JUNHO 2018 · 2020. 12. 10. · SELEÇÕES | VOCÊ MELHOR. O MUNDO MELHOR | vergonha! JUNHO 2018...

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JUNHO 2018 Junho 2018 • R$ 13,90 selecoes.com.br 771516 703006 9 01806 > ISSN 1516-7038 Ai, que vergonha! NA CAVERNA SUBAQUÁTICA, ELES PRECISAVAM DE ALGUNS MILAGRES PÁGINA 44 VIDA NOVA PARA OS SEUS JOELHOS PÁGINA 36 O QUE NÃO FAZER EM UM DESASTRE PÁGINA 58 “SOBREVIVI A UM AVC” PÁGINA 104 COMO VIVER FELIZES PARA SEMPRE PÁGINA 90 Você tem um problema de saúde que o deixa constrangido? Nós podemos ajudar. PÁGINA 72

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    Ai, quevergonha!

    NA CAVERNA SUBAQUÁTICA, ELES PRECISAVAM DE ALGUNS MILAGRESPÁGINA 44

    VIDA NOVA PARA OS SEUS JOELHOSPÁGINA 36

    O QUE NÃO FAZER EM UM DESASTREPÁGINA 58

    “SOBREVIVI A UM AVC”PÁGINA 104

    COMO VIVER FELIZES PARA SEMPRE PÁGINA 90

    Você tem um problema de saúde que o deixa constrangido? Nós podemos ajudar.PÁGINA 72

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  • Há pouco tempo, os brasileiros

    conviviam com números ruins na

    economia e nas suas vidas. Mas o Brasil

    agora está em nossas mãos. A inflação

    caiu, os juros despencaram, a produção

    aumentou e o país está crescendo.

    Porque cada brasileiro está

    no centro das nossas atenções.

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  • Há pouco tempo, os brasileiros

    conviviam com números ruins na

    economia e nas suas vidas. Mas o Brasil

    agora está em nossas mãos. A inflação

    caiu, os juros despencaram, a produção

    aumentou e o país está crescendo.

    Porque cada brasileiro está

    no centro das nossas atenções.

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  • SumárioJUNHO 2018

    ARTIGOS

    36 NOVOS PASSOS PARA JOELHOS VELHOSAs técnicas cirúrgicas melhoraram e as pesquisas seguem promissoras.

    44 SALVOS POR MILAGRESEles queriam ser os primeiros a ver as cavernas subaquáticas, mas corriam o risco de aquele ser o seu último mergulho.

    54 INTELIGENTE DEMAIS PARA MEU PRÓPRIO BEM Os prós e contras da genialidade, de acordo com o segundo maior Q.I. do mundo.

    58 O QUE NÃO FAZER EM UM DESASTREEsqueça o heroísmo. O que importa é evitar erros.

    64 AUTOAJUDA NA PRÁTICAQuando a medicina não pode ajudar, entram em ação os pacientes e cuidadores com espírito inovador.

    72 AI, QUE VERGONHA!Você tem um problema de saúde sobre o qual não consegue falar? Temos algumas soluções.

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  • 78 CENAS DE BALCÃOAs sacadas ou balcões foram eternizados não só pelos protagonistas da maior história de amor.

    90 ATÉ QUE A MORTE NOS SEPAREQual o segredo para um casamento feliz?

    96 FELICIDADE SEM PALAVRASVocê pode viajar pelo Japão sem falar japonês?

    LIVRO DO MÊS

    104 SOBREVIVI A UM AVCCom coragem e persistência, ele conseguiu vencer um a um os obstáculos.

    Aprovado pelos leitores em pesquisa prévia à publicação.

    DEPARTAMENTOS

    Saúde 12 Cuidado com estes 4

    promotores de rugas 13 Doeu? Tente isto

    16 Relato de caso

    18 Com verrugas e tudo 20 Notícias do mundo

    da medicina

    Viagem 22 Durma melhor no hotel

    Teste 85 O que você sabe sobre

    Copas do Mundo?

    Você sabia? 121 13 benefícios incríveis

    que a música traz

    Desafio Seleções 124 Tente resolver os

    quebra-cabeças

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    TODOS OS MESES

    6 Frente e verso 10 Interaja 21 Pontos a ponderar 25 Papo de livro 27 Minha vida 28 Boas-novas 30 Essas crianças... 32 Complete a frase 34 Flagrantes da vida real 52 Ossos do ofício 84 Entre aspas 89 Piadas de caserna 119 Enriqueça seu vocabulário 126 Rir é o melhor remédio 128 Sorriso final

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  • Editora-executiva Raquel Zampil

    Editora de Arte Tanara Vieira

    Estagiários Douglas Ferreira e Iana Faini

    Gerente de Assinaturas e Circulação Avulsa Nicole Ingouville

    Gerente de Negócios Rodrigo Alvim

    Coordenadora do Serviço ao Cliente Keith Ferreira

    Diretor-executivo Luis Henrique Fichman

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    você deve ligar para XX 21 4004-2124)

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    Editor-chefe, Edições Internacionais Raimo Moysa

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  • FOTOS: © PICTURE ALLIANCE/KYODO

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  • FRENTEVire a página

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  • Entre 600 e 1000 da Era Cristã, foram criadas as Grutas de Ellora – uma coleção de 2 km de extensão de obras arquitetônicas únicas. A mais impressionante dessas 34 estruturas espetaculares é conhecida como Kailasa (foto). É impressionante não só por ser o maior templo de pedra da Índia, como também porque, em sua construção, incríveis 200 mil toneladas foram retiradas de um único bloco de rocha – com simples martelos e talhadeiras.

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  • InterajaCARTAS DOS LEITORES

    Esta edição de junho de Seleções é dedicada aos leitores Nelci Ribeiro, Mineiros (GO); Ivelise Poletti, São Paulo (SP);

    e Fátima Aparecida Pereira, Vitória (ES).

    Entre em contato conosco por e-mail: [email protected]; por carta: Revista Seleções – Caixa Postal 13.525 – CEP 20217-970 – Rio de Janeiro, RJ

    Inclua nome completo, endereço, CPF e telefone. Cartas e e-mails podem ser editados por motivo de concisão e usados em mídia impressa e eletrônica.

    NÓS QUEREMOS OUVIR VOCÊ

    PARA SE PREVENIR CONTRA A DOR NOS PÉSEu já senti muita dor nos pés por conta da escolha errada de calçado, e sei como é horrível passar por isso. A matéria pu-

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    Q UANDO CONTO A MEUS FILHOS uma história sobre minha mãe, como o hábito de ela dividir seus coquetéis com nosso golden retriever, ou a vez em que tentou comer uma torta de abóbora inteira que deixei cair, ou quando acordei no meio da noite e a peguei completamente nua entregando a moe-dinha da fada dos dentes, as crianças sempre me fazem a mesma pergunta: de qual mãe você está falando, pai?É uma pergunta justa. Afinal de contas, tive cinco mães.

    MÃES POR MARC PEYSER

    Um tributo às cinco mulheres que me criaram

    COMOTIVE

    CINCO

    AMOR DE MÃE EM ABUNDÂNCIAAchei muito tocante o relato da matéria “Como tive cinco mães” (maio). Ele prova que o amor entre mãe e filho vai muito além de uma questão biológica.

    RENATA DAMASCENO, Ma n au s ( A M )

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    blicada na seção de Saúde da revista de maio (“Entenda a dor nos pés”) é fantástica. Acredito que todos deveriam ler.

    VALÉRIA SILVEIRA,

    R i o d e Ja n e i r o ( R J )

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    cando envelheci-mento precoce.

    Procure produtos para a pele ricos em antioxidantes e, à noite, use um creme ou leite de limpeza suave para remover os resíduos externos.

    4O CELULARUm estudo de 2008 in-dica que a luz visível com mais ener-gia (a luz azul) emitida por lâmpadas de LED e fluorescentes, TVs de tela plana e telas de computador, tablet, celular e outros aparelhos eletrôni-cos penetra nas camadas mais pro-fundas da pele. “A consequência pode ser envelhecimento prematuro, rugas, manchas de sol e melasma”, diz o Dr. Jeffrey Fromowitz, dermato-logista de Boca Raton, na Flórida. Além disso, olhar o celular o dia inteiro provoca rugas no pescoço.

    Cuidado com estes 4 promotores de rugas

    1LENTES DE CONTATONão são as lentes de contato por si sós que provocam rugas; o pro-blema é o hábito de er-guer as sobrancelhas para colocá-las. Com o tempo, esse movimento repetitivo faz a pele da testa se enrugar.

    2FALTA DE SONOA pele se recupera naquelas horas em que a gente apaga; privar-se de uma boa noite de sono deixará a pele sem viço. O travesseiro pode provocar rugas, se você dormir de bruços. A posição impede que o fluido seja dre-nado do rosto, o que aumenta o in-chaço em torno dos olhos.

    3POLUIÇÃO DO ARA exposição diária à poluição ur-bana, à fumaça de cigarro e aos gases poluentes dos automóveis danifica a camada mais externa da pele, provo-

    POR LINDSAY COHN E JORDI LIPPE-MC GRAW

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  • Topada com o dedãoEXPERIMENTE: XINGAR As topadas com o dedão doem mais do que outros pequenos ferimentos. Para nossa segurança, o cérebro prioriza os sinais de dor nos pés, explica o Dr. Joshua T. Goldman, professor de Medicina Desportiva do campus de Los Angeles da Universidade da Califórnia. Soltar um bom palavrão pode reduzir a dor, constatou uma pesquisa do Reino Unido. Acredita--se que praguejar libera analgésicos naturais no cérebro.

    Boca queimada por comidaEXPERIMENTE: TOMAR LEITE FRIO O queijo derretido da pi-zza ou o recheio do pastel pode provocar queimaduras e bo-lhas. Tome leite frio para aliviar a dor, sugere a dentista Kim Harms, porta-voz da Associa-ção Dental Americana. A gor-dura do leite recobre a área

    queimada e cria uma bar-reira calmante que alivia bem mais do que a água fria.

    Doeu? Tente istoCorte de papel entre dedosEXPERIMENTE: GRUDAR OS DEDOS Cortes feitos por folhas de papel saram mais depressa e com menos risco de infecção (as mãos têm ger-mes!) se ficarem cobertos. “Mas cura-tivos entre os dedos são complicados, com todos os movimentos da pele”, diz o Dr. Matthew Fink, professor de Neurologia Clínica do Weill Cornell Medical College, em Nova York. Solução: Junte dois dedos com espa-radrapo leve, que fixa sem apertar, até o corte sarar.

