JU542

12
A falta de regulação entre o público e o privado, além de outros problemas enfrentados pelo sistema de saúde no país, podem agravar as mazelas no setor, caso não sejam devidamente enfrentados. A constatação está na tese do economista João Fernando Moura Viana, defendida no Instituto de Economia (IE), sob orientação do professor Pedro Luiz Barros Silva. O autor do estudo defende a elaboração de um novo arranjo institucional que envolva o Estado, as famílias e as empresas. IMPRESSO ESPECIAL 9.91.22.9744-6-DR/SPI Unicamp/DGA CORREIOS FECHAMENTO AUTORIZADO PODE SER ABERTO PELA ECT www.unicamp.br/ju ornal U ni camp da Campinas, 15 a 21 de outubro de 2012 - ANO XXVI - Nº 542 - DISTRIBUIÇÃO GRATUITA J 3 5 O incremento da mobilidade Bibliotecas de clones saúde Placa contendo fragmentos de DNA da cana-de-açúcar Um novo arranjo para enfrentar o colapso na Equipamento armazena 380 mil clones bacterianos de DNA de duas variedades de cana-de-açúcar. Os cartazes de Chabloz Para o bebê não sofrer na UTI Gargalos do café gourmet Descobertas na spintrônica Idosos aguardam em fila de atendimento: envelhecimento da população é um dos problemas do sistema Foto: Antonio Scarpinetti Foto: Antoninho Perri

description

Jornal da Unicamp, edição 542

Transcript of JU542

Page 1: JU542

A falta de regulação entre o público e o privado, além de outros problemas

enfrentados pelo sistema de saúde no país, podem agravar as mazelas no setor, caso não sejam devidamente enfrentados. A constatação está na tese do economista João Fernando Moura Viana, defendida no Instituto de Economia (IE), sob orientação do professor Pedro Luiz Barros Silva. O autor do estudo defende a elaboração de um novo arranjo institucional que envolva o Estado, as famílias e as empresas.

IMPRESSO ESPECIAL9.91.22.9744-6-DR/SPIUnicamp/DGACORREIOS

FECHAMENTO AUTORIZADOPODE SER ABERTO PELA ECTwww.unicamp.br/ju

ornal UnicampdaCampinas, 15 a 21 de outubro de 2012 - ANO XXVI - Nº 542 - DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

J

3

5

O incremento da mobilidade

Bibliotecas de clones

A falta de regulação entre o público e

saúde

Placa contendo fragmentos de DNA da cana-de-açúcar

Um novo arranjo para enfrentar ocolapso na

Equipamento armazena 380 mil clones bacterianos de DNA de duas variedades de cana-de-açúcar.

Os cartazes de Chabloz 12

Para o bebê nãosofrer na UTI9

5

Gargalos docafé gourmet4

Descobertasna spintrônica 2

Idosos aguardam em fi la de atendimento: envelhecimento da população é um dos problemas do sistema

Foto: Antonio Scarpinetti

Foto

: Anto

ninho

Per

ri

Page 2: JU542

UNICAMP – Universidade Estadual de CampinasReitor Fernando Ferreira CostaCoordenador-Geral Edgar Salvadori De DeccaPró-reitor de Desenvolvimento Universitário Roberto Rodrigues PaesPró-reitor de Extensão e Assuntos Comunitários João Frederico da Costa Azevedo MeyerPró-reitor de Pesquisa Ronaldo Aloise PilliPró-reitor de Pós-Graduação Euclides de Mesquita NetoPró-reitor de Graduação Marcelo KnobelChefe de Gabinete José Ranali

Elaborado pela Assessoria de Imprensa da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Periodicidade semanal. Correspondência e sugestões Cidade Univer-sitária “Zeferino Vaz”, CEP 13081-970, Campinas-SP. Telefones (019) 3521-5108, 3521-5109, 3521-5111. Site http://www.unicamp.br/ju. E-mail [email protected]. Twitter http://twitter.com/jornaldaunicamp Assessor Chefe Clayton Levy Editor Álvaro Kassab ([email protected]) Chefi a de reportagem Raquel do Carmo Santos ([email protected]) Reportagem Carmo Gallo Neto Isabel Gardenal, Maria Alice da Cruz e Manuel Alves Filho Editor de fotografi a Antoni-nho Perri Fotos Antoninho Perri e Antonio Scarpinetti Coordenador de Arte Luis Paulo Silva Editor de Arte Joaquim Daldin Miguel Vida Acadêmica Hélio Costa Júnior Atendimento à imprensa Ronei Thezolin, Patrícia Lauretti e Jaqueline Lopes. Serviços técnicos Dulcinéa Bordignon Everaldo Silva Impressão Pigma Gráfi ca e Editora Ltda: (011) 4223-5911 Publicidade JCPR Publicidade e Propaganda: (019) 3327-0894. Assine o jornal on line: www.unicamp.br/assineju

Campinas, 15 a 21 de outubro de 20122

Foto: Antoninho Perri

Trabalho de grupo do IFGW é publicado na ‘Physical Review Letters’

O professor Eduardo Granado, coordenador das pesquisas, no laboratório do Departamento de Eletrônica Quântica: contribuindo para o melhor entendimento dos fenômenos envolvendo os meio-metais

LUIS [email protected]

revista Physical Review Letters publi-cou um trabalho liderado por um grupo de pesquisadores do Ins-tituto de Física Gleb Wataghin (IFGW) da Unicamp, revelan-

do de maneira inédita uma nova forma de excitação coletiva em materiais sólidos, que os autores denominaram spin-elé-tron-fônon. A importância da descoberta é conceitual, podendo contribuir para o melhor entendimento dos fenômenos en-volvendo os chamados meio-metais, ma-teriais que despertam grande interesse na área da spintrônica, considerada uma das vertentes da eletrônica do futuro.

O professor Eduardo Granado, do De-partamento de Eletrônica Quântica do IFGW, informa que os resultados foram obtidos ao longo de três dissertações de mestrado defendidas por Alessandro Lis-boa, Ulisses Ferreira Kaneko e Fábio Ma-chado Ardito, bem como no trabalho de pós-doutorado de Alí Francisco García-Flores. As pesquisas foram realizadas no Laboratório de Espectroscopia Raman do Grupo de Propriedades Ópticas e Magné-ticas de Sólidos.

“O foco do nosso grupo está em desco-brir e investigar novos materiais que apre-sentem fenômenos físicos fundamental-mente novos ou ainda não completamente compreendidos, quase sempre envolven-do conceitos de mecânica quântica”, ex-plica Granado. “O Laboratório Raman nos permite observar excitações vibracionais, eletrônicas e magnéticas destes materiais. Neste trabalho em particular, estudamos compostos da família de perovskitas du-plas, que são óxidos que possuem uma estrutura atômica específica formada por ‘gaiolas’ de oxigênio que rodeiam átomos de metais como ferro (Fe), cromo (Cr), e rênio (Re).”

Segundo o pesquisador, em sólidos atomicamente ordenados como as pero-vskitas duplas, os átomos possuem uma dinâmica coletiva, participando de vibra-ções que viajam rapidamente na forma de uma onda, levando à propagação do som e contribuindo para a propagação de ca-lor, entre outros fenômenos. “Trata-se dos fônons, que é um tipo de excitação cole-tiva já bem conhecida. Existem também outros tipos de excitações coletivas, como por exemplo, aquelas envolvendo flutua-ções dos momentos magnéticos diminu-tos que átomos como de ferro, cromo e rênio possuem, e que também se propa-gam como ondas: são as ondas de spin, também conhecidas como mágnons.”

O professor do IFGW explica que a investigação que resultou neste artigo vem de uma descoberta acidental, em 2008, durante o trabalho de dissertação

quentes. “Para uma investigação mais completa do fenômeno, submetemos o material a condições extremas, apli-cando campos magnéticos muito for-tes a temperaturas baixíssimas, a fim de testar todas as hipóteses que pu-dessem ser elaboradas para explicar o fenômeno.”

Depois de estudo tão detalhado, a conclusão foi de que havia uma única maneira de explicar o fenômeno: pro-por a existência de uma nova forma de excitação coletiva. “É uma mistura de três componentes: uma vibracio-nal, uma eletrônica e uma magnética. As três juntas formam uma excitação que oscila em frequência bem defini-da, sempre que o material é resfriado a temperaturas suficientes para que os momentos magnéticos do sólido se ordenem. Uma vez ordenados, é possível promover a propagação do momento magnético em cada átomo juntamente com as vibrações e as ex-citações eletrônicas.”

OS COMPOSTOSOs pesquisadores do IFGW estu-

daram dois compostos de perovski-tas duplas: um de bário, ferro, rênio e oxigênio (Ba2FeReO6) e outro de estrôncio, cromo, rênio e oxigênio (Sr2CrReO6). “Eles são meio-metais, assim chamados por possuírem elé-trons de condução que são polarizados magneticamente, ou seja, que têm o momento magnético apenas em uma direção. É como se o material tivesse personalidade dupla: ele é um metal visto por elétrons magnetizados em uma direção, e um isolante para os elé-trons magnetizados na direção oposta. Na pesquisa, descobrimos que um mo-vimento de respiração das gaiolas de oxigênio é capaz de modular alterna-damente a densidade de elétrons den-tro dos átomos de ferro (ou cromo) e rênio, modulando também o momen-to magnético dentro destes átomos. É uma nova forma de excitação coletiva envolvendo três graus de liberdade combinados (vibracional, eletrônico e magnético) que pode ocorrer em vá-rios outros materiais com característi-cas similares.”

Eduardo Granado afirma que os meio-metais são bastante estudados dentro da área da spintrônica, que se acredita ser a próxima geração da ele-trônica. “É uma tecnologia que mescla os condutores elétricos com outros materiais que tenham propriedades também magnéticas. De tal maneira que a informação é controlada e trans-mitida não só pelas correntes elétricas, mas também pelas direções dos mo-mentos magnéticos dos elétrons que estão conduzindo. Os dois materiais que estudamos estão dentro de uma classe de compostos de grande inte-resse para a spintrônica, chamada de injetores de spin.”

As perovskitas duplas utilizadas no laboratório do IFGW eram pós-prensa-das na forma de cerâmicas, mas Gra-nado observa que, viabilizada a aplica-ção tecnológica destes materiais, eles podem também ser produzidos em outras formas, como de um filme fino, dependendo da aplicação desejada.

Forjando a eletrônica do futurorevista

cou um trabalho liderado por um

de Alessandro Lisboa. “Estudávamos as propriedades vibracionais de perovskitas duplas em função da temperatura. Foi quando percebemos um modo de vibração cuja frequência mudava abruptamente – e bastante – conforme se variava a tempera-tura. Intrigou-nos o fato da variação nes-te modo de vibração acontecer na mesma temperatura em que os momentos magné-ticos do Fe (ou Cr) e Re se ordenavam, ao passo que a estrutura atômica do material apresentava poucas mudanças. Também nos chamou a atenção que o efeito ocor-

reu apenas para um modo em particular, envolvendo a vibração em fase da gaiola de oxigênios contra os átomos de Fe (ou Cr) e Re, lembrando um movimento de respi-ração.”

A incógnita, de acordo com Eduardo Granado, estava no fato de que os me-canismos conhecidos para explicar estas variações de frequência associadas ao or-denamento magnético não eram suficien-tes para justificar aquele efeito observado. Foi com o objetivo de buscar as causas que o docente orientou as teses subse-

As aplicações da spintrônicaSpintrônica é um neologismo para

“eletrônica baseada em spin”. Também conhecida como magneto-eletrônica, é uma tecnologia emergente que explora a propensão quântica dos elétrons de girar (spin em inglês), bem como fazer uso do estado de suas cargas. O spin, por si só, é manifestado como um estado de energia magnético fracamente detectável, carac-

terizado como “spin para cima” e “spin para baixo”.

Graças à spintrônica foi possível, por exemplo, reduzir o tamanho dos discos rígidos e ao mesmo tempo aumentar a capacidade de armazenamento. A tecno-logia também está presente nas novas memórias de computador chamadas de RAM (Random Access Memory, ou memó-

ria de acesso aleatório). Pesquisadores acreditam que, além do armazenamento de dados, a spintrônica pode ser aplicada aos semicondutores e na criação de pro-cessadores para computadores quânticos.

Existem diversas outras aplicações, mas o ponto forte das pesquisas em spintrônica é a utilização do “entrelaça-mento” quântico que existe entre os elé-

trons, sendo possível, assim, transmitir uma informação apenas com o gasto de energia de produzir o primeiro pulso: “girar” um e létron, mudar a orientação do seu spin. A partir deste pulso, toda a cadeia ligada a este elétron vai responder da mesma forma, mudando a orientação do seu spin e não gastando energia a mais para isso.

Page 3: JU542

3Campinas, 15 a 21 de outubro de 2012

Sem arranjo, Tese propõe alternativas para evitar o colapso do sistema de saúde brasileiro

Foto

: Anto

ninho

Per

ri

não há saída

Publicações

Tese: “Saúde supletiva: Estado, famí-lias e empresas em novo arranjo insti-tucional”Autor: João Fernando Moura VianaOrientador: Pedro Luiz Barros Silva Unidade: Instituto de Economia (IE)

Espera para o atendimento na rede pública: envelhecimento da população é um dos desafi os do sistema

MANUEL ALVES [email protected]

o Brasil, os planos de saúde não podem mais ser caracteri-zados como uma atividade su-pletiva. Hoje, eles competem diretamente com o Sistema

Único de Saúde (SUS), visto que ambos têm a mesma base de prestação de serviços. Esta é uma das constatações da tese de doutorado do economista João Fernando Moura Viana, defendida recentemente no Instituto de Eco-nomia (IE) da Unicamp, sob a orientação do professor Pedro Luiz Barros Silva. De acordo com o autor do trabalho, a falta de regula-ção entre o público e o privado e alguns ou-tros problemas enfrentados pelo sistema de saúde no país, como o aumento dos gastos com a assistência devido ao envelhecimento progressivo da população, podem aprofundar as iniquidades presentes no setor, caso não sejam devidamente enfrentados.

Em sua pesquisa, intitulada “Saúde su-pletiva: Estado, famílias e empresas em novo arranjo institucional”, Viana tratou não ape-nas de diagnosticar as dificuldades en-frentadas pelo sistema de saú-de brasileiro, mas cuidou também de propor alternativas para superá-las.

Único de Saúde (SUS), visto que ambos têm

O economista explica que o chamado setor de saúde suplementar opera no Brasil desde meados da década de 1960. Somente no final da década de 1990, porém, é que começou a tramitar no Congresso Nacional projeto de lei para regulamentar a atividade. A matéria chegou a ser aprovada pela Câmara dos De-putados, mas foi posteriormente barrada no Senado.

