JUSSARA VAZ CORDEIRO - Operação de migração para o ... · relacionada a aprendizagem e ao papel...
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JUSSARA VAZ CORDEIRO
OFICINAS DE APRENDIZAGEM: DESENVOLVIMENTO DAS FUNÇÕES
PSICOLÓGICAS SUPERIORES PARA ALUNOS DE 5ª. SÉRIE DO
ENSINO FUNDAMENTAL RETIDOS COM DIFICULDADES NA APRENDIZAGEM
CURITIBA
2011
JUSSARA VAZ CORDEIRO
OFICINAS DE APRENDIZAGEM: DESENVOLVIMENTO DAS FUNÇÕES
PSICOLÓGICAS SUPERIORES PARA ALUNOS DE 5ª. SÉRIE DO
ENSINO FUNDAMENTAL RETIDOS COM DIFICULDADES NA APRENDIZAGEM
Projeto de intervenção pedagógica na área de Pedagogia apresentado como requisito parcial do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) e vinculado à Universidade Federal do Paraná (UFPR).Local de aplicação: Núcleo Regional de Educação, Região Metropolitana Norte.Orientadora: Profª Sandra Sueli Bergonsi
CURITIBA2011
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PROJETO DE INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA NA ESCOLA
1 DADOS DE IDENTIFICAÇÃO
Professor PDE: Jussara Vaz Cordeiro
IES: UFPRProfessora Orientadora: Sandra Sueli Bergonsi
Área PDE: Pedagogia
N.R.E.: Região Metropolitana Norte
Escola de Implementação: E.E.Amyntas de Barros
Público Objeto da Intervenção: 5ª série do Ensino Fundamental
2 TEMA DE ESTUDO DO PROFESSOR PDE
Elaboração e construção de materiais pedagógicos e didáticos para alunos com dificuldades
na aprendizagem.
3 TÍTULO
Oficinas de aprendizagem: Desenvolvimento das Funções Psicológicas Superiores para
alunos de 5as. Séries do Ensino Fundamental retidos com dificuldades na aprendizagem.
4 JUSTIFICATIVA DO TEMA DE ESTUDO
Aprender é um processo que faz parte da humanização da nossa sociedade, que desde a pré-
história, segundo várias pesquisas realizadas apontam que, a própria condição de sobrevivência dos
sujeitos estava relacionada à apropriação de conhecimentos necessários e ao domínio da natureza
para que a espécie humana não fosse dizimada da face da terra, então aprender era necessário para
sobreviver às condições existentes na situação a qual se apresentava.
Até os dias atuais muitas mudanças ocorreram, principalmente porque a aprendizagem
ocorre basicamente em dois processos, informalmente na família e nos grupos sociais a que
chamamos de educação INFORMAL, e na instituição escolar,que chamamos de educação
FORMAL à escola, com toda a sua história e manifestações e envolta em concepções teóricas,
,filosóficas,políticas e atualmente com o apoio da ares da Psicologia,reconhecida como ciência que
dá suporte para o processo de ensino e aprendizagem.
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Atuando como Pedagoga da rede Estadual de Ensino percebo que contribuo muito pouco ou
quase nada com os professores da instituição escolar da qual faço parte na questão de dar suporte
pedagógico para estes docentes e uma situação que constantemente me chama a atenção e que esta
relacionada a aprendizagem e ao papel do Pedagogo Escolar que de acordo com Almeida,Soares
(2010) ele é o mediador do processo de ensino-aprendizagem ,na instituição escolar para que a
mesma cumpra com a sua função social que é a de garantir a apropriação do conhecimento formal e
sistematizado.
É possível notar que já houve algum avanço deste profissional que atua muitas vezes em
várias atividades escolares como cobrança de uniformes, o uso de bonés, as questões disciplinares,
organização de horários enfim várias atividades que possuem a sua dimensão, a sua importância,
mas a questão da aprendizagem dos alunos ainda é muito pouco discutido e analisado.
Por outro lado, percebi que na questão da aprendizagem os docentes realizam um trabalho
dentro de sua prática pedagógica, solitário e são cobrados sem terem tido a oportunidade de serem
ouvidos ou de terem suporte pedagógico. Isso fica claro nos Conselhos de Classe, quando os
docentes relatam que os alunos que apresentam notas abaixo da média são aqueles que têm
dificuldades de aprendizagem.
