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ExpandErQuinta 02

MaGdaQuinta 02

Cpt. LuvLaCEQuinta 02

1000 Caracteres — por p.p. —

Vou-vos dizer a verdade: já não me apetece mentir.

Alguém tem o número do Lavoisier? Ele tem Facebook?Precisava de falar com ele.

Tenho vindo a perceber que começar de novo pode ser tão difícil como conti-nuar. Começar de novo é cada mais difícil porque cada vez mais vamos sentindo que não há tempo para perder. Mas há. Todo o tempo é para perder. Acho mesmo que é a única maneira de ganhar. Parece que só entendemos a ideia de paciência quando passamos a olhar para ela como um luxo, quando percebemos que sempre devíamos ter sido pacientes. Aprendemos a esperar quando já não temos tanto tempo para o fazer.

Não existe começar de novo, existe começar outra vez. Mesmo que queiras, nunca viajas sem bagagem. Somos todos preciosos, porque somos todos passaportes palimpsestos – por baixo do carimbo de onde estamos estará sempre o carimbo de onde viemos e assim sucessivamente. Novos são os destinos. O viajante é todas a viagens que fez e que vão condicionar todas as outras viagens futuras, ao futuro.

O importante é a viagem, porque todas as viagens são de voltar a casa, seja lá onde isso for, o que isso for, seja lá quem isso seja.

Pela costa da Califórnia os putos têm usado o Google Earth para procurar piscinas vazias ou abandonadas, para andar de skate. Mesmo entediados não desistem, dão um passo para trás, ou para cima, para verem a Califórnia toda e escolherem o próximo passo, como se a fronteira ainda existisse. É isso que tenho de fazer também, olhar de cima para o que tenho dito e ver o que ainda não disse, o que ficou por dizer e talvez, neste momento a mais importante das perspectivas, para ver o que já disse. Esta piscina da mentira está cheia, não acho que tenha mais para dizer sobre a treta. Aqui já me sinto preso e repetido. Já chega, vou-me apontar à fronteira, vou para a praia.

Complicar é simples. Deixares-te ir em desverdades e não-mentiras é tão fácil como engolires pirolitos nos quebra-cocos do Meco. Complicar é simples. Ergueres biombos e máscaras que são garantes de segurança para falares de longe, constroem um sítio afastado de chatices. Agora mostrares-te sem roupa e, como a Gabriela, dizeres que és assim, isso aí, é um sítio vulnerável. E ser vulnerável é de

homem, é eloquente e muito mais próximo de uma verdade qualquer. É aí que me apetece estar, apetece-me é ir por aí. O mentiroso já não precisa de mentir, porque quer acreditar nele próprio.

Pensem nisto como um obituário em vida, como um testamento de um desprovido sem nada a perder, como uma nota de suicídio de quem decidiu viver um pouco mais. Hoje e aqui, leiam a morte do Quimpostor.

Inventei o Quimpostor para me prote- ger. Proteger-me do pouco cuidado que tenho a pensar e da velocidade com que me saía da boca aquilo que penso; proteger-me dos olhos inteligentes que me lêem; proteger-me da libertinagem do que digo; proteger-me a mim de mim. Enquanto achava que vos entretinha, bocados importantes meus apareciam à minha e à vossa frente. Precisava de um escudo, de um preservativo. Mas eu não quero foder, eu quero fazer amor.

Enquanto conversava aqui convosco punha uma caraça. Por cima dos parágrafos que escrevi todos estes meses encabeçava o “vou-vos dizer a verdade: eu minto.” Este truque corrompeu o que durante todos estes meses se foi tornando mais exposto, vulnerável, honesto. Enquanto me fui mostrando cada vez mais, tinha sempre ali um alçapão, uma fuga pronta a usar, a

dizer que o que se seguia podia muito bem ser mentira. Como podiam vocês confiar naquilo que vos dizia quando eu próprio não confiava? Comecei a sentir que não estava a ser justo convosco, porque não estava a ser justo comigo. Quis emocionar--vos, quis saber de mim e fiz figas.

Falei-vos do que inventamos para sobreviver e das tretas que nos entremeiam, ao mesmo tempo que pedia para nos aproximarmos e para nos deixarmos de tangas. Disse-vos que me sentia sozinho porque percebia que esta solidão é par-tilhada por todos. Mas disse tudo isso através de uma das maiores responsáveis do nosso afastamento uns dos outros – a mentira. Por isso já chega de Quimpostor. Não quero esta distância entre mim e o que digo, não quero esta distância entre nós.

Eu sei que a escrevi sexy, eu sei que a escrevi utilitária, eu sei que a escrevi divertida e sofisticada, mas acho que depois de isto tudo cheguei à conclusão que procurava – a mentira não rende.

Aprendi e transformei-me, olhei para mim e vi-me. Agora vou de férias, vou começar outra vez. Vou simplificar.

Obrigado,

Quim Albergaria

LEonaLdo dE aLMEida

Sexta 03

pinkboySexta 03

dJ vibESexta 03

N: 10 Julho 2009 página: 02 N: 10 Julho 2009 página: 03

MaGdaQuinta 02

Querida Lisboa,

A verdade, pelo menos agora, é que me pareceste, durante muito tempo, aquelas mulheres com quem não sabemos se nos apetece ir para a cama e casar no dia seguinte ou bater com a porta uma e outra vez até que não voltamos mais.

Talvez sinta esta inquietação porque nos abandonámos há alguns anos. Tu es-tavas certamente cansada das minhas crí-ticas e das minhas ameaças de emigração. Eu, de malas feitas, apanhei o avião um dia depois do Natal, seguro de que não eras mais que uma cidade que repetia infinita-mente o mês de Dezembro, enrolada numa película de chuva e povoada por pessoas de fazenda, com roupas estioladas – cria-

turas nómadas que viajam todos os dias entre uma máquina de fotocópias a ranger dos parafusos e um apartamento de três assoalhadas ao fim de duas horas de trân-sito.

Mas agora, anos depois, regressei, aluguei uma casa com os sinos de uma igreja como banda sonora e começo a descobrir que não ficaste quieta, de socas e bata, apoiando as mamas no parapeito, olhando a vida dos outros na rua e tendo como única companhia o canário que apita dentro de uma gaiola. Em todo este tempo, deixámos de ser crianças envergonhadas, num recreio, que usam um pontapé nas canelas como artimanha de sedução. Esta-mos mais elaborados nos gestos e na elo-quência. Bebemos gin com pepino. Conhe-cemos restaurantes secretos em outras cidades. Temos amigos estrangeiros. Mas estamos também mais directos ao assun-to, mais crus, afinal, com esta idade, não andamos aqui para enganar ninguém.

E é por isso que te digo que gosto ou-tra vez de ti sempre que faz calor e me apa-reces nas alças dos vestidos das mulheres bonitas que escalam o Chiado, passeando sacos de lojas enquanto caminham para mojitos nalgum terraço ou para lençóis

frescos de sesta e beijos na boca. Gosto do teu coração, armazenado junto ao rio e com ruas estreitas. Mas fica a saber que não me interessam as tuas cirurgias plás-ticas fracassadas, o lego com excesso de peças do Parque das Nações, a geometria certinha de Telheiras, os seus móveis Ikea, os jovens casais, os dois lugares na gara-gem, a menina dos olhos da classe média com curso superior.

O que não quer dizer que eu não quei-ra que trates melhor de ti. Por exemplo, devias estar menos confiante na decadên-cia das fachadas dos prédios como atribu-to para atrair turistas. Devias sugerir aos utentes dos transportes públicos que usas-sem gel de duche, desodorizante e respeito pelo espaço pessoal de terceiros. Devias sugerir que os teus habitantes dissessem bom dia, que sorrissem uns para os outros, que passassem menos tempo na sala da televisão e mais tempo na rua. Diz-lhes para começarem conversas com estranhos e oferecerem aos indígenas a mesma sim-

patia com que prestam informações a tu-ristas perdidos. Não te armes em moderna apenas porque usas a bijutaria de prédios espelhados e balcões bancários. Cuida me-lhor das pessoas que aqui vivem. Não sejas tão desconfiada. Dança com mais frequên-cia e deixa as janelas de casa abertas. Melhora o teu jogo de cintura. Disponibili-za-te. Deixa que o meu braço se encoste na base das tuas costas e que os meus dedos se amarrem na tua cintura.

Gosto de ti ao fim da manhã quando, na minha rua a pique, entre roupa estendi-da e nuvens frenéticas de pombos, apare-ce o rio ao fundo, garantindo-me que não morrerei de calor e que haverá sempre um barco que possa usar em caso de fuga. Passo pelo barbeiro indiano e pelos seus filhos que já trocaram o cricket de rua pela peladinha futebolística no passeio de cal-çada. Velhas de roupão e cabelo de almo-fada comentam, numa ombreira para pes-soas tão pequenas, problemas na espinha e a detenção de um neto que usa brincos, boné e dois tubos de escape. Gosto de ti quando cruzo a Praça da Figueira, espe-lhado na montra do Mundo das Malhas, desviando-me dos convites das prostitutas diurnas e da coragem física dos rapazes do

skate, manobras que me rasam o corpo, a insolência cocktail molotov das letras ver-melhas, pós-eleições, pintadas a spray na base do cavalo de D. João I: “64 %, ganhá-mos outra vez.”

Nos últimos meses, tenho vivido to-dos os dias contigo. Temos casas separa-das, é verdade, e nenhum compromisso que tenha exigido a presença de um notá-rio. Mesmo assim, escrevo-te porque estou estes dias numa cidade fora de fronteiras e quero assegurar-te de que não me escapei outra vez. Quero dizer que sim, que gos-to de ti, que sou entusiasta das tuas ruas, onde roço ombros com vendedores de haxe, turistas de esplanada e romenos que tocam Sinatra num acordeão. Quero dizer--te que percebo o deslumbramento dos fo-tógrafos com a tua luz e dos Erasmus com o experimentalismo a céu aberto. Quero confessar-te que me emociono com o som de uma ventoinha, dos talheres a tocar nos pratos, do sotaque brasileiro a cantar na rádio sempre que passo junto a um rés-do--chão com a porta aberta.

Gosto das tuas meninas betas com tapetes de ioga debaixo do braço e óculos escuros que lhes cobrem metade da cara, gosto dos cibercafés com paquistaneses que espreitam pornografia no ecrã, gosto dos folhados de salsicha nas pastelarias, das festas ao final da tarde, em casas com pátios, baldes de gelo e crianças despen-teadas. Gosto de pensar (embora seja men-tira) que Lisboa tem praia. Gosto do apito dos eléctricos que parece a campainha de uma bicicleta. Gosto do momento em que a porta do táxi se fecha e já se pode ouvir a música da pista de dança. Gosto de che-gar a casa de manhã. Gosto dos domingos, quando a ressaca é macia e um mergulho basta para nos ressuscitar, e nas ruas não se passa nada, a não ser o barulho distante de uma motorizada e a máquina de café do único sítio aberto. Gosto que sejas toda Ve-rão e bolas-de-berlim e carreirinhas. Gosto que gostes de cama a meio do dia. Gosto que tenhas agora muito mais possibilida-des, que sejas mais confiante, que chegues a pedir o número de telefone a alguém que conheceste esta noite. Gosto de ti. Gosto de ti, pelo menos enquanto houver sol.

Fado marialva com óculos escuros e after-hours Hugo Gonçalves

Quimpostor Quim Albergaria

ser vulnerável é de homem, é eloquente e muito mais próximo de uma verdade qualquer.

acho que depois de isto tudo cheguei à conclusão que procurava – a mentira não rende.

Gosto do momento em que a porta do táxi se fecha e já se pode ouvir a música da pista de dança

Gosto que tenhas agora muito mais possibilidades, que sejas mais confiante, que chegues a pedir o número de telefone a alguém que conheceste esta noite.

aLan braxEQuinta 16

CarL CraiGSexta 31

Julho 2009

“ ... o que sabemos empobrece ou apaga o deslumbramento que a beleza do mundo devia exercer sobre nós...”, leio na parede da entrada da exposição*, enquanto tento explicar - O pai saiu porque estava sempre a discutir com a mãe, percebes ? A formalidade não lhe agradou muito. Pre-fere as respostas. Posso ir à casa nova?A ânsia de saber está na sua natureza, percebo isso. Lentamente o seu espírito curioso começa a desvendar os segredos dos adultos. Não quer saber todos. Entende que isso não lhe dá prazer. O que já lhe cria embates violentos com a ordem das coisas, com a necessidade de organizar a sua vida, os seus momentos com os momentos dos adultos. Por ela, comia quando lhe desse a fome, bebia quando lhe desse a sede e adormeceria quando os próprios brinquedos ficassem cansados. Está curiosa, imagina já um novo quarto com brinquedos novos. Mas o que eu acho que realmente a seduz é ter espaços dela. Reservados. Seus. Fará parte do seu esquema de segurança. A sua realidade é falsamente simples. Mas ela transforma-a na mais fascinante das fantasias. E toma posse do seu lugar no mundo todos os dias. Ela sabe que eles lá estão e sabe que não quer deixar de se deslumbrar. Até dá para rir com o desplante.

*frase de Gérard Castelo Lopes, numa exposição

do mesmo em 2004.

MatthEw dEarSexta 17

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yEn SunGQuinta 09

pinkboySexta 10

dExtErQuinta 09

yEn SunG Convida Mr ChEEkS

Sábado 04

dExtEr & hEnriqSábado 04

N: 10 Julho 2009 página: 04 N: 10 Julho 2009 página: 05

As coisas começaram como tudo co-meça. Uma pequena mensagem em stencil escrita na parede de pedra do lado interior do logradouro da minha sub-cave à Lapa. Reparei nela durante vários dias até me dar conta que não deveria estar ali, o que con-siderei como um nítido sinal da diminuição das minhas capacidades, um doce e ador-mecido embalar da perspicácia.

E isso era quase tão preocupante como a imagem que surgia, agora eviden-te, aos meus olhos tanto no seu significa-do como na sua forma. Era uma espécie de imagem de Cristo, semelhante à do su-dário mas feita na pedra. Em vez de Cristo representado, estava eu no seu lugar, com coroa e tudo.

Fui mais uma vez traído pela minha própria soberba.

O facto de ter interrompido o afasta-mento dos grandes palcos mundiais da de-sencriptação para partilhar convosco neste jornal as minhas pequenas análises sobre a verdadeira verdade das grandes letras da pop, colocou de novo o foco de atenção sobre o perigo que representa alguém com os conhecimentos e a vontade de desmis-tificar as grandes construções mitológicas da actualidade.

