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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS JULIANA FÉLIX DA SILVA ATIVIDADE ANTIOFÍDICA DO DECOCTO DAS FOLHAS DE Jatropha gossypiifolia L. FRENTE O VENENO DE Bothrops jararaca NATAL 2014

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS

JULIANA FÉLIX DA SILVA

ATIVIDADE ANTIOFÍDICA DO DECOCTO DAS FOLHAS DE Jatropha

gossypiifolia L. FRENTE O VENENO DE Bothrops jararaca

NATAL

2014

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JULIANA FÉLIX DA SILVA

ATIVIDADE ANTIOFÍDICA DO DECOCTO DAS FOLHAS DE Jatropha

gossypiifolia L. FRENTE O VENENO DE Bothrops jararaca

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Ciências Farmacêuticas da

Universidade Federal do Rio Grande do Norte,

como requisito parcial para obtenção do título de

Mestre em Ciências Farmacêuticas (Área de

concentração: Bioanálises e Medicamentos).

Orientador:

Prof. Dr. Matheus de Freitas Fernandes Pedrosa

Co-orientadora:

Profa. Dra. Silvana Maria Zucolotto Langassner

NATAL

2014

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JULIANA FÉLIX DA SILVA

ATIVIDADE ANTIOFÍDICA DO DECOCTO DAS FOLHAS DE Jatropha gossypiifolia

L. FRENTE O VENENO DE Bothrops jararaca

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Ciências Farmacêuticas da

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

como requisito parcial para obtenção do título de

Mestre em Ciências Farmacêuticas (Área de

concentração: Bioanálises e Medicamentos).

Data de aprovação: ___/___/______

COMPONENTES DA BANCA EXAMINADORA

Prof. Dr. Matheus de Freitas Fernandes Pedrosa

Presidente

Departamento de Farmácia - UFRN

Prof. Dr. Paulo de Assis Melo

Membro Externo

Departamento de Farmacologia Básica e Clínica - UFRJ

Profª Dra. Elaine Cristina Gavioli

Membro Interno

Departamento de Biofísica e Farmacologia - UFRN

NATAL

2014

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AAGGRRAADDEECCIIMMEENNTTOOSS

Ao meu orientador, o Prof. Matheus Pedrosa, pela primeira oportunidade que me deu

há quase 7 anos e por, desde então, vir me orientando com toda sua dedicação e paciência.

À minha co-orientadora, a Profa. Silvana Zucolotto, pelas oportunidades dadas e por

todo conhecimento na área de produtos naturais que vem me transmitindo.

À Profa. Ivanise Rebecchi, por toda sua contribuição na área de Hematologia.

Ao Prof. Hugo Rocha pela importante colaboração nos ensaios de atividade

antioxidante e citotoxicidade.

Ao Prof. Arnóbio Silva Junior, por contribuir na coordenação do Laboratório de

Tecnologia & Biotecnologia Farmacêutica (TecBioFar) buscando sempre o melhor por nós.

Às Profas. Cristiane Assis, Ivanise Rebecchi e Raquel Brandt pelas importantes

sugestões e contribuições na banca do Exame de Qualificação de Mestrado.

Aos Profs. Paulo Melo e Elaine Gavioli pelas importantes sugestões e dicas na banca

da Defesa de Dissertação de Mestrado.

Aos alunos do TecBioFar por todos os momentos e conhecimento compartilhados ao

longo do nosso dia-a-dia. Agradeço em especial àqueles que contribuíram diretamente para

meu trabalho. Obrigada Yamara Menezes pela parceria e pela amizade. Agradeço a Jacyra

Antunes por todos esses anos de amizade e ajuda sempre que necessário. Muito obrigada

Argos Albuquerque e Rosângela Caldas, que sempre foram muito prestativos durante meus

experimentos, sobretudo nessa reta final. E um agradecimento especial para Thiago Souza,

que se mostrou um aluno extremamente comprometido com o trabalho e solidário, se

tornando, em pouco tempo, peça fundamental desse projeto. Muitissímo obrigada!

Aos alunos do Laboratório de Farmacognosia, em especial a Bárbara Cabral por

sua fundamental contribuição na parte fitoquímica deste trabalho.

Agradeço aos alunos do Laboratório de Biotecnologia de Polímeros Naturais

(BIOPOL), em especial a Rafael Barros, por sua fundamental contribuição nos

experimentos em cultura de células e atividade antioxidante.

À Dona Ana e Washington, pelo importante auxílio e apoio nos cuidados com os

animais no Biotério do Centro de Ciências da Saúde da UFRN.

Agradeço à CAPES pela bolsa de estudos concedida e ao BNB e ao CNPq pelo auxílio

financeiro para realização do projeto.

Agradeço aos animais, pois sem eles boa parte deste estudo não poderia ter sido

realizada.

Ao meu tio Tony, pelo grande apoio e ajuda no momento da coleta do “pinhão-roxo”

no município de Carnaubais. Agradeço também a minha mãe Francisca e à minha Tia

Nininha por terem ajudado a coletar a planta em campo.

E, claro, agradeço a todos os meus familiares e amigos que sempre me apoiaram e

deram forças para continuar essa minha eterna jornada de estudo. Agradeço em especial aos

meus pais (Francisca e Ivo), meus irmãos (Fábio e André) e minha sobrinha (Giovanna),

por estarem sempre perto de mim, inclusive nos momentos mais difíceis. Amo vocês!

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“A felicidade não está na estrada que

leva a algum lugar. A felicidade é a

própria estrada.”

Bob Dylan

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Resumo

Juliana Félix da Silva

RREESSUUMMOO

Os acidentes ofídicos são um grave problema de saúde pública. Cerca de 90 % dos casos na

América Latina são associados a serpentes do gênero Bothrops. Atualmente, a principal forma

de tratamento disponível é a soroterapia antiveneno, que apresenta algumas desvantagens, tais

como ineficiência quanto a efeitos locais, riscos de reações imunológicas, custo elevado e

difícil acesso em algumas regiões. Nesse contexto, a busca por novas alternativas para o

tratamento de picadas de serpentes se faz relevante. Jatropha gossypiifolia L., espécie vegetal

popularmente conhecida no Brasil como “pinhão-roxo”, é bastante utilizada na medicina

popular como antiofídica. Portanto, o objetivo do presente estudo é avaliar a atividade

antiofídica desta espécie frente às atividades enzimáticas e biológicas do veneno da serpente

Bothrops jararaca. O extrato aquoso das folhas foi preparado por decocção. Os estudos de

inibição foram realizados in vitro, pré-incubando-se quantidade fixa de veneno com diferentes

quantidades do extrato por 60 min a 37ºC, e in vivo, através do tratamento oral ou

intraperitoneal dos animais, em diferentes doses, 60 min antes da injeção do veneno. A

atividade proteolítica sobre a azocaseína foi eficientemente inibida, o que indica ação

inibitória frente metaloproteases (SVMPs) e/ou serinoproteases (SVSPs). O extrato inibiu a

atividade fibrinogenolítica, o que também foi confirmado por meio de zimografia, onde foi

possível visualizar que o extrato inibe preferencialmente enzimas fibrinogenolíticas de 26 e

28 kDa. As atividades coagulante sobre o fibrinogênio e sobre o plasma foram

significativamente inibidas, sugerindo uma ação inibitória sobre enzimas semelhantes à

trombina (SVTLEs), bem como sobre toxinas ativadoras de fatores da coagulação. O extrato

prolongou o tempo de tromboplastina parcial ativada (TTPa), o que sugere que o extrato inibe

tanto SVTLEs quanto a trombina endógena. A atividade defibrinogenante in vivo foi inibida

eficientemente pelo extrato pela via oral, confirmando os resultados anteriores. A hemorragia

local também foi inibida significativamente pela via oral, indicando uma ação inibitória frente

SVMPs hemorrágicas. A atividade fosfolipásica não foi inibida. Mesmo assim, as atividades

edematogênica e miotóxica foram eficientemente inibidas, por via oral e intraperitoneal, o que

pode indicar ação inibitória do extrato frente fosfolipases (PLA2) do tipo Lys49 e/ou SVMPs,

ou ainda uma ação anti-inflamatória contra os mediadores químicos endógenos. Com relação

ao possível mecanismo de ação, observou-se que o extrato não apresenta atividade

proteolítica, porém apresenta capacidade de precipitar proteínas. Adicionalmente, o extrato

apresentou significativa atividade antioxidante em diferentes modelos, o que pode justificar

ao menos parcialmente a atividade antiofídica apresentada. A atividade quelante de metais

apresentada pelo extrato pode ser correlacionada à inibição de SVMPs, uma vez que estas são

enzimas dependentes de metais. A análise fitoquímica revelou a presença de açúcares,

alcaloides, flavonoides, taninos, terpenos e/ou esteroides e proteínas, dos quais os flavonoides

podem ser apontados como compostos majoritários, tendo em vista o perfil cromatográfico

obtido por cromatografia em camada delgada (CCD). Em conclusão, os resultados

demonstram que o decocto das folhas de J. gossypiifolia apresenta potencial atividade

antiofídica, inclusive atuando sobre os efeitos locais da picada, sugerindo que esta espécie

pode ser utilizada como uma nova fonte de moléculas bioativas contra venenos botrópicos.

Palavras-chave: Jatropha gossypiifolia, “pinhão-roxo”, Bothrops jararaca, serpentes,

atividade antiofídica, venenos ofídicos.

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Abstract

Juliana Félix da Silva

AABBSSTTRRAACCTT

Antiophidic activity from decoct of Jatropha gossypiifolia L. leaves against Bothrops

jararaca venom. Snakebites are a serious worldwide public health problem. In Latin

America, about 90 % of accidents are attributed to snakes from Bothrops genus. Currently, the

main available treatment is the antivenom serum therapy, which has some disadvantages such

as inability to neutralize local effects, risk of immunological reactions, high cost and difficult

access in some regions. In this context, the search for alternative therapies to treat snakebites

is relevant. Jatropha gossypiifolia L., a medicinal plant popularly known in Brazil as

“pinhão-roxo”, is very used in folk medicine as antiophidic. So, the aim of this study is to

evaluate the antiophidic properties of this species against enzymatic and biological activities

from Bothrops jararaca snake venom. The aqueous leaf extract of J. gossypiifolia was

prepared by decoction. The inhibition studies were performed in vitro, by pre-incubation of a

fixed amount of venom with different amounts of extract from J. gossypiifolia for 60 min at

37 °C, and in vivo, through oral or intraperitoneal treatment of animals, in different doses, 60

min before venom injection. The proteolytic activity upon azocasein was efficiently inhibited,

indicating inhibitory action upon metalloproteinases (SVMPs) and/or serine proteases

(SVSPs). The extract inhibited the fibrinogenolytic activity, which was also confirmed by

zymography, where it was possible to observe that the extract preferentially inhibits

fibrinogenolytic enzymes of 26 and 28 kDa. The coagulant activity upon fibrinogen and

plasma were significantly inhibited, suggesting an inhibitory action upon thrombin-like

enzymes (SVTLEs), as well as upon clotting factor activators toxins. The extract prolonged

the activated partial thromboplastin time (aPTT), suggesting an inhibitory action toward not

only to SVTLEs, but also against endogenous thrombin. The defibrinogenating activity in

vivo was efficiently inhibited by the extract on oral route, confirming the previous results. The

local hemorrhagic activity was also significantly inhibited by oral route, indicating an

inhibitory action upon SVMPs. The phospholipase activity in vitro was not inhibited.

Nevertheless, the edematogenic and myotoxic activities were efficiently inhibited, by oral and

intraperitoneal route, which may indicate an inhibitory effect of the extract upon Lys49

phospholipase (PLA2) and/ or SVMPs, or also an anti-inflammatory action against

endogenous chemical mediators. Regarding the possible action mechanism, was observed that

the extract did not presented proteolytic activity, however, presented protein precipitating

action. In addition, the extract showed significant antioxidant activity in different models,

which could justify, at least partially, the antiophidic activity presented. The metal chelating

action presented by extract could be correlated with SVMPs inhibition, once these enzymes

are metal-dependent. The phytochemical analysis revealed the presence of sugars, alkaloids,

flavonoids, tannins, terpenes and/or steroids and proteins, from which the flavonoids could be

pointed as major compounds, based on chromatographic profile obtained by thin layer

chromatography (TLC). In conclusion, the results demonstrate that the J. gossypiifolia leaves

decoct present potential antiophidic activity, including action upon snakebite local effects,

suggesting that this species may be used as a new source of bioactive molecules against

bothropic venom.

Key-words: Jatropha gossypiifolia, “pinhão-roxo”, Bothrops jararaca, snakes, antiophidian

activity, snake venoms.

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Lista de Figuras

Juliana Félix da Silva

LLIISSTTAA DDEE FFIIGGUURRAASS

Figura 1 – Serpente Bothrops jararaca .............................................................................. 20

Figura 2 – Principais constituintes dos venenos ofídicos .................................................. 22

Figura 3 – Representação esquemática dos complexos pró-coagulantes ......................... 28

Figura 4 – Visão geral da coagulação sanguínea .............................................................. 29

Figura 5 – Esquema ilustrativo da estrutura do fibrinogênio .......................................... 29

Figura 6 – Esquema ilustrativo da ação das enzimas semelhantes à trombina de venenos

ofídicos (SVTLEs) ....................................................................................... 32

Figura 7 – Esquema ilustrativo da ação das metaloproteases de venenos ofídicos

(SVMPs) hemorrágicas ............................................................................... 34

Figura 8 – Paciente com a “Doença do Soro” ................................................................... 41

Figura 9 – Espécie vegetal Jatropha gossypiifolia L. ......................................................... 42

Figura 10 – Esquema ilustrativo do processo de fracionamento do decocto das folhas de

Jatropha gossypiifolia por partição líquido-líquido .................................... 56

Figura 11 – Cromatogramas obtidos por CCD do decocto das folhas e frações de

Jatropha gossypiifolia .................................................................................. 75

Figura 12 – Cromatograma obtido por CCD das frações diclorometano e acetato de etila

do decocto das folhas de Jatropha gossypiifolia .......................................... 76

Figura 13 – Cromatograma obtido por CCD das frações n-butanol e aquosa residual do

decocto das folhas de Jatropha gossypiifolia ............................................... 77

Figura 14 – Cromatogramas obtidos por co-CCD das frações acetato de etila e n-butanol

do decocto das folhas de Jatropha gossypiifolia com padrões de flavonoides

...................................................................................................................... 78

Figura 15 – Atividade hemolítica do decocto das folhas de Jatropha gossypiifolia .......... 80

Figura 16 – Perfil eletroforético do veneno de Bothrops jararaca por SDS-PAGE em

condições redutoras ..................................................................................... 81

Figura 17 – Inibição da atividade azocaseinolítica do veneno de Bothrops jararaca pelo

decocto das folhas de Jatropha gossypiifolia ............................................... 82

Figura 18 – Inibição da atividade fibrinogenolítica do veneno de Bothrops jararaca pelo

decocto das folhas de Jatropha gossypiifolia ............................................... 83

Figura 19 – Inibição da atividade fibrinogenolítica (por zimografia/ SDS-PAGE) do

veneno de Bothrops jararaca pelo decocto das folhas de Jatropha

gossypiifolia .................................................................................................. 84

Figura 20 – Inibição da atividade hemorrágica do veneno de Bothrops jararaca pelo

decocto das folhas de Jatropha gossypiifolia, no protocolo de pré-incubação

...................................................................................................................... 86

Figura 21 – Inibição da atividade hemorrágica do veneno de Bothrops jararaca pelo

decocto das folhas de Jatropha gossypiifolia por via oral, no protocolo de

injeção independente ................................................................................... 87

Figura 22 – Inibição da atividade edematogênica do veneno de Bothrops jararaca pelo

decocto das folhas de Jatropha gossypiifolia por via oral ........................... 88

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Lista de Figuras

Juliana Félix da Silva

Figura 23 – Inibição da atividade edematogênica do veneno de Bothrops jararaca pelo

decocto das folhas de Jatropha gossypiifolia por via intraperitoneal ......... 89

Figura 24 – Inibição da atividade miotóxica do veneno de Bothrops jararaca pelo decocto

das folhas de Jatropha gossypiifolia por via oral e intraperitoneal ............ 90

Figura 25 – Avaliação da atividade proteolítica do decocto das folhas de Jatropha

gossypiifolia sobre o veneno de Bothrops jararaca ...................................... 91

Figura 26 – Avaliação da atividade anticoagulante do decocto das folhas de Jatropha

gossypiifolia .................................................................................................. 92

Figura 27 – Avaliação da atividade quelante sobre íons cobre e íons ferro do decocto das

folhas de Jatropha gossypiifolia ................................................................... 93

Figura 28 – Avaliação da atividade sequestradora de radicais hidroxila e superóxido do

decocto das folhas de Jatropha gossypiifolia ............................................... 94

Figura 29 – Avaliação do poder redutor do decocto das folhas de Jatropha gossypiifolia

...................................................................................................................... 95

Figura 30 – Inibição da atividade fibrinogenolítica do veneno de Bothrops jararaca pelas

frações do decocto das folhas de Jatropha gossypiifolia ............................. 95

Figura 31 – Avaliação da atividade anticoagulante das frações do decocto das folhas de

Jatropha gossypiifolia no teste de tempo de tromboplastina parcial ativada

(TTPa) .......................................................................................................... 96

Figura 32 – Esquema ilustrativo das principais toxinas do veneno de B. jararaca

responsáveis pelo quadro de incoagulabilidade sanguínea e sua inibição

pelo decocto das folhas de Jatropha gossypiifolia ..................................... 106

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Lista de Tabelas

Juliana Félix da Silva

LLIISSTTAA DDEE TTAABBEELLAASS

Tabela 1 – Rendimento do decocto das folhas e frações de Jatropha gossypiifolia .......... 74

Tabela 2 – Teor de açúcares, compostos fenólicos e proteínas do decocto das folhas e

fração aquosa residual de Jatropha gossypiifolia........................................ 79

Tabela 3 – Inibição da atividade coagulante do veneno de Bothrops jararaca pelo decocto

das folhas de Jatropha gossypiifolia ............................................................ 84

Tabela 4 – Atividade precipitante de proteínas do decocto das folhas de Jatropha

gossypiifolia .................................................................................................. 92

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Lista de Abreviaturas e Siglas

Juliana Félix da Silva

LLIISSTTAA DDEE AABBRREEVVIIAATTUURRAASS EE SSIIGGLLAASS

AcOEt Fração acetato de etila

Aine Anti-inflamatório não-esteroidal

Anova Analysis of variance (análise de variância)

AR Fração aquosa residual

Asp49 Aspartato na posição 49

BCA Bicinchoninic acid (ácido bicinconínico)

Bja Bothrops jararaca

BSA Bovine serum albumin (soroalbumina bovina)

BuOH Fração n-butanol

Ca++

Íon cálcio

CaCl2 Cloreto de cálcio

CAT Capacidade antioxidante total

CCD Cromatografia em camada delgada

CE50 Concentração efetiva mediana

CH2Cl2 Fração diclorometano

CK Creatine kinase (creatina quinase)

CLAE Cromatografia a líquido de alta eficiência

CO2 Dióxido de carbono

CMC-F Concentração Mínima Coagulante sobre o Fibrinogênio

CMC-P Concentração Mínima Coagulante sobre o Plasma

CMF Concentração Mínima Fosfolipásica

CMP Concentração Mínima Proteolítica

COX-1 Ciclooxigenase 1

COX-2 Ciclooxigenase 2

DMEM Dulbecco's Modified Eagle Medium (meio Eagle modificado de

Dulbecco)

DO Densidade ótica (absorbância)

EAA/g Miligrama equivalente em ácido ascórbico por grama de amostra

EDTA Ethylenediamine tetraacetic acid (ácido etilenodiamino tetra-acético)

FBS Fetal bovine serum (soro fetal bovino)

FpA Fibrinopeptídeo A

FpB Fibrinopeptídeo B

FT Fator tecidual

HEK-293 Human embryonic kidney 293 cells (células de rim embrionário humano

293)

IL-1β Interleucina 1β

IL-6 Interleucina 6

Jg Jatropha gossypiifolia

K3-EDTA Tripotassium ethylenediamine tetraacetic acid (ácido etilenodiamino

tetra-acético tripotássico)

LAAO L-aminoácido-oxidase

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Lista de Abreviaturas e Siglas

Juliana Félix da Silva

Lys49 Lisina na posição 49

MIP-2 Macrophage inflammatory protein (proteína inflamatória macrofágica)

MM Marcador de massa molecular de proteína

MTT 3-(4,5-dimethylthiazol-2-yl)-2,5-diphenyltetrazolium bromide (brometo

de 3-[4,5-dimetil-tiazol-2-il]-2,5-difeniltetrazólio)

MPO Mieloperoxidase

NaCl Cloreto de sódio

OMS/ WHO Organização Mundial de Saúde/ World Health Organization

PBS Phosphate buffered saline (tampão salina-fosfato)

p p-valor

pBPB p-bromophenacyl bromide (brometo de p-bromofenacil)

PGE2 Prostaglandina E2

PLA2 Phospholipase A2 (fosfolipase A2)

PMSF Phenylmethanesulfonylfluoride (fluoreto de fenilmetilsulfonil)

Renisus Relação Nacional de Plantas Medicinais de Interesse ao SUS

Rf Retention factor (fator de retenção)

SAB Soro antibotrópico

SABC Soro antibotrópico-crotálico

SABL Soro antibotrópico-laquético

SAV Soroterapia antiveneno

SDS Sodium dodecilsulphate (dodecilsulfato de sódio)

SDS-PAGE Sodium dodecilsulphate polyacrilamide gel electrophoresis

(eletroforese em gel de poliacrilamida com dodecilsulfato de sódio)

Sisbio Sistema de Autorização e Informação em Biodiversidade

SUS Sistema Único de Saúde

SVMP Snake venom metalloprotease (metaloprotease de venenos ofídicos)

SVSP Snake venom serine protease (serinoprotease de venenos ofídicos)

SVTLE Snake venom thrombin-like enzyme (enzima semelhante à trombina de

venenos ofídicos)

TCA Trichloroacetic acid (ácido tricloroacético)

TNF-α Tumor necrosis factor α (fator de necrose tumoral α)

t-PA Tissue-type plasminogen activator (ativador do plasminogênio do tipo

tecidual)

TP Tempo de protrombina

TTPa Tempo de tromboplastina parcial ativada

UI Unidades Internacionais

u-PA Urokinase-type plasminogen activator (ativador do plasminogênio do

tipo uroquinase)

UV Ultravioleta

vWF Von Willebrand Factor (fator de Von Willebrand)

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Sumário

Juliana Félix da Silva

SSUUMMÁÁRRIIOO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 15

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .................................................................................. 18

2.1 ACIDENTES OFÍDICOS ........................................................................................... 19

2.2 SERPENTES BOTRÓPICAS ..................................................................................... 20

2.3 VENENOS BOTRÓPICOS ........................................................................................ 20

2.3.1 Fosfolipases A2 (PLA2s) ...................................................................................... 23

2.3.2 Serinoproteases (SVSPs) ..................................................................................... 24

2.3.3 Metaloproteases (SVMPs) ................................................................................... 25

2.4 AÇÃO DE TOXINAS BOTRÓPICAS SOBRE O SISTEMA HEMOSTÁTICO ........ 26

2.4.1 Coagulação sanguínea e fibrinólise: uma breve revisão ........................................ 26

2.4.2 Enzimas semelhantes à trombina de venenos ofídicos (SVTLEs) ......................... 30

2.4.3 Enzimas fibrinogenolíticas ................................................................................... 32

2.4.4 Toxinas ativadoras de fatores da coagulação ........................................................ 33

2.4.5 Hemorraginas ...................................................................................................... 33

2.5 AÇÃO DE TOXINAS BOTRÓPICAS NA INFLAMAÇÃO ...................................... 35

2.5.1 Inflamação: uma breve revisão ............................................................................ 35

2.5.2 Toxinas edematogênicas ...................................................................................... 37

2.5.3 Toxinas miotóxicas/ mionecróticas ...................................................................... 38

2.6 SOROTERAPIA ANTIVENENO (SAV) ................................................................... 39

2.7 PLANTAS MEDICINAIS COMO ALTERNATIVA À SOROTERAPIA .................. 41

2.8 Jatropha gossypiifolia L. ............................................................................................ 42

3 OBJETIVOS ................................................................................................................... 45

3.1 OBJETIVO GERAL................................................................................................... 46

3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS...................................................................................... 46

4 JUSTIFICATIVA............................................................................................................ 47

5 MATERIAL E MÉTODOS ............................................................................................ 49

5.1 MATERIAL ............................................................................................................... 50

5.1.1 Reagentes ............................................................................................................ 50

5.1.2 Equipamentos ...................................................................................................... 52

5.1.3 Materiais diversos ................................................................................................ 53

5.1.4 Material vegetal ................................................................................................... 53

5.1.5 Veneno ofídico .................................................................................................... 54

5.1.6 Suspensão de eritrócitos ....................................................................................... 54

5.1.7 Cultura de células ................................................................................................ 54

5.1.8 Pool de plasma .................................................................................................... 54

5.1.9 Suspensão de gema de ovo................................................................................... 54

5.1.10 Animais de experimentação ............................................................................... 55

5.2 MÉTODOS ................................................................................................................ 55

5.2.1 Preparação do decocto das folhas de Jatropha gossypiifolia ................................. 55

5.2.2 Fracionamento do decocto das folhas de Jatropha gossypiifolia ........................... 55

5.2.3 Análise fitoquímica do decocto das folhas e frações de Jatropha gossypiifolia ..... 56

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Sumário

Juliana Félix da Silva

5.2.3.1 Cromatografia em camada delgada (CCD) .................................................... 56

5.2.3.2 Determinação de açúcares totais .................................................................... 57

5.2.3.3 Determinação de compostos fenólicos ........................................................... 57

5.2.3.4 Determinação de proteínas ............................................................................ 57

5.2.4 Ensaios de citotoxicidade in vitro ........................................................................ 57

5.2.4.1 Atividade hemolítica ..................................................................................... 57

5.2.4.2 Citotoxicidade frente a células HEK-293 ...................................................... 58

5.2.5 Caracterização do veneno de Bothrops jararaca .................................................. 58

5.2.5.1 Dosagem de proteínas ................................................................................... 58

5.2.5.2 Eletroforese em gel de poliacrilamida com dodecilsulfato de sódio (SDS-

PAGE) ..................................................................................................................... 58

5.2.6 Avaliação da atividade antiofídica do decocto das folhas de Jatropha gossypiifolia

..................................................................................................................................... 59

5.2.6.1 Atividade proteolítica sobre a azocaseína ...................................................... 59

5.2.6.2 Atividade proteolítica sobre o fibrinogênio ................................................... 60

5.2.6.2.1 Visualização do perfil de degradação por SDS-PAGE ................................ 60

5.2.6.2.2 Zimografia ................................................................................................. 61

5.2.6.3 Atividade coagulante .................................................................................... 62

5.2.6.4 Atividade defibrinogenante in vivo ................................................................ 62

5.2.6.5 Atividade hemorrágica in vivo....................................................................... 63

5.2.6.6 Atividade fosfolipásica ................................................................................. 64

5.2.6.7 Atividade inflamatória .................................................................................. 65

5.2.6.8 Atividade miotóxica ...................................................................................... 66

5.2.7 Estudo da interação do decocto das folhas de Jatropha gossypiifolia com proteínas

..................................................................................................................................... 67

5.2.7.1 Atividade proteolítica do decocto das folhas de Jatropha gossypiifolia ......... 67

5.2.7.2 Atividade precipitante do decocto das folhas de Jatropha gossypiifolia ......... 67

5.2.8 Avaliação da atividade anticoagulante in vitro do decocto das folhas de Jatropha

gossypiifolia ................................................................................................................. 68

5.2.9 Avaliação da atividade fibrinolítica in vitro do decocto das folhas de Jatropha

gossypiifolia ................................................................................................................. 69

5.2.10 Avaliação da atividade antioxidante in vitro do decocto das folhas de Jatropha

gossypiifolia ................................................................................................................. 69

5.2.10.1 Capacidade antioxidante total (CAT) .......................................................... 70

5.2.10.2 Quelação de cobre ....................................................................................... 70

5.2.10.3 Quelação de ferro ........................................................................................ 70

5.2.10.4 Sequestro de radicais hidroxila .................................................................... 71

5.2.10.5 Sequestro de radicais superóxido ................................................................. 71

5.2.10.6 Poder redutor .............................................................................................. 72

5.2.11 Análise estatística .............................................................................................. 72

6 RESULTADOS ............................................................................................................... 73

6.1 RENDIMENTO DO PROCESSO DE EXTRAÇÃO DAS FOLHAS DE Jatropha

gossypiifolia ..................................................................................................................... 74

6.2 ANÁLISE FITOQUÍMICA DO DECOCTO DAS FOLHAS E FRAÇÕES DE Jatropha

gossypiifolia ..................................................................................................................... 74

6.3 ENSAIOS DE CITOTOXICIDADE IN VITRO .......................................................... 79

6.3.1 Atividade hemolítica ............................................................................................ 79

6.3.2 Citotoxicidade frente a células HEK-293 ............................................................. 80

Page 16: JULIANA FÉLIX DA SILVA ATIVIDADE ANTIOFÍDICA DO … · Figura 4 – Visão geral da coagulação sanguínea ... Figura 5 – Esquema ilustrativo da estrutura do fibrinogênio .....