Este projeto será desenvolvido com base em pesquisas e estudos sobre o processo de ensino
aprendizagem tendo como base a realização de atividades escolares em Oficinas Pedagógicas para
que ocorra o desenvolvimento dos conceitos básicos necessários para a efetivação e a apropriação
dos conteúdos específicos, formais, sistematizados citados na Diretriz Curricular Nacional-DCN e
que permeiam a instituição escolar.
Analisando várias fontes de informações constata-se que o processo de aprendizagem ainda
é um grande desafio a ser superado, por parte dos professores e equipe pedagógica. Um desses
dados é apresentado pelo Programa Internacional de Avaliação dos Estudantes _PISA, onde os
estudantes brasileiros demonstram um desempenho abaixo da média em relação a vários outros
países.
Na E. E. Amyntas de Barros situada no município de Pinhais, este desafio também se faz
presente quando os alunos das 5ª Séries são citados por parte dos professores como alunos com
dificuldades na aprendizagem. Isso é justificado pelos professores quando os alunos manifestam
dificuldades para memorizarem ou para fixarem a atenção e compreenderem os conteúdos
propostos pelos docentes.
Assim, a 5ª Série, que deveria ser uma etapa significativa de forma positiva e de
continuidade da vida escolar dos discentes torna-se para alguns uma situação de decepção e de
angustia onde escola e comunidade muitas vezes não encontram soluções possíveis para o
enfrentamento da situação apresentada.
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Diagnosticar e refletir sobre os encaminhamentos pedagógicos é um exercício contínuo que
deve estar articulado com propostas que contribuam para a aprendizagem e desenvolvimento dos
alunos, principalmente porque os mediadores destas ações, os professores e equipe pedagógica
farão uso das atividades em Oficinas Pedagógicas.
No interior da instituição escolar nos deparamos com conceitos pré-existentes sobre a
aprendizagem, como se todos os alunos aprendessem de uma única maneira e aquele sujeito que não
corresponde aos encaminhamentos metodológicos utilizados pelos professores são citados como
sujeitos com dificuldades para apropriar-se dos conteúdos científicos.
Facci (2004) cita que Vigotski afirma que é na primeira infância que se encontram as raízes
do desenvolvimento dos processos que podem dar lugar, mais tarde à formação dos conceitos.
Com base nos conceitos de que a aprendizagem deve ser mediada pelo adulto ou por uma
criança com mais experiência é importante definir duas ações que iram direcionar o
desenvolvimento deste Projeto no CE Amyntas de Barros para os alunos citados como alunos com
dificuldades na aprendizagem,:definir os discentes que apresentam as dificuldades e organizar a
Oficinas Pedagógicas com atividades que desenvolvam os conceitos básicos para a aprendizagem
que são os estudados pela concepção de Vygotsky apresentados como as Funções Psicológicas
Superiores (tipicamente humana,tais como atenção voluntária,memória,abstração,comportamento
intencional) que de acordo com Facci, (2004)são produtos da atividade cerebral,têm uma base
biológica, mas fundamentalmente,são resultados da interação do indivíduo com o mundo,interação
mediada pelos objetos construídos pelos seres humanos .
5 PROBLEMATIZAÇÃO
Refletir e procurar novas opções de apropriação dos conteúdos específicos da instituição
escolar é fundamental para que ocorra o processo de ensino aprendizagem para os alunos que
apresentam dificuldades na aprendizagem.
Tudo isso leva a um questionamento: Os alunos da 5ª do ensino fundamental da Escola
Estadual Amyntas de Barros não aprendem, não se apropriam dos conteúdos formais porque os
mediadores não têm apoio pedagógico para superarem e interferirem neste processo?
6 OBJETIVO GERAL
Levar os alunos da 5ª série a internalizar os conceitos das disciplinas que apresentam
dificuldades intervindo na suas ZPD, por meio de atividades e com mediação dos professores e
equipe pedagógica.
