JU529

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5 0 com menos de entre as melhores Rankings do Times Higher Education (THE) e da Quacquarelli Symonds (QS), ambos divulgados no final de maio, colocam a Unicamp entre as 50 melhores universidades do mundo no âmbito das instituições com menos de 50 anos. IMPRESSO ESPECIAL 1.74.18.2252-9-DR/SPI Unicamp CORREIOS FECHAMENTO AUTORIZADO PODE SER ABERTO PELA ECT www.unicamp.br/ju ornal U ni camp da Campinas, 11 a 17 de junho de 2012 - ANO XXVI - Nº 529 - DISTRIBUIÇÃO GRATUITA J EDIÇÃO ESPECIAL Antonio Félix Duarte Carlos Henrique de Brito Cruz Carol Collins Carlos Vogt Doris Kowaltowski Francisco Magalhães Gomes Elizabeth Balbachevsky Euclides de Mesquita Neto Fernando Ferreira Costa Hermano Tavares João Luiz de Carvalho Pinto e Silva João Frederico da Costa Azevedo Meyer Jocimar Archangelo José Ellis Ripper Filho José Martins Filho José Tadeu Jorge Marcelo Knobel Maurício Kleinke Paulo Eduardo Moreira Rodrigues da Silva Phil Baty Renato H. L. Pedrosa Rogério Antunes Pereira Filho Rogério Cezar de Cerqueira Leite Ronaldo Aloise Pilli Roy Bruns Simon Schwartzman

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Jornal da Unicamp, edição 529

Transcript of JU529

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Foto: Antoninho Perri

Laboratório no Instituto de Física “Gleb Wataghin”:

qualidade das pesquisas desenvolvidas na Universidade

pesou nos dois rankings

50com menos de

entre asmelhoresRankings do Times Higher Education (THE) e da Quacquarelli Symonds (QS), ambos divulgados no final de maio, colocam a Unicamp entre as 50 melhores universidades do mundo no âmbito das instituições com menos de 50 anos.

IMPRESSO ESPECIAL1.74.18.2252-9-DR/SPI

UnicampCORREIOS

FECHAMENTO AUTORIZADOPODE SER ABERTO PELA ECTwww.unicamp.br/ju

ornal UnicampdaCampinas, 11 a 17 de junho de 2012 - ANO XXVI - Nº 529 - DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

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Antonio Félix Duarte Carlos Henrique de Brito Cruz Carol Collins Carlos Vogt Doris Kowaltowski Francisco Magalhães Gomes Elizabeth Balbachevsky Euclides de Mesquita Neto Fernando Ferreira Costa Hermano Tavares João Luiz de Carvalho Pinto e Silva João Frederico da Costa Azevedo Meyer Jocimar Archangelo José Ellis Ripper Filho José Martins Filho José Tadeu Jorge Marcelo Knobel Maurício Kleinke Paulo Eduardo Moreira Rodrigues da Silva Phil Baty Renato H. L. Pedrosa Rogério Antunes Pereira Filho Rogério Cezar de Cerqueira Leite Ronaldo Aloise Pilli Roy Bruns Simon Schwartzman

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No grupo de elite da

Unicamp figura entre as 50 melhores universidades com menos de 50 anos em dois rankings internacionais

O reitor Fernando Costa: “A capacidade de inovar e procurar novos caminhos são aspectos peculiares da Unicamp”

nova geração

UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas

Reitor Fernando Ferreira CostaCoordenador-Geral Edgar Salvadori De DeccaPró-reitor de Desenvolvimento Universitário Paulo Eduardo Moreira Rodrigues da SilvaPró-reitor de Extensão e Assuntos Comunitários João Frederico da Costa Azevedo MeyerPró-reitor de Pesquisa Ronaldo Aloise PilliPró-reitor de Pós-Graduação Euclides de Mesquita NetoPró-reitor de Graduação Marcelo KnobelChefe de Gabinete José Ranali

Elaborado pela Assessoria de Imprensa da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Periodicidade semanal. Correspondência e sugestões Cidade Universitária “Zeferino Vaz”, CEP 13081-970, Campinas-SP. Telefones (019) 3521-5108, 3521-5109, 3521-5111. Site http://www.unicamp.br/ju. E-mail [email protected]. Twitter http://twitter.com/jornaldaunicamp Coordenador de imprensa Eustáquio Gomes Assessor Chefe Clayton Levy Editor Álvaro Kassab ([email protected]) Chefi a de reportagem Raquel do Carmo Santos ([email protected]) Reportagem Carmo Gallo Neto Isabel Gardenal, Maria Alice da Cruz e Manuel Alves Filho Editor de fotografi a Antoninho Perri Fotos Antoninho Perri e Antonio Scarpinetti Coordenador de Arte Luis Paulo Silva Editor de Arte Joaquim Daldin Miguel Vida Acadêmi-ca Hélio Costa Júnior Atendimento à imprensa Ronei Thezolin, Felipe Barreto e Patrícia Lauretti Serviços técnicos Dulcinéa Bordignon Everaldo Silva Impressão Pigma Gráfi ca e Editora Ltda: (011) 4223-5911 Publicidade JCPR Publicidade e Propaganda: (019) 3327-0894. Assine o jornal on line: www.unicamp.br/assineju

Campinas, 11 a 17 de junho de 2012

UNICAMP EM NÚMEROS

ois dos mais prestigiosos rankings internacionais de avaliação sobre educação no ensino superior, do Times Higher Education (THE) e da Quacquarelli Symonds (QS), classificaram a Unicamp entre as cem melhores universidades jovens do mundo, com me-nos de 50 anos.

No ranking da QS, divulgado dia 29 de maio, a Unicamp, de 46 anos, ocupa a 22ª posição e é a única instituição da América Latina a constar no grupo de elite. No THE, publicado em 30 de maio, a Universidade figurou na 44ª posição. Nesta classificação, também consta a Unesp (Universidade Estadual Paulista), de 36 anos, em 99ª. As duas instituições são as únicas brasileiras e latino-americanas a aparecer. A Rússia e outros países emergen-tes, como Índia, ficaram de fora.

Os dois institutos adotam critérios diferentes. Enquanto no THE a pesquisa tem peso maior, na QS conta mais a reputação de uma universidade no meio acadêmico mundial. Nas avaliações é considerado o desempenho das insti-tuições em diferentes indicadores, entre os quais número de alunos, demanda em processos seletivos, número de artigos publicados, número de teses pro-duzidas, satisfação de estudantes, prêmios recebidos por seus pesquisadores ou ex-alunos, prestação de serviços e transferência de tecnologia (patentes e licenciamentos).

O reitor da Unicamp, Fernando Ferreira Costa, comemora o fato de a Uni-

camp estar entre a elite da nova geração de universidades globais. Para Costa, a produção científica e a capacidade de inovação contaram muito para que a instituição pudesse alcançar êxito em tão poucos anos de existência.

O reitor ressalta que a Unicamp tem que continuar a incrementar as ca-racterísticas que a marcaram desde a sua fundação. “Procurar, de maneira intensiva, buscar os melhores professores no Brasil e no exterior. Buscar os melhores alunos e as condições para que ocorram inovações que dificilmente ocorreriam em universidades tradicionais do País”, diz.

A Unicamp tem 98% do seu corpo docente com doutorado, condição que atrai excelentes alunos. Seu programa de pós-graduação obteve a melhor média de todas as universidades brasileiras. Anualmente, são formados 800 doutores e 1,2 mil mestres. Entre os artigos publicados em revistas indexadas no país, 8% são oriundos da Unicamp, o que faz da instituição a mais produtiva no Brasil, quando a produção é calculada em relação ao número de docentes.

Fernando Costa afirma que, para continuar a galgar o caminho da exce-lência, é fundamental que a Unicamp acompanhe as mudanças que ocorrem no ensino superior no mundo. De acordo com o reitor, também é importante intensificar o grau de internacionalização, com intercâmbio de alunos e pes-quisadores e aumentar a atração de estudantes estrangeiros para realizar cur-sos completos na Unicamp.

“Isto é o que caracteriza uma universidade moderna, de classe mundial e que faz com que a produção científica seja comparada à das melhores ins-tituições de ensino”, afirma o reitor. Ademais, acentua, também é necessário manter e aumentar a interação com a sociedade, principalmente com o setor

produtivo, com empresas privadas e públicas, bem como com o setor pú-blico. Segundo Costa, os alunos precisam ser incentivados a participar da inovação em empresas juniores e, desta forma, incrementar a possibilidade de empreendedorismo, mesmo na graduação.

Para ele, a trajetória da Unicamp mostra que, apesar das dificuldades da universidade brasileira em relação a problemas de governança, é possível fa-zer com que objetivos principais, como atrair bons professores, excelentes servidores e os melhores alunos, sejam atingidos. Esta trajetória, conforme explica, mostra ainda que é possível atrair bons alunos com base no mérito, mas também contemplando a diversidade. Como exemplo, ele cita o ProFIS (Programa de Formação Interdisciplinar Superior), programa de seleção que leva em conta o mérito e também a diversidade social das escolas públicas.

“São aspectos peculiares da nossa Universidade a capacidade de inovar e procurar novos caminhos que precisam ser mantidos, como os critérios de avaliação dos professores”, ressalta o reitor. A Unicamp exige de todos os docentes relatórios a cada três, quatro ou cinco anos, para avaliar o de-sempenho nas atividades de ensino, pesquisa e extensão, que são julgados em diversas instâncias.

Entre os desafios que se apresentam para que a Unicamp avance em grau de internacionalização e se torne uma universidade de classe mundial, Costa comenta que é necessário disponibilizar cursos em língua inglesa não só na área de pós-graduação, mas também na graduação, sem prejuízo do ensino em português, “oferecendo oportunidades para que alunos do mundo inteiro possam vir estudar aqui”.

ois dos mais prestigiosos rankings internacionais de avaliação

DENIZE ASSIS Especial para o JU

PRODUÇÃO CIENTÍFICAE INOVAÇÃO TECNOLÓGICALinhas de Pesquisa 1.056Projetos com Financiamento 5.382Produções 23.466Livros Publicados 183Arti gos Publicados em Periódicos 4.473Capítulos de Livros Publicados 1.027Trabalhos Completos Publicados em Anais de Congressos 1.869Resumos Publicados 3.739Publicações Indexadas (ISI-EUA) 2.981

INFORMAÇÕES GERAISRecursos (R$) 2.272.727.757Orçamentários (R$)1.694.562.173Extra-Orçamentários (R$) 578.165.584Campi 6Unidades e Outros Órgãos 75Unidades de Ensino e Pesquisa 22Hospitais 3Centros e Núcleos Interdisciplinares 21Colégios Técnicos 2Bibliotecas 27Área Física Total 3.518.602 m2

Área Construída 626.597 m2

GRADUAÇÃO NÚMERO DE CURSOS (opção por ingresso) 66Diurno 42Noturno 24Vagas na Graduação 3.320Vagas no Vesti bular - Noturno 1.140ALUNOS MATRICULADOS (inclui os especiais) 17.650Formados 2.284Taxa de Evasão 8,38%

PÓS-GRADUAÇÃO NÚMERO DE CURSOS 142Mestrado 66Doutorado 60Especialização 16ALUNOS MATRICULADOS 26.869Mestrado 5.322Doutorado 5.779Especialização 12.337Especiais 3.431CONCLUINTES 2.671Dissertações de Mestrado 1.354Teses de Doutorado 818Especialização 499

PROGRAMA DE BOLSAS E ASSISTÊNCIA ESTUDANTILPrograma de Apoio Didáti co - PAD/Auxílios* 935Programa de Estágio Docente - PED/Auxílios * 1.488Bolsas de Iniciação Cientí fi ca ** 1.410Bolsa Auxílio Social 833Bolsa Pesquisa 244Bolsa Alimentação e Transporte 508Bolsa Emergência 344Bolsa Auxílio Moradia (FCA/FOP/FT) 210Bolsas Oferecidas por Agências de Fomento (CAPES/CNPq/FAPESP) 4.385Mestrado 2.198Doutorado 2.637Moradia Estudanti l - Número de Moradores 1.087*Somatório do 1º e 2º Semestres** Inclui Bolsa Pesquisa PUBLICAÇÕES EDITADASObras editadas/tí tulos 67Tiragem 79.720Edição Própria 64.720Coedição 15.000

PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS - ÁREA DE SAÚDENúmero de Leitos 858Internações 36.687Consultas Atendidas 859.745Intervenções Cirúrgicas 55.409Partos 5.053Imagenologia 298.379Procedimentos Odontológicos 182.989Exames Laboratoriais 5.364.668

Foto: Felipe Christ

Fonte: Anuário Estatí sti co da Unicamp de 2012 - Base de dados 2011 | Veja em: www.aeplan.unicamp.br

RECURSOS HUMANOSATIVOS 10.019Docentes - Carreira MS 1.727Docentes - Outras Carreiras 298Não Docentes 7.994APOSENTADOS 3.185Docentes - Carreira MS 965Docentes - Outras Carreiras 121Não Docentes 2.099TITULAÇÃO DOCENTES ATIVOSPorcentagem de MS - Doutores ou acima 98%

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Unicamp, um modelo3

Campinas, 11 a 17 de junho de 2012Campinas, 11 a 17 de junho de 2012

que deu certoFERNANDO F. COSTA

ois tipos de classificação sobre as melhores universidades do mundo criadas há no máximo 50 anos, divulgados no final de maio, merecem atenção e análise. No primeiro, ela-borado pela Quacquarelli Symonds (QS), e que relacionou as “top 50 under 50”, a Unicamp é a única brasileira a apa-

recer na lista, ocupando o 22º lugar. No segundo, desenvol-vido pelo Times Higher Education (THE), com a lista das “top 100 under 50”, a Unicamp aparece na 44ª posição no contexto global e em 1º na América Latina. No ranking do THE, além da Unicamp, também está relacionada a Universidade Estadual Paulista (Unesp), na 99ª colocação.

