JornalEco - 12ª edição / junho de 2011

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Jornal Laboratório Especializado em Meio Ambiente - Jornalismo/UNIFRA 12ª edição - Junho de 2011 O planeta ainda pode recuperar sua cor KARIN SPEZIA MARIANNA ANTUNES ARIÉLI ZIEGLER Avenida revitalizada? Corte de árvores na avenida Rio Branco divide população. Página 11 Campanha da Fraternidade chama a atenção para as urgências ambientais e mobiliza as pessoas para adotarem atitudes conscientes de preservação. Págs. 2, 3, 4 e contracapa O papel das escolas Públicas ou particulares, confessionais católicas ou não, as escolas cumprem a missão de preparar cidadãos mais conscientes. Páginas 5, 6, 7, 8 e 9

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Jornal Laboratório Especializado em Meio Ambiente - Jornalismo/Unifra

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Jornal Laboratório Especializado em Meio Ambiente - Jornalismo/UNIFRA 12ª edição - Junho de 2011

O planeta ainda pode recuperar sua cor

KARIN SPEZIA

MARIANNA ANTUNES

ARIÉLI ZIEGLER

Avenida revitalizada?

Corte de árvores na avenida Rio Branco divide população.

Página 11

Campanha da Fraternidade chama a atenção para as urgências ambientais e mobiliza as pessoas para adotarem atitudes conscientes de preservação.

Págs. 2, 3, 4 e contracapa

O papel das escolas

Públicas ou particulares, confessionais católicas

ou não, as escolas cumprem a missão

de preparar cidadãos mais conscientes.

Páginas 5, 6, 7, 8 e 9

2 Junho de 2011CAMPANHA DA FRATERNIDADE

EnqueteVocê conhece o tema da Campanha da Fraternidade? O que você acha da escolha?

EditorialA cada semestre, o Jornaleco traz para o público leitor mais

uma edição para apresentar, registrar e/ou questionar os proble-mas (ou soluções) ambientais mais próximos ou urgentes, nestes tempos de grandes discussões sobre o futuro do planeta. Foi as-sim quando registramos o crescimento das plantações de euca-liptos no RS, na edição de nº 7. Ou quando o Jornaleco discutiu o impacto da produção de alimentos na natureza, na 8ª edição. Também ampliamos o debate sobre a implantação dos contêine-res de recolhimento de lixo em Santa Maria, na 9ª edição, em de-zembro de 2009. Ou quando fizemos o levantamento do problema e das consequências das enchentes na região, no início de 2010 – tema da 10ª edição do Jornaleco. Na edição passada, no final de 2010, foi a vez dos estudantes de Jornalismo irem atrás das solu-ções que estão sendo implantadas para minimizar os problemas ambientais. Em 2011, qual seria o tema do nosso periódico espe-cializado em meio ambiente? Eis que se apresenta, no início do semestre, a divulgação da Campanha da Fraternidade, com o tema “Fraternidade e a Vida no Planeta”. A instituição “igreja” chaman-do para si o debate das urgências ambientais. Até que ponto é válido este chamamento? Qual o papel das instituições – igrejas, escolas – na conscientização dos problemas que a Terra enfrenta? O que os cientistas/pesquisadores pensam disto? E a população, está conseguindo ouvir o chamado e responder com atitudes mais conscientes? O Jornaleco foi conferir. O resultado está aqui, nesta 12ª edição, que compartilhamos com você. Boa leitura!

Expediente JornalEco - 12ª ediçãoJornal experimental produzido na disciplina de Jornalismo Especiali-zado I do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Franciscano

Reitora: profª Irani RupoloCoordenação do Curso de Jornalismo: profª Sione GomesProfessora orientadora: Aurea Evelise Fonseca Editores: jorn. Aurea Evelise Fonseca – Mtb 5048jorn. Iuri Lammel - Mtb 12.734Diagramação: acad. Laudia Bolzan (monitora do Laboratório de Multimídia) - Supervisão: prof. Iuri Lammel

Reportagens e textos: Aline Schefelbanis, Ariéli Ziegler, Bruna Ko-zoroski, Camila da Cunha, Camilla Compagnoni, Dandara Aranguiz, Denise Rissi, Djuline Seiffert, Eliana de Linhares, Emanuelle Bueno, Evelyn Paz da Silva, Fernanda Ramos, Franciele Bolzan, Giulianna Belmonte, Guilherme Kalsing, Iara Betim, Jefferson de Andrade, Kárin Spezia, Laudia Bolzan, Lidiana Betega, Luana Baggio, Luyany Beck, Marianna Ruchiga, Mateus Barreto, Michelle Teixeira, Pâmela Matge, Thassiani Porto, Thays Ceretta, Willian Correia

Fotos: Alice Bollick, Taís Iensen (Laboratório de Fotografia e Me-mória), Ana Paula Nogueira (Jornalista egressa da Unifra), Marcelo Figueiredo (Agência Central Sul), Ariéli Ziegler, Denise Rissi, Fer-nanda Ramos, Giulianna Belmonte, Guilherme Kalsing, Jefferson Andrade, Karin Spezia, Luana Baggio, Marianna Antunes, Willian Correia e arquivos da CNBB e Projeto Esperança/Cooesperança.Ilustração: Matheus Lima Bergesch (acadêmco PP/Unifra)

Fale Conosco:JORNALECO - Jornal Laboratório da disciplina de Jornalismo Especializado I do curso de Jornalismo do Centro Universitário Franciscano (Unifra)Redação: Agência CentralSul – sala 716 C, 7º andar do prédio 14 do Conjunto III da UnifraRua Silva Jardim, nº 1175 – Santa Maria – RSFone: (55) 3025-9040E-mail: [email protected] Você também pode acessar o JORNALECO na internet: www.agenciacentralsul.org

Impressão: Gráfica Gazeta do SulTiragem: 1000 exemplares Distribuição gratuitaJunho 2011

“Já tinha conhecimento do tema, sim, e acho que é um bom tema, e precisa mes-mo servir como alerta, in-clusive a frase que estam-pa o cartaz da campanha é bem chocante, e tem que ser esse mesmo o intuito, para alertar as pessoas, comparando a dor do par-

to com o que a natureza sofre”.

Amanda Rosado, estudante

“Não conhecia o tema. A Igreja é um meio muito grande e poderoso, e deve mesmo usar desse poder para conscientizar as pes-soas, mas acho que falta mais divulgação, pois é um assunto tão em evi-dência e mesmo assim as pessoas não se compro-

metem em melhorar suas atitudes”.

Vinicius Massoco, estudante de Filosofia

“Já tinha ouvido falar sobre o tema. Vejo com bons olhos porque além da reflexão so-bre a problemática ambien-tal que vivenciamos, tam-bém atua com mecanismos que conscientizam, pois a campanha é trabalhada por educadores em escolas e universidades, instigando os

estudantes a buscarem uma solução de minimizar ou resolver os danos já causados ao ambiente”.

Francisco Bastos, engenheiro ambiental

“Já tinha ouvido falar do tema. Acredito que é muito importante sim, mas não é divulgado como deveria e também não acredito que co-lherá muitos resultados pois ainda falta muito interesse e conscientização por parte das pessoas, que não levam a sério que o mundo pede so-

corro. Assistimos na TV o que acontece e mesmo assim as pessoas fingem não saber”.

Vera Eunice Silva, professora

“Não conhecia. Não poderiam ter escolhido tema melhor em decorrência dos proble-mas ambientais no mundo inteiro. Esta campanha deve servir como alerta à socieda-de que o aquecimento global e os assuntos ligados ao meio ambiente nunca estão solu-cionados ou fora de moda”.

Fellipe Foletto, estudante de Teatro

“Não sabia. O tema não fun-ciona. A maioria das pessoas não têm conhecimento. Im-portante é, mas infelizmen-te as pessoas não colocam em prática, fica só na teoria. Também acho que essa cam-panha não é muito divulgada, seria ótimo se fosse levada mais a sério”.

