Junia Maria Z Falqueto Gestao Ambiental Na Adm Publica UnB 2007 EcoCamarara

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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO, CONTABILIDADE E CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO E DOCUMENTAÇÃO – FACE DEPARTAMENTO DE ADMINISTRAÇÃO - ADM ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM ADMINISTRAÇÃO MONOGRAFIA A GESTÃO AMBIENTAL NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA: O CASO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS JÚNIA MARIA ZANDONADE FALQUETO 1

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Gestão ambiental

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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA

FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO, CONTABILIDADE E CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO E DOCUMENTAÇÃO – FACE

DEPARTAMENTO DE ADMINISTRAÇÃO - ADM

ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM ADMINISTRAÇÃOMONOGRAFIA

A GESTÃO AMBIENTAL NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA:O CASO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS

JÚNIA MARIA ZANDONADE FALQUETO

BRASÍLIA-DF

DEZEMBRO/2007

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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA

FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO, CONTABILIDADE E CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO E DOCUMENTAÇÃO – FACE

DEPARTAMENTO DE ADMINISTRAÇÃO - ADM

ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM ADMINISTRAÇÃOMONOGRAFIA

A GESTÃO AMBIENTAL NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA: O CASO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS

JÚNIA MARIA ZANDONADE FALQUETO

ORIENTADOR: PROF. Ms. DIEGO MOTA VIEIRA

BRASÍLIA-DF

DEZEMBRO/2007

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Falqueto, Júnia Maria Zandonade

A Gestão Ambiental na Administração Pública.

Monografia – Curso de Administração.

Brasília: UnB, 2007.

Área de Concentração: Administração Geral

Orientador: Prof. Ms. Diego Mota Vieira

1. Gestão Ambiental 2. Instituições Públicas 3. Câmara dos Deputados

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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA - UnB

FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO, CONTABILIDADE E CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO E DOCUMENTAÇÃO - FACE

DEPARTAMENTO DE ADMINISTRAÇÃO - ADM

A GESTÃO AMBIENTAL NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA:

O CASO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS

_____________________________________________________Júnia Maria Zandonade Falqueto

MONOGRAFIA SUBMETIDA AO DEPARTAMENTO DE ADMINISTRAÇÃO DA

FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO, CONTABILIDADE E CIÊNCIA DA

INFORMAÇÃO E DOCUMENTAÇÃO DA UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA, COMO

PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA OBTENÇÃO DO GRAU DE

BACHAREL.

DATA DA APROVAÇÃO: ____/____/_________.

GRUPO AVALIADOR/BANCA EXAMINADORA:

_________________________________________________________________DIEGO MOTA VIEIRA, ADM/FACE/UnB(ORIENTADOR)

_________________________________________________________________EVALDO CESAR CAVALCANTE RODRIGUES, ADM/FACE/UnB(COORDENADOR DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO)

_______________________________________________________________CARLOS ALBERTO MULLER LIMA TORRES, ADM/FACE/UnB(EXAMINADOR)

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DEDICATÓRIA

À Lindaura Falqueto,

Há certas circunstâncias que surgem na vida da gente que nos

proporcionam oportunidades raras para reflexão. Esta é uma

oportunidade única. Ao escrever esta página dedicando este trabalho a

você, quero aproveitar para realçar o meu carinho e afeto, meu amor e

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minha admiração. Pena que as palavras sejam insuficientes para

demonstrar a dimensão de certos sentimentos.

AGRADECIMENTO

A Deus, em primeiro lugar, por sempre estar ao meu lado.

Aos meus familiares, que sempre me incentivaram a lutar pelos

meus sonhos.

Ao meu orientador, Prof. Diego Mota Vieira, pela atenção e

paciência nas horas difíceis.

Às amigas de longa data: Monique, Mariana, Paloma e Raquel,

por continuarem presentes.

À Cássio Bruno Machado Lorenço, por todo carinho, atenção e

ajuda.

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Ao Núcleo de Gestão Ambiental-EcoCâmara, em especial, à

Jacimara Guerra Machado, por ter me recebido tantas vezes e ter

me apoiado desde o início.

A todos que contribuíram de alguma forma para o

desenvolvimento deste trabalho, pelo tempo e pela dedicação

concedidos.

A todos que compartilharam comigo os meus ideais, incentivando-

me a prosseguir fossem quais fossem os obstáculos.

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EPÍGRAFE

Quando ele, (o Homem), tiver ultrapassado o estado primitivo de sacrifício humano, seja na forma do ritual dos astecas ou guerra secular, quando estiver capacitado para regular sua relação com a natureza, razoavelmente e não cegamente, quando as coisas se tiverem de fato transformado em suas servas e não em seus ídolos, ele defrontará com os conflitos e problemas verdadeiramente humanos: terá de ser aventureiro, corajoso, imaginativo, capaz de sentir prazer e dor, mas seus poderes estarão a serviço da vida e não da morte.

Erich From

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RESUMO

Nas últimas décadas, buscando um desenvolvimento sustentável e um maior nível de

competitividade, as organizações adotaram uma abordagem sistêmica da questão ambiental, a

qual se denominou Gestão Ambiental. Essa abordagem apresenta princípios voltados

principalmente para empresas do setor produtivo, mas pode e deve ser aplicada em

organizações públicas, pois essas também desenvolvem atividades que geram significativos

impactos sobre o meio ambiente. Este estudo identifica as vantagens que as entidades

governamentais obtêm com a adoção de um programa de gestão ambiental, em especial a

Câmara dos Deputados. No referencial teórico foram apresentados conceitos relacionados ao

meio ambiente, a gestão ambiental e a responsabilidade social. Estudaram-se também as

barreiras existentes entre a posição teórica e a efetivação na prática de um sistema de gestão

ambiental. A estratégica de pesquisa utilizada foi o estudo de caso e a abordagem foi

predominantemente qualitativa. Foram realizadas entrevistas com os principais servidores

envolvidos com o programa EcoCâmara com a finalidade de identificar suas percepções sobre

o assunto. Além da pesquisa de campo, a pesquisa documental e a observação participante

foram importantes fontes de dados. Com os resultados alcançados, conclui-se que a Câmara

dos Deputados fez uma boa opção ao implantar um programa de gestão ambiental. As

vantagens são muitas e a principal delas está ligada ao fortalecimento da imagem da

instituição. Entretanto, é preciso reconhecer que ainda há muitos objetivos a serem alcançados

e projetos a serem consolidados.

Palavras-chave: 1. Gestão Ambiental 2. Instituições Públicas 3.Câmara dos Deputados.

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SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS................................................................................................................ixLISTA DE ABREVIATURAS....................................................................................................x1 INTRODUÇÃO.............................................................................................................011.1 Caracterizaçao da Organização........................................................................................021.1.1 O EcoCâmara...................................................................................................................031.2 Situação Problemática.....................................................................................................041.3 Objetivos..........................................................................................................................101.3.1 Objetivo geral..................................................................................................................101.3.2 Objetivos Específicos......................................................................................................101.4 Justificativa do Estudo.....................................................................................................11

2 REVISÃO DA LITERATURA.....................................................................................122.1 Meio Ambiente................................................................................................................122.1.1 Evolução da Questão Ambiental.....................................................................................132.2 Gestão Ambiental............................................................................................................152.2.1 Gestão Ambiental, Conflito e Poder................................................................................182.4 Contextualização: Problemas ambientais no DF.............................................................14

3 METODOLOGIA..........................................................................................................243.1 Delineamento da Pesquisa...............................................................................................243.2 Definição da Área............................................................................................................253.3 População.........................................................................................................................253.4 Técnicas de Coleta de Dados...........................................................................................253.5 Procedimentos.................................................................................................................26

4 DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS...................................................................284.1 Situação Existente............................................................................................................284.2 Análise dos Dados...........................................................................................................36

5 CONCLUSÕES, PROPOSTAS E SUGESTÕES.......................................................52REFERÊNCIAS........................................................................................................................56APÊNDICE................................................................................................................................59

LISTA DE FIGURAS

Figura Página

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Figura 1 - Impactos Ambientais...............................................................................................13

Figura 2- Principais razões para a adoção de medidas gerenciais associadas à gestão ambiental........................................................................................................................18

Figura 3 - Fontes de Poder nas Organizações.........................................................................20

Figura 4 - Problemas Ambientais no DF.................................................................................22

Figura 5 - Entrevistados............................................................................................................26

Figura 6 - Espécies cultivadas no viveiro da Câmara dos Deputados..................................28

Figura 7 - Estudo quantitativo DEMED.................................................................................30

Figura 8 - Monitoramento dos Resíduos nos Prédios Administrativos da Câmara............38

Figura 9 - Resultados do EcoCâmara......................................................................................43

LISTA DE ABREVIATURAS

A3P – Programa Agenda Ambiental na Administração Pública

ASCADE – Associação dos Servidores da Câmara dos Deputados

CEFOR – Centro de Formação e Treinamento

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CEDI – Centro de Documentação e Informação

CMNUMAD – Conferência Mundial das Nações Unidas para o Meio Ambiente

e o Desenvolvimento

CNI – Confederação Nacional da indústria

CNUAH – Conferência das Nações Unidas sobre Ambiente Humano

CONAMA – Conselho Ambiental do Meio Ambiente

CORTRAP – Cooperativa de Reciclagem, Trabalho e Produção de Brasília

DEMED – Departamento Médico

DETEC – Departamento Técnico

GDF – Governo do Distrito Federal

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatítica

ISO – International Standards Organization

MMA – Ministério do Meio Ambiente

NGA – Núcleo de Gestão Ambienta

OEA – Organizaçãos dos Estados Americanos

ONGs – Organizações Não Governamentais

ONU – Organização das Nãçoes Unidas

PGRSS – Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde

PIB – Produto Interno Bruto

RSE – Responsabilidade Social Empresarial

1. INTRODUÇÃO

A amplitude dos problemas ecológicos hodiernos leva, necessariamente, a considerar a

ecologia e a proteção dos recursos naturais renováveis, o amparo à fauna e à flora, a defesa do

ambiente saudável, sob uma multiplicidade de enfoques. Nesse sentido, meio ambiente não é

mais uma questão que interessa apenas aos cientistas, aos biólogos, aos químicos, aos

botânicos, mas, com idêntico relevo e importância, passa a ser uma preocupação que adentra

ao âmbito do político-institucional, do econômico, do filosófico, do ético. O ambiente

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saudável é um dos direitos inalienáveis do Homem, e o empenho em proporcionar um

ambiente sadio coloca-se de forma inderrogável no campo da decisão política. (CARVALHO,

2001)

De fato, as questões ambientais envolvem a todos e por mais que as conseqüências das

irresponsabilidades ambientais sejam desiguais para as diferentes camadas da sociedade, o

motivo da crescente preocupação com a preservação do meio ambiente é simples e atinge toda

a população: lutar por uma melhor qualidade de vida e pela sobrevivência das gerações

futuras.

Com a evolução do quadro de contaminação do ar, da água e do solo em todo mundo e

pelo número crescente de desastres ambientais, não é difícil perceber o agravamento do

problema ambiental na Terra.

De acordo com Machado (2002), os governos são importantes agentes econômicos,

consumidores de bens e serviços e podem gerar, no exercício de suas funções e atividades,

significativos impactos ambientais. Sendo assim, a contribuição e o exemplo que as

instituições governamentais podem dar para que se promova a mudança dos atuais padrões de

consumo da sociedade e a adoção de processos de produção que não prejudiquem o meio

ambiente são relevantes e devem ser considerados.

A administração pública exerce um papel estratégico na promoção de mudança dos

padrões de consumo e de produção, sobretudo, no que se refere à inserção de critérios

ambientais em suas próprias atividades administrativas.

Este estudo tem por principal objetivo identificar as vantagens proporcionadas pelo

programa de gestão ambiental adotado por uma das principais e mais influentes entidades

governamentais do País: a Câmara dos Deputados, admitindo que a adoção de um sistema de

gestão ambiental implica em mudança de mentalidade de toda a instituição, desde os altos

escalões até os níveis inferiores da organização. Implica também em uma mudança na cultura

organizacional com a incorporação da variável ambiental na rotina dos funcionários,

colaboradores, pessoas que freqüentam e, por ser uma organização de grande influência

nacional, da sociedade como um todo.

Nessa linha, a Câmara dos Deputados criou o Núcleo de Gestão Ambiental -

EcoCâmara, objeto de estudo deste trabalho acadêmico, por acreditar na importância do

envolvimento das instituições públicas na realização de projetos ambientalmente corretos.

Convém ressaltar que o foco de observação deste estudo não está centrado em uma

organização empresarial que visa o lucro, mas sim em uma organização pública que deve

visar, acima de seus próprios interesses, os interesses e o bem-estar do cidadão. Assim,

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embora exista na administração pública uma busca pela otimização de custos e gastos, é de

grande importância a observação dos outros motivos que justifiquem a gestão ambiental, além

dos econômicos.

1.1 Caracterização da Organização

O Poder Legislativo cumpre papel essencial perante toda a sociedade do país, visto

que desempenha três funções primordiais para a consolidação da democracia: representar o

povo brasileiro, legislar sobre os assuntos de interesse nacional e fiscalizar a aplicação dos

recursos públicos.

Sendo assim, o Congresso Nacional tem como principais responsabilidades elaborar as

leis e proceder à fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial da

União e das entidades da Administração direta e indireta.

O sistema bicameral adotado pelo Brasil prevê a manifestação das duas Casas na

elaboração das normas jurídicas. Isto é, se uma matéria tem início na Câmara dos Deputados,

o Senado fará a sua revisão, e vice-versa, à exceção de matérias privativas de cada órgão. A

Câmara dos Deputados é a Casa em que tem início o trâmite da maioria das proposições

legislativas. Órgão de representação mais imediata do povo centraliza muito dos maiores

debates e decisões de importância nacional.

A Câmara dos Deputados é uma instituição governamental, com características muito

particulares, situada na Praça dos Três Poderes, e composta por cinco edifícios (Prédio

Principal, Anexo I, II, III e IV) onde se exerce variada gama de serviços. Conta ainda, com

outras áreas espalhadas por Brasília tais como: residências oficiais e um terreno no setor de

garagens norte da Esplanada dos Ministérios, onde se encontram edificadas a Coordenação de

Transportes, a Gráfica, posto de gasolina e um viveiro com plantas ornamentais e, em

edificação, o Centro de Ensino e Treinamento. Em outro terreno existente em uma Área de

Proteção Ambiental está localizada a antena repetidora da Rádio e TV Câmara.

As competências privativas da Câmara, conforme o art. 51 da Constituição Federal,

incluem: a autorização para instauração de processo contra o Presidente e o Vice-Presidente

da República e os Ministros de Estado; a tomada de contas do Presidente da República,

quando não apresentadas no prazo constitucional; a elaboração do Regimento Interno; a

disposição sobre organização, funcionamento, polícia, criação, transformação ou extinção dos

cargos, empregos e funções de seus serviços e a iniciativa de lei para a fixação da respectiva

remuneração, observados os parâmetros estabelecidos na Lei de Diretrizes Orçamentárias, e a

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eleição dos membros do Conselho da República. Nesse contexto, a Câmara dos Deputados,

autêntica representante do povo brasileiro, exerce atividades que viabilizam a realização dos

anseios da população, mediante discussão e aprovação de propostas referentes às áreas

econômicas e sociais, como educação, saúde, transporte, habitação, entre outras, sem

descuidar do correto emprego, pelos Poderes da União, dos recursos arrecadados da

população com o pagamento de tributos.

Assim, a instituição compõe-se de representantes de todos os Estados e do Distrito

Federal, o que resulta em um Parlamento com diversidade de idéias, revelando-se uma Casa

legislativa plural, a serviço da sociedade brasileira.

1.1.1 O EcoCâmara

São vários os programas institucionais promovidos pela Câmara dos Deputados. Esses

programas possuem o objetivo de aproximar o Poder Legislativo do cidadão; de exercer

práticas que contribuam para a redução da desigualdade social; de servir de referência e

marco para outros legislativos e parlamentos, a fim de garantir o exercício da democracia e de

melhorar o desempenho da organização em benefício da sociedade. Entre esses programas

está o EcoCâmara, objeto de estudo deste trabalho acadêmico.

As primeiras ações ambientais da Câmara dos Deputados ocorreram em 2002, com a

criação de um grupo de trabalho destinado a propor o gerenciamento de resíduos

recicláveis produzidos na Casa. Na evolução dessas ações, foi criado o Núcleo de Gestão

Ambiental (NGA) - EcoCâmara, em abril de 2003, com a missão de harmonizar ações da

Câmara com questões relacionadas ao meio ambiente, provendo-a de novos referenciais,

normas e atividades afins, e de internalizar fatores socioambientais à atuações administrativas.

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Dessa forma, a contribuição da Câmara segue as seguintes diretrizes:

A aprovação de leis capazes de alavancar os princípios do Desenvolvimento

Sustentável e suas audiências públicas;

A incorporação destes princípios em suas próprias atividades administrativas e

operacionais e influenciar seus pares a adotarem comportamentos semelhantes.

Missão, Visão, Valores

Missão: “Promover de forma integrada a gestão sócio-ambiental na Câmara dos

Deputados incentivando, orientando e consolidando as ações sustentáveis a fim de contribuir

para a preservação do meio ambiente”.

Visão: “Ser um pólo de excelência na promoção, articulação e multiplicação das ações

ambientais na esfera governamental.”

Valores:

Otimismo;

Ética;

Perseverança;

Coerência;

Comprometimento;

Solidariedade;

Cooperação;

Compromisso com as gerações presentes e futuras.

Características do Núcleo de Gestão Ambiental – EcoCâmara

A política ambiental da Câmara tende a defender e respeitar o meio ambiente nos

aspectos relacionados às suas atividades administrativas e às suas edificações; observar leis e

regulamentos ambientais aplicáveis às atividades da Câmara; implantar e manter

procedimentos de melhores práticas ambientais; gerir informações ambientais, disseminando-

as entre os servidores, visitantes e colaboradores. O Núcleo de Gestão Ambiental da Câmara

dos Deputados é constituído por uma equipe de servidores federais que, além de responder

pelas atividades do núcleo, é responsável pelas áreas temáticas do EcoCâmara.

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Política Ambiental

As questões de segurança, saúde e meio ambiente deverão se traduzir em um processo

com diretrizes únicas. Por esta razão a política ambiental está inserida dentro da política de

segurança, saúde e meio ambiente.

A política está baseada nos seguintes princípios:

Atender a legislação, normas e outros subscritos pela Câmara, como um processo de

atuação responsável, procurando se antecipar às tendências de regulamentações e

colaborar no seu aperfeiçoamento;

Garantir um processo de melhoria contínua, através do pronto atendimento aos

objetivos e metas voltadas à prevenção dos impactos ambientais e de todas as fontes

potenciais de riscos associadas às suas operações, serviços, produtos e locais de

trabalho;

Promover o senso de responsabilidade individual e gerencial com relação à proteção

ao meio ambiente, por meio da capacitação de seus colaboradores e da sensibilização

dos prestadores de serviços e fornecedores;

Ser pró-ativa na comunicação com as comunidades interna e externa, com relação às

suas preocupações sobre as atividades do EcoCâmara.

Aspectos Ambientais

Os impactos ambientais decorrentes da utilização de recursos naturais são tratados no

nível de definições dos projetos, quando das definições de engenharia com base na política da

instituição de buscar tecnologia de comprovada eficiência no aproveitamento destes recursos.

É de fundamental importância a correta identificação dos aspectos ambientais e seus

impactos, assim como a avaliação e ações decorrentes para sua redução ou eliminação.

Requisitos Legais

O monitoramento do atendimento à legislação ambiental ocorre com base no

atendimento evidenciado no aplicativo "atendimento à regulamentação" e no atendimento dos

planos de monitoramento e medição estabelecidos para avaliação da qualidade ambiental.

Esse apoio é fornecido pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA).

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Estrutura e Responsabilidade

O EcoCâmara é conduzido por um grupo de servidores de tempo compartilhado com

suas funções na Casa. Sua estrutura é multifuncional na estrutura organizacional da

Câmara dos Deputados.

O Núcleo de Gestão Ambiental - EcoCâmara é coordenado por um dos membros do

EcoCâmara. Os demais membros, além de exercerem a coordenação dos subgrupos,

são agentes multiplicadores nas diversas unidades. Os subgrupos são:

- Legislação Ambiental: para acompanhamento dos aspectos legais;

- Aquisições: para preparação dos pareceres referentes aos produtos “eco-

eficientes” que serão licitados pelo órgão competente;

- Lixos Diferenciados: para interação com as seções técnicas, no sentido de

adequar o ambiente, definir formas corretas de descarte e cumprir as

convenções ambientais;

- Social: para acompanhamento da execução das ações previstas nos

convênios com as instituições e as demais empresas associadas;

- Divulgação: para difusão de campanhas de esclarecimento, dando

publicidade das ações da EcoCâmara, planejamento e realização de eventos de

suporte, cursos, seminários, fóruns e pesquisas;

- Jardins e ISO 14001: para continuação e aprimoramento das técnicas

ecologicamente corretas usadas no manuseio e manutenção dos jardins e

capacitar a Câmara para o credenciamento do ISO 14001;

- Novas Tecnologias: pesquisa e aprimoramento das técnicas utilizadas na

Câmara dos Deputados;

- Qualidade: ISO 9001:2000 – gestão por qualidade, busca do aprimoramento

cosntante;

- Escritório Verde : implantação e manutenção do espaço destinado a sede do

EcoCâmara (que será o foco de disseminação das informações e vitrine do

trabalho desenvolvido e de permanentes exposições sobre o trabalho executado

com materiais recicláveis, reaproveitáveis).