7 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
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Objetivos Específicos:
• Rediscutir a função social da escola e o Papel do Pedagogo Escolar.• Pesquisar sobre a teoria de Vigots.• Identificar, através de relatórios, Conselho de Classe os alunos retidos que apresentaram baixo rendimento escolar.• Realizar entrevistas semi-estruturadas para o encaminhamento e elaboração das atividades das oficinas.• Produzir Material Pedagógico sobre as questões abordadas neste projeto.•Apresentar relatórios para os professores e equipe pedagógica.
8 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
8.1 SÍNTESE BIOGRÁFICA DE VYGOTSKY
Lev Semyonovitch nasceu em 5 de novembro de 1896, na cidade de Orsha, na ex-União
Soviética. Faleceu em 11 de junho de 1934.
Teve uma produção teórica bastante intensa, pois escreveu 180 trabalhos, dos quais somente
135 foram publicados. Psicólogos, educadores, linguistas, filósofos e outros representantes das
ciências humanas recorrem aos seus conhecimentos.
De 1917 a 1923, Vygotsky lecionou literatura e psicologia numa escola em Gomel. Fundou
várias revistas literárias e publicou sua primeira pesquisa em literatura com o título de A Psicologia
da Arte. Criou um laboratório de psicologia no Instituto de Treinamento de Professores, onde dava
um curso de psicologia.
Em 1924, Vygotsky mudou-se para Moscou, trabalhando no Instituto de Psicologia e
Instituto de Estudos das Deficiências. Neste mesmo ano, ele fez uma conferência no II Congresso
de Psiconeurologia de Leningrado. Esse evento foi um marco importante em sua história
profissional, pois revelou ao público as suas ideias sobre Psicologia.
Quando morreu em 1934, foi publicado seu livro Pensamento e Linguagem. Entre 1936 e
1956, suas obras foram suspensas pela censura violenta do regime stalinista. Em 1982-1984, foram
publicadas as Obras Completas (composta de seis volumes) de Vygotsky na URSS.
No Brasil a obra A Formação Social da Mente foi publicada em 1984. Em 1987 o livro
Pensamento e Linguagem e em 1988, o artigo “Aprendizagem e desenvolvimento intelectual na
idade escolar”, na coletânea Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem. Juntamente com Luria,
Vygotsky escreveu: Estudos sobre a história do comportamento – símios homem primitivo e
criança. (VYGOTSKY e LÚRIA, 1996).
A produção de Vygotsky foi muito grande. Suas ideias multiplicaram-se e desenvolveram-
se, na obra de seus colaboradores.
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8.2 INFLUÊNCIAS DA TEORIA DE VYGOTSKY NA PSICOLOGIA
A Psicologia Histórico-cultural revelou uma nova concepção sobre o psiquismo humano
tendo como diferencial o materialismo histórico e dialético. A partir disso Vygotsky (1996) propôs a
construção e uma nova psicologia, na qual a dialética é fundamental, pois explicita a
interdependência entre os fenômenos naturais, humanos e sociais influenciando as relações
mantidas pelos sujeitos ao tecerem sua existência social. A dialética é necessária por evidenciar que
a fonte do desenvolvimento humano baseia-se na unidade e luta de contrários, movimento esse que
precisa ser compreendido na escola, dada a complexidade de relações que lá são estabelecidas e que
estão diretamente relacionadas com o desenvolvimento dos educandos.
Vygotsky foi aliado do materialismo dialético e histórico e se autodenominava marxista.
Quando se referia ao método, Vygotsky (1995) ressalta que para compreender a realidade e as
coisas, não se pode ater às aparências, pois as coisas não são como aparentam ser, se fossem, não se
precisaria de uma ciência, o produto já daria o resultado. Para esse teórico, o método deve dar
ênfase no processo e não no produto.
Vygotsky (1995) enfatiza a construção de uma perspectiva crítica de psicologia, de modo
que essa possa contribuir para a transformação da escola. Por isso a psicologia precisa desvelar para
além da aparência exterior dos fenômenos. Neste sentido somente o método de análise científica
poderá revelar as complexas relações existentes na realidade objetiva avançando à mera descrição e
à mera análise subjetiva e introspectiva dos fenômenos. Essa proposta pode realizar uma análise de
caráter objetivo e não mecanicista e revelar os fenômenos em sua realidade concreta, ou seja,
aqueles que se manifestam para além da aparência imediata.
