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José Jorge Letria Ilustração Ricardo Cabral

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TÍTULO Portugal para Miúdos

© José Jorge Letria (texto), 2009

© Ricardo Cabral (ilustração), 2011

©2011, TEXTO EDITORES

AUTOR José Jorge Letria

ILUSTRAÇÃO Ricardo Cabral

PAGINAÇÃO Patrícia Furtado

REVISÃO Texto Editores

PRÉ-IMPRESSÃO LeYa, S.A.

2.ª edição da obra, 1.ª do editor

Lisboa, Março de 2011

ISBN 9789724745022Reservados todos os direitos

Texto Editores

Uma editora do Grupo LeYa

Rua Cidade de Córdova, n.º 2

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José Jorge Letria

IlustraçãoRicardo Cabral

para MiúdosPortugal

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Vem um cavalo a galopejá cansado da jornada,enquanto se vêem no céuos restos da madrugada.

Vem armado o cavaleirocom espada e armadura;dão-lhe o título de rei,o único à sua altura.

É um rei chamado Afonsoe já parte à reconquistado agreste territórioque em seu redor avista.

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Évora, Beja, Leiria,também Alcácer do Sal,Lisboa, Serpa e Mourapara dilatar Portugal.

No meio de tanta batalhadeita-se o rei a pensar:«Já venci os sarracenos,pela frente tenho o mar.»

«Mas eu no mar não me afoito,por não ter embarcações;deixo esse sonho entreguea futuras gerações.»

Um dia apaga-se a luznos olhos do rei fundador;adeus Afonso Henriques,é Sancho o continuador.

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São tempos de arma aperradaos que vêm a seguire os reis que se sucedemsabem vencer e unir.

Sancho I, Afonso II,um outro Sancho para rei;uma nação ganha formausando a espada e a lei.

No seu curto territóriosobrevive uma herança:os judeus e os sarracenosem serena vizinhança.

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Já vai distante a memóriados romanos ocupantese dos mouros dominadorescom adagas e turbantes.

O português acostuma-sea viver com outras raças,convive com elas, alegre,nos mercados e nas praças.

Essa lição aprendidadará frutos e vantagensquando lançado nas nausalcançar outras paragens.

E os reis que se sucedem dentro de uma dinastiadeparam com a cobiçae com a hipocrisia.

É a sede da nobrezaque quer poderes e foraise conspira nos casteloscom ânsia de ter sempre mais.

É o tempo dos mercadores,das feiras, das romariase dos reis que, entre pelejas,também escrevem poesias.

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Foi poeta D. Dinis,homem da governação;criou a universidadepensou na navegação.

Mandou vir um almirantepara organizar a frota.Havia pinho para as naus,faltava traçar-lhes a rota.

Mas nem tudo foram rosas,também houve a parte vil,e entre os filhos desavindosestalou uma guerra civil.

E é aqui que aparece,vindo do fundo da bruma,um escudeiro andarilho,filho de terra nenhuma.

A história não fala delee nem podia falar;é um escudeiro inventadoque nos irá acompanhar.

Num jeito perguntadorhá-de sair a terreiropara inquirir, perguntarem tom directo e certeiro.

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Ei-lo que entra e pergunta:«Inês de Castro o que fezpara se tornar um símbolodo grande amor português?»

Foi coroada rainhajá depois de ter morrido;tem túmulo em Alcobaçajunto do rei seu marido.

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Foram tempos de paixão,de fartura e abundância,mas já então se sentiao apelo da distância.

Remédios havia poucospara os males mais cruéise chegou a Peste Negraque não poupou os fiéis.

Semeou terror e mágoa,miséria e orfandade,sem nunca fazer excepçãoentre o campo e a cidade.

E chega ao fim esta Idadeque nos livros se diz Médiae que passou a galopecomo um cavalo sem rédea.

Morto o rei D. Fernando,ficou uma crise aberta;findava uma dinastiano meio de uma era incerta.