Os multiplicadores, pessoas-chave no sistema, são escolhidos pelo seu interesse na

causa, perfil de líderes, comunicadores e nível de conhecimento técnico do sistema, incluindo

técnicas de disseminação e implementação de melhorias. Caberá a eles desenvolver as ações

necessárias à disseminação do sistema na sua área de representação. Devido ao grande

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potencial de multiplicadores, seria uma estratégia a mais se a Diretoria de Recursos Humanos

da Câmara colocasse tal item como avaliação do servidor, definindo este papel como

habilidade.

A implementação, manutenção e melhoria do sistema ocorre através da própria

estrutura, nos subgrupos e com base nas habilidades necessárias para que os colaboradores na

condução das atividades, dos seus processos de trabalho, incluam as questões ambientais

associadas.

Treinamento, Conscientização e Competência

No caso de servidores, as necessidades de treinamento e qualificação poderão ser

incluídas no planejamento do CEFOR (Centro de Formação e Treinamento) como

conhecimentos sobre o sistema de gestão ambiental e oficinas de reciclagem. Para os

terceirizados, estão sendo feito acordos de treinamento com as empresas que terceirizam a

mão-de-obra.

É necessário promover a sensibilização dos profissionais a nível estratégico da

organização, ou seja, os tomadores de decisão, os quais assumem a responsabilidade de

manter programas adequados e contínuos de conscientização para cada atividade/serviço da

instituição.

Áreas de Atuação do EcoCâmara

Para facilitar a implantação e o acompanhamento de suas atividades, o EcoCâmara

opta por conduzir projetos segmentados por áreas temáticas. Atualmente, o EcoCâmara

subdivide-se em dez áreas temáticas. São elas: 

Área Verde e Proteção à Fauna: ocupa-se  dos jardins internos e externos  da

Câmara dos Deputados  e das residências oficiais e de preservar a fauna existente nos

arredores do complexo arquitetônico da Casa. Em relação à atividade de paisagismo, 

incentiva o cultivo de espécies nativas, a eliminação de defensivos químicos, o uso racional e

o aproveitamento da  água  e  a prática da compostagem. Esta área também se preocupa em 

oferecer maior harmonia dos ambientes de trabalho, bem como  aproximar os funcionários às

áreas verdes urbanas. Visando a máxima economia, incentiva o cultivo de espécies nativas, o

uso racional e o aproveitamento da  água  e  a prática da compostagem. Desde a criação dessa

area temática, não se usam defensivos químicos nas áreas verdes da Câmara dos Deputados.

Um importante trabalho desenvolvido por essa equipe é a manutenção do viveiro de plantas

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da Casa, projeto que minimiza o disperdício de água e reduz os fatores que comprometem os

recursos hídricos disponíveis.

Coleta Seletiva e Responsabilidade Social: propõe-se a reduzir o desperdício, a

promover o reaproveitamento e a reciclagem dos materiais (papel e plástico, principalmente)

utilizados nas rotinas administrativas da Casa, de modo a beneficiar o meio ambiente e a

inclusão social dos catadores de lixo do Distrito Federal. Essa área de atuação do EcoCâmera

desenvolve o projeto de Coleta de Lixo no Anexo IV.

Gestão de Resíduos Perigosos: objetiva adequar a disposição final de resíduos

químicos e biológicos, gerados nas dependências da Câmara, às determinações dispostas em

lei. Ao inserir novos procedimentos de segregação e descarte nos setores de saúde, transporte

e engenharia  entre outros, a Casa está colaborando com a preservação ambiental  (do solo,

água e ar) e com a qualidade de vida no Planeta. Essa área é a responsável por um importante

trabalho desenvolvido na instituição: a Gestão de Resíduos no DEMED.

Comunicação Institucional: Uma importante ferramenta para a promoção da

mudança de comportamento é a difusão de informações. Sendo assim, essa área é responsável

pela interface do EcoCâmara com o público interno e externo, utilizando os meios de

comunicação disponíveis da Casa com o objetivo de: realizar  campanhas de esclarecimento e

publicidade das ações da EcoCâmara; planejar e realizar eventos sobre as questões

ambientais; e, disseminar as atividades do Núcleo de Gestão Ambiental via internet, por meio

da página: www.camara.gov.br/ecocamara.

Educação Ambiental: Para se alcançar o sucesso na implementação dos projetos

formulados pelo EcoCâmara, por meio das áreas de Coleta Seletiva, Gestão de Resíduos, Área

Verde e Água e Energia, é essencial sensibilizar os servidores para a reavaliação de hábitos e

rotinas. Com esse intuito, a área temática Educação Ambiental desenvolve cursos e

oficinas para informá-los sobre os impactos ambientais decorrentes do desempenho de suas

atividades e orientá-los a adotar um novo comportamento em favor do desenvolvimento

sustentável.

Arquitetura e Construção Sustentável: O foco principal dessa área é promover a

incorporação dos conceitos e dos princípios de sustentabilidade e responsabilidade sócio-

ambiental, nas atividades de elaboração dos novos projetos arquitetônicos ou nas reformas dos

prédios que constituem o complexo da Câmara dos Deputados.

Novas Tecnologias Hídricas e Energéticas: promove o uso eficiente de energia

elétrica e de água na instituição ao optar pela adoção de novas tecnologias e procedimentos.

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Para avaliar a eficácia das práticas inovadoras, a área acompanha por meio de monitoramento

o consumo de tais recursos e disponibiliza as informações e resultados alcançados.

Licitação Sustentável e Legislação Ambiental: acompanha as discussões em torno

das inovações nas leis ambientais e na lei de licitações, em especial, com o objetivo de

adaptar as rotinas administrativas da Casa às imposições legais, assim como inserir a questão

ambiental nos editais de compra e contratação de serviços, à luz do que já está acontecendo

em outras instituições públicas do País e do exterior.

Transporte Sustentável: possui a proposta de tornar a atividade de transporte de

cargas e passageiros da Câmara dos Deputados ecologicamente correta, na medida em que se

pretende fazer o uso eficiente de combustível para reduzir as emissões de carbono causadoras

do aquecimento global. Além disso, propõe-se a dar o destino correto aos resíduos e efluentes

perigosos decorrentes da atividade.

Gestão Sustentável de Papel: é a área temática mais recente do EcoCâmara, foi

criada com um importante objetivo: estudar as diversas formas de uso do papel nos diferentes

setores da Câmara e propor alternativas voltadas à redução e ao uso eficiente deste material.

1.2 Situação Problemática

Para Machado(2002), os governos são importantes agentes econômicos, consumidores

e podem gerar, no exercício de suas funções e atividades, significativos impactos ambientais.

A autora afirma que a contribuição e o exemplo que os governos podem dar para que se

promova a mudança dos atuais padrões de consumo da sociedade e a adoção de processos de

produção mais limpos pelo setor produtivo é relevante e não deve ser desprezado.

Em 2003, a Câmara dos Deputados criou o Núcleo de Gestão Ambiental com o intuito

de promover, de forma integrada, a gestão sócio-ambiental na Casa, incentivando, orientando

e, sobretudo, consolidando as ações sustentáveis a fim de contribuir para a preservação do

meio ambiente. Sua missão é a de harmonizar as ações da instituição, provendo-a de

referenciais, através da normatização e atividades afins.

A problemática ambiental hoje faz parte da pauta obrigatória da maior parte dos

encontros mundiais, isso ocorre devido ao agravamento do problema ambiental na Terra, com

a intensificação da industrialização e o conseqüente aumento da capacidade de intervenção do

homem na natureza. Essa situação é facilmente verificável pela evolução do quadro de

contaminação do ar, da água e do solo em todo o mundo e pelo número crescente de desastres

ambientais. (DIAS, 2006)

21

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A gestão ambiental torna-se uma preocupação crescente da maioria das organizações,

sejam públicas ou privadas, que não querem continuar fazendo o papel de vilãs da sociedade.

De acordo com Machado (2002, p.66):

Os governos têm papel estratégico no estabelecimento de novos referenciais e cabe a eles estabelecer as ‘regras do jogo’. Ou seja, fazer as leis, as normas, os padrões mais adequados etc. Enfim, estimular e normatizar inovações nas áreas sociais e tecnológicas em direção a uma condição mais ‘ambientalizada’. O governo tem a responsabilidade pela aplicação dos recursos públicos, o que lhe dá uma posição ora de grande consumidor, ora de grande empreendedor. Dependendo da forma como são aplicados esses recursos, podem resultar externalidades positivas ou negativas sobre o meio ambiente. Fica, assim, visível o nível de responsabilidade e comprometimento que o próprio governo tem para com o desenvolvimento sustentável e para com a promoção da mudança dos atuais padrões de consumo e de produção de bens e de serviços.

Nesta linha, o problema da pesquisa é: Quais são as vantagens que as entidades

governamentais passam a ter após a implantação de um programa institucional de gestão

ambiental?

1.3 Objetivos

1.3.1 Objetivo Geral

Identificar as vantagens que as entidades governamentais obtêm com a adoção de um

programa de gestão ambiental, em especial a Câmara dos Deputados.

1.3.2 Objetivos Específicos

- Traçar um breve histórico sobre a preocupação da sociedade com o meio ambiente e

a importância de sua preservação nos dias atuais;

- Apresentar, contextualizar e conhecer os objetivos e resultados já alcançados pelo

Programa de Gestão Ambiental da Câmara dos Deputados - EcoCâmara;

- Identificar os ganhos da Câmara dos Deputados na implantação de políticas sócio-

ambientais.

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Page 23: Junia Maria Z Falqueto Gestao Ambiental Na Adm Publica UnB 2007 EcoCamarara

1.4 Justificativa do Estudo

Transformações significativas no ambiente competitivo, correntes nas últimas décadas,

têm pressionado as entidades governamentais a considerar, com empenho e comprometimento

cada vez maiores, o impacto de suas operações sobre o meio ambiente, tanto em uma

perspectiva atual como futura.

As razões para isso são diversas: em primeiro lugar, consumidores, cada vez mais

conscientes das limitações de recursos oriundos do ambiente natural e da necessidade de um

desenvolvimento sustentável, passaram a exigir um comportamento ambientalmente correto

das organizações, exercendo uma forte e crescente pressão sobre empresários e governantes.

(MACHADO, 2002)

Essa consciência da importância de se lutar pela preservação do meio ambiente advém

da constatação do desequilíbrio ecológico provocado pelo homem na natureza.

Embora as ações ambientais realizadas pelas entidades governamentais não sejam

suficientes, os esforços e os avanços da política governamental se tornam referências e

modelos para a adoção de patamares e padrões de excelência ambiental. É necessário,

portanto, admitir o papel estratégico que o governo possui como indutor de mudanças. (DIAS,

2006).

A adoção de critérios ambientais pela administração pública objetiva reduzir os

impactos ambientais de suas ações, projetos, programas e também contribuir para a mudança

de comportamento da sociedade rumo à sustentabilidade sócio-ambiental.(AGENDA

AMBIENTAL NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA -A3P,2007)

Apesar das discussões em torno dos problemas e necessidades ambientais estarem

cada vez mais evidentes nas organizações, a quantidade ainda pequena de estudos que

relacionem a gestão ambiental com os interesses governamentais torna o estudo proposto por

este trabalho acadêmico relevante.

Com relação ao nível de importância para a organização em questão, a Câmara dos

Deputados, por se tratar de uma instituição com reconhecimento nacional e alvo de pesquisas

em diversas áreas de investigação, exerce um papel chave como modelo para outras

organizações que atuam tanto no setor privado como público do País. Manter uma imagem

positiva enquanto uma instituição ambientalmente responsável fortalece a credibilidade da

Casa, tanto para a opinião pública quanto para seus próprios funcionários. Além disso, a

preocupação com a gestão ambiental dentro da instituição tem aumentado substancialmente e

estudos dessa natureza vêm a acrescentar na divulgação e conhecimento das práticas adotadas.

23

Page 24: Junia Maria Z Falqueto Gestao Ambiental Na Adm Publica UnB 2007 EcoCamarara

2. REVISÃO DA LITERATURA

O que acontecer com a terra acontecerá com os filhos da terra. O homem não teceu a teia da vida, ele é apenas um fio. O que ele fizer à teia estará fazendo a si mesmo (Tedd Perry)

2.1 Meio Ambiente

A exaustão das reservas naturais e seus impactos sobre a terra vêm, gradativamente,

firmando a consciência acerca da necessidade da realização de ações que levem efetivamente

ao resgate de um meio ambiente saudável, que promova e não destrua a vida. Decorre daí o

conceito de desenvolvimento sustentável, que de acordo com sua definição é “aquele que

atende as necessidades do presente sem comprometer as possibilidades de as gerações futuras

atenderem suas próprias necessidades”. Esse conceito propõe um novo modelo no qual

desenvolvimento e civilização não se constituam em devastação de florestas, poluição dos

rios, envenenamento da terra, deterioração da qualidade do ar e, principalmente, progresso

não signifique degradação deliberada e sistemática da natureza. (QUALY SISTEMA DE

GESTÃO AMBIENTAL,2003)

De acordo com Bragga e Gobetti (1997), ao se observar o quadro ambiental, é possível

identificar poluição de todos os tipos, relacionados principalmente à insensibilidade industrial

e à inoperância do poder público para com o meio ambiente que, associadas ao desprezo com

a questão ambiental, fazem com que problemas ambientais como a poluição dos recursos

hídricos, os desmatamentos, queimadas, contaminação do solo entre outros, sejam tratados em

segundo plano. E, assim, a natureza se torna indefesa, vítima do progresso econômico e

industrial da humanidade.

O impacto ambiental pode ser definido como a modificação do meio ambiente causada

pela ação do homem. De acordo com a resolução do Conselho Ambiental do Meio Ambiente

(CONAMA), considera-se impacto ambiental: “Qualquer alteração das propriedades físicas,

químicas e biológicas do meio ambiente, causadas por qualquer forma de matéria ou energia

resultante das atividades humanas, que direta ou indiretamente afetam:”

A saúde, a segurança e o bem-estar da população;

As atividades sociais e econômicas;

A biota;

As condições estéticas e sanitárias do meio ambiente;

A qualidade dos recursos naturais.

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Fonte: Agenda Ambiental na Administração Pública (2007, p. 29).Figura 1 Impactos Ambientais

Para Bollman (2001), a ação antrópica sobre o meio ambiente não é um fenômeno a

ser entendido apenas do ponto de vista ambiental, pois se trata de uma relação complexa,

orientada por demandas individuais e coletivas, que se fundamentam em aspectos

psicológicos, culturais e sociais, e cujos reflexos são observados no modo como são

explorados os elementos da matriz de recursos naturais disponíveis.

“O poder público deve interferir para garantir maiores níveis de sustentabilidade das

atividades econômicas e de produção, levando a sociedade a refletir e adotar novos valores e

hábitos.” (Agenda Ambiental na Administração Pública -A3P;2007,p.06)

2.1.1 Evolução da Questão Ambiental

A Conferência sobre Biosfera em Paris, em 1968, mesmo sendo uma reunião de

especialistas em ciências, marcou o despertar de uma consciência ambiental mundial, assim

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como a primeira Conferência das Nações Unidas sobre meio ambiente, realizada em

Estocolmo em junho de 1972, veio colocar a questão ambiental nas agendas oficiais

internacionais. Foi a primeira vez que representantes de governos se uniram para discutir a

necessidade de tomar medidas efetivas de controle dos fatores que causam degradação

ambiental. (BARBOZA,2000)

Outro marco internacional das discussões sobre os problemas ambientais globais foi a

Conferência das Nações Unidas sobre Ambiente Humano (CNUH) realizada em Estocolmo,

em 1972, pois focaliza, de forma integrada, as questões ambientais, econômicas e sociais,

inserindo-as no cenário político mundial. Buscou convergir a atenção e os interesses dos

governos do Norte e do Sul e da opinião pública, propondo acordos e cooperações técnicas

entre as Nações, comprometendo-as com a promoção da integridade do meio ambiente e a

melhoria das condições de vida dos povos mais pobres. (MACHADO,2002)

De acordo com Barboza (2000), a Comissão Mundial de Meio Ambiente e

Desenvolvimento (Comissão Brundland), em seu histórico relatório de 1987, intitulado Nosso

Futuro Comum, realçou a importância da proteção do ambiente na realização do

desenvolvimento sustentável, ou seja, utilizar os recursos naturais disponíveis hoje de forma

racional, sem prejuízo às futuras gerações.

Em 1992, vinte anos depois da CNUAH de Estocolmo, o Rio de Janeiro foi sede de

uma conferência de igual magnitude, a Conferência Mundial das Nações Unidas para o Meio

Ambiente e o Desenvolvimento (CMNUMAD). Essa conferência caracterizou-se por gerar

documentos mais sistematizados e prescritivos para o desenvolvimento sustentável, focados,

sobretudo, na atuação dos governos.

Na CMNUMAD foi criada então, juntamente com outros quatro documentos de

enfoque preservacionista, uma agenda para o desenvolvimento sustentável, denominada

Agenda 21, documento assinado por cerca de 170 países, entre eles o Brasil.

A Agenda 21 traz nos seus capítulos grande amplitude em temas ligados ao

desenvolvimento sócio-econômico: pobreza, minorias, ambiente, tecnologia e indústria.

Caracteriza-se, também, por poder ser aplicada nas esferas municipal, estadual, regional,

nacional e global. O conceito básico da Agenda 21 é a participação de todas as partes, visando

o desenvolvimento do todo. Sua estratégia pode ser resumida pelo lema: “Agir local, pensar

global”. (SILVA FILHO, 2000)

Segundo Branco (apud MACHADO, 2002, p.17), com a adoção da Agenda 21,

almeja-se que o planejamento estratégico tome novos rumos, orientado à integração da

sociedade e instituições públicas, que juntos aliariam esforços para alcançar um resultado

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desempenhado em conjunto que implique na melhoria da qualidade de vida do País e na

continuidade do desenvolvimento econômico (constituído sobre novas bases), sem a

continuidade da degradação ambiental.

A agenda 21 deixa claro que o desenvolvimento sustentável só acontecerá se for planejado de modo explícito. Rejeita firmemente a noção de que as forças de mercado ou fenômenos semelhantes possam resolver os sérios problemas de integração das questões ambientais, econômicas e sociais.(...) Seu objetivo principal é, portanto, a formulação e implementação de políticas públicas, por meio de uma metodologia participativa, que produza um plano de ação para o alcance de um cenário de futuro desejável pela comunidade local e, que leve em consideração a análise das vulnerabilidades e potencialidades de sua base econômica, social, cultural e ambiental. (CONSTRUINDO A AGENDA 21 LOCAL: MMA, 2000, p.24)

Para Carvalho (2001), a Conferência Mundial das Nações Unidas para o Meio

Ambiente e o Desenvolvimento foi a mais importante e ambiciosa negociação multinacional

jamais realizada na história da humanidade por tratar de assuntos tão complexos quanto

abrangentes, debatendo uma variada gama temática.

Uma abordagem multidisciplinar fez-se presente, assentada nos pilares da

biodiversidade e das mudanças climáticas: a atmosfera, os recursos da terra, a agricultura

sustentável, a desertificação, as florestas, a biotecnologia, os oceanos, o meio ambiente

marinho, a água potável, os resíduos tóxicos, os dejetos perigosos, o desenvolvimento

sustentável, a transferência de tecnologia, os recursos financeiros, a educação ambiental, a

saúde ambiental, as questões legais e as mudanças internacionais.

Dias (2006) constrói uma síntese clara referente à evolução da preocupação ambiental

a partir da segunda metade do século XX:

A conscientização ambiental ao longo da segunda metade do século XX ocorreu paralelamente ao aumento das denúncias sobre os problemas de contaminação do meio ambiente. O processo desencadeado gerou um grande número de normas e regulamentos internacionais que foram reproduzidos nos Estados nacionais e , ao mesmo tempo, surgiram inúmeros órgãos responsáveis para acompanhar a aplicação desses instrumentos legais.(...) Essa nova realidade implica numa radical mudança de atitude por parte das organizações do setor privado e público da economia, que têm cada vez mais de levar em conta a opinião pública quando se trata de questões ambientais. (DIAS, 2006, p.29)

2.2 Gestão Ambiental

De acordo com Reinaldo Dias (2006), a gestão ambiental é o principal instrumento

para se obter um desenvolvimento sustentável. O processo de gestão ambiental está

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profundamente vinculado a normas que são elaboradas pelas instituições públicas (prefeituras,

governos estaduais e federal) sobre o meio ambiente.

Gestão Ambiental é a forma pela qual a organização se mobiliza, interna e

externamente, para a conquista da qualidade ambiental desejada. Inclui uma série de

atividades que devem ser administradas, tais como: formular estratégias de administração do

meio ambiente, assegurar que a empresa esteja em conformidade com as leis ambientais,

implementar programa de prevenção à poluição, gerir instrumentos de correção de danos ao

meio ambiente, adequar os produtos às especificações ecológicas, além de monitorar o

programa ambiental da empresa. É o que a empresa faz para minimizar ou eliminar os efeitos

negativos provocados no ambiente pelas suas atividades (KRAEMER, 2003).

O nível de competitividade de uma empresa depende de um conjunto de fatores, variados e complexos, que se inter-relacionam e são mutuamente dependentes. (...) Ocorre que nos últimos anos a gestão ambiental tem adquirido cada vez mais uma posição destacada, em termos de competitividade, devido aos benefícios que traz ao processo produtivo como um todo e alguns fatores em particular que são potencializados. (DIAS,2006, p.52)

O autor supracitado ainda aponta as principais vantagens competitivas da gestão

ambiental como sendo:

Com o cumprimento das exigências, há melhora no desempenho ambiental de uma

empresa, abrindo-se a possibilidade de maior inserção num mercado cada vez mais

exigente em temos ecológicos, com a melhoria da imagem junto aos clientes e a

comunidade;

Adotando um design do produto com as exigências ambientais, é possível torná-lo

mais flexível do ponto de vista de instalação e operação, com um custo menor e uma

vida útil maior;

Com redução do consumo de recursos energéticos, ocorre a melhoria na gestão

ambiental, com a conseqüente redução nos custos de produção;

Ao se reduzir ao mínimo a quantidade de material utilizado por produto, há redução

dos custos de matéria-prima e do consumo de recursos;

Quando se utilizam materiais renováveis, empregando-se menos energia pela

facilidade de reciclagem, melhora-se a imagem da organização;

Com a organização das técnicas de produção, pode ocorrer melhoria na capacidade de

inovação da empresa, redução das etapas de processo produtivo, acelerando o tempo

de entrega do produto e minimizando o impacto ambiental do processo;

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Com a otimização do uso do espaço nos meios de transportes, há redução nesse tipo de

gasto com conseqüente diminuição do consumo de combustível, o que diminui a

quantidade de gases nomeio ambiente.