Sumário

Juliana Félix da Silva

6.4 DOSAGEM DE PROTEÍNAS E PERFIL ELETROFORÉTICO DO VENENO DE B.

jararaca ........................................................................................................................... 80

6.5 AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE ANTIOFÍDICA DO DECOCTO DAS FOLHAS DE

Jatropha gossypiifolia ...................................................................................................... 81

6.5.1 Inibição da atividade proteolítica sobre a azocaseína ............................................ 81

6.5.2 Inibição da atividade proteolítica sobre o fibrinogênio ......................................... 82

6.5.3 Inibição da atividade coagulante .......................................................................... 84

6.5.4 Inibição da atividade defibrinogenante in vivo ..................................................... 85

6.5.5 Inibição da atividade hemorrágica in vivo ............................................................ 85

6.5.6 Inibição da atividade fosfolipásica ....................................................................... 87

6.5.7 Inibição da atividade edematogênica in vivo ........................................................ 87

6.5.8 Inibição da atividade miotóxica in vivo ................................................................ 89

6.5.9 Avaliação da atividade proteolítica do decocto das folhas de Jatropha gossypiifolia

..................................................................................................................................... 90

6.5.10 Atividade precipitante do decocto das folhas de Jatropha gossypiifolia.............. 91

6.6 AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE ANTICOAGULANTE E FIBRINOLÍTICA IN

VITRO DO DECOCTO DAS FOLHAS DE Jatropha gossypiifolia .................................. 92

6.7 AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE ANTIOXIDANTE IN VITRO DO DECOCTO DAS

FOLHAS DE Jatropha gossypiifolia ................................................................................ 93

6.8 AVALIAÇÃO PRELIMINAR DA ATIVIDADE ANTIOFÍDICA DAS FRAÇÕES DO

DECOCTO DAS FOLHAS DE Jatropha gossypiifolia .................................................... 95

7 DISCUSSÃO ................................................................................................................... 97

8 CONCLUSÕES ............................................................................................................. 113

REFERÊNCIAS ............................................................................................................... 116

Page 17: JULIANA FÉLIX DA SILVA ATIVIDADE ANTIOFÍDICA DO … · Figura 4 – Visão geral da coagulação sanguínea ... Figura 5 – Esquema ilustrativo da estrutura do fibrinogênio .....

1 Introdução 15

Juliana Félix da Silva

11 IINNTTRROODDUUÇÇÃÃOO

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1 Introdução 16

Juliana Félix da Silva

11 IINNTTRROODDUUÇÇÃÃOO

Envenenamentos ofídicos representam um grave problema de saúde pública em muitas

regiões do mundo, sobretudo em países tropicais e subtropicais (GUTIÉRREZ;

THEAKSTON; WARRELL, 2006). A incidência atinge cerca de 1,5 milhões de casos por

ano, com 20-94 mil mortes (KASTURIRATNE et al., 2008). Devido sua elevada morbi-

mortalidade, especialmente na África, Ásia, Oceania e América Latina, os acidentes ofídicos

são considerados uma doença negligenciada (GUTIÉRREZ; THEAKSTON; WARRELL,

2006). Cerca de 90 % dos acidentes ofídicos no Brasil e na América Latina são atribuídos às

serpentes do gênero Bothrops (BRASIL, 2009; GUTIÉRREZ; LOMONTE, 1989; PINHO;

PEREIRA, 2001).

Diversos componentes não proteicos (carboidratos, lipídeos, nucleotídeos, íons etc.) e

proteicos presentes nesses venenos são responsáveis pelos variados efeitos locais e sistêmicos

desencadeados em quadros de envenenamentos ofídicos (KARALLIEDDE, 1995). A grande

variedade de toxinas presentes em venenos de serpentes acaba acarretando em elevada

complexidade de efeitos tóxicos após a picada (MARTZ, 1992). Os principais efeitos

desencadeados pelo envenenamento botrópico são edema, necrose, miotoxicidade,

hemorragia, alterações nos vasos linfáticos e degradação da matriz extracelular, que são

alterações decorrentes da presença de diversas enzimas, tais como serinoproteases,

metaloproteases, hialuronidases, miotoxinas, fosfolipases A2 e hemorraginas (GUTIÉRREZ;

LOMONTE, 1989; KANG et al., 2011; KARALLIEDDE, 1995).

Atualmente, a única forma de terapia disponível para o tratamento desses acidentes é a

soroterapia antiveneno (SAV) (CHIPPAUX; GOYFFON, 1998). No entanto, a SAV

apresenta algumas desvantagens, tais como: incapacidade de tratar efeitos locais, eficiência

somente até determinado tempo após a picada, difícil acesso em algumas regiões, risco de

reações imunológicas e custo elevado (GUTIÉRREZ, 2002; GUTIÉRREZ; LEÓN;

BURNOUF, 2011). Dessa forma, a busca por terapias alternativas para o tratamento de

envenenamentos por animais peçonhentos é de grande importância em saúde pública e, nesse

contexto, as plantas medicinais se apresentam como fortes candidatas, podendo estar servindo

como uma terapia complementar e/ou alternativa à SAV (DEY; DE, 2012; HOUGHTON;

OSIBOGUN, 1993; MARTZ, 1992; MOLANDER et al., 2012; MORS et al., 2000).

O conhecimento popular é rico em espécies vegetais utilizadas como antídoto para a

picada de animais peçonhentos (HOUGHTON; OSIBOGUN, 1993; HUTT; HOUGHTON,

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1 Introdução 17

Juliana Félix da Silva

1998; MARTZ, 1992; MOLANDER et al., 2012; MORS et al., 2000; OTERO et al., 2000).

Dentre elas, o foco do presente estudo é a espécie Jatropha gossypiifolia L., que é uma planta

medicinal utilizada para os mais variados fins, dos quais se destaca o uso como antídoto para

picada de serpentes (ALBUQUERQUE et al., 2007; DI STASI; HIRUMA-LIMA, 2002;

MARIZ et al., 2010). Além disso, essa espécie está incluída na Relação Nacional de Plantas

Medicinais de Interesse ao Sistema Único de Saúde (Renisus), que é uma lista elaborada pelo

Ministério da Saúde com o objetivo de incentivar o estudo das espécies relacionadas, tendo

em vista o seu interesse em saúde pública (BRASIL, 2011).

Nesse sentido, o objetivo deste trabalho é avaliar a capacidade do extrato aquoso das

folhas de J. gossypiifolia em inibir os efeitos biológicos e enzimáticos produzidos pelo

veneno da serpente Bothrops jararaca. Com esse estudo, espera-se contribuir para o

desenvolvimento de novas alternativas à SAV, permitindo um melhor prognóstico dos

acidentados por animais peçonhentos, especialmente em locais onde o acesso ao tratamento

específico é difícil.

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2 Fundamentação Teórica 18

Juliana Félix da Silva

22 FFUUNNDDAAMMEENNTTAAÇÇÃÃOO TTEEÓÓRRIICCAA

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2 Fundamentação Teórica 19

Juliana Félix da Silva

22 FFUUNNDDAAMMEENNTTAAÇÇÃÃOO TTEEÓÓRRIICCAA

2.1 ACIDENTES OFÍDICOS

Os acidentes ofídicos representam sério problema em saúde pública em todo o mundo,

sobretudo em países tropicais e subtropicais (GUTIÉRREZ; LEÓN; BURNOUF, 2011;

GUTIÉRREZ; THEAKSTON; WARRELL, 2006). Os acidentes ofídicos, devido sua alta

morbi-mortalidade, ainda imprimem grande impacto na população e nos sistemas nacionais de

saúde, especialmente na África, Ásia, Oceania e América Latina, sendo considerada uma

doença tropical negligenciada do século XXI (GUTIÉRREZ; THEAKSTON; WARRELL,

2006; LALLOO, 2010). Embora dados estatísticos mais acurados sejam indisponíveis, alguns

autores estimam que a ocorrência anual de acidentes ofídicos chegue a 1.841.000 casos,

provocando desde 20 até 94 mil mortes (KASTURIRATNE et al., 2008). No Brasil, segundo

dados do Ministério da Saúde, ocorrem em média 20 mil acidentes ofídicos por ano

(BRASIL, 2009). Dados do ano de 2008 apontam que a maioria dos acidentes ocorridos no

Brasil é classificada como leves (50,7 %), moderados (36,1 %) e graves (6,8 %), sendo a

letalidade geral relativamente baixa (0,4 %) e o tempo decorrido entre acidente e atendimento

e o tipo de envenenamento fatores limitantes que podem elevar essa letalidade em até oito

vezes (BRASIL, 2009). A frequência de sequelas, relacionada a complicações locais, é

bastante elevada, situada em 10 % nos acidentes botrópicos, sendo associada a fatores de risco

como o uso de torniquete, picada em extremidades (dedos de mãos e pés) e retardo no

tratamento específico (BRASIL, 2009). Segundo estudos epidemiológicos publicados, o perfil

dos acidentes ofídicos se caracteriza por acometer principalmente pessoas do sexo masculino,

trabalhadores rurais na faixa etária de 15 a 49 anos, atingindo principalmente membros

inferiores (BOCHNER; STRUCHINER, 2003).

A fauna ofídica brasileira de interesse médico está representada pelos gêneros Bothrops,

Crotalus, Lachesis e Micrurus, que tem como principais representantes as serpentes

popularmente conhecidas como, respectivamente, “jararaca”, “cascavel”, “surucucu” e “coral-

verdadeira”. Dentre eles, o gênero Bothrops é o de maior importância epidemiológica no

Brasil e na América Latina de uma forma geral, abrangendo cerca de 90 % dos casos

(BRASIL, 2009; GUTIÉRREZ; LOMONTE, 1989).

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2 Fundamentação Teórica 20

Juliana Félix da Silva

2.2 SERPENTES BOTRÓPICAS

O gênero Bothrops conta com mais de 60 espécies encontradas em todo território

brasileiro, sendo as principais representantes Bothrops alternatus, Bothrops atrox, Bothrops

erythromelas, Bothrops jararaca, Bothrops jararacussu e Bothrops moojeni (BRASIL, 2001,

2009). As serpentes botrópicas caracterizam-se por apresentarem cauda lisa, ausência de

chocalho e possuírem cores variadas, dependendo da espécie e da região onde vivem. São

popularmente conhecidas como “jararaca”. Habitam zonas rurais e periferias de grandes

cidades, preferindo ambientes úmidos como matas e áreas cultivadas e locais onde haja

facilidade para proliferação de roedores (paióis, celeiros, depósitos de lenha). Tem hábitos

predominantemente noturnos ou crepusculares (BRASIL, 2001; PINHO; PEREIRA, 2001).

B. jararaca (Figura 1) é a principal representante e serpente mais estudada do gênero

Bothrops, sendo distribuída da Bahia até o Sul do Brasil, se tratando, portanto, de uma das

principais causadoras de acidentes ofídicos no Sudeste brasileiro (BRASIL, 2001). A serpente

adulta pode chegar de 1 até 1,6 m de comprimento, sendo adaptável a um bom número de

habitat, desde Mata Atlântica até áreas urbanas (ANTUNES et al., 2010).

Figura 1 – Serpente Bothrops jararaca

Fonte: Antunes et al. (2010).

2.3 VENENOS BOTRÓPICOS

Os venenos ofídicos são constituídos por uma complexa mistura de componentes

proteicos e não-proteicos (carboidratos, lipídios, nucleotídeos, aminas biogênicas e vários

íons) (Figura 2), que vão ser responsáveis pelos diversos efeitos locais (dor, edema,

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2 Fundamentação Teórica 21

Juliana Félix da Silva

hemorragia e necrose tecidual) e sistêmicos (alterações cardiovasculares, choque, distúrbios

da coagulação sanguínea, náusea, vômito e hematúria) desencadeados em vítimas de picadas

de serpentes (BOCHNER; STRUCHINER, 2003; GUTIÉRREZ, 2002; PINHO; PEREIRA,

2001; WARRELL, 2012). As serpentes, de uma forma geral, utilizam seus venenos como

mecanismo de ataque para incapacitar e imobilizar suas presas, como mecanismo de defesa

contra seus predadores e para auxiliar a digestão de sua alimentação (KANG et al., 2011). O

veneno é produzido por um tipo de glândula especializada sero-mucosa (glândula iógena) e é

inoculado por um aparato especializado de presas inoculadoras que permitem a injeção

subcutânea do veneno nos tecidos das vítimas (CHIPPAUX; GOYFFON, 1998).

Embora seja uma mistura complexa, composta por vários tipos de moléculas, estima-se

que, em média, 95 % do peso seco da grande maioria dos venenos de animais peçonhentos, de

uma forma geral, seja constituído de proteínas, que incluem desde componentes não

enzimáticos, como pequenos peptídeos, até enzimas com as mais variadas funções biológicas

(KARALLIEDDE, 1995). As principais toxinas encontradas em venenos ofídicos são

fosfolipases A2 (PLA2s), serinoproteases, metaloproteases, acetilcolinesterases, L-

aminoacido-oxidases (LAAOs), nucleotidases e hialuronidases (KANG et al., 2011). Os

venenos ofídicos são susceptíveis a variabilidade na sua constituição em vários níveis

(interfamília, intergênero, interespécie, intersubespécie e intraespécie), além de sofrerem

variação de acordo com localização geográfica, variações sazonais, dieta, habitat, idade e sexo

(CHIPPAUX; GOYFFON, 1998).

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2 Fundamentação Teórica 22

Juliana Félix da Silva

Figura 2 – Principais constituintes dos venenos ofídicos

Fonte: Adaptado de Ramos; Selistre-de-Araújo (2006).

A despeito da existência de variações inter e intraespécies na composição e,

consequentemente, nas atividades farmacológicas, os venenos botrópicos induzem

qualitativamente quadro patofisiológico semelhante, caracterizado por imediato e proeminente

dano local tecidual, alterações cardiovasculares, choque hipovolêmico, desordens na

coagulação sanguínea e alterações renais (GUTIÉRREZ; LOMONTE, 1989). É descrito, de

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2 Fundamentação Teórica 23

Juliana Félix da Silva

forma geral, que os venenos botrópicos produzem três ações principais (proteolítica,

coagulante e hemorrágica) que são decorrentes da ação conjunta de proteases

(metaloproteases e serinoproteases), hialuronidases, fosfolipases, hemorraginas e da liberação

de mediadores da resposta inflamatória (PINHO; PEREIRA, 2001). Cada uma dessas ações é

produzida em maior ou menor grau dependendo da espécie botrópica em questão, da

decorrência da variação quali e/ou quantitativa interespécie na constituição dos venenos, além

do que uma mesma ação presente em várias serpentes botrópicas pode ser devida ao resultado

global da ação de diferentes mecanismos (diferentes toxinas) presentes especificamente em

determinadas espécies (GENÉ et al., 1989; GUTIÉRREZ; CHAVES; BOLAÑOS, 1980;

KORNALÍK, 1985). O envenenamento ofídico, portanto, é um processo patofisiológico

complexo, envolvendo a ação simultânea de diferentes tipos de toxinas, representando, dessa

forma, um cenário complexo que requer uma abordagem integrativa para permitir uma

compreensão adequada do processo como um todo (GUTIÉRREZ; LEÓN; BURNOUF,

2011).

A seguir, as fosfolipases, serinoproteases e metaloproteases serão descritas em maiores

detalhes, tendo em vista que são as principais toxinas presentes nos venenos botrópicos, que

são alvo do presente estudo.

2.3.1 Fosfolipases A2 (PLA2s)

As fosfolipases A2 (PLA2s) são enzimas amplamente distribuídas na natureza que

hidrolisam especificamente a ligação éster sn-2-acil de fosfolipídios de forma cálcio-

dependente, liberando ácidos graxos livres e lisofosfolipídeos (ARNI; WARD, 1996; KANG

et al., 2011; KINI, 2003). Fosfatidilcolina, fosfatidilinositol, fosfatidilserina,

fosfatidiletanolamida, fosfatidilglicerol ou ácido fosfatídico são os substratos mais comuns

das PLA2s, levando a formação de diferentes tipos de lisofosfolipídeos (DE PAULA et al.,

2009). Essas enzimas são tradicionalmente classificadas em dois tipos: intracelulares, que

permanecem associadas a membranas e estão envolvidas no metabolismo dos fosfolipídios,

transdução de sinal e outras funções celulares importantes; e extracelulares, que são

abundantes nos sucos pancreáticos de mamíferos e em venenos de serpentes e insetos (ARNI;

WARD, 1996).

Além de sua função catalítica, as PLA2s de venenos de serpentes ainda apresentam uma

série de atividades farmacológicas adicionais, que podem ser dependentes ou não da sua

atividade enzimática (ARNI; WARD, 1996; DE PAULA et al., 2009). Atividades

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2 Fundamentação Teórica 24

Juliana Félix da Silva

hemorrágica, miotóxica, hemolítica, edematogênica, hipotensiva, neurotóxica, cardiotóxica e

ativadora ou inibidora de agregação plaquetária são descritas para PLA2s, que conferem o

caráter altamente tóxico aos venenos de serpentes (ARNI; WARD, 1996). Vários estudos vêm

demonstrando que as PLA2s de venenos botrópicos estão envolvidas em respostas

inflamatórias como edema, dor, migração leucocitária, miotoxicidade e necrose

(GUTIÉRREZ; LOMONTE, 1989, 1995).

As PLA2s de venenos de serpentes apresentam alto conteúdo de pontes dissulfeto, baixa

massa molecular (14 a 18 kDa) e estrutura tridimensional similar (DE PAULA et al., 2009;

KANG et al., 2011; STÁBELI et al., 2012). Essas enzimas podem conter um resíduo de

aspartato ou arginina na posição 49, sendo classificadas em PLA2 Asp49 ou Lys49,

respectivamente, dependendo de qual resíduo de aminoácido a enzima apresenta nessa

posição (LOMONTE; ANGULO; CALDERÓN, 2003). A presença de Asp49 é essencial para

a ligação do cálcio (co-fator enzimático PLA2) a essas enzimas. Dessa forma, PLA2 com

Asp49 são enzimaticamente ativas, enquanto PLA2 com Lys49 apresentam pouca ou nenhuma

atividade enzimática, embora biologicamente os dois tipos sejam ativos (ARNI; WARD,

1996; DE PAULA et al., 2009; GUTIÉRREZ; LOMONTE, 1995).

2.3.2 Serinoproteases (SVSPs)

Serinoproteases de venenos ofídicos (SVSPs) são enzimas bastante abundantes em

venenos de serpentes da família Viperidae, nos quais podem chegar a corresponder a 20 % do

conteúdo total de proteínas (KANG et al., 2011). SVSPs pertencem à família de proteases

semelhantes à tripsina, a maior família de peptidases (SERRANO; MAROUN, 2005). Essas

enzimas apresentam, em geral, aproximadamente 235 aminoácidos, possuindo 12 resíduos

conservados de cisteína, dos quais 10 são pareados em 5 pontes dissulfeto, baseado na

homologia com a tripsina, enquanto os 2 resíduos de cisteína restantes formam uma única e

conservada ponte característica entre SVSPs (SAJEVIC; LEONARDI; KRIŽAJ, 2011;

SERRANO; MAROUN, 2005). SVSPs são sintetizadas como zimogênios e na sua forma

madura elas são geralmente glicoproteínas de cadeia única. Dependendo do conteúdo de

carboidrato, a sua massa molecular varia entre 26 e 67 kDa (SAJEVIC; LEONARDI;

KRIŽAJ, 2011).

SVSPs são caracterizadas por um mecanismo catalítico comum, que inclui um resíduo

de serina altamente reativo que desempenha um papel chave na formação de um complexo

acil-enzima transitório, que é estabilizado pela presença de resíduos de histidina e aspartato

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2 Fundamentação Teórica 25

Juliana Félix da Silva

no sítio ativo da enzima, formando a tríade Histidina-Aspartato-Serina (SERRANO;

MAROUN, 2005).

Essas enzimas não são letais isoladamente, mas contribuem para o efeito tóxico dos

venenos ofídicos quando em associação com outros componentes proteicos. É característico

das SVSPs afetar vários passos da cascata da coagulação sanguínea, tanto inespecificamente,

por degradação proteolítica, quanto seletivamente, pela ativação ou inibição de fatores

sanguíneos específicos na agregação plaquetária, coagulação e fibrinólise (BRAUD; BON;

WISNER, 2000).

2.3.3 Metaloproteases (SVMPs)

Metaloproteases de venenos ofídicos (SVMPs) estão entre as enzimas-chave que

contribuem para a toxicidade de venenos de serpentes da família Viperidae, sendo estimado

que elas compreendam pelo menos 30 % do seu conteúdo total de proteínas (KANG et al.,

2011; MARKLAND JUNIOR; SWENSON, 2013). As SVMPs apresentam massa molecular

que pode variar entre 20 a 100 kDa e são classificadas em três grupos (P-I a P-III) de acordo

com a organização dos seus domínios (KANG et al., 2011; TAKEDA; TAKEYA;

IWANAGA, 2012). O domínio catalítico é composto de aproximadamente 215 aminoácidos e

tem atividade endopeptidase dependente de metais, sendo, portanto, enzimas fortemente

inibidas pela presença de agentes quelantes de metais como EDTA ou o-fenantrolina

(RAMOS; SELISTRE-DE-ARAUJO, 2006). As SVMPs contêm regiões características de

ligação de zinco (SAJEVIC; LEONARDI; KRIŽAJ, 2011) e múltiplas pontes dissulfeto, que

estabilizam sua estrutura e integridade funcional no ambiente oxidativo extracelular (FOX;

SERRANO, 2008).

Um grande número de atividades biológicas tem sido atribuído a SVMPs, incluindo

hemorragia, edema, hipotensão, inflamação e necrose (GUTIÉRREZ; RUCAVADO, 2000).

SVMPs são as principais toxinas responsáveis pelo quadro hemorrágico do acidente ofídico,

estando entre os principais fatores que contribuem para a letalidade (TAKEDA; TAKEYA;

IWANAGA, 2012). Algumas SVMPs não apresentam atividade hemorrágica, mas agem

através de diferentes mecanismos como rompimento da homeostase mediada por efeitos pró

ou anticoagulantes, inibição da agregação plaquetária ou efeitos pró-inflamatórios

(BJARNASON; FOX, 1994; GUTIÉRREZ et al., 2005).

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2 Fundamentação Teórica 26

Juliana Félix da Silva

2.4 AÇÃO DE TOXINAS BOTRÓPICAS SOBRE O SISTEMA HEMOSTÁTICO

Venenos ofídicos podem afetar a hemostasia de várias formas, como, por exemplo,

diminuindo a coagulabilidade sanguínea, provocando danos aos vasos sanguíneos resultando

em sangramento ou provocando quadros trombóticos (SAJEVIC; LEONARDI; KRIŽAJ,

2011). Esses efeitos são provocados por várias enzimas que podem agir na coagulação tanto

de forma sinérgica como antagônica, sendo a atividade total do veneno bruto produzida de

acordo com a concentração das diferentes enzimas presentes (KORNALÍK, 1985). As

principais enzimas responsáveis pelas atividades hemostáticas dos venenos são proteases,

tanto serino (SVSPs) quanto metaloproteases (SVMPs) (MATSUI; FUJIMURA; TITANI,

2000; SAJEVIC; LEONARDI; KRIŽAJ, 2011). Quanto a sua ação, essas enzimas podem ser

classificadas como enzimas semelhantes à trombina de venenos ofídicos (SVTLEs), enzimas

fibrinogenolíticas, enzimas ativadoras de fatores da coagulação, enzimas ativadoras de

plaquetas, enzimas anticoagulantes e hemorraginas (BJARNASON; FOX, 1994;

KORNALÍK, 1985; SAJEVIC; LEONARDI; KRIŽAJ, 2011). É importante ressaltar que a

ação dessas enzimas in vitro e in vivo devem ser distinguidas, uma vez que a maioria das

enzimas pró-coagulantes in vitro, dependendo da dose administrada, podem causar efeito

defibrinogenante in vivo (diminuição ou extinção dos níveis de fibrinogênio circulante) e

assim agir como anticoagulantes (KORNALÍK, 1985).

A seguir, será apresentada uma breve revisão sobre a coagulação sanguínea e a

fibrinólise para, em seguida, serem discutidos os principais mecanismos pelos quais agem as

toxinas ofídicas no sistema hemostático.

2.4.1 Coagulação sanguínea e fibrinólise: uma breve revisão

Hemostasia é o processo pelo qual o organismo procura controlar a perda de sangue

através de um vaso lesado, evitando que ela se prolongue por um tempo maior (JACKSON,

2002; LORENZI, 2006). A hemostasia sanguínea é dividida em primária e secundária.

A hemostasia primária é a que ocorre inicialmente após a lesão do vaso sanguíneo,

através da interação do colágeno exposto do vaso danificado com as plaquetas circulantes. Há

imediata constrição do vaso sanguíneo com a finalidade de diminuir o fluxo local e de

permitir maior contato entre as plaquetas circulantes e o ponto onde o endotélio sofreu a

lesão, formando então o tampão primário, que representa o primeiro mecanismo de defesa do

organismo contra a perda sanguínea. As plaquetas se tornam então ativadas liberando

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2 Fundamentação Teórica 27

Juliana Félix da Silva

grânulos que permitem a agregação e adesão de mais plaquetas (FRANCO, 2001; JACKSON,

2002; LORENZI, 2006).

Em condições normais, não há fator tecidual (FT) circulando nos vasos, mas quando há

um processo de injúria vascular, esse fator, ao entrar em contato com a circulação sanguínea,

ativa uma série de eventos denominada cascata da coagulação, que culminará na formação de

fibrina, que vai formar redes entre as plaquetas agregadas formando assim um coágulo denso,

firme, capaz de cessar o sangramento provocado pela lesão vascular, o que é chamado de

hemostasia secundária (FRANCO, 2001; JACKSON, 2002; LORENZI, 2006).

A última etapa da hemostasia compreende o mecanismo de fibrinólise, que consiste no

mecanismo de dissolução enzimática do coágulo que se forma após a lesão do endotélio

vascular sobre a qual se deposita a rede de fibrina. A fibrinólise permite a recanalização do

vaso lesado e tamponado, a fim de que o fluxo sanguíneo seja restabelecido (FRANCO, 2001;

JACKSON, 2002; LORENZI, 2006).

Existe um equilíbrio dinâmico entre coagulação e fibrinólise, de modo que a conversão

de fibrinogênio em fibrina e a dissolução do coágulo devem ser cuidadosamente reguladas.

Qualquer desequilíbrio pode resultar ou em uma perda de sangue por conta da hemorragia ou

bloqueio do fluxo sanguíneo em um vaso por uma trombose (WEISEL, 2005).

Por muitos anos, a ativação da coagulação sanguínea foi representada por um modelo

em cascata, dividido em “via extrínseca” (envolvendo componentes do sangue, mas também,

elementos que usualmente não estão presentes no espaço intravacular) e “via intrínseca”

(iniciada por componentes presentes no espaço intravascular). No entanto, estudos clínicos e

experimentais tem demonstrado que este modelo não explica completamente os eventos

hemostáticos in vivo (FRANCO, 2001; MOERLOOSE; BOEHLEN, 2009). Este modelo foi

então substituído por um modelo baseado em células, que considera que a hemostasia

secundária ocorra em três etapas (iniciação, amplificação e propagação), os quais envolvem

serinoproteases dependentes de vitamina K (Fatores II, VII, IX e X) associadas a cofatores

(Fatores V e VIII), todos localizados em uma superfície de membrana contendo fosfolipídeo,

em especial das plaquetas (FRANCO, 2001; SAJEVIC; LEONARDI; KRIŽAJ, 2011).

A iniciação do processo de coagulação depende da exposição do sangue a componentes

que, normalmente, não estão presentes no interior dos vasos, em decorrência de lesões

estruturais (injúria vascular) ou alterações bioquímicas, como é o caso do FT. A coagulação

sanguínea é iniciada quando o Fator VII plasmático entra em contato com o FT exposto para

região intravascular, o que leva a ativação do Fator VII (VIIa). O complexo Fator VIIa/ FT

(complexo “tenase” extrínseco) subsequentemente ativa pequenas quantidades de Fator IX e

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Fator X, formando Fator IXa e Xa. O Fator Xa se associa com Fator Va para formar o

complexo protrombinase. O Fator IXa, formado durante a fase de iniciação, pode se translocar

para a superfície das plaquetas e se ligar ao Fator VIIIa, formando o complexo Fator IXa/

Fator VIIIa (complexo “tenase” intrínseco), que também vai formar Fator Xa. Seja via

complexo “tenase” extrínseco ou intrínseco, o complexo Fator Va/ Fator Xa é formado

(complexo “protrombinase”) e então converte a protrombina (Fator II) em trombina (Fator

IIa) na superfície das plaquetas (Figura 3 e 4). Em seguida, na fase de amplificação, a

trombina gerada ativa plaquetas, que por sua vez expõem em sua superfície receptores e sítios

de ligação para a ativação de fatores de coagulação. Plaquetas ativadas expõem formas

parcialmente ativadas de Fator V em suas superfícies. Na superfície da plaqueta, a trombina

também ativa Fator XI, Fator V e Fator VIII. Devido à ativação do Fator VIII, o complexo

fator de Von Willebrand (vWF)/ Fator VIII é dissociado, permitindo o vWF mediar adesões

plaquetárias adicionais e agregação ao sítio de lesão vascular. Como um grande número de

plaquetas é recrutado ao sítio de dano vascular, a fase de propagação ocorre na sua superfície.

