JOSÉ GARCIA NETO O ROTEM tem a habilidade de … · USP/FM/DBD-084/17 . Dedicatória. ......

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JOSÉ GARCIA NETO O ROTEM tem a habilidade de prever sangramento em cirurgia cardíaca valvar? Tese apresentada à Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Doutor em Ciências Programa de Cirurgia Torácica e Cardiovascular Orientador: Prof. Pablo Maria Alberto Pomerantzeff São Paulo 2017

Transcript of JOSÉ GARCIA NETO O ROTEM tem a habilidade de … · USP/FM/DBD-084/17 . Dedicatória. ......

  • JOS GARCIA NETO

    O ROTEM tem a habilidade de prever sangramento em cirurgia

    cardaca valvar?

    Tese apresentada Faculdade de Medicina da

    Universidade de So Paulo para obteno do

    ttulo de Doutor em Cincias

    Programa de Cirurgia Torcica e Cardiovascular

    Orientador: Prof. Pablo Maria Alberto Pomerantzeff

    So Paulo

    2017

  • Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)

    Preparada pela Biblioteca da

    Faculdade de Medicina da Universidade de So Paulo

    reproduo autorizada pelo autor

    Garcia Neto, Jos

    O ROTEM tem a habilidade de prever sangramento em cirurgia cardaca

    valvar? / Jos Garcia Neto. -- So Paulo, 2017.

    Tese(doutorado)--Faculdade de Medicina da Universidade de So Paulo.

    Programa de Cirurgia Torcica e Cardiovascular.

    Orientador: Pablo Maria Alberto Pomerantzeff.

    Descritores: 1.Cirrgia cardaca 2.Tromboelastografia 3.Doenas das valvas

    cardacas 4.Hemorragia 5.Testes de coagulao sangunea 6.Complicaes ps-

    operatrias 7.Estudos prospectivos 8.Perda sangunea cirrgica

    USP/FM/DBD-084/17

  • Dedicatria

  • Dedicatria

    Ao meu pai Altamir Garcia Edreira e minha me Maria Aparecida de

    Siqueira Garcia (in memoriam) pelo exemplo de vida e ensinamentos de tica,

    respeitabilidade, seriedade, probidade e respeito ao prximo. Concepes que

    tem me acompanhando por toda a vida e das quais me orgulho profundamente.

    Meus pais razo de minha existncia.

    minha esposa Maria Cristina Rassi Garcia pela pacincia,

    desprendimento e apoio nos momentos de ausncia para construo deste

    sonho.

    Aos meus filhos Jos Vitor Rassi Garcia e Lucas Rassi Garcia, luzes

    que iluminam meu futuro, amores indissociveeis e estmulos contnuos de

    luta por uma mundo melhor e uma razo para viver.

    Aos meus irmos Altamir Garcia Edreira Jnior (in memoriam), Paulo

    de Siqueira Garcia e Ana Beatriz de Oliveira, companheiros e amigos de todas

    as horas que me estimularam em todos os projetos e batalhas que empreendi

    na vida.

  • Agradecimentos

  • Agradecimentos

    Ao Prof. Pablo Maria Alberto Pomerantzeff pela orientao exemplar do

    ponto de vista cientfico, filosfico e humano, fundamentais para construo

    deste trabalho. Pela sua lucidez e capacidade superior que me fizeram moldar

    uma nova viso da evoluo e crescimento do saber humano. Pela sua

    simplicidade, clareza de raciocnio, sabedoria rara e despojo de vaidades

    irrelevantes, caractersticas concernentes aos grandes homens de inteligncia

    superior. Agradecimentos eternos.

    Dra. Ludhmila Abraho Hajjar , cientista de primeira distino, cujos

    os conhecimentos foram fundamentais e essenciais para a realizao deste

    estudo. Mulher de fibra e destaque na medicina brasileira.

    Prof. Dra. Filomena Regina Barbosa Gomes Gallas, que ofereceu

    muito de seus conhecimentos de e orientao cientfica e docncia, de suma

    importncia para chegarmos as concluses to importantes em nossa

    empreitada.

    Ao Prof. Dr. Luiz Felipe Pinho Moreira, pelas suas esclarecedoras

    aulas e comentrios sempre pertinentes ao longo desta jornada cientfica.

    Ao Prof. Dr. Luiz Alberto Oliveira Dallan pela conduo primorosa,

    didtica e de elevada sapincia durante a realizao da nossa qualificao.

    Agradecimentos eternos.

    Ao Prof. Dr. Marcelo Biscegli Jatene pelas contribuies e comentrios

    sempre pertinentes e sagazes de forma desprendida e extremamente polida.

  • Agradecimentos

    Ao Dr. Carlos Manuel de Almeida Brando, pela sua importante

    colaborao e sugestes absolutamente pertinentes durante o processo de

    qualificao.

    s Enfermeiras Dra. Suely Pereira Zefferino e Lgia Cmara pelos

    auxlios inestimveis e incansveis na construo desta tese. Pessoas

    humanas de muito valor que ajudaram a construir esta edificao.

    querida amiga Joana Angelica Mota Oleiro, da Unidade Cirrgica de

    Cardiopatias Valvares, que nos auxiliou de maneira to capaz, prestativa e

    sublime nos momentos de finalizao desta obra que tanto prezo e orgulho.

    Meus sinceros agradecimentos.

    s queridas colegas Neusa Rodrigues Dini e Juliana Lattari Sobrinho

    do departamento de Ps-Graduao, que estiveram sempre disponveis e

    presentes, para que a conduo correta desta pesquisa fosse levada a bom

    termo. Pessoas da minha mais alta estima.

  • Normatizao adotada

  • Normatizao adotada

    Esta tese est de acordo com as seguintes normas, em vigor no momento de sua

    publicao:

    Referncias: adaptado de International Committee of Medical Journals Editors

    (Vancouver).

    Universidade de So Paulo. Faculdade de Medicina. Diviso de Biblioteca e

    Documentao. Guia de apresentao de dissertaes, teses e monografias.

    Elaborado por Anneliese Carneiro da Cunha, Maria Julia de A.L.Freddi, Maria

    F.Crestana, Marinalva de Souza Arago, Suely Campos Cardoso, Valria Vilhena. 3

    ed. So Paulo: Diviso de Biblioteca e Documentao; 2011.

    Abreviatura dos ttulos e peridicos de acordo com List of Journals Indexed in Index

    Medicus.

  • Epgrafe

  • Epgrafe

    O poder e a beleza da cincia no se

    apoiam na infalibilidade, que ela no

    tem, mas na corrigibilidade, sem a qual

    no nada.

    Howard Ernest Gruber

  • Sumrio

  • Sumrio

    Lista de abreviaturas e siglas

    Lista de figuras

    Lista de grficos

    Lista de tabelas

    Resumo

    Abstract

    1 INTRODUO....................................................................................... 1

    1.1 Coagulao Sangunea.......................................................................... 2

    1.2 Testes de Coagulao do Sangue......................................................... 7

    1.3 Classificao das Hemorragias.............................................................. 9

    1.4 Sangramento e Cirurgia......................................................................... 11

    2 OBJETIVOS........................................................................................... 20

    2.1 Objetivo Primrio.................................................................................... 21

    2.2 Objetivos Secundrios............................................................................ 21

    3 MTODOS............................................................................................. 22

    3.1 Populao............................................................................................... 23

    3.2 Amostra.................................................................................................. 23

    3.3 Critrios de incluso............................................................................... 23

    3.4 Critrios de excluso.............................................................................. 24

    3.5 Procedimentos cirrgicos e admisso na unidade de terapia

    intensiva................................................................................................. 25

    3.6 Instrumentos de coleta de dados........................................................... 26

    3.7 Descries dos exames laboratoriais.................................................... 27

    3.8 Tromboelastometria (ROTEM)............................................................... 28

    3.9 Desenho do estudo................................................................................ 30

    3.10 Definies das complicaes clnicas.................................................... 32

    3.11 Anlises estatsticas............................................................................... 33

    4 RESULTADOS....................................................................................... 35

    5 DISCUSSO.......................................................................................... 55

    6 CONCLUSES...................................................................................... 59

    8 ANEXOS................................................................................................ 61

    9 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS...................................................... 74

  • Sumrio

    APNDICE.............................................................................................

  • Listas

  • Lista de Abreviaturas e Siglas

    A 5; A10... Amplitude Mxima do Grfico em Determinado Momento

    ATIII Sistema da Antitrombina III

    AVC Acidente Vascular Cerebral

    BE Base Excess

    BIA Balo Intra-Artico

    BIC Bicarbonato de Sdio

    BRA Antagonista do Receptor da Angiotensina II

    Cai Clcio Ionizado

    CaO2 Contedo Arterial de Oxignio

    CAPPesq Comisso de tica para Anlise de Projetos de Pesquisa

    CFT Tempo de Formao do Cogulo

    CEC Circulao Extracorprea

    CH Concentrado de Hemcias

    CO2 Dixido de Carbono

    CP Concentrado de Plaquetas

    CRM Cirurgia de Revascularizao do Miocrdio

    CT Tempo de Coagulao

    DPOC Doena Pulmonar Obstrutiva Crnica

    EuroSCORE European System for Cardiac Operative Risk Evaluation

    EXTEM Reagente teste do Rotem

    FA Fibrilao Atrial

    FIBTEM Reagente teste do Rotem

    FEVE (%) Frao de Ejeo

    FIXa Fator IX

    FT Fator Tecidual

    FVIIa Fator VII ativado

    FVa Fator V

  • Lista de Abreviaturas e Siglas

    FvW Fator de von Willebrand

    FXa Fator X

    Hb Hemoglobina

    HCFMUSP Hospital das Clnicas da Faculdade de Medicina da Universidade So

    Paulo

    Ht Hematcrito

    IAM Infarto Agudo do Miocrdio

    IC Insuficincia Cardaca

    IECA Inibidores da Enzima Conversora da Angiotensina

    IMC ndice de Massa Corprea

    INCOR Instituto do Corao

    INR Relao Normalizada Internacional

    INTEM Reagente teste do Rotem

    IRA Insuficincia Renal Aguda

    LI Lise em Momento Determinado

    MCF Fora Mxima do Cogulo

    ML Lise Mxima

    NYHA New York Heart Association (Functional Classification)

    O2 Oxignio

    PaO2 Presso Parcial de Oxignio

    PaCO2 Presso Parcial de Gs Carbnico

    PDF Degradao da Fibrina e do Fibrinognio

    PFC Plasma Fresco Congelado

    PvCO2 Presso Venosa de Gs Carbnico

    PvO2 Presso Venosa de Oxignio

    RM Revascularizao do Miocrdio

    ROTEM Tromboelastometria Rotacional

    SVO2 Saturao Venosa de Oxignio

  • Lista de Abreviaturas e Siglas

    TCA Tempo de Coagulao Ativada

    TEG Tromboelastografia

    t-PA Ativador Tecidual do Plasminognio

    TP Tempo de Protrombina

    TTPA Tempo de Tromboplastina Parcialmente Ativada

    UTIC Unidade de Terapia Intensiva Cirrgica

    VM Ventilao Mecnica

  • Lista de Figuras

    Figura 1 Cascata Terica da Coagulao No ocorre in vivo........................ 4

    Figura 2 Coagulao Baseado em Superfcies (adaptado de Vine AK.).......... 5

    Figura 3 ROTEM Adaptado Solbeck S. cols. Blood Coagulation and

    Fibrinolysis ..........................................................................................