Não obstante as diversas limitações e problemas existentes em clas-sificações desse tipo, as posições alcançadas pela Unicamp são relevan-tes e significativas. Não por acaso, os primeiros lugares são dominados por universidades asiáticas, uma vez que os países daquela região têm levado a efeito pesados investimentos em educação nas últimas déca-das. É importante, porém, saber quais qualidades levaram as instituições brasileiras, em especial a Unicamp, a figurar num círculo restrito de uni-versidades de classe mundial. No caso da Unicamp, pesaram fortemente na indicação a qualidade da educação na graduação e pós-graduação, a densidade de seus programas de pesquisa, a inserção internacional de seus pesquisadores e a capacidade de inovação.

De fato, a Unicamp responde hoje por 8% da pesquisa brasileira e pela formação de 10% de todos os mestres e doutores no país, resulta-dos obtidos a partir do esforço contínuo na contratação dos melhores professores e na formação de estudantes que possam atuar de maneira criativa e com elevado grau de iniciativa e pensamento crítico nas di-versas áreas do conhecimento. Seus 1,8 mil docentes, dos quais 98% com titulação mínima de doutor, lideram a produção per capita de ar-tigos científicos publicados em revistas internacionais indexadas, fato que levou a universidade a conquistar, em 2011, o Prêmio SciVal Brasil da Editora Elsevier por sua produção científica.

Graças a uma política de grande interação com a socie-dade, incluindo empresas públicas e privadas bem como órgãos governamentais, a Unicamp é hoje a

universidade com o maior número de patentes reconhecidas e licencia-das do país. O contexto favorável à inovação e ao empreendedorismo possibilitou, nos últimos anos, o surgimento no entorno da universi-dade de aproximadamente 120 empresas formadas por ex-alunos ou professores. As chamadas “filhas da Unicamp” empregam cerca de 7 mil profissionais e faturam cerca de R$ 1,2 bilhão por ano.

Todos esses indicadores apontam para o sucesso do modelo im-plantado por seu fundador, Zeferino Vaz, que fazia da pesquisa um ele-mento de qualificação do ensino em todos os níveis, e das relações com a sociedade um componente intrínseco da atividade acadêmica. Foi também a partir desse modelo que a Unicamp consagrou-se como uma universidade talhada para a invenção, antecipando-se às políticas públicas para enfrentar os desafios no campo da educação, da pesqui-sa e da extensão de forma propositiva.

Nesse aspecto, basta citar a criação do seu vestibular próprio em 1987; o Projeto Qualidade, que a partir de 1990 passou a exigir titulação mínima de doutor para os docentes contratados e avaliação periódica dos docentes nas atividades de ensino, pesquisa e extensão, indepen-dentemente do grau de hierarquia na carreira; o lançamento, em 2003, da primeira agência de inovação brasileira; a criação, em 2004, do Pro-grama de Ação Afirmativa e Inclusão Social (Paais), destinado a ampliar o número de alunos procedentes de escolas públicas nos cursos de graduação; e, mais recentemente, a implantação do Programa de For-mação Interdisciplinar Superior (ProFIS), que criou 120 novas vagas destinadas aos alunos que mais se destacarem nas escolas públicas; do Programa Professor Especialista Visitante do Exterior, que consis-te em trazer profissionais de notório conhecimento em suas áreas de atuação; do Espaço de Apoio ao Ensino e Aprendizagem (EA)2, cujo objetivo é contribuir para o aper-feiçoamento do ensino de graduação; do Centro de Estudos Avançados

(CEAv), que discute temas estratégicos para o Brasil e formas de in-serção crítica nos debates do contemporâneo; e a criação de grandes laboratórios multidisciplinares.

Outro fator importante é a constante responsabilidade na gestão dos recursos públicos, principalmente após a implantação, em 1989, do regime de autonomia de gestão financeira com vinculação orçamentária, adotado pelo governo estadual nas três universidades estaduais paulistas (USP, Uni-camp e Unesp). A Unicamp respondeu ao estatuto da autonomia com uma contrapartida que resultou no crescimento de todos os seus indicadores. De lá para cá, o número dos cursos de graduação cresceu 83%, passando de 36 para 66 e o contingente de alunos matriculados aumentou 140%, saltando de 7.280 para 17.650. Já na pós-graduação, o número de alunos teve um incremento de 124%, saindo de 6.466 para 14.532, e metade dos 144 cursos apresenta nível de excelência internacional, melhor resultado obtido por uma universidade brasileira até o momento, segundo a Coorde-nação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).

Nesse contexto, merece menção o cuidado que a administração tem tido com os servidores da Unicamp. Nos últimos 12 anos, os salários foram reajustados em 152,52% contra uma inflação de 98,15% (IPC-FIPE). De fato, hoje, o salário real dos servidores da Unicamp é o maior nos últimos 12 anos.

As conquistas alcançadas revelam, portanto, um inequívoco ama-durecimento institucional, mas não se pode perder de vista os desafios quanto ao futuro. Enquanto universidade pública, a Unicamp orgulha-se de pertencer ao grupo de instituições cuja atuação resulta em indiscu-tível contribuição à sociedade, mas sem dúvida numerosas ações são necessárias para incrementar ainda mais a excelência acadêmica e o grau de internacionalização da universidade brasileira.

É fundamental citar que nenhum país conseguiu atingir um ritmo pro-gressivo e sustentável de desenvolvimento econômico e social sem a cons-trução de um sólido sistema universitário. No atual contexto brasileiro, no qual menos de 14% dos jovens na faixa entre 18 e 24 anos estão matricula-dos num curso de nível superior, reconhecer, valorizar e incentivar o esforço da universidade pública e contribuir para a expansão do ensino superior público e sua diversidade, constituem não apenas um ato de justiça, mas, sobretudo, uma medida estratégica para o desenvolvimento do país.

Fernando F. Costa é reitor da Unicamp.

Pesquisadores em laboratório da Faculdade de Ciências Médicas: densidade de programas de pesquisa pesou na classifi cação da Unicamp

ARTIGO

ois tipos de classificação sobre as melhores universidades

recer na lista, ocupando o 22º lugar. No segundo, desenvol-

Foto: Felipe Christ

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O bom desempenho da Unicamp nos rankings do Ti-mes Higher Education (THE) e da Quacquarelli Symonds (QS) está diretamente relacionado à qualidade do ensino e à intensidade no campo da pesquisa. No ranking do THE, considerado o mais prestigioso, estas duas áreas com-põem 60% da nota atribuída às instituições avaliadas. Mas ainda há espaço para crescer nos quesitos “citações” e “internacionalização”, que somam 37,5% da nota.

Se o ranking do THE fosse elaborado com base ape-nas no quesito “ensino”, a Unicamp seria a quinta melhor universidade jovem do mundo. E se o levantamento con-siderasse apenas a “pesquisa”, ela estaria na 27ª posi-ção. A explicação para esses resultados pode ser atribuí-da à relação histórica entre ensino e pesquisa, que desde o início caracterizou-se como o grande diferencial da Unicamp. “Os alunos têm sua atenção despertada para a ciência desde os primeiros anos da graduação”, diz o pró-reitor de Graduação, Marcelo Knobel. Os professores que ensinam nas salas de aula são os mesmos que atu-am nos laboratórios. “Isso faz com que os produtos da investigação científica sejam repassados aos estudantes na forma de conhecimento novo”, completa Knobel.

“Uma universidade que pesquisa proporciona uma for-mação muito mais sólida, abrangente e atualizada, tanto na graduação quanto na pós-graduação”, pondera o pró-reitor de Pesquisa Ronaldo Aloise Pilli. Um bom termômetro desse modelo é o Programa de Iniciação Científica (IC). O número de trabalhos apresentados saltou de 664 em 2001 para 1,3 mil em 2011. No mesmo período, o número de bolsas concedidas para IC subiu de 929 para 1.410. Com o interesse pela pesquisa despertado desde cedo, é natural que os resultados também apareçam na pós-graduação, considerada a melhor do Brasil pela Capes, e onde se con-centram 48% dos estudantes. A cada ano são formados 800 doutores e 1,2 mil mestres, índice comparável ao das melhores universidades norte-americanas.

Essa vocação natural para a investigação científica faz da Unicamp uma verdadeira usina de ideias, onde atuam cerca de 700 grupos de pesquisa, envolvendo a participação de aproximadamente 4 mil pesquisadores, responsáveis pelo desenvolvimento de algo em torno de 5 mil projetos. Para manter o fôlego, a Universidade tem investido pesado. Os recursos totais destinados à pesqui-sa pularam de R$ 218,2 milhões, em 2005, para 350,6 milhões, em 2011, aí incluídas fontes orçamentárias, de agências financiadoras e empresas públicas e privadas.

Os números são respeitáveis, mas para Pilli é possí-vel avançar ainda mais. “Nem tanto em termos quantita-tivos, mas qualitativamente”, diz. Segundo o pró-reitor, as novas gerações de alunos já têm consciência de que as pesquisas devem ser divulgadas e validadas pela co-munidade acadêmica. “Também é preciso aprimorar o foco dos projetos, buscando aqueles que possam gerar

maior impacto no conhecimento”.Se mantiver a curva ascendente registrada nos últimos

20 anos, tudo indica que a meta será alcançada. Um bom indicativo disso é a constante liderança da Unicamp na produção per capita de artigos publicados em revistas in-ternacionais indexadas, fato que rendeu à Universidade em 2011 o Prêmio SciVal Brasil da Editora Elsevier. Em média, os pesquisadores da Unicamp produzem 1,7 artigo indexa-do na base de dados da Thomson Reuters por ano, ou seja, se a produção acadêmica fosse medida por pesquisador, a Unicamp seria a universidade mais produtiva do país.

A relevância dessa produção científica pode ser ve-rificada, por exemplo, na participação direta da Unicamp em pesquisas que alcançaram repercussão nacional e internacional. Entre elas, o desenvolvimento da primeira fibra óptica nacional (1979); o Programa Biota-Fapesp, criado para identificar, mapear e investigar as caracte-rísticas da fauna, da flora e dos microrganismos do Es-tado de São Paulo (1999); o Projeto Genoma, financiado pela Fapesp, que decifrou o sequenciamento genético da bactéria Xyllela fastidiosa, causadora da praga do ama-relinho, doença que afeta 30% dos laranjais paulistas (2000); e o sequenciamento genético da levedura Sac-charomyces cerevisiae, que responde por 30% da produ-ção de etanol no Brasil (2009).

A universidade também vem se destacando no am-biente de inovação nacional. Solidificando sua atuação nessa área, a Unicamp é, de acordo com a última pesqui-sa do Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi), a universidade brasileira com o maior número de pedidos de patentes depositados entre 2004 e 2008. São ao todo 643 pedidos de patentes vigentes, o que lhe garante a segunda posição entre os maiores detentores de patentes em todo o país, atrás apenas da Petrobras. Entre os anos de 2004 e 2011, foram celebrados 80 contratos de licenciamento de tecnologias desenvolvidas na Unicamp para empresas de diversos Estados brasileiros.

O contexto favorável à inovação e ao empreendedo-rismo também gera impactos na economia. Nos arredores da Unicamp, empresas de professores, ex-professores e ex-alunos, idealizadas nas salas de aula da universidade, formam a versão brasileira do Vale do Silício, o pólo de ino-vação científica e tecnológica criado em torno de universi-dades americanas. Essa “Califórnia campineira” é formada por cerca de 120 grupos, a maioria do setor de tecnologia da informação. Juntos, movimentam R$ 1,2 bilhão por ano.

Apesar de comemorar a boa colocação da Unicamp nos rankings, Pilli pondera que também é preciso tirar lições importantes. “Acredito que nosso desempenho pode ser melhorado no que diz respeito a citações de trabalhos produzidos por pesquisadores da Unicamp”, observa. “Também precisamos ampliar o grau de inter-nacionalização da Universidade”, completa. Dos 29 mil

Relação entre

CLAYTON [email protected]

O físico Rogério Cezar de Cerqueira Leite: “Trabalhávamos na fronteira do conhecimento”

O engenheiro José Ellis Ripper Filho: “Voltar para o Brasil era a chance de fazer a diferença no meu país”

é diferencialensino e pesquisa

Investigação científica é repassada aos alunos na forma de conhecimento nos

primeiros anos da Graduação

Atrair os melhores professores, brasileiros ou estrangeiros, não chega a ser uma novidade na Unicamp. Na verdade, essa prática é uma das bases do modelo que deu origem à instituição. Para seu fundador e primeiro reitor, o médico Zeferino Vaz, a receita para se formar uma universidade de ponta era simples: “primeiro, cérebros; em segundo, cérebros; e em terceiro, cérebros”. Fiel a esse lema, nos primeiros anos que se seguiram ao lançamento da pedra fundamental, em 1966, Zeferino chegou a trazer 180 brasileiros e 200 estrangeiros para com-por os quadros da universidade.