A trombina cliva o fibrinogênio e então permite a sua polimerização. A trombina também

ativa o Fator XIII, que é uma transglutaminase que estabiliza o coágulo de fibrina por

reticulação das moléculas de fibrina (FRANCO, 2001; MOERLOOSE; BOEHLEN, 2009;

SAJEVIC; LEONARDI; KRIŽAJ, 2011).

Figura 3 – Representação esquemática dos complexos pró-coagulantes

Fonte: Franco (2001).

FT: fator tecidual. Ca++: cálcio.

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Figura 4 – Visão geral da coagulação sanguínea

Fonte: FRANCO (2001).

Ca++: cálcio.

O fibrinogênio (Figura 5) é uma grande glicoproteína constituída de três pares de

cadeias polipeptídicas, denominadas Aα, Bβ e γ, com massas moleculares de 66,5, 52 e 46,5

kDa, respectivamente. As 6 cadeias polipeptídicas são organizadas com suas porções N-

terminais em domínio central (domínio E). As porções C-terminal das cadeias Bβ e γ se

estendem para fora formando os domínios distais (domínio D). A porção C-terminal das

cadeias Aα são globulares e situadas próximo do domínio E, onde eles interagem intra-

molecularmente (WEISEL, 2005; WOLBERG, 2007; WOLBERG; CAMPBELL, 2008).

Figura 5 – Esquema ilustrativo da estrutura do fibrinogênio

Fonte: Adaptado de Lorenzi (2006).

S: pontes dissulfeto. Setas indicam os pontos de atuação da trombina e da plasmina.

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Quando o fibrinogênio é clivado pela trombina para originar a fibrina, as cadeias de

fibrina passam a se chamar simplesmente α e β, sendo liberados os fibrinopeptídeos A e B

(FpA e FpB, respectivamente). Esses fibrinopeptídeos, no fibrinogênio, localizam-se na

porção N-terminal, como pode ser visualizado na Figura 5. Nenhum peptídeo é clivado da

cadeia γ pela trombina (WEISEL, 2005).

Uma vez que o coágulo de fibrina e plaquetas (tampão secundário) é formado, o

processo de coagulação é atenuado para evitar oclusão trombótica nas áreas da vasculatura

que não estão com dano vascular. O processo de coagulação é regulado negativamente por:

antitrombina (que inibe trombina e outras serinoproteases), proteína C (que inativa Fator Va e

Fator VIIIa) e inibidor da via do fator tecidual (TFPI).

Após a regressão da lesão, a fibrinólise remove o coágulo da circulação sanguínea

(FRANCO, 2001; MOERLOOSE; BOEHLEN, 2009). O sistema fibrinolítico é composto por

diversas proteínas que regulam a geração de plasmina, uma enzima ativa, produzida a partir

de uma proenzima inativa (plasminogênio), que tem por função degradar a fibrina e ativar

metaloproteases de matriz extracelular (FRANCO, 2001; FUSS; PALMAZ; SPRAGUE,

2001; JACKSON, 2002). São conhecidos dois ativadores fisiológicos do plasminogênio: o

ativador do plasminogênio do tipo tecidual (t-PA) e o ativador do plasminogênio do tipo

uroquinase (u-PA), que resultam na protease ativa plasmina. A fibrinólise é modulada, por sua

vez, em nível dos ativadores do plasminogênio, mediante ação de inibidores específicos, cujo

principal representante é o inibidor de ativadores de plasminogênio 1 (PAI-1) e diretamente

sobre a plasmina, função inibitória exercida pela α2-antiplasmina (FRANCO, 2001;

LORENZI, 2006).

2.4.2 Enzimas semelhantes à trombina de venenos ofídicos (SVTLEs)

SVTLEs, também conhecidas como proteases trombicas ou enzimas coagulantes de

fibrinogênio, são provavelmente o tipo mais comum de ativadores da coagulação sanguínea

de venenos ofídicos, sendo os mais conhecidos e estudados na família Viperidae (HUTTON;

WARRELL, 1993). Essas enzimas catalisam a liberação de FpA, FpB ou ambos da molécula

do fibrinogênio, o que faz com que essas enzimas sejam pró-coagulantes (KORNALÍK,

1985). Tratam-se de serinoproteases detentoras de atividade semelhante à trombina, no que

diz respeito, apenas, à sua capacidade de coagular o fibrinogênio (MARKLAND, 1998;

SAJEVIC; LEONARDI; KRIŽAJ, 2011). Essas enzimas são facilmente reconhecidas através

do teste de sua capacidade de coagular uma solução de fibrinogênio ou o plasma privado de

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cálcio, sendo, no entanto o coágulo formado anormal e solúvel em ureia 5 M ou ácido

monocloroacético 1 % (MARKLAND, 1998; SAJEVIC; LEONARDI; KRIŽAJ, 2011;

STOCKER; FISCHER; MEIER, 1982). SVTLEs agem in vitro com pró-coagulantes

convertendo o fibrinogênio em fibrina, enquanto que in vivo causam quadro de

defibrinogenemia (incoagulabilidade sanguínea) por meio de um processo de coagulopatia de

consumo semelhante à coagulação intravascular disseminada (KORNALÍK, 1985;

STOCKER; FISCHER; MEIER, 1982).

SVTLEs não ativam outros fatores da coagulação e somente alguns deles induzem

agregação plaquetária. Inibidores da trombina, como a antitrombina, heparina e hirudina

geralmente não inibem SVTLEs (SAJEVIC; LEONARDI; KRIŽAJ, 2011). SVTLEs são

divididos em três grupos, dependendo de qual fibrinopeptídeo elas liberam, se FpA (SVTLE-

A ou venombina A), FpB (SVTLE-B ou venombina B) ou ambos (SVTLE-AB ou venombina

AB) (MARKLAND, 1998). As mais comuns são as SVTLEs que liberam apenas um ou outro

fibrinopeptídeo, mas raramente ambos, contrariamente à trombina (SAJEVIC; LEONARDI;

KRIŽAJ, 2011). SVTLEs geralmente não ativam o Fator XIII, o que resulta na formação de

um coágulo de fibrina anormal, extremamente friável e quebrável, composto de pequenos

polímeros não estabilizados pela ligação intercruzada catalisada pelo Fator XIII, facilmente

susceptível ao sistema fibrinolítico (Figura 6), o que justifica o fato de serem considerados

agentes defibrinogenantes, com possível aplicação farmacológica em pacientes com

desordens trombo-embólicas (MARKLAND, 1998; MARSH; WILLIAMS, 2005; SAJEVIC;

LEONARDI; KRIŽAJ, 2011). SVTLEs, juntamente com as enzimas fibrinogenolíticas, são as

principais toxinas responsáveis pelo aumento no tempo de coagulação sanguínea observado

em pacientes picados por serpentes (BRASIL, 2001; MARKLAND, 1998; SAJEVIC;

LEONARDI; KRIŽAJ, 2011). Dentro dos primeiros minutos após administração in vivo de

SVTLEs, começa a haver uma depressão no nível de fibrinogênio no plasma e dentro de uma

hora ou duas, os níveis de fibrinogênio se tornam muito baixos e assim continuam por um

bom tempo (MARKLAND, 1998; SAJEVIC; LEONARDI; KRIŽAJ, 2011).

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Figura 6 – Esquema ilustrativo da ação das enzimas semelhantes à trombina de

venenos ofídicos (SVTLEs)

Fonte: Adaptado de Costa et al. (2010).

FpA: Fibrinopeptídeo A. FpB: Fibrinopeptídeo B. SVTLE: Enzima semelhante à trombina de venenos

ofídicos.

2.4.3 Enzimas fibrinogenolíticas

Enzimas fibrinogenolíticas, assim como as SVTLEs, também agem sobre o

fibrinogênio, só que clivando geralmente as regiões C-terminais das cadeias Aα, Bβ e γ em

sítios diferentes dos que a trombina age, fazendo com que o fibrinogênio se torne

incoagulável. Dessa forma, contrariamente às SVTLEs, as enzimas fibrinogenolíticas não

formam fibrina (KORNALÍK, 1985; OUYANG; TENG; HUANG, 1992; SWENSON;

MARKLAND JR, 2005). Essas enzimas podem ser facilmente identificadas pela sua

incubação com fibrinogênio purificado e análise do produto por SDS-PAGE, onde, embora

não se possa quantificar a atividade enzimática, é possível visualizar sobre qual cadeia do

fibrinogênio (Aα, Bβ e γ) a enzima fibrinogenolítica está atuando e classificá-las como α-

fibrinogenases ou β-fibrinogenases, de acordo com a especificidade dessas enzimas pelas

cadeias Aα ou Bβ do fibrinogênio, respectivamente (EDGAR; PRENTICE, 1973;

KORNALÍK, 1985). Outra forma de identificá-las é através da ação proteolítica dessas

enzimas sobre a azocaseína, onde é possível quantificar a atividade enzimática, não sendo,

porém um método específico para enzimas fibrinogenolíticas (SWENSON; MARKLAND JR,

2005). É importante ressaltar que a especificidade por cada cadeia do fibrinogênio não é algo

absoluto, uma vez que pode existir degradação substancial de cadeias alternativas com o

aumento do tempo de incubação (MARKLAND, 1998). A cadeia γ parece não ser um alvo

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específico das enzimas fibrinogenolíticas de venenos ofídicos, uma vez que não existem

relatos na literatura, com exceção de pouquíssimas enzimas que, após um extremamente

longo período de contato com o fibrinogênio, começam a degradá-lo (SAJEVIC;

LEONARDI; KRIŽAJ, 2011; SWENSON; MARKLAND JR, 2005).

Parte dessas enzimas são detentoras de atividade hemorrágica local (hemorraginas), por

conta de sua capacidade de degradar as proteínas da membrana basal dos vasos sanguíneos,

desestruturando-os e permitindo o extravasamento de sangue (SAJEVIC; LEONARDI;

KRIŽAJ, 2011; SWENSON; MARKLAND JR, 2005). Enzimas proteolíticas sem atividade

hemorrágica têm sido consideradas potenciais fármacos para o tratamento de pacientes com

desordens vasculares tromboembólicas (MARSH; WILLIAMS, 2005; SAJEVIC;

LEONARDI; KRIŽAJ, 2011).

A grande maioria das enzimas fibrinogenolíticas são metaloproteases, e uma pequena

minoria, apenas, trata-se de serinoproteases. São descritas SVMPs α- e β-fibrinogenases,

embora, na maioria dos casos, exista uma maior atividade frente às cadeias Aα do que às Bβ.

As SVSPs fibrinogenolíticas, em contraste, clivam preferencialmente cadeias Bβ com

pequena atividade direcionada às cadeias Aα, embora haja algumas exceções (MARKLAND,

1998; SAJEVIC; LEONARDI; KRIŽAJ, 2011; SWENSON; MARKLAND JR, 2005).

2.4.4 Toxinas ativadoras de fatores da coagulação

Além da sua ação pró-coagulante mediante ação semelhante à trombina, também é

identificada em alguns venenos ofídicos a presença de SVSPs ou SVMPs ativadoras de

diversos fatores da coagulação (OUYANG; TENG; HUANG, 1992; SAJEVIC; LEONARDI;

KRIŽAJ, 2011). Enzimas ativadoras de Fator V, X, XI e XII, bem como ativadores da

protrombina já foram identificadas em venenos ofídicos (HUTTON; WARRELL, 1993;

KINI, 2005; MARKLAND, 1998; OUYANG; TENG; HUANG, 1992; SAJEVIC;

LEONARDI; KRIŽAJ, 2011).

2.4.5 Hemorraginas

Hemorragia local é um dos principais sintomas do envenenamento botrópico

(ESCALANTE et al., 2011; GUTIÉRREZ; LOMONTE, 1989). As principais toxinas

responsáveis por esse efeito são SVMPs dependentes de zinco (KAMIGUTI et al., 1996). A

hemorragia é causada pela proteólise de componentes da lâmina basal da microvasculatura,

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2 Fundamentação Teórica 34

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sendo as SVMPs detentoras dessa propriedade chamadas de hemorraginas (BALDO et al.,

2010; GUTIÉRREZ; LOMONTE, 1989; KAMIGUTI; CARDOSO, 1989; KAMIGUTI et al.,

1996). Dois mecanismos pelos quais os eritrócitos e demais componentes sanguíneos escapam

dos vasos sanguíneos danificados pelas hemorraginas e entram nos compartimentos teciduais

tem sido descritos: hemorragia por diapedese, através de aberturas das junções intercelulares

das células endoteliais como consequência de uma forte reação inflamatória; e hemorragia por

rexe, que é a hipótese mais aceita, em que ocorre uma desestruturação dos vasos sanguíneos,

com aparecimento de rupturas que vão acarretar em extravasamento de sangue para o exterior

(Figura 7) (GUTIÉRREZ; LOMONTE, 1989; KAMIGUTI; CARDOSO, 1989; KAMIGUTI

et al., 1996). SVMPs degradam vários componentes da membrana basal e também são

capazes de hidrolisar proteínas da membrana celular endotelial, tais como integrinas e

caderinas, envolvidas na adesão célula-matriz e célula-célula, bem como são capazes de

hidrolisar colágeno tipo IV, laminina e fibronectina (ESCALANTE et al., 2011).

Figura 7 – Esquema ilustrativo da ação das metaloproteases de venenos ofídicos (SVMPs) hemorrágicas

Fonte: Adaptado de Escalante et al. (2011).

Colágeno FACIT: colágeno associado a fibrilas. SVMPs: Metaloproteases de venenos ofídicos.

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2.5 AÇÃO DE TOXINAS BOTRÓPICAS NA INFLAMAÇÃO

Envenenamentos botrópicos são caracterizados pelo rápido desenvolvimento de um

intenso processo inflamatório no sítio de injeção do veneno que é geralmente atribuído à ação

conjunta de uma variedade de substâncias como: toxinas que agem diretamente nas células

endoteliais de capilares e vênulas, aumentando sua permeabilidade; componentes do veneno

que induzem a liberação de histamina de mastócitos; fosfolipases A2 que induzem a liberação

de ácido araquidônico dos fosfolipídeos de membrana, iniciando uma via que leva a síntese de

prostaglandinas; proteases que agem em cininogênios plasmáticos, liberando cininas (por

exemplo, bradicinina); ou componentes do sistema complemento, principalmente C3a e C5a,

que participam na reação inflamatória ao induzir um aumento da permeabilidade vascular

(GUTIÉRREZ; LOMONTE, 1989). No local da inoculação ocorre intensa reação inflamatória

que se reconhece por edema firme, dor, rubor e hemorragia local, que pode ser seguida de

necrose (ARAÚJO et al., 2007). Lesões musculares também podem ocorrer nos

envenenamentos botrópicos, devido à ação direta ou indireta de toxinas presentes nestes

venenos, levando a sérios quadros de mionecrose (GUTIÉRREZ; LOMONTE, 1989).

A seguir, será apresentada uma breve revisão sobre a inflamação para, em seguida,

serem discutidos os principais mecanismos pelos quais as toxinas ofídicas agem na indução

do dano tecidual local.

2.5.1 Inflamação: uma breve revisão

A inflamação consiste em um conjunto de reações complexas e estereotipadas que

ocorre no tecido vascularizado, em resposta a agentes externos de natureza física, mecânica

ou traumática, que tem por objetivo facilitar o acesso, ao tecido lesado, de células, proteínas e

fluidos originários do sangue, que são necessários para circunscrever, limitar e remover o

estímulo lesivo. Essa resposta se manifesta pela presença de rubor (eritema), calor (aumento

da temperatura na região inflamada), tumor (edema), dor e, em certos casos, perda de função

do tecido ou órgão afetado. Durante o processo, podem ser identificados aumento do fluxo

sanguíneo, aumento da permeabilidade vascular e migração de leucócitos para a área

inflamada (LUSTER; ALON; VON ANDRIAN, 2005; RICHARDSON; VASKO, 2002;

ROBERTS-II; MORROW, 2005; ZARBOCK; LEY, 2008).

O desenvolvimento de uma resposta inflamatória aguda é controlado por citocinas

produzidas por células inflamatórias migratórias ou residentes, por produtos de sistemas

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2 Fundamentação Teórica 36

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enzimáticos presentes no plasma e por uma grande variedade de mediadores vasoativos

liberados de células endoteliais, mastócitos, plaquetas e basófilos (BROWN; ROBERTS-II,

2005; LAPA et al., 2007; MORROW; ROBERTS-II, 2005). Dentre os mediadores do

processo inflamatório identificados, encontram-se: aminas vasoativas (histamina),

eicosanóides (prostaglandinas e leucotrienos), fator ativador de plaquetas (PAF), citocinas

(interleucinas), cininas plasmáticas (bradicinina), sistema complemento, radicais livres, entre

outros. O tipo e a quantidade relativa de cada mediador variam conforme a fase de

desenvolvimento da resposta e, em certos aspectos, conforme o tipo de estímulo que

desencadeou o processo. Mediadores de ação rápida, tais como aminas vasoativas,

eicosanóides e produtos do sistema cininérgico, modulam a resposta imediata. Em seguida,

mediadores neo-sintetizados, como leucotrienos e interleucinas, são liberados e passam a

controlar o acúmulo e a ativação de células no local inflamado. Uma vez que os leucócitos

tenham chegado à sede da lesão, eles passam a produzir novos mediadores que irão

determinar a evolução do processo (BROWN; ROBERTS-II, 2005; LAPA et al., 2007;

MORROW; ROBERTS-II, 2005; ROBERTS-II; MORROW, 2005).

Dentre as células envolvidas no processo inflamatório, os neutrófilos (células

polimorfonucleares) são os leucócitos mais abundantes e as primeiras a serem recrutadas para

o sítio da inflamação. Os neutrófilos são capazes de fagocitar o agente externo devido ao

conteúdo citoplasmático de suas células, do qual pode-se citar a presença da enzima

mieloperoxidase (MPO), que é uma enzima do tipo heme armazenada nos grânulos azurófilos

dos neutrófilos que apresenta uma forte atividade oxidase (KOTHARI et al., 2011). A MPO

representa cerca de 5 % do teor de proteínas totais dos neutrófilos e é responsável pela

produção do agente oxidante ácido hipocloroso, um potente agente microbicida que tem

importante papel de defesa para o hospedeiro (KOTHARI et al., 2011). A quantificação da

atividade de MPO pode ser utilizada como um importante marcador de proliferação

neutrofílica e influxo de células inflamatórias para os tecidos (BRADLEY et al., 1982;

FAITH et al., 2008).

A reação inflamatória, devido ao seu papel de destruição de organismos invasores e

remoção de debris celulares, possui um caráter potencialmente lesivo ao tecido circunjacente.

Logo, essa resposta deve ser bem ordenada e controlada pelo organismo, papel esse exercido

por uma grande variedade de mecanismos celulares e humorais, que são ativados quando

ocorre uma agressão aos tecidos e que devem ser imediatamente desativados quando o agente

lesivo for afastado. A falha em qualquer um destes mecanismos de controle retira o caráter

protetor da resposta inflamatória, transformando-a em uma entidade nosológica (LAPA et al.,

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2 Fundamentação Teórica 37

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2007). Nesse contexto, justifica-se o uso de anti-inflamatórios, quando a inflamação deixa de

exercer seu papel protetor ou quando suas manifestações são exacerbadas ao ponto de se

tornarem incômodas ou limitantes para o indivíduo (ROBERTS-II; MORROW, 2005; VANE;

BOTTING, 1987).

2.5.2 Toxinas edematogênicas

Proeminente edema local é um achado clínico comum em envenenamentos ofídicos

(CURY; TEIXEIRA; SUDO, 1994; GUTIÉRREZ; LOMONTE, 1989). Essa intensa resposta

edematogênica frequentemente ocasiona isquemia e compressão neural, podendo resultar

numa síndrome compartimental que pode levar a perda permanente de tecido, incapacitação

ou amputação do membro acometido devido o quadro de necrose (GUTIÉRREZ;

LOMONTE, 1989; TEIXEIRA et al., 2009). Porém, diferentemente do que ocorre com outros

efeitos locais que são causados pela ação direta de toxinas específicas, o efeito edematogênico

é, aparentemente, o resultado de uma ação conjunta de diversas toxinas encontradas nos

venenos botrópicos, agindo rapidamente nos tecidos conectivo e muscular, induzindo a

liberação de vários mediadores inflamatórios endógenos. Sua modulação por mediadores

endógenos costuma diminuir a eficácia do soro antiofídico, uma vez que o antiveneno é capaz

de neutralizar as toxinas, porém não consegue reduzir a inflamação provocada pelos

mediadores químicos liberados por estas toxinas. Por esse motivo, o soro antiofídico não é

capaz de reverter o dano local tecidual já estabelecido (ARAÚJO et al., 2007; GUTIÉRREZ,

2002; GUTIÉRREZ; LOMONTE, 1989).

Estudos experimentais demonstram que o edema induzido pelo veneno de B. jararaca é

de origem inflamatória e primariamente mediado via metabólitos do ácido araquidônico

(produtos da ciclooxigenase e lipoxigenase) com uma menor participação de histamina,

serotonina e PAF (TREBIEN; CALIXTO, 1989) e que com relação às ciclooxigenases, há

participação de prostanóides, formados tanto pela ciclooxigenase 1 como pela 2 (COX-1 e

COX-2) (OLIVO et al., 2007). Além disso, Olivo et al. (2007) demonstraram que existe um

aumento nos níveis de prostaglandina E2 (PGE2) no tecido plantar a partir de 30 min até 3 h

após injeção do veneno, quando comparado ao controle injetado com salina. Outro trabalho

demonstrou que os leucócitos exercem importante papel na reposta inflamatória produzida no

edema de pata induzido pelo veneno de B. jararaca, indicando que os linfócitos são dotados

da capacidade de secretar mediadores pró-inflamatórios relevantes para o desenvolvimento de

uma inflamação aguda (CURY; TEIXEIRA; SUDO, 1994). Em um trabalho mais recente, foi

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2 Fundamentação Teórica 38

Juliana Félix da Silva

mostrado que a injeção intraplantar do veneno de B. jararaca induz um intenso infiltrado

celular com predominância de neutrófilos, com aumento no número de células sanguíneas

antes do seu acúmulo, sugerindo uma ação estimulatória sobre mecanismos de mobilização de

células da medula óssea, além de aumentar os níveis de interleucina 1β (IL-1β), interleucina 6

(IL-6), fator de necrose tumoral α (TNF-α) e proteína inflamatória macrofágica 2 (MIP-2) no

tecido plantar (CARNEIRO et al., 2008).

Além da atividade hemorrágica, as SVMPs também exercem importante papel na

complexa e multifatorial resposta inflamatória característica dos envenenamentos botrópicos.

Tanto SVMPs hemorrágicas quanto as não-hemorrágicas medeiam a patogênese do dano local

tecidual, ambas exercendo importante papel na degradação da matriz extracelular no decurso

do envenenamento, um efeito que pode afetar o processo de cicatrização e regeneração

tecidual. SVMPs também podem ativar metaloproteases de matriz endógenas pela clivagem

de seu pró-peptídeo e liberação da forma ativa dessas enzimas. Uma vez que metaloproteases

de matriz são muito importantes na degradação e remodelagem da matriz extracelular, sua

expressão aumentada na inflamação induzida pelo veneno pode contribuir para ainda mais

dano por promover degradação adicional da matriz extracelular (GUTIÉRREZ;

RUCAVADO, 2000).

No que diz respeito especificamente a B. jararaca, um trabalho mostrou que, de fato,

SVMPs imprimem um importante papel na resposta inflamatória produzida por esse veneno,

uma vez que o inibidor o-fenantrolina, um inibidor de metaloproteases, foi eficiente em inibir

o edema de pata induzido pelo veneno de B. jararaca (ZYCHAR et al., 2010). A literatura

demonstra que algumas PLA2 com Lys49 (enzimaticamente inativas) apresentam atividade

inflamatória comparável com as Asp49 (enzimaticamente ativas) (TEIXEIRA et al., 2003).

2.5.3 Toxinas miotóxicas/ mionecróticas

Dano no tecido muscular (mionecrose) é um importante e grave efeito do

envenenamento botrópico, uma vez que pode levar a perdas permanentes de tecido,

incapacidade e até amputação (GUTIÉRREZ; LOMONTE, 1995). A miotoxicidade pode

ocorrer devido a uma ação direta ou indireta de toxinas presentes nestes venenos

(GUTIÉRREZ; LOMONTE, 1989).

As lesões diretas são resultado da ação de miotoxinas, que são PLA2 Asp ou Lys49, que

lesam diretamente células musculares esqueléticas, afetando a integridade de sua membrana

plasmática. As PLA2 provocam perturbações drásticas na membrana plasmática ou no

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2 Fundamentação Teórica 39

Juliana Félix da Silva

sarcolema, resultando em uma perda de controle da permeabilidade de cálcio e,

consequentemente, causando ruptura desta membrana, por mecanismos dependentes ou não

de mecanismos catalíticos, induzindo a rápida liberação de marcadores citosólicos, tais como

lactato desidrogenase e creatina quinase (CK) (GUTIÉRREZ; LOMONTE, 1989, 1995). É

proposto que PLA2 provocam um pronunciado influxo de cálcio que, por sua vez, inicia uma

série complexa de eventos degenerativos associados com hipercontração dentre outros

mecanismos celulares (GUTIÉRREZ; OWNBY, 2003). A literatura demonstra que algumas

PLA2 com Lys49 (enzimaticamente inativas) apresentam atividade miotóxica comparável com

as Asp49 (enzimaticamente ativas) (GUTIÉRREZ; LOMONTE, 1995; TEIXEIRA et al.,

2003).

A miotoxicidade indireta, que é induzida por SVMPs, é resultante da isquemia

provocada por distúrbios vasculares decorrentes da ação hemorrágica dessas toxinas, que

podem levar a necrose muscular e consequente liberação de CK (GUTIÉRREZ; LOMONTE,

1989; GUTIÉRREZ; OWNBY, 2003; GUTIÉRREZ et al., 1995). Como consequência da

ação das hemorraginas, os capilares colapsam e o sangue extravasa para o espaço

extravascular, o que causa um efeito imediato no suprimento de sangue às células musculares,

induzindo isquemia (GUTIÉRREZ; LOMONTE, 1989).

2.6 SOROTERAPIA ANTIVENENO (SAV)

Atualmente, a Soroterapia Antiveneno (SAV) é o único tratamento específico

disponível para combater os efeitos tóxicos produzidos pelo envenenamento por animais

peçonhentos (BRASIL, 2001; GUTIÉRREZ, 2002). O soro antiofídico é uma formulação de

anticorpos neutralizantes preparada a partir do soro de animais hiperimunizados contra um

uma toxina específica ou um veneno específico, ou, mais comumente, a um pool de vários

venenos ofídicos (GUTIÉRREZ; LEÓN; BURNOUF, 2011; OTTEN, 1983). A sua eficácia

consiste em prover ao paciente anticorpos de alta afinidade aos venenos ofídicos objetivando

auxiliar na eliminação das toxinas responsáveis pela toxicidade do envenenamento

(SULLIVAN JR, 1987).

No caso do acidente botrópico, a conduta clínica consiste na administração, em

ambiente hospitalar, o mais precocemente possível, do soro antibotrópico (SAB) por via

intravenosa e, na falta deste, das associações de soros antibotrópico-crotálico (SABC) ou

antibotrópico-laquético (SABL). É comum o uso de anti-inflamatórios para o alívio da dor e o

uso de antibióticos quando houver evidência de infecções (BRASIL, 2001). Adequada

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2 Fundamentação Teórica 40

Juliana Félix da Silva

hidratação e profilaxia contra o tétano são medidas complementares importantes. O paciente

deve permanecer, pelo menos por 72 horas após a picada, internado em hospital para controle

clínico e laboratorial (PINHO; PEREIRA, 2001).

No entanto, a SAV traz algumas desvantagens. O soro antiofídico não é capaz de

neutralizar os efeitos locais, é eficiente até determinado tempo após a inoculação do veneno, é

de difícil acesso em algumas regiões (poucos centros de referência), oferece risco de reações

imunológicas e apresenta custo elevado. O fato de ser capaz de reverter eficientemente

principalmente apenas os efeitos sistêmicos é algo preocupante, uma vez que a falta de

controle da progressão dos efeitos locais pode resultar em sequelas permanentes, incluindo até

perda de tecidos (GUTIÉRREZ; LOMONTE, 1989). É comumente relatado que grande parte

dos pacientes não consegue chegar ao centro de referência a tempo de receber o tratamento

específico, o que inclusive contribui para muitos casos de subnotificação dos acidentes em

regiões de difícil acesso (ALBUQUERQUE; COSTA; CAVALCANTI, 2004; BRASIL,

2001; FREITAS et al., 2005).

Os principais efeitos adversos associados à SAV são de origem imunológica, uma vez

que o soro antiofídico trata-se de um material heterólogo, o que, acredita-se, possa contribuir

para a formação de agregados de proteínas ou imunocomplexos, mediante ativação do sistema

complemento (BRASIL, 2001). As reações ao soro antiofídico podem ser classificadas em

precoces e tardias (LEÓN et al., 2013).

