Kapandji - Volume 1

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FISIOLOGIA ARTICULAR

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A minha mulher

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A. I. KAPANDJI

Ex-Interno dos Hospitais de ParisEx-Chefe de Clínica-Auxiliar dos Hospitais de Paris

Membro da Sociedade Francesa de Ortopedia e Traurnatologia (S.O.F.C.O. T.)Membro da Sociedade Francesa de Cirurgia da Mão (GEM.)

FISIOLOGIA ARTICULARESQUEMAS COMENTADOS DE MECÂNICA HUMANA

VOLUME I5ª edição

MEMBRO SUPERIOR

I. - O OMBRO

11. - O COTOVELO

111.- A PRONAÇÃO-SUPINAÇÃO

IV. - O PUNHO

V. - A MÃO

Com 550 desenhos originais do autor

~

~rMALOINE

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Título do original em francês

PHYSIOLOGIE ARTICULAIRE. 1. Membre Supérieur© Éditions MALOL'lE. 27, Rue de l'École de Médecine. 75006 Paris.

Tradução deEditorial Médica Panamericana S.A.

Revisão Científica e Supervisão por Soraya Pacheco da Costa, fisioterapeuta

ISBN (do volume): 85-303-0043-2

ISBN (obra completa): 85-303-0042-4© 2000 Éditions 1\IALOINE.

27, rue de l'École de Médecine. 75006 Paris.

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTESINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ.>

K26fv.1

Kapandji, A. L (Ibrahim Adalbert)Fisiologia articular, volume 1 : esquemas comentados de

mecânica humana / A. L Kapandji ; com desenhos originaisdo autor; [tradução da 5.ed. original de Editorial Médica

Panamericana S.A. ; revisão científica e supervisão porSoraya Pacheco da Costa]. - São Paulo: Panamericana ; Rio

de Janeiro: Guanabara Koogan, 2000: 550 il.

Tradução de: Physio1ogie articulaire, 1 : membresupérieur

Inclui bibliografiaConteúdo: V.l. Membro superior: O ombro - O cotovelo ­

A pronação-supinação - O punho - A mãoISBN 85-303-0043-2

l. j\!ecânica humana. 2. Articulações - Atlas. 3.Articulações - Fisiologia - Atlas. L Título.

00-1623.

231100 241100

CDD 612.75CDU 612.75

009947

Todos os direitos reservados para a língua portuguesa. Excetuando críticas e resenhas científico-

literárias. nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, armazenada em sistemas computadorizados ou transmitida

de nenhuma forma e por nenhum meio, sejam eletrônicos, mecânicos, fotocopiadoras, gravadoras ou qualquer outro,

sem a prévia pennissão deste Editor(Medicina Panamericana Editora do Brasil Ltda.)

Medicina Panamericana Editora do Brasil LIDA.

Rua Butantã, 500 - 10º Andar - CEP 05424000 - Pinheiros - São Paulo - Brasil

Distribuição exc1usi\'a para a língua portuguesa por Editora Guanabara Koogan S.A.Travessa do Ouvidor, 11 - Rio de Janeiro - RJ - 20040-040Te!.: 21-2221-9621Fax: 21-2221-3202

www.editoraguanabara.com.br

Depósito Legal: M-53.355-2001Impreso en Espana

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ADVERTÊNCIA DO AUTOR À QUINTA EDIÇÃO

A partir de sua primeira edição, há sete anos atrás, este livro, inspirado principalmente porDuchenne de Boulogne, o "grande precursor" da Biomecânica, permâneceufiel a si mesmo, exceçãofeita por algumas pequenas correções. Neste momento. na oportunidade do aparecimento da quintaedição, achamos necessário incluir modificações importantes. em especial no que se refere à mão. Defato, o rápido desenvolvimento da cirurgia da mão exige um incessante aprofundamento quanto aoconhecimento de sua fisiologia. Este é o motivo pelo qual, à lu: de recentes trabalhos, temos escrito edesenhado novamente tudo relacionado ao polegar e ao mecanismo de oposição: a função da articu­lação trapézio-metacarpeana na orientação e rotação longitudinal da coluna do polegar se explica demaneira matemática a partir da teoria das articulações de dois eixos tipo cardan; assim mesmo, se es­clarece afunção da articulação metacalpofalangeana no "bloqueio" da preensão de grandes objetose, enfim, a função da articulação intelfalangeana na "distribuição" da oposição do polegar sobre apolpa de cada um dos quatro dedos. A riqueza na variedade de preensão e preensões associadas àsações está ilustrada com novos desenhos. Temos apelfeiçoado a definição das distintas posições fun­cionais e de imobilização. Porfim, com o objeti,'o de estabelecer um balanço funcional rápido da mão,propõe-se uma série de provas de movimentos, as "preensões mais ação" que, melhor do que as va­lorações analíticas da amplitude de cada uma das articulações e da potência de cada mÚsculo,faci­litam uma apreciação sintética do valor da utilização da mão.

No final do livro suprimimos alguns modelos obsoletos ou que não oferecem muito interesse,e substituímos por um modelo da mão que explica. neste caso de maneira satisfatória, a oposição dopolegar.

Em resumo, este é um livro renovado e enriquecido em profundidade.

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PREFÁCIO À EDIÇÃO EM PORTUGUÊS

Passaram mais de vinte e cinco anos desde o momento em que se escreveram estes três volu­mes de Esquemas Comentados de Fisiologia Articular obtendo grande sucesso entre os leitores detodo tipo, estudantes de medicina e fisioterapia, médicos, fisioterapeutas e cirurgiões. O fato de quecontinue atual se deve ao particular caráter destas obras, cujo objetivo é o ensino do funcionamentodo Aparelho Locomotor de maneira atrativa, privilegiando a imagem diante do texto: o princípio éexplicar uma Única idéia através do desenho, o qual permite uma memorização e uma compreensãodefinitims. O fato de que estes livros não tenham competidor sério demonstra nitidamente o seu valorintrínseco. Na verdade, é a clareza da representação espacial do funcionamento dos mÚsculos e dasarticulações o que faz com que seja tão evidente: estes esquemas não integram unicamente as trêsdimensões do espaço, mas também uma quarta dimensão, a do Tempo, porque a Anatomia Funcionalestá viva e, conseqüentemente, móvel- isto é, inscrita no Tempo. Isto diferencia a Biomecânica daMecânica propriamente dita, ou Mecânica Industrial. A Biomecânica é a Ciência das estruturas evo­lutivas, que se mod!ficám segundo os contratempos e evolu,em em função das necessidades, capazesde renovar-se constantemente para compensar o desuso. E uma mecânica sem eixo materializado,móvel inclusive no percurso do movimento. As suas supeifícies articulares integram um jogo mecâni­co que seria por completo impossível na mecânica industrial, porém lhe outorga possibilidades adi­clOnazs.

Eis aqui o espírito que impregna estes volumes, ao mesmo tempo que deixa a porta aberta aosoutros métodos de ensino para o futuro. Este é, na verdade, o segredo da sua perenidade.

A. I. KAPANDJI

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ÍNDICE

o OMBRO

FÍsiologia do ombro

A flexão-extensão e a adução

A abdução

A rotação do braço sobre o seu eixo longitudinal

Movimentos do coto do ombro no plano horizontalFlexão-extensão horizontal

O movimento de circundução

O "paradoxo" de Codman

Avaliação dos movimentos do ombro

Movimentos de exploração global do ombro

O complexo articular do ombro

As superfícies articulares da articulação escápulo-umeral

Centros instantâneos de rotação

A cápsula e os ligamentos do ombro

O tendão da porção longa do bíceps intra-articular

Função do ligamento glenoumeral

O ligamento córaco-umeral na flexão-extensão

A coaptação muscular do ombro

A "articulação" subdeltóide

A articulação escápulo-torácica

Movimentos da cintura escapular

Os movimentos reais da articulação escápulo-torácica

A articulação estemocostoclavicular (As superfícies articulares)

A articulação estemocostoclavicular (Os movimentos)

A articulação acrômio-clavicular

Função dos ligamentos córaco-claviculares

Músculos motores da cintura escapular

O supra-espinhal e a abdução

Fisiologia da abdução

As três fases da abduçãoAs três fases da flexão

Músculos rotadores

A adução e a extensão

o COTOVELO

Flexão-extensão

O cotovelo: Articulação de separação e aproximação da mão

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8 ÍNDICE

As superfícies articulares

A paleta umeral

Os ligamentos do cotovelo

A cabeça radialA tróclea umeral

As limitações da flexão-extensãoOs músculos motores da flexão

Os músculos motores da extensão

Os fatores de coaptação articular

A amplitude dos movimentos do cotovelo

As referências clínicas da articulação do cotovelo

Posição funcional e posição de imobilização

Eficácia dos grupos flexor e extensor

A PRONAÇÃO-SUPINAÇÃO

Significado

Definição

Utilidade da pronação-supinação

Disposição geral

Anatomia fisiológica da articulação rádio-ulnar superior

Anatomia fisiológica da articulação rádio-ulnar inferior

Dinâmica da articulação rádio-ulnar superior

Dinâmica da articulação rádio-ulnar inferior

O eixo de pronação-supinação

As duas articulações rádio-ulnar são co-congruentes

Os motores da pronação-supinação: os músculos

As alterações mecânicas da pronação-supinação

Compensações e posição funcional

O PUNHO

Significado

Definição dos movimentos do punho

Amplitude dos movimentos do punho

O movimento de circundução

O complexo articular do punho

As articulações rádio-carpeanas e médio-carpeanas

Os ligamentos da articulação rádio-carpeana e da médio-carpeana

Função estabilizadora dos ligamentos

A dinâmica do carpo

O par escafóide-semilunar

O carpo de geometria variável

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As alterações patológicas

Os músculos motores do punho

Ação dos músculos motores do punho

A MÃO

A sua função

Topografia da mão

Arquitetura da mão

O maciço do carpo

A escavação palmar

As articulações metacarpofalangeanas

O aparelho fibroso das articulações metacarpofalangeanas

A amplitude dos movimentos das articulações metacarpofalangeanas

As articulações interfalangeanasSulcos ou canais e bainhas dos tendões tlexores

Os tendões dos músculos flexores longos dos dedosOs tendões dos músculos extensores dos dedos

Músculos interósseos e lumbricais

A extensão dos dedos

Atitudes patológicas da mão e dos dedos

Os músculos da eminência hipotenar

O polegar

Geometria da oposição do polegar

A articulação trapézio-metacarpeana

A articulação metacarpofalangeana do polegar

A interfalangeana do polegar

Os músculos motores do polegar

As ações dos músculos extrínsecos do polegar

As ações dos músculos intrínsecos do polegar

A oposição do polegar

A oposição e a contra-oposição

Os tipos de preensão

As percussões - O contato -=- A expressão gestual

Posições funcionais e de imobilização

As mãos ficçõesA mão do homem

Modelos de mecânica articular para cortar

BIBLI OG RAFIA

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10 FISIOLOGIA ARTICULAR

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Fig.1-1

1. ME\fBRO SUPERIOR 11

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12 FISIOLOGIA ARTICULAR

FISIOLOGIA DO OMBRO

o ombro, articulação proximal do mem­bro superior (fig. 1-1, pág. 11), é a mais móvelde todas as articulações do corpo humano.

Possui três graus de liberdade (fig. 1-2), oque permite orientar o membro superior em re­lação aos três planos do espaço, graças a três....eixos pnnClpals:

1) Eixo transverso, incluído no planofrontal:

Permite movimentos de fIexão-exten­são realizados no plano sagital (verfigo 1-3 e plano A da figo 1-9).

2) Eixo ântero-posterior, incluído noplano sagital:

Permite os movimentos de abdução (omembro superior se afasta do plano desimetria do corpo), adução (o membrosuperior se aproxima ao plano de sime­tria) realizados no plano frontal (verfigs. 1-4 e 1-5 e plano B da figo 1-9).

3) Eixo vertical, determinado pela inter­secção do plano sagital e do planofrontal:

Corresponde à terceira dimensão do es­paço; dirige os movimentos de fIexão ede extensão realizados no plano hori­zontal, o braço em abdução de 90° (vertambém figo 1-8 e plano C da figo 1-9).

O eixo longitudinal do úmero (4) permitea rotação externalinterna do braço e do mem-

bro superior, de duas maneiras diferentes:

a rotação voluntária (também deno­minada "rotação adjunta') que utilizao terceiro grau de liberdade e não épossível se,não for em articulações detrês eixos (as enartroses). Deve-se àcontração dos.músculos rotadores;

a rotação automática (também deno­minada "rotação conjunta") que apa­rece sem nenhuma ação voluntária nasarticulações de dois eixos, ou nas arti­culações de três eixos quando funcio­nam como articulações de dois eixos.Mais adiante trataremos o paradoxode CODMAN.

A posição de referência é definida comodecrevemos a seguir:

O membro superior pende ao longo docorpo, verticalmente, de maneira que o eixolongitudinal do úmero (4) coincide com o eixovertical (3). Na posição de abdução a 90° o ei­xo longitudinal (4) coincide com o eixo trans­versal (1). Na posição de fIexão de 90°, coinci­de como o eixo ântero-posterior (2).

Portanto, o ombro é uma articulação comtrês eixos principais e três graus de liberdade;o eixo longitudinal do úmero pode coincidircom um dos dois eixos ou se situar em qual­quer posição intermédia para permitir o movi­mento de rotação externa/interna.

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Fig.1-2

1. MEMBRO SUPERIOR 13

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14 FISIOLOGIA ARTICULAR

A FLEXÃO-EXTENSÃO E A ADUÇÃO

Os movimentos de flexão-extensão(fig.1-3) se realizam no plano sagital (planoA, figo 1-9), ao redor de um eixo transversal(1, figo 1-2):

a) extensão: movimento de escassa ampli­tude, 45 a 50°;

b) flexão: movimento de grande ampli­tude, 180°; observar que a mesmaposição de flexão a 180° pode serdefinida também como uma abdução de180°, próxima à rotação longitudinal(ver mais adiante o paradoxo deCODMAN).

Com freqüência se utilizam, embora demodo errôneo, os termos de antepulsão para sereferir à flexão e retropulsão para a extensão.Isto leva a uma confusão com os movimentos

do "coto" do ombro no plano horizontal (pág.18) e por isso é preferível não utilizá-los quan­do nos referimos aos movimentos do membro

supenor.

A partir da posição anatômica (máximaadução), a adução (fig. 1-4) no plano frontal émecanicamente impossível devido à presençado tronco.

A partir da posição anatômica, não é pos-sível a adução se não for associada com:

a) uma extensão: adução muito leve;

b) uma flexão: a adução alcança de 30 a 45°.

A partir de qualquer posição de abdução, aadução, neste caso denominada "adução relati­va", é sempre possível no plano frontal, até aposição anatômica.

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Fig. 1-3

L MEMBRO SUPERIOR 15

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aFig.1-4

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16 FISIOLOGIA ARTICULAR

AABDUÇÃO

A abdução (fig. 1-5), movimento queafasta o membro superior do tronco, se realizano plano frontal (plano B, figo 1-9), ao redordo eixo ântero-posterior (fig. 1-2, eixo 2).

A amplitude da abdução alcança os 180°:o braço está em posição vertical por cima dotronco (d).

Duas advertências:

- a partir dos 90°, a abdução aproxima omembro superior ao plano de simetriado corpo; também é possível chegar à

posição final de abdução de 180° me­diante um movimento de flexão de180°;

- do ponto de vista das ações muscularese do jogo articular, a abdução, a partirda posição anatômica (a), passa portrês fases:

(b) abdução de 0° a 60°, que unicamen­te pode se realizar na articulação es­cápulo-umeral;

(c) abdução de 60° a 120° que necessitada participação da articulação escá­pulo-torácica;

(d) abdução de 120° a 180° que utiliza,além das articulações escápulo­umeral e escápulo-torácica, a incli­nação do lado oposto do tronco.

Observar que a abdução pura, descrita uni­camente no plano frontal, é um movimento pou­co comum. Pelo contrário, a abdução associadacom uma fiexão determinada, isto é, a elevaçãodo braço no plano da escápula, formando umângulo de 30° em sentido anterior com relaçãoao plano frontal, é o movimento mais utilizado,principalmente para levar a mão até a nuca ou àboca.

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c Fig.1-5

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18 FISIOLOGIA ARTICULAR

A ROTAÇÃO DO BRAÇO SOBRE O SEU EIXO LONGITUDINAL

A rotação do braço sobre o seu eixo longi­tudinal (fig. 1-2, eixo 3) pode ser realizada emqualquer posição do ombro. Trata-se da rotaçãovoluntária ou adjunta das articulações com trêseixos e três graus de liberdade. Em geral, estarotação se mede na posição anatõmica do braçoque pende verticalmente ao longo do corpo (fig.1-6, vista superior).

a) Posição anatômica, denominada rota­ção externa/interna 0°: para medir a am­plitude destes movimentos de rotação, ocotovelo deve estar necessariamente jle­xionado a 90° de maneira que o antebra­ço esteja no plano sagital. Se não toma­mos esta precaução, à amplitude dosmovimentos de rotação externa/internado braço se somaria à dos movimentosde pronação-supinação do antebraço.

Esta posição anatõmica, o antebraço noplano sagital, se utiliza de maneira total­mente arbitrária. Na prática, a posiçãode partida mais utilizada, porque se cor- .responde com o equilíbrio dos rotadores,é a de rotação interna de 30° com relaçãoà posição anatõmica, de maneira que amão fica na frente do tronco. Poder-se-iase denominar posição de referência fi­siológica.

b) Rotação externa: a sua amplitude é de80°, jamais alcança os 90°. Esta amplitu­de total de 80° normalmente não é utili­zada nesta posição, com o braço vertical

ao longo do corpo. Pelo contrário, a ro­tação externa mais utilizada, portanto amais importante do ponto de vista fun­cional, é o setor compreendido entre aposição anatõmica fisiológica (rotaçãoexterna -30°) e a posição anatõmicaclássica (rotação 0°).

c) Rotação interna: a sua amplitude é de100 a 110°, Para conseguir realizar essarotação, o antebraço deve passar ne­cessariamente.por trás do tronco, o queexige um certo grau de extensão do om­bro. A liberdade deste movimento é in­dispensável para que a mão possa che­gar até as costas. É a condição para sepoder realizar a higiene perineal poste­rior. Com relação aos primeiros 90graus de rotação interna, é exigida ne­cessariamente uma flexão do ombro

sempre que a mão estiver na frente dotronco.

Os músculos motores da rotação longitudi­nal serão estudados na página 78. No que se re­fere à rotação longitudinal de braço nas outrasposições que não seja a anatõmica, não é possí­vel medir de maneira precisa se não for median­te um sistema de coordenadas polares (ver pág.26). Os músculos rotadores intervêm de manei­ra diferente em cada posição, uns perdem a suaação rotadora, enquanto outros a adquirem. Istoé um exemplo da lei da inversão das ações mus­culares segundo a posição.

MOVIMENTOS DO COTO DO OMBRO NO PLANO HORIZONTAL

Estes movimentos desencadeiam a açãoda articulação escápulo-torácica (fig. 1-7):

a) posição anatômica;

b) retroposição do coto do ombro;

c) anteposição do coto do ombro.

Observar que a amplitude da anteposição

é maior do que a da retroposição.

Ação muscular:

Anteposição: peitoral maior, peitoral me­nor, serrátil anterior.

Retroposição: rombóides, trapézio (por­ção média), grande dorsal.

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Fig.1-6 c

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20 FISIOLOGIA ARTICULAR

FLEXÃO-EXTENSÃO HORIZONTAL

É o movimento do membro superior no pla­no horizontal (fig. 1-8 e plano C da figo 1-9) aoredor do eixo vertical ou, mais exatamente, emtomo de uma sucessão de eixos verticais, dadoque o movimento se realiza não só na articula­ção escápulo-umeral (fig. 1-2, eixo 4), mas tam­bém na escápulo-torácica (ver figo 1-37).

Posição anatõmica: o membro superiorestá em abdução de 90° no plano frontal, o qualprovoca a contração da seguinte musculatura:

- deltóide (principalmente a sua porçãoacromial, figo 1-65, IIl),

- supra-espinhal,

- trapézio: porções superior (acromial eclavicular) e inferior (tubercular),

- serrátil anterior.

Flexão horizontal, movimento que associaa flexão e a adução de 140° de amplitude, ativaos seguintes músculos:

deltóide (fascículos ântero-intemo I eântero-extemo II em proporção variá­vel entre eles e com o fascículo IIl),

subescapular,

peitorais maior e menor,serrátil anterior.

Extensão horizontal, movimento que as­socia a extensão e a adução de menor amplitude,30-40°, ativa os seguintes músculos:

deltóide (fascículos póstero-extemosIV e V, e póstero-intemos VI e VII emproporção variável entre eles e com ofascículo IIl), ,

supra-espinhal,

infra-espinhal,

redondos maior e menor,

rombóides,

trapézio (fascículo espinhal que se so­ma aos outros dois),

grande dorsal (em antagonismo-siner­gismo com o deltóide que anula o im­portante componente de adução dogrande dorsal).

A amplitude total deste movimento de fle­xão-extensão horizontal alcança quase os 180°.Da posição extrema anterior à posição extremaposterior se ativam, sucessivamente, como sefosse uma escala musical de piano, as diferentesporções do deltóide (ver pág. 70), que é o prin­cipal músculo deste movimento.

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1. MEMBRO SUPERIOR 21

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Fig.1-8

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22 FISIOLOGIA ARTICULAR

o MOVIMENTO DE CIRCUNDUÇÃO

A circundução combina os movimentoselementares ao redor de três eixos (fig. 1-9).Quando esta circundução alcança a sua amplitu­de máxima, o braço descreve no espaço um co­ne irregular: o cone de circundução. Este conedelimita, na esfera cujo centro é o ombro e cujoraio é igual à longitude do membro superior, umsetor esférico de acessibilidade, em cujo interiora mão pode pegar objetos sem deslocar o tron­co, para eventualmente levá-Ios à boca.

Neste esquema, a curva representa a basedo cone de circundução (trajetória da extremida­de dos dedos), percorrendo os diferentes setoresdo espaço determinados pelos planos de referên­cia da articulação:

a) plano sagital (ftexão-extensão),

b) plano frontal (adução-abdução),

c) plano horizontal (ftexão horizontal ouextensão horizontal).

A partir da posição de referência - repre­sentada por um ponto espesso - a curva passasucessivamente (para o membro superior direi­to) pelos setores:

lU - abaixo, na frente e à esquerda;

II - acima, na frente e à esquerda;

VI - acima, atrás e à direita;

V - abaixo, atrás e à direita;

VIII - abaixo, atrás e à esquerda, em umtrajeto muito curto, porque a extensão-adu­ção tem pouca amplitude (no esquema o se­tor VIII se localiza por baixo do plano C,

por trás do setor III e à esquerda do setor V.O setor VII, não visível, se situa por cima).

A seta, prolongamento da direção do braço,indica o eixo do cone de circundução e a suaorientação no espaço se corresponde levementecom a definida como posição funcional (ver figo1-16), mas neste caso o cotovelo se encontra emextensão. O setor V que inclui o eixo do cone decircundução é o ~etor de acessibilidade prefe­rencial. A orientação para a frente do eixo docone de circundução r.esponde à necessidade deproteger as mãos que trabalham sob o controlevisual. O cruzamento parcial e para frente dosdois setores de acessibilidade dos membros su­

periores obedece à mesma necessidade, permi­tindo que ambas as mãos trabalhem simultanea­mente sob controle visual, cooperem entre si e,se for necessário, se substituam uma à outra; demodo que o conjunto dos dois setores esféricosde acessibilidade dos membros superiores é con­trolado pelo campo visual dos olhos até seusmovimentos extremos, mantendo a cabeça fixano plano sagital. Os campos visuais e os setoresde acessibilidade das mãos se superpõem quasecompletamente.

É necessário ressaltar que esta disposiçãosó é possível no percurso da filogenia graças aodeslocamento para baixo do forame occipitaLpermitindo assim que a superfície possa se diri­gir para a frente e que o olhar adote uma dire­ção perpendicular ao eixo longitudinal do cor­po, enquanto nos quadrúpedes o olhar está diri­gido em direção ao eixo do corpo.

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1. MEMBRO SUPERIOR 23

VI

V

I

IV

Fig.1-9

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B

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24 FISIOLOGIA ARTICULAR

o "PARADOXO" DE CODMAN

Quando, a partir da posição anatômica (fig.1-10, a e b), o membro superior vertical ao lon­go do corpo, a palma da mão girada para den­tro, o polegar apontando para a frente (a), pedi­mos a um sujeito que realize, com o seu mem­bro superior, um movimento de abdução de+180° no plano frontal (c), seguido por um mo­vimento de extensão relativa de -180° no planosagital (d), o membro superior se encontra no­vamente vertical ao longo do corpo mas com apalma da mão girada para fora e o polegarapontando para trás (e).

Também é possível realizar o ciclo inverso:flexão de 180° e, a seguir, uma adução de 180°,mas os sinais estão invertidos e obtemos umarotação externa de 180°.

É fácil constatar que a palma da mão modi­fica a sua orientação, provocando um movimen­to de rotação longitudinal de 180°.

Neste duplo movimento de abdução segui­do por uma extensão, se produz AUTOMATI­CAMENTE uma rotação interna de 180°: ummovimento sucessivo em tomo de dois dos eixosdo ombro dirige mecanicamente e involuntaria­mente um movimento ao redor do eixo longitu­dinal do membro superior. É o que Mac Conailldenominou rotação conjunta, que aparece nummovimento diadocal, isto é, realizado sucessiva­mente em tomo dos dois eixos de uma articula­ção com dois graus de liberdade. Neste exem­plo, a articulação do ombro, que possui trêsgraus de liberdade, é utilizada como uma articu­lação de dois eixos.

Se utilizamos o terceiro eixo para realizar,voluntária e simultaneamente, uma rotação inver­sa de 180°, desta vez, a mão retoma à posição departida, o polegar apontando para a frente, depois

de descrever um ciclo ergonômico; tais ciclos seutilizam com freqüência nos gestos profissionaisou esportivos repetidos, por exemplo na natação.Esta rotação longitudinal voluntária que Mac Co­naill denomina rotação adjunta, só é viável emarticulações com três graus de liberdade e é indis­pensável durante o ciclo ergonômi€o. Isto fica de­monstrado na seguinte experiência: a partir da po­sição anatômica, em rotação interna, com a palmada mão girada pará fora e o polegar para trás, ab­dução até os 180°, a partir dos 90° de abdução, omovimento fica bloqueado e é necessário realizaruma rotação externa voluntária para continuar. Defato, causas anatômicas, tensão ligamentar e mus­cular, não permitem que a rotação conjunta conti­nue no sentido da rotação interna e é necessáriorecorrer a uma rotação adjunta externa para anulara rotação conjunta interna e finalizar o ciclo ergo­nômico. Isto explica a necessidade de uma articu­lação de três eixos na raiz dos membros.

Em resumo, o ombro é capaz de realizardois tipos de rotação longitudinal: a rotação vo­luntária ou adjunta e a rotação automática ouconjunta. Em todo momento estas duas rotaçõesse somam algebricamente:

- se a rotação voluntária (adjunta) é nula,a rotação automática (conjunta) aparececom claridade: é o (pseudo) paradoxo deCodman,

- se a rotação voluntária tem a mesma di­reção que a rotação automática, ela seamplifica,

- se a rotação voluntária tem direção con­trária, esta diminui ou até mesmo anulaa rotação automática: é o ciclo ergonô­mlCO.

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1. MEMBRO SUPERIOR 25

c

+1800

ba

d Fig.1-10e

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26 FISIOLOGIA ARTICULAR

AVALIAÇÃO DOS MOVIMENTOS DO OMBRO

A avaliação dos movimentos e das posi­ções nas articulações com três eixos principais etrês graus de liberdade, como o ombro, repre­senta uma dificuldade, porque existem ambigüi­dades. Por exemplo, se de maneira geral defini­mos a abdução como um movimento de separa­ção do membro superior do plano de simetria,esta definição só é válida até os. 90°, já que, apartir daí, o membro superior se aproxima doplano de simetria por cima e, contudo, continua­mos com a denominação de abdução; para ava­liar a rotação longitudinal o problema é aindamais árduo.

Embora seja simples avaliar um movi­mento quando o membro se desloca no plano dereferência, frontal ou sagital, sem dúvida sele­cionado arbitrariamente, a questão é mais com­plicada quando nos referimos aos setores inter­médios; são necessárias pelo menos duas coor­denadas angulares que utilizam um sistema decoordenadas retangulares, ou um sistema decoordenadas polares.

No sistema de coordenadas retangula­res (fig. 1-11), medimos o ponto de projeção doeixo longitudinal do braço, pelo menos em doisdos três planos de referência: frontal, F, sagital,Se trans\erso, T, localizando o "centro" do om­bro na interseção O dos três planos. A projeçãodo ponto P no plano frontal F em M e no planosagitalAS em Q permite medir o ân~ulo de abdu­ção SO?vle o ângulo de flexão SOQ. Observarque a posição do ponto N, projeção de P no planotransverso T, pode ser definido sem ambigüidadea partir do momento em que conhecemos M e Q.Contudo, neste sistema, não existe nenhum modode avaliar a rotação sobre o eixo longitudinalOP.

No sistema das coordenadas polares(fig. 1-12) ou acimutais, se define a direção do

braço pela posição que ocupa o cotovelo P nu­ma esfera cujo centro é o ombro O e o raio OPequivale à longitude do úmero. Do mesmo mo­do que no globo terráqueo, a posição do pontoP se define mediante dois ângulos, a longitudee a latitude. O ponto P se localiza na interse­cção de um grande círculo cuja lqngitude pas­sa pelos dois pólos e de um círculo pequeno delatitude cujo plano é paralelo ao do Equador,representado aqui J?elo grande círculo do planosagital S. A linha dos pólos é a interseção doplano frontal F e do plano transversal T, o me­ridiano O é o semicírculo inferior do planofrontal F. Mede-se aflexão como uma longitu­de contada para a frente, ou como o ânguloBÔL (L é a intersecção do meridiano que pas­sa por P e do Equador), e a abdução como umalatitude, isto é, o ângulo AÔK, ou melhor ain­da o seu suplementar BÔK. Além disso é viá­vel avaliar a rotação longitudinal do úmero co­mo um cabo em relação com um meridianovertic~l BPA que passe por P: este cabo é o ân­gulo C determinado a partir de AP.

Portanto, este sistema de avaliação ébem mais preciso e completo que o primeiro; in­clusive é o único que permite representar o conede circundução como uma trajetória fechada naesfera, embora se utilize menos na prática devi­do à sua complexidade.

Apresenta uma diferença importante com osistema de coordenadas retangulares (fig. 1-13):se o ângulo de flexão BÔL é o mesmo, o ângu­lo de abdução BÔK é diferente de BÔM (emcoordenadas retangulares) e esta diferença émais importante quanto mais se aproxime a fle­xão aos 90°. De fato, para uma flexão de 90° oponto P se situa no meridiano horizontal quepassa por E. O ângulo BÔM, então, é sempreigual a 90°, enquanto o ângulo AÔK pode variarde O a 90°.

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Fig.1-11

Fig.1-12

Fig.1-13

1. ME\IBRO SUPERIOR 27

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28 FISIOLOGIA ARTICULAR

MOVIMENTOS DE EXPLORAÇÃO GLOBAL DO OMBRO

Primeiro movimento de exploração glo-bal do ombro (fig. 1-14)

a) pentear-se;

b) levar a mão à nuca.

Quando está livre e a sua amplitude é nor­lal, este movimento dirige a mão em direção à°elhaoposta e da parte superior da região esca­

r'ular contralateral.Este movimento realizado com o cotovelo

em flexão explora tanto a abdução (120°) quan­to a rotação externa (90°).