    Dor causada por geladosEXPERIMENTE: DERRETER NA FRENTE DA BOCA Aquela súbita agonia depois de um gole de milk-shake é um tipo de enxaqueca provocado quando coisas quentes ou frias demais estimulam o nervo vago na parte posterior da boca, explica o Dr. Fink. Ele recomenda dar go-les pequenos e deixar o sorvete derreter na frente da boca antes de engolir.

    POR SUNNY SEA GOLD

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    PACIENTE: Gustav*, 63 anos, violinista de Hamburgo, na AlemanhaSINTOMAS: Fadiga e icteríciaMÉDICO: Dr. Timur Liwinski, clínico do Centro Médico Universitário Hamburg-Eppendorf

    EM MARÇO DE 2015, numa noite de sexta-feira, Gustav se prepa-rava para subir ao palco com a or-questra numa sala de concertos de Hamburgo quando, ao passar por um espelho, notou que sua pele estava meio amarelada. Ele vinha se sen-tindo um tanto cansado e imaginou que estava ficando resfriado. Mas uma semana depois tanto a pele quanto as escleras (branco do olho) tinham um tom amarelo bem definido. Gustav percebeu que estava com icterícia e foi a um ambulatório próximo.

    As enzimas hepáticas de Gustav estavam elevadas, e o exame de hepa-tite E – doença do fígado geralmente causada por beber água não potável ou comer carne de porco malcozida – veio positivo.

    Três semanas depois a pele de Gustav voltou ao normal, embora ele continuasse a sentir cansaço. Então, em janeiro do ano seguinte, a icterí-cia retornou. O médico da família constatou que as enzimas hepáticas estavam um pouco elevadas, mas novamente o problema sumiu em poucas semanas.

    Gustav, porém, continuava sem energia e, no fim do primeiro semestre, começou a sentir um leve desconforto abdominal. Em setembro, a pele ama-relou outra vez. Ele foi ao pronto-so-corro do Centro Médico Universitário Hamburg-Eppendorf, onde os exames de sangue revelaram um aumento das

    Relatode casoPOR SYDNEY LONEY

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    enzimas hepáticas e elevação dos indi-cadores de inflamação. Gustav foi en-caminhado ao Dr. Timur Liwinski, da Clínica YAEL de Doenças Hepáticas Autoimunes, no hospital. “O nível ele-vado de enzimas hepáticas sempre exige mais exames, pois quase sempre indica uma doença no fígado”, diz o Dr. Liwinski, acrescentando que os problemas hepá-ticos podem ter conse-quências graves se não forem tratados.

    Nesse caso, o médico desconfiou de hepatite autoimune, doença rara em que o sistema imunológico ataca o fí-gado. Ele fez uma bióp-sia do órgão e confirmou o diagnóstico. “Apesar de a hepatite au-toimune ser considerada uma doença rara na população em geral, sua ocor-rência parece estar aumentando, principalmente na sociedade ociden-tal”, diz o Dr. Liwinski. No entanto, ainda não se sabia a razão.

    A doença aparece mais em mulhe-res, mas não se limita a nenhuma faixa etária ou demográfica. Acredi-ta-se que seja causada por uma com-binação de genética e meio ambiente, com muitas semelhanças com a hepatite E. Alguns indícios mostram que a predisposição à doença pode ser hereditária.

    O Dr. Liwinski explica que o diag-

    nóstico é difícil porque a doença não tem um marcador único e específico. E muitos pacientes não apresentam sin-tomas nos estágios iniciais. A icterícia e a fadiga são os mais comuns, embora algumas pessoas tenham dores abdo-minais e articulares, além de urticária.

    Um indício da hepatite autoimune é que a pessoa parece se recuperar, mas os sintomas retornam de repente. Outro sinal é a elevação e a queda súbitas das enzimas hepáticas. “Sem trata-mento, é comum ela progredir para cirrose e, em meses, para a doença hepática ter-

    minal. Mas, se for tratada adequada-mente, os pacientes têm bom prognóstico”, afirma o Dr. Liwinski.

    Felizmente, Gustav caiu na se-gunda categoria. O médico o tratou com o imunossupressor azatioprina e uma dose elevada de esteroides. Em poucos dias, Gustav teve uma queda drástica das enzimas hepáticas e dos marcadores de inflamação. A pele também voltou à cor normal. Infeliz-mente, a hepatite autoimune é uma doença vitalícia. Gustav continuará a tomar imunossupressores e talvez precise de novas doses de corticoste-roides se a doença reaparecer.

    No momento, ele se sente bem e voltou aos palcos com seu violino.

    A hepatite autoimune vem

    crescendo na sociedade ocidental,

    mas ninguém sabe por quê.

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    Como se livrar dessas feias excrescências da pele

    Com verrugas e tudoPOR SAMANTHA RIDEOUT

    mas apressa o processo erodindo a verruga aos pouquinhos.

    Outra opção é ir ao dermatologista, que pode empregar métodos de re-moção mais agressivos: congelar a verruga com nitrogênio líquido, quei-má-la com uma descarga elétrica ou extraí-la com ferramentas cirúrgicas.

    As verrugas mais obstinadas talvez reajam à imunoterapia, que dá à de-fesa natural do corpo o estímulo ne-cessário para suprimir o vírus. Por exemplo, uma substância como a di-fenciprona pode ser aplicada na área afetada para provocar uma leve rea-ção e ativar o sistema imunológico.

    Até a remoção completa, é melhor

    CAUSADAS PELO papilomavírus humano (HPV) e transmitidas pelo to-que ou por superfícies contaminadas, as verrugas são tão comuns que é quase certo que você terá alguma no decorrer da vida. Essas pequenas ex-crescências ásperas, que podem apa-recer em qualquer lugar do corpo, costumam afetar as mãos, os pés e a genitália. Em geral são inofensivas, mas podem incomodar e envergonhar.

    O que mais irrita nas verrugas é que podem levar meses e até anos para sumir por conta própria – e algu-mas nunca somem. Mas pode-se ex-perimentar o ácido salicílico. Não resolve a questão da noite para o dia,

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    ou se mudar de cor ou aparência, é bom confirmar que não se trata de câncer de pele.

    Caso se trate mesmo de uma ver-ruga, então é “só um incômodo cos-

    mético”, diz o Dr. Colm O’Mahony, da Academia Europeia de Dermatolo-gia e Venereologia. “Em casos raríssimos, uma verruga genital pode fi-car imensa [muitos cen-tímetros de largura] e se tornar cancerosa.”

    Sinta-se à vontade para tratar suas lesões

    se elas incomodam você; caso contrário, continue a levar a vida, com verrugas e tudo.

    praticar a “etiqueta das verrugas” para não transmitir a infecção. As verrugas plantares, que afetam a sola dos pés, são causadas por cepas de vírus que proliferam em ambientes úmidos; portanto, calce chinelos de borracha ou cubra as verrugas com esparadrapo à prova d’água em vestiários e piscinas públicas, além do chuveiro.

    Não compartilhe itens de uso pessoal – meias, toalhas – que entrem em contato com as verrugas. E não as cutuque, para não propagar os vírus. Consulte o médico se a ver-ruga for dolorosa. Se costuma sangrar

    Pelo menos

    65% das verrugas desapa-recem em dois anos

    sem intervenção.

    TESTE SEU Q.I. MÉDICO

    Erupção polimorfa solar é…

    A. vermelhidão da pele provocada pela luz do sol.

    B. quando a medicação para acne faz o efeito contrário e piora o surto.

    C. gases causados por comer muito depressa.

    D. crise de asma causada por detritos vulcânicos no ar.

    Resposta: A. Erupção polimorfa solar é um tipo de urticária provocada pelo sol, com manchas ou protuberâncias. (É uma reação do sistema imunológico, não uma queimadura de sol.) É mais provável acontecer após uma exposição considerável depois de um longo período sem tomar sol e, normalmente, some em 15 dias. Até então, evite o sol, cubra-se com roupas ou use filtro solar de fator de proteção elevado.

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    NOTÍCIAS DO

    Mundo da medicinaPOR SAMANTHA RIDEOUT

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    Um emagrece, o outro idemFazer um esforço para chegar a um peso saudável também pode beneficiar sua cara-metade, como indica um es-tudo americano recente que acompa-nhou 130 casais durante seis meses. Uma pessoa de cada casal tentou ativa-mente emagrecer. Os cônjuges não fi-zeram nenhum esforço intencional, mas mesmo assim apresentaram pro-babilidade de 1 em 3 de perder 3% ou mais da massa corporal – uma mu-dança modesta, mas significativa. O principal autor do artigo diz que é um “efeito cascata de emagrecimento” e explica que tendemos a adquirir os hábitos de vida do cônjuge.

    Leites vegetais não são iguaisO leite de vaca é nutritivo para os que conseguem digeri-lo direito, mas cerca de 65% dos adultos do mundo não conseguem. Entram em cena os leites vegetais, cada variedade com seus prós e contras. Cientistas da Universidade McGill, em Montreal, no Canadá, compararam as ver-

    sões não adoçadas de leites de soja, amêndoa, coco e arroz e concluíram que o leite de soja tem o valor nutritivo mais alto. Além da mistura equilibrada dos três macronutrientes – carboidra-tos, proteínas e gorduras –, a soja con-tém isoflavonas, que ajudam a prevenir cânceres de base hormonal por se liga-rem aos receptores de estrogênio.

    Ervas medicinais e remédiosSó porque um produto é “natural” não quer dizer que seja seguro, foi o que constatou uma revisão publicada em janeiro na revista British Journal of Cli-nical Pharmacology. Os pesquisadores estudaram a literatura médica produ-zida a partir de 2001 e encontraram 44 incidentes de interações prejudi-ciais entre medicamentos e ervas,

    resultando em problemas como hemorragias e lesões no fí-

    gado e no rim. Um homem se afogou porque um suplemento de ginkgo inibiu seu anticonvulsi-

    vante. É importante con-tar ao médico tudo que

    você estiver tomando.

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    Pontos a ponderar©

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    SE VOCÊ SENTE que a vida está passando por você... tente se lançar nas pequenas coisas e repetir: é aqui que começo.