As reações precoces, na maioria das vezes, acontecem durante a infusão do antiveneno e

nas duas horas subsequentes. Comumente são consideradas leves, sendo os principais sinais e

sintomas apresentados urticária, tremores, tosse, náuseas, dor abdominal, prurido e rubor

facial (BRASIL, 2001; HARRISON et al., 2011). Mais raramente são observadas reações

precoces graves, semelhantes à reação anafilática; nestes casos, os pacientes podem apresentar

arritmias cardíacas, hipotensão arterial, choque e/ou quadro obstrutivo das vias respiratórias

(BRASIL, 2001). Embora com patogênese desconhecida, preconiza-se o tratamento com anti-

histamínicos (BRASIL, 2001).

As reações tardias, também conhecidas como “Doença do Soro” (Figura 8), ocorrem de

5 a 24 dias após o uso do soro antiofídico (BRASIL, 2001). Os pacientes podem apresentar

febre, artralgia, linfoadenomegalia, urticária e proteinúria (BRASIL, 2001; KO; CHUNG,

2013). Os mecanismos mais prováveis incluem a formação de complexo imune entre

antiveneno e veneno, com ativação e consumo do sistema complemento (BRASIL, 2001).

Dependendo da intensidade das manifestações clínicas, o uso de anti-histamínicos e

corticosteroides é realizado (BRASIL, 2001; KO; CHUNG, 2013).

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2 Fundamentação Teórica 41

Juliana Félix da Silva

Figura 8 – Paciente com a “Doença do Soro”

Fonte: Ko; Chung (2013).

A figura mostra paciente com múltiplas máculas purpúricas e manchas confluentes em ambas as pernas e pés, 10

dias após a administração do soro antiofídico.

2.7 PLANTAS MEDICINAIS COMO ALTERNATIVA À SOROTERAPIA

Tendo em vista as desvantagens do uso da SAV descritas, torna-se importante a busca

por tratamentos alternativos e/ou complementares à soroterapia, onde se destacam as plantas

medicinais, que são apontadas como fonte rica de inibidores naturais e componentes

farmacologicamente ativos (DEY; DE, 2012; GOMES et al., 2010; MORS et al., 2000;

SANTHOSH et al., 2013). Existem vários relatos do uso de plantas medicinais contra picadas

de serpentes em todo o mundo, especialmente em regiões tropicais e subtropicais como Ásia,

África e América do Sul (DEY; DE, 2012; GOMES et al., 2010).

As principais vantagens do uso de plantas antiofídicas é que se elas tratam de uma

forma de terapia mais barata, facilmente acessível, estável a temperatura ambiente e capaz de

neutralizar um amplo espectro de toxinas (GOMES et al., 2010; SANTHOSH et al., 2013).

Em alguns casos, segundo a literatura, o extrato bruto é mais ativo do que os constituintes

individuais (GOMES et al., 2010). Embora muitas plantas possam não neutralizar por si

própria os venenos, elas podem ser utilizadas para tratar picadas de serpentes uma vez que

podem aliviar alguns dos sintomas do envenenamento, especialmente os efeitos locais

(HOUGHTON; OSIBOGUN, 1993). É relatado que a presença de atividade tranquilizante,

imunoestimulante e/ou anti-inflamatória em determinadas plantas medicinais pode ser de

grande valor no alívio de sintomas do envenenamento (HOUGHTON; OSIBOGUN, 1993).

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2 Fundamentação Teórica 42

Juliana Félix da Silva

Diante desse contexto, o objeto do presente estudo é a avaliação da atividade antiofídica

da espécie vegetal Jatropha gossypiifolia, planta popularmente conhecida no Brasil como

“pinhão-roxo”, que apresenta ampla utilização na medicina tradicional como antiofídica.

2.8 Jatropha gossypiifolia L.

Jatropha gossypiifolia L. (Figura 9), bastante conhecida no Brasil como “pinhão-roxo”

ou mundialmente como “bellyache bush”, é uma planta medicinal bastante utilizada na

medicina popular para o tratamento de várias doenças. É uma espécie amplamente distribuída

em países de clima tropical, subtropical ou tropical seco, na África e nas Américas (MARIZ et

al., 2010). No Brasil, ela predomina na Amazônia, Caatinga e Mata Atlântica (CORDEIRO;

SECCO, 2012).

Figura 9 – Espécie vegetal Jatropha gossypiifolia L.

Fonte: Fotografia de Juliana Félix.

À esquerda, partes aéreas. À direita, detalhe das flores.

J. gossypiifolia é um arbusto de pequeno porte, com folhas verde-escuras ou mais

frequentemente púrpuro-avermelhadas, com 16-19 cm de comprimento por 10-12,9 cm de

largura, alternas, palmadas, pubescentes, com ápice acuminado, base cordata e margem

serrilhada. As flores são unissexuadas, roxas, dispostas em cimeiras paniculadas e com cálice

possuindo cinco pétalas, que nas flores masculinas podem formar um tubo petalóide. O fruto é

capsular, trissulcado, contendo uma semente escura com pintas negras (AWORINDE et al.,

2009; DI STASI; HIRUMA-LIMA, 2002; KHYADE; VAIKOS, 2011).

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2 Fundamentação Teórica 43

Juliana Félix da Silva

Vários constituintes químicos já foram detectados ou isolados de extratos obtidos de

diferentes órgãos vegetais de J. gossypiifolia. É relatada pela literatura, de um modo geral, a

presença de alcaloides, cumarinas, esteroides, fenóis, flavonoides, lignanas, saponinas,

taninos e terpenoides, em diferentes extratos de diferentes órgãos vegetais da planta (MARIZ

et al., 2010; ZHANG et al., 2009).

Vários usos populares na medicina humana e veterinária são descritos para diferentes

partes da planta (folhas, galhos, raízes, semente e látex) e preparações (infusão, decocção,

maceração, dentre outras), por diferentes vias (oral ou tópica). Os relatos mais frequentes na

medicina popular se relacionam com seu uso como anti-inflamatório (OLIVEIRA; BARROS;

MOITA NETO, 2010), analgésico (HEBBAR et al., 2004), antipirético (AUVIN-GUETTE et

al., 1997), cicatrizante (AQUINO et al., 2006), antisséptico (ABREU et al., 2003),

antidiarréico (COE; ANDERSON, 1996), hemostático (ODUOLA et al., 2005), anti-

hipertensivo (AQUINO et al., 2006), antiofídico (DI STASI; HIRUMA-LIMA, 2002),

antimicrobiano (SABANDAR et al., 2013), antidiabético (DIALLO et al., 2012), anti-

hemorrágico (COE; ANDERSON, 1996), anticancer (PESSOA et al., 2006), dentre vários

outros exemplos. Dentre essas propriedades, chama atenção o uso como antídoto para a

picada de animais peçonhentos, que é justificado pelo uso popular devido à observação do

comportamento de um réptil que ingere partes dessas plantas antes de enfrentar uma serpente

(AGRA et al., 2007; AGRA; FREITAS; BARBOSA-FILHO, 2007; AGRA et al., 2008;

ALBUQUERQUE; ANDRADE, 2002; DI STASI; HIRUMA-LIMA, 2002; LEAL; AGRA,

2005). Além disso, a espécie está incluída na Relação Nacional de Plantas Medicinais de

Interesse ao Sistema Único de Saúde (RENISUS), que é uma lista elaborada pelo Ministério

da Saúde cujo objetivo incentivar o estudo das espécies vegetais relacionadas para uma

posterior distribuição dessas espécies no Sistema Único de Saúde (SUS), tendo em vista o seu

interesse em saúde pública (atenção básica) (BRASIL, 2011).

Com relação à espécie J. gossypiifolia encontram-se relativamente poucos estudos

investigando suas atividades biológicas. No que se refere aos efeitos farmacológicos de

extratos aquosos de suas folhas, se encontram raríssimos relatos na literatura, o que é

importante ser ressaltado uma vez que o uso popular se dá, mais frequentemente, através de

infusos ou decoctos. Dentre as principais atividades já estudadas na espécie, destacam-se, as

atividades anti-hipertensiva (ABREU et al., 2003), anti-inflamatória (BHAGAT et al., 2011;

PANDA et al., 2009a), analgésica, antidiarréica (APU et al., 2013; APU et al., 2012),

antimicrobiana (KUMAR et al., 2006; ROCHA; DANTAS, 2009), antineoplásica (TAYLOR

et al., 1983), antiviral (TAYLOR et al., 1996), cicatrizante (VALE et al., 2006), hemostática

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2 Fundamentação Teórica 44

Juliana Félix da Silva

(ODUOLA et al., 2005) e hepatoprotetora (PANDA et al., 2009b), dentre outras atividades.

Com relação a estudos de uma possível atividade antiofídica das espécies vegetais do gênero

Jatropha, poucos trabalhos são encontrados, não tendo sido detectado nenhum sobre J.

gossypiifolia.

Estudos de toxicidade têm mostrado, apesar da conhecida toxicidade de plantas do

gênero Jatropha, que J. gossypiifolia apresenta baixa toxicidade em alguns experimentos in

vivo e in vitro (AWACHIE; UGWU, 1997; MACRAE; HUDSON; TOWERS, 1988;

NAGAHARIKA et al., 2013; ODUOLA; AVWIORO; AYANNIYI, 2005). Por outro lado,

outros estudos mostram que o com o uso crônico, o extrato etanólico das partes aéreas pode

ser letal (MARIZ et al., 2012). No entanto, é importante observar os modelos usados, doses

administradas, tipo de extrato empregado (solvente e órgão vegetal), dentre outros aspectos,

para poder retirar conclusões mais exatas sobre a toxicidade da planta. Em relação

especificamente a extratos aquosos das folhas de J. gossypiifolia, apenas um estudo foi

encontrado, no qual o extrato aquoso obtido por extração do tipo Soxhlet, até a dose de 2 g/kg

em ratos, não apresentou toxicidade oral aguda, sendo considerado, pelo autores, como seguro

(NAGAHARIKA et al., 2013).

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3 Objetivos 45

Juliana Félix da Silva

33 OOBBJJEETTIIVVOOSS

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3 Objetivos 46

Juliana Félix da Silva

33 OOBBJJEETTIIVVOOSS

3.1 OBJETIVO GERAL

Avaliar a capacidade do decocto das folhas de Jatropha gossypiifolia L. em inibir os

efeitos enzimáticos e biológicos produzidos pelo veneno da serpente Bothrops jararaca.

3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Realizar um estudo fitoquímico do decocto das folhas de J. gossypiifolia;

Avaliar a citotoxicidade do decocto das folhas de J. gossypiifolia frente a linhagem

de células humanas normais;

Avaliar a capacidade do decocto das folhas de J. gossypiifolia em inibir as atividades

azocaseinolítica, fibrinogenolítica, coagulante, defibrinogenante, hemorrágica, fosfolipásica,

edematogênica e miotóxica do veneno de B. jararaca;

Sugerir possíveis mecanismos de ação por meio de estudos de interação do extrato

com venenos ofídicos e proteínas;

Avaliar a atividade anticoagulante e antioxidante do decocto das folhas de J.

gossypiifolia e correlacioná-las com a atividade antiofídica apresentada.

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4 Justificativa 47

Juliana Félix da Silva

44 JJUUSSTTIIFFIICCAATTIIVVAA

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4 Justificativa 48

Juliana Félix da Silva

44 JJUUSSTTIIFFIICCAATTIIVVAA

Os acidentes ofídicos, especialmente em países tropicais e subtropicais, devido sua

alta morbidade e mortalidade, são um grave problema em saúde pública. Estima-se que

ocorram, em todo o mundo, algo em torno de 1,8 milhões de casos por ano, com 20 a até 94

mil mortes. No Brasil, a estimativa é de que ocorram em média 20 mil acidentes por ano.

Atualmente, a única forma de tratamento existente é a soroterapia antiveneno (SAV)

que apresenta algumas desvantagens, das quais as mais importantes são alto custo, difícil

acesso em regiões distantes, risco de reações imunológicas e, principalmente, baixa eficiência

no tratamento dos danos teciduais locais, o que pode levar a sequelas permanentes, como

perda de tecidos ou até membros. Outro fator limitante ao sucesso da SAV é o tempo

decorrido entre o acidente e o atendimento, que se muito elevado, pode elevar a chance de

letalidade em até oito vezes. Dessa forma, a pesquisa por terapias alternativas ou

complementares à SAV tem contribuição importante em saúde pública, tanto pela

possibilidade de uma completa neutralização do veneno, quanto por propiciar a chance de que

o paciente consiga chegar a um centro de referência em tempo hábil para a administração do

soro antiveneno, uma vez que há muitos casos em que o paciente vem a óbito antes mesmo de

chegar a ser atendido.

Nesse contexto, as plantas medicinais se apresentam como fortes candidatas, tendo em

vista que várias espécies vegetais com amplo uso popular como antiofídicas já foram

estudadas mostrando resultados promissores. Plantas do gênero Jatropha são exemplos de

espécies extremamente utilizadas popularmente por seu uso como antídoto para picada de

animais peçonhentos. No entanto, na literatura foram encontrados poucos estudos que

avaliassem a atividade antipeçonhenta das espécies desse gênero. Além disso, a espécie J.

gossypiifolia, alvo do presente estudo, está incluída na Relação Nacional de Plantas

Medicinais de Interesse ao Sistema Único de Saúde (Renisus), que é uma lista que pretende

estimular o estudo dessas espécies vegetais relacionadas para que se tenha evidências

suficientes que garantam eficácia, segurança e qualidade, e possam ser utilizadas no

desenvolvimento de medicamentos fitoterápicos para serem distribuídos pelo SUS.

Dessa forma, estudos conduzidos com J. gossypiifolia são justificados pela sua

potencialidade como tratamento alternativo e/ou complementar à SAV na neutralização dos

efeitos tóxicos induzidos por venenos de serpentes, em especial, as do gênero Bothrops, que

são as relacionadas à maioria dos envenenamentos ofídicos no Brasil.

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5 Material e Métodos 49

Juliana Félix da Silva

55 MMAATTEERRIIAALL EE MMÉÉTTOODDOOSS

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5 Material e Métodos 50

Juliana Félix da Silva

55 MMAATTEERRIIAALL EE MMÉÉTTOODDOOSS

5.1 MATERIAL

5.1.1 Reagentes

Abaixo, os principais reagentes utilizados neste trabalho:

Acetato de etila – AcOEt (Vetec);

Acetato de sódio (Vetec);

Ácido acético (Vetec);

Ácido ascórbico (Sigma-Aldrich®);

Ácido clorídrico – HCl (Vetec);

Ácido etilenodiamino tetra-acético dissódico – Na2EDTA dissódico (Vetec);

Ácido fórmico (Vetec);

Ácido fosfórico (Vetec);

Ácido sulfúrico (Vetec);

Ácido tricloroacético – TCA (Vetec);

Acrilamida (GE Healthcare);

Agarose LE-100 Multipurpose (Uniscience);

Água purificada por osmose reversa (sistema de purificação Gehaka OS50 LX);

Albumina bovina sérica liofilizada – BSA (Sigma-Aldrich®);

Azocaseína (Sigma-Aldrich®

);

Azul de bromofenol (GE Healthcare);

Brometo de 3-[4,5-dimetil-tiazol-2-il]-2,5-difeniltetrazólio – MTT (Sigma-

Aldrich®);

Brometo de hexadeciltrimetilamônio (Sigma-Aldrich®);

Cloreto de cálcio dihidratado – CaCl2.2H2O (Vetec);

Cloreto de potássio – KCl (Vetec);

Cloreto de sódio – NaCl (Vetec);

Coomassie Brilliant Blue G-250 (Serva);

Diclorometano – CH2Cl2 (Vetec);

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5 Material e Métodos 51

Juliana Félix da Silva

Dodecilsulfato de sódio – SDS (GE Healthcare);

Fenilmetilsulfonil fluoreto – PMSF (Sigma Aldrich®);

Ferrozina (Sigma Aldrich®);

Fibrinogênio bovino (Sigma-Aldrich®);

Fosfato de potássio monobásico anidro – KH2PO4 (Vetec);

Fosfato de sódio dibásico heptahidratado – Na2HPO4.7H2O (Qhemis);

Glicerol 85 % (GE Healthcare);

Glicina (Amresco);

Heparina sódica 5.000 UI/ 0,25 mL (Hemofol®, Cristália);

Hidróxido de sódio – NaOH (Vetec);

Kit de dosagem de proteínas pelo método do ácido bicinconínico – BCA (Pierce®

BCA Protein Assay Kit – Thermo Scientific);

Kit para determinação da creatina quinase (CK) – CK NAC UV K010 Cinético

(Bioclin);

Kit para determinação do Tempo de Protrombina (TP) – TP Clot (Bios

Diagnóstica);

Kit para determinação do Tempo de Tromboplastina Parcial Ativada (TTPa) –

TTPa Clot (Bios Diagnóstica);

Marcador de massa molecular 2-212 kDa (New England BioLabs);

Meio Eagle modificado por Dubelcco – DMEM (Cultilab);

Metanol – CH3OH (Impex);

Metilenobisacrilamida (GE Healthcare);

Metionina;

Molibdato de amônio (Reagen®);

n-butanol – BuOH (Vetec);

Ninhidrina;

Nitroazul de tetrazólio – NBT;

N,N,N’,N’-tetrametiletilenodiamina – TEMED (GE Healthcare);

o-dianisidina (Sigma-Aldrich®);

o-fenantrolina (Sigma-Aldrich®);

Óleo de castor – Cremophor® (Sigma-Aldrich

®);

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5 Material e Métodos 52

Juliana Félix da Silva

Padrões cromatográficos para CCD: ácido clorogênico, crisina, isoorientina,

isoquercetina, isovitexina, luteolina, orientina, quercetina e vitexina;

Peróxido de hidrogênio (Merck);

Persulfato de amônio – APS (Serva);

Riboflavina;

Salicilato de sódio;

Soro fetal bovino – FBS (Cultilab);

Sulfato de cobre II penta-hidratado (Reagen®);

Sulfato ferroso;

Tiopental sódico (Thiopentax®, Cristália);

Tolueno – C6H5CH3 (Vetec);

Tripsina-EDTA (Cultilab);

Tris base (GE Healthcare);

Triton X-100 (Amresco);

Violeta de pirocatecol (Sigma-Aldrich®);

β-mercaptoetanol (Sigma-Aldrich®).

5.1.2 Equipamentos

Agitador mecânico tipo Kline “TS-2000A VDRL Shaker” (Vertex);

Balança analítica (Gehaka, modelo AG200);

Banho de ultra-som/ sonicador (Unique);

Banho seco “Dry Bath Heat & Cool Control” (Loccus Biotecnologia);

Banho ultratermostático (Quemis®);

Bomba de filtração a vácuo (Logen Scientific);

Cabine de fluxo laminar vertical (Pachane® Pa 300 e Veco);

Capela para exaustão de vapores Q216-23 (Quimis);

Centrífuga de bancada Excelsa® II 206 BL;

Centrífuga para microtubos 5418 R (Eppendorf®);

Coagulômetro “Laser Sensor” (Clotimer);

Espectrofotômetro de microplacas – Epoch Biotek;

Espectrofotômetro UV-VIS Evolution 60S (Thermo Scientific);

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5 Material e Métodos 53

Juliana Félix da Silva

Estufa de CO2 (Laboven);

Estufa de secagem (Quimis);

Gabinete para visualização sob luz ultravioleta (254 e 365 nm) (Prodicil);

Liofilizador (Liotop, modelo L202);

Paquímetro digital (Digimess);

Peagômetro digital (Gehaka, modelo PG1800);

Sistema de eletroforese vertical MiniVE Hoefer (Amersham Biosciences).

5.1.3 Materiais diversos

Agulhas e seringas descartáveis;

Cromatofolhas de sílica-gel F254 (Merck);

Cubeta de quartzo de 1 mL com caminho ótico de 1 cm (espectrofotômetro);

Material cirúrgico (tesouras, pinças, bisturis etc.);

Membranas filtrantes de 0,45 µm;

Microplacas de 96 poços;

Ovos brancos de galinha;

Sonda uretral número 4 (realização das gavagens);

Tubos com o anticoagulante citrato de sódio 0,105 M (BD Vacutainer®);

Tubos com o anticoagulante K3-EDTA (BD Vacutainer®);

Vidrarias, acessórios e tubos diversos.

5.1.4 Material vegetal

Amostras de “pinhão-roxo” foram coletadas no Povoado Entroncamento (36,80ºW

5,27ºS, Carnaubais, cidade do interior do estado do Rio Grande do Norte, Brasil) em 8 de

abril de 2012, aproximadamente às 13 h. A coleta foi realizada mediante autorização do

Sistema de Autorização e Informação em Biodiversidade (Sisbio) (número 35017) e

Autorização de Acesso e de Remessa de Componente do Patrimônio Genético (Processo

010844/2013-9). O material vegetal foi catalogado e identificado pelo botânico Me. Alan de

Araújo Roque (Herbário do Centro de Biociências da UFRN), sob o número de exsicata

UFRN 12561. As folhas foram separadas e secas sob temperatura ambiente, ao abrigo da luz,

em local arejado, durante aproximadamente 18 dias. Após a secagem, o material foi triturado

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5 Material e Métodos 54

Juliana Félix da Silva

com auxílio de um liquidificador, obtendo-se um pó grosseiro (aproximadamente 588 g), que

foi armazenado ao abrigo da luz e umidade.

5.1.5 Veneno ofídico

O veneno liofilizado da serpente B. jararaca foi adquirido comercialmente da Sigma-

Aldrich®. O uso científico do material foi realizado mediante Autorização de Acesso e de

Remessa de Componente do Patrimônio Genético (Processo 010844/2013-9). O veneno foi

pesado e dissolvido em PBS e armazenado a -20ºC até o momento do uso.

5.1.6 Suspensão de eritrócitos

Sangue de voluntários sadios, em jejum alimentar de aproximadamente 8 h, foi coletado

com K3-EDTA, por meio de coleta a vácuo. O sangue foi centrifugado a 2.500 rpm por 10

min. O plasma e a camada celular superior foi descartada. Os eritrócitos foram lavados 3

vezes em PBS e por fim ressupendidos a 20 % (v/v) também em PBS.

5.1.7 Cultura de células

Células epiteliais de rim embrionário humano (células HEK-293) foram cultivadas sob

condições padrões em DMEM suplementado com FBS. As células foram mantidas em frascos

de cultura de células a 37ºC em atmosfera umidificada contendo 5 % de CO2.

5.1.8 Pool de plasma

Sangue de voluntários sadios, em jejum alimentar de aproximadamente 8 h, foi coletado

com citrato de sódio, por meio de coleta a vácuo. O sangue foi centrifugado a 3.000 rpm por

10 min. O pool de plasmas obtido foi armazenado a -20ºC até sua utilização.

5.1.9 Suspensão de gema de ovo

Uma suspensão de gema de ovo 1:3 (v/v, gema de ovo: PBS) foi preparada e em

seguida centrifugada por 2 min a 2.000 rpm. O precipitado foi descartado e do sobrenadante

obteve-se o substrato para a atividade fosfolipásica (HABERMANN; HARDT, 1972).

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5 Material e Métodos 55

Juliana Félix da Silva

5.1.10 Animais de experimentação

Foram utilizados camundongos albinos Swiss, com 6-8 semanas de vida, pesando 30-35

g, procedentes do Biotério do Centro de Ciências da Saúde (CCS) da UFRN, onde foram

mantidos em gaiolas de polipropileno, com livre acesso a água e comida e em condições

controladas de iluminação, umidade e temperatura, conforme preconizam as normas nacionais

e internacionais de experimentação animal. No dia dos experimentos, os animais foram

alocados na sala de experimentação com no mínimo uma hora de antecedência, para

aclimatação ao local. Ao final dos experimentos, os animais foram eutanasiados por

superdosagem de tiopental sódico pela via intraperitoneal. O protocolo experimental do estudo

foi aprovado pela Comissão de Ética no Uso de Animais da Universidade Federal do Rio Grande

do Norte (CEUA-UFRN) (protocolo nº 004/2013).

5.2 MÉTODOS

5.2.1 Preparação do decocto das folhas de Jatropha gossypiifolia

O extrato aquoso das folhas de J. gossypiifolia foi preparado pelo método de decocção,

no qual as folhas secas e trituradas foram submetidas à fervura sob temperatura aproximada

de 100ºC, por 15 min, com água purificada (proporção 1:10 p/v, material vegetal: água),

sendo o extrato, em seguida, filtrado a vácuo. O extrato obtido foi liofilizado e parte dele foi

ressuspendida em PBS para uso nos testes biológicos.

5.2.2 Fracionamento do decocto das folhas de Jatropha gossypiifolia

O decocto das folhas de J. gossypiifolia foi fracionado por meio de partição líquido-

líquido com solventes de polaridade crescente, resultando na obtenção das frações

diclorometano (CH2Cl2), acetato de etila (AcOEt), n-butanol (BuOH) e aquosa residual (AR)

(Figura 10). As frações foram secas e parte delas foi ressuspendida em PBS ou solução de

óleo de castor 5 % em PBS, dependendo da solubilidade, para uso nos testes biológicos.

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5 Material e Métodos 56

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Figura 10 – Esquema ilustrativo do processo de fracionamento do decocto das folhas de Jatropha

gossypiifolia por partição líquido-líquido

Fonte: Autoria própria.

5.2.3 Análise fitoquímica do decocto das folhas e frações de Jatropha gossypiifolia

5.2.3.1 Cromatografia em camada delgada (CCD)

A análise fitoquímica do decocto das folhas e frações de J. gossypiifolia foi realizada

por meio de cromatografia em camada delgada (CCD) de fase normal (sílica-gel F254). Foram

utilizadas três fases móveis distintas:

Sistema 1: acetato de etila: ácido fórmico: água (8:1:1, v/v/v);

Sistema 2: tolueno: acetato de etila: ácido fórmico (5:5:0,5, v/v/v);

Sistema 3: butanol: ácido acético: água (3:1:1, v/v/v).

As placas foram analisadas sob os seguintes agentes reveladores:

Visualização sob luz UV 254 e 365 nm;

Vanilina sulfúrica (vanilina 2 % e ácido sulfúrico 10 % em etanol) com aquecimento;

Cloreto férrico (5 % em metanol);

Reagente Natural A (1 % em metanol) com visualização sob luz UV 365 nm;

Reagente de Dragendorff (iodo bismutato de potássio).

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5 Material e Métodos 57

Juliana Félix da Silva

Os valores de fator de retenção (Rf), cor e comportamento das manchas foram

registrados para comparação com perfis cromatográficos de substâncias de referência em

literatura especializada na área (WAGNER; BLADT, 2001). Em seguida, foram realizadas

co-CCDs com padrões cromatográficos de flavonoides disponíveis no laboratório para a

avaliação da presença desses compostos.

5.2.3.2 Determinação de açúcares totais

O conteúdo de açúcares totais foi determinado pelo método do fenol/ ácido sulfúrico

(DUBOIS et al., 1956). Uma curva foi construída utilizando-se glicose como padrão.

5.2.3.3 Determinação de compostos fenólicos

O conteúdo de fenóis totais foi determinado pelo método de Folin-Ciocalteu (MELO-

SILVEIRA et al., 2012). Uma curva foi construída utilizando-se ácido gálico como padrão.

5.2.3.4 Determinação de proteínas

O conteúdo de proteínas foi determinado pelo método de Bradford (BRADFORD,

1976). Uma curva foi construída utilizando-se albumina como padrão.

5.2.4 Ensaios de citotoxicidade in vitro

5.2.4.1 Atividade hemolítica

O ensaio de atividade hemolítica foi realizado conforme descrito previamente na

literatura, com pequenas modificações (ROBERT et al., 2010). 5 µL da suspensão de

eritrócitos humanos 20 % (v/v) foram incubados a 37ºC por 60 min com 500 µL do extrato

em diferentes concentrações. O sobrenadante obtido após centrifugação por 2 min a 10.000

rpm foi lido a 540 nm. Água foi usada como controle positivo (100 % de lise de eritrócitos) e

PBS como controle negativo (ausência de lise eritrocitária). O resultado foi expresso em

porcentagem de hemólise média ± erro médio padrão com n = 3.

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5 Material e Métodos 58

Juliana Félix da Silva

5.2.4.2 Citotoxicidade frente a células HEK-293

Células HEK-293 foram coletadas dos frascos de cultura através do tratamento com

tripsina-EDTA em PBS. As células (1 × 104 células por poço) foram semeadas em meio

DMEM completo e cultivadas por 24 h em microplacas de 96 poços para promover a adesão.

No dia seguinte, o meio foi removido e substituído por meio fresco livre de FBS

(carenciamento). No dia seguinte, o meio foi substituído por novo meio contendo FBS e

diluições seriadas do extrato, previamente esterilizado em membrana de 0,45 µm. O controle

negativo foi exposto ao meio padrão sem amostra. Após 24 h, o ensaio do brometo de 3-[4,5-

dimetil-tiazol-2-il]-2,5-difeniltetrazólio (MTT) foi realizado conforme descrito previamente

na literatura, como marcador quantitativo de atividade mitocondrial e viabilidade celular

(MOSSMANN, 1983). Em resumo, depois dos tratamentos, o meio contendo extrato ou

fração foi substituído por meio contendo MTT 1 mg/mL e incubado por 4 h a 37ºC. O

sobrenadante foi removido e o cristal púrpura de formazan formado foi solubilizado em etanol

absoluto. Após agitação por 15 min, a absorbância foi lida a 570 nm. A absorbância do

controle negativo (ausência de extrato ou fração) foi considerada como 100 % de viabilidade

celular e os valores das células tratadas foram calculados como porcentagem em relação ao

controle negativo.