    15

    Figura 4 Desenho esquemtico do estudo........................................................ 31

    Figura 5 Classificao AKIN para Insuficincia renal aguda............................. 32

  • Lista de Tabelas

    Tabela 1 Diviso dos grupos em quartis; N : grupo; sangramento: mdia,

    mnimo e mximo.......................................................................... 37

    Tabela 2 Resultados dos dados demogrficos, histria clnica e

    comorbidades associadas aos grupos de sangramento

    estudados......................................................................................

    38

    Tabela 3 Resultado dos exames pr-operatrios associadas aos grupos

    de sangramento estudados...........................................................

    39

    Tabela 4 Relao dos dados das operaes realizadas, da CEC, drogas

    utilizadas no intra-operatrio e condies de sada de sala

    associadas aos grupos de sangramento estudados.....................

    41

    Tablea 5 Resultados dos exames colhidos no Tempo Zero (T 0) e no

    Tempo 1 (T 1) incluindo exames de coagulao associados nos

    grupos de sangramento estudados...............................................

    43

    Tabela 6 Resultados dos exames colhidos no Tempo Zero (T 0) e no

    Tempo 1 (T 1) incluindo exames de coagulao associados nos

    grupos de sangramento estudados...............................................

    44

    Tabela 7 Resultados do ROTEM - INTEM no Tempo Zero (T 0) e no

    Tempo 1 (T 1) associados nos grupos de sangramento

    estudados......................................................................................

    46

    Tabela 8 Resultados do ROTEM - EXTEM no Tempo Zero (T 0) e

    noTempo 1 (T 1) associados nos grupos de sangramento

    estudados......................................................................................

    48

    Tabela 9 FIBTEM no Tempo Zero (T 0) e no Tempo 1 (T 1) associados nos

    grupos de sangramento estudados........................................................

    51

    Tabela 10 Desfechos compostos associados aos grupos de sangramento

    estudados......................................................................................

    52

  • Lista de Grficos

    Grfico 1 Distribuio percentual de uso de Ypsilon nos grupos de

    sangramento estudados.............................................................

    42

    Grfico 2 Desenho esquemtico ("Boxplot") da dosagem do clcio

    inico nos grupos de sangramento estudados...........................

    45

    Grfico 3 Desenho esquemtico ("Boxplot") do EXTEM CT - T0 nos

    grupos de sangramento estudados............................................

    49

    Grfico 4 Distribuio percentual de reoperaes nos grupos de

    sangramento estudados.............................................................

    53

    Grfico 5 Distribuio percentual dos desfechos compostos nos grupos

    de sangramento estudados.......................................................

    54

  • Resumo

  • Resumo

    Garcia Neto, J. O ROTEM tem a habilidade de prever sangramento em

    cirurgia cardaca valvar? [Tese]. So Paulo: Faculdade de Medicina,

    Universidade de So Paulo; 2017

    Introduo: Considerando que uma melhor vigilncia do estado hemosttico

    dos doentes antes, durante e aps o ato cirrgico pode ter impacto significativo

    na sua evoluo, e sabendo que os testes clssicos da coagulao tm

    limitaes para avaliar a hemstase na globalidade, e presumindo-se que o

    ROTEM seja um teste que permite efetuar esta avaliao da coagulao,

    fizemos hiptese de que este mtodo seria uma ferramenta que teria a

    habilidade de prever sangramento em cirurgia cardaca valvar. Objetivos: 1)

    Verificar se o ROTEM (Tromboelastometria Rotacional) ao analisar o estado da

    coagulao sangunea de pacientes submetidos cirurgia cardaca valvar tem

    a capacidade de prever maior risco de sangramento com suas consequentes

    complicaes; 2) Correlacionar comorbidades e histria clinica pr-existentes

    cirurgia cardaca valvar com o nvel de sangramento apresentado. Mtodos:

    Foram includos 100 pacientes consecutivos submetidos cirurgia cardaca

    valvar com circulao extracorprea (CEC) nos seguintes procedimentos:

    cirurgia cardaca valvar em uma ou mais valvas, incluindo reoperaes e

    cirurgias combinadas, realizadas no Instituto do Corao (INCOR) do Hospital

    das Clnicas da Faculdade de Medicina da Universidade de So Paulo. Estudo

    prospectivo que buscou avaliar a eficcia do uso da tromboelastometria

    rotacional na previso de sangramento em cirurgia cardaca valvar.

    Aps a induo anestsica foram coletados: Tromboelastometria,

    coagulograma, fibrinognio, dmero D e contagem de plaquetas; com a

    finalidade de verificar potencial risco de sangramento neste paciente.

    Correspondente ao tempo - 0 (T0).

    Estes mesmos exames foram recoletados na admisso na Unidade de Terapia

    Intensiva Cirrgica (UTIC), onde o paciente foi recebido aps o procedimento

    cirrgico cardaco valvar. Correspondente ao tempo - 1 (T1). Optou-se pela

    coleta de T1 na UTI, pois a CEC j ter sido descontinuada e a heparina

    revertida com a administrao da protamina. Resultados: Os pacientes fora

  • Resumo

    subdivididos em quartis de acordo com o sangramento, configurando um total

    (n) de 100 pacientes com uma mdia de sangramento (dbitos dos drenos) de

    492,95 mL, apresentando um desvio padro de 388,14 mL e 2260 mL. No foi

    encontrada nenhuma varivel estatisticamente significante entre os grupos,

    comparando-se exames laboratoriais pr-operatrios, tempo de CEC, tempo de

    pinamento e uso de drogas vaso ativas. Porm, ocorreu diferena significativa

    (p = 0,015) nos nveis transfusionais de hemocomponentes entre os quartis.

    Ocorreu uma relao significante (p =0,014) entre o nvel adequado de

    calcemia e tendncia a menor sangramento nos grupos estudados. Os

    resultados do ROTEM - INTEM, ROTEM - EXTEM e ROTEM - FIBTEM no

    demonstraram diferena estatstica significante entre os grupos estudados.

    Considerando-se os desfechos, baixo dbito, choque cardiognico, arritmia,

    AVC, insuficincia renal aguda, bito e reoperao, apenas a reoperao

    apresentou resultados com diferena significante entre os grupos (p =0,024).

    Concluses: 1- O ROTEM no demonstrou a capacidade de prever

    sangramento em cirurgia cardaca valvar. 2 No houve correlao do

    sangramento apresentado com as comorbidades pr-existentes.

    Descritores: cirurgia cardaca; tromboelastografia; doenas das valvas

    cardacas; hemorragia; testes de coagulao sangunea; complicaes

    ps-operatrias; estudos prospectivos; perda sangunea cirrgica

  • Abstract

  • Abstract

    Garcia Neto, J. does ROTEM have the ability to predict bleeding in valve

    cardiac surgery? [Thesis]. So Paulo: Faculdade de Medicina, Universidade

    de So Paulo; 2017

    INTRODUCTION: Considering that better monitoring of the haemostatic status

    of patients before, during and after the surgical procedure can have a significant

    impact on their evolution, and knowing that classical coagulation tests have

    limitations in assessing hemostasis overall, and assuming that ROTEM is a test

    that allows to perform this evaluation, we hypothesized that this method would

    be a tool that would have the ability to predict bleeding in valve heart surgery.

    OBJECTIVES: 1) To verify if the ROTEM (Rotational Thromboelastometry)

    when analyzing the blood coagulation status of patients submitted to valve heart

    surgery has the capacity to predict a greater risk of bleeding with its consequent

    complications; 2) To correlate pre-existing comorbidities and clinical history with

    valve heart surgery with the level of bleeding presented. METHODS: We

    included 100 consecutive patients submitted to cardiac valve surgery with

    cardiopulmonary bypass (CPB) in the following procedures: valvular heart

    surgery in one or more valves, including reoperations and combined surgeries

    performed at the Heart Institute of the University of So Paulo. It is a

    prospective study aimed at evaluating the efficacy of rotational

    thromboelastometry in the prediction of bleeding in valve heart surgery. After

    the anesthetic induction were collected: thromboelastometry, coagulogram,

    fibrinogen, D-dimer and platelet count, with the purpose of verifying potential

    risk of bleeding in this patient. These samples were defined as time - 0 (T0).

    These same exams were collected on admission to the Intensive Care Unit.

    These samples were defined as time - 1(T1 We chose to collect T1 in the ICU,

    because at this moment it is expected that the total reversal of anticoagulation

    has already occurred .. RESULTS: Patients were subdivided into quartiles

    according to bleeding, with a total of 100 patients with a mean bleed (drainage

    rates) of 492.95 mL. No statistically significant variables were found between

    the groups, comparing preoperative laboratory tests, CPB time, clamping time

    and use of vasoactive drugs. However, there was a significant difference (p =

    0.015) in transfusion levels of blood components between the quartiles. There

  • Abstract

    was a significant relationship (p = 0.014) between the adequate level of

    calcemia and tendency to less bleeding in the groups studied. The results of

    ROTEM - INTEM, ROTEM - EXTEM and ROTEM - FIBTEM did not show a

    statistically significant difference between the groups studied. Considering the

    outcomes, low rate, cardiogenic shock, arrhythmia, stroke, acute renal failure,

    death and reoperation, only reoperation presented results with significant

    difference between the groups (p = 0.024). CONCLUSIONS: 1 - ROTEM did not

    demonstrate the ability to predict bleeding in valvular heart surgery. 2 - There

    was no correlation of bleeding presented with pre-existing comorbidities.

    Descriptors: cardiac surgery; thrombelastography; heart valve diseases;

    hemorrhage; blood coagulation test; postoperative complications;

    prospective studies; blood loss; surgical.

  • 1. Introduo

  • Introduo 2

    1.1 Coagulao Sangunea

    A coagulao sangunea ou hemstase tem como funo principal evitar a

    perda de sangue quando ocorre algum trauma vascular e um dos mecanismos de

    defesa bsicos do organismo, ela mantm a integridade da circulao e limita a

    hemorragia. Este processo apesar de bsico muito complexo e envolve mudanas

    fsicas e qumicas do sangue. O sistema hemosttico um equilbrio entre

    mecanismos pr-coagulantes e anticoagulantes, aliado a um processo de fibrinlise.

    Tem que ser um mecanismo eficiente e rpido para parar o sangramento, mas por

    outro lado, tem de evitar a formao de cogulos extensos e conseguir remov-los

    aps a reparao da leso. A resposta hemosttica normal a uma leso vascular

    depende da interao entre a parede do vaso sanguneo, as plaquetas e os fatores

    de coagulao. regulada por diferentes mecanismos e inclui vrias fases: resposta

    vascular (vasoconstrio), hemostasia primria (formao do trombo plaquetrio) e

    hemostasia secundria (formao do cogulo de fibrina).

    Quando um vaso lesado a sua resposta imediata a constrio. Esta

    resposta reflexa das arterolas, vnulas e capilares adjacentes levam a uma reduo

    do fluxo sanguneo da rea afetada. As aminas vasoativas e o tromboxane A2,

    liberados das plaquetas, assim como os fibrinopeptdeos liberados durante a

    formao de fibrina tambm tm atividade vasoconstritora. O endotlio vascular tem

    propriedades antitrombticas quando as clulas endoteliais esto intactas e tm

    propriedades pr-trombticas quando as mesmas esto lesadas.