Entre eles, estavam o físico Rogério Cezar de Cerqueira Leite e o engenheiro eletrônico José Ellis Ripper Filho. No início dos anos 70, ambos trocaram o Bell Labs, nos Estados Unidos, até então o labora-tório de pesquisa mais importante do mundo, pelo desafio de ajudar na formação da massa crítica que imprimiria à Unicamp a marca de universidade voltada para a pesquisa.

Ambos tiveram papel fundamental nos primeiros passos para que o Brasil alcancasse independência na área de telecomunicações, ao lado de outros nomes de peso, como o físico Sergio Porto e o engenhei-ro eletrônico Rege Romeu Scarabucci. As primeiras turmas formadas pelos dois pesquisadores no Instituto de Física Gleb Wataghin (IFGW) constituíriam o time de profissionais que daria forma, em 1976, ao Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Telebras (CPqD), mais tarde transformado numa fundação de direito privado.

Cerqueira Leite veio para a Unicamp em 1971 na condição de che-fe do Departamento de Estado Sólido, depois de recusar proposta da USP. No mesmo ano, assumiu a direção do IFGW. Sua linha de ação priorizou sobretudo duas frentes. A primeira consistia no recrutamento de professores e docentes em universidades e laboratórios do Brasil e

A gênese da inovação

artigos publicados desde o ano 2000, 126 alcançaram cem ou mais citações; 499 tiveram 50 citações; e 2.446 foram citados 20 vezes. Já em relação à internacionali-zação, Pilli observa que os critérios de avaliação do THE não se limitam ao intercâmnbio de alunos e professores. Os avaliadores também analisam o número de artigos científicos escritos em colaboração com autores de ou-tros países. “É nisso que precisamos melhorar”.

Segundo Pilli, a Universidade já tinha essa percep-ção antes da divulgação dos rankings e por isso vem desenvolvendo diferentes ações para atacar as duas frentes. Uma delas, em parceria com a Pró-Reitoria de Pós-Graduação (PRPG) e a Coordenadoria de Relações Institucionais e Internacionais (Cori), é o estímulo à inter-nacionalização das atividades de pesquisa. “Estamos no terceiro edital do Programa Professor Visitante Estrangei-

ro, que vem participar de disciplinas de pós-graduação por um período de 15 a 60 dias, com direito a trazer um aluno. Também financiamos a ida de nosso professor ou aluno ao laboratório do visitante, dando oportunidade para que esses parceiros elaborem projetos a ser apre-sentados a agências de financiamento de lá ou daqui.”

A PRP, particularmente, idealizou o Programa do Pro-fessor Visitante do Exterior, a fim de atrair docentes que atuam em outros países, brasileiros ou estrangeiros, mas para fixação no quadro permanente da Unicamp. “A uni-dade indica um professor de alta qualificação e se com-promete a abrir concurso público para que ele concorra à vaga. A bolsa é de um ano, renovável por mais um ano. “Já temos oito pesquisadores nesta modalidade, distribu-ídos pela FCM, IFGW, IMECC, IG e FT, e deverão chegar mais três professores até agosto”.

do exterior (sobretudo dos EUA, na Europa, na Índia e na Argentina). A outra frente era a prospecção de recursos em bancos e agências de fomento.

Um dos recrutados era Ripper, que deixou a Bell em 1974. “O nú-mero de pesquisadores que atuavam no Bell Labs era tão grande, que mesmo que algum deles ganhasse o prêmio Nobel não faria a menor diferença”, recorda Ripper. “Voltar para o Brasil representava, para mim, a chance de fazer a diferença no meu país”. Uma vez na Uni-camp, ele criou o primeiro Departamento de Físca Aplicada do Brasil e impulsionou as pesquisas que resultariam no desenvolvimento da primeira fibra óptica nacional.

“Trabalhávamos na fronteira do conhecimento, mas de olho nas possíveis aplicações das pesquisas”, conta Cerqueira Leite. Uma das ações constituiu em estudar o laser e suas posssíveis aplicações nos semicondutores. Essa nova postura, segundo ele, era um dos grandes diferenciais da unidade em relação aos demais centros de pesquisa no Brasil. “Nesse processo, o IFGW chegou a formar cem doutores, que na época representava um terço de todos os doutores da área no país”.

Ao cabo de cinco anos, o número de professores no IFGW saltaria de uma dúzia para quase uma centena. Foram implantados cerca de 30 laboratórios independentes. O período foi marcado também por expressiva vinda de recursos para financiamento de pesquisas e com-pra de equipamentos. O governo federal passou a ter a Unicamp como estratégica no seu projeto de modernização do parque industrial e no domínio de novas tecnologias, sobretudo nas áreas de física de plasma, separação isotópica com laser, telecomunicações e física da matéria condensada. Hoje, a Unicamp é conhecida como um “celeiro de cérebros”. A lição de Zeferino não foi esquecida.

4Campinas, 11 a 17 de junho de 2012

Fotos: Felipe Christ

Page 5: JU529

s indicadores e a classificação obtida pela Unicamp nos rankings do Times Higher Education (THE) e da Quacquarelli Symon-ds (QS) atestam a sua excelência e avalizam seu ingresso no seleto grupo das melhores

universidades do mundo. Mas, na visão de três especialistas ouvidos pelo Jornal da Unicamp, ainda existem alguns desafios para que a instituição con-solide sua projeção internacional.

Para Elizabeth Balbachevsky, professora-asso-ciada do Departamento de Ciência Política da USP (Universidade de São Paulo) e integrante do Grupo de Estudos de Educação Superior do Centro de Estudos Avançados (CEAv) da Unicamp, um desses desafios é a internacionalização.

Segundo a pesquisadora, a internacionalização é uma questão bastante complexa, que transcende as ini-ciativas de enviar alunos para o estrangeiro e atrair exce-lentes estudantes de fora. “Implica, sobretudo, colocar a pós-graduação no cenário internacional, principalmente o doutorado”, afirma.

O doutorado, segundo a docente, já vem sendo considerado um mercado mundial. E, embora seja con-siderada de qualidade, a pós-graduação brasileira está fora deste mercado porque ocorre predominantemente na língua portuguesa. Isso estabelece, sugere Elizabeth, dificuldades para atrair pesquisadores e estudantes de primeiro nível. “Este é um fator importante, normalmen-te desconsiderado pelo governo nas suas políticas de pós-graduação”, diz.

Uma outra questão que a pesquisadora destaca é o fato de o mestrado no Brasil estar, muitas vezes, aco-plado ao doutorado. “Essa articulação muito estreita faz com que, no país, não se consiga produzir um doutorado realmente competitivo internacionalmente”, afirma.

Elizabeth cita o segredo do que chamou de “milagre asiático”, quando se refere ao sucesso da política que colocou as universidades da Ásia entre as mais bem-avaliadas no mundo.

O topo do ranking do Times Higher Education, por exemplo, ficou com a Universidade de Ciência e Tec-nologia de Pohang, na Coreia do Sul. Já a Universidade de Ciência e Tecnologia de Hong Kong figura em ter-ceiro lugar. “Houve muito investimento para torná-las competitivas internacionalmente. A Universidade de Cingapura oferta doutorado em inglês para os merca-dos nacional e internacional. Na Coreia, o sistema de pós-graduação é voltado ao modelo de intercâmbio de professores e alunos. Aos poucos, eles estão criando uma rede que acelera o processo de internacionaliza-ção da ciência”, explica a professora.

Elizabeth avalia que as universidades paulistas, em particular a Unicamp, alcançaram uma grande visibilida-de em razão do foco na pós-graduação. Conforme a pes-quisadora, na experiência brasileira, a pós-graduação é a porta pela qual são atraídos professores com perfil mais competitivo do ponto de vista da produção acadêmica. “Ela é um lócus onde você articula grupos de pesquisa mais fortes, criando um ambiente coletivo de investiga-ção”, expõe. Ela ainda ressalta que a pesquisa é a dimen-são mais relevante nos rankings e, em última instância, nos debates acerca da universidade de padrão mundial.

Outro ponto destacado pela pesquisadora é a autono-mia financeira das universidades paulistas, fator que tem possibilitado às instituições a implementação de ações que planejem o crescimento de longo prazo. “Esta é uma questão importante para dar à instituição o dinamismo necessário para se posicionar bem nos rankings e para se tornar uma universidade de classe mundial.”

INTERAÇÃOO diretor científico da Fapesp (Fundação de Amparo

à Pesquisa do Estado de São Paulo), Carlos Henrique de Brito Cruz, também aponta que a maior integração inter-nacional é um dos desafios da Unicamp para se tornar uma instituição de nível mundial. De acordo com ele, o progresso da ciência, em todas as áreas do conhecimen-to, depende muito da interação entre os pesquisadores mais originais e mais capazes.

Brito, que foi reitor e pró-reitor da Unicamp, e diretor do Instituto de Física da Universidade – onde atua como professor –, avalia que o que levou a Unicamp a ter uma posição vantajosa no mundo foi uma conjugação de fato-res. Um deles foi o fato de a Universidade ter constituído um corpo docente que, desde a sua fundação, é muito comprometido com a pesquisa de categoria internacio-nal, com a criação de conhecimento que seja relevante mundialmente e, portanto, também localmente. Para Bri-to, também contou a característica da Unicamp de atrair alunos muito capazes.

E é por isso mesmo que a Universidade, entre os desafios para se tornar uma universidade de classe mun-

Para permanecer no topo5

Campinas, 11 a 17 de junho de 2012Campinas, 11 a 17 de junho de 2012

Carlos Henrique de Brito Cruz: progresso da ciência está condicionado à interação entre pesquisadores mais originais e mais capazes

A professora Elizabeth Balbachevsky: “A pós-graduação precisa ser colocada no cenário internacional”

O sociólogo Simon Schwartzman: “O desafi o é manter ou recuperar a fl exibilidade de ação”

s indicadores e a classificação obtida pela

universidades do mundo. Mas, na visão de

DENIZE ASSISEspecial para o JU

Especialistas apontam desafios que a Unicamp deve enfrentar para manter seu nível de excelência

dial, necessita, a seu ver, conseguir manter a condição de atrair excelentes alunos na graduação e na pós-gra-duação e excelentes professores de qualquer lugar do mundo. “É preciso trazer os melhores cérebros para fazer parte desse desenvolvimento”, acredita.

Brito ressalta, ainda, que a Unicamp tem tido uma forma de financiamento muito positiva para o desenvolvimento da instituição acadêmica, que é a sistemática de autonomia com vinculação orçamentária. A Universidade é financiada com um percentual do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mer-cadorias e Serviços) e tem autonomia completa para a gestão de recursos (leia matéria na página 10).

“Essa forma de atuação tem permitido estabelecer prioridades, fazer esforços e programas que durem mui-tos anos, até uma década ou mais. Ademais, tem pos-sibilitado um compromisso da Unicamp com valores competitivos mundialmente”, comenta ele.

FLEXIBILIDADEO sociólogo Simon Schwartzman, pesquisador e

professor do Instituto de Trabalho e Sociedade do Rio de Janeiro, concorda com Brito. Em sua opinião, para que a Unicamp mantenha o nível de excelência e torne-se uma universidade de classe mundial, é necessário preservar as características que a marcaram desde o início. “A Unicamp se caracterizou pela flexibilidade, pela liberda-de de poder buscar e atrair talentos e de proporcionar condições para eles trabalharem”, relata. Ele avalia que é necessário que a Universidade continue a atrair profis-sionais de primeira linha.

“Atualmente, a Universidade está mais constituída, tem um acervo de pessoas e recursos. Neste sentido, é natural que fique um pouco mais lenta do que uma instituição que está se formando. O desafio é manter ou recuperar a flexibilidade de ação, principalmente na área de recursos humanos, sem perder de vista sua vocação”, comenta o sociólogo.

Ele afirma que atualmente a universidade pública é “chamada” a fazer, entre outras atividades, pesquisa, pós-graduação e cursos de graduação de diferentes níveis. Também há uma grande pressão para admitir mais gente.

Por isso, assinala o pesquisador, é necessário ter clareza sobre qual é sua missão, concentrando-se nela. “Isso, evidentemente, tem que ser negociado com o Es-tado, que é o agente financiador. Existe o risco de perda de clareza das suas prioridades. A rigidez burocrática também pode afetar. Na medida em que a universidade conseguir enfrentar estas duas situações, terá condições de continuar numa posição importante, inclusive porque o

que se espera é que não vá sofrer limitações de recursos.”O professor Renato Pedrosa, do Programa de Pós-

Graduação do Departamento de Política Científica e Tecnológica (DPCT) do Instituto de Geociências (IG) e coordenador do Grupo de Estudos em Educação Su-perior do CEAv também aponta a internacionalização como ponto fundamental para a universidade se man-ter em nível de excelência.