Segundo Reis (1995), o objetivo maior da gestão ambiental deve ser a busca

permanente de melhoria da qualidade ambiental dos serviços, produtos e ambiente de trabalho

de qualquer organização pública ou privada.

A busca permanente da qualidade ambiental é, portanto, um processo de

aprimoramento constante do sistema de gestão ambiental global de acordo com a política

ambiental estabelecida pela organização.

Há também objetivos específicos da gestão ambiental, que são definidos segundo a

norma brasileira – NBR ISO 14.000. Os certificados de gestão ambiental da série ISO 14000

atestam a responsabilidade ambiental no desenvolvimento das atividades de uma organização,

possuem como intuito a padronização dos processos de empresas que utilizassem recursos

tirados da natureza ou causassem algum dano ambiental decorrente de suas atividades.

Além dos objetivos oriundos da norma ISO, em complemento, na prática, observam-se

outros objetivos que também podem ser alcançados através da gestão ambiental, a saber:

Gerir as tarefas da empresa no que diz respeito a políticas, diretrizes e

programas relacionados ao meio ambiente e externo da companhia;

Manter, em geral, em conjunto com a área de segurança do trabalho, a saúde dos

trabalhadores;

Produzir, com a colaboração de toda a cúpula dirigente e os trabalhadores,

produtos ou serviços ambientalmente compatíveis;

Colaborar com setores econômicos, a comunidade e com os órgãos ambientais

para que sejam desenvolvidos e adotados processos produtivos que evitem ou

minimizem agressões ao meio ambiente.

A pesquisa “Sondagem Especial sobre Meio Ambiente’, publicado em 2004 pela CNI

(Confederação Nacional da Indústria), menciona as principais razões para a adoção de

procedimentos de gestão ambiental nas indústrias brasileiras, baseando-se em dados coletados

junto a 1.007 pequenas e médias e 211 grandes empresas.

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Fonte: CNI (2004) Figura 2 Principais razões para a adoção de medidas gerenciais associadas à gestão

ambiental

2.2.1 Gestão Ambiental, Conflito e Poder

A Gestão Ambiental, assim como outras áreas que envolvam gerenciamento e

planejamento, tende a pecar na formulação de modelos para interpretação, análise e aplicação

quando esquece alguns aspectos relevantes da organização. No caso da Gestão Ambiental, a

abordagem de conflito e poder é muito útil na análise final de como gerenciar questões

ambientais. (SILVA FILHO, 2000)

Assim, uma breve revisão desta abordagem ajudará a compreender, sobretudo, as

barreiras entre a posição teórica proposta e a efetivação na prática de um sistema de gestão

ambiental.

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Page 31: Junia Maria Z Falqueto Gestao Ambiental Na Adm Publica UnB 2007 EcoCamarara

Conflitos e poder

Um dos livros básicos para a compreensão das organizações, Imagens da Organização,

de Gareth Morgan (1996), aborda com clareza as questões de interesses, conflitos e poder nas

organizações. Nessa abordagem o autor emprega a metáfora da organização como sistema de

governo ou sistema político.

A visão de uma organização como um sistema de atividade política é facilmente

constatada partindo-se da idéia de que pessoas pensam diferente e querem agir diferente,

criando tensões a serem resolvidas por meio político.

Em uma instituição governamental, que tem como base de sua política organizacional

o ideário de um partido político, é possível levar-se a crer que os interesses pessoais

divergentes estejam sempre balizados pelos interesses definido pelo partido. No entanto, com

uma breve análise, em qualquer partido político é possível identificar coalizões em busca de

objetivos ou metas um pouco divergentes de outras coalizões. (MORGAN, 1996)

Na questão ambiental, tais diferenças entre coalizões são ainda mais destacadas.

Embora exista uma tendência racional de unanimidade da importância ambiental, cada

indivíduo (ou coalizão) tende a ter uma visão bem específica da relação entre o homem e o

meio ambiente. (SILVA FILHO, 2000)

Alguns autores costumam classificar essas diferentes posições básicas em relação ao

ambiente. A diversidade de possibilidades pode ser caracterizada por dois trabalhos. Os

pesquisadores de organizações Egry & Pinfield (apud SILVA FILHO 2000, p.25) apresentam

uma tipologia com três visões de mundo:

- Ambientalismo radical,

- Ambientalismo renovado;

- Paradigma social dominante.

Ainda segundo Egry & Pinfield (apud SILVA FILHO, 2000, p.26) essa tipologia

caracteriza-se por apresentar o meio ambiente sob uma perspectiva extremista. Em um

extremo temos o meio ambiente como o ideário e no outro extremo o antropocentrismo

aderido aos “princípios e objetivos econômicos neoclássicos” (crescimento econômico e

lucro), com os fatores naturais tratados como externalidades ou como recursos exploráveis

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infinitamente. Nesse último extremo não são levadas em conta a humanidade, nem na

questão temporal, nem nas conseqüências das externalidades.

A tendência de percepções diferentes enquadradas neste continuum faz com que somente dentro de um partido pequeno possa existir uma única visão específica sobre o meio ambiente. E mesmo num partido pequeno só há uma visão coesa sobre o meio ambiente quando o cerne é o próprio meio ambiente. (SILVA FILHO, 2000,p.26)

Talvez este seja o caso do Partido Verde brasileiro, onde o ambientalismo radical é

evidente.

Fonte: Morgan, 1996, p.164. Figura 3 Fontes de Poder nas Organizações

O quadro analítico acima, proposto por Morgan, é bem amplo e abrangente, elencando

muitas fontes de poder aplicáveis a uma organização do setor público.

De acordo com Silva Filho (2000), na questão ambiental, vários pontos de poder acabam

por definir a linha de convergência para solução dos conflitos. Com várias áreas e órgãos da

administração pública participando na definição de uma Gestão Ambiental, fatores como a

visão ambiental da autoridade formal ou de grupos com capacidade de melhores alianças

interpessoais são extremamente relevantes.

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2.3 Responsabilidade Social

Um dos aspectos mais visíveis do movimento gerado em torno da questão ambiental é

a responsabilidade social tanto de indivíduos quanto de organizações, sejam elas do setor

privado, sejam do setor público, sejam do terceiro setor.

A responsabilidade social em questões ambientais tem-se traduzido em adoção de

práticas que extrapolam os deveres básicos tanto do cidadão quanto das organizações.

Constituem-se, em sua maioria, em ações voluntárias que implicam um comprometimento

maior que a simples adesão de obrigações advindas da legislação. (DIAS, 2006)

Há muitas definições de Responsabilidade Social Empresarial (RSE). De acordo com

Toldo (2002):

São estratégias pensadas para orientar as ações das empresas em consonância com as necessidades sociais, de modo que a empresa garanta, além do lucro e da satisfação de seus clientes, o bem estar da sociedade. A empresa está inserida nela e seus negócios dependerão de seu desenvolvimento e, portanto, esse envolvimento deverá ser duradouro. É um comprometimento. (TOLDO, 2002, p. 84)

Dias (2006) faz uma importante observação ao afirmar que a responsabilidade social

ambiental está contida na responsabilidade social empresarial e deve ser entendida como parte

integrante desta, nunca de maneira isolada.

O papel das organizações esta mudando, ainda que lentamente, mas com rumo definido para uma responsabilidade social, inserindo-se com mais um agente de transformação e de desenvolvimento nas comunidades; participando ativamente dos processos sociais e ecológicos que estão no seu entorno e procurando obter legitimidade social pelo exemplo, e não mais unicamente pela sua capacidade de produzir. Ao seu papel econômico que continua fundamental, agrega-se outro que assume conscientemente, de assumir maior responsabilidade social, onde se inclui a perspectiva ambiental. (DIAS, 2006, p. 161)

2.4 Contextualização: Problemas Ambientais do Distrito Federal

O Distrito Federal já é a oitava economia brasileira, à frente de estados

economicamente fortes, como Pernambuco, Espírito Santo, Goiás, Ceará, Pará, Mato Grosso e

Mato Grosso do Sul. É o que mostra a última pesquisa sobre Produto Interno Bruto (PIB),

realizada por técnicos da Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Distrito Federal, em

conjunto com o IBGE.

       O PIB do Distrito Federal (DF) registrou crescimento expressivo no período de 1994 a

2001, passando de R$ 6,7 bilhões para R$ 30 bilhões, com participação de 2,7% na economia

nacional. O que mais contribuiu para esse crescimento, segundo a pesquisa, foi a ampliação

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da rede bancária, o aumento da produção agropecuária e o surgimento de novas empresas no

DF, graças aos programas de incentivo implantados nos últimos anos.

De acordo com o relatório mais recente de Gestão Ambiental Estratégica, o Distrito

Federal possui aproximadamente 43% do seu território protegido por Unidades de

Conservação. Apesar desse percentual, sofre com intensa ocupação urbana irregular e

descontrolada, representada por condomínios e parcelamentos rurais para chácaras de recreio.

Além dessa ocupação, destacam-se as atividades irregulares de mineração, responsáveis,

juntamente com o parcelamento irregular do solo, pelo assoreamento dos cursos d’água e, em

especial, do Lago Paranoá.

Fonte: PNMA- Diagnóstico da Gestão Ambiental no Brasil – Distrito Federal, 2001Figura 4 Problemas Ambientais no DF

As áreas mais críticas são as Áreas de Proteção Ambiental (APA) do Paranoá, do São

Bartolomeu, do Descoberto e do Cafuringa, que abrigam a maior parte dos condomínios e

parcelamentos irregulares do solo existente.

A situação dessas áreas é muito sensível, exigindo do poder público uma atuação

constante por meio da fiscalização articulada entre os diversos órgãos do GDF sob a

coordenação da Secretaria de Estado de Fiscalização das Atividades Urbanas, responsável

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pela retirada de invasões e coibição de parcelamentos irregulares do solo e da extração

clandestina de minerais - areia, argila, cascalho, entre outros. Além da fiscalização integrada,

o GDF atua no controle dessas atividades e empreendimentos por meio do licenciamento

ambiental e do processo de regularização dos condomínios já implantados.

O monitoramento ambiental dessas áreas envolve um grande número de órgãos do

GDF, especialmente no controle sistemático do uso e ocupação do solo, evitando o

surgimento de novos parcelamentos irregulares, controlando o desenvolvimento de atividades

de mineração e identificando áreas degradadas que mereçam a implantação de projetos

específicos de recuperação ambiental.

Com essa contextualização conclui-se o referencial teórico a ser utilizado para a

pesquisa. Tendo então a Gestão Ambiental da Câmara dos Deputados como objeto da

pesquisa, parte-se para a verificação da metodologia para conduzi-la.

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3. METODOLOGIA

3.1 Delineamento da Pesquisa

Para Gil (2002), pode-se definir pesquisa como o procedimento racional e sistemático

que tem como objetivo proporcionar respostas aos problemas que são propostos. A pesquisa é

desenvolvida mediante o concurso dos conhecimentos disponíveis e a utilização cuidadosa de

métodos, técnicas e outros procedimentos científicos.

A pesquisa realizada neste trabalho caracteriza-se, segundo as tipologias adotadas por

Roesch (2006), como avaliação de resultados, pois visa, em primeiro plano, julgar a

efetividade do programa de gestão ambiental desenvolvido pela Câmara dos Deputados.

A estratégia de pesquisa utilizada é o estudo de caso. Segundo Yin (1981), o estudo de

caso é uma estratégia de pesquisa que busca examinar um fenômeno contemporâneo dentro

do seu contexto. Difere, pois dos delineamentos experimentais no sentido de que estes

divorciam o fenômeno em estudo de seu contexto.

“Alguns aspectos caracterizam o estudo de caso como estratégia de pesquisa: permite

o estudo de fenômenos em profundidade dentro do seu contexto, é especialmente adequado ao

estudo de processos e explora fenômenos com base em vários ângulos.” (ROESCH, 2006,

p.201)

Em relação aos seus objetivos, a pesquisa é classificada como descritiva, pois visa

identificar as vantagens que a adoção de políticas ambientais proporciona para a Câmara dos

Deputados, por meio da descrição, caracterização e análise de processos e resultados

utilizando, sobretudo, dados qualitativos. Miles e Huberman (apud ROESCH, 2006, p.267)

consideram que estudos descritivos visam relatar os acontecimentos e explicar como os

eventos ocorrem, o pesquisador deve coletar as informações, analisá-la e apresentá-la num

contexto lógico que atenda aos objetivos do estudo. Para isso, foram realizadas pesquisa

bibliográfica, documental e de campo. Bibliográfica porque abrange a leitura e interpretação

de livros, artigos e dissertações sobre assuntos relacionados ao tema, como meio ambiente,

gestão ambiental e políticas públicas. A investigação foi também documental, pois parte

expressiva deste estudo baseia-se em documentos internos da Câmara dos Deputados. Além

disso, a coleta de dados primários, por meio das entrevistas em profundidade, caracteriza a

pesquisa de campo realizada.

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3.2 Definição da Área

O estudo realizado por este trabalho acadêmico está concentrado no Núcleo de Gestão

Ambiental (NGA) – EcoCâmara, ou seja, na unidade administrativa responsável pelos

programas de gestão ambiental desenvolvidos pela Casa.

Responsável por conduzir as atividades do Núcleo de Gestão Ambiental, o Comitê

Gestor é vinculado à Diretoria-Geral, por intermédio de sua Assessoria de Projetos

Especiais.  É constituído por servidores da Câmara dos Deputados, que respondem pela

coordenação das áreas temáticas ou por assessoramento.

3.3 População

A população desta pesquisa está concentrada no nível estratégico do Núcleo de Gestão

Ambiental (NGA), ou seja, a pesquisa de campo foi realizada com gestores que participam ou

já participaram da tomada de decisão do EcoCâmara.

A alta administração tem a responsabilidade de explicitar de forma clara os propósitos e garantir o foco nas necessidades. Em seguida, ajudar a estabelecer os processos necessários para concretizar esses objetivos. A natureza do trabalho da alta administração envolve a definição da visão ou do rumo do negócio, assim como a filosofia e os valores da empresa. (FERRO, 2007)

O objetivo de limitar a população desta pesquisa à alta administração do programa foi

ter acesso às diretrizes globais e as iniciativas estratégicas do programa.

3.4 Técnicas de Coleta de Dados

Os dados foram coletados a partir de:

Pesquisa bibliográfica em artigos científicos, dissertações, teses, internet e livros que

contenham informações pertinentes ao tema. Para Gil (2002), a pesquisa bibliográfica dá

suporte a todas as fases de qualquer tipo de pesquisa, uma vez que auxilia na definição do

problema, na determinação dos objetivos, na construção de hipóteses, na fundamentação da

justificativa da escolha do tema e na elaboração do relatório final.

Pesquisa documental em materiais cedidos pela instituição, como: materiais de

palestras e seminários, relatórios internos e também no site da instituição. Foster (apud

ROESCH, 2006, p.166) argumenta que a análise de documentos permite o entendimento de

situações; permite conceituar a organização com base em uma visão de dentro, em contraste

com métodos que partem de uma visão de fora, em que o pesquisador se distancia da

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realidade pesquisada e utiliza instrumentos estruturados em conceitos externos (teóricos). O

mesmo autor afirma que é comum a utilização desta técnica de coleta de dados como

complemento de outros métodos de coleta de dados.

Pesquisa de campo, com entrevistas em profundidade com coordenadores do programa

e outros funcionários diretamente envolvidos com o EcoCâmara aberta. Roesh(2006)

considera que entrevista em profundidade é a técnica fundamental da pesquisa qualitativa,

opção adotada neste trabalho.

Observação participante aberta, com visitas à instituição e observação da rotina do

NGA. É importante ressaltar que a observação participante de forma aberta caracteriza-se

muito mais como um envolvimento interrompido, uma vez que combina observação com

entrevistas. (ROESCH, 2006)

3.5 Procedimentos

Com a finalidade de se obter informações precisas sobre o EcoCâmara, foram

realizadas seis entrevistas em profundidade, previamente estruturadas, com funcionários

envolvidos com a gestão ambiental da Câmara dos Deputados. As entrevistas duraram, em

média, 40 minutos. Como a intenção era entrevistar pessoas ligadas ao nível estratégico do

NGA, assim como averiguar diferentes pontos de vista, foram escolhidos para as entrevistas

funcionários que além de participarem da alta cúpula do programa trabalhassem em setores

diferentes na Casa, ou seja, cada entrevistado atua em um departamento diferente na entidade.

A tabela abaixo apresenta os nomes e os cargos dos coordenadores entrevistados:

Nome Cargo

Rômulo Lima Câmara Diretor da Coordenação de Administração de Edifícios

Déborah da Silva Achcar Chefe da Coordenação de Comunicação Institucional

Jacimara Guerra Machado Coordenadora Técnica do EcoCâmara

Cássia Regina Botelho Chefe da Assessoria de Projetos Especiais

Mauro de Deus Técnico Legislativo de Centro de Documentação e Informação

Rachel Osório Chefe da Sessão de Manutenção de Jardins

Fonte: Dados da PesquisaFigura 5 Entrevistados

As entrevistas foram feitas na própria organização, na sala do entrevistado. Todas as

perguntas foram abertas, pois esse método evita a influência do pesquisador sobre as

respostas. (ROESCH,2006)

38

Page 39: Junia Maria Z Falqueto Gestao Ambiental Na Adm Publica UnB 2007 EcoCamarara

Os dados coletados foram gravados e transcritos pelo pesquisador.

Miles e Huberman (apud ROESCH, p.265) consideram três fluxos de atividade no

processo de análise:

1. Redução de dados

2. Apresentação dos dados

3. Extração de conclusões e verificações

Os dados coletados e apresentados neste estudo foram organizados, comprimidos e

montados de forma a permitir extrair conclusões observandos sempre a qualidade e

veracidade das informações. Alguns dados foram transcritos na forma de tabelas a fim de se

obter uma melhor visualização.

A observação participante aberta permitiu a análise dos processos diários que

acontecem no Núcleo de Gestão Ambiental - NGA. Esse tipo de observação ocorre, de acordo

com Roesch (2006), quando o pesquisador tem a permissão para realizar sua pesquisa na

organização e todos sabem a respeito do seu trabalho. Essa estratégia de coleta de dados

permite a participação do observador no ambiente de trabalho pesquisado.

Foram utilizados gráficos, tabelas e estatísticas na análise dos resultados alcançados

pelo programa nos seus quatro anos de gestão. Esses dados, em sua maioria, foram obtidos

através da pesquisa documental em relatórios internos da entidade, em materiais de palestras e

treinamentos e no site do programa. A utilização de dados quantitativos, coletados e

publicados pelo NGA, foi de grande importância para a na avaliação conclusiva deste estudo.

As maiores dificuldades encontradas na pesquisa foram relacionadas à coleta de dados,

especialmente, às entrevistas em profundidade, dada, principalmente, a dificuldade de agendar

um horário. Algumas entrevistas foram desmarcadas, canceladas ou sofreram interrupções.

Tais problemas comprometeram o cronograma inicial do trabalho, entretanto, não interferiram

na qualidade e na análise das informações coletadas.

39

Page 40: Junia Maria Z Falqueto Gestao Ambiental Na Adm Publica UnB 2007 EcoCamarara

4. DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

Os dados apresentados neste estudo foram obtidos através de três diferentes técnicas

de coleta: entrevista em profundidade (pesquisa de campo), pesquisa documental e

observação participante aberta, conforme descrito no capítulo referente a metodologia.

4.1 Situação existente: Principais Projetos do EcoCâmara

Os dados relatados neste tópico apresentam e contextualizam, conforme previsto nos

objetivos específicos deste estudo, os objetivos e resultados já alcançados pelo Núcleo de

Gestão Ambiental – EcoCâmara.

São apresentados os dados relativos aos avanços e às metas dos principais projetos

desenvolvidos pelo programa, coletados em documentos internos da Câmara e no site do

programa.

Projeto Áreas Verdes Saudáveis

É o projeto responsável pela preservação dos jardins da Câmara dos Deputados  e das

residências oficiais, sem recorrer ao uso de defensivos químicos. Visando sempre a máxima

economia, incentiva o cultivo de espécies nativas, o uso racional e o aproveitamento da  água 

e  a prática da compostagem.

Fonte::www.camara.gov.br/internet/programas/ecocamara/viveirocamara.htmlFigura 6 Espécies cultivadas no viveiro da Câmara dos Deputados

40

Page 41: Junia Maria Z Falqueto Gestao Ambiental Na Adm Publica UnB 2007 EcoCamarara

A Câmara possui um viveiro de plantas para manter os jardins das áreas internas e

externas da Casa. Como já relatado, não são utilizados defensivos químicos nas áreas verdes

da instituição. Folhas e caules de tomateiros, arruda e pimenta são alguns dos ingredientes

usados na fabricação dos defensivos naturais utilizados no local.

O viveiro produz centenas de mudas e coleta sementes das mais variadas espécies,

algumas nativas do Cerrado, outras exóticas, a partir das próprias espécies plantadas nas áreas

da Câmara. Das sementes coletadas, parte atende às necessidades da Casa e o restante é doado

para o Clube da Semente ou para a Rede do Cerrado.