Na oportunidade, o ministro da Saúde era José Serra, que entabulou uma nego-ciação com os senadores com o propósito de ver o projeto finalmente aprovado. “Em razão dessas conversações, o texto sofreu mudanças em alguns pontos. Um aspecto fundamental do acordo foi o compromisso assumido por Serra de editar uma medida provisória caso a matéria passasse pelo crivo dos parlamentares. Ao cabo de tudo, a maté-ria foi aprovada e o ministro Serra cumpriu a promessa. Ocorre que a medida provisória determinou que as operadoras passassem a oferecer o chamado plano de referência, ou seja, um plano completo, que cobriria todas as doenças. Assim, o que deveria ser suple-mentar passou a oferecer cobertura total, da

mesma forma como o SUS já fazia. Estabeleceu-se, desse modo, um

sistema duplicado, no qual as par-

tes passaram a competir entre si”, sustenta Viana.

O economista detalha melhor esse aspec-to. Segundo ele, com o advento da medida provisória os planos de saúde não se torna-ram nem suplementares e nem complemen-tares. “O termo suplementar indica a agrega-ção de algo. Ou seja, em tese o consumidor poderia optar por um plano que oferecesse um quarto particular, para ficar em um exem-plo. Já o termo complementar sugere a ofer-ta de serviços adicionais, como cobertura de transplantes. Como os dois sistemas passa-ram a oferecer tudo, eles tornaram-se compe-tidores, uma vez que atuam sobre uma mes-ma base de prestação de serviços”, reforça o autor da tese.

As implicações dessa duplicidade, con-forme Viana, são diversas. Uma das mais importantes, e que impacta diretamente os usuários, é o fato de os planos de saúde te-rem passado a competir com o SUS em si-tuação de vantagem, visto que remuneram melhor os diversos procedimentos médicos e hospitalares. “Como a base é a mesma, in-sisto, isso cria um sério problema. Essa situ-ação indica claramente que as relações entre o setor público e o privado ainda carecem de regulamentação”, considera o economista. Em sua pesquisa, ele foi ainda mais fundo nos problemas enfrentados pelo sistema de saúde brasileiro.

Na visão de Viana, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), órgão vinculado ao Ministério da Saúde responsável por re-

gulamentar essas atividades, dispõe de uma agenda, mas esta não tem con-templado aspectos que ele entende como cruciais para o enfrentamento dos atuais e futuros entraves do sis-tema de saúde do país. Um deles,

destaca o economista, é o acelerado processo de envelhecimento da po-

pulação. De acordo com projeções do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cerca de 10% da população brasileira tem atualmente mais de 60 anos. Em 2030, esse contingente subirá para 20% e em 2050, para 30%. “É justamente na faixa etária mais elevada que as pessoas, principalmente as pertencentes à classe média, passam a ganhar menos, em razão da aposentadoria, e a pagar mais pelos planos de saúde”, assinala o autor da tese.

Ademais, prossegue Viana, dois outros pontos fundamentais a serem considerados são a incorporação tecnológica e os hábitos de consumo na área da saúde. O pesquisador esclarece que a primeira questão está ligada aos crescentes gastos feitos pelo sistema para a adoção de novas tecnologias. “Em outros setores, a incorporação tecnológica tende a reduzir custos. Normalmente, os computa-

dores e outros equipamentos vão se tornan-do mais baratos com o tempo. No caso

da saúde ocorre o contrário. Normal-mente, os equipamentos novos cus-tam bem mais do que os das gerações imediatamente anteriores”, diz.

Quanto aos hábitos de consu-mo, Viana diz que o usuário, num

momento de doença, obviamente tende a querer usar todos os re-cursos disponíveis para alcançar a cura. “Os dois fatores contri-buem para a ampliação dos gas-tos do setor. Ocorre que, a per-sistir essa tendência, vai chegar o momento em que será impos-sível pagar por tudo isso, o que

colocará o sistema de saúde sob o risco de um colap-so”, adverte. As alternati-vas mais frequentes para enfrentar quadros como este têm sido, conforme o economista, o aumento do preço dos planos ou a geração de filas. “Aqui, as filas não devem ser en-tendidas apenas como uma ala de pessoas em pé à espera de atendi-mento, mas também como a demora cada vez maior para a

marcação de consultas, exames e cirurgias”.

SAÍDASComo não se limitou somente a diagnos-

ticar as mazelas do sistema de saúde brasilei-ro, o autor da tese faz algumas proposições no seu trabalho, como forma de estimular o diálogo com vistas à formulação de políticas públicas mais efetivas para o setor. Assim, ele aponta opções às medidas convencionalmen-te adotadas para fazer frente aos problemas que se apresentam. Seguindo o que sugere o título do seu trabalho, Viana defende a elabo-ração de um novo arranjo institucional que envolva o Estado, as famílias e as empresas. É a partir desse modelo, acredita o economista, que será possível ao país adotar ações para vencer os desafios mais urgentes.

Viana adianta que não acredita que o im-bróglio possa ser resolvido pela via da amplia-ção do financiamento. “Nesse aspecto, vejo pouca margem de manobra. Penso que a alter-nativa mais viável é a redução de custos”, sina-liza. Segundo o economista, é preciso atuar no sentido de tornar o processo de incorporação tecnológica mais rigoroso. Atualmente, diz, os gastos nessa área são feitos sem tanto contro-le. “Muitas ve-zes, são usados recursos desne-cessários. Há ca-sos em que são utilizados stents [tubos de metal que têm a fun-ção de aumentar o calibre dos va-sos sanguíneos] que custam R$ 20 mil, quando existem simila-res no merca-do que custam quatro ou cinco vezes menos”, exemplifica.

Uma suges-tão dada por Viana que pode soar polêmica aos usuários de plano de saúde é a instituição do gasto comparti-lhado. O mode-lo prevê que os consumidores paguem um valor além da men-salidade para ter acesso a determinados pro-cedimentos médicos e/ou hospitalares. “Isso faria com que as famílias controlassem melhor o uso dos planos”, cogita o autor da tese. Para não sobrecarregar demais os usuários, o eco-nomista recomenda a ampliação das deduções tributárias, notadamente do Imposto de Ren-da, tanto de pessoas acima de 60 anos quanto de empresas que têm elevado número de em-pregados e que arcam parcial ou integralmen-te com os custos dos planos de saúde destes.

A ideia, nesse caso, é que esses segmentos específicos possam deduzir do IR um índice superior àquele que normalmente teriam direito. “No caso dos idosos, esse seria um mecanismo compensatório para um momen-to em que a mensalidade do plano de saúde sobe e a renda cai. No caso das empresas, a compensação seria um estímulo para que continuem bancando a assistência médica de seus funcionários, principalmente em perío-dos recessivos”, acredita Viana, que faz ques-tão de ressaltar que tais propostas não têm a pretensão de resolver todos os problemas do sistema de saúde brasileiro. “A tese pretende apenas abrir o debate em torno de temas tão relevantes para a sociedade”, ratifica.

O economista João Fernando Moura Viana, autor da tese:

“Os planos de saúde, que deveriam ser complementares, hoje

competem com o SUS, visto que ambos têm a mesma base de

prestação de serviços”

Page 4: JU542

Campinas, 15 a 21 de outubro de 20124

PublicaçãoDissertação: “Estruturas de governança na cadeia produtiva de cafés gourmet: o caso dos produtores da Alta Mogiana”Autor: Allan Vieira de Castro Quadros Orientador: Walter BelikUnidade: Instituto de Economia (IE)

Lucros com grãos de qualidade superior normalmente não são repassados a produtores Fotos: Antoninho Perri

CARMO GALLO [email protected]

consumo crescente de cafés de melhor qualidade no Brasil e no mundo vem estimulando cafeicultores na busca de pro-dutos de maior rentabilidade e que possam contribuir para a

proteção econômica do segmento. Em decor-rência, o setor tem procurado diferenciações nesta commodity, resultando daí a produção de grãos de qualidade superior, como os clas-sificados de cafés gourmet. A elevação dos produtos a esta categoria envolve cuidados especiais, desde a produção até a comercia-lização.

Os bons resultados, além de atrelados às características geomorfológicas da região de cultura, resultam de técnicas adequadas, do plantio à manutenção das plantas; de cuida-dos especiais dispensados às colheitas; da se-paração de grãos selecionados com base nas características esperadas para a bebida; do emprego condizente de processos de torrefa-ção, embalagem e até de preparo da bebida. Desse conjunto resultam bebidas diferencia-das, não amargas, mais puxadas para o doce, e até com sabores específicos, a exemplo das que ostentam naturalmente o sabor de cara-melo, o que leva muitos a ingeri-las sem açú-car para maior percepção dos seus aspectos sensoriais.

O leigo imagina que os produtores desses grãos recebam uma remuneração diferencia-da na sua comercialização. Essa visão é re-forçada pelo preço de um simples cafezinho gourmet, que em cafeterias mais sofisticadas da cidade de São Paulo chega a oito reais. Mas, nem sempre o resultado financeiro da valori-zação maior desse grão pelo mercado consu-midor chega ao produtor. Foi o que constatou Allan Vieira de Castro Quadros compulsando inicialmente estudos específicos desenvol-vidos principalmente por pesquisadores da USP e acessando entrevistas realizadas com produtores.

Diante desta constatação prévia, ele se propôs a avaliar a extensão do problema e determinar qual seria a estrutura econômica necessária, denominada genericamente de estrutura de governança, que permitiria redu-ção dos custos de transação e apropriação de maior renda pelo ruralista na comercialização do produto diferenciado. Durante o trabalho, o pesquisador se deparou efetivamente com vários problemas que impedem em muitos casos que o cafeicultor usufrua maior lucro em um produto requisitado por um mercado consumidor mais exigente.

Com base em bibliografia específica, en-volvendo produção e comercialização de café e utilizando subsídios clássicos da teoria eco-nomia, Allan elaborou previamente algumas hipóteses que explicassem essa aparente contradição: que fatores impedem que um produto mais nobre gere maior renda para o produtor? Mesmo porque em economia considera-se que a diferenciação na produção constitui um dos caminhos para obtenção de maior renda, o que não acontece com seg-mentos de produtores de café gourmet, mes-mo quando vencedores de concursos de qua-lidade. “Então eu me propus a mostrar como produtores de café considerados gourmet po-deriam conseguir obter maior rendimento na comercialização do produto. Ou seja, que for-mas de gestão, que estruturas de governan-ça deveriam ser adotadas na estruturação do negócio para obtenção de uma remuneração diferenciada e mais adequada a uma qualida-de igualmente diferenciada”, diz ele.

O pesquisador então elaborou previamen-te algumas hipóteses. Essas levaram à seleção de alguns estudos de caso que permitissem confirmar ou não o acerto das proposições iniciais. Esses estudos envolveram pesquisas junto a um grande produtor, uma coopera-tiva e cinco produtores cooperados de porte médio e pequeno, todos da região da Alta Mogiana – que abrange o nordeste do estado de São Paulo, em que se destacam as cidades de Franca e Pedregulho, e avança até o sul de Minas Gerais – tradicionalmente conhecida como produtora de cafés de excelente quali-dade pelas suas características geomorfológi-

Cooperativa pode ser a saída para produção de café gourmet

Allan Vieira de Castro Quadros: cooperativa permitiria estabelecer contatos mais amplos e com maior poder de barganha

Consumidor em cafeteria em Campinas

cas e que, segundo alguns especialistas, exibe cafés que se rivalizam com os colombianos, considerados os melhores do mundo.

A dissertação de mestrado recebeu orien-tação do professor Walter Belik, do Instituto de Economia (IE) da Unicamp, onde foi apre-sentada.

Entre as hipóteses aventadas, Allan Qua-dros sugeriu a verticalização do negócio. Além da produção, o cafeicultor deveria manter uma torrefação, criar uma marca e comercia-lizar diretamente o produto com os revende-dores ou até, em certos casos, fazê-lo direta-mente com consumidor. Esta seria a forma de conseguir maior renda, porque o maior ganho acaba em geral sendo das empresas que bene-ficiam o produto, caso das torrefadoras, que separam os melhores grãos e fazem chegar ao comércio um café de melhor qualidade por maior preço.

Esta seria uma das hipóteses. Entretan-to, o processo exige investimentos de certo vulto, que podem comprometer eventuais lucros, o que o torna inviável para os peque-nos e médios produtores. Para atender a esses dois segmentos, ele sugere a organização em cooperativas, recurso sobejamente tratado na teoria econômica.

A cooperativa viria a constituir então outra estrutura de governança, ainda que diversa da simples verticalização. Ou melhor, a associa-ção horizontal permitiria a um conjunto de produtores a integração vertical. O pesqui-sador explica: “Parti do pressuposto de que essa seria a saída mais viável para o pequeno e médio produtor. A torrefação e a marca do café gourmet passam a ser do grupo de coo-perados e a comercialização se torna mais vi-ável por se tratar de um conglomerado capaz de estabelecer contatos mais amplos e com maior poder de barganha”.

Mas a comprovação da viabilidade desse tipo de governança exigia um estudo de caso, baseado preferencialmente no que ocorre em uma região produtora de cafés gourmet de ex-celente qualidade, que dispusesse de uma co-operativa com pequenos e médios cooperados e que mantivesse uma indústria de torrefação e uma marca de café gourmet. Ao decidir-se pela Alta Mogiana, ele centrou os estudos em uma cooperativa e em cooperados com o perfil desejado e também em um grande pro-dutor, de forma a estabelecer um contraponto com os pequenos e médios cafeicultores.

Entrevistando cinco produtores pe-quenos e médios de cafés gourmet, Allan

verificou que o seu pressuposto não se verificava, pois não conseguiam que a co-operativa os comprasse com maior valor. Embora pagasse o mesmo preço de uma commodity, a cooperativa vendia esse café de qualidade superior por um preço maior, ficando com os lucros que não chegavam aos produtores.

É verdade que durante os concursos de qualidade por ela promovidos pudessem ocorrer vendas diretas de lotes de grãos a tor-refações por um preço maior e mais condizen-te com a qualidade do produto. Além disso, quando procurada por grandes compradores, a cooperativa indicava-lhes os produtores que dispunham do café com a qualidade procura-da. Nesses casos, o produtor também efetiva-mente se beneficia diretamente com a venda por melhor preço.

O pesquisador verificou que, entre os pro-dutores, existe consenso sobre a importância da cooperativa em relação à orientação téc-nica que ela lhes proporciona com vistas à obtenção de grãos cada vez melhores e sobre a facilitação da comercialização dessa com-modity. Reconhecem ainda a importância dos contatos que a cooperativa promove permi-tindo a venda direta aos compradores de ca-fés gourmet. Mas essas alternativas não lhes oferecem segurança porque não garantem que a empresa de torrefação venha a com-prar o produto sistematicamente do mesmo produtor. Já em relação ao grande produtor, pelo menos no que diz respeito ao caso estu-dado, o modelo da verticalização se mostrou plenamente viável, inclusive com a instalação de pontos com vendas diretas ao consumidor de cafés gourmet e até instalação de cafete-rias sofisticadas, particularmente em grandes centros.

