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JUVENTUDE RURAL E COOPERATIVISMO CAMINHOS PARA INCLUSÃO E SUCESSÃO RURAL NO SEMIÁRIDO BRASILEIRO

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JUVENTUDE RURALE COOPERATIVISMOCAMINHOS PARA INCLUSÃO E SUCESSÃO

RURAL NO SEMIÁRIDO BRASILEIRO

JUVENTUDE RURALE COOPERATIVISMO

CAMINHOS PARA INCLUSÃO E SUCESSÃORURAL NO SEMIÁRIDO BRASILEIRO

MARÇO, 2016BAHIA, SEMIÁRIDO DO NORDESTE, BRASIL

SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO

A COOPERCUC

O TERRITÓRIO

PRODUÇÃO E BENEFICIAMENTO

COOPERCUC: UMA ORGANIZAÇÃO-ESCOLA

EXPERIÊNCIA DO ESTÁGIO: UMA AÇÃO CONCRETA

SABER-FAZER

CAMINHOS E DESAFIOS DA SUCESSÃO E DO PROTAGONISMO JUVENIL NO COOPERATIVISMO

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JUVENTUDERURAL ECOOPERATIVISMO

Os jovens sem oportunidadeDe no campo ficarSaíam pra longe

Para a vida mudar.

Sem políticas públicas,Enfim nasce a solução.

A Coopercuc integraOs jovens do Sertão.

Criam-se os estágios,É um reforço essencial.

Os jovens aqui atendidosEstão mostrando seu potencial.

Muitos jovens passaramE a consciência mudou.

Agora perguntadosTodos querem ser agricultor.

Muitos jovens queremApenas uma mão

O estágio é uma formaDe conviver no Sertão.

TEONES ALMEIDA SUZANOJovem rural, filho de cooperado da Coopercuc

APRESENTAÇÃO

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Não é preciso procurar muito para encontrar a riqueza do Sertão baiano. Ao contrário, ela está presente na cultura e nas tradições populares, na natureza e na forma altiva como as pessoas trabalham por um futuro melhor.

No Sertão, há mais oportunidades e riquezas do que se imagina: o campo tem futuro e o protagonismo juvenil é mais que uma aposta. É uma solução.

O fortalecimento da agricultura familiar, bem como a expansão das atividades não agrícolas, tem grande importância na redução do êxodo rural, pelo potencial de criar condições e oportunidades de trabalho para os jovens. Por isso, percebe-se a necessidade de desenvolver uma visão mais empreendedora por parte da juventude rural, como forma de garantir sua permanência no campo com dignidade e qualidade de vida.

Promover o protagonismo juvenil é uma estratégia eficaz para gerar mudanças decisivas na realidade social, ambiental, econômica, cultural e política – além de criar um ambiente no qual os jovens estão inseridos em seus territórios e comunidades.

As informações contidas nesta cartilha refletem o resultado das ações desenvolvidas pela Corporação Procasur no Semiárido do Nordeste do Brasil, no âmbito do Programa Regional Juventude Rural Empreendedora, apoiado pelo Fundo Internacional do

Desenvolvimento Agrícola (FIDA). O Programa visa contribuir para a inserção efetiva dos/as jovens rurais, melhorando a qualificação e aumentando e fortalecendo a capacidade da juventude rural de desenvolver iniciativas, estratégias e projetos de vida nos territórios de abrangência dos Projetos apoiados pelo FIDA.

Esta cartilha tem como objetivo difundir e compartilhar um pouco da trajetória da Cooperativa de Agropecuária Familiar de Canudos, Uauá e Curaçá (Coopercuc), na promoção do protagonismo juvenil e na sua experiência de Organização-Escola como base da formação e empoderamento da juventude rural, além de provocar reflexões e fomentar debates sobre o papel da participação dos jovens nas organizações. O envolvimento do jovem contribui com ideias e soluções para a sustentabilidade das comunidades e organizações, além de ser um importante elo entre os modos de vida rural e urbano.

Iniciativas como a Organização-Escola colaboram para o fortalecimento e liderança dos jovens no meio rural, sobretudo na agricultura familiar e nas questões vitais à convivência com o Semiárido.

