatos eentidades científicas da área da educaçãolutam para que, desta vez, o governoaposte na educação como direito socialindispensável para o desenvolvimentodas pessoas e do país. Para isso, cobramque seja destinado 10% do PIB, a partirde 2015, para a educação (da educaçãoinfantil à educação superior).

No entanto, o governo federal – ain-da no governo Lula – encaminhou aoCongresso Nacional um Projeto de Lei

(PL nº 8.035/2010) no qual, para sur-presa geral, consta a ampliação gra-dativa dos recursos da educação atéatingir 7% do PIB do país.

Ora, esse percentual já constava doPNE de 2001, que foi vetado pelo entãopresidente FHC. Já nos anos 2000, osestudos mostravam que o investimentode 10% poderia ser uma boa medida paramudar a cara da educação brasileira. Emais de 10 anos se passaram...

O ministro da Educação, FernandoHaddad, ao encaminhar o PNE aoCongresso Nacional, no final de 2010,argumentou que o novo plano “partiado acúmulo produzido pela sociedadecivil engajada em defesa da melhoriada qualidade de educação”.

O ministro se referia à realizaçãode inúmeras conferências municipais,intermunicipais e estaduais deeducação, que culminaram com arealização da Conferência Nacional deEducação (Conae), realizada em 2010,em Brasília, com mais de 2 mil par-ticipantes – professores, entidades dasociedade civil, especialistas, sindi-calistas e estudantes – que represen-taram os diferentes segmentos dasescolas e das comunidades, bem comoprofissionais de todos os níveis e etapasde ensino.

Novo patamarde investimento

Um dos consensos que se conse-guiu na Conae foi exatamente admitira necessidade inadiável de se estabe-lecer um novo patamar de investimen-to para a educação no Brasil. Se que-remos escolas de boa qualidade, bo-nitas, bem construídas, com projetospedagógicos interessantes, precisamoscontar com profissionais bem for-mados, que tenham uma jornada detrabalho digna – o magistério é umadas áreas que mais tem adoecido seustrabalhadores pela sua carga excessiva– e com salários menos aviltantes.

No Brasil, os professores ganhamsalários cerca de 50% menores do querecebe qualquer outro trabalhador coma mesma formação escolar. Para

superar essa situação, que se arrastahá muito tempo, a solução é investirmais e melhor na educação.

O país investe atualmente cerca de5% do PIB em educação e reconheceque, com esse percentual, não conse-gue superar as dívidas e diferençassociais e regionais do país na área edu-cacional. A presidenta Dilma Rousseff,na campanha eleitoral, prometeu gastar7% do PIB em educação até 2014. Edepois? O que está proposto no PNE,portanto, é menos do que foi prometidona campanha, que é insuficiente parainvestir mais em cada aluno brasileiro.

Assim, estamos todos na luta pelamodificação da meta do PNE, pro-pondo em seu lugar uma emenda ondese estabeleça o seguinte: “ampliar pro-gressivamente o investimento público

Por que lutar por 10% do PIBpara a Educação

direto em educação de forma a atingir,no mínimo, o patamar de 7% do PIBdo país, em até quatro anos da vigên-cia desta lei e, no mínimo, 10% doPIB no 5º ano, mantendo esse percen-tual até que as metas quantitativas equalitativas proposta por este PNEestejam consolidadas.”

Os trabalhadores e trabalhadorasdos diferentes setores da sociedadedevem participar e se engajar conoscona luta por uma educação de qua-lidade para todos, verdadeiramentepública, em que a população tenha veze voz, e os profissionais de educaçãosejam valorizados. Esse trabalho deformação precisa ser competente paraconstruir um país moderno, solidárioe ético para combater as injustiças epreconceitos e construir a cidadania.Os professores ganham

salários 50% menoresdo que recebe qualqueroutro trabalhador com amesma formação escolar

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4 JORNAL SEM TERRA • AGOSTO 2011

Para dirigente do MST, não houve mudanças estruturais no Brasil e queda nas mobilizações é passageiraENTREVISTA

LUIZ FELIPE ALBUQUERQUE

SETOR DE COMUNICAÇÃO

Jornal Sem Terra – Qual aimportância dos acampamentos naatual conjuntura agrária?

José Roberto da Silva – Os acampa-mentos mostram a necessidade dos tra-balhadores Sem Terra de garantir umaprodução que mantenha as famílias lon-ge da miséria, do desemprego e com avida socialmente garantida. Mostramtambém, para a sociedade, que a Re-forma Agrária é urgente e necessária, eque não é um problema só das famíliasSem Terra, mas de toda a sociedade,que o governo tem que cumprir porqueessa tarefa historicamente não for resol-

vida. Uma efetiva Reforma Agráriadeve distribuir a propriedade da terra efazer com que seja cumprida sua funçãosocial. Isso é uma das contribuições doMST, ao batalhar e acreditar que épossível que o nosso país cumpra comessa função social. Ou seja, a terra pre-cisa ser distribuída e produzir, cumprin-do sua função social de resolver o pro-blema alimentar da nossa população,especialmente dos Sem Terra.

JST – Os acampamentos são uminstrumento da classe trabalhadoraobter conquistas?

JRS – Na história do nosso Brasil,desde a sua criação e formação, o quevimos em diversos movimentos (antes

mesmo do MST aparecer) é que sem-pre houve lutas históricas dos traba-lhadores pela posse da terra. Atual-mente, basicamente podemos reafir-mar que tudo que houve até então emtermos de distribuição de terras, emtorno de processos de Reforma Agrá-ria, de experiência de cooperaçãoagrícola, de resistência dos trabalha-dores, foi garantido em função da re-sistência, da luta, da persistência e daesperança dos trabalhadores.Tudo isso já foi demonstrado na práti-ca. Por isso, acreditamos que tanto doponto de vista econômico, político, so-cial e estrutural só com a mobilizaçãodos trabalhadores é possível garantir aReforma Agrária, fazendo com que asociedade – uma das mais beneficiadas

– entenda nossa luta. Quem mais temtido beneficios não são apenas os SemTerra, mas, sobretudo, a sociedade.O MST tem dado uma contribuiçãoimensa ao nosso país. Por meio daluta e resistência, tem mostrado o ladoda produção, da formação, daeducação, da sobrevivência e tiradoda miséria, das ruas e das favelasmilhares de trabalhadores.

JST – O atual cenário do país – coma melhora da economia, queda dodesemprego, programas de assistênciasocial. Dificulta a mobilização daspessoas para os acampamentos?

JRS – A elite brasileira sempre teveseus trunfos para barrar a luta e a resis-tência dos trabalhadores. Um dos trun-fos da elite é tentar cooptar os movi-mentos e as organizações para não luta-rem e não resistirem. Não conseguindoisso, historicamente garante pela re-pressão. E um dos fatores que eles ten-tam fazer nesse processo de cooptaçãoé garantir políticas sociais para que ostrabalhadores não lutem, esperando peloEstado para resolver seus problemas.E é isso, basicamente, que temos as-sistido ultimamente. O país tem cres-cido economicamente, mas do pontode vista da distribuição da riqueza, derenda e na estrutura da propriedade daterra não houve alteração. Essas políti-cas dificultam as mobilizações mo-mentaneamente, mas é passageiro.Não demorará a retomada das lutas –algo que já vem se dando espontanea-mente – procurando garantir uma mu-dança estrutural tanto na parte da eco-nomia, quanto na parte da estrutura daterra, na estrutura política, de funcio-namento de nossa sociedade.

JST - Não demorará porque nãoforam mudanças estruturais?

JRS – Isso. Por exemplo, temos in-formações de que até agora já sãomais de 100 processos de desapro-priações, que não mexem com a estru-tura fundiária de nosso país, mas queo governo não decreta. Os créditospara a Reforma Agrária e para osassentamentos, por mais anúncios quesejam feitos, na prática, não chegam.E como não chegam, as lutas e mobi-lizações vão continuar. A classe traba-lhadora sabe perfeitamente o tempode esperar e o tempo de agir. Ela nãose engana por muito tempo.

Não diminuiu o interesse dos trabalhadores rurais pelaterra, mas a confiança de que o governo federal colocaráem marcha um processo amplo e massivo de ReformaAgrária. Essa é a avaliação do integrante daCoordenação Nacional do MST, José Roberto da Silva.Zé Roberto, que atua a frente de massa em Sergi-pe, critica o programa Brasil Sem Miséria, dogoverno Dilma Rousseff, pela ausência de medi-das para enfrentar o latifúndio. “Se o governo qui-sesse resolver a miséria, a melhor forma seria in-cluir, nesse programa, a Reforma Agrária. À mé-

dio prazo, o problema da miséria seria resolvido.Bastava desapropriar metade dos mais de 200milhões de hectares de terras improdutivas”, afirma.Segundo ele, as famílias de trabalhadores ruraisestão percebendo os limites das políticas compen-satórias oferecidas pelos governos. “As famíliasestão retornando aos poucos ao processo de luta emobilização. O país já cresceu bastante, mas essecrescimento não chegou à maioria da população,principalmente aos Sem Terra”, avalia. Abaixo,leia a entrevista concedida ao Jornal Sem Terra.