A Psicologia Histórico-cultural tem origem na compreensão da categoria atividade,
reconhecendo-a como unidade das formas sensorial-prática e teórica. A partir dessa compreensão,
afirma-se que é na atividade que se encontra a essência genérica do homem, devendo ela ser
compreendida não como mera reação ou conjunto de reações, mas como um sistema estruturado
que está em constante transformação e desenvolvimento (LEONTIEV, 1978).
A atividade humana pertence ao sistema de relações da sociedade, determinada pelas formas
e meios de comunicação que são possibilitados pelo processo de desenvolvimento da produção
social do homem. Desse modo, a atividade depende do lugar que o homem ocupa na sociedade, de
sua condição de classe, das condições objetivas de vida e das mediações que constituem sua
individualidade (LEONTIEV, 1978).
Progredindo nesses pensamentos e citando Martins (2004), percebe-se que o homem, como
indivíduo, nasce dotado de necessidades elementares (biológicas), as quais são inicialmente
satisfeitas pelas ações de outras pessoas. Quando o indivíduo começa a agir no mundo são
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estabelecidos vínculos cada vez os objetos responsáveis pelo atendimento das necessidades do
sujeito precisam ser por ele descobertos, tornando-se função estimuladora e orientadora da sua
atividade.
Esses aspectos são de grande importância para a escola, pois nela são criados motivos
sociais para que a criança possa compreender e sentir a necessidade do aprender, do conhecer, do
desejar o saber necessário para a construção de sua vida em sociedade.
Dessa maneira, os motivos sociais voltados ao conhecimento científico e cultural precisam
ser construídos na escola de forma geral, onde os educadores têm função imprescindível nesse
processo. Neste ambiente é que ocorre o encontro do aluno com os objetos culturais proporcionados
pela escola e nessa relação, o sujeito encontrará os motivos sociais das suas necessidades
estimulando-o a colocar-se em ação. Dessa maneira, o aluno assume a posição de sujeito no
processo de aprendizagem e apropriação da cultura.
Vygostky (1996) esclarece que os processos psíquicos humanos não se desenvolvem
naturalmente como se fossem estruturas internas amadurecendo com o passar do tempo. Para esse
teórico, o tempo humano deve ser visto como história concreta no processo de desenvolvimento do
homem e da sociedade. Por sua vez, a atividade criadora do homem facilita a transformação da
natureza e do próprio homem, tendo como característica essencial a mediação do instrumento que
se interpõe entre o sujeito e o objeto da atividade.
A teoria vigotskiana traz uma contribuição importante para a educação ao enfatizar a
importância do trabalho educativo de transmissão da cultura para o processo de construção do
psiquismo humano.
Vygotsky (1996) entende que o homem deve ser compreendido na interação com o mundo à
sua volta, partindo de uma relação-apropriação com os objetos criados pelo próprio homem. É nesse
encontro que o sujeito humano tem as possibilidades de desenvolvimento das funções psicológicas
superiores, que segundo Facci (2004) são as funções tipicamente humanas, tais como atenção
voluntária, memória, abstração, comportamento intencional.
Esses pressupostos possibilitam afirmar que a natureza do psiquismo humano representa
uma síntese das relações construídas em sociedade, que são interiorizadas pelo sujeito e convertidas
em órgãos de sua individualidade. Vygotsky (1995) explica que o desenvolvimento das funções
psicológicas superiores, próprias dos seres humanos se estruturam inicialmente como função
compartilhada com outros sujeitos e posteriormente como função do próprio sujeito.
Luria (1987) explica que a essência dos atos voluntários encontra-se nas formas de
comportamento construídas socialmente. O processo de desenvolvimento de uma ação voluntária
tem início com um ato prático realizado pela criança sob orientação de um adulto. A seguir, a
criança começa a utilizar sua própria linguagem externa para realizar uma ação, linguagem essa
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(externa), que interioriza-se, transforma-se em linguagem interna, a qual passará a regular a conduta
da criança, surgindo assim a ação voluntária e consciente mediada pela linguagem.