A Coopercuc é uma referência importante no processo de construção e fortalecimento do cooperativismo1 inclusivo e sustentável para a região, um modelo reconhecido

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1 O cooperativismo representa uma estratégia de fortalecimento da agricultura familiar no Semiárido: a busca de novos conhecimentos, a disseminação de novas tecnologias sociais apropriadas e os investimentos realizados pelas cooperativas representam oportunidades de vida digna no campo e contribuem para diminuir o êxodo rural. E, ao mesmo tempo, os produtos das cooperativas e da agricultura familiar divulgam e valorizam o Sertão, sua riqueza de saberes e sabores, sua biodiversidade.

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internacionalmente, cujas raízes estão fincadas na agricultura familiar. Ainda que obstáculos estruturais e de fundo burocrático sejam grandes, atualmente o maior desafio é engajar e preparar os jovens rurais para levar adiante o trabalho da cooperativa. Trabalho este de fundamental importância, que vai além da recompensa financeira, ao zelar pela preservação da natureza e da cultura regional, além de promover o empoderamento dos jovens que atuam como agentes da transformação e protagonistas no desenvolvimento da agricultura familiar no Semiárido.

A cooperativa já nasceu de portas abertas para a juventude, surgiu a partir de um grupo de jovens e mulheres. Nesse sentido, cada vez mais a Coopercuc tem investido em

Jovens da Bahia e Rio Grande do Norte

intercâmbios, visitas e estágios dedicados a formar uma nova geração de jovens empreendedores. Ao se posicionar como Organização-Escola, a Coopercuc se tornou ainda mais relevante para o futuro e formação dos jovens cooperados.

Nos estágios destinados aos familiares dos cooperados e às pessoas próximas à cooperativa, os jovens aprendem na prática um pouco dos quase 30 anos de história e experiência da Coopercuc dedicados a melhorar a vida das comunidades rurais do Sertão.

A relação da Coopercuc com o Semiárido demonstra que é possível transformar a vida de comunidades inteiras através do trabalho e do respeito ao entorno onde se vive.

A COOPERCUC

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Quando era época de umbu, maracujá do mato, manga e goiaba as mulheres de Uauá e arredores se reuniam para preparar doces. Faziam umbuzada (umbu cozido com leite) e mendenge (doce de umbu verde). Esse grupo de mulheres, que já em 1986, as mulheres foram incentivadas e estimuladas a se organizarem a partir do trabalho das irmãs católicas com as Comunidades Eclesiais de Base (CEBS).

A produção começou a partir de 1997 com atividades do Programa Procuc pelo Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada (IRPAA), em colaboração da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), com cursos de formação em beneficiamento. A ideia inicial era apenas para o consumo da família. A experiência deu certo. Logo, o grupo começou a ser requisitado para ensinar sobre o processo de beneficiamento de frutas em comunidades dos munícipios de Curaçá, Uauá e Canudos.

A união das agricultoras em torno do beneficiamento das frutas nativas tem origem nos movimentos sociais, nas CEBS, mutirões, missões, grupos de catequese, organizações comunitárias e lutas sindicais.

A PRIMEIRA FÁBRICA. Em 2004, surge a Coopercuc com 44 cooperados e pouco depois foi inaugurada a primeira Fábrica de Beneficiamento de Frutas na cidade de Uauá com recursos doados pela Cáritas (Estados Unidos), com apoio financeiro da União Europeia e da organização austríaca Horizont3000 que incentiva a inserção de jovens e comunidades no beneficiamento e comercialização de produtos privilegiando o equilíbrio entre aspectos econômicos, sociais e ambientais.

No ano seguinte, com o apoio da Fundação Slow Food para a Biodiversidade, foram construídas 13 mini fábricas (unidades de processamento de frutas), que ajudaram a melhorar as condições de produção e a produtividade dos cooperados.

Hoje, a Coopercuc conta com 261 cooperados – a maioria composta por mulheres – que atuam em todos os setores do beneficiamento dos frutos à administração e comercialização. Todo o trabalho é desenvolvido com respeito às questões sócio econômicas, ambientais e culturais.

À frente da Coopercuc encontra-se um grupo autogerido composto por agricultores das comunidades cooperadas, com conhecimento técnico e, acima de tudo, comprometido com o fortalecimento da agricultura familiar.

Com a estruturação e autogestão bem encaminhados, a cooperativa deu início, em 2006, ao processo de certificação orgânica, uma exigência para exportar para o mercado europeu. Hoje, a Coopercuc conta com certificação extrativista, orgânica e Fair Trade. Comercializa para todo o país e exporta seus produtos para Áustria, França e Itália.