5.2.5 Caracterização do veneno de Bothrops jararaca

5.2.5.1 Dosagem de proteínas

O conteúdo de proteínas totais foi determinado pelo método do ácido bincinconínico

(BCA), utilizando um kit comercial e seguindo-se protocolo do fabricante. Uma curva padrão

foi construída utilizando-se albumina nas mesmas condições.

5.2.5.2 Eletroforese em gel de poliacrilamida com dodecilsulfato de sódio (SDS-

PAGE)

Para a caracterização do perfil de proteínas presentes no veneno de B. jararaca, uma

eletroforese em gel de poliacrilamida com dodecilsulfato de sódio (SDS-PAGE) foi conduzida

conforme metodologia descrita previamente na literatura, utilizando gel de empacotamento a

4 % (acrilamida 4 %, SDS 0,1 %, Tris-HCl 125 mM pH 6,8, APS 0,15 % e TEMED 0,05 %)

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5 Material e Métodos 59

Juliana Félix da Silva

e gel de separação a 12 % (acrilamida 12 %, SDS 0,1 %, Tris-HCl 375 mM pH 8,8, APS 0,15

% e TEMED 0,05 %) (LAEMMLI, 1970). As amostras foram preparadas em tampão

desnaturante e redutor contendo Tris-HCl 125 mM pH 6,8, glicerol 20 %, SDS 4 %, β-

mercaptoetanol 10 % e azul de bromofenol 0,02 %, com fervura a 100ºC por 5 min. Os géis

(10 cm x 12,5 cm, 1 mm de espessura) foram corridos em voltagem (130 V) e corrente

elétrica (50 mA) constantes, com tampão de corrida contendo Tris 25 mM, glicina 0,192 mM

e SDS 1 %, em banho de gelo. Após a corrida, o gel foi corado por 60 min, sob agitação

constante, em solução corante de Coomassie Brilliant Blue (Coomassie Brilliant Blue 0,1 %;

metanol 40 %; ácido acético 10 %) e, em seguida, descorado em solução descolorante

(metanol 35 %; ácido acético 10 %).

5.2.6 Avaliação da atividade antiofídica do decocto das folhas de Jatropha gossypiifolia

5.2.6.1 Atividade proteolítica sobre a azocaseína

A atividade proteolítica do veneno de B. jararaca foi determinada utilizando azocaseína

1 % em tampão Tris-HCl 50 mM pH 7,5 como substrato conforme descrito previamente na

literatura, com pequenas modificações (MOURA et al., 2011). Primeiramente, soluções

contendo diferentes concentrações de veneno (µg/ 100 µL de PBS) foram pré-incubadas por

60 min a 37ºC. Em seguida, em cada tubo, adicionou-se 60 µL de HCl 2,5 mM e 100 µL de

azocaseína e incubou-se por 120 min a 37ºC. A reação enzimática foi interrompida pela

adição de 150 µL de TCA 20 %. Os tubos foram deixados em repouso, a temperatura

ambiente, por 30 min e, em seguida, foram centrifugados a 10.000 rpm, por 10 min a 22ºC.

Os sobrenadantes foram removidos e misturados em partes iguais com NaOH 2 M. Depois de

10 min, os tubos foram lidos a 440 nm. Brancos para cada concentração de veneno foram

preparados da mesma forma, excetuando-se a omissão da adição do substrato na etapa da

reação enzimática, adicionando-o, apenas, depois da adição do TCA. Uma Concentração

Mínima Proteolítica (CMP) foi definida como a menor quantidade de veneno, em µg, que

produz uma absorbância de 0,200 a 440 nm.

Para a inibição da atividade azocaseinolítica, uma CMP do veneno de B. jararaca foi

utilizada e o ensaio conduzido como descrito acima, excetuando-se pela pré-incubação por 60

min a 37ºC do veneno com quantidades crescentes de extrato. Veneno sozinho (pré-incubado

apenas com PBS, na ausência de extrato) foi utilizado como controle e considerado como 100

% de atividade proteolítica. Extrato sozinho (pré-incubado apenas com PBS, na ausência de

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5 Material e Métodos 60

Juliana Félix da Silva

veneno) também foi utilizado como controle. O resultado foi expresso em porcentagem de

atividade azocaseinolítica como média ± erro médio padrão com n = 3.

5.2.6.2 Atividade proteolítica sobre o fibrinogênio

5.2.6.2.1 Visualização do perfil de degradação por SDS-PAGE

A atividade fibrinogenolítica do veneno B. jararaca foi determinada conforme descrito

previamente na literatura, com pequenas modificações (EDGAR; PRENTICE, 1973;

RODRIGUES et al., 2000). Primeiramente, soluções contendo diferentes concentrações de

veneno (µg/ 30 µL de PBS) foram pré-incubadas por 60 min a 37ºC. Em seguida adicionou-se

50 µg de fibrinogênio e incubou-se a 37ºC por 60 min. Após esse período, a reação foi

interrompida pela adição de 25 µL de tampão Tris-HCl 1,5 M pH 8,8 contendo glicerol 10 %,

β-mercaptoetanol 10 %, SDS 2 % e azul de bromofenol 0,05 %, seguida por fervura a 100ºC

por 5 min. As amostras foram analisadas por SDS-PAGE 12 %. Após a determinação da

concentração mínima de veneno capaz de hidrolisar 50 μg do fibrinogênio bovino

(visualização do maior número de bandas referentes aos produtos de degradação do

fibrinogênio), foi realizada uma curva tempo-dependente, variando-se o período de incubação

do veneno na concentração padronizada com o fibrinogênio. Da mesma forma, foi escolhido

para os estudos de inibição o menor período de incubação que permitiu a visualização, através

da eletroforese, de um maior número de bandas referentes aos produtos de degradação do

fibrinogênio.

Para a inibição da atividade fibrinogenolítica, utilizaram-se o período de incubação com

fibrinogênio (3 horas) e quantidade de veneno (10 µg) padronizados. O ensaio foi conduzido

como descrito acima, excetuando-se pela pré-incubação por 60 min a 37ºC do veneno com

quantidades crescentes de extrato. Veneno sozinho (pré-incubado apenas com PBS, na

ausência de extrato) foi utilizado como controle e considerado como 100 % de atividade

fibrinogenolítica. Extrato sozinho (pré-incubado apenas com PBS, na ausência de veneno)

também foi utilizado como controle. Em todos os ensaios, foi corrida em paralelo uma

amostra com fibrinogênio sem adição de veneno para visualização do perfil do fibrinogênio

íntegro.

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5 Material e Métodos 61

Juliana Félix da Silva

5.2.6.2.2 Zimografia

A atividade fibrinogenolítica do veneno de B. jararaca foi determinada também por

meio de zimografia conforme descrito previamente na literatura, com pequenas modificações

(FEITOSA et al., 1998). Géis de SDS-PAGE 12 % foram preparados conforme descrito

anteriormente, excetuando-se pela incorporação de fibrinogênio bovino a uma concentração

final de 1 mg/mL no gel de separação. Soluções contendo diferentes concentrações de veneno

(µg/ 30 µL de PBS) foram pré-incubadas por 60 min a 37ºC. Em seguida, em cada tubo,

adicionou-se 30 µL de tampão de amostra desnaturante 2X na ausência de agente redutor,

incubando-se a temperatura ambiente por 5 min. Logo em seguida, 20 µL de cada amostra

foram aplicados, imediatamente, no gel. Após a corrida eletroforética, o gel foi lavado 3

vezes, por 30 min cada lavagem, em Triton X-100 2,5 % (tampão de renaturação), para

remoção do SDS. Em seguida, o gel foi lavado uma vez, por 30 min, no tampão de ensaio

(Tris-HCl 50 mM pH 7,4; NaCl 200 mM; CaCl2 5 mM), sendo a solução descartada e

substituída por solução nova do mesmo tampão, para incubação por 24 h a 37ºC. Após a

incubação, a solução foi descartada e o gel lavado 3 vezes, por 5 min cada lavagem, em água

purificada, para posterior coloração com solução corante de Coomassie Brilliant Blue

concentrada (Coomassie Brilliant Blue 0,5 %; metanol 40 %; ácido acético 10 %) em

overnight. Após descoloração dos géis com solução descolorante (metanol 35 %, ácido

acético 10 %), zonas claras de lise de substrato contra um background azul indicou a presença

de enzimas fibrinogenolíticas. Além disso, foi corrido um gel para ser utilizado como

referência, com as mesmas amostras utilizadas no zimograma e nas mesmas condições,

excetuando-se a copolimerização do fibrinogênio e com a corrida, em paralelo, de um

marcador de massa molecular (2-212 kDa). A concentração mínima de veneno capaz de

hidrolisar o fibrinogênio (visualização do maior número de zonas claras de lise de substrato

referentes a enzimas fibrinogenolíticas, de forma mais nítida possível) foi determinada.

Adicionalmente, visando caracterizar quais seriam as proteases fibrinogenolíticas presentes, o

ensaio foi repetido incubando-se o gel com tampão de ensaio contendo o-fenantrolina 5 mM

(inibidor específico de metaloproteases) e PMSF 5 mM (inibidor específico de

serinoproteases).

Para a inibição da atividade fibrinogenolítica por zimografia, utilizou-se 5 µg de veneno

por poço de gel. O ensaio foi conduzido como descrito acima, excetuando-se pela pré-

incubação por 60 min a 37ºC do veneno de B. jararaca com quantidades crescentes de

extrato. Veneno sozinho (pré-incubado apenas com PBS, na ausência de extrato) foi utilizado

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5 Material e Métodos 62

Juliana Félix da Silva

como controle e considerado como 100 % de atividade fibrinogenolítica. Extrato sozinho

(pré-incubado apenas com PBS, na ausência de veneno) também foi utilizado como controle.

5.2.6.3 Atividade coagulante

A atividade coagulante sobre o fibrinogênio (atividade “semelhante à trombina”) e

sobre o plasma do veneno de B. jararaca foi determinada conforme descrito previamente na

literatura, com pequenas modificações (THEAKSTON; REID, 1983). Alíquotas de 100 µL de

fibrinogênio bovino (solução 6 mg/mL em PBS) ou plasma foram pré-incubadas a 37ºC por 2

min. Em seguida, soluções contendo diferentes concentrações de veneno (µg/ 100 µL de

PBS), pré-incubadas anteriormente por 60 min a 37ºC, foram adicionadas e o tempo de

coagulação cronometrado por meio de um coagulômetro digital. Uma Concentração Mínima

Coagulante sobre o Fibrinogênio (CMC-F) ou sobre o Plasma (CMC-P) foi definida como a

menor quantidade de veneno, em µg, que coagula o fibrinogênio ou o plasma em 120 s.

Para a inibição da atividade coagulante, uma CMC-F ou uma CMC-P do veneno de B.

jararaca foi utilizada e o ensaio conduzido como descrito acima, excetuando-se pela pré-

incubação por 60 min a 37ºC do veneno com quantidades crescentes de extrato. Veneno

sozinho (pré-incubado apenas com PBS, na ausência de extrato) foi utilizado como controle e

considerado como 100 % de atividade coagulante. Extrato sozinho (pré-incubado apenas com

PBS, na ausência de veneno) também foi utilizado como controle. O resultado foi expresso

em segundos (s) como média ± erro médio padrão com n = 3.

5.2.6.4 Atividade defibrinogenante in vivo

A atividade defibrinogenante in vivo do veneno de B. jararaca foi determinada

utilizando o modelo animal de incoagulabilidade sanguínea conforme descrito previamente na

literatura, com pequenas modificações (THEAKSTON; REID, 1983; VALE et al., 2008).

Grupos de 3 animais receberam injeção intraperitoneal de diferentes quantidades de veneno

(µg/ 200 µL de PBS) previamente pré-incubados por 60 min a 37ºC. O grupo controle recebeu

apenas 200 µL de PBS. 4 h após a injeção, os animais foram anestesiados e tiveram o sangue

coletado e acondicionado em microtubos, separadamente, e deixados em repouso, a

temperatura ambiente, por uma hora, sendo a presença/ausência de formação de coágulo

registrada após esse período. Uma Dose Mínima Defibrinogenante (DMD) foi definida como

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5 Material e Métodos 63

Juliana Félix da Silva

a menor quantidade de veneno, em µg, que produz sangue incoagulável em todos os

camundongos de um mesmo grupo, 4 h após injeção intraperitoneal de veneno.

Para a inibição da atividade defibrinogenante, uma DMD do veneno de B. jararaca foi

utilizada e o ensaio conduzido como descrito acima, excetuando-se pela pré-incubação por 60

min a 37ºC do veneno com quantidades crescentes de extrato. Veneno sozinho (pré-incubado

apenas com PBS, na ausência de extrato) foi utilizado como controle e considerado como 100

% de atividade defibrinogenante e PBS sozinho (pré-incubado na ausência de veneno ou

extrato) foi utilizado como controle negativo (ausência de atividade defibrinogenante).

Grupos de 4 animais foram utilizados.

Adicionalmente, a eficácia do extrato em inibir a atividade defibrinogenante do veneno

de B. jararaca foi avaliada em um protocolo de pré-tratamento, no qual o extrato foi

administrado de forma independente do veneno, por via oral. Para tal teste, os animais foram

pré-tratados com diferentes doses do extrato, por meio de gavagem, e uma hora após

receberam, por via intraperitoneal, uma DMD do veneno, prosseguindo-se o teste da forma

descrita acima. Um grupo que recebeu injeção intraperitoneal de veneno e o tratamento oral

de PBS foi utilizado como controle e considerado como 100 % de atividade e outro grupo que

recebeu injeção intraperitoneal e tratamento oral de PBS foi utilizado como controle negativo

(ausência de atividade defibrinogenante). Grupos de 4 animais foram utilizados.

5.2.6.5 Atividade hemorrágica in vivo

A atividade hemorrágica in vivo do veneno de B. jararaca foi determinada utilizando o

modelo hemorragia local conforme descrito previamente na literatura, com pequenas

modificações (ESMERALDINO; SOUZA; SAMPAIO, 2005; ROODT et al., 2000). Grupos

de 3 animais receberam injeção subcutânea na região dorsal de diferentes quantidades de

veneno (µg/ 100 µL de PBS) previamente pré-incubados por 60 min a 37ºC. O grupo controle

recebeu apenas 100 µL de PBS. 3 h após a injeção, os animais foram sacrificados e tiveram a

região da pele removida, expondo-se a face interna na qual se formou o halo hemorrágico.

Após fotodocumentação dos halos, a região do halo foi removida do restante da pele,

picotada, pesada e homogeneizada em água purificada na proporção de 100 mg de tecido para

1 mL de água. Após sonicação por 30 min, o material foi incubado por 48 h a 4 ºC para

extração da hemoglobina presente. O sobrenadante obtido após centrifugação a 3.000 rpm por

30 min foi lido a 540 nm para mensurar a quantidade de hemoglobina liberada, como um

marcador quantitativo de hemorragia. Uma Dose Mínima Hemorrágica (DMH) foi definida

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5 Material e Métodos 64

Juliana Félix da Silva

como a menor quantidade de veneno, em µg, que produz um halo hemorrágico de

aproximadamente 20 mm de diâmetro e uma absorbância de 0,800 a 540 nm.

Para a inibição da atividade hemorrágica, uma DMH (25 µg) do veneno de B. jararaca

foi utilizada e o ensaio conduzido como descrito acima, excetuando-se pela pré-incubação por

60 min a 37ºC do veneno com quantidades crescentes de extrato. Veneno sozinho (pré-

incubado apenas com PBS, na ausência de extrato) foi utilizado como controle e considerado

como 100 % de atividade hemorrágica (em termos de teor de hemoglobina) e PBS sozinho

(pré-incubado na ausência de veneno ou extrato) foi utilizado como controle negativo

(ausência de atividade hemorrágica). Grupos de 5 animais foram utilizados.

Adicionalmente, a eficácia do extrato em inibir a atividade hemorrágica do veneno de B.

jararaca foi avaliada em um protocolo de pré-tratamento, no qual o extrato foi administrado

de forma independente do veneno, por via oral. Para tal teste, os animais foram pré-tratados

com diferentes doses do extrato, por meio de gavagem, e uma hora após receberam, por via

subcutânea, uma DMH do veneno, prosseguindo-se o teste da forma descrita acima. Um

grupo que recebeu injeção subcutânea de veneno e o tratamento oral de PBS foi utilizado

como controle e considerado como 100 % de atividade hemorrágica (em termos de teor de

teor de hemoglobina) e outro grupo que recebeu injeção subcutânea e tratamento oral de PBS

foi utilizado como controle negativo (ausência de atividade hemorrágica). Grupos de 5

animais foram utilizados.

5.2.6.6 Atividade fosfolipásica

A atividade fosfolipásica do veneno de B. jararaca foi determinada utilizando

suspensão de gema de ovo (1:3, v/v, gema de ovo: PBS) como substrato conforme descrito

previamente na literatura, com pequenas modificações (HABERMANN; HARDT, 1972).

Meios de cultura contendo agarose 1 %, suspensão de gema de ovo 10 % e cloreto de cálcio

0,1 mM foram preparados e dispostos em placas de Petri até sua solidificação. Orifícios de 0,5

mm foram produzidos no meio, depois de solidificado, para posterior aplicação das amostras.

Soluções contendo diferentes quantidades de veneno (µg/ 30 µL de PBS) foram pré-incubadas

por 60 min a 37ºC e posteriormente aplicadas no meio. As placas foram incubadas por 24 h a

50ºC e os diâmetros dos halos fosfolipásicos formados (zonas incolores de lise de substrato

contra um background amarelo-turvo) foram medidos com um paquímetro digital. Uma

Concentração Mínima Fosfolipásica (CMF) foi definida como a menor quantidade de veneno,

em µg, que produz um halo fosfolipásico de 25 mm.

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5 Material e Métodos 65

Juliana Félix da Silva

Para a inibição da atividade fosfolipásica, uma CMF (10 µg) do veneno de B. jararaca

foi utilizada e o ensaio conduzido como descrito acima, excetuando-se pela pré-incubação por

60 min a 37ºC dos venenos com quantidades crescentes de extrato. Veneno sozinho (pré-

incubado apenas com PBS, na ausência de extrato) foi utilizado como controle e considerado

como 100 % de atividade fosfolipásica e PBS sozinho (pré-incubado na ausência de veneno

ou extrato) foi utilizado como controle negativo (ausência de atividade fosfolipásica). Extrato

sozinho (pré-incubado apenas com PBS, na ausência de veneno) também foi utilizado como

controle. O resultado foi expresso em porcentagem de atividade fosfolipásica como média ±

erro médio padrão com n = 3.

5.2.6.7 Atividade inflamatória

A atividade inflamatória in vivo do veneno de B. jararaca foi determinada utilizando o

modelo de edema de pata, conforme descrito previamente na literatura, com pequenas

modificações (ALBANO et al., 2013; MAIORANO et al., 2005). Grupos de 3 animais

receberam injeção intraplantar na pata posterior direita de diferentes quantidades de veneno

(µg/ 50 µL de PBS). A espessura da pata foi mensurada imediatamente antes da injeção do

veneno (volume basal) e em intervalos de tempo selecionados (0, 30, 60, 90 e 120 min)

usando um paquímetro digital. O edema foi expresso como o aumento da espessura da pata

calculado pela subtração do volume basal. Uma Dose Mínima Edematogênica (DME) foi

definida como a menor quantidade de veneno, em µg, que produz edema em torno de 50 %,

sem produzir intensa hemorragia no local da injeção.

Para a inibição da atividade edematogênica, 1 DME do veneno de B. jararaca foi

utilizada. A eficácia do extrato em inibir a atividade edematogênica do veneno de B. jararaca

foi avaliada em um protocolo de pré-tratamento, no qual o extrato foi administrado de forma

independente do veneno, por via oral ou intraperitoneal. Para tal teste, os animais foram pré-

tratados com diferentes doses do extrato, por via oral ou intraperitoneal, e uma hora após

receberam a injeção intraplantar de veneno na pata posterior direita, prosseguindo-se o teste

da forma descrita acima. Um grupo que recebeu injeção intraplantar de veneno e o tratamento

oral ou intraperitoneal de PBS foi utilizado como controle e considerado como 100 % de

atividade edematogênica e outro grupo que recebeu injeção intraplantar e tratamento oral de

PBS foi utilizado como controle negativo (ausência de atividade edematogênica). Grupos de 5

animais foram utilizados.

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5 Material e Métodos 66

Juliana Félix da Silva

Adicionalmente, ao final dos experimentos, os animais foram sacrificados e as suas

patas direitas posteriores foram removidas para quantificação da atividade mieloperoxidase

(MPO), conforme descrito previamente na literatura, com pequenas modificações (ALBANO

et al., 2013; BRADLEY et al., 1982). Os tecidos foram pesados, picotados e homogeneizados

em tampão brometo de hexadeciltrimetilamônio 0,5 % na proporção de 50 mg de tecido para

1 mL de tampão. As amostras foram sonicadas por 3 min em banho de gelo, submetidas a 3

ciclos de congelamento-descongelamento e por fim sonicadas por mais 3 minutos, para

extração da enzima mieloperoxidase presente. O sobrenadante obtido após centrifugação a

4.000 rpm por 15 min a 4ºC foi utilizado para a determinação da atividade MPO, sendo 10 µL

da amostra misturados com 200 µL de tampão fosfato de potássio 50 mM pH 6,0 contendo

0,0005 % peróxido de hidrogênio e 0,167 mg/mL o-dianisidina. A mensuração da atividade

foi realizada a 460 nm em leitora de microplacas através de leitura cinética de 1 em 1 min, no

total de 5 min. As patas esquerdas do grupo controle (que não receberam nenhuma injeção)

foram utilizadas como controle (valor basal). Da mesma forma, o grupo que recebeu injeção

intraplantar de veneno e tratamento oral ou intraperitoneal de PBS foi considerado como 100

% de MPO.

5.2.6.8 Atividade miotóxica

A atividade miotóxica in vivo do veneno de B. jararaca foi determinada utilizando o a

creatina quinase (CK) sérica como marcador bioquímico de miotoxicidade, conforme descrito

previamente na literatura, com pequenas modificações (MEBS; EHRENFELD; SAMEJIMA,

1983; WHO, 2010). Grupos de 5 animais receberam injeção intramuscular no músculo

gastrocnêmio direito de diferentes quantidades de veneno (µg/ 50 µL de PBS). O grupo

controle recebeu apenas 50 µL de PBS. 3 h após a injeção, os animais foram anestesiados e

tiveram o sangue coletado. O sangue de cada animal foi incubado por 10 min a 37ºC e em

seguida centrifugado a 10.000 rpm por 10 min, a 22ºC, para obtenção do soro. O nível de

atividade CK foi determinado utilizando um kit comercial e seguindo-se o protocolo do

fabricante, adaptando-o para leitura em microplacas de 96 poços. Uma Dose Mínima

Miotóxica (DMM) foi definida como a menor quantidade de veneno, em µg, que quadruplica

o nível de CK dos animais em comparação com os animais que não receberam veneno

(apenas PBS).

Para a inibição da atividade miotóxica, três DMMs do veneno de B. jararaca foram

utilizadas e o ensaio conduzido como descrito acima. A eficácia do extrato em inibir a

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5 Material e Métodos 67

Juliana Félix da Silva

atividade edematogênica do veneno de B. jararaca foi avaliada em um protocolo de pré-

tratamento, no qual o extrato foi administrado de forma independente do veneno, por via oral

ou intraperitoneal. Para tal teste, os animais foram pré-tratados com diferentes doses do

extrato, por via oral ou intraperitoneal, e uma hora após receberam a injeção intramuscular de

veneno, prosseguindo-se o teste da forma descrita acima. Um grupo que recebeu injeção

intramuscular de veneno e o tratamento oral ou intraperitoneal de PBS foi utilizado como

controle e considerado como 100 % de atividade miotóxica. Outro grupo que recebeu injeção

intramuscular e tratamento oral ou intraperitoneal de PBS foi utilizado como controle

negativo e considerado como ausência de atividade miotóxica. Grupos de 5 animais foram

utilizados.

5.2.7 Estudo da interação do decocto das folhas de Jatropha gossypiifolia com proteínas

5.2.7.1 Atividade proteolítica do decocto das folhas de Jatropha gossypiifolia

A atividade proteolítica do decocto das folhas de J. gossypiifolia sobre a albumina e

sobre as proteínas do veneno de B. jararaca foi avaliada conforme descrito previamente na

literatura, com pequenas modificações (NÚÑEZ et al., 2004). Quantidades fixas de albumina

ou veneno foram incubadas com diferentes proporções de extrato, por 60 min a 37ºC, e

analisados por SDS-PAGE 12 % para verificar assim possíveis diferenças no perfil

eletroforético (desaparecimento de bandas e surgimento de produtos de degradação, por

exemplo) das proteínas com e sem extrato. O ensaio foi realizado, separadamente, em

condições redutoras (com uso de β-mercaptoetanol) e em condições não-redutoras (na

ausência do agente redutor), sendo os géis corados por Coomassie Brilliant Blue.

5.2.7.2 Atividade precipitante do decocto das folhas de Jatropha gossypiifolia

A atividade precipitante do decocto das folhas de J. gossypiifolia sobre a albumina e

sobre as proteínas do veneno de B. jararaca foi avaliada através do método de Bradford,

conforme descrito previamente na literatura, com pequenas modificações (AMBIKABOTHY

et al., 2011). Para o teste, três grupos experimentais foram utilizados, em paralelo, nas

mesmas condições. O primeiro grupo (“teste”) consistiu na incubação da albumina ou veneno,

juntamente com o extrato, em diferentes proporções (com quantidade fixa de proteína), por 60

min a 37ºC. Em seguida, o material foi centrifugado a 5.000 g por 15 min a 22ºC e o teor de

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5 Material e Métodos 68

Juliana Félix da Silva

proteínas do sobrenadante obtido foi dosado por meio do método de Bradford, que consistiu,

resumidamente, na agitação vigorosa por alguns segundos da mistura de 50 µL da amostra

com 500 µL do reagente de Bradford (Coomassie Brilliant Blue 0,01 %; etanol 4,7 %; ácido

fosfórico 8,5 %), seguido de repouso por 5 min e leitura a 595 nm em espectrofotômetro UV-

VIS. No segundo grupo experimental (“controle proteína”), albumina ou veneno sozinhos

foram submetidos ao mesmo ensaio, na ausência de extrato, servindo de referência (ausência

de precipitação). O terceiro grupo (“controle extrato”) consistiu de controles para cada

concentração de extrato, sendo o ensaio realizado da mesma forma, omitindo-se apenas a

presença de proteína. A porcentagem de precipitação foi calculada através da equação:

% Precipitação DO controle proteína – DO teste DO controle extrato

DO controle proteína

Onde, “DO controle proteína” é a absorbância do teste realizado apenas com proteína

(100 % de proteína ou 0 % de precipitação), “DO teste” é a absorbância do teste realizado

com proteína juntamente com o extrato (quantidade de proteínas remanescentes, não

precipitadas) e “DO controle extrato” é a absorbância do teste realizado com o extrato em

ausência de proteína (“branco” do extrato). O resultado foi expresso em % precipitação de

proteínas, como média ± desvio padrão com n = 3.

5.2.8 Avaliação da atividade anticoagulante in vitro do decocto das folhas de Jatropha

gossypiifolia

A atividade anticoagulante in vitro do decocto das folhas de J. gossypiifolia foi avaliada

por meio dos testes de tempo de protrombina (TP) e tempo de tromboplastina parcial ativada

(TTPa), utilizando-se kits comerciais e seguindo-se o protocolo do fabricante, porém com as

adaptações necessárias conforme descrito previamente na literatura para avaliação de

atividade anticoagulante (MAO et al., 2009).

Para o teste de TP, 90 µL de plasma foram pré-incubados por 5 min a 37ºC com 10 µL

de extrato em PBS em diferentes concentrações. Em seguida, adicionou-se 200 µL do

reagente de TP (extrato de cérebro de coelho e cloreto de cálcio), pré-aquecido por 3 min a

37ºC, e o tempo de coagulação foi aferido por meio de um coagulômetro digital.

Para o teste de TTPa, da mesma forma, 90 µL de plasma foram pré-incubados por 5 min

a 37ºC com 10 µL de extrato em PBS em diferentes concentrações. Em seguida, adicionou-se

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5 Material e Métodos 69

Juliana Félix da Silva

100 µL do reagente do TTPa (extrato de cérebro de coelho e ácido elágico), aquecido

previamente a 37ºC, e incubou-se por mais 3 min, a 37ºC. Por fim, 100 µL de cloreto de

cálcio 25 mM, aquecido previamente a 37ºC, foram adicionados e o tempo de coagulação

aferido por meio de um coagulômetro digital.

Em ambos os testes, utilizou-se um grupo controle negativo, em que se omitiu a adição

do extrato (ausência de atividade anticoagulante) e um grupo controle positivo, em que se

utilizou heparina sódica 100 UI/ teste (presença de atividade anticoagulante). O resultado foi

expresso em segundos (s), como média ± erro médio padrão com n = 3.

