Jornal Terra da Fraternidade

12
TERRA DA FRATER- NIDADE TONDELA 28 JUL ’12 ACERT CONCERTO DE TRIBUTO A JOSÉ AFONSO Porque em todas as fronteiras é bem-vindo quem vier por bem, aqui prolongamos uma festa começada na Galiza, em Santiago… homenageia-se o Zeca mas, muito mais do que isso, ele estará presente. ILUSTRAÇÃO DE JOSÉ AFONSO: LUIS SILVA CONCERTO DE ENCERRAMENTO TOM DEFESTA

description

CONCERTO DE TRIBUTO A JOSÉ AFONSOPorque em todas as fronteiras é bem-vindo quem vier por bem, aqui prolongamos uma festa começada na Galiza, em Santiago… homenageia-se o Zeca mas, muito mais do que isso, ele estará presente.

Transcript of Jornal Terra da Fraternidade

Page 1: Jornal Terra da Fraternidade

Terra daFraTer-nidade Tondela

28 JUl’12 aCerT

CONCERTO DE TRIBUTO A JOSÉ AFONSOPorque em todas as fronteiras é bem-vindo quem vier por bem, aqui prolongamos uma festa começada na Galiza, em Santiago… homenageia-se o Zeca mas, muito mais do que isso, ele estará presente.

ilu

str

açã

o d

e jo

afo

ns

o: l

uis

sil

va

concerto de encerramento

ToM deFeSTa

Page 2: Jornal Terra da Fraternidade

2)

pORqUE SIM!Perguntar qual o porquê de uma homenagem a José Afonso em Tondela, bem podia ter este título como resposta.De facto, evocar o Zeca – não como carpideira chorosa, mas com a alegria de o cantar e a emo-ção de partilhar a sua universalidade – é tão na-tural aqui como em qualquer outro lado. Nem a obra e atitude humana nele impressas ou por ele expressas cabiam em localismos com fronteiras.

Então, agora, é aqui!

Prolongando manifestações que, não solenizando mitos, lembram o poeta, o músico, o homem… e a vida. Muito particularmente a Terra da Fraterni-dade galega de Santiago de Compostela, em ma-duro Maio passado, repetida em Orense no mês seguinte.

Aqui, sítio de amigos antigos e novos. Sempre no-vos…Aqui, neste Tom que sempre se quis, como agora, de Festa.Aqui, onde a ACERT nunca isolou a intervenção estética e cultural dos princípios e horizontes de justiça e igualdade, não como objectivo mas como ponto de partida.

Assim vamos construindo esta Terra da Fraterni-dade, sem agradecimentos solenes, mas abraçan-do com a gratidão fraterna e cúmplice da partilha todos os que nela participam, de todas as formas.

Aqui, onde é sempre bem-vindo quem vier por bem.

Alegria da Criação| josé afonso

Plantei a semente da palavraAntes da cheia matar o meu gadoEnsinei ao meu filho a lavra e a colheitanum terreno ao lado

A palavra rompeuCresceu como a baleiaNo silêncio da noite à lua cheiaVi mudar estações soprar a ventaniaBrilhar de novo o sol sobre a baía

Fui um bom engenheiro um bom castorAmei a minha amada com amorDe nada me arrependo só a vidaMe ensinou a cantar esta cantiga

FeiticeiraMãe de todos nósFlor da espigaMaldita para tiranosAmorosa te louvamostens mais de um milhão de anosRapariga

Quando o lume nos aqueceNo grande frio de InvernoVem até nós uma preceQue assim de longe pareceUma cantiga

Magistrada Nossa naturalVitoriosaCurandeira dos aflitosAmante de mil maridosHá mais de um milhão de idostormentosa

Quando a fera encarceradaQue dentro de nós suplantaQuebra a gaiola sozinhaVoa voa endiabradaUma andorinha

Page 3: Jornal Terra da Fraternidade

ilu

str

açã

o: P

ru

mix

(3 Aqui se credita a Fernando Catroga a expressão “céu da memória”, alma e nervo desta carta.

Page 4: Jornal Terra da Fraternidade

4)

Page 5: Jornal Terra da Fraternidade

4) (5

*40 anos da 1ª interpretação pública de “Grândola Vila Morena” edição portuguesa do concerto de Santiago de Compostela de maio’12

(A BANDA BASE DO CONCERTO)

A Cor da Língua / Acert+ musicos convidados

Acompanhar Zeca e os músicos do nosso encantamento Um projecto musico-teatral que constrói pontes entre os escritores de língua portuguesa, deixando-nos enfeitiçar pela paleta de cores que plasticamente a remodela. Neste espectáculo, prossegue-se uma relação intensa de partilha, matriz de um projecto que, com várias formações, perdura há 30 anos. Teremos como maestro e mestre, Zeca Afonso e as suas canções.De muitas partes, recebemos cada um dos músicos solidários oferecendo a hospitalidade da nossa música.Tratámos cada um dos temas, melhor do que se nossos fossem.Sabemos que são preciosidades. José Afonso deixou uma obra criativa — musical, poética e humana — universal. E, “somos nós os seus cantores”, num tempo sem tempo.

Arranjos, Direcção musical e percussões: Rui LúcioGuitarras: Carlos PeninhaVioloncelo: Lydia PinhoContrabaixo: Miguel CardosoFlauta e voz: Luísa VieiraVoz: José Rui Martins

Participação especialTrompete: Adriano FrancoTrombone: Pedro SantosSaxofones: Hugo GamaFlugelhorn: Ricardo FormosoViolino: Manuel MaioGuitarra: André CardosoTeclados: Filipa MenesesGuitarra: Miguel CordeiroViolino: Henrique Apolinário

site: http://www.acert.pt/trigolimpo/registo.php?id=39

agradecimentosLuis Silva (autor da ilustração)Associação Terra da Fraternidade (Galiza)Bea BogalhoXoán QuintánsCaramuxo - camisolas da GalizaAssociação José Afonso

Este concerto só é possível graças á solidariedade de todos os participantes, tendo como ponto comum, também o facto de já se terem apresentado nos palcos da ACERT. A todos eles, um abraço fraterno, por também fazerem deste Tom de Festa a sua Terra da Fraternidade!

Cantos da Liberdade

Carlos Clara Gomes e Aurélio Malva

Couple Coffee

Chévere

Fran Pérez Narf

Francisco Fanhais

João Afonso

Júlio Pereira

Lourdes Guerra

Luis Pastor

Manuel freire

Najla Shami

New Sketch

Presença Das Formigas

Sebastião Antunes

Trigo Limpo Teatro Acert

Uxía

Vitorino

Zeca Medeiros

Terra daFraTer-nidade Tondela

28 JUl’12 aCerT

CONCERTO DE TRIBUTO A JOSÉ AFONSO*

Page 6: Jornal Terra da Fraternidade

6)

A pRESENÇA DAS FORMIGASO grupo recebeu o Prémio Zeca Afonso, Festival Cantar Abril’09.O seu álbum de estréia – Ciclorama (2011), conta com as par-ticipações especiais de Amélia Muge, Fraser Fifield e Ricardo Matosinhos. João Lisboa, no jornal Expresso, expressou as suas impressões sobre o CD: “Aquilo que, no álbum de estreia do septeto do centro-norte luso, se escuta foi já bastamente de-cantado e destilado nos alambiques de Fausto, José Afonso, Sérgio Godinho, Gaiteiros de Lisboa e Amélia Muge (…) cada um dos ingredientes se identifica são apenas as mais subtis essências combinadas em doses infinitesimalmente exatas com sabedoria de perfumista. (...) Tudo moldado sob a forma de canções que (os elementos do grupo) elevam às mais oxi-genadas alturas da música portuguesa de hoje.”site http://www.myspace.com/apresencadasformigas