Daí à alusão a um sr. peppas mártir, na forma de stencil urbano foi apenas um pulo por cima do meu muro.

Sei quem eles são, mas não vou di-zer o seu nome. Primeiro, porque vocês ficariam a sabê-lo e obviamente passariam também a ser alvos preferenciais da fúria asséptica dos mestres mundiais da ilusão. Segundo, porque não se deve dar nome ao mal, para que ele não se sinta em casa.

Terceiro, porque no fim deste artigo vocês irão esquecer-me para sempre, pois encriptei neste texto um desmemoriador. Portanto, na verdade isto não será uma despedida dado que vocês nunca se lem-brarão de alguma vez me ter lido.

Aliás, encontro-me na fase avançada de limpeza de todo e qualquer vestígio da minha existência. A exemplo do Jim tam-bém eu quero limpar o futuro de todas as referências do passado. Vou também eu matar tudo o que tenho e que já não é meu. O que sobrar fará o resto do caminho.

Esta minha escolha para esta minha “despedida” é um texto de esperança. Era o que Jim teria querido, sei isso de fonte

segura. Que o seu FIM fosse para sempre en-

tendido como uma espécie de manual de instruções e de princípios para uma serena libertação do espírito.

A sua verdadeira intenção era o lan-çar de um desafio existencialista à condi-ção humana como forma de estímulo ao progresso intelectual e social. Como tudo o que os artistas fazem, a sua verdadeira intenção nunca foi percebida nem pelas elites, nem pelas massas que encararam o texto como encaram as alucinações de um qualquer drogado com problemas edi-pianos.

Na verdade, o que Jim deixou como legado é um manual de instruções para enfrentar o fim e fazer o melhor desse mo-mento. É uma espécie de Manual de Auto- -Ajuda dos Últimos Minutos, regras simples que se transformam num manifesto de he-donismo extremo que achei por bem par-tilhar convosco nesta época de depressão com o intuito de vos preparar para tudo o que possa acontecer num futuro onde eu já não vou estar.

This is the end, beautiful friendThis is the end, my only friendThe end of our elaborate plansThe end of everything that standsThe end

No safety or surpriseThe endI’ll never look into your eyes again

Vais perceber quando o fim começar. Vês uma luz que te impele a segui-la sem sequer saberes o caminho. Como vai estar sol, leva óculos escuros.

Can you picture what will beSo limitless and freeDesperately in need of some strangers handIn a desperate land

Não esperes o fim perto de casa, porque se perde o efeito surpresa.

Lost in a Roman wilderness of painAnd all the children are insaneAll the children are insaneWaiting for the summer rainThere’s danger on the edge of townRide the king’s highwayWeird scenes inside the goldmineRide the highway West baby

Partilha com os outros o caminho para o fim. Não vás com pressa, vai parando, experimenta coisas novas.

Ride the snakeRide the snakeTo the lakeTo the lake

O fim é apenas uma forma de mudar de caminho.

The ancient lake babyThe snake is longSeven milesRide the snake

O fim é longe e cheio de curvas. Leva Vomidrine. Ácidos são um bom substituto.

He’s oldAnd his skin is coldThe west is the bestThe west is the bestGet here and we’ll do the rest

The blue bus is calling usThe blue bus is calling usDriver, where you taking us?

O caminho para o fim é mais perto pelo ocidente. Partindo daqui é seguir o Sol durante o dia até à noite. Depois apanhar o autocarro azul. Não dá para confiar no condutor, portanto vai atento ao caminho.

The killer awoke before dawnHe put his boots onHe took a face from the ancient galleryAnd he walked on down the hall

O fim é uma espécie de baile de máscaras com rigoroso dress code. Não deixam entrar pierrots nem damas antigas.

He went into the room where his sister livedAnd then he paid a visit to his brotherAnd then he walked on down the hallAnd he came to a doorAnd he looked insideFather?Yes sonI want to kill youMother, I want to... ... ...

O fim é um assunto privado, por isso deixa a família em casa nem que tenhas de te chatear com eles.

Come on, baby, take a chance with usCome on, baby, take a chance with usCome on, baby, take a chance with usAnd meet me at the back of the blue bus

A parte mais divertida do fim são os inícios que acontecem pelo caminho.

This is the end, beautiful friendThis is the end, my only friendThe end

It hurts to set you freeBut you’ll never follow me

The end of laughter and soft liesThe end of nights we tried to die

This is the end

No fim do caminho para o fim, o teu amigo deve estar já num estado deplorável. Chama um táxi, manda-o para casa e continua o teu caminho na direcção da luz até te sentires devidamente esclarecido.

Filologia Livre da Popdo meu poluído imaginário sr. peppasarquivista de generalidades

AvisoEsta coluna dedica-se à análise de grandes letras da história da pop, desrespeitando deliberadamente quaisquer direitos (ou intenções) do autor.

Filologia Livre da Pop do meu poluído imaginário

DEMOAndré e. Teodósio

Não percas mais tempo, futuro Supernova™. Dirige-te calmamente a qualquer um dos bares do LUX com este texto e usa estes passwords de engate. Entrarás directamente no reino da Megalopsychia!Engata...

1) alguém que às quatro da manhã começa a dar sinais de sono:(pinta um bigode à Houdini no WC e andando de costas faz-te surgir no ‘destino’) Estava aqui a pensar... se não deveríamos sair da estética do aparecimento (lógica que estruturou toda a Arte nos últimos 2 000 anos) e entrar numa de estética de desaparecimento!

2) alguém que se destaca por estar a reflectir sobre problemas da contemporaneidade:(arranja mentos e, mãos-largas, compra uma garrafa de coca-cola no bar) Eu sei o que estás a pensar. E tens razão. A economia europeia, e a mundial claro, atingiu os seus limites. Precisa de mais. Precisa de expansão. E há um nome para isso: Descobri Mentos (na Coca-Cola). Vai ser uma época explosiva. Tipo champagne mas na versão ciência-inútil que é tão característica da minha geração rasca. Vamos para a varanda?

3) alguém que dança o set do DJ Dexter alucinantemente:(pede um bloody mary com duas palhinhas; de seguida coloca-as simetricamente debaixo do lábio superior como se fosses um drácula e vai oferecer a bebida) Porque acreditar não é íntimo mas social é que te ofereço o legado de Bloody Mary. Posso vampirizar este instante e um pouco da sua energia Madame Tudor? (E... ATACA!)

4) alguém que foi desdenhado, ou alguém de quem gostas há muito tempo e nunca tiveste coragem de falar:(tira este jornal do Lux debaixo do braço e instala-te realmente em frente da outra pessoa: frente-a-frente, olhos-nos-olhos, jornal-no-sovaco) Eu sou o 1 tu és o 2. Juntos faremos aparecer o 3.

1 - Podes fazer um intervalo para um FUQ? E segundo o texto que me foi dado tu deverias perguntar o que é um FUQ. 2 – O que é um FUQ?1 – É um Frequently Unanswered Question. E qual é a tua questão?2 – Segundo texto que me foi dado eu deveria perguntar: – O que é o First Person Shooter (FPS)?1 – Os FPS são aquele tipo de jogos em que os protagonistas estão de costas voltadas para o público e os maus enfrentam-nos de frente. (Um bocado ao contrário da vida, não é? em que normalmente vemos de frente os amigos e os inimigos pelas costas.)2 – UAU. Obrigado pela amizade. Vamos a mais um FUQ?1 – Não nos vamos precipitar. Anda, vamos beber um copo. Eu ofereço.

Há dias, ao desligar o telefone, depois de uma conversa com uma amiga minha, disse para mim próprio: pronto, começou a silly season!

Eu sabia que o mês de Agosto ainda vinha longe, mas o calor e as mudanças climatéricas têm efeitos estranhos nas ca-

beças das pessoas, e actualmente a silly season parece durar o ano todo.

Antigamente a “época tonta” estava reservada à segunda metade do Verão, altura do ano em que deputados e gover-nantes iam a banhos, e os jornais sérios, porque ficavam sem notícias, se dedica-vam à caça do fait-divers. Mas hoje, estes critérios deixaram de ter utilidade: os dias de calor são em Fevereiro, os deputados parecem estar sempre de férias, e os jornais não fazem outra coisa senão rela-tar faits-divers o ano todo. O meu cavalo faz acupunctura ou Fazer xixi no chuveiro faz bem ao planeta ou Se o seu cão fosse apanhado pedrado, você continuava amigo dele?, são agora exemplos de notícias de todos os dias. E não estou a inventar. Fui agora mesmo buscá-los à net a um site de um jornal de referência.

Portanto, uma vez que os indicadores tradicionais deixaram de funcionar, a ques-tão que se põe é: como se determina o iní-cio da silly season? Será que alguém sabe?

Decidi colocar a questão no Face-book, mas como ninguém me respondeu nos primeiros 5 minutos, fiquei sem saber

se era por desconhecimento ou por esta-rem todos na praia, e eu ser o único silly agarrado ao computador aos 30°C de um dia feriado.

A verdade é que “temporadas tontas” há muitas. São como os chapéus: há em vários tamanhos e para todos os gostos. Este ano, por exemplo, vai ser especial. Com três eleições à porta é difícil que a “sillyce” não aumente exponencialmente.

Mas num ano normal a temporada abre em Fevereiro, com a Silly Week of Lisbon TM. Esta “época tonta” caracteriza-se por uma anormal subida das temperaturas, fenómeno que leva as pessoas a quererem ir todas viver para o Brasil vender artesa-nato na praia. Geralmente voltam apaixo-nadas por um argentino, sentimento que passa com o regresso das chuvas e do tempo frio.

Em meados de Maio, e quando o tem-po o permite, temos os Silly Weekends at MecoTM. É um fenómeno curioso porque “lisboa” foge toda da cidade, para se en-contrar nua a 50 km de distância. Talvez menos. Mas eu confesso que há coisas que prefiro não ver. A sério. Juro!

Em finais de Julho, princípios de Agos-to, temos a Silly Week of Zambujeira TM. Praia, marisco e pó, muito pó, e um bom festival de música. Noutros tempos era a verdadeira época tonta do ano, com mui-ta gente verdadeiramente tonta, mas com pinta, à mistura. Hoje é uma espécie de ver-são freak da Costa de Caparica e já não há marisco. Comeram-no todo. Dantes ainda havia lá um gajo que ia à pesca. Mas agora

já não vai. Só pesca homens. E faz muito bem. Já não consegue comer percebes.

A seguir temos Agosto, o mês tonto por excelência. Em Portugal temos uma vantagem. Fica tudo concentrado no Algar-ve. O que até nem é mau, porque permite ao resto do país respirar de alívio. Como máximo da sandice há a destacar as Silly Cone White Parties TM, embora o fenómeno também possa acontecer num pavilhão qualquer em Lisboa. As pessoas vestem-se todas de branco e abanam freneticamen-te o silicone ao som do Carlos Paião, da Maria Armanda (a que viu um sapo), dos Xutos (antigos), das Doce ou do “Tarzan Boy”. Também pode acontecer vir um DJ holandês qualquer passar techno chunga e euro-trance.

Depois temos a silly season da rentrée política, que este ano promete ser para lá do nunca visto. Mesmo assim, acho difícil que alguém consiga bater o Chão da La-goa. Mas não vamos falar sobre isso.

O ano termina com a Silly Christmas Week TM, que não é uma semana mas o mês todo de Dezembro. Porém a parte que eu mais gosto é a semana anterior à do Natal, altura em que as pessoas se desdobram em vários jantares de empresa e oferecem prendas (geralmente sex toys) a amigos pseudo-secretos.

Como podem ver por esta pequena amostra, silly seasons é o que não falta. E não é só cá que acontece, no estrangeiro também. Mas no estrangeiro é sempre me-lhor.

Entretanto, e como continuava sem saber o que determina o início da época aturdida, voltei a consultar o Facebook. Uma pessoa tinha gostado da pergunta, outra tinha respondido. É a vantagem de se trabalhar online. “A silly season é quan-do um silly man quiser”, disse o Valdemar. Ora, por mim pode começar já.

aminhamaodireita.blogspot.com

Começou a silly season

Sound Bites por Joaquim A. Rocha

Aviso – o arrazoado que se segue é pou-co católico e não possui qualquer costela criacionista. No princípio era o verbo copular, isto para quem tirou medicina, ou o fazer (amor), se foi com paixão, ou o coitar, se foi por pena, ou o pinar, se foi em pleno Verão, ou o mocar, se foi num Alfa Romeo Spider ou o transar se houve samba envolvido. Mas também poderia ter sido o fornicar, o mi-car, o facturar, o trambicar, o polinizar, o quilhar, o pilar ou o pinocar, as variações são tantas quanto as posições. Palavra convidada – “pinocada”. Meninos e me-ninas, os verbos estão lançados, vamos agora dar os substantivos possíveis. Dizer simplesmente “dar uma” não nomeia, é batota e preguiçoso. “Dar uma trepa” leva-nos por caminhos demasiado verticais e ainda por cima o amor gosta de algemas, não de mosquetões. “Dar uma cambalho-ta” soa demasiado gimno-desportivo. “Dar uma trancada” será seguramente perigo-so para qualquer ponta, especialmente as soltas. “Dar uma foda” é tão brejeiro que só funciona se houver dinheiro ou estiva-dores envolvidos. E, por último, os pobres coitados que quiserem “dar um penacha-do” vão parecer amantes de ornitologia com estranhos desejos inter-espécies. Resta-nos assim, por exibição e exclusão das partes, “dar uma pinocada”, expres-são mais simpática, cómica e amena que as suas congéneres, tão descomplexada e inconsequente como um one-night stand, mais original do que “ir para a cama com” e menos infantil do que um “truca-truca”. Na dúvida, melhor que dizer é insinuar e, se todos os actos tiverem a cobertura certa de romantismo e crème, não será necessá-rio medir as palavras e sim os corpos. Mas de onde vem então esta fecunda pala-vra? Talvez de pino, que entre outras coisas é uma haste de madeira que todos os joga-dores de bowling querem deitar abaixo. Em castelhano pino é “de pé”, em português é pau e acresce ainda que em bom-tom: “é pau, é pedra, é o fim do caminho”. E o fim do caminho é sempre atingir algo, de preferência em uníssono com alguém (coi-to em latim é “ir com”). Existe ainda uma outra teoria, pintada de fresco, que profes-sa: pinocada vem de Pinóquio, o boneco de pau que ganha vida própria, tal como o seu fálico e mentiroso apêndice. Do boneco ao acto, tudo por um nariz. E acrescento ain-da, gratuitamente, que, quando dois cães pinam e não se conseguem separar, a tal infortúnio se chama pina colada. Tudo isto poderá parecer ficcionado e ri-dículo, mas então o que me dizem do ad-vogado do mundo real, Coito Pita de seu nome, madeirense, que um dia decidiu abrir sociedade com um outro advogado? Sabem como se chama o sócio? Tranquada Gomes. Está provado: o absurdo faz todo o sentido, tal como dizer “vamos dar uma pinocada?” E depois dar muito mais.