Com base nos estudos de casos envol-vendo cafés gourmet, Allan conclui que a estrutura verticalizada é adequada ao grande produtor; a estrutura horizontal se mostra eficiente na intermediação de contratos entre cooperados e torrefadoras; e a coordenação horizontal acompanhada da integração ver-tical, que caracteriza as cooperativas, não se mostra eficiente para os produtores desses produtos diferenciados.

Ele termina o trabalho sugerindo a ava-liação de cooperativas e produtores de cafés gourmet de outras regiões a fim de verificar a compatibilidade dos resultados. Propõe também uma pesquisa mais abrangente, que abarque maior número de produtores e que permita maiores generalizações e extrapola-ções dos dados obtidos.

Page 5: JU542

5Campinas, 15 a 21 de outubro de 2012

Estão armazenados 380 mil clonesbacterianos com fragmentos de DNA de duas variedades

Fotos: Antonio Scarpinetti

As bibliotecas

ISABEL [email protected]

biólogo Danilo Sforça acaba de construir duas bibliotecas de Bacs (em português Cro-mossomo Artificial de Bac-téria) que somam um pouco

mais de 380 mil clones bacterianos conten-do fragmentos de DNA de duas variedades de cana: a SP80-3280 (221.184 clones) e a IACSP93-3046 (165.888 clones). Repre-sentam quatro vezes o genoma completo da planta, feito inédito no mundo. A cana plan-tada hoje é um híbrido entre o cruzamento das espécies Saccharum spontaneum e Saccha-rum officinarum.

Trocando em miúdos, o biólogo construiu um recurso genético e genômico para estudo da cana e uma plataforma de seleção rápida de clones Bacs, agilizando o uso das bibliote-cas por pesquisadores que desejem encontrar genes ou outros tipos de sequências no ge-noma da cana. Assim, pode-se recuperar um gene com todas as suas cópias variantes em poucas horas.

“A nossa biblioteca está pronta, é fácil de ser utilizada e é representativa”, assinala ele. Vieram da França para o Brasil em agos-to e poderão ser consultadas no ano que vem, uma vez que falta fazer uma cópia de segurança.

Elas são um recurso genético pois, com esse material, compreende-se melhor a ge-nética da cana; e é genômico pois, com seus clones, pode-se obter informações do geno-ma diretamente, como o sequenciamento de pedaços do genoma, de genes e de qualquer região que se queira desvendar.

Exceto essas, há só mais uma biblioteca representativa do genoma, de cerca de 100 mil clones, construída por um grupo ame-ricano de uma variedade de cana francesa, a R570.

O objetivo do pesquisador era encontrar rapidamente a sequência completa de genes de interesse à agricultura bem como de seus variantes, proeza que apenas é uma realida-de com essa biblioteca.

Danilo contou com a colaboração da pesquisadora Mônica Conte e foi orientado pela professora Anete Pereira de Souza, do Instituto de Biologia (IB) e do Centro de Biologia Molecular e Engenharia Genética (CBMEG). Teve ainda apoio do grupo da professora Hélène Berges, do Centro Nacio-nal de Recursos Genômicos (CNRGV) do Instituto Nacional de Pesquisas Agronômi-cas Francês, de Toulouse.

MELHORAMENTOO Brasil tem a maior área plantada de

cana-de-açúcar no interior de São Paulo, que produzirá, na safra 2011/2012, mais de 308 milhões de toneladas, o equivale a 54% do total a ser produzido no país. Dependendo da variedade e região, pode-se obter em mé-dia 75-85 toneladas por hectare.

Essa planta é uma cultura bianual e, após o seu plantio, pode levar um ano e meio para poder crescer bem. Necessita de muita água, temperaturas elevadas e muita radia-ção solar para se desenvolver. Pode ser plan-tada em três épocas diferentes, dependendo da área de plantio: sistema de ano-e-meio, sistema de ano e plantio de inverno. O produtor procede aos cortes todos os anos (cada ano em uma área) e, depois, vem o replantio.

Os projetos genomas podem sequenciar o genoma completo ou só os genes. O geno-ma da cana é grande e cheio de sequências repetidas, dificultando o seu sequenciamen-

O biólogo Danilo Sforça e a professora Anete

Pereira de Souza, orientadora da

pesquisa, em frente ao biofreezer para

armazenamento de clones; abaixo,

o equipamento de replicagem de

colônias de bactérias

to e organização, por isso o genoma comple-to ainda não está sequenciado e não há una-nimidade quanto à melhor estratégia para isso. Vários grupos lidam com suas táticas para chegar a ele.

Há projetos de sequenciamento do geno-ma completo da cana ou de partes dele es-palhados pelo mundo. O Brasil efetuou um genoma parcial da cana, no qual uma porção do genoma foi sequenciada pelo cDNA, um DNA complementar, representando os ge-nes da cana. E outros grupos vêm repetindo tal sequenciamento com tecnologias moder-nas como as de nova geração, com as quais se vai mais longe.

Outros grupos ainda refizeram o sequen-ciamento de genes e de outras regiões do ge-noma pois, com a pesquisa, notou-se que era fundamental saber a região onde não havia genes funcionando.

Mesmo ninguém sabendo a melhor abor-dagem para o sequenciamento do genoma completo, uma coisa é certa entre os pesqui-sadores: ter Bacs que representam o genoma completo para sequenciar conduzirá a um resultado mais fiel.

Esse processo é urgente, situa a docente, pelas informações no genoma que ajudam a obter variedades mais produtivas e adapta-das aos solos brasileiros. O maior beneficia-do será o melhoramento genético, sobretudo em áreas agrícolas com condições climáticas desfavoráveis.

“Já plantamos em regiões de solo pobre e devemos plantar em regiões secas. É pre-ciso ter genes que confiram adaptabilidade a diferentes condições de solo e clima limi-tantes à cultura. Precisamos dos genes e da região de controle deles, que está na parte que não é gene; com isso faremos variedades de cana para uma agricultura mais susten-tável”, pondera Anete. Os dados do genoma poderão guiar o trabalho do melhorista no campo.

Hoje nota-se um nítido interesse na pro-dução de álcool a partir do bagaço de cana usado nas usinas para queima, resultando na produção de energia. Dessa forma, a usina produz grande parte da energia da queima do bagaço para o funcionamento de suas má-quinas, sem gastar com a compra da energia elétrica produzida pelo governo. “Há usinas em que o excedente de energia produzida queimando o bagaço pode ser vendido às ci-dades ao redor”, expõe Anete.

Outra vertente do bagaço é a produção de etanol. Por isso, equipes de melhoramento de cana buscam genes ligados à degradação do bagaço pelo acesso da celulose ao ataque químico ou biológico por fungos.

VARIANTES O interesse de Danilo era ver a variação

dos genes da cana, já que esse genoma di-verge dos mamíferos e de outras plantas. O homem, por exemplo, recebe duas cópias de cada cromossomo do seu genoma: uma cópia vem do pai e uma da mãe. Então ele é diploide. Para cada gene, tem pelo menos dois variantes ou alelos.

No caso da cana, ela pode receber de seis a 12 cópias de cada um de seus cromosso-mos. E essas cópias podem vir em número variável dos genitores. Por isso, a cana é po-liploide. Para cada gene, ela tem de seis a 12 variantes ou alelos.

Para entender a importância do número de variantes dos genes no genoma, basta analisar o caso de alguma doença genética, como a fenilcetonúria, no homem: se ele tiver os dois variantes do gene defeituosos, será doente. Se tiver um variante e o outro não, pode não ser doente. Mas, se for domi-nante, basta um variante defeituoso para a doença ocorrer.

Essa situação é mais complicada para a cana, que possui dez cromossomos que po-dem estar repetidos de seis a 12 vezes em cada gene. Além disso, o total de cromosso-mos é variável no caso da cana cultivada, por ela ser um híbrido entre duas espécies.

Para estudar como e quanto os genes e seus variantes influenciam no parecimento de uma característica, é preciso ter todas for-mas variantes do gene em mãos, saber sua sequência e as regiões que regulam seu fun-cionamento. A única forma rápida é ter uma biblioteca de clones com pedaços do genoma completo.

O maior empecilho à obtenção de uma biblioteca de Bacs que represente o genoma completo da cana está no tamanho do ge-noma e nas sequências repetidas em grande quantidade.

Comparativamente, o tamanho do geno-ma do sorgo, também usado na produção de etanol, tem 750 megabases. Já o genoma da cana tem dez gigabases (dez mil megas). É 14 vezes maior que o do sorgo.

Apesar do grande tamanho do genoma, o número dos genes da cana não deve ser di-ferente daquele de outras plantas com geno-mas menores. Além do número de varian-tes de cada gene, o genoma possui muitas sequências repetidas, responsáveis em parte pelo seu tamanho. São elas que dificultam os projetos de sequenciamento do genoma completo da cana.

SELEÇÃO RÁPIDAEste trabalho é ímpar por somar duas

variedades de cana adaptadas ao Brasil em uma biblioteca capaz de buscar genes de in-teresse às condições de cultivo brasileiras e é um recurso que deve alavancar a pesquisa mundial da cana. “Queremos que engenhei-ros, biólogos, farmacêuticos usem as nossas bibliotecas”, convida a docente.

Elas permitirão fazer trabalhos básicos, como chegar a um gene específico e pegar a sua sequência na biblioteca, a trabalhos mais complexos, como buscar uma região comum a vários genes, avisa Danilo.

Haverá uma pessoa treinada para ensinar a selecionar os clones Bacs na nova platafor-ma. Com isso, em poucas horas, a seleção será feita mediante reações de amplificação de DNA (PCRs), e o pesquisador recupera-rá o gene desejado com as cópias variantes. Poucos grupos no mundo, entre eles o de Anete e Danilo, detêm essa tecnologia.

Para ganhar acesso aos mais de 380 mil clones, será preciso construir mais três pla-taformas. Cada qual permite acesso imedia-to a 110 mil clones. Nos próximos meses, será construída uma segunda plataforma de modo que os 221.184 clones da biblioteca para a variedade SP80-3280 estarão dispo-níveis ao acesso rápido.

Esse trabalho integra um temático do Programa Fapesp de Pesquisa em Bioener-gia, o Bioen. Por meio dele, Danilo fez um estágio de oito meses no CNRGV, onde montou as bibliotecas de Bacs e a platafor-ma, tecnologias que servem ao estudo genô-mico de qualquer espécie de planta, animal ou microrganismo.

Essa biblioteca teve desmembramentos. O seu autor já selecionou 700 clones de Bacs com a nova plataforma, que foram transferi-dos para o Instituto de Ciências Biomédicas da USP, para o seu sequenciamento no pro-jeto Genoma da Cana-de-Açúcar da Fapesp.

Outra parte do estudo envolvia saber se as bibliotecas tinham um tamanho ideal de clones a partir de fragmentos de uma dada variedade de cana. A conclusão foi que sim. Os clones estão com um tamanho de DNA muito bom: 100-120 mil pares de bases.

Agora o biólogo está na segunda etapa do projeto. Avalia a variação de genes únicos na cana com quatro equipamentos adquiri-dos: um robô para rearranjo de bibliotecas, um sequenciador de nova geração, um bio-freezer com backup e um espectrômetro de massas, alcançados com recursos do Bioen e do INCT Bioetanol do CNPq.

Outros recursos estão para chegar, vin-dos do projeto CeProbio, apoiado pelo CNPq e Comunidade Europeia. “O país já pode se orgulhar da contribuição que as bibliotecas de clones Bacs trarão à pesquisa genética e genômica em cana”, conclui Anete.

da cana

Page 6: JU542

Campinas, 15 a 21 de outubro de 20126

PublicaçãoTese: “Química da atmosfera de uma re-gião agroindustrial do Sudeste do Brasil”Autora: Patrícia Lopes de OliveiraOrientador: Bernardino Ribeiro Figuei-redoCoorientador: Arnaldo Alves Cardoso (Unesp-Araraquara)Unidade: Instituto de Geociências (IG)Financiamento: Capes e Fapesp

Tese mostra que concentração de partículas inaláveis tem aumento de 70% em Araraquara

Fotos: Antonio Scarpinetti

PATRÍCIA [email protected]

studo realizado na região cana-vieira de Araraquara, interior do estado de São Paulo, apontou que a atmosfera apresenta um au-mento de 70% na concentração

das partículas inaláveis no período de safra da cana-de-açúcar. As partículas finas, que são as mais perigosas porque podem alcançar os alvéolos pulmonares, representam quase a metade do material particulado recolhido nas amostras. Nesta fração encontra-se ainda a maior quantidade de metais tóxicos, como arsênio, cádmio e chumbo. Os dados estão na tese “Química da atmosfera de uma região agroindustrial do sudeste do Brasil”, douto-rado da tecnóloga em saneamento ambiental Patrícia Lopes de Oliveira, apresentado ao Instituto de Geociências (IG) da Unicamp.

Material particulado é o termo utilizado para uma mistura de partículas sólidas e lí-quidas encontradas na atmosfera. Algumas dessas partículas podem ser grandes, escuras e, portanto, visíveis, tais como a fumaça ou a fuligem. Outras são tão pequenas que so-mente podem ser vistas através de um mi-croscópio. O material particulado pode ter origem natural, como poeiras do solo e emis-sões de vulcões, ou antrópica (proveniente das atividades humanas), como emissões veiculares e industriais, por exemplo.

A concentração média das partículas inaláveis durante a safra superou o padrão médio anual estipulado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). No entanto, a comparação deve ser realizada com cautela. “As coletas foram realizadas utilizando me-todologias distintas, o que pode influenciar na quantidade de material particulado cole-tado”, pondera a pesquisadora. O aumento foi atribuído à intensificação das atividades agrícolas, bem como aos baixos índices de chuvas do período de safra.

A atmosfera natural é composta por nitrogênio e oxigênio que, juntos, corres-pondem a 99% de sua constituição. Outros gases e o material particulado são compo-nentes minoritários e mesmo assim têm papel importante na modificação das pro-priedades químicas e físicas da atmosfera. Os metais chegam à atmosfera da região de Araraquara principalmente por meio da sus-pensão da poeira ou da queima da palha da cana-de-açúcar, além das emissões de má-quinas e veículos. Em menores proporções, podem ser provenientes de outras localida-

Patrícia Lopes de Oliveira, autora da tese: “Os resultados representam uma base de dados importante”

Estudo revela aumento de emissão de poluentes em safra da canaEstudo revela aumento de emissão de poluentes em safra da cana

Trabalhador rural em canavial depois de queima: concentração média das partículas inaláveis durante a safra superou o padrão médio anual

des, transportados pelos ventos para locais mais distantes.

O estudo comprova que os metais tóxicos arsênio, cádmio e chumbo se concentram no material particulado fino em porcentagens que variam entre 73% a 75% no período de safra e entre 67% e 80% na entressafra. “Ape-sar de não existir legislação que estabeleça as concentrações máximas desses elementos no material particulado fino, é preocupante a constatação de que os metais mais preju-diciais se concentram principalmente nesta fração mais prejudicial à saúde” argumenta.