Segundo movimento de exploração glo­bal do ombro (fig. 1-15)

Vestir um casaco:

- o braço que se introduz na primeiramanga (braço esquerdo na figura) rea­liza um movimento de flexão-abdução;

- o braço que vai procurar a segundamanga (braço direito na figura) realizaum movimento de extensão-rotação in-

terna, a mão entra em contato com a re­gião lombar.

Quando está livre e a sua amplitude é nor­mal, este movimento dirige a mão até a parte in­ferior da região escapular contralateral.

Posição funcional do ombro (fig. 1-16)

O eixo longitudinal do braço está em flexãode 45° e abdução de 60°, isto é, se encontra noplano vertical formando um ângulo diedro de45° com o plano sagital (ou frontal) e o braço es­tá em rotação interna de 30-40°.

Esta posição se corresponde com o estadode equilíbrio dos músculos periarticulares doombro: por isso se utiliza esta posição para aimobilização das fraturas da diáfise umeral jáque, nestas condições, o fragmento inferior, oúnico sobre o qual podemos atuar, se encontrano eixo do fragmento superior sobre o qualatuam os músculos periarticulares.

Corresponde-se também com o eixo do co­ne de circundução (fig. 1-9).

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a

Fig.1-16

Fig.1-14

Fig.1-15

1. MEMBRO SUPERIOR 29

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30 FISIOLOGIA ARTICULAR

o COMPLEXO ARTICULAR DO OMBRO

o ombro não está constituído por uma arti­culação, mas por cinco articulações que confor­mam o COMPLEXO ARTICULAR DO OM­BRO (fig. 1-17), cujos movimentos com relaçãoao membro superior acabamos de explicar. Estascinco articulações se classificam em dois grupos:

Primeiro grupo: duas articulações:

1) Articulação escápulo-umeral

Articulação verdadeira do ponto devista anatômico (contato de duas su­perfícies cartilaginosas de desliza­mento)

Esta articulação é a mais importantedo grupo.

2) Articulação subdeltóide ou "segun­da articulação do ombro"

Do ponto de vista estritamente anatô­mico não se trata de uma articulação;contudo podemos considerar do pon­to de vista fisiológico, devido sercomposta por duas superfícies quedeslizam uma sobre a outra. A articu­

lação subdeltóide está mecanicamenteunida à articulação escápulo-umeral:qualquer movimento na articulaçãoescápulo-umeral provoca um movi­mento na subdeltóide.

Segundo grupo: três articulações.

3) Articulação escápulo-torácicaNeste caso se trata outra vez de umaarticulação fisiológica e não anatômi­ca. É a articulação mais importante do

grupo, contudo não pode atuar sem asoutras duas, já que está mecanicamen­te unida a elas ..

4) Articulação acrômio-clavicular

Articulação verdadeira, localizada naporção externa da clavícula.

S) Articulação esternocostoclavicular

Articulação verdadeira, localizada naporção interna da clavícula.

Em geral, o complexo articular do ombropode ser esquematizado da seguinte maneira:

Primeiro grupo:

uma articulação verdadeira e princi­pal: a articulação escápulo-umeral;

uma articulação "falsa" e acessória:a articulação subdeltóide.

Segundo grupo:

uma articulação "falsa" e principal;a articulação escápulo-torácica;

duas articulações verdadeiras e aces­sórias: a acrômio-clavicular e a es­tem o-costo-cIavicular.

Em cada um dos grupos, as articulações es­tão unidas mecanicamente, isto é, atuam neces­sariamente ao mesmo tempo. Na prática, os doisgrupos também funcionam simultanearnente, se­gundo proporções variáveis no percurso dos mo­vimentos. De maneira que podemos afirmar queas cinco articulações do complexo articular doombro funcionam simultaneamente e em pro­porções variáveis de um grupo ao outro.

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1. MEMBRO SUPERIOR 31

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32 FISIOLOGIA ARTICULAR

AS SUPERFÍCIES ARTICULARES DA ARTICULAÇÃO ESCÂPULO-UMERAL

Superfícies esféricas, características deuma enartrose e, portanto, articulação de três ei­xos e com três graus de liberdade (fig. 1-18).

a) Cabeça umeral

Orientada para cima, para dentro e trás, po­de ser comparada com um terço de esfera de 30mm de raio. Na verdade, esta esfera está longede ser regular devido a seu diâmetro vertical ser3 a 4 mm maior do que o seu diâmetro ântero­posterior. Além disso, num corte vértico- frontal(quadro) podemos comprovar que o seu raio decurva diminui levemente de cima para baixo eque não existe um único centro da curva, masuma série de centros de curva alinhados ao lon­

go de uma espiral. Portanto, quando a parte su­perior da cabeça umeralentra em contato com aglenóide, a região de apoio é maior e a articula­ção é mais estável, quanto mais tensos estejamos fascículos médio e inferior do ligamento gle­noumeral. Esta posição de abdução de 90° co­rresponde à posição de bloqueio ou close-pac­ked position de Mac Conaill.

O seu eixo forma com o eixo diafisário um

ângulo denominado "inclinação" de 135° e, como plano frontal, um ângulo denominado "decli­nação" de 30°.

Está separada do resto da epífise superiordo úmero pelo colo anatômico, cujo plano estáinclinado 45° com relação à horizontal (ângulosuplementar do ângulo de inclinação).

Contém duas proeminências nas quais seinserem os músculos periarticulares:

- tuberosidade menor ou troquino, ante-rior, I

- tuberosidade maior ou troquino, externa.

b) A cavidad'e glenóide da escápula

Localizada no ângulo superior-externo docorpo da escápula, se orienta para fora, para afrente e levemente para cima. É côncava em am­bos os sentidos (vertical e transversal), mas a suaconcavidade é irregular e menos acentuada doque a convexidade da cabeça. Está rodeada pelaproeminente margem glenóide, interrompida pelaincisura glenóide na sua parte ântero-superior. Asua superfície é menor que a da cabeça umeral.

c) O lábio glenóide

Trata-se de um anel fibrocartilaginoso lo­calizado na margem glenóide, de maneira queocupa a incisura glenóide e aumenta ligeiramen­te a superfície da glenóide, embora, principal­mente, acentua a sua concavidade restabelecen­do a congruência (coincidência) das superfíciesarticulares.

Triangular, quando está seccionado, apre­senta três superfícies:

- uma superfície interna que se insere nocontorno glenóide;

- uma superfície periférica onde se inse­rem algumas fibras da cápsula;

- uma superfície central (ou axial) cujacartilagem é um prolongamento da gle­nóide óssea e que entra em contato coma cabeça umeral.

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1. MEMBRO SUPERIOR 33

Fig.1-18

Page 34: Kapandji - Volume 1

34 FISIOLOGIA ARTICULAR

CENTROS INSTANTÂNEOS DE ROTAÇÃO

o centro da curva de uma superfície articu­lar não necessariamente coincide com o centro

de rotação porque, além da forma da superfície,intervêm também o jogo mecânico da articula­ção, a tensão dos ligamentos e a contração dosmúsculos.

No que se refere à cabeça umeral, não exis­te, como se acreditava durante muito tempoquando se comparava a sua forma com uma por­ção de esfera, um centro fixo e imutável duranteo movimento, mas sim, como demonstraram osrecentes trabalhos de Fischer e cols., uma sériede centros instantâneos de rotação (CIR) que secorrespondem com o centro do movimento rea­lizado entre duas posições muito próximas entreelas. Estes pontos se determinam mediante aanálise informática de uma série de radiografiassuceSSivas.

Assim sendo, durante o.movimento de ab­dução considerado plano, isto é, mantendo uni­camente o componente de rotação de úmero noplano frontal, existem dois grupos de CIR (fig.1-19) dentre os quais aparece uma descontinui­dade (3-4) até hoje sem explicação viável. O pri­meiro grupo se localiza num "círculo de disper­são" C1, situado perto da parte inferior-internada cabeça umeral, cujo centro é o baricentro dosCIR e cujo raio é a média das distâncias desde obaricentro até cada um dos CIR. O segundo gru-

po se situa em outro "centro de dispersão" C2,

situado na metade superior da cabeça. Os doiscírculos estão separados pela descontinuidade.

Com relação ao movimento de abdução,podemos comparar a articulação escápulo-ume­ral (fig. 1-20) com duas articulações:

- no início do movimento até os 500, a ro­tação da cabeça umeral se realiza ao re­dor de um ponto situado em algum lu­gar do círculo Ci;

- no fim da abdução entre 50 e 900, o cen­tro de rotação se localiza no círculo C2;

- ao redor dos 500, a descontinuidade domovimento acontece cujo centro se lo­caliza claramente por cima e por dentroda cabeça.

Durante o movimento de flexão (fig. 1-21,vista externa) a mesma análise demonstra quenão existe uma grande descontinuidade na tra­jetória dos CIR, o que corresponde a um único"círculo de dispersão" centrado na parte infe­rior da cabeça à mesma distância de ambas asmargens.

Por último, durante o movimento de rota­ção longitudinal (fig. 1-22, vista superior), o cír­culo de dispersão se localiza perpendicularmen­te à cortical diafisária interna e à mesma distân­

cia das duas margens da cabeça.

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3-4

Fig.1-21

Fig.1-19 Fig. 1-20 '00

Fig.1-22

1. MEMBRO SUPERIOR 35

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36 FISIOLOGIA ARTICULAR

A CÁPSULA E OS LIGAMENTOS DO OMBRO

As superfícies articulares e a bainha cap­sular (fig. 1-23, segundo Rouviere).

a) A cabeça wneral (vista interna)

Rodeada pela cápsula como se fosse umagorjeira (1) na qual se distingue:

os "frenula capsulae" (2) por baixodo pólo inferior da cabeça; trata-se depregas sinoviais elevadas por fibrasrecorrentes da cápsula;

o engrossamento formado pelo fascí­culo superior do ligamento gle­noumeral (3).

Dentro da cápsula podemos ver o tendão sec­cionado da porção longa do bíceps (4).

Por fora da cápsula podemos apreciar a sec­ção do músculo subescapular (5), perto de sua in­serção na tuberosidade menor.

b) A cavidade glenóide (vista externa)

Com o lábio g1enóide (1) que passa por cimada incisura glenóide formando uma ponte (2) e cu­jo pólo superior serve de inserção para as fibras daporção longa do bíceps (intracapsular) (3), nestecaso seccionado.

Com a cápsula (4) e os seus reforços ligamen­tares:

raco-umeral fecha, na parte de cima,a incisura intertuberositária, por ondeo tendão da porção longa do bícepssai da articulação: este percorre o sul­co intertuberositário, convertido emcanal pelo ligamento umeral trans­verso (8).

ligamento glenoumeral, com os seustrês fascículos, superior supragleno­supra-umeral (9), médio suprag1eno­pré-umeral (10) e inferior pré-g1e­nossubumeral (11).

O conjunto forma um Z expandido sobre a su­perfície anterior da cápsula.

Entre os três fascículos existem pontos fracos:

Forame de Weitbrecht (12) e forame de Rou­viere (13), por onde a sinovial articular pode-se co­municar com a bolsa serosa subcoracóide.

- a porção longa do tríceps (14).

Vista posterior da articulação escápulo­umeral (fig. 1-24 bis, segundo Rouviere)

Na parte posterior da cápsula, abrimos uma"janela" e a cabeça umeral foi removida (1). A las­sidão da cápsula permite separar 3 cm das superfí­cies articulares no cadáver, de maneira que pode­mos distinguir:

os fascículos médio (2) e inferior (3)do ligamento glenoumeral (vistos des­de a sua superfície profunda);

ligamento córaco-umeral (4), ao qualestá unido o ligamento córaco-gle­nóide (5), que não possui função me­cânica;

a parte intra-articular da porção longado bíceps (6);

a cavidade glenóide (7) e o lábio gle­nóide (8);

dois ligamentos que não possuem açãomecânica: o ligamento coracóide (9) e oligamento espinho-g1enóide (10);

as inserções dos três músculos pe­riarticulares: o supra-espinhal (11), oinfra-espinhal (12) e o redondo me­nor (13).

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4

3

5

Fig.1-23

1. .\1E~'1BRO SUPERIOR 37

8

14

Fig.1-24

. !

9 10 5

Fig. 1-24bis

11

12

13

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38 FISIOLOGIA ARTICULAR

o TENDÃO DA PORÇÃO LONGA DO BÍCEPS INTRA-ARTICULAR

Em corte frontal da articulação escápulo­umeral (fig. 1-25, segundo Rouviere), podemosobservar:

- as irregularidades da cavidade glenóide ós­sea desaparecem na cartilagem glenóide;

- margem cotilóide (2) acentua a profundi­dade da cavidade glenóide; contudo, o en­caixe desta articulação não é muito com­pacto, o qual explica as freqiientes luxa­ções. Na sua parte superior (3) a margemglenóide não está totalmente fixa: a suamargem central cortante fica livre dentroda cavidade, como se fosse um menisco;

- na posição anatômica, a parte superior dacápsula (4) está tensa, enquanto a inferior(5) apresenta pregas: esta "elasticidade"capsular e o "despregamento" dos frenulacapsulae (6) possibilitam a abdução;

- tendão da porção longa do bíceps (7) seinsere no tubérculo subglenóide e no pólosuperior do lábio glenóide. Para sair da ar­ticulação pela incisura intertuberositária(8) se desliza por baixo da cápsula (4).

Corte que mostra as conexões do tendão coma sinovial (quadro):

Na cavidade alticular o tendão da porção lon­ga do bíceps pode estabelecer ligações com a si­novial mediante três posições diferentes:

1) aderido à superfície profunda da cápsula(c) pela sinovial (s);

2) a sinovial forma duas pequenas pontas(fundos de saco) entre a cápsula e o ten­dão que, desta maneira, se une à cápsulamediante um fino septo denominado me­sotendão;

3) estando dois "fundos de saco" unidos detal maneira que desaparecem, o tendão fi­ca liberado, mas envolvido por uma pe­quena lâmina sinovial.

Normalmente, estas três disposições po­dem observar-se de dentro para fora à medida que

se afastam da inserção tendinosa. Mas, em todocaso, o tendão, embora intracapsular, permaneceextra-sinovial.

N a atualidade sabemos que o tendão daporção longa do bíceps desempenha um papel im­portante na fisiologia e na patologia do ombro.

Quando o bíceps se contrai 'para levantarum objeto pesado, as suas duas porções desem­penham um papel muito importante para manter acoaptação simultânea do ombro: a porção curtae1e\"a o úmero com relação à escápula e se apóiasobre o processo coracóide; assim sendo, juntocom os outros músculos longitudinais (porçãolonga do tríceps, coracobraquial, deltóide), impe­de a luxação da cabeça umeral para baixo. Simul­taneamente, a porção longa coapta a cabeça ume­ral na glenóide; isto é exatamente assim no casoda abdução do ombro (fig. 1-26), porque a porçãolonga do bíceps também forma parte dos abduto­res: quando sofre mptura a força da abdução dimi­nui 29%.

O grau de tensão inicial da porção longado bíceps depende da longitude do trajeto percorri­do pela porção horizontal intra-articular (fig. 1-27,vista superior). Esta longitude é máxima em posi­ção intermédia (A) e em rotação externa (B): nes­te caso a eficácia da porção longa é máxima. Pelocontrário, em rotação interna (C) o trajeto intra-ar­ticular é o mais curto e a eficácia da porção longaé mínima.

Também podemos compreender, conside­rando a reflexo do tendão da porção longa do bí­ceps na incisura intertuberositária, que neste pon­to ele sofre uma grande fadiga mecânica à qualnão pode resistir se o seu trofismo não é excelen­te, considerando que isto também se acentua pelofato de não contar com um sesamóide neste pon­to crítico. Se, com a idade, aparece a degeneraçãodas fibras colágenas, o tendão termina se rompen­do pela sua porção intra-articular, na entrada dosulco ou canal bicipital, inclusive com um esforçomínimo, produzindo um quadro clínico caracterís­tico das periartrites escápulo-umerais.

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8 7 4 3 1 1

Fig.1-26

Fig.1-25

1. MEMBRO SUPERIOR 39

32Z//////~c2~ S~.:.I

BFig.1-27

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40 FISIOLOGIA ARTICULAR

FUNÇÃO DO LIGAMENTO GLENOUl\:1ERAL

Durante a abdução (fig. 1-28)

a) posição anatõmica (as franjas tracejadasrepresentam os fascículos médio e infe­rior do ligamento);

b) durante a abdução podemos comprovarcomo estão tensos os fascículos médio einferior do ligamento glenoumeral, en­quanto o fascículo superior e o ligamen­to córaco-umeral - não representado nodesenho - se distendem. A tensão máxi­ma dos ligamentos, associada à maiorsuperfície de contato possível das carti­lagens articulares (o raio da curva da ca­beça umeral é ligeiramente maior em ci­ma que embaixo) fazem da abdução aposição de bloqueio do ombro, a close­packed position de Mac Conaill.

Outro fator limitante é o impacto da tu­berosidade maior do úmero contra a parte supe-

rior da glenóide e da margem cotilóide. A rota­ção externa desloca a tuberosidade do úmeropara trás no fim da abdução, que se encontrapor baixo da abóbada acrõmio-coracóide e a in­cisura intertuberositária, e distende ligeiramen­te o fascículo inferior do ligamento glenoume­ral de maneira que consegue retardar o impac­to. Assim sendo, a amplitude da abdução é de90°.

Quando a abdução se realiza com uma fle­xão de 30°, no plano do corpo da escápula, atensão do ligamento glenoumeral é retardada,permitindo que a abdução atinja uma amplitu­de de 110° na articulação escápulo-umeral.

Durante a rotação (fig. 1-29)

a) a rotação externa provoca a tensão dostrês fascículos do ligamento g1enoume­ral,

b) a rotação interna os distende.

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1. MEMBRO SUPERIOR 41

aFig.1-28

b

a

Fig.1-29

b

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42 FISIOLOGIA ARTICULAR

o LIGAMENTO CÓRACO-UMERAL NA FLEXÃO-EXTENSÃO

Em vista esquemática extema (fig. 1-30)podemos observar a tensão relativa dos dois fascí­culos do ligamento córaco-umeral:

a) posição anatômica mostrando o ligamen­to córaco-umeral com os seus dois fascí­

culos (tuberosidade maior do úmero portrás e tuberosidade menor do úmero pelafrente);

b) tensão predominante sobre o fascículo da

tuberosidade menor do úmero durante a ex­

tensão;

c) tensão predominante sobre o fascículo datuberosidade maior do úmero durante a

fiexão.

A rotação intema do úmero que aparece nofim da flexão distende os ligamentos córa­co-umeral e glenoumeral, possibilitandouma maior amplitude de movimento.

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1. MEMBRO SUPERIOR 43

cb

Fig.1-30

a

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44 FISIOLOGIA ARTICULAR

A COAPTAÇÃO MUSCULAR DO OMBRO

Os músculos periarticulares transversais(fig. 1-31), verdadeiros ligamentos ativos da ar­ticulação, proporcionam a coaptação das super­fícies articulares: encaixam a cabeça umeml nacavidade glenóide:

a) vista posterior,

b) vista anterior,

c) vista superior.

Nestes esquemas podemos observar os se-guintes músculos:

1) supra-espinhal,

2) subescapular,

3) infra-espinhal,

4) redondo menor,

5) tendão da porção longa do bíceps. Quan­do este músculo se contrai, o tendão, su­jeito ao tubérculo supraglenóide, deslocaa cabeça para dentro.

Alguns autores mencionam um papelcoaptador da pressão atmosférica, que não atuana glenóide, mas por baixo da camada dos mÚs­culos periarticulares (ver também figs. 1-33 e 1­34).

Os mÚsculos longitudinais do braço e dacintura escapular (fig. 1-32) impedem, median­te a sua contração tônica, que a cabeça umeralse luxe por baixo da glenóide sob tração de umacarga mantida na mão ou o próprio peso domembro superior. Esta luxação inferior se ob­serva na síndrome do "ombro caído" quando,por qualquer motivo, os mÚsculos do braço e do

ombro se paralisam. Contudo, recentes trabalhoseletromiográficos demonstram que só intervêmativamente quando o membro superior suportagrandes cargas, desempenhando o papel de su­porte em situação normal e não, como se acre­ditava até então, ô ligamento córaco-umeral,clássica faixa de fixação de Farabeuf, mas aporção inferior da cáp·sula, como se demonstranos trabalhos de Fischer e cols.

Contudo, a presença da abóbada acrômio­coracóide acolchoada pela porção final do su­pra-espinhal impede e limita a luxação da cabe­ça para cima, sob influência de uma potentecontração destes músculos longitudinais.Quando é destruída esta abóbada acolchoadapela terminação do supra-espinhal, a cabeçaumeral realiza um impacto direto contra a su­perfície inferior do acrômio e do ligamentoacrômio-coracóide, e isto é a causa das dores daperiartrite escápulo-umeral ou, mais concreta­mente, da síndrome da ruptura da bainha rota­tória.

a) vista posterior,

b) vista anterior.

Nos desenhos podemos observar:

(5') a porção curta do bíceps,

(6) o córaco-braquial,

(7) a porção longa do tríceps,

(8 e 8') fascículos do deltóide,

(9) o fascículo clavicular do peitoral maior.

(A seta preta indica a tração para baixo.)

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1. MEMBRO SUPERIOR 45

c Fig.1-31

Fig. 1-32

Page 46: Kapandji - Volume 1

46 FISIOLOGIA ARTICULAR

A "ARTICULAÇÃO" SUBDELTÓIDE

Articulação subdeltóide aberta (fig. 1-33,segundo Rouviere)

O deltóide está seccionado horizontalmen­

te e deslocado para um lado (1), permitindo,~desta maneira, a vista da "superfície" profundado plano de deslizamento anatômico subdeltói­de, constituído por:

- extremidade superior do úmero (2);

- bainha dos músculos periarticulares: su-pra-espinhal (3), infra-espinhal (4), re­dondo menor (5). O subescapular nãoestá representado no desenho, contudo,podemos claramente distinguir o tendãoda porção longa do bíceps (6) ao sair docanal bicipital.

Entre a superfície descrita e a abóbadaacrômio-coracóide formada pela superfície infe­rior do acrômio e do ligamento acrômio-cora­cóide que se prolonga pela frente ao tendão docóraco-bíceps, o plano de deslizamento anatô­mico celular adiposo contém uma bolsa se rosasubdeltóide (7), aberta no desenho.

Outros músculos visíveis no desenho são: o

redondo maior (8), a porção longa do tríceps (9),a porção lateral do tríceps (10), o córaco-bra­quial (11), a porção curta do bíceps (12), o pei­toral menor (13) e o peitoral maior (14).

Em corte vertical-frontal do coto do om­bro (fig. 1-34) ,

a) com o braço vertical ao longo do corpopodemos distinguir: o supra-espinhal(1), que se desliza para baixo da articula­ção acrômio-clavicular (2) para se inserirna tuberosidade maior do úmero, e o del­

tóide (4) acima do qual se situa a bolsaserosa suldeltóide (5).

b) durante a abdução: o infra-espinhal (1)desloca a tuberosidade maior do úmero

(3) para cima e para dentro, de maneiraque:

- o fundo superior da bolsa se deslocae se situa debaixo da articulaçãoacrômio-clavicular (2),

- a lâmina profunda da bolsa se des­loca para dentro com relação à lâ­mina superficial (6), que se enruga.Desta forma, a cabeça umeral pode­se deslizar por baixo da abóbadaacrômio-deltóide.

Por outro lado, o fundo da bolsa inferior da

articulação escápulo-umeral (7) se desdobra eestá tenso.

Porção longa do tríceps (8).

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Fig.1-33

5 4 3

Fig.1-34 b

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48 FISIOLOGIA ARTICULAR

A ARTICULAÇÃO ESCÁPULO- TORÁCICA

É fácil entender a articulação escápulo-to­rácica num corte horizontal do tórax (fig. 1-35).

Na metade esquerda do corte (posição ana­tômica), podemos observar as duas zonas dedeslizamento desta falsa articulação:

1) Zona escápulo-serrática, compreendi­da entre:

- por trás e por fora: a escápula reco­berta pelo músculo subescapular;

- pela frente e por dentro: a camadamuscular do serrátil anterior, que seestende da margem interna da escápu­Ia até a parede ântero-Iateral do tórax.

2) Zona tóraco-serrática ou parieto-ser­rática, compreendida entre:

- por dentro e pela frente: a parede to­rácica (costelas e músculos intercos­tais);

- por trás e por fora: o serrátil anterior.

N a metade direita do corte (estrutura fun­cional da cintura escapular), podemos compro­var que:

- a escápula não se localiza no plano fron­tal, mas no plano oblíquo de dentro pa-

ra fora e de trás para adiante, formandocom o plano frontal um ângulo diedrode 30°, aberto para fora e para a frente;

- a direção geral da clavícula é oblíquapara fora e atrás e forma com o plano daescápula um ângulo de 60° aberto paradentro. I

Em vista posterior do tórax (fig. 1-36) épossível localizar a éscápula.

A escápula, em posição normal, se estendeda 2a à 7a costela. Com relação à linha dos pro­cessos espinhosos (linha média):

- seu ângulo superior-interno se corres­ponde com o 1.° processo espinhoso to­rácico;

- seu ângulo inferior ao 7.° ou 8.° proces­so espinhoso torácico;

- a porção interna da espinha da escápula(ângulo constituído pelos dois segmen­tos da margem interna) ao 3.° processoespinhoso torácico.

A margem interna ou espinhal da escápulase situa a 5 ou 6 cm da linha dos processos es­pinhosos.

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Fig. 1-35

Fig.1-36

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50 FISIOLOGIA ARTICULAR

MOVIMENTOS DA CINTURA ESCAPULAR

Moyimentos de deslocamento lateralda escápula (fig. 1-37, corte esquemático hori­zontal)

1) Lado direito do corte: quando a escápulase desloca para dentro:

- tende a orientar-se no plano frontal;

- a cavidade glenóide está dirigida maisdiretamente para fora;

- a porção externa da clavícula se dirigepara dentro e atrás;

- ângulo entre a clavícula e a escápulamostra tendência a abrir-se.

2) Lado esquerdo do corte: quando a escápu­Ia se desloca para fora:

- tende a se orientar no plano sagital;

- a porção externa da clavícula está diri-gida para fora e para frente e o seu ei­xo longitudinal tem a tendência de es­tar no plano frontal; assim sendo, odiâmetro transversal dos ombros chegaaté a sua máxima amplitude;

- o ângulo entre a clavícula e a escápulatende afechar-se.

Entre estas duas posições extremas, o planoda escápula forma um ângulo diedro de 40 a 45°,que corresponde à amplitude global da mudançade orientação da glenóide no plano horizontal,isto é, em tomo de um eixo vertical fictício.

Moyimentos de translação lateral da es­cápula (fig. 1-38; vista superior)

1) Lado direito: translação interna (obser­var uma ligeira basculação).

2) Lado esquerdo: translação externa.

3) A amplitude total entre estas duas posi­ções extremas é de 15 cm.

I

Moyimentos de translação yertical da es-cápula (fig. 1-39)

1) Lado direito: descenso.

2) Lado esquerd0: ascenso.

3) Amplitude total: 10 a 12 cm.

Estes movimentos verticais vão acompanha­dos, necessariamente, de uma certa basculação.

Moyimentos denominados "sino" oubasculação da escápula (fig. 1-40)

Rotação da escápula ao redor de um eixoperpendicular ao plano da escápula localizadoligeiramente por baixo da espinha; não muitolonge do ângulo superior-externo.

1) Lado direito: rotação "para baixo" (nocaso da escápula direita, no sentido dos pontei­ros do relógio): o ângulo inferior se desloca pa­ra dentro, o ângulo superior e externo para bai­xo e a glenóide tem a tendência a se dirigir parabaixo.

2) Lado esquerdo: rotação "para cima":movimento inverso, a glenóide é orientada maisdiretamente para cima e o ângulo externo seeleva.

3) Amplitude total: 60°.

4) Deslocamento do ângulo inferior: 10 a12 cm; do ângulo superior-externo: de 5 a6 cm.

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Fig.1-40

1. MEMBRO SUPERIOR 51

Fig.1-37

Fig.1-38

Fig.1-39

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52 FISIOLOGIA ARTICULAR

OS MOVIMENTOS REAIS DA ARTICULAÇÃO ESCÁPULO- TORÁCICA

Antes existia uma descrição dos movi­mentos elementares da articulação escápulo-to­rácica, mas, na atualidade, sabemos que duranteos movimentos de abdução ou de fiexão domembro superior estes movimentos diferenteselementares se combinam em um grau variável.Graças a uma série de radiografias (fig. 1-41)realizadas no percurso do movimento de abdu­ção, J. '{ de Ia Caffiniere pôde, comparando-ascom fotografias da escápula "seca" em diferen­tes atitudes, estudar os componentes do seu mo­vimento real; as vistas em perspectiva do acrô­mio (fig. 1-42), da coracóide e da glenóide (fig.1-43) permitem estabelecer que, durante a abdu­ção ativa, a escápula realiza quatro movimentos:

- um ascenso de 8 a 10 cm aproximada­mente sem ter associado, como classica­mente é afirmado, um deslocamento pa­ra frente.

- um movimento de sino de progressãopraticamente linear, de 38° quando a ab­dução do membro superior passa de O a145°. A partir de 120° de abdução, a ro­tação angular é igual na articulação es­cápulo-umeral e na escápulo-torácica.

- um movimento de basculaçc70 ao redorde um eixo transversal, oblíquo de den­tro para fora e de trás para diante, deslo-

cando a ponta da escápula para a frentee para cima, enquanto a porção superiordo osso se desloca para trás e para bai­xo, movimento que imita o de um ho­mem inclinado para trás para olhar o to­po de um arranha-céus. A sua amplitudeé de 23° durante a abdução de O a 45°.

- um movimento de "pÍvô" ao redor deum eixo vertical cuja característica é ade ser difásico:

• no primeiro momento, durante a abdu­ção de O a 90°, a glenóide tende parado­xalmente a orientar-se para trás seguin­do um ângulo de 10°,

• a seguir, a partir dos 90° de abdução, aglenóide tende a recuperar a orientaçãopara cima seguindo um ângulo de 6°;em realidade, não recupera a sua orien­tação inicial no plano ântero-posterior.

No percurso da abdução, a glenóide so-fre um deslocamento complexo, ascendendo eaproximando-se da linha média, ao mesmotempo que realiza uma mudança de orientaçãode tal maneira que a tuberosidade maior doúmero "escapa" pela frente do acrômio para sedeslizar para baixo do ligamento acrômio-co­racóide.

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Fig.1-43

IIIII

Fig.1-41

1. MEMBRO SUPERIOR 53

145

Fig.1-42

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54 FISIOLOGIA ARTICULAR

A ARTICULAÇÃO ESTERNOCOSTOCLAVICULAR(As superfícies articulares)

Estas duas superfícies articulares (fig. 1­44), representadas aqui em separado, têm afor­ma de uma sela usada para cavalgar (superfície"toróide negativa", ver mais adiante quandomencionarmos a articulação trapézio-metacar­peana), com uma curva dupla, mas no sentidoinverso; são convexas num sentido e côncavasno outro. Da curva côncava um eixo perpendi­cular no espaço corresponde ao eixo da curvaconvexa; estes dois eixos se localizam em um enoutro lado da superfície com forma de sela. Ade menor superfície (1) é c1avicular, a de maiorsuperfície (2) é esternocostal. Na verdade, a su­perfície c1avicular (1), mais estendida horizon­talmente que verticalmente, ultrapassa pela fren­te e, principalmente, para trás, os limites da su­perfície esternocostal (2).