História das palavras troCada por miúdosPor Bacharel Paiva Boléo

Uma vez que os indicadores tradicionais deixaram de funcionar, a questão que se coloca é: como se determina o início da silly season? será que alguém sabe?

“a silly season é quando um silly man quiser”, disse o valdemar.

tHE ENd,Jim morrisoN, 1967

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rui varGaS & Zé SaLvador

Sábado 11

tiaGo & dJ aL(SLiGht dELay)

Sexta 10

LEonaLdo dE aLMEida & Zé pEdro Moura

Sábado 11

Quem leu o jornal de Junho, terá re-parado que na página três, se antecipa-vam alguns dos convidados deste mês. Ao alto, de lado naquela página, na com-panhia da Magda, do DJ Vibe, das quintas D.I.S.C.O.Texas, da Cama de Casal e do Carl Craig, podia ler-se “Dia 17: Matthew Dear/Audion”. Podemos desde já começar por editar uma errata e informar que, onde se lia “Dia 17: Matthew Dear/Audion”, deveria ler-se: “Dia 17: Matthew Dear/ /Audion/False/Jabberjaw”. Não se pode falar de Matthew Dear esquecendo parte dos seus alter-egos. É necessário conhecer as diferentes cores deste camaleão para lhe dar todo o valor.

Matthew Dear tem desde logo uma característica pouco vulgar nos produtores e DJs de música de dança: é tão aclama-do no meio electrónico dos clubes, como nos palcos onde apresenta essa espécie de electro-pop cinza e romântico do último e muito elogiado disco “Asa Breed”, mais a série de remisturas que lhe sucederam. Só isso justifica que os elogios se esten-dam da imprensa de música de dança, à imprensa mais arty ou tipicamente rock, casos da Wire e da Rolling Stone. “Asa Breed” colocou Matthew Dear numa pon-ta desse território com fronteiras cada vez menos definidas que é a música electróni-ca, ao lado de Louderbach (de Gibby Miller e Troy Pierce, com disco recente editado pela M_nus) e fazendo lembrar nomes como Coil e Death in June, por mais insóli-to que isso possa parecer à primeira vista (ou audição).

Se as edições de Matthew Dear em nome próprio para a Ghostly International podem representar o extremo mais soft da sua produção, no extremo oposto podere-mos encontrar as edições de False para a Plus 8 e para a M_nus. Aqueles que já ti-veram oportunidade de ouvir o CD “2007” sabem que, apesar de a contracapa refe-rir cerca de quinze músicas, na realidade estamos perante uma viagem imparável que eventualmente só tem comparação no “DE9 | Transitions” de Richie Hawtin, em que se torna quase indiferente a possi-bilidade de distinguir cada tema, uma vez que o resultado final é não só mais, mas também diferente do que a soma das suas partes.

Para os mais centrados na pista de dança, será porventura Audion o nome que desperta mais sorrisos. Como Audion, Matthew Dear tem explorado um lado do techno mais cru, maquinal e provocador, clara e exclusivamente electrónico, apre-sentando temas que o consagraram como um nome incontornável na produção dos últimos anos. “The Pong”, “Your Place or Mine”, “Kisses”, ou “Mouth to Mouth” ga-

nharam uma notoriedade pouco vulgar face ao anonimato de tantos temas que ouvimos sem conseguir identificar.

É enquanto Audion que Matthew Dear se apresentará de novo no Lux. Não se trata de uma estreia, nos últimos anos fo-ram várias as vezes que pudemos assistir aos seus lives (quem teve a sorte de estar presente, sabe como esta música só tem a ganhar sendo ouvida ao vivo e num siste-ma de som a sério!), mas também não será apenas mais um live act.

Não estragaremos a surpresa se le-vantarmos um pouco o véu e vos dermos as várias boas razões para todos repetir-mos a experiência e voltarmos a recebê-lo na nossa cabine: O ano de 2009 tem pro-gramada a edição de quatro EPs e de uma série de edições exclusivamente digitais. Ou seja, é garantido que este live não será apenas revisão da matéria dada, mas, mui-to pelo contrário será para quem o ouvir um saborear de músicas inéditas a par de temas que são já clássicos do techno deste milénio.

Como se esta promessa não fos-se, só por si, suficientemente tentadora, o live act será acompanhado de um traba-lho de vídeo desenvolvido propositadamen-te para a tournée em curso por Will Calcutt, Eno Henze e Andreas Fischer. O trabalho gráfico do primeiro tem acompanhado a generalidade das edições de Audion. Se-jam capas de 12’’ e CD (“Suckfish”), seja na ilustração para as edições digitais de “I Am the Car” e “Look at the Moon” (as primeiras duas da tal série de edições pro-gramadas para 2009), reflectindo o tom hipnótico e singular da música de Audion e remetendo para a Op Art de Bridget Riley e Victor Vasarely, reforçando e fechando o círculo de um conceito que não se esgota no som que sai das colunas. O resultado da colaboração entre Matthew Dear enquanto Audion e Will Calcutt, Eno Henze e Andreas Fischer é um espectáculo audiovisual com o nome de “Hecatomb”, que estreou no fim-de-semana do Sónar, em Barcelona. O Lux vai estar assim entre os primeiros clu-bes onde será apresentado “Hecatomb”, estando garantido que, no próximo dia 17, seremos surpreendidos pelos novos sons e pelas imagens inclassificáveis que fazem parte daquele que promete ser um dos live acts incontornáveis deste Verão.

audionSexta 17

aLan braxEQuinta 16

tiaGoQuinta 16

N: 10 Julho 2009 página: 06 N: 10 Julho 2009 página: 07

A importância de ser:

Foi um encontro estranho, porque tecnolo-gicamente assistido, sem verdadeiro cara a cara. Mas, em poucos segundos, trans-formou-se numa conversa entre amigos, comigo como agente provocador. Philipp, em Berlim, tinha acabado de almoçar (pei-xe, estava bom, disse) com Patrick Bodmer, o outro M.A.N.D.Y., e DJ T e preparava-se para um dia normal no escritório da Get Physical, entre demos, papéis e estratégias para o futuro. Rui Vargas também estava no início de um dia de trabalho, tinha de pre-parar o programa e de fazer as coisas que os DJs (de pista e de rádio) fazem. O tem-po era pouco, as perguntas telegráficas. A conversa foi pelo telefone, mas não houve barreiras de comunicação, Rui e Philipp conhecem-se bem, são amigos, partilham gostos, experiências, fazem piadas. Têm uma óbvia cumplicidade. Vê-los num back to back é mais do que uma oportunidade para uma grande noite, é quase partilhar a intimidade e amizade que desenvolveram a partir dos discos, mas para além deles. Vai ser uma noite para recordar.

Como se conheceram?Philipp – Acho que foi há uns anos quan-do tocámos no Lux pela primeira vez. Deve ter sido há uns 4 anos e foi amor à primeira vista.Rui – (voz rouca) Na verdade acho que foi numa tarde quente, o sol brilhava, soprava um vento quente de oeste e tu... entraste no estúdio! (risos) Conhecemo-nos no es-túdio da Oxigénio no tempo do “Lux Sagres FM”. Nesse momento a minha vida mudou. (risos)

Descobriram logo que tinham coisas em comum para além da música?P – Acho que sim e isso desenvolveu-se nos almoços e jantares em que falamos so-bre a vida e as mulheres e... a vida. Acho que essa é uma base muito melhor para uma amizade do que falar apenas de músi-ca, até porque gostamos de passar tempo juntos fora dos clubes. Mas também gosta-mos de mostrar discos um ao outro, claro.R – Somos uns ordinary joes.

Três coisas que definem o Rui Vargas?P – Hum...R – É aqui que eu saio.

Nada disso, depois dirás três coisas so-bre o Philipp.P – ... É bonito...R – Espera, tu dizes uma e eu digo outra!

Ok.P – O Rui é bonito.R – O Philipp é apaixonado.P – Fuck, eu queria dizer isso... Tem muito bom gosto. Nota-se no apartamento e na comida que pede quando jantamos fora.R– (risos) O Philipp é um dos gajos mais divertidos que eu conheço. Tem um senti-do de humor incrível.

E por último...P – O Rui aguenta bem a festa. Tem muita resistência.R – Posso dizer o mesmo de ti! (risos)

Isso quer dizer que vai ser uma noite para recordar?P – É sempre! Estou sempre ansioso e com um pouco de medo.

Há razões para isso?R – Nada. Quer dizer, eu sinto o mesmo, nunca sabemos o que vai acontecer...

Esta pergunta não estava nos planos, mas de repente parece fazer sentido. De que signo são?P – Sagitário.R – Virgem.

Acho que combinam. Soa a noite para recordar. Que disco têm a certeza que o outro vai passar e com que disco vão responder-lhe?R – O Philipp vai passar o “Lets Gets Phy-sical” da Olivia Newton John.P – hummmm...R – E eu vou responder com o “Fame” da Irene Cara... (risos)P – Se tu passares a Irene Cara eu passo o “Flashdance”! (gargalhadas)

Se em vez de um DJ set esta noite fosse um jogo, seria um jogo de quê? Futebol, playstation...?R – Eu diria de luta na lama.P – (gargalhada) Que pervertido! Humm, não sei se concordo com esta... deixa ver... talvez... talvez sim... sim! (gargalhadas) Cla-ro! Podemos fazê-lo lá em cima no terraço, num pequeno interlúdio entre pôr discos!

E qual seria a banda sonora perfeita para isso?P – “Highway to Hell” dos AC/DC (risos) ou “Stairway to Heaven” dos Led Zeppelin. Depende de quem ganhar.R – Perfeito! (risos)

Há alguma coisa que cobicem um no ou-tro... material ou espiritual... Discos, a cidade em que vivem...P – Por acaso ainda não conheço bem a colecção de discos do Rui, porque temos aproveitado sempre para fazer e falar de outras coisas além de música. Se calhar é uma coisa que podemos fazer desta vez... (silêncio) Com esta conversa as pessoas vão pensar que somos gay (gargalhadas)R – Isso seria o fim da tua reputação como Last International Playboy! (gargalhadas)

P – Quero lá saber!

Rui, e tu? A cidade, o carro...?R – Por acaso, não sei se tens carro...P – Tenho! Acabei de comprar um Chevy de 1965!R – Uau! Eu cobiço isso! (risos)

Qual seria o teu carro de sonho, Rui?R - Um Mustang ou um Porsche BoxsterP – Pois, um Porsche de menina... (garga-lhadas)

Num mundo paralelo, como se imagi-nam um ao outro?P – Humm... o Rui talvez fosse o Hugh Hefner? (gargalhadas) A sério, ele é um ca-valheiro, tenta levar as coisas calmamente e ter uma vida boa...R – Eu imagino o Philipp como D’Artagnan. (gargalhadas)

O que seriam se não fossem DJs?P – Não sei... quando era puto gostava muito de desporto, por isso talvez fizesse qualquer coisa nessa área ou então traba-lharia com música, trabalhei em editoras durante muito tempo. Talvez não produzis-se ou fosse DJ, mas vejo-me a trabalhar do outro lado, de quem edita discos.R – Eu imagino-me sempre a trabalhar com música, mas nunca do lado da indús-tria ou de quem faz música. Sinto-me mais confortável como fã e acho que, mesmo num mundo paralelo, trabalharia com mú-sica e gostaria de a mostrar aos outros.

Um história especial que tenham parti-lhado?P – Há muitas!R – A próxima!P – Sim, a próxima será a melhor!

Um disco que andem a passar muito?P – “D.I.S.” de DJ TR – “Caedmon Loop”, Anthea & Celler

Entre amigosIsilda Sanches

Philipp Jung é metade de M.A.N.D.Y.. Rui Vargas é dos nossos, confiamos nele como em ninguém. Partilham o gosto pela música e por nos fazer dançar mas também são amigos. Juntos, na Cama de Casal prometem uma noite inesquecível

Há 3 coisas que associo a Carl Craig sem ter de pensar em techno: o drum’n’bass, porque quando a cena começou se dizia que o “Bug In the Bassbin” (1992) tocado a 45 rotações era a faixa perfeita de jungle; O ter tocado o “Crazy In Love” da Beyoncé quando veio ao Lux no Verão de 2003 e o entusiasmo de Yen Sung a contar a história; Os LCD Soundsystem a tocar o “Throw” de Paperclip People ao vivo, com o James Murphy em transe a tocar percussão. Muitas outras coisas podem ser ditas sobre um dos produtores mais importantes do techno de Detroit, mas estas dão uma ideia da importância de Carl Craig para lá desse universo. E se tocar o “Crazy in Love” no ano em que saiu não parecer nada de especial, pense-se em quantos estariam à espera de ver um produtor e DJ associado à música de dança mais esclarecida ceder à tentação fácil da canção pop. Mas, hei!, este homem é capaz de remisturar Cesária Évora, Goldfrapp, Delia Gonzalez & Gavin Russom ou Junior Boys e soar sempre incrível. Surpreender está na sua natureza, por isso ninguém realmente estranha nada vindo dele, nem o facto de remisturar compositores clássicos como Ravel e Mussorgksy. “Recomposed”, a operação de reconstrução levada a cabo com Moritz Von Oswald sob a chancela da respeitável Deutsche Grammophon é a mais recente prova de ousadia e iluminação estética de C2. Afinal, quem se atreve a mexer no “Bolero” de Ravel?