    A hemostasia primria o processo que se segue de formao do trombo

    plaquetrio nos locais de leso vascular. Ocorre logo aps a leso e muito

    importante na limitao da perda de sangue pelos pequenos vasos. Compreende

    trs fases importantes: adeso plaquetria; secreo plaquetria e agregao

    plaquetria. A adeso plaquetria o mecanismo de ligao, que se d poucos

    segundos aps a leso vascular, e atravs do qual as plaquetas aderem s

    protenas da camada subendotelial atravs de glicoprotenas (GP) especficas. A

  • Introduo 3

    camada exposta recoberta com multmeros do fator de von Willebrand (FvW). As

    plaquetas fazem contato com ele por meio do complexo GPIb-IX-V da membrana.

    Isso desencadeia rolamento das plaquetas, no sentido do fluxo, com ativao dos

    receptores GPIIb/IIIa. As plaquetas aderem predominantemente ao colgeno

    subendotelial. O colgeno liga-se inicialmente a GPIa/IIa, faz ligao cruzada com

    vrias molculas de integrina e, desse modo, ativa as plaquetas. Estas ativadas

    sofrem alterao de forma, ativao das GPIIb/IIIa e secreo dos grnulos. A

    secreo plaquetria uma reao de liberao iniciada pela ligao de agonistas

    aos receptores de superfcie das plaquetas seguida pela fosforilao intracelular. O

    contedo dos grnulos ento secretado. Este contedo desempenha papel

    importante na formao e estabilizao dos agregados plaquetrios e o ADP

    liberado dos chamados grnulos densos fundamental na manuteno da ativao

    plaquetria. Finalmente o ADP e o tromboxane A2 liberados levam ao aumento da

    agregao plaquetria, com a formao do cogulo hemosttico primrio, seguida

    da contrao plaquetria e cogulo hemosttico secundrio. As plaquetas

    agregadas liberam fatores que vo acelerar a cascata da coagulao promover a

    ativao dos fatores de coagulao e estabilizam o tampo plaquetrio com a

    formao do cogulo de fibrina.

    A hemostasia secundria ocorre com a formao do cogulo de fibrina

    envolvendo complexas interaes entre proteases plasmticas e seus cofatores, que

    culminam na formao da enzima trombina, que por protelise, converte o

    fibrinognio solvel em fibrina insolvel. Em 1964, MacFarlane e Davie & Ratnoff

    propuseram a hiptese da cascata para explicar a fisiologia da coagulao. Nesse

    modelo a coagulao ocorre por meio de ativao proteoltica, sequencial de

    zimognios, por proteases do plasma, resultando na formao de trombina que

    converte a molcula de fibrinognio em fibrina. Esta viso clssica divide a cascata

    da coagulao numa via intrnseca ou de contato, em que todos os fatores

    necessrios esto presentes em circulao e a reao inicial o contato com

    superfcies carregadas negativamente e numa via extrnseca ou dependente do fator

    tecidual que ativada na sequncia de uma leso vascular. Aps a ativao do fator

    X, as duas vias convergem numa s via comum que conduz formao de

    trombina.

  • Introduo 4

    Figura 1- Cascata Terica da Coagulao No ocorre in vivo

    A diviso em via intrnseca e extrnseca pode ser til na interpretao de

    dois exames laboratoriais, o TP e o TTPA, mas nos ltimos anos foram

    demonstrados vrios novos fatos que vieram modificar a forma como interpretamos

    os clssicos mecanismos da coagulao. Tal diviso no ocorre naturalmente in vivo

    e atualmente entendida como inadequada do ponto de vista da fisiologia da

    coagulao. Hoje est bem estabelecido que qualquer que seja o evento

    desencadeante, leso vascular ou alteraes bioqumicas, a iniciao do processo

    da coagulao depende da exposio do sangue ao fator tecidual (FT), o seu

    principal ativador. O FT uma glicoprotena de membrana que funciona como

    receptor para o fator VII da coagulao. um componente que normalmente no

    est presente no interior dos vasos, mas existe nos fibroblastos subjacentes ao

    endotlio vascular. O FT tambm encontrado nos queratincitos, nas clulas

    epiteliais do trato respiratrio e trato gastrointestinal, crebro, clulas musculares

    cardacas e glomrulos renais. Por sua vez, as clulas endoteliais e moncitos que

    normalmente no expressam fator tecidual, podem apresent-lo depois de ocorrer

  • Introduo 5

    leso vascular ou libertao de endotoxinas e citocinas. Nesta nova viso da

    coagulao sangunea fica bem evidenciado que o sistema intrnseco e extrnseco

    atua de modo altamente interativo.

    Figura 2- Coagulao Baseado em Superfcies (adaptado de Vine AK.)

  • Introduo 6

    Os mecanismos de coagulao devem ser regulados com preciso, de modo

    a evitar a ativao em excesso, formao inadequada de fibrina e consequente

    ocluso vascular. Existem vrias protenas inibidoras que fazem esse trabalho de

    regulao. Elas atuam como anticoagulantes naturais1, 2, TFPI (tissue factor pathway

    inhibitor) O primeiro inibidor a agir o da via do fator tecidual, sintetizado nas clulas

    endoteliais e presente no plasma e nas plaquetas, acumulando-se no local lesado

    pela ativao local das plaquetas. Ele inibe os fatores Xa, VIIa e o fator tecidual1,2.

    Antitrombina o inibidor circulante mais potente da coagulao, inibe diretamente a

    trombina e outras serino-proteases combinando-se com elas por meio de ligaes

    peptdicas, formando complexos estveis de alto peso molecular. A heparina

    potencializa muito a sua ao2, 6 . A protena C e protena S so inibidores dos

    cofatores de coagulao V e VIII. A trombina liga-se ao receptor de superfcie da

    clula endotelial, trombomodulina. Este complexo ativa a protena C, vitamina K

    dependente, que tem a capacidade de inibir os fatores V e VIII ativados, evitando

    assim mais formao de trombina. A ao da protena C amplificada por outra

    protena vitamina K dependente, a protena S, que liga a protena C na superfcie da

    plaqueta. Um receptor endotelial da protena C promove a sua ativao pelo

    complexo trombina-trombomodulina. A protena C ativada tambm estimula a

    fibrinlise1,2,4,6 .Fibrinlise uma resposta hemosttica normal leso vascular. O

    plasminognio convertido em plasmina por ativadores da parede vascular ou dos

    tecidos. A via mais importante segue-se liberao do ativador do plasminognio

    tecidual (t-PA) das clulas endoteliais. O t-PA uma serina-protease que se liga

    fibrina, aumentando a sua capacidade de converter plasminognio ligado ao trombo

    em plasmina. A protena C ativada estimula a fibrinlise por destruir inibidores

    plasmticos de t-PA. Por outro lado a trombina inibe a fibrinlise por ativar o inibidor

    de fibrinlise ativado por trombina (TAFI). A plasmina capaz de digerir fibrinognio,

    fibrina, fatores V e VIII e muitas outras protenas. A clivagem de ligaes peptdicas

    na fibrina e no fibrinognio produz vrios produtos de degradao.

  • Introduo 7

    1.2 Testes de Coagulao do Sangue

    Testes de coagulao do sangue so usados para diagnosticar e avaliar

    possveis problemas de sangramento, sendo de rotina solicitada nas avaliaes pr-

    operatrias das cirurgias consideradas de mdio e grande porte.

    Atualmente vrios so os testes laboratoriais utilizados na clnica diria com

    este intuito, sendo nominados de Coagulograma. Fazem parte dele o tempo de

    sangramento (TS), o tempo de coagulao (TC), a contagem de plaquetas, o tempo

    de protrombina ativada (TP), o tempo de tramboplastina parcialmente ativada

    (TTPA), o tempo de trombina (TT), os testes de funo plaquetria (agregao

    plaquetria; PFA - 100 PLATELET FUNCTION ANALYSER), a dosagem de

    fibrinognio e os testes de fibrinlise (teste do Dmero-D).

    O Teste de Sangramento um teste til para detectar a funo anormal de

    plaquetas, incluindo o diagnstico de deficincia de FvW, mas tem sido amplamente

    substitudo pelo teste da funo plaquetria (PFA-100) devido vrias limitaes: No

    descrimina defeitos vasculares de trombocitopenia ou disfuno plaquetria.

    influenciado pelo hematcrito, pelo estado da pele e pelo modo de execuo da

    tcnica. No se correlaciona com a perda de sangue durante a cirurgia, nem com a

    necessidade de transfuso1,3,7.

    Entre os testes de funo plaquetria, o mais importante o de Agregao

    Plaquetria, que mede a absoro de luz medida que as plaquetas se agregam

    (3)(7)(8) . Porm atualmente tem sido muito utilizado o PFA - 100 PLATELET

    FUNCTION ANALYSER, um teste global da funo plaquetria, ou seja, de adeso

    e agregao, sendo que ele mimetiza condies de fluxo de alta tenso de

    cisalhamento, simulando uma leso vascular.

    Os chamados testes de rastreio so usados sobre tudo para testar efeitos

    combinados de fatores que influenciam uma fase particular da hemostasia. Estes

    fornecem a avaliao, das denominadas vias extrnseca, intrnseca e comum. O TP

    avalia os fatores VII, X, V, protrombina (II) e fibrinognio, o TTPa avalia os fatores

  • Introduo 8

    VIII, IX, XI e XII, alm dos fatores X, V protrombina e fibrinognio. O TT sensvel

    deficincia de fibrinognio ou inibio da trombina.

    Pode-se tambm utilizar testes especficos para dosagem de fatores de

    coagulao, portanto so testes especficos que avaliam o nvel ou a funo de um

    dado fator e funcionam como complemento de rastreamento. Nestes inclumos a

    dosagem do Fator de Von Willebrand (especfico para determinada condio de

    doena), mas principalmente a dosagem do Fibrinognio (fator I) que de

    importncia relevante no diagnstico de algumas patologias trombticas (da fazer

    parte do estudo sumrio da coagulao).

    E finalmente os testes de fibrinlise sendo que existem vrios testes para

    avaliar o sistema fibrinoltico. Um dos testes mais utilizado para avaliar a degradao

    da fibrina o teste do Dmero D. O Dmero D resulta da ao da plasmina sobre a

    fibrina insolvel. um teste de triagem para trombose venosa profunda; avaliao

    de infarto agudo do miocrdio, angina instvel, coagulao intravascular

    disseminada. O dmero D um fragmento resultante da degradao da fibrina

    polimerizada especificamente. Aps a coagulao haver iniciado, a trombina cliva o

    fibrinognio, gerando monmeros de fibrina que se polimerizam, formando um

    cogulo. O dmero D especfico para a fibrina degradada aps a polimerizao, o

    que qualifica seu uso como marcador de fibrinlise de cogulo.

    crescente a associao entre os nveis de dmero D e a presena e a

    severidade de doenas trombticas. Contudo, sua interpretao deve levar em conta

    alguns pontos, a seguir. A vida mdia do dmero D de aproximadamente 6 horas

    em indivduos com funo renal normal. Assim, pacientes com cogulos estveis

    com espordicas degradaes podem resultar em valores normais. Quanto maior o

    cogulo, maior ser o nvel de dmero D circulante. Assim, cogulos muito

    pequenos, embora potencialmente danosos sade possam resultar valores

    normais. A presena de dmero D pressupe processo de fibrinlise normal.