CARLOS CLARA GOMESO Cantautor de Viseu que fala todos os dias com o ZecaÉ, sem dúvida, pelo que realiza, o cantautor do Distrito de Viseu. Sem rodeios, Carlos Clara Gomes tem tido um percurso coerente e multifacetado nas diversas aventuras musicais do seu percurso de mais de 35 anos de canções.A solo, em muitos grupos que integrou e nos projectos que cruzam música com o teatro e a literatura, este cantautor tem composto temas que fazem parte de álbuns seus e outros em que participa.José Afonso, sempre presente no seu repertório e inspirando--o na música e no posicionamento engajado com causas. Em Festivais, nas colectividades, nos bares, nas digressões, com centenas de músicos e grupos com quem partilha a sua mú-sica, sempre solidário e utópico! “Nós somos quem salta à noite por sobre os muros | Nós so-mos os que reclamam o tal futuro”, escreve e canta…Em parceria musical com Aurélio Malva (elemento da Brigada Vitor Jara)site: http://www.myspace.com/carlosclaragomes

CANTOS DA LIBERDADETocar a liberdade e celebrar a música dos cantautores e os cantos da Liberdade.Formado inicialmente para actuar no 25 de Abril em Taveiro, em 2009.Músicos com afinidades e com outros projectos em comum (Orquestra Haeminium, A Cor da Língua, Orquestra Smoo-th…).Este projecto estabelece o seu repertório na orquestração de temas de Sérgio Godinho, Fausto, José Mário Branco, Adriano Correia de Oliveira e, sobretudo de José Afonso.O espectáculo decorre também num quadro de apresentação de audiovisual com cronologia das músicas, enquadradas em momentos da história mundial em que foram criadas.

CHÉVEREZeca Afonso é também Chévere!Chévere é cultura pop, faz teatro pop, utiliza cores planas e grandes superfícies. Toma a sua linguagem do extremada-mente popular e dos meios de comunicação de massas (o cinema, a tv, a banda desenhada, a música rock, internet...), códigos perfeitamente reconhecidos pelo público que Chéve-re transtorna, deforma ou modifica ironicamente (e com um distanciamento muito evidente, brechtiano ou não), tratando de falar ao espectador no seu mesmo idioma para estabelecer unha comunicação muito directa a partir duma cumplicidade imediata.Chévere é loucura, a utopia artística e a subversão do pré--definido.

COUpLE COFFEE“Co’as Tamanquinhas do Zeca”, um tributo ‘tropical’ a Zeca AfonsoEla faz tudo o que quer com a voz, ele sola, acompanha, e mais do que isso: seu baixo canta. Couple Coffee é o casamento mu-sical de Luanda Cozzeti e Norton Daiello, artistas brasileiros residentes em Portugal.Dessa alquimia resulta uma música espantosa, original e so-fisticada. A comunicação com o público é imediata. Não há quem fique indiferente a tanto virtuosismo.Em Abril de 2007 a banda editou o seu segundo álbum - “Co’as Tamanquinhas do Zeca!”. Centrado na obra de José Afonso, este álbum trouxe uma perspectiva fresca para a obra de Zeca e foi transformado num original espectáculo que recebeu aplausos por todo o país.site: http://www.myspace.com/couplecoffee

FRAN pÉREZEntre a Galiza e Tondela, passando pelas geografias do ZecaCompositor e cantor com longo percurso, parte do qual está ligado ao mundo Lusófono.Tendo a Galiza como ponto de partida, explora sonoridade e poemas que são resultado das suas aventuras por vários países.Em colaboração com o produtor Toño Vázquez, artistas como Marcos Teira, Pepe Sendón ou Xavier Belho, o Trigo Limpo ACERT e a agência Nordesía, impulsionou experiencias de criação, intercâmbio e co-produção: “BUMBA” com os mo-çambicanos “Timbila Muzimba”, ou mais recentemente com “Aló irmão”, com Manecas Costa (nº 1 no “As 10+ Sem Espi-nhas” - RDP/África).Há mais de duas décadas que é assíduo colaborador da ACERT, para quem criou músicas de cena e a direcção musical de 14 edições da “Queima Judas ACERT”.Uma afinidade particular e casual o liga a José Afonso: o na-vegar na música de Moçambique.site: http://www.myspace.com/uknarf

FRANCISCO FANHAISVemos, ouvimos e lemos!Uma voz da resistência à ditadura. A sua música “Vemos Ou-vimos e Lemos” foi emblemática e continua actual, tal como os álbuns que editou desde 1969. Tomou contacto com a música de José Afonso por um profes-sor que, aos vinte anos, lhe deu a escutar um 45 rotações com “Menino do bairro Negro” e “Vampiros. Conta que, ao ouvir o disco, pensou “Como gostaria de cantar como ele e dizer, através da música, as coisas importantes que ele diz”.Aos 23 anos foi ordenado padre, tendo sido, seis anos depois, proibido de exercer o sacerdócio, de cantar e de dar aulas pe-las suas posições contra a ditadura. Emigrou para França em 1971, só regressando após o 25 de Abril.É o actual presidente da Associação José Afonso, de quem foi um companheiro inseparável.site: http://ffanhais.com.sapo.pt/ffanhais.html

JOÃO AFONSOA emotividade de uma voz simbólica e singularCultivou, desde cedo, o gosto de cantar, tendo colhido influên-cias, quer da música urbana africana, quer da música popular portuguesa, através do seu tio José Afonso.O projecto “Maio Maduro Maio” (parceria com José Mário Branco e Amélia Muge) leva-o a optar pela música, deixando o curso de Agronomia.O seu primeiro álbum a solo, “Missangas”, surgiu em 1997 - Melhor Voz Masculina Nacional (Blitz). Seguem-se: “Barco Voador”, “Zanzibar”, “Outra Vida” e “Um Redondo Vocábulo”.Participa em dezenas de álbuns de outros autores, percorren-do os palcos do mundo.Além da apresentação dos seus espectáculos e participações em festivais, colabora habitualmente com Uxía e Luis Pas-tor, interpretando temas seus, dos dois cantautores e de José Afonso.Imprescindível neste concerto!site: http://www.myspace.com/joaoafonsomusic

JÚLIO pEREIRA“[Zeca] fomentava relações fraternas no meio musical”Multi-instrumentista, compositor e produtor.Até aos 20 anos, foi músico em grupos de rock de referência nos inícios dos anos 70. Ao fazer um arranjo de uma música de José Afonso, usou o cavaquinho pela primeira vez.- “A partir daí o Zeca pedia-me que o tocasse nos seus con-certos, momento em que ele descansava a voz. Mais tarde fiz um disco com esse instrumento.(…)- Ainda existe – creio – uma grande relutância dos Portugue-ses – não os jovens, claro - em considerá-lo mais músico do que “revolucionário”. A verdade é que era o que foi… As duas coisas!”.Criou álbuns marcantes da música tradicional portuguesa, destacando-se a sua colaboração com José Afonso com quem colaborou regularmente tocando em vários palcos do mundo, produzindo os seus últimos discos.site: http://www.juliopereira.pt/

Porque em todas as fronteiras é bem-vindo quem vier por bem, aqui prolongamos uma festa começada na Galiza, em Santiago… homenageia-se o Zeca mas, muito mais do que isso, ele estará presente.