Mais de 400 famílias montam acampamento em área devoluta sob controleda Usina Ester, em Americana, no interior de São Paulo, em agosto de 2011

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5JORNAL SEM TERRA • AGOSTO 2011

JST - Qual a discussão quetem sido feita para chamar asfamílias para os acampamentos?

JRS – As famílias que estão numa si-tuação de desemprego e de miséria têmencontrado no processo histórico denossas lutas uma solução para os seusproblemas. Não existe outra forma paraessas famílias que não seja a de mobi-lizações e ocupações. Temos trabalhadosob o ponto de vista de organização debase e na conscientização de que ocaminho para a solução dos trabalha-dores é a retomada da luta. O que osgovernos oferecem são políticas com-pensatórias, que não são suficientes.Portanto, só tem uma forma do governopriorizar as desapropriações, que é coma intensificação das mobilizações e dosacampamentos. É o retorno à resistência.E os trabalhadores estão percebendo isso.As famílias estão retornando aos poucosao processo de luta e mobilização. O paísjá cresceu bastante, mas esse crescimentonão chegou à maioria da população, prin-cipalmente aos Sem Terra.

JST – Como se encontra a situaçãodos acampamentos?

JRS – A maioria dos nossos acampa-mentos vive numa situação de esperan-ça. No governo Lula, as famílias esta-vam com bastante esperança, mas aca-baram iniciando um processo de desi-lusão relacionado à solução de seusproblemas. A partir dessa desesperança,as mobilizações irão retomar. Asfamílias estão percebendo que ocaminho é a continuidade das lutas paraque os assentamentos sejam garantidos.Até porque, está ficando cada vez maisclaro que a prioridade do governo nãoé a Reforma Agrária, mas o investi-mento na agricultura para exportaçãodo agronegócio. Colocar o agronegó-cio como uma política central do go-verno inviabiliza qualquer política deReforma Agrária. A prioridade não sãoos acampamentos. Com isso, estãoretornando às mobilizações para que aesperança seja mantida. E para que ogoverno resolva, no mínimo, o proble-ma mais urgente, que é o assentamentodas 100 mil famílias acampadas no país.

JST – Qual o ânimo das famíliaspara fazerem ocupações de terras?

JRS – No início do governo Lula, hou-ve uma grande esperança dos trabalhado-

res. Ao final do governo, essa esperançadiminuiu muito. No governo Dilma, acre-ditávamos na possibilidade de reascendera esperança da Reforma Agrária. Mas jávimos que não é bem assim... O que di-minuiu não foram as famílias querendoterra, mas a confiança no governo, deque o governo garantiria a Reforma Agrá-ria. A vontade política não existiu e, porisso, as manifestações e ocupações conti-nuam. Não na intensidade de outros mo-mentos, mas essa vontade continua nostrabalhadores, independente de números.O que importa é que os Sem Terra conti-nuam mobilizados pela Reforma Agrária.

JST – Onde há mais acampamentosno Brasil? Por quê?

JRS – O Nordeste concentra por voltade 50% dos acampamentos. Exatamenteonde há uma dificuldade um poucomaior dessa política do agronegócio. Osavanços dessa política são maiores emoutras regiões, como no Sul e Sudeste.No Nordeste, ainda há essa maiorfacilidade da mobilização, com umacultura agrícola dos camponeses, que temsido afetada, mas não de forma violentacomo nas outras regiões.

JST – O programa Brasil SemMiséria, do governo Dilma Rousseff,contempla de alguma maneira asituação dos acampados?

JRS – Isso é tudo falácia, perfumaria.Se o governo quisesse resolver a misé-ria, a melhor forma seria incluir nesseprograma a Reforma Agrária. A médioprazo, o problema da miséria seriaresolvido. Bastava desapropriar metadedos mais de 200 milhões de hectares deterras improdutivas, segundo o cadastrodo Instituto Nacional de Colonização eReforma Agrária (Incra). Resolveria oproblema não só dos Sem Terra, masacabaria com a miséria em todas as re-giões do país em uma tacada só, gerariamuito mais emprego e mais alimentos.Ou seja, concretizaria na prática essapolítica de acabar com a miséria. Sema Reforma Agrária é impossível esseprojeto dar certo.

JST – Como o governo e asociedade poderiam enfrentar oproblema da concentração de terras?

JRS – O governo, as autoridades e asociedade precisam entender que em

nosso país é urgente e necessário colocarum limite para a propriedade da terra.Sem a delimitação da propriedade daterra, as injustiças sociais, a miséria, afome, continuarão cada vez mais fortesno campo. A sociedade precisa com-preender também que existe outro tipode agricultura que não destrói o meioambiente, que respeita os consumidores,que consegue garantir que nosso paísnão seja violentamente destruído e dadode graça às empresas transnacionais. E

que a gente garanta nossa soberanianacional por meio do nosso território.Assim, a Reforma Agrária cumpre opapel de resolver o problema da fomee da miséria, por meio de uma distribui-ção de terras justa no nosso país. Osacampamentos e a luta dos Sem Terracumprem essa função. Não só de garan-tir terra para os Sem Terra, mas paragarantir um país mais justo para todos.

JST – Qual o perfil das famílias queestão indo para os acampamentos?

JRS – Com a mudança na estruturaeconômica, especialmente nesse novomodelo de agricultura, automatica-mente tem mudado um pouco o perfildos camponeses. Acabam por mudaros padrões de comportamento nocampo. Esses novos padrões tentamintroduzir uma outra cultura na pe-quena agricultura brasileira e, por is-so, o perfil dos camponeses tem mu-dado um pouco. Mas ainda há umaresistência muito forte, porque oscamponeses tradicionais ainda sãomuitos. Embora em algumaslocalidades, com perfis diferentes,mais urbanizado, onde a tecnologiatem avançado muito e destruído acultura, a forma de plantar, de colhere a vivência daqueles camponeses na-quelas localidades. Por isso, que hojeainda não há como definir qual o per-fil dos camponeses. Mas, há um pro-cesso de destruição dessa cultura cam-ponesa por esse modelo adotado pelogoverno e pela elite agrária desse país.

“Os créditos para a ReformaAgrária e para os

assentamentos não chegam. Ecomo não chegam, as lutas emobilizações vão continuar”

Famílias acampadas vivem numa situação de esperança, mobilizados pela Reforma Agrária

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6 JORNAL SEM TERRA • AGOSTO 2011

ESTADOS Atividade discutiu o papel dos assentados como militantes da luta por uma produção sem agrotóxicos

COLETIVO DE CULTURA, COMUNICAÇÃO

E JUVENTUDE DO MST-MS

O 3º ENCONTRO de As-sentadas e Assentados deMato Grosso do Sul reuniu

aproximadamente 400 pessoas no com-plexo Itamarati, o maior assentamentodo estado, no município de Ponta Porã,entre 20 e 23 de julho.

A atividade foi marcada pela presen-ça de um grande número de jovens ecrianças, pela participação ativa do co-letivo de mulheres e pela calorosa aco-lhida dos companheiros e compa-nheiras da Regional Fronteira.

A Ciranda Infantil dos Sem Ter-rinhas, com 47 crianças, realizou ati-vidades trabalhadas pelos educadorese educadoras do Setor de Educação,além de jogos teatrais promovidos pelocoletivo de cultura e juventude.

Entre os convidados, participaram 16representantes de entidades apoiadoras dos

movimentos sociais, 48 professores eestudantes da Universidade Federal daGrande Dourados e uma delegação de seispessoas do País Basco.

Nas mesas de debates, o integranteda Coordenação Nacional do MST,Ademar Bogo, destacou o papel dosassentados como militantes da luta pelaterra, por meio de uma produção sem

Reunião fortalecearticulações doSetor de EducaçãoGENADIR VIEIRA DOS SANTOS E LUCINÉIA

MIRANDA DE FREITAS – MST-MT

O MST realizou o 4º En-contro Estadual de Educa-dores da Reforma Agrária

do estado de Mato Grosso, com aparticipação de 120 educadores de as-sentamentos do MST, no assentamen-to Dorcelina Folador, em VárzeaGrande, entre 15 e 18 de julho.A atividade contribuiu para a forma-ção, articulação e organização do Se-tor de Educação no estado, envolven-do além dos professores do MST,aqueles que trabalham nas escolas dosassentamentos sem uma ligação or-gânica com o Movimento.Esse encontro foi um marco tambémporque, pela primeira vez, o MSTconseguiu reunir todos os setores quetrabalham nas escolas (técnicos,educadores militantes e não mili-tantes, auxiliares de limpeza e coorde-nadores de educação em assentamen-tos e acampamentos), além da partici-pação do Movimento de MulheresCamponesas e do Sindicato dos Tra-balhadores da Educação do estado.