    Valores aumentados: deposies de fibrina em localizaes extra

    vasculares, condies associadas presena de cogulos de fibrina intravasculares,

    coagulao intravascular disseminada (CIVD) aguda ou crnica, infarto agudo do

  • Introduo 9

    miocrdio e angina estvel, alm da possvel presena de Hematomas. Na suspeita

    clnica de embolia pulmonar, resultados normais excluem esta possibilidade

    diagnstica (teste de triagem). Como outros exemplos menos usados destes testes

    tm: teste de estabilidade do cogulo de fibrina, tempo de lise do cogulo, tempo de

    lise das euglobulinas1, 9 . Podendo ser utilizado ainda as dosagens de:

    plasminognio, inibidor da plasmina, fibrina solvel, produtos de degradao do

    fibrinognio e da fibrina.

    A Tromboelastografia (TEG) e a Tromboelastometria Rotacional

    (ROTEM) passaram a ter uma importncia muito grande no estudo da coagulao

    humana, principalmente para pacientes crticos e submetidos a grandes

    procedimentos cirrgicos. Inicialmente descrita em 1948 por Helmut Hartert5,10, um

    mtodo analtico que nos permite ter uma viso global do processo da coagulao,

    desde a iniciao, formao, estabilizao e lise do cogulo, bem como a interao

    das clulas sanguneas e das protenas da coagulao. Sendo de fcil utilizao,

    com resultados rpidos e precisos, vem ganhando espao rapidamente

    principalmente no que tange seu uso em cirurgias e transplantes hepticos,

    neurocirurgia, obstetrcia, urgncias mdicas relacionadas aos politraumatizados,

    cardiologia e cirurgia cardaca. A interpretao correta e bem conduzida permite

    uma tratamento individualizado, ponderado e efetuado de forma precoce, com

    consequente reduo das necessidades de transfuses sanguneas e custos29, 30,

    31,32,33.

    Discorreremos a seguir sobre este mtodo de maneira mais detalhada,

    tendo como a Tromboelastometria Rotacional a base para o desenvolvimento desta

    tese.

    1.3 Classificao das Hemorragias

    Hemorragia Classe I

  • Introduo 10

    Volume (em porcentagem) = at 15%.

    Volume (pessoa com 70 kg, em ml)= at 750 mililitros.

    Sinais e sintomas: mnimos. Ocorre apenas um leve aumento da frequncia

    cardaca.

    Exemplos: uma mulher pode apresentar uma hemorragia uterina, pouco frequente e

    muito perigosa, que semelhante a uma menstruao comum.

    Hemorragia Classe II

    Volume (em porcentagem) = 15 a 30%.

    Volume (pessoa com 70 kg, em ml) = de 750 a 1.500 ml.

    Sinais e sintomas: Taquicardia (frequncia cardaca acima de

    100), taquipnia (respirao rpida) e diminuio da presso do pulso (pulso fino) e

    leve diminuio da diurese.

    Reposio: Em geral a reposio com cristaloides resolve, mas alguns poucos casos

    podem necessitar de sangue.

    Hemorragia Classe III

    Volume (em porcentagem) = 30 a 40%.

    Volume (pessoa com 70 kg, em ml)= de 1500 a 2000 ml.

    Sinais e sintomas: Alm dos sintomas da hemorragia classe II, apresenta sinais

    clssicos de hipoperfuso. Existe diminuio do nvel de conscincia, palidez e

    sudorese fria.

    Reposio: tentada primeira a reanimao com cristaloides, mas muitos destes

    pacientes no respondero satisfatoriamente e provavelmente necessitaro de

    transfuses.

    https://pt.wikipedia.org/wiki/Taquipneiahttps://pt.wikipedia.org/wiki/Diurese

  • Introduo 11

    Hemorragia Classe IV

    Volume (em porcentagem) = mais de 40%.

    Volume (pessoa com 70 kg, em ml)= mais de 2000 ml.

    Sinais e sintomas: Este o grau de exsanguinao, isto , o paciente fica sem

    sangue. Apresenta taquicardia extrema, marcada queda da presso sistlica e

    dificuldade para perceber a pulsao. O dbito urinrio prximo de zero. H perda

    total da conscincia.

    Reposio: estes pacientes sempre requerem, alm dos cristaloides, transfuses

    sanguneas e cirurgia urgente para sobreviver.

    Pacientes com uma classe limtrofe podem passar para imediatamente superior

    caso aps a reposio inicial de 2000 ml de Ringer persistam com os mesmos

    sinais.

    1.4 Sangramento e Cirurgia

    O sangramento ps-operatrio um dos problemas mais comuns aps

    cirurgia cardacae representa um fator de risco independente para complicaes

    graves no ps-operatrio como a ocorrncia de sepse, sndrome

    do desconforto respiratrio, insuficincia renal e morte. Aproximadamente 20% dos

    pacientesapresentam sangramento significativo aps a cirurgia cardaca e, destes, 5

    a 10% necessitaro de reabordagem cirrgica.

    A maioria dos sangramentos importantes no ps-operatrio de natureza

    cirrgica e independente da causa, sangramento persistente tende a se

    autoperpetuar em virtude da depleo progressiva dos fatores de coagulao e

    plaquetas. Os locais cirrgicos mais comuns de sangramento so as linhas de

    sutura, o peristeo esternal, o leito de disseco da artria torcica interna, stios de

    https://pt.wikipedia.org/wiki/Transfus%C3%A3o_de_sanguehttps://pt.wikipedia.org/wiki/Transfus%C3%A3o_de_sangue

  • Introduo 12

    canulao, presena de remendos artificiais e aderncias por cirurgia prvia,

    pericardite ou radioterapia.

    Estudos demonstram que dos pacientes que so submetidos a reoperao

    por sangramento, aproximadamente 50% tem a causa dessa ocorrncia definida, j

    nos demais casos, a causa multifatorial" e est provavelmente relacionada com as

    circunstncias nicas do procedimento cirrgico.

    Um exemplo a utilizao de circulao extracorprea (CEC), considerado

    um fator preditivo para a ocorrncia de sangramento devido as alteraes

    hemostticas que so resultantes de sua utilizao. A CEC causa alteraes da

    hemostasia devido hemodiluio, hemlise por aes fsicas e qumicas, disfuno

    plaquetria pelo contato do sangue com o circuito extracorpreo, ativao das vias

    intrnseca e extrnseca do sistema de coagulao, consumo de fatores de

    coagulao, hipotermia, alm de outros

    fatores como o efeito residual ou rebote da heparina e a reduo de plaquetas e

    fatores de coagulao.

    A incidncia de retorno do paciente ao bloco cirrgico como j referido

    significativamente importante com risco elevado de complicaes. Dados recentes

    indicam que a rpida avaliao da coagulao e o emprego de critrios pr-

    operatrios para transfuso podem resultar em reduo no uso de componentes

    sanguneos para hemostasia, decrscimo do tempo cirrgico e reduo das perdas

    sanguneas no ps-operatrio.

    Um dado importante e interessante a ser ressaltado o demonstrado por um

    estudo conduzido por M. Jonathan Unsworth-White et al. ao longo de um perodo de

    2 anos a partir de 1 de janeiro de 1992, a 31 de dezembro de 1993, de 2.221

    pacientes submetidos a operaes cardacas no St. George's Hospital London, no

    qual, a reoperao por sangramento foi trs vezes mais frequente nos casos de

    cirurgia valvar (odds ratio 3,4; intervalo de confiana de 95%, 2,1-5,4), quando

    comparado com as cirurgias de revascularizao do miocrdio. Sendo que a fonte

    de sangramento foi identificada em 67% dos casos21.

  • Introduo 13

    Contudo, alm dos riscos decorrentes do sangramento e da necessidade de

    reoperao, importante citarmos que o sangramento perioperatrio tambm est

    intimamente relacionado com a transfuso de hemoderivados, com taxas que variam

    de 40 a 90% em alguns centros1, elevando ainda mais os riscos para disfuno

    orgnica e mortalidade, alm da elevao dos custos hospitalares 4-6.

    Alm disso, em muitos centros de cirurgia cardaca, o tratamento do

    sangramento durante e aps a cirurgia cardaca baseia-se em protocolos empricos

    de transfuso de plaquetas, crioprecipitado e plasma fresco congelado. Este tipo de

    tratamento carece de evidncia na literatura e apresenta eficcia no mnimo

    questionvel, j que provavelmente leva a uma exposio desnecessria a uma

    enorme quantidade de hemoderivados, com elevao dos custos e aumento do

    nmero de complicaes relacionadas transfuso7.

    A fim de reduzir a ocorrncia de sangramento e consequentemente

    necessidade de transfuso sangunea, algumas estratgias podem ser

    implementadas para reduzir o sangramento peri operatrio. Entre as estratgias

    podemos citar o tratamento de coagulopatias pr-existentes, uso de

    antifibrinolticos8, instituio de tcnicas cirrgicas seguras com reviso adequada da

    hemostasia e melhorias no controle de coagulopatias resultantes da utilizao da

    CEC. No ps-operatrio, a propedutica adequada da coagulao, o uso de

    compostos no derivados do sangue como protamina e desmopressina alm da

    correo de hipotermia e acidose, esto sabidamente associadas reduo de

    hemotransfuso9, no entanto, todas estas estratgias so realizadas quando o

    sangramento j est instalado10.

    Outros estudos vm desenvolvendo novas estratgias de previso do

    sangramento, isto , verificar se o paciente que ser submetido cirurgia cardaca

    tem risco de sangrar.

    Um exemplo de estratgia a utilizao da Tromboelastografia (TEG)

    e/ou a Tromboelastometria Rotacional (ROTEM), um mtodo que se utiliza da

    mensurao da viscoelasticidade do sangue total.

  • Introduo 14

    A Tromboelastografia foi descrita pela primeira vez em 1948 por Helmut

    Hartert, um mtodo analtico que nos permite ter uma viso global do processo da

    coagulao, desde a iniciao, formao, estabilizao e lise do cogulo, bem como

    a interao das clulas sanguneas e das protenas da coagulao.

    O tromboelastograma foi desenvolvido nos anos 40 na Alemanha, mas

    devido s limitaes tcnicas e possivelmente falta de estandardizao, o mtodo

    no foi utilizado amplamente. S nos anos 80 que foi iniciada uma utilizao mais

    consistente quando um grupo de Pittsburgh comeou a aplic-lo no transplante

    heptico como mtodo de diagnstico para identificao das causas de hemorragia

    e orientao para suporte transfusional. A evoluo do equipamento e da tcnica, e

    a possibilidade de digitalizao das curvas levaram uniformizao do mtodo,

    sendo atualmente utilizado em diversas reas, nomeadamente na cirurgia cardaca,

    vascular e heptica. Em 1996 o termo Tromboelastografia (TEG) foi registrado pela

    Haemoscope Corporation, Niles, IL, USA e desde ento tem sido usado para

    descrever o teste realizado no aparelho dessa empresa. A Pentapharm GmbH,

    Munique, Alemanha, usa o termo tromboelastometria (ROTEM) para o processo de

    medio e equipamento5. Tanto TEG como ROTEM fornecem-nos um grfico

    que nos permite observar a formao e lise do cogulo. O sangue incubado a 37C

    numa cuveta aquecida, e dentro dela suspenso um pino conectado a um detector

    tico. A cuveta e o pino sofrem um movimento de oscilao relativa

    entre eles de 4,75, esse movimento oscilatrio iniciado pela cuveta, no TEG, ou

    pelo pino no ROTEM . Sangue total citratado ou plasma colocado na cuveta e,

    medida que o cogulo se forma, as fibras de fibrina ligam as paredes da cuveta ao

    pino. Desse modo, os movimentos de rotao da cuveta so transmitidos para o

    pino no TEG ou a impedncia de rotao do pino detectada no ROTEM sendo

    em ambos os casos registrado em grfico. As alteraes visco elsticas que

    ocorrem durante a coagulao so registradas, fornecendo uma representao

    grfica do processo de polimerizao da fibrina e tambm da fora do cogulo.