A superfície c1avicular encaixa com facili­dade (fig. 1-45) na superfície esternocostal, damesma maneira que o cavaleiro se adapta à selae esta, por sua vez, ao cavalo. A curva côncavada primeira e a curva convexa da segunda encai­xam-se perfeitamente. Os dois eixos de cadauma das superfícies coincidem de dois em dois,de maneira que o sistema só possui dois eixosperpendiculares no espaço, representados no de­senho em perspectiva:

- eixo 1 se corresponde com a concavi­dade da superfície c1avicular e permiteos moviméntos c1a\'iculares no planohorizontal;

- eixo 2 se corresponde com a concavi­dade da superfície esternocostal e per­mite os movimentos c1aviculares noplano vertical.

Portanto, esta articulação possui doiseixos e dois graus de liberdade. O seu mode­lo mecânico é o "CARDÃO", Contudo, existeum movimento de rotação longitudinal (verpág. 56).

A articulação esternocostoc1avicular direi­ta está representada aberta na sua superfície an­terior (fig. 1-46).

A porção interna da c1a\'ícula (1), cuja su­perfície articular podemos observar (2), foi re­movida depois da secção do ligamento superior(3), do ligamento anterior (-1.) e do ligamentocostoc1avicular (5), o mais poderoso. Só seconserva o ligamento posterior (6). A superfí­cie esternocostal (7) se vê nitidamente juntocom as suas duas curvas: concavidade no sen­tido vertical e convexidade no sentido ântero­posterior.

Page 55: Kapandji - Volume 1

1. MEMBRO SUPERIOR 55

Fig.1-44

2

423

Fig.1-45

Fig.1-46

Page 56: Kapandji - Volume 1

56 FISIOLOGIA ARTICULAR

A ARTICULAÇÃO ESTERNOCOSTOCLAVICULAR(Os movimentos)

Vista composta da articulação esternocosto­clavicular (fig. 1-47, segundo Rouviere).

- Metade direita: corte vértico-frontal no

qual podemos observar:-ligamento costoclavicular (1) que, a par­

tir de sua inserção na superfície superiorda primeira costela se dirige para cima epara fora, em direção à superfície infe­rior da clavícula;

- com freqüência, as duas superfícies arti­culares não têm os mesmos raios de cur­

va; um menisco (3) reestabelece a con­cordância, como a sela entre o cavaleiroe o cavalo. Este menisco subdivide a ar­

ticulação em duas cavidades secundá­rias, que podem ou não se comunicarentre elas, dependendo se o menisco es­tá ou não perfurado na sua parte central;

-ligamento estemoc1avicular (4), ligamentosuperior da articulação, está recoberto porcima pelo ligamento interclavicular (5).

- Metade esquerda: "istaanteriorque mostra:

-ligamento costoc1avicular (1) e o múscu-lo subclávio (2);

- eixo X, horizontal e levemente oblíquopara a frente e para fora, se correspondecom os movimentos da clavícula no pla­no vertical. Amplitude: elevação 10 cm;descenso 3 cm;

- o eixo Y, localizado no plano vertical,oblíquo para baixo e levemente para fo­ra, passando pela parte média do liga­mento costoclavicular, se correspondecom os movimentos da clavícula no pla­no horizontal. Amplitude:

• anteposição da porção externa da cla­vícula: 10 cm;

• retroposição da porção interna da cla­vícula: 3 cm.

Do ponto de vista estritamente mecânico, overdadeiro eixo (Y') deste movimento é paraleloao eixo Y; mas está situado por dentro da articula­ção (ver eixo 1, figo 1-45).

- também existe um terceiro movimento,a rotação longitudinal da clavícula de

30° de amplitude. Até agora acreditava­se que isso era possível graças ao jogomecânico da articulação, devido à lassi­dão ligamentar. Porem, é mais que pro­vável que, como todas as articulações dedois graus de liberdade, a esternocos­toclavicular realize uma rotação con­junta durante a rotação ao redor de doiseixos. Isto se confirma pelo fato de que,na prática, á rotação longitudinal da cla­vículajamais aparece isolada fora de ummovimento de élevação-retroposição oudescenso-anteposição.

Movimentos da clavícula no plano hori­zontal (fig. 1-48, vista superior)

- posição média da clavícula (traço escuro);

- o ponto Y' se corresponde com o eixomecânico do movimento;

- as duas cruzes representam as posiçõesextremas da inserção clavicular do liga­mento costoclavicular.

No quadro: corte no nível do ligamentocostoclavicular mostrando sua tensão nas posi­ções extremas.

- a anteposição está limitada pela tensão doligamento costoclavicular e do ligamentoanterior (1);

- a retroposição está limitada pela tensão doligamento costoclavicular e do ligamentoposterior (2).

Movimentos da clavícula no plano frontal(fig. 1-49, vista anterior)

- a cruz se corresponde com o eixo X;

- quando a porção externa da clavícula seeleva (traço escuro), sua porção interna sedesliza para baixo e para fora (seta bran­ca). O movimento está limitado pela ten­são do ligamento costoclavicular (faixatracejada) e pelo tônus do músculo sub­clávio (seta grande estriada);

- quando a clavícula descende, a sua porçãointerna se eleva. O movimento está limi­

tado pela tensão do ligamento superior epelo contato da clavícula com a superfí­cie superior da primeira costela.

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Fig.1-48

Fig.1-47

1. MEMBRO SUPERIOR 57

2

y'

Fig.1-49

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58 FISIOLOGIA ARTICULAR

A ARTICULAÇÃO ACRÔMIO-CLA VICULAR

Em vista póstero-externa da articulaçãoacrômio-clavicular (fig. l-50) estão separadosartificialmente a escápula e a clavícula, uma daoutra. De tal modo que podemos observar:

- a espinha da escápula (1) prolongadapara fora pelo acrômio (2) que possuiuma superfície articular plana e ligeira­mente convexa na sua margem ântero­interna - esta articulação é uma artró­dia ~ orientada para a frente, para den­tro e para cima;

- a clavícula (3), cuja porção extema estáseccionada à custa de sua superfície in­ferior por uma superfície articular (5)plana ou ligeiramente convexa "orienta­da" para baixo, para trás e para fora;

- da base do processo coracóide (6) par­tem dois potentes ligamentos:

• o ligamento conóide (7) que se inserena superfície inferior da clavícula notubérculo conóide, próximo a sua mar­gem posterior;

• o ligamento trapezóide (8) que se diri­ge obliquamente para cima e para fora,em direção à tuberosidade coracóide,zona mgosa e triangular que prolonga otubérculo conóide para a frente e parafora, na superfície inferior da clavícula;

- fossa supra-espinhal (9) e cavidade gle­nóide (10).

O plano vertical P secciona a articulaçãoacrômio-clavicular pela sua parte média. Estecorte representado no quadro permite localizaros diferentes elementos já descritos e, além dis­so, observar:

- a existência de uma cápsula reforçadapor cima por um potente ligamentoacrômio-clavicular (15); ,

- a presença - num terço dos casos - deuma fibrocártilagem interarticular (11)que restabelece a congruência das su­perfícies articulares. É excepcional queesta fibrocartilagem chegue a constituirum me'nisco completo;

- a obliqÜidade do plano articular: a claví­cula está como "pousada" sobre o acrô­nuo.

A vista anterior do processo coracóide direi­to (fig. l-51) permite observar ligamentos córaco­c1aviculares.

- o ligamento conóide (C), que se insereno vértice da dobra do processo coracói­de, com forma de leque de vértice infe­rior, situado no plano frontal;

- o ligamento trapezóide (T), que se inserena margem intema do segmento horizon­tal do processo, dirigindo-se para cima epara fora, lâmina fibrosa com forma dequadrilátero, orientada obliquamente detal maneira que a sua superfície ântero-in­tema esteja dirigida para dentro, para afrente e para cima e a sua superfície póste­ro-externa para trás, para fora e para baixo.

A margem posterior do ligamento trapezóidefaz contato com o ligamento conóide e, em geral,no nível de sua margem externa.

Estes ligamentos estão dispostos em doisplanos mais ou menos perpendiculares e formamum ângulo diedro aberto para a frente e paradentro.

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58 FISIOLOGIA ARTICULAR

A ARTICULAÇÃO ACRÔMIO-CLA VICULAR

Em vista póstero-externa da articulaçãoacrômio-cIavicular (fig. l-50) estão separadosartificialmente a escápula e a clavícula, uma daoutra. De tal modo que podemos observar:

- a espinha da escápula (I) prolongadapara fora pelo acrômio (2) que possuiuma superfície articular plana e ligeira­mente convexa na sua margem ântero­interna - esta articulação é uma artró­dia - orientada para a frente, para den­tro e para cima;

- a clavícula (3), cuja porção externa estáseccionada à custa de sua superfície in­ferior por uma superfície articular (5)plana ou ligeiramente convexa "orienta­da" para baixo, para trás e para fora;

- da base do processo coracóide (6) par­tem dois potentes ligamentos:

• o ligamento conóide (7) que se inserena superfície inferior da clavícula notubérculo conóide, próximo a sua mar­gem posterior;

• o ligamento trapezóide (8) que se diri­ge obliquamente para cima e para fora,em direção à tuberosidade coracóide,zona rugosa e triangular que prolonga otubérculo conóide para a frente e parafora, na superfície inferior da clavícula;

- fossa supra-espinhal (9) e cavidade gle­nóide (10).

O plano vertical P secciona a articulaçãoacrômio-clavicular pela sua parte média. Estecorte representado no quadro permite localizaros diferentes elementos já descritos e, além dis­so, observar:

- a existência de uma cápsula reforçadapor cima por um potente ligamentoacrômio-cIavicular (15); ,

- a presença - num terço dos casos - deuma fibrocdrtilagem interarticular (11)que restabelece a congruência das su­perfícies articulares. É excepcional queesta fibrocartilagem chegue a constituirum me·nisco completo;

- a obliqÜidade do plano articular: a claví­cula está como "pousada" sobre o acrô­mIO.

A vista anterior do processo coracóide direi­to (fig. l-51) permite observar ligamentos córaco­claviculares.

- o ligamento conóide (C), que se insereno vértice da dobra do processo coracói­de, com forma de leque de vértice infe­rior, situado no plano frontal;

- o ligamento trapezóide (T), que se inserena margem interna do segmento horizon­tal do processo, dirigindo-se para cima epara fora, lâmina fibrosa com forma dequadrilátero, orientada obliquamente detal maneira que a sua superfície ântero-in­tema esteja dirigida para dentro, para afrente e para cima e a sua superfície póste­ro-externa para trás, para fora e para baixo.

A margem posterior do ligamento trapezóidefaz contato com o ligamento conóide e, em geral,no nível de sua margem externa.

Estes ligamentos estão dispostos em doisplanos mais ou menos perpendiculares e formamum ângulo diedro aberto para a frente e paradentro.

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1. MEMBRO SUPERIOR 59

Fig. 1-50

cT

Fig.1-51

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60 FISIOLOGIA ARTICULAR

A ARTICULAÇÃO ACRÔMIO-CLAVICULAR(continuação)

Em vista póstero-externa da articulaçãoacrômio-clavicular direita (fig. 1-52, segundoRouviere)

- o plano superficial do ligamento acrô­mio-clavicular (11) está seccionadopara mostrar o seu plano profundo quereforça a cápsula;

- além dos ligamentos conóide (7) e tra­pezóide (8), podemos observar o liga­mento córaco-clavicular interno (12),também denominado ligamento bicor­ne de CALDANI;

- o ligamento acrômio-coracóide (13),que não tem ação mecânica, contribui­para formar o canal do supra-espinhal(ver fig. 1-49);

- superficialmente se localiza a camadaaponeurótica do deltóide e do trapézio,não representada no desenho, constituí­da por fibras aponeuróticas que unem asfibras musculares do deltóide e do trapé­zio. Esta formação recentemente descri­ta desempenha um papel importante nacoaptação da articulação, e é o único fa­tor limitante da amplitude da luxaçãoacrômio-clavicular.

A clavícula aparece "em laço" na sua por­ção interna (fig. l-53, vista inferior-externa, se­gundo Rouviere). Podemos observar novamen­te os elementos antes descritos e o ligamentocoracóide (14) que se estende de uma margema outra da incisura coracóide, carente de açãomecânica.

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Fig.1-52

1. MEMBRO SUPERIOR 61

Fig.1-53

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62 FISIOLOGIA ARTICULAR

FUNÇÃO DOS LIGAiVIENTOS CÓRACO-CLAVICULARES

Vista superior esquemática da articulaçãoacrômio-clavicular (fig. 1-54) que mostra a fun­ção do ligamento conóide:

- em pontilhado, a escápula vista desdeCima;

- em traços descontínuos, a silhueta da cla­vícula em posição de partida;

- em traços contínuos, posição extrema daclavlcula.

Este desenho mostra como quando o ânguloformado pela clavícula e a escápula se abre, o li­gamento conóide (as duas faixas tracejadas repre­sentam a suas duas posições sucessivas) está ten­so e limita o movimento.

Uma vista semelhante (fig. l-55) mostra afunção do ligamento trapezóide.

Quando o ângulo formado pela clavícula e aescápula sefecha, o ligamento trapezóide está ten­so e limita o movimento.

O movimento de rotação axial na articu­lação acrômio-clavicular (fig. 1-56) se vê comclareza nesta vista ântero-intema:

- a cruz representa o centro de rotação daarticulação;

- os traços contínuos, a posição inicial daescápula (cuja metade inferior foi remo­vida);

- a superfície tracejada representa a posi­ção final da escápu1a após ter osciJadona extremidade da clavícula, como no

caso de urna pá de debulhadeira no ex­tremo do cabo.

Podemos có'mprovar a tensão dos liga­mentos conóide (faixa tracejada) e trapezóide(pontilhado). A amp1itude desta rotação (30°)se sorna à rotação de 30° da articulação ester­nocostoclavicular para possibilitar os 60° deamplitude dos movimentos de "sino" da escá­pula.

Um estudo recente realizado por Fischer eco1s. demonstra, graças a uma série de fotogra­fias, a complexidade dos movimentos da arti­culação acrômio-clavicular, artródia debilmen­te encaixada.

Durante a abdução, tornando como pontode referência fixo a escápula, podemos com­provar:

- urna elevação de 10° da porção internada clavícula;

- urna abertura até 70° do ângulo escápu­lo-clavicular;

- e urna rotação longitudinal de 45° daclavícula para trás.

Durante a flexão os movimentos elemen­tares são semelhantes, embora um pouco me­nos acentuados no que diz respeito à aberturado ângulo escápulo-clavicular.

Durante a extensão, o ângulo escápulo­clavicular se fecha 10°.

Durante a rotação interna, o ângulo escá­pulo-clavicular só se abre 13°.

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Fig.1-56

I. MEMBRO SUPERlOR 63

Fig.1-54

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64 FISIOLOGIA ARTICULAR

MÚSCULOS MOTORES DA CINTURA ESCAPULAR

Neste esquema do tórax (fig. l-57) a meta­de direita representa uma vista posterior:

1) Trapézio: dividido em três porções cu­jas ações são diferentes:

Porção superior (1); acrômio-clavicular.Ação:

- eleva o coto do ombro, evita a suaqueda sob o peso de uma carga;

- hiperlordose cervical + rotação da ca­beça para o lado contrário, quandoeste fascículo toma o ombro como

ponto fixo.

Porção média (1'); espinhal. Direçãotransversal. Ação:

- aproxima de 2 a 3 cm a margem inter­na da escápula à linha dos processos es­pinhosos, encaixa a escápula no tórax;

- desloca o coto do ombro para trás.

Porçcio inferior (1"). Direção oblíquapara baixo e para dentro. Ação:

- desloca a escápula para baixo e paradentro.

Contração simultânea das três porções:

- desloca a escápula para dentro e para trás;

- gira a escápula para cima (20°): desem-penha um modesto papel na abdução,embora importante na hora de levar car­gas pesadas;

- impede a queda do braço e o descola­mento da escápula.

2) Rombóide: direção oblíqua para cima epara dentro. Ação:

- desloca o ângulo inferior para cima epara dentro, de maneira que:

• eleva a escápula;

• gira a escápula para baixo: a glenóidefica orientada para baixo;

• fixa o ângulo inferior da escápula con­tra as costelas; a sua paralisia provocaum "descolamento" das escápulas.

3) Angular: direção oblíqua para cima epara dentro. Ação (parecida 'com a dosrombóides):

- desloca o ângulo superior interno pa­ra cima (2 a 3 cm) e para dentro (açãode levantar os ombros). Contrai-sequando seguramos algo pesado. Aparalisia deste músculo provoca aqueda do coto do ombro;

- leve rotação da glenóide para baixo.

4) Serrátil anterior: (Yerfigo l-58).

A metade esquerda (fig. l-57) representauma vista anterior.

5) Peitoral menor: direção oblíqua parabaixo, para frente e para dentro. Ação:

- descende o coto do ombro, deslocan­do a glenóide para baixo. Esta ação éexercida, por exemplo, nos movi­mentos que realizamos nas barrasparalelas;

- desliza a escápula para fora e para afrente, descolando a sua margem pos­terior.

6) Subclávio: direção oblíqua para baixo epara dentro, quase paralela à clavícula.Ação:

- descende a clavícula e, portanto, ocoto do ombro;

- encaixa a porção interna da clavículacontra o manúbrio esternal de manei­ra que coapta a articulação ester­nocostoclavicular.

Page 66: Kapandji - Volume 1

Fig. 1-57

1. l\IEMBRO SUPERIOR 65

Page 67: Kapandji - Volume 1

66 FISIOLOGIA ARTICuLAR

MÚSCULOS MOTORES DA CINTURA ESCAPULAR(continuação)

No esquema do tórax visto de perfil (fig.l-58), podemos observar com nitidez o mús­culo serrátil anterior com as suas duas por­ções:

- porção superior: direção geral horizon­tal para frente. Ação:

o dirige a escápula de 12 a 15 cm para afrente e para fora, ao mesmo tempo quea impede de retroceder quando empurra­mos um objeto pesado para a frente(prova de paralisia: ao realizar esta açãoa margem interna se "descola");

- porção inferior: direção geral oblíquapara a frente e para baixo. Ação:

• realiza a basculação da escápula para ci­ma: a glenóide tem a tendência a seorientar para a frente. Esta ação inter­vém na flexão, na abdução, no transpor-

te de cargas pesadas, mas só quando aabdução do braço ultrapassa os 30° (é ocaso de transporte de um balde cheio deágua).

Neste corte horizontal do tórax (fig. l-59),podemos observar:

- do lado esquerdo: ação dos músculostrapézio (porção média), angular, rom­bóides, todos eles adutores da escápula:a aproximam da linha média. Tambémsão, em conjunto (com exceção da por­ção inferior do trapézio), elevadores daescápula;

- do lado direito: ação dos músculos ser­rátil anterior e peitoral menor como ab­dutores da escápula: a afastam da linhamédia. Por outro lado, o peitoral menore o subc1ávio descendem pela cintura es­capular.

Page 68: Kapandji - Volume 1

Fig.1-58

I. MEMBRO SUPERIOR 67

Fig.1-59

Page 69: Kapandji - Volume 1

68 FISIOLOGIA ARTICULAR

o SUPRA-ESPINHAL E A ABDUÇÃO

o canal do supra-espinhal (representadopor uma estrela) comunica a fossa supra-es­pinhal com a região subdeltóide (fig. 1-60, vistaexterna da escápula) e está limitada:

- por trás, pela espinha da escápula e doacrômio;

- pela frente, pelo processo coracóide;

- por cima, pelo ligamento acrômio-cora-cóide. Acrômio, ligamento e coracóideconstituem uma abóbada ósteo-liga­mentar: a abóbada acrômio-coracóide.

Este canal do supra-espinhal forma um anelrígido e sem possibilidade de estender; se o ten­dão do músculo aumenta em volume, devido auma cicatriz ou um processo inflamatório, já nãopode-se deslizar pelo canal e se bloqueia. Se onódulo consegue vencer a dificuldade, o movi­mento de abdução pode continuar com um res­salto: é o fenômeno, não muito freqüente, doombro em ressalto.

Nas perfurações da bainha rotatória, o ten­dão do supra-espinhal degenerado e roto já nãose interpõe entre a cabeça umeral e a abóbada. Ocontato direto da cabeça umeral e da abóbadaacrômio-coracóide durante a abdução é, paramuitos autores contemporâneos, a causa das do­res da "síndrome de ruptura da bainha".

Em vista ântero-superior da escápula (fig.1-62), podemos observar como o supra-espinhal,

que se estende da fossa supra-espinhal até a tu­berosidade maior do úmero, se desliza por baixodo ligamento acrômio-coracóide.

Os quatro músculos responsáveis da ab­dução, esquematizados (fig. 1-61) numa vistaposterior da escápula e do úmero, são osseguintes:

• o deltóide;

• o supra-espinhal; estes dois músculos for­mam um par funcional, motor da abdu­ção da articulação escápulo-umeral;

• o serrátil anterior;

• o trapézio; estes dois músculos formamum par funcional, motor da abdução daarticulação escápulo-torácica.

Sem representar no esquema, mas não porisso menos úteis para a abdução segundo con­ceitos recentes, participam também os músculossubescapular, infra-espinhal e redondo menor.Deslocam a cabeça umeral para baixo e· paradentro, formando junto com o deltóide um se­gundo par funcional responsável pela abduçãoda articulação escápulo-umeral.

Por último, o tendão da porção longa do bí­ceps é também motor da abdução, já que a suaruptura produz uma perda de 20% da força daabdução.

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J

III

IIII

II

1~I

Fig.1-59

Fig.1-58

1. MEMBRO SUPERIOR 67

Page 71: Kapandji - Volume 1

68 FISIOLOGIA ARTICULAR

o SUPRA-ESPINHAL E A ABDUÇÃO

o canal do supra-espinhal (representadopor uma estrela) comunica a fossa supra-es­pinhal com a região subdeltóide (fig. 1-60, vistaexterna da escápula) e está limitada:

- por trás, pela espinha da escápula e doacrômio;

- pela frente, pelo processo coracóide;

- por cima, pelo ligamento acrômio-cora-cóide. Acrômio, ligamento e coracóideconstituem uma abóbada ósteo-liga­mentar: a abóbada acrômio-coracóide.

Este canal do supra-espinhal forma um anelrígido e sem possibilidade de estender; se o ten­dão do músculo aumenta em volume, devido auma cicatriz ou um processo inflamatório, já nãopode-se deslizar pelo canal e se bloqueia. Se onódulo consegue vencer a dificuldade, o movi­mento de abdução pode continuar com um res­salto: é o fenômeno, não muito freqÜente, doombro em ressalto.

Nas perfurações da bainha rotatória, o ten­dão do supra-espinhal degenerado e roto já nãose interpõe entre a cabeça umeral e a abóbada. Ocontato direto da cabeça umeral e da abóbadaacrômio-coracóide durante a abdução é, paramuitos autores contemporâneos, a causa das do­res da "síndrome de ruptura da bainha".

Em vista ântero-superior da escápula (fig.1-62), podemos observar como o supra-espinhal,

que se estende da fossa supra-espinhal até a tu­berosidade maior do úmero, se desliza por baixodo ligamento acrômio-coracóide.

Os quatro músculos responsáveis da ab­dução, esquematizados (fig. 1-61) numa vistaposterior da escápula e do úmero, são osseguintes:

• o deltóide;

• o supra-espinhal; estes dois músculos for­mam um par funcional, motor da abdu­ção da articulação escápulo-umeral;

• o serrátil anterior;

• o trapézio; estes dois músculos formamum par funcional, motor da abdução daarticulação escápulo-torácica.

Sem representar no esquema, mas não porisso menos úteis para a abdução segundo con­ceitos recentes, participam também os músculossubescapular, infra-espinhal e redondo menor.Deslocam a cabeça umeral para baixo e· paradentro, formando junto com o deltóide um se­gundo par funcional responsável pela abduçãoda articulação escápulo-umeral.

Por último, o tendão da porção longa do bí­ceps é também motor da abdução, já que a suaruptura produz uma perda de 20% da força daabdução.

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Fig.1-60

Fig.1-62

1. MEMBRO SUPERIOR 69

Fig.1-61

----------~----

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70 FISIOLOGIA ARTICULAR

FISIOLOGIA DA ABDUÇÃO

À primeira vista, a fisiologia da abduçãoparece simples: é o resultado da ação de doismúsculos, o deltóide e o supra-espinhal. Contu­do, não existe uma opinião unânime sobre o pa­pel que desempenha cada um deles, nem sobreas suas ações recíprocas. Recentes estudos ele­tromiográficos realizados por J.J. Comtet e Y.Auffray (1970) aportam uma nova visão a res­peito.

Papel do deltóide

Para Fick (1911) podemos distinguir seteporções funcionais no deltóide (fig. 1-65, corteesquemático horizontal, parte inferior):

- fascículo anterior, clavicular, incluidois: I e lI;

- fascículo médio, acromial, só um: III;

- fascículo posterior, espinhal, quatro: IV,V, VI e VII.

Considerando estas porções com relação àsua localização em função do eixo de abduçãopuro AA' (fig. 1-63, vista anterior e figo 1-64,vista posterior), podemos comprovar que algu­mas delas são em princípio abdutoras, como é ocaso de todo o fascículo acromial (III), a partemais externa da porção II do fascículo claviculare a porção IV do fascículo espinhal, porque es­tão situadas por fora do eixo (fig. 1-65). Pelocontrário, as outras restantes (I, V, VI e VII) sãoadutoras quando o membro superior pende aolongo do corpo. Por isso, estas porções do del­tóide são antagonistas das primeiras. Elas vão,se convertindo em abdutoras à medida que omovimento de abdução as desloca para fora doeixo sagital. De maneira que, no que se refere aestas porções, podemos ver uma inversão de suaação dependendo da posição de início do movi­mento. De todas as maneiras, algumas permane­cem como adutoras (VI e VII) seja qual for ograu de abdução.

Em linhas gerais, Strasser (1917) está deacordo com este conceito, embora ressalte que,no caso da abdução realizada no plano da escá-

pula, isto é, com uma flexão de 30° ao redor deum eixo BB' (fig. 1-65) perpendicular ao planoda escápula, quase todo o fascículo clavicular é,de aferência, abdutora.

Os estudos eletromiográficos demons­tram que as diferentes porções atuam sucessiva­mente à medida que a abdução progride, comum intervalo de tempo maior quanto mais adu­toras sejam no início do movimento, como sefossem dirigidas pôr um quadro de comandos.Por isso, as porçõe.s abdutoras não estãorestringidas pelas antagonistas. Neste caso setrata de um exemplo do fenômeno de inervaçãorecíproca de Sherrington.

Durante a abdução pura, a ordem de en­trada em ação é a seguinte:

- fascículo acromial III;

- porções IV e V quase imediatamente de-pOIS;

- por último, a porção II a partir dos 20-30°.

Durante a abdução associada a uma fle­xão de 30°:

- as porções III e II atuam imediatamente;

- as porções IV e V cada vez mais tarde.como a porção L

Quando a rotação externa do úmero seassocia com a abdução:

- a porção II se contrai desde o primeiromomento;

- as porções IV e V nem sequer intervêmno fim da abdução.

Quando a rotação interna do úmero seassocia com a abdução:

- se observa o mecanismo inverso.

Em resumo, o deltóide, ativo desde o iní­cio da abdução, pode realizar a abdução sozinhoaté a sua máxima amplitude. A sua atividademáxima se estabelece ao redor dos 90° de abdu­

ção. Para Inman, sua força seria equivalente a8,2 vezes o peso do membro superior.

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Fig.1-63

1. MEMBRO SUPERIOR 71

Fig.1-64

Fig.1-65

Page 75: Kapandji - Volume 1

72 FISIOLOGIA ARTICULAR

FISIOLOGIA DA ABDUÇÃO(continuação)

I

Papel dos músculos rotadores

Depois de fazer com que a sinergia deltói­de supra-espinhal desempenhe um papel impor­tante, inclusive fundamental, parece agora queos outros músculos da bainha são indispensáveispara a eficácia do deltóide (Inman).

De fato, durante a abdução (fig. 1-66), a de­composição da força do deltóide D provoca aaparição de um componente longitudinal Dr,que, diminuído do componente longitudinal Prdo peso P do membro superior (atuando sobre ocentro de gravidade), se aplica como força R aocentro da cabeça umeral. Contudo, esta força Rpode, por sua vez, se decomponer em uma forçaRc que encaixa a cabeça na glenóide, e em ouraforça Ri, mais potente, que tem a tendência deprovocar uma luxação para cima e para fora. Seos músculos rotadores (infra-espinhal, subesca­pular, redondo menor) se contraem neste preci­so momento, a sua força global Rm se opõe di­retamente ao componente de luxação Ri e a ca­beça não pode luxar-se para cima e para fora(quadro em destaque). Desta maneira, a forçadescendente Rm dos músculos rotadores cria,com a força de elevação Dt do deltóide, um parde rotação que dá origem à abdução. A força dosmúsculos rotadores é máxima aos 60° de abdu­

ção. A eletromiografia (Inman) confirma dita ati­vidade máxima no caso do infra-espinhal.

Papel do supra-espinhal

Até então, o músculo supra-espinhal eraconsiderado como o iniciador da abdução (o"abductor starter" dos autores anglo-saxões). A"deixada de escanteio" do supra-espinhal me­diante bloqueio anestésico do nervo supra-esca­pular (B. Van Linge e l.D. Mulder) possibilitademonstrar que ele não é indispensável para

realizar a abdução, nem sequer para iniciá-laisoladamente abdução; o deltóide não é sufi­ciente para obter uma abdução completa.

Contudo, e ao contrário, o supra-espinhal écapaz de realizar uma abdução da mesma am­plitude que a do deltóide (experiência de excita­ção elétrica de Duchenne de Boulogne e obser­vações clínicas da :earalisia isolada do deltóide).

A eletromiografia demonstra que ele se con­trai ao longo de toda a abdução e que a sua ativi­dade máxima aparece aos 90° de abdução, comono caso do deltóide.

No início da abdução (fig. 1-67) o seu com­ponente tangencial Et é proporcionalmente maisforte que o do deltóide Dt, embora o seu braço dealavanca seja mais curto. O seu componente ra­dial Er encaixa com força a cabeça umeral sobrea g1enóide e contribui vigorosamente para evitar asua luxação para cima e sob ação do componenteradial Dr do deltóide. Assim sendo, desempenhaum papel coaptador idêntico ao dos músculos ro­tadores. De igual maneira, provoca a tensão daparte superior da cápsula e se opõe à subluxaçãoinferior da cabeça umeral (Dautry e Gosset).

Desse modo, o supra-espinhal é sinérgicodos outros musculos da bainha, os músculos ro­tadores. Ajuda com força e eficácia ao deltóideque, quando atua isoladamente, se fatiga com ra­pidez.

Em resumo, a sua ação é ao mesmo tempoqualitativa sobre a copatação articular, e quanti­tativa sobre a resistência e potência da abdução.A sua fisiologia, bastante simples, se opõe à dodeltóide, já complexa por si mesma. Sem dar otítulo de abductor-starter que teve até hoje, po­demos afirmar que é útil e eficiente principal­mente no início da abdução.

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3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 71

Fig.2-27

4

5

13

2

5

3

6

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11

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4

2

3

4

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72 FISIOLOGIA ARTICULAR

INFLUÊNCIA DA POSIÇÃO SOBRE AS ARTICULAÇÕES DA CINTURA PÉLVICA

Em posição ortostática simétrica, as arti-. culações da cintura pélvica são solicitadas pelopeso do corpo. O mecanismo destas pressões sepode analisar em uma vista lateral (fig. 2-29), naqual o osso ilíaco, supostamente transparente,permite ver o fêmur. O conjunto formado pela co­luna vertebral, sacro, osso ilíaco e membros infe­riores constitui um sistema articulado: por um la­do, na articulação coxofemoral e, por outro, na ar­ticUlação sacroilíaca. O peso do tronco (seta P),ao recair sobre a face superior da primeira vérte­bra sacral, tem a tendência de deslocar o promon­tório para baixo. Portanto, o sacro é solicitado nosentido da nutação (NJ Este movimento é rapi­damente limitado pelos ligamentos sacroilíacosanteriores, o freio de nutação, e principalmente,pelos dois ligamentos sacrociáticos que impedema separação do vértice do sacro com relação à tu­berosidade isquiática.