Agora o techno. A importância de Carl Craig não é espartilhada por rótulos nem pelas fronteiras de uma cidade, mas ele é um dos grandes de Detroit, a cidade da Motown e dos automóveis, que a santíssima trindade Juan Atkins, Derrick May, Kevin Saunderson transformou em sede do techno na primeira metade dos anos 80. Os pioneiros do techno, com quem Craig aprendeu as bases, eram visionários, influenciados em igual medida pelos Kraftwerk, por Alvin Toffler e pelos comics e séries de televisão futuristas tipo “Star Trek”. A inspiração perfeita para criar a banda sonora do futuro, um imaginário que esticava a cronologia até ao ponto em que se tornava credível viajar no espaço-tempo ou entrar em simbiose homem-máquina. E na pista de dança, com a propulsão robótica a sacudir corpo e cabeça, podia--se de facto viajar no espaço-tempo e tudo o resto, até mesmo um humano julgar-se máquina.

Aparentemente C2 foi “apanhado” pela onda techno no início da adolescência, via rádio, quando ouviu os primeiros discos de Cybotron, ou Juan Atkins. Mas são várias as entrevistas em que confessa ter-se convertido à electrónica através de discos como “PopCorn” (o disco das pipocas, lembram-se? Instrumental electrónico de 1972, um dos hits mais improváveis da década de 70) ou “Switched on Bach”

(um disco de Walter-mais-tarde-Wendy- -Carlos lançado em 1968 com versões de Bach tocadas em sintetizador Moog, outro ovni completo que foi um enorme sucesso comercial). Estas foram as raízes. Pelo meio, e antes de chegarmos ao momento actual em que Carl Craig faz parte da aristocracia musical, para não dizer da realeza (foi nomeado para um Grammy, não ganhou mas isso até lhe fica bem), também houve a influência do electro funk, de George Clinton e de Prince, dos B-52’s, dos Cure, dos Art Of Noise e a preparação académica na área da electrónica, com teoria e tudo. Isto e ainda o interesse pelas particularidades do som e das máquinas, o génio, a técnica e o carisma e tudo se explica.

Aos 40 anos, C2 é um dos DJs e produtores mais respeitados da música de dança, tem um crédito enorme no universo do jazz, dirige a Planet E, programou e programa festivais de música electrónica e, basicamente, é admirado e respeitado por todos, porque é bom e merece.

Pertence a um grupo restrito de estetas aventureiros cuja visão persiste como motor de uma música de dança cerebral e emotiva, física e espiritual que satisfaz o corpo, alimenta o sonho e pode ser até pretexto para conversas eventualmente eruditas, românticas ou económicas sobre o techno e sobre Detroit, o seu passado, presente e futuro, mas sem nunca deixar de ser todas as outras coisas que não se pensam nem teorizam, mas que se podem sentir intensamente numa pista de dança.

Carl Craig é uma figura mítica, é um privilégio vê-lo tocar.

(Investiguem ainda Paperclip People, 69, Innerzone Orchestra, tudo peças do mesmo puzzle e ouçam “Sessions”, o disco duplo que assinou o ano passado para a Studio K7. Um manifesto com o essencial do que faz com que Carl Craig seja GRANDE!).

É um dos históricos do techno mas a sua marca estende-se muito para lá dele. Carl Craig, C2, volta ao Lux para mostrar de onde vem tanta admiração e respeito.

Carl Craig Isilda SanchesMatthew Dear PeterMan

A música electrónica de dança não tem parado de mudar. Essa mudança decorre de alterações nos rumos estéticos e nos géneros, reflecte a simbiose com a brutal e imparável evolução tecnológica, abraça outras artes e pretende cada vez mais encenar-se em palco como um espectáculo completo. Mathew Dear/Audion e Will Calcutt trazem “Hecatomb” ao Lux.

phiLipp JunG (M.a.n.d.y.)

& Rui Vargas

Sexta 24

CarL CraiGSexta 31

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MatthEw dEar (audion)

Sexta 17

yEn SunGSexta 17

roCkEtQuinta 16

xinobiQuinta 16

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um livro e ela queria muito ver; outros não se calavam com os Orbital. Zé Miguel, des-cansado com o soninho da tarde, queria ver tudo. Tinha sede. Na falta de cerveja, bebeu da garrafa que a Adriana trazia à cin-ta, “Ai! Não bebas tudo, Zé Miguel!!” Foi andando atrás das manas suas anfi- triãs. Era um longo caminho até à Fever Ray. Pelo meio, começou a sentir um calor interno e os músculos a relaxar. Bocejou.— Ahahah! Estás outra vez com sono? Isso não é sono, não! Ahahahah!Zé Miguel riu muito. Tinha mesmo muita vontade de rir. Sentia uns cúmulos de fe-licidade alternados com uma calma que o deixava absorto, de olhar perdido. — Anda! Vai começar!Tum tum tum tum tum When I grow up, I want to be a forester Tum tum tum tum tum Run through the moss on high heels That’s what I’ll do, throwing out boome-rang Tum tum tum tum tum Waiting for it to come back to me Tum tum tum tum tumA Fever Ray era gira. Zé Miguel foi andando até se aproximar do palco. Passou pela Tâ-nia, mas não conseguiu percebê-la – a voz e a cara confundiam-se com a da cantora. Perdeu a noção do tempo e do espaço. A certa altura, deu consigo noutra sala, enorme, onde lhe parecia que já tinha es-tado. Perguntou para o lado, em português, quem estava a tocar. “Una leyenda: Orbi-tal!!! Mira las pantallas!” Olhou os ecrãs, esquecido de dançar. Acendeu um cigarro. O sabor acre e agradável, o fumo lento fize-ram-no descer à terra. Julgou ver a Carina e o Kaló na zona do bar, muito abraçados. Gostou do que viu. Resolveu ir ver o que se passava nas outras salas. Precisava de ar livre, de céu por cima de si. Após o que lhe pareceu uma viagem infin-dável, chegou à sala do fundo. Amanhecia. As caras tornavam-se mais nítidas. A mul-tidão ululava ao som de Carl Craig. Apete-ceu-lhe finalmente o sabor da cerveja. Fu-rou até ao bar, agora com um passo mais decidido, como se tivesse acordado de um sonho. Mas a luz da aurora provocou-lhe um refluxo. E começou a ouvir um acorde de órgão familiar, de uma música antiga que a mãe tinha lá em casa, We skipped a light fandango Turned cartwheels across the floor I was feeling kind of seasick, But the crowd called out for more. Voltou-se para o palco, à espera de ver os Procol Harum. Eram mesmo eles! A música fala-va do moleiro que contava a sua história, e do quarto que zumbia enquanto o tecto fugia, e das dezasseis virgens vestais que partiam para a costa. Eram mesmo eles!!

Fim

sindicato.biz/o_outro

Capítulo IX

“illusion is the first of all pleasures.”

— Então, onde é que se meteram? Já estou na porta 10!— Mas, ó Zé Miguel, ainda faltam duas ho-ras, man, vou sair agora de casa!— Ainda estás em casa?! Olha que perde-mos o avião!— Espera aí no bar, vai bebendo uma cer-vejinha...Zé Miguel desligou, descontente com a de-mora do Pedro e da Adriana. Conformado, e com medo de parecer parolo (nunca ti-nha apanhado um avião), dirigiu-se ao bar próximo. A meio da segunda imperial, ou-viu um sotaque brasileiro:— Oi minino!!! Que é que cê está fazendo aqui? Zé Miguel, não é mesmo?A um primeiro olhar, não reconheceu a cara sorridente e tumefacta que se chega-va a ele. Sim, era mesmo ela! A Suely do Finalmente! Sorriu-lhe, um tanto emba-raçado de a encontrar ali, de dia, com as maçãs do rosto a rebentar, de inchadas, e as longas pernas metidas nuns leggings de licra preta, muito discreta. — Olá. Vou para Barcelona, para o Sónar. Sabes, o festival...— Cê vai em Barcelona? Então vamos junto! Ai minino, cê sabe que eu agora vou tentar minha sorte em Barcelona! Aqui já não tava dando não. Tenho uma amiga lá, a Rancia de Jordânia... ela me propôs fazer um showzinho na Discoteca Metro. Cê conhe-ce? Todo o mundo conhece! É super-chi-que! E estão precisando lá de uma Cármen Miranda! O Tico-Tico tá Tá outra vez aqui O Tico-Tico tá comendo meu fubá O Tico-Tico tem, tem que se alimentar Que vá comer umas minhocas no pomar! Ahahahah, vai ser a maior gozação! Cê tem de ir ver, mi-nino, vai amar! Estupefacto, Zé Miguel olhava para ela, a fazer passos de dança miúdos em frente dele, enquanto cantava. O barman, que era brasileiro, piscava-lhe o olho e batia o ritmo com o shaker. — Eh lá! Isto parece o Morocco Club! – Era a Adriana que chegava, curiosa e de olho brilhante.Quando finalmente se apeou do autocarro na Praça da Catalunha e desceu as Ram-blas, Zé Miguel ainda cantarolava O Tico-Ti-co ti O Tico-Tico tá, sob o olhar enternecido da Adriana, que tinha feito amizade instan-tânea com a Suely no avião – “Ai, esta tua amiga é o máximo! Onde se conheceram? Zé Miguel, tu és uma fonte de surpresas!...” Zé Miguel ficou contente.

Barcelona, segundo dia:Comprei um moleskine. A Adriana disse para eu fazer uma espécie de caderno de viagem, e ir escrevendo o que se pas-sasse. Ela disse que era provável que me esquecesse do que ia viver, e também que eu fizesse sempre um esforço para ir re-gistando.

Barcelona, terceiro dia:Hoje fomos à Fundação Miró ver uma expo-sição sobre arte e poesia, dum gajo qual-quer misturado com o Miró. Depois des-cemos pelas escadas rolantes até à Praça de Espanha. Ao fim da tarde, fomos beber cervejinhas à esplanada do Born (acho que é assim que se escreve). Esta cidade é bru-tal! Agora estou a escrever sentado numa mesa dum bar arte-nova ao pé das Ram-blas, o London Bar. É só cromos à minha volta! Parece que o Pedro quer ir ao Moog, que é mesmo aqui ao lado. Dizem que é um clássico! Lá vamos! Amanhã começa o Sónar! Já fomos buscar os bilhetes!

Barcelona, quarto dia:Isto excede as minhas mais loucas expec-tativas! Gostei de tudo!!! Vamos lá a ver se consigo escrever isto na forma que a Adria-na me aconselhou:1. Almoço no Quim de la Boqueria, no mer-cado a meio das Ramblas. A Adriana é que encomendava e tratava de tudo – aquela mulher sabe muito!2. Demos uma volta pelo Raval, fomos à livraria da Adriana e a uma outra onde o Pedro nos levou, só de design! Até fiquei outra vez com vontade de ser designer! 3. Mal entrei no Sónar, passou-me logo a vontade! Que ambiente! Que gente linda! E todos tão simpáticos! Aquela sensação de estar ali à entrada, com o baixo a bombar ao longe, à nossa espera! E o live do Luomo à tarde no palco principal! Uau! Acabei por me perder da Adriana e do Pe-dro uma grande parte da tarde, mas vol-távamos sempre a encontrar-nos. E eu na maior! Eles andavam um bocado fora (não sei o que tinham andado a tomar...), mas eu não me perdi. Apanhei uma grande moca com uma coisa líquida que a Adriana me deu, e dancei descalço no Sónar Dôme. Conheci umas bifas de Brighton muito fi-xes. Não conhecia ninguém que estava a tocar, mas era tudo muito bom. Tinha o folheto com a programação, mas não con-seguia focar! Amanhã vou tentar ser mais atento. A Adriana diz que o que eu gostei foi de um tal Mulatu Astatke, da Etiópia. E vi o Nuno Paz, com o Nexter! Não saíam do Sónar Village, a mamarem tudo duma editora chamada Ghostly International! Mas aquilo era muito melancólico, o Sónar Dôme é que estava bom! Hoje à noite há James Holden no Loft, mas é preciso pagar e já vi no Lux. Vou ficar a descansar, que

amanhã é todo o dia. Fartei-me de andar, perdi-me e não conseguia dar com a casa da Catarina! Perguntei a uns polícias, mas eles não falavam inglês. Andei três horas às voltas, numas ruas cheias de árabes e putas, e sem saldo no telemóvel! Acho que foi por ali que prenderam uns gajos da Al--Qaeda... E de repente estava mesmo aqui ao lado! Foi cá um alívio! Bem me dizia o Pedro para eu comprar um mapa.

Barcelona, quinto dia:São 10 horas da noite, e estou num restau-rante no Raval à espera do poeta. Está cá numas conferências de poesia, e combiná-mos ir ver a Grace Jones juntos – já desde aquela noite no Lux... Hoje consegui perceber melhor o que an-dava a ouvir. Quase não saí do Village, que é o palco maior ao ar livre. Está-se lá tão bem sentado na relva a beber cervejas! São um bocado caras. E bebem-se muitas, com este calor! Comprei um leque, um abanico, como eles dizem. Cá os homens também usam. Comecei por ir ao Dôme. Estavam os Muhsinah, uns ingleses em concerto a to-car soul. E não é que dou de caras com a Carina!!! Eu nem queria acreditar! Depois de tudo o que lhe disse em Lisboa! Lá es-tava com a amiguinha a dançar o soul e a abanar o rabinho. Disse que lhe ia buscar umas cervejas e pirei-me. Livra! Com isto, não voltei ao Dôme.No Village, era o showcase da BBC Radio. Bem, vi uma banda inglesa fantástica, os La Roux, com uma miúda linda a cantar estilo anos 80! A seguir, foi Bass Clef, que é dubstep com metais. A ver se vou conse-guindo apontar estes nomes, para depois poder dizer ao pessoal lá em Lisboa... Mas é muito difícil, porque é tudo tão frenético, e tanta coisa a acontecer ao mesmo tem-po! A certa altura, apareceram o Nuno Paz e o Nexter que iam ver o Micachu and The Shapes. Fui com eles para uma cave que eu nem tinha ainda dado conta que existia! Hoje à noite é o James Murphy! E o Buraka! E o Erol Alkan! Conheço mais gente na pro-gramação da noite.

