JORNALISTAS DAS CAPITAIS ... -...

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IMPRENS A JORNALISMO & COMUNICAÇAO - ANO 17 - N' 184 - SETEMBRO / OUTUBRO DE 2003 - RS 6,00 ESPECIAL PESQUISA JORNALISTAS DAS CAPITAIS BRASILEIRA S AVALIAM PROFISSÃO E GOVERNO LUL A BON I "DE FRENTE COM GABI " MOSTRA PORQUE AIND A ESTÁ N A VANGUARD A DA TV VÍDEO - REPORTAGE M A ORIGE M MARCO S FLORA AS NOVAS AGENCIAS DA SECOM SIDNEI BASIL E E OS CAMINHO S DO JORNALISM O ECONÔMICO

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IMPRENSAJORNALISMO & COMUNICAÇAO - ANO 17 - N' 184 - SETEMBRO / OUTUBRO DE 2003 - RS 6,00

ESPECIAL PESQUISAJORNALISTAS DAS CAPITAIS BRASILEIRA SAVALIAM PROFISSÃO E GOVERNO LULA

BON I"DE FRENTECOM GABI "

MOSTRAPORQUE AINDA

ESTÁ NAVANGUARDA

DA TV

VÍDEO-REPORTAGEMA ORIGEM

MARCO SFLORA

AS NOVASAGENCIAS DA

SECOM

SIDNEI BASILEE OS CAMINHOSDO JORNALISMOECONÔMICO

ENTREVISTA

Jornalismo é um bom negóci oENTREVISTA : MARIANA DUCCIN I

FOTOS : ADOLPHO VARGAS

A expressão serena e a voz baixa modulam um raciocínio fluente, em que as idéias simplesment ese encadeiam. Interlocutor que o velho Marx possivelmente apreciasse, já que conversar com el elembra mesmo um exercício dialético. Até de bom humor ele "sofre", coisa rara em pessoas qu elidam com assunto espinhoso, principalmente no Brasil : economia . Aos 35 anos de jornalismo -ofício que começou na Folha de S.Paulo, sob a "regência" de Cláudio Abramo - Sidnei Basile é ,atualmente, diretor-superintendente da Unidade de Negócios Exame, da Editora Abril . Além dapublicação homônima, a UN é responsável pela revista Você S .A. Basile é, também, ex-professo rda Faculdade Casper Libero, onde, segundo diz, aprendia mais do que ensinava . Como resultad odas aulas, escreveu o livro : Fundamentos de jornalismo econômico, mas se preocupa ao notar qu eos aspirantes a jornalistas são os mais suscetíveis a crise, pela incerteza que demonstram em relaçãoao mercado. Ele, no entanto, parece seguro ao afirmar: "Por incrível que pareça, jornalismo est aem alta" .

IMPRENSA - Atualmente, o senhor é di-retor-superintendente da Unidade de Ne-gócios Exame, da Editora Abril. 0 que odiretor-superintendente Sidnei Basil eapreende ou apreendeu do repórter Sid-nei Basile?Sidnei Basile - (risos) . É uma boa ques-tão. Eu acho que o repórter Sidnei Basileficou como uma espécie de "grilo falan-te" do editor, lembrando para ele a im-portância que existe, nesse trabalho d ecoordenação das revistas, em ouvir a spartes, assegurar o direito de defesa e ,ao mesmo tempo, manter a isenção, aindependência, com responsabilidade ,que são as bases da credibilidade e d ainfluência de qualquer publicação . Essaé uma regra clássica do jornalismo que ,felizmente, acho que não foi revogada .Não é o fato de termos mergulhado nasnovas tecnologias, na convergência dasmídias, no uso intensivo da internet, n aevolução das telecomunicações, nada dis-so tornou obsoletas essas regras da litur-gia do bom jornalismo. Isso continu aigual, como sempre foi, porque é o qu ealicerça a confiança que o leitor tem o unão tem em você . Isso depende de vocêjornalista, de você repórter, de você edi -

tor. Esse é o compromisso que a gentetem aqui na Exame e, certamente, o com-promisso da Abril .