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Área de produção da Coopercuc

O TERRITÓRIO

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O Nordeste brasileiro reúne muitas riquezas e possibilidades ainda desconhecidas no restante do País. A partir da convivência com o Semiárido e a diversidade da Caatinga surgem iniciativas inovadoras tanto no modo de vida, quanto na criação de novos produtos e meios de subsistência. Um exemplo prático da tenacidade sertaneja é a transformação de frutos nativos em produtos com grande valor agregado, como faz a Coopercuc.

A Coopercuc atua nos municípios de Canudos, Curaçá e Uauá, situados no Semiárido baiano, entre Juazeiro e Paulo Afonso. A região se encontra no chamado polígono da seca. O clima semiárido - quente e com pouca chuva - faz com que a região enfrente secas que se prolongam por vários anos.

A população rural de Canudos, Curaçá e Uauá vive de atividades agropecuárias, como o plantio de mandioca, milho, feijão, abóbora, melancia, além de forragens para alimentação animal e criação de caprinos e ovinos.

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Mapa do semiárido brasileiro

PRODUÇÃO EBENEFICIAMENTO

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Quem diria que aquele grupo de mulheres que se reunia para fazer umbuzada chegaria a criar uma das cooperativas mais admiradas do país, referência nacional e internacional. Mas, foi isso mesmo o que elas fizeram. Com muito esforço e trabalho, a Coopercuc reúne hoje 450 famílias, em 18 comunidades do Sertão baiano, envolvidas na produção de doces cremosos, de corte e light, sucos, geleias, compotas e polpas. Todos esses produtos são comercializados pela linha Gravetero cujo carro chefe são os doces de umbu – fruta nativa rica em sais minerais, vitaminas e sabor. A cooperativa também utiliza para beneficiamento a manga, banana, goiaba, maracujá e o maracujá da Caatinga. Vários produtos são destinados ao programa de merenda escolar e uma linha especial para o varejo, que pode ser encontrada em uma série de supermercados (lista completa em: coopercuc.com.br), além da comercialização no mercado europeu.

As unidades de beneficiamento são bem simples: contam com panelas grandes (tachos) e fogão à lenha. Assim que as famílias preparam os doces, tudo é rotulado e passa por um controle de qualidade com acompanhamento de técnicos da Coopercuc.

O TRABALHO É DIVIDIDO EM CINCO ETAPAS:

1. Colheita e seleção dos frutos.

2. Os frutos passam por nova seleção: para compota são usados os melhores e mais bonitos, para geleia são separados os frutos

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mais irregulares.

3. O trabalho é divido por atividade: seleção de frutos, preparação da calda, esterilização dos vasilhames, cocção dos frutos na calda em banho maria.

4. Após o cozimento, o produto é colocado em vasilhames e tampado.

5. Depois de um descanso entre 5 e 15 dias, se não houver alterações (fermentação, frutos com problemas), o produto é embalado e rotulado. Caso haja alteração todo o lote é dispensado.

OBJETIVO GERALDA COOPERCUC

ORGANIZAR A PRODUÇÃO E

COMERCIALIZAÇÃO DOS PRODUTOS DE

SEUS SÓCIOS.

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OBJETIVOS ESPECÍFICOS

• Melhorar a alimentação das famílias;

• Proporcionar o aumento da renda familiar;

• Diversificar a produção;

• Armazenar os produtos por um período mais longo;

• Facilitar e ampliar a comercialização;

• Valorizar os produtos regionais;

• Despertar para a importância da preservação ambiental;

• Capacitar os produtores/as na industrialização de produtos.

VISÃO

Garantir a sustentabilidade econômica e elevada a qualidade de vida dos/as produtores/as nos municípios do sertão baiano: Canudos, Uauá e Curaçá.

MISSÃO

Contribuir para o fortalecimento da agricultura familiar visando a produção.

Formação do “altar” da juventude durante atividade

COOPERCUC: UMAORGANIZAÇÃO-ESCOLA

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2 A Organização-Escola é uma organização que, devido à sua trajetória, realizações e ganhos, foi identificada como um espaço relevante para desempenhar a função de anfitrião e guia no processo de formação dos jovens rurais protagonistas do desenvolvimento rural. Aquela organização que tem uma experiência destacada e/ou exitosa em um contexto rural determinado, pode tornar-se Organização-Escola, colocando-se à disposição e organizando o seu saber-fazer, resultado da sua trajetória e da experências dos seus protagonistas.