Simultaneamente, a reação do chão (seta R),transmitida pelos fêmures e exercida no nível dasarticulações coxofemorais, forma, com o peso docorpo sobre o sacro, um par de rotação, que tema tendência de bascular o osso ilíaco para trás (se­ta NJ Esta retroversão da pelve acentua mais anutação nas articulações sacroilíacas.

Embora esta análise trate dos movimentos,na verdade, deveria referir-se às forças que osprovocam, visto que os movimentos são quasenulos; se trata mais de tendência de movimentos,do que movimentos propriamente ditos, porqueos sistemas ligamentares são extremamente po­tentes e impedem imediatamente qualquer deslo­camento.

Em apoio monopodal (fig. 2-30), e em cadapasso durante a marcha, a reação do chão (setaR), transmitida pelo membro que suporta o peso,levanta a articulação coxofemoral corresponden­te, enquanto do outro lado, o peso do membro emsuspensão tem a tendência de fazer descer a coxo­femoral oposta. Isto provoca uma compressão emcisalhamento da sínfise púbica que apresenta atendência de levantar o púbis do lado que suporta

, o peso (A) e a descer o púbis do lado em suspen­são (B). Normalmente, a solidez da sínfise púbicaimpede qualquer deslocamento nesta articulação,porém quando está deslocada, se pode ver como

aparece um desnível (d) na margem superior decada um dos púbis durante a marcha. Do mesmomodo, se pode entender que as articulações sacro­ilíacas se solicitem de forma oposta em cada pas­so. A sua resistência aos movimentos se deve à

força dos seus ligamentos, mas quando uma dassacroilíacas está lesada por um deslocamentotraumático, aparecem movimentos que provocamdor em cada passo. A solidez mecânica do anelpélvico condiciona assim tanto a posição ortostá­tica quanto a marcha.

Em decúbito, as articulações sacroilíacas sesolicitam de diferente maneira (fig. 2-33) depen­dendo se os quadris estão em flexão (A) ou emextensão (B).

Quando os quadris estão estendidos (fig.2-32), a tração sobre os músculos flexores (setabranca) bascula a pelve em anteversão, ao mes­mo tempo em que o vértice do sacro está impul­sado para a frente. Produz-se uma diminução dadistância entre o vértice do sacro e a tuberosida­de isquiática e, simultaneamente, uma rotação nasacroilíaca no sentido da contranutação (a seta 2indica o movimento do osso ilíaco ao redor do ei­xo de nutação). Esta posição corresponde ao iní­cio do parto e a contranutação, que alarga a aber­tura superior da pelve, favorece a descida da ca­beça letal em direção à escavação pélvica.

Quando os quadris estão flexionados (fig.2-31), a tração dos músculos ísquio-tibiais (seta I)tem a tendência de bascular a pelve em retrover­são com relação ao sacro. Isto constitui, então, ummovimento de nutação (a seta 1 indica o movi­mento do osso ilíaco com relação ao sacro); estemovimento diminui o diâmetro ântero-posteriorda abertura superior da pelve e aumenta os doisdiâmetros da abertura inferior da pelve. Esta posi­ção adotada durante o momento expulsivo do par­to favorece, assim, a saída da cabeça letal duran­te a sua passagem pela abertura inferior da pelve.

Durante a mudança de posição entre a exten­são e a flexão das coxas, a amplitude média dodeslocamento do promontório é de 5,6 mm. Asmudanças de posição das coxas modificam, nota­velmente, as dimensões da escavação pélvica pa­ra facilitar a passagem do feto durante o parto.

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1-

Pr

1. MEMBRO SUPERIOR 73

Fig.1-67

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74 FISIOLOGIA ARTICULAR

AS TRÊS FASES DAABDUÇÃü

Primeira fase da abdução (fig. 1-68): de O

a 90°

Os músculos motores desta primeira fasesão principalmente:

- deltóide (1);

- supra-espinhal (2).

Estes dois músculos formam o par da abdu­ção da articulação escápulo-umeral. De fato, nes­ta articulação é onde se inicia o movimento deabdução. Esta primeira fase finaliza perto dos90°, quando a articulação escápulo-umeral sebloqueia devido ao impacto da tuberosidademaior do úmero contra a margem superior daglenóide. A rotação externa, e também uma ligei­ra ftexão, desloca a tuberosidade maior do úme­ro para trás e atrasa dito bloqueio. Com Steind­ler, podemos considerar que a abdução associadacom uma ftexão de 30° no plano do corpo da es­cápula é a verdadeira abdução fisiológica.

Segunda fase da abdução (fig. 1-69): de90 a 150°

Com a articulação escápulo-umeral blo­queada, a abdução só pode continuar graças àparticipação da cintura escapular:

- movimento pendular da escápula, rota­ção no sentido inverso aos ponteiros dorelógio (no caso da escápula direita) quedirige a glenóide mais diretamente paracima; sabemos que a amplitude destemovimento é de 60°;

- movimento de rotação longitudinal, doponto de vista mecânico, das articula­ções esternocostoclavicular e acrômio­clavicular, cuja amplitude de movimen­to é de 30° cada uma;

- os músculos motores desta segunda fasesão:

• o trapézio (3 e 4);

• o serrátil anterior (5).

Constituem o par ~bdutor da articulação es­cápulo-torácica.

O movimento está limitado perto dos 150°(90° + 60° de amplitude do mo\"imento pendularda escápula) pela resistência dos músculos adu­tores: grande dorsal e peitoral maior.

Terceira fase da abdução (fig. 1-70): de150° a 180°

É necessário que a coluna vertebral parti­cipe deste movimento para chegar à vertical.

Se só um braço realiza a abdução, bastauma inclinação lateral sob ação dos músculosespinhais do lado contrário (6).

Se os dois braços realizam a abdução, nãopodem estar paralelos se não estiverem emfte­xão máxima. Para chegar à vertical é necessáriauma hiperlordose lombar, também sob depen­dência dos músculos espinhais.

Esta descrição da abdução em três fases é,naturalmente, esquemática: em realidade, asparticipações musculares estão inter-relaciona­das e "encadeadas intimamente"; é fácil com­provar que a escápula começa um "giro" antesque o membro superior chegue a uma abduçãode 90°. Igualmente, a coluna vertebral começa ase inclinar antes de chegar a uma abdução de150°.

No fim da abdução, todos os músculos mo­tores da abdução estão contraídos.

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J I)

Fig.1-68

Fig.1-70 (

/

Fig.1-69

1. MEMBRO SUPERIOR 75

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76 FISIOLOGIA ARTICULAR

AS TRÊS FASES DAFLEXÃO

Primeira fase da flexão (fig. 1-71): de 0° a50-60°

Os músculos motores desta primeira fase são:

- fascículo anterior, c1avicular, do del­tóide (1);

- córaco-braquial (2);

- fascículo superior, clavicular, do peito-ral maior (3).

Estafiexão está limitada na articulação es­cápulo-umeral por dois fatores:

- a tensão do ligamento córaco-umeral(ver figo 1-30, c);

- a resistência dos músculos redondo me­nor, redondo maior e infra-espinhal.

Segunda fase da flexão (fig. 1-72): de60° a 120°

Função da cintura escapular:

- rotação da escápula 60° mediante ummovimento pendular que orienta a gle­nóide para cima e para a frente;

- rotação axial, do ponto de vista mecâni­co, das articulações esternocostoc1avi-

cular e acrômio-clavicular, cuja ampli­tude é de 30° cada uma.

Os músculos motores são os mesmos queparticipam da abdução:

- trapézio (4 e 5);- serrátil anterior.

Esta flexão escápulo-umeral está limitadapela resistência do músculo grande dorsal e daporção inferior do peitoral maior.

Terceira fase da flexão (fig. 1-73): de120° a 180°

O movimento de flexão está bloqueado pe­la articulação escápulo-umeral e a intervençãoda coluna vertebral na escápulo-torácica é ne­cessária.

Se a flexão é unilateral, é possível finalizaro movimento realizando uma abdução máximado braço e, a seguir, uma inclinação lateral dacoluna.

Se a flexão é bilateral, o fim do movimen­to é idêntico ao da abdução associada a umahiperlordose por ação dos músculos lombares(7).

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I

Fig.1-71 Fig.1-72

1. J\'lEMBRO SUPERIOR 77

Fig.1-73

Page 83: Kapandji - Volume 1

78 FISIOLOGIA ARTICULAR

MÚSCULOS ROTADORES

a) Vista superior esquemática (Fig. 1-74)da articulação escápulo-umeral, que mostra osmúsculos rotadores;

b) Rotadores internos (desenho):

1) grande dorsal;

2) redondo maior;

3) subescapular;

4) peitoral maior.

c) Rotadores externos (desenho):

5) infra-espinhal;

6) redondo menor.

Diante da quantidade e da potência dos rota­dores internos, os rotadores externos são fracos;contudo, são indispensáveis para a correta utiliza­ção do membro superior, porque só eles podemafastar a mão da superfície anterior do tronco,deslocando-a para a frente e para fora; este movi­mento da mão direita de dentro para fora é im­prescindível para a escritura.

Observe-se que, embora estes dois músculospossuam um nervo diferente (nervo supra-escapu­lar no caso do infra-espinhal e nervo circunflexono caso do redondo menor), ambos os nervos têmorigem na mesma raiz (Cs) do plexo braquial, demaneira que podem paralisar-se simultaneamentenos alongamentos do plexo braquial nas quedassobre o coto do ombro (acidente de motocicleta).

Mas a rotação da articulação escápulo­umeral não é suficiente para completar a máxi­ma rotação do membro superior: é necessárioacrescentar modificações na orientação da escá­pula (e da glenóide) durante os movimentos detranslação lateral da articulação (ver figo 1-37);esta mudança de orientação de 40° a 45° aumen­ta. na mesma medida, a amplitude da rotação.Os músculos motores são:

- no caso da rotação externa (adução daescápula): rombóide e trapézio;

- no caso da rotação interna (abdução da es­cápula): serráti1anterior e peitoral menor.

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,

I

b

2

Fig.1-74

1. MEMBRO SUPERIOR 79

5

6

c

Page 85: Kapandji - Volume 1

80 FISIOLOGIA ARTICULAR

AADUÇÃO E A EXTENSÃO

Os músculos adutores são representadosem vista anterior (fig. 1-75) e em vista póstero­externa (fig. 1-76).

Números comuns para ambas as figuras:

(1) redondo maior;

(2) grande dorsal;

(3) peitoral maior;

(4) rombóide.

No quadro: esquemas que explicam o fun­cionamento dos dois pares musculares da adução:

a) par rombóide (1) redondo maior (2)

A ação sinérgica destes dois músculos éindispensável para a adução. De fato, seo redondo maior se contrai sozinho, omembro superior resiste à adução e a es­cápula gira para cima sobre o seu eixo(representado por uma cruz).

A contração do rombóide evita esta rota­ção e possibilita a ação adutora do re­dondo maior.

b) par porção longa do tríceps (4) grandedorsal (3)

A contraç~o do grande dorsal, músculoadutor muito potente, tende a luxar a ca­beça umeral para baixo (seta preta);

A porção longa do tríceps, que é ligeira­mente adutora, quando se contrai simul­taneamente, se opõe a esta luxação e ele­va a cabeça umeral (seta branca).

Os músculos extensores estão representa­dos em vista póstero-extema (fig. 1-77).

Extensão da articulação escápulo-wne-ral:

- redondo maior (1);

- redondo menor (5);

- porção posterior, espinhal, do deltóide (6);

- grande dorsal (2).

Extensão da articulação escápulo-toráci­ca, por adução da escápula:

- rombóide (4);

- porção média, transversal, do trapézio(7);

- grande dorsal (2).

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Fig.1-75

Fig.1-76

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82 FISIOLOGIA ARTICULAR

FLEXÃO-EXTENSÃO

Anatomicamente O cotovelo só contémuma articulação: de fato, só existe uma cavidadearticular.

Contudo, a fisiologia permite distinguirduas funções diferentes:

- a pronação-supinação, que envolve aarticulação rádio-ulnar superior;

- a f1exão-extensão, que precisa da açãode duas articulacões:

• a articulação úmero-ulnar;

• a articulação úmero-radial.

Neste capítulo, será analisada únIca eexclusivamente a função da FLEXÃO­EXTENSÃO.

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1. MEMBRO SUPERlOR 83

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84 FISIOLOGIA ARTICULAR

o COTOVELO: ARTICULAÇÃO DE SEPARAÇÃO E APROXIMAÇÃO DA MÃO

o cotovelo é a articulação intermédia domembro superior: ao realizar a união mecânicaentre o primeiro segmento - o braço - e o segun­do - o antebraço - do membro superior, possi­bilita, orientado nos três planos do espaçograças ao ombro, deslocar mais ou menos longedo corpo a sua extremidade ativa: a mão.

O homem pode levar os alimentos à bocagraças à flexão do cotovelo. Quando pegamosum alimento com extensão-pronação (fig. 2-1),este é levado à boca mediante um movimentode flexão-supinação; assim sendo, podemosafirmar que o bíceps é o músculo da alimen­tação.

o cotovelo constitui junto com o braço e oantebraço um compasso (fig. 2-2, a) que possi­bilita a aproximação, até quase tocar, do punhoP ao ombro O (a distância que os separa é o quemede o punho), de maneira que a mão chegacom facilidade ao ombro e à boca. Na mon­

tagem telescópica (fig. 2-2, b) a mão não podealcançar a boca porque o comprimento mínimoé a soma da longitude L de um segmento e dacoaptação necessária para manter a rigidez damontagem. No caso do cotO\elo, a solução tipo"compasso" é mais lógica e melhor em com­paração com a do tipo "telescópico", supondoque esta última seja viável.

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1. 11EMBRO SUPERIOR 85

Fig.2-1

aFig.2-2 . b

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86 FISIOLOGIA ARTICULAR

AS SUPERFÍCIES ARTICULARES(as explicações são as mesmas para todas as figuras)

No nível da porção inferior do úmero:duas superfícies articulares (figo 2-3, segundoRouviere):

- a tróclea umeral (2), em forma de poliaou diabolô (fig. 2-3, a), com urna gargan­ta que se localiza no plano sagital, entreduas "superfícies articulares" convexas;

- côndilo umeral, superfície esférica (3),situada por fora da tróclea.

Podemos comparar o conjunto côndilo-tró­elea com a associação (figo2-4) de um diabolô ede wna bola, atravessados por um mesmo eixo.Este eixo representa - numa primeira aproxima­ção - o eixo de flexão-extensão do cotovelo.

São necessárias duas observações:

- o côndilo não é uma esfera completa,mas sim uma hellliesfera (a metade an­terior da esfera) "localizada" pela frenteda porção inferior do úmero. Conse­qÜentemente, o côndilo, ao contrário datróclea, não existe na parte posterior; seinterrompe na extremidade inferior doosso sem ascender para trás;

- no espaço (4) situado entre o côndilo e atróc1ea (figo 2-4), existe urna zona detransição, a superfície ou canal côndilo­trodear (figo 2-3), com forma de conecuja base maior se apóia na superfíciearticular externa da tróclea. Mais adian­te esclareceremos a utilidade desta zonacôndilo-troclearo

No nível da porção superior dos dois os­sos do antebraço, duas superfícies correspon­dentes:

- a grande cavidade sigmóide da ulna(fig. 1-3) que se articula com a tróc1ea,de modo que a sua conformação é in­versa, isto é, que apresenta urna cristaromba longitudinal (10) que finaliza,

por cima, com o bico do olécrano (11),por baixo e pela frente com o bico doprocesso coronóide (12); a cada lado dacrista,. que se corresponde com a gar­ganta da tróclea, se localizam duas ver­tentes côncavas (13), que se correspon­dem com as "superfícies articulares"trocIeares. A forma geral desta superfí­cie articular é_,comparáve1(fig. 2-4, b) àsuperfície de urna prancha de ferro on­dulada, da que só.tomamos um elemen­to (seta branca): uma nervura (10) edois canais (11).

- a abóbada radial (fig. 1-3), superfície su­perior da cabeça radial, cuja concavidade(14) possui a mesma curva que o côndilo(3) sobre a qual se adapta. Está limitadapor uma margem (ver pág. 93) que se ar­ticula com a zona côndilo-troclear.

Estas duas superfícies constituem um con­junto único graças ao ligamento anular (16).

As figuras 2-5 e 2-6 mostram o encaixe dassuperfícies articulares. Figura 2-5, vista ante­rior (lado direito) com: a fosseta coronóidea (5)por cima da tróclea, e a fosseta supracondilar(6), a epitróclea (7) e o epicôndilo (8). Figura 2­6, vista posterior (lado esquerdo), que tambémmostra a fosseta olecraniana (17) receptora dobico do olécrano (20).

Na secção vértico-frontal da articulação(fig. 2-7, segundo Testut), podemos observar co­rno a cápsula (17) constitui só urna cavidade arti­cular para duas articulações funcionais: (fig. 2~8,corte esquemático) a articulação de flexão-exten­são (traços verticais) com a interlinha trócleo-ul­nar (18) (fig. 2-7) e a interlinha côndilo-radial (19)e a articulação rádio-ulnar superior (traços hori­zontais) no caso da pronação-supinação. Tambémpodemos distinguir o bico do olécrano (11) que,na extensão, ocupa a fosseta olecraniana.

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Fig.2-5

b

Fig.2-4

12

13

Fig.2-3

14

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Fig.2-6

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Fig.2-818

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88 FISIOLOGIA ARTICULAR

A PALETA UMERAL

Denomina-se paleta umeral à porção infe­rior do úmero (fig. 1-12, vista anterior e figo2­13, vista posterior), plana de diante para trás eem cuja margem inferior se localizam as super­fícies articulares, tróclea e côndilo.

É importante conhecer a estrutura e a formadesta paleta umeral para compreender a fisiolo­gia do cotovelo.

1) a paleta umeral possui a estrutura deuma forquilha que suporta entre os seusdois ramos o eixo das superfícies articu­lares (fig. 2-14), como se fosse uma for­quilha de bicicleta.

De fato, na sua parte central, a paleta ume­ral apresenta duas cavidades:

- pela frente, a fosseta supratroclear, re­ceptora do bico do processo coronóidedurante a flexão (fig. 2-11);

- por trás, a fosseta olecraniana, recep~tora do olécrano durante a extensão(fig. 2-9).

Estas duas fossetas são imprescindíveis pa­ra que o cotovelo tenha uma determinada ampli­tude de flexão-extensão: atrasam o momento emque os bicos da coronóide ou do olécrano im­pactam contra a paleta. Sem elas, a grande cavi­dade sigmóidea da ulna, que realiza um arco de180°, só percorreria um trajeto muito curto sobrea tróclea, ao redor da posição média (fig. 2-10).

Em algumas ocasiões, ditas fossetas são tãoprofundas que a fina lâmina óssea que as separase perfura: neste moemento é quando entram emcontato entre si.

Seja como for, a sólida estrutura da paletase localiza a cada lado das fossetas, conforman­do dois pilares divergentes (fig. 1-13) que finali­zam por dentro da epitróclea, por fora do epi­côndilo e que, no seu intervalo, contêm o con-

junto articular côndilo-troclear. Esta estmturaem forquilha é a que faz a redução tão delicadae, principalmente, a correta imobilização dasfraturas da porção inferior do úmero.

2) a paleta umeral, em conjunto, se encon­tra deslocada para a frente (fig.2-15,a). O plano da paleta forma um ângulode aproximadamente 45° com o eixo dadiáfise. Esta ..configuração tem uma con­seqüência mecânica: toda a tróclea se si­tua pela frente do eixo diafisário.

Igualmente, a grande cavidade sigmóideda u/na, orientada para frente e para cima se­guindo um eixo inclinado 45° sobre a horizontal(a), também se situa totalmente pela frente doeixo diafisário da ulna. Isto está esquematizadoem (b).

O deslocamento das superfícies articularespara frente junto com sua orientação de 45° fa­vorece a flexão por dois motivos (e):

I) o impacto do bico coronóide não ocorreaté que os dois ossos estejam paralelos(flexão teórica: 80°);

2) inclusive em flexão máxima, persisteuma separação (seta dupla) entre os doisossos, o que permite paIpar as massasmusculares.

Se estas duas condições mecânicas nãoexistissem (f), é fácil entender:

- que a flexão estaria limitada a 90° devi­do ao impacto coronóide (g);

- e, supondo que não existisse tal impac­to (como seria o caso de uma perfura­ção importante da paleta), os dois os­sos entrariam em contato durante a fle­xão sem deixar lugar para as massasmusculares (h).

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Fig.2-9

Fig.2-13

Fig.2-10

Fig.2-11

1. MEMBRO SUPERIOR 89

Fig.2-14

Fig.2-12

a b c d e

Fig.2-15

9

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90 FISIOLOGIA ARTICULAR

OS LIGAMENTOS DO COTOVELO(as explicações são as mesmas para todas as figuras)

Os ligamentos da articulação do cotovelotêm a função de manter as superfícies articitla­res em contato. São autênticos tensores, dispos­tos a cada lado da articulação: o ligamento late­ral interno (fig. 2-16, segundo Rouviere) e o li­gamento lateral externo (fig. 2-17, segundo Rou­viere).

Em conjunto, têm a forma de um leque fi­broso que se estende de cada uma das duas proe­minências para-articulares - epicôndilo por fora,epitróc1ea por dentro -, onde o vértice do lequese fixa num ponto que se corresponde, aproxi­madamente, com o eixo xx' de flexão-extensão(fig. 2-18, segundo Rouviere), até o contorno dagrande cavidade sigmóide da ulna onde se inse­re a periferia do leque.

Por isso, podemos imaginar o modelomecânico do cotovelo como vemos a seguir(fig. 2-19):

- na parte superior, a forquilha da paletaumeral, suporte da polia articular;

- na parte inferior, um semi-anel (a gran­de cavidade sigmóide) unido ao braçode alavanca antebraquial e que se encai­xa na polia;

- o sistema ligamentar está representadopor dois tensores unidos ao "talo" quesimula o antebraço, e que se articulacom os dois extremos do eixo da polia.

É fácil entender que estes "tensores" late­rais desempenhem um duplo papel (fig. 2-20, a):

- manter o semi-anel encaixado na polia(coaptação articular);

- impedir qualquer movimento de latera­lidade.

Basta (fig. 2-20, b) a ruptura de um dos ten­sores, por exemplo o interno (seta branca), para

que possa produzir o movimento de lateralidadepara o lado oposto (seta preta) e para que as su­perfícies articulares percam contato: é o meca­nismo habitual da luxação do cotovelo, que nu­ma primeira fase, é uma entorse grave do coto­velo (ruptura do ligamento lateral i~terno).

Particularidades:

- o ligamento~ lateral interno (LU) estáconstituído por três fascículos (fig. 2-16):

• um fascículo anterior (1), cujas fibrasmais anteriores reforçam (fig. 2-17) oligamento anular (2);

• um fascículo médio (3), o mais potente;

• um fascículo posterior (4), ou liga­mento de Bardinet, reforçado pelasfibras transversais do ligamento deCooper (5).

Além disso, neste esquema podemos dis­tinguir: a epitróc1ea (6), de onde sai o lequedo LU, o olécrano (7), a corda de Weit­brecht (8), o tendão do bíceps (9) que se in­sere na tuberosidade bicipital do rádio.

- o ligamento lateral externo (LLE),constituído também por três fascículos(fig. 1-17):

• um fascículo anterior (10), que refor­ça o ligamento anular pela frente;

• um fascículo médio (11), que reforçao ligamento anular por trás;

• um fascículo posterior (12). Epicôn­dilo (13).

- a cápsula se encontra reforçada, pelafrente, pelo ligamento anterior (14) e oligamento oblíquo anterior (15). Portrás, está reforçada por fibras transver­sais úmero-umerais e por fibras úmero­olecranianas.

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1. MEMBRO SUPERIOR 91

b

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15

Fig.2-17Fig.2-16

Fig.2-19

Fig.2-18Fig.2-20

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92 FISIOLOGIA ARTICULAR

A CABEÇA RADIAL

A forma da cabeça radial está totalmentecondicionada pela sua função articular:

- função de rotação axial (ver capítuloIIl: pronação~supinação): é cilíndrica;

- função de flexão-extensão em tomo aoeixo xx' do côndilo:

• em primeiro lugar, a cabeça radial de­ve-se adaptar (fig. 2-21) à forma esfé­rica do côndilo umeral (A): por isso, asua superfície superior (B) é côncava,é a abóbada radial. Para que istoaconteça basta remover (C) um cas­quete esférico, cujo raio de curva sejaigual ao do côndilo; de modo que du­rante a pronação-supinação a abóbadaradial possa pivotar sobre o côndiloumeral seja qual for o grau de flexão­extensão do cotovelo;

• porém o côndilo umeral se encontralimitado (fig. 2-22), por dentro, poruma superfície troncocônica, a zonacôndilo-troclear (A). Desta forma, du­rantea flexão-extensão, para que pos­samos realizar a adaptação da cabeçaradial, é necessário que uma "esqui­na" (C) do contorno interno dela de­sapareça, como se um plano (B) tan­gente ao tronco do cone tivesse sepa-

rado uma porção da margem da abó­bada;

• por último, a função da cabeça radialnão consist_~unicamente em se desli­zar sobre o côndilo e a zona côndilo­troclear girando em tomo ao eixo xx',mas pode girar ao mesmo tempo emtomo de seu eixo vertical yy' , durantea pronação-supinação (B); a secçãopraticada no contorno da abóbada (C)se estende sobre uma porção de suacircunferência, como se, no percursodesta rotação (B), uma navalha tivesserecortado uma lâmina espiral no bor­do (fig. 2-23).

Ligações articulares da abóbada radialnas posições extremas (fig. 2-24):

- em extensão máxima (a), só a metade an­terior da abóbada se articula com o côndi­10; de fato, a superfície cartilaginosa docôndilo se interrompe no limite inferiorda paleta umeral e não ascende para trás;

- emjlexão máxima (b), O contorno da ca­beça radial ultrapassa, por cima, a super­fície do côndilo e se introduz na fossetasupracondilar (ver figo 2-5), muito me­nos profunda que a fosseta supratroclearou coronóide.

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1. MEMBRO SUPERIOR 93

c

Fig.2-21 Fig.2-22 Fig.2-23

b

a

Fig.2-24

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94 FISIOLOGIA ARTICULAR

A TRÓCLEA UMERAL(variações)

A primeira vista, afirmamos anteriormente(pág. 86) que a garganta da tróclea se localiza noplano sagital. A realidade é bastante mais com­plexa.

De fato, a garganta da tróclea não é verti­cal, mas é oblíqua; além disso, esta obliqÜidadevaria segundo o sujeito. A figura 2-25 é um re­sumo destas situações diferentes e as suas con­seqüências do ponto de vista fisiológico:

1) Caso mais freqüente (fileira superior)

De frente (a), a garganta da tróclea é verti­cal: por trás, a parte posterior da garganta (b: vis­ta posterior) é oblíqua para baixo e para fora.

Em conjunto (c), a garganta da tróclea seenrola em espiral em tomo do eixo. As conse­qüências fisiológicas são as seguintes:

- em extensão (d) (esquema inspirado emRoud), a parte posterior da garganta fazconexão com a cavidade sigmóidea; demodo que a sua obliqüidade provoca ado antebraço; portanto, o antebraço seposiciona levemente oblíquo para baixoe para fora e o seu eixo não prolonga odo braço, porque forma com ele um ân­gulo obtuso aberto para fora, claramen­te definido na mulher e denominado val­

go fisiológico (fig. 2-26);

- em ftexão, é a parte anterior da gargan­ta a que determina a direção do antebra­ço e, como esta parte da garganta é ver­tical, durante a ftexão (e), o antebraçoacaba-se projetando exatamente pelafrente do braço.

2) Caso menos freqüente (fileira inter­média)

De frente (a), a garganta da tróclea é oblí­qua para cima e para fora.

A parte posterior da garganta (b) é oblíquapara baixo e para fora.

Em conjunto (c), a garganta descreve umaautêntica espiral em tomo do eixo.

Durante a extensão (d), o antebraço ficaoblíquo para baixo e para fora: é a ulna em val­go fisiológico, como no caso anterior.

Durante a ftexão (e), a obliqüid~de da parteanterior da garganta determina a obliqüidade doantebraço: este último se projeta levemente porfora do braço.

3) Caso muito rar~ (fileira inferior)

De frente (a), a garganta da tróclea é oblí­qua para cima e para dentro.

A parte posterior da garganta (b) é oblíquapara baixo e para fora.

Em conjunto (c), a garganta da tróclea des­creve um círculo, cujo plano é oblíquo para baixoe para fora, ou uma espiral muito fechada e incli­nada para dentro. Conseqüências fisiológicas:

- na extensão (d): valgo fisiológico;

- na ftexão (e): o antebraço se projeta pordentro do braço.

Outra conseqüência desta fOffi1a em espiralda garganta é que não existe um eixo da tróclea,mas uma série de eixos instantâneos entre duas

posições extremas (fig. 2-27):

- um eixo naflexão (traço contínuo): é per­pendicular à direção do antebraço ftexio­nado (aparece ilustrado o caso mais fre­qüente: ver I);

- um eixo na extensão (traço descontínuo):é perpendicular ao eixo do antebraço es­tendido.

A direção do eixo de ftexão-extensão variacontinuamente entre duas posições extremas,durante os movimentos de ftexão-extensão do

cotovelo, diz-se que o eixo é evolutivo. A figura2-28 ilustra estas duas posições extremas no es­queleto.

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1. MEMBRO SUPERIOR 9S

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96 FISIOLOGIA ARTICt:LAR

AS LIMITAÇÕES DA FLEXÃÜ-EXTENSÃü

A limitação da extensão (fig. 2-29) sedeve a três fatores:

1) o impacto do bico olecraniano no fundoda fosseta olecraniana;

2) a tensão da parte anterior da cápsulaarticular;

3) a resistência que opõem os músculosflexores (bíceps, braquial anterior ebraquirradial).

Se a extensão continua. um dos menciona­dos ji-eios se rompe:

~ fratura do olécrano (1) (fig. 2-30), segui­da de desgane capsular (2);

-o olécrano (1) resiste (fig. 2-31), mas acápsula (2) e os ligamentos se rompem,e se produz uma luxação posterior (3)do cotovelo. Os músculos, em geral,p<.:rmanecemintatos. Contudo, a artériaumeral pode romper-se ou, pelo menos,sofrer uma contusão.

A limitação da flexão é diferente, depen­dendo de ser uma flexão ativa ou passiva.

Se a flexão é atim (fig. 2-32):

- o primeiro fator de limitação é o con­tato das massas musculares (1) do

compartimento anterior do braço e doantebraço, endurecida pela contração.Este mecânismo explica que a flexãoativa não pC!de ultrapassar os 145°,fato que se acentua quanto mais mus­culoso é o indivíduo.

- os outros fatores, impacto ósseo (2)e tensão capsular (3), quase não inter­vêm.

Se a flexão é passiva (fig. 2-33) pela açãode uma força (seta preta) que "fecha" a articu­lação:

- as massas musculares sem contrair (1)podem - se achatar ltma contra a outrade modo que a flexão possa ultrapassar os145°;

- neste momento aparecem os outrosfatores limitantes:

• impacto da cabeça radial contra a fosse­ta supracondílea e do processo coro­nóide contra a fosseta supratroclear (2);

• tensão da parte posterior da cápsula (3);

• tensão passiva do tríceps braquial (4).