Em consonância com a professora Elizabeth, Pedrosa reforça que a internacionalização tem que ser entendida em um sentido bem amplo, para além do intercâmbio de estudantes, professores e pesquisadores. “A participa-ção em grupos de universidades e em atividades interna-cionais é importante e faz com que a Unicamp passe a ter prestígio, a ser conhecida”, diz.

A Unicamp, junto com a USP e a Unesp, tem se des-tacado e tem promovido um projeto de internacionaliza-ção muito forte também na proposta de se projetar como interlocutora nos fóruns internacionais de educação su-perior, onde se discute política de acesso, de qualifica-ção e de pesquisa em todas as áreas.

De acordo com o professor, além da internacio-nalização, há outros aspectos, ligados ao prestígio, voltados para como a universidade interage com in-terlocutores da sua região. Salienta-se o fato dela res-ponder às demandas, principalmente de países como o Brasil, que estão em um nível de industrialização e desenvolvimento intermediários. Gradativamente, nes-ses países, aumenta a demanda por mais gente das universidades e de todos os níveis socioeconômicos. “Isto tem um forte impacto local para a economia e para a educação do país. É importante que universi-dades mais seletivas, como a Unicamp, mantenham este tipo de projeto, sem se descuidar do acesso e do investimento na qualificação dos estudantes.”

Fotos: Antonio Scarpinetti

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O que significam e para que servemos rankings internacionais

Emergentes podem roubar a cena, diz editorCampinas, 11 a 17 de junho de 2012

Com a divulgação de dois rankings internacionais (THE e QS ) para universidades fundadas nos últimos 50 anos, renova-se o debate sobre o que essas listas significam, sobre sua validade e sua utilidade. Neles só aparecem a Unicamp (44º no THE1 e 22º no QS2) e a Unesp (99º no THE), entre todas as instituições bra-sileiras ou da América Latina. Inegavelmente, apesar das restrições e críticas que dirigentes universitários, acadêmicos e especialistas em educação superior ou em políticas públicas apresentam, os rankings estão na pauta de praticamente todos esses grupos, e de órgãos de governo.

Como coloca Ellen Hazelkorn3, os rankings afetam significativamente a percepção sobre instituições, ante-riormente calcada na experiência local, regional ou na-cional, “protegida pela história, missão e governança”. Assim, uma instituição, considerada muito importante e desempenhando um papel relevante para sua região ou país, se vê, subitamente, comparada a instituições do mundo todo e, possivelmente, nem chega a constar das listas das 100, 200 ou 500 “melhores” instituições em nível mundial.

Mas, afinal, o que dizem os rankings? A resposta é muito simples, os escores utilizados pelos rankings são resultado da média ponderada de índices deriva-dos de indicadores de desempenho bem conhecidos: número de alunos, relação alunos/docente, demanda em processos seletivos, número de artigos publicados, citações, número de teses produzidas, enquetes sobre prestígio, financiamento para pesquisa, satisfação de estudantes, prêmios recebidos por seus pesquisado-res ou ex-alunos (Nobel, Medalha Fields), prestação de serviços, transferência de tecnologia (patentes e licen-ciamentos), grau de internacionalização e outros. Esses são, essencialmente, os itens que qualquer universida-de usa nas suas brochuras de divulgação. Pesquisado-res utilizam alguns deles ao avaliar um programa de PG ou um projeto sobre o qual deve dar parecer. O Sinaes, sistema utilizado pelo MEC para avaliar programas e instituições, utiliza dados semelhantes das universida-des para criar os indicadores do sistema. Portanto, o interesse que os rankings despertam não deveria ser considerado algo estranho ao mundo acadêmico ou ao ambiente de avaliações institucionais.

Uma análise mais detalhada mostrará que, em geral, indicadores de desempenho na pesquisa são bastante valorizados, depois vem ensino (graduação e pós-graduação); e menor impacto têm serviços à co-munidade e transferência de tecnologia. O THE usa 13 indicadores de desempenho, agrupados em cinco áreas (com os pesos): Ensino – o ambiente de aprendizagem (30%); Pesquisa – volume, financiamento e reputação (30%); Citações – influência da pesquisa (30%), receita de licenciamentos – inovação (2,5%); e Internacionali-zação – docentes, alunos e funcionários (7,5%). Nota-se que os segundo e terceiro índices são sobre pesqui-sa, compondo 60% do total da nota da instituição. E o que se considera pesquisa está diretamente atrelado ao sistema de divulgação das pesquisas, em periódicos e livros que circulam internacionalmente. O sistema do QS é semelhante em relação aos temas, porém difere no sentido de usar pesquisas sobre reputação de forma mais significativa, incluindo uma com empregadores.

Sendo assim, não causa espanto que o Brasil e a América Latina tenham baixa performance nessas avaliações, pois boa parte da sua produção cultural e científica se dá na língua local, sendo baixa sua chan-ce de ser lida ou citada internacionalmente, já que a

maioria dos periódicos mais qualificados publica ma-joritariamente em língua inglesa. Esse ponto, por seu intrínseco viés em favor de países de língua inglesa, é usado para desqualificar os resultados dos rankings. No entanto, a avaliação realizada pela Capes, dos cursos de pós-graduação, segue lógica parecida: parte significa-tiva da avaliação vem da análise da produção científica publicada em periódicos que são classificados pela própria Capes (sistema Qualis), com base em índices de impacto desses periódicos, que nada mais são do que indicadores gerados a partir do número de citações dos artigos ali publicados.

É conhecido o debate sobre como se dá essa clas-sificação, mas nem por isso se desconsidera a avaliação realizada pela Capes. Universidades utilizam o conceito Capes em suas políticas internas e na divulgação de seus programas de pós-graduação. Pesquisadores fazem o mesmo para convencer órgãos financiadores de que vale a pena investir em seus projetos de pesquisa. E, apesar das críticas, muitos especialistas consideram que a cria-ção da avaliação da Capes foi fundamental para que a pós-graduação brasileira tenha chegado ao nível atual de boa qualidade, demonstrada pela relação direta entre o crescimento do número de teses e de artigos publicados em periódicos internacionais indexados.

Assim, podemos concluir esse breve comentá-rio sobre rankings com algumas observações. 1) Os rankings utilizam indicadores de desempenho próximos daquilo que acadêmicos, instituições e governos vêm utilizando há muito tempo, inclusive no Brasil; 2) es-ses indicadores, lidos e interpretados apropriadamente, ajudam a entender em que direção uma instituição ou um sistema de ES está indo, onde é mais deficiente, onde se poderia atuar para aprimorá-lo (naquilo que se considere relevante); 3) a Unicamp, no cenário nacional e da América Latina (assim como a USP e a Unesp), é uma das principais referências e modelo de instituição e está bem posicionada internacionalmente, considerando-se que é uma instituição bastante jovem; 4) o Brasil e a América Latina têm um longo caminho a percorrer; talvez entender como o Reino Unido, Aus-trália, Hong Kong e a Coreia têm trabalhado o assunto seja um bom começo; 5) para isso, os rankings, com suas perspectivas internacional e comparada, podem ser bastante relevantes.

RENATO H. L. PEDROSA

76Campinas, 11 a 17 de junho de 2012Campinas, 11 a 17 de junho de 2012

Quacquarelli Symonds1 – Universidade Chinesa de Hong Kong Hong Kong2 – Universidade de Ciência e Tecnologia de Hong Kong Hong Kong3 – Universidade de Warwick Reino Unido4 – Universidade Tecnológica de Nanyang Singapura5 – Instituto Avançado de Ciência e Tecnologia da Coreia Coreia do Sul6 – Universidade de York Reino Unido7 – Universidade de Ciência e Tecnologia de Pohang Coreia do Sul8 — Universidade de Maastricht Holanda9 — Universidade da Cidade de Hong Kong Hong Kong10 — Universidade da Califórnia – Irvine Estados Unidos22 – Unicamp Brasil

2Brasil

1

1

5

1

2

9

4

3

Estados Unidos

Canadá

Irlanda

20 Reino Unido

2

2

1

Portugal

Itália

Suíça

1 Holanda

2 Dinamarca

4 Alemanha

5 Espanha

4 França

Nova Zelândia

Cingapura

Irã

Malásia

Austrália

2

1

1

Hong Kong 4

Suécia 3Áustria 1

Finlândia 1Noruega 1

14

Taiwan

Egito

Grécia

Turquia

Japão

Coréia do Sul

Arábia Saudita

1

1

1

1 Times Higher Education http://europe.nxtbook.com/nxteu/tsl/100under50/index.php

2 Quacquarelli Symonds http://www.topuniversities.com/university-rankings/top-50-under-50

3 E. Hazelkorn. Os rankings e a batalha por exce-lência de classe mundial: estratégias institucionais e escolhas políticas. Ensino Superior Unicamp, n.1, pp. 43-64, Unicamp, 2010. http://www.revistaennosupe-rior.gr.unicamp.br/noticia.php?id=5

Jornal da Unicamp – Fale um pouco sobre sua contribuição para esta pesquisa.

Phil Baty – Estou incumbido de planejar a metodolo-gia e promover quaisquer outros ajustes que desejarmos fazer na lista. Todos os dados são coletados e analisados em nosso nome pela companhia Thomson Reuters, uma das agências de informação mais respeitadas em todo o mundo. Como editor, meu papel é assumir toda a res-ponsabilidade pela metodologia. Ademais, é minha tare-fa como jornalista interpretar os resultados, anualmente, por meio de inúmeros artigos analíticos.

Também recruto analistas especializados para a pu-blicação do ranking, atuo no desenvolvimento de novos projetos fundamentados em dados desses levantamen-tos e contribuo com conferências sobre o ensino supe-rior, analisando mudanças e tendências na educação.

Sou ainda editor-chefe da revista THE (Times Hi-gher Education), publicação semanal voltada a todos aqueles que trabalham com ensino superior em âmbito internacional. Trata-se da maior publicação sobre ensino superior do mundo. Publicamos uma edição impressa semanal e também temos um site que vem crescendo exponencialmente, difundindo notícias diárias e promo-vendo e participando de debates. Este site, cujo endereço é www.timeshighereducation.co.uk, tem uma audiência internacional em constante crescimento, refletindo a ace-lerada ascendência da globalização no ensino superior.

JU – Há quanto tempo o ranking é publicado? Seu formato mudou ao longo dos anos?

Phil Baty – O Times Higher Education tem publica-do o ranking anual das universidades mundiais (World University Rankings) há oito anos, desde 2004. Seu formato sofreu, sim, alterações. Quando começamos, publicávamos os rankings com dados recolhidos pela QS – Quacquarelli Symonds. Nossos rankings eram, então, conhecidos como Times Higher Education – QS World University Rankings.

Porém, em 2009, tomamos a decisão de terminar nossa parceria com a QS. Trouxemos, a partir de então, a agência Thomson Reuters para trabalhar conosco. Desenvolvemos uma metodologia sofisticada. Apenas para efeito de comparação, enquanto a QS usava seis indicadores, o Times Higher Education World University Rankings passou a adotar 13 indicadores cuidadosa-

O jornalista britânico Phil Baty, editor do Times Higher Education World University Rankings, vê como um “grande avanço” a colocação da Unicamp na 44ª posição entre as 100 melhores universidades com menos de 50 anos. Segundo o editor, a classificação sugere que a Unicamp tem potencial para se destacar em rankings prestigiosos quando comparada a instituições mais antigas. Nesta entrevista, Phil Baty fala sobre o ranqueamento, analisa as perspectivas do ensino superior no Brasil e projeta os rumos da universidade contemporânea.

DENIZE ASSISEspecial para o JU

mente balanceados, cuja finalidade é cobrir todos os principais aspectos das atividades globais das univer-sidades: ensino, pesquisa, transmissão de conheci-mento e internacionalização. Nossa metodologia pode ser consultada no endereço http://www.timeshighere-ducation.co.uk/world-university-rankings/2011-2012/analysis-rankings-methodology.html.

JU – Que avaliação o sr. faz da posição da Uni-camp na lista?

Phil Baty – A Unicamp ocupa a 286ª posição na World University Rankings. No entanto, neste último ranking sobre as melhores universidades com menos

de 50 anos, a Unicamp mostrou um excelente desem-penho, se comparada com outras instituições, diga-mos, da mesma “faixa etária”, classificando-se como a número 44 no mundo.

Trata-se de um grande avanço e sugere que há um verdadeiro potencial no futuro para ela se destacar em rankings mais tradicionais, quando cotejada com insti-tuições mais antigas.

A Unicamp obteve excelente pontuação nos cinco indicadores de performance referentes ao ensino, e tem potencial suficiente para melhorar o impacto de sua pesquisa.

JU – O fato de o Brasil ser uma nação emergente tem algum peso neste ranking e, já projetando, nos fu-turos levantamentos?

Phil Baty – As perspectivas para o Brasil são ex-tremamente interessantes. O mundo está assistindo ao seu crescimento econômico com muita atenção – cres-cimento este que vem acompanhado do incremento de pesquisas básicas. Há evidências, no momento, de in-vestigações de primeira linha oriundas do Brasil.

São muitas as demonstrações de uma crescente co-laboração internacional também, o que é muito promis-sor. No entanto, em minha opinião, existem ainda muitos obstáculos cruciais a serem vencidos antes que as uni-versidades brasileiras possam alcançar a próxima etapa.