Vivemos um dilema: enquanto a população cresce e aumenta a demanda por alimentos, a migração do campo para grandes centros urbanos se intensifica. O tema se torna ainda mais complexo quando surgem questões tão vitais quanto a centralidade do alimento: a importância de preservar modos de vida, a riqueza natural dos territórios, a diversidade de frutos e produtos e a dignidade dos agricultores familiares.

A preservação de tradições e do meio de vida de comunidades inteiras no Semiárido baiano dependem da transmissão de conhecimento e, claro, da energia renovadora dos mais jovens. Por isso, é tão importante divulgar iniciativas bem-sucedidas e estruturadas como a Coopercuc, que, desde sua fundação, tem tido destacado papel de referência no cooperativismo, na relação sustentável com o território e na difusão de experiências entre os cooperados e os futuros jovens cooperados.

Já há algum tempo, a Coopercuc vem manifestando sua vocação como Organização-Escola2, visível em ações concretas que facilitam a participação dos jovens nas atividades da cooperativa, além de reforçar o protagonismo feminino nas unidades de beneficiamento e nos espaços comunitários.

Na Coopercuc, há um esforço em praticar uma gestão solidária e democrática. Ao invés de hierarquias rígidas, existe uma distribuição de responsabilidade e atribuições entre os cooperados. As lideranças locais reconhecem a importância da inclusão dos jovens no desenvolvimento da cooperativa.

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“O Estágio me trouxe grandes conhecimentos. A gente não fica só no escritório, mas vivenciamos todas as etapas, desde a produção até o processo de embalagem, além de também acompanhar as famílias em suas comunidades e como elas se organizam. Espero que minha passagem na Coopercuc possa render frutos e contribuir com a minha comunidade.”

ENOCK GONÇALVES DE ALMEIDAJovem cooperado, participou do estágio da Coopercuc

Enock na área de produção da Coopercuc

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A cooperativa nasce baseada nos princípios filosóficos da economia solidária – definida por uma autogestão econômica, que leva em conta aspectos culturais e sustentáveis, além de difundir valores políticos como a democracia, desenvolvimento social, preservação do meio ambiente e respeito aos direitos humanos.

Inspirada pela trajetória de lutas e mobilização social, a Coopercuc agora também é uma Organização-Escola e funciona como um guia na formação de jovens dedicados a trabalhar pelo desenvolvimento rural. A Organização-Escola faz parte de um trabalho promovido pela Procasur (entidade especializada em facilitar oportunidades de aprendizado) em parceria com a Coopercuc e tem como objetivo promover a convivência de jovens com profissionais de diversas áreas em prol de uma educação prática e contextualizada que contribua para o crescimento pessoal e profissional.

A Procasur trabalha, desde 1996, no desenvolvimento e disseminação de ferramentas e metodologias para a gestão efetiva do conhecimento, fomentando a ampliação e o fortalecimento das capacidades e a qualificação dos atores locais (público e privado), visando contribuir para a melhoria da qualidade de vida das populações rurais na América Latina e Caribe. Através da vinculação das instituições internacionais e organizações regionais com governos locais, talentos e comunidades rurais, a Procasur tem procurado identificar, registrar, compartilhar e disseminar ideias inovadoras e boas práticas.

Desde 2010, como parte da sua estratégia de cooperação Sul-Sul, a Procasur estabeleceu sedes na Ásia e Pacífico (Tailândia) e na África (Quênia), criando uma rede internacional de conhecimentos e saberes locais. A Procasur facilitou oportunidades de aprendizado em mais de 35 países, tendo os talentos locais como os eixos de geração e disseminação de conhecimentos.

Acompanhamento aos jovens durante o estágio

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A Coopercuc como Organização-Escola oferece estágios a jovens cooperados e filhos de agricultores da região, além de moças e rapazes vindos de outras organizações e cooperativas do Nordeste, da própria Bahia, Paraíba e Rio Grande do Norte.

Para transmitir esses valores aos mais jovens e ao conjunto dos cooperados, é preciso uma formação permanente e continuada, além de um espaço aberto à discussão de questões fundamentais, troca de experiências e aprendizado. Prover esse espaço e guiar o debate é uma das funções de uma Organização-Escola.