Participantes do Concerto na Acert

Page 7: Jornal Terra da Fraternidade

6) (7

LUIS pASTOR E LOURDES GUERRA“Grândola Vila Morena, é o hino mais bonito, de todos os que se fizeram no Séc. XX”A sua voz é inconfundível. Como caracterizou José Saramago, “áspera e ao mesmo tempo suave, como o foram as vozes dos grandes trovadores do século passado.” Lourdes Guerra, voz gémea de Luís Pastor, prolonga o encanto…Muitos anos decorreram sobre múltiplas cumplicidades de Luis Pastor com músicos e a música portuguesa. A amizade com José Afonso foi o advento de uma particular forma de abordagem musical e de identificação do valor da música para dar voz aos que a não tinham. Por tudo isto, assume-se como “portunhol” e “afromenho”. Luís Pastor guarda sempre Zeca no seu repertório e memória, dando sinais permanentes da sua admiração pela sua obra e postura humana.Passaram quatro décadas e 20 álbuns desde o início do seu percurso musical, Luís Pastor permanece fiel ao título de seu primeiro álbum. Fiel a uma atitude, a princípios, a um com-promisso e a uma forma aberta de fazer música.site: http://www.luispastor.com/

MANUEL FREIREEle bem sabe que o sonho…Entrou no Teatro Experimental do Porto, em 1967.Entretanto estreava-se na música, com um EP que continha “Dedicatória”, “Eles”, “Livre” e “Pedro Soldado”, em 1968. O disco não escapou à censura, vindo a ser proibidos quatro temas.Estreou-se na televisão, no Zip-Zip, em 1969, para cantar “Pe-dra Filosofal”, poema de António Gedeão, que o popularizou.O EP “Dulcineia” foi lançado em 1971, em 1972 colaborou na banda sonora da longa-metragem de Alfredo Tropa, “Pedro Só” e editou, em 1973, o LP “De Viva Voz”, gravado ao vivo com José Afonso e José Jorge Letria.Foi um dos muitos músicos que, conjuntamente com Zeca Afonso, participou no influente e extraordinário espectáculo que encheu o Coliseu, a 29 de Março de 1974, acabando num coro de “Grândola Vila Morena”.site: http://deltacat02.com.sapo.pt/manuelfreire.html

NAJLA SHAMI“Zeca semeou palavras e músicas a sentimentos com que a colectividade faz mover o mundo”Compositora e cantora de grande versatilidade com uma am-pla trajectória no mundo da música, das artes e do ensino. Nasceu em Santiago de Compostela de pai palestiniano e mãe galega, a mistura é o factor que define toda a sua carreira mu-sical. O jazz, funk, blues, música brasileira, galega, espanhola ou árabe são ingredientes habituais no seu trabalho.A sua música é marcada pelo encontro com músicos de dis-tintas partes do mundo como Brasil, Portugal, Angola, Galiza, Espanha, semeando músicas da lusofonia.Combina a sua paixão pela música com o ensino, colaborando com diferentes escolas como professora de técnica vocal e linguagem musical.A viagem que faz pelos temas de Zeca Afonso é singular e emocionante.site: http://www.myspace.com/najlashami

NEW SKETCHA música alternativa canta ZecaGrupo de jovens músicos que lançaram o CD “Ao Tom Dela” que, como dizem, “é um sinal de alerta de quem deseja estar inquieto, comprometido com a poética interventiva e com uma música que não quer ser como a água: sem cheiro, sem sabor e sem cor.”Congregam músicos locais e da região, tendo um repertório de música alternativa, denotando uma preocupação na abor-dagem poética de intervenção social.Ao Tom Dela, são recados deles para um mundo que, para ser New, tem que ser um Sketch.Cantam os sinais de Zeca sem entrelinhas.site: http://www.myspace.com/newsketchband

SEBASTIÃO ANTUNESZeca com FolkSebastião Antunes inicia a sua atividade profissional em 1988 com a edição do single “Caixinha de Música”, com o grupo Peace Makers.Vocalista, autor, compositor e professor de música.Tendo apresentado primeiramente alguns projetos a solo, foi o mentor do grupo Quadrilha, sendo o seu vocalista, autor e compositor.Sebastião Antunes, além de músico, é um contador de his-tórias repletas de sentimentos e crenças. São contos que re-velam as tradições das “gentes da terra” e as suas lendas, as histórias contadas à lareira, as moças brejeiras, as sortes da lua, os encantos do campo e os mistérios da noite.Estudioso da música tradicional portuguesa, recria-a com a mestiçagem de temas folk de muitas latitudes.Sebastião Antunes colaborou com a ACERT na ManiFesta 96 gravando o tema “Ponte da Misarela” no CD “ManiFestaSons”Canta Zeca em forma de tributo e prazer.site: http://www.myspace.com/sebastiaoantunes

TRIGO LIMpO TEATRO ACERTO Zeca Afonso , sem saber, entro no primeiro espectáculo em 1976Amador em 1976. Continua a amar em 2012. Faz teatro, varre a casa, carpinteira, anda pela rua… faz da vida uma geringonça.Espalha afectos a loucos que querem entrar nas viagens e aventuras.É profissional nos objectivos e voluntário nos sonhos.Espalha brasas, sem ter medo de se queimar.Um dia, em 1976, sem que o Zeca soubesse, cantámos as suas canções e ele entrou, sem saber, no primeiro espectáculo. “Povo Acordou” era o nome da primeira peça.“O que faz falta é agitar a Malta!”. Fazemos por isso Zeca!site: http://www.acert.pt/trigolimpo/

UXÍA“Zeca é um criador universal. Uma pessoa consciente do seu tempo”Cantautora de Pontevedra é uma das guardiãs das raízes musicais galegas. Os mais de 25 anos de carreira artística, converteram-na numa das vozes galegas mais populares e reconhecidas internacionalmente.Construiu uma trajectória marcada pela defesa acérrima do orgulho da língua e da cultura galega, exercendo protagonis-mo não só em actividades artísticas, mas também de com-prometimento social.Uma das vertentes artísticas que mais prioridade tem marca-do a carreira de Uxía, nos últimos anos, foi a sua incessante aproximação ao universo musical lusófono..A sua ligação à cultura portuguesa é permanente, marcando com a sua presença neste concerto um momento continua-do de solidariedade, cantando temas José Afonso que, com a sua interpretação, já são distintivos nos concertos onde se apresenta.http://www.myspace.com/uxiasenlle

VITORINO“Zeca faz uma escola que, no fundo, ele é que a inventa”Presente em alguns momentos chave da Música Popular Por-tuguesa (por exemplo o célebre concerto de Março de 1974, no Coliseu), Vitorino foi companheiro de palco e canções de José Afonso, Adriano Correia de Oliveira, Fausto, Sérgio Godi-nho e outros nomes fundamentais da música portuguesa dos últimos trinta anos.Em 35 anos editou 22 discos, sem nunca se afastar dos valores em que acredita, manifestando-os destemidamente, e sempre com uma qualidade artística reconhecida.“Semear Salsa Ao Reguinho” foi logo considerado, apesar das condicionantes existentes na época, um ponto de referência na redefinição de padrões estéticos e caminhos que a música popular viria a trilhar a partir do meio da década de 70.site: http://vitorinosalome.com/

ZECA MEDEIROSA voz “[de Zeca Afonso] ergueu vilas morenas | Maio maduro que havemos de colher”Autor de músicas e letras, de cinema e teatro, funde e con-funde o valor da palavra com a tradição e cultura açoriana, acrescentando-lhe com uma mestria incontornável o tom grave e rouco da sua voz, ora embalador, ora poderosamente desconcertante.Em concertos ou nos seus filmes, deixa marcas da sua sen-sibilidade.Um embaixador das terras açorianas e da sua música, repleta de sentimentos precisos, onde impera a melancolia, numa verdadeira festa de emoções.Muitos discos, palcos e ecrãs, apresenta a sua música e junta--se a muitos outros companheiros. É assim que ele é feliz.A ACERT atesta os seus afetos fraternos.José Medeiros faz das palavras verdadeiras armas de pensa-mento, por isso, o encanta interpretar Zeca Afonso, sempre.site: http://www.myspace.com/zecamedeiros

Page 8: Jornal Terra da Fraternidade

8)

José Afonso | Hélia correia

Em louvor da desordem.Exaltandoo vinho e os seus fermentos.Em louvor dos motivose em louvorda pura insensatez,nos sentaremos nós ouvindo este homem,atravessados pelo seu galope.