Barcelona, sexto dia: Acabei de acordar e ainda estou com as pernas a doer, de tanto dançar e andar. Aquilo, à noite, é tudo enorme! Mas é a maior loucura! Está tudo completamente fora, e a divertirem-se que nem danados! E os espanhóis são loucos! Fartei-me de falar com desconhecidos, todos com uma gran-de onda e simpáticos. Os catalães adoram os portugueses! Encontrei um galego na casa de banho que era fã do Zeca Afonso! E agora tinha descoberto a electrónica! Eu já não tenho bem a noção do que vi pri-meiro e depois, e a que horas foi. Sei que a Grace Jones deu um espectáculo extra-ordinário. O poeta embasbacava para ela, de língua de fora, e ia dizendo que ela está um bocado diferente. Aquele poeta não tem cura: só queria ouvir o “Libertango”, e falar-me do Piazzolla e de Buenos Aires! No meio daquela multidão, vi a cabeça da Suely, lá mais à frente. Devia estar com as amigas travestis espanholas, se calhar a preparar um número Grace Jones... O James Murphy, como de costume, ar-rasou. É claro que fui ver os Buraka! Dei-xaram o público doido. Um espanhol, que dançava furiosamente ao meu lado disse-

me que estavam todos “de patas arriba!!!”, e que os Buraka davam “ganas de bailar!” Fiquei orgulhoso, disse-lhe que era portu-guês. Deu-me um beijo. Às cinco da manhã, fui ver o Agoria. Tinha combinado com a Tânia. Ela afinal veio, e o Bernardo foi para o Fusion e chatearam--se por causa disso. Encontrei-a ao pé do bar, com a Jimmy. Estavam as duas des-lumbrantes, devia ser por estarem sem os homens. Fizeram-me uma grande festa e deram-me a beber duma garrafa de água que sabia pessimamente. Fomos lá para a frente. Mas aquilo depois complicou-se. Não sei se foi da moca, se do cheiro dos cabelos ruivos dela, comecei a sentir-me muito próximo e muito cúmplice com ela. A certa altura, já estávamos aos linguados – e sabiam tão bem! A Jimmy, ao lado a dançar, ria. Se pudesse, também lhe tinha dado uns beijos... elas pareciam tão dispo-níveis. O problema foi que, quando voltei da casa de banho (que era longe como a merda), elas já não estavam no mesmo sí-tio. Ou então fui eu que não consegui atinar com o sítio onde tínhamos estado. Aquilo é tão grande! Bem, tive de voltar sozinho, no autocarro, em pé toda a viagem, com uma data de bifes a praguejar e a cair para cima de mim. Agora estamos à espera da Adria-na e do Pedro para irmos outra vez para lá, todos, com a Catarina e Luísa. Eu precisava de dormir mais um bocadito, mas pronto. Zé Miguel fechou o moleskine, zonzo do es-forço da escrita, e intimidado pela entrada da Adriana na sala. — Então, chavalo, esse diário de viagem, está a fluir?— Ai, Adriana, isto de escrever dá muito trabalho! — Pois, é para veres! Pensas que é a mes-ma coisa que pôr discos? Lá foram, arrastando-se pelas ruazinhas do Raval até começarem a ouvir a batida. Zé Miguel começava a sentir-se um barcelo-nês – já tomava a dianteira e indicava o ca-minho e falava espanhol no café (“un café suelo, por favor!”), todo ufano e à vontade, sentindo-se em casa, planeando muito abs-tractamente instalar-se naquela cidade:Eh pá! E agora como é que eu vou voltar para Lisboa? Fixe, fixe, era vir viver para aqui! Mas como? Estudar som? E a minha mãe, como é que eu a convenço? E o pai, o pai? Fuck... fuck. Tenho a impressão de que a Adriana me surripiou o moleskine... quando eu fui à cozinha fazer café, e vol-tei, já não estava lá em cima da mesa... deve querer ler o que eu escrevi... e utili-zar na crónica dela para o jornal do Lux?! Eheheheh.... Vaguearam pelo recinto durante o resto da tarde. Zé Miguel descobriu um cantinho na relva sintética, onde várias pessoas dormi-tavam, dispostas em tetris. Deitou-se tam-bém, e passou pelas brasas, embalado pelo som do showcase da Ed Banger. Acordou com os suaves pontapés do Nuno Paz:— Então vieste para aqui dormir?! És mes-mo totó! Vamos, puto! Está na hora de ir para a Fira ver os Animal Collective!Estava a começar o concerto quando o já extenso grupo de portugueses chegou. O Nuno Paz era amigo do Panda Bear, que vivia em Lisboa, e eles sentiam-se quase como se fossem aplaudir portugueses. Mas o grupo desagregou-se ao fim de meia hora: uns queriam a Fever Ray; a Adriana falava de um Rob da Bank que tinha escrito

Capítulo anterior: Após várias investidas da Carina, Zé Miguel tem uma recaída e volta a dormir com ela. / Continua a dar-se com a Adriana e o Pedro, com quem planeia ir ao Sónar, em Barcelona. / Mas não é o único: a Tânia, a Carina e a amiga, o Nuno Paz e o poeta, cada um por si, tencionam ir ao Sónar. / Depois de uma noite no Lux, reencontra o poeta na varanda. (o capítulo anterior pode ser lido em blog.luxfragil.com)

O OutroFolhetim de Maria Antónia Oliveira & António Néu

www.lUxFraGil.Com

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Zé pEdro MouraSexta 17

rui varGaSSábado 18

pinkboy &pan SorbE

Quinta 23

phiLipp JunG (M.a.n.d.y.) & rui varGaS

Sexta 24

N: 10 Julho 2009 página: 10 N: 10 Julho 2009 página: 11

Os homens são de curta memória, e às vezes tanto melhor para eles. Mas os deuses não. O Oráculo deixa-te aqui uma versão da História dos teus últi-mos meses, com uns pozinhos para o futuro. Para além do habitual Signo Solar, lê também os do teu Ascendente e, se possível, da tua Lua, e depois faz a sín-tese. Assim terás um filme mais com-pleto, porque se leres só o teu Signo talvez não te espelhe assim tanto. Po-des saber estes dados astrológicos em www.astro.com, e depois volta cá. Re-cebe a tua história com um espírito aberto, e vais ver que és o teu próprio motivo de inspiração! E agora, continuemos viagem. Hasta siempre, porque a vida é mesmo para diante.1680 = 16+08 Ø = 24+ Ø = 02+04+ Ø = 06 + ØDesde que este jornal nasceu muito aconteceu no mundo. Mas isso não te interessa muito, pois não? Sê honesto, em 99% do tempo o que interessa mes-mo é a tua vida. E está certo. É sobre ela que podes agir e assim influenciar o curso das coisas. Não há mais nada a fazer. Para além da famigerada crise, eu, o Oráculo, defino estes 11 meses – ou seja, desde que existo para ti – como um tempo em que soou a palavra de or-dem: “Foca-te em estar bem, come rain or come shine.” E é para continuar... a mensagem, claro, a tal da crise não desculpa nada, quando muito intensifica a importância desta chave existencial. Já os antigos chineses diziam: “Está sol, que bom, está chuva, que bom”. Falo do poder da Apreciação, que não tem nada que ver com conformismo. Toda a gente sabe que atrai o que teme e o que ama. Com a luta, o cepticismo, a hipercrítica e a má onda atrai o que não gosta, com a apreciação, o empenho, o entusiasmo e a boa onda atrai o que gosta. Pois, não sugiro que aprecies o que não gos-tas, mas sim que desvies o foco para o que valorizas. É verdade que para algumas pessoas tem havido matéria difícil a trabalhar,

situações que fazem desejar mudar de filme... o que, na verdade, também pode ser bom. Quer dizer, realizando o que não queres, descobres o que queres, e desejas isso com muita intensidade, não é? Depois, é “só” concentrares-te nisso mesmo, e não na revolta ou medo face ao que te agride ou desagrada. Mas isto só é válido para o que depende de ti, nada de querer mudar os outros. Ah, e é importante não dar ouvidos à “rea-lidade” que nos contam por aí, a vida tem mil versões, e tu podes escolher a tua, não é crime. Os outros até podem não gostar, mas isso será o filme deles, certo? É melhor assumir a nossa vida do que ir na manada, acredita... Talvez no futuro nos cruzemos e te possa dar mais umas dicas que facilitem tudo isto...Portanto, assume que és capaz de atrair o que queres, e trabalha para isso. Con-fia na tua intuição e age em conformi-dade. Cabe-te só seleccionar as emo-ções e os pensamentos que escolhes alimentar, dia a dia, hora a hora, minuto a minuto, para todo o sempre. Ah, e cla-ro que a fé ajuda muito, e mesmo que seja só uma fezada, acreditar faz mi-lagres. That’s all. E assim vais criando a tua versão do paraíso... Because life is supposed to be fun : ). Bem hajas.

a História dE CarNEiro21 Março a 20 Abril

02+09+20+20+21+06+07+17+18+18+21 = 159 = 15+9 = 24 = 2+4 = 06

Quando se conta a história de uma lenda, todos os dramas se transfor-mam em aventuras. As peripécias pelo mundo fora, os amores e desamores, os conflitos e as vitórias, enfim, todo o filme do herói é contado através de um filtro de... Apreciação, lá está. Por-que se ele não se tivesse exposto à vida, não haveria nada para contar. Esse he-rói és tu, e diz lá que não foi um ciclo e peras! Pois o meu desejo é que tenhas feito um balanço, renovado atitudes e objectivos, e assumido novas esco-lhas, especialmente no que toca a afec-tos, prazeres e talentos. Não porque não sejas desde sempre um herói de

valor, mas porque estes últimos tempos propunham uma certa... actualização, para ser soft. Portanto, gostava de sa-ber que estás com relações gratifican-tes ou então só e bem acompanhado, que vives num ambiente porreiro, que trabalhas no que gostas, e que a tua energia Fogo é aplicada num entusias-mo continuado e construtivo e não des-perdiçada em zangas e reactividades tontas. E ainda, suponho que já estejas a tratar do teu novo projecto de vida, that’s good, daqui a uns tempos terás mais uma odisseia para contar, e será magnânima nas suas descobertas. Por ora, e talvez ainda defronte de algumas encruzilhadas, escolhe a cada instante o que sentes ser o melhor para ti, dis-põe-te a aprender algo de novo, deixa que as ideias tomem forma, e trabalha intensamente, mas de uma forma dis-creta. Ah, e não te esqueças de sorrir todos os dias com a visão do teu mun-do novo.

a História dE toUro21 Abril a 20 Maio

21+19+17+08+11+07+10+03+11+11+17 = 135 = 13+5 = 18

É caso para dizer: Vou contar a história da deusa de quatro patas com uma estrela na testa. Digo “deusa” porque todo este tempo girou à volta de uma certa energia feminina. Até quando tiveste de fazer face a um ou outro imprevisto, o fizeste como uma inteligência Yang, mas com uma sensi-bilidade Yin. Até quando uma potencial fricçãozita se apresentou a soubeste resolver a bem, gerindo pontes de en-tendimento. É verdade que às vezes precisaste de meter a mão na massa e arrumar a casa, quem sabe até mudar de casa, ou mudar a casa de sítio, ou reforçar os pilares da casa – whatever, you know what I mean – mas tudo isto se passou tão bem, tão com q.b. de ins-piração e com “os tomates tão no sítio” para uma deusa! Existe muita beleza, força e maturidade nesta tua história recente, podes estar orgulhosa do que fizeste, sentiste e criaste. A não ser que te tenhas teimosamente quedado no mesmo sítio... mas não acredito : ). Portanto, aqui vai um novo desafio, que na verdade é a mensagem deste mês mas que dura por muito teeeemmmm-pppppooooo: está na hora de assumir o teu power e conquistar o mundo. Se-guramente e a quatro patas, sensual-mente como sempre, Olimpo com ela! E mais não digo.

a História dE GÉmEos21 Maio a 20 Junho

03+19+06+22+03+16+20+22+18+01+04 = 134 = 13+4 = 17

Penso na imagem da tua história recente, e só vejo mesmo é um par de asas douradas, tipo a versão amplifica-da das asas nos pés do deus Mercúrio! Eia, que vertigem! Felizmente tiveste a orientação da tua boa Estrela durante este tempo todo, porque foi cá uma volta! Eram só ideias a voar, amarras a largar, projectos a criar, riscos a as-sumir, escolhas a fazer, enfim, tudo! Ok, e também tiveste umas coisas a limpar, mas pronto, até reagiste com

coragem e determinação. Os teus fa-mosos voos picados-planados-rasantes estiveram na ordem do dia, e saíste-te bem! Agora, talvez estejas a ler isto e a pensar: “hã? hum, foi? não me lembro... ah, não foi assim tanto... ou então não dei por isso...”. Pois é, sei que falo com um ser mais veloz que o vento, mas acredita que é verdade, viveste voos gloriosos, e faz bem à alma lembrá-los, dá consistência, e és mais bonito como águia do que como borboleta tonta : ). Avizinha--se, também para ti, um novo projecto de vida... será? Ok, então vai por mim: Vira introspectivo este mês e deixa que ele se desenvolva por den-tro, trabalha nisso, dá tempo a ti mes-mo para o descobrires no teu íntimo, para que se revele a melhor forma de o pores em prática... Põe a tua águia a trabalhar, usa a inteligência, espera pelas instruções do teu ser interior, e intui a melhor forma de projectar mais um voo magistral.

a História dE CaraNGUEJo21 Junho a 21 Julho

04+22+22+20+21+08+11+16+20+10+22 = 176 = 17+6 = 23 = 2+3 = 05

Deals, deals, deals! Tivemos mui-tas coisas a tratar, muita roda a girar, não foi? E então, qual é a imagem que fica desta tua história? A da avestruz ou a da crisálida? Estou a brincar, claro que deve ser a da crisálida. Ao longo de todo este tempo, três vezes te disse: “Descondiciona-te do passado, descon-diciona-te do passado, descondiciona-te do passado”. Fizeste-o? Sei que sim, ou pelo menos estás bem lançado, por-que te vejo com umas bases bem mais sólidas, e com maior estabilidade emo-cional, right? É bom, esse era um dos desafios. As relações com as mulheres também estiveram muito presentes, ah, as damas!, às vezes dão água pela bar-ba, né? Mas também descobriste que podem ser as tuas maiores cúmplices, desde que ninguém se arme em filho, filha, mãe ou pai um do outro, certo? Dependências é que não dá mesmo, verdade? Então estamos bem. E ainda havia o abrir mão de coisas ou pes- soas que estavam de pedra e cal na tua vida, mas que já não te correspondiam assim tanto, não era? Quase te consi-go ver a ir buscar coragem sabe-se lá onde e a tomares esta ou aquela atitu-de nesse sentido! E estás de parabéns, não era fácil... mas já passou! Portanto, considerando que este teu filme épico de maturidade e desprendimento está terminado, passa agora à próxima fase: Usa a tua nova estrutura e trabalha no que quiseres, de preferência projectos conjuntos, mas inspirados por ti. É que parece que o teu novo desafio é ser lí-der mas estabelecendo acordos, laços e uniões com os que te rodeiam. Afinal, és o “afectivo” do Zodíaco, e a bem di-zer, com muita honra!