Nestas condições, a flexão pode alcançar os160°.

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1

Fig.2-29

Fig.2-32

1. MEMBRO SUPERIOR 97

Fig.2-31

Fig.2-33

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98 FISIOLOGIA ARTICULAR

OS MÚSCULOS MOTORES DA FLEXÃO

Os músculos motores da ftexão do cotove­lo são essencialmente três:

- o braquial anterior (1) que se estendedo tubérculo do processo coronóide daulna até a superfície anterior do úmero(fig. 2-34): mono articular, é exclusiva­mente ftexor do cotovelo; é um dos rarosmúsculos do corpo que realizarp umaúnica função;

- o braquiorradial (2) que se estende doprocesso estilóide do rádio até a mar­gem externa do úmero (fig. 2-34): a suafunção principal é a fiexão do cotovelo.Como músculo acessório e só na prona­çâo máxima se converte em supinador,igualmente é pronador na supinação má­XIma;

- o bíceps braquial (3) é o fiexor princi­pal (fig. 2-35). A sua inserção inferior selocaliza na tuberosidade bicipital do rá­dio. As suas inserções superiores não sesituam no úmero (se trata de um múscu­lo biarticular), mas na escápula median­te duas porções:

• (I porção longa (3') no tubérculo su­praglenóide após ter atravessado a ar­ticulação (ver capítulo I: o ombro);

• a porçâo curta (3") no bico do pro­cesso coracóide.

Mediante as suas duas inserções superiores,o músculo bíceps coapta o ombro e sua porçãolonga o abduz.

A sua ação principal é a ftexão do cotovelo.

A sua ação secundária, porém importante, éa supinação (ver capítulo III: a pronação-supina­ção), máxima quando o cotovelo está fiexionadoa 90°.

Com o cotovelo fiexionado, o bíceps tendea luxar o rádio (ver pág. 102).

A eficácia dos músculos fiexores é máxima

com o cotovelo fiexionado a 90°.

De fato, quando o cotovelo está estendido(fig. 2-36), a direção da força muscular é quaseparalela (seta branca) à direção do braço de ala­vanca. O componente centrípeto ç dirigido aocentro da articulação é preponderante, mas ine­ficaz. O componente tangencial ou transversal T,o único realmente éncaz, é relativamente insig­nificante, quase nulo.

Contudo, na semifiexão (fig. 2-37), a forçamuscular está perpendicular à direção do braçode alavanca (seta branca: bíceps, seta preta: bra­quirradial), o componente centrípeto se anula eo componente tangencial se confunde com aprópria força muscular: assim, toda a força mus­cular se utiliza na ftexão.

Este ângulo de máxima eficácia se situa en­tre os 80 e 90° no caso do bíceps.

Com relação ao braquirradial, a 90° a forçamuscular não se confunde com o componentetangencial; isso não se apresenta até os 100­II 0°, isto é, numa fiexão mais acentuada que ado bíceps.

A ação dos músculos fiexores se realiza se­gundo o esquema das alavancas de terceiro gê­nero: de modo que favorece a amplitude e a ra­pidez dos movimentos a expensas de sua potên­CIa.

Músculos ftexores fundamentalmente aces­sórios:

- extensor radial (RI): debaixo do bra­quirradial (fig. 2-37);

- pronador redondo: sua retração, provo­cada pela síndrome de Volkmann, cons­titui uma corda que impede a extensãocompleta do cotovelo.

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1. MEMBRO SUPERIOR 99

Fig.2-35

Fig.2-37

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Fig.2-34

Fig.2-36

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100 FISIOLOGIA ARTICULAR

OS MÚSCULOS MOTORES DA EXTENSÃO

A extensão do cotovelo se deve à ação de sóum músculo: o tríceps braquial (fig. 2-38); de fa­to, a ação do ancôneo (A), embora notável paraDuchenne de Boulogne, não vale a pena tratar noplano fisiológico devido à debilidade do seu mo­mento de ação.

° tríceps braquial está constituído por trêscorpos carnosos que finalizam num tendão co­mum que se insere no olécrano.

Os três corpos musculares do tríceps têmuma inserção superior diferente:

- a cabeça (ou porção) medial (1) se fixana superfície posterior do úmero, parabaixo do canal ou sulco do nervo radial;

- a cabeça (ou porção) lateral (2) se fixasobre a margem externa da diáfise ume­ral, principalmente por cima do canal donervo radial;

Portanto, estas duas porções são monoarti­culares.

- a porção longa (3), que não se insere so­bre o úmero, mas sobre a escápula, no tu­bérculo subglenóide: de modo que estaporção é um músculo biarticular.

A eficácia do tríceps é diferente dependen­do do grau de flexão do cotovelo:

- em extensão completa (fig. 2-39), a forçamuscular se decompõe em:

• um componente centrífugo C, que ten­de a luxar a ulna para trás;

• um componente tangencial ou transver­sal T, o único eficaz e predominante;

- em ligeira flexão (fig. 2-40), entre 20 e30°, o componente radial (anteriormentecentrífugo) se anula, e o componente efi­caz se confunde com a força muscular: éa posição na qual o músculo desenvolvea sua máxima eficácia;

- em conseqüência (fig. 2-41), quanto maisaumenta a flexão mais diminui o compo­nente eficaz T em benefício do compo­nente centrípeto C;

-na flexão completa (fig.2-42), o tendão tri­cipital se reflete na superfície superior doolécrano, como se fosse uma polia, o quecontribui a compensar a sua perda de efi­cácia. Por outro lado, com as fibras muscu­lares em máxima tensão, a sua potência decontração é máxima de mopo que se trans­forma em outro fator de compensação.

A eficácia da porção longa do tríceps e,conseqüentementé, todo o músculo, também de­pende da posição do ombro: este fato deriva desua natureza biarticulâr (fig. 2-43).

É fácil comprovar que a distância que sepa­ra os dois pontos de inserção da porção longa dotríceps é maior na posição de flexão de 90° quena posição vertical do braço (o cotovelo perma­nece no mesmo grau de flexão). De fato, os cen­tros dos dois círculos "traçados" pelo úmero (1)e pela porção longa do tríceps (2) estão separa­dos. Se a longitude do tríceps não varia, se situa­ria em O', mas como o olécrano se encontra em02' necessariamente, o músculo se alonga passi­

vamente uma distância 0'02'De modo que a força do tríceps é maior

quando o ombro está flexionado. A porção longado tríceps reforça uma parte da potência dos mús­culos flexores do ombro com o cotovelo estendi­do (fascículos claviculares do peitoral maior e dodeltóide); este é um exemplo do papel que desem­penham os músculos biarticulares. Também émaior para o movimento que associa a extensãodo cotovelo e a extensão do ombro (a partir da po­sição de flexão de 90°), como é o caso do movi­mento do lenhador ao bater com o machado.

Pelo contrário, a força do tríceps é menorquando o movimento que associa a extensão docotovelo com a flexão do ombro, como porexemplo dar um soco para a frente (a porçãolonga do tríceps fica "cercada" entre dois impe­rativos contraditórios: alongar (flexão), encurtar(extensão do cotovelo).

É bom lembrar que a porção longa do trícepsconstitui junto com o grande dorsal um par adu­tor do ombro (ver pág. 80).

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1. MEMBRO SUPERIOR 101

Fig.2-38 b

T

0'\

I

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Fig.2-40

c

Fig.2-39

\\

\

Fig.2-41

Fig.2-42

Page 107: Kapandji - Volume 1

102 FISIOLOGIA ARTICULAR

OS FATORES DE COAPTAÇÃO ARTICULAR

A coaptação longitudinal impede que aarticulação do cotovelo em extensão se deslo­que:

• tanto quando se exerce uma força parabaixo (fig. 2-44, vista externa e figo2A5,vista interna), como quando transporta­mos um balde de água;

• quanto quando exercemos uma força pa­ra cima (figs. 2-47 e 2-48), como acon­tece na queda com as mãos para a frentee os cotovelos em extensão.

1) Resistência à tração longitudinal

O fato de que a grande cavidade sigmóidenão ultrapasse os 180° de arco faz com que a tró­clea não fique fixa mecanicamente devido à au­sência de partes moles. A coaptação é assegura­da por:

-ligamentos: LU (1) e LLE (2);- os músculos: não unicamente os do bra-

ço: tríceps (3), bíceps (4), braquial (5),mas também os do antebraço: braquirra­dial (6), músculos epicondilares (7),músculos epitrocleares (8).

Em máxima extensão, o bico do olécranose engancha por cima da tróclea na fosseta ole­craniana, o qual proporciona à articulação úme­ro-ulnar certa resistência mecânica em sentido

longitudinal.

Contudo, é preciso ressaltar que a articula­ção côndi10-radial está mal disposta para resis­tir às forças de tração: a cabeça radial se luxa

para baixo com relação ao ligamento anular: é omecanismo desencadeado no caso da "pronaçãodolorosa das crianças". O único elemento anatô­mico que impede o "descenso" do rádio com re­lação à ulna é a membrana interóssea.

2) Resistência à pressão longitudinal,

Só a resistência óssea intervém mecanica­mente:

- no rádio: é a cabeça a que transmite asforças de pressão e a que se fratura(fig. 2-47);

- na ulna, é o processo coronóide o quetransmite as pressões, daí vem a deno­minação processo consolador que o de­ra Henle. Se fratura por efeito do impac­to, permite a luxação posterior da ulna.Devido a isso, a luxação é irredutível(fig. 2-48).

Coaptação em flexão (fig. 2-46)

Na posição de ftexão de 90°, a ulna é per­feitamente estável (a) porque a grande cavidadesigmóide está limitada pelas duas potentes inser­ções musculares do tríceps (3) e do braquial an­terior (5) que mantêm o contato entre as superfí­cies articulares.

Contudo (b), o rádio tende a se luxar paracima sob a tração do bíceps (4). Somente o liga­mento anular evita esta luxação. Quando o liga­mento se rompe, a luxação do rádio para cima epara a frente acontece com a menor tentativa deflexão do cotovelo (contração do bíceps).

Page 108: Kapandji - Volume 1

Fig.2-44 Fig.2-45

1. MEMBRO SUPERIOR 103

a

Fig.2-46

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104 FISIOLOGIA ARTICULAR

A AMPLITUDE DOS MOVIMENTOS DO COTOVELO

A posição de referência (fig. 2-49) é defi­nida da seguinte maneira: o eixo do antebraço selocaliza no prolongamento do eixo do braço.

A extensão é o movimento que dirige oantebraço para trás. A posição de referênciacorresponde à extensão completa (fig. 2-49);por definição, não existe amplitude no caso daextensão do cotovelo, menos em alguns sujei­tos que possuem uma grande lassidão ligamen­tar, como as mulheres e as crianças, que podemalcançar de 5 a 10° de hiperextensão do cotove­lo (fig. 2-50, z).

Contudo, a extensão relativa sempre é viá­vel em qualquer posição de flexão do cotovelo.

Quando a extensão é incompleta se medenegativamente; por exemplo, uma extensão de- 40° corresponde a um déficit de extensão de

40°, estando o cotovelo flexionado em 40° quan­do tentamos estender o mesmo completamente.

Neste esquema (fig. 2-50), o déficit de ex­tensão é -y, a flexão + x (Df representa então odéficit de flexão) e a amplitude útil de flexão-ex­tensão é x - y.

A flexão é o movimento que dirige o ante­braço para diante, de tal maneira que a superfí­cie anterior do antebraço entra em contato com

a superfície anterior .do braço.

A amplitude dafiexão ativa é de 145° (fig.2-51).

A amplitude da fiexão passiva é de 160° (adistância entre o coto do ombro e o punho corres­ponde à medida de lima mão fechada: o punhonão entra em contato com o ombro.

AS REFERÊNCIAS CLÍNICAS DA ARTICULAÇÃO DO COTOVELO

\

Os três pontos de referência, visíveis e pal­páveis, do cotovelo são:

- o olécrano (2), proeminência do coto-velo, na linha média;

- a epitróclea (1), por dentro;

- o epicôndilo (3), por fora.

Em posição de extensão (fig. 2-52), estestrês pontos de referência estão alinhados na ho­rizontal. Entre o olécrano (2) e a epitróclea (1)se localiza o canal epitrócleo-olecraniano, poronde passa verticalmente (seta tracejada) o ner­vo ulnar ou cubital: um impacto violento nesteponto provoca uma dor de tipo elétrico que seirradia por toda a zona ulnar (borda interna da

mão). No lado externo, por baixo do epicôndilo,podemos palpar o giro da cabeça radial duranteos movimentos de pronação-supinação.

Em posição de flexão (fig. 2-53), estes trêspontos de referência formam um triângulo eqÜi­látero (b), situado no plano vértico-frontal tan­gente à superfície posterior do braço (a).

Nas luxações de cotovelo estas conexões sealteram:

- em extensão, o olécrano ascende por ci­ma da linha epicôndilo-epitroclear (lu­xação posterior);

- em flexão, o olécrano recua para trás doplano frontal (luxação posterior).

Page 110: Kapandji - Volume 1

Fig.2-51

Fig.2-52

Fig.2-50

Fig.2-53

•~/ 3

1. MEMBRO SUPERIOR lOS

1./

Fig.2-49

3

Page 111: Kapandji - Volume 1

106 FISIOLOGIA ARTIClJLAR

POSIÇÃO FUNCIONAL E POSIÇÃO DE IMOBILIZAÇÃO

A posição funcional do cotovelo e a sua po­

sição de imobilização se definem como segue

(fig. 2-54):

- fiexão de 90°;

- pronação-supinação neutra (mão no pla-no vertical; ver capítulo IlI).

EFICÁCIA DOS GRUPOS FLEXOR E EXTENSOR

lU

Em conjunto, os flexores são um poucomais eficazes que os extensores: em posição derelaxamento, braço pendente ao longo do corpo,o cotOl'elo ligeiramente fiexionado, proporcio­nalmente mais flexionado quanto mais musculo­so seja o indivíduo.

A força dos flexores é diferente dependen-do da posição de pronação-supinação:

- a força de flexão em pronação é maior que

- a força de flexão em supinação.

De fato, o bíceps está mais alongado e, por­tanto, é mais eficaz quando o antebraço está empronação.

A relação entre ambas as potências é de:

5 (F em pronação)

3 (F em supinação)

Por último, a força dos grupos muscularesé diferente, dependendo da posição do ombro:isto se sintetiza no esquema da figura 2-55:

1) Braço vertical por cima do ombro (O)

- a força de extensão (seta 1), como no ca­so do levantamento de pesos, é de 43 kg;

- a força de flexão (seta 2), como quan­do elevamos um corpo em suspensão, éde 83 kg.

2) Braço em flexão de 90° (AV):

- a força de extensão (seta 3), como quan­do empurramos um objeto pesado parafrente, é de 37 kg;

- a força de fiexão (seta 4), como quandoremamos, é de 66 kg.

3) Braço vertical ao longo do corpo (B):

- a força de fiexão (seta 5), como para le­vantar um objeto pesado, é de 52 kg;

- a força de extensão (seta 6), como a querealizamos ao levantarmos para cimaem barras paralelas, é de 51 kg.

De modo que existem posições preferen-ciais nas que a eficácia dos grupos é máxima:

- no caso da extensão, para baixo (seta 6);

- no caso da fiexão, para cima (seta 2).

Isto significa que a musculatura dos mem­bros superiores está totalmente adaptada paratrepar (fig. 2-56).

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Fig.2-54

1. .MEMBRO SUPERIOR 107

Fig.2-56

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108 FISIOLOGIA ARTICULAR

SIGNIFICADO

A pronação-supinação é o movimento derotaçc7odo antebraço ao redor do seu eixo lon­gitudinal.

Este movimento precisa da intervenção deDUAS ARTICULAÇÕES MECANICAMEN­TE UNIDAS (fig. 3-1):

- a articulaçc70 rádio-ulnar superior(RUS), que pertence anatomicamente àarticulação do cotovelo;

- a articulaçc70 rádio-ulnar inferior(RUI) que é diferente anatomicamenteda articulação rádio-carpeana.

Esta rotação longitudinal de antebraço in­troduz um terceiro grau de liberdade no com­plexo articular do punho. Deste modo, a mão,como "extremidade realizadora" do membro su­

perior, pode-se situar em qualquer ângulo parapoder pegar ou segurar um objeto. Se refletimoscorretamente, a presença de uma articulação ti­po enartrose com três graus de liberdade no pu­nho, complicaria extraordinariamente os proble­mas mecânicos: neste caso seria necessário "ins-

talar" na extremidade móvel, o carpo por exem­plo, proeminências apofisiárias que pudessemserÚr como braço de alavanca aos músculos ro­tadores; além disso, seria mecanicamente im­possível que os tendões dos músculos do ante­braço "franqueassem" o punho, devido à torçãoque realizaria sobre si mesmo durante a rotaçãoao redor do seu eixo longitudinal; conseqüente­mente a maior parte dos músculos extrínsecos seencontrariam na mão de tal maneira que a suapotência diminuiria e a mão seria pesada e volu­mosa.

Esta rotação longitudinal no antebraço é asolução lógica e elegante, cuja única conseqüên­cia é complicar um pouco o esqueleto deste seg­mento, introduzindo um segundo osso, o rádio,que suporta a mão e a ulna gira ao seu redor, gra­ças às duas articulações rádio-ulnares.

Esta estrutura do segundo segmento domembro apareceu na filogenia a 400 milhões deanos atrás, quando alguns peixes abandonaram omar e colonizaram a terra se convertendo em an­

fíbios tetrápodes.

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Fig.3-1

1. MEMBRO SUPERlOR 109

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110 FISIOLOGIA ARTICULAR

DEFINIÇÃO

Só é possível analisar a pronação-supina­ção com o cotovelo flexionado a 90° e encosta­do no corpo. De fato, se o cotovelo está estendi­do, o antebraço se encontra no prolongamentodo braço e na rotação longitudinal do antebraçose acrescenta a rotação do braço ao redor do seueixo longitudinal, graças aos movimentos de ro­tação externa e interna do ombro.

Com o cotovelo em flexão de 90°:

- a posição de supinação (fig. 3-2) serealiza quando a palma da mão se dirigepara cima com o polegar para fora;

- a posição de pronação (fig. 3-3) se rea­liza quando a palma da mão "se orienta"para baixo e o polegar para dentro;

- a posição intermédia (fig.3-4) é deter­minada pela direção do polegar para ci­ma e da palma para dentro, ou seja, nempronação, nem supinação. As amplitu­des dos movimentos de pronação-supi­nação se medem a partir desta pósiçãointermédia ou posição zero.

De fato, quando observamos o antebraço ea mão alinhados e de frente, quer dizer, no pro­longamento do eixo longitudinal:

- a mão em posição intermédia (fig. 3-5) sesitua no plano vertical, paralela ao planosagital, plano de simetria do corpo;

- a mão em posição de supinação (fig. 3-6)se situa no plano horizontal; assim sendo,a amplitude de mm'imento de supinaçãoé de 90°.

- a mão em posição de pronação (fig. 3-7)só chega até o plano horizontal; a ampli­tude de pronação é de 85° ( mais adian­te poderemos ver por que não chega atéos 90°)

Em resumo, a amplitude total da verdadei­ra pronação-supinação, isto é, quando unica­mente participa a rotação axial do antebraço, éde aproximadamente 180°.

Quando também participam os movimentosde rotação do ombro, com o cotovelo em exten­são total, esta amplitude total alcança:

- 360° quando o membro superior estávertical ao longo do tronco;

- 360° quando o membro superior está emabdução de 90°;

- 270° em flexão de 90° e em extensãode 90°;

- ultrapassa um pouco os 180° quando omembro superior está vertical, em posi­ção de máxima abdução. Isto confirmaque o ombro tem uma amplitude de ro­tação axial quase nula em abdução de180°.

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. 1. MEMBRO SUPERIOR 111

Fig.3-4

Fig.3-7

Fig.3-3

1

Fig:--3-5Fig.3-6

Fig.3-2

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112 FISIOLOGIA ARTICULAR

UTILIDADE DA PRONAÇÃO-SUPINAÇÃO

r--

Dos sete graus de liberdade que comporta acadeia articular do membro superior, começan­do pelo ombro e terminando na mão, a prona­ção-supinação é um dos mais importantes,porque é indispensável para o controle da atitu­de da mão. De fato, este controle permite que amão esteja perfeitamente colocada para alcançarum objeto num setor esférico de espaço centra­lizado no ombro e levá-Io à boca (função de ali­mentação). Também permite que a mão cheguea qualquer ponto do corpo com a finalidade deproteção ou higiene (função de limpeza). Alémdisso, a pronação-supinação desempenha umpapel essencial em todas as ações da mão, prin­cipalmente durante o trabalho.

Graças à pronação-supinação, a mão pode(fig 3-8) segurar uma bandeja ou um objeto, emsupinação, ou comprimir um objeto para baixo einclusive se apoiar em pronação.

Também permite que se realize um movi­mento de rotação nas preensões centradas e ro­tativas, como no caso em que utilizamos umachave de fenda (fig. 3-9) na qual o eixo do uten­sílio coincide com o eixo de pronação-supina­ção. Por causa da obliqiiidade da preensão com

toda a palma da mão em contato com o cabo(fig. 3-10), a pronação-supinação modifica aorientação da ferramenta através do mecanismoda rotação cônica: como conseqüência da assi­metria da mão, o cabo pode-se situar no espaçosobre um segmento de cone centralizado peloeixo de pronação-supinação, de modo que omartelo bate no prego sob uma incidência regu­lável.

Neste caso, podemos comprovar um dosaspectos do encaixe funcional entre a pronação­supinação e a articulação rádio-carpeana, ondepodemos observar outro exemplo na variação daabdução-adução do punho em função da prona­ção-supinação: a atitude normal da mão em pro­nação ou em posição intermédia é o desvio ulnarque "centraliza" a pinça tridigital sobre o eixoda pronação-supinação, enquanto na supinaçãoa mão se coloca mais em desvio radial, favore­cendo a preensão de sustentação, como quandocarregamos uma bandeja.

Este encaixe funcional obriga a integraçãofisiológica da articulação rádio-ulnar inferiorcom a do punho, embora mecanicamente estejaunida à articulação rádio-ulnar superior.

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1. MEMBRO SUPERIOR 113

Fig.3-8

Fig.3-9

Fig. 3-10

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114 FISIOLOGIA ARTICULAR

DISPOSIÇÃO GERAL

Em posição de supinação (figs. 3-11, 3-12e 3-13 e diagramas a e b, figo3-17):

A ulna e o rádio estão um ao lado do outro,a ulna por dentro e o rádio por fora. Os seus ei­xos longitudinais são paralelos (fig. 3-17, a). Po­demos observar:

- no esquema frontal (fig. 3-11), onde ve­mos:

• a membrana interóssea, com a camadasuperior (1) cujas fibras são oblíquaspara baixo e para dentro e sua camadaposterior (2) de obliqüidade inversa,realiza o principal da ligação mecâni­ca em sentido longitudinal e transver­sal: impede o deslocamento do rádiopara baixo, porque o deslocamento pa­ra cima é bloqueado pelo côndilo ume­ral, e inclusive após uma secção dos li­gamentos das duas articulações rádio­ulnares, é por si mesma suficiente paramanter os dois ossos em contato. Demodo que é a grande desconhecida doantebraço;

• a corda de Weitbrecht (3), elemento fi­broso;

• o ligamento anterior da articulação rá­dio-ulnar inferior (4).

Estes três elementos estão em ten­são durante a supinação e a limitam;

• o ligamento anular (5), reforçado pelo

• fascículo anterior do ligamento lateralexterno do cotovelo (6) (LLE) e pelo

• fascículo anterior do ligamento lateralinterno do cotovelo (7) (LLI);

• ligamento triangular (8) visto em sec­ção;

- no esquema dorsal (fig. 3-11):

• a membrana interóssea (1) com suasduas camadas;

• ligamento posterior da articulação rá­dio-ulnar posterior (2);

• ligamento anular (3) reforçado pelo fas­cículo médio do LLE do cotovelo (4);

- em vista externa (fig. 3-13) o rádio ocul­ta em parte a ulna, e podemos compro­var que há uma leve concavidade ante­rior do rádio, acentuada no desenho eesquematizada no diagrama b da figura3-17.

Em posição de pronação (figs. 3-14, 3-15e 3-16 e diagramas c e d da figo3-17):

A ulna e o rádio não estão paralelos, masestão cruzados: isto pode ser apreciado tanto noesquema frontal (fig. 3-14) quanto no dorsal(fig. 3-15), e está esquematizado no diagramada figura 3-17. Em pronação (fig. 3-17, d) o rá­dio está:

- por cima, externo com relação à ulna, e

- por baixo, interno com relação à ulna.

Em vista de perfil externo (fig. 3-16) pode­mos observar que o rádio é deslocado pela fren­te da ulna. A sua concavidade, dirigida para trás,lhe permite "cavalgar" literalmente sobre a ul­na. Ver esquema do diagrama c da figura 3-17.

Assim sendo, podemos entender que a pro­nação só pode~se aproximar de 90° de amplitu­de, sem conseguir alcançar esta cifra, graças àcurva do rádio no plano sagital. Também pode­mos entender que os músculos flexores, que selocalizam pela frente do esqueleto na supinação(fig. 3-18, a), se interpõem entre o rádio e a ul­na (fig. 3-18, b) durante a pronação, para cons­tituir, ao final desta (fig. 3-18, c), um "colchão"que amortece o contato entre ambos os ossos.Simultaneamente a membrana interóssea se en­rola ao redor da ulna, de modo que, junto como "acolchoado" muscular, desloca a ulna portrás do rádio, produzindo a subluxação poste­rior da cabeça ulnar no fim da pronação.

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1. MEMBRO SUPERIOR 115

Fig.3-16

Fig.3-13

4

3

d

Ib c

Fig.3-17

Fig.3-12

2

Fig.3-15

Fig.3-14

7

a

Fig.3-18

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116 FISIOLOGIA ARTICULAR

ANATOMIA FISIOLÓGICA DA ARTICULAÇÃO RÁDIO-ULNAR SUPERIOR(os números das explicações se correspondem em todas as figuras)

A ,articulação rádio-ulnar superior é umaTROCOIDE, as suas superfícies são cilíndricase possui só um grau de liberdade: rotação ao re­dor do eixo dos dois cilindros encaixados. Pode­mos comparar, em mecânica, com um simplesamortecedor ou, melhor ainda, com um verda­deiro rolamento de bolas (fig. 3-20).

Portanto, está constituída por duas superfí­cies cilíndricas:

- a cabeça radial (fig. 3-21) com o seucontorno cilíndrico (1) preenchido decartilagem, mais ampla pela frente e pordentro e que se corresponde com o anelcentral (1) do amortecedor ou rolamen­to de bolas. Outras particularidades:

• a abóbada (2), côncava, que se articula(fig. 3-25, secção sagital) com o côndiloumeral (9). Dado que o côndilo não seexpande para trás, a abóbada entra emcontato com ele durante a extensão sópela metade anterior da sua superfície;

• o biseI (3) do contorno (ver figo3-21).

- um anel osteofibroso, claramente visí­vel na figura 3-19 (segundo Testut), noqual a cabeça radial está removida. Secorresponde com o anel periférico (5 e6) do rolamento de bolas (fig. 3-20) e es­tá constituído por:

• pequena cavidade sigmóide da ulna(6) preenchida de cartilagem, côncavade diante para trás, separada da grandecavidade (8) por uma crista romba (7):

• ligamento anular (5), intato na figura3-19 e seccionado na figura 3-21. Fai­xa fibrosa inserida nas margens ante­rior e posterior da pequena cavidadesigmóide, a sua superfície interna estápreenchida por uma cartilagem, pro­longamento da pequena cavidade queao mesmo tempo é:

* um meio de união: rodeia a cabeça ra­dial e a encaixa contra a pequena cavi­dade sigmóide;

* uma superfície articular: se articulacom o contorno da cabeça radial e aorevés da pequena cavidade sigmóide,se deforma.

O ligamento quadrado de Dénucé (4),segundo meio de união, está seccionado na fi­gura 3-21, intato na figura 3-22 (ligamentoanular seccionado e rádio deslocado, segundoTestut) e na figura 3-23 (vista superior, olécra­no e ligamento anular seccionados, segundoTestut). É uma faixa fibrosa que se insere namargem inferior da pequena cavidade sigmóideda ulna e na base do contorno interno da cabe­

ça radial (fig. 3-24, secção central). Estas duasmargens estão reforçadas (figs. 3-21 e 3-22)por fibras originadas da margem superior do li­gamento anular.

O ligamento quadrado representa um refor­ço da parte inferior da cápsula; o resto desta (10)une as articulações do cotovelo em um conjuntoanatômico.

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1. MEMBRO SUPERIOR 117

6

Fig.3-232

Fig.3-21

Fig.3-25

Fig.3-22

5

Fig.3-20

5-6

15

Fig.3-19

21

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118 FISIOLOGIA ARTICULAR

ANATOMIA FISIOLÓGICA DA ARTICULAÇÃO RÁDIO-ULNAR INFERIOR(estrutura e constituição mecânica da porção inferior da ulna)

Como a articulação rádio-ulnar superior, aarticulação rádio-ulnar inferior também é umatrocóide: as suas superfícies são cilíndricas e so­mente possui um grau de liberdade, ou seja, arotação em tomo ao eixo dos dois cilindros en­caixados.

A primeira destas superfícies cilíndricas(tig.3-26) está presa pela cabeça da ulna. Pode­mos considerar que a porção inferior da ulna es­tá formada (a) pela penetração de um cilindrodiatisário (1) num cone epitisário (2). Mas, é ne­cessário ressaltar que o eixo do cone está deslo­cado para fora com relação ao do cone do cilin­dro. Por cima desta sólida composição (b), oplano horizontal (3) desprende um tronco de co­ne (c) e forma a superfície inferior (4) da cabe­ça da ulna. A seguir (d), um segundo cilindro se­cante (5) desprende uma meia-lua sólida (6) edetermina (e) a formação da superfície cilíndri­ca (7) da cabeça da ulna. É necessário destacarque o cilindro secante (5) não é concêntrico aocilindro diatisário (1), nem ao cone epitisário(2), estando deslocado para fora. Isto explica aforma da superfície articular: uma meia-lua "en-

rolada" num cilindro, com uma haste pela fren­te e outra por trás, que "limitam" o processo es­tilóide da ulna (8), deslocado-a em direção pós­tero-interna da epítise. Na verdade, esta superfí­cie não é totalmente cilíndrica (tig. 3-27) já queo seu gerador está levemente convexo para fora,o que lhe dá uma forma de barrilÚnho inclinadopara baixo e para dentro, embora esteja inscritanum cone de vértice inferior cujo eixo é parale­lo ao eixo diatisário da ulna d. A superfície peri­férica da cabeça da ulna (A, vista de perfil, B,vista anterior) apresenta uma altura máxima (h)para frente e levemente para fora.

A superfície inferior da cabeça da ulna (D)apresenta uma superfície semilunar cuja largu­ra máxima corresponde com o ponto de máxi­ma altura (h) da superfície periférica. Destamaneira, sobre o plano de simetria (seta) estãoalinhados: a inserção do LU da rádio-ulnar(quadrado) sobre o processo estilóide, a inser­ção principal do vértice do ligamento triangu­lar (estrela), o centro da curva da superfície pe­riférica (cruz) e o ponto de máxima altura docontorno.

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1. MEMBRO SUPERIOR 119

\8~

c

Fig.3-26

B A

Fig.3-27

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120 FISIOLOGIA ARTICULAR

ANATOMIA FISIOLÓGICA DA ARTICULAÇÃO RÁDIO-ULNAR INFERIOR(continuação)

(as explicações são as mesmas para todas as figuras)

A segunda superfície, a cavidade sigmóidedo rádio (3), está presa pela epífise do rádio(figs. 3-28 e 3-29), onde está incluída nos ramosde desdobramento da margem interna (2). Estasuperfície (3) está "orientada" para dentro (fig.3-29), é côncava de diante para trás, plana ou le­vemente côncava de cima para baixo, está ins­crita na superfície de um cone de vértice inferior(fig. 3-27, c). A sua máxima altura se localiza naparte média e se articula com a superfície cilín­drica (4) da cabeça radial.