ANA EMILIA BORBA E JAIME AMORIM

COORDENAÇÃO ESTADUAL DO MST-PE

PÉ NO CHÃO. Esse nome tãopoético nos remete à vida coti-diana dos trabalhadores e tra-

balhadoras do campo. E como Paulo Freirejá nos dizia: “a cabeça pensa onde os péspisam”. Portanto, é necessário conhecer arealidade e estudá-la, para transformá-la.É fundamental pensar na dimensão davida em todos os seus aspectos paraconstruir um cotidiano no qual homeme a natureza não sejam inimigos, ondeas técnicas estejam a favor da vida e nãodo mercado e da exploração.

Nesse sentido, o curso técnico-práticoPé no Chão é uma experiência que o MSTtem construído desde 2003, com o objetivoprincipal da formação política, técnica eprática no campo da agricultura campone-sa e com ênfase na agroecologia, aten-dendo assentados e acampados indepen-dente de idade, gênero ou escolarização.

A metodologia baseia-se em núcleos,no sentido de promover a participaçãocoletiva, formando um espaço onde oseducandos desenvolvem reflexões coleti-vamente, estudam, avaliam, convivem;enfim, constroem conhecimento.

Encontro reúne 400 assentados em Ponta Porã

agrotóxicos e do respeito à biodiver-sidade. O que torna o assentamento umterritório que contribui para a trans-formação social.

Maria Cristina Vargas, do Setor deEducação, colocou a importância da lutapela escola no campo, no lugar onde opovo vive. E que ela seja pensada desdeeste lugar e com a participação popular,

vinculada à cultura e às necessidadeshumanas e sociais do campo.

Ela discutiu também os desafios comos jovens, reforçando a necessidade de seaprofundar o debate sobre as expectativasda juventude em relação ao MST e,também, sobre o que o Movimento esperada juventude.

Além disso, foi realizada uma ex-posição com experiências de produçãoagroecológica. O que mais chamou aatenção foi a participação das mulheres,que produziram 99% dessas experiências.

O encerramento da atividade foimarcado pela apresentação dos prin-cipais pontos discutidos durante o en-contro e com uma mística do Coletivode Juventude e Cultura, que mostrouque a produção dos assentamentos sóserá antagônica ao modelo do agro-negócio se garantir a proteção das se-mentes, cuidados com a terra e respeitoa todas as culturas e diferenças exis-tentes na região.

Partindo da perspectiva da Educaçãodo Campo, o curso esta estruturado naPedagogia da Alternância, que tem comobase a organização de dois tempos: oTempo Escola e o Tempo Comunidade,que se alternam. Assim, ele conta comtrês etapas de 30 dias cada uma.

O curso já formou cerca de miltrabalhadores e trabalhadoras que hojeatuam nos coletivos do MST, nos espaçosde produção dos assentamentos eacampamentos e nos debates sobrepolíticas públicas para o campo.

Atualmente, estamos realizando a

Atividade foi marcada pela presença de um grande número de jovens e mulheres

segunda etapa da 13ª turma, apostando –mesmo com todas as adversidades – nacapacitação política e técnica da juventudeassentada e acampada da ReformaAgrária, já que essa é a ampla maioriado público que participa e participa dasturmas do Pé no Chão. Esses jovens têmcontribuído efetivamente para enfrentara falta de assistência técnica e, essencial-mente, rediscutindo a lógica da assistên-cia técnica nos assentamentos da ReformaAgrária, busca o curso formar jovens quedesenvolvam de forma prática e volun-tária essa função.

Formação com pés no chão

Curso formou cerca de 1000 trabalhadores que atuam de produção do MST

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7JORNAL SEM TERRA • AGOSTO 2011

ESTADOS As regatas de pescadores são tradicionais nas comunidades da zona costeira do estado

MARCELO MATOS

SETOR DE COMUNICAÇÃO DO MST

O ASSENTAMENTO Ma-ceió, no município cearensede Itapipoca, recebeu com-

petidores e visitantes para a realizaçãode sua 1ª Regata de Paquetes, nos dias16 e 17 de julho. A regata teve comotema “Território, pesca artesanal e turis-mo comunitário: Em defesa da nossacultura!”. A atividade foi organizadapelo MST e pela Associação de Pes-cadores do Imóvel Maceió (ASPIM),em parceria com a Rede Cearense deTurismo Comunitário (Rede Tucum).

As regatas de pescadores são tradi-cionais nas comunidades da zona cos-teira do Ceará. Os vencedores são aque-les que demonstram maior habilidadede navegação no mar. A competição émuito valorizada pelos moradores daspraias cearenses, pois representa umacelebração da cultura dos povos do mare da resistência frente à especulaçãoimobiliária e à degradação ambiental,vivenciados cotidianamente pelaspopulações costeiras.

JuventudeO MST e a Universidade Federal do

Ceará (UFC) organizaram o 10º EncontroEstadual de Jovens do Campo, com o lema“Dez anos de lutas, formação e organizaçãoda juventude”, em Fortaleza.

O encontro reuniu mil jovens do MST,Via Campesina, Movimento dos Atingidospor Barragem (MAB), indígenas e qui-lombolas; além de movimentos sociais dacidade, como Central de Movimentos Po-pulares (CMP), Pastoral da Juventude (PJ)e Movimento dos Conselhos Populares(MCP), entre 21 e 25 de julho.

Foram realizadas 30 oficinas com te-máticas variadas e também, apresentaçõesculturais que resgataram a cultura do povocearense, com apresentações de grupos dosassentamentos do MST. Além disso, houvetambém celebração dos 30 anos do JornalSem Terra. “O evento é muito importanteporque cria uma oportunidade para promo-ver a formação de jovens do campo, apartir das discussões acerca das proble-máticas que afetam a zona rural do Cea-rá”, disse a professora Celecina Maria deVeras Sales, do Departamento de Eco-nomia Doméstica da UFC.

Assentamento sedia competição de regatas em Itapipoca

REGILMA DE SANTANA E LETÍCIA BARQUETA

EDUCANDAS DA TURMA MARCO DA RESISTÊNCIA

“A EDUCAÇÃO, qualquerque seja, é sempre uma teoriado conhecimento posta em

prática”. Foi com essa frase doeducador Paulo Freire que começou amística de encerramento do curso deAdministração da primeira turmanacional da Via Campesina, a TurmaMarco da Resistência, no dia 23 dejunho, em Belo Horizonte (MG).

Formaram-se no Centro Universi-tário Metodista Izabela Hendrix 38 edu-candas e educandos das áreas de as-sentamentos e acampamentos do MSTe do Movimento dos Atingidos porBarragens (MAB).

Os educandos voltaram para osassentamentos da Reforma Agrária em16 estados (Rondônia, Pará, Maranhão,Ceará, Espírito Santo, Pernambuco,Paraíba, Sergipe, Piauí, São Paulo, RioGrande do Sul, Paraná, Mato Grosso,

Primeira edição da regata festejou os 30 anos de luta do Assentamento Maceió

Nessa primeira edição da regata, oAssentamento Maceió festejou sua vito-riosa história de mais de 30 anos de lutapelo território. A conquista mais recente

do assentamento foi o reconhecimento,por meio de decisão judicial do dia 7 dejulho, do direito de posse e uso da faixade praia para a comunidade.

Mato Grosso do Sul, Minas Gerais eDistrito Federal).

A turma Marco da Resistência é frutoda parceria entre o Programa Nacional deEducação na Reforma Agrária (Pronera),Centro Universitário Metodista IzabelaHendrix e os movimentos sociais. O cursoteve início em 2005, na Escola NacionalFlorestan Fernandes (ENFF), em SãoPaulo, em parceria com a Fundação SandroAndré, mas não terminou.

Em 2008, após muitas lutas, os movi-mentos conseguiram firmar a parceriacom o Centro Universitário Metodistapara dar continuação ao Curso de Admi-nistração para trabalhadores e trabalha-doras do campo. Foram seis anos de lutas,marchas, acampamentos e mística paramanter o ânimo e a certeza de que vale apena lutar pelo direito a uma educaçãoque seja de fato um processo de construçãoe conquista coletivas.