    ROB BELL, e x-p a s t o r, no livro How to Be Here

    AS PESSOAS ME perguntam se o que sei sobre o amor o estragou para mim. De jeito nenhum. É possível conhecer todos os ingredientes de um bolo de chocolate, mas sentar-se, comer o bolo e sentir a alegria.

    HELEN FISHER, a n t r o p ó l o g a b i o l ó g i c a e au t o ra d e W hy We

    L o v e ( P o r q u e a m a m o s ) , em theguardian.com

    ADORO ENVIAR cartas manuscritas, com selo do correio. Sem dobras per-feitas, porque aí poderia vir de um centro de postagem. A gente dobra uma vez... e enfia no envelope. Pronto. Agora é óbvio que foi um ser humano que enviou.

    STEVE SIMS, e s c r i t o r, no livro Bluefishing

    SE ALGO estiver acontecendo em sua vida, impondo-lhe dificuldades, aproveite. Você está crescendo.

    NICK FOLES, j o g a d o r d e f u t e b o l a m e r i c a n o, numa entrevista

    coletiva durante o Super Bowl

    Vejo o medo como uma criaturinha que mora em minha vida o tempo todo e a quem posso dar atenção e não conseguir nada ou ignorar e continuar

    avançando.REESE WITHERSPOON, at r i z ,

    na revista Marie Claire

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    É difícil se divertir ou ser produtivo quando se está exausto. Estas

    dicas ajudam a adormecer num lugar

    desconhecido.

    Durma melhor

    no hotel

    1 RESERVE O QUARTO CERTO Escolha um quarto num andar alto e no meio do corredor, se possível. É a melhor probabilidade de ficar longe de áreas barulhentas, como saídas, ele-vadores e máquinas de venda, explica Richard Shane, especialista comporta-mental em sono da clínica New West Physicians, no Colorado, EUA.

    2 ESCUREÇA-OPeça um quarto com cortinas corta luz. “Elas existem na maioria dos hotéis, mas podem estar em alguns quartos e não em outros”, diz Shane. Dito isso, em geral não é possível fe-char totalmente as cortinas, por mais que você tente, diz a administradora Debra Kissen, diretora clínica do Cen-tro de Tratamento Light on Anxiety, em Chicago. Seu conselho: “Leve uma máscara de dormir, caso precise.”

    3 EVITE COCHILOSInfelizmente, o cochilo pode provocar uma noite insone. “Nosso cérebro acumula a vontade de dor-mir”, diz Kissen. “Se você cochilar, a vontade vai diminuir.”

    4 DE BARRIGA CHEIA NÃOJante pelo menos duas horas antes de se deitar, para o corpo fazer a digestão. “Ao ir para a cama de barriga cheia, o sistema digestório se mantém em ação enquanto você tenta reduzir a atividade do resto do corpo”, diz Shane.

    POR MARISSA LALIBERTE

    VIAGEM

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    5 CALMA COM A BEBIDA Não é preciso ser abstêmio nas férias, mas é bom saber que o excesso de álcool pode atrapalhar o sono. O ál-cool aumenta a produção de adeno-sina, substância que normalmente ajuda a induzir o sono, de acordo com a Fundação Nacional do Sono dos EUA. Mas, liberada rapidamente depois do consumo de álcool, a substância logo se dissipa, e você pode acordar.

    6 ESTABILIZE SUA PROGRAMAÇÃO Geralmente, a rotina regular é deixada de lado quando viajamos. “Boa parte do sono tem a ver com um bom ritmo, e a graça das férias é serem imprevisíveis”, diz Kissen. Mas tente manter alguma constância na hora de se deitar. Se você for para a cama às 4 da madrugada num dia e às 8 da noite no dia seguinte, o ritmo de seu organismo virará um caos.

    7 LIGUE O AR-CONDICIONADOMantenha o quarto em tem-peratura baixa, entre 18°C e 20°C, recomenda Shane. “Quando dormi-mos, a temperatura do corpo cai”, diz ele. “Assim, quando sua temperatura cai, fica mais fácil dormir.”

    8 BLOQUEIE OS SONS O motor do ar-condicionado ou o vizinho barulhento não o deixa dor-mir? Leve um par de protetores de ou-vido de silicone, diz Shane. “O silicone

    se aquece com o corpo e assume a forma da orelha para se encaixar me-lhor, com alto nível de redução de deci-béis”, diz ele. Se você não gosta dos protetores, baixe algumas trilhas sono-ras de ruído branco em seu celular.

    9 ACALME A RESPIRAÇÃO “A maioria das pessoas, quando pensa em respirar, acha que tem de inspirar profunda e lenta-mente, usando o abdome”, diz Shane. “Isso altera demais a respiração e exige esforço – ou seja, você não dorme.” Em vez disso, ele recomenda acalmar a respiração, o que é mais fácil porque não muda os músculos usados.

    10 RELAXE A LÍNGUA “Quando se fala em relaxa-mento, todos pensam em relaxar o corpo inteiro, e isso é trabalho demais”, continua Shane. “Basta deixar a língua mais relaxada; isso espalhará o relaxa-mento pelo corpo inteiro.”

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  • Você em Seleções

    As crianças são sempre bem mais

    espertas (e divertidas!)

    do que imaginamos.Elas se saem com cada tirada e nos

    deixam nos perguntando como

    foi que pensaram naquilo. Confira

    a história da Giovanna Strovski, de Ponta Grossa (PR),

    e outras engraçadíssimas em

    Essas Crianças, na página 30.

    CONTE UMA HISTÓRIA ENGRAÇADA E GANHE ATÉ R$ 400*

    Sua história verdadeira pode ser publicada em Flagran-tes da vida real (experiências do dia a dia que revelem a natureza humana), Ossos do ofício (humor no trabalho), Piadas de caserna (humor na carreira militar) e Essas crianças... (o mundo do ponto de vista delas). Piadas podem ser publicadas em Rir é o melhor remédio.

    AS REGRASPor favor, inclua nome, endereço e telefone em suas contribuições. Todo material previamente publicado deve conter nome da fonte, data de publicação, nú-mero da página, endereço na Internet ou outra forma de identificação. Se não houver identificação de fonte, consideraremos o item como original, e atribuiremos a garantia e responsabilidade de autor a quem o enviou. Itens originais, se forem escolhidos e pagos, passam a ter todos os direitos de uso revertidos para Seleções. As contribuições poderão ser editadas, e não haverá notificação do seu recebimento ou devolução. Podemos publicar sua contribuição em qualquer departamento da revista ou em qualquer outro produto do Reader’s Digest. Se recebermos mais de uma cópia da mesma contribuição ou contribuições semelhantes, pagaremos apenas para a que for escolhida. O pagamento será feito após a publicação.

    *O critério de atribuição de valor abrange: originalidade e tamanho da contribuição.

    Como enviar sua contribuiçãon E-MAIL [email protected] – SITE selecoes.com.br – TWITTER @revistaselecoes n CORREIO Revista Seleções – Caixa Postal 13.525 – CEP 20210-972 – Rio de Janeiro – RJ

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  • PAPO DE LIVRO

    Geleiras internasPOR CLAUDIA NINA

    CLAUDIA NINA

    é jornalista e escritora, autora, entre outros, de Paisagem de porcelana (Rocco).

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    O QUE FAZ UM CORAÇÃO EMPEDRAR-SE? Que motivos secretos transformam as emoções em geleiras? Há mais mis-térios e sintonia entre o mundo dos sentimentos e as esta-ções do que se pode imaginar. As paisagens de dentro também sofrem com as intempéries – da alma. Existem aqueles que são solares, parecem carregar um pequeno sol por onde caminham. São naturalmente alegres, radiantes. Mas, em contrapartida, quem já não topou com as pessoas que carregam a dor do mundo nos ombros, que são arredias às luminescências de qualquer espécie?

    Antes de culpá-los por não irradiarem a si mesmos, há que sondar os seus profundos subterrâneos. Em algum canto, as geleiras se escondem. É mais ou menos isso que mostra esta singela história chamada Coração de inverno, coração de verão.

    “Mas ninguém desconfiava que, a todo instante, rajadas gélidas e barulhentas atravessavam seu coração indefeso. Lufadas de saudade da voz do pai, sopros de saudade do

    colo da mãe, que o faziam chacoalhar no mais doido silêncio”, diz o texto.

    Quantas emoções não choradas a gente guarda em nossas geleiras?

    Este trabalho, embora aparente-mente voltado para o público infantil, fala muito sobre adultos que preferem entulhar a geladeira de sentimentos não ditos, que vivem anos silenciando coisas guardadas e que não tiveram a sorte do encontro final desta história. Me lembrei de um caso. Era um ho-

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  • S E L E Ç Õ E S

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    mem arredio à própria família que construiu. Os filhos só sabiam para onde iam nos fins de semana – praia ou rua – quando ele saía do quarto depois de se vestir. Se ele estivesse de ber-muda, iam para a praia; se estivesse de calça, fariam alguma coisa pela rua mesmo. A mulher consentia com o pacto do silên-cio porque não havia aprendido a quebrar a geleira. Temia uma avalanche.

    Viviam ao redor do silêncio enregelante do pai. Os filhos passaram a infância e a adolescência em pleno “inverno” permanente até que cada um foi buscar o seu lugar ao sol. A mulher morreu logo depois, não suportou o ninho vazio e gelado.

    Quando alguém sondou os misté-rios daquele homem, encontrou um menino acuado em um canto, silencioso, com uma bola de futebol furada nas mãos. O pai, muito enér-gico, tinha proibido o jogo, que era a maior alegria do garoto com os vizi-

    nhos do bairro. Era de um tempo em que os meninos jogavam na rua, não havia carro suficiente para atrapa-lhar, ainda mais na cidade pequena

    onde moravam. O garoto desobedeceu

    a ordem e continuou jogando, alheio ao grito do pai de “Já para den-tro!”. O castigo foi uma surra. Não propriamente uma surra física, mas uma surra moral. O pai pegou uma faca gigante e retalhou a bola – tinha sido pre-sente de um tio.

    Não houve choro. O que a mãe de pronto estranhou. O menino calou-se para sempre. Nas mais altas montanhas, exilou seu ranger de dentes. E passou a viver um inferno eterno...

    A que estranhos caminhos nos levam uma boa história.