IMPRENSA - Existe, no Brasil, uma grandequantidade de publicações específicas deeconomia . São, pelo menos, dois grandesjornais, Gazeta Mercantil e Valor Econõ-

mico, e várias revistas, como a própriaExame, América Economia, IstoÉ Dinhei-

ro. Há espaço para todos? O mercado ab-sorve esse número de publicações seg-mentadas?Basile - A experiência recente está mos-trando que não. A experiência tradiciona lbrasileira é referenciada por um grandejornal de economia, a Gazeta Mercantil, epor uma grande revista de economia enegócios, a Exame . Depois disso surgi umais um jornal, o Valor, na seqüência, ou-tro, que e o DCI (Diário do Comércio eIndústria), feito por bons profissionais .Além disso, temos, como você falou, ess avariedade de revistas . O mercado de pu-blicidade, que dava sustentação a toda sessas publicações, diminuiu muito . Então ,você tem mais publicações e menos mer-cado publicitário . A resposta . . .eu deixopara os seus leitores (risos) .

IMPRENSA - 0 brasileiro vive, no que dizrespeito a economia, uma fase de pessimis-mo generalizado, com as taxas de desem-prego batendo os 13% nas áreas metropo-litanas, de acordo com o IBGE . Ness econtexto, quais as dificuldades de se pro-duzir uma revista como a Você S.A ., falar dopara o " leitor pessoa fisica", sem que as ma-térias caiam num discurso vazio?Basile - Olha, uma revista como a Voc êS.A . foi utilíssima nos momentos de cres-cimento econômico e continua muito úti lnos momentos de recessão, porque el ase dispõe a falar com o profissional libe-ral, com o empreendedor, com o prof is-sional CLT, de forma a auxiliá-lo a ve rque alternativas ele tem diante dessa cri -se . A crise já aconteceu . Os empregos jáforam embora . A dificuldade, a adversi-dade, já bateram à porta . Diante dessesdados empíricos, o que é que você faz ?Há pesquisas que mostram que o Brasi lse tornou o segundo país mais empre-endedorista do mundo, isso medido pel onúmero de empresas que são abertas acada ano. Estima-se em 500 mil esse nú -mero. Desse total, a mortalidade, ao fi-nal do primeiro ano de vida, é imensa :80% . Sobram, então, 100 mil . O que es -

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SIDNEI BASILE :

"A crise já aconteceu . Os empregos já foram embora .A dificuldade, a adversidade, já bateram à porta . Diante desses

dados empíricos, o que e que você faz? "REVISTA IMPRENSA N° 184 - SETEMBRO/ OUTUBRO 2003 11

sas pessoas precisam desenvolver? Qu eaptidões, que habilidades, que compe-tências? Você ainda precisa levar em con -ta que, enquanto as grandes empresa sestão demitindo, a pequena empresa ,quando começa, precisa de vendedores,de secretária, de pessoas que exerça mfunções básicas, o que vai se sofistican-do à medida que a empresa cresce. De-senvolver o empreendedorismo é um doscaminhos para você encontrar ou reen-contrar o rigor do crescimento econô-mico e do número de empregos . Quemvai puxar isso são as micro e pequena sempresas, eu não tenho dúvida, embo-ra não se possa desprezar as variáveis ma -cro-político-econômicas, porqueessas tendem a fazer com qu eos grandes setores saiam inves-tindo e produzindo. Ainda h ámuito a se fazer na área de in-fra-estrutura. Mas onde prova-velmente sentiremos maior vigo rno crescimento de empregos énas micro e pequenas empresas .Outra coisa : as grandes empre-sas terceirizam suas atividades .Toda vez que uma atividade éterceirizada, por um lado, pes-soas são demitidas . Por outro ,abrem-se as possibilidades de es-sas mesmas pessoas passarem aprestar serviços. De novo, caímosna hipótese mencionada - as pequena sempresas passam a ser prestadoras da sgrandes . Uma revista como a Você S.A .dedica-se a examinar essas hipóteses d ese viabilizar a vida profissional das pes-soas .

IMPRENSA -As matérias de economia, nogeral, tomam-se distantes do repertóri odo leitor comum, porque usa termos téc-nicos, jargões, linguagem quase cifrada.Isso se deve a uma tradição, a falta de pre -paro ou a interesses diversos desses?Basile - Acho que está na origem . O jor-nalismo econômico moderno, no Brasil,

surgiu no final dos anos 60, começo dos70. Na época em que tínhamos censur aaos meios de comunicação . Até mesmoo noticiário de polícia era minuciosamen-te controlado . Por outro lado, vivíamosuma fase de grande crescimento econô-mico . Os investidores internacionais que -riam emprestar dinheiro ao Brasil, a ocontrário do que ocorre hoje . Na déca-da de 70, o Brasil teve períodos em qu ecresceu a taxas de 10% ao ano . Você ti-nha um potencial noticioso muito gran -de . Então, na origem, havia uma opor-tunidade noticiosa na área de economi ae negócios e, por outro lado, havia u mdesejo das autoridades - sobretudo da s