Como a uma criança, aconchegamos tudo aquilo que ele amou.

Tudo o que é térreoe sujoe sorridente,e oferece o rostode chapão à luz.Coisas que nos deslizam sob a pele disparando

calor.Regendo as linhasfundamentais da vida.

Há um nó de caminhos onde este homemse pôs a esconder pólvora e sementes,calendários rurais.Dele não pode falar-se sem que se ouçaa espantosa alegria.Sem que de novo bata pelos sítioso eco de um tambor.

É bem possívelque a canção vele, oculta nas cidades.Que se incline nos nossos pensamentoscomo um espelho lunar,duro e pacífico.E sob o seu olhar nos desloquemospor entre a turbulência.E dela venha um íntimo sentidoe o seu ardor nos saibaconduzir.

Pois deste homem ficou o ofício.Os meios.Sabemos de que modo se levantamas pedras sobre as pedras.Sabemos de que modoas aguçar.

Existe aindaum cordão de linguagens.Vibra teimosamente o ar, movido por soprose até mesmopor fadigas.E a sua voz empurra e alimenta essas

circulações.É o vento do solque permanece.

Carta ao Zeca| josé mário Branco

Vieste de menino de oiro pela mãoAcordar a madrugadaE fez mais às vezes uma só cançãoDo que muita panfletadaGrandes janelas soubeste abrirPor onde o ar correu sem te pedirQue não se cansem de nascerAs fontes onde vais beber

Nunca mais te hás-de calarÓ Zeca, para nósCanta sempre sem pararQue é seiva e florA tua voz

Vestiste a capa de caloiro coimbrãoPara ultrapassar o fadoE, em cada Natal, teu fruto temporãoNunca foi ultrapassadoNa distracção jogas à defesaCom o humor disfarças a tristezaCantas a esp’rança e o amorQue o povo te ensinou de cor

Nunca mais te hás-de calarÓ Zeca, para nósCanta sempre sem pararQue é seiva e florA tua voz

Nem tudo o que reluz é oiro, pois entãoE bem gostaria o fachoDe te ver calado e manso pela mãoCom medalhas no penachoCo’a tua ronha felina e sãVais-lhe atirando as flechas de amanhãO olho pisco a acenderE a garganta a acontecer

Quando a Luz Fechou os Olhos | janita salomé

Quando a luz fechou os olhosAmansou a terra um ar mornoDe cinza, doce, de cores desmaiadasPelos perfumes vindos no bafo da noite

Do ramo mais fino do silêncioSoou o rouxinol num canto doridoDe seda e ondas, que soltava em cada notaUm fio delicado de fumo como fogo-fátuo

Teceu um véu e ali se guardouDe volta às entranhas da vidaBasta um sopro mágico, liberto,Para que a luz acorde a cantar

Poema | sérgio Godinho

Eh Zeca Afonsocanto para tiainda era moçoquando te ouvi

Convite à dançafizeste a quemera criançasoube-me bem

Eh Zeca Afonsomal tu sabiasque duro ossoque então roías

Menino de oirono teu trenófoi mau agoirodeixar-te só

As mafarricasvieram todaspobres ou ricascelebram bodas

Disparam tirosde tudo comematé vampirose um lobisomem

E os surdos mudostapam os olhossopram canudoscatam piolhos

Coçam sovacosabrem a covametem em sacosa tua trova

Mas não te afobesquem te amofinasó fez que sobesna nossa estima

Há nas janelasdo teu olharduas donzelasainda a espreitar

Olham para o mundopara o alecrimrespiram fundocantas assim

Senhor arcanjoVamos dançarafina o banjopelo luar

Poemas em tributo a José Afonsoo porquê da sua publicação neste jornalEntre os muitos poemas de tributo a José Afonso, encon-trámos um conceito que presidiu à seleção.Partilhamos as razões:

Soneto para o José Afonso | joão Grabato dias (antónio Quadros / Pintor)

O sílex maxilar abaixa e vibra,viva rocha fremindo o escárnio e a dordos outros, que a sua é apenas florenrazinhada ao maxilar e frívola

quase, como quem não pretende. Víborasde ar contente enpinam-se ao calorda alheia orelha, e passado e amore presente e gente, ganham a estrídula

razão que inda não tinham. No paulde vicioso bafo, um tremendalde coxas rãs coaxam no azul

um vazio silênclo. E à barragaldo porto aconchegado em oculta estultícia chega um vento de sal…

José Mário Branco, Sérgio Godinho e Janita Salomé com-panheiros que queriam muito ser viajantes no concerto “Terra Fraternidade” e que, por compromissos já assumi-dos, se tornam, desta forma e como desejavam, participan-tes activos com os poemas que dedicaram a Zeca Afonso.… que, cada um dos leitores, encontre a música que as suas palavras inspiram.

João Pedro Grabato Dias um dos pseudónimos usados pelo nosso António Quadros “Pintor”. Natural de Santiago de Besteiros, falecido há 18 nesta sua freguesia do Conce-lho de Tondela. Escritor, pintor, pedagogo e até especialista em apicultura…Companheiro de viagem da ACERT copm quem muito aprendemos. A ACERT criou uma exposição sobre a sua obra. Como reconhecimento o seu nome está firmado numa rua em Tondela, por iniciativa da Câmara Municipal.Amigo de José Afonso e autor da letras de uma das sua músicas “Sete Fadas me Fadaram”.

Hélia Correia uma escritora de muitas aventuras com a ACERT. Dispensa-nos explicações pelos ternura que nos contagia, tal como fez a Zeca com o poema que se publica.