Parte do trabalho realizado pela pesqui-sadora integra um projeto temático Fapesp, coordenado pelo professor Arnaldo Cardoso, do Instituto de Química da Unesp-Araraqua-ra, que tem como objetivo avaliar os efeitos das emissões atmosféricas nos padrões atu-ais e futuros das chuvas no sudeste do Brasil, região sob a influência da agroindústria da cana-de-açúcar. Neste projeto temático, pes-quisadores de diferentes universidades inves-tigam as propriedades físicas e a composição química dos compostos na atmosfera. Coube à tese de Patrícia a determinação da concen-tração dos metais, até então pouco estudados no Brasil.

Araraquara atravessa o período de transi-ção da queima da palha da cana-de-açúcar, que ainda ocorre em 40% dos canaviais, para a co-lheita mecanizada. Os pesquisadores monito-ram quais serão os impactos desta mudança. “Existe a ideia de que a completa eliminação da queima da palha é um benefício tanto para o ambiente como para a saúde, porém deve-mos continuar monitorando a região porque realmente não conhecemos quais serão os

impactos ambientais e na saúde humana com a mecanização da colheita”.

Com a mecanização da colheita, as áreas canavieiras ainda apresentarão importante papel na emissão de compostos para a atmos-fera. A palha da cana será decomposta na su-perfície do solo, queimada em termoelétricas ou até mesmo utilizada como produto secun-dário na produção de biocombustível. Outra implicação é o aumento do número de veícu-los de corte nas plantações e de transporte, responsáveis tanto pelo aumento da emissão proveniente de combustíveis fósseis, como também pela maior suspensão de poeiras do solo.

A tese aborda os metais encontrados nas amostras de material particulado atmosférico coletadas em Araraquara durante cinco se-manas no período da safra de 2009 e outras cinco semanas na entressafra de 2010. O co-letor utilizado funciona como uma espécie de aspirador, que suga o ar e retém as partículas em membranas. Muitos compostos metálicos estudados na tese são tóxicos para a saúde e também podem afetar os sistemas aquáticos e terrestres.

Patrícia ainda estudou a composição das águas de chuva e do particulado total em sus-pensão de Araraquara. Além da determina-ção dos metais, foram observadas partículas geogênicas, biogênicas como o pólen, algu-mas ligas metálicas associadas a poluentes de veículos, além de grande quantidade de fuligem nas amostras do período de safra. A autora ressalta que, dependendo do caso, os compostos químicos na atmosfera podem ter ações benéficas. “A deposição de elemen-tos como potássio, fosfato e nitrogênio, por

exemplo, pode melhorar a condição de culti-vo dos solos”.

O material particulado pode ser classifi-cado de acordo com o tamanho aerodinâmi-co. “Teoricamente, as partículas atmosféri-cas são consideradas esféricas, que possuem diferentes diâmetros”, explica a pesquisa-dora. O particulado total em suspensão ge-ralmente é composto de partículas menores que 100 micrômetros de diâmetro, enquan-to a fração inalável seria a menor que 10 mi-crômetros.

As partículas inaláveis grossas ficam reti-das nas vias respiratórias superiores e têm o diâmetro entre 2,5 a 10 micrômetros. As ina-láveis finas estão abaixo de 2,5 micrômetros.

Enquanto os metais tóxicos se concen-tram principalmente nesta última fração, as partículas grossas têm alta concentração de alumínio, ferro, potássio e cálcio, além dos minerais do solo.

A autora avalia que estudar o que ocorre no período de safra em comparação com a entressafra é importante para determinação da sazonalidade da composição do material particulado. “Na entressafra a região conti-nua sendo influenciada por outras fontes, embora na safra a alteração na composição química da atmosfera seja mais representa-tiva”. Patrícia relembra, por exemplo, que as emissões veiculares não apenas afetam a atmosfera pela queima do combustível, mas também em função da utilização de freios e desgaste de outros materiais que ocorre du-rante o deslocamento veicular.

Em relação aos metais, ela diz que, se o estudo tivesse sido realizado em outra re-gião, a composição e a quantidade dos com-postos seriam diferentes dos encontrados nos particulados atmosféricos de Araraquara. “Uma região como a do polo petroquímico de Paulínia, por exemplo, possivelmente tem uma concentração mais elevada de metais na atmosfera”.

Por enquanto o que interessa ao grupo do projeto temático que Patrícia faz parte é mo-nitorar o processo de mecanização das áre-as canavieiras. “Os resultados apresentados neste trabalho representam uma base de da-dos importante que podem ser relacionados com outras características físicas e químicas das emissões atmosféricas que estão sen-do reunidas durante o desenvolvimento do projeto temático e permitirão prever qual o efeito das mudanças em curso na região que podem afetar a atmosfera”.

Page 7: JU542

7Campinas, 15 a 21 de outubro de 2012

é incrementadaMobilidadeMANUEL ALVES FILHO

[email protected]

m aspecto muito valorizado no cur-rículo de um candi-dato a uma vaga no mercado de traba-

lho atualmente é a possível expe-riência internacional que ele tenha tido. Na Unicamp, os estudantes de graduação dispõem de diversos programas e iniciativas que lhes proporcionam a chance de partici-par de intercâmbios em várias das melhores escolas de nível superior do mundo. Somente no segundo semestre de 2012, considerados os dados até 31 de agosto, a Univer-sidade registrou 457 trancamentos de matrículas de alunos que foram para fora do país. Os principais destinos foram França, Alemanha, Argentina, Portugal, Espanha e Es-tados Unidos, entre outros. “Esta vivência internacional traz ganhos importantes tanto para a vida pessoal quanto acadêmica desses jovens”, considera o titular da Co-ordenadoria de Relações Institucio-nais e Internacionais (Cori), professor Alberto Luiz Serpa.

A oferta desses programas de mobilidade, lembra o dirigente da Cori, constitui uma das principais ações dentro do processo de inter-nacionalização da Unicamp e representa um diferencial importante da Universidade em re-lação a outras instituições. “Nas conversas que mantemos com nossos alunos, percebemos que a existência dessas oportunidades de viajar ao exterior pesou na decisão de fazer a graduação aqui”, relata. Uma medida que tem contribuí-do para incrementar ainda mais esse esforço da instituição é o Ciência sem Fronteiras (CsF), programa de internacionalização criado pelo governo federal, voltado prioritariamente às áreas de exatas, tecnológicas e engenharias.

Graças às bolsas oferecidas pelo CsF, o nú-mero de intercâmbios na Unicamp experimen-tou um significativo avanço. Se no segundo semestre deste ano foram feitos 457 trancamen-tos de matrículas de intercambistas, no mesmo período de 2011 foram realizados somente 225 procedimentos do tipo. De acordo com o coor-denador do CsF na Unicamp, professor Guido Costa Souza de Araújo, a Universidade já parti-cipou de três editais do programa. Um quarto está em vigência, com o encerramento das ins-crições previsto para meados de setembro. “O interesse dos nossos estudantes pelo programa, especialmente os de graduação, tem sido cres-cente. Na primeira chamada, nós contabiliza-mos 88 interessados. Na terceira, esse número subiu para cerca de 400. Esperamos encerrar a atual chamada com algo perto de 600 inscri-ções”, prevê o docente.

Guido Araújo explica que os inscritos passam por uma seleção, que leva em conta, entre outros aspectos, o desempenho acadêmico dos interes-sados. Uma vez selecionados, eles são alocados nos países interessados. Nesse ponto, ainda há atribuição às instituições receptoras. “Cada país conta com um operador, que receberá a indica-ção dos estudantes. Este operador entrará em contato com o candidato para solicitar o envio do histórico escolar traduzido e outros documentos. Depois de analisar os perfis, a instituição estran-geira manifesta, então, o interesse pelo estudan-te”, detalha o coordenador do CsF na Unicamp.

Atualmente, segundo ele, 190 estudantes da Universidade estão cumprindo o programa em países como Austrália, Estados Unidos, Alema-nha, França, Itália, Holanda, Coreia, Bélgica e Canadá. Todos passarão um ano fora estudando e cumprindo estágio, caso a instituição receptora consiga colocações nesse sentido. “Essa é uma excelente oportunidade para esses jovens, tanto do ponto de vista acadêmico quanto cultural. Em geral, esse tipo de experiência abre muito a cabe-ça do estudante. Ele retorna muito mais madu-ro”, considera o professor Guido Araújo.

De acordo com ele, a Unicamp mantém um portal (http://www.prg.unicamp.br/csf/index.php) com todas as informações sobre o CsF. Nele, os interessados podem encontrar dados sobre os editais, indicações sobre os passos a serem seguidos para as inscrições, orientações acerca de como proceder para traduzir o históri-co escolar e recomendações sobre como realizar o teste de proficiência em idioma estrangeiro. “Além disso, a Cori [Coordenadoria de Rela-

ções Institucionais e Internacionais] tem feito um excelente trabalho no apoio aos participan-tes do programa”, observa.

Os alunos dos cursos de licenciatura da Uni-camp contam com uma oportunidade específica para o cumprimento de período de estudos no exterior. Trata-se do Programa de Licenciaturas Internacionais (PLI), oferecido pela Coordena-ção de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), órgão ligado ao Ministério da Educação. O objetivo do PLI é conferir mais qualidade a essa modalidade de ensino, com o consequente incremento na formação de profes-sores que vão trabalhar posteriormente nos en-sinos fundamental e médio. Através do progra-ma, os participantes recebem uma bolsa para permanecer por até 24 meses numa insti-tuição estrangeira. Ao final dos estudos, eles obtêm uma dupla diplomação.

A Capes já lançou três edi-tais para o PLI, como conta o professor Guilherme do Val To-ledo do Prado, vice-presidente da Subcomissão Permanente para Formação de Professores da Comissão Central de Gra-duação (CCG). De acordo com ele, a Unicamp não participou do primeiro, por questões de calendário. No segundo, vol-tado exclusivamente para a Universidade de Coimbra, sete alunos de licenciatura em Edu-cação Física (3), Biologia (3) e Matemática (1) foram contemplados com bol-sas, tendo por base o desempenho acadêmico deles e outros requisitos.

Esses estudantes estão há um ano na insti-tuição portuguesa. “Os relatos que temos ob-tido deles são muito positivos em relação ao que estão vivenciando tanto no plano acadêmico quanto cultural. Eles elaboraram um relatório sobre esse primeiro ano, que foi apreciado pelos coordenadores de graduação da Universidade de Coimbra e da Unicamp. Esse docu-mento foi enviado à Capes para aprovação”, informa. A professora Eliana Ayoub, presidente da Subcomissão Permanente para Formação de Professores, acrescenta que antes de viajarem, os sete alunos e suas famílias parti-ciparam de um encontro da Unicamp. “Temos a ideia de promover um segundo en-contro com esses estudantes nos próximos meses, mas de forma virtual, para colher as impressões mais recentes deles acerca do programa. No retorno do grupo ao Brasil, organizaremos reuniões e debates, para que eles possam transmitir as ex-periências adquiridas para a comunidade inter-na. Outra intenção é colocá-los em contato com professores dos ensinos fundamental e médio, para identificar que contribuição poderão dar a

esses educadores”, antecipa a docente.Outra ação importante dentro do esforço de

internacionalização da instituição no âmbito da graduação foi a promoção de um intercâmbio específico para alunos das áreas de Humanas e Artes, que contou com o apoio do programa Santander Universidades. Foram investidos R$ 300 mil para enviar 14 estudantes dos cursos de Arquitetura, Artes Ciências, Artes Visuais, Ciências Econômicas, Ciências Sociais, Dança, Filosofia, História, Letras, Midialogia, Música e Gestão de Políticas Públicas para um intercâm-bio de dois meses e meio (janeiro, fevereiro e parte de março de 2012) no Goldsmiths Colle-ge, em Londres.

Conforme a professora Gabriela Celani, assessora da PRG, os estudantes foram selecionados tendo em vista não somente o seu desempe-nho acadêmico, mas também sua motivação e habilidades específicas, que foram analisa-das por meio de uma redação, uma entrevista e a apresenta-ção de portfólios, no caso dos pertencentes às áreas de mú-sica e artes plásticas. “A inicia-tiva foi importante de diver-sos pontos de vista. Primeiro, porque ela contemplou áreas não alcançadas pelo programa Ciência sem Fronteiras. Se-gundo, porque proporcionou uma experiência acadêmica e pessoal ímpar ao grupo. Ter-

ceiro, porque eles já estão tendo a oportunidade de compartilhar essa vivência com colegas de cursos e demais integrantes da comunidade in-terna”, avalia a docente.

Os participantes desse “curso de verão”, prossegue a assessora da PRG, puderam optar por cur-sar disciplinas que não preci-savam estar necessariamente ligadas às suas carreiras, o que ampliou a possibilidade de aprendizado para além dos temas específicos de cada área. “Um dado interessan-te é que nossos estudantes foram acomodados em casas de família, várias delas com-postas por imigrantes de dife-rentes locais do mundo. Isso também fez com que esses jo-vens tomassem contato com realidades e culturas muito diferentes”. Durante a estada em Londres, o grupo criou um blog, no qual registrou as variadas experiências vividas naquele período.

Após o retorno ao Brasil, os intercambistas participaram de uma série de discussões sobre as lições aprendidas durante a viagem. Os deba-tes resultaram em um evento que contou com a presença de integrantes da comunidade aca-dêmica, durante o qual foi apresentado um au-diovisual elaborado pelo grupo, seguido de dois debates em forma de mesas-redondas. “A expe-

riência dos nossos alunos no Golds-miths College também deu origem a dois artigos que foram publicados na revista Ensino Superior Unicamp, sendo que um deles foi assinado pe-los intercambistas e por mim e o ou-tro, pelos professores Marcelo Knobel [pró-reitor de Graduação], Gilberto Alexandre Sobrinho [assessor da PRG] e também por mim”, comple-menta Gabriela Celani.

ESTRANGEIROSNo que se refere à internacionali-

zação da graduação, a Unicamp não se preocupa somente em enviar estu-dantes ao exterior, mas também em receber jovens estrangeiros interessa-dos em cumprir parte de sua formação aqui. Em 2011, a instituição recepcio-nou 341 desses jovens em seus cur-sos de graduação. Uma das iniciativas mais importantes nesse sentido, e que tem amplo alcance social, é o Progra-ma Emergencial Pró-Haiti em Educa-ção Superior, financiado pela Capes e do qual a Universidade é uma das mais efetivas participantes. A finalida-de da ação é contribuir para a forma-

ção de recursos humanos e para reconstrução do sistema de ensino superior daquele país, que foi devastado por um terremoto em 2010.