a História dE lEÃo22 Julho a 22 Agosto

14+07+22+13+20+16+11+07+21+17+21 = 169 = 16+9 = 25 = 2+5 = 07

Sabes aquelas histórias dos reinos mágicos, que duram eternidades? Que coisa, até faz confusão, parece que en-

goliram a poção do sucesso, chega a ser irritante! Pois palavras para quê? Eu sei que os teus ciclos de vida não são sempre assim, mas a tua história neste período em que te acompanho parece feita de propósito para dizer ao mundo: Olhai, eu sou feliz, magnânimo, e abençoado! Ok, também há a versão dos Leões mais discretos, mas que nem por isso tiveram um período pior. Vá lá, sei que até gostas de um pouco de dra-matismo, mas admite que és o último a poder queixar-se do que quer que seja. E é bom mostrares isso ao mundo, é uma forma de inspirares os outros, des-de que não o faças com soberba. Claro que também tiveste umas coisitas a re-solver, ora bolas, mas está tudo bem, não é? É que não tenho mesmo muito mais para te dizer... Dá graças por esta fase maravilhosa, que aliás encerra o fim de um ciclo e o início de um novo, e... Nada a temer porque... Bom, para este mês sai-te a lâmina de Tarot cha-mada Temperança... queres o quê? Eh pá, vai de férias!

a História dE virGEm23 Agosto a 22 Setembro

10+05+02+19+14+22+04+02+19+17+03 = 117 = 11+7 = 18

Ele há as virgens-virgens e as vir-gens-loucas. E com o teu Signo passa--se o mesmo, tipo os Virginianos certi-nhos e os disparados... ou uma mistura dos dois, como tu : )... E assim é bem, traz bons resultados, pelo menos a tua história assim o diz. Tem sido um tempo de descoberta, de fazer muitas coisas, nada de agitações de fundo, mas um ciclo muito activo, com um grãozinho na engrenagem no início da Primavera mas já passou, enfim, tem sido um tempo gratificante e frutuoso. A tua força e solidez tem dado conta de eventuais reactividades emocionais, tens sabido ouvir os teus instintos e inspirações, tens dado asas ao teu ima-ginário e criado coisas relevantes! All you, what else?! Já sei que achas sem-pre que pode ser melhor, mas esquece essa parte e aceita o que te digo: tem sido bom, porra! E não mandes agora a toalha ao chão, ok? Poderia aconte-cer teres a tentação de mudar o que está bem, e por enquanto seria um disparate. Valoriza o que é, o que está, o resultado deste tempo, e para já... fica quieto... por dentro... e por fora. Qualquer precipitação seria como uma nota falsa na sinfonia, so cool down. E se por acaso sentires cócegas nos pés, dá uma de virgem-louca e diverte-te, sê leve, descomprometido, e por enquan-to não mudes de direcção. Be wise, and have fun.

a História dE BalaNÇa23 Setembro a 22 Outubro

04+01+18+10+10+04+04+21+15+04+11 = 102 = 10+2 = 12

Uau, a Beldade do Zodíaco trans-formou-se em CEO, isso é que tem sido trabalhar, bolas!

E, tal como um bom CEO, a histó-ria deste últimos tempos tem sido a de trabalhar em duas frentes: no lado prá-tico e executivo da vida, e na manuten-ção do equilíbrio interno, sim, porque

houve aí umas provocaçõeszitas, umas despedidazitas, e saíste-te mesmo bem a equilibrar os pratos da balança! Eu di-ria que esta história fala da sabedoria em gerir algumas frustrações e ao mes-mo tempo pôr a andar um barco novo, e relativamente grande... para o qual contribuíste com todo o teu ser, boa! E a saga continua, lots of work, and “no news, good news”! Bendita capacidade de harmonizar opostos dentro do espí-rito livre que te assiste! Que assim se-jas para todo o sempre, e muitas obras por ti falarão. Tenho dito.

a História dE EsCorpiÃo23 Outubro a 21 Novembro

09+06+08+04+15+11+06+16+12+22+13 = 122 = 12+2 = 14

Eis a história do próprio do Alqui-mista, em plena glória transmutativa ou mergulhado em ácidos de enxofre, de-pendendo do seu grau evolutivo. Quero crer que, se me estás a ler, é porque o famoso lado negro dos Escorpiões já foi à vida, que não és refém de es-quemas, jogos de poder, e entranhas reviradas, que não te fazes de vítima nem de carrasco, enfim, que és aque-le que transformou o chumbo em ouro. E assim sendo, és o maior exemplo para todos os mortais: aquele que, face ao que quer que seja, transmuta a dor, transmuta a raiva, transmuta até o seu próprio Ego, e assim renasce como a Fénix resplandecente. É esta a história dos teus últimos tempos, e não conhe-ço ninguém melhor do que tu a alterar finais, a levar tudo até ao limite e a sair por cima, iluminado, infinitamen-te sábio e bom, porque, mais do que ninguém, conhece a fundo a condição humana. Se viveste esta versão da tua história és uma referência de coragem e inspiração, e soubeste pôr em prática o famoso princípio: Aceitar o que não podes mudar, ter a coragem de mudar o que podes, e a sabedoria para discernir uma coisa da outra. Atravessando tem-pestades, desgostos, e cataclismos, descobriste as leis que regem a Vida, descobriste uma nova centelha em ti, redescobriste o teu valor, e decidiste que a vida é bela, que nasceste para ser feliz, que o teu trabalho é afinares-te com essa intenção, enfim, descobris--te a Pedra Filosofal. E este mês, só te resta mesmo limpar o laboratório do al-quimista, deitar fora o que já não pres-ta, e guardar bem os tesouros criados. Depois, será hora de seguir viagem, no teu novo rumo a caminho do Sol.

a História dE saGitÁrio 22 Novembro a 21 Dezembro

10+22+22+11+14+10+19+16+13+01+02 = 140 = 14 + Ø = 14

O Novo Visionário, eis a metáfora perfeita da tua história de Setembro para cá. Que é para continuar, e aper-feiçoar. Tiveste tantas e boas razões para te sentires feliz! Mas foi obra as-sumir uma nova visão de ti próprio e do mundo à tua volta, não foi? Coisas que agora te fazem sorrir... A certa altura, e porque bradavas aos sete ventos que abafavas, foi como se tivesses ido parar a um local desconhecido, e tu, a olhar à volta a ver se reconhecias os teus que-

ridos alvos, as tuas setas preferidas, o teu arco de estimação... e népia. É que de facto aliviaste peso e deixaste umas malas atrás, portanto... Tiveste mesmo de manter o foco quando tinhas mil razões para te dispersares, decidiste renovar as tuas antigas motivações e descobrir outras novas, volta e meia lá te vinha a tentação de te precipitares mas controlavas-te sabiamente, de te impores com a última verdade do pla-neta mas lá te punhas em causa com a possível humildade, enfim, a verdade é que acredito que conseguiste fazer tudo isto e transformares-te em algo mais vasto, mais abrangente e ao mes-mo tempo mais selectivo, resumindo, de ser o ousado, e agora mais sábio, Arqueiro que nasceste para ser! Mas neste mês, attention!, é para manter a cabeça fria, lidar bem com eventuais imprevistos (pois, já cá faltava!), não esquecer de ouvir os outros, manter o foco, nada de desatinos, e avançar para a última etapa desta tua quinquagési-ma nona aventura. Ah, valoriza a aben-çoada carta da Temperança que tem estado ao teu lado, que sorte! Deve ser porque mereces : ).

a História dE CapriCórNio22 Dezembro a 20 Janeiro

08+21+03+10+15+12+19+10+16+18+10 = 142 = 14+2 = 16

A Travessia do Deserto é uma certa fase de um tradicional percurso iniciá-tico. Um teste à sabedoria, humildade, coragem, plasticidade, e fé do candida-to. E é a história dos teus últimos me-ses. Uma história eventualmente difícil, mas também nobre, rica, e reveladora, se estiveres para aí virado. É que há os Capricornianos-rocha e os Capricornia-nos-bode. Ambos têm os seus talentos, mas às vezes os primeiros tendem a virar velhos do Restelo, enquanto os segundos usam as pedras do cami-nho para subir mais alto, lembras-te? Mas de facto não existem assim duas tipologias, são só dois arquétipos dife-rentes que reflectem usos diversos da mesma energia. E quero acreditar que tenhas optado por ser cabra, quero di-zer, bode... espero : ). Ou seja: Aceita lá que o céu que talvez te tenha caído em cima da cabeça te trouxe, de facto, novas oportunidades; Aceita lá que às vezes é bom ser chocalhado para are-jar as raízes; Aceita lá que tudo isto te serviu para algo fundamental nesta fase da tua história: Descobrir um novo sentido para a tua vida. E até tiveste, e tens, N bálsamos à mão, não ignores os frascos. Aproximas-te de um novo equi-líbrio e, para quem sabe o que signifi-ca, de um novo estádio evolutivo. Bem ajas... sim, do verbo Agir.

a História dE aQUÁrio21 Janeiro a 19 Fevereiro

17+13+17+09+27+02+11+19+08+04+19 = 136 = 13+6 = 19

Ser, e ser, e voltar a ser, eis a questão. A parte do “não ser” já não entra neste filme. A tua demanda foi afirmares-te, de novo, como Tu próprio. Esta foi a tua grande história. Estás a ver aquela imagem do Leonardo da Vin-ci, que é um homem com os braços e as

pernas abertas, dentro de uma estrela de cinco pontas, que por sua vez está dentro de um círculo? Sim, o Pentagra-ma da Humanidade. Esse és tu, foi este o teu ciclo, esta a tua procura. Não, não é nada esotérico, é mesmo muito claro e essencial: Este teu ciclo de 11 meses foi a história de quem decidiu arranjar forma de viver a vida à sua maneira. Será? Quero crer que sim. E continua. É que se não o fizesses, algo morreria em ti, e como Aquariano não te aguen-tarias por muito tempo. Claro que isso implica muitas voltas, mas é mesmo assim, e tu felizmente não és do tipo lamechas. Sabes bem que pudeste, e podes, contar com os teus parcei-ros mais fiéis: a Clareza, a Confiança, a Franqueza, o Amor Próprio e o Huma-nismo. E mais: Confessa que sentiste sempre uma estrelinha a brilhar dentro de ti, verdade? Pois cá para mim, ela está, e estará, tão, tão, tão presente que até se confunde contigo : ).

a História dE pEixEs20 Fevereiro a 20 Março

15+20+07+07+21+19+12+03+17+18+09 = 148 0 14+8 = 22

A história do oceano é plena de possibilidades, e confunde-se com a tua. Curioso é que, ao contrário dos outros Signos, tu tens dois ciclos bem marcados na tua história dos últimos meses. Até Abril/Maio tratou-se de descobrires uma nova dimensão do teu ser, de assumir talentos, revelações, libertações, opções, e de decidir ir avante com o melhor de ti... O mesmo é dizer, como tantas vezes te repeti: “Põe o teu Ferrari a trabalhar, já!”; De lá para cá, entraste num outro filme, do qual vale a pena falar. É que, se não tivesses posto o Ferrari a trabalhar es-tarias a mergulhar de cabeça no fundo do oceano, afogando-te em energias e capacidades não vividas, e que teriam de sair por algum lado, tipo escape, e com resultados estupidamente cha-tos... Digo estupidamente, porque esta seria uma opção impensável para um ser inteligente como tu. Portanto, a única opção vital, e desejo que tenha sido esta que tomaste, foi a de sair da casca, de tirar a tal bomba da garagem e iniciar uma viagem fantástica, refres-cante, inovadora, enfim, partires com tudo, e sem medo, rumo a um futuro brilhante. Claro que tamanha empreita-da tem sempre desafios, e é aí que te encontras, espero eu – a lidar de um modo construtivo, maduro, e livre, com os riscos de quem aceita que a Vida é Agora, e não depois, não mais tarde, não nunca mais... A estar atento para que padrões de comportamento anti-gos não boicotem a bendita viagem... Ah, e a saber que uma vida nova requer sempre uma nova atitude, certo?... Pois é, tu sabes...

orÁCUlo 07/09

Page 7: Julho / Agosto 2009 - luxfragil.com · com curso superior. ... barco que possa usar em caso de fuga. Passo pelo barbeiro indiano e pelos seus filhos que já trocaram o cricket de

Sabe a madrugada ventosa e terra húmida, a passeio sob os carvalhos e a ga-lope de cavalo, Amadeo (1887-1918) sabe a “A” maiúsculo com um “e” encolhido a querer acrescentar e mais e ainda e depois e além disso. Segundo as leis da gravida-de, devia o “e” descer pelas encostas do “A”, mas sobe a galope para ver o horizonte limpo e frio mal nasça o sol. Amadeo, “pin-tor avançado” ou “bizarro colorista”, sabe a começos, sabe de olhares primeiros e soube descobrir cores alegres e sinistras. Amadeo sabe bem.

Quando ainda não sabia reconhecer os nomes recortei de um jornal a minúscu-la reprodução da tela “Galgos”, da qual, por não saber de nomes, desconhecia a cele-bridade. Durante anos conservei por perto, em paredes e cadernos, aquele fragmento amarelado onde vibravam cores por adivi-nhar: o contraste preto e branco da aten-ção dos cães, a maquilhagem mascarada das lebres suspensas, as subtilezas das montanhas, um laranja a prometer luz, as massas do céu num verde que talvez seja azul a romper. Não sei agora quando a cor me atingiu, mas lembro-me de ter passado não há muito uma pequena vida face a face com a cena a dois palmos do chão vencen-do o peso e a circunstância. Fui interrompi-do pelo segurança do museu. Desconheço o que me atraiu na imagem do velho jor-nal, mas posso inventar: foi a suspensão. Nada há de mais prometedor, e portanto

adolescente, que esse exacto momento em que o olho se concentra num ponto, os músculos se retêm para nos manter sus-pensos, prestes a, uma vez marcados com as tatuagens do combate, nos atirarmos que a vida é toda para diante. Os galgos e as lebres, caçador e presa, estão ambos hipnotizados pelo momento adolescente da partida. Nunca uma cena parada teve tanto movimento, eis a verdadeira natureza morta. Amadeo sabe a pontos de partida e a vida pintou-o como adolescente, no instante em que se erguia para se atirar. Será a morte um segurança de museu?