Page 9: Jornal Terra da Fraternidade

8) (9

Tondela recebeu a visita do Zeca…| Paula torres

Seja bem-vindo quem vier por bem

Não me lembro exactamente em que ano foi, mas terá sido pouco tempo depois do 25 de Abril.A ACERT ainda não existia, a solidariedade não era coisa institucionalizada.Os cantautores de Abril, Zeca, Vitorino, Janita, Fausto, acha-vam que o interior tinha direito a ouvir a música que eles tinham composto e continuavam a compor.Juntou-se a eles o Camilo Mortágua, o último dos aventu-reiros do nosso tempo, e partiram por esse interior fora, a cantar em tudo que fosse lugar... salas, celeiros, velhos teatros ou mesmo a rua.Não tinham cachet, cantavam pelo pagamento da alimen-tação e alojamento.Passaram por Viseu. Precisavam de ficar em algum lado para comer e dormir. O Camilo sabia que em Tondela ha-via uma casa onde cabiam sempre mais... cinco.A seguir ao concerto vieram todos para o Fojo. Havia uma mesa grande e muita boa disposição. Saíram as violas dos sacos, começaram a cantar... primeiro calmamente, por-que havia crianças a dormir, e depois, pela noite fora, o tom foi subindo.O primeiro a desistir foi o Zeca, estava cansado, precisava de silêncio absoluto para dormir.Era o único que tinha direito a um quarto individual, mas o seu sono foi perturbado pelos barulhos de uma quinta: cães, gatos, galos, pássaros.Não conseguiu dormir... estava já muito doente.No dia seguinte levantou-se quase à mesma hora que os outros se deitaram, e então aí passeou pela quinta, sentou--se à sombra, conversou com as crianças.A meio da tarde seguiram viagem rumo a outros interiores e a outras casas, que igualmente ficariam com a memória de um dia, de uns tempos, inesquecíveis.

Tondela, Julho de 2012

Um pássaro igual a ti| viriato teles

Provavelmente, o mundo está mesmo feito às avessas! Anda um tipo como este Zeca a vida inteira a dar a voz e o corpo pelas causas dos outros, passam-se anos a fio de viola às costas a cantar as utopias sonhadas no dia-a-dia, e acaba tudo assim. Estupidamente, numa madrugada de chuva indecisa, como se nada tivesse acontecido antes, como se todo o passado não fosse senão um sonho lon-gínquo.Nós, no entanto, sabemos que não foi um sonho. Cresce-mos a ouvir Menino de Oiro e Os Vampiros, aprendemos de cor os versos de Vejam Bem e de Grândola. Aprende-mos, com o Zeca Afonso de todos os cantares andarilhos, a saborear o gosto dos encantos e das emoções, a desejar e a lutar pelas cores da liberdade.Com Zeca e os seus companheiros aprendemos, ainda, que é muito menos fácil formular perguntas que encon-trar respostas. Que as veleidades da ‘vida artística’, na qual ele nunca se encaixou, são como os foguetes de romaria, que desaparecem no ar após um instante de brilho e que, portanto, o importante é estar vivo, ter como única certeza a inquietação permanente.Há coisas assim, que parecem impossíveis. Depois vêm as inevitáveis cortesias-de-velórios, mas quanto a isso esta-mos conversados. Afinal somos um país de homenagens póstumas, não é? Que o digam o Adriano, Jorge de Sena, Fernando Pessoa. Que o diga agora o Zeca, ele que foi sem-pre tão dado a encolerizar-se com estas coisas.Veja-se a Televisão, que esperou a sua morte para mostrar, lacrimosa, as suas cantigas. Veja-se o poder, que tudo lhe

negou em vida, para descobrir agora (só agora, ó céus?) que, afinal, Zeca é um símbolo da democracia e da resis-tência antifascista! E proclama hossanas em sua glória, como se já não bastasse a dor que ficou.Felizmente, os que aprenderam com Zeca as mais belas lições de liberdade já se aperceberam também de todo o ridículo que se esconde por detrás destes lamentos hipó-critas. E sabem que José Afonso, poeta e trovador, não é dos que morrem assim, sem mais aquelas.Sabemos que o sonho permanece, em cada esquina, em cada rosto, em busca da terra da fraternidade. Quanto a ti, Zeca, faz como sempre fizeste até aqui: não lhes ligues, ri-te deles, lá desse cantinho onde agora te encontras, provavelmente a contar ao Adriano as últimas cá de bai-xo. Afinal, já sabes como é: o mundo está mesmo feito às avessas. Se assim não fosse ainda agora por cá te teríamos, a mandar vir como era teu hábito contra «essa cambada engravatada e escolopêndrica» que insiste em controlar a gente. E até vão fazer de ti nome de rua, imagina!Olha: lá fora, aqui mesmo a dois passos desta mesa de onde te recordo, há um pássaro a recolher-se da chuva que, teimosa, vai caindo. Ou serão lágrimas? Seja como for, o pássaro é igualzinho a ti: por mais que tentem, ninguém consegue impedi-lo de voar.

* Crónica publicada originalmente no Se7e de 25 de Fevereiro de 1987, dois dias após a morte de José Afonso, e incluída no livro As Voltas de um Andarilho, de Viriato Teles (ed. Assírio & Alvim, 2009)

Achégate a min maruxa| uxía

Cando interpreto “Verdes são os campos” ou “Menino do Bairro Negro”, sinto que estou en comunión con el. O Zeca é o máximo expoñente da Música Popular Por-tuguesa, un músico extraordinario e autodidacta cunha rara sensilibilidade para a poesía e para transmitir o sentir musical de todo un pobo. Coñecía ben o Fado de Coimbra, a música tradicional do seu país, da que bebeu en nume-rosas ocasións e da música africana, moi presente na súa discografía. Toda ela é un tesouro que se vai recuperar ago-ra nunha nova edición que saeu coincidindo co 25º ani-versario da súa morte. Morte... Non me gusta esta palabra cando falo do Zeca porque para min e para moit@s está máis vivo e de actualidade que nunca. As súas palabras e as súas cancións, como todas as grandes obras de arte, non pasan de moda. Nin siquera o repertorio máis comprome-tido é circunstancial. Hoxe podemos interpretar Grândola cun nó na gorxa ou Utopia ou calquera outra que ainda hoxe soa nas manis da “geração á rasca”.Foi tamén un activista na relación coa nosa Galiza que para el era unha especie de Patria espiritual. El foi e segue a ser un exemplo de cómo combinar as raíces e unha linguaxe propia. O compromiso e a beleza, o liris-mo e a realidade. Poucos autores no mundo conseguiron dun xeito tan rotundo e natural esa conxunción irrepetí-bel. A emoción e a precisión musical e esa voz fermosa e trémula que o seu sobriño João Afonso herdou. A súa sabi-duría vital nunca me deixou indiferente, despois de anos e anos de escoitar e coñecer cada melodía, cada acorde, cada nota. E unha vocación de universisalidade da que procuro alimentarme, sempre.Nunca poderei agradecerlle bastante todo o que apren-dín e sigo aprendendo. Cando interpreto “Verdes são os campos” ou “Menino do Bairro Negro”, sinto que estou en comunión con él. De non nacer nun país pequeno como Portugal, o que lle resta visibilidade pública a nivel mundial, sería equipara-ble a Leonard Cohen, Bob Dylan, Brassens... Ainda así, creo que cos anos vaise recoñendo a súa figura en todo o mun-do. Non en van é o compositor portugués máis divulgado de todos os tempos. É referencial e moi respectado entre a comunidade musical e literaria mais non é suficiente, tendo en conta que é o mellor escritor de cancións en portugués. Moi simples na súa forma, e moi ricas no seu contido, o retrato social dun país, un narrador de historias fantástico. Ese é o Zeca, para min...

foto

: ric

ar

do

©H

aves

Page 10: Jornal Terra da Fraternidade

10)

De onde somos todos…| carlos santiago

Reproduzimos do jornal galego “Dioivo”, a propósito da realização de “Terra da Fraternidade” em Santiago de Compostela, pela oportunidade que lhe reconhecemos, uma entrevista conduzida por Carlos Santiago, companheiro de aventuras & loucuras.