5.2.9 Avaliação da atividade fibrinolítica in vitro do decocto das folhas de Jatropha

gossypiifolia

A atividade fibrinolítica in vitro do decocto das folhas de J. gossypiifolia foi

determinada conforme descrito previamente na literatura, com pequenas modificações

(RAJESH et al., 2005). Primeiramente, 100 µL de plasma humano citratado foi misturado

com igual volume de CaCl2 100 mM e incubado a 37ºC por 2 h para a formação do coágulo

de fibrina. O coágulo formado foi lavado 5 vezes em PBS. O coágulo lavado foi incubado

com diferentes concentrações de extrato (µg/ 50 µL de PBS) a 37ºC for 120 min. A reação foi

interrompida pela adição de 100 µL de tampão Tris-HCl 0,0625 M pH 6,8 contendo glicerol

10 %, β-mercaptoetanol 10 %, SDS 2 % e azul de bromofenol 0,05 %, seguido de fervura por

5 min a 100ºC. A amostra foi centrifugada a 3.000 rpm por 10 min e o sobrenadante analisado

por SDS-PAGE 7,5 % conforme já descrito anteriormente (LAEMMLI, 1970). Em todos os

ensaios, foi corrida em paralelo uma amostra com coágulo de fibrina sem adição de extrato

(controle), para visualização do perfil da fibrina íntegra.

5.2.10 Avaliação da atividade antioxidante in vitro do decocto das folhas de Jatropha

gossypiifolia

A atividade antioxidante in vitro do decocto das folhas de J. gossypiifolia foi avaliada

por meio dos seguintes testes: capacidade antioxidante total, quelação de cobre, quelação de

ferro, sequestro de radicais hidroxila, sequestro de radicais superóxido e potencial redutor.

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5 Material e Métodos 70

Juliana Félix da Silva

5.2.10.1 Capacidade antioxidante total (CAT)

A avaliação da capacidade antioxidante total (CAT) do decocto das folhas de J.

gossypiifolia foi avaliada por meio do método de formação do complexo fosfomolibdênio

(PIETRO; PINEDA; AGUILAR, 1999). Tubos contendo diferentes massas do extrato e a

solução reagente (ácido sulfúrico 0,6 M, fosfato de sódio 28 mM e molibdato de amônio 4

mM) foram incubados a 95ºC por 90 min. Em seguida, a mistura foi resfriada a temperatura

ambiente e a absorbância lida a 695 nm, utilizando o reagente nas mesmas condições, na

ausência de extrato, como branco. A capacidade antioxidante total foi interpolada por meio de

uma curva padrão com concentrações conhecidas de ácido ascórbico e expressa em miligrama

equivalente em ácido ascórbico por grama de extrato (EAA/g).

5.2.10.2 Quelação de cobre

A atividade quelante sobre íons cobre do decocto das folhas de J. gossypiifolia foi

determinada pelo método do violeta de pirocatecol (ANTON, 1960). O extrato, em diferentes

concentrações (volume fixo de 30 µL), foi misturado com 200 µL de tampão acetato de sódio

50 mM pH 6,0, 6 µL de violeta de pirocatecol 4 mM dissolvido no mesmo tampão e 100 µL

de sulfato de cobre II penta-hidratado (50 µg/mL em tampão). As absorbâncias das amostras

foram lidas a 632 nm. A atividade quelante foi expressa como porcentagem de quelação em

relação a um branco (ausência de extrato). A concentração efetiva mediana (CE50), definida

como a quantidade de extrato capaz de produzir 50 % de quelação, foi calculada. EDTA foi

utilizado como padrão.

5.2.10.3 Quelação de ferro

A atividade quelante de íons ferro do decocto das folhas de J. gossypiifolia foi

determinada conforme descrito previamente na literatura, com pequenas modificações

(WANG et al., 2008). O extrato, em diferentes concentrações (volume fixo de 30 µL) foi

adicionado a uma mistura reacional contendo cloreto de ferro 2 mM e ferrozina 5 mM. A

mistura foi agitada e incubada por 10 min a temperatura ambiente. As absorbâncias das

amostras foram lidas a 562 nm. A atividade quelante foi expressa como porcentagem de

quelação em relação a um branco (ausência de extrato). A CE50, definida como a quantidade

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5 Material e Métodos 71

Juliana Félix da Silva

de extrato capaz de produzir 50 % de quelação, foi calculada. EDTA foi utilizado como

padrão.

5.2.10.4 Sequestro de radicais hidroxila

A atividade sequestradora de radicais hidroxila do decocto das folhas de J. gossypiifolia

foi determinada baseada na reação de Fenton, conforme descrito previamente na literatura,

com pequenas modificações (SMIRNOFF; CUMBES, 1989). Os radicais hidroxila foram

gerados usando tampão fosfato de sódio (150 mM, pH 7,4) contendo sulfato ferroso 10 mM,

EDTA 10 mM, salicilato de sódio 2 mM e 30 % de peróxido de hidrogênio e diferentes

concentrações de extrato. Nos tubos controle, o peróxido de hidrogênio foi substituído por

tampão fosfato de sódio. As soluções foram incubadas a 37ºC por 1 h e a presença de radicais

hidroxila foi detectada mediante leitura da absorbância a 510 nm. A atividade sequestradora

foi expressa como porcentagem de sequestro. A CE50, definida como a quantidade de extrato

capaz de produzir 50 % de sequestro, foi calculada. Ácido gálico foi usado como controle

positivo.

5.2.10.5 Sequestro de radicais superóxido

A atividade sequestradora de radicais superóxido do decocto das folhas de J.

gossypiifolia foi determinada baseada na sua habilidade de inibir a redução fotoquímica do

nitroazul de tetrazólio (NBT) no sistema riboflavina-luz-NBT, conforme descrito previamente

na literatura, com pequenas modificações (DASGUPTA; DE, 2004). A mistura reacional é

composta por tampão fosfato 50 mM pH 7,8, metionina 13 mM, riboflavina 2 mM, EDTA

100 mM, NBT 75 mM e o extrato em diferentes concentrações. Após 10 min sob iluminação

com uma lâmpada fluorescente para a produção de azul de formazan, as amostras foram lidas

a 560 nm. Tubos contendo a mistura reacional foram mantidos no escuro e serviram como

brancos para a reação. A atividade sequestradora foi expressa como porcentagem de

sequestro. A CE50, definida como a quantidade de extrato capaz de produzir 50 % de

sequestro, foi calculada. Ácido gálico foi usado como controle positivo.

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5 Material e Métodos 72

Juliana Félix da Silva

5.2.10.6 Poder redutor

O poder redutor do decocto das folhas de J. gossypiifolia foi determinado conforme

descrito previamente na literatura, com algumas modificações (WANG et al., 2008). O

extrato, em diferentes concentrações, foi adicionado em tampão fosfato 200 mM pH 6,6

contendo 1 % de ferricianeto de potássio e incubado por 20 min a 50ºC. A reação foi

interrompida pela adição de TCA 10 %. Em seguida, água destilada e cloreto férrico 0,1 %

foram adicionados às amostras. As absorbâncias das amostras foram lidas a 700 nm.

5.2.11 Análise estatística

As análises de regressão linear e os testes de hipóteses (análise de variância, Anova,

seguido de teste de Tukey) para comparação das médias nos ensaios foram realizados através

do software estatístico GraphPad Prism® versão 5.00. p-valores menores que 0,05 foram

considerados significativos.

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6 Resultados 73

Juliana Félix da Silva

66 RREESSUULLTTAADDOOSS

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6 Resultados 74

Juliana Félix da Silva

66 RREESSUULLTTAADDOOSS

6.1 RENDIMENTO DO PROCESSO DE EXTRAÇÃO DAS FOLHAS DE Jatropha

gossypiifolia

O rendimento do processo de extração das folhas de Jatropha gossypiifolia por

decocção, bem como do processo de fracionamento do decocto em solventes de polaridade

crescente por partição líquido-líquido, são apresentados na Tabela 1.

Tabela 1 – Rendimento do decocto das folhas e frações de Jatropha gossypiifolia

Extrato Bruto/

Frações

Rendimento (%), em relação

às folhas secas* ao extrato bruto**

Extrato bruto 13,57 100

Fração CH2Cl2 0,53 3,87

Fração AcOEt 0,43 3,19

Fração BuOH 3,67 27,07

Fração AR 3,92 28,85

Fonte: Resultados experimentais.

CH2Cl2: fração diclorometano. AcOEt: fração acetato de etila. BuOH: fração n-butanol. AR: fração aquosa

residual. *Rendimento calculado baseando-se na quantidade inicial de material vegetal seco utilizado na

preparação do decocto (50 g). **Rendimento calculado baseando-se na quantidade de extrato seco utilizado para

o fracionamento do decoto (6,79 g).

6.2 ANÁLISE FITOQUÍMICA DO DECOCTO DAS FOLHAS E FRAÇÕES DE

Jatropha gossypiifolia

A análise cromatográfica do decocto das folhas e frações de J. gossypiifolia, utilizando

alguns reagentes reveladores específicos, indicou a presença alcaloides, terpenos e/ou

esteroides e compostos fenólicos (especialmente flavonoides), como pode ser observado na

Figura 11.

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6 Resultados 75

Juliana Félix da Silva

Figura 11 – Cromatogramas obtidos por CCD do decocto das folhas e frações de Jatropha gossypiifolia

Fonte: Resultados experimentais.

Fase móvel: acetato de etila: ácido fórmico: água (8:1:1, v/v/v). Adsorvente: gel de sílica F254. Amostras: Extrato

bruto (EB), fração diclorometano (CH2Cl2), fração acetato de etila (AcOEt), fração n-butanol (BuOH) e fração

aquosa residual (AR). Detecção: A. Luz UV 254 nm. B. Luz UV 365 nm. C. Vanilina sulfúrica com

aquecimento. D. Cloreto férrico. E. Reagente Natural A sob luz UV 365 nm. F. Dragendorff.

Nas frações CH2Cl2 e AcOEt, é possível notar que vários compostos migraram até o

fronte da placa, por se tratarem de compostos com caráter mais apolar. Portanto, para

visualizar esses compostos, uma fase móvel mais apolar foi utilizada. Nessa segunda fase

móvel, foi possível visualizar a presença de terpenos e/ou esteroides (Figura 12-C) e manchas

fluorescentes características de flavonoides (Figura 12-E) que não puderam ser visualizados

no sistema anterior.

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6 Resultados 76

Juliana Félix da Silva

Figura 12 – Cromatograma obtido por CCD das frações diclorometano e acetato de etila do decocto das

folhas de Jatropha gossypiifolia

Fonte: Resultados experimentais.

Fase móvel: tolueno: acetato de etila: ácido fórmico (5:5:0,5, v/v/v). Adsorvente: gel de sílica F254. Amostras:

Fração diclorometano (CH2Cl2) e fração acetato de etila (AcOEt). Detecção: A. Luz UV 254 nm. B. Luz UV 365

nm. C. Vanilina sulfúrica com aquecimento. D. Cloreto férrico. E. Reagente Natural A sob luz UV 365 nm. F. Dragendorff.

Nas frações BuOH e AR, por sua vez, foi observada uma situação inversa: na fase

móvel utilizada, alguns compostos, por serem muito polares, ficaram retidos no ponto de

aplicação. Nesse caso, para visualizar tais compostos, uma fase móvel mais polar (butanol:

ácido acético: água, 3:1:1, v/v/v) foi testada para permitir sua eluição, como pode ser

visualizado na Figura 13. A eluição dos compostos da fração BuOH foi possível, porém o

mesmo não ocorreu totalmente com a fração AR. É possível observar ainda na Figura 13 que

existe uma zona amarela (após revelação com vanilina) em comum entre as duas frações,

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6 Resultados 77

Juliana Félix da Silva

porém os compostos extremamente polares presentes na fração AR (retidos no ponto de

aplicação) não estão presentes na fração BuOH. O uso de cromatofolhas de fase reversa com

vários sistemas solventes diferentes também foi testado, porém, da mesma forma, não foi

obtido sucesso na eluição desses compostos extremamente polares da fração AR (resultados

não mostrados).

Figura 13 – Cromatograma obtido por CCD das frações n-butanol e aquosa residual do decocto das folhas

de Jatropha gossypiifolia

Fonte: Resultados experimentais.

Fase móvel: butanol: ácido acético: água (3:1:1, v/v/v). Adsorvente: gel de sílica F254. Amostras: Fração butanol

(BuOH) e fração aquosa residual (AR). Detecção: Vanilina sulfúrica com aquecimento

De acordo com as CCDs realizadas e por meio de comparação com literatura de

referência na área (WAGNER; BLADT, 2001), a fração CH2Cl2 apresentou manchas de

fluorescência esverdeada sugestivas de flavonoides quando reveladas em Reagente Natural A

(Figura 11-E). Provavelmente, trata-se de agliconas de flavonoides com característica mais

apolar. Manchas vermelho-arroxeadas em vanilina (Figura 11-C) e que não revelam com

cloreto férrico (Figura 11-D) são sugestivas de terpenos e/ou esteroides. A presença de

alcaloides também pode ser sugerida nessa fração, através da presença de uma mancha

amarronzada após revelação com Reagente de Dragendorff (Figura 11-F).

Na fração AcOEt, manchas sugestivas de compostos fenólicos puderam ser

identificadas (Figura 11-C, -D e -E e 12-C, -D e -E). Manchas de coloração rosada na vanilina

(Figura 11-C e Figura 12-C), que revelam com cloreto férrico (Figura 11-D e Figura 12-D) e

que não revelam com Reagente Natural A (Figura 11-E e Figura 12-E) sugerem a presença de

taninos nessa fração. Através de co-CCD com padrões de flavonoides (Figura 14-A), pode-se

visualizar a presença de manchas com Rf e coloração características de iso-orientina (Rf = 0,4

e cor amarela-alaranjada escura), isovitexina (Rf = 0,45 e cor verde fluorescente), luteolina (Rf

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6 Resultados 78

Juliana Félix da Silva

= 0,54 e coloração amarela fluorescente), orientina (Rf = 0,52 e coloração amarela) e vitexina

(Rf = 0,62 e coloração verde fluorescente) nessa fração.

Na fração BuOH observou-se a presença, praticamente, apenas de flavonoides, uma vez

que praticamente todas as manchas reveladas com vanilina (Figura 11-C) foram reveladas

com Reagente Natural A (Figura 11-E). Através de co-CCD com padrões de flavonoides

(Figura 14-B), pode-se visualizar a presença de manchas sugestivas de apenas iso-orientina

(Rf = 0,4 e cor amarela-alaranjada escura), orientina (Rf = 0,52 e coloração amarela) e

vitexina (Rf = 0,62 e coloração verde fluorescente) na fração BuOH. Vale ressaltar, ainda, que

essa fração orgânica trata-se da que obteve maior rendimento (conforme apresentado na

Tabela 1), o que pode sugerir que esses compostos, ou algum deles, sejam os compostos

majoritários no decocto das folhas de J. gossypiifolia.

Figura 14 – Cromatogramas obtidos por co-CCD das frações acetato de etila e n-butanol do decocto das

folhas de Jatropha gossypiifolia com padrões de flavonoides

Fonte: Resultados experimentais.

F: fração. F+P: fração mais padrão cromatográfico. P: padrão cromatográfico. A: pesquisa de iso-orientina,

isovitexina, luteolina, orientina e vitexina na fração acetato de etila (AcOEt). B: pesquisa de iso-orientina,

orientina e vitexina na fração n-butanol (BuOH). Fase móvel: acetato de etila: ácido fórmico: água (8:1:1,

v/v/v) (todos os cromatogramas, exceto o da pesquisa da luteolina); tolueno: acetato de etila: ácido fórmico

(5:5:0,5, v/v/v) (pesquisa da luteolina). Adsorvente: gel de sílica F254. Detecção: Reagente Natural A + luz

UV 365 nm.

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6 Resultados 79

Juliana Félix da Silva

A partir das CCDs realizadas, na fração AR, não foi possível visualizar compostos após

revelação com nenhum dos reveladores utilizados, com exceção de uma banda amarelada

mediante revelação com vanilina (Figura 11-C e 13), que poderia ser indicativa de

flavonoides, porém essa hipótese foi desconsiderada uma vez que, após revelação com

Reagente Natural A, não houve aparecimento de nenhuma banda (Figura 11-E). No ponto de

aplicação, foi possível visualizar uma coloração acastanhada mediante revelação com vanilina

(Figura 11-C e 13), que pode ser um indicativo da presença de açúcares. No ponto de

aplicação também foi observado o desenvolvimento de uma coloração negra após revelação

com cloreto férrico (Figura 11-D), que pode ser um indicativo da presença de compostos

fenólicos e coloração arroxeada após revelação com ninhidrina (resultados não mostrados),

que pode ser indicativo de compostos contendo grupamentos amina (como por exemplo,

aminoácidos ou proteínas).

Tendo em vista a possível presença de açúcares, compostos fenólicos e proteínas, bem

como a falta de pistas mais concretas sobre quais seriam os compostos presentes na fração

AR, o teor de açúcares totais, compostos fenólicos e proteínas foi determinado, conforme

apresentado na Tabela 2.

Tabela 2 – Teor de açúcares, compostos fenólicos e proteínas do decocto das folhas e fração aquosa

residual de Jatropha gossypiifolia

Amostra Açúcares (%) Compostos fenólicos (%) Proteínas (%)

Extrato bruto 20,0 ± 0,3 18,7 ± 1,5 2,4 ± 0,4

Fração AR 15,6 ± 0,6 15,2 ± 1,0 3,7 ± 0,3

Fonte: Resultados experimentais.

*Percentual calculado baseando-se na quantidade (massa) de extrato bruto ou fração empregado no teste

Valores expressos como média ± erro médio padrão com n = 3.

6.3 ENSAIOS DE CITOTOXICIDADE IN VITRO

6.3.1 Atividade hemolítica

O decocto das folhas de J. gossypiifolia não apresentou atividade hemolítica de forma

significativa frente os eritrócitos (Figura 15). O pequeno percentual de hemólise apresentado

foi semelhante ao produzido pelo PBS (controle negativo).

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Figura 15 – Atividade hemolítica do decocto das folhas de Jatropha gossypiifolia

Fonte: Resultados experimentais.

Valores expressos como média ± erro médio padrão com n = 3. ***p<0,001 comparado ao controle negativo

(PBS) e às diferentes concentrações de extrato após teste de Tukey (Anova).

6.3.2 Citotoxicidade frente a células HEK-293

Nas concentrações testadas (3,90625; 7,8125; 15,625; 31,25; 62,5; 125; 250 e 500

µg/mL) o decocto das folhas de J. gossypiifolia não apresentou efeito citotóxico frente às

células HEK-293. Em todas as concentrações, o ensaio MTT mostrou 100 % de viabilidade

celular (resultados não mostrados).

6.4 DOSAGEM DE PROTEÍNAS E PERFIL ELETROFORÉTICO DO VENENO DE

B. jararaca

A dosagem de proteínas revelou que o veneno de B. jararaca apresentou um teor de

0,62 ± 0,03 µg de proteínas/ µg de veneno, o que equivale a 62 % de proteína. A Figura 16

apresenta o perfil eletroforético do veneno sob condições redutoras, onde é possível observar

a presença de proteínas entre aproximadamente 14 e 70 kDa.

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6 Resultados 81

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Figura 16 – Perfil eletroforético do veneno de Bothrops jararaca por SDS-PAGE em condições redutoras

Fonte: Resultados experimentais

Bja: veneno de B. jararaca

6.5 AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE ANTIOFÍDICA DO DECOCTO DAS FOLHAS DE

Jatropha gossypiifolia

6.5.1 Inibição da atividade proteolítica sobre a azocaseína

O decocto das folhas de J. gossypiifolia foi capaz de inibir eficientemente a atividade

azocaseinolítica induzida pelo veneno de B. jararaca, chegando a inibi-la totalmente em

maiores concentrações testadas (Figura 17). O extrato sozinho não apresentou atividade

azocaseinolítica (resultado não mostrado).

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Figura 17 – Inibição da atividade azocaseinolítica do veneno de Bothrops jararaca pelo decocto das folhas

de Jatropha gossypiifolia

Fonte: Resultados experimentais.

Bja: Jg (p/p): proporção veneno de B. jararaca (Bja): extrato de J. gossypiifolia (Jg), peso por peso.

Valores expressos como média ± erro médio padrão com n = 3. **p<0,01 e ***p<0,001 comparados ao grupo controle (1:0, Bja: Jg, p/p) após teste de Tukey (Anova).

6.5.2 Inibição da atividade proteolítica sobre o fibrinogênio

Através dos estudos de inibição, verificou-se que o decocto das folhas de J.

gossypiifolia foi capaz de proteger o fibrinogênio da atividade proteolítica induzida pelo

veneno de B. jararaca de forma dose-dependente (Figura 18). Observou-se uma atividade

inibitória discreta a partir já da menor proporção, sendo perceptível uma progressiva melhora

da proteção da cadeia Bβ do fibrinogênio à medida que se aumentou a concentração de

extrato no meio. A partir da proporção 1:50 (veneno:extrato, p/p) observa-se uma proteção

também da cadeia Aα, ainda que sutil. A proteção das cadeias do fibrinogênio pode ser

observada tanto pelo aparecimento das cadeias (ausentes quando sem extrato) como também

pelo desaparecimento dos produtos de degradação, quando comparados ao controle de

clivagem do fibrinogênio pelo veneno (ausência de extrato).

Independente do período de pré-incubação dos venenos com o extrato, a atividade foi

semelhante, sendo o extrato ativo inclusive quando adicionado na mesma hora em que se

adicionou o veneno ao fibrinogênio (isto é, sem incubação prévia), o que mostra que o

período de incubação não parece influenciar na atividade (resultados não mostrados). Além

disso, o extrato não apresentou atividade proteolítica frente ao fibrinogênio (resultados não

mostrados).

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Figura 18 – Inibição da atividade fibrinogenolítica do veneno de Bothrops jararaca pelo decocto das folhas

de Jatropha gossypiifolia

Fonte: Resultados experimentais.

FIB: fibrinogênio. Bja: Jg (p/p): proporção veneno de B. jararaca (Bja): extrato de J. gossypiifolia (Jg), peso por

peso. SDS-PAGE 12 % em condições redutoras.

Através dos experimentos de zimografia, foi possível verificar que o extrato foi ativo

parcialmente a partir da proporção 1:5 (veneno:extrato, p/p) (Figura 19). O extrato foi capaz

de inibir totalmente enzimas fibrinogenolíticas de aproximadamente 26 e 28 kDa na

proporção 1:25 (veneno:extrato, p/p) e, apenas discretamente, enzimas de aproximadamente

34 kDa a partir da proporção 1:5 (veneno:extrato, p/p) (Figura 19). Os experimentos

referentes à caracterização das proteases presentes no veneno de B. jararaca por meio de

estudos de inibição com inibidores específicos não mostrou resultados conclusivos, não sendo

possível determinar se as proteases inibidas pelo extrato seriam metalo ou serinoproteases

(resultado não mostrado).

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Figura 19 – Inibição da atividade fibrinogenolítica (por zimografia/ SDS-PAGE) do veneno de Bothrops

jararaca pelo decocto das folhas de Jatropha gossypiifolia

Fonte: Resultados experimentais.

Bja: Jg (p/p, por poço): proporção veneno de B. jararaca (Bja): extrato de J. gossypiifolia (Jg), peso por peso,

por poço do gel. SDS-PAGE 12 % em condições não-redutoras.

6.5.3 Inibição da atividade coagulante

O decocto das folhas de J. gossypiifolia foi capaz de inibir tanto a atividade coagulante

sobre o fibrinogênio quanto sobre o plasma induzida pelo veneno de B. jararaca, conforme

pode ser observado na Tabela 3. Embora a inibição da atividade coagulante sobre o

fibrinogênio não tenha sido total, a atividade anticoagulante sobre o plasma foi mantida por

até 10 min de observação após a adição do veneno. O extrato sozinho não apresentou

atividade coagulante nem sobre o fibrinogênio, nem sobre o plasma (resultados não

mostrados).

Tabela 3 – Inibição da atividade coagulante do veneno de Bothrops jararaca pelo decocto das folhas de

Jatropha gossypiifolia

Amostras Atividade coagulante sobre o fibrinogênio (segundos)

Sem extrato 1:0,5 1:1 1:2 1:10

PBS > 240 - - - -

Bja: Jg

(p/p)

123,8 ± 1,1 128,7 ± 0,3 144,9 ± 1,8** 150,2 ± 5,5*** NT

Amostras Atividade coagulante sobre o plasma (segundos)

Sem extrato 1:0,5 1:1 1:2 1:10

PBS > 240 - - - -

Bja: Jg

(p/p)

121,4 ± 1,7 235,0 ± 5,0*** 227,3 ± 12,7** NT > 240***

Fonte: Resultados experimentais.

Bja: Jg (p/p): proporção veneno de B. jararaca (Bja): extrato de J. gossypiifolia (Jg), peso por peso. NT: não

testado. Valores expressos como média ± erro médio padrão com n = 3. **p<0,01 e ***p<0,001 comparados ao

grupo controle (1:0, Bja: Jg, p/p) após teste de Tukey (Anova).

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6 Resultados 85

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6.5.4 Inibição da atividade defibrinogenante in vivo

No protocolo de pré-incubação, o decocto das folhas de J. gossypiifolia foi capaz de

inibir, em todas as concentrações testadas (1:50, 1:100 e 1:200, veneno: extrato, p/p), em

todos os animais de cada grupo, a incoagulabilidade sanguínea in vivo induzida pelo veneno

de B. jararaca. Todos os animais do grupo tratado com veneno na ausência de extrato (1:0,

veneno:extrato, p/p) apresentaram sangue incoagulável após 4 h da injeção intraperitoneal do

veneno. Já os animais dos grupos que receberam o veneno pré-incubado com as diferentes

concentrações de extrato (1:50, 1:100 e 1:200, veneno: extrato, p/p), após as 4 h da injeção,

apresentaram sangue coagulável normalmente, de forma semelhante aos animais tratados com

apenas PBS (0:0, veneno: extrato, p/p).

Da mesma forma, no protocolo de tratamento, quando o extrato foi administrado por via

oral, independente da injeção do veneno, resultado semelhante foi observado: nas doses 50,

100 e 200 mg/kg, o decocto foi capaz de inibir a incoagulabilidade sanguínea induzida pelo

veneno de B. jararaca.

6.5.5 Inibição da atividade hemorrágica in vivo

No protocolo de pré-incubação, o decocto das folhas de J. gossypiifolia foi capaz de

inibir a atividade hemorrágica induzida pelo veneno de B. jararaca de forma significativa,

como apresentado na Figura 20.

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Figura 20 – Inibição da atividade hemorrágica do veneno de Bothrops jararaca pelo decocto das folhas de

Jatropha gossypiifolia, no protocolo de pré-incubação

Fonte: Resultados experimentais.

Bja: Jg (p/p): proporção veneno de B. jararaca (Bja): extrato de J. gossypiifolia (Jg), peso por peso.

A. Teor de hemoglobina extraída dos halos hemorrágicos (DO540nm). B: Aspecto macroscópico dos halos

hemorrágicos de cada grupo. Valores expressos como média ± erro médio padrão com n = 5. **p<0,01 e

***p<0,001 comparados ao grupo controle (1:0, Bja: Jg, p/p) após teste de Tukey (Anova).

Da mesma forma, no protocolo de tratamento, quando o extrato foi administrado por via

oral, independente da injeção do veneno, resultado semelhante foi observado, como pode ser

observado na Figura 21.

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Figura 21 – Inibição da atividade hemorrágica do veneno de Bothrops jararaca pelo decocto das folhas de

Jatropha gossypiifolia por via oral, no protocolo de injeção independente

Fonte: Resultados experimentais.

A. Teor de hemoglobina extraída dos halos hemorrágicos (DO540nm). B. Aspecto macroscópico dos halos

hemorrágicos de cada grupo. Valores expressos como média ± erro médio padrão com n = 5. ***p<0,001

comparados ao grupo controle (injeção de veneno com administração oral de PBS) após teste de Tukey (Anova).

6.5.6 Inibição da atividade fosfolipásica

Embora o decocto das folhas de J. gossypiifolia tenha inibido a atividade fosfolipásica

de B. jararaca em torno de 15 % apenas na maior concentração testada (1:200, veneno:

extrato, p/p), essa inibição não foi estatisticamente significativa (p>0,05).

6.5.7 Inibição da atividade edematogênica in vivo

Por via oral, o decocto das folhas de J. gossypiifolia foi capaz de inibir a atividade

edematogênica induzida pelo veneno de B. jararaca de forma significativa, porém essa

inibição foi apenas parcial (Figura 22-A e -B). Quando o extrato foi administrado por via

intraperitoneal, a porcentagem de inibição mostrou-se superior, chegando a inibir

completamente o efeito edematogênico após 120 min (Figura 23-A e -B). O extrato, por

ambas as vias, reduziu a atividade MPO de forma significativa, de modo que por via oral a

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6 Resultados 88

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inibição foi apenas parcial e pela via intraperitoneal apresentou maior percentual de inibição

(Figura 22-C e 23-C).

Figura 22 – Inibição da atividade edematogênica do veneno de Bothrops jararaca pelo decocto das folhas

de Jatropha gossypiifolia por via oral

Fonte: Resultados experimentais.

A: Curva de evolução do edema (% edema) durante 120 min de experimento. B: Área sob a curva (0-120 min).

C: Atividade mieloperoxidase (MPO) (ΔDO460nm/min) do homogenato das patas injetadas com veneno. Valores

expressos como média ± erro médio padrão com n = 5. *p<0,05 comparados ao grupo controle (injeção de veneno com administração oral de PBS) após teste de Tukey (Anova).

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Figura 23 – Inibição da atividade edematogênica do veneno de Bothrops jararaca pelo decocto das folhas

de Jatropha gossypiifolia por via intraperitoneal

Fonte: Resultados experimentais.