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    KCoração de inverno, coração de verãoLetícia Sardenberg(Z it)

    Quando sondaram os

    mistérios daquele homem,

    encontraram um menino

    acuado.

    SEMPRE…

    …faça, sóbrio, o que, bêbado, disse que faria. Isso o ensinará a

    ficar de boca fechada. ERNEST HEMINGWAY

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  • POR ANNE ROUMANOFF

    ANNE ROUMANOFF é uma famosa humorista francesa e mora em Paris.

    MINHA VIDA

    COPA DO MUNDO. Evento que só acontece de quatro em quatro anos, ainda bem. Durante os jogos da Copa, os homens ficam possessos. Não adianta falar com eles. Só mantenha o abastecimento de comida e bebida.

    Goleiro. Também chamado de “salvador da pátria”. Mas, quando nosso time sofre um gol, vira “frangueiro”.

    Intervalo. Momento que permite aos homens esvaziar a bexiga e voltar a conversar com os entes queridos mais

    próximos. “We Are the Champions”. Música que nós,

    franceses, cantamos em 1998, quando fomos campeões do mundo, e que esperamos com fervor voltar a cantar algum dia.

    Pênalti. Quando um jogador comete falta naquela área grande delimitada, perto do goleiro, o juiz toca o apito. O homem protesta:

    “Você está louco! Isso nunca foi pênalti!” Mas o juiz não escuta.

    Salário de jogadores. Proporcional ao número de pessoas que assistem aos jogos na TV e não

    ao talento do jogador para fazer gols.Camisa do time. Às vezes os homens

    acham necessário usar a camisa do time ou pintar o rosto para dar a seu time o apoio

    adequado.Vitória. Depois que seu país for eliminado,

    entregar o coração a outro time lhe permite manter o interesse na Copa do Mundo e,

    finalmente, poder entoar: “É campeão!”

    Pequeno léxico de futebol

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  • HISTÓRIAS POSITIVAS QUE CHEGAM ATÉ NÓS

    Boas-novas

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    POR TIM HULSE

    Um jeito bom de manter a formaVERDE Está pronto para plogar? Essa nova tendência de exercício com consciência ambiental que começou na Suécia está se espa-lhando depressa.

    O plogging é criação de Erik Ahlström (foto), fanático por exercícios, e consiste em recolher o lixo enquanto corre. (A palavra combina “catar” em sueco com “jogging”, correr em inglês.)

    Ahlström teve a ideia quando morava na cidade turística de Åre, onde teve algum sucesso com uma iniciativa local. Mas só quando se mudou para Estocolmo ele percebeu o verdadeiro potencial do plogging. “Eu ia trabalhar de bicicleta e perce-bia que o mesmo lixo ficava semanas onde estava, sem que ninguém o ca-tasse”, diz ele. “Assim, pensei que po-deria tentar aqui também.”

    Quando obteve publicidade, a ini-ciativa de Ahlström se transformou num movimento nacional que agora se espalha por outros países.

    O humorista americano David Se-daris também foi citado como inspi-ração. Sua obsessão em catar o lixo é tão grande que a Câmara de Vereado-res do condado inglês onde mora deu seu nome a um caminhão de lixo.

    “Um dos direitos fundamentais dos artistas é se exprimir livremente.”

    Luca Bergamo, v ic e-prefeito de Roma , f al ando d a de cis ã o de re v o g ar a proibiçã o do p o e t a O v í d io dep ois de 2 mil an o s

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    Chernobyl adere ao solENERGIA Ali aconteceu o pior aci-dente nuclear da história, mas agora Chernobyl, na Ucrânia, voltou a pro-duzir energia – dessa vez sem ne-nhuma ameaça ao meio ambiente.

    Uma usina de energia solar de um megawatt começou a operar a 100 metros das ruínas do reator danifi-cado. Seus 3.800 painéis fotovoltaicos podem gerar eletricidade suficiente para abastecer uma cidade pequena.

    Em 1986, o derretimento do reator produziu uma nuvem radioativa que se espalhou por boa parte da Europa. Cerca de 115 mil pessoas foram eva-cuadas numa área de 2.600 km² em torno do local. Mas agora nova vida

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    está sendo instilada na região. “Quere-mos otimizar a zona de Chernobyl”, diz Ievguen Variaguin, diretor da Solar Chernobyl. “Ela não deveria ser um buraco negro no meio da Ucrânia.”

    A vida praiana dos romanosCIDADES No verão, Roma está trans-formando parte da margem do rio numa praia temporária. Uma área de cerca de 10.000 m², perto da ponte Marconi, está sendo usada como es-paço para esportes e outras atrações.

    A praia faz parte de um projeto maior para recuperar o rio. “Quere-mos restaurar a dignidade e a habita-bilidade da margem do rio”, diz a prefeita Virginia Raggi.

    HERÓIS: O PREFEITO QUE SALVOU SUA ALDEIA

    O PREFEITO de Quittebeuf, na Norman-dia, França, temia o declínio das empresas locais em sua pequena aldeia de 640 ha-bitantes. A padaria, o açougue e quatro cafés tinham fechado, e a aldeia parecia estar morrendo. “Vi as lojas cerrarem as portas, uma depois da outra. O que eu poderia fazer?”, diz Benoît Hennart.

    O que ele fez foi um empréstimo pes-soal de 200 mil euros para comprar um prédio velho. Então, com sua habilidade de carpinteiro, ele o transformou num café-mercearia, hoje administrado por um casal jovem (mostrado acima com o prefeito)s que lhe paga um aluguel mensal de apenas 500 euros. Agora Hen-nart quer abrir um açougue. “Embarquei nessa e não posso parar”, diz ele. “Te-mos um prefeito com um grande coração”, afirma o morador Georges Bézard.

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    Essas crianças...

    LEVEI MEU FILHO para passear no parque e ele me disse que eu tinha de carregá-lo no colo. Quando per-guntei por quê, ele respondeu:

    – Meus pés estão chateados. women.com

    O BEBÊ ACABOU de descobrir a ala-vanca que solta o descanso para pés da poltrona. Portanto, se você preci-

    sar de mim, estarei exercitando os músculos isquiotibiais nas próximas sete horas. ANDREW KNOTT, e s c r i t o r

    NA IGREJA, pedi ao pastor que abençoasse minhas netas de 6 e 7 anos durante a comunhão. Quando chegou a vez delas, o pastor pergun-tou à mais nova se gostaria de rece-

    “Parece mais divertido do que tomar banho.”

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    Sua história pode valer até R$ 400. Visite o site selecoes.com.br ou veja os detalhes na página 24.

    quarto é que não posso me vestir nem pegar a roupa suja. @BETSYK1

    TÍNHAMOS DUAS impressoras velhas no porão que precisavam ser recicla-das. Eu assistia à TV com Nathan, meu filho de 8 anos, e ele disse:

    – Pai, a gente podia fazer dinheiro com aquelas impressoras.

    Ri e expliquei que é a Casa da Moeda que faz dinheiro, usando pa-pel especial. Falei do que acontece com quem falsifica dinheiro falso. Ele pareceu meio confuso e me disse:

    – Eu quis dizer que a gente podia vender aquelas impressoras e ganhar algum dinheiro. SHAWN LECHKY

    CERTA MANHÃ, depois de uma forte nevasca, entrei no carro para levar mi-nha neta Nevaeh à creche e lhe disse:

    – Tudo está tão branco que nem sei onde está a rua.

    Ela respondeu:– Vó, está embaixo da neve.

    BONNIE GRONNING

    FILHO DE 5 ANOS (me olhando com raiva): Meu sapato não cabe.

    EU: Você cresceu. Por que a culpa é minha?

    FILHO DE 5 ANOS: Você me alimentou. @XPLODINGUNICORN

    ber a hóstia. Parece que ela viu o pastor mergulhar a hóstia no cálice de vinho, porque respondeu:

    – Sim, por favor, mas sem molho.MARGARET CHEE

    CERTO DIA, estava com minha filha aguardando atendimento em uma agência bancária. Para que ela se comportasse durante a espera, falei que deveria ficar sentada e quietinha, pois havia câmeras no local e, caso ela fizesse bagunça, a moça que assistia às gravações viria chamar a atenção dela.

    Depois de um tempo, ela observou que havia apenas uma atendente e, por isso, a demora no atendimento. Então, perguntou:

    – Por que essa moça que fica assis-tindo à gravação não vem aqui aten-der a gente?

    GIOVANNA STROVSKI, P o n t a G r o s s a ( P R )

    O FILHO PEQUENO está se prepa-rando para pular da cama.

    MULHER: (para mim) Faça alguma coisa!

    EU: (Pego o telefone para filmar.)MULHER: Não foi isso que eu quis

    dizer! Faça outra coisa!@IWEARAONESIE

    O RUIM QUANDO o bebê cochila em meu quarto é que não posso me ves-tir nem pegar a roupa suja. O bom quando o bebê cochila em meu

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  • COMPLETE A FRASE

    Quando tenho um dia livre eu…

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    ...leio muito.Amo!

    MICHELLE MIRANDA,

    Ur u ará , Pará

    ...leio a Revista Seleções!

    NELCI RIBEIRO NEL,

    Min eiro s, G oi á s

    ...durmo,vou ao salão de beleza,

    faço um passeio, me amo mais e busco a realização pessoal.

    ISLÂNIA LIMA,

    Manaus, Amaz ona s

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  • ...escrevocartas para pessoas que

    não vejo há tempos ou levo uma fatia de bolo para

    minha amiga que faz um café delicioso! ALAERCIO FLOR,

    For t alez a , Ce ará

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    ...viajoatravés de boas

    leituras.

    SOLANGE SILVEIRA,

    B elo Hoz onte,

    Mina s G erais

    ...subo todosos andares do edifício

    Ébano para ver a mais bela vista de Recife e Olinda!

    LUCY JESUS SILVA,

    O l ind a , Pernambu c o

    ...faço tudoque gosto!

    EUZA MATTOS,

    S anto André, S ã o Paulo

    ...assisto a um bom filme!

    ETHY KIENAST,

    It ajaí , S ant a Cat ar ina

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    FlagrantesDA VIDA REAL

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    UM HAICAI PARA MEU MARIDO...Sua barba é preta,A louça na pia é branca.@#$%^&! Você tá cego?