Todo esse processo significa uma economia expressiva. Além da produção de mudas e

defensivos orgânicos, a produção de composto também é feita no viveiro. Todos os resíduos

resultantes da poda de grama, cercas vivas, plantas e arbustos, bem como folhas secas, pó de

café e serragem, são transformados, por um processo chamado compostagem, em matéria

orgânica utilizável nas áreas verdes da Casa. Podas hoje viram mudas, lixo vira composto,

plantas viram defensivos alternativos.

O sucesso no aproveitamento de materiais está diretamente associado à campanha feita

pela Câmara, por meio do EcoCâmara, para sensibilização e conscientização dos funcionários

para a questão ambiental. Segundo os coordenadores do programa, quanto maior a

participação voluntária no programa, maior o benefício ao meio ambiente e menor o custo da

administração.

Para evitar o desperdício de água e reduzir os fatores que comprometem os recursos

hídricos disponíveis, como por exemplo a irrigação dos gramados, a Seção de Manutenção de

Jardins da Câmara já explora o uso de plantas que não exigem muita água como forma de

minimizar o consumo.

Projeto Gestão de Resíduos do DEMED – Departamento Médico

O atendimento feito pelo Departamento Médico da Câmara dos Deputados é privativo

da instituição e sua missão é dar assistência à saúde aos parlamentares, funcionários e seus

dependentes.

Visando conhecer os quantitativos e as peculiaridades dos diferentes resíduos gerados

no Departamento Médico, referentes à sua forma de descarte e, também criar indicadores que

possibilitassem a avaliação continuada do impacto da aplicação dos princípios do Plano de

Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde - PGRSS, estabelecido pela ANVISA,

41

Page 42: Junia Maria Z Falqueto Gestao Ambiental Na Adm Publica UnB 2007 EcoCamarara

realizou-se uma pesquisa preliminar detalhada. A figura a seguir apresenta os resultados

obtidos:

Fonte: Relatório produzido pelo Núcleo de Gestão Ambiental EcoCâmara Figura 7 Estudo quantitativo DEMED

Para a realização do estudo quantitativo do DEMED foi formada e treinada uma

equipe de serventes e encarregados, a qual recebeu todas as informações e orientações

necessárias. Esta equipe, coordenada por técnicos, tanto do DEMED como do Núcleo de

Gestão Ambiental da Câmara-EcoCâmara, realizam o monitoramento, o qual é repetido três

vezes ao ano.

Os resultados deste estudo preliminar, realizado em fevereiro de 2004, mostraram que

das quase 2 toneladas/mês de resíduos gerados pelo DEMED, apenas cerca de 31,20 % eram

resíduos com risco potencial. Estes, tendo em vista as suas características patológicas,

deveriam ser encaminhados para a incineração. Incineração é o tratamento final obrigatório

adotado no Distrito Federal, de acordo com o estabelecido no § 2º, artigo 29 da Lei Distrital

nº 41, de 13 de setembro de 1989.

O desafio que se colocava à equipe responsável pela elaboração, implementação e

acompanhamento do plano de gerenciamento de resíduos de serviços de saúde era, portanto,

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Page 43: Junia Maria Z Falqueto Gestao Ambiental Na Adm Publica UnB 2007 EcoCamarara

estabelecer e adotar para o DEMED, um sistema de segregação adequado, que garantisse,

com segurança, a segregação dos resíduos patológicos (31,20% dos resíduos totais), os

restantes 68,8 %, devido as suas características não perigosas, poderiam ter destinos

diferenciados, tais como a reciclagem ou a disposição em local destinado aos resíduos

chamados domésticos, ou não contaminados.

A expectativa da equipe responsável pelo PGRSS do DEMED com a contínua

melhoria do processo de segregação e o reforço das ações educativas e de treinamento

continuado dos servidores e funcionários é reduzir, de forma paulatina, os volumes enviados

para a incineração.

Em junho de 2005, o CEFOR capacitou mais de 80 servidores do DEMED. Da mesma

forma, a empresa prestadora dos serviços de limpeza e higienização no DEMED realizou a

capacitação de seus funcionários, cumprindo 6 (seis) horas/aula, e conteúdo programático

estabelecido em conjunto com a equipe responsável pelo PGRSS.

Antes da implementação PGRSS, não havia nenhum tipo de segregação. Todos os

resíduos gerados, inclusive os efluentes químicos, eram coletados pela BELACAP e

incinerados, ou descartados na rede de esgoto. A ausência de um processo de segregação e

gestão adequado de resíduos no DEMED comprometia a qualidade da disposição final dos

resíduos contaminados e não contaminados.

O monitoramento quali-quantitativo dos resíduos gerados no DEMED gera

informações diversas, as quais possibilitam avaliar a situação presente, relativa à eficiência,

tanto no momento da segregação dos materiais, praticada pelos servidores e funcionários nos

consultórios, laboratórios, copas, reservados, etc., como no recolhimento, fornecendo

subsídios importantes para a definição e a adoção de novos procedimentos.

A metodologia utilizada no monitoramento realizado pelo DEMED é simples e

constitui-se no estudo quantitativo, ou seja, na pesagem dos resíduos gerados e segregados

separadamente.

O estudo qualitativo constitui-se na observação do conteúdo dos sacos plásticos

recolhidos, anotando e fotografando diversos aspectos e pesados em seguida. Esta

investigação pode e deve ser repetida em épocas diferentes.

Segundo o relatório conclusivo do Núcleo de Gestão Ambiental EcoCâmara, o

monitoramento qualitativo mostrou que existem ainda diversos tipos de resíduos não

contaminados – papeis, plásticos e diversos –, como por exemplo, embalagens de plástico, de

papel ou plástico-papel, tanto de medicamentos ou dos diversos materiais médico-

hospitalares, que vêm sendo descartados no coletores para resíduos biológicos. Este fato

43

Page 44: Junia Maria Z Falqueto Gestao Ambiental Na Adm Publica UnB 2007 EcoCamarara

indica que é possível investir mais na segregação adequada reduzindo o volume dos resíduos

contaminados. O monitoramento é uma ação que não pode ser esquecida quando se

implementa o PGRSS. O custo para realizar o monitoramento é baixo, porém o retorno é

significativo.

Projeto Água e Energia

O projeto Água e Energia está ligado à coordenação de Novas Tecnologias, que tem a

missão de harmonizar ações da Câmara com questões relacionadas ao meio ambiente,

provendo-as de novas tecnologias, referenciais, normas e atividades ligadas aos recursos

naturais primários.

Esse projeto é o responsável por grande parte da economia que a gestão ambiental da

instituição já alcançou. As principais diretrizes do projeto Água e Energia. São:

Gestão do Uso e Re-uso da Água:

Algumas realizações estão em andamento na gestão e re-uso de água nas dependências

da Câmara dos Deputados:

- Limpeza do Espelho D’ Água do Anexo I ;

- Substituição de Válvulas de Descarga por Caixas Acopladas;

- Substituição das torneiras comuns pelas Eletrônicas;

- Instalação de Acionadores Eletrônicos para Mictórios;

- Instalação de Eliminadores de Ar junto aos Hidrômetros;

-Substituição de tubulações antigas e Mapeamento de vazamentos por

processos eletrônicos.

A economia pretendida com estas ações é de R$ 1.200.000,00/ano.

Os objetivos futuros da gestão de uso e re-uso de água são os seguintes:

-Reforma dos Apartamentos Funcionais (hidrometragem individual nos

apartamentos, utilização das águas pluviais nas bacias sanitárias, iluminação

controlada, utilização de metais e louças com dispositivos redutores d’água).

-Utilização de filtros de água nas copas em todas as dependências da Casa,

eliminando, assim, o desperdício com garrafas de água mineral;

- Incremento nas Campanhas de Conscientização.

Gestão do Uso de Energia Elétrica:

As realizações em andamento na gestão são as seguintes:

44

Page 45: Junia Maria Z Falqueto Gestao Ambiental Na Adm Publica UnB 2007 EcoCamarara

-Substituição de motores de baixo rendimento em todos os edifícios

administrativos;

-Redução no horário de funcionamento dos sistemas de ar condicionado;

-Instalação de sensores de presença em copa, banheiros e corredores;

-Instalação de banco de capacitores;

-Campanha de conscientização junto aos servidores e visitantes;

-Substituição de luminárias de baixo rendimento e luminosidade.

-Integração com o Comitê de Gestão de Conhecimento (comunidade Virtual para

elaboração do Manual de Aquisições: compras públicas sustentáveis e

responsabilidade sócio-ambiental).

A economia pretendida com as realizações é de R$ 3.000.000,00/ano.

Projeto Ecocamaradas - Programa Voluntário de Gestão Ambiental

Projeto que surgiu a partir da implementação da idéia vencedora do Concurso

Setembro Verde, promovido pelo EcoCâmara, com o objetivo de reunir propostas que

estimulassem a mobilização e o apoio dos servidores às ações ambientais realizadas na

Câmara. Sua fase de implementação teve início em fevereiro /07.

O projeto oferece aos servidores e funcionários da Câmara dos Deputados condições

objetivas de participação ativa e comprometimento com as ações sócio-ambientais da Casa –

seja na promoção da melhoria do desempenho ambiental ou mesmo em atividades

comunitárias externas à Instituição - além de sensibilizá-los para a importância da intervenção

voluntária na sociedade como um elemento fundamental no processo de construção da

cidadania. .

Ecocamarada é considerado todo e qualquer servidor ou funcionário que,

voluntariamente, deseja somar esforços no sentido de participar da melhoria ambiental da

Câmara dos Deputados.

De acordo com Jacimara Guerra Machado, assessora técnica do Núcleo de Gestão

Ambiental do EcoCâmara, o modelo do programa a ser desenvolvido deve adotar uma

metodologia que privilegie a aprendizagem colaborativa, de modo a gerar informações para

que os servidores compreendam o papel do voluntariado, identifiquem seus aspectos

fundamentais e atuem como cidadãos mais conscientes do impacto do seu trabalho no meio

ambiente.

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Page 46: Junia Maria Z Falqueto Gestao Ambiental Na Adm Publica UnB 2007 EcoCamarara

As diretrizes, já traçadas pelo projeto e que atualmente estão em fase de implantação

são:

1) Recrutamento:

Inscrição por meio de Formulário próprio que estará disponível na intranet.

2) Seleção:

Análise dos formulários de inscrição para diagnóstico e mapeamento preliminar das

competências;

Entrevista, caso seja necessário.

3) Capacitação:

Encontro sobre Gestão Ambiental e o Voluntariado na Câmara dos Deputados;

Cursos Técnicos-Específicos: Visam desenvolver competências técnicas e

comportamentais direcionadas às áreas temáticas específicas. Serão oferecidos após diagnóstico

de necessidade de treinamento:

Exemplo: Licitação sustentável, coleta seletiva, gerenciamento de resíduos de

saúde, Tecnologias Híbridas e energéticas entre outros.

Ambientação complementar: Harmonizar as condições de participação para os

servidores cujas inscrições no programa sejam extemporâneas. Será realizado por

meio de monitoria.  

4) Mobilização e motivação: Objetivam manter a intencionalidade produtiva do voluntariado

da Câmara dos Deputados.

Atividades comunitárias;

Participação em atividades ecológicas e/ou voluntariado.

5) Orientação e avaliação:

Os coordenadores dos projetos serão os responsáveis pelo acompanhamento do

voluntário em escala individual;

Será disponibilizado um ambiente virtual para que o voluntário possa expressar; suas

dúvidas e/ou inserir contribuições de trabalho;.

Reuniões periódicas de avaliação por área  temática.

Projeto Coleta Seletiva do Lixo no Anexo IV

Em maio de 2004, a Câmara dos Deputados formalizou o convênio com a Associação

dos Catadores de Papel, Papelão e Material Reaproveitável de Brasília — BRASCICLA,

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Page 47: Junia Maria Z Falqueto Gestao Ambiental Na Adm Publica UnB 2007 EcoCamarara

visando beneficiá-los com a doação dos materiais recicláveis e apoiando o fortalecimento e

constituição da entidade conveniada.

O EcoCâmara intermediou a formação de parceria entre a BRASCICLA/CORTRAP e

a RECICLÃ, ONG que congrega artesãos do meio ambiente, visando iniciar um trabalho de

geração de renda extra, proveniente da execução de oficinas artesanais utilizando recicláveis.

Nesta parceria está prevista também a participação do Ministério de Ciência e Tecnologia, por

meio da Secretaria de Ciência e Tecnologia para Inclusão Social, que irá apoiá-los.

O Anexo IV caracteriza-se por acomodar em seus gabinetes os parlamentares, seus

assessores e secretários. O prédio possui dez andares e um subsolo. Cada andar, do 2º ao 9º,

possui aproximadamente 50 gabinetes parlamentares. Em cada andar existem ainda duas

copas, uma em cada ala, além de quatro banheiros, que atendem aos funcionários. Existem

ainda quatro salas de reprografia, localizadas uma em cada um dos andares pares, próximo ao

hall de acesso aos elevadores de serviço. No 10º andar localiza-se o restaurante e a cafeteria,

já no subsolo existe um outro restaurante de menor porte, especializado em alimentos

naturais.

O Anexo IV gera principalmente resíduos recicláveis tais como papel, papelões e

assemelhados, plásticos, vidros, metal e resíduos orgânicos. Em menor quantidade, ocorrem

os resíduos perigosos - tonner, cartuchos de tinta (coletados pelo setor competente), lâmpadas

fluorescentes, restos de fios e cabos, baterias, resíduos contendo óleos e graxas, vidros planos,

isopor, e outros gerados em situações eventuais.

Em um primeiro momento, a avaliação qualitativa dos conteúdos dos sacos recolhidos

pela equipe de limpeza, tomou como base os resultados e as informações colhidas durante a

pesquisa de opinião realizada, por iniciativa de membro voluntário do EcoCâmara, Leandro

de Castro Siqueira, no Anexo IV. Esta pesquisa revelou a intenção, por parte dos servidores

lotados neste prédio, de participar da segregação dos materiais, registrando diversas

reclamações ou informações enviadas por e-mail ou escrita nos próprios questionários, como

por exemplo, de que nos gabinetes ‘o lixo é separado e o pessoal da limpeza mistura ao

recolher’.

Uma das razões da avaliação qualitativa dos resíduos gerados nos gabinetes é a

intenção de se estudar com detalhes, se existem os chamados "desperdícios de materiais de

consumo", ou se ocorre o descarte indevido de materiais tóxicos ou perigosos (como tonners

ou cartuchos, pilhas, baterias, lâmpadas fluorescentes, material perfuro-cortante, etc), e ainda,

se por ventura existem outras peculiaridades que necessitem de maior atenção.

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Page 48: Junia Maria Z Falqueto Gestao Ambiental Na Adm Publica UnB 2007 EcoCamarara

Outra razão da realização desse projeto é a intenção de que o monitoramento do lixo

nos demais prédios da Câmara seguisse um procedimento padrão de modo a possibilitar o

agrupamento de todos os dados colhidos em todos os prédios. As equipes de investigação

escolhidas para proceder ao monitoramento dos resíduos, em cada um dos anexos, deverão ser

treinadas por um membro do EcoCâmara, antes de iniciarem os levantamentos.

Carbono Neutro

Em novembro de 2007, a Câmara dos Deputados firmou com a ONG SOS Pró-Mata

Atlântica um acordo de cooperação para o plantio de 12 mil árvores em São Paulo com vistas

à neutralização das emissões de carbono produzidas pelas atividades da Casa.

A meta para o plantio foi estabelecida por diagnóstico feito pela ONG a partir dos

indicadores de consumo de energia, uso de combustíveis fósseis, produção de resíduos

orgânicos e viagens realizadas pela Câmara dos Deputados, entre os anos de 2005 e 2006.

Além de elaborar o diagnóstico da emissão de carbono gerada pela Câmara, a SOS Pró-Mata

Atlântica será responsável por plantar e manter as mudas de árvores nativas no bioma Mata

Atlântica.

O objetivo do projeto é plantar uma quantidade de árvores equivalente ao total ou

parte das emissões de carbono, responsáveis pelo efeito estufa.

O início das atividades do Carbono Neutro está previsto para o começo de 2008.

4.2 Análise dos Dados

Criação do EcoCâmara

Parte dos entrevistados apontou a coleta seletiva como o trabalho precursor do

EcoCâmara. De acordo com relatórios internos da Câmara, a Casa iniciou a coleta seletiva dos

materiais recicláveis em 2002. Segundo o entrevistado A, o Ecocâmara começou, de fato,

com a coleta seletiva de resíduos, e foi a partir desse trabalho que envolveu toda a instituição

que o universo da gestão ambiental e todas as suas oportunidades passaram a ser percebidas.

O foco inicial foi o lixo gerado no âmbito do Anexo IV, cujo procedimento de

acompanhamento quali-quantitativo serviu de modelo para os demais anexos. Existem

registros anteriores que evidenciam que a prática de segregação e venda dos materiais

recicláveis já acontecia anteriormente, e estava sendo conduzida pela ASCADE - Associação

dos Servidores da Câmara dos Deputados. Essa associação era a responsável por arrecadar os

recursos financeiros provenientes da venda desses materiais.

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Page 49: Junia Maria Z Falqueto Gestao Ambiental Na Adm Publica UnB 2007 EcoCamarara

A iniciativa de implantação de um sistema diferenciado de coleta seletiva, mais justo e

socialmente responsável, partiu de um grupo de servidores, que elaborou um programa de

ação extensa, incluindo a realização de um detalhado diagnóstico preliminar relativo aos tipos

de resíduos gerados, as quantidades, o destino final, os aspectos sócio-ambientais envolvidos,

as potencialidades e as oportunidades de melhoria do processo de segregação. Como bem

mencionou parte dos entrevistados:

A necessidade de gerenciar o descarte existia e a partir disso foi formado um grupo de trabalho para solucionar essa questão. A Câmara, até então, não havia tomado nenhuma medida eficaz com relação aos resíduos que ela mesma produzia. Tudo começou pela coleta seletiva. (ENTREVISTADO E)

A primeira ação de gestão ambiental na Câmara foi relativa a resíduos. A Casa produz um volume muito grande de lixo, o que representa uma dificuldade administrativa. Criou-se então um grupo de trabalho para estudar como gerenciar essa questão. (ENTREVISATADO F)

A vontade de ajudar os catadores de papéis que necessitavam de uma estrutura e uma

organização melhor foi um dos fatores mais importantes para a criação do programa de gestão

ambiental. O entrevistado B afirmou que houve um esforço do grupo para descobrir uma

forma de melhorar o tratamento do lixo sem causar prejuízos aos catadores de papéis, o que

enfatiza o caráter social do EcoCâmara.

A partir de documentos internos da Câmara, verificou-se que em 25 junho de 2002 foi

implantado o Plano de Gerenciamento de Resíduos sólidos Recicláveis da Câmara dos

Deputados, enfocando ações de responsabilidade social, incluindo catadores de lixo e suas

famílias, organizadas em associações e cooperativas. Nesse mesmo mês, começou a

Campanha de Coleta Seletiva, visando educar o servidor e estimular o descarte correto do

lixo. Nesse sentido, o entrevistado D mencionou a importância que a Câmara dos Deputados

para a transformação social da realidade dos catadores: “Nós fomos, aos poucos, modificando

a realidade deles (catadores de papéis), organizamos a cooperativa, ajudamos a traçar as

parcerias com outras entidades que não só a Câmara e hoje, se não me engano, já é uma das

maiores cooperativas de catadores de papéis de Brasília.”

Nesse contexto, é importante lembrar que uma das áreas temáticas do EcoCâmara é a

Coleta de Lixo e Responsabilidade social. Como já mencionado, essa é a área responsável por

reduzir o desperdício, promover o reaproveitamento e a reciclagem de materiais utilizados nas

rotinas administrativas da Casa e também é a responsável pelo projeto Coleta de Lixo no

Anexo IV, um dos mais importantes projetos de gestão ambiental da instituição. O Anexo IV

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Page 50: Junia Maria Z Falqueto Gestao Ambiental Na Adm Publica UnB 2007 EcoCamarara

caracteriza-se por acomodar em seus gabinetes os parlamentares, seus assessores e secretários.

O prédio possui dez andares e um subsolo e é o prédio responsável pela produção do maior

volume de resíduos da Câmara. O último monitoramento de resíduos nos prédios

administrativos da entidade, realizado em outubro de 2007, mostrou que em uma semana o

Anexo IV produziu 3.570,1 kg a mais de resíduos do que o segundo colocado.

Prédios Papel (Kg) Diversos (Kg) Plástico(Kg) Total (Kg)

PRINCIPAL545,4 kg 627,7 kg 373,3 kg 1.546,4

ANEXO I538,9 kg 830,8 kg 477,8 kg 1.847,5

ANEXO II1.101,7 kg 1.120,3 kg 794,8 kg 3.016,8

ANEXO III652,1 kg 4.428,0 kg 540,4 kg 5.620,5

ANEXO IV3.037,5 kg 4.823,7 kg 1.329,4 kg 9.190,6

TOTAL 5.875,6 kg 11.830,5 kg 3.515,7 kg 21.221,8 kgFonte: Dados da pesquisa documentalFigura 8 Monitoramento dos Resíduos nos Prédios Administrativos da Câmara

Houve candidatos que relacionaram a criação do programa à necessidade de construir

uma imagem positiva da Câmara perante a sociedade. O entrevistado A explicitou bem esse

aspecto ao afirmar que com a gestão ambiental a Câmara passa a ter mais uma oportunidade

de ser vista positivamente pela a sociedade, não só em relação ao social, mas também no

ponto de vista econômico.