Sandra Teixeira Salvany, bacharel em Direito

“Não. E também não tenho ouvido falar muito sobre a campanha, mas tenho conhe-cimento do tema. Na minha casa a religião é bem comen-tada, pois meu pai é ministro de eucaristia. Acredito que a Igreja tem que se comprome-ter de alguma forma, devido à sua importância por atingir

grandes grupos, e nos dias de hoje, nada melhor que falar sobre o meio ambiente”.

Marielle Flôres, jornalista

“Não conhecia. Isso tem que ser feito para as pes-soas novas entenderem e mudarem a situação. E tomara que a Campanha da Fraternidade ajude as pessoas a pensar melhor sobre isso, pois nossos fi-lhos não têm culpa do que hoje a população faz, e de-

veríamos deixar um planeta mais sustentável e limpo para eles”.

Julierme Vieira, professor de Educação Física

A enquete foi realizada no dia 4 de abril de 2011, no centro de Santa Maria.

“Não sabia. Mas esse assun-to é muito importante e as pessoas precisam se cons-cientizar. O meu filho não entende por que eu separo o lixo e justamente os jovens que mais precisam entender e colocar em prática, não colocam e mal sabem o que acontece no mundo.

Inês Bianchini, dona de casa.

“Já tinha ouvido falar. O tema é importante, pois ocorre uma catástrofe atrás da outra, e a maio-ria é culpa da ação do homem. As campanhas deveriam ser mais divul-gadas e realizadas com mais frequência, mobili-zando mais as pessoas”.

Lionéle Lima, estudante de Fisioterapia

Fernanda Ramos Iara Menezes

Lidiana Betega

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3Junho de 2011CAMPANHA DA FRATERNIDADE

A fraternidade em favor da vida no planetaSomos chamados a preservar a natureza e criar consciência social

Quer ajudar o planeta? Siga as dicas► Faça a coleta seletiva do lixo► Poupe água e energia► Use produtos biodegradáveis► Evite a troca desnecessária de um celular, computador ou televisão► Estimule o plantio de árvores ► Use sacolas retornáveis► Dê preferência a transportes coletivos► Não jogue lixo nas ruas ► Vai viajar? Antes de sair, desligue o gás, a água e aparelhos eletrônicos da tomada.

Em primeiro plano a natureza viva e ao fundo atos errados do homem

DIVULGAÇÃO DA CAMPANHA

Conscientizar a popu-lação por um planeta melhor. Essa é tare-

fa principal da Campanha da Fraternidade 2011 (CF 2011), que traz como tema “A Fraternidade e a Vida no Planeta”.

Anualmente a campanha é lançada após o carnaval, na quarta-feira de cinzas, exa-tamente 40 dias antes da Páscoa. Pro-movida pela C o n f e r ê n c i a Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), tem como lema “A cria-ção geme em dores de par-to”, uma referência ao versí-culo bíblico encontrado na carta do apóstolo Paulo aos Romanos, no capítulo 8, ver-sículo 22.

Segundo o arcebispo de Santa Maria, Dom Hélio Ru-bert, o lema faz uma compa-ração com a gestação huma-na. “As dores do parto podem ser tanto para o bem quanto para a morte, depende do cuidado de cada um”, completa.

A campa-nha é uma oportunida-de para abrir os olhos das pessoas e quest ionar a sociedade em geral e todas as re-ligiões sobre a situação de vida do planeta. “A organização das cidades precisa re-solver o saneamento básico, coleta e reaproveitamento de lixo. É necessário um traba-lho de conscientização e edu-cação da sociedade toda”, diz o arcebispo.

Os problemas ambientais crescem na medida em que as cidades vão se industria-lizando, e, em consequência

disso, fenômenos ligados à destruição da natureza se agravam: efeito estufa, doen-ças respiratórias, extinção de ecossistemas e vários outros problemas.

Para o padre Antônio Bo-nini, a meta da campanha é criar maior conscientização na sociedade sobre a situa-ção do planeta. “A Campanha

da Fraterni-dade não quer resolver o problema, ela quer contri-buir através de uma cons-cientização”, diz o padre Bonini.

O lema “A criação geme

em dores do parto” remete a vários fatos que abalaram o planeta, como o terremoto que atingiu a costa nordes-te do Japão, gerando tsuna-mi, em março deste ano. No Brasil, a natureza não sofreu tanto quanto o Japão, mas tragédias como a ocorrida na região serrana do Rio de Ja-neiro no mês de janeiro e a enxurrada em São Lourenço

do Sul, loca-lizada a 200 q u i l ô m e t ro s de Porto Ale-gre, às mar-gens da Lagoa dos Patos, deixaram cen-tenas de famí-lias desabri-gadas.

A estudante Ágata Jaques acha impor-tante a cam-panha ter se p r e o c u p a d o com a natu-reza. “Dentro do possível,

procuro não poluir o meio ambiente. Acho que faz fal-ta uma maior divulgação da campanha”, diz a estudante.

Denise Rissi Franciele Bolzan

Luyany Beck

Meta da campanha é criar maior conscientizaçãoambiental

DENISE RISSI

Dom Hélio Rubert

4 Junho de 2011

LUANA BAGGIO

CAMPANHA DA FRATERNIDADE

Educar e conscientizar: este é sempre o obje-tivo da Campanha da

Fraternidade. Em 2011, por meio do lema “Fraternidade e a Vida no Planeta”, a Igreja Católica ressalta que apesar de muito discutidas, as ques-tões de preservação do meio ambiente ain-da se mostram pouco efica-zes, e que com educação e maior dedica-ção é possível traçar objeti-vos na busca por resultados imediatos e em longo prazo.

“O tema pertinente à épo-ca em que estamos vivendo” é um dos pontos destaca-dos pelo padre Ruben Natal Dotto. Responsável pela Pa-róquia do Rosário, em Santa Maria, pe. Dotto usa termos bíblicos para explicar a es-colha do tema da campanha neste ano: “Jesus disse que veio para que tenhamos vida. E não qualquer tipo de vida. E a Igreja para ser fiel a Je-sus, deve tra-balhar a vida”, enfatiza o pá-roco em defe-sa às severas críticas que a comunidade católica rece-beu por abordar este assun-to em sua campanha anual.

“Muitos disseram que a Igreja não deveria participar deste tipo de assunto que envolve questões políticas, mas infelizes acontecimentos como os ocorridos em São Lourenço do Sul e no Japão,

mostraram que qualquer ajuda é necessária”, ilustra o padre que tem noção da pos-sibilidade de educar para um futuro melhor. “São pequenos atos que geram mudanças em toda uma comunidade”, enfa-tiza. O padre explica que a Campanha da Fraternidade

acontece todo ano durante a quaresma e que “este perí-odo é um cha-mado à con-versão, àquilo tudo que de-vemos seguir sempre”.

Enquanto al-guns se mostram contrários à campanha, a grande maioria se mostra empolgada com a possibilidade de fazer algo. “Muitos fiéis acham que é justamente este o papel da Igreja”, conta o padre empol-gado. “A Igreja quer desper-tar a fraternidade e mostrar que podemos nos contentar com pouco”, declara ele, ao comentar que os problemas

a m b i e n t a i s que sofremos hoje se dão, em muitos ca-sos, por uso em excesso e sem consci-ência. “A au-sência de fra-ternidade nas pessoas é um

grande problema”, destaca pe. Dotto, lembrando que a Igreja sempre foi um lugar para se aprender e que esta educação consciente é um fa-tor a ser trabalhado em todas as comunidades.

A repercussão na vida das pessoas

Apoiado na citação bíblica “a criação geme em dores de parto” (Romanos capítulo 8, versículo 22), o sermão tem conseguido impactar os fiéis. “A escolha da Igreja por este versículo foi fundamental para realmente atrair as pes-soas”, ressalta Ledi Pereira, que passou a fazer a coleta seletiva do lixo em sua casa, com o inicio da campanha. “Sempre quis colaborar em questões ambientais, mas só agora me senti motivada”, confessa Ledi.

“Logo que li o título da cam-panha não imaginava do que

se tratava, mas com exemplos simples dados pelo padre sobre a realidade do mun-do atual, passei a entender a intenção da Igreja”, conta Fernanda Camponogara. Os exemplos cita-dos por Fernan-da referem-se às recentes catás-trofes no Japão e região serrana do Rio de Janei-ro, que mesmo ocorridas após a escolha do tema, passaram a validar ainda mais o assunto defendido pela Campanha da Fraternidade.