Na década de 70, você tinh aum potencial noticios o

muito grande. Então, n aorigem, havia uma

oportunidade noticiosa n aárea de economia e

negócios e, por outro lado ,havia um desejo da s

autoridades - sobretudo dasautoridades econômicas -em controlarem o discurso .

autoridades econômicas - em controla -rem o discurso . Foi aí que se cunhou otal do "economês", porque quando vocênão queria explicar, ou não podia, emportuguês, arrumava alguns eufemismose metáforas. Era uma outra forma d ecensura . Mas surgindo a oportunidad ede uma cobertura sensata, acho que aimprensa econômica fez um belo traba-lho, explicando, realmente, do que se tra-tava aquele crescimento eufórico que vi -vemos nos anos 70 . Pessoas como Joelmi rBetting, Matias Molina, Celso Pinto . . .

IMPRENSA - Aloisio Biondi?

Basile - Aloisio Biondi! Sem dúvida ,aquela curiosidade intelectual do Aloi-sio era imensa. . . essas pessoas foram im-portantíssimas para fazer com que o lei -tor comum tivesse condição de entende ro que estava se passando . A Lilian WitteFibe, a Mirian Leitão .. .são todos profis-sionais que se empenharam demais e mcontar de um jeito que as pessoas en-tendessem o que era aquela complexi-dade . Acho que, na média, a conjunturado jornalismo econômico melhoro umuito . Agora, você tem um aperto na sredações que é muito grande e que, à svezes, constrange o jornalista . Ele ficadependurado no telefone, é passivo ,

ouve e reproduz . A competiçãofaz com que o protagonismo danotícia passe para o emissor dainformação, a fonte . As fontes,aliás, se organizaram muit opara emitir as informações dojeito que elas querem . Nós, jor -nalistas, ficamos um pouco mai sdefensivos como instituição, euacho . Talvez os caminhos que agente tenha a frente devam se rpautados por uma retomada dovigor de apuração, de verifica -ção, de investigação mesmo . Enão cair no lugar-comum, nãoser pautado pelos outros .

IMPRENSA - Quando as fontes diziam, porexemplo, que no Brasil não havia desem-prego, mas "crise de empregabilidade",ou que não havia inflação, mas "depreci-ação relativa de preços", como no gover-no FHC, e a mídia simplesmente repro-duzia isso, haveria uma lógica d einteresses em se agir assim?Basile - Quando se está diante de umaquestão como essa, que é : "há uma cri -se de emprego ou há um crise de em-pregabilidade?", é definir direito os ter-mos, fazer entrevistas, submeter ao leito ressa questão, para que ele possa enten -der. Não se trata de antagonizar com a

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fonte, necessariamente, mas de explica rpara o leitor quais são as opções que afonte está dando a ele . Opções de racio-cínio . Cláudio Abramo foi meu primeirochefe na Folha de S. Paulo . Perguntado,uma vez, "O que é o jornalista?", ele res-pondeu : "Jornalista, meu filho, é quempergunta" . Parece que há uma inversãodo nosso trabalho, porque com o pes orelativo dos meios de comunicação, fi-camos tentados a exercer diversas espé -cies de protagonismo . Nós achamos qu eé conosco mesmo, que nós é que temosde dizer como as coisas vão ser ou dei-xar de ser. A gente é vítima de arrogân-cia quando faz isso . Se eu vou entrevis-tar o Ministro da Fazenda, tenh oabsoluta certeza de que o leitor da re -vista Exame não tem o menor interesseem saber o que o Sidnei Basile acha d ainflação, dos juros, da recessão, da basemonetária . Ele quer saber o que o Mi-nistro tem a dizer a respeito . A idéia d eque o jornalista deve estar apto a ouvi ras partes, o maior número possível de-las, para que o leitor faça suas escolhas ,é muito democrática . Muito mais difíci lde ser realizada, porque é óbvio que, s evocê tiver uma idéia, decidir que ela é aboa e verdadeira, e publicar a sua idéi acomo se notícia fosse, é muito mais sim-ples, muito mais adaptável a tempos d erecessão . Ao fazer isso, você estará su-bestimando a inteligência do leitor, por-que a mensagem sub-reptícia que est ápassando é a seguinte : "Sabe, leitor, nofundo, queria te dizer que você é umimbecil . Você não tem condições de jul-gar nada, por isso, não preciso ficar caçan -do diversas versões . Deixa eu te dizer oque você deve pensar" . Tudo isso seria óti -mo se os leitores realmente fossem idio-tas e a experiência mostra que eles nãosão. São pessoas inteligentes, que queremser respeitadas. E a maneira de se respei -tar o leitor é dar a ele as opções para queele faça seu próprio julgamento . Para mim ,isso é o sinônimo de jornalismo .