Sou livre de pensar que os galgos pre-to-e-branco e as lebres riscadas começam a vislumbrar naquele instante a paisagem de rostos e cabeças e máscaras com que o pintor ilustrou a madrugada do século XX. E lhe adivinhou o corpo do dia, os mas-sacres da manhã como as violências da tarde e os horrores da noite, que o século

de Amadeo foi de guerras e holocaustos, foi de morte e terror. Não pintou cenas dessas, mas no seu território, que era o do indivíduo, há reflexos do que viria a ser o futuro todo. Por isso a sua cabeça leva por título vanguarda.

Sei de outra tela que leva um título longo começado por promontório cabeça índigo onde mora a perplexidade dos sen-tidos desfazendo-se sobre o ruído colorido das coisas e dos números e das cores. As orelhas são buracos de segurar para aba-nar, de pendurar nos muros das cidades com que revestimos os cafés. As bocas fazem, uma após outra, aquele oh! redon-do e fatal do destino. Não gritam, pois isso está reservado para os olhos, berlindes que rodam sobre si e cruzam latitudes e longitudes, caindo nos degraus do inferno, subindo ao farol do céu. Estamos rodeados de lugares-tempestade e isso revela-se nas cabeças. Esta é litoral, ali outra que se chama oceano e os nomes têm peso ain-da que seja sem título. Esferas de mundos perdidos, tecidos bordados dos cinco con-tinentes, as cabeças soltaram-se e andam a rebolar pelos sítios recolhendo terras e

ares e fogos. Ardem em verde soturno de velha de lenço que se inclina para mirar o chão que não mexe. Somos feitos de restos de cor, de fragmentos de luz, de algodões de sombra e isso vê-se tão bem nas cabe-ças. Tanto risco e traço, tanta força e fra-queza. Moram casas nos rostos, mas nelas desembocam ruas e os quartos são praças com janelas para o chão e portas no tec-to de cair para cima. Possuímos as mais distintas e sanguíneas geometrias, as mais díspares texturas, os mais loucos motivos, triângulos e rectângulos de pano de pele crestado pelo sol dos pinhais, tecido pela água e pelo trigo, pelas mãos dos salguei-ros dançando. São bulas de medicamento onde se misturam contra-indicações com composição e posologia, estamos para aqui decompostos em cicatrizes e rugas e esgares que devem ser tomadas de hora a hora para curarmos o mal do século que ainda é nosso apesar de ter pertencido a A, fosse de Almada ou Amadeo. Afinal, galgos e lebres subimos ao promontório do A para melhor nos desfazermos. Atirando- -nos para diante?

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As cabeças de Amadeo

João Paulo Cotrim

amadeo, “pintor avançado” ou “bizarro colorista”, sabe a começos, sabe de olhares primeiros e soube descobrir cores alegres e sinistras. amadeo sabe bem.

Nº 10 / Julho 2009

Direcção: Manuel Reis

Sede: Av. Infante D. Henrique, Armazém A, Cais da Pedra a Sta. Apolónia, 1950 – 376 Lisboa T. 218820890 / F. 218820899blog.luxfragil.comluxfragil.com / [email protected]

Textos de: Anamar, André Teodósio, Fernando Fernandes, Hugo Gonçalves, Isilda Sanches, João Paulo Cotrim, Joaquim António Rocha, Maria Antónia Oliveira e António Néu, Pedro Pires, Pedro Rodrigues, Quim Albergaria, Ricardo Henriques e Susana Pomba.

Editados por: Pedro Fradique e Fernando Nunes. Design gráfico: Diogo Potes — Alva Design StudioCapa: Pedro Cabrita Reis Revisão: Marta MartinsImpressão: M2 Tiragem média: 7 000 ex.

N: 10 Julho 2009 página: 12

tó tripsooh wow ooh I feel bad, and I’ve felt worse I’m a creep, yeah, I’m a jerk Come on Touch me, I’m sick wow I won’t live long, and I’m full of rot Gonna give you - girl - everything I got Touch me, I’m sick, yeah Touch me, I’m sick Come on baby, now come with me If you don’t come You’ll die alone wow ooh I’m diseased, I don’t mind I’ll make you love me ‘till the day you die Come on Touch me, I’m sick ahhh Fuck me, I’m sick Come on baby, now come with me If you don’t come You’ll die alone

“Touch Me I’m Sick”, mudhoney, 1988

Uma CaNÇÃo QUE Gostaria dE tEr EsCrito

João pesteI, I wish you could swimLike the dolphinsLike dolphins can swimThough nothing,Nothing will keep us togetherWe can beat themForever and everOh, we can be HeroesJust for one day

I, I will be kingAnd you,You will be queenThough nothingWill drive them awayWe can be HeroesJust for one dayWe can be usJust for one day

I, I can rememberStandingBy the wallAnd the gunsShot above our headsAnd we kissedAs though nothing could fallAnd the shameWas on the other sideOh, we can beat themForever and everThen we can be HeroesJust for one day

We can be Heroes (X3)Just for one dayWe can be HeroesWe’re nothingAnd nothing will help usMaybe we’re lyingThen you better not stayBut we could be saferJust for one day

“Heroes”, david Bowie, 1977

md5Miss Dove dá-nos cinco daquelas para deixar o indicador dorido de tanto clicar, apontar ou passar pá-ginas.

— Jorge Colombo e a revista New YorkerJá muitos links se colocaram por todo o lado, mas os desenhos que Jorge Colombo faz com o seu iphone e com a aplicação “Brushes” merecem também esta menção impressa em papel. Colombo é o autor de uma recente capa da revista New Yorker – o desenho foi feito durante uma hora, em pé, perto do Madame Tussaud’s Wax Museum, em Times Square. A colaboração com a conceituada revista alargou-se, e agora, JC faz um desenho por semana para a newyorker.comjorgecolombo.com

— How Books Got Their TitlesGary Dexter é um jornalista e autor que investiga as vidas e as obras de grandes escritores. Uma das suas obsessões são as histórias por trás dos títulos de grandes obras-primas. Que outros nomes teve “Guerra e Paz” de Tolstoi, que “The Medium is the Massage” foi uma gralha na capa que Marshall McLuhan acabou por deixar passar com agrado. O seu blog tem mais de cem entradas. garydexter.blogspot.com

— “All That Glitters”A bola de espelhos como presságio. Este texto de Jennifer Allen na revista Frieze de Maio de 2009 estabelece uma teoria – a “mirror ball” como objecto que contém, de forma “mais concisa e global”, a teoria de Guy Debord da “sociedade do espectá-culo”. Do “culto da celebridade à imagem digital”. Allen diz que já lá estava tudo e que em vez de olhar para uma determina-da área de John Travolta, devia era ter-se fixado na bola de espelhos, o verdadeiro centro. Para concordar, descartar ou aproveitar. frieze.com/issue/article/all_that_glitters

— PolaroidEm Fevereiro de 2008, a Polaroid anunciou o fim da produção da película instantânea. Supostamente durante este ano os stocks existentes vão findar. Mas aqui e ali pro-liferam fotógrafos que utilizam a polaroid (por exemplo para captar músicos) como complemento “retro-mas-hip” à fotografia digital. E deve dar um trabalhão, mas fazem scan e colocam em blogs como Gorilla vs. Bear ou Slap You in Public. É o último sprint antes do fim? gorillavsbear.blogspot.com

slapyouinpublic.com

savepolaroid.com

— The End of the Internet Há mais, mas esta é um verdadeiro clássico, se alguma vez se pode chamar “clássico” a uma página da internet. Toda a gente já veio aqui parar e provavelmente já há muitos anos, perdão, computadores atrás. O fim é o princípio e blá blá blá... já sabemos. Este é para aqueles que ainda acham que estar ao computador é não ter vida e que quem está muito tempo em frente ao ecrã não vê a luz do dia nem lê livros. Pois deve ser. www.shibumi.org/eoti.htm

missdove.blogspot.com

Borrachos ou Passarinhos (Valença do Minho)

250 g de pão ralado 50 g de açúcar1 colher de chá de canela5 a 6 ovosóleo para fritar

para a calda:5 dl de vinho verde branco1 casca de limão1 pau de canela250 g de açúcar

Bate-se muito bem o pão ralado, o açúcar, a canela e os ovos, um a um, pois a quantidade depende do tamanho dos ovos e também o grau de absorção do pão. Frita-se a massa obtida em óleo bem quente com a ajuda de duas colheres. À medida que se fritam, vão-se deitando os borrachos num tacho que se encontra sobre o lume e onde está a ferver uma calda feita com o vinho, a casca de limão, o pau de canela e o açúcar.

Os borrachos são servidos quentes ou mornos dentro da calda

You’re talking 45 turns just as fast as you can, yeah, I know it gets tired, but it’s bet-ter when we pretend.

It comes apart, the way it does in bad films.Except in parts, when the moral kicks in.

Though when we’re running out of the drugs and the conversation’s winding away.I wouldn’t trade one stupid decision for another five years of lies.

You drop the first ten years just as fast as you can, and the next ten people who are trying to be polite.When you’re blowing eighty-five days in the middle of France, Yeah, I know it gets tired only where are your friends tonight?

And to tell the truth.Oh, this could be the last time.So here we go, like a sail’s force into the night

And if I made a fool, if I made a fool, if I made a fool on the road, there’s always this.And if I’m sewn into submission, I can still come home to this.

And with a face like a dad and a laughable stand, you can sleep on the plane or review what you said.When you’re drunk and the kids leave im-possible tasks you think over and over, “hey, I’m finally dead.”

Oh, if the trip and the plan come apart in your hand, you look contorted on yourself your ridiculous prop.You forgot what you meant when you read what you said, and you always knew you were tired, but then, where are your friends tonight?

Where are your friends tonight? (X2)If I could see all my friends tonight (X4)

“All My Friends”, lCd soundsystem, 2007

diogo potesFather, father, come see what I’ve builtMade civilization out of the Nile silt,Built your monuments out of my brother’s bones, Exalted your words in flesh-bound tomes

It’s hard enough being born in the first place, Who would ever want to be born again? It’s taken this long just to get to this place, So what’s the point in ever being born again?

Papa, papa, come and watch me playThe whole world before me I laid to wasteBuilt Jerusalem out of these hidden worlds, But I won’t share it with the other boys and girls

More embarrassed than I’d hope to admit,The living embodiment of perfect.A reversed Oedipal complex based on power and not on the sex.

Daddy, daddy, are you proud of me?I did it all for you because of what I believeThe sins of he father carried out by the son From Cain and Abel until the last living life is done

Again we stand slack-jawed As our fates are moved by the hand of GodA God is what we see as we stare into his Papal eyes.

“Son the Father”, Fucked Up, 2008

lúcia azevedoThat’s how it starts.We go back to your house.We check the charts,And start to figure it out.

And if it’s crowded, all the better,because we know we’re gonna be up late.But if you’re worried about the weatherthen you picked the wrong place to stay.That’s how it starts.

And so it starts.You switch the engine on.We set controls for the heart of the sun,one of the ways we show our age.

And if the sun comes up, if the sun comes up, if the sun comes up and I still don’t wanna stagger home.Then it’s the memory of our betters that are keeping us on our feet.

You spent the first five years trying to get with the plan, and the next five years trying to be with your friends again.

CarL CraiGSexta 31

rui varGaS & rui Murka

Sábado 1

dJ aLQuinta 30

MaGaZino, JoSé bELo & João Maria

Quinta 30

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tiaGo & kaoSSexta 14 — AGOSTO 09

LEonaLdo dE aLMEida

Sexta 14 — AGOSTO 09

dJ vibESexta 07 — AGOSTO 09

yEn SunG Sábado 08 — AGOSTO 09

rui varGaSSábado 15 — AGOSTO 09

pinkboy & pan SorbE

Sexta 21 — AGOSTO 09

rui varGaS & Zé pEdro Moura

Sábado22 — AGOSTO 09

dExtEr & hEnriqSexta 28 — AGOSTO 09

N: 10 Julho 2009 página: 15

Na última página do primeiro número, num texto com o título “A primeira página”, tentávamos explicar a inexistência do Es-tatuto Editorial da praxe na publicação que então nascia (todos os itálicos neste tex-to são citações dessa “primeira página”). Remetia-se quem então o procurasse para a capa. Aí, do “lado direito do cabeçalho”, numa frase com cinco palavras, estava tudo dito. Citando uma entrevista do “inimitável e visionário Amadeo”, anunciávamos e as-sumíamos que “a nossa vida é toda para diante”. É nisso que acreditamos, com a mesma fúria, dez números e cento e vin-te e quatro páginas depois. Mas o número 10 fecha um ciclo e, só por isso, apetece abrandar um instante para olhar para trás por cima do ombro e recapitular – sem vai-dade mas com gozo e orgulho – parte do que foi impresso nos últimos dez meses.

Foi em Outubro (depois de um número 0 feito de excertos de dezanove edições de Blah Blah Blah e de um convite para uma festa) que, para marcar dez anos de Lux, se transformaram os flyers mutantes, feitos fanzine, feitos revista, num jornal: este, o jornal Lux Frágil, mesmo que, internamen-te, se continue a optar pelo termo pasquim (adicionando-lhe amiúde o termo anarca). Na altura, tal como agora, não sabíamos nada excepto duas ou três coisas muito simples e sinceras. Afinal, o que é, pode, ou deve ser o jornal de uma discoteca-bar-sala-de-espectáculos-acrescentem-o-que-quiserem? Ainda não sabemos, nem que-remos saber. Queremos fazer. E fazemos. Para falar de música, de músicos, de DJs, de noite, de dança. De coisas de agora e

de coisas de sempre. Coisas parvas e coi-sas sérias. Mentiras e verdades. Ficção e realidade, prosa e poesia, à mistura com algumas sugestões de tempero, existencial ou culinário, regado de questões, retóricas ou sentidas.