    @MAB1013

    EU JOGAVA BOLA com meu filho pequeno e, sem querer, lancei-a acima da cabeça dele.

    – Desculpe, foi um mau passe – disse eu.

    Ele deu um sorriso bondoso.

    – Não, pai, foi um passe maravi-lhoso.

    Então, ele deu dois passos na dire-ção da bola, parou e acrescentou:

    – Quando a gente diz uma coisa legal, mesmo que não seja verdade, isso é ser bem-educado, não é?

    Fonte: thoughtcatalog.com

    CERTA VEZ, ao chegar de viagem com meu pai, ele foi ao banheiro do terminal rodoviário escovar os den-

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    Sua história pode valer até R$ 400. Visite o site selecoes.com.br ou veja os detalhes na página 24.©

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    tes. Na volta, quando falou comigo, percebi que a boca dele estava estra-nha, e perguntei:

    – Pai cadê a sua dentadura?E ele voltou para o banheiro às

    pressas.JOSIEL DE PAULO SANTANA, S ã o Lu í s ( M A )

    ESTAVA ME SENTINDO mal com a perda de cabelo e disse a uma amiga:

    – Logo nem vou precisar voltar ao salão. Sempre que passo o aspirador, só pego meu cabelo.

    Sempre otimista, ela comentou:– Ué, aí você também não vai mais

    precisar passar o aspirador.AGNES SCHARENBROCH

    QUANDO MINHA filha de 5 anos voltou da escola, pausei a conferên-cia telefônica de que participava para lhe perguntar como foi o dia. Ela respondeu:

    – Psiu! Volte ao trabalho! Tenho uma lista de coisas para você com-prar para mim com o dinheiro que está ganhando. KAYLA REYES, huffingtonpost.com

    PARA OS PAIS com o ninho vazio: se quiserem que o filho telefone, basta mudar a senha do Netflix.

    @CRAYDRIENNE (ADRIENNE AIRHART)

    AMOR E Q.I.

    Alguns colaboradores do site Reddit.com ter-minaram a frase “Soube que meu amor não era um gênio quando...” da seguinte maneira:

    n “...ela apontou uma estrela azulada e per-guntou a sério: aquela é a Terra?”

    n “...lhe comprei um presente de Natal e re-solvi brincar com um

    evento engraçado en-tre ela e meu gato. E fiz o presente vir do gato. Achei que estava sendo fofo... Mas ela se irritou, porque meu gato lhe dera um pre-sente, e eu não.”

    n “...ela me deu o livro Mad Libs de completar frases malucas. Quando chegou a vez dela de citar um substantivo,

    ela perguntou: ‘O que é substantivo?’ Respondi: ‘É uma pessoa, coisa ou lugar.’ Houve um longo silêncio enquanto ela pensava, e aí respon-deu: ‘Lugar’.”

    n “...saímos para jan-tar; ele leu o cardápio e perguntou: o que é vagem?”

    n “...ele chamou linge-rie de linguine.”

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    Agora Emily Patenaude caminha sem dor.

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    Novos

    joelhos velhos

    POR LISA FITTERMAN

    As técnicas cirúrgicas melhoram, e a pesquisa é constante e esperançosa

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    APRINCÍPIO, EMILY PATENAUDE NÃO NOTOU a dor. Ao acordar da anestesia geral após a cirurgia em que colocou uma prótese de joelho no Victoria General Hospital, estava animada e feliz. A dor veio alguns dias depois, quando deixou de tomar os opiáceos receitados.A osteoartrite, o problema articular

    mais comum do mundo, vinha avan-çando em silêncio havia anos. Agora, tomara Emily como refém. Moradora de Mayne Island, ao largo da costa sudoeste da Colúmbia Britânica, Ca-nadá, ela não conseguia mais andar os 2,4 quilômetros de casa até a loja de ferragens onde trabalhava, nem fazer caminhadas, nem velejar. Mal conse-guia ficar em pé na cozinha para pre-

    parar uma refeição.Frustrada, em maio

    de 2015, pouco depois do 63-º aniversário, ela foi a Vancouver, no con-tinente, para consultar um médico do esporte. Ao estudar as radiogra-fias, ele lhe disse que ela precisava imediata-mente de uma prótese de joelho. “Não há fi-sioterapia nem séries

    de exercícios que a façam melhorar sozinha”, disse-lhe o médico.

    O máximo que ela poderia fazer era fortalecer os músculos em torno do joe-lho para suportar melhor a recuperação

    Ela sabia que seria difícil. O cirurgião e a equipe passaram meses lhe di-zendo isso antes de fazer uma incisão na perna esquerda, remo-

    ver o velho joelho artrítico e substituí--lo por uma versão de metal e plástico.

    Tudo começou 21 anos antes, numa pista de esqui para iniciantes. Uma curva malfeita provocou uma fratura em espiral do torno-zelo até a patela. Em-bora sarasse, sem que ela soubesse, o trauma inicial fez a cartilagem do joelho começar a se decompor; finalmente, a articulação ficou tão fraca que a perna es-querda entortou.

    Avancemos até o ve-rão de 2014. Ela cuidava da neta, divertindo a menininha, levando-a num carrinho, até que o joelho ficou tão inchado, in-flamado e dolorido que ela afundou num sofá e não conseguiu se levantar durante vários meses.

    A CIRURGIA FOI DOLOROSA,

    ASSIM COMO A REABILITAÇÃO. MAS EMILY NÃO DESISTIU. SUA TAREFA ERA MELHORAR.

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    D e a reabilitação depois da cirurgia. No decorrer de cerca de uma hora, o cirur-gião ortopédico cortaria, rasparia e fu-raria os três ossos que formam o joelho e voltaria a uni-los com uma prótese que pesava cerca de 420 gramas. Em seguida, ele a prenderia no lugar.

    Mesmo com os opiáceos iniciais, depois de ficar completamente cons-ciente, ela dizia que “doía pra... ca-ramba” quando tentava mover o corpo. Foi um inferno começar a reabilitação na semana seguinte à cirurgia, ten-tando dobrar, endireitar e erguer, e continuou um inferno durante pelo menos as duas semanas seguintes.

    Mas ela não desistiu. Pensava: Mi-nha tarefa é melhorar. E ela melhorou.

    Durante um mês, Emily foi à clínica de reabilitação três vezes por semana.

    Depois, duas vezes por semana. Final-mente, dali a dois meses, o fisiotera-peuta disse que ela poderia fazer o resto sozinha, com visitas ocasionais de acompanhamento.

    “É fácil pensar ‘posso pôr um joe-lho novo’, mas sei que não é assim”, diz Emily, hoje com 65 anos. “É preciso se dispor a um trabalho árduo e dolo-roso. Mas no final vale muito a pena.”

    ESTE É SEU JOELHO SAUDÁVEL: três articulações que se encaixam como peças de um quebra-cabeça e funcio-nam em conjunto quando nos abai-xamos, nos endireitamos e chutamos para o lado. Ele suporta o grosso do peso quando chutamos aquela bola na rede, corremos para a linha de chegada numa maratona, pegamos

    Hoje, Emily consegue se mover

    como antes da cirurgia.

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    filhos ou netos no colo ou levantamos aquela sacola de compras cheia de la-tas e garrafas.

    Este é seu joelho com osteoartrite: Crec. Pop. Ai! Apesar dos avanços da tecnologia médica, é dificílimo tratar essa doença porque a cartilagem não tem suprimento de sangue próprio e não sara.

    No caso dos joelhos velhos, a Orga-nização Mundial da Saúde constatou que a osteoartrite é a causa mais co-

    mum de incapacidade física em idosos. Um estudo de 2013 afirma que de 10% a 15% de todos os adultos com mais de 60 anos têm algum grau da doença.

    O mesmo estudo cita dados das Na-ções Unidas e observa que, até o ano 2050, quando mais de 20% da popula-ção mundial terá mais de 60 anos, um total de 130 milhões de pessoas sofrerá de osteoartrite, e quase um terço disso estará gravemente incapacitado.

    Candice Wong, fisioterapeuta de

    NO FUTURO

    Joelho parcialmente biônico

    O implante de menisco NUsurface – uma pró-tese de menisco de polímero sintético – está em uso na Europa desde 2008. Ele dá aos pacien-tes com dor intensa algo entre os anti-infla-matórios e a prótese to-tal – algo que prolonga a vida do joelho.

    A ponte

    Esta cirurgia de recons-trução do ligamento cruzado anterior usa uma ponte esponjosa para ligar as peças rom-pidas do ligamento, ao contrário da cirurgia--padrão, em que se usa um enxerto tirado de outro ponto do joelho. O enxerto nem sempre pega, e a osteoartrite costuma surgir 15 a 20 anos depois.

    Um suplemento incomum

    Acredita-se que as cápsu-las de sulfato de condroi-tina, suplemento alimentar facilmente disponível, re-tardam o avanço da ar-trite. Hoje esse produto farmacêutico, conside-rado um pouco mais forte, é suficiente para dar espe-rança a pacientes idosos que temem o que os anti--inflamatórios não esteroi-des fazem no organismo.

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    Toronto, explica assim: “A osteoartrite é como o cabelo grisalho. A única va-riável é se você terá muito ou pouco.”

    A genética tem seu papel no desen-volvimento do problema, assim como o excesso de peso, o nível de atividade, ou a falta dela, e lesões anteriores.

    As artroplastias totais do joelho (ATJs) são a solução que mais cresce para esse problema debilitante. De acordo com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Eco-

    nômico (OCDE), entre 2005 e 2014 houve um aumento constante da ci-rurgia em todos os países-membros com dados disponíveis.

    Na Europa, a Áustria teve o maior número per capita, com 18.785 pro-cedimentos realizados em 2014, com a Alemanha e a Finlândia logo atrás. Os cirurgiões americanos realizaram o maior número de ATJs, e espera-se que, até 2030, elas aumentem 673% até chegar a quase 3,5 milhões de pro-

    Os novos tratamentos e pesquisas são promissores

    O nariz sabe

    Um estudo constatou que usar células nasais para reparar cartilagem é promissor: elas rea-gem ao movimento mais ou menos da mesma maneira que as do joelho e são mais resistentes a infecção do que as células do resto do corpo.

    Condrogênese

    Um estudo alemão atual injeta um com-posto orgânico cha-mado LNA043 na cartilagem lesionada do joelho durante um pe-ríodo de quatro sema-nas. A teoria é que o composto estimulará as células a se repararem, num processo chamado condrogênese, tornan-do-o um dos possíveis tratamentos biológicos do futuro.