JU – Quais seriam?Phil Baty – Creio que as estruturas governamen-

tais precisam ser mais flexíveis e dinâmicas. Ademais, acredito que ainda falta autonomia institucional.

JU – Que análise o sr. faz quando se compara o de-sempenho das instituições emergentes com o daquelas universidades mais antigas e de prestígio consolidado?

Phil Baty – Penso que essa nova lista do Times Higher Education esclarece uma coisa: as universi-dades consideradas mais antigas, já estabelecidas, não detêm o monopólio da excelência. Essas insti-tuições possuem vantagens óbvias – têm tradição, foram capazes de acumular riqueza, em muitos ca-sos ao longo de séculos, e são detentoras de redes extremamente enraizadas de contatos de alunos e ex-alunos, que vêm de muitas gerações passadas. Porém, elas não podem se acomodar e ficar apenas a reboque da história.

O ranking das universidades jovens vem mostrar que há muitas instituições emergentes – algumas como a Postech, na Coreia do Sul, ou a HKUST, em Hong Kong, com somente 20 anos de idade – que já podem ser vistas como sérias competidoras para as universi-dades globais de elite.

JU – Quais foram as grandes surpresas do ranking acerca das melhores universidades mais jovens?

Phil Baty – O mais surpreendente – e empolgante –, sem dúvida, é que temos 30 países representados no âmbito das cem primeiras mundiais, o que é muito mais do que existe nas 200 primeiras do tradicional World University Rankings. Isto vem mostrar que exis-tem muitas nações se desenvolvendo, esperando pela oportunidade de roubar a cena dos países tradicional-mente dominantes, tais como os Estados Unidos e o Reino Unido.

Colaborou Suelli Loures Abson

Times Higher Education1 – Universidade de Ciência e Tecnologia de Pohang Coreia do Sul2 – Escola Federal Politécnica de Lausane Suíça3 – Universidade de Ciência e Tecnologia de Hong Kong Hong Kong4 – Universidade da Califórnia – Irvine Estados Unidos5 –Instituto Avançado de Ciência e Tecnologia da Coreia Coreia do Sul6 – Universidade Pierre e Marie Curie França7 – Universidade da Califórnia – Santa Cruz Estados Unidos8 – Universidade de York Reino Unido 9 — Universidade de Lancaster Reino Unido10 – Universidade da Ânglia Oriental Reino Unido44 – Unicamp Brasil99 – Unesp Brasil

Renato H. L. Pedrosa é professor do Programa de Pós-Graduação de Política Científi ca e Tecnológica do Instituto de Geociências (DPCT/IG) e coordenador

do Grupo de Estudos em Educação Superior do CEAv/Reitoria.

O jornalista britânico Phil Baty, editor do THE: “As universidades consideradas mais antigas, já estabelecidas, não detêm o monopólio da excelência”

ONDE ESTÃO E QUANTAS SÃO EM CADA PAÍS AS 100 MELHORES UNIVERSIDADES ‘JOVENS’ DO MUNDORanking do THE (Times Higher Education)

ARTIGO

Reprodução: http://61.57.40.108/Foto: Felipe Christ

Page 7: JU529

notícia do excelente desempenho da Uni-camp em dois rankings internacionais foi recebida pelos ex-reitores da Universida-de como um indicativo de acerto na linha adotada por diferentes gestões ao longo da história da instituição.

Para o professor e linguista Carlos Vogt, reitor entre 1990 e 1994 e atual coordenador do Laboratório de Es-tudos Avançados em Jornalismo (Labjor), várias inicia-tivas foram fundamentais para a consolidação da Uni-camp nos cenários nacional e internacional. Segundo ele, a Unicamp tem conseguido estruturar-se e cumprir sua vocação para o ensino, a pesquisa e as atividades de extensão por meio de diferentes etapas desde sua fundação, em 1966.

Vogt ressalta o pioneirismo do professor Zeferino Vaz com “a aventura criadora” da fundação da Univer-sidade no meio de um canavial, no distrito de Barão Geraldo; a abertura do processo de institucionalização, com José Aristodemo Pinotti, entre 1982 e 1986, fase da criação das normas, estatutos, regimentos e do Conselho Universitário e Pró-Reitorias; e a conquista desta etapa de institucionalidade pelo ex-reitor Paulo Renato Costa Souza, entre 1986 e 1990. “Participei deste processo como professor, representante do Con-selho, como vice-reitor na administração do profes-sor Paulo Renato e, depois, como reitor, entre 1990 e 1994”, conta.

Na avaliação de Vogt, outra preocupação da Univer-sidade e que continua entre os grandes desafios é tra-balhar olhando para o futuro. Ele ainda ressalta a busca pela qualidade no ensino de graduação e destaca o que chama de “marca” da Unicamp, que é a manutenção da qualidade dos cursos de pós-graduação.

TRABALHO E DEDICAÇÃO

O professor titular emérito da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) José Martins Filho, que foi reitor entre 1994 e 1998, também associa o reconhecimento da Unicamp no cenário mundial à qualidade do ensino de graduação e pós-graduação, além da pesquisa de alto nível, metas sempre perseguidas pela Universidade desde sua criação.

“A pesquisa desenvolvida na Unicamp, quando se analisa a publicação por docente, é a maior do Brasil. A dedicação integral à docência e à pesquisa também é muito importante para essa qualidade e reconhecimen-to. Não podemos perder de vista o papel fundamental de técnicos e funcionários especializados que partici-pam ativamente da pesquisa e da extensão”, diz.

Martins acredita que a Unicamp deve continuar a valorizar o trabalho em dedicação exclusiva dos profes-sores e pesquisadores, mantendo uma atividade de ex-tensão de grande interesse para a população. Segundo ele, é isso que leva até o público em geral o resultado al-tamente positivo do trabalho dos docentes e estudantes.

“Além disso, é preciso garantir, como a Universidade tem feito, o bom preparo dos estudantes, condição que depende da qualidade do aluno que ingressa, por meio de vestibulares altamente competitivos e de professores focados no trinômio ensino-pesquisa-extensão”, diz.

Daí, segundo Martins, para tornar-se uma universi-dade de classe mundial, é apenas uma questão de re-conhecimento e tempo. “Acho que estamos perto disso. Para tanto, devemos manter a mesma linha de trabalho e dedicação”, diz.

RESPONSABILIDADE SOCIAL

Para o professor Hermano Tavares, reitor da Unicamp entre 1998 e 2002, a trajetória da Unicamp demonstra que a instituição foi construída com seriedade e clareza quanto ao seu compromisso primordial que, segundo ele, é com o povo brasileiro.

Hermano avalia que a Unicamp conta com uma respei-tável folha de serviços prestados ao país. “A universidade, que é parte de uma força-tarefa na construção da nação, não pode se afastar desta trajetória que promove educação de qualidade, com acesso amplo, gerando oportunidades para todos”, diz.

O ex-reitor ressalta que a Unicamp, nos seus 46 anos, conquistou participação expressiva na produção científica nacional e obteve reconhecimento no país e no exterior. “Não podemos perder de vista este foco.”

Segundo Hermano, a instituição, ao projetar o fu-turo, deve evocar o passado, pois é desta forma que “se ganha clareza”. No seu entender, é preciso con-siderar que o país sofre com problemas estruturais, entre os quais a má distribuição de renda, e convive com questões cruciais como a necessidade de reparar injustiças sociais.

Um projeto, DENIZE ASSISEspecial para o JU

Ex-reitores destacam compromisso da Unicamp com a qualidade do ensino e da pesquisa ao longo de diferentes gestões

8Campinas, 11 a 17 de junho de 2012

cinco linhas de açãonotícia do excelente desempenho da Uni-camp em dois rankings internacionais foi recebida pelos ex-reitores da Universida-de como um indicativo de acerto na linha

Vogt: manutenção da qualidade dos cursos de pós-graduação é uma das marcas da Unicamp

Martins: “Professores devem estar focados no trinômio ensino-pesquisa-extensão”

Hermano: “Objetivo é alcançar desenvolvimento social com progresso material”

Tadeu: “É necessário assumir um papel de liderança, já que a Unicamp é exemplo para outras universidades”

“Não é possível construir uma nação sem ter uma educação de qualidade, de acesso amplo que gere oportunidade para todos. Esta é a principal responsa-bilidade cidadã”, afirma.

Hermano acredita que o Brasil tem condições favoráveis de crescimento. Ele dá o exemplo da exploração de recursos minerais, como o pré-sal, no entanto, faz questão de ressal-tar que essas fontes são esgotáveis e que a saída definitiva é investir em ações que criem emprego de qualidade e que ajudem a inovar e prosperar os parques tecnológicos. “Mas também é necessário mergulhar nos traumas recentes da história para não correr o risco de repetir os mesmos erros. O objetivo é alcançar desenvolvimento social com progresso material. Para cumprir tal objetivo, a parte que cabe à universidade é a educação. Se houver sucesso, poderemos chegar à universidade de classe mundial”, diz.

COMPROMISSO COM O SABER

Carlos Henrique de Brito Cruz, reitor entre 2002 e 2005, atual diretor científico da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), e professor do Instituto de Física “Gleb Wataghin” (IFGW), atribui a boa colocação da Unicamp nos rankings a um con-junto de fatores perseguidos pela Universidade desde sua criação. “São décadas de esforço e de trabalho de muitas pessoas”, diz.

De acordo com Brito, o ponto de partida foi cons-tituir um corpo docente comprometido com a pesquisa de categoria internacional, com a criação de conheci-mento de relevância mundial. Ao lado disso, segundo avalia, a Unicamp sempre manteve a característica de atrair bons alunos. “Isso é decisivo para fazer uma uni-versidade prosperar”, afirma.

O docente acredita que, em busca da excelência global, a Universidade precisa manter a condição de atrair bons alunos na graduação e pós-graduação e excelentes professores advindos de todos os lugares do mundo. Outro ponto ressaltado por Brito é a maior integração internacional, com interação com pesquisa-dores mais capazes e originais.

O professor acredita que a boa visibilidade do Bra-sil no mundo se deve também às boas universidades, como a Unicamp, a USP, a Unesp e outras que formaram gerações de profissionais em áreas essenciais porque, segundo ele, quem move a indústria e o agronegócio é gente formada nas boas universidades.

PESQUISA E DESENVOLVIMENTO

O professor da Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri) José Tadeu Jorge, reitor da Unicamp entre 2005 e 2009, ressalta que um fator importante para o sucesso acadêmico da Unicamp, que deve ser mantido, é o con-ceito adotado pela Universidade, que faz da produção do conhecimento novo e da relação com a sociedade os ele-mentos qualificadores da formação de recursos humanos em todos os níveis e nas diversas áreas.

Também foi fundamental, segundo Tadeu Jorge, o processo de autonomia com vinculação orçamentária, que desde 1989 garante recursos para a Unicamp assegurar suas atividades, com responsabilidade e planejamento. Outro aspecto relevante, segundo ele, é a busca constante pelos melhores docentes, funcionários e estudantes.

Para Tadeu, avançar na busca pela excelência exi-ge fidelidade ao conceito adotado pela Universidade de ampliar as relações com a sociedade e intensificar a geração do conhecimento em todas as áreas. “Tais ações deverão ser apoiadas por meio da expansão do quadro docente e do suporte ao desenvolvimento das atividades, com a desoneração da carga burocrática e a viabilização do crescimento do número de funcionários de apoio ao ensino, pesquisa e extensão”, afirma.

Tadeu Jorge acredita que a Unicamp deve, ainda, am-pliar a relação com as instituições de outros países, em es-pecial aquelas que possuem mais experiência e resultados melhores. Para ele, pesquisas em conjunto são fundamen-tais, assim como envio e recebimento de estudantes, tanto de graduação como de pós-graduação. “É necessário, também, assumir um papel de liderança. Afinal, a Unicamp é exemplo para outras universidades”, afirma.

Foto: Antoninho Perri

Fotos: Felipe Christ

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À frente do seu tempo9

Campinas, 11 a 17 de junho de 2012Campinas, 11 a 17 de junho de 2012

Francisco Magalhães Gomes, professor do IMECC e coordenador do ProFIS: projeto promove inclusão

social e oferece formação sólida e abrangente

O professor Jocimar Archangelo: vestibular aboliu os testes e passou a valorizar as questões dissertativas

Ações inovadoras gestadas na Universidade servem de modelo para outras instituições e inspiram políticas públicas

DENIZE ASSISEspecial para o JU

esde sua fundação, em 1966, a Unicamp tem desenvolvido medidas e projetos que fizeram dela uma universidade de ex-celência. Em muitos casos, a Universidade antecipou-se às po-líticas públicas para enfrentar desafios no campo da educação, da pesquisa e da extensão de forma propositiva. Muitas destas

iniciativas serviram como modelo para outras instituições, tanto no plano público como privado.