Na sua margem inferior se insere o liga­mento triangular (5) situado no plano horizon­tal (fig. 5-30, secção frontal). O seu vértice se in­sere por dentro, em três níveis:

- a fossa localizada entre o processo es­tilóide e a superfície inferior da cabeçada ulna;

- a superfície externa do processo estilói­de da ulna;

- a superfície profunda do LU da articu­lação rádio-carpeana.

Assim sendo, o ligamento triangular ocupao espaço entre a cabeça da ulna e o piramidal,constituindo uma "almofada elástica" que secomprime no curso da adução do punho. As suasmargens anterior e posterior são mais espessas,apesar de a secção ser bicôncava (fig. 3-29, vis­ta ântero-superior interna). A sua superfície su­perior, preenchida de cartilagem, prolonga a ca­vidade glenóide do rádio (8) para dentro, limita­da por fora pelo processo estilóide radial (1), ese articula com o côndilo carpeano (13).

Desta forma, o ligamento triangular aomesmo tempo é:

- um meio de união da articulação rádio­ulnar inferior;

- uma supeifície articular; acima se arti­cula com a cabeça ulnar e abaixo com ocôndilo carpeano. Devemos ressaltarque a cabeça ulnar não se articula como côndilo carpeano;

- um septo entre a articulação rádio-ulnarinferior (acima) e a articulação rádio­carpeana (abaixo) (fig. 3-30), que sãoanatomicamente diferentes, menos noscasos em que:

• o ligamento triangular, muito bicônca­vo, esteja perfurado no seu centro;

• a inserção da sua base esteja incomple­ta (figs. 3-28 e 3-29) e .deixe uma pe­quena fenda (6), mais freqüente com aidade, o que, para alguns autores, seriaa prova de sua origem atrófica.

Forma uma cavidade receptora (fig. 3-29)para a cabeça radial junto com a cavidade sig­móide do rádio. Parte desta cavidade receptoratem a propriedade de se deformar.

Funcionando como um autêntico "meniscosuspenso" entre a articulação rádio-cubital infe­rior e a rádio-carpeana, o ligamento triangularestá submetido a importantes forças (fig. 3-31):tração (seta horizontal), compressão (setas verti­cais), movimento de ziguezague (setas horizon­tais) Freqüentemente, estas forças se combinam.

Page 126: Kapandji - Volume 1

Fig.3-28

1. MEMBRO Sl.JPERIOR 121

5

Fig.3-29

Fig.3-31

Fig.3-30

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122 FISIOLOGIA ARTICULAR

DINÂMICA DA ARTICULAÇÃO RÁDIO-ULNAR SUPERIOR(nas figuras 3-32, 3-33, 3-34 e 3-35, a fileira superior (a) corresponde à supinação, a inferior (b) à pronação;

os números das explicações são os mesmos)

o movimento principal (fig. 3-32) é ummovimento de rotação da cabeça radial (1), aoredor do seu eixo xx', no interior de um anel (2)osteofibroso, ligamento anular-pequena cavida­de sigmóide.

Este movimento está limitado (fig.3-33) pela tensão do ligamento quadrado de Dé­nucé (3) que, desta forma, atua como freio.

Por outro lado, não é cilíndrica, mas leve­mente ovalada: o seu eixo maior (fig. 3-34, a),oblíquo de diante para trás, mede 28 mm, emcomparação com os 24 mm do eixo menor. Istoexplica que o anel que aperta a cabeça radial nãopode ser ósseo, rígido. Está constituído, nassuas três partes, pelo ligamento anular, flexível,o que permite que se deforme, ao mesmo tempoque proporciona à cabeça radial uma fixaçãopermanente.

Os movimentos secundários são quatro:

1) abóbada radial (1) gira ao contato docôndilo umeral (fig. 3-36);

2) o bisel radial (2) (ver pág. 92) se deslizapor baixo da cabeça conóide (fig. 3-36);

3) o eixo da cabeça radial se desloca parafora durante a pronação (fig. 3-35). Estefato se deve à forma "ovalada" da cabe­ça radial: na pronação (b) o eixo maiorda abóbada está transversal, deslocando

o eixo xx' para fora, a uma distância (e)igual à metade da diferença entre os doiseixos da abóbada e equivalente a 2 mm.A importância deste deslocamento me­cânico é primordial: permite que o rádio

se afaste da ulna no momento ideal paraque a tuberosidade bicipital possa pas­sar pela fossa supinadora (nela se inse­re o músculo supinador). A seta brancada figura 3-32, b, indica esta insinuaçãoda tuberosidade bicipital "entre" o rádioe a ulna.

4) o plano da superfície da cabeça radialse inclina para baixo e para fora, duran­te a pronação (fig. 3-37). Isto se deve aomovimento de rotação do rádio ao redorda ulna durante a pronação:

- no início do movimento, em supina­ção (a), o eixo diafisário do rádio évertical e paralelo ao da ulna;

- no fim do movimento, em pronação(b), o eixo do rádio é oblíquo parabaixo e para dentro: o plano da abó­bada radial, que é perpendicular a es­te eixo, se inclina para baixo e parafora e forma um ângulo (y) com oplano horizontal.

Neste movimento, o eixo diafisário do rá­dio "varre" uma porção da superfície cônica cu­jo eixo (pontilhado fino) é o eixo comum para asduas articulações rádio-ulnares.

Observamos também que a ulna valga (vertambém figo 3-26, pág. 95) que, em supinaçãoaparece claramente (c), pode desaparecer empronação (d) devido à mudança de obliqüidadedo eixo diafisário do rádio: em pronação, o eixoglobal do antebraço se localiza no prolonga­mento do eixo do braço.

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1. MEMBRO SUPERIOR 123

a

~ b

Fig.3-35

a

Fig.3-34

2

b

b

Fig.3-37

Fig.3-33

X'

Fig.3-32

2

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124 FISIOLOGIA ARTICULAR

DINÂMICA DA ARTICULAÇÃO RÁDIO-ULNAR INFERIOR

Podemos começar pensando que a nInapermanece fixa e que só o rádio é móvel. Nes­te caso (fig. 3-38), o eixo de pronação-supina­ção na mão se localiza no nível do lado ulnar edo quinto dedo (o eixo está indicado por umacruz preta). Isto acontece quando o antebraço,apoiado sobre uma mesa, realiza movimentos depronação-supinação sem perder o contato com amesa.

O principal movimento (fig. 3-39) é umatranslação circunferencial da porção inferior dorádio ao redor da ulna.

- supinação: rádio e ulna vistos de baixoapós ablação do carpo e do ligamentotriangular. Amplitude de 90°.

- pronação: amplitude de 85°.

Este movimento de translação circunferen­cial fica explícito quando o rádio é comparado auma manivela (figs. 3-40 e 3-41): a trajetória deum ramo (o outro permanece fixo) é uma trans­lação circunferencial:

- o deslocamento circular (seta tracejada,figo 3-40, manivela em supinação) emtorno de um cilindro, que corresponde àcabeça ulnar;

- rotação sobre si mesma, manifestada pe­la mudança de direção da seta branca(fig. 3-41): o processo estilóide radial"se orienta" para fora durante a supina­ção e para dentro durante a pronação.

Quando o rádio gira ao redor da ulna, pas­sando da supinação à pronação, a congruênciaarticular (concordância geométrica das superfí­cies) varia.

Isto é devido a:

- por um lado, as superfícies articularesnão são superfícies de revolução; o seuraio de curva varia: é mais curto no cen­tro que nas extremidades;

- por outro lado, o raio de curva da cavi­dade sigmóide é levemente maior que oda cabeça ulnar.

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SUPINAÇÃO PRONAÇÃO

Fig.3-39

1. 1-lEMBRO SUPERIOR 125

Fig.3-38

Fig.3-40

I -­I

Fig.3-41

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126 FISIOLOGIA ARTICULAR

DINÂMICA DA ARTICULAÇÃO RÁDIO-ULNAR INFERIOR(continuação)

Portanto, existem posições incongruen­tes (fig. 3-42), em supinação (B), a cabeça ulnarsó entra em contato com a cavidade sigmóideatravés de uma pequena parte da sua superfíciee os raios de curva são pouco concordantes, daívem esta escassa congmência; e em máximapronação (C), está agravada por uma verdadeirasubluxação posterior da cabeça ulnar, e uma po­sição de máxima congruência que, em geral secorresponde com a posição intermédia ou posi­ção zero (nula): a máxima altura da superfícieperiférica coincide com a altura máxima da ca­vidade sigmóide de maneira que, simultanea­mente, o contato entre as superfícies é máximoenquanto coincidam os raios da curva.

Durante os movimentos de pronação-su­pinação, o ligamento triangular "varre" literal­mente a superfície inferior da cabeça ulnar (fig.3-43) como se fosse um limpador de pára-brisas,mas o que provoca a descentralização do seuponto de inserção ulnar é o que proporciona anotável variação do seu estado de tensão:

- a tensão é mínima em máximas supina­ção e pronação (B e C);

- pelo contrário, a tensão é máxima naposição de máxima congruência, que secorresponde com a maior altura da su­perfície periférica da cabeça ulnar,porque o ligamento "percorre" o cami­nho mais longo entre a sua inserção e ocontorno da cabeça (D).

De maneira que podemos nos referir a umaposição de estabilidade máxima da articulaçãorádio-ulnar inferior, que se corresponde, em ge­ral, co~ a posição intermédia de pronação-supi­nação. E o que denominamos "c1ose-packed po­sition" de Mac Conai11: congmência máxima

das superfícies associada com tensão ligamentarmáxima. Neste caso não é uma posição de blo­queio intermédio, embora possamos observar adistribuição de funções entre o ligamento trian­gular e a membrana interóssea:

- em máximas pronação e supinação, o li­gamento triangular está estendido, po­rém a membrana interóssea está tensa.Observamos que os ligamentos anteriore posterior da articulação rádio-ulnar in­ferior, pequenos espessamentos capsu­lares, não desempenham nenhuma fun­ção nem na coaptação, nem na limitaçãodos movimentos;

- em posição de estabilidade máxima,perto da posição intermédia, o ligamen­to triangular está tenso e a membranainteróssea está distendida, a menos queos músculos que se inserem nela provo­quem a sua tensão novamente.

Em resumo, podemos afirmar que a coapta­ção da articulação rádio-ulnar inferior está fixapor duas formações anatômicas desconhecidasfreqüentemente no tratamento das lesões trau­máticas desta zona: a membrana interóssea, cu­ja função é primordial, e o ligamento triangular.

A pronação está limitada pelo impacto derádio contra a ulna, daí vem a importância da le­ve concavidade da diáfise radial para frente, demaneira que atrasa o contato.

A supinação está limitada pelo impacto doextremo posterior da cavidade sigmóide contra oprocesso estilóide ulnar através do tendão do ex­tensor ulnar do carpo. Nenhum ligamento podedeter este movimento que, apesar disso, consegueamortecer o tônus dos músculos pronadores.

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A

1. MEMBRO SUPERIOR 127

B

Fig.3-42

c

BD

A

Fig.3-43

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128 FISIOLOGIA ARTICULAR

o EIXO DE PRONAÇÃO-SUPINAÇÃO

Até agora tratamos a fisiologia da articula­ção rádio-ulnar inferior (RUI) isoladamente,mas é fácil compreender que existe um par fun­cional entre a articulação rádio-ulnar inferior e asuperior, porque estas duas articulações estãomecanicamente unidas de maneira que uma nãopode funcionar sem a outra.

Este par funcional se encontra em dois ní­veis: o dos eixos e o da congruência.

As duas articulações rádio-ulnares são co­axiais: o seu funcionamento normal necessita deque o eixo de uma seja o prolongamento do eixoda outra (fig. 3-44) sobre uma mesma reta XX'que constitui a charneira de pronação-supinaçãoe passa pelo centro das cabeças ulnar e radial.

Durante o seu movimento com relação à ul­na, ao redor deste eixo, o rádio se desloca sobreum segmento de superfície cônica, aberto portrás, de base inferior e cujo vértice se situa no ní­vel da articulação côndilo-radial.

Estando a cabeça ulnar fixa, a pronação-su­pinação se realiza por rotação da epífise radialinferior ao redor do eixo da articulação rádio-ul­nar inferior que também é o da rádio-ulnar supe­rior. Esta situação é a única em que o eixo depronação-supinação se confunde com a chernei­ra de pronação-supinação.

As duas articulações rádio-ulnares são co­axiais igual às duas dobradiças de uma porta(fig. 3-45): os seus eixos estão sobre uma mes­ma reta. Neste caso a porta pode-se abrir sem di­ficuldade (a).

Quando estas duas articulações deixam deser co-axiais, devido a uma fratura mal reduzi­da de um ou de ambos os ossos, a pronação-su­pinação se encontra comprometida dado quenão existem duas charneiras para o mesmosegmento móvel: é o caso de uma porta cujasdobradiças deixam de estar alinhadas e que ne­cessitaria se partir em duas para poder abrir to­talmente.

Se a pronação-supinação se realiza ao re­dor de um eixo que passa pela coluna do pole­gar, o rádio gira ao redor do processo estilóideradial (fig. 3-46), ao redor de um eixo que nãoé a charneira da pronação-supinação, e a extre­midade inferior da ulna sofre urna translaçãoseguindo um semicírculo que a desloca parabaixo e para fora, sem deixar de permanecerparalela a si mesma. O componente verticaldeste movimento pode-se explicar por um mo­vimento de extensão seguido por um movi­mento de flexão na articulação úmero-ulnar.Com relação ao deslocamento para fora, pare­ce difícil, em vista da sua amplitude (quaseduas vezes a amplitude do punho) explicar, co­mo fazemos até agora, por um movimento delateralidade numa articulação troclear tão fe­chada quanto a da úmero-ulnar. M.C. Dbjaypropôs recentemente uma explicação mais me­cânica e satisfatória: a rotação externa asso­ciada com o úmero sobre o seu eixo longitudi­nal (fig. 3-47) que provoca o deslocamento ex­terno da cabeça ulnar (A) enquanto o rádio gi­ra sobre si mesmo (B).

Page 134: Kapandji - Volume 1

1. MEMBRO SUPERIOR 129

Fig.3-46

BFig.3-45

A

Fig.3-44

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130 FISIOLOGIA ARTICULAR

o EIXO DE PRONAÇÃO-SUPINAÇÃO(continuação)

Para confirmar esta hipótese seriam neces­sárias radiografias precisas ou registros eletro­miográficos dos rotadores, para ser objetivos,demonstrando que a sua amplitude é de 5° a 20°.Se a experiência a confirmasse, esta hipótese so­mente seria válida no caso da pronação-supina­ção com o cotovelo flexionado em um ânguloreto, quando alcança a sua amplitude máxima(supinação de 90° e pronação de 80-85°). Com ocotovelo em extensão total, a ulna está imobili­zada devido ao encaixe do olécrano na sua fossae se o cotovelo for imobilizado com firmeza po­demos comprovar que a pronação é quase nula,enquanto a supinação se mantém intata em todaa sua amplitude. A pronação perdida é compen­sada por uma rotação interna do úmero. No cur­so da extensão do cotovelo existiria um "pontode transição" no qual a rotação associada com oúmero seria nula.

Que podemos dizer sobre a limitação dapronação em 45° com o cotovelo completamen­te tlexionado? Parece que o úmero não pode gi­rar sobre o seu eixo longitudinal, de maneira queé necessário um deslocamento para fora da ca­beça ulnar mediante um movimento de laterali­dade externa na tróc1ea do cotovelo.

Entre os dois casos extremos, em que o ei­xo de pronação-supinação passa pelo lado ulnarou pelo lado radial do punho, a pronação-supi­nação normal baseada na preensão tridigital(fig. 3-48) se realiza ao redor de um eixo inter­mediário que passa pela epífise inferior do rádio,

perto da cavidade sigmóide (fig. 3-49): o rádiogira sobre si mesmo aproximadamente 180° e aulna desloca, sem nenhuma rotação, por umatrajetória em arco de círculo de igual centro, in­tegrando um componente de extensão E e umcomponente de lateralidade externa L.

O eixo de pronação-supinação ZZ', semmaterializar, é na verdade totalmente diferenteda charneira de pronação-supinação (fig. 3-50)que, deslocado de XX' para YY' pela cabeça ul­nar descreve um segmento de superfície cônicacuja cavidade está "orientada" para frente.

Definitivamente, não existe uma pronação­supinação, mas várias pronações-supinações,das quais a mais comum se realiza sobre um ei­xo que passa pelo rádio e ao redor do qual "gi­ram" os dois ossos. O eixo de pronação-supina­ção, geralmente diferente da charneira de pro­nação-supinação, é um eixo sem materializar,variável e evolutivo.

O fato de que este eixo de pronação-supina­ção esteja sem materializar e não esteja fixo nãosignifica de jeito nenhum que não exista; nestecaso também não existiria o eixo de rotação daTerra. O fato de que a pronação-supinação sejauma rotação permite deduzir exatamente que oeixo de pronação-supinação existe, real emboraimaterial, e que se confunde com a chameira depronação-supinação excepcionalmente, mas asua posição com relação ao esqueleto dependetanto do tipo de pronação~supinação quanto doseu estado em cada instante.

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Fig.3-48

L

~111111111111111111111111111111l~i 1I II ,III

II

Fig.3-49

1. MEMBRO SUPERIOR 131

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Fig.3-50

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132 FISIOLOGIA ARTICULAR

AS DUAS ARTICULAÇÕES RÁDIO-ULNAR SÃO CO-CONGRUENTES

o par funcional das articulações rádio-ul­nar se destaca pela sua congruência simultânea:a posição de estabilidade máxima da articulaçãorádio-ulnar inferior (RUI) e a da articulação rá­dio-ulnar superior (RUS) se consegue com omesmo grau de pronação-supinação (fig. 3-51).Ou seja, quando a cabeça da ulna se situa na suaaltura máxima (h) na éavidade sigmóide do rá­dio, o contorno da cabeça radial também alcan­ça a sua altura máxima (y) na pequena cavidadesigmóide da ulna. O plano de simetria da cavi­dade sigmóide do rádio (s) e o da cabeça radial(T), que passam pelo ponto de maior altura docontorno, formam um ângulo diedro para dentroe para frente ou um ângulo de torção do rádioigual ao ângulo de torção da ulna determinadoda mesma maneira pelo plano de simetria da ca­beça ulnar (passando pelo ponto de maior alturado contorno) e pelo da pequena cavidade sig­móide da ulna.

Porém, este ângulo varia dependendo decada pessoa (fig. 3-52). Para se convencer é su­ficiente observar uma ulna "em escapada" pelasua extremidade inferior.

Dependendo da posição do estilóide ulnar edo ponto de máxima altura no contorno da cabe­ça, podem aparecer três casos:

a) o processo estilóide está situado exata­mente por trás: o plano de simetria (S)da cabeça ulnar coincide com o plano sa­gital (F), que contém a crista romba dagrande cavidade sigmóide. Não existenem "avanço" nem "atraso" para a pro-

nação e a posição de estabilidade máxi­ma coincide com a posição intermédiade pronação-supinação;

b) o processo estilóide está situado por tráse levemente para dentro: o plano de si­metria da cabeça ulnar (S) forma um ân­gulo aberto para frente e para fora de 20°com o plano sagital (F). Se avalia em-20° e se diz que existe um "atraso de20° da pronação". A posição de estabili­dade máxima não coincide com a posi­ção intermédia. Está em supinação de20° de maneira que a pronação completaé menos ampla que no caso anterior;

c) o processo estilóide está situado por tráse levemente para fora: desta vez existeum ângulo de "avanço da pronação",por exemplo de 15°, avaliado +15°, e aposição de estabilidade máxima é a de15° de pronação, e a amplitude da pro­nação máxima é maior que nos dois ca­sos anteriores.

Para cada um dos três casos existe um ân­gulo diferente de torção da ulna, sendo maisagudo quanto mais acentuado seja o "avanço dapronação". Embora em todos os casos o ângulode torção da ulna (u) seja igual ao ângulo de tor­ção do rádio (r), o que determina a congruênciasimultânea das duas articulações rádio-ulnares.

Um estudo estatístico sobre numerosos ca­sos permitiria, sem dúvida, conhecer as varia­ções e as distribuições dos ângulos.

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B

B

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A

Fig.3-51

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A

Fig.3-52

1. MEMBRO SUPERIOR 133

Fn +150

c

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134 FISIOLOGIA ARTICULAR

OS MOTORES DA PRONAÇÃO-SUPINAÇÃO: OS MÚSCULOS

Para poder compreender a forma de atuardos músculos rotadores devemos analisar, desdeum ponto de vista mecânico, a forma do rádio(fig. 3-53).

Este osso está constituído por três segmen­tos cuja união representa, de maneira aproxima­da, uma manivela.

- o colo (segmento superior, oblíquo parabaixo e para dentro) forma com o seg­mento médio (porção média da diáfise,oblíqua para baixo e para fora) um ângu­lo obtuso aberto para fora, cujo vértice(seta 1) está ocupado pela tuberosidadebicipital, inserção do bíceps. Estes doissegmentos descrevem, em conjunto, a"curva supinadora" do rádio;

- o segmento médio constitui, com o seg­mento inferior (oblíquo para baixo e pa­ra dentro), um ângulo obtuso aberto pa­ra dentro, cujo vértice (seta 2) é o pontode inserção do pronador redondo. Am­bos os segmentos descrevem, em con­junto, a "curva pronadora" do rádio.

É preciso ressaltar que a "manivela radial"é oblíqua com respeito ao seu eixo (esquema pe­queno): de fato, este eixo xx', que é o eixo depronação-supinação, passa pelos extremos dosramos e não pelos próprios ramos. De maneiraque os vértices das duas curvas se localizam aum lado e a outro do eixo.

O eixo xx' é comum para as duas articula­ções rádio-ulnares; esta coincidência dos dois ei­xos é indispensável para poder realizar a prona­ção-supinação. Isto requer que os dois ossos es­tejam íntegros, sem fraturas, seja em conjunto ouem separado.

Existem duas formas de mover essa mani­

vela (fig. 3-54):- "desenrolar" um tracionador enrolado em

um dos ramos (seta 1);

~ puxar do vértice de uma das curvas (seta2).

Esta é a forma de atuar dos músculos prona­dores-supinadores.

Os músculos pronadores-supinadores sãoquatro, associados de dois em dois. Para cada umdos movimentos existem:

, - um músculo curto e plano, cuja ação é ade "desenrolar" (ver seta 1);

- um músculo longo que se insere no vérti­ce de uma curva (ver seta 2).

Músculos motores da supinação (figs.3-55 e 3-56; secções, lado direito, vista do frag­mento inferior). São os seguintes:

1) o supinador (1), enrolado em tomo do co­lo do rádio (fig. 3-56, a): atua ao "desenro­lar-se";

2) o bíceps (2), que se insere no vértice dacurva supinadora no nível da tuberosidadebicipital (fig. 3-56, b): atua por tração e

mostra a sua máxima eficácia quando o co­tovelo está em ftexão de 900• E o músculo

mais potente de todos os que intervêm napronação-supinação, o que explica que seenrole como um parafuso "supinando",com o cotovelo ftexionado.

Músculos motores da pronação (figs.3-57 e 3-58). São os seguintes:

1) o pronador quadrado (1), enrolado ao re­dor da extremidade inferior da ulna: atua

"desenrolando" a ulna com relação ao rá­dio (fig. 3-58, vista inferior, lado direito);

2) o pronador redondo (2), que se insere novértice da curva pronadora, atua por tra­ção, mas o seu momento de ação é fraco,especialmente com o cotovelo em exten­são.

Os músculos pronadores são menos potentesque os supinadores: na tentativa de desaparafusarum parafuso bloqueado, é necessária a ajuda dapronação obtida mediante a abdução do ombro.

Apesar do seu nome, o braquiorradial não ésupinador, mas ftexor do cotovelo. Não é supina­dor inclusive na posição zero, a não ser a partir dapronação completa. Paradoxalmente, a partir dasupinação completa, é pronador até a posição zero.

Existe somente um nervo para a pronação: omediano. Dois nervos para a supinação: o radial éo músculo-cutâneo (no caso do bíceps).

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Fig.3-54 Fig.3-56

1. tvfEMBRO SUPERIOR 135

Fig.3-57

Fig.3-58

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136 FISIOLOGIA ARTICULAR

AS ALTERAÇÕES MECÂNICAS DA PRONAÇÃO-SUPINAÇÃO

Fraturas dos dois ossos do antebraço (figs.3-59 e 3-60, segundo Merle D'Aubigne).

O deslocamento dos fragmentos é diferentedependendo da localização das linhas de fratura;está condicionado pelas ações musculares.

1) se a linha de fratura radial se localizano terço superior (fig. 3-59), separafragmentos sobre os que atuam múscu­los com a mesma função: supinadores nofragmento superior, pronadores no frag­mento inferior. Neste caso, o desloca­mento (rotação dos fragmentos um comrelação ao outro) será máximo: o frag­mento superior estará em pronação má­xima e o inferior em supinação máxima;

2) se a linha de fratura radial se localiza naporção média (fig. 3-60), o deslocamentoserá normal. De fato:

- a pronação do fragmento inferior érealizada exclusivamente pelo prona­dor quadrado;

- a supinação do fragmento superior émoderada pelo pronador redondo.

O deslocamento fica reduzido pela me­tade.

A redução deve corrigir o desvio angular etambém restabelecer as curvas de ambos os ossos,principalmente do rádio:

- curva no plano sagital, de concavidadeanterior. Se desaparece ou fica invertida, apronação é menos ampla;

~ curvas no plano frontal, na prática a CUI­

va pronadora, sem a qual a pronação fi­ca limitada pela ineficácia do pronadorredondo.

Luxações das articulações rádio-ulnares

1) luxação da articulaçãorádio-ulnar inferiorPode ocorrer de forma isolada ou associa­da com uma fratura da diáfise radial. Oseu tratamento é complicado e pode pro­vocar a ressecção da cabeça ulnar (opera­ção de Darrach) ou a sua reposição.Somente podemos repor e fixar com para­fuso se provocamos uma pseudo-artroseintencionada por ressecção segmentária

da ulna, pela parte de cima (fig. 3-61)(operação de M. Kapandji e Sauvé);

2) luxação da cabeça radialAssocia-se com freqüência (fig. 3-62) auma fratura por impacto direto (seta bran­ca) da ulna (fratura de Monteggia). A lu­xação da cabeça radial para cima (setapreta) se produz quando o bíceps se con­trai (seta tracejada): para realizar a opo­nência desta ação luxante do bíceps, é ne­cessário reconstruir cirurgicamente um li­gamento anular.

Fraturas da porção inferior do rádio

Durante as fraturas da porção inferior do rá­dio (fig. 3-63), a basculação externa da epífise ra­dial (A) provoca uma incongruência da articula­ção rádio-ulnar inferior e uma tensão exageradado ligamento triangular. Se não reduzimos o des­locamento com precisão e se a consolidação serealiza com um calo vicioso, a pronação-supina­ção pode estar gravemente alterada.

Quando o traumatismo é suficientemente in­tenso para arrancar o ligamento triangular, fatoque observamos em radiografias, o resultado é omesmo.

Em alguns casos (B), o ligamento triangulararranca a sua inserção interna, isto é, a estilóide ra­dial (fratura de Gerard-Marchant). Isto provocaduas conseqüências:

- uma luxação da articulação rádio-ulnarinferior com diástase, limitada unicamen­te pela membrana interóssea;

- uma entorse grave do ligamento lateralinterno da articulação rádio-carpeana.

A basculação posterior das fraturas da porçãoinferior do rádio (fig. 3-64) também prejudica apronação-supinação:

a) em estado normal os eixos das superfíciesradial e ulnar se confundem;

b) quando o fragmento epifisário inferior dorádio realiza a basculação para trás, o eixoda superfície radial forma com o da super­fície ulnar um ângulo aberto para baixo epara trás: a congruência das superfícies ar­ticulares desaparece.

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Fig.3-61

Fig.3-62

Fig.3-63

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Fig.3-59

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138 FISIOLOGIA ARTICULAR

COMPENSAÇÕES E POSIÇÃO FUNCIONAL

"A supinação se realiza com o antebra­ço" (fig. 3-65)

De fato, como a posição normal do membrosuperior é ao longo do corpo com o cotovelo fle­xionado, não existe outra possibilidade de reali­zar a supinação se não for nas articulações rádio­ulnares exclusivamente: verdadeira supinação.

. É o movimento que se realiza quando abri­mos uma fechadura com chave.

O fato de que o ombro não intervém na supi­nação explica a dificuldade para compensar a para­lisia da supinação. Contudo, isto se atenua porquea paralisia completa da supinação é rara, porque obíceps possui uma inervação diferente (nervo mús­culo-cutâneo) da do supinador (nervo radial).

"A pronação se realiza com o ombro"(fig. 3-66)

Porém, no caso da pronação, a ação dosmúsculos pronadores puros pode-se ampliarcom relativa facilidade ou pode-se compensarcom uma abdução do ombro. É O movimentorealizado para virar o conteúdo de uma panela.

Posição funcional

Esta posição se situa entre:

- a posição intermédia (fig. 3-67) utilizada,por exemplo, para segurar um martelo;

- e a posição de semi-pronação (figs. 3-68e 3-69): segurar uma colher ou escre­ver.

A posição funcional corresponde a um es­tado de equilíbrio natural entre os gruposmusculares antagonistas e, portanto, com o mí­nimo gasto muscular possível.

O movimento de pronação-supinação é im­prescindível para levar os alimentos à boca. Defato, quando pegamos um alimento de um planohorizontal (uma mesa ou o chão), a mão realiza asua aproximação em pronação, para pegar o ob­jeto por cima e o cotovelo se estende. Para levaro alimento até a boca é necessário flexionar o co­tovelo ao mesmo tempo que se apresenta o ali­mento realizando um movimento de supinaçâo.

É necessário fazer duas advertências:

- a supinação "poupa" a flexão do co­tovelo: se fosse necessário levar omesmo objeto até a boca mantendouma atitude de pronação, para realizareste gesto precisamos de uma maiorflexão do cotovelo;

- o bíceps é o músculo que melhor seadapta a este movimento "alimen­tar", já que é flexor do cotovelo e su­pinador.

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1. MEMBRO SUPERIOR 139

Fig.3-68

~.

Fig.3-69

Fig.3-66

Fig.3-67

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140 FISIOLOGIA ARTICULAR

SIGNIFICADO

o punho, articulação distal do membro su­perior, permite que a mão - segmento realiza­dor - se coloque numa posição ótima para apreensão.

De fato, o complexo articular do punhopossui dois graus de liberdade. Com a prona­ção-supinação, rotação do antebraço sobre o seueixo longitudinal, a mão pode-se orientar em

qualquer ângulo para pegar ou segurar um ob­jeto.

O complexo articular do punho compreen­de duas articulações:

- a rádio-carpeana, que articula a glenóideantebraquial com o côndilo carpeano;

- a médio-carpeana, que articula entre elasas duas fileiras dos ossos do carpo.