    Preparo do caminho

    Atualmente em estudo, o Agili-C é como um “an-daime” sobre o qual a cartilagem do joelho possa se regenerar. Im-plantado num único pro-cedimento artroscópico, recebeu a Marca de Aprovação da Comuni-dade Europeia, passo necessário para entrar no mercado europeu.

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    cedimentos por ano, contra cerca de 534 mil em 2005.

    Desenvolvida na década de 1970, a cirurgia faz sentido, diz o Dr. Christo-pher Kaeding, cirurgião ortopédico e diretor executivo do programa de me-dicina do esporte da Universidade do Estado de Ohio, em Columbus. A taxa de alívio dos sintomas excede os 85%.

    Mas o Dr. Kaeding avisa que toda essa liberdade redescoberta tem seu custo, principalmente quando se faz a troca total do joelho entre os 50 e os 60 anos. Essa faixa etária teve um aumento de vinte vezes do proce-dimento nas duas últimas décadas, porque as próteses não duram para sempre. Embora o procedimento e os materiais usados – plástico e ligas de cromo-cobalto e titânio – tenham sido refinados com o passar dos anos, as regras simples do uso, da mecânica e do desgaste cobram seu preço.

    “As próteses totais de joelho duram de doze a vinte anos. A cada substi-tuição, o resultado, ou seja, a mobili-dade, a flexibilidade e a capacidade de sustentar peso, é menor do que antes”, diz ele.

    Além disso, vários estudos na Finlân-dia e nos EUA constataram que, como pacientes “mais jovens” provavelmente terão mais atividade física, a necessi-dade de revisão da prótese pode ser até duas vezes maior do que em pacientes mais idosos. E é por isso, segundo o Dr. Kaeding, que a tendência mais recente é evitar a prótese total de joelho até o último momento possível.

    Basta perguntar a Marjukka Räsä-nen, contadora de Helsinque, Fin-lândia, para quem dobrar e esticar a perna sem esforço é apenas uma lembrança. Quando tinha 20 anos, ao correr para buscar a correspondên-cia na casa dos pais, ela escorregou, ©

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    Marjukka continua se exercitando na tentativa de retardar o mais possível a substituição total do joelho.

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    deslocou a patela direita e sofreu uma grave lesão no ligamento colateral la-teral, que passa pelo lado externo do joelho. “Precisei fazer uma cirurgia que me deixou engessada três sema-nas do pé ao quadril”, diz ela.

    Vinte anos depois, Marjukka, então casada e mãe de dois filhos, corria de leve para se aquecer na aula de caratê. De repente, escorregou e caiu sobre o joelho direito. Mesmo sem o diagnós-tico do médico, ela sabia.

    “Eu tinha distendido ou rompido o ligamento e deslocado a patela novamente”, diz ela. “Dessa vez, os cirurgiões cortaram minha tíbia e a prenderam em outra posição para manter a patela no lugar.”

    Hoje com 53 anos, Marjukka, que tem osteoartrite em ambos os joe-lhos, retarda a ATJ, apesar de haver dias em que não consegue dar nem um pequeno passo sem dor.

    Enquanto isso, para evitar ao má-ximo a rigidez, ela tem aulas de Pila-tes toda semana, corre na piscina e faz exercícios de força e alongamento na escrivaninha do escritório. Nada mais deu certo: nem o reposicionamento cirúrgico da tíbia, nem a cirurgia para reparar a cartilagem, nem as injeções de cortisona, esteroide comumente usado para aliviar a dor articular en-quanto a lesão sara.

    Há esperança de mais alternativas no futuro? Há, dizem especialistas como o Dr. Kaeding e Mats Brittberg,

    professor da unidade de pesquisa de cartilagem da Universidade de Go-temburgo, Suécia – embora algumas estejam mais distantes do que outras, inclusive um modo biológico de fazer a cartilagem se consertar sozinha, um sonho difícil de realizar.

    “Em certo momento, acreditou-se que seria possível usar células-tronco (células não diferenciadas que podem se transformar em células especializa-das) para reparar a articulação, produ-zindo nova cartilagem, mas isso não aconteceu”, diz Brittberg. “Embora alivie os sintomas, é um jeito muito caro de conseguir isso, e as empresas farmacêuticas precisam demonstrar que esses tratamentos têm resultado constante. É uma tarefa dificílima.”

    O Dr. Kaeding observa que o avanço é maior nos reparos específicos com algo que imite a verdadeira cartila-gem articular. “Pense numa estrada asfaltada que tem um buraco”, diz ele. “Houve passos importantes para fe-char esse único buraco. Mas estamos longe de reasfaltar completamente a estrada.”

    De volta a Mayne Island, Emily Pa-tenaude conseguiu fazer a viagem dos sonhos com o marido em seu veleiro Avaré, de oito metros, e passou cinco meses explorando os fiordes do norte da Colúmbia Britânica. Agachou-se, andou, escalou e sentou-se sem pro-blemas. E aquela feia cicatriz verme-lha? Desbotou e ficou cor-de-rosa.©

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  • SALVOS POR MILAGRES

    DRAMA DA VIDA REAL

    POR LIA GRAINGER

    Xisco (esquerda) e seu parceiro Guillem conheciam o perigo de explorar o labirinto de cavernas. FO

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    Eles queriam ser os primeiros a ver as cavernas subaquáticas. Até que ficaram sem oxigênio.

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    N O MEIO DA MANHÃ DE 15 de abril do ano passado, um sábado, perto da Cova de Sa Piqueta, Xisco Gràcia Lladó descarregou os tanques de oxigênio da picape. Ele e o velho amigo Guillem Mascaró planejavam passar o dia explorando o sistema subaquático de cavernas da ilha de Maiorca, na Espanha.

    regulador na boca e baixou a cabeça na água. Guillem o seguiu.

    Para se deslocar pelo labirinto de-baixo d’água, os parceiros de mergulho usavam uma ferramenta simples e con-sagrada: cordões finos de náilon, marca-dos com etiquetas numeradas. Quando um túnel se bifurcava, outro cordão se estendia pela segunda passagem.

    O caminho sinuoso que Xisco e Guil-lem seguiriam se dividia muitas vezes, criando um labirinto de possíveis entra-das erradas, todas indistintas entre si se não houvesse os cordões e as etiquetas nem as setas que eles colocavam em cada interseção para indicar a saída. Xisco notou que a água estava transpa-rente naquela manhã e que era fácil ver as etiquetas. Os dois homens avança-ram, deixando um rastro enevoado de sedimento em sua esteira.

    Depois de uma hora navegando pelos túneis estreitos e contorcidos, Xisco nadou até uma câmara subma-rina e começou a recolher amostras de rochas. Guillem media o formato e o diâmetro de uma câmara próxima.

    Dali a cerca de uma hora, Xisco deu uma olhada nos medidores de pressão

    Havia mais de vinte anos, o pas-satempo de Xisco era mergulhar em cavernas. Com 54 anos, robusto, divorciado e pai de dois filhos, ele adorava mapear os muitos túneis e câmaras da ilha e contribuir com seus achados para o corpo crescente de li-teratura científica sobre as cavernas de Maiorca.

    Guillem, também com 54 anos, ma-gro e morador local, mergulhava no oceano havia décadas e começara a explorar cavernas em 2003. Estava con-tente de estar com Xisco, um dos mer-gulhadores mais experientes da ilha.

    Xisco abriu um mapa e apontou uma área a 900 metros da entrada da caverna. “Há câmaras submersas aqui que nunca foram estudadas”, disse ele, empolgado com a ideia de ser o pri-meiro a ver as câmaras.

    O ar úmido saudou os dois homens ao entrarem na caverna e passarem para a escuridão. Xisco prendeu quatro tanques de ar no cinto e passou três a Guillem. Satisfeito por terem a quanti-dade certa de ar – suficiente para en-trar, explorar e voltar, mais uma hora extra para emergências –, Xisco pôs o

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    de ar e viu que seus tanques estavam um terço vazios. Cada um de nós tem ar suficiente para mais duas horas, duas horas e meia no máximo.

    Xisco segurou Guillem pelo ombro e apontou os mostradores de pressão. Estava na hora de ir embora.

    Eles começaram a voltar pelo ca-minho por onde tinham chegado, seguindo o cordão pela água lama-centa com os sedimentos que tinham levantado no trajeto de ida. A princípio, a pas-sagem era larga, mas, enquanto avançavam, as paredes se fecha-ram até os tanques de Xisco se arrastarem e se prenderem. O con-tato levantou ainda mais sedimentos, que giravam em torno deles como uma sopa grossa de chocolate.

    Mas, de mão em mão, os dois mergu-lhadores seguiram o cordão branco até chegarem a uma parede de pedra, onde o cordão terminou de repente. Xisco tateou, procurando a próxima parte do cordão; nada.

    Com gestos, instruiu Guillem a ir para uma caverna a uns 200 metros, onde ele lembrava que havia ar, e es-perar. Xisco sabia que o ar da caverna não era perfeito – continha dióxido de carbono –, mas lá era o lugar mais

    próximo para esperar, e poupar o ar dos tanques era importante.

    Xisco continuou procurando o cor-dão. Com a mão, ele tateou o vazio. Parecia que o pedaço de pedra onde o cordão fora fixado se quebrara. Ele descalçou as luvas e começou a tatear atrás do cordão na nuvem escura que regirava em torno dele. Nadou de um lado para o outro, as mãos tocando ro-cha e sedimento. A visibilidade piorava

    a cada movimento.Dali a algum tempo,

    Xisco deu uma olhada no regulador e se preo-cupou. Não percebera quanto tempo ficara procurando o cordão. Só temos uma hora de ar cada um, e ainda estamos a um quilôme-tro da saída, pensou. Mesmo que achemos o caminho certo, pode-mos ficar sem ar antes de chegar à superfície.

    Xisco nadou para a caverna onde Guillem o aguardava. Quando tirou a cabeça da água, viu que estava num grande lago, numa câmara cavernosa com cerca de 80 metros de compri-mento e 20 de largura. Além do lago, podiam ser vistas rochas pontudas, algumas subindo bastante acima da superfície da água.