Há ainda as pessoas que ti-veram acesso à campanha fora da Igreja. Este é o caso de Ricardo Rossato, que sou-be da campanha pela televi-são. “Não sou católico, mas o tema me chamou atenção, pois é um problema que vivenciamos hoje”, conta. Rossato acredita que toda a publicidade televisiva da campanha não se limitará aos fiéis católicos. “A iniciativa da Igreja Católica vai fazer as pessoas pensarem mais so-bre o assunto, independente de religião, pois o planeta é um bem comum”, avalia.

Aprendendo para ensinar

Engana-se quem pensa que a Campanha da Fraternidade é envolta em sermões prepa-rados e limitados. Para cada ano, são realizados grandes estudos sobre o tema e sua melhor forma de execução dentro de cada paróquia. O pe. Dotto contou ao JornalE-

co, que no dia 28 de dezem-bro de 2010, toda diocese, composta por mais de 200 pessoas só na região de Santa Maria, estava reunida para o estudo da campanha da fra-

t e r n i d a d e , para decidir que linhas iria explorar e que metas traçar.

R e u n i õ e s e atividades fora da Igre-ja também marcam este p r o c e s s o junto da co-m u n i d a d e . “Muitos fa-zem previ-sões apoca-lípticas, mas

acredito que a humanidade pode fazer muito por nosso planeta”, enfatiza pe. Dotto confiante que com a Palavra de Deus e a conscientização social são possíveis grandes resultados.

Igreja formadora de opinião

A campanha da fraternida-de deste ano também rece-be a aprovação de quem en-tende e estuda em benefício de nosso am-biente. Para a engenheira florestal Marí-lia Lazarotto, que trabalha na área de Fi-t o p a t o l o g i a - proteção de espécies flo-restais, o en-volvimento da Igreja neste tipo de questão é de grande valia, tendo em vista a influência que a reli-gião exerce sobre a popula-ção. “A Igreja, além de ensi-nar e pregar valores morais e de boa conduta, também é uma formadora de opiniões. Por isso, sua participação em forma de campanhas, es-pecialmente as campanhas da fraternidade em que as discussões sobre um deter-minando tema perduram por um ano, são uma ótima forma de conscientizar e de motivar seus fiéis a partici-parem de debates e, princi-

palmente, a modificar hábi-tos cotidianos que provocam o desperdício de recursos naturais”, avalia Marília.

A entrada da Igreja nesta luta deve resultar em efeitos positivos, acredita a enge-nheira: “Os problemas am-bientais não são gerados em um lugar distante ou ape-nas pelas grandes nações e, portanto, alheios à nossa responsabilidade. Eles são consequência de nossas es-colhas diárias e, por isso, espero que a Igreja enfoque justamente neste aspecto”. Marília faz Doutorado em Silvicultura pela UFSM e res-salta que a humanidade, de uma forma geral, tem o hábi-to de culpar o “outro” pelos erros, quando a reflexão de-veria ser em cima de outras perguntas: “O que eu faço em minha vida que pode afetar o planeta negativamente? Como eu posso modificar meus hábitos para colaborar com o meio ambiente?”.

Sobre as críticas negati-vas feitas à Igreja por estar abrigando esta campanha, Marília rebate com outra per-gunta: “Onde é o lugar certo

para discus-são deste as-sunto? Consi-derando que o tema meio ambiente é de interesse e provoca trans-formações da vida de todos, esta discussão poderia ocor-rer tanto na Igreja quanto em qualquer outra institui-ção social”. A educação

proposta pela campanha, as-sim como demais informa-ções sobre o assunto devem ser sempre buscadas, como ressalta a doutoranda: “sem-pre devemos nos informar a respeito do assunto em fontes seguras, que apresentem da-dos confiáveis e sugestões de ações que realmente irão cola-borar para a conservação dos recursos e da vida no planeta”.

Djuline Seiffert Luana Baggio

Willian Correia

Campanha da Fraternidade convoca as pessoas a refletirem sobre seus atos

Comece por você

Padre Ruben Natal Dotto

Marília Lazarotto

Ricardo Rossato

Ausência de fraternidade é um grande problema da vida atual

A igreja também deve atuar como formadora de opiniões

Fernanda Camponogara

WILLIAN CORREIA

WILLIAN CORREIA

WILLIAN CORREIA

5Junho de 2011

A infância é considerada a fase mais importante de nossas vidas. Pensar em

um mundo melhor é imaginar que, desde pequenos aprende-mos valores fundamentais como o respeito, o amor e o cuidado com o próximo.

A Campanha da Fraternidade deste ano busca contribuir para a conscientização da população sobre as questões ambientais, como o aquecimento global e as alterações climáticas. O Jorna-lEco encontrou uma instituição que batalha diariamente para que o ideal de um mundo me-lhor possa vir a se concretizar. Uma união de pessoas que ba-talham para o fortalecimento da luta contra a destruição do planeta.

Sinos de BelémA importância de estabelecer

uma consciência ecológica des-de cedo é uma das prioridades da Escola Municipal de Ensino Infantil (EMEI) Sinos de Belém. A escola iniciou com um grupo de 50 alunos, mas hoje esse nú-mero já subiu para 220.

Muitas instituições se envol-vem diariamente com o trabalho oferecido pela escola. A diretora Sandra Kemerich faz questão de ressaltar as parcerias e agra-decer a todos que colaboram: “deram-nos uma semente e nós temos que tratar bem dela, para que dessa semente cresçam ou-tras”, orgulha-se.

Para a diretora, é fundamental que os pais se envolvam com as

atividades da escola. Por este motivo, no início do ano letivo realizam-se reuniões entre os professores e as famílias a fim de definir o calendário escolar.

Grupos pequenos são organi-zados para que todos exponham suas ideias, além de planejar eventos e gincanas. “Essa intera-

ção com as famílias é importan-te. A escola se preocupa com a opinião e com o que os pais es-peram”, explica Sandra.

As crianças Melina, Miriam, Carlos e Luiza, todos de 5 anos, demonstram muita empolgação com as atividades, especialmen-te com as plantações. “A escola é boa e quem faz isso é a gente. Junto com as professoras e nos-sa família”, conta Miriam.

Um exemplo de famíliaA presidente da Associação

de Pais e Mestres, Ângela Maria Vargas de Carvalho, também é mãe de Carlos, um dos alunos da Sinos de Belém. Além dele, tem mais duas filhas e conta como funciona o desenvolvimento pedagógico dos filhos integrado com a vida em família.

“A educação começa em casa, a escola é um complemento”, afirma ao narrar a dedicação

de Carlos com as irmãs no dia-a-dia. Ângela ainda conta que as atitudes de Carlos estão só melhorando. “Fiz teste em casa. Joguei um pedaço de papel no chão e ele e me repreendeu na hora”.

A filha Bruna também passou pela Sinos de Belém e, de acor-do com Ângela, saiu da escola não só lendo e escrevendo mas, principalmente, levando valores que continuarão com ela por toda a vida.

Ângela faz questão de afirmar que está satisfeita. Realça que esse conhecimento ecológico é valioso e que quando os filhos ficarem maiores e forem para outras escolas, levarão adiante o exemplo aprendido na Sinos.

Ela dá a dica de que é impor-tante para as crianças receber atenção e que os pais muito ocu-pados devem conseguir, no mí-nimo, perguntar como foram as atividades das crianças. “Eu não digo perder, mas sim ganhar, dez ou quinze minutos do dia com seu filho, porque tudo que ele aprender na escola ele vai levar para a vida.”

Consciência de consumoO coordenador do Progra-

ma de Atenção Integrada de Psicolo-gia (PAIP) da Unifra e p s i c ó l o g o Carlos Al-berto Déci-mo Martins, e s c l a r e c e que os mé-todos de ensino uti-lizados an-t i ga m e n te , não funcio-nam mais da mesma ma-neira. “Hoje nós estamos vendo que esse modelo ‘escola educando sozinha ou só a família educando’, não funciona. Essa educação tem que ser em conjunto.”