“Sempre tive vontade de conhecer mais de perto a Coopercuc. Espero que na minha passagem por aqui possa adquirir muitos conhecimentos e aprendizagens sobre a cooperativa e todas as suas áreas de atuação. Espero poder levar os conhecimentos aprendidos na Coopercuc para minha família e a minha comunidade.”

SAMARA DOS SANTOSFilha de cooperados, participou do estágio da Coopercuc

Jovens Samara (à esquerda) e Magna na área de produção

EXPERIÊNCIA DO ESTÁGIO:UMA AÇÃO CONCRETA

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“Já estava com a viagem programada para ir embora, pois não conseguia trabalho em Uauá. Aí recebi o convite para participar do estágio. Quando cheguei na Coopercuc para ser estagiária eu era muito tímida, principalmente para lidar com gente. Hoje, vendo os produtos e recebo os/as visitantes quando eles vêm na cooperati-va. Aqui, as pessoas são muito solidárias, de fato vivem o coopera-tivismo. Abriu minha cabeça; tenho outros planos para o meu futuro. Quero estudar e contribuir mais com minha comunidade.”

MAGNA BARBOSAJovem rural que participou do estágio na Coopercuc

Magna durante o estágio no setor administrativo da Coopercuc

O Sertão baiano pode ser árido para os jovens. As oportunidades de educação e trabalho são precárias e, buscando escapar de uma realidade dura, muitos jovens sem outra alternativa viável, migram para grandes centros urbanos do Nordeste ou do Sudeste do país.

Nas grandes cidades, muitas vezes, sentem-se deslocados e por falta de qualificação acabam em moradias precárias, relegados a bicos e trabalhos mal remunerados e informais. Mas, o custo de viver na cidade, distante da comunidade, família e amigos, cobra um preço maior que as dificuldades financeiras: leva muitos jovens ao isolamento, ao sentimento de inadequação e falta de pertencimento.

A inclusão de jovens oriundos da agricultura familiar no cooperativismo é uma forma de garantir um meio de vida digno às pessoas e manutenção das tradições e das culturas do Semiárido, além de ser uma importante ferramenta para estancar o êxodo rural. Ou seja, o cooperativismo é uma alternativa viável de inclusão e protagonismo para os jovens rurais. Além disso, a parceria entre a Coopercuc e Procasur identificou no estágio uma ferramenta concreta para aproximar a juventude do cotidiano da vida na cooperativa.

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SABER-FAZER

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Mais do que melhorar as estratégicas de inclusão dos jovens, o programa de estágio Jovens Talentos Inovadores promovido pela Procasur e implementado em parceria com a Coopercuc, enquanto Organização-Escola, tem como objetivo difundir conhecimento e experiências práticas entre jovens filhos de cooperados.

O estágio dura um mês. Nesse período, o estagiário tem a oportunidade de conviver com a organização e acompanhar o trabalho dos cooperados. Organizado em torno de quatro eixos centrais – cooperativismo, produção, comercialização e gestão – o estágio tem como objetivo geral a aprendizagem de pontos específicos dos temas determinados.

Os jovens participam de oficinas de formação, análises e devolução, como atividades de convivência cotidiana com a cooperativa que estimulam a reflexão e o intercâmbio de ideias e experiências, além de propiciar um “saber-fazer”.

Na segunda etapa do estágio, os jovens são acompanhados a distância e incentivados a colocar em prática a vivência e iniciativas de inovação apresentadas durante o estágio.

Em uma terceira etapa, os jovens retornam à cooperativa e têm a oportunidade de expor impressões e propostas inovadoras e

alternativas de melhorias. A análise do grupo é importante para decidir as iniciativas mais interessantes e que poderão pleitear pequenos incentivos econômicos do Fundo de Inovação da Procasur para sua implementação.

Além do programa Jovens Talentos Inovadores, a parceria Procasur-Coopercuc promoveu outro estágio, com metodologia diferente: 2 turmas com 3 jovens bolsistas que passaram 3 meses acompanhando o dia a dia da Coopercuc.22

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Visita prática dos/as jovens no campo

Os Estágios são espaços privilegiados de socialização, do aprender-fazer, convivendo e trabalhando com quem tem o saber-fazer assimilado diretamente da experiência que neste contexto, vem da convivência bem sucedida com o Semiárido.