    Quando inspirou, percebeu ime-diatamente que o ar continha mais

    Xisco observou

    Guillem partir para a entrada

    da caverna. “Espero vê-lo

    de novo”, pensou.

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    dióxido de carbono do que pensara. O teor era alto, talvez 2% ou 3%, muito acima dos 0,03% do ar comum. Ele também sabia que uma concentração tão alta de dióxido de carbono pode-ria ter consequências assustadoras: ritmo cardíaco acelerado, respiração rápida, dor de cabeça, alucinações, paralisia, inconsciência e morte.

    Xisco e Guillem saíram da água e subiram nas rochas da câmara abso-lutamente escura.

    – Há outra rota para a superfície, mas é um pouco mais longa. – Xisco apon-tou o caminho no mapa plastificado. – Os cordões devem estar intactos.

    Guillem examinou os tanques e disse:

    – Só há ar suficiente para um de nós chegar à superfície.

    – Você é menor e mais rápido e usará menos ar para subir – sugeriu Xisco.

    Além disso, Xisco passara muitos dias explorando câmaras submersas com ar saturado de dióxido de carbono e sabia desacelerar a respiração para reduzir a inalação de gases tóxicos.

    Guillem se equipou com os tanques restantes. Xisco observou o amigo de-saparecer debaixo d’água.

    Espero vê-lo de novo, pensou Xisco, inspirando rapidamente. Sentiu o pulso se acelerar, um dos primeiros sinais de envenenamento por dióxido de carbono. E rápido.

    Eram quase seis horas da tarde de sábado.

    MENOS DE UMA HORA DEPOIS, Guil-lem rompeu a superfície da água, arran-cou o regulador da boca e inalou o ar limpo de Maiorca. Seus dedos tremiam enquanto ele ligava para os membros do Grup Nord, a organização oficial de exploração de cavernas da ilha.

    Dali a uma hora, vários dos prin-cipais mergulhadores de cavernas tinham se reunido na escuridão cres-cente. Um deles era Bernat Clamor, com quase tanta experiência de mer-gulho quanto Xisco.

    – Pode haver muito dióxido de car-bono naquela caverna – disse ele. – Não sabemos quanto tempo ele tem.

    O grupo concordou que dois mer-gulhadores familiarizados com a caverna iriam primeiro. Guillem mar-cou a localização de Xisco num mapa plastificado e o entregou aos homens antes de observá-los mergulhar.

    Duas horas depois, eles retornaram com más notícias. Na pressa para chegar à superfície, Guillem agitara a água a tal ponto que a visibilidade era quase zero. Era impossível ler as etiquetas que indicavam para onde ir quando um túnel se bifurcava.

    – Vamos esperar a água clarear antes de mergulhar de novo – sugeriu Bernat.

    Os sedimentos poderiam levar ho-ras e até dias para se acomodar. Xisco poderia morrer sufocado respirando dióxido de carbono, mas Bernat sabia que mergulhar em água parecida com chocolate era inútil. Ele não queria

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    pôr mais ninguém em risco. Não havia nada a fazer senão esperar.

    SENTADO NA caverna escura, os mi-nutos pareciam horas. Xisco estava tonto com o efeito do dióxido de car-bono no ar. E seu reló-gio de mergulho tinha parado. Ele não fazia ideia de que só estava na caverna havia umas quatro ou cinco horas.

    Um pavor insinuante tomou conta dele. Guil-lem morreu. Ninguém sabe onde estou.

    Xisco acendeu a lan-terna de cabeça, saiu da saliência onde estava empoleirado e foi até o lago. Com as mãos em concha, levou o líquido aos lábios. Em-bora quase toda a água da rede de ca-vernas fosse salgada, a camada superior deste lago era fresca e limpa.

    O ar, nem tanto. Xisco voltou com dificuldade a seu lugar de descanso, a única superfície plana da caverna, e gemeu quando uma pontada de dor o atingiu na têmpora. O dióxido de car-bono tomava conta, e cada movimento ou respiração o fazia consumir mais.

    Xisco deitou-se e tentou manter a calma. Prometeu que só se mexeria para beber e urinar. Desligou a lan-terna para poupar bateria e se deitou na escuridão úmida e fria.

    Ele se perguntou se teriam avisado sua ex-mulher. Só um ano se passara desde a separação, e o divórcio fora arrasador para Xisco. Ela contaria às crianças? Os filhos estariam preocupa-dos com ele naquele exato momento?

    Seus pensamentos voltaram aos mergu-lhadores na ilha.

    Eles logo me encon-trarão, raciocinou. As-sim espero.

    EM TERRA, uma equi- pe de paramédicos es-tava a postos e havia um psicólogo à dispo-sição. Mergulhadores e exploradores de caver-nas da ilha debatiam o melhor rumo a tomar.

    “Fizemos uma tentativa, e ninguém consegue avançar mais de trezentos metros”, explicou Bernat a dois novos mergulhadores no local. “A água pa-rece lama.”

    Enquanto isso, policiais locais e na-cionais armavam tendas e barricadas para manter a multidão crescente de repórteres a distância. O diretor-geral de emergências das ilhas Baleares es-tava ali, mas agora o resgate era encabe-çado por um membro da Guarda Civil, o oficial no comando do Grupo Especial de Atividades Subaquáticas de Maiorca. Depois de escutar vários policiais e mer-gulhadores, ele deu a ordem:

    A cabeça

    de Xisco girou. Estava tendo alucinações. O dióxido de

    carbono saturara seu

    sangue.

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    “Esperamos até amanhecer para voltar a mergulhar”, disse ele, e a res-posta foi um coro de gemidos.

    Todos sabiam o grande perigo que Xisco corria; naquele mesmo minuto, ele poderia estar inspirando a última dose de ar venenoso que seu corpo conseguiria aguentar.

    Eram 21h30 de domingo, e Xisco estava sob a terra havia mais de 30 horas. Quando o grupo se dispersou, um mergulhador, zangado, murmu-rou entre dentes: “Amanhã será tarde demais.”

    UMA LUZ TREMULOU acima do lago subterrâneo.

    Xisco sentou-se. A cabeça girou com o movimento súbito. A bateria da lan-terna de cabeça por fim se esgotara, e a escuridão parecia quase cegar.

    O que era aquele som gorgolejante? Haveria alguém ali com ele? Ele escu-tou de novo: silêncio.

    Xisco se deitou outra vez na pedra úmida e respirou de leve.

    Estou tendo alucinações, pensou. O dióxido de carbono saturou meu san-gue. Ninguém virá me salvar.

    Ele pensou nos filhos, na mãe, na cunhada, que estava morrendo de câncer. Pensou no canivete na bolsa do equipamento. Se o gás não me ma-tar, posso resolver isso sozinho.

    “FINALMENTE!” , exclamou Jhon Freddy Fernandez, apressando-se para vestir a roupa de mergulho. Amigo de Xisco, ele esperara mais de 24 horas por sua vez de participar da busca. Agora, pouco antes do meio-dia de segunda-feira, veio o chamado.

    Quando começou a nadar pelo primeiro túnel, o coração de Freddy se alegrou. A água estava limpa. Não transparente, mas o bastante para ver as etiquetas. Ele se pôs a trabalhar: cortar todos os cordões, a não ser o

    Xisco, à esquerda, com Guillem nas cavernas. Ambos

    continuam apaixonados pelo

    mergulho.

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    que levava a Xisco. Ele agia depressa. Duas horas depois, saiu da caverna sorrindo.

    “Cheguei quase lá”, informou Fre-ddy à equipe reunida. “O próximo mergulhador conseguirá alcançá-lo.”

    Bernat pulou de pé e pegou seus tanques. Em minutos, estava na água. Com um único cordão branco para seguir, ele avançou pelo labirinto subterrâneo diretamente até a câmara onde estava Xisco.

    Devo estar bem perto, pensou Ber-nat, depois de cerca de uma hora de-baixo d’água. A prioridade agora era verificar se Xisco estava vivo e que tipo de missão de resgate seria aquela.

    ESTE SERÁ meu túmulo, pensou Xisco.Mais uma vez, ele ouviu o som de

    bolhas, como um mergulhador emer-gindo. Então uma luz começou a dan-çar no teto da caverna.

    – Xisco, Xisco! – ouviu chamarem e virou a cabeça. Então viu o amigo Bernat, escorrendo água e andando em sua direção. Os dois se abraçaram.

    – Guillem está morto, não está?– Não, está vivo e à sua espera na

    superfície! – disse Bernat.Ele deu a Xisco um pouco de gel

    energético de glicose, e os dois con-versaram até Bernat ter certeza de que o amigo estava em condição de fazer o percurso de volta.

    – Vou retornar para avisar que você está vivo. Os próximos mergulhadores

    lhe trarão ar e o tirarão daqui – explicou Bernat. – Pode esperar mais um pouco?

    – Agora que sei que estou salvo, posso esperar o dia todo! – disse Xisco.

    Quatro horas depois, por volta das 20 horas de segunda-feira, Hilari Mo-reno Moya e Enrique Ballesteros, ambos amigos de Xisco, emergiram na caverna.

    Eles levaram tanques cheios de Ni-trox, gás que tem o dobro de oxigênio do ar comum. Xisco inspirou a mis-tura potente e sentiu o corpo voltar à vida. A cabeça começou a clarear, e ele conseguiu inspirar profundamente pela primeira vez em 58 horas.

    Xisco sorriu para os dois amigos.– Estou pronto para ir.Sessenta horas depois de entrar na

    Cova de Sa Piqueta, às 23h10 da se-gunda-feira, Xisco saiu andando sem ajuda da boca da caverna. Os vivas alegres da multidão o receberam.

    Guillem, que estava entre os que esperavam, abriu um sorriso ao ver Xisco. Ele estava vivo!

    Uma tradição do Grup Nord é que o primeiro mergulhador a explorar uma nova caverna pode batizá-la. Hoje, a câmara onde Xisco e Guillem se refu-giaram é chamada de Sala dos Três Mi-lagres, nome dado por Xisco. O primeiro milagre foi Xisco ter encontrado uma câmara com ar. O segundo, ter sobrevi-vido com tanto dióxido de carbono. E o terceiro, ter sido capaz de escapar com vida dessa situação apavorante.