Carlos explica que todo conhe-

cimento que é implantado desde pequeno tende a funcionar me-lhor, ou seja, acaba criando uma consciência que faz parte da rotina e, automaticamente, dos valores de cada um.

A estagiária do PAIP e estudan-te de Psicologia, Caren Gutheil, diz que a criança precisa criar uma consciência crítica de con-sumo, saber o que é realmente necessário e o que é supérfluo.

“A criança tem que aprender não somente a colocar o lixo no lixo, mas principalmente saber como se produz o lixo e o que é lixo”, diz o professor Décimo. Os psicólogos enfatizam que

as crianças estão sendo t r a n s p o r -tadas para um mundo adulto e que p r e c i s a m a p r e n d e r a relação de causa e efeito desde pequenas , “para cuidar da grande casa onde nós mora-mos: o nos-so planeta Terra”.

Ariéli Ziegler Camilla Compagnoni

Eliana Linhares

ESCOLAS

Trabalho integrado da escola e da família gera resultado e dá esperançaFOTOS: ARIÉLI ZIEGLER

Parceria para o futuro

A mãe Ângela com alunos da escola

Ângela Maria Carvalho, presidente da Associação de Pais e Mestres

Lixeiras separam o lixo reciclável

As crianças Melina, Miriam, Carlos e Luiza

6 Junho de 2011

Iniciativas sustentáveis, cidadãos conscientesProjeto desenvolve consciência ambiental a partir do lixo eletrônico

A sustentabilidade é o maior desafio da vida moderna. É também necessidade

imediata para continuarmos vi-vendo em um planeta saudável. Os recursos naturais dão sinais de esgotamento, uma vez que a lógica capitalista se sobrepõe à preservação ambiental. É o nosso desejo de consumo em detrimen-to de uma consciência coletiva.

Assim, se pode imaginar que a produção de lixo se torne cada vez maior e este montante obso-leto só tende a piorar as coisas. Mais do que correto, torna-se obrigatório que ao menos saiba-mos como proceder com o lixo que criamos. Dar o destino devi-do para o que já não serve mais, além ser previsto em lei no Bra-sil desde o ano passado, deve nortear as consciências limpas.

A Escola Marista Santa Marta atenta para a questão ambiental e desenvolve, desde 2006, um projeto pioneiro em Santa Ma-ria, o Centro Marista de Inclusão Digital (CMID). De acordo com o coordenador, Algir Facco da Sil-va, “em 2006 os irmãos maristas sentiram a neces-sidade de cons-truir junto à esco-la um trabalho de inclusão digital. Sendo assim, foi criado o centro que oferece para a comunidade um telecentro para acesso à internet, oficinas de Robó-tica Livre, Meta Arte e montagem e manutenção de computadores”.

O CMID iniciou suas ativi-dades em 2007 e atualmente atende 120 crianças e jovens. Segundo Facco, o objetivo do projeto é “oportunizar a inclu-são digital e acesso a tecnolo-gias da informação para jovens e adultos da Nova Santa Marta, propiciando um espaço profis-sionalizante de formação téc-nica”. O grande diferencial da iniciativa desenvolvida no bair-ro é que, além de proporcionar o contato com o mundo digital para essas crianças, o projeto trabalha com elas a questão ambiental na teoria e na prá-tica, relacionando os avanços tecnológicos com a sustentabi-lidade.

A ação acontece por meio das aulas de Meta Arte, em que

os jovens produzem obras de arte utilizando o lixo eletrônico como matéria prima. Além da finalidade artística, é dado um destino ecologicamente correto para os resíduos tecnológicos.

CMID a serviço da comunidade

Uma parceira do projeto CMID é a GR2 Gestão de Resíduos, res-ponsável pelo destino correto das peças eletrônicas que sobram das oficinas de Meta Arte. “A maioria desses objetos são utilizados em nossas aulas, o que nós não ocu-pamos é repassado para a empre-sa GR2 que dá o devido destino a esses materiais”, afirma Facco. A empresa tem como razão fazer a sua parte por um planeta susten-tável, auxiliando pessoas e em-presas de Santa Maria e região a destinarem seus lixos eletrônicos de maneira consciente.

De acordo com o coordena-dor do CMID, os alunos desen-volvem além de um aprimo-ramento técnico, um serviço social, que auxilia também na

manutenção da cidade: “a ma-téria usada nas nossas ofici-nas é o que a c o m u n i d a d e santa-mariense despreza como lixo eletrôni-co. A questão ambiental é a m p l a m e n t e trabalhada em nossas oficinas mostrando aos jovens a possi-bilidade de se

reaproveitar esse material que poderia ser jogado no lixo co-mum e poluir a natureza”, afir-ma.

Com a criação da Política Nacional dos Resíduos Sólidos, aprovada em lei em agosto de 2010, surge, além da necessi-dade, a obrigatoriedade do tra-tamento e destino correto deste tipo de lixo. Prova desta mobili-zação em que o país todo se une em prol da questão ambiental é o tema da Campanha da Frater-nidade deste ano: “A Fraternida-de e a Vida no Planeta”.

Campanha e a consciência ambiental

Na Escola Marista Santa Mar-ta, a Campanha da Fraternidade é trabalhada o ano todo. Segun-do Ivonir Antonio Interatori,

diretor da escola, a campanha é contemplada nos projetos em sala de aula e também pela Pastoral Escolar que realiza en-contros de formação humana e cristã, onde os estudantes apro-fundam temas como relações

humanas, vivência de valores, avaliação de projetos pessoais e debates sobre temas ligados à valorização da vida e da trans-formação social.

De acordo com o irmão, a escola aborda os temas da

Campanha da Fraternidade “procurando despertar nos alunos a consciência e a im-portância do cuidado e pre-servação da vida, também com atividades concretas”.

Diante da problemática am-biental da campanha, o CMID desenvolve ações junto aos alu-nos, como: o recolhimento e aproveitamento do óleo de co-zinha, de materiais como pilhas, lâmpadas, baterias de celulares, além da triagem de materiais re-cicláveis que são entregues para uma associação de recicladores.

Um jovem que participa des-tas atividades é Maurício Apo-linário Moraes. Ele estuda na Escola Marista desde 2002 e frequenta as oficinas do CMID há dois anos. Moraes conta que em 2010 participou do curso de Informática Básica: “resolvi en-tão me inscrever na oficina de Metareciclagem. Estou gostan-do muito do curso porque ele é bem prático”.

Segundo o aluno, a liberda-de para mexer nas máquinas utilizadas nas oficinas facilita o aprendizado. Sobre os exer-cícios realizados no projeto, afirma: “Gosto da arte feita com cobre e dobradura, é divertido e um dia pode ser uma profissão”.

Giulianna Belmonte Michelle Teixeira Thassiani Porto

FOTOS: GIULIANNA BELMONTE

Alunos desenvolvem atividades do projeto Meta Arte

Laboratório CMID profissionaliza moradores da Santa Marta

Coordenador do projeto Algir Facco

7Junho de 2011

Iniciativas sustentáveis, cidadãos conscientes

O preto e branco das pri-meiras fotografias, além de estampar os álbuns

antigos, passa a representar uma realidade assustadora do mundo. Devastação das flores-tas, poluição dos rios, deserti-ficação, aumento da emissão de gases poluentes. Retrato de um planeta menos verde e azul que está, aos poucos, “pe-dindo” ajuda. E, para transfor-mar o futuro, nada melhor do que começar conscientizando aqueles que irão herdá-lo.

O aqueci-mento glo-bal é uma questão que precisa ser discutida na área política, social e, prin-cipalmente , educacional. Algumas escolas confessio-nais de Santa Maria levam esse tema ambiental às salas de aula, enriquecendo a discussão na comunidade.

O Colégio Franciscano Sant’Anna trata do ambienta-lismo de maneira interdiscipli-nar. “Os projetos da educação infantil são muito importantes, pois formam consciência am-biental nos alunos”, sustenta a coordenadora das séries ini-ciais do colégio, Helena Rohde. Destacam-se projetos como: cuidado com a água, obser-vação dos recursos naturais, plantio de sementes, confec-ção de lixeira individual com materiais recicláveis e confec-ção da sacola ecobag para que os alunos possam carregar os alimentos cultivados por eles no Sítio Franciscano. “Essas ações incentivam as crianças a

interagir com o meio ambiente e, desta forma, elas aprendem a cuidá-lo”, ressalta Helena.