Um dos entrevistados lembrou que o gerenciamento adequado do lixo, além de ser

uma responsabilidade administrativa da instituição, é também uma obrigação legal. Antes do

EcoCâmara não havia nenhuma espécie de mecanismo de controle ou gestão do lixo, muito

era desperdiçado por falta de comando e controle. A criação do Ecocâmara transformou essa

realidade.

A Coleta de resíduos de forma seletiva foi diversas vezes citada pelos entrevistados e

também possui destaque nos documentos que tratam do início do Núcleo de Gestão

Ambiental por ter sido a primeira ação implantada pelo programa. Foi a partir desse projeto

que se deu maior visibilidade ao processo de inserção de critérios ambientais no dia-a-dia da

Câmara dos Deputados. O Entrevistado F ressaltou essa questão ao afirmar que o grupo de

trabalho que originou o EcoCâmara, ao estudar para gerenciar as questões relativas à coleta de

resíduos, identificou a necessidade de um grupo permanente de trabalho para que outras

questões ambientais também fossem gerenciadas.

50

Page 51: Junia Maria Z Falqueto Gestao Ambiental Na Adm Publica UnB 2007 EcoCamarara

Objetivos do EcoCâmara

Os objetivos do programa são, conforme dados extraídos da pesquisa documental:

Implantar práticas ambientais corretas na Câmara dos Deputados;

Fomentar e disseminar essas práticas;

Promover a participação efetiva de todos os servidores da Casa;

Ser  liderança de todas as Casas Legislativas e órgãos afins atuando como modelo e

referência de Núcleo de Gestão Ambiental;

Buscar e difundir informações de interesse da área;

Promover um contínuo aprimoramento das técnicas e práticas aplicadas em acordo

com a legislação ambiental;

Estabelecer novos padrões de consumo de recursos naturais dos servidores e

consequentemente da comunidade;

Promover a redução de custos com a utilização correta de recursos naturais;

Possibilitar a inclusão social por meio da geração de emprego e renda;

Capacitação de servidores para atuar em Gestão Ambiental na Câmara dos Deputados.

Para os entrevistados, o papel do EcoCâmara está relacionado principalmente à

disseminação de boas práticas, conscientização ambiental dos funcionários, redução do

desperdício, reconhecimento como um programa modelo em gestão ambiental e realização

ações sociais. A saber:

Os objetivos iniciais eram implantar a conscientização na Casa, mostrar a importância da coleta seletiva e de um trabalho ambiental eficaz. (...)O EcoCâmara tem o papel de tentar despertar entre os funcionários, terceirizados, visitantes e deputados o interesse pelo meio ambiente. O Objetivo é inserir a preocupação com o meio ambiente dentro do trabalho e da vida de cada um. (ENTREVISTADO B)

Um dos principais objetivos foi beneficiar os catadores de papéis que ficavam ao redor dos contêineres de lixo da Câmara(...)o principal objetivo no início do programa era social. O programa hoje tem outros objetivos como a disseminação de boas práticas, a mudança de hábito das pessoas que freqüentam a Câmara, a economia de dinheiro e também ser referência para outros órgãos governamentais. (ENTREVISTADO C)

Segundo o entrevistado A: “O principal objetivo do programa é identificar aspectos

ambientais que estejam de alguma forma impactando o meio ambiente, sugerir mudanças

visando o menor impacto e também servir de referência para outros órgãos de governo”.

51

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Outro entrevistado complementou bem essa idéia afirmando que o objetivo é que todos da

instituição se envolvam com o EcoCâmara:

O Objetivo é que todos da Casa sejam EcoCâmara. O programa surgiu para lançar uma política ambiental, uma política de controle de resíduos, de economia de dinheiro público na Câmara. O objetivo era difundir essa consciência ambiental, para que todo mundo ao sair da sua sala apague a luz, desligue o computador e passe a descartar corretamente o seu lixo no seu dia-a-dia.(...) Outro objetivo é apoiar outras entidades governamentais. Hoje o EcoCâmara é um programa modelo para outras instituições. (ENTREVISTADO E)

De fato, o EcoCâmara tornou-se um programa modelo de Gestão ambiental na

Administração Pública. Os resultados já alcançados e o espaço conquistado dentro da

instituição e na sociedade retratam bem essa realidade. Em setembro de 2007 a Câmara

participou do Green Meeting – Encontro Verde das Américas, no qual o diretor geral da Casa,

Sérgio Sampaio, apresentou o EcoCâmara e falou da importância da implantação de um

modelo de gestão ambiental num órgão público que recebe 12 mil pessoas todos os dias. O

encontro contou com o apoio das Nações Unidas (ONU) e da Organização dos Estados

Americanos (OEA) e reuniu as principais lideranças mundiais, governamentais e não

governamentais, sobre meio ambiente e desenvolvimento sustentável.

Ações como essas, além de fortalecerem a imagem da instituição, aumentam o

interesse de outras entidades públicas a promoverem a gestão ambiental. De acordo com o

Entrevistado A, após eventos dessa natureza há um aumento expressivo na procura por

interfaces e parcerias com o EcoCâmara por parte de outras entidades públicas e privadas.

Um dos entrevistados citou o esforço em provocar mudanças nas unidades

responsáveis por compras e nos editais de licitação como umas das metas do programa. Existe

uma área temática do EcoCâmara – Licitação Sustentável e Legislação ambiental – que,

dentre as suas atribuições, está a inserção da questão ambiental nos editais de compra e

contratação de serviços. Observou-se que já existe a discussão na Casa, embora as ações

práticas ainda sejam ínfimas.

Objetivo do programa é inserir na rotina administrativa da Casa a consciência ambiental, de maneira que isso se traduza em ações de proteção ao meio ambiente. Um das metas atuais do programa é influenciar o departamento de compra, os editais de licitação, a valorizarem empresam e produtos que sejam ambientalmente sustentáveis. (ENTREVISTADO F)

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Traçando um paralelo entre os dados obtidos com a pesquisa documental e os obtidos

com a pesquisa de campo, é possível afirmar que os dados estão em conformidade.Ou seja, os

entrevistados conhecem os objetivos do programa.

Inserção do EcoCâmara no Planejamento Estratégico da Casa

Para Maximiano (2004), o planejamento estratégico é aquele que abrange toda a

organização, definindo sua relação com seu ambiente.

Ao serem questionados sobre a este aspecto, a maioria dos entrevistados responderam

que acreditam que o EcoCâmara está inserido no Planejamento Estratégico da Casa e suas

respostas evidenciam o apoio da Diretoria geral e a importância do envolvimento de todas as

diretorias para o crescimento do programa.

Em minha opinião, esta inserido sim, já que é um programa apoiado pela diretoria geral. O apoio e a colaboração da alta direção são essenciais para que o EcoCâmara avance com os seus objetivos. (ENTREVISTADO C)

O Diretor Geral já determinou que todos os órgãos da Casa precisarão traçar em 2008, metas de redução do desperdício, cada setor da Câmara deverá apresentar um plano explicando de que forma irá contribuir com o EcoCâmara. Isso mostra que o programa já atingiu o nível estratégico da Casa. ( ENTREVISTADO E)

A Câmara caminha com muita seriedade a esse respeito. No começo eram só alguns servidores envolvidos, hoje existe a recomendação do Diretor Geral para que todas as diretorias da Casa definam metas de redução de impactos ambientais. (ENTREVISTADO F)

Por sua vez, os entrevistados que responderam negativamente à pergunta

fundamentaram suas respostas afirmando que não são todas as diretorias que estão envolvidas

com o programa.

(...)Essa visão de que eu exerço uma atividade que gera um impacto e portanto ela deve ser melhorada(...),é uma visão que poucos funcionários têm. Portanto trata-se de uma visão que não está inserida nas estratégias da Casa, talvez ela esteja na Diretora Geral, na pessoa do diretor que está motivado com as propostas, mas não é uma consciência compartilhada com todas as diretorias. (ENTREVISTADO A)

Eu tenho participado de discussões sobre planejamento estratégico no meu setor e fico preocupado porque na minha área, em nenhum momento até agora, eu ouvi falar sobre o programa. Eu tenho dúvidas, não sei até que ponto a Casa tem tratado as propostas do EcoCâmara de maneira consistente e contínua. Posso apenas afirmar que no setor onde trabalho não se tem falado sobre o programa durante as discussões sobre planejamento. (ENTREVISTADO D)

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Baseado na pesquisa documental, é possível afirmar que no ano de 2007 houve um

crescimento considerável da participação do EcoCâmara nas ações estratégicas da Casa. Em

agosto do mesmo ano, aconteceu uma reunião com os servidores que representam o

EcoCâmara e a diretoria-geral da Casa, da qual resultou o novo Planejamento Estratégico do

Núcleo de Gestão Ambiental. O intuito é promover de forma integrada a gestão sócio-

ambiental na Câmara dos Deputados, de forma a incentivar, orientar e consolidar ações

administrativas sustentáveis. Isso quer dizer que o EcoCâmara passa a ter o dever de exercer o

papel de órgão planejador e gestor da política ambiental da Casa. Aos órgãos técnicos caberá

executar os projetos de água e energia, coleta seletiva, gestão de resíduos perigosos, por

exemplo, aliando ações técnicas a cuidados com o meio ambiente.

Principais ganhos da instituição com a implantação de um Sistema de Gestão Ambiental

Segundo Dias (2006), Sistema de Gestão ambiental é o conjunto de responsabilidades

organizacionais, procedimentos, processos e meios que se adotam para a implantação de uma

política ambiental. É o método empregado para levar uma organização a atingir e manter-se

em funcionamento de acordo com as normas estabelecidas, bem como para alcançar os

objetivos definidos em sua política ambiental.

Os principais ganhos apontados pelos entrevistados são:

Fortalecimento da imagem;

Sensibilização do público interno e externo;

Economia de dinheiro público;

Conscientização dos funcionários;

Número crescente de adeptos;

Maior satisfação intrínseca para os colaboradores do programa;

Reconhecimento por parte de outros órgãos públicos;

Sensação de estar cumprindo o seu papel

Foram verificadas opiniões controversas com relação aos ganhos econômicos. Parte

dos entrevistados acredita que a economia ainda não é expressiva, enquanto parte acredita que

houve um ganho econômico significativo após a adoção de boas práticas ambientais.

São vários os ganhos. Vamos sair um pouco dos ganhos sócio-ambientais e entrar nos ganhos econômicos. Hoje nós temos economia de água, de papel, de energia

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Page 55: Junia Maria Z Falqueto Gestao Ambiental Na Adm Publica UnB 2007 EcoCamarara

com a troca das lâmpadas por lâmpadas mais eficientes, de consumo menor. (ENTREVISTADO B)

Do ponto de vista econômico, a redução de gastos ainda não foi significativa. Conseguimos alguns ganhos com a diminuição do desperdício de papel, de água e de energia, mas não chega a ser uma grande economia de gastos. Entretanto, no ponto de vista educacional e na imagem da Câmara os ganhos são evidentes. (ENTREVISTADO F)

Uma explicação possível é a relação existente entre o comportamento dos funcionários

que trabalham no mesmo setor que o entrevistado e a economia do setor, ou seja, se o

entrevistado atua em um setor onde muitos funcionários adotam um comportamento

ambiental correto certamente os ganhos econômicos serão mais facilmente entendidos como

significativos.

A partir da pesquisa feita em documentos elaborados pelo NGA, publicados no ano de

2006, foi possível construir o quadro abaixo, que relaciona as intervenções realizadas e os

respectivos resultados alcançados pelo programa em determinados aspectos.

Resultados do EcocâmaraASPECTO INTERVENÇÃO RESULTADO

Consumo de água no espelho d'água

Mudança no procedimento de limpeza da água

Economia de 36 milhões de litros de água, ou seja, R$ 119.382,00.

Geração de Resíduos de Serviço de Saúde - DEMED

Implantação do Plano de Gerenciamento dos Resíduos de Serviço de Saúde - PGRSS

Redução de 68,5% dos resíduos enviados para incineração

Segregação dos materiais recicláveis do Anexo IV

Melhoria contínua do sistema de coleta seletiva de materiais

Aumento de 10% no volume de material reciclável

Parceria para inclusão social - Convênio CORTRAP

Aumento do volume de material reciclável doado para a Cooperativa

Aumento de R$ 90,00 para cerca de R$ 300,00 o ganho de cada associado por mês

Sensibilização do público interno e externo

Realização de cursos, oficinas, eventos, palestras e exposições

70 novos gestores120 serventes treinados20 novos voluntários700 visitantes/ano18 eventos/ano realizados

Paisagismo responsávelEliminação de uso de produtos químicos

37.000 m² de jardins sem uso de produtos químicos

Fonte: Pesquisa documentalFigura 9 Resultados do EcoCâmara

Todos os entrevistados, ao serem questionados sobre os ganhos proporcionados pelo

EcoCâmara, citaram a melhoria da imagem da instituição, o que evidencia a forte influência

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Page 56: Junia Maria Z Falqueto Gestao Ambiental Na Adm Publica UnB 2007 EcoCamarara

do EcoCâmera na maneira como as pessoas e os próprios funcionários enxergam a Câmara

dos deputados.

(...) então o maior ganho da Câmara é o que a sociedade pensa da instituição quando conhece o EcoCâmara, é aquela opinião: ‘eu não sabia a Câmara tinha projetos tão legais’ (...)Na minha opinião o ganho maior foi o da imagem. (ENTREVISTADO A)

A Câmara é uma entidade muito visível. A impressão que dá é que a imprensa dorme aqui. Sempre há alguém da imprensa na Casa. O objetivo principal deles é a questão política, mas nós podemos aproveitar isso para mostrar também os resultados positivos do trabalho administrativo da Casa. (ENTREVISTADO B)

A imagem da Câmara melhorou muito depois da criação do programa. (ENTREVISTADO C)

Em minha opinião, o EcoCâmara reforça positivamente a imagem da instituição principalmente para o público externo, para a sociedade que está lá fora. (ENTREVISTADO D)

(...)eu acho que a Câmara, através do programa, está conseguindo mostrar pra sociedade que se preocupa em fazer o seu papel. (ENTREVISTADO E)

No ponto de vista educacional e na imagem da Câmara os ganhos são evidentes. (ENTREVISTADO F)

Carências do EcoCâmara

Várias dificuldades foram discutidas nessa etapa da entrevista. Os entrevistados

apontaram vários problemas que o programa enfrenta e responderam, de acordo com a

opinião pessoal de cada um, o que falta no EcoCâmara.

As principais carências apontadas foram:

Falta de pessoal na equipe;

Aumento do número de funcionários sensibilizados com a questão ambiental;

Amento da participação das diretorias;

Medidas que permitam a Câmara adquirir produtos e serviços considerando as

questões ambientais;

Necessidade de reestruturação da metodologia de trabalho;

Falta de investimentos;

Medidas que auxiliam a implantação dos projetos propostos;

Eficiência;

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Page 57: Junia Maria Z Falqueto Gestao Ambiental Na Adm Publica UnB 2007 EcoCamarara

Ambiente adequado para receber visitantes;

Campanhas educativas;

Apoio do Centro de Formação e Treinamento;

Gerir melhor a equipe de trabalho;

Promoção do programa à unidade administrativa da Câmara.

Convém ressaltar que há medidas já programadas para minimizar certas carências do

EcoCâmara. Conforme pesquisa documental, já está previsto no planejamento do CEFOR a

inclusão de cursos sobre gestão ambiental e oficinas de reciclagem, o que certamente

aumentará o numero de servidores sensibilizados com a questão ambiental. Para os

terceirizados, estão sendo feitos acordos de treinamento com as empresas que terceirizam a

mão-de-obra.

Com base no processo de observação participante aberta no qual, como já foi descrito

em metodologia, o pesquisador obtêm autorização para observar, entrevistar e participar do

ambiente de trabalho foram identificadas diversas dificuldades relacionadas à carências do

programa.:

Burocracia na Instituição: o excesso de burocracia impede a tomada de

decisão mais rápida do NGA. O EcoCâmara é um programa institucional

ligado à diretoria geral por meio da Assessoria de Projetos especiais, o que não

dá a autonomia necessária ao programa para agilizar as decisões e aumentar a

eficiência do trabalho.

Espaço: o espaço que o NGA possui na Câmara dos Deputados para realizar

suas rotinas e receber visitantes é uma sala no Anexo IV. Trata-se de uma sala

pequena de difícil transitação com um grande volume de materiais literários,

documentos, materiais de divulgação e computadores. A disposição

inadequada e a falta de espaço prejudicam o trabalho.

Equipe: o nível estratégico do EcoCâmara é formado por um grupo de

servidores de tempo compartilhado entre as atividades do NGA e as atividades

do cargo que ocupam na Câmara. Tal formação faz com que alguns dirigentes

se sintam sobrecarregados ou mesmo precisem definir prioridades, o que

muitas vezes implica em deixar para segundo plano as atividades do programa.

Além disso, há apenas duas pessoas exclusivas para o programa – alguns

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coordenadores apontaram a necessidade de aumentar a equipe exclusiva do

programa. Com o aumento de pessoal, certamente alguns problemas, como a

demora para atualizar as informações no site do programa, seriam

minimizados.

Detectar as carências é uma etapa imprescindível para o desenvolvimento de qualquer

sistema gerencial. A partir da percepção das carências é possível aumentar os benefícios que

um programa acarreta à organização. (MAXIMIANO, 2004).

Averiguar as necessidades do EcoCâmara é um complemento à identificação dos

ganhos que a implantação de políticas sócio-ambientais proporciona. Obter essa informação

torna-se relevante como contrapartida das vantagens identificadas.

Mudança de Comportamento

Para Machado (2002), tratar a natureza de forma adequada é um ato necessário,

porém, para que o discurso e a prática sejam coerentes, é necessário somar esforços no sentido

de subtrair dos comportamentos cotidianos dos cidadãos, das empresas e das instituições

públicas hábitos antigos e inadequados que inviabilizam a melhoria da qualidade de vida. A

autora enfatiza que uma mudança de paradigmas e de comportamento frente às questões

ambientais terá êxito desde que haja um esforço do governo em estabelecer políticas de

sustentabilidade apropriadas e mais eficazes, e que se empreendam ações de mobilização

junto aos agentes de governo, capazes de motivá-los e capacitá-los a empreender esforços no

sentido de internalizar as questões ambientais em suas atividades diárias e nos processos de

tomada de decisão.

Todos os entrevistados afirmam acreditar que o EcoCâmara tem influenciado na

mudança de comportamento dos servidores. Entretanto a maioria absoluta afirmar que essa

mudança ainda não é satisfatória.

Ainda não como nós do EcoCâmara gostaríamos. Mudança de comportamento é algo que nós precisamos de tempo para mensurar. Nós já percebemos que mudou um pouco a mentalidade, mas não da forma como nós gostaríamos. (ENTREVISTADO A)

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Mudança de comportamento é um processo. O EcoCâmara vem provocando, aos poucos, mudança de comportamento e de valores nos funcionários. Ainda não como nós do EcoCâmara gostaríamos, nós precisamos ser realistas e assumir que ainda há muita gente para ser atingida. (ENTREVISTADO B)

Acredito que sim, mas ainda é necessário um trabalho maior. O trabalho de mudança de hábito precisa ser contínuo. (ENTREVISTADO C)

Muito pouco, basta ver como o lixo é descartável, eu não tenho mais acesso aos números, mas a minha percepção é que está longe do que nós almejávamos inicialmente. (ENTREVISTADO D)

Acredito que sim, mas ainda falta muito a ser feito. Comportamento não é algo fácil de mudar. As pessoas precisam respeitar mais o dinheiro público, isso não é só na Câmara, é em qualquer instituição pública. Eu posso afirmar com segurança que o Ecocâmara já conquistou bons resultados nesse sentido, mas não o suficiente. (ENTREVISTADO E)

Segundo Roesch (2006), na pesquisa qualitativa à medida que mais entrevistas vão

sendo conduzidas há a tendência de o pesquisador direcionar certos tópicos. Isso ocorre

porque o pesquisador vai identificando padrões nos dados e tende a explorá-los em certas

direções.

Observou-se um padrão em relação à opinião dos entrevistados a respeito da diferença

de comportamento entre os servidores e os terceirizados. O entrevistado A, ao ser questionado

sobre a mudança de comportamento dos servidores da Casa, levantou um dado relevante:

“Entre os terceirizados eu vejo e eles mesmos afirmam que já houve uma evolução com

relação à mudança de comportamento em prol do meio ambiente, já em relação aos servidores

eu acho que essa mudança está ocorrendo de forma muito mais lenta.”

Os demais entrevistados foram questionados a respeito dessa possível diferença de

comportamento entre servidores concursados e funcionários terceirizados na tentativa de

explorar melhor a informação.

Os outros entrevistados concordaram que existe uma diferença comportamental entre

servidores e terceirizados, admitindo que os terceirizados executam com maior freqüência

boas práticas ambientais e apontaram os principais motivos para essa diferença de

comportamento :

Os terceirizados recebem um maior número de treinamentos e por isso são mais

conscientizados;

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Existe uma cobrança maior para com os terceirizados, por parte de seus encarregados,

para que eles cumpram as práticas ambientais da Casa, sob a ameaça de serem

punidos.

O entrevistado F sintetizou claramente essa questão ao afirmar:

O terceirizado é mais cobrado que o servidor, por isso existe essa diferença no comportamento. Os terceirizados precisam cumprir o que lhes é ensinado e cobrado, o servidor tem a opção, ele só cumpre se estiver conscientizado. (...)os terceirizados devem cumprir as determinações do EcoCâmara, se não cumprirem eles podem ser punidos. A educação ambiental também chega mais facilmente aos terceirizados, a medida que duas vezes ao mês eu dou aula sobre jardinagem responsável, sobre desenvolvimento sustentável e outros assuntos relacionados ao meio ambiente e a minha equipe de terceirizados é obrigada a assistir, isso tem trazido um resultado bastante positivo no trabalho que é desenvolvido. (ENTREVISTADO F)

Impacto na Imagem

Conforme a idéia que já fora exposta no item 2.2, Dias (2006) defende que uma das

principais vantagens competitivas que uma entidade pode alcançar através da gestão

ambiental é a de melhorar sua imagem no mercado, o que está se tornando a cada dia mais

concreto devido ao aumento da consciência ambiental na sociedade.