A: Curva de evolução do edema (% edema) durante 120 min de experimento. B: Área sob a curva (0-120 min).

C: Atividade mieloperoxidase (MPO) (ΔDO460nm/min) do homogenato das patas injetadas com veneno. Valores

expressos como média ± erro médio padrão com n = 5. *p<0,05, **p<0,01 e ***p<0,001 comparados ao grupo

controle (injeção de veneno com administração intraperitoneal de PBS) após teste de Tukey (Anova).

6.5.8 Inibição da atividade miotóxica in vivo

Por via oral, o decocto das folhas de J. gossypiifolia foi capaz de inibir a atividade

miotóxica induzida pelo veneno de B. jararaca de forma significativa (Figura 24-A). Quando

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6 Resultados 90

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o extrato foi administrado por via intraperitoneal, a porcentagem de inibição mostrou-se

superior, chegando a praticamente inibir totalmente a atividade miotóxica induzida pelo

veneno (Figura 24-B).

Figura 24 – Inibição da atividade miotóxica do veneno de Bothrops jararaca pelo decocto das folhas de

Jatropha gossypiifolia por via oral e intraperitoneal

Fonte: Resultados experimentais.

A: Efeito da administração oral do extrato. B: Efeito da administração intraperitoneal do extrato. Valores

expressos como média ± erro médio padrão com n = 5. *p<0,05, **p<0,01 e ***p<0,001 comparados ao grupo

controle (injeção de veneno com administração oral ou intraperitoneal de PBS) após teste de Tukey (Anova).

6.5.9 Avaliação da atividade proteolítica do decocto das folhas de Jatropha gossypiifolia

O extrato de J. gossypiifolia não foi capaz de degradar as proteínas do veneno da

serpente B. jararaca, mesmo quando o veneno foi analisado sob SDS-PAGE em condições

redutoras e não-redutoras (Figura 25).

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6 Resultados 91

Juliana Félix da Silva

Além disso, na Figura 25, é possível notar que com o aumento da concentração de

extrato há um desaparecimento gradual das bandas do veneno, chegando ao ponto de na maior

proporção veneno: extrato (1:100, p/p), praticamente não se observarem as bandas proteicas, o

que pode sugerir que o extrato contenha componentes que estejam precipitando proteínas.

Resultado semelhante foi observado quando o mesmo experimento foi repetido substituindo-

se o veneno por albumina (resultados não mostrados).

Figura 25 – Avaliação da atividade proteolítica do decocto das folhas de Jatropha gossypiifolia sobre o

veneno de Bothrops jararaca

Fonte: Autoria própria (resultados experimentais).

A: SDS-PAGE 12 % em condições não-redutoras. B: SDS-PAGE 12 % em condições redutoras. Bja: Jg (p/p):

proporção veneno de B. jararaca (Bja): extrato de J. gossypiifolia (Jg), peso por peso.

6.5.10 Atividade precipitante do decocto das folhas de Jatropha gossypiifolia

Através do método de Bradford, observou-se que o decocto das folhas de J.

gossypiifolia foi capaz de precipitar proteínas, como observado na Tabela 4.

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6 Resultados 92

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Tabela 4 – Atividade precipitante de proteínas do decocto das folhas de Jatropha gossypiifolia

Amostras % Precipitação sobre albumina (BSA)

Sem extrato 1:1 1:50 1:100

BSA: Jg

(p/p)

- 67,5 ± 0,9 74,5 ± 1,6 82,4 ± 0,8

Amostras % Precipitação sobre o veneno de Bothrops jararaca

Sem extrato 1:1 1:50 1:100

Bja: Jg

(p/p)

- 78,2 ± 1,4 97,1 ± 0,3 99,0 ± 0,6

Fonte: Resultados experimentais.

BSA: Jg (p/p): proporção albumina (BSA): extrato de J. gossypiifolia (Jg), peso por peso. Bja: Jg (p/p):

proporção veneno de B. jararaca (Bja): extrato de J. gossypiifolia (Jg), peso por peso. Valores expressos como média ± erro médio padrão com n = 3.

6.6 AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE ANTICOAGULANTE E FIBRINOLÍTICA IN

VITRO DO DECOCTO DAS FOLHAS DE Jatropha gossypiifolia

Como pode ser observado na Figura 26, o TTPa foi prolongado em presença do decocto

das folhas de J. gossypiifolia, enquanto que o TP não sofreu alterações, mesmo utilizando as

mesmas concentrações utilizadas no teste de TTPa. Na maior concentração, o extrato

aumentou em 3 vezes o valor do TTPa em comparação com o grupo controle (ausência de

extrato). A heparina (1 UI/mL), utilizada como referência, tornou o plasma incoagulável em

ambos os testes de TP e TTPa (resultados não mostrados).

Figura 26 – Avaliação da atividade anticoagulante do decocto das folhas de Jatropha gossypiifolia

Fonte: Resultados experimentais.

Valores expressos como média ± erro médio padrão com n = 3. Jg: extrato de J. gossypiifolia. *p<0,01 e

***p<0,001 comparados ao controle (ausência de extrato) após teste de Tukey (Anova).

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6 Resultados 93

Juliana Félix da Silva

Com relação à possível atividade fibrinolítica in vitro do decocto das folhas de J.

gossypiifolia, observou-se que mesmo na maior concentração utilizada (2 mg/mL), o extrato

não apresentou atividade hidrolítica sobre os coágulos de fibrina (resultados não mostrados).

6.7 AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE ANTIOXIDANTE IN VITRO DO DECOCTO DAS

FOLHAS DE Jatropha gossypiifolia

No teste da capacidade antioxidante total, o extrato apresentou atividade antioxidante de

155,2 ± 13,36 mg equivalente em ácido ascórbico por grama de extrato (EAA/g).

O extrato apresentou atividade quelante tanto sobre íons cobre (CE50 ≈ 0,111 mg/mL)

quanto sobre íons ferro (CE50 ≈ 1,104 mg/mL), como pode ser observado na Figura 27-A e B,

respectivamente. A título de comparação, a CE50 do EDTA obtida nos testes foi de

aproximadamente 0,017 mg/mL para quelação de cobre e 0,011 mg/mL para quelação férrica.

Figura 27 – Avaliação da atividade quelante sobre íons cobre e íons ferro do decocto das folhas de

Jatropha gossypiifolia

Fonte: Resultados experimentais.

Valores expressos como média ± erro médio padrão com n = 3. Jg: extrato de J. gossypiifolia

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6 Resultados 94

Juliana Félix da Silva

O extrato também apresentou significativa capacidade de sequestrar os radicais livres

hidroxila (CE50 ≈ 1,205 mg/mL) e superóxido (CE50 ≈ 0,118 mg/mL), conforme apresentado

na Figura 28-A e B, respectivamente. A título de comparação, a CE50 do ácido gálico obtido

nos testes foi de aproximadamente 0,293 mg/mL para sequestro de radicais hidroxila e 0,003

mg/mL para o sequestro de radicais superóxido.

Figura 28 – Avaliação da atividade sequestradora de radicais hidroxila e superóxido do decocto das folhas

de Jatropha gossypiifolia

Fonte: Resultados experimentais.

Valores expressos como média ± erro médio padrão com n = 3.

Jg: extrato de J. gossypiifolia

O extrato apresentou significativo poder redutor, de intensidade comparável ao ácido

ascórbico (controle positivo utilizado), conforme apresentado na Figura 29.

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6 Resultados 95

Juliana Félix da Silva

Figura 29 – Avaliação do poder redutor do decocto das folhas de Jatropha gossypiifolia

Fonte: Resultados experimentais.

Valores expressos como média ± erro médio padrão com n = 3. Jg: extrato de J. gossypiifolia

6.8 AVALIAÇÃO PRELIMINAR DA ATIVIDADE ANTIOFÍDICA DAS FRAÇÕES

DO DECOCTO DAS FOLHAS DE Jatropha gossypiifolia

Estudos pilotos foram realizados com as frações do decocto das folhas de J.

gossypiifolia. Utilizando o teste de inibição da atividade fibrinogenolítica, foi possível

visualizar que as frações CH2Cl2 e AcOEt foram inativas e as frações BuOH e AR foram

significativamente ativas nas concentrações testadas (Figura 30).

Figura 30 – Inibição da atividade fibrinogenolítica do veneno de Bothrops jararaca pelas frações do

decocto das folhas de Jatropha gossypiifolia

Fonte: Resultados experimentais.

FIB: fibrinogênio. Bja: veneno de B. jararaca. Bja:CH2Cl2 (p/p): proporção Bja: fração diclorometano (CH2Cl2),

peso por peso. Bja:AcOEt (p/p): proporção Bja: fração acetato de etila (AcOEt), peso por peso. Bja:BuOH (p/p):

proporção Bja: fração n-butanol (BuOH), peso por peso. Bja:AR (p/p): proporção Bja: fração aquosa residual

(AR), peso por peso. SDS-PAGE 12 % em condições redutoras

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6 Resultados 96

Juliana Félix da Silva

Adicionalmente, a atividade anticoagulante in vitro no teste de TTPa também revelou o

mesmo comportamento: as frações BuOH e AR foram as mais ativas, de modo que a AR foi a

mais ativa de todas (cerca de 3 vezes mais ativo que a fração BuOH e 2 vezes mais ativo que

o extrato bruto) (Figura 31).

Figura 31 – Avaliação da atividade anticoagulante das frações do decocto das folhas de Jatropha

gossypiifolia no teste de tempo de tromboplastina parcial ativada (TTPa)

Fonte: Resultados experimentais.

Valores expressos como média ± erro médio padrão com n = 3.

CH2Cl2: fração diclorometano. AcOEt: fração acetato de etila. BuOH: fração n-butanol. AR: fração aquosa

residual. TTPa: tempo de tromboplastina parcial ativada.

***p<0,001 comparados ao controle (ausência de extrato) após teste de Tukey (Anova).

Tendo em vista que as frações mais polares foram as mais ativas nos testes in vitro e

como forma de triagem, somente elas foram testadas quanto a sua capacidade de inibir a

atividade defibrinogenante de B. jararaca in vivo. O que se observou, no entanto, foi que

nenhuma das duas, quando administradas nas doses de 25, 50 e 100 mg/kg pela via

intraperitoneal, foram capazes de inibir o quadro de incoagulabilidade sanguínea induzido

pelo veneno de B. jararaca.

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7 Discussão 97

Juliana Félix da Silva

77 DDIISSCCUUSSSSÃÃOO

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7 Discussão 98

Juliana Félix da Silva

77 DDIISSCCUUSSSSÃÃOO

Como pode ser observado na Tabela 1, um maior rendimento foi encontrado nas frações

mais polares (BuOH e AR) do extrato aquoso das folhas de J. gossypiifolia, sendo o

rendimento das frações menos polares relativamente baixo (CH2Cl2 e AcOEt). Dessa forma,

pode-se sugerir que no decocto das folhas de J. gossypiifolia predominam, principalmente,

compostos com caráter polar. Esse é um resultado interessante, pois conforme estudos

fitoquímicos da espécie encontrados na literatura, os principais líquidos extratores utilizados

são solventes ou misturas de solventes com caráter final apolar (MARIZ et al., 2010; ZHANG

et al., 2009), o que acaba acarretando em uma maior caracterização, na espécie, de compostos

mais apolares, como terpenoides e lignoides. Compostos mais polares como, por exemplo,

flavonoides, são pouco descritos para a espécie.

Por meio de CCD, manchas sugestivas de alcaloides, terpenos e/ou esteroides,

compostos fenólicos (flavonoides e taninos) e aminas puderam ser detectadas (Figuras 11, 12

e 15). Desses compostos, os flavonoides destacam-se como possíveis compostos majoritários,

a julgar pelo número, tamanho e intensidade das manchas quando reveladas com Reagente

Natural A, revelador específico para essa classe de compostos (Figuras 11-E e 12-E). Em

virtude disso, co-CCDs utilizando-se de padrões de flavonoides foram realizadas para

identificar quais seriam os principais flavonoides predominantes no extrato bruto e frações.

Por meio de co-CCD a presença dos flavonoides iso-orientina, isovitexina, luteolina, orientina

e vitexina foi detectada (Figura 13). Com exceção da luteolina, os demais flavonóides já

haviam sido identificados nas folhas de J. gossypiifolia (PILON et al., 2013;

SUBRAMANIAN; NAGARAJAN; SULOCHANA, 1971). Para o gênero Jatropha, a

luteolina foi previamente descrito apenas para a espécie Jatropha unicostata (FRANKE;

NASHER; SCHMIDT, 2004).

Os resultados aqui obtidos estão de acordo com estudos que mostram que os

flavonoides podem ser utilizados como marcadores para o controle de qualidade de drogas

vegetais derivadas de folhas de J. gossypiifolia, uma vez que análises fitoquímicas de seus

extratos etanólicos através de cromatografia em camada delgada (CCD) e cromatografia a

líquido de alta eficiência (CLAE) tem revelado que esses compostos se tratam,

provavelmente, de compostos majoritários das folhas (VEIGA, 2008).

A presença de flavonoides pode ser interessante quando se estuda o potencial

antiofídico de espécies vegetais, uma vez que estudos mostram que esses compostos são

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7 Discussão 99

Juliana Félix da Silva

capazes de promover pontes de hidrogênio consideravelmente fortes entre seus grupos

fenólicos e as amidas de cadeias proteicas bem como apresentam potente atividade quelante

de metais (MORS et al., 2000). Estudos mostram que vários flavonoides tem capacidade de

inibir fosfolipases e hialuronidases de venenos ofídicos (CARVALHO et al., 2013; MORS et

al., 2000; SANTHOSH et al., 2013). Dentre os flavonoides identificados no decocto das

folhas de J. gossypiifolia, luteolina já foi identificada anteriormente como detentora de

atividade antiofídica, ao inibir hialuronidases do veneno da serpente Crotalus adamenteus

(SANTHOSH et al., 2013).

Como visto nas Figuras 11 e 13, a fração AR apresenta em sua composição compostos

extremamente polares, que mesmo utilizando-se diversas condições cromatográficas distintas,

não foi possível visualizar. Dessa forma, tendo em vista que a partir das CCDs houve o

indício da presença de açúcares, compostos fenólicos e proteínas, o teor desses compostos foi

determinado espectrofotometricamente pelos métodos de Dubois, Folin-Ciocalteu e Bradford,

respectivamente (Tabela 2). A partir dessas dosagens, foi possível observar de fato a presença

de açúcares e compostos fenólicos na fração. Com relação às proteínas, no entanto, o que se

observou foi um percentual muito pequeno.

Tendo em vista que as plantas do gênero Jatropha são reconhecidamente tóxicas e

considerando-se estudos prévios que mostram que extratos etanólicos das partes aéreas de J.

gossypiifolia apresentam notada toxicidade (DEVAPPA; MAKKAR; BECKER, 2010;

MARIZ et al., 2010; MARIZ et al., 2012), estudos in vitro de citotoxicidade foram realizados

como forma preliminar de avaliar a potencial toxicidade do decocto das folhas de J.

gossypiifolia. A toxicidade da espécie é associada geralmente ao látex e às sementes

(DEVAPPA; MAKKAR; BECKER, 2010; SABANDAR et al., 2013). A sintomatologia

consiste, em geral, de sintomas gastrointestinais (dor abdominal, náusea, vômito e diarreia),

podendo evoluir para complicações cardiovasculares, neurológicas e renais (MARIZ et al.,

2010; SCHENKEL et al., 2007). Na literatura, no entanto, são raros os estudos toxicológicos

que avaliem a toxicidade de extratos aquosos das folhas de J. gossypiifolia, com a exceção de

um trabalho publicado recentemente que mostrou que o extrato aquoso das folhas, por via

oral, não apresentou toxicidade oral aguda significativa em doses de até 2 g/kg em ratos

(NAGAHARIKA et al., 2013).

Nos dois modelos de citotoxicidade empregados (atividade hemolítica e citotoxicidade

frente a células HEK-293) o extrato não apresentou, nas das concentrações testadas, efeito

citotóxico. É importante destacar que ambos os tipos celulares utilizados são linhagens

humanas, o que pode reforçar os resultados obtidos. Esses resultados podem sugerir que o

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7 Discussão 100

Juliana Félix da Silva

extrato aquoso das folhas, comparado ao extrato etanólico das partes aéreas testados por

Mariz et al. (2012), pode apresentar menor toxicidade, possivelmente devido à provável

diferença na constituição química que pode ter ocorrido, levando em consideração tanto o

diferente farmacógeno utilizado como o diferente solvente extrator para o preparo dos

diferentes extratos. No entanto, é importante ressaltar que a toxicidade do decocto das folhas

de J. gossypiifolia não deve ser totalmente descartada, sendo necessários ainda estudos

futuros para reforçar essa hipótese.

No caso da atividade hemolítica (Figura 15), um fato interessante foi que nas menores

concentrações o extrato apresentou percentual de hemólise inferior inclusive ao controle

negativo PBS, o que pode sugerir uma possível ação citoprotetora do extrato, o que merece

ainda, no entanto, ser melhor investigado. De fato, um estudo mostrou que o extrato aquoso

das folhas de J. gossypiifolia apresentou atividade protetora contra hemólise induzida por

solução salina hipotônica (0,36 %) (NAGAHARIKA et al., 2013). Com relação à

citotoxicidade frente às células de rim embrionário humano, observou-se 100 % de

viabilidade celular em todas as concentrações testadas uma vez que o extrato não foi capaz de

alterar a atividade mitocondrial das células em cultura como pode ser visualizado através do

ensaio MTT.

O veneno de B. jararaca foi analisado por SDS-PAGE e teve seu teor de proteínas

quantificado como forma de caracterizá-lo, antes de dar início aos testes de atividade

antiofídica. Na dosagem pelo método BCA, observou-se um teor de aproximadamente 60 %

de proteínas no veneno, o que corrobora com a literatura que indica que até cerca de 95 % do

peso seco da maioria dos venenos de animais peçonhentos consiste de polipeptídeos que

incluem enzimas e pequenos peptídeos (KARALLIEDDE, 1995). Com relação ao perfil

eletroforético por SDS-PAGE, observou-se proteínas na faixa de 14 a 70 kDa,

aproximadamente (Figura 16). A faixa de massa molecular encontrada corresponde àquela em

que se encontram os principais componentes dos venenos botrópicos descritos na literatura,

tais como metaloproteases (20-100 kDa), serinoproteases (26-67 kDa) e fosfolipases A2 (14-

18 kDa) (DE PAULA et al., 2009; RODRÍGUEZ-ACOSTA et al., 2010; SAJEVIC;

LEONARDI; KRIŽAJ, 2011; TAKEDA; TAKEYA; IWANAGA, 2012).

Um problema geral na avaliação da atividade antiofídica de plantas medicinais e

quaisquer outros produtos naturais reside na complexidade dos efeitos causados pelo

envenenamento ofídico (MARTZ, 1992). Dessa maneira, se faz importante o emprego de

vários testes, enzimáticos e biológicos, que avaliem as principais toxinas e mecanismos

tóxicos específicos de cada veneno (HOUGHTON; OSIBOGUN, 1993). No caso do

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7 Discussão 101

Juliana Félix da Silva

envenenamento botrópico, os principais testes empregados são aqueles relacionados à sua

capacidade de interferir nos processos hemostáticos (atividades pró-coagulante,

defibrinogenante e hemorrágica, por exemplo) e inflamatórios (atividade fosfolipásica,

miotóxica e edematogênica, por exemplo) (GUTIÉRREZ et al., 2013; LAING et al., 1992;

SELLS, 2003; THEAKSTON; REID, 1983; WHO, 2010). No presente estudo, os

experimentos de avaliação da atividade antiofídica podem ser agrupados em três tipos:

Testes que avaliam a capacidade do extrato em interferir nos distúrbios hemostáticos

produzidos pelo envenenamento botrópico (atividades azocaseinolítica, fibrinogenolítica, pró-

coagulante, defibrinogenante e hemorrágica);

Testes que avaliam a capacidade do extrato em interferir no processo inflamatório

desencadeado pelo envenenamento botrópico (atividades fosfolipásica, edematogênica e

miotóxica);

Testes visando identificar os possíveis mecanismos de ação envolvidos na atividade

antiofídica do extrato (atividades proteolítica, precipitante, anticoagulante e antioxidante do

extrato).

É importante ressaltar que as diferentes atividades não podem ser totalmente

dissociadas, uma vez que a ação do veneno é complexa, conjunta e coordenada, de modo que

uma mesma toxina pode agir em várias vias, bem como um determinado efeito pode ser

resultado de várias toxinas agindo em conjunto. Além disso, os testes enzimáticos (in vitro)

não podem ser considerados como alternativos aos estudos in vivo, mas sim como testes

complementares e fundamentais para o entendimento dos efeitos biológicos produzidos pelo

veneno botrópico (BRASIL, 2001; GUTIÉRREZ et al., 2013; KORNALÍK, 1985; SELLS,

2003).

Estudos que avaliem a atividade antiofídica das espécies vegetais do gênero Jatropha

são pouco frequentes na literatura. Alguns trabalhos com as espécies Jatropha elliptica e

Jatropha mollissima mostraram resultados interessantes (DE PAULA et al., 2010; VILAR;

CARVALHO; FURTADO, 2007). É importante ressaltar que não há estudos, até o momento,

avaliando a possível atividade antiofídica de J. gossypiifolia.

SVSPs e SVMPs são peças chaves no envenenamento botrópico, principalmente em se

tratando dos efeitos hemostáticos (GUTIÉRREZ; LOMONTE, 1989; SAJEVIC;

LEONARDI; KRIŽAJ, 2011). Dessa forma, a inibição de enzimas proteolíticas é importante

quando se pensa em moléculas com atividade antiofídica. Venenos ofídicos apresentam em

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7 Discussão 102

Juliana Félix da Silva

sua constituição várias enzimas proteolíticas que degradam uma grande variedade de

substratos naturais, tais como caseína, fibrinogênio, colágeno, entre outros (MARKLAND,

1998). É conhecido que várias toxinas hemorrágicas e defibrinogenantes de venenos ofídicos

mostram atividade importante frente a esses substratos (BJARNASON; FOX, 1994).

Os resultados obtidos no presente estudo revelaram que o decocto das folhas de J.

gossypiifolia inibiu eficientemente a atividade proteolítica sobre a azocaseína do veneno de B.

jararaca (Figura 17), chegando a inibir totalmente a atividade azocaseinolítica do veneno a

partir da proporção 1:75 (veneno: extrato, p/p). Esses são resultados significativos uma vez

que, na patologia do envenenamento por serpentes, vários quadros clínicos graves são

decorrentes da ação de proteases ofídicas, tais como hemorragia, inflamação e miotoxicidade

(BRASIL, 2001; GUTIÉRREZ, 2002; GUTIÉRREZ; LOMONTE, 1989). Além disso, esse

achado pode auxiliar no entendimento da possível ação inibitória do extrato frente SVSPs

e/ou SVMPs, que são proteases ofídicas presentes nos venenos botrópicos e principais

responsáveis pelos distúrbios hemostáticos decorrentes da picada (MARKLAND, 1998).

Partiu-se então para o estudo da inibição da atividade fibrinogenolítica, que conforme

apresentado anteriormente, é importante no quadro final de incoagulabilidade sanguínea

apresentada pelos venenos botrópicos. A atividade fibrinogenolítica do veneno de B. jararaca

foi determinada por duas metodologias:

Através do perfil dos produtos de degradação do fibrinogênio por SDS-PAGE,

visando identificar qual ou quais subunidades da cadeia do fibrinogênio (Aα, Bβ ou γ) seriam

as mais susceptíveis à ação de cada veneno, e assim determinar a presença de α ou β-

fibrinogenases nos venenos e qual delas o extrato teria maior capacidade inibitória;

Através de zimografia, para determinar quais seriam as proteínas de cada veneno

responsáveis pela atividade fibrinogenolítica detectada anteriormente e qual delas o extrato

teria maior capacidade inibitória.

No primeiro experimento, observou-se que o extrato foi capaz de inibir eficientemente

enzimas fibrinogenolíticas do veneno de B. jararaca (Figura 18). As cadeias Bβ do

fibrinogênio foram mais bem protegidas pelo extrato do que as cadeias Aα, o que sugere uma

atividade inibitória frente a α- e, principalmente, β-fibrinogenases. As cadeias Aα foram

sendo mais preservadas à medida que se aumentava a proporção veneno: extrato (p/p), até que

na maior proporção (1:100 p/p, veneno: extrato), observou-se praticamente uma proteção total

da cadeia. Esse dado sugere que, possivelmente, em concentrações maiores de extrato (não

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7 Discussão 103

Juliana Félix da Silva

testadas no presente estudo por limitações de volume na eletroforese) seja possível observar

uma inibição total da atividade fibrinogenolítica do veneno.

Através dos experimentos de zimografia foi possível confirmar o resultado obtido no

experimento anterior, de que o extrato foi capaz de inibir a atividade fibrinogenolítica do

veneno de B. jararaca. É possível visualizar na Figura 19 que o veneno apresenta 3 bandas

principais detentoras de atividade fibrinogenolítica, de 26, 28 e 34 kDa, aproximadamente. O

extrato apresentou capacidade inibitória frente às três bandas, em diferentes intensidades. As

enzimas de 26 e 28 kDa foram inibidas totalmente, enquanto as de 34 kDa foram apenas

discretamente (Figura 19). Essas enzimas podem se tratar tanto de serino como de

metaloproteases. Estudos de inibição com inibidores específicos (o-fenantrolina, PMSF e

EDTA) foram realizados na tentativa de elucidar a qual classe pertence as proteases inibidas

pelo extrato. No entanto, resultados conclusivos não foram obtidos, uma vez que todos os

inibidores inibiram todas as bandas (resultado não mostrado). Uma possível hipótese seria a

de que em uma mesma banda estejam presentes mais de um tipo de protease, uma vez que por

meio de SDS-PAGE a separação só se dá de acordo com a massa molecular, havendo a

possibilidade de sobreposição de proteínas com diferentes cargas (SCHÄGGER, 2003). Uma

solução que poderia ser considerada seria realizar a zimografia em géis bidimensionais

(eletroforese bidimensional), que seriam capazes de separar as proteínas de acordo com a

massa e com a carga (MANDAL et al., 2010).

Outro tipo de toxina que é importante no quadro de incoagulabilidade sanguínea

provocado pelo envenenamento botrópico são as SVTLEs (KORNALÍK, 1985). A ação

semelhante à trombina do veneno de B. jararaca foi avaliada por meio da atividade

coagulante sobre o fibrinogênio bovino. Conforme pode ser visto na Tabela 3, o extrato

prolongou significativamente o tempo de coagulação do fibrinogênio, a partir já da proporção

1:1 (p/p, veneno: extrato), o que sugere que o extrato possua ação inibitória frente à SVTLEs.

Concentrações maiores de extrato não puderam ser avaliadas devido a limitações do aparelho.

A inibição da atividade coagulante sobre o plasma do veneno de B. jararaca também foi

avaliada, uma vez que nesse tipo de experimento se avalia tanto a ação SVTLEs como

também de outras toxinas pró-coagulantes, como por exemplo, toxinas ativadoras de fator X e

ativadores de protrombina (KORNALÍK, 1985; SELLS, 2003). Da mesma forma que no

experimento anterior, o extrato foi eficiente em inibir a atividade coagulante, já na menor

concentração testada (1:0,5 p/p, veneno: extrato) (Tabela 3). Foi possível visualizar que na

proporção 1:10, o tempo de coagulação foi maior que 240 s, limite máximo do aparelho. O

efeito inibitório da proporção 1:10 foi mantido por pelo menos mais 10 min, que foi o período

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7 Discussão 104

Juliana Félix da Silva

máximo após o teste em que o plasma ainda foi observado. Esse resultado sugere, portanto,

que o extrato pode agir inibindo também outras toxinas pró-coagulantes, além das SVTLEs.

Em seguida, para avaliar se a ação inibitória da atividade coagulante sobre o plasma

detectada foi devida a uma ação direta e específica às toxinas ofídicas, ou se havia também

participação de compostos com atividade anticoagulante no extrato de J. gossypiifolia, a

avaliação da atividade anticoagulante do extrato foi realizada através dos testes de TP e TTPa.

Conforme pode ser observado na Figura 26, o TTPa foi prolongado pelo extrato de J.

gossypiifolia, enquanto nenhum efeito foi produzido no TP. A atividade frente ao TTPa pode

ser relacionada a uma maior afinidade dos constituintes químicos do extrato a algum ou

alguns dos fatores da via de ativação por contato (“via íntrinseca”) e/ou da “via comum” da

coagulação (MAO et al., 2009). A ausência de efeito no teste de TP, por sua vez, indica que o

extrato não é capaz de inibir a via do fator tecidual (“via extrínseca”) da coagulação (MAO et

al., 2009). É importante ressaltar que no processo de coagulação sanguínea, o complexo

“tenase intrínseco” é cerca de 50 vezes mais eficiente que o complexo “tenase extrínseco” na

produção de trombina, sendo gerado por meio do complexo “tenase extrínseco” apenas

pequenas quantidades de trombina (FRANCO, 2001). Além disso, visando investigar se o

mecanismo pelo qual o extrato apresentou atividade coagulante teria relação com uma

possível ação fibrinolítica, a capacidade do extrato em hidrolisar coágulos de fibrina foi

testada. No entanto, mesmo na maior concentração testada (2 mg/mL), efeito fibrinolítico não

foi observado.