Segundo a professora Eliana Amaral, asses-sora da PRG, a Unicamp colocou 80 vagas de graduação à disposição do programa, a maioria em cursos de humanidades, mas também em outras carreiras. Entretanto, a Capes indicou somente 41 haitianos para estudarem na Uni-versidade, recebendo bolsa. Eliana Amaral afir-ma que, além do apoio da Capes, os haitianos também contam com amplo suporte por parte da Unicamp. “Nós os recepcionamos e os aju-damos a encontrar moradias, a comunidade fez doações para ajudá-los a se instalarem em Cam-pinas. Foram oferecidas bolsas para alunos de Pós-Graduação e Graduação (PED e PAD), com recursos da Capes e da Unicamp, para maior apoio aos estudos deste grupo. O programa pre-via que eles estudassem português nos primei-ros seis meses e cursassem disciplinas de gradu-ação durante mais um ano. O que temos notado é que os haitianos são muito esforçados. Estão tendo bom desempenho, ainda que tenham o desafio de estudar na Unicamp em português”.

“Como os processos de inscrição, seleção e liberação para a viagem atrasaram, vários des-ses alunos declararam, ao chegarem aqui, que já haviam concluído a graduação em seu país e que estavam interessados em participar de pro-gramas de pós-graduação. Um grande número dos demais estudantes gostaria de concluir os estudos de Graduação no Brasil. Nós estamos aguardando um posicionamento oficial da Ca-pes para saber quais os procedimentos para uma eventual alteração de status desses estu-dantes, antes do término do programa, ao final de 2012”, esclarece.

Também na linha da recepção de estudantes estrangeiros, a Unicamp participa do Programa de Estudantes Convênio de Graduação (PEC-G), mecanismo de cooperação firmado entre o governo brasileiro e países em vias de desenvol-vimento, especialmente da África e América La-tina. Através do PEC-G, a Universidade informa à Secretaria de Educação Superior do Ministério da Educação (SESu-MEC) o número de vagas disponíveis em cursos do período diurno. A seleção é feita com a participação do Departa-mento de Cooperação Científica, Técnica e Tec-nológica do Ministério das Relações Exteriores (DCT-MRE) e SESu-MEC, assessorados por uma comissão indicada pelo fórum de Pró-reito-res de Graduação das universidades brasileiras.

De acordo com a professora Dora Kassisse, assessora da PRG, os aprovados cumprem seis meses de estudos de português e depois partem para fazer os cursos de graduação. “Nesse caso, os estudantes realizam toda a formação na Uni-camp. Eles são matriculados como alunos re-gulares da instituição. Para viajar ao Brasil, eles precisam provar que têm como se sustentar. Assim, não podem concorrer a bolsas sociais, mas apenas a bolsas acadêmicas. Os participan-tes do PEC-G não seguem o nosso regimento geral de cursos de graduação, pois atendem a um protocolo específico. O que temos notado é que esses estudantes são muito dedicados, sendo que vários têm obtido muito sucesso nos estudos”, relata a docente. Atualmente, confor-me a Diretoria Acadêmica, 41 estudantes parti-cipam do programa na Unicamp.

Grupo de estudantes da Unicamp em Londres: Universidade enviou aproximadamente 400 alunos ao exterior em 2011

O coordenador da Cori, professor Alberto Luiz Serpa: “A vivência internacio-nal traz ganhos importantes”

O professor Guido Araújo, coordenador do CsF: “O interesse dos nossos estudantes tem sido crescente”

Foto: Antonio Scarpinetti

Foto: Antoninho Perri

Foto: Divulgação

Aumenta a oferta de programas no âmbito do processo de internacionalização da Universidade

Page 8: JU542

Campinas, 15 a 21 de outubro de 20128

MARIA ALICE DA [email protected]

roma de comida caseira, plantas no quintal, aves que reproduzem uma pequena ária, afinadíssimas, conforme o pedido cantado da mestra. Assim a soprano Niza de Castro Tank quer a vida fora dos palcos. Simples. Mas sempre que a música chama, ela tranca a porta pelo lado de fora e vai cantar. Em casa, porém,

entretida com seus afazeres, prefere não cantar. “Sai errado”, brinca a se-nhora de 80 anos, reconhecida como uma das mais importantes sopranos brasileiras. Tem uma biblioteca de óperas na cabeça, de acordo com depoi-mento da amiga Sarah Lopes no documentário As Joias da Princesa: Niza de Castro Tank, dirigido por Teresa Aguiar e Ariane Porto.

Niza nasceu numa família em que a educação musical era quase uma exigência. Já na infância era ouvinte de música, principalmente clássica. Apreciava especialmente Mozart e Bach. Mas para chegar ao status de uma profissional da música, explorou a qualidade de desafiar obstáculos. E qual seria o sabor da vitória sem desafios? O primeiro deles foi o que a revelou cantora. Durante uma aula de piano no Colégio São José, em Limeira, sua professora, uma freira que havia sido aluna de Fritz Jank, pediu que solfe-jasse um trecho de uma peça de Bach para ajudar na performance ao piano. Surpresa com a qualidade vocal e a afinação da aluna, a freira disse a Nadir,

Niza Tanknão resisteao chamadoda música

A trajetóriade uma

das maisimportantes

sopranosdo país e

ex-professorada Unicamp

irmã mais velha de Niza: “O piano será muito útil para os estudos de mú-sica de sua irmã, mas ela não será pianista, será cantora.”

Contente com as palavras da professora, Niza ficou feliz quando, ao chegar a Campinas, para onde a família inteira se mudou em 1945, o pai, funcionário público da Secretaria da Fazenda, disse a ela que lhe arrumaria uma professora de canto. Assim mesmo, no feminino: pro-fes-so-ra, acen-tua Niza. “Mas quem disse que, naquela época, encontrava uma professo-ra?” Encontrou, para sua alegria, Silvio Bueno Teixeira, o único professor de canto de sua vida.

Exigente, o mestre não arriscou palpite promissor sobre o desejo da jovem Niza de trabalhar na Rádio Gazeta, dizendo que não seria cantora profissional. Mas sempre disposta a desafiar os desafios, como escrito an-teriormente, viajou à capital paulista, mais precisamente aos estúdios da Gazeta e, apesar de não chegar em um dia reservado para apresentação-tes-te, convenceu, por estratégia, o maestro a ouvi-la. “Eu disse que não estava em busca de teste, mas sim da opinião de um maestro competente sobre meu potencial”, relembra. Voltou a Campinas com contrato assinado.

O sorriso largo foi se fechando aos poucos quando, ao chegar a sua casa, anunciou à família sua contratação. O olhar repreensivo daquele homem sério, descendente de alemães, por um momento deixou sua filha assusta-da. As palavras estão armazenadas até hoje no coração de Niza, que brinca: “Ele disse-me: ‘Filha minha não faz carreira artística’.” Mas logo, ela pôde comemorar as palavras da mãe: “Você se esquece que é minha também? Filha minha segue carreira artística”.

As aulas com Samuel não duraram muito, pois a cantora teve de se mudar para São Paulo. Suas previsões também nem passaram perto do que seria o futuro de Niza. Mas a cantora reconhece: “Samuel foi muito importante em minha vida. Ele foi exigente como um professor de canto deve ser”, evidencia.

Da ópera, conhecia somente trechos, que achava bonitos, mas não ti-nha inclinação para este repertório logo de início, porém, não se inibiu com o repertório complexo da Rádio Gazeta. Certa de que enfrenta-ria mais este desfio, deu seu melhor e, de 1954 a 1960, brilhou na programação da rádio cantando árias de óperas. Seu desempenho a levou à primeira apresentação no Teatro Municipal de São Paulo, em 1957.

Mas desafio maior que o seu, em sua opinião, foi a coragem do maestro Armando Belardi de gravar completa a ópera Il Gua-rany, composta por mais uma joia da Princesa, Antônio Carlos Gomes. A produção fez com que Niza ficasse conhecida como a primeira soprano a gravar a Ceci, namorada do índio Peri na ópera do compositor campineiro. “Um dos momentos que mais marcaram minha vida, pois se tratava de uma montagem muito complexa, por tratar de tribos indígenas, fidalgo português e muito mais personagens no elenco”, explica Niza. Mas o momento que faz marejar os olhos da cantora é o do lançamento do disco. “Il Gua-rany sempre esteve presente em minha vida. Aquela movimentação toda de Belardi escolhendo o elenco, organizando a encenação está guardada até hoje.”, reforça a cantora. “E quando ficou pronta, fomos à Itália com Il Guarany. Foi importante tam-bém por empregar e dar satisfação a muita gente”, retoca.

Il Guarany, Schiavo, Fosca, A Noite do Castelo, Salvador Rosa, Colombo. Ao relatar alguns detalhes dessas ópe-ras, seja no documentário ou na entrevista, Niza agradece ao compositor e maestro Carlos Gomes e se desculpa, em nome dos campineiros, pelo mato que cobre parte de seu túmulo, no centro

de Campinas. De Carlos Gomes, Niza já emprestou quase tudo para seu canto. Algumas de suas canções, por um tempo perdidas, hoje estão grava-das na voz da soprano em um CD. O conjunto de 40 músicas está organiza-do em um livro, resultado de sua tese de doutorado, defendida na Unicamp quando Niza já era docente no Departamento de Música do Instituto de Artes da Universidade. Na tese, ela analisou cada uma delas.

A montagem das óperas no Brasil depende de força dos poderes públi-cos. Fora do Brasil, elas foram insistentemente montadas, segundo Niza, “porém, o que se faz por aqui, no solo onde esse mestre nasceu, é boni-to, mas é tímido, singelo”. Por ação do Centro de Ciências, Letras e Artes (CCLA) e outros setores sociais de Campinas, a Semana Carlos Gomes ainda consegue organizar concursos, nos quais muitos musicistas foram revelados. Mas as óperas são caras e de difícil montagem, segundo Niza, por esse motivo precisariam de verba.

Quando a Unicamp criou a cadeira de canto no Departamento de Mú-sica, Niza estava com a documentação organizada para assumir a vaga de docente na Universidade de Brasília, mas desistiu da ideia ao receber o convite do maestro então diretor do DM Benito Juarez. “Arrumei as coisas no dia seguinte”, enfatiza. Um presente para a área administrativa da Uni-versidade e os profissionais do Instituto de Geociências, pois foram ali as primeiras instalações do DM, de onde se podiam ouvir as primeiras notas emitidas pela soprano Niza Tank na Unicamp. Algumas vezes, por falta de

espaço físico, as aulas aconteciam ao ar livre para alegria da comunidade universitária.

“Aqui [na Unicamp], trabalhei com profissionais muito competentes e ainda tenho a oportunidade de atuar com alunos talentosos e assistir aos seus concertos. Tenho saudades da Unicamp, de meus alunos, meu traba-lho e meus amigos. Trabalhei com pessoas muito boas, a começar pelos diretores Benito Juarez, José Antônio Rezende de Almeida Prado, Antonio Lauro Del Claro, Helena Jank, entre outros”. Mas Niza faz questão de men-cionar o evento no qual celebrou 40 anos de amizade com a professora do Departamento de Artes Cênicas da Unicamp Sarah Lopes.

Aos poucos, com revisões acadêmicas, o rol de alunos foi aumentando na vida de Niza, além dos que mantinha fora da Universidade, em horá-rio contrário à jornada na academia. Conforme Niza, os alunos são seus filhos, já que a vida não lhe deu biológicos. Realiza-se também como mãe na relação com Raquel, sua secretária, “É como minha filha, e seu filho me chama de avó.” O orgulho de preparar músicos para o mundo é refletido nos olhos e no sorriso “saudoso” de Niza ao citar alguns nomes. “É bonito formar um aluno e fazê-lo entrar para o mundo que sempre sonhou, seja à frente de um musical, de uma orquestra, assumindo cargos públicos ou até mesmo dirigindo a ex-professora”.

O canto de Niza cruzou oceanos. As temporadas, relembradas com uma saudade gostosa, e não doída, como ela diz, foram importantes não somente pelo reconhecimento, mas para crescimento profissional. Nessa trajetória de mais de 50 anos, cantou em teatros de Israel, Rússia, Ale-manha, Itália, Uruguai, entre outros. Entre as óperas das quais partici-pou estão Lucia de Lammermoor, de Donizetti; Rigoletto, de Verdi; A flauta mágica, de Mozart. “Acabamos de receber uma gravação da Alemanha de Salvador Rosa e, para meu orgulho, o tenor é negro”, comemora Niza, que se diz admiradora do timbre de cantores negros. Apesar de gostar de falar de experiências internacionais, afirma que nunca passou por sua cabeça deixar o Brasil.

O reconhecimento como uma das melhores sopranos brasileiras foi co-lhido ao longo do tempo e, para Niza, independe do desejo do profissional. “Vem com a carreira, com o temperamento. Tem gente que tem muita

qualidade, talento, postura, voz, mas tem um gênio horroroso. Acho que tenho bom gênio. Tudo isso ajudou, faz parte de minha constituição de artista”, revela.

Quando sua seleção para a Rádio Gazeta e, um pouco mais tarde, sua participação em várias montagens operísticas ganharam páginas

em jornais da região, seus conterrâneos limeirenses questionaram o fato de ser chamada de “cantora campineira”. Mas a “Princesa D’Oeste” rapidamente lhe concedeu o título de cidadã campineira. E acabou com o assunto antes mesmo de ele tomar corpo. Hoje, faz parte das Joias da Princesa por adoção.

Nessa condição, tem permissão para fazer comentário final em seu perfil. “O acesso à música erudita amen-tou nos últimos anos, pois alguns mitos, em minha opinião antipáticos, deixaram de existir, como proi-bir a entrada de homens sem terno e gravata. Outras inovações que atraem a sociedade aos concertos são a introdução das legendas para textos em língua estrangeira e a falta de rigor na indumentária dos personagens e no cenário. Essa modernização, sem exageros, pode aproximar a ópera da sociedade. Mas não podemos falar isso sobre Campinas, pois não temos um teatro. Só eu inaugurei o Castro Mendes duas vezes. E espero ter tempo de ver a terceira.”

Apresentação de Niza Tank durante a entrega da Medalha Carlos Gomes, na Câmara Municipal de Campinas, em 2007; reconhecimento internacional

“Tem gente que tem muita qualidade, talento, postura, voz,mas tem um gênio horroroso

Fotos: Antonio Scarpinetti

Page 9: JU542

9Campinas, 15 a 21 de outubro de 2012

PublicaçãoDissertação: “Tradução, adaptação cul-tural e validação de EDIN – Échelle Douleur Inconfort Nouveau-Né – para a Língua Por-tuguesa do Brasil”Autor: Flávia de Souza Barbosa DiasOrientador: Sérgio Tadeu Martins Marba Unidade: Faculdade de Ciências Médicas (FCM)Financiamento: Capes

Foto: Antoninho Perri

Fotos: Antonio Scarpinetti

Enfermeira traduz e adapta escala que pode atenuar desconforto de crianças

bancasNasNas

Para o professor não perder a voz

PublicaçãoTese: “Programa de saúde vocal para o professor: avaliação, auto-percepção vo-cal e ação educativa da voz”Autor: Raquel Aparecida PizolatoOrientador: Antonio Carlos PereiraUnidade: Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP)Financiamento: Fapesp

Para medir a dor do bebê na UTI

Fonoaudióloga desenvolve e testa programa de saúde vocal voltado para docentes

RAQUEL DO CARMO [email protected]

sabido que os recém-nascidos internados em Unidade de Te-rapia Intensiva (UTI) Neonatal são submetidos a muitos proce-dimentos e tratamentos consi-

derados invasivos, dolorosos e estressantes. O problema é que eles não podem, muitas vezes, nem mesmo chorar, por estarem entu-bados. Foi pensando nisso que a enfermeira Flávia de Souza Barbosa Dias traduziu para o Português e validou para a população brasi-leira a única escala específica no mundo para se medir corretamente a dor prolongada nos bebês e que pode ser utilizada em qualquer unidade neonatal no país. “Desta forma, é possível determinar um tratamento adequa-do para amenizar o desconforto do recém-nascido, que já sofre por estar internado em uma UTI”, declara a enfermeira que apresen-tou dissertação de mestrado na Faculdade de Ciências Médicas (FCM), com orientação do professor Sérgio Tadeu Martins Marba.