Em 1982, na gestão do então reitor José Aristodemo Pinotti, foi imple-mentado um amplo processo de institucionalização interna da Universidade, que até então funcionava com estatutos emprestados da USP. O processo, que contou com ampla participação da comunidade, teve continuidade na ges-tão do economista Paulo Renato Costa Souza, reitor entre 1986 e 1990. Sua gestão incluiu a criação do Conselho Universitário como órgão máximo da Universidade, a criação das pró-reitorias de Graduação, de Pesquisa, de Ex-tensão, de Desenvolvimento Universitário e de Pós-Graduação; a inauguração do Hospital de Clínicas; e a implantação do quadro de carreira dos servidores.

VESTIBULAREm meio ao processo de institucionalização, a Unicamp introduziu uma

significativa mudança no processo de seleção dos estudantes pelo vestibu-lar. Numa iniciativa inédita, desvinculou-se da Fuvest, aboliu os testes de múltipla escolha e passou a valorizar as questões dissertativas. O principal argumento para a criação de um modelo próprio era que os vestibulares convencionais tendiam a discriminar as classes de menor poder aquisitivo, tornando o seu acesso ao estudo universitário mais difícil.

Segundo o professor Jocimar Archangelo, um dos idealizadores do novo modelo e o primeiro coordenador da Comissão Permanente para os Vesti-bulares (Comvest), mais do que a memorização dos conteúdos, a proposta estabeleceu a necessidade de promover, no segundo grau, o desenvolvimento de uma série de habilidades, entre as quais a capacidade de expressão e o ra-ciocínio. “Foi uma mudança muito significativa, corajosa”, afirma o professor.

Em 2009, após um amplo processo de revisão, a Unicamp voltaria a anunciar mudanças no seu vestibular, desta vez substituindo as questões dissertativas pelas de múltipla escolha, além de ampliar de um para três os textos referentes à redação. Segundo os autores da mudança, com a apro-vação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) e com o advento das novas orientações dos parâmetros curriculares, ocorreu a reestruturação da educação básica, impondo-se a necessidade de adequar o Vestibular a essa nova realidade. De acordo com o professor Maurício Kleinke, atual coorde-nador executivo da Comvest, a principal característica deste vestibular é que ele se preocupa com leitura e interpretação. “O objetivo é buscar candidatos capazes de se expressar”, diz.

PROJETO QUALIDADEEm 1990, na busca por uma fórmula para solucionar o processo de forma-

ção de desenvolvimento acadêmico dos docentes, foi criado o Projeto Quali-dade. Elaborado para promover a qualificação acadêmica do corpo docente, a medida constituiu um divisor de águas neste aspecto. “À época da criação do Projeto Qualidade, a Unicamp tinha perto de um terço de seus professo-res sem doutoramento, situação que merecia uma ação efetiva por parte da Universidade para ser melhorada”, recorda o ex-reitor Carlos Vogt, em cuja gestão o projeto foi elaborado e aprovado. Passados 22 anos, o contingente de professores com doutorado chega a 98%. E os outros 2% estão a caminho.

Segundo Vogt, havia um contexto específico a ser considerado naquele instante. De um lado, crescia a exigência por parte do setor produtivo por profissionais com curso de pós-graduação. De outro, a Unicamp carecia de mais docentes titulados para ministrar os programas que qualificariam essas pessoas. A medida gerou efeitos imediatos. Primeiramente, elevou o contingente de docentes envolvidos nas atividades de pós-graduação, o que provocou consequentemente o crescimento do número e da qualidade dos programas oferecidos neste nível de ensino.

A segunda influência, consequência da ampliação do contingente de docentes titulados e atuantes nos programas, foi o vertiginoso aumento do número de alunos matriculados e das teses e dissertações produzidas. “Se-guramente, o Projeto Qualidade foi essencial para conduzir a pós-graduação da Unicamp à condição de liderança acadêmica que ela exerce hoje no cená-rio nacional e mesmo internacional”, analisa o pró-reitor de Pós-Graduação, Euclides de Mesquita Neto. Em 2011, foram defendidas na Universidade 1.354 dissertações de mestrado e 818 teses de doutorado.

INOVAÇÃOA Unicamp também é pioneira no meio universitário brasileiro no que diz

respeito à inovação tecnológica. Inaugurada em 2003, a Agência de Inovação Inova Unicamp – primeira do gênero no País – nasceu para ser uma porta de entrada para as demandas tecnológicas e de serviços do empresariado e do setor público, com ênfase para as chamadas parcerias estratégicas. O objetivo é estabelecer redes de cooperação com a sociedade, capazes de incrementar as atividades de ensino e pesquisa no interior da Universidade, além de estimular e orientar o registro de patentes por pesquisadores da Unicamp, ampliando assim a liderança da universidade nessa área. Nesse contexto, a Inova vem obtendo resultados expressivos:

Com o apoio da Inova, a Unicamp é a universidade brasileira com o maior número de pedidos de patentes depositados entre 2004 e 2008, segundo o Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi). Com uma média de 55 pedidos de patentes por ano, a Universidade possui 643 pe-didos de patentes vigentes, o que lhe garante a segunda posição entre os maiores detentores de patentes em todo o país, atrás apenas da Petrobras. A Unicamp também é uma das universidades brasileiras mais bem sucedi-das em número de licenciamentos de tecnologias. Entre os anos de 2004 e 2011, foram fechados 80 contratos de licenciamento de tecnologias de-senvolvidas na Unicamp para empresas de diversos Estados brasileiros. Desse total, dez foram assinados em 2011.

Antes da Inova, a Unicamp já havia criado, em 1990, na gestão de Vogt, o Escritório de Transferência de Tecnologia (Cenapad). Com o objetivo de diminuir a distância entre a instituição e o setor produtivo em geral. “Desde o início, a Universidade tinha vocação para a interação com o setor produtivo”, lembra o ex-reitor. “Esta foi uma característica que eu procurei acentuar, mas que já constava nos traços da criação da instituição, pelo professor Zeferino Vaz”, afirma.

PAAISEm 2004, se antecipando à questão das cotas, a Unicamp instituiu o

Programa de Ação Afirmativa e Inclusão Social (PAAIS). Segundo o pro-fessor Renato Pedrosa, do Programa de Pós-graduação do Departamento de Política Científica e Tecnológica (DPCT/IG) e Coordenador do Grupo de Estudos em Educação Superior da Unicamp, o PAAIS é um modelo de inclu-são social que valoriza a parte acadêmica. “Trata-se de uma iniciativa que surgiu da percepção de que os estudantes das escolas públicas, apesar de não terem completado sua formação, têm potencial”, diz.

O programa visa estimular o ingresso de estudantes da rede pública na Universidade, ao mesmo tempo em que estimula a diversidade étnica e cultural. O aspecto mais importante do PAAIS é a adição de pontos à nota final dos candidatos no vestibular. Podem participar os alunos que cursaram todo o ensino médio em escolas públicas. Os estudantes que atenderem ao requisito e optarem pelo PAAIS recebem 30 pontos a mais na nota final, ou seja, após a segunda fase. Candidatos autodeclarados pretos, pardos e indígenas que tenham cursado o ensino médio em es-colas públicas terão, além dos 30 pontos adicionais, mais 10 pontos acrescidos à nota final.

PROFISEm 2010, a Unicamp deu início a mais uma inovação, o ProFIS (Pro-

grama de Formação Interdisciplinar Superior), iniciativa inédita no país, que criou 120 novas vagas de graduação destinadas aos melhores alunos das 96 escolas públicas de ensino médio de Campinas. Os ingressantes são selecionados segundo o desempenho obtido no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), aplicado pelo Ministério da Educação. O objetivo da iniciativa é oferecer a esses jovens uma formação sólida e abrangente.

Segundo o professor Francisco Magalhães Gomes, do Instituto de Mate-mática, Estatística e Computação Científica (IMECC), o ProFIS é um projeto que inova porque proporciona, além da inclusão social, a formação geral dos alunos, que atualmente está muito difundida. Ele analisa que, em geral, os cursos de graduação brasileiros propiciam uma formação excessivamente técnica e criam dificuldades para um grande número de formandos que não encontram empregos em suas áreas de formação.

“Mesmo os que trabalham na área em que se graduaram precisam, cada vez mais, atuar e interagir com pessoas de outras especialidades. Um cur-rículo de formação geral contribui para que os profissionais transitem com mais facilidade entre áreas e que façam análises levando em conta questões que fogem dos tópicos específicos de sua formação”, diz.

“Trata-se de um programa que reúne mérito acadêmico e inclusão so-cial, que é inédito no Brasil”, diz o pró-reitor de Graduação, Marcelo Kno-bel, um dos mentores do programa. “O ProFIS visa oferecer aos estudantes uma visão geral do conhecimento universitário, antes de se decidirem por uma carreira específica. Assim, o programa prevê que, durante dois anos, os estudantes cursarão disciplinas de caráter amplo, em todas as áreas do conhecimento”, afirma Knobel.

PROFESSOR VISITANTEResgatando sua tradição de receber profissionais experientes do exte-

rior, em 2009 a Unicamp deu início ao Programa Professor Visitante para atrair pesquisadores brasileiros ou estrangeiros com experiência internacio-nal. A medida visa incrementar o grau de internacionalização da Unicamp.

Para viabilizar o programa, um grupo de trabalho coordenado pela PRP publicou, de outubro de 2009 a abril de 2010, cinco anúncios de oportunida-des de emprego na Unicamp em revistas de grande importância e circulação no meio científico, como Nature e Science. Posteriormente, após consulta aos diretores de unidades, também foram publicados anúncios nas versões on-line da Chemical & Engineering News (Química), Communications of the ACM (Ciência e Engenharia da Computação), Physics Today (Física) e Nature Materials (Engenharia de Materiais).

Os estrangeiros poderão ficar um ou dois anos na Unicamp. Se a uni-dade mantiver o interesse pelo professor após esse período, deverá abrir concurso na área de pesquisa do docente, para dar a ele – e a outros que se interessem – a oportunidade de se fixar na Universidade. Até agora, oito pes-quisadores já passaram a atuar na Unicamp, distribuídos pela FCM, IFGW, IMECC, IG e FT. Até agosto, deverão chegar mais três.

Fotos: Felipe Christ

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Autonomia assegura independênciaCampinas, 11 a 17 de junho de 2012

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Sistemática garante percentual de recursos provenientes da arrecadação de ICMS

autonomia institucional, orçamentária e finan-ceira conquistada pela Unicamp a partir de 1989 é apontada como um dos fatores que deram o dinamismo necessário para a ins-tituição se desenvolver e, desta forma, se posicionar bem nos rankings mundiais de

avaliação do ensino superior. A condição de autônoma – que também favoreceu as outras duas universidades esta-duais paulistas, USP (Universidade de São Paulo) e Unesp (Universidade Estadual Paulista) – tem possibilitado o crescimento planejado no curto, médio e longo prazos.

Embora consagrada como princípio constitucional na Carta Magna de 1988, foi nas universidades estadu-ais paulistas que a autonomia universitária foi aplicada em sua plenitude, mediante a instituição do regime de autonomia financeira com vinculação orçamentária. A sistemática instalada no Estado de São Paulo, através de decreto do governador, garante um percentual de re-cursos provenientes da arrecadação de ICMS, cabendo às universidades executar o orçamento de acordo com o planejamento aprovado por seus órgãos colegiados, sem restrições burocráticas ou políticas, submetendo suas ações à fiscalização do Tribunal de Contas do Estado. Ini-cialmente, foram destinados 8,4% para as três universi-dades, percentual que foi aumentado em 1992 para 9% e em 1995 para 9,57%, índice que desde então se mantém.

Ao contrário do modelo anterior, em que os recur-sos eram repassados sob demanda, a autonomia tornou possível incorporar conceitos de gestão que antes eram impossíveis de serem aplicados às universidades públi-cas, dada sua dependência do controle centralizado e da política de liberações financeiras em conta-gotas. Seu escopo, arrojado para a época e ainda hoje singular no país, é permitir que as universidades paulistas se auto-administrem tendo como parâmetros o comportamento da economia, a escolha de prioridades e, principalmente, a responsabilidade no uso dos recursos públicos. Graças a essa configuração, as mudanças burocráticas do Esta-do, normais de um governo para outro, não têm o poder de interferir no princípio constitucional da indissociabili-dade entre ensino, pesquisa e extensão.

“A autonomia foi um marco”, reconhece o médico Paulo Eduardo Moreira Rodrigues da Silva, pró-reitor de Desenvolvimento Universitário. Há 40 anos na Unicamp, desde que ingressou como aluno na Faculdade de Ci-ências Médicas (FCM), ele afirma que acompanhou de perto todo o processo de construção e expansão da Uni-camp em diferentes momentos. “O modelo da autono-mia paulista tornou-se referência em todo o país e suas três universidades públicas expressam um exemplo de vinculação real com a sociedade, de compromisso com os problemas sociais e com a lisura no trato do bem pú-blico”, diz. “De maneira objetiva, elas podem demonstrar isso por meio de indicadores de qualidade e de produti-vidade, que abrangem o ensino, a pesquisa e os serviços prestados à comunidade”, completa.

Até a concessão da autonomia, o orçamento da Uni-versidade era definido anualmente pela Secretaria Esta-dual de Economia e Planejamento baseado no histórico passado. Ou seja, a Secretaria fixava um orçamento que era vigente para o ano inteiro. A partir da autonomia, a Universidade passou a gerir seus próprios recursos e teve que aprender a fazer esta gestão considerando

DENIZE ASSISEspecial para o JU

do que estava previsto, os recursos são redistribuídos. Se forem menores, são adotadas medidas de contenção de despesas. A análise das movimentações serve de re-ferência para as negociações salariais na data-base da categoria em maio, e também para propor investimentos, após a segunda revisão orçamentária no meio do ano.