    Portanto a Tromboelastometria Rotacional (ROTEM, TEM

    InternationalGmbH, Munich, Germany) um teste de viscoelasticidade no sangue

    total mensurando o incio do tempo de coagulao (CT e CTF), dinmica da

  • Introduo 15

    formao do coagulo (CTF e angulo ), firmeza do coagulo (A5, A10, A15 e MCF) e

    estabilidade do cogulo no decorrer do tempo [CLI30, CLI45, CLI60, lise mxima

    (ML) ]11. As variveis da tromboelastometria que sero analisadas: CT (reflete o

    inicio da formao do cogulo), CTF (reflete a elaborao e formao do cogulo em

    funo da trombina formada e traduz a atividade enzimtica da trombina), ngulo

    (reflete a dinmica da formao do cogulo), amplitude da firmeza do cogulo em 5,

    10 e 15 minutos aps CT (A5, A10 e A15 respectivamente) e MCF (representa a

    firmeza mxima do cogulo).

    Figura 3 - ROTEM Adaptado Solbeck S. cols. Blood Coagulation and Fibrinolysis

    2012, 23:688-692.

    A principal vantagem deste mtodo a capacidade de avaliao de todo o

    processo da coagulao, desde a formao de fibrina at a retrao do cogulo e

    fibrinlise em poucos minutos, alm disso, alguns estudos citam que a

    tromboelastometria rotacional (ROTEM) proporciona um diagnstico mais preciso

    dos distrbios da coagulao e pode guiar o tratamento de forma mais eficaz, com

    consequente diminuio da necessidade de hemotransfuso12-14.

    Larsen e cols. (2011) demonstraram que o diagnstico e tratamento com a

    tromboelastometria (ROTEM) usando um painel de reagentes especficos superior

    que a mono anlise com testes de viscoelasticidade caolin-ativado. A avaliao

  • Introduo 16

    simultnea das vias de coagulao extrnseca (EXTEM) e intrnseca (INTEM),

    investigao da polimerizao da fibrina (FIBTEM) e influncia da heparina

    (HEPTEM), inibidores diretos da trombina (ECATEM) e fibrinlise (APTEM) fornecem

    mais detalhes e acurcia no diagnstico quando comparado ao caolin (TEG)

    sozinho, reduo do tempo do diagnstico, e ajuda a evitar a administrao de

    plaquetas quando o fibrinognio deveria ser mais indicado15-16.

    A Tromboelastometria permite vrias avaliaes, como uso de heparina

    (prolongamento do tempo r), quantificao da ao de drogas antiplaquetrias

    (reduo da amplitude mxima) e efeito de agentes trombolticos (aumento da lise

    do cogulo). Estados de hipercoagulabilidade (pro trombticos) podem ser

    evidenciados atravs do aumento do ngulo alfa e da amplitude mxima. Existem

    trabalhos recentes relatando que a amplitude mxima no perodo ps-operatrio

    pode ter valor preditivo para complicaes trombticas, incluindo infarto agudo do

    miocrdio. A Tromboelastometria tambm exame fundamental para ajustes de

    anticoagulao em pacientes com insuficincia cardaca avanada portadores de

    Dispositivos de Assistncia Ventricular (ventrculos artificiais)20.

    Contudo, quando falamos na utilizao da Tromboelastometria Rotacional

    (ROTEM) em cirurgia cardaca com circulao extracorprea (CEC), a sua eficcia

    ainda no clara. Lee e al.(2012), em estudo no randomizado e com uma

    populao heterognea, demonstraram que a utilizao do ROTEM como preditor

    de sangramento aps cirurgia cardaca no obteve sucesso em comparao aos

    parmetros clnicos laboratoriais utilizados na rotina, mas teve valor na reduo da

    transfuso, pois o ROTEM determinou com maior preciso o estado de coagulao

    em comparao com as medidas comuns de coagulao17. Para Tanaka e al.

    (2012), a utilizao do Tromboelastometria Rotacional como orientao para

    previso de sangramento ainda no clara e necessita de novas investigaes para

    estabelecer a segurana, a eficcia e o impacto econmico desta nova tcnica18. J

    em estudo realizado por Davidson e cols. (2008), a Tromboelastometria Rotacional

    apresentou alto valor preditivo negativo para a ocorrncia de sangramento, contudo,

    devido pequena populao estudada, no foi possvel avaliar se o mesmo um

    bom preditor positivo19.

  • Introduo 17

    Esses dados comprovam que a utilizao do Tromboelastometria Rotacional

    como preditor de sangramento ainda no claro e que h a necessidade de novos

    estudos com uma populao randomizada e mais homognea para comprovar sua

    efetividade na previso do sangramento peri- operatrio. Sendo importante frisar que

    o perioperatrio para o perodo de tempo que vai desde que o cirurgio decide

    indicar a operao e comunica ao paciente at que este ltimo retorne, depois da

    alta hospitalar, s atividades normais. O perioperatrio, portanto compreende trs

    fases, pr-operatrio que engloba a avaliao pr-operatria na qual avaliado o

    risco de complicaes frente ao estado de sade do paciente, o intra-operatrio que

    consiste na interveno propriamente dita, realizada dentro do centro cirrgico, e

    finalmente o ps-operatrio que compreende o perodo entre a sada do centro

    cirrgico e o retorno do paciente s atividades normais.

    As complicaes hemorrgicas podem acontecer em qualquer uma dessas

    fases e a vigilncia da equipe de sade deve ser to mais intensa quanto maior o

    risco de complicaes estimado na avaliao pr-operatria.

    Este conceito vem ganhando importncia em funo da necessidade de

    avaliar o risco de complicaes relacionadas s intervenes cirrgicas, sendo no

    tocante cirurgia cardaca valvar, como j aventada, o sangramento uma das

    complicaes mais comuns e letais que poderiam ser evitadas.

    Os notveis avanos na medicina e na cirurgia e em especial na cirurgia

    cardaca permitiram a realizao de intervenes cirrgicas em pacientes mais

    graves para os quais realizar uma operao era impensvel, em um passado no

    muito distante.

    fundamental, portanto, que saibamos cada vez mais e melhor avaliar a

    coagulao de um paciente, pois a coagulao um mecanismo de defesa

    fundamental do organismo, ela mantm a integridade da vida permitindo uma

    circulao sangunea adequada e limitando a perda de sangue, quando necessrio.

    O sistema humano de hemostasia consegue realizar o equilbrio entre mecanismos

    pr-coagulantes e anticoagulantes, sendo, portanto, um dos principais responsveis

    pela manuteno da homeostase de corpo humano. Tem que ser um mecanismo

  • Introduo 18

    eficiente e rpido para parar a hemorragia, mas por outro lado, tem de evitar a

    formao de cogulos extensos e conseguir remov-los aps a reparao da leso.

    A diviso em via intrnseca e extrnseca como j aventado til do ponto vista

    didtico e facilita algumas interpretaes de exames laboratoriais, como o Tempo de

    Protrombina (TP) e o Tempo de Tromboplastina Parcialmente Ativado (TTPA), fatos

    novos modificaram a forma como so interpretados os mecanismos da coagulao.

    Tal diviso no ocorre naturalmente in vivo e teve e ainda tem certa utilidade para o

    entendimento dos fatos, mas atualmente de maneira absolutamente criteriosa

    acadmica e cientfica considerada como inadequada do ponto de vista da

    fisiologia da coagulao. O convencimento dos estudos realizados, atuais, de que

    qualquer que seja o evento desencadeante, leso vascular ou alteraes

    bioqumicas, o incio do processo da coagulao depende inicialmente da exposio

    do sangue ao fator tecidual (FT), que em ltima anlise o seu principal ativador. O

    FT uma glicoprotena de membrana que funciona como receptor para o fator VII da

    coagulao. Este componente no est presente no interior dos vasos, mas

    concentra-se nos fibroblastos subjacentes ao endotlio vascular. O FT tambm

    encontrado em vrios outros stios como nos queratincitos, nas clulas epiteliais do

    trato respiratrio e trato gastrointestinal, crebro, clulas musculares cardacas e

    glomrulos renais. No entanto vale reforar que, as clulas endoteliais e moncitos

    que normalmente no expressam esse fator, podem apresent-lo depois da

    ocorrncia de uma leso vascular ou da liberao de endotoxinas e citocinas na

    circulao. Portanto, neste novo entendimento de como se comporta o sistema de

    coagulao sangunea fica claro que os sistemas intrnseco e extrnseco atuam de

    maneira fortemente interativa.

    Os testes convencionais da coagulao fornecem s uma informao parcial

    da coagulao. Atualmente sabe-se que quando se forma o cogulo de fibrina, ao se

    realizar qualquer dos tempos de coagulao, s possvel avaliar 3 a 5% da

    trombina gerada, a restante no medida por estes testes9. Da a importncia do

    tempo de formao de trombina, na explicao de algumas contradies clnico-

    laboratoriais, como por exemplo nas doenas hepticas, onde j se demonstrou que

    os tempos de coagulao podem estar prolongados, mas a formao de trombina

  • Introduo 19

    normal. Tambm h necessidades que existam testes que possam avaliar a

    coagulao de forma global, incluindo a interao das protenas do plasma com os

    elementos celulares do sangue. Neste contexto se insere a Tromboelastografia /

    Tromboelastometria que cada vez mais usada tanto em estudos de diagnstico

    como para monitorizao do uso de agentes teraputicos inclusive

    hemocomponentes e hemoderivados. Esta metodologia deve ser aplicada,

    sobretudo em procedimentos cirrgicos com alto risco hemorrgico.

    Consideramos que uma melhor vigilncia do estado hemosttico dos

    doentes antes, durante e aps o ato cirrgico tem um impacto significativo, uma vez

    que o tratamento e suporte transfusional podem ser direcionados ou mesmo

    previstos em alguns casos. No entanto, como j foi referido, sabe-se que os testes

    clssicos da coagulao, tm limitaes, no avaliam a hemstase na globalidade,

    detectando s a fase inicial da formao de trombina, sem a com participao dos

    componentes celulares. O tromboelastograma/tromboelastometria um teste que

    permite efetuar essa avaliao global da coagulao, como ferramenta avalia a

    hemorragia, a presena de coagulopatia e os efeitos da administrao de

    componentes e derivados sanguneos e talvez a risco aumentado destas

    ocorrncias. A sua correta interpretao permite uma teraputica individualizada,

    ponderada e

    efetuada de forma precoce, com consequente reduo das necessidades

    transfusionais e custos. Desta forma formulamos a seguinte HIPTESE:

    O ROTEM (TROMBOLELASTOMETRIA ROTACIONAL) TEM A

    HABILIDADE DE PREVER SANGRAMENTO EM CIRURGIA CARDACA VALVAR?

  • 2. Objetivos

  • Objetivos 21

    2.1 Objetivo Primrio

    Verificar se o ROTEM (Tromboelastometria Rotacional) ao analisar o estado

    da coagulao sangunea de pacientes submetidos cirurgia cardaca valvar tem a

    capacidade de prever maior risco de sangramento com suas consequentes

    complicaes.