IMPRENSA - E os agentes econômico squerem se fazer claros para o leitor?Basile - Acho que essa é uma boa ques-tão para eles . Se eles forem mais claros ,melhor para eles a longo prazo, eu acho .Há um ditado romano que diz : lnterpre-tatio cessat in claris, ou seja, "a interpre-tação cessa com a clareza" . Quanto maisclaro alguém for, menos espaço deix apara interpretações dúbias. A questão d eas fontes serem claras ou não é delas,agora, nós temos que perseguir a clare-za, sempre, porque é isso que se esperade nós . É esse o nosso negócio e a noss amissão . Acho até que obedece a um rit-mo biológico . Quando você vai dormir,de noite, você se desliga do mundo, mer-gulha na ausência . Só que o mundo con-tinua girando, as coisas continuam acon-tecendo. Quando você acorda, est aprecisando de algo para beber, algo paracomer, mas tem mais alguma coisa de qu evocê tem necessidade, já que precisa sa-ber o que aconteceu no seu período d eausência . Por isso precisamos das notíci -as, para nos colocarmos, de novo, emfase com o mundo . Cada vez mais, achoque nosso trabalho é tão essencial quan -to o do leiteiro, o do padeiro . É um im-pulso básico do ser humano estar har-monizado com a vida cotidiana .

IMPRENSA - Conforme o senhor refleteem "Fundamentos de jornalismo econô-mico', as maiores empresas de comuni-cação do mundo, como AOL - Time War-

ner, Disney e Vivendi, já se desviaram d ofoco jornalístico - são, prioritariamente,empresas de entretenimento. 0 que re-presentaria, nesses termos, a entrada d ocapital estrangeiro nos grupos de mídi abrasileiros, com a aprovação da Emend a222, em novembro?Basile - É um bom problema, mas po renquanto, um bom problema hipotéti-co . As grandes empresas de mídia do sEUA vivem um momento de muita difi-culdade. Investiram forte demais em en-

tretenimento, em intemet, na convergên-cia de midias, e essa aposta, por enquan-to, não deu certo, só deu prejuízo . Aliás,as melhores evidências de recuperação fi -nanceira, nas mídias norte-americanas,vem dos jornais, que não foram tão fun -do nessa convergência de midias . Se vocêpegar a publishing industry, indústria edi-torial, elas já tiveram, no ano passado ,uma rentabilidade de 8%, enquanto qu eas media companies, essas que foram fun-do na convergência, tiveram uma perdapatrimonial equivalente a 30%, no mes-mo período. A resposta o mercado estádando. Por incrível que pareça, jornalis-mo está em alta .

IMPRENSA - Apesar de ter um vasto co-nhecimento em economia, o senhor nã oé economista de formação . ..Basile (interrompendo) - Não acho quemeu conhecimento seja assim tã ovasto . . .(risos)

IMPRENSA - De qualquer forma, para ojornalista de economia, o fato de não teressa formação ajuda ou atrapalha ?Basile - No passado, eu achava que atra-palhava, porque a formação econômica ,muitas vezes, inibe certas aptidões tã otípicas do jornalismo, como a criativida-de, a capacidade de se pegar um ângul oaparentemente desprezível e puxar de l áuma grande pauta, o lado humano dashistórias e às vezes até o bom humor.Mas isso era no passado . Tenho vistomuitos colegas que foram fazer seus cur-sos de economia, suas pós-graduaçõese, em geral, voltaram muito mais apto sdo que quando começaram . Além domais, a economia é terrivelmente com-plexa hoje em dia . Se você não tiver umbom conhecimento, estará em maus len-çóis . Mas tem o seguinte : o jornalismoeconômico é jornalismo, não é econo-mia . Toda vez que o jornalista ceder à ten -tação de ser uma autoridade econômica,poderá até ser bem sucedido e se torna ruma autoridade econômica . Mas nessahora, terá deixado de ser jornalista . Nossoramo é outro . Nós contamos histórias .