Vygotsky (1989) em sua obra A formação social da mente, analisa a relação
desenvolvimento x aprendizagem e define o conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP)
como uma forma de explicar a defasagem existente na resolução de problemas e tarefas cognitivas,
entre o plano individual e social.A zona de desenvolvimento proximal define aquelas funções que ainda não amadureceram, mas que estão em processo de maturação, funções que amadurecerão, mas que estão presentemente em estado embrionário. Essas funções poderiam ser chamadas de brotos ou flores do desenvolvimento ao invés de frutos do desenvolvimento. O nível de desenvolvimento, real caracteriza o desenvolvimento mental retrospectivamente, enquanto a zona de desenvolvimento proximal caracteriza o desenvolvimento mental prospectivo. (VYGOTSKY, 1989, p. 97).
Desse modo, a ZDP se apresenta como um espaço em movimento também criado nas
interações e no diálogo, tendo como mediadores o conhecimento utilizado pelos participantes de
diferentes níveis de desenvolvimento.
Para Vygotsky (1989) a aprendizagem efetiva-se precisamente na ZDP. Inicialmente a
criança é capaz de fazer ou conhecer somente com a ajuda dos adultos. A partir das novas funções e
de novas aprendizagens, a criança tem condições de fazer e conhecer por si mesmo. O conceito de
ZDP torna-se de grande utilidade no processo ensino-aprendizagem.
Para Vygotsky (1989) o processo de desenvolvimento segue o da aprendizagem e a
aprendizagem efetivamente acontece na Zona de Desenvolvimento Proximal – ZDP. A ZDP se
apresenta como um espaço em movimento criado nas interações e no diálogo, tendo como
mediadores o conhecimento utilizado pelos participantes de diferentes níveis de desenvolvimento.
Inicialmente a criança é capaz de fazer ou conhecer somente com a ajuda dos adultos, mas a partir
de novas aprendizagens, a criança tem condições de fazer e conhecer por si mesmo.
A compreensão, por parte dos professores, do conceito de ZDP torna-se, conforme Vygotsky
(1989), de grande utilidade no processo ensino-aprendizagem. Para ele, o processo ensino-
aprendizagem cria a zona de desenvolvimento proximal, fazendo com que se avive a atividade da
criança, despertando e pondo em funcionamento toda uma série de processo de desenvolvimento.
Deste modo, há uma interação das pessoas que rodeiam as crianças e o traço essencial da
aprendizagem conforme Vygotsky:é que engendra a área de desenvolvimento potencial, ou seja, que faz nascer, estimula e ativa na criança um grupo de processos internos de desenvolvimento dentro do domínio das interrelações com outros, que a seguir são absorvidos pelo curso interno do desenvolvimento e se convertem em aquisições internas da criança (...). O processo de aprendizagem é uma fonte de desenvolvimento que ativa novos processos que não poderiam desenvolver-se por si mesmos sem a aprendizagem. Vygotsky (1989, p. 37):
A compreensão desse processo tem implicação importantíssima no cotidiano escolar pelo
fato de valorizar: as classes heterogêneas, o papel do professor na sala de aula, a importância do
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trabalho coletivo, o diálogo para apropriação e elaboração do conhecimento. Sendo que nos estudos
de Vigotski a formação dos conceitos ocorrem na primeira infância, com as pessoas próximas,
dentro do cotidiano do universo infantil. A apropriação do conhecimento acontece, pois, num
processo de trocas entre sujeitos com diferentes experiências.
Existindo uma correlação com os conteúdos científicos, sistematizados no espaço da
instituição escolar, onde a criança vai estabelecendo generalizações cada vez mais intelectuais, num
processo contínuo, onde ela faz as associações sem necessitar de retorno aos antigos conceitos, mas
que são bases para a formação de novos conceitos num movimento constante e que somente na
adolescência é que ocorre a transição definitiva do pensamento conceitual.
Assim, numa situação em que um aluno já consegue encontrar frações equivalentes a uma
fração dada, já sabe também adicionar frações que tenham mesmos denominadores, fica fácil ajudá-
lo a descobrir como adicionar duas frações que tenham denominadores diferentes, sem o uso do
algoritmo do M.M.C.1 Após essa experiência de como adicionar frações com denominadores primos
entre si, uma nova zona proximal se coloca, ou seja, com a intervenção do professor, o aluno pode
descobrir que, somente com o uso de equivalências, pode adicionar frações com denominadores
primos entre si.