Uma conversa com João Luís Oliva e Júlio Pereira. Os dois participaram em 1985 na produção do último disco do Zeca, Gali-nhas do Mato, um em labores executivos e o outro na direcção musical junto de José Mário Branco, quando o cantor lutava com a fase mais dura da doença.

CONVERSA COM JOãO LUIS OLIVA

Alguma vez temos falado em tua casa desta lenda galaica de o Zeca ter canta-do o Grândola ao vivo pela primeira vez em Santiago de Compostela e vocês, tu e o Júlio Pereira, revoltaram-se com o ca-brito na boca. Já sabes que nós os galegos sempre andamos a roubar as certidões de nascimento de grandes portugueses como Luiz de Camões, um gajo que vo-cês acreditam ter nascido em Chaves ou Lisboa, mas que muitos galegos sabemos, brincalhões que somos, nado em Pontea-reas. Ora bem, ao Zeca só conseguimos ti-rar-lhe a primeira luz do Grândola, ainda com alguma legitimidade pois já ouvi ao próprio Zeca afirmar em entrevista que foi na Galiza onde primeiro a cantou. Achas que os portugueses algum dia nos desculparão estes latrocínios culturais?Olha que a “revolta” não deve ter sido as-sim tão grande… Até porque a dimensão da vida e da obra do Zeca não cabe na pequenez das fronteiras políticas. Não há, portanto, latrocínios a perdoar, mas antes partilhas a saudar. Ainda por cima, quan-do isso é um bom pretexto para o evocar festivamente, sem aquelas formalidades sorumbáticas habituais em efemérides comemoracionistas. Afinal, o “portugue-sismo” do Zeca resultava do tempo, do modo e do lugar em que viveu (tal qual como o teu “galeguismo”); mas a sua obra criativa – musical, poética e humana – é universal. De Lisboa, Maputo, Amesterdão, Chaves, Santiago de Compostela, Buenos Aires, Ponteareas ou Tombuctu. De onde somos todos…

Foste um dos envolvidos na produção de Galinhas do Mato, o último disco do Zeca e foi nessa altura que privaste com ele, nos seus últimos anos. A doença estava avançada e suponho que vocês, os muitos amigos que o acompanharam na aventu-ra, tinham consciência de o disco ir ser o

seu adeus. Foi duro trabalhar com essas emoções de fundo?Pois, se calhar não deixava de estar no pen-samento, nesse final de 1985, que aquele era o último disco do Zeca. Como disseste, a doença agravava-se, e mesmo a voz dele, que aparece em dois temas, não foi sequer gravada na altura; foi aproveitada do re-gisto, dois anos antes, no trabalho para o disco “Como se fora seu filho”, de que esses temas – “Escandinávia Bar” e “Década de Salomé” – acabaram por não fazer parte. E o Zeca já não descia para o estúdio, que era na cave; ficava numa sala de entrada, no rés-do-chão, mas a acompanhar o de-correr da gravação com auscultadores e a intervir no trabalho através de um micro-fone. Intervenções sublimes, de simplici-dade: uma vez, quando o “Cramol” (coro feminino, com genealogia no GAC, Grupo de Acção Cultural “Vozes na Luta”) esta-va a gravar uma linha de voz para o tema “Alegria da Criação”, e depois da primeira tomada de voz, o Zeca, reticente, mas sem-pre gentil, comandava – “Está muito bem… mas agora vamos gravar de novo e, desta vez, cantem a rir-se.” E, depois de cumpri-da a instrução, o trabalho ficou por ali, ad-mirável, sem comparação com o anterior registo; só por estarem a rir-se… Era por isto, pela sua presença criadora e criativa e, mesmo quando ele não estava, pela cum-plicidade de pensamento do Júlio Pereira e do Zé Mário Branco (velhos companheiros de muitas estradas, estúdios e vidas) que, na sua ausência, e antes de decidirem o que quer que fosse, sempre pensavam qual seria a opinião do Zeca e, na dúvida, telefonavam-lhe. Era por isso, dizia eu, que o Zeca estava sempre presente e, apesar da indesmentível degradação do seu estado físico, se sentia sobretudo que se estava a produzir “mais um disco do Zeca”, e não o último. Com a alegria da sua força criativa, e não com tristeza de comiseração; está-vamos ao lado de uma pessoa que con-tinuava a sua marcha sentida e solidária da vida. Lembro-me até de, na altura das gravações, estarmos a jantar na Pinheiro Chagas, onde o Zé Mário e eu vivíamos, e o Zeca polemizar activamente sobre o percurso político da sociedade portugue-sa, em vésperas de eleições legislativas e presidenciais, e lamentar que músicos por quem tínhamos apreço andassem a fazer fretes a partidos do poder. O que estava em causa não eram os partidos; era o poder. E o poder… era o que já se via (sempre se viu e agora, porque é agora, mais claramente se vê).

Tenho curiosidade em saber uma coisa; presumo que ele não andasse por aí com aquela auréola dos mitos e dos santos, bem ao contrário, mas como foi para ti encontrar um homem como ele, com essa dimensão épica, por assim dizer?Nem eu já sei!… Claro que ele tinha, para mim, e para quase toda a gente, a auréo-la que dizes. Conhecê-lo foi uma emoção sem medida – quando editámos, na “Regra do Jogo”, o livro “Livra-te do Medo. Estó-rias e Andanças de Zeca Afonso” de José Salvador –, mas ter trabalhado com ele – mais tarde, por mediação cúmplice do Júlio Pereira – é o ponto mais simbólico do meu percurso andarilho; nunca deixei de o registar, mesmo, heterodoxamente, em circunstâncias de formalidade cur-ricular académica. Mas, depois, e muito mais que isso, conviver e trabalhar com ele era a coisa mais fluente e natural que se pode imaginar. O rigor e a exigência que tinha relativamente ao trabalho e à vida, a complexidade problemática com que a

encarava, traduzia-se porém numa sim-plicidade de trato e numa descomplicação admiráveis (olha o exemplo do “cantem a rir-se”). Mas uma simplicidade sentida e quase automática, nada daquelas simpli-cidades construídas para que se dissesse que “fulano é tão simples…”. E era sempre admirável ouvir as suas palavras sábias, de uma sageza muito mais feita de perguntas que de respostas (embora, claro, com as suas teimosias de estimação).

“Sou o meu próprio comité central”, afir-mava o cantor que se envolvia nas coisas pelo lado existencial e não se deixava seduzir pelo mundo social da música, as suas estruturas e artifícios. Parece que uma figura como a de Zeca Afonso seria hoje impossível, mas não é isso o que o faz intemporal ao mesmo tempo?Descruzo o argumento! Hoje, como on-tem, uma figura como a dele é possível e, por isso, o Zeca é intemporal. Mesmo admitindo a dificuldade de se concilia-rem, numa só pessoa, o seu talento e for-ça criativa com a sensibilidade social e a força solidária da sua vida, creio (como ele…) que sempre haverá pessoas assim, embora com individualidades únicas; e a do Zeca é, de facto, irrepetível. Aliás, é por isso que isto da História, apesar de (demasiados) períodos que aparentam retrocessos, na última análise do tem-po longo, caminha para melhor. E quem se deixe “seduzir pelo mundo social da música, as suas estruturas e artifícios” também sempre houve. Se o Zeca não ia pelos “artifícios” e pelo “mundo social da música” da moda e das revistas cor-de--rosa, ia pela solidariedade próxima com obreiros do mesmo ofício, que sempre acompanhava com atenção preocupada e, sem conselhos moralistas, com partilha de opiniões e opções sobre o que era o seu entendimento. Quanto a “estruturas”, entendo o que queres dizer: estás a refe-rir-te a “lobbies” acalentados pelo poder. A esses, não! Mas sempre deu o seu con-tributo e participou em acções para que o trabalho de conjunto (na música como noutros desempenhos sociais) se produ-zisse da melhor forma.