MST recebehomenagemda AssembleiaLegislativa

DA REDAÇÃO

O MST recebeu uma homenagemda Assembleia Legislativa de MinasGerais pela trajetória de 27 anosde lutas e conquistas, em audiênciapública na Comissão de Participa-ção Popular, no dia 29 de junho.O deputado Rogério Correia (PT)manifestou apoio ao Movimento edefendeu a democratização da terra eda produção agrícola. “A ReformaAgrária é essencial para o país, e oMST é peça essencial dessa luta, quecomeçou em 1979”, afirmou.Para a médica Aleida Guevara, mili-tante do Partido Comunista Cubano(PCC), que participou da atividade,o MST é um dos movimentos maisimportantes da América Latina.

Primeira turma de administração se forma em Minas Gerais

Os 38 educandos voltaram para assentamentos da Reforma Agrária em16 estados

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Page 8: Jornal Sem Terra - 314

ESPECIAL Leia síntese dos principais pontos da plataforma política unitária do movimento sindical, popular e estudantil

98 JORNAL SEM TERRA • AGOSTO 2011JORNAL SEM TERRA • AGOSTO 2011

Redução da jornadade trabalho semredução salarial

A redução da jornada de trabalho, quedeve ser votada neste ano na Câmara dosDeputados, é um dos instrumentos quepossibilita aos trabalhadores participaremda distribuição dos ganhos de produtivi-dade gerados pela sociedade. As ino-vações tecnológicas e organizacionais sãoconsequências do acúmulo científico e doesforço contínuo de gerações e são, por-tanto, de toda a sociedade. Estudo do De-partamento Intersindical de Estatística eEstudos Socioeconômicos (Dieese)aponta que a redução da jornada de tra-balho de 44 para 40 horas semanais teriao impacto potencial de gerar mais de2,2 milhões novos postos de trabalhono país. A luta pela redução da jornadaabrange também a limitação da horaextra, que pode gerar de 1,2 milhõesde postos de trabalho (levando em con-sideração os dados de 2005).

10% do PIB para Educação

Os movimentos sociais, entidades domovimento educacional (professores,estudantes e funcionários) e as centraissindicais fazem uma campanha para queo Plano Nacional da Educação (PNE),

em discussão na Câmara dos Deputados,garanta a destinação de 10% do PIB paraeducação. O Conselho Nacional da Edu-cação (CNE) recomendou, em maio, quea meta do investimento público em edu-cação corresponda a 10% do PIB do país,ao contrário dos 7% propostos pelo Mi-nistério da Educação (MEC). O Brasilaplica cerca de 5% do PIB na área. Maisuma proposta no sentido da ampliaçãodo orçamento da educação é a destinaçãode 50% dos recursos levantados com aexploração do pré-sal para a área. O JornalSem Terra publica nesta edição artigoda professora Lizete Arelaro, da Univer-sidade de São Paulo, sobre a campanha.

Por aumento desalários e melhorescondições de trabalho

As campanhas salariais, do segundosemestre são importantes porque de-monstrarão que o modelo econômicovigente não atende às necessidades dostrabalhadores. Essas lutas de caráter eco-nômico ganham uma perspectiva de dis-puta de projeto político na medida emque o presidente do Banco Central,

Alexandre Tombini, afirmou que aumen-tos de salários são inviáveis porque au-mentariam a inflação. A queda do de-semprego, a valorização do salário mí-nimo e os aumentos de salários de im-portantes categorias acima da inflaçãofortaleceram o mundo do trabalho.

Novo modelo agrícola,proibição dos agrotóxicose Reforma Agrária

O Brasil precisa de um novo modeloagrícola, baseado na agricultura familiare camponesa, que fixe as famílias no meiorural, garanta terra, gere emprego e renda.Os movimentos defendem a desapropria-ção dos grandes latifúndios improdutivos(muitos em mãos do capital estrangeiro)

para assentar as famílias acampadas. Alémdisso, uma nova política de crédito rural,mais acessível aos pequenos agricultores.O modelo do agronegócio é o jeito dasgrandes empresas estrangeiras e bancoscontrolarem a produção e o comércioagrícola, em aliança com os latifundiáriose apoiados pela mídia. Concentra a pro-dução e a propriedade da terra, só produzpara exportação, usa de forma intensivamáquinas e venenos que expulsam ostrabalhadores do campo e desequilibramo ambiente, fazendo do Brasil o maiorconsumidor mundial de venenos.

Mudança napolítica econômica

O aumento da taxa Selic, do BancoCentral, e o arrocho salarial, como medi-das para supostamente enfrentar a inflação,beneficiam apenas a classe dominante eprejudicam o povo brasileiro. O modeloeconômico dos governos Lula e DilmaRousseff, baseado em crescimento econô-mico, acumulação do capital financeiroe empresas transnacionais e relativa distri-buição de renda, está chegando a um im-passe. Entre janeiro e maio, o setor públi-co desviou do povo brasileiro e reservou

para o superávit primário R$ 64,82 bi-lhões. No mesmo período, foram pagosR$ 100,76 bilhões em juros aos porta-dores de títulos da dívida pública. Essemodelo compromete a soberania nacionale inviabiliza políticas estruturantes.

Pelo fim do FatorPrevidenciário e fortalecimentoda Previdência Pública

O Fator Previdenciário foi aprovadoem 1999, durante a Reforma da Previdên-cia do governo Fernando Henrique Cardo-so, para reduzir o valor dos benefícios previ-denciários. Quanto menor a idade de apo-sentadoria, maior o redutor e, consequen-temente, menor o valor do benefício. Comisso, o valor da aposentadoria paga pelaPrevidência Social passou a ser calculadocom base na média aritmética dos 80%maiores salários de contribuição (corrigi-

A Via Campesina apresentapara o governo federal umaplataforma política commedidas emergenciais, demédio prazo, e estratégicaspara o desenvolvimento efortalecimento agriculturafamiliar e camponesa. Abaixo,conheça as propostas.

I - Medidas de emergência

1.Plano de emergência paraResolver a situação de 60 milfamílias acampadas, algumas hámais de cinco anos na luta pelaReforma Agrária.

2.Anistia das dívidas dos pequenosagricultores que acessaram aoPrograma Nacional de AgriculturaFamiliar (Pronaf) até R$ 10 milpor família. E renegociação dosaldo para o final do contrato.

3.Recomposição do Orçamento doIncra para desapropriações.Acelerar as desapropriações dosprocessos já prontos.

4.Articular um novo marcoregulatório para convênios comentidades e movimentos sociais.

5.Liberação do total de R$ 30milhões dos recursos previstos enecessários aos cursos do Pronera(houve o contingenciamento dametade) e garantia de R$ 50milhões para 2012.

6.Realizar plano dereassentamento de todas asfamílias atingidas por barragense hidrelétricas concluídas.

II - Medidas paramédio prazo

1. Formatar o programa de apoiopara agroindústrias cooperativadasda agricultura familiar eassentamentos, com recursos doBanco Nacional deDesenvolvimento Econômico eSocial (BNDES) e Ministério do

Desenvolvimento Social e Combate àFome (MDS) para que comece afuncionar ainda neste ano.

2.Implementar o programa dereflorestamento na agriculturafamiliar, ampliando o bolsa verde egarantindo meio salário mínimo porfamília para reflorestar 2 hectares.

3.Potencializar a CompanhiaNacional de Abastecimento(Conab) como a empresa quegarante a compra de todos osprodutos alimentícios, liberandorecursos para compra de alimentose ampliação de suas operações emtodo o território nacional.

4.Organizar a campanha nacional desuperação do analfabetismo, comoum verdadeiro mutirão nacional,que consiga, nos próximos anos,ensinar a ler e escrever a maioriados 14 milhões de trabalhadoresadultos analfabetos.

5. Criação de 30 Institutos Federais deEducação, Ciência e Tecnologia(Ifets) no meio rural.

6.Implantar nova modalidade decrédito rural para as famíliasassentadas e camponeses pobres docampo, estimadas em 3,5 milhõesque não acessam ao Pronaf.

7. Instruir a Agência Nacional de VigilânciaSanitária (Anvisa) para revisar todosos agrotóxicos e estabelecer novamodalidade de registro.

8.Fiscalização pelo governo federaldo cumprimento da lei quedetermina que conste em todos osprodutos alimentícios a existênciade transgênicos. Criação de uma leipara rotular os alimentosproduzidos com agrotóxicos.

9.Barrar o projeto que autoriza aprodução, comércio e o uso dassementes Terminator.

10. Barrar a liberação das sementesde eucalipto transgênico, naComissão Técnica Nacional deBiossegurança (CTNBio), queafetará mais de 40 variedadesexistentes no país.

11.Acelerar a aprovação da Projetode Emenda Constitucional (PEC)do Trabalho Escravo, que já foiaprovada no Senado, mas estáparada há oito anos na Câmara.