De acordo com Flávia Dias, este tipo de dor prolongada ocorre depois de procedi-mentos cirúrgicos, quando há infecções ou doenças crônicas e em procedimentos repe-titivos como, por exemplo, picadas de agu-lhas. Fazer uma avaliação acurada era uma das principais dificuldades encontradas pe-los profissionais de saúde que atuam na área de neonatologia. Ela afirma que, por muito tempo, o assunto foi deixado de lado por di-versos fatores. “Até a década de 1970, por exemplo, algumas cirurgias eram realizadas nos recém-nascidos sem analgesia”, lembra.

A própria escala traduzida pela enfermeira é um caso da pouca atenção em termos de es-tudos. Denominada Échelle Douleur Incofort Nouveau-Né (EDIN), ela foi publicada somen-te em 2001 na França, ainda que os primei-ros estudos tivessem iniciado em 1994.

Depois da tradução, Flávia aplicou a escala em 107 bebês internados na UTI do Hospital da Mulher Prof. Dr. José Aristodemo Pinotti

– Caism Unicamp e no Hospital Estadual de Sumaré Dr. Leandro Franceschinni. Basica-mente, o teste consiste em atribuir pontu-ação de zero a três em cinco indicadores de comportamento. Os parâmetros avaliam os aspectos da face, os movimentos do corpo, o padrão de sono do bebê, o relacionamento ou como o recém-nascido reage a estímulos e o grau em que ele consegue ser consolado

– neste último caso é preciso aferir se o bebê se acalma facilmente ou não. Ao final, são somados os pontos totais dos cinco itens, que chegariam até 15. “Se o valor total so-mar mais do que seis, indica que o bebê está sentindo uma dor prolongada”, explica.

Para garantir a confiabilidade da escala traduzida, a enfermeira realizou as análises baseada na observação feita por dois profis-sionais que aplicaram a escala simultanea-mente durante quatro horas, sendo que um não sabia o resultado do outro. Assim, ela pôde constar as semelhanças nos resultados finais e concluir se tratar de um instrumen-to válido e confiável. “Localizar a dor ou aferir a sua intensidade é algo subjetivo até mesmo para os adultos, por isso, a validação desta forma é importante para ter o olhar de dois profissionais”, esclarece. Além deste, foram feitos outros dois testes estatísticos para analisar o peso dos cinco itens da escala e para comparar os resultados com os obti-dos por outra escala existente para avaliar a dor aguda nos recém-nascidos.

Bebê em UTI neonatal: método pode indicar tratamento adequado para recém-nascido

A fonoaudióloga Raquel Aparecida Pizola-to desenvolveu e testou um Programa de Saú-de Vocal voltado para professores, especial-mente da rede pública. A iniciativa, de caráter educativo, consiste em oferecer palestras com orientações e medidas preventivas que podem melhorar e evitar o desgaste da voz. “Sabemos que o professor tem uma rotina sobrecarrega-da, principalmente quando precisa dar aulas em mais de duas escolas na semana. Por isso, a proposta é, justamente, auxiliar no cuidado com a voz, um dos principais instrumentos que ele possui”, defende. A necessidade de um profissional especializado que atue de for-ma a prevenir as disfonias ocupacionais destes profissionais foi o que motivou a fonoaudiólo-ga a desenvolver o programa.

A proposta de Raquel Pizolato, em sua tese de doutorado apresentada na Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP), com orien-tação do professor Antonio Carlos Pereira, poderia perfeitamente ser implementada nas escolas públicas com benefícios significativos para a qualidade da voz do professor. Consiste em encontros intercalados a cada 15 dias, com sessões de 30 minutos. “Orientações básicas sobre hábitos de higiene vocal e treinamento de exercícios específicos são medidas preven-tivas que podem amenizar os sintomas de cansaço vocal e outros ligados ao uso excessi-vo do emprego da fala”, comenta.

Para a pesquisa, a fonoaudióloga avaliou 102 professores de 11 escolas da rede públi-ca de Piracicaba, mas somente 36 professores participaram das atividades completas do pro-grama educativo. “No período de três meses já foram obtidos resultados bastante positivos na qualidade da voz e na melhora nos aspectos preventivos. Por isso, acredito que um progra-ma contínuo seria o ideal para que os resulta-dos fossem ainda melhores”, defende. Foram realizadas cinco palestras, sendo que em uma delas foi abordado o funcionamento da voz e a importância de se manter hábitos de higie-ne vocal. Nos outros quatro encontros, foram apresentados exercícios específicos para a voz

Hábitos que devem ser desenvolvidos pelos professores

Ingerir pequenos goles de água duran-te a rotina

Evitar gritar e falar com competição sonora

Evitar uso de sprays e pastilhas

Postura corporal alinhada ao corpo de forma a não sobrecarregar os músculos cervicais

como postura e relaxamento cervical, respira-ção, fonação, intensidade e frequência da voz, ressonância e articulação.

Durante as sessões, os professores foram orientados a praticar os exercícios na sua roti-na de trabalho durante 10 a 15 minutos duas vezes ao dia, além, é claro, de mudar os há-bitos, um dos aspectos imprescindíveis para que o resultado seja efetivo. De acordo com Raquel, são ações simples que fazem muita diferença tanto no presente como no futuro, mas que são necessárias para não cair no es-quecimento ou deixar de serem feitas por des-conhecimento.

Algo que chamou a atenção da fonoau-

dióloga na pesquisa foi que o grupo avaliado apresentou intensidade vocal acima do padrão de limite considerado normal. “Os professores acabam incorporando um hábito de falar em uma intensidade forte devido às condições de trabalho. O falar com competição sonora na presença de ruído leva-o a pronunciar as pala-vras em intensidade forte”, analisa.

Segundo Raquel, já existe aprovado pela Câmara dos Deputados um projeto de lei (PLC 11/09) que autoriza o Executivo a instituir o Programa Nacional de Saúde Vocal do Profes-sor nas redes públicas de ensino. O programa prevê a capacitação dos professores, a cada seis meses, por meio de treinamentos teóricos e

práticos, ministrados por fonoaudiólogos com experiência comprovada na área. O objetivo seria orientar e habilitar os profissionais quan-to ao uso profissional da voz e aos cuidados com a saúde vocal, além de exames específicos de rotina. “No entanto, a prática da instala-ção definitiva do programa ainda não está em vigor na maior parte do Brasil, principalmen-te no Estado de São Paulo, o que poderia ser de grande importância para a prevenção dos problemas da voz nesta categoria”, relata. (R.C.S.)

Professora em sala de aula da rede pública de ensino: ações simples para poupar a voz podem fazer a diferença

A fonoaudióloga Raquel Aparecida Pizolato, autora da

tese: resultados positivos

Page 10: JU542

10

acadêmica

Vida

do Portalda Unicamp

Teses da semana

Painel da semana

Teses da semana

Livro da semana

Destaques

Vida

Painel da semana

Teses da semana

DESTAQUESdo Portal da UnicampDESTAQUES

Campinas, 15 a 21 de outubro de 2012

Prêmio Jabuti 2012

Representação discente da Pós junto ao Consu - A Secretaria Geral recebe, até 15 de outubro, as inscrições dos estudantes de pós-graduação para composição de sua representação junto ao Conselho Uni-versitário – Consu e Comissão Central de Pós-Graduação – CCPG. Poderão se candidatar à representação todos os alunos regularmente matriculados na pós-graduação que não estejam com a matrícula trancada e não sejam servidores públicos da Unicamp. As inscrições devem ser feitas diretamente na Secretaria Geral, Prédio da Reitoria II e as eleições serão realizadas entre os dias 7 e 8 de novembro. Informações adicionais poderão ser obtidas junto à Secretaria Geral da Unicamp pelo ramal 1-4949, ou ainda, através do site www.sg.unicamp.br.

Semana Nacional de Ciência e tecnolo-gia - Com o tema “Economia Verde, sustentabilidade e erradicação da pobreza”, a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT) acontece entre 15 e 21 de outubro. Na SNCT serão promovidas e estimuladas em todo o país, atividades de difusão e de aproximação social de conhecimentos científi cos e tecnológicos relacionados com o tema, que foi escolhido em função de ser o tema da Conferência Rio+20, evento organizado pela Organi-zação das Nações Unidas, ocorrido no Brasil, em junho de 2012. Um objetivo da SNCT 2012 será debater em escolas, universidades, comunidades e locais públicos, os diversos aspectos envolvidos no estabelecimento de uma economia verde, bem como os desafi os da susten-tabilidade nas suas dimensões ambiental, econômica e social. Todos os eventos da SNCT são gratuitos. Para participar, inscrever eventos e esclarecer dúvidas, envie mensagem para o e-mail [email protected]. A SNCT é de responsabilidade do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, por meio do Departamento de Popularização e Difusão de C&T da Secretaria de C&T para Inclusão Social. Outras informações: 61-2033-7826.

Palestra com Hilário Franco Jr. - O Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) recebe, para palestra, o historiador Hilário Franco Jr. (USP). Especialista em Idade Média ocidental, seus interesses estão voltados particularmente para a cultura, a sensibilidade coletiva e a mitologia daquele período, bem como para as refl exões teóricas que fundamentam tais pesquisas. O encontro ocorre no dia 15 de outubro, às 14 horas, no Anfi teatro do IEL. A organização é do professor Carlos Eduardo O. Berriel. Mais informações: 19-3521-1520.

n Artes em Espaço Aberto e Urbano - O Centro

de Memória Unicamp (CMU) recebe a Mostra “Artes em Espaço Aberto e Urbano”, em espaço expositivo do Ciclo Básico I, até 15 de outubro, com visitação e horários livres. A mostra apresenta os projetos fi nais elaborados pelos alunos da Disciplina ART-224 – Objeto e Espaço na Arte Contemporânea, que integra o Curso de Especialização em Artes Visuais do Instituto de Artes da Unicamp. Leia mais: http://www.unicamp.br/unicamp/eventos/2012/09/17/cmu-recebe-mostra-de-artes-visuais

Rousseau e as artes - Dentre as festividades em torno do tricentenário de nascimento do filósofo suíço Jean-Jacques Rousseau, o Instituto de Artes (IA) da Unicamp e o Consulado Geral da Suíça realizam o colóquio Rousseau e as artes, dia 16 de outubro, às 13h30, no IA. Nos dias 17 e 19, o evento ocorre na Pinacoteca do Estado – São Paulo. As inscrições são gratuitas e podem ser feitas no site http://www.iar.unicamp.br/dap/rousseau. Para abordar a complexa relação do pensador com o mundo artístico, foram convidados pesquisadores brasileiros e internacionais nas áreas de História da Arte, Musicologia e Filosofi a, como Benjamin Pintiaux (École de Danse de l’Opéra de Paris), Christine Siegert (Universität der Künste, Berlim), Luciano Migliaccio (FAU-USP), Luiz Marques (IFCH-Unicamp), Pierpaolo Polzonetti (University of Notre Dame), Marie-Pauline Martin (Université de Pro-vence), Peter Schneeman (Universität Bern), Elaine Dias (Unifesp) e Maria Constança Pissarra (PUC-SP), entre outros especialistas. Com inscrição gratuita, a programação terá mesas de discussão (com tradução simultânea); uma palestra-concerto, com peças de Bodin de Boismortier, F. Couperin, Jean Xavier Lefèvre, G. Ph. Telemann e J. M. Leclair; e a exibição de curtas-metragens da série La Faute à Rousseau. O evento terá tradução simultânea. O IA fi ca na Rua Elis Regina 50, no campus da Unicamp. Mais informações pelo e-mail [email protected] ou telefone 19-3521-7194.

“E por falar em Tradução” – Encontro acon-tece de 16 a 18 de outubro, no Auditório do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL). Na conferência de abertura, às 9h10, o professor José Yuste Frías, da Universidade de Vigo (Espanha), aborda o tema “Vivir para-traducir: experiencias profesionales, docentes e investigadoras en paratraducción”. O evento é organizado pelo Programa de Pós-graduação em Linguística Aplicada do IEL, pelo Programa de Pós-graduação em Estudos Linguísticos e Literários em Inglês e pelo Programa de Pós-graduação em Estudos da Tradução (FFLCH-USP). Programação: http://ddveras.webs.com. Mais detalhes: 19-3521-1506.

Aluno-artista - No dia 16 de outubro, às 10 horas, na Sala do Conselho Universitário (Consu), acontece a cerimônia de apresentação dos alunos selecionados para a 3ª edição do Programa Aluno-artista e o lançamento do catálogo da 2ª edição.

Formas de avaliação impactam a apren-dizagem? O Workshop será realizado no dia 16 de outubro, às 14 horas, no Anfi teatro 3 da Faculdade de Ciências Médicas (FCM). O evento é direcionado para a área de Saúde e Biológicas. A proposta do encontro é compartilhar experiências, indagar-se sobre procedimentos de avaliação de conteúdos e aspectos relacionados à aprendizagem. Outras informações podem ser obtidas pelo telefone 19- 3521 7990.

Dia Mundial da Alimentação - Para come-morar a data, a Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) organiza no dia 16 de outubro, duas palestras e o lançamento de um livro. Às 14h30, no Salão Nobre da unidade, a professora Delia Rodriguez-Amaya fala sobre segurança alimentar. Já a palestra “Dietas funcionais: desafi os para o Século XXI” será proferida pelo professor Waldemiro Carlos Sgarbieri. Na sequência, Sgarbieri lança o livro “Inovação nos processos de obtenção, purifi cação e aplicação de componentes do leite bovino” (Editora

Alimentos - “Capacidade de desativação de espécies reativas de oxigênio por polpas de frutas congeladas” (mes-trado). Candidata: Lizziane Cynara Vissotto. Orientadora: professora Adriana Zerlotti Mercadante. Dia 18 de outubro, às 10h30, no Anfi teatro do Departamento de Ciência de Alimentos da FEA.