    2.2 Objetivo Secundrio

    Correlacionar comorbidades e histria clinica pr-existentes com o nvel de

    sangramento apresentado.

  • 3. Mtodos

  • Mtodos 23

    3.1 Populao

    Pacientes que foram submetidos cirurgia cardaca valvar com circulao

    extracorprea (CEC) que estavam no mnimo sete dias sem uso de anticoagulante

    ou clopidogrel.

    3.2 Amostra

    Foram includos 100 pacientes consecutivos submetidos cirurgia cardaca

    valvar com circulao extracorprea (CEC) nos seguintes procedimentos: cirurgia

    cardaca valvar em uma ou mais valvas, reoperao de cirurgia cardaca valvar e

    cirurgia cardaca valvar combinada com outros procedimentos (revascularizao do

    miocrdio RM e cirurgia de aorta), realizadas no Instituto do Corao (INCOR) do

    Hospital das Clnicas da Faculdade de Medicina da Universidade de So Paulo.

    O protocolo do estudo e o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

    (TCLE) foram submetidos Comisso Cientfica do Instituto do Corao (InCor) e

    aprovados pela Comisso de tica para Anlise de Projetos de Pesquisa (CAPPesq)

    do Hospital das Clnicas da Faculdade de Medicina da Universidade de So Paulo

    (HCFMUSP), em sesso de 08 de junho de 2015, sob o no. 1.096.444 (Anexo A).

    Pacientes consecutivos com indicao de cirurgia cardaca de correo

    valvar foram avaliados, na noite anterior cirurgia, quanto aos critrios de

    elegibilidade para a assinatura do termo de consentimento livre esclarecido.

    Abaixo esto descritos os critrios de incluso e excluso do estudo.

    3.3 Critrios de incluso

    Idade acima de 18 anos

  • Mtodos 24

    Termo de consentimento livre esclarecido assinado (TCLE) (Anexo B)

    Anticoagulante ou clopidogrel (Plavix) descontinuados sete (07) dias

    antes do procedimento cirrgico

    Cirurgia Cardaca eletiva e utilizao de circulao extracorprea (CEC)

    nos seguintes procedimentos:

    Cirurgia cardaca valvar em uma ou mais valvas

    Reoperao de cirurgia cardaca valvar

    Cirurgia cardaca valvar combinada com outros procedimentos

    (revascularizao do miocrdio RM e cirurgia de aorta)

    3.4 Critrios de excluso

    Participao em outro estudo;

    Recusa em participar.

    Coagulopatia (histria prvia ou tempo de protrombina maior que 14,8

    segundos), disfuno heptica (bilirrubina total maior que 1,5mg/dL),

    doena oncolgica no tratada ou em tratamento, portadores de

    imunodepresso (de qualquer causa) ou de doenas autoimunes em

    atividade e trombose prvia ou trombofilia.

    Cirurgia de revascularizao do miocrdio

    Reoperao de cirurgia de revascularizao do miocrdio

    Cirurgia de aorta

  • Mtodos 25

    3.5 Procedimentos cirrgicos e admisso na unidade de terapia intensiva

    Na sala cirrgica, os pacientes foram monitorizados com cardioscpio,

    oximetria de pulso e presso arterial no invasiva e submetido a venclise em

    membro superior e cateterizao arterial para monitorizao de presso arterial

    invasiva e coleta de exames. A tcnica de induo e manuteno anestsicas

    seguiram o protocolo institucional. Aps a induo anestsica e passagem de

    acesso venoso central, foi realizada a coleta de exames de rotina e amostras de

    sangue para dosagem de fibrinognio, dimero D, coagulograma, contagem de

    plaquetas e realizao dos testes EXTEM, INTEM e FIBTEM pela

    tromboelastometria rotacional (ROTEM), que correspondem com o T0 do estudo.

    A antibioticoprofilaxia foi realizada com cefuroxima 1,5g e foram

    administradas as medicaes de rotina (metilprednisolona 500 mg, ranitidina 50 mg

    e difenidramina 50 mg) e terapia antifibrinoltica com cido psilon amino caprico

    na dose de 150 mg.kg-1

    em bolos e manuteno de 30 mg.kg-1

    .h-1

    .

    Aps a intubao orotraqueal, os pacientes foram ventilados com presso

    positiva intermitente visando manter volume corrente de 8 10 ml.kg-1

    e presso

    expirada de dixido de carbono entre 30 35 mmHg.

    Os pacientes foram submetido a circulao extracorprea aps

    administrao de 500 UI.kg-1

    de heparina no-fracionada e tempo de coagulao

    ativada (TCA) > 400 segundos. Uma bomba centrfuga (Medtronic Biomedicus,

    Minneapolis, MN) foi utilizada para CEC. Foi utilizado um circuito extracorpreo

    contendo um oxigenador de membrana microporoso de polipropileno (Braile, So

    Jos do Rio Preto, SP, Brasil) integrado a um reservatrio venoso de cardiotomia O

    perfusato foi composto por 1500 ml de Ringer Lactato + 200 ml de manitol + 60 ml

    de bicarbonato de sdio 8,4% + 10000 unidades de heparina no- fracionada. A

    cardioplegia sangunea foi realizada com soluo de St. Thomas (Na+

    120,0 mEq.L-

  • Mtodos 26

    1, HCO3

    - 10,0 mEq.L

    -1, K

    + 26,0 mEq.L

    -1, Mg

    2+ 32,0 mEq.L

    -1, Ca

    2+ 2,4 mEq.L

    -1,

    pH 7,8, 320 mOsm. L-1

    ) e foi adotada hipotermia entre 28 a 32 o

    C durante a

    circulao extracorprea. Aps reaquecimento, foram utilizados frmacos inotrpicos

    e/ou vasoativos conforme necessidade do paciente para desmame da circulao

    extracorprea.

    Aps a administrao da protamina, coagulograma e contagem de plaquetas

    eram coletados. E se houvesse sangramento significativo, os hemocomponentes

    foram administrados de acordo com protocolo da instituio.

    Aps o trmino do procedimento, os pacientes foram transferidos para a

    unidade de terapia intensiva cirrgica (UTIC) ainda em ventilao mecnica e sob

    efeito da anestesia.

    Na admisso da UTIC, alm dos exames de rotina foram coletadas

    novamente amostras de sangue para dosagem de fibrinognio, dimero D,

    coagulograma, contagem de plaquetas e para realizao dos testes EXTEM, INTEM

    e FIBTEM pela tromboelastometria rotacional (ROTEM), correspondendo ao tempo 1

    do estudo.

    3.6 Instrumentos de coleta de dados

    Os dados clnicos e demogrficos foram registrado no instrumento de coleta

    (Anexo 3) e o escore de risco cirrgico (EuroSCORE) foi calculdado.

    Dados pr-operatrios: hemoglobina, hematcrito, tempo de protrombina,

    tempo de tromboplastina parcial ativada, creatinina, bilirrubina e contagem de

    plaquetas foram coletadas dos pacientes, frao de ejeo de ventrculo esquerdo..

    Dados clnicos sobre comorbidades, antecedentes cirrgicos e medicaes prvias

    foram obtidos por meio da anamnese e avaliao do pronturio.

  • Mtodos 27

    Dados intra-operatrios: hemoglobina, hematcrito, saturao venosa central

    e arterial de oxignio foram coletadas no incio da cirurgia, durante a CEC e no final

    da CEC. Foram obtidas informaes sobre o tipo de procedimento cirrgico, durao

    da CEC, durao do pinamento artico, tipo e quantidade de fluidos administrados,

    balano hdrico, diurese, drogas vasoativas utilizadas durante o procedimento

    cirrgico, dose de heparina e protamina utilizada, temperatura mnima durante a

    CEC, balano sanguneo, nmero de unidades de hemocomponentes transfundidos

    e uso de terapia hemosttica,

    Dados ps-operatrios: foram registrados dbitos dos drenos e necessidade

    de hemocomponentes nas primeiras 48 horas aps a cirurgia, tempo de ventilao

    mecnica, tempo de uso de inotrpicos e vasopressores.

    3.7 Descries dos exames laboratoriais

    Tempo de coagulao:

    Tempo de Protrombina (TP): Realizado por mtodo coagulomtrico com

    equipamento TcoagDestinyMaxTM Trinity Biotech, Ireland e kit especfico

    (TcoagTriniCLOT) em amostras de sangue venoso coletadas em tubos

    contendo citrato de sdio a 3,8%. O teste consiste na adio de

    tromboplastina (fator tecidual) e posterior mensurao do tempo de

    cogulo.

    Tempo de Tromboplastina Parcial Ativado (TTPA): Realizado por

    mtodo coagulomtrico com equipamento TcoagDestinyMaxTM Trinity

    Biotech, Ireland. O TTPA realizado por adio de tromboplastina parcial,

    a cefalina, que uma substncia carregada negativamente e um ativador

    da via intrnseca. O cloreto de clcio adicionado e o tempo necessrio

    para formar o cogulo medido.

  • Mtodos 28

    Fora do cogulo:

    Fibrinognio: Dosagem de plasma coletado em tubo de citrato em

    equipamento automatizado (TcoagDestinyMaxTM Trinity Biotech, Ireland) e

    kit especfico (TcoagTriniCLOT) por mtodo de clauss.

    Contagem de plaquetas: Sangue total em tubo com anticoagulante

    EDTA por mtodo eletrnico automatizado (ADVIA 120, Siemens)

    baseado na medio da impedncia eltrica.

    Fibrinlise:

    Dmero D: Coleta em tubo citratado, equipamento TcoagDestinyMaxTM

    Trinity Biotech, Ireland por mtodo Ltex imunoenzimtico

    (TcoagTriniCLOT).

    3.8 Tromboelastometria (ROTEM)

    Para realizao do exame uma amostra de sangue colocada em uma

    cuveta pr-aquecida; o mbolo suspenso rebaixado na cuveta e esta gira atravs

    de um arco de 4,5 atravs do sangue, enquanto o recipiente do sangue permanece

    estacionrio. A formao de cogulos subsequente influencia a rotao da

    suspenso pisto. Estas alteraes so identificadas por um detector ptico, e a

    informao transmitida a um computador para anlise e visualizao grfica.

    O ROTEM fornece a representao grfica da formao e subsequente

    lise do cogulo. O sangue incubado a 37C em uma cuveta aquecida, sendo que

    dentro dela suspenso um pino conectado a um sistema de deteco. Atrabvs de

  • Mtodos 29

    detector ptico A cuveta e o pino sofrem um movimento de oscilao relativa entre

    eles de 445, sendo que esse movimento oscilatrio iniciado pela cuveta, no

    TEG, ou pelo pino, no ROTEM. Sangue total citratado, ou plasma, colocado na

    cuveta e, medida que o cogulo se forma, as fibras de fibrina ligam as paredes da

    cuveta ao pino. Desse modo, a impedncia de rotao do pino detectada

    (ROTEM) e um grfico gerado.

    A tromboelastometria avaliar ento a dinmica da formao do cogulo, ou

    seja, o processo global da coagulao com a participao das plaquetas, clulas

    sanguneas e protenas da coagulao, sero utilizados pelo mtodo ROTEM

    (tromboelastometria rotacional)os reagentes INTEM, EXTEM e FIBTEM. A amostra

    coletada em tubo com anticoagulante citrato de sdio a 3,2% e processada em at

    30 minutos aps a coleta.