A Zélia Afonso, mulher dele, disse em algum meio que o Zeca foi sempre uma pessoa mal-amada pela comunicação social e pelas elites políticas. Achas que Portugal ainda tem uma dívida moral para com o seu mais grande cantor, que deu voz e corpo a um dos grandes símbo-los do 25 de Abril?A Zélia sempre terá a sua razão… que maior será por ter sido a grande companheira da vida e da obra, dos sabores e dissabores, das alegrias e angústias do Zeca. E, de certeza, ela não está a falar de comendas e formalidades de circunstância, mas de reconhecimento público (e publicado) da sua obra. Mas eu, e de um horizonte menos próximo e de empenho obviamente dife-rente, sou menos, digamos, institucional: se as elites políticas sempre o mal-ama-ram (embora sempre se quisessem servir dele) e a comunicação social, em geral, não lhe tivesse dado o relevo merecido (mas também houve jornalistas que o fizeram), a força e a importância da vida e obra do Zeca vai muito para além desse reconhe-cimento institucional dos poderes. É que elas são sentidas e reconhecidas por todos e pelo tempo. Como dizemos que uma coi-sa que não é divulgada pela comunicação social não existe, bem podemos dizer que a comunicação social que não reconhece o Zeca, é ela própria que não existe. Ade-

mais, é ver quem – e, sobretudo, como – tem lugar na História…

Vi algumas entrevistas antigas com o Zeca através da net, e surpreendeu-me muito a sua capacidade de análise face à situação política após o 25 de Abril. De facto muito do que ele falava, da transição da sociedade rural para o consumismo ir-racional, das derivas impostas pelo FMI e o deus banqueiro, das divisões da esquer-da, do próprio fracasso da experiência revolucionária em Portugal... volta agora a uma segunda actualidade, se calhar a uma actualidade eterna que nunca aca-ba de ser superada. O seu cepticismo será também o nosso, animais devorados pela pós-modernidade?Em vez do “cepticismo”, eu ia mais pelo desencanto e desilusão relativamente a um processo que se tinha iniciado de uma forma tão esperançosa e para o qual ele tanto tinha contribuído, real e simbolica-mente. Agora é que dava para a gente falar do “eu sou o meu próprio comité central”. Era essa desilusão e desencanto com di-recções e dirigentes (pós)revolucionários, que se tornam os carcereiros da própria re-volução; presos dos poderes institucionais e das estruturas que, invocando interesses e mitos do “colectivo”, sempre se preocu-pam com a preservação e reprodução dos seus próprios interesses e mitos. E a indi-vidualidade que o Zeca reivindicava nessa frase não era egóide ou solipsista. Pelo con-trário, era a condição da alteridade solidá-ria, do reconhecimento da individualidade do “outro”, mas sem a prisão de amarras, muros e ameias, que ele sabia (ia sabendo) sempre defendiam sucessivas instalações no(s) poder(es). Desengano e desilusão, mais que cepticismo, de um homem que continuava a acreditar numa sempre adia-da cidade de “gente igual por dentro, gente igual por fora”.

Já para acabar pergunto-te pela passagem do tempo e as armadilhas da memória, e como fica na tua lembrança aquele ho-mem revoltado contra as situações.O tempo, ele próprio a grande armadilha, não é? Bem, mas a memória indelével que sempre terei do Zeca vai muito para além da do “homem revoltado contra as situações”. Foi, de facto, nessa dimensão de combate que o conheci antes de o conhe-cer; foi também essa dimensão de lutador pela liberdade real (e não formal) que sem-pre esteve presente depois de o conhecer. E essa é, digamos, a matriz das convicções e da força do homem que recordo e da sua memória exemplar. E também de muitos outros aspectos que, afinal, decorriam des-sas convicções: o reconhecimento do “ou-tro” e o seu sentido de justiça, mas também a intolerância perante o modo e as atitudes do que (e de quem) contrariava o caminho para a alcançar. Mas é muito mais que isso: é a memória da doçura (nunca piegas) do artista, do poeta e do músico, do criador de peças que, muito mais que clássicas, e em-bora marcando um tempo, são a expressão intemporal do percurso do espírito de cria-ção da humanidade.

CONVERSA COM JúLIO PEREIRA.

Disse-me o João Luis Oliva que foi o Zeca quem te entusiasmou a pegar no cava-quinho.Numa dada altura andava entusiasmado com este instrumento e estando a fazer os arranjos de uma música sua, de roupagem minhota, toquei-o. A partir daí o Zeca pe-dia-me que o tocasse nos seus concertos,

Page 11: Jornal Terra da Fraternidade

10) (11

momento em que ele descansava a voz. Mais tarde fiz um disco com esse instru-mento.

Pelo que tenho lido foi em 76 que come-çaste a colaborar com ele, no teu primeiro trabalho a solo “Fernandinho vai ao vi-nho” e no disco do Zeca “Com As Minhas Tamanquinhas”. Como foi o teu encontro com o Zeca, a sua “pegada” em ti, que di-zemos os galegos, como músico e como pessoa?Foi o mais frutífero encontro com um músico. O Zeca diferenciava-se em mui-tas coisas dos outros Cantautores. Nunca esquecia um “colega” quando dava entre-vistas no estrangeiro. Fomentava relações fraternas no meio musical. Era um ho-mem fascinante nas viagens. O facto de ser fascinado pela História e pela Filosofia permitia-nos – em viagem – ficarmos mais conhecedores deste ou daquele povo; ví-nhamos mais ricos para casa. Se alguma vez não gostava de um certa maneira mi-nha de tocar naquela música em vez de rejeitar explicava-me com alguma história vivida, do género: “uma vez vi umas mu-lheres que dançavam em roda com uns chocalhos nos pés e faziam este ritmo”… e aí fazia-me entender o caminho.

Foram dez anos juntos na estrada, no tra-balho e na vida, e imagino que ficaram grandes recordações. Mas gostava de sa-ber como era o Zeca no quotidiano, na re-lação com as pessoas, quais as situações que o inspiravam como criador.A memória de cada um é um baú… pessoal. Sei que era de uma sensibilidade rara em relação ao ser humano. Sobretudo em re-lação à fragilidade do próprio ser humano. Vivia e olhava o que presenciava mas tudo lhe ficava na memória. Penso que quase todos os arranjos dos seus temas iam be-ber ao que lhe ficava dessas memórias. Um dia o Zeca foi convidado para ir tocar

num teatro em Cangas (ou lá perto… não me recordo). Acontece que o concerto não foi anunciado e… estavam apenas 7 pessoas na plateia! Discutimos se devíamos tocar ou não – sugestão dos músicos – pois era prática no Teatro aqui em Portugal não se fazer a performance quando não há nú-mero justificativo de público. Mas o Zeca disse sim. Vamos tocar! E cantou! No final as 7 pessoas levantaram-se entusiasmadas e bateram-lhe palmas sem parar. Aí o Zeca agarrou na viola e – nunca tinha aconte-cido – cantou mais n músicas sozinho! Aí percebi que o Zeca deixou mesmo 7 ami-gos na Galiza!