“A Universidade é que estabelece as prioridades, de forma democrática, sempre considerando que o mais importante é valorizar seus servidores e preservar o poder aquisitivo dos salários”, afirma. Também é im-portante atrair bons professores e bons profissionais, por meio de salários competitivos. Segundo avalia Ro-drigues, a Unicamp e as outras universidades paulistas nunca teriam alcançado o grau de desenvolvimento em que se encontram se não tivessem autonomia.

Os resultados desse modelo podem ser aferidos pe-los indicadores obtidos após a implantação da autono-mia. Ele ressalta que a Unicamp atrai os melhores alunos por meio de um vestibular competitivo e conta com a menor evasão nos cursos de graduação. Além disso, os alunos que se formam na instituição têm emprego prati-camente garantido, os cursos de pós-graduação são os mais bem avaliados do País e, a produção científica per capita da Unicamp é maior que das outras universidades. “Os resultados apontam que no Brasil é possível fazer educação superior e pesquisa de qualidade”, diz.

De acordo com Antonio Félix Duarte, assessor de planejamento orçamentário da Unicamp, um dos gran-des desafios a ser enfrentado no período pós-autono-mia foi a questão do número crescente de aposenta-dorias. Quando a autonomia foi implantada, a Unicamp tinha pouco mais de 20 anos e 157 aposentados. Atual-mente, são 3.185, um crescimento de 1.929%, fato que ampliou a participação desses dispêndios na folha de pagamento de 2,78% em 1989 para os atuais 25,6%.

as flutuações da atividade econômica e seus reflexos sobre a arrecadação do ICMS.

Segundo Rodrigues, no início da autonomia os recur-sos eram suficientes para pagar a folha de funcionários e fazer novos investimentos. “Tanto que, nessa fase, foram desenvolvidos inúmeros projetos”, lembra. Pouco tempo depois, porém, passamos por uma fase de alta inflação e, por maior que fosse a arrecadação, o dinheiro se des-valorizava diariamente. A situação só se estabilizou cinco anos após a implantação do novo modelo. “A partir daí, passamos a fazer tudo absolutamente dentro do plane-jado”, conta. Esse planejamento também foi estudado com base na média dos anos anteriores. Dessa forma, a Unicamp passou a trabalhar com a previsão de gasto de 85% com a folha de pessoal.

“Pode parecer muito, mas é preciso levar em conta que a coisa mais importante da Universidade é pagar as pessoas oferecendo bons salários porque o mercado é muito competitivo”, explica Rodrigues. Os outros 15% são necessários para fazer a Universidade funcionar, para o custeio e investimentos. É por isso, segundo Rodrigues, que a gestão dos recursos precisa ser muito bem feita.

Com o passar dos anos, especialmente na segunda metade da década de 90, a Unicamp aperfeiçoou a forma de gerir os recursos, estruturando uma proposta de dis-tribuição orçamentária bastante discutida internamente e com base nos parâmetros econômicos da Secretaria da Fazenda. A Secretaria faz uma previsão mensal de arre-cadação de ICMS e repassa os recursos a cada 15 dias, no 4º dia útil e no dia 20 de cada mês. Se a previsão se confirma, os valores são mantidos. Se a arrecadação for maior ou menor que o valor previsto, a diferença é credi-tada ou debitada do repasse do próximo mês.

De acordo com Rodrigues, o orçamento da Univer-sidade além de conter uma distribuição detalhada dos recursos, que é debatida em vários fóruns, é também revisado a cada três meses. Se as receitas forem maiores

ÊXITOPaulo Rodrigues informa que a Unicamp, atualmente,

só recruta professores com titulação mínima de doutora-do e funcionários com pelo menos nível médio. “Nossos servidores já entram sabendo informática e muitos do-minam outra língua. “O quadro foi reduzido, mas é mais qualificado. Essa é a fórmula que encontramos”, afirma.

Rodrigues avalia que o balanço dos últimos anos aponta que a autonomia é um projeto bem-sucedido. Atualmente, a Universidade produz mais e tem mais es-tabilidade no seu quadro de pessoal. “Se esse modelo for mantido, a Universidade só tende a crescer”, afirma.

Para Rodrigues, entre os desafios oriundos da auto-nomia estão aumentar os recursos extra-orçamentários e manter o compromisso social da Universidade. Em relação aos recursos extra-orçamentários, a Unicamp tem condi-ções de buscá-los no setor produtivo, com o qual tem um bom relacionamento. “Prova disso é que a Unicamp é líder de patentes entre as universidades brasileiras”, diz. “Por outro lado, isso demonstra sua preocupação em gerar no-vos conhecimentos para o setor produtivo e, desta forma, aumentar a riqueza do País”, completa.

Antonio Félix Duarte, assessor de planejamento orçamentário: número crescente de aposentadorias foi um desafi o

O pró-reitor Paulo Eduardo Moreira Rodrigues da Silva: “O modelo da autonomia paulista tornou-se referência em todo o país”

Laboratório no Instituto de Física: condição de autônoma colaborou para liderança nacional da Unicamp em indicadores de pesquisa

Foto: Antonio Scarpinetti

Foto: Felipe Christ

Foto: Antoninho Perri

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Atraindo cérebros de fora11

Campinas, 11 a 17 de junho de 2012Campinas, 11 a 17 de junho de 2012

A trajetória de três professores estrangeiros que construíram suas carreiras na Unicamp

s melhores instituições de ensino superior no mundo, tanto as seculares como as no-vatas que têm despontado como potências acadêmicas, buscam atrair professores estrangeiros para integrar seu quadro do-cente. A vocação cosmopolita sempre foi

um das características da Unicamp, desde sua fundação até os dias de hoje, com a adoção de programas que vi-sam recrutar professores de outros países.

A professora Doris Kowaltowski, do Departamento de Arquitetura e Construção da Faculdade de Engenha-

ria Civil, Arquitetura e Urbanismo (FEC) foi contratada pela Unicamp em 1988, quando a instituição lançou o Programa Qualidade, com o objetivo de aumentar o nú-mero de doutores docentes.

Doris, que nasceu na Alemanha e se formou em arquitetura na Austrália, em 1969, havia concluído o doutorado nos Estados Unidos, na Universidade de Berkeley, onde conheceu e se casou com um brasilei-ro que, na ocasião, também fazia doutorado na mesma instituição, na área de computação.

Ela conta que, ao desembarcar no Brasil, não havia planejado ser professora universitária. Morou primeira-mente em São Paulo, até seu marido ser contratado pela Unicamp. Em Campinas, chegou a trabalhar como arqui-teta autônoma e no Laboratório de Luz Síncroton, até ser, como ela mesma conta, “descoberta” pela Unicamp.

Segundo Doris, a Universidade, em razão do Progra-ma Qualidade, pretendia contratar doutores. O diretor da Faculdade de Engenharia Civil – na época o curso funcio-nava no campus de Limeira – soube que havia uma “mo-cinha” com PhD em arquitetura em Berkeley circulando pela Unicamp. Depois de chamá-la para uma entrevista, acabou contratando-a. “Éramos quatro arquitetos como professores nas áreas de desenho, planejamento urbano e projeto arquitetônico, porque o engenheiro civil precisa ter uma base destas questões também”, relata.

De acordo com Doris, na ocasião já circulavam boatos sobre a criação de um curso de Arquitetura. Logo que obteve esta informação, ela reuniu-se com os outros arquitetos professores da Engenharia Civil e elaborou a proposta do curso que, conforme expli-ca, foi rejeitada principalmente porque a Engenharia Civil estava sediada na cidade de Limeira. “Havia um movimento para trazer o curso para Campinas, já que era importante que os alunos dos cursos de engenharia civil tivessem contato com estudantes de outras engenharias e da Matemática. Principalmente por este motivo, a proposta do curso de Arquitetura em Limeira não vingou”, afirma.

Um ano depois de ter sido contratada, a Engenharia Civil foi transferida para Campinas, e Doris começou a fa-zer pesquisas, não só na área de arquitetura. Com outras pessoas, desenvolveu o primeiro projeto pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), formando um grupo com espírito de pesquisa. “Sempre tive o intuito de fazer pesquisa em grupo, porque considero que há um bom retorno. A crítica, propiciada pelo conjunto, melhora o resultado final”, argumenta.

Conforme Doris, quando o grupo passou a realizar pesquisas na área de arquitetura, mesmo que envol-vendo físicos e engenheiros, veio à tona novamente a proposta do curso de Arquitetura na graduação.

Quando surgiu a proposta dos cursos noturnos – a legislação determina um terço das vagas de graduação em cursos à noite –, novamente Doris, com mais três docentes do Instituto de Filosofia, Ciências Humanas (IFCH) e do Instituto de Artes (IA), propôs a criação do curso noturno de Arquitetura.

“O reitor nos deu três semanas para apresentar a

s melhores instituições de ensino superior no mundo, tanto as seculares como as no-vatas que têm despontado como potências

proposta, que foi aprovada. Houve muita discussão. Al-guns achavam que era muita ousadia, quatro pessoas lançando um curso de arquitetura. E à noite. Em 1999, nasceu o curso e os resultados da primeira turma foram tão bons que ninguém mais protestou. Os primeiros cinco anos não foram fáceis. Foi uma luta para defender e consolidar a proposta. Eu tive papel interessante nesta luta. Sinto-me feliz e recompensada”, comemora Doris.

O curso de Arquitetura tornou-se tão popular que, por várias vezes, foi o segundo mais procurado no vestibu-lar. Depois, quando o curso de graduação se consolidou, Doris também contribuiu para a criação do programa de pós-graduação na área. “Fizemos pesquisas e orienta-mos alunos da Engenharia Civil no âmbito das áreas de engenharia e construção”, relembra.

A falar dessa iniciativa, a professora observa que o contando parece simples, mas as críticas foram muitas. Alguns chegavam a questionar como era possível um aluno da engenharia civil pesquisar “coisas esquisitas” da arquitetura. Mas Doris foi ca-tegórica e defendeu a “importância da multidiscipli-naridade na contemporaneidade”.

Ela avalia que teve um papel importante na Universi-dade. Por várias vezes foi coordenadora do curso de Ar-quitetura. E diz que o reconhecimento extrapola os muros da Universidade. Atualmente, é coordenadora de projeto Fapesp e líder de grupo de pesquisa do Conselho Nacio-nal de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), além de integrar grupo de trabalho da Associação Nacio-nal de Tecnologia do Ambiente Construído (Antac). “Tudo isso mostra que a arquitetura pode desenvolver pesquisa científica e não apenas discursos e projetos”, diz.

Também lançou dois livros, um dos quais ela or-ganizou. Neste momento, faz pesquisa em arquitetura escolar. “Sou convidada a dar palestras em todos os lugares. É gratificante. As pessoas estão conhecendo nosso trabalho e reconhecendo a Unicamp”, afirma.

Sobre o fato de ter vindo de fora, ela diz que isso proporciona uma visão mais aberta. “Ao conhecer ou-tras culturas, você não tem tantos preconceitos. Tem mais abertura para observar, olhar, ver mais coisas po-sitivas que negativas. Ajuda o fato de falar outras lín-guas, conhecer outros países”, diz. Segundo Doris, a Unicamp tem feito um esforço para se internacionalizar, o que, no seu entender, “é muito bom porque a Univer-sidade tem que se inserir no mundo globalizado”.

DOS EUADiferentemente da alemã Doris, Carol Collins, pro-

fessora titular do Instituto de Química (IQ) da Unicamp, conta que veio dos Estados Unidos para o Brasil espe-cialmente para dar aulas na Unicamp. Ela chegou com o marido em 1974. Os dois vieram como professores convidados para pesquisar cada um em sua área de atuação. Carol desenvolve pesquisa sobre métodos cromatográficos de separação, com destaque para cro-matografias líquida e gasosa. Também atua em química radioanalítica, sendo professora titular do Instituto des-de 1988. A trajetória de Carol na Unicamp ganhou mais um capítulo com o título de professora emérita recebido no último dia 14 de maio, em cerimônia realizada no Conselho Universitário (Consu).

Ela conta que sua vinda para a Unicamp foi resulta-do de uma conjunção de fatores. “Primeiro, porque nos Estados Unidos as universidades costumam proibir ma-rido e mulher ou pais e filhos de trabalharem na mesma instituição. Eu e meu marido, também professor, que-ríamos atuar na mesma universidade. Segundo, porque

na época a Unicamp estava trazendo gente de fora do Brasil. E também porque meu orientador se envolveu num programa de intercâmbio.”

“Minha vinda demorou um ano para se concretizar. Quando chegamos, não havia laboratório nem biblioteca. Nós montamos os laboratórios. Foram vários anos de di-ficuldades. Cada vez que íamos para os Estados Unidos, trazíamos duas malas cheias de produtos importados, inclusive reagentes. Meu primeiro aluno veio de Manaus. Cheguei a dar aulas para um ou dois alunos”, diz.