O EcoCâmara vem contribuindo, ao longo dos quatro anos de existência, para o

fortalecimento da imagem da Câmara perante a sociedade. De acordo com um dos

entrevistados, o EcoCâmara se tornou uma forma de mostrar à sociedade que a Casa se

preocupa em fazer o seu papel e de minimizar os impactos causados pela propaganda

negativa.

O EcoCâmara com freqüência está na mídia. É uma forma de mostrar à sociedade que a Câmara desenvolve projetos legais. É muito positivo para a instituição construir uma imagem positiva, a Câmara é muito visível e geralmente a mídia vincula a Câmara à corrupção, ao crime, com o EcoCâmara isso é diferente. (ENTREVISTADO E)

O impacto que o programa provoca na imagem da Câmara é percebido através de

alguns acontecimentos que funcionam como feedback para a NGA. De acordo com os

entrevistados, os fatos que decorrem da construção de uma imagem positiva são:

O EcoCâmara tornou-se um programa referência em gestão ambiental para outras

instituições públicas e privadas;

Funcionários da Câmara estão levando práticas ambientais para as suas casas;

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Page 61: Junia Maria Z Falqueto Gestao Ambiental Na Adm Publica UnB 2007 EcoCamarara

O programa já é bastante conhecido pelo público externo;

O EcoCâmara é convidado para participar de vários eventos como palestras,

congressos, amostras e encontros sobre o meio ambiente;

O EcoCâmara recebe freqüentemente feedback positivo por parte do público externo e

interno.

Muito embora todos os entrevistados tenham afirmado que o programa gera impactos

positivos para a imagem da Câmara, um dos entrevistados confrontou a realidade do

programa com a imagem que ele ostenta. O entrevistado D afirmou existir uma discrepância

ente a imagem de grande preocupação com o meio ambiente que a Câmara ostenta e a

realidade da instituição:

A Câmara conquistou uma imagem de instituição que tem uma grande preocupação com o meio ambiente, mas isso é imagem, é marketing, a realidade é diferente. A preocupação existe de fato, mas não chega a essas proporções como está sendo anunciada. (ENTREVISTADO D)

A gestão ambiental é atualmente condicionada pela pressão de regulamentações e pela

busca de melhor reputação perante a sociedade. A sociedade está reconhecendo a

responsabilidade sócio-ambiental como valor permanente, considerada fator de avaliação e

indicador de preferência para investidores e consumidores. (Kinlaw, 1997) No caso da

Câmara dos Deputados, por ser uma entidade governamental e ser o órgão de representação

imediata do povo, o consumidor é o próprio povo brasileiro. Percebe-se que a instituição está

utilizando estrategicamente a imagem sócio-ambiental que ela conquista por meio das ações

do EcoCâmara para fortalecer sua imagem como um todo. Conforme aponta um entrevistado:

A Câmara é uma grande vitrine, temos um complexo de comunicação muito forte, qualquer pequena ação que acontece aqui dentro ela é repercutida na imprensa e com isso as campanhas do EcoCâmara viraram peça de marketing. (ENTREVISTADO D)

Os ganhos são mútuos. A sociedade ganha por ter em uma das instituições

governamentais mais importantes para o País uma política sócio-ambiental, uma economia de

dinheiro público e um exemplo para outras instituições, e a Câmara ganha por ter um

reconhecimento positivo por parte do seu público externo e interno.

Avaliação do EcoCâmara

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Embora os entrevistados tenham adotado diferentes critérios de avaliação, todos

avaliaram bem o EcoCâmara.

Os critérios utilizados pelos entrevistados foram:

Estrutura: para o entrevistado A, o EcoCâmara é o projeto com melhor estrutura

dentre os órgãos governamentais.

Parcerias: o entrevistado B afirmou que as parcerias representam um avanço para o

programa e o fato de outras instituições estarem interessadas em realizar parcerias e

acordos com o EcoCâmara é um indicativo da qualidade do trabalho de gestão

ambiental.

Novos Projetos: para alguns entrevistados, os novos projetos, como o Carbono

Neutro, é um indicador do sucesso do EcoCâmara.

Equipe: os entrevistados B e E avaliaram o EcoCâmara ressaltando o caráter de união,

a ideologia e a alta capacitação da equipe do EcoCâmara.

Observou-se que o programa também é bem aceito pelo público que freqüenta a

entidade. Para Nasssar (2005), a comunicação interna assume um papel estratégico na gestão

organizacional. É a comunicação interna que promove o fluxo de informações; cria, nas

pessoas, o sentimento de pertencer à instituição. O mesmo autor defende que o público mais

estratégico é o interno e, portanto, o mais importante para a organização. Os funcionários são

fundamentais para a formação da imagem pública, pois são eles os formadores de opinião

para os demais públicos de interesse da organização.

Seguindo o mesmo raciocínio, é possível traçar a hipótese que exista uma relação

entre aceitação e o investimento em meios de comunicação interna. Há em todos os anexos:

peças publicitários, cartazes com informações sobre práticas ambientais, cartazes com

informações sobre eventos relacionados ao meio ambiente, adesivos do EcoCâmara, todas as

lixeiras dos cinco prédios são devidamente identificadas e trazem a marca do EcoCâmara.

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Page 63: Junia Maria Z Falqueto Gestao Ambiental Na Adm Publica UnB 2007 EcoCamarara

5. CONCLUSÕES, PROPOSTAS E SUGESTÕES

Este estudo acadêmico é uma tentativa de identificar as vantagens que as instituições

públicas obtêm com a adoção de um programa de gestão ambiental, admitindo que gestão

ambiental é o principal instrumento para se obter um desenvolvimento sustentável. (DIAS,

2006) Essa abordagem geralmente apresenta princípios voltados para o setor privado,

entretanto, transformações significativas no ambiente competitivo têm pressionado as

organizações públicas a considerar, com um comprometimento cada vez maior, o impacto de

suas operações sobre o meio ambiente.

Desse modo, iniciou-se uma investigação sobre a política sócio-ambiental de uma das

mais influentes entidades governamentais do País, a Câmara dos Deputados. Por se tratar de

uma instituição de importância nacional e alvo de pesquisas em diversas áreas de

investigação, a Câmara exerce um papel estratégico como modelo para outras organizações e

por isso deve difundir práticas corretas.

As conclusões deste estudo foram elaboradas a partir das análises dos dados coletados

por meio das pesquisas documentais, entrevistas em profundidade e observações do

pesquisador. Buscou-se investigar a fundo o Núcleo de Gestão Ambiental –EcoCâmara,

objeto de avaliação deste trabalho, a fim de preservar a veracidade e a qualidade das

informações obtidas.

No decorrer do processo investigatório, ocorreram algumas limitações que apesar de

comprometerem o cronograma inicial não prejudicaram a qualidade das análises e conclusões

apresentadas. A não participação de todos os coordenadores do EcoCâmara foi a maior

limitação enfrentada pelo trabalho. Soma-se a isso a dificuldade de acesso a dados mais

recentes que os disponíveis, e a dificuldade de agendar um horário para as entrevistas com os

dirigentes do EcoCâmara.

Para realizar uma análise bem fundamentada foi preciso explorar vários fatores a cerca

do EcoCâmara. Os fatores pesquisados foram: situação atual dos principais projetos

ambientais, criação e objetivos do programa, participação no planejamento estratégico da

instituição, apoio da diretoria geral, carências do programa, principais ganhos obtidos,

mudanças de comportamento, impactos na imagem da instituição e, finalmente, a avaliação

geral do EcoCâmara conforme a ótica dos entrevistados.

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Em relação ao início do trabalho ambiental na Câmara, percebeu-se a importância do

projeto Coleta Seletiva de Resíduos. Pode-se afirmar que esse projeto foi um passo essencial

para a criação do Núcleo de Gestão Ambiental – EcoCâmara, por ter sido a primeira ação

implantada pelo EcoCâmara. Foi a partir da Coleta Seletiva que se deu uma maior visibilidade

ao processo de inserção de critérios ambientais na rotina administrativa da Câmara dos

Deputados.

De acordo com os entrevistados, os principais objetivos do programa são: a

disseminação de boas práticas, conscientização ambiental dos funcionários, redução do

desperdício, reconhecimento como um programa modelo em gestão ambiental e realização de

ações sociais. Ao comparar os dados coletados em documentos da instituição com o que foi

relatado pelos entrevistados, que são pessoas envolvidas com o nível estratégico do

EcoCâmara, verificou-se que as informações obtidas estão em conformidade; ou seja, os

dirigentes entrevistados conhecem os objetivos do EcoCâmara.

Uma das metas já estabelecida pelo Núcleo de Gestão ambiental é consolidar a

licitação sustentável na Câmara dos Deputados. É incorporar a questão ambiental às ações de

compra de produtos e contratações de serviços, dando preferência ao consumo sustentável e

valorizando empresas que respeitam o meio ambiente. Verificou-se, entretanto, que embora

exista a discussão na Casa, na prática os avanços nesse sentido foram ínfimos.

Desde a sua criação até os dias atuais é perceptível na instituição o crescimento

contínuo do EcoCâmara nas ações estratégicas da Casa. A alta direção da Câmara dos

Deputados tem mostrado interesse em promover a gestão sócio-ambiental na Casa, de forma a

incentivar, orientar e consolidar ações administrativas sustentáveis. O EcoCâmara passou a

exercer o papel de órgão planejador e gestor da política ambiental da Câmara dos Deputados.

Ao se analisar os principais ganhos obtidos após a adoção de práticas ambientais,

constatou-se que a principal vantagem que a Câmara passou a ter foi o fortalecimento da sua

imagem. Manter uma imagem positiva enquanto uma instituição ambientalmente responsável

fortaleceu a credibilidade da Casa, tanto para a opinião pública quanto para seus próprios

funcionários.

Com a adoção de políticas sócio-ambientais a Câmara conseguiu reduzir o efeito

negativo de suas próprias ações e também passou a ser reconhecida como um referencial em

gestão ambiental na administração pública. O Ecocâmara é, conforme os dados primários

coletados, o programa de gestão ambiental melhor estruturado na esfera governamental e atua

como modelo em gestão ambiental para outras instituições públicas e privadas. Sendo assim, é

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Page 65: Junia Maria Z Falqueto Gestao Ambiental Na Adm Publica UnB 2007 EcoCamarara

inegável o ganho em fortalecimento de imagem que a entidade obteve através dos resultados

alcançados pelo EcoCâmara.

Nesse mesmo contexto, chegou-se a conclusão que a instituição está utilizando

estrategicamente a imagem sócio-ambiental que conquista por meio das ações ambientais para

fortalecer sua imagem como um todo. Essa atitude, apesar de à primeira vista aparentar ser

negativa, proporciona ganhos mútuos. A sociedade ganha em ter em uma das entidades

governamentais mais influentes do País práticas sócio- ambientais e a Câmara dos Deputados

ganha por ter o reconhecimento do seu esforço por parte do seu público externo e interno.

Outros ganhos também foram identificados como: economia de dinheiro público,

conscientização dos funcionários e maior satisfação intrínseca para os colaboradores do

programa. Em contrapartida, também foram identificadas carências do programa. Essas

devem ser entendidas como oportunidades para melhorias.

Apesar dos avanços e das conquistas alcançadas, o processo de incorporação de

critérios ambientais ainda precisa vencer muitos obstáculos. Guimarães (apud MACHADO

2002, p.33) afirma que as políticas ambientais têm sido conhecidas como as “desmancha-

prazeres”. Ao contrário das demais políticas setoriais, a ambiental é geralmente lembrada pela

sua característica negativa: aponta o que não deve ser feito. De uma forma geral, as

instituições públicas tendem a preservar os valores predominantes, criando certas resistências.

É preciso motivar os servidores pouco comprometidos com a promoção de mudanças,

de forma voluntária. O EcoCâmara tem buscado alternativas nesse sentido, umas delas é a

parceria com o Centro de Formação e Treinamento para que servidores possam ter acesso a

cursos e oficinas sobre assuntos ligados a gestão ambiental. É inaceitável que as mudanças de

comportamento só sejam efetivas se forem acompanhadas de mecanismos coercitivos, como

muitas vezes ocorre com os funcionários terceirizados da instituição, conforme a opinião

pessoal de alguns entrevistados.

Finalmente, conclui-se que o EcoCâmara é um programa vitorioso e está em expansão.

As vantagens propiciadas pela adoção de um programa de gestão ambiental foram muitas e a

principal foi o fortalecimento da imagem da instituição. Entretanto, convém ressaltar que as

mudanças positivas e a vantagens que um programa de gestão ambiental pode propiciar só

serão de fato efetivas quando os valores e padrões comportamentais forem assimilados na

cultura dos funcionários. Somente quando novas práticas ambientais fizerem parte do

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comportamento e das atitudes rotineiras, dentro e fora do ambiente de trabalho, será possível

afirmar que as vantagens não só existem como estão sendo bem aproveitadas.

Aos que desejarem investigar assuntos relacionados a gestão ambiental, sugere-se a

continuidade e o aprofundamento do tema Licitações Sustentáveis. De acordo com a Agenda

21, capítulo 4, os países devem estabelecer programas voltados ao exame dos padrões

insustentáveis de produção e consumo e o desenvolvimento de políticas e estratégias

nacionais de estímulo a essas mudanças. Existem grandes desafios a serem superados nessa

área, como por exemplo o pouco conhecimento das questões centrais sobre consumo e

produção sustentáveis no Brasil; a inexistência de Políticas Públicas e Programas em

Licitação Sustentável; a necessidade de um estudo amplo sobre o poder de compra do Estado

e o impacto do estabelecimento de critérios sócio-ambientais para compras e contratação de

serviços; o desconhecimento de legislação trabalhista, de direitos humanos ou de proteção ao

meio ambiente dos encarregados pelas compras públicas, entre outros.

É de extrema importância a inserção da licitação sustentável nos procedimentos de

compra e contratação de serviços de entidades governamentais. Segundo Machado(2002), o

governo é o grande comprador e consumidor de recursos naturais da sociedade. Sendo assim,

deve exercer papel estratégico na redefinição de novos padrões de produção e consumo em

prol da sustentabilidade e atuar no sentido de reduzir o desperdício e a poluição resultante de

suas atividades.

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REFERÊNCIAS

A Câmara dos Deputados e o Meio Ambiente. Núcleo de gestão ambiental – EcoCâmara.

Agenda Ambiental na Administração Pública. Brasília, 2007.

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APÊNDICE

A. Roteiro das Entrevistas

01) Quais foram os principais fatores que levaram a Câmara dos Deputados à criação do

EcoCâmara?

02) Quais são os objetivos do programa?

03) O programa está inserido no planejamento estratégico da Casa?

04) Na sua opinião, quais foram os principais ganhos que a Câmara obteve com a implantação

de um sistema de gestão ambiental?

05) Na sua opinião, O que falta no EcoCâmara?

06) Você acredita que o EcoCâmara tenha provocado uma mudança de comportamento nos

servidores da Casa? Se sim, como essa mudança é percebida?

07) Você acredita que o EcoCâmara produz algum impacto na imagem da Câmara dos

Deputados perante a sociedade?

08) Como você avalia o EcoCâmara? Poderia exemplificar sua resposta?

09) Há alguma questão que eu não abordei e que você gostaria de ressaltar?

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B. Transcrição das Entrevistas

Entrevistado A

NOME: Jacimara Guerra Machado

CARGO/FUNÇÃO: Assessora técnica do EcoCâmara

01) Quais foram os principais fatores que levaram a Câmara dos Deputados à criação do

EcoCâmara?

O EcoCâmara surgiu a partir de um grupo de trabalho que se mobilizou para fazer o

gerenciamento dos resíduos recicláveis. Eram em torno de dez funcionários que estavam

muito sensibilizados com a quantidade de catadores de papéis que iam com freqüência até as

lixeiras da Câmara para catar esses resíduos, vinham catavam e iam embora, vinham catavam

e iam embora...

A grande questão é que esses catadores só tinham acesso ao lixo que já havia passado

por uma triagem, a da ASCADE (Associação dos Servidores da Câmara dos Deputados), ou

seja, a ASCADE ficava com o filé mignon, com aquilo que pode vir a ter um maior valor

comercial e os catadores só ficavam com o pouco que sobrava. Isso acontecia em 2002, época

em que a questão social estava muito aflorada e despertou nesse grupo a vontade de estudar o

que estava acontecendo na Câmara. Foi a partir desse estudo que eles tiveram contato com

várias realidades.

Nessa mesma época eu estava trabalhando com o Ministério do Meio Ambiente e tive

a oportunidade de vir à Câmara dos Deputados fazer uma palestra e ao invés de falar só sobre

gestão de resíduos eu aproveitei para falar sobre gestão de água que era um projeto específico

do Ministério do Ambiente do qual eu era coordenadora, foi aí que surgiu o interesse em

expandir o trabalho para outras frentes.

Mas tudo começou de fato com a reciclagem, com a coleta seletiva, que é um trabalho

que envolve todo mundo, foi aí que se deram conta que o trabalho que eles se propunham a

fazer era uma parte do todo e que o todo era importante, ainda mais de tratando de uma

entidade como a Câmara que tem uma grande visibilidade perante a sociedade. Tudo o que a

Câmara faz de positivo ou de negativo aparece bastante e, devido a isso, ela pode ser uma

formadora de opinião.

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Também tem a questão do impacto ambiental que a Casa gera com esses cinco

edifícios e com essa quantidade de pessoas; era bastante significativo e justificava fazer uma

extensão do trabalho que estava sendo proposto. Sendo assim, o grupo terminou a parte da

coleta seletiva, implantaram a coleta seletiva na entidade e então preparam um planejamento

estratégico, formularam uma nova proposta e levaram ao presidente da Câmara. O presidente,

então, viu que não tinha nada a perder em estimular esse trabalho, foi assim que o Núcleo de

Gestão Ambiental foi criado e naturalmente necessitava de uma equipe. Hoje a equipe é

formada por voluntários que estão em áreas estratégicas. Esses funcionários desenvolvem as

ações em prol do ambiente no seu próprio ambiente de trabalho porque é a função dele, então

a parte de energia é no setor de energia, a parte de água no setor de água, a parte de gestão de

resíduos hospitalares é no serviço médico e assim por diante.

O EcoCâmara fez uma avaliação do que existia de oportunidade dentro da casa e

transformou essas oportunidades em ações e hoje o programa tem metas, ações e tudo mais.

Então o que motivou foi a consciência de não se ter nada a perder, só a ganhar. Com a gestão

ambiental a Câmara passa a ter mais uma oportunidade de ser vista positivamente pela a

sociedade, não só com relação ao social, mas também no ponto de vista econômico.

02) Quais são os objetivos do programa?

O principal objetivo do programa é identificar aspectos ambientais que estejam de

alguma forma impactando o meio ambiente, sugerir mudanças visando o menor impacto e

também servir de referência para outros órgãos de governo. Já aconteceu com o Senado, que

criou há pouco mais de um ano o Senado Verde, e está acontecendo também com as câmaras

municipais de outros estados, que estão cada vez mais buscando uma interação conosco.

Nós temos a nossa visão interna que é fazer o dever de casa e buscamos também dar o

exemplo para outros órgãos.

03) O programa está inserido no planejamento estratégico da Casa?

Não como deveria. Nós precisamos dar mais alguns passos. A alta direção está

envolvida, participa muito, principalmente quando ocorrem eventos mostrando as conquistas

do EcoCâmara, mas ainda falta o fortalecimento do tema meio ambiente dentro de algumas

diretorias. Algumas diretorias ainda não estão sensibilizadas, até porque é difícil uma diretoria

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ou um diretor de outro setor se sensibilizar ou querer colocar em prática as propostas do

EcoCâmara se ele não tiver uma formação.

No meu ponto de vista, existe em alguns setores o desconhecimento de como o meio

ambiente afeta o dia-a-dia. Essa visão de que eu exerço uma atividade que gera um impacto e,

portanto, ela deve ser melhorada, pode melhorar o desempenho do meu setor, é uma visão que

poucos funcionários têm. Portanto, trata-se de uma visão que não está inserida nas estratégias

da Casa, talvez ela esteja na Diretora Geral, na pessoa do diretor que está motivado com as

propostas, mas não é uma consciência compartilhada com todas as diretorias. Falta agora

atingir as pessoas que não têm essa visão, falta mostrar a essas pessoas a importância do meio

ambiente e é nesse ponto que nós pretendemos avançar.

04) Em sua opinião, quais foram os principais ganhos que a Câmara obteve com a

implantação de um sistema de gestão ambiental?

A Câmara ganhou uma maior visibilidade fora da Casa. Eu não chamaria de marketing

verde, porque eu não gosto dessa idéia comercial, mas o fato da Câmara ter esse programa e

divulgá-lo externamente mostrou para as pessoas que estão lá fora que aqui na Câmara

existem também coisas boas acontecendo. Um bom exemplo disso é o esforço em tentar zerar

alguns impactos ambientais ou diminuí-los consideravelmente. E também tem a parte social, a

questão da cooperativa de catadores de papéis que era do meio do mato e hoje é a segunda

maior cooperativa do DF, que tem o maior numero de pessoas cooperadas e tudo mais, e isso

é graças ao trabalho do EcoCâmara. Então o maior ganho da Câmara é o que a sociedade

pensa da instituição quando conhece o EcoCâmara, é aquela opinião: ‘eu não sabia a Câmara

tinha projetos tão legais’. Sem contar o ganho econômico em alguns setores, mas a gente não

tem um ganho econômico muito significativo. Em minha opinião, o ganho maior foi o da

imagem.