12.Reparar as mudanças no CódigoFlorestal no âmbito do Senado,impedindo a aprovação daspropostas aprovadas na Câmara dosDeputados. Na pior das hipóteses,garantir a realização de umplebiscito popular para que apopulação decida.

III - Questões estratégicaspermanentes

1.Construir um novo plano nacionalde Reforma Agrária, com umanova concepção para superar asituação atual, garantindoassentamento de no mínimo 100mil famílias por ano.

2.Impedir a venda de terras paraempresas estrangeiras acima de trêsmódulos (que varia entre 20hectares na Região Sul e 400hectares na Amazônia).

3.Reconhecimento de todas asáreas tradicionais decomunidades quilombolas, pormeio de um mutirão dosorganismos responsáveis.

4.Resolver a questão dos povosGuarani-Kaiowa do MatoGrosso do Sul.

5.Implantar uma política deestimulo à agroecologia,estimulando a produçãode sementes crioulas (por meiode criação de um novomarco regulatório) efertilizantes orgânicos.

6. Proibir o fechamento de escolasde ensino fundamental nocampo. Criar um programaespecial de escolas do campoque possa ampliar a instalaçãode escolas de ensino médio,IFETS e acesso à universidadepelos jovens do campo.

As bandeiras unitárias das organizações da classe trabalhadora

dos monetariamente) referentes ao períodode julho de 1994 até o mês da aposenta-doria. É sobre essa média que incide o “fatorprevidenciário”. Para as aposentadorias portempo de contribuição, a aplicação do fatorprevidenciário passou a ser obrigatória;para aquelas por idade, é optativa.

Reforma Urbana

Mais de 5,5 milhões de moradias pre-cisam ser construídas para acabar com odeficit habitacional, segundo dados de2008 utilizados pelo Ministério das Cida-des. As favelas e áreas em situação derisco abrigam 7 milhões de pessoas (essenúmero aumentou 42% nos últimos 15anos, segundo o Instituto de Pesquisa Eco-nômica Aplicada). O número de déficithabitacional aumenta com a inclusão dequem mora de aluguel, que está em tornode 12 milhões de famílias (de acordo como Sindicato da Habitação do Estado deSão Paulo). Só que a Reforma Urbana émais ampla do que resolver o problemada falta de moradias, mas construir umacidade que garanta o saneamento, acessoà infra-estrutura urbana, ao transporte, àsaúde, à educação, à cultura, aos serviçospúblicos, ao trabalho e ao lazer.

A plataforma política da jornada da Via CampesinaSETOR DE COMUNICAÇÃO DO MST

O processo de fragmentação das organi-zações da classe trabalhadora, quemarcou a última década, ainda não foisuperado. No entanto, as bandeiras de lutasdesses diversos campos políticosapresentam bastante convergência. Osprincipais pontos dessa plataforma polí-tica são a redução da jornada de trabalhosem redução salarial, a destinação de 10%do Produto Interno Bruto (PIB) paraeducação e a mudança do modelo agrí-cola. O Jornal Sem Terra apresenta umasíntese dos principais pontos da plataformapolítica unitária da classe trabalhadora.

Marcha de 50 mil professores da redepública estadual na Avenida Paulista porreajuste salarial, em março de 2010

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10 JORNAL SEM TERRA • AGOSTO 2011

Crise da mudança climática altera a qualidade das demais crises e pré-anuncia uma catástrofeREALIDADE BRASILEIRA

EDÉLCIO VIGNA*

ASSESSOR DO INSTITUTO DE ESTUDOS

SOCIOECONÔMICOS - INESC

O CAPITALISMO atinge sua máxi-ma expansão e os espaços financeirosglobalizados se restringem. O padrãode exploração tecno-industrial dosséculos passados chega ao limite enão mais reproduz o capital na me-dida necessária para manter o siste-ma. O capitalismo em suas contra-ções sistêmicas e por meio de seusagentes, procura criar novos merca-dos para expansão do capital.

As crises cíclicas de dez em dez anos,previstas por Marx, se reduzem no es-paço e se prolongam no tempo. Atual-mente, as crises se sobrepõem. A crisefinanceira e de especulação de preçosdos alimentos mobilizam multidões.Mas, a crise da mudança climática é amais crítica, pois altera a qualidade dasdemais crises e pré-anuncia uma situaçãode catástrofe para a humanidade.

Este é o contexto em que se processamas propostas de redução de emissões pordesmatamento e degradação (REDD) e achegada dos “corretores ambientais” naAmazônia Legal. Até então, as terraspúblicas, as unidades de conservação, asáreas de proteção ambiental, as terrasindígenas e de povos tradicionais nãoentravam no jogo mercantil.

O mercado trabalhava com bensregularizados e nunca com bens imateriais.

Nesta nova era de negócios, o produto queé colocado no mercado são as névoas secasda mistura de gases nocivos (smog), osgases poluentes provenientes do excessodo uso automóvel, os das indústrias, astoneladas de carbono emitido pelasderrubadas das florestas, queimadas e pelaagricultura em geral.

Ascensão meteórica

A proposta de mecanismo de REDDcomo compensação para as atividadespoluidoras teve uma ascensão meteóricana pauta internacional. O debate ganhoucorpo entre os negociadores interna-cionais e, em menos de uma década, omecanismo já havia ganhado um “plus”(REDD+) - acrescentando em seu port-folio o manejo florestal, recuperação deáreas degradas, reflorestamento e mono-cultura de árvores plantadas.

O debate sobre o REDD+ ganhouproporções em 2010 na 16ª Conferênciadas Partes da Convenção do Clima daONU, em Cancún, no México. A pro-posta apresentada pelos “carbon boys”não foi apoiada pelo Brasil, que argu-mentou “ingerência em sua soberaniae não aceitava certificação que nãofosse pública”. Em Cancún, os fórunssociais internacionais se colocaramcontra “uma nova dimensão do controlede terras e territórios pelo capital,configurando uma crescente ameaçaaos direitos dos povos”.

O grande problema é que o REDD +não é um instrumento de efetivaçãode direitos humanos. Ao contrário, fle-xibiliza a legislação ambiental e tra-balhista, não tem responsabilidadecom a preservação da biodiversidadenem com o bem-estar das comuni-dades indígenas, quilombolas etradicionais. A lógica que rege o capi-tal “empreendedor” é captar o maiorcrédito de carbono a baixo custo e ne-gociá-los a um maior preço.

O que o REDD promove é um mer-cado para “corretores ambientais” quepropagam a existência do “consenso dasaída única” ambiental, assim como opensamento único neoliberal naeconomia. No Brasil, o mecanismo deREDD+ dialoga com a proposta dealteração do Código Florestal, com oprojeto Terra Legal e o processo deregularização fundiária da Amazônia. Os

A marcha de “corretores ambientais” pela Amazônia

Nova era de negócioscoloca no mercado névoassecas da mistura de gasesnocivos (smog), gasespoluentes e toneladas decarbono emitido pelasderrubadas das florestas

estudiosos não acreditam que o REDDbeneficiará os amazônidas e os povosda floresta e convencerá as multinacio-nais a mudar sua lógica econômica.

As contradições da política brasileiranão garantem a possibilidade de secolocar um freio de arrumação nosgrandes projetos nacionais que ameaçamos biomas e os povos da floresta. OBanco Nacional de DesenvolvimentoSocial (BNDES), o maior financiadordo agronegócio e responsável pelasobras que mais desmatam na Amazônia,será o gestor do Fundo Amazônia quevai financiar os projetos de REDD eREDD+. A sociedade civil organizadatem como responsabilidade exigir avisibilidade dos contratos de REDD emonitorar os fundos públicos, privadosou mistos, como o BNDES.

Atualmente se fala em mercado decarbono sem o menor estranhamento.A naturalização e o efeito da “políticade fato consumado” disponibilizam odebate. A Bolívia na COP-10, em Cope-nhague, realizou um trabalho de educa-ção política ao manter uma posturacrítica contra os mecanismos de paga-mentos ambientais. Por sua vez, a Cons-tituição do Equador de 2008 coloca anatureza como sujeito de direitos.

O avanço da devastação dos di-versos biomas nacionais e as violaçõesdos direitos das populações da flo-resta ocorrem sob o silêncio de umaesquerda ortodoxa ou reformista. Omovimento sindical e os partidos po-líticos sócio-democráticos fracas-saram na tentativa de construir umaunidade contra-hegemônica.

As grandes centrais sindicais sequerestão inseridas no debate de REDD,REDD+ e pagamentos de serviçosambientais. Poucas lideranças partidáriastêm noção onde e como é articulado onovo espaço comercial que vaiacomodar os mercados de créditos decarbono. A proposta que institui osistema nacional de REDD+ foiaprovada na Comissão de MeioAmbiente e as tímidas manifestações nãoforam suficientes para alertar e incluirno debate a sociedade civil sobre estenovo mercado que se está de olho nosrecursos naturais da Amazônia Legal.