Ao rever o caminho percorrido, ela afirma, sem dúvidas, que valeu a pena. “Meu marido e eu fomos aceitos, trabalhamos em coisas de que gostamos”, afir-ma. No total, Carol já orientou 24 alunos no mestrado e 34 no doutorado. Vários são professores universitários, sendo dois da própria Unicamp.

Sobre a Universidade, ela garante que a trajetória foi “impressionante”, ainda mais por ser uma instituição ainda jovem. “Estamos bem. Hoje tem curso noturno, dez vezes mais alunos de pós-graduação do que em 1975. Os pro-fessores doutores triplicaram. A Unicamp me deu liberda-de para implantar uma linha de pesquisa própria, da qual muito me orgulho, sobretudo por tê-la iniciado”, afirma.

PROPOSTARoy Bruns, que também recebeu o título de pro-

fessor emérito dia 14 de maio, chegou ao Instituto de Química da Unicamp em 1971. Recém-formado, com doutorado e pós-doutorado nos Estados Unidos, ele es-tava procurando um emprego em universidade e queria formar seu próprio grupo de pesquisa.

“Entre as propostas, a da Unicamp foi a melhor. Che-guei no primeiro dia em que o IQ ocupou este espaço em que estamos até hoje. Só havia uma dezena de pro-fessores, e eu tinha muita dúvida sobre o sucesso desta empreitada. Não havia nem biblioteca nem facilidades de computação, fundamentais na minha área de pesquisa. Eu ia entre duas a três vezes por semana para a USP, em São Paulo, que na época era o centro mais importante em química. Sem a Universidade de São Paulo, eu não teria feito nada por pelo menos dois anos”, afirma.

Bruns diz que o contexto político do Brasil, sob ditadu-ra militar, também era complicado quando ele chegou. Ele recorda que era uma época difícil, em que não havia como prever o que estava por vir. Tudo começou a melhorar, se-gundo ele, quando o professor José Aristodemo Pinotti foi reitor. E, depois dessa época, ele avalia que, gradualmen-te, tudo foi mudando para melhor. “Inclusive, nos últimos 20 anos, a Unicamp e o Brasil melhoraram muito. Tenho muita esperança no futuro, sinto-me realizado. Já formei mais de 50 alunos mestres e doutores e sei onde cada um está”, diz, com a convicção de que o bom professor deve saber o que aconteceu com cada um de seus discí-pulos. “Meus alunos conseguiram empregos muito bons, a maioria no sistema universitário. E conseguiram fazer bom trabalho. Eu tenho orgulho disso”, afirma.

Sobre a trajetória da Unicamp, ele considera que, em termos de pesquisa, de ciência em química, a Uni-versidade é uma escola de “muito vigor”. Ressalta que é possível constatar o resultado pelo número de artigos científicos publicados, além da competência dos alunos formados na instituição.

O professor Bruns considera que vir para a Unicamp, para o Brasil, apesar das limitações, foi muito bom. Ele conta que, na época em que chegou, nos Estados Uni-dos a situação também era difícil. Ele era bolsista da Nasa, que havia dispensado metade do pessoal.

“Quando cheguei, pensei: fico dois anos. Se não der certo, volto. Mas tudo funcionou e acabei criando laços com o país, família, etc. Agora, quando vou aos Estados Unidos e fico mais do que dez dias lá, já sinto saudades do Brasil.”

DENIZE ASSISEspecial para o JU

A professora Doris Kowaltowski, alemã formada na Austrália: ajudando a implantar o curso de Arquitetura

O professor Roy Bruns: “Quando vou aos Estados Unidos e fi co mais do que dez dias, já sinto saudades do Brasil”

Carol Collins, professora do IQ: “A Unicamp me deu liberdade para implantar uma linha de pesquisa própria”

Foto: Felipe Christ

Fotos: Antoninho Perri

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esde sua implantação e ao longo de sua história, a Unicamp sempre contou com um corpo docente cuja marca foi a excelência. Por ser uma universidade jovem, alunos das primeiras turmas formadas na instituição dão hoje sua contribuição na docência, dedicando-se há quase meio século à instituição.

O professor Rogério Antunes Pereira Filho, do Depar-tamento de Clínica Médica da Faculdade de Ciências Médicas (FCM), foi aluno da primeira turma de medicina. Ele entrou na Universidade aos 18 anos, em 1963, quando a unidade ainda se chamava Faculdade de Medicina de Campinas – em 28 de dezembro de 1962, era criada oficialmente, pelo então governador Carlos Alberto de Carvalho Pinto, aquela que seria o em-brião da Unicamp, a Universidade Estadual de Campinas (UEC), à qual foi incorporada a Faculdade de Medicina.

Pereira fez residência em clínica médica, doutorado e tornou-se pro-fessor assistente. Segundo o médico, os primeiros alunos eram chamados de “caipiras”, porque a turma, de 50 alunos, contava com uma maioria de alunos oriundos de cidades do interior paulista. “Campinas era vista como uma cidade tradicionalista, de médio porte. A referência para estudantes do interior, até então, era Ribeirão Preto, considerada mais aberta. Até por isso, a maior parte do tempo dos alunos era vivida na faculdade, embora naquela época a instituição não dispusesse de boas acomodações”, afir-ma. O curso funcionava na Maternidade de Campinas, cujo prédio ainda estava sendo construído. “Eram 50 cadeiras, tipo ‘Cinema Paradiso’, piso de cimento”, lembra.

Depois de dois anos no prédio da Maternidade, a unidade foi transferida para a Irmandade Santa Casa de Misericórdia, no Centro de Campinas. “Adorávamos aquele local, apesar de o prédio ser totalmente inadequado e a construção histó-rica não permitir reformas. O primeiro reitor foi Cantídio de Moura Campos, que era professor da USP e não conseguiu realizar muita coisa”, recorda.

Com o golpe militar de 1964, a universidade formalmente acabou. Sua implantação só voltou a ser discutida alguns meses depois graças a Zeferino Vaz, que instituiu uma comissão para tocar o projeto de sua implantação. Os alunos da Medicina estavam inseguros quanto ao futuro. “Mas Zeferino reuniu-se com a gente e nos convenceu de que o investimento seria no campus, em detrimento daquele espaço que a escola ocupava. Dessa for-ma, foram sendo constituídas as outras faculdades, instalando-se a partir daí a Universidade. Anos depois, já saudosos, saímos da Santa Casa, mas fomos para um lugar maravilhoso. Atualmente, quando a gente olha a gran-diosidade deste campus, quase não dá para acreditar”, afirma.

“MINHA CASA” A ligação de Rogério com a Unicamp já data de quase meio século.

Além de aluno e professor, ocupou cargos de gestão, um dos quais como diretor do Hospital de Clínicas (HC). Ele afirma que sua história pessoal está entrelaçada à da instituição. Casou-se com uma egressa da terceira turma de Medicina, na capela da Santa Casa, com os pacientes testemunhando a cerimônia do mezanino da igreja. Seus três filhos também estudaram na Universidade, sendo que um deles é professor da FCM e outro, dentista do HC. “Aqui também é minha casa, conheço todo mundo. Vou me aposentar no ano que vem, de forma compulsória, com muito pesar. Ainda hoje tenho imenso prazer em acordar e ir para a FCM”, testemunha.

Como Rogério, o professor João Luiz Carvalho Pinto e Silva, da FCM, também é médico formado na própria Unicamp, só que na segunda tur-ma do curso. Na Unicamp, ele fez residência em ginecologia e obstetrícia, tornou-se mestre e doutor, chegando a professor titular. Sua história na ins-tituição começou em 1964. “O que tem de marcante na minha chegada é que, na semana em que ingressei na faculdade, em março de 1964, as aulas foram interrompidas porque os tanques estavam nas ruas. Foi um período difícil da história, muito complicado do ponto de vista político”, lembra.

Ele conta que Zeferino Vaz, fundador e primeiro reitor da Unicamp, conse-guiu, desde o início, compor um quadro docente de qualidade. “Ele tinha uma boa conexão com os militares, o que viabilizou a vinda de muita gente boa de fora. Zeferino gostava de talentos e recrutava professores renomados”, conta.

Paulistano, João Luiz lembra que, para os estudantes das primeiras tur-mas de Medicina, morar em Campinas foi complicado porque era a época em que se buscava a instalação da FCM, da Universidade e do campus. “Quando o Hospital de Clínicas foi inaugurado no campus, em 1986, eu já

era professor e superintendente do hospital. Já havia me formado, feito re-sidência, saído para o exterior, morado em Montevidéu, e voltado. Naquele ano, foram internados os primeiros pacientes. Nesta época, já havia outras faculdades e institutos, entre os quais de Física, Matemática, Biologia e Química. O campus começava a crescer”, declara.

Ao lançar um olhar para o passado, o professor reconhece o vigor do desenvolvimento da FCM, do complexo hospitalar e da Unicamp como um todo. Na área médica, ele gosta de lembrar especialmente da atenção dada à área de ginecologia, que cresceu muito dentro do HC, tanto que, como ele mesmo diz, constituiu-se no que atualmente é o Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher (Caism). A unidade leva o nome do médico e ex-reitor José Aristodemo Pinotti, seu idealizador.

Na época em que foi criado, o Caism foi uma inovação. Segundo João Luiz, inicialmente, os gestores da faculdade resistiram à implantação do projeto, proposto por um grupo de docentes do Departamento de Tocogi-necologia. “Diziam que nem bem havia sido construído um hospital e já se planejava outro. Felizmente, o projeto foi em frente. A Unicamp passou a ter um hospital dedicado à mulher, que se tornou referência para o Sistema Único de Saúde (SUS)”, afirma.

No âmbito do Caism, as inovações foram muitas: a forma de organi-zação, a prevenção do câncer do colo do útero e de mama – as primeiras mastectomias conservadoras, sem tirar a mama inteira, reconstruindo-a –, a área de maternidade, com foco na parte estrutural do parto, além da huma-nização do atendimento. Além disso, o hospital destacou-se por desenvolver em 1978 o primeiro programa do país voltado para grávidas adolescentes. “O modelo serviu como referência para a Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo. Também foi desenvolvido no Caism o programa de assistência às mulheres vítimas de violência doméstica e sexual. E a unidade conta com uma residência de muita qualidade, a única no país avaliada com nota 6 pela Capes”, afirma o professor. Ele lembra ainda que, no Caism, as pesquisas estão atreladas às necessidades da população.

Outro ex-aluno da Unicamp que se tornou docente na instituição é João Frederico da Costa Azevedo Meyer, mais conhecido na comunidade aca-dêmica como professor Joni. Ele ingressou na Universidade em 1967 cur-sando Matemática na primeira turma. Hoje é professor do Departamento de Matemática Aplicada e pró-reitor de Extensão e Assuntos Comunitários.

Segundo o professor, sua trajetória profissional está “costurada à bar-ra da Unicamp”. Ele participou ativamente da luta política, tanto na busca pela democracia do país como pela consolidação da Unicamp. Como alu-no, integrou o Centro Acadêmico e participou das equipes que promoviam atividades esportivas, de cultura e lazer. “Era uma época efervescente e de intensa vida universitária, portanto, não era de estranhar que muitos dos alunos quisessem ficar no campus assim que se formassem. Foi o meu caso. Alguns foram para o exterior. Além disso, no contexto político, a Uni-versidade, de certa forma, se constituía num lugar seguro. Meu pai teve que sair do país. Eu achava que era minha obrigação ficar, não apenas pela luta contra a ditadura. Por uma questão ética, achava que tinha que resistir na luta estudantil”, relata.

O pró-reitor revela que foi uma opção pessoal seguir carreira na Unicamp, onde fez mestrado e doutorado. Quando se formou, ele pode-ria ter ido embora, aproveitando que seus pais levavam uma vida bem melhor que a dele fora do país – eram professores nas universidades de Genebra (seu pai) e Princeton (sua mãe). Mas seguir carreira na Uni-camp foi a opção. Ele afirma que, na ocasião, já estava “seduzido” por professores que falavam com entusiasmo sobre seus temas de pesqui-sa, entre os quais Eduardo Sebastiani Ferreira, Paulo Boulos, Mauro de Oliveira César e Ubiratan D’Ambrosio, que fez com que a etnomatemáti-ca fosse respeitada internacionalmente.

“Estou na Unicamp porque tive espaço para o meu desenvolvimento. O único jeito de a gente viver é quando vale a pena. E valeu”, afirma o pró-reitor. Jony está aposentado desde 1998, mas garante que só vai deixar a Universidade aos 70 anos, quando sua saída será compulsória. “Porque, daí, não terá mais jeito”.

12Campinas, 11 a 17 de junho de 2012Campinas, 11 a 17 de junho de 2012

Da graduação à docênciaAlunos formados nas primeiras turmas viram professores

e são testemunhas de todas as fases da Universidade

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O pró-reitor João Frederico da Costa Azevedo Meyer: “Estou na Unicamp porque tive espaço para o meu desenvolvimento”

O professor Rogério Pereira, formado na 1ª turma da Medicina: trajetória pessoal entrelaçada à da instituição

João Luiz de Carvalho Pinto e Silva, professor da FCM: enfatizando o papel pioneiro das iniciativas desenvolvidas no Caism

Fotos: Felipe Christ