Espaço verde incentiva preservação

Helena Rohde destaca o Agroecologia como um dos principais projetos da escola. Dentro dessa proposta, os alu-nos da educação infantil visi-tam o sítio do colégio de 15 em 15 dias. Lá, podem conhecer diferentes tipos de solo e de

plantas, intera-gindo com o meio ambiente. Para ela, é importante que, nas séries iniciais as educa-doras busquem abordar todos os temas de forma mais didática. “Os estudantes aprendem hábi-

tos saudáveis e ecológicos para serem praticados em casa e na escola”, afirma.

Em visita ao Sítio Francisca-no, o aluno do nível B, Arthur de Moraes, 5 anos, se diz con-tente por participar da ativida-de. “Gostei de plantar porque aprendo a cuidar da natureza”. Seu colega, João Pedro Lima, da mesma idade, também fala que adora as atividades realizadas no sítio. “É muito legal porque aprendo muitas coisas, posso até experimentar as saladas colhidas aqui”, comenta. Sob a orientação das professoras Lan-da Salbego e Jaqueline Werle, a turma visitou a horta e pôde re-gar as mudas plantadas por eles na visita anterior. Isabela Rodri-gues, 5 anos, se mostra orgulho-sa ao molhar o canteiro. “Minha turma plantou alface, alguns pe-zinhos já estão crescendo”.

Força para projetos ambientais

A professora do 3º ano do En-sino Médio do Colégio Sant’Anna, Suzana Dellamea, afirma que o material da Campanha da Frater-nidade está sendo utilizado para estimular os alunos. Existem projetos de reaproveitamento do óleo de cozinha, de recolhimento de lixo eletrônico e experiências demonstrativas de fenômenos naturais, como a chuva ácida. “Agregamos o tema da Campanha com projetos já em andamen-to na escola, a fim de fazer com que as iniciativas ultrapassem os limites do colégio e atinjam tam-bém as famílias e a comunidade santa-mariense”, afirma.

Em anos anteriores, o Colé-gio Marista Santa Maria pro-moveu diversos projetos em defesa do meio ambiente. Essas iniciativas abrangem desde sé-ries iniciais até os alunos do En-sino Médio. O projeto Cuidando da Vida surgiu para criar uma consciência ecológica dentro da comunidade escolar, através da implantação de lixeiras pro-duzidas com material reciclado pelos próprios alunos.

Dedicado às crianças, A Su-cata Artística é um projeto que busca dar vida à imaginação dos pequenos, estimulando a responsabilidade ambiental por meio da reciclagem. Oficina de restauração de brinquedos é

outra iniciativa verde da escola que proporciona a integração entre as turmas do Ensino Fun-damental e Médio. A ação pro-move uma campanha de arre-cadação interna de brinquedos para serem restaurados pelos alunos e doados. Além de refor-çar o caráter solidário, a iniciati-va reforça a ideia dos “3 erres”: reduzir, reaproveitar, reciclar.

Práticas sustentáveisOs professores das séries

mais avançadas do Colégio Sant’Anna trabalham o tema da Campanha da Fraternidade buscando relacioná-lo com os conteúdos de cada disciplina. Com os alunos do 6º ano, por exemplo, o professor de Ciên-cias e Biologia, Diego Rigon, está abordando a importância da água em diversos aspectos. “Um dos focos do nosso traba-lho é a água virtual, aquela uti-lizada no processo de produção de tecidos, alimentos e produ-tos variados”. Além disso, o pro-fessor estimula os estudantes a

calcularem o consumo de suas casas e reduzí-lo.

O 2º ano do Ensino Médio pretende produzir um docu-mentário sobre o meio ambien-te. Rigon afirma que os alunos farão trilhas ecológicas para co-nhecer diferentes ecossistemas. “Desta forma eles ficarão mais próximos do meio ambiente e entenderão a importância dele para nossas vidas”. No decorrer do projeto, os estudantes vão registrar as trilhas por meio de fotos e produzir painéis para expor na escola.

No Colégio Santa Maria, o pro-fessor de Robótica e Informática Denilson Moro coordena o proje-to Casa Sustentável com outros colegas professores. Essa iniciati-va foi lançada em 2010 e ganhou força com a temática da Campa-nha da Fraternidade. O objetivo da ação é incentivar os alunos a pensar em estratégias sustentá-veis e colocá-las em prática uti-lizando uma casa em miniatura. “O projeto está sendo realizado por estudantes do 8º ano do En-sino Fundamental ao 3º ano do Ensino Médio”, acrescenta Moro, que reúne os alunos em encon-tros semanais para que possam discutir e executar suas ideias.

Emanuelle Bueno Marianna Antunes

Crianças e jovens têm o poder de ajudar a colorir a realidade da TerraFOTOS: MARIANNA ANTUNES

Alunos do Colégio Sant’Anna trabalham na horta do Sítio Franciscano

Prof. Denilson Moro e a casa que os alunos do Colégio Marista Santa Maria tornarão sustentável

Gostei de plantar porque aprendo a cuidar da natureza

Os estudantes aprendem hábitos saudáveis e ecológicos

8 Junho de 2011

Alunos da educação infantil aprendem a cuidar da horta no Colégio Centenário

ANA PAULA NOGUEIRA

Alguns dos animais da fazendinha do Colégio Adventista de Santa Maria

ESCOLAS

Religião e meio ambiente aliadas por um bem comum

Horta, fazendinha, estu-do sobre o lixo, rumo a ser dado ao óleo de

cozinha, como usar o mate-rial reciclável. O JornalEco foi conferir como as escolas con-fessionais não católicas lidam com o assunto meio ambiente.

Horta orgânicaO Colégio Metodista Cente-

nário tem um projeto intitula-do Bioética. O projeto aborda questões relacionadas ao meio ambiente, especialmente o pro-blema do lixo. Os professores enfocam a temática ambiental nas suas disciplinas. Em Quí-mica, por exemplo, abordam os efeitos químicos dos detri-tos na natureza. Em Biologia e Ciências, trabalham a decom-posição dos materiais do lixo e incentivam que os alunos usem produtos biodegradáveis.

A escola também possui uma horta, feita pelos alunos da ter-ceira série, que levam as mudas conforme orientação dos pro-fessores. Existe ainda uma equi-pe que monitora os estudantes para que tudo seja finalizado até a chegada do inverno. A co-ordenadora pedagógica, Mar-lova Garcia, destaca que cada turma cuida do seu canteiro. “A importância do meio ambiente é trabalhada no colégio desde a Educação Infantil”.

Os alunos recebem orienta-ções da importância dos alimen-tos plantados e aprendem que estes são livres de tudo que pre-judica a terra, o planeta e o meio ambiente, como os agrotóxicos.

No final do inverno, após a

colheita dos alimentos da horta, como a alface, por exemplo, os alunos levam presunto, queijo e pão e fazem um sanduíche cole-tivo com a verdura que eles mes-mos plantaram e colheram.

Destino certo ao óleoA Faculdade Metodista de

Santa Maria (Fames) possui dois projetos na área ambiental: um é o recolhimento de óleo e o outro proporciona oficinas de artesanato e aproveitamento de material reciclável.

O recolhimento de óleo é feito em diversos pontos da cidade, como o Lar das Vovozinhas, en-tre outros. A faculdade desen-volve este projeto no Instituto Metodista de Ação Social (Imas), no bairro Noal. Após a coleta, o Imas envia o óleo para a Asso-ciação do Instituto Reto que re-passa o material a uma empresa de Canoas que trabalha com bio-diesel e com combustível.

A professora da disciplina de Gestão Ambiental e Res-ponsabilidade Social, Márcia Bandeira, diz que “a preocu-pação é mais no sentido de conscientização, que este óleo não vá para água, pia, vaso sa-nitário e diferentes destinos errados que as pessoas dão”.