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    OssosDO OFÍCIO

    ILUSTRADO POR HARLEY SCHWADRON

    ERA MINHA PRIMEIRA noite cuidando de um paciente idoso. Quando ele ficou com sono, levei sua cadeira de rodas até bem perto da cama e, aplicando as técnicas que aprendi na escola, usei um abraço de urso para erguê-lo. Mas não conse-gui chegar ao colchão. Então, agar-rei-o de novo, juntei todas as minhas forças e o icei até a cama.

    Quando a enfermeira do turno da

    noite chegou, contei-lhe o que tinha acontecido.

    – Que engraçado – disse ela, pare-cendo surpresa. – Em geral, só lhe peço que se deite, e ele se deita.

    ERIN DOCKERY

    MINHA NORA trabalha em um Car-tório de Registro Civil. Em um dia de muito movimento, ela registrou vários nascimentos. Ao finalizar cada

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  • Sua história pode valer até R$ 400. Visite o site selecoes.com.br ou veja os detalhes na página 24.

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    atendimento, dava parabéns aos pais. Quando registrou um atestado de óbito, despediu-se do senhor que fez o registro também com parabéns.

    KÁTIA SOLANGE MACEDO, C a r b o n i t a ( M G )

    PARA RESOLVER conflitos no traba-lho entre a gerência e o pessoal, juntei os dois lados e pedi aos fun-cionários que escrevessem palavras--chave num flip chart. Um participante se queixou da tendência dos gerentes a interferir e escreveu a palavra implicancia.

    Um gerente pulou de pé para dizer:– Ei, implicância não tem acento?

    E. HOWSON, na Reader’s Digest International Edition

    VOCÊ SABE QUE ANDA traba-lhando demais quando sofre estes lapsos:■■ Certo dia, eu estava superocupada

    no trabalho e o telefone tocou. Na dúvida entre “Espere um minutinho” e “Vou pôr você na espera”, acabei dizendo “Espere uma esperinha”.■■ Fui ao Bob’s, e a moça atrás do

    balcão disse “Bem-vindo ao McDonald’s!”... e suspirou.■■ Um cliente me perguntou se eu era

    Rachel. Respondi: “Sim, é a Raquel.” Não era um telefonema. Ele estava bem à minha frente.

    Fontes: tumblr.com e boredpanda.com

    Quando você não consegue escolher que mictório prefere.

    SERVIÇOS QUE PRECISAM DE UM PEQUENO AJUSTE

    Instruções que são ao mesmo tempo estranhamente específicas e completa-mente inúteis.

    A gente é melhor instalando autopeças do que placas – eu juro.

    Fonte: You Had One Job! © 2016 de Beverly L. Jenkins. Publicado com permissão de Andrews McMeel Publishing.

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    A HISTÓRIA RECORDA momentos de genialidade. Isaac Newton viu uma maçã cair no chão e formulou a teoria da gravidade. Arquimedes estava tomando banho quando teve seu momento eureca: é possível medir a pureza do ouro com o deslocamento da água. Quem diria? Mas, por outro lado, nos últimos dez mil anos os seres humanos vivenciaram cerca de cem quatrilhões

    demaisInteligente

    para meuprópriobem

    POR RICK ROSNER

    A genialidade tem suas desvantagens, diz o segundo maior Q.I. do mundo

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    de momentos comuns em que nada aconteceu, o que dá uma proporção péssima entre momentos geniais e momentos não geniais. O fato é que o mundo foi feito para não Einsteins, não gênios. As palavras torturado, do mal e excêntrico são mais associadas a gênio do que efervescente ou bem-ajustado.

    velmente lhe perguntar: “Como você beija, por pressão ou sucção?” Em vez do beijo, ganhei pelo resto do ano gri-tos de “Pressão ou sucção?” vindos de garotos que eu nem conhecia.

    Assim como muitos geni-nhos, minha habilidade com pessoas precisava melhorar. Cuidei desse problema depois da faculdade me tornando por-

    teiro de boate. À porta, peguei milhares de me-nores de idade com do-cumento falso. O desafio de perceber os mentiro-sos em dez segundos me fascinava.

    Pessoas com Q.I. ele-vado são uma presa fá-cil das obsessões. Fiquei obcecado com identida-des, e passei dez anos desenvolvendo um al-

    goritmo estatístico que me ajudava a identificar documentos falsos ou em-prestados com exatidão de 98%. Mas, depois de uma década de pesquisa, eu ainda ganhava 8 dólares a hora, como todos os outros porteiros que não ti-nham algoritmo estatístico.

    Mamãe sabia disso. Ela ficou apa-vorada quando aprendi a ler sozinho com 3 anos. Mas, enquanto destruía os testes de Q.I., eu era solitário na pracinha e alvo de projéteis. Um mo-mento de gênio aos 6 anos: “Aí vem uma pedra lançada por um moleque violento no outro lado da cerca de correntes. A cerca é dividida em quadrados de cinco centímetros de lado, e a pedra tem qua-tro centímetros de diâ-metro. A probabilidade de que a pedra não bata na cerca é desprezível (25% ao quadrado, ou 1 em 16), de modo que não preciso me abaixar.” Então a pedra passou direto pela cerca e me atingiu na cabeça.

    Por ter o segundo maior Q.I. do mundo, posso dizer que a genialidade tem suas desvantagens. Meus amigos menos brilhantes expli-cam assim: “Há o jeito certo e há o jeito Rosner.” O jeito Rosner é querer ficar com uma garota na festa, no fim do ensino fundamental, e lamenta-

    Em vez do

    beijo, ganhei gritos de

    “Pressão ou sucção?” vindos de garotos da escola que eu nem conhecia.

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    Quando era redator de Weakest Link, um programa de perguntas e prêmios da TV americana, tínhamos uma cota de 24 perguntas por dia. Isso não parecia suficiente para al-guém com meu grande cérebro, e es-tabeleci uma cota própria de 60 a 100 perguntas por dia. Eu não sabia que meus chefes avaliavam os redatores com base em quantas perguntas eram rejeitadas. Como eu escrevia o triplo dos outros, fiquei no topo daquela lista de rejeições e fui demitido.

    Durante mais de um ano, treinei para participar de outro programa, Jeopardy!: estudei centenas de livros e passei horas clicando um contador manual para deixar meu polegar mais rápido no botão. Depois de cinco en-trevistas, entrei no programa... e perdi (porque amarelei no desafio duplo e depois não consegui identificar a ban-deira da Arábia Saudita). Também perdi uma calça, levada por engano por outro concorrente.

    Estudei quase o mesmo tempo para entrar no programa Who Wants to Be a Millionaire. Minha pergunta de 16 mil dólares foi: “Que capital de um país fica em maior altitude acima do nível do mar?” Respondi “Katmandu”. O programa afirmou que a resposta correta era Quito. No entanto, em geral a capital nacional mais alta do mundo é considerada La Paz, na Bo-lívia, que não estava incluída entre as respostas possíveis.

    Processei o programa, e funda-mentei minha tese de que a pergunta estava errada com milhares de horas de pesquisa, comparando minha per-gunta com mais de 100 mil perguntas do programa Millionaire. Acabei des-cobrindo que os juízes não têm muita paciência com processos de progra-mas de perguntas. Perdi no tribunal, recorri, perdi de novo. O processo me custou dezenas de milhares de dóla-res, e me tornei o maior perdedor da história do programa Millionaire.

    Mas nem tudo deu errado por causa da genialidade. Tenho 25 anos de car-reira como redator de humor da TV. Para produzir milhares de piadas, é bom ser obsessivo e ter um ponto de vista meio torto. Tenho uma mulher e uma filha adoráveis que controlam meus planos mais insensatos. Depois de ganhar 12 anos de créditos univer-sitários em menos de um ano e obter cinco diplomas, consigo ajudar com o dever de casa. Cheguei a usar minha capacidade de pesquisa para inventar uma mistura de 20 remédios e suple-mentos que ajudou nosso cão a sobre-viver 117,5 anos caninos.

    Daqui a 20 anos, todos seremos gê-nios em potencial, com acesso a toda a sabedoria do mundo. E, assim como eu, você empregará seus vastos recur-sos computacionais principalmente para fazer coisas burras.

    A gente se vê no Campeonato de Candy Crush 4D de 2036!

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  • A sobrevivência depende mais de evitar erros impensados do que de ações heroicas

    O que não fazer em umdesastrePOR ZARIA GORVETT DA BBC FUTURE

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    “O treinamento de sobrevivência não é só para ensinar o que fazer; também é para inibir certas ações que as pessoas fazem como rotina”, afirma John Leach, psicólogo de sobrevivên-cia da Universidade de Portsmouth, na Inglaterra. Ele estima que, numa crise, 80% a 90% das pessoas reagem de forma inadequada.

    Portanto, num cenário que ameace a vida, que comportamentos evitar?

    ParalisiaUma das reações diante do perigo é, simplesmente, não fazer nada. Ano passado, no atentado à faca na es-tação London Bridge do metrô de Londres, um policial de folga que se atracou com os atacantes descreveu os espectadores parados “como cer-vos diante dos faróis”.

    A reação é tão universal que os psi-cólogos falam da resposta a ameaças em termos de fuga, luta ou paralisia. Enquanto diversas substâncias neu-roquímicas correm pelo corpo e os músculos se tensionam, o primitivo cerebelo, na base da nuca, envia um sinal que nos mantém parados no mesmo lugar.

    O mecanismo é o mesmo em todo o reino animal – indo de ratos a coe-lhos, como o último recurso para impedir que o predador nos perceba. Mas, num desastre, combater esse impulso é fundamental para a sobre-vivência.

    ‘‘N UNCA esque-cerei o som de metal sendo e s m a g a d o ”, d i z G e o r g e Larson, pas-sageiro do voo 440 da Indian Airlines de Chennai a Nova Délhi em 1973. Eram 22h30. Na aproximação final, o avião atingiu fios elétricos e bateu no chão. Larson foi lançado da cadeira. Os passageiros gritavam enquanto a fuselagem começava a se partir.

    A próxima coisa de que Larson se lembra é de estar caído sobre es-combros. Logo houve uma explosão, quando o combustível pegou fogo.

    Enquanto choviam destroços, Lar-son empurrou os escombros e rolou para o chão. Em modo de sobrevivên-cia, arrastou-se até um lugar seguro antes que o fogo se espalhasse. Dos 65 passageiros e tripulantes a bordo, Larson foi um dos 17 sobreviventes.

    O surpreendente é que muita gente em situações letais n