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1. MEMBRO SUPERIOR 141

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142 FISIOLOGIA ARTICULAR

DEFINIÇÃO DOS MOVIMENTOS DO PUNHO

Os movimentos do punho (fig. 4-1) se rea­lizam em torno de dois eixos, com a mão em po­sição anatômica, isto é, em máxima supinação:

-.- um eixo AA', transversal, que pertenceao plano frontal (tracejado vertical). Es-te eixo condiciona os movimentos deftexão-extensão que se realizam no pla­no sagital (tracejado horizontal):

• flexão (seta 1): a superfície anterior oupalmar da mão se aproxima da super­fície anterior do antebraço;

• extensão (seta 2): a superfície poste­rior ou dorsal da mão se aproxima dasuperfície posterior do antebraço. Épreferível não utilizar os termos fte­xão dorsal e, com maior motivo, fte­xão palmar, por tratar-se de uma tau­tologia.

- um eixo BB', ântero-posterior que per­tence ao plano sagital (tracejado hori­zontal). Este eixo condiciona os movi­mentos de adução-abdução que se reali­zam no plano frontal (tracejado verti­cal):

• adução ou desvio ulnar (seta 3): a mãose aproxima do eixo do corpo e o seulado interno - ou lado ulnar (do dedomínimo) -, forma, com o lado internodo antebraço, um ângulo obtuso aber­to para dentro;

• abdução ou desvio radial (seta 4): amão se afasta do eixo do corpo e o seulado externo - ou lado radial (do po~legar) -, forma, com o lado externodo antebraço, um ângulo obtuso aber­to para fora.

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1. MEMBRO SUPERIOR 143

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144 FISIOLOGIA ARTICULAR

AMPLITUDE DOS MOVIMENTOS DO PUNHO

I

Movimento de abdução-adução (fig. 4-2)

A amplitude dos movimentos é medida apartir da posição de referência (a): o eixo damão, representado pelo terceiro metacarpeano eterceiro dedo, se localiza no prolongamento doeixo do antebraço.

A amplitude do movimento de abdução oudesvio radial (b) não excede os 150•

A amplitude de adução ou desvio ulnar (c)é de 450, quando medimos o ângulo na linha queune o centro do punho com a porção distal doterceiro dedo (linha tracejada).

Contudo, esta amplitude é diferente depen­dendo do que consideramos:

- o eixo da mão: em cujo caso é de 300;

- o eixo do dedo médio: em cujo caso é de550•

Isto se deve a que a adução da mão se asso­cia com a adução dos dedos.

Todavia, na prática, podemos considerarque a amplitude da adução é de 450•

Devemos ressaltar vários fatos:

- o desvio ulnar é de duas a três vezes maisamplo do que o desvio radial;

- o desvio ulnar é mais amplo em supina­ção que em pronação (Sterling Bunnel),quando não ultrapassa os 25-300;

- em geral, a amplitude dos movimentosde adução-abdução é mínima em flexãoforçada ou em extensão do punho, posi­ções nas quais os ligamentos do carpoestão tensos. É máxima na posição dereferência ou em leve flexão, porque osligamentos se distendem.

Movimentos de flexão-extensão (fig. 4-3)

A amplitude dos movimentos é medida apartir da posição de referência (a): punhoalinhado, superfície dorsal da mão no pro­longamento da superfície posterior do ante­braço.

A amplitude da flexão (b) é de 850, isto é,que não alcança os 900•

A amplitude da extensão (c), incorreta­mente denominada "flexão dorsal", também éde 850, de modo que também não alcança os900•

Como no caso dos movimentos laterais, aamplitude dos movimentos depende do grau dedistensão dos ligamentos do carpo:

- a flexão-extensão é máxima quando amão não se encontra nem em abduçãonem emadução;

-- a flexão-extensão é de menor amplitudequando o punho está em pronação.

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b

a

Fig.4-2

1. MEMBRO SUPERIOR 145

c

b a

Fig.4-3

c

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146 FISIOLOGIA ARTICULAR

o MOVIMENTO DE CIRCUNDUÇÃO

o movimento de circundução se define co­mo a combinação dos movimentos de flexão-ex­tensão com os movimentos de adução-abdução.

Então, é um movimento que se realiza, si­multaneamente, com relação aos dois eixos da ar­ticulação do punho.

Quando o movimento de circundução alcan­ça a sua máxima amplitude, o eixo da mão des­creve uma superfície cônica no espaço, denomi­nada "cone de circundução" (fig. 4-4).

Este cone tem um vértice O, localizado no"centro" do punho, e uma base, representada nafigura pelos pontos F, R, E, C, que descrevem atrajetória que segue a ponta do dedo médio duran­te o movimento de máxima circundução.

Além disso, o citado cone não é regular, asua base não é circular. Isto se deve a que a am­plitude dos diferentes movimentos elementaresnão é simétrica com relação ao prolongamento doeixo do antebraço 00'.

Sendo a amplitude máxima no plano sagita!FOE e mínima no plano frontal ROC, o cone éachatado no sentido transversal e podemos com­parar a sua base com uma elipse (fig. 4-5, c) comum eixo maior ântero-posterior FE.

Inclusive está deformada pela parte internaC, devido à maior amplitude do desvio ulnar. Porconseguinte, o eixo do cone de circundução OAnão se confunde com 00', mas que se encontraem desvio ulnar de 15°. Por outro lado, a posiçãoda mão em adução de 15° corresponde à posiçãode equilíbrio entre os músculos que dirigem odesvio. É um elemento da posição funcionaL

A figura 4-5 mostra a parte da base do co­ne de circundução (c):

- o corte do cone pelo plano frontal (a)com a posição de abdução R-adução Ce o eixo do cone de circundução OA;

- o corte do cone pelo plano sagital (b)com a posição de flexão F e a posiçãode extensão E.

A amplitude dos movimentos do punho émenor em pronação do que em supinação, demodo que o cone de circundução é menos"aberto" em pronação.

Contudo, graças aos movimentos asso­ciados de pronação-supinação, o achatamentodo cone de circundução pode-se compensar decerto modo, e o eixo da mão pode ocupar to­das as posições no interior de um cone cujoângulo de abertura é de 160 a 170°.

Além disso, como em todas as articula­ções com dois eixos e dois graus de liberdade,do mesmo modo que vamos expor mais adian­te ao falar da articulação trapézio-metacarpea­na, um movimento simultâneo ou sucessivo

em torno de dois eixos ocasiona uma rotaçãoautomática ou inclusive uma rotação conjunta(Mac Conaill) em torno do eixo longitudinaldo segmento móvel, a mão, que orienta a pal­ma em direção oblíqua com relação ao planoda superfície anterior do antebraço. Isto nãoestá claro, salvo nas posições de extensão-adu­ção e de flexão-adução, embora não tenha amesma importância funcional que no caso dopolegar.

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r

R

o

a

/•/ O'

c

R

EFig.4-5

1. MEMBRO SUPERIOR 147

Fig.4-4

E

E

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148 FISIOLOGIA ARTICULAR

o COMPLEXO ARTICULAR DO PUNHO

o complexo articular do punho (fig. 4-6)inclui duas articulações:

1) a articulação rádio-carpeana entre aporção inferior do rádio e os ossos da fi­leira superior do carpo;

2) a articulação médio-carpeana entre afileira superior e a fileira inferior docarpo.

A articulação rádio-carpeana

A articulação rádio-carpeana é uma articu­lação condilar (fig. 4-7): a superfície do côndi­10 carpeano, considerada como um bloco, apre­senta duas curvas convexas:

- uma curva transversal (seta 1), de raioR e cujo eixo BB' é ântero-posterior: es­ta curva se corresponde com os movi­mentos de adução-abdução;

- uma curva ântero-posterior (seta 2),de raio r (menor que R) e cujo eixo AA'é transversal: esta curva se correspondecom os movimentos de flexão-extensão.

No esqueleto:

- eixo AA' de f1exão-extensão passa pelainterlinha semilunar-osso capitato;

- eixo BB' de adução-abdução passa pelacabeça do osso capitato, perto de suasuperfície articular.

Os ligamentos da articulação rádio-car­peana se organizam em dois sistemas:

Os ligamentos laterais (fig. 4-8):

1) o ligamento lateral externo, que se esten­de do processo estilóide radial até o esca­fóide;

2) o ligamento lateral interno, que se esten­de do processo estilóide ulnar ao pirami­dal e ao pisiforme.

A inserção inferior destes dois ligamentosse localiza, aproximadamente, no ponto de "iní­cio" do eixo AA' de flexão-extensão.

Os ligamentos anterior e posterior (fig.4-11, vista externa esquemática) que serão estu­dados com detalhe mais adiante:

3) o ligamento anterior (ou melhor, sistemaligamentar anterior) se insere no lado an­terior da glenóide radial e do colo do ossocapitato;

4) o ligamento (ou complexo ligamentar)posterior, que também constitui uma faixaposterior.

Os dois ligamentos anterior e posterior se fi­xam no carpo nos pontos de "início" do eixo BB'de abdução-adução.

Sempre considerando, numa primeira apro­ximação, que o carpo constitui um bloco único, oque está longe de ser verdade como veremos maisadiante, a entrada em ação dos ligamentos darádio-carpeana se decompõe da seguinte manei­ra:

- nos movimentos de adução-abdução(figs. 4-8, 4-9 e 4-10, vistas anteriores),são os ligamentos anteriores os que tra­balham. Partindo da posição de repouso(fig. 4-8), podemos observar que:

- durante a adução (fig. 4-9), o liga­mento externo está tenso e o internoestá distendido;

- durante a abdução (fig. 4-10), se pro­duz o fenômeno inverso.

O ligamento anterior, fixo perto do centro derotação, participa pouco.

Nos movimentos de flexão-extensão (figs.4-11, 4-12 e 4-13, vistas laterais), são, principal­mente os ligamentos anterior e posterior os quemais trabalham. Partindo da posição de repouso(fig. 4-11), podemos observar que:

- o ligamento posterior está tenso durante af1exão (fig. 4-12);

- o ligamento anterior está tenso durante aextensão (fig. 4-13).

Os ligamentos laterais participam pouco.

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A

Fig.4-7

A'

Fig.4-9

IFig.4-13Fig.4-11

4~4J.·L3

.... -.... -.... =

Fig.4-12

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150 FISIOLOGIA ARTICULAR

AS ARTICULAÇÕES RÁDIO-CARPEANAS E MÉDIO-CARPEANAS

As superfícies articulares da rádio-carpeanasão (figs. 4-14 e 4-15): o côndilo carpeano e a gle­nóide antebraquial.

Na vista anterior do carpo (fig. 4-15), pode­mos observar como o côndilo carpeano é formadopela justaposição da superfície superior dos três os­sos da fileira superior que são, de fora para dentro:

-- o escafóide (1), o semilunar (2), o pirami­dal (3), unidos entre si pelos ligamentosescafo-Iunar (el) e piramido-Iunar (pl).

Observar que o pisiforme (4) não participa daformação do côndilo carpeano, e com mais razãoos ossos da fileira inferior, o trapézio (5), o trape­zóide (6), o capitato ou grande (7) e o hamato ouganchoso (8), unidos entre si pelos três ligamentostrapézio-trapezóideo (tt), trapézio-osso capitato(toc) e hamato-osso capitato (hoc).

A superfície superior do escafóide, do semilu­nar e do piramidal tem uma camada de cartilagem,igual aos ligamentos que unem estes três ossos en­tre si, formando uma superfície contínua.

Numa vista da articulação aberta (fig. 4-14, se­gundo Testut), podemos observar, além do côndilocarpeano com as superfícies articulares do escafóide(1), do semilunar (2) e do piramidal (3), a superfíciecôncava da glenóide antebraquial constituída por:

- porção inferior do rádio (9), por fora, cu­ja superfície inferior, côncava e cobertacom cartilagem fica dividida por uma cris­ta romba em duas superfícies articularesque se correspondem aproximadamentecom o escafóide (10) e o semilunar (11);

- superfície inferior do ligamento triangular(12), côncavo e coberto com cartilagem, oseu vértice se insere no processo estilóideulnar (13); a cabeça ulnar (14) o ultrapas­sa levemente pela frente e por trás; algu­mas vezes, a sua base não se insere total­mente, provocando o aparecimento deuma pequena fenda (15) que comunica arádio-carpeana com a rádio-ulnar inferior.

A cápsula (16), desenhada intata na sua parteposterior, une o côndilo com a glenóide. A médio­carpeana (fig. 4-16, segundo Testut: representada,aberta por sua superfície posterior), situada entreas duas fileiras do ossos do carpo, compreende:

- a superfície superior, em vista póstero­inferior. Está constituída de fora para den­tro por:

• escafóide, com: duas superfícies articu­lares inferiores, levemente convexas,uma (1) para o trapézio, outra (2), pordentro, para o trapezóide; uma superfíciearticular interna (3), de concavidadeacentuada, para o osso capitato;

• superfície articular inferior do semillllzar(4), côncava abaixo, que se articula coma cabeça do osso capitato;

• superfície articular inferior do piramidal(5), côncava abaixo e para fora, que searticula com a superfície superior do os­so hamato.

O pisiforme, articulado sobre a superfície an­terior do piramidal, não participa na formação dainterlinha médio-carpeana.

- a superfície inferior, em vista póstero-su­perior. Está constituída de fora para dentropor:

• superfície articular superior do trapé:.:io(6) e do trapezóide (7);

• cabeça do osso capitato (8), que se arti­cula com o escafóide e o osso capitato;

• superfície superior do osso hamato (9), suamaior parte se articula com o piramidaL euma pequena superfície articular (I O) queentra em contato com o semilunar.

Considerando que cada uma das fileiras docarpo formam um bloco, podemos comprovar quea interlinha médio-carpeana está constituída porduas partes:

- uma parte externa, formada por superfí­cies articulares planas (trapézio e trape­zóide sobre a base do escafóide), articula­ção tipo artródia;

- uma parte interna, constituída pela super­fície convexa, em todos os sentidos, da ca­beça do osso capitato e do osso hamato, quese encaixa na superfície côncava dos trêsossos da fileira superior: é uma articulaçãocondilar.

Os movimentos numa articulação deste tipoestão condicionados pela maior ou menor elastici­dade dos ligamentos que permite um determinado'jogo" mecânico. São os movimentos de flexão-ex­tensão, de desvio lateral e de rotação em tomo doeixo longitudinal. Mais adiante poderemos estudá­los mais detalhadamente.

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Fig.4-14

Fig.4-16

. 10I

Fig.4-15

14

1. MEMBRO SUPERIOR 151

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152 FISIOLOGIA ARTICULAR

OS LIGAMENTOS DA ARTICULAÇÃO RÁDIO-CARPEANAE DA MÉDIO-CARPEANA

Usamos como referência a N. Kuhlmann (1978) pa­ra ressaltar os elementos novos na descrição dos ligamen­tos da articulação rádio-carpeana e da médio-carpeana.Como poderemos ver mais adiante, este conceito moder­no do aparelho ligamentar pennite explicar muito melhoro papel que desempenha na estabilidade do carpa e, naverdade, na sua adaptação às alterações que derivam dosmovimentos do punho.

Em vista anterior (fig. 4-17), se distinguem:- os dois ligamentos laterais da rádio-carpeana:

• o ligamento lateral interno, que se origina noprocesso estilóide ulnar e se entrelaça com ainserção do triangular (1), no nível de seu vér­tice. A seguir, se divide num fascículo poste­rior estilo piramidal (2) e um fascículo ante­rior estilo-pisiforme (3);

• o ligamento lateral externo, também constituí­do por dois fascículos que se originam no pro­cesso estilóide radial: um fascículo posterior(4), que se expande do vértice do processo esti­lóide até a superfície extema do escafóide parainserir-se por baixo da superfície articular supe­rior, e umfascículo anterior (5), muito espessoe resistente que se estende do lado anterior doprocesso estilóide até o tubérculo do escafóide;

- o ligamento anterior da rádio-carpeana, consti­tuído por dois fascículos:• por fora, o fascículo rádio-lunar anterior (6),

que se estende obliquamente por baixo e pordentro do lado anterior da glenóide radial até ohaste anterior do semilunar; daí vem a denomi­nação de freio anterior do lunar;

••por dentro, ofascículo rádio-piramidal anterior(7), recentemente individualizado por N. Kuhl­mann; suas inserções superiores ocupam a me­tade interna do lado anterior da glenóide e todoo lado anterior da cavidade sigmóide do rádio,onde se entrelaça com as inserções radiais do li­gamento anterior (8) da rádio-ulnar inferior; es­te ligamento, de forma triangular, forte e resis­tente, se dirige para baixo e para dentro para in­serir-se na superfície anterior do piramidal, porfora da sua superfície articular junto com o pisi­forme; constitui a parte anterior da "tira do pira­midal", que voltaremos a ver mais adiante;

- os ligamentos da médio-carpeana:

• o ligamento rádio-capital (9), que se estendeobliquamente por baixo e por dentro da parteexterna do lado anterior da glenóide até a su­perfície anterior do osso capitato. Está incluídono mesmo plano fibroso que 9s fascículos rá­dio-lunar e rádio-piramidal. E um ligamentoanterior da rádio-carpeana e da médio-carpea­na ao mesmo tempo;

• o ligamento lunatocapital (10), que se estendeverticalmente desde o haste anterior do semilu-

nar à superfície anterior do colo do osso capita­to, prolonga para baixo o ligamento rádio-lunar;

• o ligamento triqueto-capital (11), que se esten­de obliquamente por baixo e por fora da super­fície anterior do piramidal ao colo do osso capi­tato onde constitui, com os dois ligamentos pre­cedentes, um autêntico aparelho ligamentar;

• o ligamento trapézio-escaf6ide (12), curto,mas largo e resistente, une o tubérculo do esca­fóide com a superfície anterior do trapézio, porcima da sua crista oblíqua;

• o ligamento triqueto-ganchoso (ou triqueto-ha­mata!) (13), verdadeiro ligamento lateral inter­no da médio-carpeana;

• finalmente, os ligamentos pisiunciforme (14) episimetacarpeano (15), este último participa naarticulação carpometacarpeana.

Em vista posterior (fig. 4-17 bis), podemos localizar:- o ligamento lateral externo da rádio-carpeana,

pelo seu fascículo posterior (4);- o ligamento lateral interno da rádio-carpeana,

também pelo seu fascículo posterior (2), cujasinserções estão entrelaçadas com o vértice do li­gamento triangular (1);

- o ligamento posterior da rádio-carpeanaconstituído por dois fascículos oblíquos parabaixo e para dentro:• ofascículo rádio-lunar posterior (16), ou freio

posterior do lunar;• o fascículo rádio-piramidal posterior (17), cu­

jas inserções são mais ou menos simétricas comas do seu homólogo anterior, incluída a suaunião com a terminação do ligamento posteriorda rádio-ulnar inferior (18) sobre o lado poste­rior da cavidade sigmóide do rádio: este fascí­culo posterior completa a "tira do piramidal";

- as duas faixas transversais posteriores do carpo:

• afaixa da primeira fileira (19), que se esten­de transversalmente da superfície posteriordo piramidal até a do escafóide, para se inse­rir no haste posterior do lunar e enviandouma expansão (20) ao ligamento lateral ex­terno e uma expansão (21) ao ligamento rá­dio-piramidal posterior;

• afaixa da segunda fileira (22) que se estendeobliquamente por fora e levemente por baixoda superfície posterior do piramidal à do trape­zóide (23) e a do trapézio (24), passando portrás do osso capitato;

- por último, o ligamento triqueto-hamatal (13),cuja parte posterior se insere na superfície poste­rior do piramidal que, de tal forma desempenha,para a parte posterior do carpa, o papel de segu­rar o ligamento atribuído ao colo do osso capita­to na sua superfície anterior.

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Fig.4-17

6945

1012

8

1. MEMBRO SUPERIOR 153

I -

Fig. 4-17 bis

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154 FISIOLOGIA ARTICULAR

FUNÇÃO ESTABILIZADORA DOS LIGAMENTOS

Estabilização no plano frontal

A primeira função dos ligamentos dopunho é a de estabilizar o carpo nos dois planosfrontal e sagita!.

No plano frontal, o papel que desem­penham os ligamentos é necessário, devido àorientação da glenóide antebraquial (fig. 4-18,vista anterior esquemática) que "se orienta" parabaixo e para dentro, de tal modo que pode pare­cer, no seu conjunto, com um plano oblíquo decima para baixo e de dentro para fora, formandocom a horizontal um ângulo de 25 a 30°. Sob apressão das forças musculares longitudinais, ocarpo alinhado tende a deslizar para cima e paradentro, no sentido da seta branca.

Contudo, (fig. 4-19) se o carpo se aduzaproximadamente 30°, a força da compressão deorigem muscular se exerce perpendicularmenteao plano de deslizamento descrito anteriormen­te, o que estabiliza e centraliza novamente ocôndilo carpeano na glenóide. Além disso, estaposição em leve adução é a posição natural dopunho, a posição funcional, que coincide com asua máxima estabilidade.

Pelo contrário (fig. 4-20), quando o carpose abduz, por escassa que seja a abdução, a com-

pressão de origem muscular acentua a instabili­dade e acarreta urna tendência ao deslocamento

do côndilo carpeano para cima e para dentro.

Os ligamentos laterais da rádio-carpeananão são suficientes para "atrapalhar" este movi­mento devido à sua direção longitudinal. Cornoo demonstrara N. Kuhlmann, esta função é pró­pria (fig. 4-21) dos dois ligamentos rádio-pira­midais anterior e posterior cuja direção oblíquapara cima e para fora permite centralizar de no­vo e de maneira permanente o côndilo carpeanode modo que evita o seu deslocamento paradentro.

Em vista póstero-interna (fig. 4-22) da por­ção inferior do rádio, após ter sido removida aporção inferior da ulna, de modo que podemosobservar a cavidade sigmóide do rádio (1) e opiramidal (2), acompanhado pelo pisiforme (3),e removidos também os outros ossos do carpo,se observa que o piramidal se une com o rádiomediante os dois ligamentos rádio-piramidal an­terior (4) e posterior (5). Constituem em conjun­to uma "faixa ligamentar" que dirige perma­nentemente o piramidal para cima e para dentro.Também desempenham, como veremos maisadiante, urna função importante na mecânica in­terna do carpo durante a abdução.

Page 160: Kapandji - Volume 1

Fig.4-18

Fig.4-20

3

1. MEMBRO SUPERIOR 155

Fig.4-19

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156 FISIOLOGlAARTICULAR

FUNÇÃO ESTABILIZADORA DOS LIGAMENTOS(continuação)

Estabilização no plano sagital

No plano sagital, as condições são muitoparecidas.

Devido à orientação para baixo e para dian­te da glenóide (fig. 4-23, vista esquemática deperfil), o côndilo carpeano tem a tendência de"escapar" para cima e para frente, na direção daseta branca), deslizando-se sobre o "plano" daglenóide que forma um ângulo de 20 a 25° coma horizontal.

A flexão do punho de 30 a 40° (fig. 4-24)orienta o deslocamento ósseo, sob pressão dasforças musculares, perpendicularmente ao "pla­no" da glenóide, o que estabiliza e centraliza no­vamente o côndilo carpeano.

Assim sendo, a função dos ligamentos (fig.4-25) se reduz relativamente: os ligamentos an­teriores, distendidos, não intervêm; pelo contrá­rio, o freio posterior do lunar e a faixa transver-

sal da primeira fileira se encontram tensos, o quecoapta o semilunar na glenóide radial.

Em posição de alinhamento (fig. 4-26), atensão dos ligamentos anteriores e posteriores seequilibra, estabilizando o côndilo na glenóide.

Pelo contrário, em extensão (fig. 4-27), atendência a que o côndilo carpeano escape paracima e para diante se reforça.

A função dos ligamentos (fig. 4-28) é essen­cial, não tanto a dos ligamentos posteriores, quepermanecem distendidos, mas a dos anteriores,cuja tensão é proporcional ao grau de extensão.Pela sua superfície profunda, comprimem o se­milunar e a cabeça do osso capitato para cima epara trás, produzindo ao mesmo tempo a estabi­lização e a recentralização do côndilo carpeano;o que corresponde à posição de tensão ligamen­tar e de máxima compressão articular, ou tam­bém "close packed position" de Mac Conaill.

Page 162: Kapandji - Volume 1

Fig.4-24

Fig.4-23

Fig.4-26

1. MEMBRO SUPERIOR 157

Fig.4-28

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158 FISIOLOGIA ARTICULAR

A DINÂMICA DO CARPO

I

Coluna do semilunar

Se é conveniente, numa primeira aproxima­ção, considerar o maciço do carpa como um blo­co imutável, os recentes trabalhos de anatomiafuncional mostram que este conceito monolíticojá não corresponde à realidade: é melhor ter emmente um carpo de geometria variável no qualse produzem, por ação de pressões ósseas e deresistências ligamentares, movimentos relativosdos ossos no interior do carpa que modificamsensivelmente a sua forma.

N. Kuhlmann estudou recentemente estesmovimentos elementares, principalmente no quese refere à coluna média do semilunar e do osso

capitato, além da coluna externa do escafóide edo par trapézio-trapezóide.

A dinâmica da coluna média depende daforma assimétrica do semilunar, mais avultado,mais espesso pela frente que por trás: depen­dendo dos casos, a cabeça do osso capitato estácoberta por um capuz frígio (fig. 4-29), um bo­né de cossaco (fig. 4-30) ou um turbante (fig. 4­31); é raro que esteja coberto por um bicorne"primeiro império" (fig. 4-32) simétrico e nestecaso, a cabeça do osso capitato é assimétrica,mais oblíqua pela frente. Aproximadamente nametade dos casos, o "capuz frigia" se coloca en­tre o osso capitato e a glenóide radial, como sefosse uma cunha curva. Conseqüentemente, estadistância útil entre a cabeça do osso capitato e aglenóide radial varia dependendo do grau de fle­xão-extensão do punho.

Em posição de alinhamento (fig. 4-33), adistância útil corresponde à espessura média dosemilunar.

Na extensão (fig. 4-34) esta distância útildiminui já que corresponde à menor espessurado semilunar.

Pelo contrário, esta aumenta na flexão (fig.4-35), já que se interpõe a maior espessura da,cunha lunar.

Contudo, a obliqüidade da glenóide secombina com esta variação da distância útil, o

que anula, em parte, os efeitos: deste modo, emalinhamento, o centro da cabeça do osso capita­to é o mais afastado do fundo da glenóide, nosentido do eixo longitudinal do rádio. Em ex­tensão (fig. 4-34), a "subida" do centro da cabe­ça do osso capitato se anula em parte pela "des­cida" do lado posterior da glenóide. Em flexão(fig. 4-35), sua descida se anula, em parte, pela"subida" do lado anterior da glenóide. Porém, ocentro da cabeça do osso capitato se localiza,em ambos os casos, aproximadamente no mes­mo nível h por cima de sua posição de alinha­mento.

Por outro lado, em flexão (fig. 4-35), estecentro se submete a um deslocamento anterior aigual a mais de duas vezes a retrocessão r asso­ciada à extensão (fig. 4-34), o que modifica aocontrário o grau de tensão e o momento de açãodos flexores em relação aos extensores.

Tradicionalmente, a flexão é maior na rá­dio-carpeana (50°) que na médio-carpeana (35°),e ao contrário, a extensão é maior na médio-c ar­peana (50°) que na rádio-carpeana (35°). Isto écorreto para as amplitudes extremas, mas nossetores de escassa amplitude, o grau de flexão oude extensão é mais ou menos o mesmo em cadauma das articulações.

A assimetria do semilunar faz com que aestática do carpo seja muito sensível à sua posi­ção relativa na cadeia articular. Se, a partir daposição de alinhamento (fig. 4-36) que corres­ponde a um adosamento normal do semilunarpelos seus dois freios anterior e posterior, se in­troduz, sem nenhuma flexão-extensão do ossocapitato com relação ao rádio, uma basculaçãodo lunar para frente (fig. 4-37), ou uma bascula­ção para trás (fig. 4-38), podemos constatar queo centro da cabeça do osso capitato se deslocapara cima (e) e respectivamente para trás (c) oupara frente (b): a instabilidade localizada do se­mil~tnar, por ruptura ou distensão do freio ante­rior (fig. 4-37) ou do freio posterior (fig. 4-38),repercute, mediante o osso capitato, em todo ocarpa.

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1. MEMBRO SUPERIOR 159

I

Fig.4-34

c

VFig.4-30 VFi9.4-31

a

Fig.4-36

b

VFí9.4-32

Fig.4-35

Fig.4-38

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160 FISIOLOGIA ARTICULAR

A DINÂMICA DO CARPO(continuação)

Coluna do escafóide

A dinâmica da coluna externa depende daforma e orientação do escafóide.

De perfil (fig. 4-39), o escafóide possui umasilhueta renifonne, ou em forma de feijão, a partemais alta, arredondada, corresponde à superfíciesuperior convexa, articulada com a glenóide ra­dial, a parte inferior representa a parte alta do tu­bérculo escafóide, em cuja superfície inferior searticulam o trapezóide e o trapézio; só este últimoestá representado aqui; situa-se claramente maispara frente que o trapezóide e o osso capitato, jáque, com ele, se inicia a anteposição da coluna dopolegar com relação ao plano da mão. Deste mo­do, o escafóide fica intercalado obliquamente en­tre o rádio e o trapézio, embora esta obliqüidadeesteja mais ou menos acentuada dependendo dasua forma. Assim sendo, podemos encontrar esca­fóides renifonnes "deitados" (fig. 4-39), escafói­des dobrados "sentados" (fig. 4-40) e escafóidesquase erguidos "em pé" (fig. 4-41). Nos esque­mas está representado o escafóide "deitado" portratar-se do mais freqüente.

A forma alongada do escafóide permite ob­servar dois diâmetros (fig. 4-42), os diâmetrosmaior e menor, que aparecem, dependendo da po­sição, em contato com a glenóide radial e a super­fície articular superior do trapézio; isto determinaas variações do "espaço útil" entre estes dois os­sos.

Em posição neutra ou de "alinhamento" (fig.4-43) é quando a distância é maior entre o rádio eo trapézio; o contato entre o escafóide e a glenói­de radial se localiza nos dois pontos correspon­dentes a a e a', e entre o ponto central g da super­fície superior do trapézio e o escafóide em b.

Em extensão (fig. 4-44), a distância útil dimi­nui enquanto o escafóide se "ergue" e o trapéziose desloca para trás; o contato entre a glenóide e oescafóide se produz nos pontos homólogos c e c' ,e entre o trapézio e o escafóide nos pontos de g.

Em fiexão (fig. 4-45), a distância rádio-trapé­zio também diminui quando o escafóide está total­mente deitado e o trapézio se desloca para frente;os pontos de contato se situam em e, e' eJ, g.

Isto envolve três observações:

1) os pontos de contato se deslocam sobre aglenóide radial e o escafóide (fig. 4-46):

- na glenóide radial, o contato em ex­tensão c' se localiza pela frente do pon-to de contato em posição de alinha­mento a', e estes dois últimos pela fren­te do ponto de contato em flexão e';

- no escafóide:

• no nível da supeifície superior, ocontato em flexão e é anterior, ocontato em extensão c é posterior, eo contato em posição de alinhamen­to a entre ambos;

• no nível da supeifíGie infe ri01; a or­dem dos pontos correspondentes fpara a flexão, d para a extensão, bpara a posição de alinhamento é amesma (j para diante, d para trás e bentre ambos).

2) os diâmetros úteis no escafóide ab, cd eeJ, que correspondem respectivamente àposição de alinhamento, à de extensão eà de flexão, são quase paralelos e prati­camente iguais:

- cd e ef são paralelos;

- ab e ef são iguais, cd é levemente maiscurto.

3) deslocamento do trapézio com relaçâo aorádio (fig. 4-47)

As posições de alinhamento A, de flexãoF e de extensão E, se realizam pratica­mente num círculo concêntrico com curvaântero-posterior da glenóide radial, en­quanto o trapézio realiza uma rotação so­bre si mesmo, aproximadamente igual aoângulo do arco que descreve: dito de outraforma, a sua superfície articular superiorse dirige para o centro do círculo C.

Toda esta dinâmica se refere aos movimentossimultâneos do escafóide e do trapézio. Maisadiante exporemos o resultado dos movimentosisolados do escafóide.