Transformar em fonte de ren-da o que é considerado lixo

O segundo projeto saiu da sala de aula e se tornou um projeto de extensão da Fames. Surgiu no curso de Adminis-tração, na disciplina de Gestão Ambiental e Responsabilidade Social e, atualmente, também

é desenvolvido no Imas, onde são oferecidas oficinas, como de artesanato e de aproveita-mento de material reciclável.

A ideia é passar para a comunida-de maneiras de aprovei-tar e trans-formar em fonte de ren-da o que é considerado lixo e gerar a conscienti-zação de quanto tempo leva para este material se decompor. “No artesanato trabalhamos com garrafas pets, caixas de leite, pois sabemos que estes demoram muito tempo para se decompor, além de serem volumosos”, co-menta a professora. Tudo que é produzido nas oficinas, os parti-cipantes podem levar para casa. “É uma forma deles mostrarem o que produziram e até exporem lá fora o que são capazes de fa-zer com isso”, afirma Márcia.

O trabalho que a Fames reali-za na comunidade está surtindo efeitos. O resultado mais satisfa-tório que a Faculdade Metodista vê no desenvolvimento desse projeto é o envolvimento, a em-polgação dos alunos e da comu-

nidade. “Quando a gente percebe que os alunos estão retornando na próxima semana, para fazer a mesma oficina ou para apren-

der algo diferente é bastante gratifican-te”, declara Márcia.

Contato com a terra e valoriza-ção do meio am-biente

O Colégio Adven-tista de Santa Maria também possui dois projetos am-

bientais: cultivo da horta e plan-tio de árvores. O primeiro come-çou há cerca de uma década e visa que o aluno interaja com o meio ambiente e descubra como é estar em contato com a terra. Os estudantes que participam deste projeto são de quinta e sexta série. As técnicas usadas para manter a horta são a adu-bação e defensivos orgânicos, além de estufa e matas laterais. O professor e capelão da es-cola, Carlos Prestes, trata da parte mais técnica da terra, para deixar a atividade mais lúdica para as crianças. “Em um primeiro momento são produzidos alface, rúcula, rabanete e tempero verde”, afirma Prestes.

O segundo projeto também procura despertar nos alunos o respeito pela natureza e en-siná-los a valorizar a ecologia. Os estudantes que interagem neste projeto são do ensino médio. As espécies plantadas são: cedro, canela e araucária. As técnicas usadas para man-ter as mudas das árvores são: adubação, defensivos orgâni-cos e irrigação.

Em junho do ano passado, como parte de encerramento da Semana do Meio Ambien-te foram plantadas mudas de árvores nativas da região, no bairro Nonoai. O terreno onde foram plantadas as mu-das de árvores possui mais de vinte espécies: dez guavi-rovas, um chauchau, seis pi-tangueiras, um ipê roxo, um jacarandá e um angico.

O Colégio Adventista ainda possui uma fazendinha, or-ganizada também há quase uma década. Hoje as crianças podem se divertir com a com-panhia de tartarugas, coelhos, carpas, ovelhas, patos, um pô-nei, entre outros animais.

Aline Schefelbanis Evelyn Paz

Laudia Bolzan

Escolas e faculdades estão engajadas em projetos de conscientização ambiental

Escolas não católicas também investem em projetos ambientais

TAÍS IENSEN

9Junho de 2011ESCOLAS

A filosofia da campanha da fraternidade em sala de aula

A campanha da fraterni-dade sempre foi consi-derada desde seu início,

em 1964, um divisor de pen-samentos dentro da sociedade brasileira. Nas duas primeiras fases da campanha, entre 64 e 84, a igreja preocupou-se com questões referentes à sua estrutura e à realidade social, denunciando o que entendia como pecado social e promo-vendo a justiça. Só a partir da terceira fase, em 1985, a igreja voltou-se para situações exis-tenciais do povo brasileiro.

O meio ambiente nunca es-teve tão em evidência como nos últimos dez anos. Por isso, a igreja resolveu pensar nes-se assunto para a campanha da fraternidade. Catástrofes naturais que aconteceram no país fizeram com que especia-listas e estudiosos alertassem para futuros problemas que a devastação da natureza pode trazer no futuro. A igreja ca-tólica vendo esse quadro re-solveu neste ano colocar como assunto principal de debate da campanha da fraternidade a natureza e o meio ambiente, como o tema “Fraternidade e a vida no planeta”.

Os entusiastas da campa-nha querem levar o debate e a conscientização para além da sociedade civil já adulta. O principal foco deste ano é trabalhar a consciência e as questões do planeta com as fu-turas gerações e a escola acaba sendo o principal mentor de transmissão desta mensagem e discussão sobre o tema.

O cuidado permanente de Fátima

Nos colégios de orientação católica o assunto tem boa re-percussão. No Colégio Fátima, o tema vem sendo abordado desde o início do ano letivo. É o que explica a diretora, irmã Cleusa Cosarin. “Logo no início das aulas, os pro-fessores tomaram conheci-mento do tema da campanha. Após isso, foram orientados a

realizar os trabalhos de clas-se com foco na campanha. E independente disso, a esco-la sempre teve uma filosofia voltada aos cuidados com o meio ambiente”, comenta.

Cleusa salienta que todos os trabalhos desenvolvidos durante o ano estão, de algu-ma maneira, relacionados ao tema, pois é algo que já faz parte da filosofia de trabalho da escola. Pelos corredores e salas de aula é possível obser-var lixeiras de coleta seletiva, trabalhos ma-nuais feitos com materiais reciclados e o jardim impecá-vel comprovam o interesse que a escola tem pelo ambiente.

A diretora afirma que o tema está sen-do tratado em todos os níveis de educação que a escola possui, bási-co, fundamen-

tal e médio. “A escola sempre buscou mostrar aos alunos a i m p o r t â n c i a do respeito ao meio ambien-te. Os alunos sempre foram orientados a ter um pensa-mento ecologi-camente cor-reto”, ressalta Cleusa.

O colégio está aproveitando o momento propício e lançou sua

própria cam-panha, que está sendo pla-nejada pelas coordenações e professores conselheiros de turma. Se-gundo a coor-denadora do ensino médio, Nilva Gaspa-rotto, os traba-lhos desenvol-vidos em sala serão apresen-tados para to-dos os alunos.

O meio ambiente segundo a visão franciscana

O mesmo pensamento se faz presente na filosofia de trabalho do Colégio Fran-ciscano Sant’Anna. Segundo a Irmã Fátima Leiva, a preo-cupação com o ecossistema sempre foi a preocupação de São Francisco de Assis e a escola não poderia deixar de abordar e ter uma filosofia de trabalho sobre o assunto.

No Sant’Anna, a campanha da fraternidade é trabalhado em todos os níveis de ensino e de maneira conjunta dos professores. Os da área das Ciências Naturais e Física formam o projeto, que passa por uma análise da direção.Então é trabalho por todos os professores, cada um re-lacionando com sua área e abordagem com cada série de modo distinto. O profes-sor de Filosofia, por exem-plo, se prende a trabalhos de discussão e busca de solução dos problemas lembrando muito o passado.

Os materiais usados pelo colégio Sant’Anna tem uma visão do próprio colégio, pois eles entendem que essas

são questões que devem p e r m a n e c e r sempre em discussão na educação dos alunos. Mas como esse ano a CNBB desenvolveu materiais e

produtos com o tema, a es-cola optou por aplicar os ví-deos e a cartilha que a igreja desenvolve.

“Não temos como ficar apenas com o material vin-do campanha, pois isso dei-xa muito limitado o trabalho dos nossos professores. É por isso que também nós produ-zimos o nosso material com a filosofia da escola e esse é o nosso diferencial de traba-lho do meio ambiente e da campanha da fraternidade”, ressalta Irmã Fátima.

Guilherme Kalsing Jefferson Andrade

Religião e natureza em discussão

JEFFERSON ANDRADE

O jardim é uma das marcas registradas do Colégio Fátima

Ir. Cleusa Cosarin, diretora do Colégio FátimaNas duas escolas é possível observar as lixeiras de coleta seletiva

Os cuidados com o meio ambiente estão na filosofia das escolas

GUILHERME KALSING

GUILHERME KALSING

10 Junho de 2011

As feiras coloniais atraem grande público

FOTOS: DIVULGAÇÃO DO PROJETO

PROJETO ESPERANÇA/COOESPERANÇA

Em Santa Maria, uma organização sem fins lucrativos fortalece a

organização, a produção, a ecologia, a geração de trabalho e renda, a economia solidária, a agricultura e a agroindús-tria familiar. É o Projeto Espe-rança/Cooesperança, que tem por finalidade a articulação e o fortalecimento de um novo modelo e desenvolvimento solidário sustentável e de in-clusão social.