Artes - “O corpo e a Casa: etnografias de jovens

Livroda semana

Autora: Clara RowlandISBN: 978-85-268-0943-7Coedição: EduspFicha técnica: 1a edição, 2011;

304 páginas; formato: 16 x 23 cmÁrea de interesse: Crítica literária Preço: R$ 50,00

Sinopse: A forma do meio é um estudo sobre a obra de Guimarães Rosa que enfrenta em novos termos problemas decisivos e complexos como a relação da forma do livro e do romance com a oralidade e a narrativa tradicional. Isso chegaria a sublinhar a importância deste trabalho notável. Mas há ainda a enorme inteligência da análise de uma questão, a do livro, que, sendo crucial na obra de Rosa, está praticamente ausente na sua fortuna crítica. Não se trata apenas de mais um ensaio sobre Rosa: não só não recusa a tradição de leitura, como nela se integra de modo que obriga a repensá-la radicalmente. É, em suma, um daqueles maravilhosos sobressaltos que fazem o destino da grande literatura. (Abel Barros Baptista)

Autora: Clara Rowland é profes-sora no Departamento de Literaturas Românicas da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e pesquisadora do Centro de Estudos Comparatistas da mesma instituição. Desenvolve o seu trabalho nas áreas da literatura brasileira e da literatura comparada.

A forma do meioLivro e narração na obra de João Guimarães Rosa

Atheneu). Organização: Direção da FEA. Mais informações pelo e-mail [email protected]

Ofi cina Coletiva do PROAF - O Grupo Gestor de Benefícios Sociais (GGBS), através de seu Programa de Autonomia Financeira, promove uma ofi cina coletiva aos funcionários da Unicamp. Para garantir a participação, os interessados devem entrar em contato com o Serviço Social do GGBS. O evento será realizado no dia 18 de outubro, às 9 horas, na Sala Multiuso da Agência para a Formação Profi ssional da Unicamp (AFPU). Mais infor-mações podem ser obtidas pelo e-mail [email protected] ou telefone 19-3521-5098.

Ex Mai Lovi - No dia 18 de outubro, às 10 horas, no Auditório da Faculdade de Ciências Médicas (FCM), acontece a apresentação da peça de teatro “Ex Mai Lovi” e o lançamento do mascote do Setor de Patrimônio da FCM. Os eventos fazem parte do projeto de conscienti-zação e sensibilização das equipes quanto aos cuidados dos bens patrimoniais da faculdade. A peça é encenada por funcionários da FCM. A direção e texto é de Sérgio Roberto Virgílio. O vencedor do concurso do mascote ganhará um prêmio em dinheiro. No total, treze trabalhos foram apresentados. Realização: Diretoria de Suprimentos, Setor de Patrimônio e CSA Rh da FCM, com apoio da Assessoria de Relações Públicas, Diretoria da FCM e Agência de Formação Profissional Unicamp (AFPU). Outras informações: 19-3521-8968.

Saúde Mental do Estudante Universitário - 1º Simpósio será realizado no dia 19 de outubro, às 8h30, no Salão Nobre da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp. O evento comemora os 25 anos do Serviço de Assistência Psicológica e Psiquiátrica ao Estudante (Sappe), órgão da Pró-Reitoria de Graduação (PRG). Participam conferencistas que têm trabalhos relevantes nos cenários brasileiro e internacional, no que diz respeito à atenção à saúde mental dos estudantes universitários. A temática do encontro será direcionada aos profi ssionais envolvidos com o cotidiano dos alunos universitários e que procuram conhecer melhor os aspectos envolvidos no desenvolvimento de saúde mental da vida dos estudantes com o objetivo de identifi car e lidar com esses aspectos. Inscrições, programação e outras informações no site http://www.prg.unicamp.br/sappe/simposio ou telefone 3521-4187.

Conferência com Jean-Michel Vivès - No dia 19 de outubro, às 14 horas, no Anfi teatro do Departa-mento de Neurologia da Faculdade de Ciências Mèdicas (FCM), o professor Jean-Michel Vivès (Nice – França) profere a conferência “A voz na psicanálise: como a música ensina o psicanalista?”. A organização é do Laboratório de Psicopatologia Fundamental. Site do evento: http://www.fcm.unicamp.br/fcm/fcm-hoje/eventos/2012/voz-na-psicanalise-como-musica-ensina-o-psicanalista

3ª Volta da Unicamp – Corrida se inicia às 8 horas, no Estacionamento da Biblioteca Central César Lattes. Agrega num mesmo evento, três eixos de ações educacionais: promover saúde, fazer ciência e alertar para questões de sustentabilidade. Informações e inscrições no link www.sportrunner.com.br ou e-mail [email protected].

infratores no contexto socioeducativo” (mestrado). Can-didata: Tatiana Molero Giordano. Orientadora: professora Francirosy Campos Barbosa Ferreira. Dia 19 de outubro, às 10 horas, na CPG/IA.

Computação - “On genome rearrangement models” (doutorado). Candidato: Pedro Cipriano Feijão. Orientador: professor João Meidanis. Dia 16 de outubro, às 9 horas, na sala 53 do prédio IC-02.

Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanis-mo - “Segurança e saúde do trabalhador em serviços de limpeza urbana: estudo de casos” (doutorado). Candidato: Luiz Carlos Alves da Luz. Orientadora: professora Eglé Novaes Teixeira. Dia 15 de outubro, às 14 horas, na sala de defesa de teses da CPG/FEC.

Engenharia Elétrica e de Computação - “Planejamento hidrelétrico: otimização multiobjetivo e abordagens evolutivas” (doutorado). Candidata: Priscila Cristina Berbert. Orientador: professor Akebo Yamakami. Dia 19 de outubro, às 14 horas, na sala de defesa de teses da FEEC.

- “Processos alternativos para micro e nanotecnologia” (doutorado). Candidato: Cleber Biasotto. Orientador: professor José Alexandre Diniz. Dia 19 de outubro, às 14 horas, no prédio da CPG/FEEC.

Engenharia Química - ”Estudo da produção de ácido hialurônico por cultivo de “Streptococcus zooepide-micus” em espuma de poliuretano” (mestrado). Candidato: Felipe Augusto Ferrari. Orientador: professor Maria Helena Andrade Santana. Dia 16 de outubro, às 10 horas, na sala de defesa de teses (bloco D) da FEQ.

- “Análise técnico-econômica em estágios preliminares de projeto de processos - estudo de caso: planta de ácido nítrico” (mestrado). Candidato: Camilla Abbati de Assis. Orientador: professor Roger Josef Zemp. Dia 19 de outubro, às 14 horas, na sala de aula PG05 (bloco D) da FEQ.

Geociências - “Intervenções urbanas e representa-ções do centro da cidade de Campinas/SP: convergências e divergências” (doutorado). Candidata: Melissa Ramos da Silva Oliveira. Orientadora: professora Maria Tereza Duarte Paes. Dia 15 de outubro, às 13h30, no Auditório do IG.

- “A atuação do sistema nacional de defesa civil das enchentes do município de Capivari - SP” (doutorado). Candidato: Orlando Leonardo Berenguel. Orientadora: professora Arlêude Bortolozzi. Dia 16 de outubro, às 9h30, no Auditório do IG.

Humanas – “Entre razão e fruição: formação e pre-sença da Segunda Revolução Científi ca no Brasil (XVIII e XIX)” (doutorado). Candidato: Marcelo Fetz. Orientadora: professora Leila da Costa Ferreira. Dia 16 de outubro, às 9 horas, na sala da Congregação do IFCH.

Matemática, Estatística e Computação Científi ca - “Modifi cações ao tensor de Ricci e aplica-ções” (mestrado). Candidato: Yamit Yesid Yalanda Muelas. Orientador: professor Diego Sebastian Ledesma. Dia 19 de outubro, às 15 horas, na sala 253 do Imecc.

Medicina - “Análise computacional de fi bras elásticas e colágenas da aorta humana” (doutorado). Candidata: Gislaine Vieira Damiani. Orientador: professor Konradin Metze. Dia 15 de outubro, às 13 horas, no Anfi teatro da Pós-graduação da FCM.

Química - “Síntese e caracterização de nanopartículas de Sílica contendo Íons cobre(II) para aplicação agroquími-ca” (mestrado). Candidata: Tábita Cristina Belini. Orientador: professor Fernando Aparecido Sigoli. Dia 18 de outubro, às 14 horas, no Miniauditório do IQ.

A lista de indicados para a final do Jabuti 2012, divulgada pela Câmara Brasileira do Livro (CBL), tem pelo menos nove autores com vínculo à Unicamp. Os nomes estão distribu-ídos em seis categorias. A apuração da segunda fase, quando serão indicados três finalistas de cada ca-tegoria, acontece em 18 de outubro, e a premiação está agendada para 28 de novembro na Sala São Paulo. O livro A Sociologia e o Mundo Moderno, do professor da Unicamp Octavio Ianni, falecido em 2004, está entre os indicados na categoria Ciências Humanas. A obra de 406 páginas foi publicada pela Editora Civilização Brasileira.

A Editora da Unicamp é indicada nas categorias Ciências Exatas e Pro-jeto Gráfico. Na primeira, o indicado é o livro Eletrodinâmica de Ampére, de André Koch Torres Assis e João Pau-lo Martins de Castro Chaib. Assis foi contemplado com um Jabuti na edição de 1996 pelo livro Eletrodinâ-mica de Weber, atualmente esgotado no catálogo da Editora da Unicamp e adotado em cursos de diferentes universidades.

A coedição com a Editora Ateliê A Divina Comédia, de Dante Alighieri, está entre os finalistas da categoria Projeto Gráfico.

Também na área de Exatas, o júri da primeira fase indicou o livro Controle Linear de Sistemas Dinâmicos: teorias, ensaios práticos e exercícios, da Editora Blucher, de autoria do professor da Fa-culdade de Engenharia Elétrica e de Computação, José Cláudio Geromel. Ainda nessa categoria, concorre o professor do Instituto de Física Gleb Wathagin (IFGW) Marcus de Aguiar, com o títu-lo Tópicos da Mecânica Clássica, pela Editora Livraria da Física.

Entre os indicados da categoria Artes, está o título “No mar – at sea”, da professora Luise Weiss, do Insti-tuto de Artes (IA) da Unicamp. João Batista Melo, doutor em multimeios pelo mesmo instituto, é indicado na categoria Comunicação com a obra Lanterna Mágica: infância e cinema infantil, publicado pela Civilização Brasileira. Trata-se do primeiro livro sobre cinema infantil, tema abordado na dissertação de Melo no

Unicamp tem 9 indicações no

IA (confira reportagem no Jornal da Unicamp).

Pela Sociedade Brasileira de Me-dicina Nuclear, concorre ao prêmio o professor da Faculdade de Ciên-cias Médicas Celso Dario Ramos, na categoria Ciências da Saúde, com a obra PET e PET/CT em Oncologia.

Vilma Arêas, professora do De-partamento de Teoria Literária do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL), está entre os indicados da categoria Contos e Crônicas, com a obra Vento Sul, editada pela Compa-nhia das Letras. Do Departamento de Linguística do mesmo instituto de Vilma, o professor Trajano Vieira é indicado na categoria Tradução, com a obra Odisseia, pela Editora 34. Trajano também já esteve entre os finalistas do prêmio na mesma cate-goria, na edição de 2007, com o título Xenofobias: releituras de Xenófanes, publicação da Editora da Unicamp e da Imprensa Oficial do Estado.

Os indicados à final de 28 de novembro podem ser conferidos na página da CBL. Em 2008 recebeu o Jabuti com Agamêmnon pela editora Perspectiva. (Maria Alice da Cruz)Capa de “Divina Comédia”, obra fi nalista na categoria Projeto Gráfi co

Page 11: JU542

CARMO GALLO [email protected]

Revolução Científica desencadeada no século XVII trouxe mudanças significativas na estrutura do pen-samento, culminando no estabe-lecimento do método científico.

Esta mudança determinou que o homem pas-sasse a ver a natureza como objeto de sua ação, do seu conhecimento e sua tarefa passou a con-sistir em representá-la através de hipóteses que pudessem ser experimentadas para certificação da sua validade. Deixaram de ser consideradas as explicações teológicas e metafísicas, o que le-vou Kepler e Galileu a choques com a cosmogo-nia e a filosofia de Aristóteles, que serviam de base para o pensamento teológico.

Diante desse quadro, chamar de Primeira Revolução Científica aquela que se desenvol-veu a partir do século XVII e que perdura até nossos tempos – que teve como expoentes fun-dadores, entre outros, Descartes, Galileu e Co-pérnico – e considerar o movimento que surgiu como oposição àquela como Segunda Revolu-ção Científica – que permeou durante apenas 60 anos as últimas décadas do século XVIII e as primeiras do século XIX e passou a ser de-nominada de Ciência Romântica – certamente provocará uma reação irada de grande parte dos homens de ciências que consideram esta última uma negação da ciência, porque entendem que os eventos que plasmaram a ciência moderna, a Revolução Científica, são únicos e perfeitamen-te estabelecidos.

Mesmo assim, particularmente em países centrais, existem pesquisadores preocupados em resgatar os elementos da Ciência Românti-ca por considerarem estratificadas as visões que permeiam a ciência institucionalizada.

Em tese desenvolvida junto ao Departa-mento de Sociologia do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp, orien-tada pela professora Leila da Costa Ferreira, o pesquisador Marcelo Fetz apresenta uma inter-pretação da formação da ciência brasileira que escapa ao determinismo da via “instituciona-lista”, que compreende a trajetória do fortale-cimento da atividade científica no país apenas a partir da criação de institutos, museus e univer-sidades, considerando as atividades anteriores de “pequenos feitos científicos”.

No estudo, Fetz defende que a formação da ciência no Brasil em sua fase pré-institucional, apresenta uma organização singular em função da realidade histórica do país e do contexto cientifico da época. Neste particular, ele consi-dera que, “a exemplo dos contextos de forma-ção da atividade científica nos países centrais da Europa como Inglaterra e Alemanha, houve a aproximação da atividade científica com as atividades sociais. No caso brasileiro, contu-do, diferentemente dos europeus, a recepção e a difusão de um modo do pensamento e da vida científica foram realizados com o auxílio dos círculos literários e artísticos, à época, mais consolidados que os científicos”.

Com efeito, no início do século XIX, havia no Brasil revistas dedicadas à literatura e às artes que publicavam também matérias cien-tíficas. O pesquisador procura mostrar que a origem do desenvolvimento científico no Bra-sil decorreu das influências daquela que seria a Segunda Revolução Científica, fundada em países centrais da Europa, de que se originou a denominada ciência romântica, estilo de pensa-mento contemporâneo ao romantismo literário europeu e impulsionado pela ascensão da bur-guesia da época.

A pesquisa compreende a época que vai da primeira viagem do Capitão Cook (1768) à primeira viagem de Darwin a bordo do Bea-gle (1831), período em que ocorreu o fortale-cimento da concepção romântica de ciência na Europa e a introdução de atividades científicas no Brasil.

O pesquisador considera que, em função da conjuntura histórica que marca a abertura cul-tural brasileira com a chegada da corte de Dom João VI no ano de 1808 ao Brasil, a presença desse estilo de pensamento científico assume valor histórico e sociológico fundamental para a interpretação da formação do pensamento cien-tífico brasileiro.