05) Em sua opinião, o que falta no EcoCâmara?

Bom, o EcoCâmara é formado por um grupo de pessoas voluntárias, nós temos uma

pequena equipe composta por dois funcionários fixos e mais dois estagiários, isso já é um

ganho significativo em termos de pessoal envolvido com isso, os demais são coordenadores

das áreas temáticas e os seus substitutos que também interagem. Os coordenadores dividem o

seu tempo entre as atribuições do seu cargo enquanto funcionário da Câmara com as

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Page 74: Junia Maria Z Falqueto Gestao Ambiental Na Adm Publica UnB 2007 EcoCamarara

atribuições enquanto voluntário do EcoCâmara, essas pessoas que fazem parte desse conjunto

estão altamente sensibilizadas e conhecem bem o seu papel enquanto coordenador do

EcoCâmara e enquanto funcionário do seu setor, ou seja ele está sensibilizado com as atitudes

que ele deve inserir no dia-a-dia do setor onde ele trabalha.O que acontece muitas vezes e

também o que está faltando é que essa pessoa consiga persuadir a equipe que trabalha com ele

a adotar as propostas do EcoCâmara. Ele pode estar muito bem intencionado, mas se ele não

tem o poder de decisão dentro do seu setor ele não consegue fazer com que suas atitude e

intenções sejam as mesmas atitudes e intenções dos demais funcionários. Um exemplo disso é

o tema licitação sustentável, que é um assunto que não depende do coordenador da área

temática, depende também que ele consiga convencer o chefe de sessão, o diretor do

departamento, é preciso fazer com que o servidor que vai encomendar um produto busque um

produto que irá causar menos impacto ao meio ambiente. Há vários trabalhos que não

avançam porque dependem de uma decisão superior que nem sempre é favorável.

Faltam os verdadeiros tomadores de decisão da Casa, os diretores, entenderem que é

preciso pensar mais em política ambiental. Se cada diretor pensasse no que pode fazer dentro

da sua diretoria para melhorar as condições ambientais, nós teríamos resultados muito mais

satisfatórios e rápidos. O que falta, então, é uma maior conscientização ambiental na Casa.

06) Você acredita que o EcoCâmara tenha provocado uma mudança de comportamento

nos servidores da Casa? Se sim, como essa mudança é percebida?

Ainda não como nós do EcoCâmara gostaríamos. Mudança de comportamento é algo

que nós precisamos de tempo para mensurar. Nós já percebemos que mudou um pouco a

mentalidade, mas não da forma como gostaríamos, mas a gente sabe que se hoje qualquer

pessoa perguntar para alguém da Casa se ela conhece o EcoCâmara, ela irá responder que sim.

Nós aparecemos muito, colocamos muita informação na mídia. Ainda não conseguimos

mudar o comportamento principalmente do servidor, aquele que é do quadro da Casa,

concursado. Com relação aos terceirizados, tivemos uma resposta muito melhor, os

terceirizados responderam com mais consciência aos apelos do EcoCâmara, é claro que

existem as exceções porque a rotatividade dos terceirizados aqui na Câmara é muito grande,

principalmente o pessoal da limpeza que é um grupo que a buscamos trabalhar muito, devido

a essa rotatividade precisamos estar sempre reciclando o pessoal. O resultado é que hoje nós

já escutamos certos comentários que antes eles não faziam como: “Eu passei a fazer a coleta

seletiva do lixo na minha casa”, “ Eu quero que meus filhos venham assistir as palestras sobre

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o meio ambiente”. Isso foi despertado graças ao trabalho de conscientização que nós do

EcoCâmara realizamos, das palestras que nós fizemos, das oficinas de arte e educação, dos

cursos para transformar lixo em artesanato. Hoje, a equipe de limpeza da Câmara já esta

consciente de que o lixo não é mais aquela coisa desprezível que se coloca em qualquer lugar,

que a água não é um recurso que estará disponível em abundância para o resto da vida.

Entre os terceirizados eu vejo e eles mesmos afirmam que já houve uma evolução com

relação à mudança de comportamento em prol do Meio Ambiente, já em relação aos

servidores eu acho que essa mudança está ocorrendo de forma muito mais lenta.

07) Você acredita que o EcoCâmara produz algum impacto na imagem da Câmara dos

Deputados perante a sociedade?

Eu não tenho dúvidas que o principal ganho foi com relação à imagem. Quando eu

comecei a trabalhar a idéia de gestão ambiental na Câmara dos Deputados, eu avisei ao

pessoal interessado que eu estava disposta a tornar o EcoCâmara referência em gestão

ambiental em Brasília e até fora de Brasília. Isso nós conseguimos alcançar nesses quatro

anos de trabalho. Hoje você pode ir a qualquer lugar onde se fala de meio ambiente, em

gestão ambiental que as pessoas conhecem ou ao menos já ouviram falar do trabalho do

EcoCâmara.

08) Como você avalia o EcoCâmara? Poderia exemplificar sua resposta?

Comparando o que nós da Câmara estamos fazendo com o que outros órgãos de

governo estão fazendo, não tenha dúvidas que nós já temos uma estrutura montada, vários

projetos já estão bem encaminhados, pode ser que na ação propriamente dita, na implantação

das nossas idéias, o processo ainda esteja mais lento do que nós esperaríamos, mas nós temos

uma boa estrutura e temos também um modelo que está sendo copiado por outros e eu acho

que isso é dez.

No sentido de velocidade e implementação das nossas ações eu dou uma nota seis,

acho que o EcoCâmara poderia ser mais ágil, fazer mais rápido. Com relação a isso, alguns

pontos precisam ser colocados: é uma Casa grande, é uma administração pesada, então não é

uma empresa na qual você consiga implantar um programa com as dimensões e intenções do

EcoCâmara em 2 meses. Provocar grandes mudanças leva tempo e quanto mais tempo você

levar, mais sedimentadas serão essas mudanças, uma mudança muita rápida não se sustenta

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por muito tempo. Nós estamos em uma velocidade que poderia ser mais rápida, mas se for

veloz demais pode estragar. Eu sou suspeita para falar, mas acho que o caminho que o

EcoCâmara esta trilhando é muito bom e sustentável.

09) Há alguma questão que eu não abordei e que você gostaria de ressaltar?

Uma questão que estou bastante preocupada é como nós vamos implantar mais ações

que, de fato, provoquem a mudança da cultura institucional, porque não é só com palestras e

com reportagens na revista da Casa, com o jornalzinho da Câmara e fazendo eventos que nós

vamos mudar a cultura da Casa, ou seja, não é só assim que nós vamos conseguir inserir

efetivamente a preocupação com o meio ambiente no dia-a-dia das pessoas. Para isso é

fundamental a ligação com o Centro de Formação e Treinamento da Câmara dos deputados, o

CEFOR, que estamos trabalhando firme para conseguir. O CEFOR é o símbolo da

transformação cultural dentro da Casa, afinal, os treinamentos, os cursos de formação, e tudo

mais ligado a ensino e ao conhecimento é lá que acontece. O CEFOR é o contato direto com o

servidor, é ele que forma o nosso servidor. Nós precisamos fazer com que os dirigentes do

CEFOR entendam que os temas relacionados ao meio ambiente são temas que precisam

chegar ao servidor, seja para aplicação direta, seja para ele ter um comportamento como

cidadão dentro da Casa. A gente não vai conseguir trazer essa sensibilização em um tempo

mais curto. Não é com palestra que eu consigo isso, é com curso, é com treinamento, é

incluindo o tema meio ambiente na ementa dos cursos oferecidos. Às vezes, uma hora por dia

em um curso com duração de uma semana já signifique mudança nos hábitos desses

servidores a favor do meio ambiente. O EcoCâmara precisa chegar ao CEFOR porque o

CEFOR é o formador de opinião da Casa.

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Entrevistado B

NOME: Rômulo Lima Câmara

CARGO/FUNÇÃO: Diretor da Coordenação de Administração de Edifícios

01) Quais foram os principais fatores que levaram a Câmara dos Deputados à

criação do EcoCâmara?

Um grupo de funcionários levou até o diretor geral a proposta de coleta seletiva,

embora a Câmara já fizesse uma seleção, todo o papel limpo era doado para a ASCADE.

Quando nós começamos a estudar, inclusive o presidente da ASCADE da época fez parte do

grupo, nós começamos a ver que havia uma série de outras variáveis que nós precisávamos

conhecer melhor sobre a separação do lixo. Questões como: O que fazer com esse lixo? Para

onde ele vai? Quem é que vai usar? E os catadores – como irá ficar a situação deles? Tudo

isso começou a aparecer nessa fase de estudo, antes da criação do EcoCâmara, em 2001. E eu,

como diretor da Coordenação de administração de Edifícios, trabalho diretamente com a

fiscalização das empresas terceirizadas de limpeza responsáveis pela coleta do lixo tinha que

estar inserido no trabalho.

Então, nós iniciamos o EcoCâmara com o lançamento da campanha de Coleta de lixo,

já com um estudo de como gerir esse lixo. Nós nos preocupamos muito em como poderíamos

facilitar o descarte de lixo da Câmara sem causar prejuízo aos catadores de papéis, afinal eram

várias famílias que dependiam desse trabalho e até a diretoria da ASCADE entendeu que os

catadores precisavam mais do que eles e nos ajudou na organização da cooperativa.

Atualmente, a cooperativa é formada por cerca de 250 famílias, e conta com o apoio do

governo do GDF e de algumas ONGs que lhes dão auxiliam.

A Câmara se sente satisfeita, porque demos o “start” para esse processo. Foi através da

organização da cooperativa, eles tiveram uma série de outros benefícios.

02) Quais são os objetivos do programa?

Os objetivos iniciais eram implantar a conscientização na Casa, mostrar a importância

da coleta seletiva e de um trabalho ambiental eficaz. Nós tínhamos no início a idéia de que

quando concluíssemos esse trabalho de conscientização o EcoCâmara poderia deixar de

existir, pois o seu objetivo já estaria concluído.

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Mas, na prática, nós percebemos que esse trabalho deve ser contínuo. O EcoCâmara

tem o papel de tentar despertar entre os funcionários, terceirizados, visitantes e deputados o

interesse pelo meio ambiente. O objetivo é inserir a preocupação com o meio ambiente dentro

do trabalho e da vida de cada um.

03) O programa está inserido no planejamento estratégico da Casa?

Agora está. A Câmara começou, há pouco tempo, fazer o planejamento estratégico da

Casa como um todo, ainda não terminou o de todos os setores, mas como o EcoCâmara é

vinculado a Diretoria Geral, seu planejamento estratégico já foi elaborado. O programa já tem

sua missão, sua visão e seus valores definidos além das metas de trabalho para o próximo ano.

São dez áreas de atuação, cada uma com um coordenador e cada área desenvolve projetos que

visam diminuir o impacto ambiental que a Casa produz.

04) Em sua opinião, quais foram os principais ganhos que a Câmara obteve com a

implantação de um sistema de gestão ambiental?

São vários os ganhos. Vamos sair um pouco dos ganhos sócio-ambientais e entrar nos

ganhos econômicos. Hoje nós temos economia de água, de papel, de energia com a troca das

lâmpadas por lâmpadas mais eficientes, de consumo menor. Porém, na minha visão, a

conscientização que nós estamos conseguindo com a adesão de deputados, adesão da frente

ambientalista, da mesa da Câmara que tem nos apoiado e já está participando com a gente de

eventos, esse é o maior bem que a Câmara pode ter.

A Câmara é uma entidade muito visível. A impressão que dá é que a imprensa dorme

aqui. Sempre há alguém da imprensa na Casa. O objetivo principal deles é a questão política,

mas nós podemos aproveitar isso para mostrar também o trabalho administrativo da Casa.

05) Em sua opinião, o que falta no EcoCâmara?

Nós precisamos repensar um pouco como trabalhar. Todos os coordenadores

trabalham no EcoCâmara com tempo compartilhado, eu, por exemplo, sou diretor da

Coordenação de Administração de Edifícios e, ao mesmo tempo, sou coordenador do

EcoCâmara, tendo que administrar os dois cargos, tem hora que isso fica incompatível.

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Hoje nós já temos dois funcionários à disposição do EcoCâmara, o que já significou

um ganho super importante para o programa, mesmo assim, nós ainda precisamos trabalhar

melhor nossa estrutura, a parte organizacional do EcoCâmera.

Outra dificuldade está relacionada com investimentos, com implantação. Nós temos

várias idéias de implantação, de projetos e tudo isso demanda estudos que demandam

investimentos que, com certeza, gerará uma dificuldade. Nós vamos precisar negociar

orçamento para desenvolver esses projetos no futuro.

06) Você acredita que o EcoCâmara tenha provocado uma mudança de comportamento

nos servidores da Casa? Se sim, como essa mudança é percebida?

Mudança de comportamento é um processo. O EcoCâmara vem provocando, aos

poucos, mudança de comportamento e de valores dos funcionários. Ainda não como nós do

EcoCâmara gostaríamos, nós precisamos ser realistas e assumir que ainda há muita gente para

ser atingida.

Nós fazemos o monitoramento dos resíduos, fazemos a pesagem e por meio de

amostragem nós avaliamos como o servidor está se comportando. Ainda há muito lixo

misturado, apesar das lixeiras diferenciadas.

O Senhor percebe uma diferença de comportamento entre servidores

concursados e os funcionários terceirizados?

Existe sim uma diferença, o terceirizado está muito mais engajado com o EcoCâmara.

Eu acredito que esta diferença ocorre porque é mais fácil trabalhar com o terceirizado,

periodicamente nós temos reuniões diretas com eles. É muito mais fácil reunir os terceirizados

e mostrar a eles as propostas, ensinar como deve ser o trabalho. Com servidor é muito mais

difícil fazer isso, é muita gente.

07) Você acredita que o EcoCâmara produz algum impacto na imagem da Câmara dos

Deputados perante a sociedade?

Sim, com certeza o EcoCâmara produz um impacto positivo na imagem. Nós já

tivemos alguns exemplos disso, o diretor geral fez recentemente uma palestra no Green

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Meeting, representou o EcoCâmara lá. Foi um importante passo para a imagem da Câmara,

havia vários estudantes e entidades inclusive internacionais.

Os eventos que nós participamos têm dado muitos resultados positivos, têm mostrado

que nós estamos no caminho certo. Outros órgãos do legislativo como o Senado, o Tribunal

de Contas da União e outras Câmaras Municipais vêm interagindo com a gente e os ganhos

são mútuos.

Tem acontecido também de nós influenciarmos as pessoas a levarem o nosso trabalho

para suas casas. Eu mesmo, depois que me envolvi com o EcoCâmara, propus que a coleta

seletiva fosse feita no condomínio onde eu moro e hoje o trabalho já esta bem adiantado.

08) Como você avalia o EcoCâmara? Poderia exemplificar sua resposta?

O EcoCâmara foi uma idéia muito boa do grupo inicial de trabalho. Naquele tempo

nós não tínhamos grandes aspirações como servir de modelo para outras entidades

governamentais e hoje somos reconhecidos como uma autoridade em gestão ambiental

pública.

Temos boas parcerias, inclusive com ONGs como a SOS Atlântica, e isso reflete que

nós desenvolvemos um bom trabalho. ONGs e entidades de grande importância para o País

têm nos procurado para parcerias e acordos de cooperação.

Nós temos feito um trabalho bem legal com um grupo muito unido formado por

pessoas muito capacitadas e eu acho que é isso que está levando aos bons resultados e que deu

a Câmara essa visibilidade, nós nem planejávamos tanto isso. E hoje nós temos uma visão

bem mais ambiciosa que é ser um pólo de excelência na promoção, articulação e

multiplicação das ações ambientais na esfera governamental.

A Câmara recentemente se comprometeu a adotar práticas de carbono neutro, para isso

terá que plantar doze mil árvores para neutralizar sua emissão de carbono durante o ano de

2006, em contrapartida, o EcoCâmara irá desenvolver um trabalho de redução da emissão de

carbono. Algumas medidas já são tomadas do DEMED (Departamento Médico). Antigamente

todo o material era incinerado, porque nós entendíamos que tudo poderia estar contaminado e

nós aprendemos que isso estava errado. Hoje, só é incinerado 12,7 % dos resíduos gerados

nesse departamento, que são os materiais que podem realmente causar algum risco. Imagina

aquele material todo sendo incinerado, a quantidade de gases poluentes que eram lançados na

atmosfera.

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09) Há alguma questão que eu não abordei e que você gostaria de ressaltar?

O EcoCâmara é tão abrangente. Eu acho que vale a pena olhar o trabalho que a gestão

anterior do programa fez com os jardins da Casa. Foi desenvolvido um estudo sobre como

tratar os jardins da Câmara. Hoje não são utilizados produtos químicos, agrotóxicos, existe

uma preferência pelas plantas do cerrado, um viveiro foi criado e, além disso, uma equipe de

funcionários terceirizados foi treinada para fazer a compostagem, que é mais uma forma de se

reaproveitar resíduos que antes a Câmara jogava fora – tudo que pode ser utilizado na

compostagem é guardado para ser utilizado pela equipe da jardinagem.

São vários os trabalhos que estão em andamento, trabalhos que envolvem energia,

água, lixo e se tudo der certo, em breve, muitos outros projetos interessantes serão

implantados.

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Entrevistado C

NOME: Déborah da Silva Achcar

CARGO/FUNÇÃO: Chefe da Coordenação de Comunicação Institucional

01) Quais foram os principais fatores que levaram a Câmara dos Deputados à criação do

EcoCâmara?

Foram várias pessoas tendo a mesma idéia ao mesmo tempo, cada uma buscando se

aprofundar em um aspecto ambiental. O diretor geral, como a maior autoridade administrativa

da Casa, tomou a iniciativa de formar um grupo multidisciplinar de trabalho no qual convidou

os servidores que estavam envolvidos com essa idéia e outros que atuavam em áreas que

seriam estratégicas a fazerem parte desse grupo. Essas pessoas deveriam fazer um diagnóstico

e apresentar um plano de trabalho com propostas para diminuir o impacto ambiental gerado

pela Câmara.

02) Quais são os objetivos do programa?

Um dos principais objetivos foi beneficiar os catadores de papéis que ficavam ao redor

dos contêineres de lixo da Câmara e que não contavam com nenhuma estrutura, eram muito

desorganizados. Sendo assim, o principal objetivo no início do programa era social. Essa foi a

principal causa que me motivou, eu não pensei exatamente no desperdício, era mais

importante encontrar uma maneira de ajudar os catadores a obterem um rendimento maior. O

grupo se empenhou para dar cidadania a esses trabalhadores. Nós passamos muito tempo

ajudando-os a se organizar e formar uma cooperativa. Com a ajuda da Câmara a cooperativa

conseguiu contato com outros órgãos, como o Banco da Brasil e alguns ministérios.

O programa hoje tem outros objetivos como a disseminação de boas práticas, a

mudança de hábito das pessoas que freqüentam a Câmara, a economia de dinheiro e também

ser referência para outros órgãos governamentais.

03) O programa está inserido no planejamento estratégico da Casa?

A Câmara passou a elaborar seu planejamento estratégico há pouco tempo. Em minha

opinião, está inserido sim, já que é um programa apoiado pela diretoria geral. O apoio e a

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colaboração da alta direção são essenciais para que o EcoCâmara avance com os seus

objetivos.

04) Em sua opinião, quais foram os principais ganhos que a Câmara obteve com a

implantação de um sistema de gestão ambiental?

Fora o ganho econômico, que é expressivo, há a satisfação de estar cumprindo o seu

papel de responsabilidade social. O público interno da Casa que está envolvido com o

EcoCâmara se orgulha muito dos bons resultados já alcançados. A imagem da Câmara

melhorou muito também depois da criação do programa.

05) Em sua opinião, o que falta no EcoCâmara?

Falta agilidade. Por mais que as pessoas achem as idéias simpáticas, achem tudo muito

bom, o tempo que leva até a implantação é muito grande. Eu acho muito demorado. Falta

eficiência, os projetos esbarram na burocracia da Casa.

Outra coisa que falta é um ambiente melhor para receber os visitantes, o Escritório

Verde é só uma salinha no anexo IV, falta estrutura para mostrar melhor o trabalho a quem se

interesse por ele.

06) Você acredita que o EcoCâmara tenha provocado uma mudança de comportamento

nos servidores da Casa? Se sim, como essa mudança é percebida?

Acredito que sim, mas ainda é necessário um trabalho maior. O trabalho de mudança

de hábito precisa ser contínuo.

a. A senhora percebe um diferença de comportamento entre os servidores concursados e

funcionários terceirizados?

Eu acho que o terceirizado está mais consciente porque nós conseguimos fazer um

trabalho melhor com esse grupo. É mais fácil reunir o pessoal terceirizado para dar aulas de

educação ambiental, aulas de artesanato e isso fazem com que a pessoas mudem seus hábitos

e entenda que ela também pode ajudar, já com os servidores, em geral, nós não conseguimos

fazer isso ainda. Esse ano isso deve mudar porque o número de pessoas envolvidas com o

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EcoCâmara tem aumentado muito, o EcoCamarada é um projeto que está sendo implantado

agora e que possui esse objetivo: de envolver cada vez mais pessoas com a gestão ambiental

da Casa.

07) Você acredita que o EcoCâmara produz algum impacto na imagem da Câmara dos

Deputados perante a sociedade?

Com certeza, o EcoCâmara está associado a um empreendimento de responsabilidade

sócio-ambiental e isso reflete muito bem perante a sociedade. Recentemente o nosso diretor

geral foi a São Paulo apresentar uma palestra no 7º Encontro Verde das Américas e foi muito

aplaudido. Esse tipo de intervenção é muito importante. Antes do EcoCâmara, o que ele

apresentaria em um encontro como esse? Nada. Ele foi lá e mostrou que a Câmara dos

Deputados possui um trabalho ambiental bem estruturado e as pessoas passam a olhar com

outros olhos, passam a compreender que a instituição tem seus males, mas também busca dar

sua contribuição.