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Lá entra o escudeiro e diz,no tom de quem apregoa:«O que fazem os espanhóismovendo cerco a Lisboa?»

Querem ter por sua contao destino desta terra,mas chega o Mestre de Avise sem temor lhes faz guerra.

Nun’Álvares no Alentejoé o comandante à alturados desafios que lhe lançaesta prova que é tão dura.

João das Regras, doutordas leis que fazem mudar,ajuda João a sentar-seno trono para governar.

E já o povo se juntapara saudar a dinastiaque nasce de um novo rei em clima de euforia.

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Se uma palavra bastassepara tudo resumir,dir-se-ia que este tempofoi tempo de descobrir.

De D. João a D. Henrique,até Alcácer-Quibir,vemos um povo pequenocom sede de se expandir.

De olhos postos no marcom a grande Espanha atrás,ei-lo que embarca nas nauspara mostrar do que é capaz.

Já com Ceuta conquistadae sem ter barcos a pique,sonha em Sagres, bem desperto,o Infante D. Henrique.

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E logo Alcácer Ceguer,com o vento de feição,é a praça conquistadade cruz e espada na mão.

«Mas será que arriscamostanto de nós na aventurasó para pôr a Cruz de Cristocom grandeza e com bravura?»

À pergunta do escudeiro,apenas uma entre mil,há uma voz que respondecom a razão mercantil.

Os portugueses não queriamsomente vencer o mouro,queriam chegar mais longe,buscando canela e ouro.

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Por isso desceram mais,seguindo a costa africana,semeando feitorias,vencendo selva e savana.

Sempre cercado de amigose com a sede da fama,embarca o nosso escudeironas frotas de Vasco da Gama.

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E já antes viajarana nau de Diogo Cãoe também com Gil Eanesde mapa aberto na mão.

Com Pedro Álvares Cabrale Pêro Vaz de Caminhadesembarcou no Brasilao som duma ladainha.

Os índios que viu em terrapercebeu que eram diferentes,pois mudam cores e hábitosconforme os continentes.

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Já na Índia com o Gamanada se passou assim;houve que dar ares de guerranas terras do samorim.

E enquanto os primeiros reispara a terra se voltaram,os que vieram depoisfoi com o mar que sonharam.

O vento e a maresia,as ondas altas, violentas,empurraram naus e homenspara o Cabo das Tormentas.

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E veio D. João II,veio depois D. Manuel,mudaram as rotas do mundonuma folha de papel.

Dos tratados assinadosum houve, o de Tordesilhas,que deu o seu a seu donoentre oceanos e ilhas.

Em troca de belos tecidose muitas quinquilhariasvieram naus carregadasde oiro e especiarias.

Da Libéria e Costa do Marfim,da Índia estranha e distantechegaram fartas riquezas:as do Crescente e Levante.

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Ergueram-se fortalezasentre ventos e maréscontra o fogo das bombardasdisparando nos convés.

Desde S. Jorge da Minaaté à costa brasileirabateu-se o pé com firmezaa muita tropa estrangeira.

Com o ouro vindo de longeergueram-se trono e altar;chegou mais longe o impérioaté aos confins do mar.

Na Índia os vice-reis,com Albuquerque à cabeça,ditaram a regra e a leienfrentando a sorte avessa.

E entra de novo na históriao escudeiro perguntadorque tudo deseja saberdeste povo navegador.

E traz debaixo do braço,para ler até às tantas,um tratado de ciênciasobre o mundo das plantas.

Sobre bálsamos e curas,com cadinho e com retorta;é um mestre cientistachamado Garcia de Orta.

«Também quero ir à Índiana Companhia de Jesus,e em vez de espada e fogosó quero levar a cruz.»

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«Como hei-de eu falarcom esta gente tão raraque toca com estranhezaa barba da minha cara?

Nestas rotas marinheiras,que é onde melhor me sinto,conheço um aventureirochamado Fernão Mendes Pinto.»