IMPRENSA - Quando o senhor trabalha-va na Gazeta Mercantil, chegou a recebe rameaças, por conta de divulgar históriasde empresas envolvidas em processos d efalência. Recentemente, a revista VocêS.A.teve um episódio em que era iminente acensura prévia, já que a empresa de re-colocação profissional Dow Right quis teracesso a uma matéria antes que fosse pu-blicada e, para isso recorreu à justiça .Ain-da resistem os meios truculentos ao seevitar que informações desse tipo sejamdivulgadas?Basile - No caso da Você S .A., a situaçãoera pública . Apuramos uma história, combase em ações impetradas na justiça, fo-mos dar a uma parte que estava send oacusada o direito de ser ouvida, antes d apublicação . Essa parte preferiu, em ve zde falar antes de a matéria ser publica-da, entrar com um pedido de liminar,proibindo a publicação, a não ser quesatisfizesse condições que a própria limi-nar estabelecia - que a nosso ver confi-gurava censura a imprensa. A empresaestava no direito dela, eu vejo isso comtoda a normalidade, assim como está n onosso direito, pedir à justiça que decidase a mesma liminar está de acordo coma Constituição ou se a contraria, no pon-to em que ela diz que o direito à infor-mação é amplo e não pode ser objetode condições prévias . A Justiça se mani-festou, nós aguardamos, publicamos de-pois. Quem saiu ganhando foi o leitor .Nesses casos mais antigos, do tempo d aGazeta, o que eu teria a dizer é que odireito de espernear existe (risos) . As pes-soas têm direito de não querer sair nojornal . Toda vez em que se coloca algué mem uma situação desfavorável, a pesso afica muito aflita, angustiada, furiosa . Épor isso que é preciso ter absoluta clare-za de se estar cumprindo o ritual . Há si-tuações, na apuração jornalística, em qu evocê vai colocar pessoas em histórias e mque elas não gostariam de estar, masvocê não tem saída a não ser colocá-Ias .E depois, tem outra : não noticiar umpedido de falência, não elimina a falên-cia . O problema não é o fato, mas falar

sobre aquilo . Tenho a sensação que a spessoas, as empresas não ligam muitopara os fatos, mas para a reputação qu ese reproduz a respeito dos fatos . Esse éum problema delas, não nosso . Temosum dever com o público .

IMPRENSA - Uma das premissas do In-vestigative Reporters and Editors ARE -instituição norte-americana que respal-da o jornalismo investigativo) é : "Siga ospapéis, siga o dinheiro, siga as pessoas" .Há espaço, atualmente, para se fazer jor-nalismo econômico investigativo?Basile - Mais do que nunca . Eu te explic ocom uma equação financeira : com a in-formalização da economia, com a sone-gação que muitas empresas praticam ,com a pirataria, com o roubo de cargas,você tem empresas que concorrem comgrandes empresas em uma situação mui-to vantajosa . As grandes empresas estãoacuadas . Outra coisa : com a abertura co-mercial que houve no Brasil, as empresa sque estavam tradicionalmente instalada saqui concorrem com outras empresas d omundo inteiro . Isso faz com que haja umacompetição pela diminuição dos custos,o que inclui os custos de comercializaçã oe de publicidade . Tudo isso fez diminui rmuito o mercado publicitário . A publici-dade, na verdade, pagava um subsídi opara que o leitor tivesse publicações a pre -ços mais baixos . Quando isso acabou, nã osignificou que os leitores se conformara mcom informações de pior qualidade . Sóque, como não temos mais os anúnciosque financiem a qualidade, o leitor équem passou a financiar . Se o públicotem que pagar mais pelas informações,vai se tornar cada vez mais exigente co-nosco . Isso é bom, porque teremos qu eser exigentes conosco mesmos, o que sig -nifica jornalismo investigativo. É o con-trário do que as pessoas dizem : não émershandising, não é submissão a rela-ções públicas . . .A saída, então, está e mhonrar o custo que se cobra com quali-dade editorial : ouvir as partes, assegu-rar direito de defesa . . .e assim voltamo sao começo da nossa conversa . . .(risos) .

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