    As anlises pelos sistemas ROTEM e os seus parmetros mais

    importantes (parmetros adicionais podem ser calculados assim como os derivativos

    da curva). Avaliao dos parmetros:

    Tempo de coagulao (CT): determina os nveis de anticoagulao ou

    deficincia de fatores de coagulao

    Tempo de formao do coagulo (CFT): determina a qualidade do coagulo e

    sua consistncia.

    ngulo alfa: determina se o paciente apresenta hipercoagulabilidade ou

    hipocoagulabilidade

    Dureza mxima do coagulo (MCF): determina a interao e a participao da

    fibrina e das plaquetas.

    Lise mxima (ML): determina o porcentual de lise do coagulo e

    consequentemente identifica a hiperfibrinolise.

    EXTEM: avalia o fator tecidual, deficincias dos fatores da coagulao,

    desordens de polimerizao da fibrina e desordens plaquetrias.

    FIBTEM: avalia o fibrinognio e o inibidor de plaquetas.

    INTEM: avalia deficincia dos fatores da coagulao, desordens de

    polimerizao da fibrina e desordens plaquetrias.

  • Mtodos 30

    3.9 Desenho do estudo

    Estudo prospectivo que buscou avaliar a eficcia do uso da

    tromboelastometria rotacional na previso de sangramento em cirurgia cardaca

    valvar.

    Aps a induo anestsica foram coletados: Tromboelastometria,

    coagulograma, fibrinognio, dmero D e contagem de plaquetas; com a finalidade de

    verificar potencial risco de sangramento neste paciente. Correspondente ao tempo -

    0 (T0).

    Estes mesmos exames foram recoletados na admisso na Unidade de

    Terapia Intensiva Cirrgica (UTIC), onde o paciente foi recebido aps o

    procedimento cirrgico cardaco valvar. Correspondente ao tempo - 1 (T1). Optou-se

    pela coleta de T1 na UTI, pois a CEC j ter sido descontinuada e a heparina

    revertida com a administrao da protamina.

    A avaliao de sangramento foi realizada de hora em hora atravs do dbito

    total dos drenos torcicos pelo tempo que os mesmos permaneceram, aps a

    admisso do paciente na UTIC.

  • Mto

    dos 3

    1

    Fig

    ura

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  • Mtodos 32

    3.10 Definies das complicaes clnicas

    Choque cardiognico: presena de taquicardia, hipotenso, e

    perfuso comprometida associada com ScVO2 menor que 65% ou acidose

    metablica (diminuio do dficit de base >4) ou um aumento no nvel de

    lactato (>18,02 mg/dL) na ausncia de outra causa que no a disfuno

    cardaca. Mass L, Antonacci M. Low cardiac output syndrome: Identification

    and management. Crit Care Nurs Clin North Am. 2005;17:37583.

    Insuficincia renal aguda: classificao de AKIN, que define a leso

    renal aguda como uma reduo abrupta (em 48 horas) na funo renal

    caracterizada por elevao absoluta da creatinina maior ou igual a 0,3 mg/dL (

    26,4 mol/l), um aumento percentual da creatinina maior ou igual a 50% (1,5

    vezes a creatinina basal), ou uma reduo do dbito urinrio para menor que

    0,5 ml/kg/h por seis horas ou mais. A necessidade de dilise foi baseada em

    indicao clnica e avaliao laboratorial diria. Haase M, Bellomo R,

    Matalanis G, Calzavacca P, Dragun D, Haase-Fielitz A. A comparison of the

    RIFLE and Acute Kidney Injury Network classifications for cardiac surgery-

    associated acute kidney injury: A prospective cohort study. J Thorac Cardiovasc

    Surg. The American Association for Thoracic Surgery; 2009;138(6):13706.

    Figura 5 - Classificao AKIN para Insuficincia renal aguda

  • Mtodos 33

    Trax aberto: Sada do paciente do centro cirrgico com o trax

    aberto, fechado com compressas. A deciso ser feita pelo cirurgio em casos

    de sangramento de difcil controle.

    Arritmias: ocorrncia de taquiarritmias e bradiarritmias no ps-

    operatrio. Diariamente na UTI e na enfermaria, era realizado um

    eletrocardiograma de 12 derivaes.

    Reoperao: reoperao por sangramento/tamponamento, disfuno

    valvar, trombose de enxerto, outra causa cardaca.

    Complicaes hematolgicas: sangramento foi definido como

    clinicamente significativo quando as perdas sanguneas excediam 100 a 300

    mL/hora aps admisso na UTI50. Despotis G, Skubas N, Goodnough LT.

    Optimal Management of Bleeding and Transfusion in Patients Undergoing

    Cardiac Surgery. Semin Thorac Cardiovasc Surg. W.B. Saunders Company;

    1999;11(2):84104

    Acidente vascular cerebral (AVC): dficit neurolgico de incio

    abrupto que no se resolveu em 24 horas causado por um distrbio de

    suprimento sanguneo cerebral51. Adult Cardiac Surgery Database - Training

    Manual - Data Collection. Society of Thoracic Surgeons - v.2.81. 2014;1216.

    Mortalidade operatria: Ser considerada como bito de todas as

    causas ocorrendo at 28 dias aps a cirurgia. Contato telefnico ser utilizado

    para avaliar este desfecho.

    3.11 Anlises estatsticas

    As variveis classificatrias foram avaliadas com o teste de qui-

    quadrado ou razo de verossimilhana.

    As variveis quantitativas foram avaliadas em relao distribuio normal

    com o teste de Kolmogorov-Smirnov.

  • Mtodos 34

    As variveis com distribuio normal foram avaliadas com anlise de varincia

    (ANOVA) e teste de Tukey.

    Os testes no paramtricos foram de Kruskal-Wallis e Dunn.

    Os valores de p

  • 4. Resultados

  • Resultados 36

    Um total de 100 pacientes preencheram os critrios de incluso, no

    apresentando nenhum critrio de excluso e foram considerados elegveis ao

    estudo. Quanto ao sangramento observado pelo dbito total dos drenos os pacientes

    foram subdivididos em 04 grupos de acordo com o volume de sangramento

    apresentado at a retirada dos drenos na UTIC: os com sangramento < 270 mL,

    considerados como sangramentos menores e pertencentes ao 1 Quartil; os com

    sangramentos entre 270 mL - 400 mL dentro de um risco de padro tambm menor

    para interveno transfusional e pertencentes ao 2 Quartil; os com sangramento

    entre 400 mL - 600 pertencentes ao 3 Quartil e os com sangramento > 600 ml,

    pertencentes ao 4 Quartil e considerado como sangramento maior e, portanto com

    potencial de maior risco para interveno transfusional e correcional para

    coagulopatias e reinterveno cirrgica. Este nmero foi definido observando-se o

    dbito total dos drenos que se comportaram da seguinte maneira (Mediana/Intervalo

    Interquartlico). Os dbito foram no POI de 240 mL (143mL-313mL), no 1 PO de

    150mL (100mL-280mL), no 2 PO de 100mL (315mL- 600mL), portanto o dbito total

    dos drenos apresentou uma mediana com intervalo interquartlico de 415mL (315ml

    600mL). Analisando os pacientes que receberam transfuso sangunea,

    observamos que foram realizadas transfuses de concentrado de hemcias nos

    pacientes com dbito 415 mL. No total foram encontrados 23 pacientes nestas

    condies que foram transfundidos ou no intra-operatrio e POI, sendo, 14 pacientes

    apenas no intra-operatrio, 05 pacientes no POI, e em 04 casos houve utilizao nos

    dois tempos.

    As anlises estatsticas foram consideradas significantes quando P< 0,05.

    A Tabela - 1 certifica a diviso dos grupos entre quartis. Observa-se que no

    1 quartil o N foi de 25 com mdia de sangramento (dbito dos drenos) de 135,80

    mL e desvio padro de 97,92 mL (mnimo = 0 e mximo 265 mL); 2 quartil, N de 26

    com mdia de sangramento (dbito dos drenos) de 349,62 mL e desvio padro de

    44,04 mL (mnimo =270 mL e mximo 400 mL); 3 quartil, N de 24 com mdia de

    sangramento (dbito do dreno) de 520,00 mL e desvio padro de 57,56 mL (mnimo

    =415 mL e mximo 600 mL); 4 quartil, N de 25 com mdia de sangramento (dbito

    dos drenos) de 973,20 mL e desvio padro de 458,86 mL (mnimo =610 mL e

    mximo 2260mL). Configurando um Total (N) de 100 pacientes com uma mdia de

  • Resultados 37

    sangramento (dbitos dos drenos) de 492,95 mL, apresentando um desvio padro

    de 388,14 mL e 2260 mL.

    Tabela 1- Diviso dos grupos em quartis; N : grupo; sangramento: mdia, mnimo e mximo.

    Total /Drenos N Mdia Desvio

    padro Mnimo Mximo

    1 quartil 25 135,80 97,92 0 265 ml

    2 quartil 26 349,62 44,04 270 400 ml

    3 quartil 24 520,00 57,56 415 600 ml

    4 quartil 25 973,20 458,86 610 2260 ml

    Total 100 492,95 388,14 0 2260 ml

    A tabela 2 demonstra a relao das condies basais dos pacientes em

    termos de dados demogrficos, histria clnica e comorbidades associadas e o

    sangramento (dbito dos drenos). Observa-se que no estudo em tela no houve

    nenhuma comorbidade associada ao maior risco de sangramento perioperatrio.

    interessante observar que nem a reoperao (cirurgia cardaca prvia) teve

    significncia estatstica no risco de sangramento aumentado perioperatrio. Assim

    tambm observamos em relao aos escores de risco cirrgico aplicados. No

    apresentaram evidncias de que se relacionam com sangramento aumentado nas

    cirurgias cardacas valvares.

  • Resultados 38

    Tabela 2 - Resultados dos dados demogrficos, histria clnica e comorbidades associadas aos grupos de sangramento estudados.