Financiamento da Fapesp permitiu que o autor realizasse pesquisas durante seis meses na Universidade do Mississipi, EUA.

O QUE ÉPara os que compartilhavam os princípios

da ciência romântica, o pensamento nascido da primeira revolução científica teria sido inca-paz de compreender todas as faces da nature-za. Suas formas de abordagem e comunicação conseguiriam entender apenas parcela do mun-do, tornando-o distante dos homens comuns e difundindo uma visão de natureza baseada na fragmentação de suas partes componentes, de que é exemplo uma espécie biológica isolada da paisagem total que a envolve.

Em reação a essa particularização, a litera-

Revolução Científica desencadeada no século XVII trouxe mudanças significativas na estrutura do pen-samento, culminando no estabe-

Por uma

PublicaçãoTese: “Entre a razão e a fruição: forma-ção e presença da Segunda Revolução Científica no Brasil (XVIII e XIX)” Autor: Marcelo FetzOrientadora: Leila da Costa FerreiraUnidade: Instituto de Filosofia e Ciên-cias Humanas (IFCH)

Foto: Antonio Scarpinetti

Frontispício da Encyclopédie de Diderot e D’Alembert (1772), com desenho de Charles Nicholas Cochim e gravura de Benoît Louis Prévost. No centro, a fi gura da Verdade; à sua direita, Razão e Filosofi a; à sua esquerda, a Imaginação. A gravura destaca a divisão social do trabalho científi co

tura e a pintura passaram a ser utilizadas pelos naturalistas da ciência romântica. A literatura é encarada então como um meio ideal da comuni-cação, particularmente a poesia. Paradigma des-se tipo de escrita seria a obra Templo da Natureza (Temple of the Nature), de Erasmus Darwin, avô de Charles Darwin, em que a tese sobre a origem das espécies surge na forma de poesia.

Na pintura, a paisagem é utilizada como re-curso para a síntese geral dos elementos com-ponentes da natureza. Para o autor, esse estilo de ciência esteve fortemente presente no Brasil da primeira metade do século XIX através de

viajantes naturalistas estrangeiros, passando a ciência romântica a fazer sentido no cenário de fortalecimento de uma agência científica na-cional, pois sua organização epistemológica e metodológica conferia à literatura e à pintura de paisagem um importante papel no entendimen-to da natureza.

Na tese são descritas e analisadas com maio-res detalhes as obras de Spix e Martius, Eschwe-ge e Wieud-Neued, sobretudo as narrativas de viagem desses naturalistas. “Esses viajantes, notadamente aqueles de origem germânica ou saxônica, desenvolviam suas pesquisas, segun-

do os princípios dessa ciência romântica, com descrições e análises que adotavam a mensura-ção, a medição e a observação empírica da natu-reza, particularmente os elementos da fauna e da flora, mas se utilizavam de “sentimentos” e “sensações” como critério de avaliação da “for-ça da Natureza”, de sua “vitalidade orgânica” e de sua riqueza natural”, diz ele.

Estes princípios de organização do saber pretendiam ir além do entendimento empre-gado por homens de ciência que pautavam a análise da natureza pela separação entre sujeito e objeto.

Segundo Fetz, os exemplos canônicos do estilo de conhecimentos científicos da ciência romântica teriam sido as obras finais de Hum-boldt, em que o naturalista utiliza dois recursos para a compreensão da natureza. O de “sen-timento da natureza”, comunicado nas narra-tivas que expressam os sentidos subjetivos do naturalista, e o “quadro da natureza”, revelado através de palavras ou pinturas de paisagem que procuram dar uma visão panorâmica da natureza.

Esse tipo de procedimento característico da ciência romântica é visto em geral como um en-volvimento indevido da ciência com esferas so-ciais que não fazem parte da atividade científica, casos das interações entre ciência e literatura e entre ciência e artes pictóricas, e considerado um retrocesso, uma anticiência, devido aos ex-cessos subjetivos empregados pelo naturalista.

O autor ressalva porém que “se considera-das as novas abordagens da compreensão da atividade científica, especialmente na histo-riografia e na sociologia da ciência, fica difícil separar o que é daquilo que não é ciência. As contribuições ao desenvolvimento científico se-riam muito mais complexas do que aquelas que reconhecem a ciência como uma esfera herme-ticamente isolada da sociedade e dos demais campos culturais. Trata-se, portanto, de trazer ao debate alguns elementos ativos do mundo científico que não são tradicionalmente consi-derados como contribuição ao fortalecimento da atividade científica”.

NO BRASILO pesquisador constata que no Brasil a pre-

sença desse estilo de conhecimento elaborado com o auxílio da fruição artística que, no entan-to, não deixava de lado a observação empírica e as medições quantitativas, deu-se com base nas narrativas das viagens científicas dos naturalis-tas a partir da primeira metade do século XIX. Para esses viajantes, a natureza brasileira seria o exemplo mais bem acabado da força e da beleza exuberante do mundo natural.

A natureza, com sua beleza e exuberância, seria adotada como um dos elementos centrais do oitocentista brasileiro e o seu estudo seria transformado em uma das principais vocações da ciência nacional, na opinião de Marcelo Fetz.

Para ele, a Segunda Revolução Científica - expressão cunhada no final do século XVIII pelos escritores ingleses William Wordsworth e Samuel Coleridge – considera que o mundo é dinâmico e o sujeito inseparável do objeto. O pesquisador faz parte do objeto de pesquisa e é tão dinâmico quanto o mundo.

A saída para gerar ciência nesse contexto se-riam os argumentos literário, poético, artístico. Esse dinamismo é comunicado a partir de uma linguagem específica, além da linguagem cien-tífica, que seria capaz de comunicar uma natu-reza viva, diferentemente do contexto anterior em que a natureza fria, morta é incapaz de gerar qualquer envolvimento com o homem.

Qual o sentido dessa postura hoje? A pro-fessora Leila da Costa Ferreira reconhece que essa é uma visão científica datada. Para ela, a tese é importante do ponto de vista da sociolo-gia do conhecimento ao mostrar que a ciência não começa com o processo de sua institucio-nalização, mas é anterior a ele.

Especificamente no caso brasileiro, ela afir-ma que o trabalho mostra que, mesmo antes de 1830, já havia o desenvolvimento de uma ciên-cia da natureza.

Fetz conclui: “Procurei trazer para o debate esse contexto pouco científico ou até anticientífi-co. Já há duas décadas está ocorrendo a intromis-são de elementos não científicos na historiografia da ciência. Nessa chamada transdisciplinaridade existe uma grande dificuldade no estabelecimen-to de critérios de demarcação entre o que é e o que não é ciência, ou até que ponto ela se move por si só ou ela necessita de outros campos de atuação humana para se construir”.

11Campinas, 15 a 21 de outubro de 2012

Foto: Reprodução

ciênciaromântica

A professora Leila da Costa Ferreira, orientadora, e Marcelo Fetz, autor da tese

Page 12: JU542

Campinas, 15 a 21 de outubro de 201212

PublicaçãoDissertação: “Rumo à Amazônia, terra da fartura: Jean-Pierre Chabloz e os carta-zes concebidos para o SEMTA”.Autora: Ana Carolina Albuquerque de MoraesOrientação: Maria de Fátima Morethy CoutoUnidade: Instituto de Artes (IA)

PATRÍCIA [email protected]

artista suíço Jean-Pierre Cha-bloz já estava morando no Brasil quando recebeu o con-vite para atuar como dese-nhista publicitário no Serviço

Especial de Mobilização de Trabalha-dores para a Amazônia (Se-mta), órgão estatal do go-verno Getúlio Vargas. Entre janeiro e julho de 1943, ele desenvolveu vasto material de propaganda, cujo obje-tivo imediato parecia ser arregimentar nordestinos para trabalhar na reativação dos seringais amazônicos, os chamados “soldados da borracha”. O programa empreendido pelo Estado Novo procurava atender à necessidade político-eco-nômica de garantir a produ-ção de borracha aos países aliados na Segunda Guerra Mundial, uma vez que os japoneses controlavam a quase totalidade dos serin-gais asiáticos.

A dissertação “Rumo à Amazônia, terra da fartura: Jean-Pierre Chabloz e os cartazes concebidos para o Semta”, de Ana Carolina Albuquerque de Moraes, restaura parte da história do período com o objetivo de analisar, como docu-mentos visuais, quatro car-tazes que o artista produziu para a “Campanha da Bor-racha”. A análise do mate-rial de propaganda criado por Chabloz extrapola os campos das artes visuais e da publicidade/propagan-da, para englobar também questões de história social e de história econômica. “Além do valor estético, os cartazes constituem documentos visuais bastante repre-sentativos da ideologia dominante em um período significativo tanto da história do Brasil como da história

mundial”, avalia. Em relação à

Campanha, não só a migração não foi desenvolvida com idoneidade como a produção de bor-racha também não foi satisfatória. Os Estados Unidos foram perdendo interesse pelo pro-grama e deixando de injetar dinhei-ro, o que piorava as condições dos migrantes e de seus dependentes diretos, assistidos

pelo Semta com verba-norte-ameri-cana. Em 1946, com o final da Guer-ra, foi instaurada a CPI da Borracha.

Para desenvolver o estudo, Ana Carolina mergulhou na documenta-ção do arquivo Jean-Pierre Chabloz no Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará (MAUC), espe-cialmente em dois diários de servi-

Chabloz

Chabloz em cartaz

Obra feita por Chabloz em 1943, ano de sua chegada ao Ceará, e que fi gurou na primeira exposição individual do artista no Estado

Ana Carolina Albuquerque de Moraes, autora da dissertação: analisando os cartazes, a trajetória do artista e o contexto histórico

ço do período do Semta e correspondências. Também realizou entrevistas com a filha do artista, Ana Maria Chabloz Scherer, e o diretor do MAUC, Pedro Eymar Barbosa Costa. A dis-sertação apresenta três frentes de discussão: o artista, o contexto histórico e os cartazes.

Chabloz estudou na Escola de Belas-Artes de Genebra (1929-33), na Academia de Belas-Artes de Florença (1933-36) e na Academia Real de Belas-Artes de Milão (1936-38). Em 1940, por causa da Segunda Guerra Mundial, veio para o Brasil, aportando primeiramente no Rio de Janeiro. No Ceará, a partir de 1943, realizou atividades como artista plástico, mú-sico, professor, conferencista, crítico de arte e fomentador cultural.

A pesquisadora ressalta a persistência do artista ao se deparar com a incipiente vida cul-tural da Fortaleza da década de 1940. “Ele or-ganizou exposições, foi professor tanto de de-senho como de violino, colunista do jornal O Estado, conferencista, além de alavancar outras carreiras”. O papel de fomentador cultural é dividido com o grupo de artistas com os quais o suíço passou a atuar, como, por exemplo, Mário Baratta, João Maria Siqueira, Antonio Bandeira, Aldemir Martins e Barboza Leite.

Por quatro períodos na cidade, entre a década de 1940 e os anos de 1980, quando morreu, Chabloz deixou sua herança. A pon-to de influenciar integrantes das novas gera-ções, como a pesquisadora da Unicamp, que desde criança ouvia falar no artista. Seu tra-balho acadêmico é o primeiro a analisar, em

profundidade, a atuação de Chabloz como desenhista publicitário da “Campanha da Borracha”. O trabalho também documenta as relevantes iniciativas do suíço em prol das artes no Ceará.

QUATRO PEÇAS“Mais borracha para a vitória”; “Vai tam-

bém para a Amazônia, protegido pelo Se-mta”; “Vida nova na Amazônia”; e “Rumo à Amazônia, terra da fartura” são, na opinião da pesquisadora, os mais ambiciosos proje-tos que Chabloz desenvolveu no órgão. Os layouts dos cartazes eram enviados para o Rio de Janeiro, então capital do país, para impressão por meio da litografia. “Os litó-grafos copiavam a mão os desenhos para ela-borar as matrizes e, posteriormente, faziam a impressão em papel, o que influenciava o resultado final e envolvia uma questão de autoria”, explica Ana Carolina.

Nos documentos pesquisados por ela, consta que Chabloz não ficou satisfeito com a impressão dos dois primeiros cartazes. “Ele estava preocupado em criar volumes, por meio de jogos sutis de luz e sombra. Ao se deparar com as versões finalizadas dessas imagens, no entanto, considerou que resulta-ram planas, lisas, sem vibração colorida”. O artista desejava que os seus cartazes fossem reproduzidos mecanicamente, por processo fotolitográfico.

A pesquisadora comparou a estética dos

Fotos: Reprodução / Divulgação

Na sequência, três dos cartazes concebidospor Chabloz para o Semta e a capa do primeiro breviário criado pelo artista para ser distribuído a potenciais migrantes

quatro cartazes com 24 layouts do acervo pesquisado, relacionados, sobretudo, ao período de formação de Chabloz na Europa, entre as dé-cadas de 1920 e 1930. “De modo geral, percebi nos layouts europeus uma maior preocupação com a ex-perimentação formal. O artista esta-va em sintonia com tendências en-tão em voga na Europa. Ele ‘flertou’ com a vertente de art déco reinante nas artes gráficas francesas da épo-ca. Naquele período, Chabloz dava muito valor à simplificação das for-mas, à aplicação de cores no interior de zonas claramente definidas e à tendência à bidimensionalidade dos motivos”.

Quando vem para o Brasil, Cha-bloz adota uma abordagem diferen-te, mais convencional e didática, tornando-se mais tradicional na abordagem tanto dos motivos quan-to das letras. “Ele se preocupa com a obtenção de volume nas formas, com os contrastes de luz e sombra, com a plasticidade dos motivos, distanciando-se das pesquisas de caráter mais nitidamente formalista para adentrar uma abordagem mais voltada ao pronto reconhecimento dos motivos e à rápida assimilação da cena representada”.

Para a pesquisadora, uma hipóte-se para esta mudança seria a propos-ta de atingir melhor a população de Fortaleza na década de 1940, pouco conectada com as experimentações

formais de correntes então consideradas “mo-dernas”. Outra possibilidade de investigação consiste em avaliar o quanto o artista dialo-gou, ainda na Europa, com o contexto do “re-torno à ordem”.

A dissertação de Ana Carolina é o primei-ro trabalho acadêmico especificamente dire-cionado à compreensão de aspectos da arte de Chabloz, tendo sido concluída no momento em que o nome do artista tem sido bastan-te valorizado. “Houve, em 2010 e 2012, duas importantes exposições de documentos per-tencentes ao arquivo de Chabloz no MAUC, acervo que, a partir deste ano, está sendo digitalizado”, afirma. A recuperação da his-tória dos cartazes do Semta também é uma reflexão sobre a ideologia dominante do Es-tado Novo. “Penso ter conseguido começar a construir uma história de Chabloz como car-tazista, e, dentre o material que ele produziu, talvez os cartazes da Campanha da Borracha sejam aqueles envolvidos em um contexto histórico mais significativo”.