É muito mais simples do que parece. Apenas procurámos pessoas que escreves-sem textos que tivéssemos vontade de ler. Textos que nos dessem gozo, porque nos divertiam ou nos surpreendiam, nos faziam pensar, nos inquietavam e, às vezes, até nos comoviam. Ou nos despertavam e es-timulavam a curiosidade para coisas novas que valem a pena e merecem atenção. So-bretudo quando envolvem música que nos faz mexer, com pés e cabeça. Aliás, essa é a melhor parte disto tudo: as pessoas. As que escreveram a partir do nosso desafio e as que leram. Porque afinal — e foi mesmo bom percebê-lo — existiam pessoas com vontade de ler aquilo que tínhamos para publicar. Pessoas que, tal como nós, esta-vam e estão à procura. Procurando mais a intensidade do que a unanimidade. Ad-mitimos que, num tempo de links infinitos para leituras fugazes em cadência zapping (há um texto sobre isto na página ao lado), conseguir a captar a atenção (e manter o interesse) com textos longos e duas cores, nos deixou bem dispostos.

Não levarão por isso a mal se gas-tar alguns caracteres com aqueles que connosco conspiraram mês a mês. Uma conspiração meio esquizofrénica, meio abstracta, feita de vontades e escritas bem distintas mesmo se atravessadas por qual-quer coisa comum e inominável. Pessoas

talentosas e generosas (e, consta, mal pagas) que partilharam uma (vaga) ideia e lhe deram forma. Nós, editores-pesca-dores (e perdoe-se a falta de melhor ima-gem), limitámo-nos a lançar as redes e a gerir prosa e páginas de peixe graúdo, da mais alta frescura e qualidade, que para lá saltou; à mistura com vários tesouros e algumas criaturas insólitas. Os verdadeiros responsáveis pela qualidade da faina têm nomes (e heterónimos) que queremos re-petir: Ana Garcia Martins, Anamar, André Teodósio, Artur Soares da Silva, Catarina Portas, Fernando Fernandes, Fernando Pinto do Amaral, Hugo Gonçalves, Isilda Sanches, João Botelho, João Paulo Cotrim, João Tordo, Joaquim António Rocha, José Belo, José Maria Vieira Mendes, Maria An-tónia Oliveira & António Néu, Mário Lopes, Nelson Guerreiro, Pedro Gomes, Pedro Pi-res (aka sr. peppas), Pedro Rodrigues (aka Peterman), Quim Albergaria (aka Quimpos-tor), Ricardo Henriques (aka Bacharel Paiva Boléo), Rui Vargas, Susana Pomba (aka Miss Dove), Tiago Manaia, Vítor Belancia-no, Zé Moura e Zé Pedro Moura. Uns mais assíduos, outros menos. A todos o Conse-lho Editorial estará eternamente grato. Já agora, e só para quem nunca passou os olhos pela ficha técnica, não saem daqui sem saber que há uma dose extra de gra-tidão para quem, connosco, mês a mês, desenhou e paginou o jornal (o Diogo Po-tes) e quem não só reviu e corrigiu como, tantas vezes, co-editou os textos (a Marta Martins).

Começou, e pretendia ser, um jornal só com letras. Até com “letras de canções”, escolhidas por pessoas de quem gostamos (e a quem também agradecemos). Mesmo assim, lá para meio do caminho, apareceu a imagem. Primeiro na capa — por isso, obrigado também à Ana Jotta, ao Vasco Araújo, ao Pedro Barateiro, à Ana Vidigal e ao Pedro Cabrita Reis — depois lá den-

tro. Foi sendo feito de maneira egoísta no sentido em que, como atrás se referiu, só queríamos coisas que nos dissessem algo. Mas também foi feito em regime comuni-tário, ao acolher ideias, opiniões, críticas, contactos e contributos vários de pessoas que prezamos, mesmo aquelas que não conhecemos bem; todos importantes, nem todos fáceis de explicar agora.

Acima de tudo, foi sendo feito e distri-buído, como bem comum. Para, tal como o Lux, ser fruído e partilhado. E para ser lido: na varanda ou na fila para o bengalei-ro, na ressaca do dia seguinte ou a meio da semana de trabalho, na casa de banho ou no café, no táxi de madrugada ou no metro ao fim do dia. E as pessoas leram. E co-mentaram, criticaram, elogiaram, falaram, estranharam, reagiram. E levaram todos os que existiam. Por isso, e para poder sair de Lisboa e de Portugal, passou a (e permane-ce em) versão blog (blog.luxfragil.com). Já agora, saibam que também se pode folhear online (em www.luxfragil.com) numa (boni-ta) aplicação feita de propósito pelo Patrick Goor (também responsável pelo layout do blog).

Todos, mas todos os nomeados, aju-daram a tornar real um jornal convictamen-te urgente mesmo se necessariamente efé-mero. Decretamos hibernação editorial an-tes do número capicua pela mesma razão evocada no debute de “A primeira página”: a de estarmos “condenados a viver o futu-ro. Sentindo, questionando e saboreando o presente — e celebrando o passado — mas com absoluta e genuína vontade de entrar no que está a diante”, permanecendo agar-rados à mesmas certezas simples e since-ras: vale a pena acreditar na inteligência, vale a pena cultivar a descoberta. É isso que torna tão essencial o tempo que está para a frente. Como é? O que vem a seguir? Está ali. A seguir a isto. Lá iremos. Venham connosco.

Conselho Editorial

A última página?Bem contadas devem ser mais de cento e cinquenta páginas onde couberam muitas dezenas de milhares de caracteres (e múltiplos caracteres). Mas nem sequer é uma questão de quantidade. Se tudo aconteceu nos últimos meses, eis a pausa auto contemplativa antes da metamorfose.

Estas primeiras linhas também, qua-se de certeza. Acontece muitas vezes ir facilmente por aqui fora e ler mais uma ou duas linhas de texto, seguido, de forma contínua. É o princípio, está bem no topo da página, abaixo dos headers. Depois, se calhar, dou uma olhadela no lado esquerdo da coluna, primeiras palavras, aqui e ali, e leio mais um bocadinho na horizontal, por-que até me interessa. Se não andei com o rato antes, faço-o agora e os meus olhos fazem uma vertical, pela esquerda, pelo resto do conteúdo. “Marcam-se” palavras, que é como quem diz, lêem-se palavras soltas do texto que nos parecem chave e pequenos conjuntos de palavras para obter um bocadinho mais de sentido. É preciso ser rápido e eficiente.

Ah, já percebi, isto deve ser... Há mais, espera, tem um vídeo, quanto tempo tem? Agora não. E a foto dele, então é este gajo. Estes links têm ar de serem bons, pronto é só para o site oficial. Que chatice estes gifs animados e pop-ups, adeus. Ui, espera lá, isto interessa-me. E pronto, já não estamos nesta página, abrimos outra tab, retoma-mos a “leitura”. Ler a totalidade de uma pá-gina digital, quanto mais se contiver muito texto, quase nunca acontece.

Comecei a notar que a forma errática como lia páginas na internet não podia já ser assim tão aleatória. Alguma parte des-ta prática deve ser um sistema. De tab em tab, passo os olhos rapidamente perceben-do o conteúdo apresentado – seja texto, imagem, vídeo, som, tudo. Faço refresh, abro, clico, salvo, recolho informação para o desktop. Tenho medo de perder coisas e deixo as janelas abertas muito tempo (dias), ou semanalmente vou fazendo book-marks arrastando para as diversas pastas na barra do browser. Para mais tarde lá ir ler com muita atenção. Isto já para não falar das múltiplas vezes que saio para ir espreitar outros softwares de utilidade ex-trema, como, a título de exemplo, o Itunes, que serve para trocar-esta-música-que-me-

está-a-irritar-e-agora-o-que-é-que-eu-vou-pôr? Pois. Mas isto sou eu, porque cada um tem as suas manias.

Mas o que realmente me preocupa é a falta de concentração. Tenho inveja, sem medidas, e vergonha nenhuma de o dizer, das pessoas que depreendo terem altíssi-mo poder de concentração – pessoas que lêem um livro de mais de 300 páginas por semana, no mínimo. Por mais que faça re-gime intensivo entre metro, tempos de es-pera, horas de almoço, ou ao deitar, nunca consigo atingir essa meta. Da mesma ma-neira que não consigo ler um texto impor-tante sem fazer save para PDF, e imprimir em papel, utilizando os dois lados da folha, para não me sentir muito mal (e eco-frien-dly o suficiente). E de usar uma caneta e me recostar no sofá “muito concentrada” a ler umas miseráveis folhas A4 com os seus cerca de 20 000 mil caracteres. E claro, o gesto simples que envolve um braço e uma mão que pegam num comando preto que está ali ao lado e que serve para desligar o aparelho, requer a força de vontade de uma irmã fechada num convento, ou de um prisioneiro a manter a sua sanidade entre quatro paredes. É muito mais fácil ir fazer “show 11 new posts” no Facebook ou res-ponder a um sonzinho minúsculo que dá si-nal de que temos, claro, de responder a um amigo. E se for uma coisa importante?

Será que esta falta de atenção não é a mesma que tinha aos 16 anos, por tantas razões diferentes? Será que as mais de 12 horas (não sei se é uma média, contei com os dedos das mãos) que passo ao compu-tador num dia de trabalho normal estão a fazer alguma coisa ao meu cérebro?

Pedi ajuda a um professor, um espe-cialista na matéria. Usar o Google (já não falo da Wikipédia que é veneno) e o twit-ter, desculpem, não é fazer corta-mato, é embrulharmo-nos num sem número de ho-ras de cliques e, logo, de um sem número de páginas que abrimos e que nos levam a outras, que já não têm nada que ver com o

intuito original. Mas do que é que eu estava mesmo à procura? Neste caso, parece-me não haver nada como a old school, literal-mente. Perguntar a um professor enten-dido que nos dá capítulos específicos de livros e meia dúzia de links certeiros. São estes que temos de ler, são estes que nos levam aos sítios certos na continuação do estudo. Toca a imprimir e a fechar, com vi-gor, os aparelhos circundantes.

Foi num desses textos que vi a refe-rência a um estudo chamado “F-Shape Pat-tern for Reading Web Content”. Realizado a 232 utilizadores em centenas de páginas, o estudo concluiu que na generalidade as cobaias liam em forma de F (“F for fast”, di-zem eles) ao longo da página, às vezes em E, mas quase nenhum lia de forma exausti-va o conteúdo.

Senti-me culpada ao ler este estudo, é exactamente isso que faço todos os dias, foi exactamente isso que descrevi no iní-cio deste texto, foi exactamente isso que James Bowman, o autor de “Is Stupid Making Us Google?” declarou que iria acon-tecer, logo que acabou de descrever no seu texto o estudo “F-Shape Pattern”, como eu fiz agora. Aconteceu-vos o mesmo?

Este texto de Bowman é uma resposta a um outro, que, pelo seu título apelativo, causou, pelo que me apercebi, uma certa polémica nos circuitos mais dedicados a estas matérias. “Is Google Making Us Stupid?” de Nicholas Carr, é um texto que descreve as preocupações do autor no que diz respeito ao que a internet está a fazer aos nossos cérebros, e como hoje em dia, ler um livro, no sentido tradicional – o que Carr chama de “deep reading” – parece cada vez mais uma impossibilidade. Ao longo da prosa o pânico aumenta consi-deravelmente. Segundo Carr, até para os “literary types” (seus amigos) ler de forma “profunda” se tornou difícil.

A discussão continua de link em link. Colocam-se inúmeros problemas: mas não tínhamos já levantado a questão da leitura

aquando do aparecimento da televisão? E não estamos agora a ler muito mais (men-sagens de texto, internet, ...) do que nos anos 70 e 80?

Na verdade, e é claro, esta será uma outra maneira de ler. Os sinais circundam--nos. Os jornais discutem a sua existência em papel, arranjam maneiras de facilitar, resumindo o conteúdo numa frase, para aqueles que nem folheiam tudo (“article skimmers”), entre muitas outras reformu-lações neste momento a ser experimenta-das. Os jornais em papel estão em árdua competição com as suas próprias páginas web, ou com outras melhores, e cada vez mais parecidos com elas.

E ao mesmo tempo, a comunidade li-terária discute avidamente o fim do livro, “como o conhecemos”, com o apareci-mento de gadgets como o Kindle ou o Sony Reader, que contêm centenas de clássicos logo na compra, sendo depois possível ad-quirir, com um clique no próprio objecto, qualquer outro novo e apetecível sucesso do momento (os aparelhos são comprados mas ainda não se sabe se são muito utiliza-dos para ler...). Este é um “fim” que nunca antes assim tinha sido anunciado – se pen-sarmos bem, o objecto livro existe, basica-mente desta maneira, tinta sobre papel + capa, desde a sua invenção...

Mas quando a tag line do site america-no “The Daily Beast”, editado por Tina Bro-wn (ex-Vanity Fair, ex-New Yorker, ex-Talk) é “read this skip that”, alguma coisa está realmente a acontecer.

Longe de mim dissertar sobre os ma-les da internet, sou viciada, dependente, quero ver tudo, saber, guardar, aprender, e já me surpreendo a ver conferências de uma hora sobre a nova sensação da Goo-gle que ainda só está em fase de test-drive. E acordar o rato e afastar o screensaver é mesmo, agora com alguma vergonha de admiti-lo, a primeira coisa que faço quando me levanto da cama, muitas vezes mesmo antes de qualquer outra necessidade bási-ca. E revelo este pedaço de informação não porque precise de o exorcizar, mas porque acredito que não sou, de todo, a única.

E se calhar é por aqui que temos de começar a pensar, e estar muito atentos. E dito isto pergunto-me: alguém percorreu estes caracteres todos sem fazer skimming, sem interrupções longas ou sem saltar lar-gos bocados de texto?

N: 10 Julho 2009 página: 14

Ler, outra coisaSusana Pomba

Segunda-feira: Burt Bacharach “the Best of ...” (a&m)

Terça-feira:Ella Fitzgerald “the Cole porter songbook” (verve)

Quarta-feira:vários “inflight Entertainment” (deram)

Quinta-feira:the B-52’s “the B-52’s”

Sexta-feira:vários “pulp Fiction” music From the motion picture (mCa)

Sábado:Greg wilson “Credit to the Edit volume one”

Domingo:vários “mellow mellow” (Harmless)

* usar com moderação

Residencial Rui Vargas

AROUND THE HOUSE

Da esquerda para a direita e em contínuo, de cima para baixo. Página a página, entre as mãos. Costumava ser assim, mas hoje com a proliferação de novos suportes de leitura, o acto de ler tem cada vez menos um princípio, meio e fim. Não há tempo para contemplações. É preciso velocidade. O título e esta “intro” estão garantidos...

7 discos para a lida da casa *

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Pedro Cabrita Reis — 23 Junho 2009