    Varivel

    Total /Drenos (mL)

    P 1 quartil

    (600mL)

    Idade 48,04 11,2 54,73 17,61 55,46

    11,97 51,44 15,12

    0,243***

    *

    IMC 25 (23 - 27) 24 (22 - 28) 25 (23 - 27) 24 (22 - 28) 0,448***

    EUROSCORE 2 (1 - 4) 5 (2 - 8) 4 (1 - 7) 3 (1 - 6) 0,063***

    Sexo/Masculino 12 (48%) 8 (30,8%) 9 (37,5%) 12 (48%) 0,520**

    Raa0Branca1Negro2Oriental3Parda

    0,191*

    0 22 (88%) 24 (92,3%) 19 (79,2%) 20 (80%)

    1 1 (4%) 2 (7,7%) 5 (20,8%) 4 (16%)

    3 2 (8%) 0 (0%) 0 (0%) 1 (4%)

    IC 22 (88%) 23 (88,5%) 22 (91,7%) 22 (88%) 0,970*

    NYHA0I1II2III3IV

    0,518*

    0 0 (0%) 0 (0%) 1 (4,5%) 3 (13,6%)

    1 9 (40,9%) 10 (43,5%) 10 (45,5%) 7 (31,8%)

    2 12 (54,5%) 12 (52,2%) 10 (45,5%) 10 (45,5%)

    3 1 (4,5%) 1 (4,3%) 1 (4,5%) 2 (9,1%)

    IAM Prvio 1 (4%) 0 (0%) 1 (4,2%) 1 (4%) 0,606**

    Hipertenso Arterial 10 (40%) 13 (50%) 15 (62,5%) 12 (48%) 0,468*

    Doena Valvar 25 (100%) 26 (100%) 23 (95,8%) 25 (100%) 0,409**

    Valvopatia Reumtica 12 (48%) 10 (38,5%) 6 (25%) 11 (44%) 0,377*

    Doena Vascular Perifrica 0 (0%) 0 (0%) 0 (0%) 1 (4%) 0,423*

    DPOC 1 (4%) 2 (7,7%) 0 (0%) 3 (12%) 0,208*

    Dislipidemia 5 (20%) 6 (23,1%) 5 (20,8%) 3 (12%) 0,747*

    Tabagista atual 0 (0%) 1 (3,8%) 2 (8,3%) 2 (8%) 0,318*

    Obesidade IMCgt30 1 (4%) 1 (3,8%) 1 (4,2%) 0 (0%) 0,624*

    Creatininagt15mgdL 0 (0%) 2 (7,7%) 3 (12,5%) 1 (4%) 0,186*

    Histria de FA 8 (32%) 9 (34,6%) 13 (54,2%) 11 (44%) 0,378**

    Diabetes 1 (4%) 3 (11,5%) 2 (8,3%) 4 (16%) 0,518*

    Hipotireoidismo 1 (4%) 2 (7,7%) 3 (12,5%) 1 (4%) 0,627*

    AVC prvio 1 (4%) 3 (11,5%) 2 (8,3%) 1 (4%) 0,667*

    IEC/ABRA 14 (56%) 13 (50%) 17 (70,8%) 13 (52%) 0,447**

    B Bloqueador 10 (40%) 11 (42,3%) 10 (41,7%) 12 (48%) 0,947**

    Anticoagulantes 7 (28%) 11 (42,3%) 12 (50%) 11 (44%) 0,447**

    Antiagregantes plaquetrios 0 (0%) 2 (7,7%) 2 (8,3%) 0 (0%) 0,126*

    Hipertenso Pulmonar 8 (32%) 11 (42,3%) 8 (33,3%) 10 (40%) 0,845**

    Cirurgia Cardaca Prvia 2 (8%) 5 (19,2%) 3 (12,5%) 5 (20%) 0,564*

    * teste de verossimilhana;** teste do qui quadrado,*** teste de kruskal-walis; **** ANOVA. IC: insuficincia

    cardaca; IMC: ndice de massa corprea; IAM : infarto agudo do miocrdio; AVC : acidente vascular cerebral;

    FA: fibrilao atrial; NYHA: new york heart assossiation; IEC/ABRA: inibidor da enzima conversora da

    angiotensina.

  • Resultados 39

    A tabela 3 demonstra a relao dos exames pr-operatrios quanto ao

    volume de sangramento (dbito dos drenos) Esto includos FEVE, Creatinina,

    TTPa, TP, Hb, Ht, Plaquetas, INR. No houve diferena significante do ponto de

    vista estatstico em relao aos exames realizados e a distribuio interquartlica.

    Portanto estes exames no se mostraram eficazes na predio de maior ou menor

    sangramento ps-operatrio.

    Tabela 3 - Resultado dos exames pr-operatrios associadas aos grupos de sangramento estudados.

    Varivel

    Total/Drenos (mL)

    P 1 quartil

    (600mL)

    FEVE 64 (60 - 68) 65 (49 - 69) 61 (56 - 68) 60 (54 - 66) 0,546*

    TTPA 30 (28 - 33) 28 (26 - 30) 30 (28 - 35) 29 (27 - 33) 0,207*

    Hb 14,04 1,34 13,6 1,68 13,31 1,62 13,72 2,13 0,525*

    Ht 41,63 4,23 41,08 4,33 40,33 4,8 41,38 5,62 0,803**

    Plaquetas 220860 61354 197042 66381 220860 61354 197042 66381 0,068**

    TP 11,65 (11,2 - 12,38) 11,6 (10,9 - 12,1) 11,5 (11 - 12,45) 11,9 (11,3 - 12,8) 0,518**

    INR 1,1 (1 - 1,1) 1,1 (1 - 1,1) 1,05 (1 - 1,1) 1,1 (1 - 1,2) 0,567*

    Creatinina 1,05 (0,84 - 1,32) 1,01 (0,8 - 1,16) 0,94 (0,8 - 1,26) 1,06 (0,9 - 1,29) 0,444*

    *teste de Kruskal-Walis; ** ANOVA; FEVE: frao de ejeo de ventrculo esquerdo; TTPA: tempo

    de tromboplastina parcial ativado; Hb: hemoglobina; Ht: hematcrito; TP: tempo de protrombina;

    INR: razo normalizada internacional

    A tabela 4 demonstra a relao das operaes realizadas, da CEC, drogas

    utilizadas no intra-operatrio e condies de sada de sala associadas aos grupos de

    sangramento (dbito dos drenos) estudados. Quanto a valva operada no houve

    nenhum tipo de interferncia significante em relao ao nvel de sangramento

    apresentado. Os riscos de sangramento foram semelhantes para interveno nas

    valvas mitral, artico ou tricspide, assim como procedimentos valvares associados.

    Observa-se que as condies da CEC foram muito semelhantes entre os quartis e

    que houve maior necessidade de transfuso perioperatria nos 3 e 4 quartis

    diretamente relacionados a um nvel de sangramento maior no intra-operatrio.

  • Resultados 40

    Observa-se uma significncia estatstica no menor uso de Ypsilon e maior

    sangramento no 1 quartil, porm este menor uso foi em decorrncia de neste grupo

    estar pacientes com menor gravidade e, portanto menor indicao do antifibrinoltico.

    No entanto no se pode inferir pelo resultado que o uso desta droga foi determinante

    com fator de maior ou menor sangramento. Quanto ao TCA final observa-se que

    todos os grupos apresentaram resultados semelhantes e, portanto a inativao da

    heparina utilizada durante a CEC por protamina foi semelhante entre todos os

    quartis estudados. Quanto aos balanos hdrico e sanguneo os grupos estudados

    apresentaram resultados semelhantes.

  • Resultados 41

    Tabela 4 - Relao dos dados das operaes realizadas, da CEC, drogas utilizadas no intra-operatrio e condies de sada de sala associadas aos grupos de sangramento estudados.

    Varivel

    Total/Drenos (mL) P

    1 quartil

    (600mL)

    CirurgiaValvar:1Mi2Ao3Tri

    0,099*

    1,0 15 (60%) 15 (57,7%) 11 (45,8%) 15 (60%)

    1,2 1 (4%) 0 (0%) 5 (20,8%) 3 (12%)

    1,3 2 (8%) 0 (0%) 0 (0%) 1 (4%)

    2,0 7 (28%) 11 (42,3%) 8 (33,3%) 5 (20%)

    3,0 0 (0%) 0 (0%) 0 (0%) 1 (4%)

    Tempo de CEC (min) 94,48 25,02 79,04 21,54 86,46 20,69 90,2 26,6 0,124***

    Tempo de pinamento (min) 68,84 26,16 59,58 22,16 69,67 21,9 72 23,12 0,248***

    Tempo de anestesia (h) 07:29(06:32-08:17) 06:32(06:10-07:21) 06:45(06:06-07:37) 07:00(06:32-07:49) 0,125**

    Tempo de cirurgia (h) 04:45(04:12-05:32) 04:24(04:03-04:48) 04:12(03:52-04:42) 04:45(04:27-05:05) 0,069**

    DDAVP 11 (50%) 6 (23,1%) 11 (45,8%) 15 (60%) 0,056****

    Transfuso 3 (12%) 6 (23,1%) 11 (45,8%) 3 (12%) 0,015****

    Albumina mL 0 (0%) 0 (0%) 1 (4,2%) 0 (0%) 0,413*

    Dobutamina 24 (96%) 26 (100%) 24 (100%) 24 (96%) 0,421*

    Dopamina 1 (4%) 0 (0%) 0 (0%) 0 (0%) 0,423*

    Nitroglicerina 2 (8%) 2 (7,7%) 3 (12,5%) 1 (4%) 0,745*

    Nitroprussiato 11 (44%) 11 (42,3%) 13 (54,2%) 13 (52%) 0,796****

    Norepinefrina 8 (32%) 7 (26,9%) 3 (12,5%) 10 (40%) 0,182****

    Epinefrina 5 (20%) 2 (7,7%) 2 (8,3%) 2 (8%) 0,480*

    xido Ntrico 1 (4%) 2 (7,7%) 3 (12,5%) 3 (12%) 0,665*

    Milrinone 1 (4%) 1 (3,8%) 1 (4,2%) 0 (0%) 0,624*

    Ypsilon 21 (84%) 26 (100%) 24 (100%) 25 (100%) 0,009*

    cido Tranexmico 2 (8%) 1 (3,8%) 0 (0%) 1 (4%) 0,427*

    Trax Aberto 0 (0%) 0 (0%) 1 (4,2%) 0 (0%) 0,409*

    Balano Hdrico mL 2253,33 874,97 2539,23 1052,79 2420,21 767,59 2525,4 917,12 0,674***

    Balano Sanguneo mL -228,29 256,47 -217,77 143,79 -201,96 196,69 -318,04 155,69 0,146***

    Cristaloide mL 1600 (1500 - 2000) 1700 (1500 - 2000) 2050 (1500 - 2500) 2000 (1500 - 2500) 0,301**

    Temperatura Central mais alta 37 (36 - 37) 37 (36 - 37) 37 (36 - 37) 37 (36 - 37) 0,742**

    Temperatura Central mais

    baixa

    TCA final

    27 (27 - 28)

    668,57 94,86

    28 (27 - 28)

    582,12 154,49

    28 (27 - 28)

    599,75 83

    28 (27 - 28)

    588,71 114,34

    0,30**

    0,059***

    *teste de verossimilhana;** teste de kruskal-walis; *** ANOVA, Teste do qui quadrado; Mi:

    valva mitral, Ao: valva artica; Tri: valva tricspide; CEC: circulao extracorprea; min:

    minuto; h: hora; TCA: tempo de coagulao ativado; DDAVP: acetato de desmopressina.

    O Grfico - 1 demonstra, atravs de diagrama, a distribuio da utilizao

    de YPSILON associada aos quatro grupos estudados. Houve uma significncia

    estatstica em relao ao menor uso no 1 quartil ( 84% dos pacientes) onde tambm

  • Resultados 42

    houve um menor nvel de sangramento. No entanto neste grupo tambm se

    encontravam os pacientes com menor gravidade clnica, tendo como consequncia a

    menor indicao de antifibrinoltico. Nos 2, 3 e 4 quartis a indicao foi em 100%

    dos pacientes.

    Grfico 1 - Distribuio percentual de uso de Ypsilon nos grupos de sangramento estudados

    A tabela 5 e a tabela 6 demonstram a relao dos exames colhidos em T 0 (

    induo anestsica) e T 1 ( chegada na UTIC) associados nos grupos de

    sangramento (dbito dos drenos) estudados. Na tabela 5 so especificados

    Plaquetas, Hematcrito, Hemoglobina, Fibrinognio, PaCO2, PaO2, PvCO2, SvO2,

    SaO2 e Ph. Na tabela 6 esto apresentados os valores do TTPA, TP, INR, Dmero

    D, Lactato, Bicarbonato de Sdio, Clcio Inico, PvO2, Base Excess, Balano

    Hdrico e Balano Sanguneo. Quanto aos gases arteri