Para além do engajamento político, ele era de facto um grande músico e um grande poeta, e aliás de uma modernida-de invencível. Achas que há consciência disso na cena musical actual? Do seu lu-gar excepcional na história da música e da poesia portuguesas?Ainda existe – creio – uma grande relutân-cia dos Portugueses – não os jovens, cla-ro – em considerá-lo mais músico do que “revolucionário”. A verdade é que era o que foi… As duas coisas! O Zeca não conseguia isolar o seu lado criativo da realidade dos cidadãos. Pessoalmente tenho pena que o seu lado musical – sobretudo a seguir ao 25 de Abril – não tenha sido considerado como inequivocamente merecia. A ver-dade é que José Afonso cantou inúmeras vezes no estrangeiro – abrindo as portas ao conhecimento da música que se fazia em Portugal (para além do fado) – como pioneiro – e a imprensa portuguesa não lhe atribui grande importância.

Aponta-se muitas vezes que o Canti-gas do Maio foi um disco marcante não apenas como ponto alto da sua carreira musical senão também como símbolo re-ferencial de uma nova geração de músi-cos portugueses, da que tu próprio fazias

parte junto de Luís Cília, Fausto, Vitorino, Janita Salomé, José Jorge Letria ou Sér-gio Godinho, que reconheciam em Zeca Afonso o impulso para um alargamento das expressões da música popular.Também gosto muito desse disco. A junção de Zeca ao Zé Mário foi muito importante. O Zeca gostava mesmo de trabalhar com mais jovens…! Era isso mesmo a imagem da sua eterna juventude!

Lembro uma noite, num daqueles jan-tares do João Luis, que falavas da pouca influência da música africana na músi-ca espanhola, o que contrastava com o acolhimento dos elementos africanos na vossa tradição. Nesse senso a música de Zeca Afonso é considerada por alguns críticos como grande precedente da cha-mada World Music, pela sua integração de elementos de procedência cultural di-versa. Ele próprio reconheceu em muitas ocasiões que o encontro com África fora decisivo na evolução da sua carreira mu-sical, assim como a sua peripécia vital no espaço colonial.Sou dessa opinião. Como disse à pouco José Afonso foi um fantástico embaixador cultural. Foi talvez o primeiro que mostrou ao mundo – nos Países onde tocámos – a música que tínhamos além do Fado. De facto em Portugal tivemos a sorte de con-viver com os Países Lusófonos em Africa. Infelizmente num horrível contexto. Ainda assim José Afonso foi pioneiro nesse “apro-veitamento” musical fruto da sua vivência em Moçambique. Também o Fausto foi im-portante nesta matéria.

Participaste no concerto do Coliseu de Lisboa, em 83, penso que o último do Zeca. Viriato Teles, no booklet que acom-panha a edição do concerto em Dvd, lem-bra o estremecimento deste verso “Águas das fontes calai, ó ribeiras chorai, que eu não volto a cantar” com o que a voz do

Entrevista publicada no Dioivo de 9 de Maio de 2012site: http://dioivo.eu/

Zeca comoveu a plateia. Como lembras as emoções daquele dia?Tenho tendência para esquecer as ques-tões mais emocionais. Foi um dia (situa-ção) fora do normal. O Coliseu era a maior sala de Lisboa, era o primeiro concerto de música deste género, era a grande emoção por parte dos organizadores e amigos e so-bretudo o facto de sabermos que o público já sabia que o Zeca estava doente. Certo é que todos viemos felizes para casa!

Mergulhando na net encontrei esta frase tua, dita em 91, a propósito do fascínio do Zeca Afonso pela música erudita e da sua sensação de inferioridade enquanto mú-sico popular. “O que a Arte nos provoca é isso mesmo: a noção do nosso exacto tamanho. A música não engana ninguém, muito menos um músico. A música é que não deixa um músico mentir.” Não achas que no caso de Zeca Afonso, música e verdade – essas duas grandes palavras – encontraram-se de um jeito sublime?O Zeca tinha um refinado sentido de hu-mor… Era um homem simples porém cul-to e de uma extrema sensibilidade para as coisas e para as pessoas. Ele sabia que a verdade e a mentira fazem parte da vida. E o que a música dá é só o que tu sentes quando a ouves. “Ainda bem que é verda-de, ainda bem que é mentira”…

Page 12: Jornal Terra da Fraternidade

Edição: ACERT Associação Cultural e Recreativa de Tondela Rua Dr. Ricardo Mota, s/n 3460-613 Tondela t. 232 814 400 | email: [email protected] site: www.acert.pt

Coordenação: José Rui Martins e ZétavaresImpressão: TondelgráficaAgradecimentos: AJA, João Luis Oliva e Tondelgráfica

1.000 ex.impressos em Julho de 2012

TONDELA Cidade sem muros nem ameiasEste sentido de uma Terra da Fraternidade está bem patente no conceito geral do Tom de Festa e, de forma particular, nesta 22ª edi-ção. O motivo é fácil de perceber: – Nunca um Tom de Festa envolveu nos es-petáculos da sua programação um envolvi-mento de tantos criadores da “casa” – mais de duas dezenas de músicos trabalharam em arranjos de idêntico numero de temas que irão ser interpretados (arranjos e execução musical em quatro dos espetáculos); cerca de uma centena de participantes no espetáculo comunitário teatro-musical de rua que abre o Festival: Filarmónica Tondelense, Coral Poli-fónico da Casa do Povo de Tondela, três gru-pos de teatro de amadores do Concelho: Teia (Alvarim), “Os Cestos” de Nandufe, adcr de S. João do Monte e atores “por conta própria” – uma semana de ensaios e construção ce-nográfica dirigida pelo Trigo Limpo teatro Acert e Marta Fernandes da Silva e dezenas de voluntários constroem o edifício cultural no Novo Ciclo: erguendo palcos, adaptando espaços, carpinteirando sonhos…

FAZ-TE SÓCIO DA ASSOCIAÇÃO JOSÉ AFONSO

site: www.aja.ptemail: [email protected]

Carta escrita por José Afonso, dirigida aos amigos que organizaram uma festa …no dia 27 de Janeiro de 1984, em Braga.Por não poder estar presente, leu-a em seu nome, Francisco Fanhais

(…) Mas esta festa não pode ser só uma homena-gem a um homem. Seria bem pouco. Tem que ser também, um encontro de pessoas que recusam a anestesia que o sistema nos quer impingir e, so-bretudo, um apelo à juventude para que mantenha sempre o espírito crítico e uma atitude de escla-recida resistência face aos pseudo-valores que a sociedade capitalista nos pretende impor.Se é certo que a situação actual, não é a mesma de antes do 25 de Abril, importa manter a capacidade de indignação e sermos capazes de rejeitar a hipo-crisia dos detentores do poder.Reafirmo a disposição de me deslocar mais tarde a Braga, onde espero encontrar os amigos, dialogar e conviver com os jovens e, com todos aqueles, para quem a justiça e a fraternidade são a razão da sua luta.

Obrigado companheiros,

Um abraço do Zeca

A Acert está bem acompanhada. Todos aqueles que a acarinham não se confinam à preparação do Festival. São plurais: Vêm de longe incentivos, palavras amigas, gestos fraternos e um parceria cordial da Comuni-dade e da Câmara Municipal de Tondela que demonstra que é através da cultura que o país do interior menos se diferencia do litoral, que mais destrói, esboroa, a ideia de que o inte-rior não é local de partida, mas de atração e fixação duma população ativamente empe-nhada em ser fraternalmente feliz.Com a cultura, em Tondela, aglutina-se sa-ber, conhecimento e cidadania participa-tiva!