As principais toxinas no veneno de B. jararaca com atividade pró-coagulante agem

principalmente ativando os fatores X e a protrombina, adicionalmente às SVTLEs

(FURUKAWA; HAYASHI, 1977; SANTORO; SANO-MARTINS, 1993). A fibrina formada

pelas SVTLEs é instável, uma vez que não existe ativação do Fator XIII que estabilizaria essa

fibrina, fazendo com que o coágulo formado seja anormal e rapidamente eliminado, causando

um quadro de hipofibrinogenemia, uma vez que o fibrinogênio circulante é consumido pelas

SVTLEs. Por outro lado, a ação de toxinas ativadoras de Fator X e de protrombina leva a

formação de trombina endógena, o que é confirmado pela presença de fibrina reticulada no

sangue circulante de pacientes picados por B. jararaca (KAMIGUTI; CARDOSO, 1989).

Um estudo avaliando a ação do anticoagulante heparina frente à ação coagulante do

veneno de algumas serpentes, incluindo o veneno de B. jararaca, mostrou que o seu efeito

dependia do mecanismo pelo qual o veneno induzia a atividade pró-coagulante: venenos com

ação semelhante à trombina não eram inibidos, porém venenos com toxinas ativadoras de

Fator X foram inibidas pela heparina, in vitro. No mesmo estudo, através de experimentos in

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7 Discussão 105

Juliana Félix da Silva

vivo, observou-se que a inibição da fração do veneno com atividade ativadora de Fator X pela

heparina foi eficaz em atenuar o quadro de incoagulabilidade sanguínea, o que suporta a

hipótese de que a heparina, embora não iniba as SVTLEs, é capaz de inibir a trombina

endógena produzida pela ativação do Fator X. No entanto, utilizando o veneno bruto, a

inibição somente da trombina endógena não foi suficiente para melhorar o quadro de

incoagulabilidade sanguínea como um todo, o que demonstrou que a heparina sozinha não era

eficiente no tratamento do quadro de incoagulabilidade induzido pela picada de serpentes

(NAHAS et al., 1975).

Tendo como base o estudo de Nahas et al. (1975), uma hipótese que pode ser levantada

é a de que o extrato pode estar inibindo tanto as SVTLEs, quanto a própria trombina

endógena, uma vez que o extrato ocasionou um aumento do tempo de coagulação no teste de

TTPa. Outra hipótese que pode ser levantada é a de que ao inibir a trombina endógena, o

extrato acabe por inibir indiretamente o efeito pró-coagulante que seria produzido por

enzimas presentes no veneno que tenham ação ativadora de fatores de coagulação, diminuindo

o excesso de trombina produzida e assim atenuando a coagulopatia de consumo.

Os resultados positivos in vitro foram confirmados pelos resultados in vivo no modelo

de incoagulabilidade sanguínea induzida pelo veneno de B. jararaca. O veneno de B.

jararaca provocou incoagulabilidade sanguínea em camundongos tratados com o veneno, o

que foi observado pela ausência de coagulação do sangue mesmo depois de 60 min da sua

coleta. Os camundongos tratados com o veneno pré-incubado com o extrato não apresentaram

tal quadro de incoagulabilidade, com o sangue coagulando pouco tempo depois da coleta, de

forma semelhante ao grupo de camundongos tratados somente com PBS (controle). Tal

resultado sugere que, de fato, a inibição das atividades semelhante à trombina (SVTLEs) e/ou

fibrinogenolítica, bem como a atividade anticoagulante in vitro pelo decocto das folhas de J.

gossypiifolia foram importantes para normalizar os níveis de fibrinogênio circulantes e assim

inibir a incoagulabilidade sanguínea. Resultado semelhante foi observado quando o extrato foi

administrado independentemente do veneno, por via oral, o que mostra a potencial aplicação

do extrato no tratamento da incoagulabilidade sanguínea induzida pelo veneno de B. jararaca.

O esquema apresentado na Figura 32 resume os tipos de toxinas chaves para o quadro

de incoagulabilidade sanguínea e como o extrato poderia afetar esse quadro.

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7 Discussão 106

Juliana Félix da Silva

Figura 32 – Esquema ilustrativo das principais toxinas do veneno de B. jararaca responsáveis pelo quadro

de incoagulabilidade sanguínea e sua inibição pelo decocto das folhas de Jatropha gossypiifolia

Fonte: Autoria própria, baseado em Kornalík (1985) e Sajevic; Leonardi; Krizaj (2011) e nos resultados

experimentais. Em branco, as principais toxinas ofídicas envolvidas no quadro de incoagulabilidade sanguínea

são as enzimas fibrinogenolíticas, as enzimas semelhantes à trombina (SVTLEs) e as toxinas ativadoras de

fatores da coagulação. As últimas, por sua vez, induzem excsso de geração de trombina endógena. Em cinza, o

extrato ao inibir as atividades fibrinogenolítica, coagulante sobre o fibrinogênio e sobre o plasma e apresentar

atividade anticoagulante in vitro, poderia inibir a incoagulabilidade sanguínea, o que foi demonstrado in vivo

através da inibição da atividade defibrinogenante. Jg (-): atividade inibida pelo extrato de J. gossypiifolia

Além de produzir incoagulabilidade sanguínea, é outro efeito importante do

envenenamento botrópico a hemorragia local (ESCALANTE et al., 2011; GUTIÉRREZ;

LOMONTE, 1989). No presente estudo, a hemorragia foi determinada por meio da injeção

subcutânea dorsal do veneno de B. jararaca com posterior quantificação da hemoglobina

liberada pelo halo hemorrágico formado, como marcador indireto do nível de hemorragia.

Quando o veneno foi pré-incubado com o extrato, nas diferentes proporções, produziu

inibição de cerca de 50 % da atividade hemorrágica apresentada pelo grupo controle (Figura

21-A). Como pode ser visualizado na Figura 21-B, o aspecto do halo hemorrágico foi

visivelmente atenuado nos animais que receberam o veneno pré-incubado com o extrato. O

protocolo de pré-tratamento por via oral também foi testado, onde resultados similares foram

obtidos (Figura 22-A e B), mostrando a potencialidade do decocto das folhas de J.

gossypiifolia no tratamento da hemorragia local produzida pelo veneno de B. jararaca. Tendo

em vista que a ação hemorrágica local é produzida pela ação de SVMPs hemorrágicas

(hemorraginas), o resultado sugere que o extrato tenha ação inibitória frente a essas toxinas.

O decocto das folhas de J. gossypiifolia não foi capaz de inibir significativamente a

atividade fosfolipásica induzida pelo veneno de B. jararaca. Na maior proporção veneno:

extrato (p/p) testada (1:200), o extrato produziu cerca de 15 % de inibição, porém essa

inibição não apresentou significância estatística (p>0,05). No entanto, é importante ressaltar

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7 Discussão 107

Juliana Félix da Silva

que, através desse teste, está sendo avaliada apenas a atividade de PLA2 Asp49, isto é, as

PLA2 enzimaticamente ativas (ARNI; WARD, 1996). Uma hipótese que pode ser levantada é

a de que o extrato pode ser mais ativo contra PLA2 com Lys49, ou seja, enzimaticamente

inativas, que também provocam vários sinais clínicos do envenenamento botrópico, tais como

inflamação e miotoxicidade (DE PAULA et al., 2009; GUTIÉRREZ; LOMONTE, 1995).

Por isso, dando continuidade à investigação, a inibição da atividade edematogênica foi

avaliada. Proeminente edema local é um achado clínico comum e grave em envenenamentos

ofídicos (CURY; TEIXEIRA; SUDO, 1994; GUTIÉRREZ; LOMONTE, 1989). Utilizando o

protocolo de administração independente de veneno e extrato observou-se que o decocto das

folhas de J. gossypiifolia, por via oral, foi capaz de inibir o efeito edematogênico apenas

parcialmente (Figura 22). Por via intraperitoneal, por outro lado, o efeito foi superior e

bastante significativo, inibindo completamente o efeito produzido pelo veneno após 120 min,

conforme pode ser visualizado na Figura 23. O extrato além de reduzir a porcentagem de

edema, foi capaz de diminuir os níveis da enzima MPO, que é um marcador quantitativo do

influxo de células inflamatórias para o tecido da pata injetada com o veneno.

Segundo estudos anteriores, a injeção intraplantar do veneno de B. jararaca induz um

edema que é primariamente mediado por metabólitos do ácido araquidônico (produtos da

ciclooxigenase e lipoxigenase) e, em menor participação, histamina, serotonina e PAF

(TREBIEN; CALIXTO, 1989). Outros autores também demonstraram que os leucócitos

exercem importante papel na resposta inflamatória produzida no edema de pata induzido pelo

veneno de B. jararaca, indicando que os linfócitos são dotados da capacidade de secretar

mediadores pró-inflamatórios relevantes para o desenvolvimento de uma inflamação aguda

(CURY; TEIXEIRA; SUDO, 1994). Diversas toxinas podem ser responsáveis pelo efeito

edematogênico produzido pelo veneno de B. jararaca, desde PLA2 Asp49 ou Lys49 até

SVMPs hemorrágicas ou não-hemorrágicas (GUTIÉRREZ; RUCAVADO, 2000; TEIXEIRA

et al., 2003). Porém, diferentemente do que ocorre com outros efeitos locais que são causados

pela ação direta de toxinas específicas, o efeito edematogênico é, aparentemente, o resultado

de uma ação conjunta de diversas toxinas encontradas nos venenos botrópicos, agindo

rapidamente nos tecidos conectivo e muscular, induzindo a liberação de vários mediadores

inflamatórios endógenos. Inclusive, sua modulação por mediadores endógenos costuma

diminuir a eficácia do soro antiofídico, uma vez que o antiveneno é capaz de neutralizar as

toxinas, porém não consegue reduzir a inflamação provocada pelos mediadores químicos

liberados por estas toxinas (ARAÚJO et al., 2007; GUTIÉRREZ, 2002; GUTIÉRREZ;

LOMONTE, 1989).

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7 Discussão 108

Juliana Félix da Silva

No que diz respeito à atividade antiedematogênica apresentada pelo decocto das folhas

de J. gossypiifolia, algumas hipóteses podem ser levantadas em relação ao modo pelo qual

esse extrato estaria exercendo sua ação inibitória. Uma vez que o extrato não apresentou

atividade anti-PLA2 in vitro, como apresentado anteriormente, uma ação inibitória sobre PLA2

Lys49 pode ser levada em consideração. Outra hipótese seria a ação sobre SVMPs, uma vez

que, inclusive, o extrato apresentou atividade anti-hemorrágica, conforme discutido

anteriormente. Uma terceira hipótese seria que o extrato apresenta potente atividade anti-

inflamatória e, portanto, é capaz de reduzir a inflamação provocada pelos mediadores

químicos endógenos liberados pela ação das toxinas ofídicas. De fato, estudos anteriores

mostram que diferentes extratos das folhas e partes aéreas de J. gossypiifolia apresentam

atividade anti-inflamatória em diversos modelos agudos e crônicos de inflamação (BHAGAT

et al., 2011; PANDA et al., 2009a). Inclusive, estudos anteriores realizados por nosso grupo

de pesquisa mostraram que o extrato aquoso das folhas de J. gossypiifolia, por via oral, nas

mesmas doses utilizadas no presente trabalho, foi capaz de reduzir o edema de pata induzido

pela carragenina de forma significativa (FÉLIX-SILVA, 2011).

Dano no tecido muscular (mionecrose) é um importante e severo sintoma do

envenenamento botrópico, uma vez que pode levar a perdas permanentes de tecido,

incapacidade e até amputação (GUTIÉRREZ; LOMONTE, 1995). A miotoxicidade pode

ocorrer devido a uma ação direta (PLA2) ou indireta (SVMPs) de toxinas presentes nestes

venenos (GUTIÉRREZ; LOMONTE, 1989). O dano às células musculares resulta em uma

perda de controle da permeabilidade de cálcio e, consequentemente, causa ruptura da

membrana celular, induzindo a rápida liberação de marcadores citosólicos, como a creatina

quinase (CK) (GUTIÉRREZ; LOMONTE, 1989, 1995). Dessa forma, no presente trabalho, a

miotoxicidade do veneno de B. jararaca foi induzida através de sua injeção intramuscular

com posterior quantificação dos níveis séricos de CK, como um marcador indireto de

miotoxicidade (MEBS; EHRENFELD; SAMEJIMA, 1983).

Pela via oral, o decocto das folhas de J. gossypiifolia foi capaz de reduzir os níveis de

CK em mais de 50 %, nas três doses testadas (Figura 24-A). Pela via intraperitoneal, o efeito

foi ainda melhor, chegando o extrato a produzir praticamente 100 % de inibição da atividade

miotóxica induzida pelo veneno de B. jararaca (Figura 24-B). Tendo em vista que o extrato

não inibiu a atividade fosfolipase do veneno de B. jararaca, a ação do extrato sobre PLA2

Lys49 pode ser sugerida. Outra hipótese, talvez a mais plausível, seria a de que, alternativa ou

complementarmente à ação inibitória sobre PLA2, o extrato ao também inibir a atividade

hemorrágica, reduziria a miotoxicidade indireta, que é induzida por SVMPs e resulta da

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7 Discussão 109

Juliana Félix da Silva

isquemia provocada por distúrbios vasculares decorrentes da ação hemorrágica dessas toxinas,

que podem levar a necrose muscular e consequente liberação de CK, devido ao efeito

imediato no suprimento de sangue às células musculares (GUTIÉRREZ; LOMONTE, 1989;

GUTIÉRREZ; OWNBY, 2003; GUTIÉRREZ et al., 1995). De fato, os animais dos grupos

tratados com extrato, quando comparados aos animais do grupo controle, apresentaram na

região muscular onde o veneno foi injetado uma visual redução da hemorragia extremamente

significativa (resultados não mostrados), o que pode suportar a ideia de que a inibição da

atividade hemorrágica tenha sido importante para a redução do dano muscular.

Em conjunto, os resultados obtidos demonstram a potencialidade do decocto das folhas

de J. gossypiifolia no tratamento dos efeitos locais produzidos pelo envenenamento botrópico,

que por sua vez é muito pouco inibido pela soroterapia convencional. Em relação à SAV, o

uso de produtos derivados de J. gossypiifolia, assim como qualquer outro produto natural,

poderia trazer como vantagens o baixo custo, fácil acesso e estabilidade a temperatura

ambiente (GOMES et al., 2010; SANTHOSH et al., 2013).

O mecanismo pelo qual constituintes de plantas medicinais neutralizam efeitos tóxicos

dos venenos ofídicos ainda não é elucidado totalmente, sendo propostas algumas hipóteses,

tais como precipitação de proteínas, degradação proteolítica, inativação enzimática, quelação

de metais, ação antioxidante ou a combinação destes mecanismos (GOMES et al., 2010).

Também é discutido na literatura que muitas plantas não neutralizam por si próprias os

venenos, mas podem ser utilizadas para tratar picadas de serpentes uma vez que podem aliviar

alguns dos sintomas do envenenamento, especialmente os efeitos locais, sendo relatado que a

presença de atividade tranquilizante, imunoestimulante e/ou anti-inflamatória em

determinadas plantas medicinais pode ser de grande valor no alívio de sintomas do

envenenamento ofídico (HOUGHTON; OSIBOGUN, 1993).

Visando compreender e propor possíveis mecanismos de ação para a atividade

antiofídica apresentada pelo decocto das folhas de J. gossypiifolia, alguns experimentos foram

realizados para estudar sua possível ação proteolítica, quelante e antioxidante.

Na avaliação da atividade proteolítica do decocto das folhas de J. gossypiifolia sobre as

proteínas do veneno de B. jararaca, como pode ser visualizado na Figura 25, não houve

alteração no perfil eletroforético do veneno após pré-incubação com o extrato, mesmo nas

maiores concentrações testadas. Por outro lado, pôde ser observado que ao se aumentar a

concentração de extrato utilizada, houve um desaparecimento gradual das bandas do veneno,

chegando ao ponto de na maior proporção veneno: extrato (1:100, p/p), praticamente não se

observarem as bandas proteicas, o que pode sugerir que o extrato contenha componentes que

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7 Discussão 110

Juliana Félix da Silva

estejam precipitando proteínas. De fato, manchas sugestivas da presença de taninos foram

identificadas por CCD e esses compostos são amplamente conhecidos como agentes

precipitantes de proteínas (MONTEIRO et al., 2005). Portanto, para confirmar a hipótese de

que o extrato apresenta atividade precipitante de proteínas, o método de Bradford foi utilizado

para quantificar a porcentagem de precipitação de diferentes concentrações do extrato. Como

pode ser visto na Tabela 4, o decocto das folhas de J. gossypiifolia foi capaz de precipitar

tanto a albumina quanto as proteínas do veneno de B. jararaca, em todas as concentrações

testadas. O percentual de precipitação chegou a próximo dos 100 % sobre o veneno. O

resultado obtido pode explicar, pelo menos parcialmente, os efeitos inibitórios apresentados

pelo decocto das folhas de J. gossypiifolia.

Outra atividade que foi investigada para o decocto das folhas de J. gossypiifolia foi seu

potencial antioxidante. O acidente ofídico, conforme já discutido anteriormente, causa intensa

inflamação e dano local tecidual, induzindo macrófagos e neutrófilos a gerarem espécies

reativas do oxigênio, como por exemplo, radicais superóxido, que agem formando peróxidos

lipídicos que causam necrose (SHENOY et al., 2013). Dessa forma, é postulado que a

inibição da peroxidação lipídica pode ser benéfica contra os efeitos produzidos pelo

envenenamento ofídico e que o processo antioxidante pode ser um importante mecanismo

pelo qual moléculas antiofídicas venham exercer o seu papel (CHATTERJEE;

CHAKRAVARTY; GOMES, 2006; SHENOY et al., 2013). De fato, estudos experimentais

mostram que os níveis da enzima antioxidante catalase em tecido de rim de camundongos são

significativamente diminuídos 24 h após injeção intraperitoneal do veneno da serpente

Doboia russelii (“víbora”) e que o tratamento com o extrato etanólico das frutas da espécie

vegetal Piper longum L., que apresenta conhecida antioxidante in vitro, foi capaz de restaurar

e inclusive aumentar os níveis da catalase (SHENOY et al., 2013).

No presente trabalho, como pode ser observado nas Figuras 27, 28 e 29, o decocto das

folhas de J. gossypiifolia apresentou significativa atividade antioxidante, em todos os modelos

in vitro testados. O extrato foi capaz de quelar os íons metálicos cobre e ferro, bem como de

sequestrar os radicais livres hidroxila e superóxido. Dessa forma, uma hipótese que pode ser

levantada é a de que a atividade antiofídica apresentada pelo extrato possa ser, pelo menos em

parte, relacionada com sua habilidade de inibir a formação de radicais livres (como os radicais

hidroxila e superóxido) e consequentemente inibir indiretamente o processo de necrose.

Observações semelhantes foram realizadas por outros autores ao avaliarem a atividade

antiofídica e antioxidante do extrato metanólico dos bulbos da espécie vegetal Crinum jagus

(ODE; NWAEHUJOR; ONAKPA, 2010).

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7 Discussão 111

Juliana Félix da Silva

Outro resultado interessante que foi observado a partir dos testes de atividade

antioxidante foi a capacidade do decocto das folhas de J. gossypiifolia em quelar metais. Essa

é uma atividade relevante do ponto de vista da atividade antiofídica uma vez que muitas

toxinas ofídicas apresentam como cofatores essenciais para sua atividade enzimática íons

metálicos, como é o caso das SVMPs, que necessitam de zinco (TANIZAKI et al., 1989).

Agentes quelantes de metais como EDTA ou o-fenantrolina inibem a ação dessas toxinas

(RAMOS; SELISTRE-DE-ARAUJO, 2006). Dessa forma, uma hipótese que pode ser

levantada é a de que um possível mecanismo de ação do extrato seja através da sua

capacidade de quelar metais e assim inibir a atividade enzimática de toxinas dependentes de

metais como as SVMPs. De fato, um estudo recente mostrou que o ácido glicólico, um

potente agente antioxidante e quelante de metais, apresentou significativa atividade

antiofídica ao inibir os efeitos enzimáticos e biológicos da SVMP BaP1, uma metaloprotease

isolada do veneno da serpente Bothrops asper (PEREAÑEZ et al., 2013). Esses autores

discutem que, de forma geral, moléculas quelantes de metais e inibidores de SVMPs podem

ser importantes candidatas a fármacos antiofídicos (PEREAÑEZ et al., 2013).

Visando a identificação preliminar dos compostos do decocto das folhas de J.

gossypiifolia responsáveis pela sua ação inibitória, estudos pilotos com as frações CH2Cl2,

AcOEt, BuOH e AR, obtidas por meio de partição líquido-líquido, foram realizados.

Utilizando o teste de inibição da atividade fibrinogenolítica (Figura 30) e o teste de TTPa

(Figura 31), observou-se que a fração AR se mostrou como a mais ativa. A fração BuOH foi a

segunda mais ativa, nos dois testes. Por esse motivo, essas duas frações foram investigadas in

vivo no modelo de incoagulabilidade sanguínea induzida pelo veneno de B. jararaca. No

entanto, o que se observou foi que ambas as frações não foram capazes de inibir a atividade

defibrinogenante do veneno de B. jararaca. Uma possível justificativa para tal

comportamento seria a de que in vivo o metabolismo do animal de alguma forma possa alterar

a composição química das frações tornando-as inativas ou menos ativas, o que poderia

justificar o fato de essas frações apresentarem efeito in vitro e não apresentarem in vivo. Outra

hipótese, talvez a mais plausível, seria a de que como os testes in vitro são bastante pontuais,

ao avaliarem apenas uma ação muito específica do veneno, não propiciem uma visão geral do

quadro de incoagulabilidade, que é um processo extremamente complexo e que compreende a

ação conjunta de diversos mecanismos para a produção do efeito final. Por esse motivo, ao se

avaliar a atividade antiodífica, se faz necessário realizar também o teste in vivo de

incoagulabilidade sanguínea, pois in vitro, o que se obtem é a dissociação de todos os fatores

que produzem a incoagulabilidade, enquanto que in vivo, tem-se a resposta final obtida pela

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7 Discussão 112

Juliana Félix da Silva

associação de todos esses mecanismos. Além dessa complexidade de efeitos produzidos pelo

envenenamento, também é importante ressaltar que uma das vantagens do uso de plantas

medicinais, que é uma mistura extremamente complexa, é justamente a possibilidade de ter-se

a ação sinérgica de vários compostos, agindo em diferentes alvos podendo inibir um amplo

espectro de toxinas (GOMES et al., 2010; SANTHOSH et al., 2013). Segundo a literatura,

inclusive, em alguns casos o extrato bruto é mais ativo do que os constituintes individuais

(GOMES et al., 2010). No entanto, é importante ressaltar que o resultado com frações aqui

apresentados são apenas preliminares e estudos futuros ainda são necessários, incluindo testar

as demais frações nos demais modelos in vitro e in vivo, para assim ser possível obter

conclusões mais exatas acerca desse possível sinergismo de compostos no extrato bruto.

Em suma, os resultados até agora obtidos demonstram a potencialidade do decocto das

folhas de J. gossypiifolia como agente antiofídico, com capacidade de inibição dos efeitos

hemostáticos e inflamatórios produzidos pelo veneno de B. jararaca, podendo servir

futuramente como uma nova fonte de moléculas bioativas contra as toxinas de venenos

botrópicos. Além disso, o estudo demonstra experimentalmente a validade do uso popular da

espécie como antídoto para picada de serpentes.

Como perspectiva futura para o presente estudo, se entende como necessário uma

melhor investigação da composição química do extrato bruto e frações por meio de técnicas

mais sensíveis e modernas de espectroscopia e cromatografia, para a caracterização do perfil

químico do extrato, bem como a obtenção de marcadores químicos para o controle de

qualidade e padronização dos derivados vegetais obtidos a partir da espécie. Também se faz

necessário dar prosseguimento ao estudo de fracionamento biomonitorado para o

reconhecimento de quais seriam os compostos ou grupos de compostos realmente necessários

para a atividade biológica apresentada pelo extrato bruto. Estudos com outros venenos

ofídicos de importância médica (Bothrops erythromelas e Crotalus durissus cascavella, por

exemplo) também são importantes para poder-se extrapolar os resultados aqui obtidos com o

veneno de B. jararaca para outras serpentes e assim comprovar o potencial terapêutico da

espécie. Adicionalmente, outra abordagem que pode ser seguida é o estudo de outras espécies

do gênero Jatropha, uma vez que o uso popular como antiofídico é associado, em geral, a

várias espécies do gênero.

Em conclusão, no presente estudo demonstrou-se a capacidade do decocto das folhas de

J. gossypiifolia em inibir os efeitos enzimáticos e biológicos produzidos pelo veneno da

serpente Bothrops jararaca, sobretudo, sua potencialidade no tratamento dos efeitos locais.

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8 Conclusões 113

Juliana Félix da Silva

88 CCOONNCCLLUUSSÕÕEESS

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8 Conclusões 114

Juliana Félix da Silva

88 CCOONNCCLLUUSSÕÕEESS

A análise fitoquímica do decocto das folhas de J. gossypiifolia revelou a presença de

açúcares, alcaloides, compostos fenólicos, proteínas e terpenos e/ou esteroides. Através da

análise por co-CCD, foi observada a presença dos flavonóides iso-orientina, isovitexina,

luteolina, orientina e vitexina no decocto das folhas de J. gossypiifolia;

O decocto das folhas de J. gossypiifolia não apresentou atividade hemolítica nem

atividade citotóxica frente células HEK-293, podendo indicar uma possível baixa toxicidade

do extrato estudado;

O decocto das folhas de J. gossypiifolia foi capaz de inibir completamente a

atividade azocaseinolítica induzida pelo veneno de B. jararaca, o que indica ação inibitória

frente SVMPs e/ou SVSPs;

O decocto das folhas de J. gossypiifolia foi capaz de inibir a atividade

fibrinogenolítica induzida pelo venenos B. jararaca. Por meio de zimografia, foi possível

verificar que o extrato inibe enzimas fibrinogenolíticas de aproximadamente 26 e 28 kDa e,

apenas parcialmente, enzimas de aproximadamente 34 kDa;

O decocto das folhas de J. gossypiifolia foi capaz de inibir a atividade coagulante

sobre o fibrinogênio e sobre o plasma induzida pelo veneno de B. jararaca, o que sugere uma

ação inibitória do extrato frente a SVTLEs e toxinas ativadoras de fatores da coagulação;

Além de inibir as SVTLEs de B. jararaca, o decocto das folhas de J. gossypiifolia

também parece inibir a trombina endógena, uma vez que o extrato apresentou atividade

anticoagulante in vitro, aumentando o TTPa;

O decocto das folhas de J. gossypiifolia foi capaz de inibir a atividade

defibrinogenante in vivo do veneno de B. jararaca, corroborando com os resultados obtidos in

vitro e indicando seu potencial no tratamento da incoagulabilidade sanguínea induzida pelo

envenenamento botrópico;

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8 Conclusões 115

Juliana Félix da Silva

O decocto das folhas de J. gossypiifolia foi capaz de inibir a atividade hemorrágica in

vivo do veneno de B. jararaca, o que sugere uma ação inibitória do extrato frente SVMPs;

O decocto das folhas de J. gossypiifolia não foi capaz de inibir a atividade

fosfolipase do veneno de B. jararaca, o que indica que o extrato não exerce efeito sobre, pelo

menos, PLA2 Asp49;

O decocto das folhas de J. gossypiifolia foi capaz de inibir a atividade edematogênica

in vivo do veneno de B. jararaca, o que pode sugerir uma ação inibitória do extrato frente

PLA2 Lys49 e/ou SVMPs, ou mesmo uma ação inibitória contra os mediadores inflamatórios

endógenos produzidos pela ação das toxinas do veneno (ação anti-inflamatória);

O decocto das folhas de J. gossypiifolia foi capaz de inibir a atividade miotóxica in

vivo do veneno de B. jararaca, o que pode sugerir uma ação inibitória do extrato frente PLA2

Lys49 e/ou SVMPs;

O decocto das folhas de J. gossypiifolia não apresenta atividade proteolítica sobre as

proteínas do veneno de B. jararaca nem sobre albumina. Por outro lado, o extrato foi capaz de

precipitar quase que completamente as proteínas do veneno ou a albumina;

O decocto das folhas de J. gossypiifolia apresentou significativa atividade

antioxidante em diferentes modelos, o que pode justificar ao menos parcialmente a atividade

antiofídica apresentada. A atividade quelante de metais apresentada pelo extrato pode ser

correlacionada à inibição de SVMPs, uma vez que estas são enzimas dependentes de metais;

Em conclusão, no presente estudo demonstrou-se a capacidade do decocto das folhas

de J. gossypiifolia em inibir os efeitos enzimáticos e biológicos produzidos pelo veneno da

serpente Bothrops jararaca, sobretudo, sua potencialidade no tratamento dos efeitos locais. A

continuidade do estudo é necessária para melhor entender a constituição fitoquímica do

decocto das folhas de J. gossypiifolia, bem como verificar quais são os compostos bioativos

responsáveis pela atividade antiofídica apresentada e assim partir para a próxima etapa que

seria o isolamento e caracterização dos compostos bioativos.

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Referências 116

Juliana Félix da Silva

RREEFFEERRÊÊNNCCIIAASS

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