*Publicado originalmente napágina na internet do InescMecanismo de REDD+ tem relação com mudanças no Código Florestal e o processo de regularização fundiária da Amazônia

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11JORNAL SEM TERRA • AGOSTO 2011

Políticas devem ser acessadas, mas é necessário avançar na pressão socialREALIDADE BRASILEIRA

NEI ZAVASKI

SETOR DE PRODUÇÃO, COOPERAÇÃO

E MEIO AMBIENTE

O PLANO SAFRA 2011/2012 apre-senta alguns avanços em relação aosplanos anteriores, mas não tem con-dições de atender às parcelas mais po-bres e descapitalizadas do campo bra-sileiro. Apesar do exagero das propa-gandas do governo, o plano tem pontosque abrem grandes possibilidades.

Os limites do Pronaf (ProgramaNacional de Fortalecimento da AgriculturaFamiliar), por exemplo, foram elevadospara R$ 200 mil para investimentos eR$ 100 mil para custeio. Os juros de 2%da linha “Mais Alimentos” e o prazo de

pagamento de até dez anos, com três anosde carência, serão estendidas às linhas“Investimento e Agroindústria”.

Para investimentos até R$ 10 mil,os juros serão de 1% ao ano. Para in-vestimentos entre R$10 mil e R$ 130mil, os juros serão de 2% ao ano. Oscréditos para os grupos especiais (A, B,Jovem e Semi-Árido) continuam comjuros diferenciados.

Para as modalidades de custeio, osjuros permanecem em 1,5% ao ano paracontratos de até R$10 mil. Contratosentre R$ 10 mil e R$ 20 mil terão 3%de juros ao ano. Os juros anuais são de4,5% para contratos de mais de R$ 20mil até R$ 50 mil.

Na política de apoio à comerciali-zação, o limite do Programa Nacionalde Alimentação Escolar (Pnae) deveaumentar de R$ 9 mil para R$ 15 mil,além da ampliação do orçamento doPrograma de Aquisição de Alimentos(PAA) em R$ 190 milhões.

A grande novidade propagandeadapelo governo é o Programa de Garan-tia de Preços Mínimos (PGPM) da

Agricultura Familiar, mas ainda pre-cisa ser normatizado pelo Ministériodo Desenvolvimento Agrário e pelaCompanhia Nacional de Abasteci-mento (Conab).

Desigualdade

Devemos reconhecer os avanços ebuscar acessar as políticas de crédito,de comercialização, agroindustrializa-ção e seguro, que são conquistas da luta

Limites e possibilidades do novo Plano Safra

• Para a Juventude Rural, o novolimite será de R$12 mil (umacréscimo de 20% em relação ao anoanterior), com juros de 1% ao ano.

• Na linha de agroindústrias,aumentará o limite de R$ 20 milpara R$ 50 mil e abertura definanciamento para agroindústriacom CNPJ (Cadastro Nacional daPessoa Jurídica).

• Os investimentos grupais e oucooperativos acumulam os limitesindividuais até R$ 10 milhões com jurosde 2% ao ano e limite de R$ 30 mil porassociado. O prazo para pagamento foiampliado de 8 para 10 anos.

• Apresenta incentivos para aagroecologia nas linhas “Eco”,“Agroecologia”, “Floresta” e“Semiárido”. O Pronaf Eco teveampliação do limite definanciamento de R$ 6,5 mil paraaté R$ 8 mil por hectare,aumentando também de R$ 500para até R$ 600 por hectare da

parcela de pagamento da mão deobra (entre o segundo e o quartoano de implantação do projeto),aumentando o prazo de pagamentode oito anos para no máximo dezanos, com até três anos de carência.

• O Pronaf Agroecologia aumentou olimite de financiamento de R$ 50 milpara até R$130 mil e aumentou oprazo de pagamento de oito anos parano máximo dez anos, com até três anosde carência. O Pronaf Floresta com olimite de financiamento de até R$ 20mil, para sistemas agroflorestais, passaa vigorar em todas as regiões do país(atendia apenas as regiões Norte,Nordeste e Centro-Oeste).

• O Pronaf Semiárido também teve olimite ampliado de R$ 10 para R$12 mil.

• Na linha B, para o público maispobre houve uma ampliação delimite de crédito de R$ 2 mil paraaté R$ 2,5 mil por operação.

• No Pronaf Cota–Partes, o limitede crédito individual aumentou de

R$ 5 mil para até R$ 10 milpor beneficiário.

• Nas ações de segurança ao agricultor,o Seguro da Agricultura Familiar(SEAF) passa a cobrir até R$ 4 milda renda, mais 100% do valorfinanciado pelo Pronaf Custeio.

Desenvolvimento dos assentamentos é possível com organização para acessar políticas conquistadas

dos trabalhadores rurais, em especialdos assentados.

No entanto, é necessário avançar napressão social e no combate ao modelodo agronegócio, uma vez que existeuma disputa entre modelos agrícolas eo governo dá prioridade ao do agrone-gócio... Enquanto o Plano Safra destinaR$ 16 bilhões para a pequena agricultu-ra, que representa quase 90% das pro-priedades rurais, o governo vai destinarR$ 107 bilhões para o agronegócio.

Mesmo com inovações, qual a dificul-dade para o fortalecimento da agriculturafamiliar e das famílias assentadas? O pro-blema central é que o Plano Safra é efi-ciente apenas para uma parcela dos agri-cultores familiares capitalizados e que seinserem no mercado capitalista, seja pormeio de suas cooperativas, seja com a in-tegração ao sistema agroindustrial. Portan-to, não atende à necessidade dos assentados(por isso lutamos por um crédito específicopara as áreas de Reforma Agrária) eapresenta limites para apoiar o sistema deprodução dos agricultores camponeses,com base no apoio à agroindustrializaçãocooperativada da produção e na garantiade compra da produção.

Além disso, as políticas do governosão insuficientes para garantir o aumentodo nível educacional (desde o combate aoanalfabetismo até a formação técnica euniversitária) e a Assistência Técnicaadequada e integrada.

O avanço do desenvolvimento produti-vo dos nossos assentamentos é possível,mas somente com organização, tanto paraacessar as conquistas já garantidas, comopara avançar na construção de um ProjetoPopular para a agricultura.

O Plano Safra é eficienteapenas para umaparcela dos agricultoresfamiliares capitalizadose que se inserem nomercado capitalista

Conheça mais medidas do Plano Safra 2011/2012

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12 JORNAL SEM TERRA • AGOSTO 2011

Precisamos mostrar as verdadeiras soluções para os problemas climáticos da humanidadeINTERNACIONAL

MARCELO DURÃO

COORDENAÇÃO NACIONAL DO MST

A CÚPULA RIO+20, que será realizadaentre 4 e 6 de junho de 2012, no Rio deJaneiro, reunirá em um megaevento chefesde Estado e empresários de todo o mundopara construir “alternativas” para osproblemas climáticos que a humanidadevem sofrendo por conta do modelo dedesenvolvimento capitalista.

Essa cúpula surgiu a partir de umaproposição do presidente Luiz Inácio Lulada Silva à Assembléia Geral das NaçõesUnidas (ONU), em 2007, com a finalida-de de rediscutir os acordos internacionaispara o meio ambiente 20 anos depois daEco 92. Convocada oficialmente doisanos mais tarde, a conferência já seencontra em fase de preparação.

Como proposta inicial de pauta, aconferência deve avaliar os resultadosdos acordos internacionais firmados naárea de desenvolvimento sustentável. A

discussão considerada mais importanteé a avaliação da implementação dosacordos, relacionados ao histórico dasconferências que foram construídas apartir da Eco 92. Hoje, se avalia que osacordos multilaterais construídos nessasconferências não foram assumidos.

A Rio+20 discutirá também a cha-mada Economia Verde, considerada umdos vetores principais para alcançar odesenvolvimento sustentável e o alívioda pobreza. O terceiro ponto é a “go-vernança global” para o meio ambiente,ligada à regulação do funcionamentodos agentes da Economia Verde. Ouseja, funcionaria como agência regu-ladora para a divisão dos recursos na-turais remanescentes.

A Economia Verde é um termo ain-da sem uma conceituação muito clara,

que coloca como mercadoria diversosrecursos naturais. Por exemplo, a flo-resta nativa, a dinâmica da abelha napolinização e na realização do mel, quese transformam em “serviços am-bientais” valorizados no mercado. Des-sa forma, se mercantiliza os bens co-muns, transformados em produtos nasbolsas de valores.