Os empreendimentos soli-dários sobrevivem com o fru-to do seu próprio trabalho - o projeto serve como ponte para esses empreendedores, que sobrevivem através da comer-cialização de seus produtos. Não faz parte da proposta do Projeto a comercialização de produtos terceirizados, o obje-tivo é a relação direta entre o vendedor e o consumidor.

A divulgação do cooperativismo

A organização do Proje-to Esperança/Cooesperança realiza todos os sábados, no centro de referência de eco-nomia solidá-ria Dom Ivo Lorschei ter, um “feirão colonial” para todos os tra-b a l h a d o r e s v i n c u l a d o s poderem co-m e r c i a l i z a r suas merca-dorias. O fei-rão é aberto a todos que qui-serem conhecer ou consumir os produtos coloniais.

Neste ano, o maior evento do Projeto é a 7ª Feira de Eco-nomia Solidária do Mercosul, onde os países do Mercosul irão trazer outras cooperativas para divulgar e possivelmente ven-

der seus produtos e juntos con-fraternizarem em uma grande celebração. A feira ocorre nos dias 8, 9 e 10 de julho, no Cen-tro de Referência em Economia Solidária Dom Ivo Lorscheiter.

O agricultor de Caçapava do Sul, Gilberto Rosa, 56 anos, já frequentou a feira dos sábados várias vezes e é seu segundo ano na feira do Mercosul. Gil-berto comenta que é contra os produtos terceirizados, pois ele acredita que muitos são jo-gados fora e você nunca sabe o que está consumindo, e que o grande diferencial da feira co-lonial é o fato de você conhecer pessoalmente quem produziu determinado alimento.

Solidariedade para todosO Projeto Esperança/Coo-

esperança age através da Eco-nomia Solidária, que tem sua base no associativismo e do co-operativismo, e apesar de ser um modo de organização de determinadas atividades eco-nômicas, visa à valorização do ser humano e não do capital.

Segundo a irmã Lourdes Dill, responsável pelo Espe-

ra n ç a / C o o -e s p e r a n ç a , o projeto busca forta-lecer novas ideias, tal qual o desen-vo lv i m e n t o solidário e sustentável, para o bem comum do

homem e do meio ambiente. É através de pequenos pas-sos que o projeto auxilia os produtores rurais e urbanos, como a organização de pe-quenos grupos, a formação de alternativas de consu-mo sustentável e, por fim, a produção e comercialização

coletiva a partir de feiras. O projeto também age no âmbi-to das políticas públicas, por meio da venda de alimentos para a merenda escolar, cozi-nhas comunitárias e restau-rantes populares.

“O desenvolvimento deve ser para todos, não só para pe-quenos grupos de empresários. E para ele ser pra todos é pre-ciso levar em conta as questões ambientais e a socialização dos bens produzidos. Hoje em dia, os grandes patrimônios da hu-manidade, a água, a terra e a se-mente, estão na mão de poucos. Isso não é desenvolvimento, isso é apropriamento”, ressalta Irmã Lourdes.

Cultura da morteUm dos principais objetivos

do projeto diz respeito ao plan-tio do fumo. A luta que começou há 21 anos, com o bispo Dom Ivo Lorscheiter, busca alterna-tivas para a cultura do fumo, denominada por ele de “cultu-ra da morte”. Além dos malefí-cios causados pelo tabagismo, um dos fatores mais preocu-pantes da cultura do fumo é o grande uso de agrotóxicos nas lavouras de tabaco, que é muito prejudicial à saúde.

Para que estes danos sejam diminuídos, o projeto Espe-

rança/Cooesperança propor-ciona alternativas para os pro-dutores que têm a maior parte de seus lucros no plantio do fumo, como a tentativa de uma nova fonte de renda através de hortigranjeiros, criação de ani-mais, plantação de sementes e diversificação de suas lavouras. Segundo Irmã Lourdes, muitos agricultores já trocaram a cul-tura do fumo por uma das alternativas, e estes têm seu ganho princi-pal nas feiras de economia solidária e agricultura fa-miliar.

“Ao invés de o produtor ter uma renda somente anual, gerada pelo plantio do fumo, hoje ele pode ter uma renda semanal através das feiras”, afirma irmã Lourdes.

Laço FraternoNão foi só neste ano que o

tema da Campanha da Frater-nidade - Fraternidade e a vida no planeta - coincidiu com os objetivos do Projeto Esperan-ça/Cooesperança. Em 2010, com o tema “Economia e vida”, o projeto teve forte ligação

com a campanha por seus pla-nos de Economia Solidária.

O tema do último ano serviu para preparar o terreno para a campanha atual, que trata de assuntos mais urgentes, como o aquecimento global e a conscientização ambiental. De acordo com irmã Lourdes, ambos os temas são muito im-portantes, pois despertaram

reflexão sobre as causas am-bientais e a proteção dos bens naturais. E embora ain-da não haja uma grande resposta por parte do povo ao Projeto E s p e r a n ç a /

Cooesperança e à Campanha da Fraternidade, os resultados atingidos são satisfatórios, e de acordo com um provérbio afri-cano, citado pela própria irmã Lourdes, “Muita gente peque-na, em muitos lugares peque-nos, fazendo coisas pequenas, mudarão a face da terra”.

Matheus Prado Mauricio Saldanha

Raul Kurtz Cezar

A semente da mudançaO compromisso de um projeto com a sustentabilidade e a solidariedade

O desenvolvimento deve ser para todos e levar em conta questões ambientais

Momento de oração em reunião do projeto

Os grandes patrimônios - água, terra e semente - estão na mão de poucos

11Junho de 2011AVENIDA RIO BRANCO

Para sensibilizar a so-ciedade sobre a impor-tância da preservação

das florestas para a garantia da vida no planeta, a Orga-nização das Nações Unidas (ONU) declarou que 2011 é, oficialmente, o Ano Interna-cional das Florestas.

Segundo dados do Progra-ma das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) as florestas representam 31% da cobertura ter-restre do pla-neta, servindo de abrigo para 300 milhões de pessoas de todo o mundo. Garante, ainda, de forma dire-ta, a sobrevi-vência de 1,6 bilhões de seres humanos e 80% da biodiversidade ter-restre. Em pé, as florestas são capazes de movimentar cerca de 327 bilhões todos os anos, mas infelizmente as atividades que se baseiam na derrubada das matas ainda são bastante comuns em todo o mundo.

Considerando todas as ações positivas e negativas que ocorrem no meio ambien-te, o futuro do planeta é incer-to. O engenheiro ambiental Sandro Luciano Fensterseifer afirma que, quando se trata do destino das florestas, o ser humano está em constante processo de aprendizagem. “O homem está aprendendo com os erros que cometeu no passado. Assim está desen-volvendo uma consciência de que a capacidade de susten-tabilidade do nosso planeta é restrita.” Ele diz também

que quando o homem atingir esse limite de sustentabili-dade, irá se adequar à nova realidade. “A adaptação será inevitável”, conclui o enge-nheiro ambiental.

Avenida no centro da polêmica

Uma dessas mudanças am-bientais que está causando impacto aos olhos da popu-lação é o processo de revi-

talização da avenida Rio Branco, em Santa Maria. O prefeito Ce-zar Schirmer assinou, no fi-nal de janeiro, uma ordem de serviço que autorizou o

início da obra. Para que essa ação fosse executada, foram retiradas várias árvores do local. De acordo com o secre-tário de Proteção Ambiental, Luiz Alberto Carvalho Jr, foi inevitável a retirada das ár-vores, primeiro pelo aspecto técnico. “Avaliamos o risco iminente de queda. Árvore rural é uma coisa, urbana é outra”, afir-ma. Segundo o secretário, os critérios uti-lizados para a remoção des-sas plantas foram os pro-blemas gera-dos pela altura de algumas espécies, as raízes grandes e principalmente possibilidade de queda. “O que tínhamos lá eram árvores exóticas, de

plantio florestal, inadequa-das para um centro urbano. Havia pinnus mortos, com risco de cair.” Ele também en-fatizou o respaldo do Minis-tério Público e do Conselho Municipal do Meio Ambiente (Condema). “Não é o secretá-rio que está derrubando, é o Conselho que exige”, diz.