O conceito de zona e desenvolvimento proximal, pode ser considerado como o mais
específico e divulgado na obra de Vygotsky (1989). Em termos de atuação pedagógica, essa
postulação traz consigo a ideia de que o papel explícito do professor é o de provocar avanços nos
alunos, e por essa ideia, a trajetória do desenvolvimento do aluno, se dá “de fora para dentro”.
Neste processo de interação/mediação, a linguagem, segundo Vygotsky (1989) desempenha
um papel decisivo, porque pode atuar como reguladora dos processos cognitivos.
Levando em consideração esses aspectos e conforme Vygotsky (1995) a criança forma uma
nova estrutura de generalizações, primeiro em poucos conceitos adquiridos, como por exemplo, no
processo de instrução. Toda vez que organiza essa nova estrutura, ela organiza e transforma a
estrutura de todos os conceitos anteriores. Por sua vez, o trabalho anterior do pensamento não se
perde, os conceitos não têm que ser reconstruídos em cada nova fase e cada significado isolado não
tem que fazer todo o trabalho de reorganização da estrutura.
1Mínimo múltiplo comum, que pode ser calculado assim: o MMC de 24 e 30 é o menor número, fora o zero, que é
múltiplo comum de 24 e de 30. Ou seja, MMC (24;30) = 120.
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Para este teórico (1995) o ensino ocupa papel central em todo o sistema de organização da
vida da criança, determinando seu desenvolvimento psíquico, pois constitui uma via, um meio
sistematizado e organizado de transmissão da experiência social. Além disso, a imitação é a forma
principal em que se leva a cabo a influência do ensino sobre o desenvolvimento, pois a criança só
consegue imitar aquilo que se encontra na zona de suas possibilidades intelectuais próprias, ela só
imita o que está dentro da sua zona proximal de desenvolvimento.
Neste construto, as atividades pedagógicas precisam ser organizadas de forma a conduzir o
aluno à apropriação dos conceitos científicos elaborados pela humanidade. O professor tem papel
destacado, pois ele é o mediador entre o aluno e o conhecimento e cabe a ele intervir na zona de
desenvolvimento proximal dos alunos, conduzindo à prática pedagógica.
Como se percebeu, o ponto central da teoria de Vygotsky é que as funções psicológicas
superiores são de origem sócio-cultural e emergem de processos psicológicos elementares por meio
da interação da criança com membros mais experientes. Fica claro que através da vida social e da
comunicação que se estabelece entre as crianças e adultos, acontece a assimilação da experiência de
muitas gerações a formação do pensamento. Com opinião semelhante, Rego (1999, p. 57) fala que
“as características individuais (modo de agir, de pensar, de sentir, valores, conhecimentos, visão de
mundo, entre outras) dependem da interação do ser humano com o meio e atribui especial
importância ao fator humana presente no ambiente”.
Oliveira (2004) explica que Vygotsky trabalha com duas funções básicas da linguagem e a
principal é a de intercâmbio social, ou seja, para se comunicar com seus semelhantes o homem cria
e utiliza os sistemas de linguagem que é um instrumento psicológico fundamental para o
desenvolvimento da humanidade e que Facci (2004), afirma que a linguagem possibilita com o uso
dos signos as possibilidades de elevação humana e de alcance aos conhecimentos e as de
transformação da natureza e como consequência do próprio ser humano.
9. METODOLOGIA
Para compreender a problema desta pesquisa – intervenção que diz respeito à dificuldade de
aprendizagem que os alunos da quinta série do ensino fundamental, da Escola Estadual Amyntas de
Barros apresentam e os levam a reprovação é que se adotará para análise dos dados o método
dialético para analisar os dados que serão coletados por meio de análise de documentos e de
entrevistas.
Analisar os dados sob o olhar da dialética se fundamenta no método de desenvolvimento
experimental de Vigotski (1991) desenvolveu para analisar as funções psicológicas superiores
humanas.
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Este método proposto por Vygotski defende que o pesquisador deve considerar três
princípios: analisar os processos e não os objetos, analisar e explicar genotipicamente os processos
psicológicos e considerar os comportamentos fossilizados.
Desse modo esse método considera o indivíduo como um ser histórico na medida em que ao
analisar os processos o pesquisador considera que o indivíduo é dinâmico, muda a todo instante.