Histórico

A Conferência das Nações Unidassobre o Meio Ambiente e o Desenvol-vimento, a Eco 92, no Rio de Janeiro,reuniu representantes de quase todosos países do mundo para tomar medidaspara a diminuição da degradação am-biental e garantir a existência de outrasgerações. A intenção desse encontro eraintroduzir a ideia do desenvolvimentosustentável, um modelo de crescimentoeconômico menos consumista e maisadequado ao equilíbrio ecológico.

A Eco 92 legitimou esse conceito, queabriu possibilidades para empresas epaíses continuarem suas ações predatórias.Neste momento, acontece o aprofunda-mento dessa visão com o conceito deEconomia Verde (ou Capitalismo Verde),

incluindo mais claramente o mercadocomo parte do “novo momento” dodesenvolvimento sustentável.

Os debates realizados na ONUexpressam que o modelo de acordos comcompromissos firmados politicamente emnível mundial entre os países não sãoeficazes para gerar os avanços. O que vemsendo trabalhado, não só como conteúdo,mas também como processo das confe-rências (como em Copenhague e Cancún),é que cada país faz o que pode, desde quenão prejudique a sua economia.

Como os acordos e compromissosassumidos nessas conferências não sãocumpridos, são criadas metas voluntá-rias e novos acordos com outra filoso-fia (a do mercado), em vez de com-promissos e responsabilidades de formacoletiva e global. Com isso, fica de ladoa responsabilidade por um desenvolvi-mento econômico com padrões de sus-tentabilidade mais rígidos.

Paralelamente ao encontro oficial, estásendo construído um grande espaço dereflexão e ação a partir da realidade dospovos, que deve ser um marco na trajetóriadas lutas globais por justiça social eambiental. Esse espaço se soma ao processoque construímos desde a Eco 92, contri-

Controle da biodiversidade em jogo na Rio+20

buindo para acumular forças na resistência,mobilizar contra as falsas soluções para aquestão ambiental e apresentar novosparadigmas baseados na defesa da vida edos bens comuns.

Contra a presença de empresas eEstados com o discurso da Economia Ver-de, queremos denunciar esse modelo dedesenvolvimento que promove mudançasclimáticas e injustiça ambiental, amplian-do as desigualdades sociais. O que estáem jogo é o controle dos territórios e danossa biodiversidade. Tudo pode acabarse tornando mercadoria.

Temos que nos organizar e fazer umamplo processo de formação para pres-sionar pela construção de acordos querealmente sejam colocados em práticapelos Estados. O principal é colocarmosem evidencia as verdadeiras soluções emostrar as realizações concretas que jáestão em andamento.

Dessa forma, poderemos repetir o queaconteceu na reunião sobre DiversidadeBiológica das Nações Unidas (CDB), emCuritiba, em 2006, quando conseguimosque fosse aprovada uma moratória globalcontra a experimentação e o uso da tecno-logia Terminator, com o povo do campoe da cidade, de forma massiva.

Cúpula discutirá, da perspectiva dos chefes de Estado e empresários, problemas climáticos causados pelo desenvolvimento capitalista, que ameaça a humanidadeDebates realizadosna ONU expressamque modelo de acordoscom compromissosfirmados politicamentenão são eficazes paragerar os avanços

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13JORNAL SEM TERRA • AGOSTO 2011

Cineasta fundou o Cinema Novo, que uniu nova estética com compromisso políticoLUTADORES DO POVO

POR THALLES GOMES

REPÓRTER DO BRASIL DE FATO

NO DIA 22 DE AGOSTO, completam-se30 anos da morte de um dos mais ins-tigantes e criativos artistas brasileiros:o cineasta Glauber Rocha. Baiano de Vi-tória da Conquista, Glauber dirigiu al-guns dos filmes mais importantes dahistória do cinema latino-americano,como “Deus e o Diabo na Terra do Sol”,“Terra em Transe” e “O Dragão da Mal-dade contra o Santo Guerreiro”.

Foi também o principal articuladordo movimento conhecido como Cine-ma Novo, cujo lema principal era “umacâmera na mão e uma ideia na cabeçapara pegar o gesto verdadeiro do povo”.

Em sua homenagem, o JornalSem Terra publica uma versão do en-saio escrito pela Brigada de Audio-visual da Via Campesina Brasil para olivro “Outras terras à vista - Cinema eEducação do Campo”.

A terra é do homem, nãoé de Deus nem do Diabo

Quando um cineasta produz suaobra, ele se refere ao seu própriotempo. Aos debates, questões, dúvidasque estão no seu cotidiano ou noconjunto da sociedade da qual faz parte,mesmo que seja em um filme sobreoutro período histórico. Desta forma,sua obra é como uma metáfora, umarepresentação, para os temas queinteressam ao artista e a seu tempo.

O sertão de Glauber Rocha no filme“Deus e o Diabo na Terra do Sol” expõea situação dramática e miserável em queviviam os milhões de nordestinos cam-poneses no final da década de 40. Mas étambém um filme sobre o seu tempo, otempo de Glauber Rocha e dos cam-poneses na década de 60 no Brasil.

Em 1964, ano de estreia do filme,estavam em disputa dois projetos polí-ticos para o país: o primeiro previamaior participação do Estado na eco-nomia e maiores benefícios aos traba-lhadores, reduzindo a margem de lucrodas empresas; o outro, propunha umapolítica externa e econômica mais su-bordinada ao capital internacional.

Entre os trabalhadores, este momen-to de embates foi também de organi-

zação popular e de acúmulo de forçaspara reivindicar maiores conquistas epolíticas sociais. Em especial, em tornodas chamadas “reformas de base”.

É nesse contexto de efervescênciapolítica e cultural que surge o CinemaNovo, movimento artístico que buscourenovar a linguagem do cinema noBrasil e na América Latina. GlauberRocha afirma no manifesto “Eztetykada Fome”: “Onde houver um cineasta,de qualquer idade ou de qualquer pro-cedência, pronto a pôr seu cinema esua profissão a serviço das causas im-portantes de seu tempo, aí haverá umgerme do cinema novo”.

Como elemento fundamental dessaestética nova, existe um posicionamentopolítico e um comprometimento doscineastas com uma transformação social.

O Cinema Novo assume a violência dooprimido como legítima. A reaçãoviolenta dos camponeses faz pleno sentidose analisada a partir das suas condiçõessociais e materiais de vida e de trabalho.No caso dos personagens de Deus e oDiabo: a exploração econômica dosproprietários de terra.

Trajetória dadesalienação

A narrativa de Deus e o Diabo,situada em um tempo histórico logoapós a morte de Lampião, acompanhaa trajetória do casal de camponesesManuel e Rosa em três fases, cada qualcom sua ruptura: Manuel-vaqueiro,Manuel-beato e Manuel-cangaceiro.

Filmografia

Saiba quais são os principais filmesde Glauber Rocha

1963 Deus e o Diabo na Terrado Sol

1967 Terra em Transe1968 O Dragão da Maldade

contra o Santo Guerreiro1970 Cabeças Cortadas1971 O Leão de Sete Cabeças1980 A Idade da Terra

30 anos sem Glauber RochaAlgumas interpretações da obra de

Glauber viram, nessa caminhada de Ma-noel, uma espécie de ‘trajetória da desa-lienação’. Suas aventuras representariam,assim, os passos que o povo deveria per-correr para superar as diversas formas dealienação que lhes são impostas. Primeiro,a alienação da exploração econômica. Emseguida, a alienação religiosa. Por fim, aalienação do banditismo anárquico. Su-peradas essas alienações, Manuel (povo)estaria apto a se somar às fileiras darevolução social rumo à construção deuma nova sociedade.

É uma interpretação possível, mascertamente existem outras. Mergulhan-do de corpo e alma na cultura e históriado povo sertanejo, é provável queGlauber Rocha tenha emergido commais dúvidas que certezas. Diante deuma cultura tão rica e forte, talvez te-nha se perguntado: será que existe algoerrado que precisa ser corrigido? E seexiste, quem sou eu para corrigi-las?Será que é papel de um filme apontarsoluções ou evidenciar incertezas?

Seguindo esta linha de raciocínio,concluiremos que em “Deus e o Diabona Terra do Sol” não existe superaçãoda alienação. O que existe é a exposiçãoda contradição. O Manoel que corredesenfreado pelo chão rachado dosertão nordestino ao final do filme trazdentro de si o vaqueiro, o beato e ocangaceiro. São elementos necessáriospara a construção e existência dessenovo Manoel.

Mas, por estar em movimento, estenovo Manoel não permanecerá o mes-mo por muito tempo. As oposições econtradições que encontrará em seucaminhar o transformarão constante-mente em algo novo – e é somente aose transformar que ele conseguirá trans-formar a realidade que o cerca. Sóentão é que o sertão vai virar mar e omar virar sertão.