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“O estágio foi de grande importância, na verdade, uma experiência inesquecível. Foi uma a oportunidade de sair da teoria e ir para prática; conhecer todos os setores e departamentos da Coopercuc. É uma nova forma de combater o êxodo rural do jovem no campo, um exemplo bem claro sou eu mesmo. Quando terminei o curso técnico esperei um ano por alguma oportunidade, mas não aconteceu e a única alternativa era sair do campo e ir em busca oportunidades na cidade. Foi quando surgiu uma luz, como um vagalume nas noites escuras de nossa Caatinga: o estágio na Coopercuc, com o projeto Tecendo Elos. Foi a partir daí que até hoje minha vida tem mudado cada vez para melhor, com novas experiências, novas informações e muito conhecimento.”

EMANUEL MESSIAS ALMEIDAJovem rural que participou de um estágio na Coopercuc

Emanuel durante evento de juventude na Itália

A oportunidade de participar de estágios remunerados tem um impacto imediato na vida do jovem. Além de ampliar conhecimento, melhorar o relacionamento e desempenho interpessoal, o estágio contribuiu com uma nova visão sobre a comunidade e a região em que esses jovens vivem.

A metodologia da Procasur, adotada pela Coopercuc, valoriza ideias e iniciativas dos jovens ao incentivar que os estagiários pensem em propostas inovadoras, que possam melhorar a dinâmica da cooperativa. Uma das estagiárias propôs atualizar o quadro social da cooperativa e a criação de um banco de dados.

O programa ajuda os jovens a assimilar a importância da convivência com o território, a noção de que é possível viver com dignidade no Semiárido, além de conhecerem os princípios cooperativistas, como a economia solidária e a gestão democrática.

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CAMINHOS E DESAFIOSDA SUCESSÃO E DOPROTAGONISMO JUVENILNO COOPERATIVISMO

“A experiência que estou tendo na Coopercuc vai contribuir com a minha formação profissional e pessoal. Profissional por causa do aprendizado na cooperativa, no mercado de trabalho e também nas relações com a agricultura familiar. Na questão pessoal, adquiri conhecimentos e vou levar incentivo e aprendizado para quem não conhece.”

GLEISSY GONÇALVES DA SILVAFilha de cooperados e estagiária na Coopercuc

Gleissy estagiando na área de produção

Um dos grandes desafios das organizações e comunidades, dedicadas à agricultura familiar no Semiárido e em outras partes do país, é garantir a permanência da juventude no campo e frear o êxodo rural. Mas, para isso, as organizações e comunidades precisam oferecer condições e um futuro para os mais jovens.

No entanto, para trilhar esse caminho, é fundamental incentivar e dar suporte ao empreendedorismo do jovem rural. Nesse cenário, a importância de iniciativas promovidas pela Coopercuc como Organização-Escola é imensa, pois tais iniciativas ajudam a capacitar e criar melhores perspectivas de trabalho entre os mais jovens.

Com mais pessoas dispostas a trabalhar pelas riquezas e tradições do Sertão, o cooperativismo surge como estratégia de fortalecimento da agricultura familiar.

Os cooperados da Coopercuc sabem que juntos, eles são mais fortes. Com informação e formação, os jovens e futuros cooperados devem chegar ainda mais longe.

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EXPEDIENTECORPORAÇÃO REGIONAL PARA O DESENVOLVIMENTO RURAL / PROCASURPROGRAMA REGIONAL JUVENTUDE RURAL EMPREENDEDORA

Presidenta: Cecília Leiva

Coordenadora para a América Latina e Caribe: Rita Bórquez

Coordenadora para o Brasil: Lia Poggio

Consultor: Daniel Ferreira

Apoio: Jaqueline Monteiro

Textos: Cíntia Bertolino, Daniel Ferreira e Lia Poggio

Colaboração: Benedita Varjão, Jaqueline Monteiro e Jussara Dantas

Projeto Gráfico: Thiago Almeida

Tiragem: 500 exemplares

Gráfica: Copiadora Nacional

AGRADECIMENTOSA todos os cooperados da Coopercuc e todos os jovens,que participaram das atividades promovidas através daparceria Procasur-Coopercuc, e que contribuíram com esta publicação.

Nesta publicação usa-se o gênero masculino entendendo que seu uso faz referência sempre a homens e mulheres. Isto se faz a fim de evitar um texto sobrecarregado que se pressupõe na língua portuguesa ao fato de mencionar explicitamente ambos os sexos. A Procasur é uma corporação que, em todas as suas atividades, promove a equidade de gênero e a não discriminação.

Um campo sem jovense sem cooperação

é um campo sem futuro!