08) Como você avalia o EcoCâmara? Poderia exemplificar sua resposta?

Eu o avalio como um programa vitorioso que veio pra ficar e que ainda vai crescer

muito dentro da Câmara dos Deputados.

09)Há alguma questão que eu não abordei e que você gostaria de ressaltar?

Tem a questão das campanhas de educação ambiental, a preocupação com a

publicidade e da divulgação dos projetos. Nós conquistamos muito espaço na Casa graças a

isso, nós temos rádio, jornal, TV, relações públicas e toda essa gama de meios de

comunicação facilita muito a aceitação e o reconhecimento do EcoCâmara para o público

interno e até externo que possa vir a ter acesso à essa divulgação.

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Entrevistado D

NOME: Mauro de Deus

CARGO/FUNÇÃO:Técnico Legislativo

01) Quais foram os principais fatores que levaram a Câmara dos Deputados à criação do

EcoCâmara?

A legislação em vigor é clara quando diz que é responsável pelo lixo aquele que o

produz, e a Câmara dos Deputados não tinha nenhuma espécie de mecanismo de controle ou

gestão sobre o lixo que produzia. Então, o diretor geral, que é o guardião da Casa com relação

aos aspectos administrativos, criou um grupo de trabalho multidisciplinar para resolver essa

questão. E então, eu fui convidado para participar deste grupo de trabalho.

Logo que nós começamos a trabalhar encontramos os problemas. Nós detectamos que

existiam os catadores de papéis, uma população muito carente e que nós, servidores da

Câmara, não tínhamos conhecimento de como lidar. A partir disso concluímos que

precisávamos de reforço e fomos buscar essa ajuda na Secretária de Serviço Social do GDF e

lá nós conseguimos a indicação de pessoas com a experiência necessária para nos ajudar.

O primeiro passo foi chamar algumas dessas pessoas para uma reunião e eles vieram

muito desconfiados e foi aí que nós descobrimos que eles tinham uma associação e uma

cooperativa juridicamente formada. E nos deparamos com a seguinte situação: existia uma

cooperativa por direito, mas não existia de fato. Eles não conseguiam entender a dimensão das

duas entidades que tinham sido criadas para eles. Existir e não existir era o mesmo. Nós

fomos, aos poucos, modificando a realidade deles, organizamos a cooperativa, ajudamos a

traçar as parcerias com outras entidades que não só a Câmara é hoje, se não me engano, já é

uma das maiores cooperativas de catadores de papéis de Brasília.

02) Quais são os objetivos do programa?

O maior objetivo do EcoCâmara é a transformação da visão do servidor frente ao meio

ambiente e nós começamos por meio das tentativas de redução do volume de material

descartável.

Para alcançar nossos objetivos, nós tivemos que buscar apoio em outras entidades e foi

então que uma especialista em meio ambiente, que na época trabalhava no Ministério do Meio

Ambiente, nos ensinou como começar um programa de preservação ao meio ambiente. Foi tão

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boa a parceria que ao final desse trabalho nós sugerimos ao diretor geral que a requisitasse

para que ela continuasse o trabalho ambiental na Câmara. Ele realmente fez isso e ela é hoje a

grande responsável pela continuidade desse trabalho. Jacimara Guerra Machado, além da

responsável técnica pelo EcoCâmara, é também uma das maiores autoridades do Brasil na

questão ambiental a partir do serviço público.

Na época que este trabalho foi iniciado a nossa equipe tinha uma sinergia muito

grande e os bons resultados foram conseqüências dessa sincronia.

Os objetivos então eram provocar uma sensibilização do servidor com relação às

questões ambientais, criar formas de economizar e diminuir o desperdício da Casa. Só para ter

uma idéia, teve uma época em que a Câmara produzia até lixo atômico com os materiais que

eram descartados pelos laboratórios de fotografia.

03) O programa está inserido no planejamento estratégico da Casa?

Eu não tenho acompanhado isso de perto para responder a esta pergunta com

segurança. Eu tenho participado de discussões sobre planejamento estratégico no meu setor e

fico preocupado porque na minha área, em nenhum momento até agora, eu ouvi falar sobre o

programa. Eu tenho dúvidas, não sei até que ponto a Casa tem tratado as propostas do

EcoCâmara de maneira consistente e contínua. Posso apenas afirmar que no setor onde

trabalho não se tem falado sobre o programa durante as discussões sobre planejamento.

04) Em sua opinião, quais foram os principais ganhos que a Câmara obteve com a

implantação de um sistema de gestão ambiental?

O início da discussão em si já representa uma vitória, até então a Casa nunca tinha

discutido a questão ambiental. Considerando que é a Casa quem faz as leis que todos os

brasileiros devem seguir, isso era um paradoxo. Manda fazer, mas não faz. Só de ter levado

essa discussão à pauta da Câmara eu entendo que já tenha sido um grande ganho.

Agora, na prática, eu não vejo muito ganho. As campanhas internas não tiveram

continuidade até onde eu sei, viraram uma espécie de marketing. A Câmara é uma grande

vitrine temos um complexo de comunicação muito forte, qualquer pequena ação que acontece

aqui dentro ela é repercutida na imprensa e com isso as campanhas do EcoCâmara viraram

peça de marketing. Eu entendo que algumas pessoas usam isso para valorizar a imagem da

Câmara e não estão interessadas na profundidade do programa.

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Respondendo de forma direta a sua pergunta, em minha opinião, o EcoCâmara reforça

positivamente a imagem da instituição principalmente para o público externo, para a

sociedade que está lá fora. Agora, na prática, qualquer pessoa que transitar pela Casa irá

observar que as propostas do EcoCâmara não estão sendo cumpridas. As pessoas jogam o lixo

em qualquer lixeira mesmo estas estando devidamente diferenciadas. Nós fazemos as leis,

mas não as obedecemos.

05) Em sua opinião, o que falta no EcoCâmara?

Faltam campanhas educativas, faltam campanhas que busquem dar continuidade ao

trabalho do EcoCâmara. Nós iniciamos isso: criamos uma personagem - a Econogilda -,

contratamos um grupo de teatro, investimos em divulgação, fizemos um kit com vídeo para

todas as sessões da Câmara, era um projeto de médio prazo e foi interrompido. Afirmar que

hoje há um descarte correto na Câmara é uma balela.

Falta também gerir melhor a equipe de trabalho, principalmente os terceirizados,

porque a rotatividade é relativamente grande. Tivemos um exemplo disso no setor de jardins

da Câmara, um grupo de funcionários terceirizados foi submetido a treinamento, aprenderam

a fazer compostagem e, logo depois, a empresa onde eles trabalhavam perdeu a licitação,

saíram da Câmara e nós perdemos o investimento.

06) Você acredita que o EcoCâmara tenha provocado uma mudança de comportamento

nos servidores da Casa? Se sim, como essa mudança é percebida?

Muito pouco, basta ver como o lixo é descartável, eu não tenho mais acesso aos

números, mas a minha percepção é que está longe do que nós almejávamos inicialmente.

Isso vai de cada um, eu aprendi muito com o EcoCâmara e levei isso para minha

família, na minha casa hoje eu tenho lixeiras diferencias, eu tenho práticas na minha casa que

eu me policiei, eu aprendi no período que eu trabalhei no EcoCâmara e consegui levar isso

para minha família.

a. O senhor percebe uma diferença de comportamento entre os servidores concursados e

funcionários terceirizados?

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Page 88: Junia Maria Z Falqueto Gestao Ambiental Na Adm Publica UnB 2007 EcoCamarara

Não vejo tanta, acho que os terceirizados aprenderam mais porque as campanhas

educacionais chegam com maior facilidade a eles. Outro motivo é que os terceirizados sofrem

uma maior cobrança, eles são cobrados diretamente pelo seu encarregado, existe uma pressão

maior em cima deles, condicionando o comportamento. Porém, eu não acredito que isso tenha

mudado grandes hábitos.

07) Você acredita que o EcoCâmara produz algum impacto na imagem da Câmara dos

Deputados perante a sociedade?

Sim, uma imagem bastante positiva. É o único impacto que percebo que ocorreu de

fato. Hoje a Câmara conquistou uma imagem de instituição que tem uma grande preocupação

com o meio ambiente, mas isso é imagem, é marketing, a realidade é diferente. A

preocupação existe de fato, mas não chega a essas proporções como está sendo anunciada.

08) Como você avalia o EcoCâmara? Poderia exemplificar sua resposta?

É uma prática saudável. Gestão ambiental é uma área nova, a preocupação com um

planeta é uma indústria nova. É interessante que a instituição que faz as leis sirva de exemplo.

Acho que é importante, que devem continuar as campanhas educativas devem ser mais

incisivas, mais continuas. É ótimo trabalhar com pessoas engajadas, eu gostaria de ter ao lado

da minha mesa servidores que se preocupassem em descartar corretamente o lixo.

O EcoCâmara representa um primeiro passo muito importante, conseguimos

conquistar um espaço físico importante – o Escritório Verde -, tem grupos políticos

interessados em se vincularem ao programa. Espero que tenha sido uma boa semente, fazendo

uma analogia com o tema, e que frutifique com boas práticas, bons exemplos e economia de

dinheiro público. Espero que as boas práticas ambientais aumentem e melhorem a relação

servidor – instituição e instituição – planeta.

09) Há alguma questão que eu não abordei e que você gostaria de ressaltar?

Não, eu gostei da entrevista.

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Entrevistado E

NOME: Cássia Regina Botelho

CARGO/FUNÇÃO: Chefe da Assessoria de Projetos Especiais

01) Quais foram os principais fatores que levaram a Câmara dos Deputados à criação do

EcoCâmara?

A Câmara é quase uma cidade, por ser um local público o volume de pessoas

transitando na instituição por dia é muito grande e isso faz com que a produção de resíduos

por dia também seja grande. A necessidade de gerenciar o descarte existia e a partir disso foi

formado um grupo de trabalho para solucionar essa questão. A Câmara, até então, não havia

tomado nenhuma medida eficaz com relação aos resíduos que ela mesma produzia. Tudo

começou pela coleta seletiva.

Teve também a situação dos catadores de papéis que influenciou bastante, eram

pessoas carentes que vinham catar papéis nos lixos da Casa e que sensibilizaram o grupo de

voluntários que iniciou o trabalho de gestão ambiental na Câmara. Esse foi uma das principais

motivações do programa. Os servidores se sentiram na obrigação de ajudar a esses catadores e

desenvolveram, além das medidas de proteção ambiental, um trabalho social.

02) Quais são os objetivos do programa?

O Objetivo é que todos da Casa sejam EcoCâmara. O programa surgiu para lançar uma

política ambiental, uma política de controle de resíduos, de economia de dinheiro público na

Câmara. O objetivo era difundir essa consciência ambiental, para que todo mundo ao sair da

sua sala apague a luz, desligue o computador, passe a descartar corretamente o seu lixo no seu

dia-a-dia. Medidas simples que ajudam a desperdiçar menos.

O EcoCâmara presta também uma espécie de serviço de consultoria à Casa: ensina

como fazer, como economizar, como tratar bem o meio ambiente. Para isso o programa tem

uma pessoa técnica muito qualificada, a Jacimara, dez áreas temáticas e muitos projetos.

Outro objetivo é apoiar outras entidades governamentais. Hoje o EcoCâmara é um

programa modelo para outras instituições.

03) O programa está inserido no planejamento estratégico da Casa?

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Sim. O Diretor Geral já determinou que todos os órgãos da Casa precisarão traçar em

2008, metas de redução do desperdício, cada setor da Câmara deverá apresentar um plano

explicando de que forma irá contribuir com o EcoCâmara. Isso mostra que o programa já

atingiu o nível estratégico da Casa.

04) Em sua opinião, quais foram os principais ganhos que a Câmara obteve com a

implantação de um sistema de gestão ambiental?

Os ganhos são muitos. Internamente, as pessoas estão mais sensíveis à causa

ambiental. Hoje, a Câmara como um todo tem uma meta comum que é diminuir o impacto

ambiental e por trás disso está a gestão ambiental. Eu acredito também que as pessoas que se

vinculam ou simplesmente colaboram com o EcoCâmara se sentem melhores por isso, os

Ecocamaradas exemplificam bem isso, são pessoas que trabalham e querem ser voluntários do

EcoCâmara. Em geral, O comprometimento das pessoas vinculadas ao programa é muito

grande. Externamente, eu acho que a Câmara, através do programa, está conseguindo mostrar

pra sociedade que se preocupa em fazer o seu papel. A Casa tem a obrigação de dá o exemplo.

Nós estamos até influenciando outras entidades governamentais a começarem seus

programas ambientais, como aconteceu com o Senado que criou recentemente o Senado

Verde.

05) Em sua opinião, o que falta no EcoCâmara?

Trabalhar com mudança de hábitos é muito difícil, persuadir outras pessoas a agir

diferente é uma tarefa muito árdua. As campanhas tinham que ser mais constantes e incisivas,

e isso requer mobilização de um número maior de pessoas. Eu acho que a maior dificuldade é

essa: mobilizar pessoas o tempo todo. A mentalidade do EcoCâmara não é ser uma estrutura

administrativa cada vez maior, é atingir todos os setores da Casa. Falta uma maior

conscientização de setores da Casa que eles podem e devem contribuir ambientalmente. Uns

contribuem muito, outros nem tanto. O ideal seria que todos tivessem a mesma consciência.

Também tem a questão das compras, que é um assunto difícil na esfera pública.

Muitas vezes é priorizado o menor preço em detrimento do meio ambiente. A Câmara

começou a trabalhar melhor a questão da licitação sustentável recentemente com a compra da

madeira certificada ambientalmente. Mas ainda têm vários critérios de compra que nós

gostaríamos de mudar.

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06) Você acredita que o EcoCâmara tenha provocado uma mudança de comportamento

nos servidores da Casa? Se sim, como essa mudança é percebida?

Acredito que sim, mas ainda falta muito a ser feito. Comportamento não é algo fácil de

mudar. As pessoas precisam respeitar mais o dinheiro público, isso não é só na Câmara, é em

qualquer instituição pública. Eu posso afirmar com segurança que o EcoCâmara já conquistou

bons resultados nesse sentido, mas não o suficiente.

a. A senhora percebe uma diferença de comportamento entre os servidores concursados

e funcionários terceirizados?

Os terceirizados foram mais capacitados e por isso eles são mais engajados que os

servidores. A Casa investiu bastante em palestra e treinamento para o pessoal das empresas

terceirizadas e hoje eles são mais conscientes.

07) Você acredita que o EcoCâmara produz algum impacto na imagem da Câmara dos

Deputados perante a sociedade?

Com certeza. O EcoCâmara com freqüência está na mídia. É uma forma de mostrar à

sociedade que a Câmara desenvolve projetos legais. É muito positivo para a instituição

construir uma imagem positiva, a Câmara é muito visível e geralmente a mídia vincula a

Câmara à corrupção, ao crime, com EcoCâmara isso é diferente.

08) Como você avalia o EcoCâmara? Poderia exemplificar sua resposta?

É um programa muito importante com uma equipe muito dedicada. Todos os

coordenadores, com exceção da Jacimara, dividem o seu tempo entre as funções do cargo de

servidor e as atividades do EcoCâmara, ou seja, as pessoas estão trabalhando como

voluntários por uma ideologia, porque elas acreditam no EcoCâmara e isso torna o trabalho

ainda mais bonito.

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09) Há alguma questão que eu não abordei e que você gostaria de ressaltar?

Tem um projeto recente que é muito interessante, o Carbono Neutro. A Câmara se

comprometeu a plantar doze mil árvores para neutralizar o impacto ambiental produzido por

atividades como transporte de parlamentares, uso de papel e energia elétrica.

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Entrevistado F

NOME: Rachel Giacomoni Osório

CARGO/FUNÇÃO: Chefe da Sessão de Manutenção de Jardins

01) Quais foram os principais fatores que levaram a Câmara dos Deputados à criação do

EcoCâmara?

A primeira ação de gestão ambiental na Câmara foi relativa a resíduos. A Casa produz

um volume muito grande de lixo, o que representa uma dificuldade administrativa. Criou-se

então um grupo de trabalho para estudar como gerenciar essa questão. Estudando o problema

identificamos a necessidade de um grupo permanente de trabalho para gerenciar outras

questões ambientais, o EcoCâmara. Não houve um momento histórico de criação do NGA-

EcoCâmara, foi um processo decorrente de várias ações ambientais que já aconteciam na

Casa.

02) Quais são os objetivos do programa?

O Objetivo do programa é inserir na rotina administrativa da Casa a consciência

ambiental, de maneira que isso se traduza em ações de proteção ao meio ambiente. Uma das

metas atuais do programa é influenciar o departamento de compra, os editais de licitação, a

valorizarem empresas e produtos que sejam ambientalmente sustentáveis.

03) O programa está inserido no planejamento estratégico da Casa?

A Câmara caminha com muita seriedade a esse respeito. No começo eram só alguns

servidores envolvidos, hoje existe a recomendação do Diretor Geral para que todas as

diretorias da Casa definam metas de redução de impactos ambientais. Na jardinagem, onde eu

trabalho, todos os projetos já são desenvolvidos levando em consideração as questões

ambientais.

.

04) Em sua opinião, quais foram os principais ganhos que a Câmara obteve com a

implantação de um sistema de gestão ambiental?

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Do ponto de vista econômico, a redução de gastos ainda não foi significativa.

Conseguimos alguns ganhos com a diminuição do desperdício de papel, de água e de energia,

mas não chega a ser uma grande economia de gastos. Entretanto, no ponto de vista

educacional e na imagem da Câmara os ganhos são evidentes. Nós já conseguimos muito,

existe uma consciência ambiental que está se enraizando na cultura da Casa. Atualmente, o

Ecocâmara é um programa modelo para outros órgãos públicos, mostrando que implantar com

sucesso um modelo de gestão ambiental é possível.

05) Em sua opinião, o que falta no EcoCâmara?

Falta o EcoCâmara deixar de ser apenas um programa de gestão ambiental, e passar a

ser uma unidade administrativa da Casa, passar a fazer parte do organograma da Câmara

como parte da administração e não apenas como um programa permanente ligado à Diretoria

geral. Ao ser institucionalizado, o EcoCâmara seria mais respeitado, teria orçamento, faria

parte do fluxo de processos, seria uma afirmativa que a gestão ambiental existe de fato na

Câmera, hoje é como um sonho materializado.

06) Você acredita que o EcoCâmara tenha provocado uma mudança de comportamento

nos servidores da Casa? Se sim, como essa mudança é percebida?

Sem dúvidas. Eu sou coordenadora do subgrupo das Áreas Verdes e frequentemente

eu recebo ligações de servidores da Casa me pedindo informação de como plantar

corretamente, como ter um jardim sustentável, qual é o melhor material para construir a

calçada, quais são os defensivos alternativos ao agrotóxico. Em minha opinião, isso

demonstra que as pessoas estão mais conscientizadas. Nós temos uma ouvidoria interna, o

Fale com a Câmara, e todos os dias eu recebo perguntas sobre jardinagem, sugestões e críticas

sobre práticas ambientais.

a. A senhora percebe uma diferença de comportamento entre os servidores concursados

e funcionários terceirizados?

O terceirizado é mais cobrado que o servidor, por isso existe essa diferença no

comportamento. Os terceirizados precisam cumprir o que lhes é ensinado e cobrado, o

servidor tem a opção, ele só cumpre se estiver conscientizado. Por exemplo, está no contrato

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de todos os jardineiros que eles devem cumprir as determinações do EcoCâmara, se não

cumprirem eles podem ser punidos. A educação ambiental também chega mais facilmente aos

terceirizados, à medida que duas vezes ao mês eu dou aula sobre jardinagem responsável,

sobre desenvolvimento sustentável e outros assuntos relacionados ao meio ambiente e a

minha equipe de terceirizados é obrigada a assistir, isso tem trazido um resultado bastante

positivo no trabalho que é desenvolvido.

07) Você acredita que o EcoCâmara produz algum impacto na imagem da Câmara dos

Deputados perante a sociedade?

Sim. Nós somos convidados quase que mensalmente para exposições, amostras,

palestras e encontros relacionados ao meio ambiente, isso é um sinal que as pessoas conhecem

o trabalho do EcoCâmara. Nós temos a mídia interna da Casa que ajuda a divulgar as ações do

programa.

Nós temos recebidos muitos feedbacks positivos da sociedade a respeito das nossas

práticas ambientais e isso motiva mais o nosso trabalho.

08) Como você avalia o EcoCâmara? Poderia exemplificar sua resposta?

É uma experiência surpreendente em um órgão público. Com toda a burocracia e os

limites legais, nós conseguimos mobilizar um número grande de pessoas para as questões

ambientais. O Diretor Geral foi recentemente apresentar o EcoCâmara na ‘Green Meeting’, o

que exemplifica o sucesso do programa.

O EcoCâmara é uma conquista, não começou no alto da pirâmide, começou pelos

funcionários motivados que trabalharam duro para conseguir o seu espaço e hoje já contam

com o apoio da direção da Casa.

09) Há alguma questão que eu não abordei e que você gostaria de ressaltar?

Atualmente nós temos mais pessoas vivendo nas áreas urbanas do que nas áreas rurais,

sendo assim a responsabilidade de quem mora na cidade com a própria cidade deveria ser

maior, deveria ser fundamental. O Estado é o responsável por todas as áreas verdes urbanas.

A Câmara esta fazendo a sua parte, mas precisa ter o apoio não só dos servidores e

funcionários que trabalham na instituição, mas de toda a sociedade, em especial da

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administração pública. Essa consciência deveria estar em todos os poderes do Estado: no

Executivo, no Legislativo e no Judiciário. O País ainda não aprendeu a lidar corretamente

com o meio ambiente.

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