Considerar a análise e explicação genotípica o pesquisador estará preocupado em superar a
aparência do fenômeno mergulhando na sua essência. Quando o pesquisador está atento aos
comportamentos fossilizados dos indivíduos ele compreende que muitos comportamentos tem
origem muito remota que se tornam automáticos e chegam a prejudicar a análise psicológica.
Considerando estes princípios a pesquisa será realizada por meio do método de estudo de
caso que segundo Yin (2005) “uma investigação empírica que investiga um fenômeno
contemporâneo dentro do seu contexto de vida real, especialmente quando os limites entre o
fenômeno e o contexto não estão claramente definidos” (p.32).
Yin (2005) complementa a sua definição técnica afirmando que:
uma investigação de estudo de caso enfrenta uma situação tecnicamente única em que haverá muito mais variáveis de interesse do que pontos de dados, e, como resultado, baseia-se em várias fontes de evidências, com os dados precisando convergir em um formato de triângulo, e, como outro resultado, beneficia-se do desenvolvimento prévio de proposições teóricas para conduzir a coleta e a análise de dados. Yin (2005, p.33).
Este estudo de caso será realizado com 05 alunos, com idade média de 12 a 14 anos da 5ª
série do ensino fundamental que apresentam dificuldade de aprendizagem, nas áreas de Língua
Portuguesa e Matemática, ou de acordo com os documentos analisados, como os Relatório dos
Conselhos de Classe e relatos da Equipe Pedagógica e dos Professores.
Desse modo para desenvolver o estudo de caso será utilizado duas fontes de evidências: a
análise documental e a entrevista semiestruturadas.
A análise documental terá como base os documentos expedidos pelo Conselho de classe
da(s) turma( )da 5ª série do ano de 2010 (atas, relatórios). Registro do desempenho acadêmico dos
alunos como também o relato dos professores e da equipe pedagógica. Num primeiro nível os dados
coletados da análise documental nortearão o diagnóstico e apontará os alunos que cursaram a da 5ª
série no ano de 2010 bem como as disciplinas que esses alunos apresentaram maior grau de
dificuldade.
A análise documental é um instrumento muito importante numa pesquisa. Porém o
investigador deve ser cauteloso no uso dos documentos, não fazendo uso literal dos eventos
registrados, além disso, observar a validade do documento em análise. Yin (2005) afirma que “Para
os estudos de caso, o uso mais importante de documentos é corroborar e valorizar as evidências
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oriundas de outras fontes” (p.112).
Para enriquecer os dados coletados nos documentos será também utilizado um protocolo de
entrevista semiestruturada que será aplicado nos alunos definidos como sendo a população a ser
investigada.
As questões básicas que orientarão a entrevista que é pautada no problema dessa pesquisa
são: as relacionadas a aprendizagem do aluno, para compreender como ele vê o seu processo de
apropriação dos conteúdo. Que grau de sentido e de significado ele internaliza e verbaliza em
relação a sua situação acadêmica, nas disciplinas em que apresenta dificuldade. O uso que ele faz
destes conteúdos no seu cotidiano.
Segundo YIN (2005) é fundamental que as questões da entrevista “satisfaça as
necessidades da linha de investigação do pesquisador enquanto, de forma simultânea, passa
adiante questões amigáveis e não ameaçadoras em suas entrevistas espontâneas” (p.117). Desse
modo quando se intercala questões espontâneas com aquelas que dizem respeito a opinião pessoal
dos entrevistados, no caso dessa pesquisa, por exemplo, perguntar para o aluno por que ele acha que
reprovou na matéria de Língua Portuguesa. Isso eleva o grau da análise. Neste nível da pesquisa a
análise se fundamentará nos elementos articulados em uma conversa livre, porém orientada ao
objetivo de contribuir com o sujeito no seu processo de tomada de consciência e assim possibilitar
que formule as suas próprias atitudes mentais a respeito das hipóteses que previamente o
pesquisador elegeu e aquelas que possam ocorrer no processo.
Com base nos fundamentos teóricos e na metodologia das entrevistas será organizado
coletivamente o material pedagógico para as oficinas da aprendizagem, onde o aluno será visto
como sujeito real, histórico e social, enfim sujeito concreto onde a aprendizagem deve ter
significado e ser compreendida com clareza pelo aluno, sendo que a função social da escola é a
garantir a apropriação dos conteúdos científicos, o pedagogo com mediador deste processo e da
prática pedagógica que entre elas a de investigar quem é o aluno que não aprende e de como ele
aprende e como desenvolver os conceitos necessários para a apropriação dos conteúdos formais da
escola utilizando atividades nas oficinas pedagógicas.