O Cinema Novo assumea violência do oprimido

como legítima, analisadaa partir das condições

sociais e materiais

Glauber dirigiu alguns dos filmes mais importantes do cinema latino-americano

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14 JORNAL SEM TERRA • AGOSTO 2011

Mario Benedetti exige intransigentemente uma realidade que expresse o amor no sentido mais plenoLITERATURA

MARIA GORETE

ESCOLA NACIONAL FLORESTAN FERNANDES - ENFF

CONHECI A OBRA de Mario Be-nedetti pela primeira vez graças à mi-nha militância no MST e nunca maisme separei de sua poesia. A poesia sur-gia no meio dos barracos de lona, depalha, nos momentos de místicas ondereuníamos as assembleias.

Nas reuniões dos núcleos de base,nos cursos, nas escolas, uma voz, duasvozes, muitas vozes recitavam “Porque cantamos... você perguntará porque cantamos… cantamos porquechove sobre o sulco e somos militantesdesta vida e porque não podemos nemqueremos deixar que a canção se tornecinzas”. A sua poesia transbordavanossa ação na dureza da vida de um

A poesia que une razão e coraçãoacampamento e nos enfrentamentoscom o latifúndio.

Mario Benedetti é um poeta comomuitos de sua geração: fez das palavrasum ato de fé na luta pela humanidade.Sua obra ocupa um lugar singular namilitância da América Latina, atraves-sou décadas e permanece sempre atual.É um poeta do século 20, mas permane-ce inalterado o seu conteúdo de com-bate, já que sua poesia denuncia asgrandes misérias e canta o amor dosque acreditam num mundo de justiças.

Sua vasta criação literária cabe em vá-rios gêneros, poesia, contos, letras de can-ções e ensaios que foram traduzidos paravários idiomas. Escreveu que “somentequando transgrido uma ordem o futuro setorna respirável” e, dessa forma, percorreuo mundo semeando palavras e sentimentos.

Nasceu no Uruguai e viveu por mui-tos anos exilado na Argentina, Peru, Cu-ba e Espanha. Morreu em Montevidéuem maio de 2009 aos 89 anos. Era aindacedo para partir, contudo sua obra sem-pre ligada à luta pela emancipação hu-mana alentara presos, torturados, guer-rilheiros, jovens, mulheres, homens emmomentos de desespero, de alegrias,confraternização, dor e de esperança.Era um latino-americano de espírito li-vre e lutador incansável, um combatenteque encontra seu destino junto aos de-serdados, os explorados, os oprimidos;sua poesia vislumbra a possibilidade deum mundo livre e emancipado.

Sua poesia não somente canta oamor, mas exige intransigentementeuma realidade que expresse o amor noseu sentido mais pleno.

Defesa da AlegriaCompanheira

você sabeque pode contar

comigonão até doisou até dez

senão contarcomigo

se alguma vezpercebe

que a olho nos olhose um brilho de amorreconheces nos meusnão alerte seus fuzis

nem pense que deliroapesar do brilho

ou talvez porque existevocê pode contar

comigo

se outras vezesme encontra

intratável sem motivonão pense que

fraquejaraigual pode contar

comigo

porém façamos um trato

Minha tática éolhar-te

aprender como tu ésquerer-te como tu és

minha tática éfalar-te

e escutar-teconstruir com palavrasuma ponte indestrutível

minha tática éficar em tua lembrançanão sei como nem sei

com que pretextoporém ficar em ti

minha tática éser franco

e saber que tu és francae que não nos vendemos

simuladospara que entre os dois

não haja cortinasnem abismos

minha estratégia éem outras palavras

mais profunda e maissimples

minha estratégia éque um dia qualquernão sei como nem sei

com que pretextopor fim me necessites.

Façamos um tratoeu quisera contar

com vocêé tão lindo

saber que você existeum se sente vivo

e quando digo istoquero dizer contar

embora seja até doisembora seja até cinconão já para que acuda

pressurosa em meu auxíliosenão para sabera ciência certa

que você sabe que podeconta comigo.

Defender a alegria como uma trincheiradefendê-la do escândalo e da rotina

da miséria e dos miseráveisdas ausências transitórias

e das definitivas

defender a alegria por princípiodefendê-la do pasmo e dos pesadelos

assim dos neutrais e dos neutrõesdas infâmias doces

e dos graves diagnósticos

defender a alegria como bandeiradefendê-la do raio e da melancolia

dos ingénuos e também dos canalhasda retórica e das paragens cardíacas

das endemias e das academias

defender a alegria como um destinodefendê-la do fogo e dos bombeiros

dos suicidas e homicidasdo descanso e do cansaço

e da obrigação de estar alegre

defender a alegria como uma certezadefendê-la do óxido e da ronhada famigerada patina do tempo

do relento e do oportunismoou dos proxenetas do riso

defender a alegria como um direitodefendê-la de deus e do Inverno

das maiúsculas e da mortedos apelidos e dos lamentos do azar

e também da alegria

Tática e estratégia

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15JORNAL SEM TERRA • AGOSTO 2011

O novo documentário de Silvio Tendler apresenta,em 50 minutos, importantes elementos sobre umdos maiores males da sociedade brasileira naatualidade: os agrotóxicos utilizados na produçãoagrícola. O Brasil é campeão mundial noconsumo de agrotóxicos desde 2008. Mais de umbilhão de litros são jogados nas lavouras todoano. O consumo chega a 5,2 litros por pessoa.Além desses dados, o documentário é parte daCampanha Nacional contra os Agrotóxicos e pelaVida. O filme apresenta depoimentos deagricultores, cientistas, pesquisadores que nosproporcionam um valioso instrumento de debatee conscientização sobre o modelo agráriodominante em nosso país.

Para não esquecerAgosto

MST receberá prêmionos Estados Unidos

A Coalizão Comunidade SoberaniaAlimentar, dos Estados Unidos,escolheu o MST para receber oTerceiro Prêmio Anual de SoberaniaAlimentar. A entrega do prêmio serárealizada durante a 15º ConferênciaAnual da Coalizão, prevista paraacontecer entre os dias 4 e 8 denovembro deste ano em Oakland, naCalifórnia. O Movimento foiescolhido em função do trabalho deconscientização social sobre odireito de produzir e consumiralimentos saudáveis, de baixo custoe sem o uso de agrotóxicos.

Ademar Bogo: odesafio da formaçãode quadrosA nova ofensiva do capital, coma reestruturação produtiva e aspolíticas neoliberais, provocoumudanças estruturais naorganização do processoprodutivo, na composição dasociedade civil e na definição dopapel do Estado. As formas deluta vigentes, aparentemente, nãoconseguem mais responder àsnecessidades de organização daclasse trabalhadora contra ocapital. O livro “OrganizaçãoPolítica e Política deQuadros”, da editora ExpressãoPopular, traça os desafioscolocados às organizaçõespolíticas, tanto em suaconstrução orgânica, quanto noselementos que pautam as suasações táticas. Nesse sentido opapel e a formação dos quadros éum dos principais temas dereflexão abordados no livro.

O veneno está na mesa... e no documentário

21 Assassinato de Leon Trotsky (1940)

27 Sancionada a lei da anistia (1979)

28 Fundação da CUT (1983)

28 Massacre de Vigário Geral (1993)

Setembro

01 Início da Segunda Guerra Mundial,com a invasão da Polônia pelaAlemanha (1939)

02 Proclamada a independênciado Vietnã (1945)

02 Morre Ho Chi-Minh (1969)

04 Eleição da Unidade Popular, comSalvador Allende para presidentedo Chile (1970)

05 Nascimento de Josué de Castro(1908)

07 Ocupação da fazenda Macali, RioGrande do Sul (1979) / Grito dosExcluídos (criado em 1994)

09 Morre Mao Tse-tung (1976)

11 Golpe militar contra o governo daUnidade Popular, no Chile (1973)

14 Nascimento de frei Titode Alencar (1945)Nascido em Fortaleza, Ceará, Titode Alencar Lima foi militanteestudantil,dentro daJuventudeEstudantilCatólica.Em 4 denovembrode 1969, foipreso etorturado durante a ditaduramilitar. Pelas torturas, passou asofrer de problemas psiquiátricos ese suicidou em 10 de agosto de1974, no exílio em Paris.

16 Assassinato de Olivio Albani, lídersem-terra (1989)

17 Assassinato de Carlos Lamarca,militar e líder da guerrilhabrasileira (1971)

18 Publicada a Lei de Terras(lei nº 601/1850)

19 Nasce Paulo Freire (1921)

www.radioagencianp.com.br

Uma visão popular doBrasil e do Mundo

www.brasildefato.com.br

Setembro

O governo socialista de SalvadorAllende foi derrubado pelo generalAugusto Pinochet, em golpe militarcom apoio intelectual, militar efinanceiro dos Estados Unidos

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