Já o empresário Paulo Ri-cardo do Couto ficou indig-nado com a derrubada das árvores. “Não era necessária aquela obra. Além de estarem destruindo o meio ambiente os tapumes tiram a visibili-dade do motorista na hora de fazer o retorno na Rio Bran-co, tornando o trânsito um caos”, argumenta.

Apesar dos riscos ofereci-dos, o engenheiro agrônomo Galileo Adeli Buriol lembra que um centro urbano não pode ficar sem arborização. “A vegetação é termorregu-ladora, assim, nos centros urbanos ela ameniza as tem-peraturas máximas e míni-mas. Essa é a função de sua transpiração e também da condutibilidade térmica de suas folhas.” Ele comenta ou-

tras funções positivas das árvores. “Elas também re-têm a água da precipitação pluviométrica e proporcio-nam maior infiltração da água no solo.

Com isso ocorre uma dimi-nuição e retardo do escoa-mento superficial da água das chuvas”, explica.

Porém o secretário Carva-lho Jr. esclarece que serão plantadas novas árvores, não só na avenida Rio Branco, mas em toda a cidade. “Va-mos plantar mais de duas mil árvores nativas, não só nos canteiros centrais, mas nas calçadas.” Ele afirma que será tudo dentro da lei. “Foi criada uma Medida de Compensação Vegetal que estabelece que para cada árvore removida, deverão ser plantadas quinze outras”, enfatiza.

Bruna Kozoroski Camila Cunha

Karin Spezia Mateus Barreto

Cortes no centro da polêmicaRevitalização derruba quase uma centena de árvores

Cortes de árvores marcaram o processo de revitalização da Rio Branco

Fase final da execução da primeira etapa das obras na avenida

Canteiro devastado no período entre as derrubadas e o início das obras

ALICE BOLLICK

MARCELO FIGUEIREDO

KARIN SPEZIA

O que pensa a população?

“Acho que a revitalização já deveria ter sido feita há muito tempo. Do jeito que estava era impossível ficar. A tendência é melhorar, vai ficar legal. Mudaram nós de lu-gar e tiraram nossa sombra sagrada”.

Paulo Siqueira, taxista

“A Rio Branco vai ficar muito mais bonita. Essa obra deu um ar de limpeza à cidade. Sem contar que agora vamos ter um lugar bom para tomar um mate”.

Graziela Cirolini, tesoureira do HSBC Bank Brasil

“A avenida até vai ficar mais bonita, mas acho que eles não precisavam ter cortado todas aquelas árvores. Foi um crime contra a vida. Fiquei horrorizada quando vi que cortaram aquela castanheira linda que tinha na esquina da ATU.

Miria Pereira, enfermeira

Atividades baseadas na derrubada de árvores ainda são comuns

Especialista diz que um centro urbano não pode ficar sem arborização

A urgência acaba por ul-trapassar o confronto entre religião e ciência.

A Campanha da Fraternidade 2011 chega para consagrar um momento e oportunidade únicos nessa relação. O tema Fraternidade e a Vida no Pla-neta apela para a reflexão da responsabilidade ambiental como uma obrigação de todos.

As preocupações com o aquecimento global, mudan-ças climáticas e com o meio ambiente de modo geral, atingiram em larga escala todo o planeta. Biólogos, me-teorologistas e especialistas cientes de tal gravidade e de suas consequências lançaram olhares sobre pesquisas e al-ternativas para o já instaura-do caos ambiental que a nossa geração presencia.

Ignorar esses acontecimen-tos, potencializados pela ação irracional do homem, signifi-caria desconsiderar o próprio futuro. Neste contexto, dois aspectos são fundamentais para se pensar as questões ambientais: o cientifico, onde se gera e aplica o conhecimen-to; e o educacional, onde se dá a sua propagação. É, pois, nes-se último aspecto que a Igreja atua como um forte dispositi-vo de alcance.

O Brasil caracteriza-se por ser o país com mais adeptos ao catolicismo em todo o mundo. De acordo com uma pesqui-sa realizada pelo Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas (FGV), cerca de 74% dos brasileiros são católicos. Isso equivale a 126 milhões de pessoas. Não há como negar o grande poder de mobilização que a Igreja. O professor de Engenharia Am-biental da Unifra e Ph.D em Engenharia de Água e Solo, Afranio Almir Righes, destaca a importância do número de pessoas atingidas pela Cam-panha da Fraternidade.

A apropriação do discurso

de especialistas para promover a discussão em torno de alter-nativas em prol da preservação não é inválida. O meio ambiente é um patrimô-nio de todos. “A Igreja mobiliza muitas comuni-dades propon-do atividades e mudanças comportamen-tais em relação ao ambiente e à valorização do ser humano”, ressalta a pro-fessora de Biologia do Colégio Politécnico da UFSM, Terezinha Tronco Dalmolin.

Limitações: Campanha com prazo de validade?Não é a primeira vez que o meio ambiente é pautado pela

Campanha da Fraternidade. O debate se amplia ao re-pensar o teor de preocupa-ção da Igreja na defesa do tema. Na opi-nião da bióloga Lauren Mina-

to, mestranda em Educação, as propostas levantadas pela campanha parecem impreci-sas. “Por que a Igreja não pos-

sui essa atitude diariamente, sem necessidade de campa-nhas? Agora com a questão do novo Código Florestal, por exemplo, não vejo a presença de religiosos manifestando-se sobre o assunto”.Uma das limitações da campa-nha, conforme alguns cientis-tas, é o fato de que a Igreja não foca seu discurso nas grandes indústrias de consumo e cor-porações que são as maiores poluidoras. “Reciclar o lixo, economizar água, não muda enquanto o próprio modelo de sociedade que existe não se modifica. São coisas que não têm forças suficientes para

alterar mecanismos da socie-dade que geram isso”, defende Renato Aquino Záchia, profes-sor do curso de Biologia da Universidade Federal de Santa Maria. Vale também, discutir um dos modos de divulgação da Campanha. Os panfletos, além de não serem distribuí-dos de forma gratuita, não são feitos de papel reciclado.

Quanto aos efeitos a médio e longo prazo, o que parece prevalecer é uma recicla-gem gradativa na forma de pensar e agir, o que implica na própria conscientização. O professor de Climatologia Ambiental da Unifra, Galileo Adeli Buriol, pontua: “Não adianta ser radical. A lingua-gem do padre, por exemplo, é simples e fácil de entender. Além da motivação, temos aí o despertar, que é o mais difí-cil”. Ele explica que o grande e primeiro passo é fazer com que as pessoas pensem e, sobretudo, despertem para a “alfabetização ambiental”. Galileo considera uma boa iniciativa da Igreja encam-par esses temas, desde que amparada na ciência. Há in-divíduos alheios a qualquer movimento de preservação. Isso pode valer desde a se-paração do lixo doméstico até a elaboração de projetos sustentáveis.

A Igreja deve manter-se em sintonia com o discurso por ela propagado. Contudo, o que a legitima para falar sobre as questões ambientais? Righes afirma: “Na verdade compe-tência seria para os técnicos. Então, ao meu ver, a Igreja vai abordar, ela vai mobilizar uma ação que deverá envolver pes-soas que entendam do tema.”

Dandara Flores Thays Ceretta

Pâmela Rubin Matge

Mas até quando?

Ciência e religião juntas pelo meio ambiente

Este é o momento de reflexão e conscientização de todos no sentido da preservação do meio em que vivemos

As pessoas deveriam despertar para a alfabetização ambiental

ARTE MATHEUS BERGESCH

Jornal Laboratório Especializado em Meio Ambiente - Jornalismo/UNIFRA 12ª edição - Junho de 2011