O Projeto será apresentado para Direção/Equipe Pedagógica para tomarem ciência do que
serão abordados para os professores em um espaço de tempo solicitado na Semana Pedagógica do
2º Semestre de 2011(Função Social da escola, papel do Pedagogo escolar, como mediador do
processo de ensino-aprendizagem e o tema do projeto sobre as Oficinas de Aprendizagem para os
alunos retidos na 5ªSérie) e como os alunos serão selecionados para fazer parte deste estudo de
caso.
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O diálogo neste momento com os professores será enfocado nos alunos que já cursaram a 5ª
Série do ano anterior e saber como atualmente estão em relação à assiduidade, frequência,
realização das atividades, relacionamento com os colegas e professores e em relação ao rendimento
escolar e a importância de saber como estes alunos são percebidos no espaço escolar.
Sendo que para STAKE (2000, p.436) o estudo de caso como estratégia de ação caracteriza-
se justamente por esse interesse em casos individuais e não pelos métodos de investigação que
podem ser qualitativos ou quantitativos no caso serão utilizados os registros nos Conselhos de
Classe e os registros da Equipe Pedagógica para saber em quais disciplinas estão com rendimento
abaixo da média e selecionar três alunos para o desenvolvimento das oficinas.
Onde orientam Aguiar e Ozella (2006) que a partir da palavra percebemos de que forma o
sujeito constitui-se historicamente e socialmente onde ele nos mostra o seu conhecimento do
cotidiano, o que lhe é mediado fora do contexto escolar, e de como esta distância das linguagens,
que se não tivermos claro isto no aspecto escolar estaremos realizando um discurso vazio e sem
significado para o aluno.
Durante a entrevista com o aluno será solicitado que responda as perguntas abordadas na
metodologia sobre as disciplinas enfocadas: como ele compreende a questão do conhecimento
escolar, para que serve o estudo destas disciplinas e aonde ele encontra a utilidade destes conteúdos
no seu dia a dia.
A partir das informações, serão organizadas coletivamente e de forma participativa as
atividades para desenvolvimento da atenção voluntária, memória, abstração e os demais conceitos
que são necessários para a apropriação dos conteúdos formais da instituição escolar.
Será feita uma relação entre o que o aluno sabia do conteúdo e o que foi apropriado para
relatar para os responsáveis, professores e equipe pedagógica. Ficando organizado desta forma o
desenvolvimento do projeto:
• Apresentar o projeto para a Direção e Equipe Pedagógica.• Apresentar para os professores• Selecionar os alunos• Entrevistas com os alunos • Organização das atividades• Produção do Material Pedagógico• Aplicação das atividades• Análise e retorno para os professores do projeto.
11 Cronograma de Ações para Implementação do Projeto de Intervenção Pedagógica.
3º PERÍODO – 19/07/11 a 17/12/11
JULHO:
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•Apresentação do Projeto de Intervenção para a Equipe Pedagógica e Direção da escola. AGOSTO: •Participação na Semana Pedagógica com apresentação do projeto para os professores
•Levantamento dos alunos com dificuldade escolares e análise dos conteúdos não apropriados.
SETEMBRO:• Intervenção com atividades, de acordo com o planejamento dos professores para os alunos com dificuldades escolares.
OUTUBRO:• Intervenção com atividades, de acordo com o planejamento dos professores para os alunos com dificuldades escolares.
NOVEMBRO:• Participação nas reuniões do Conselho Escolar e reuniões pedagógicas.
DEZEMBRO:•Reunião de avaliação das ações.
12 REFERÊNCIAS
LEONTIEV, A.N. O desenvolvimento do psiquismo. Lisboa: Horizonte Universitário, 1978.
LURIA, A.R. Pensamento e linguagem: as últimas conferências de Luria. Porto Alegre: Artes Médicas, 1987.
MARTINS, L.M. A natureza histórico-social da personalidade. In: Cadernos Cedes. Campinas, voll. 24, n. 62, p. 82-99, abril/2004.
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