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1. MEMBRO SUPERIOR 161

Fig.4-44 Fig.4-43 Fig.4-45

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162 FlSIOLOGIA ARTICULAR

o PAR ESCAFÓIDE-SEMILUNAR

\

Nos movimentos de flexão-extensão dopunho, N. Kuhlmann distingue quatro setores(fig. 4-48):

- o setor de adaptação pennanente (I) até20°: as amplitudes dos deslocamentoselementares são escassas e difíceis deapreciar; os ligamentos estão distendi­dos e a pressão sobre as superfícies arti­culares é mínima. Os movimentos mais..comuns e que preCIsam necessanamen-te restabelecer a sua mobilidade apósuma intervenção cirúrgica ou traumatis­mo se realizam neste setor;

- o setor de mobilidade comum (lI) até40°; o jogo ligamentar começa a se ma­nifestar e as pressões articulares se no­tam. Até este ponto, as amplitudes narádio-carpeana e na médio-carpeanasão quase iguais;

- o setor de alteração fisiológica mo­mentânea (IlI) até 80°; as tensões liga­mentares e as pressões articulares al­cançam o seu ponto máximo, para rea­lizar no fim do trajeto a posição de blo­queio ou dose packed position (MacConaill);

- O setor de alteração patológica (IV) su­perior aos 80°: a partir deste ponto, acontinuação do movimento ocasionaobrigatoriamente umà ruptura ou umadistensão ligarnentar que, lamentavel­mente, passa despercebida com freqüên­Cia, provocando uma instabilidade do

carpo, ou uma fratura ou luxação, comoveremos mais adiante.

O fato de se repetir a idéia do bloqueio ar­ticular foi necessário para esclarecer o assincro­nismo do bloqueio em extensão das colunas dosemilunar e do escafóide.

De fato, o bloqueio em extensão da colunado escafóide (fig. 4-49), causado pela tensãomáxima dos ligamentos rádio-escafóide (1) etrapézio-escafóide (2), provoca um autêntico en­caixamento do escafóide entre o trapézio e a gle­nóide radial, que acontece antes do bloqueio emextensão da coluna do semilunar (fig. 4-50):neste bloqueio intervêm não só a tensão dos li­gamentos rádio-lunar anterior (3) e lunatocapital(4), mas também o impacto ósseo da superfícieposterior do colo do osso capitato contra o ladoposterior da glenóide; de modo que o movimen­to de extensão continua na coluna do semilunar,

enquanto já está parado na do escafóide.

Se partirmos da posição de flexão (fig. 4-51)(vista conjunta de perfil do semilunar e do esca­fóide), num primeiro momento (fig. 4-52), a ex­tensão arrasta simultaneamente o escafóide e o

semilunar, a seguir (fig. 4-53) o escafóide se de­tém, enquanto o semilunar continua a sua bascu­lação anterior 30° mais, graças à elasticidade doligamento interósseo escafolunar. Assim sendo aamplitude total do movimento do semilunar é30° maior que a do escafóide.

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Fig.4-48

Fig.4-51

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3

Fig.4-50

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164 FISIOLOGIA ARTICULAR

o CARPO DE GEOMETRIA VARIÁVEL

A abdução-aduçãoMais que como um bloco monolítico, o carpo deve ser con­

siderado uma bolsa de bolinhas de gude, principalmente no que serefere aos movimentos de abdução-adução no percurso dos quais asua forma se modifica sob pressões ósseas e tensões ligamentares.O estudo minucioso das radiografias frontais em abdução e emadução permite constatá-lo: os esquemas desta página correspon­dem a este estudo.

Durante a abdução (fig. 4-54), num primeiromomento, o carpo gira em conjunto em tomo de umcentro situado na cabeça do osso capitato, a fileirasuperior se desloca (seta 1) para cima e para dentrode tal maneira que a metade do semilunar se situaabaixo da cabeça ulnar e o piramidal, no seu movi­mento para baixo, aumenta o espaço que o separa.Mas a tensão do ligamento lateral interno (LU) eprincipalmente a "faixa" do piramidal (C) detêmmuito cedo este deslocamento, transformando o pi­ramidal num bloco contra o qual impacta o semilu­nar. Como a abdução continua, a segunda fileira é aúnica que continua o seu movimento:

- o trapézio e o trapezóide ascendem (seta 2),diminuindo o espaço útil entre o trapézio eo rádio, por efeito da compressão entre otrapézio (2) e o rádio (3), o escafóide perdea sua altura "encostando-se" por flexão (f)na rádio-carpeana (fig. 4-56), enquanto amédio-carpeana se estende (e);

- o osso capitato "desce" (seta 4), aumentandoo espaço útil do semilunar; retido pelo seufreio anterior. de modo que pode bascular(fig. 4-57) para trás por flexão (f) na rádio­carpeana, apresentando a sua maior espessu­ra; simultaneamente, o osso capitato se aco­pIa (e) na médio-carpeana; a diminuição daaltura do escafóide permite um deslizamen­to relativo do osso capitato e do osso hama­to por baixo da primeira fileira (setas pretas):o piramidal, retido pelos seus três ligamen­tos, "sobe" pela rampa do osso hamato emdireção à cabeça do osso capitato. Como osmovimentos relativos dos ossos do carpa es­tão esgotados. o conjunto constitui um blocotravado em abdução (close packed position).

Durante a adução (fig. 4-55), num primeiromomento, o carpo gira em conjunto, mas desta vez,a primeira fileira se desloca para baixo e para fora,de modo que o semilunar se desliza totalmente por

baixo do rádio, enquanto o trapézio e o trapezóidedescem (seta 1) aumentando o espaço útil para o es­cafóide. Este, deslocado para baixo pelo ligamentotrapézio-escafóide, se endireita (fig. 4-58) em exten­são (e) da rádio-carpeana, de modo que ganha alturae preenche o espaço que estava vazio debaixo do rá­dio. Simultaneamente, o trapézio se desliza em fle­xão (f) da médio-carpeana debaixo do escafóide;quando a descida do escafóide (seta 2) fica inter­rompida pelo ligamento lateral externo (LLE), a ab­dução continua na segunda fileira; provocando umdeslizamento relativo em relação à primeira fileira(setas pretas): a cabeça do osso capitato se afunda nasuperfície côncava do escafóide, o semilunar se des­liza sobre a cabeça do osso capitato e toca o osso ha­mato, o piramidal "desce" pela rampa do osso hama­to. Ao mesmo tempo, o piramidal sobe (seta 3) emdireção à cabeça ulnar que constitui um topo, me­diante o ligamento triangular, transmitindo as forçasque provêm do antebraço para os dois raios internosda mão; o osso capitato ascende (seta 5) reduzindo oespaço útil para o semilunar, o qual, graças à disten­são do seu freio anterior pode bascular para frente(fig. 4-59) em extensão (e) na rádio-carpeana, demodo que apresenta a sua menor espessura, enquan­to o osso capitato se flexiona (f) na médio-carpeana.

Também neste caso, por ter esgotado todos osmovimentos relativos dos ossos do carpo, o conjun­to constitui um bloco travado em adução (closepacked position).

Em resumo, se compararmos (esquema em detalhe) o parescafóide-semilunar em abdução (cor cinza) e em adução (cor cla­ra), podemos comprovar que cada um dos dois ossos se transformaao contrário: em abdução, o escafóide diminui de superfície e o se­milunar aumenta; em adução ocorre o contrário. Esta "metamorfo­se" se deve aos movimentos de f1exão-extensão nas duas articula­

ções do carpo:

- em abdução (figs. 4-56 e 4-57), a f1exão na rádio-carpea­na desaparece devido à extensão na médio-carpeana;

- em adução (figs. 4-58 e 4-59), ao contrário, a extensão narádio-carpeana se compensa pela f1exão na médio-car­peana.

Por lógica, se considerarmos a proposta recíproca, podemosafirmar que:

- a f1exão de punho se associa com uma abdução da rádio­carpeana e uma adução da médio-carpeana;

- a extensão de punho provoca uma adução da rádio-car­peana e uma abdução da médio-carpeana.

Deste modo, se confirma o mecanismo descrito por Henke.

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Fig.4-58

Fig.4-54

U Fig.4-57

Fig.4-56

1. MEMBRO SUPERIOR 165

Fig.4-55

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166 FISIOLOGIA ARTICULAR

AS ALTERAÇÕES PATOLÓGICAS

Os dois movimentos cujo esforço máximogera mais desgastes anatômicos são a abdução ea extensão, com freqüência associados.

A abdução levada além da posição de blo­queio pode provocar dois tipos de lesões:

- umafratllra da porção inferior do rádio(fig. 4-60): a pressão do escafóide sobrea SALIÊNCIA externa da glenóide ra­dial fratura a epífise mais frágil devido àosteoporose do indivíduo de idade avan­çada; o deslocamento se realiza para fo­ra e se associa com uma basculação pos­terior pela extensão do punho (fig. 4-61).Este tipo de fratura permite notar a resis­tência do escafóide, sem dúvida bemprotegido quando está "ftexionado" (fig.4-61), situado totalmente debaixo doprocesso estilóide radial; também indicaa resistência dos ligamentos anteriores; oprocesso estilóide ulnar sob tração asso­ciada do ligamento triangular e do liga­mento lateral interno da rádio-carpeanase fratura com freqüência na sua base;

- ou umafratura do escafóide (fig. 4-62):o escafóide, desta vez se encontra emextensão e se localiza, em toda a sualongitude, debaixo da saliência da gle­nóide radial; por conseguinte, o proces­so estilóide radial impacta contra a su-

perfície externa do corpo do osso que sefratura neste ponto devido ao cisalha­mento.

A extensão exagerada acarreta, com muitafreqüência, como' acabamos de comentar (fig. 4­61), uma fratura de Pouteau-Colles. Muito pou­cas vezes provoca desgastes ligamentares cujoprimeiro momento é a ruptura do ligamento lu­natocapital; em segundo lugar podem existirduas possibilidades:

- o osso capitato ascende em extensão e asua cabeça se encaixa por trás da hasteposterior do semilunar que permaneceno lugar: é a lllxação retrollll1ar do car­po (fig. 4-64):

- o freio posterior do semilunar, solicitadopela hiperextensão e a cabeça do ossocapitato, se desprende, provocando aenucleação para frente do lunar que, aoficar fixo pela sua haste anterior, realizauma rotação sobre si mesmo de 90 a120° em tomo de um eixo transversal,de modo que a sua superfície inferior sedirige para cima; então, a cabeça do os­so capitato ascende por baixo da glenói­de, deslocando o lunar para frente no ca­nal carpeano onde comprime o nervomediano. É a lllxação anterior do semi­lunar (fig. 4-65).

-------

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1. MEMBRO SUPERIOR 167

Fig.4-64

~Fig.4-63 .

Fig.4-60

~-------

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168 FISIOLOGIA ARTICULAR

OS MÚSCULOS MOTORES DO PUNHO

I

Em vista anterior do punho (fig. 4-66),podemos observar:

- o palmar maior (1) que, após ter per­corrido um canal especial por baixo doligamento anular anterior do carpa, seinsere na superfície anterior da base dosegundo metacarpeano e, de maneiraacessória, no trapézio e base do tercei­ro metacarpeano;

- o palmar menor (2), menos potente,entrelaça as suas fibras verticais com asfibras transversais do ligamento anularanterior do carpo e envia quatro faixaspré-tendíneas que se inserem na superfí­cie profunda da dermis da palma damão;

- o flexor ulnar do carpo (3) que, apóster passado pela frente do processo esti­lóide ulnar, se insere no pólo superiordo pisiforme e, de maneira acessória, noligamento anular, osso hamato e o quar­to e quinto metacarpeanos.

Para não sobrecarregar este esquema, nãodesenhamos os tendões flexores dos dedos quepassam pelo canal carpeano junto com o nervomediano:

- os quatro tendões flexores profundos;

- os quatro tendões flexores superficiais;

- o flexor longo próprio do polegar.

Estão representados no corte (fig. 4-71).

Em vista posterior do punho (fig. 4-67),podemos observar:

- o extensor ulnar do carpo (4) que,após passar por trás do processo estilói­de ulnar, se insere na supeifície poste­rior da base do quinto metacarpeano;

- os dois extensores radiais longo e cur­to do carpo (5 e 6) que, após percorrera parte superior da tabaqueira anatômi-

ca, se inserem, o primeiro (6) na base dosegundo metacarpeano e o segundo (5)na base do terceiro metacarpeano.

Para simplificar, nesta vista posterior não serepresentaram:

- os quatro tendões extensores comuns;

- o tendão do extensor p~óprio do dedo in-dicador;

- o tendão do extensor próprio do dedomínimo.

Poderemos ver mais adiante no corte (fig.4-71).

Numa vista do lado interno do punho(fig. 4-68), podemos observar os tendões:

- do flexor ulnar do carpo (3), a sua in­serção, deslocada para frente pelo pisi­forme, aumenta a sua eficácia;

- do extensor ulnar do carpo (4).

Estes dois tendões delimitam lateralmenteo processo estilóide ulnar.

Numa vista do lado externo do punho(fig. 4-69), podemos observar os tendões:

- do extensor radial longo (6) e curto (5)do carpo;

- do abdutor longo do polegar (7), quese insere na parte externa da base doprimeiro metacarpeano;

- do extenso r curto do polegar (8), quese insere na superfície dorsal da base daprimeira falange do polegar;

- do extenso r longo do polegar (9), quese insere na segundafalange do polegar.

Tanto os extensores radiais quanto os mús­culos do polegar delimitam o processo estilóideradial. O tendão do extensor longo do polegarconstitui o limite posterior da tabaqueira anatô­mim. Os tendões do abdutor longo e do extensorcurto do polegar constituem o seu limite anterior.

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1. MEMBRO SUPERIOR 169

Fig.4-68

Fig.4-69

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170 FISIOLOGIA ARTICULAR

AÇÃO DOS MÚSCULOS MOTORES DO PUNHO

Na superfície posterior do punho, os ten­dões extensores passam por baixo do ligamentoanular dorsal do carpo (fig. 4-70; as explicaçõessão as mesmas para a figura seguinte) por seistúneis osteofibrosos acompanhados de seisbainhas sinoviais. São de dentro para fora:

- o túnel do extensor ulnar do carpo;

- o do extensor próprio do dedo mínimo;

- o dos quatro extensores comuns e o doextensor próprio do dedo indicador;

- - o do extensor próprio do polegar;

- o dos dois extensores radiais;

- o do abdutor longo e o do extensor cur-to do polegar.

O ligamento anular e os túneis osteofibro­sos constituem para os tendões polias de refle­xão quando o punho se encontra em extensão.

Tradicionalmente, os músculos motoresdo punho se classificam em quatro grupos. Oesquema 4-71 representa esta classificação emrelação aos dois eixos do punho:

- o eixo AA': flexão-extensão;

- o eixo BB': adução-abdução.

(O esquema representa um corte do punhodireito, parte inferior do corte, pelo qual B' nafrente, B por trás, A' por fora e A por dentro. Ostendões assombreados são os motores do punho,os brancos são os motores dos dedos.)

1.0 grupo: o fiexor ulnar do carpo (1) é:

- flexor do punho (localizado para dian­te do eixo AA') e

- adutor (localizado para dentro do eixoBB'), mas em menor grau que o extensorulnar do carpo. Exemplo de flexão-adu­ção: mão esquerda tocando o violino.

2.° grupo: o extensor ulnar do carpo (6) é:

- extensor do punho (localizado por trásdo eixo AA');

- adutor (localizado por dentro do eixoBB').

3.° grupo: os palmares, o maior (2) e o menor(3), são:

- flexores do punho (localizados pela frentedo eixo AA');

- abdutores (localizados por fora do eixoBB').

I

4.° grupo: os extensores radiais do carpo, olongo (4) e o curto (5), são:

- extensóres do punho (localizados por trásdo eixo AA');

- abdutores do punho (localizados por forado eixo BB').

Pela sua situação com relação aos dois eixosda rádio-carpeana, nenhuma ação dos músculosmotores do punho é pura, o qual significa que pa­ra obter uma ação pura será sempre necessária aação simultânea de dois grupos para anular umcomponente: este é um exemplo de relação anta­gonismo-sinergia muscular.

- Flexão (a): 1.0 (flexor ulnar do carpo) e 3.°grupos (palmares);

- Extensão (b): 2.° (extensor ulnar do carpo)e 4.° grupos (radiais);

-Adução (c): 1.°(flexorulnar do carpo) e 2.°grupos (extensor ulnar do carpo);

-Abdução (d): 3.° (palmares) e 4.° grupos(radiais).

Na verdade, estas ações estão mais matiza­das. As experiências de excitação elétrica de Du­chenne de Boulogne (1867) demonstraram que:

- só o extensor radial longo (4) é extensor­abdutor; o extensor radial curto é direta­mente extensor, daí vem a sua importân­cia fisiológica;

- palmar menor é diretamente flexor; o pal­mar maior é também diretamente flexor; etambém flexiona o segundo metacarpeanosobre o camo de maneira que prona a mão.Portanto, o palmar maior excitado de ma­neira isolada não é abdutor, e se se con­trai durante a desvio radial, é para contra­balançar o componente extensor do radiallongo, principal motor da abdução.

- --- -----------------------

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r

Fig.4-70

4

1. MEMBRO SUPERIOR 171

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172 FISIOLOGIA ARTICl.JLAR

AÇÃO DOS MÚSCULOS MOTORES DO PUNHO(continuação)

- Os músculos motores dos dedos não po­dem mover o punho se não for em deter­minadas condições:

Os flexores dos dedos, flexores comunsprofundos (7), flexores comuns superfi­ciais (12) e o flexor longo próprio do po­legar (13) só são flexores do punho se aflexão dos dedos se detém antes do queo trajeto dos tendões se esgote: porexemplo, se a mão segura um objeto vo­lumoso, como uma garrafa, a flexão dopunho pode ser ajudada com a flexãodos dedos.

Assim sendo, os extensores dos dedos,os extensores curtos (8), o extensor pró­prio do dedo mínimo (14) e o extensorpróprio do dedo indicador (15) partici­pam na extensão do punho quando amão está fechada.

- O abdutor longo (9) e o extensor curtodo polegar (10) se converiem em abdu­tores do punho se a sua ação não é con­trabalançada pela do extensor ulnar docarpo. Se o extensor ulnar do carpo secontrai simultaneamente, a abdução iso­lada do polegar se realiza por ação doabdutor longo. De modo que a ação si­nérgica do extensor ulnar do carpo é in­dispensável para a abdução do polegar.Neste caso, podemos inclusive afirmarque o extensor ulnar do carpo estabilizao punho.

- O extensor longo do polegar (11), querealiza uma extensão e uma retropulsãodo polegar, pode acarretar uma abduçãoe uma extensão do punho se o flexor ul­nar do carpo está distendido.

- Outro estabilizador do punho, o exten­sor radial longo do carpo (4), é impres­cindível para manter uma posição corre­ta da mão: a sua paralisia provoca umdesvio ulnar pemwnente.

A ação sinérgica e estabilizadora dosmúsculos do punho (fig. 4-72):

- os músculos extensores do punho sãosinérgicos dos flexores dos dedos (a):ao estender o punho, os dedos se flexio­nam automaticamente, para estender osdedos nesta posição, é necessária umaação voluntária.

Além disso, nesta posição de extensãodo punho, os flexores possuem a sua má­xima eficácia, porque os tendões flexo­res são relativamente mais curtos que naposição de alinhamento do punho e, con­seqüentemente, em flexão do punho: aforça dos fiexores dos dedos, medida como dinamômetro é, em fiexão do punho, aquarta parte da que desenvolvem em ex­tensão.

- os músculos flexores do punho são si­nérgicos dos extensores dos dedos (b):quando se flexiona o punho, a extensãoda primeira falange dos dedos é auto­mática; é necessária uma ação voluntá­ria para flexionar os dedos sobre a pal­ma da mão e esta flexão carece de for­ça. Assim sendo, a tensão dos flexoresdos dedos limita a flexão do punho; ésuficiente estender os dedos para que aflexão do punho aumente 10°.

Este delicado equilíbrio muscular pode­se alterar com facilidade: a deformaçãode uma fratura de Pouteau-Colles semreduzir não só determina uma mudançade orientação da glenóide antebraquial,mas também provoca um alongamentorelativo dos extensores do punho, de mo­do que repercute na eficácia dos flexoresdos dedos.

A posição funcional de punho (fig. 4-73)se corresponde com a máxima eficácia dos mús­culos motores dos dedos, e sobretudo, dos flexo­res. Esta posição funcional é definida como:

- leve extensão do punho, de 40-45°;

-leve adução (desvio u1nar), de 15°.

Nesta posição do punho é que a mão seadapta melhor para realizar apreensão.

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1. MEMBRO SUPERIOR 173

I .

Fig.4-72

Fig.4-73

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174 FISIOLOGIA ARTICULAR

A SUA FUNÇAO

A mão do homem é uma ferramenta mara­vilhosa, capaz de executar inumeráveis acõesgraças à sua função principal: a preensão. E "oinstrumento dos instrumentos" como disse Aris­tóteles.

Está dotada de uma grande riqueza funcio­nal que lhe proporciona uma superabundânciade possibilidades nas posições, nos movimentose nas ações.

Esta função de preensão pode-se encontrardesde a pinça do caranguejo à mão do símio,mas em nenhum outro ser, que não seja o ho­mem, alcança este grau de perfeição. Isto se de­ve à posição peculiar que apresenta o polegar depoder opor-se a todos os outros dedos. Em ma­cacos avançados, o polegar é oponente, mas aamplitude desta oposição jamais alcança a dopolegar humano.

Ao mesmo tempo, a ausência de especiali­zação da mão do homem é um fator de adapta­bilidade e de criatividade.

Do ponto de vista fisiológico, a mão repre­senta a "extremidade realizadora" do membrosuperior que constitui o seu suporte e lhe permi-

te adotar a posição mais favorável para umaação determinada. Porém, a mão não é unica­mente um órgão de execução, também é um re­ceptor funcional extremamente sensível e preci­so, cujos dados são imprescindíveis para a suaprópria ação. Por último, graças ao conheci­mento da espessura e das distâncias que lheproporciona o córtex cerebral, a mão é a educa­dora da visão, permitindo-lhe controlar e inter­pretar as informações: sem ela a nossa visão domundo seria plana e sem relevo. Ela constitui abase deste sentido tão específico que é a este­reognosia, conhecimento do relevo, da forma, daespessura, em resumo, do espaço. Também é aeducadora do cérebro devido às noções de su­perfície, peso e temperatura. É capaz, por simesma, de reconhecer um objeto, sem sequer re-correr à vista. I

Portanto, a mão constitui junto com o cére­bro um par funcional indissociável, onde cadatermo reage logicamente sobre o outro, e é gra­çasà proximidade desta inter-relação que o ho­mem pode modificar a natureza segundo os seusdesígnios e ser superior a todas as espécies terres­tres viventes.

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Renato Lira
Texto digitado
f
Renato Lira
Texto digitado
Capitulo 3 Prono??o - Supino??o
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1. MEMBRO SUPERIOR 175

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176 FISIOLOGIA ARTICULAR

TOPOGRAFIA DA MÃO

Podemos estudar a topografia das duas superfíciesda mão: a palmar e a dorsal.

A superfície palmar (fig. 5-1), ou anterior da mão,consta de duas partes possíveis de descrever: a palma ea superfície palmar dos dedos.

Assim sendo, a palma da mão inclui três partes:

- no centro, a palma propriamente dita (1), o"oco" da mão, que corresponde à cela palmarmédia com os tendões flexores, os vasos e osnervos, limitada por duas pregas transversais:a prega palmar inferior (2), que se correspon­de com as três últimas articulações metacar­pofalangeanas e a prega palmar média (3),que corresponde, por fora, com a metacarpo­falangeana do dedo indicador;

- por fora, uma zona especialmente convexa, car­nosa, contígua à base do polegar, a eminênciatenar (4), limitada por dentro pela prega palmarsuperior (5), também denominada prega de opo­sição do polegar, inclui os músculos tenares quesão motores intrínsecos do polegar; na sua por­ção superior, a palpação indica a proeminênciaóssea dura do tubérculo do escafóide (1);

- por dentro, a eminência hipotenar (7), menosproeminente que a anterior, inclui os músculoshipotenares, que são motores intrínsecos dodedo mínimo: a palpação permite localizar nasua parte superior a proeminência dura do pisi­forme (8), lugar de inserção da corda tendíneado ulnar anterior.

Acima da palma, o punho se corresponde com omaciço do carpo, a articulação rádio-carpeana no nívelda prega de fiexão do punho (9), sobre o qual finalizamperpendicularmente o tendão do palmar maior (10); quelimita por dentro o canal do pulso (11), o ligamento anu­lar anterior do carpo que forma um septo transversalnesta zona e a porção superior da palma.

A supeifície palmar dos dedos tem origem na pre­ga dígito-palmar (12) localizada de 10 a 15 mm abaixoda metacarpofalangeana. Os quatro últimos dedos estãoseparados entre si pela segunda, terceira e quarta comis­suras (13), menos profundas que na superfície dorsal. Aprega defiexão da inteifalangena proximal (14) é duplae se situa um pouco acima da sua articulação; separa aprimeirafalange (15) da segunda (16); a prega de fiexãoda inteifalangeana distal é simples (17), também locali­zada um pouco acima da sua articulação; constitui o li­mite superior da polpa do dedo (18), superfície anteriorda terceira falange. O polegar, situado na base do ladoexterno da mão está separado pela primeira comissura(19), ampla e profunda; está unido à eminência tenarmediante duas pregas de fiexão do polegar com a palma

(20) que estão ao redor da sua metacarpofalangeana; aprimeirafalange (21) está separada da polpa do polegar(22), superfície anterior da segunda falange, pela pregada inteifalangeana (23) localizada um pouco acima dasua articulação.

A superfície dorsal (fig. 5-2), ou posterior damão, também compreende duas regiões, a superfíciedorsal da mão e a dos dedos.

A supeifície dorsal da mão, coberta com uma pelefina e móvel, percorrida pela rede venosa que drena todoo sangue da mão e dos dedos, elevada pelos tendões ex­tensores (24), está limitada por baixo por três eminênciasduras e arredondadas, qu·e correspondem às cabeças dosmetacarpeanos (25), e pelas três comissuras interdigitais(26) profundamente marcadas na superfície dorsal.

Por dentro, o bordo ulnar da mão (27) está acol­choado pelo adutor do dedo mínimo.

Por fora (fig. 5-3), se localizam a primeira comis­sura (19) e a tabaqueira anatômica (28); esta última li­geiramente côncava, situada na união do punho com opolegar, está limitada pelos tendões do abdutor longoadosado ao do extensor curto (29) e pelo do extenso rlongo do polegar (30); no fundo da tabaqueira anatômi­ca se situam de cima para baixo o processo estilóide ra­dial, a articulação trapézio-metacarpeana (31) e a arté­ria radial; os tendões convergem sobre a superfície dor­sal do primeiro metacarpeano (32) no nível da metacar­pofalangeana do polegar (33).

Na parte interna da superfície dorsal do punho apa­rece, só na pronação, a proeminência dura e arredonda­da da cabeça ulnar (34).

A superfície dorsal dos dedos está indicada pelaspregas de extensão da inteifalangeana proximal (35)que correspondem à sua articulação. A última e terceirafalange contém a unha, inserida no limbo periungueal(37). A zona situada entre a unha e as pregas da interfa­langeana distal cobre a matriz ungueal (38).

A topografia funcional (fig. 5-4) permite ~ividir amão em três partes dependendo da sua utilização:

O polegar (I) que representa por si mesmo quasetodas as funções da mão, graças à sua propriedade deoposição em relação aos outros dedos;

O dedo indicador e o médio (lI) que constituemjunto com o polegar as preensões de precisão, as pinçasdo polegar com os dedos, bidigitais ou tridigitais;

O anular e o dedo mínimo (III) que, com o res­to da mão, são indispensáveis para as preensões palma­res, porque bloqueiam as preensões dos cabos das fer­ramentas pelo lado ulnar, mantendo, dessa forma, a fir­meza do punho.

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Fig.5-1

Fig.5-2

1. MEMBRO SUPERIOR 177

Fig.5-4

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178 FISIOLOGIA ARTICULAR

ARQUITETURA DA MÃO

Para pegar objetos a mão deve adaptar asua forma.

Numa superfície plana, um vidro porexemplo (fig. 5-5), a mão se estende e se aplai­na, entrando em contato (fig. 5-6) com a eminên­cia tenar (1), a eminência hipotenar (2), a cabeçados metacarpeanos (3) e a superfície palmar dasfalanges (4). Só a parte inferior-externa da palmapermanece à distância.

Quando desejamos pegar um objeto volu­moso, a mão se escava e se formam uns arcosorientados em três direções:

- no sentido transversal (fig. 5-7): o arcodo carpo XOY que corresponde à conca­vidade do maciço do carpo. Prolonga-separa baixo mediante o arco metacarpea­DO, no qual se alinham as cabeças meta­carpeanas. O eixo longitudinal do canaldo carpo passa pelo semilunar, o osso ca­pitato e o terceiro metacarpo;

- no sentido longitudinal (figs. 5-7 e 5-8):os arcos carpometacarpofalangeanosque assumem uma posição radiada domaciço do carpo e estão constituídos, emcada dedo, pelo metacarpeano e as falan­ges correspondentes. A concavidade des­tes arcos se orienta para a frente da palmae a chave da abóbada se localiza na arti­

culação metacarpofalangeana: um dese­quilíbrio muscular neste ponto provocauma ruptura da curva (ver figo 5-98, b,pág. 215). Os dois arcos longitudinaismais importantes são:

• arco do dedo médio OD3 (fig. 5-7), arcoaxial, porque prolonga o eixo do canaldo carpo, e especialmente

• arco do dedo indicador OD2 (fig. 5-8)que é o que se opõe com maior fre·qüência ao do polegar;

- no sentido oblíquo (figs. 5-7, 5-8 e 5-9).os arcos de oposição do polegar comos outros quatro dedos:

• o mais importante destes arcos oblí­quos une é opõe o polegar e o dedo in­dicador: D1-D2 (fig. 5-8);

• mais extremo dos arcos de oposiçãopassa pelo polegar e o dedo mínimo:D -D (figs. 5-7 5-8 e 5-9)1 s ' .

Em conjunto, quando a mão se "escava",forma um canal de concavidade anterior, cujasmargens estão limitadas por três pontos:

- o polegar (D), que constitui por si mes­mo a superfície externa;

- o dedo indicador (D2) e o dedo mínimo(Ds)' que limitam a superfície interna.

Os quatro arcos oblíquos de oposição selocalizam entre ambas as superfícies.

A direção geral, oblíqua, deste canal pal­mar - representado pela seta enorme que man­tém a mão (figs. 5-8 e 5-9) - está cruzada com re­lação aos arcos de oposição: se localiza em umalinha que se estende da base da eminência hipo­tenar (X) (fig. 5-7) - onde podemos palpar o pi­siforme - à cabeça do segundo metacarpo (2)(fig. 5-7). Esta direção se obtém, na palma damão, pela parte média da prega de oposição dopolegar ("linha da vida"). Também é a direçãoque segue um objeto cilíndrico segurado com to­da a mão, como por exemplo o cabo de um ins­trumento.

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Fig.5-7

Fig.5-9

1. MEMBRO SUPERIOR 179

2 Fig.5-6

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180 FISIOLOGIA ARTICULAR

ARQUITETURA DA MÃO(continuação)

Quando os dedos se separam, vollmtaria­mente (fig. 5-10), o eixo de cada um deles con­verge com a base da eminência tenar, num pontoque cOlTesponde aproximadamente ao tubérculodo escafóide, fácil de palpar. Na mão, os movi­mentos dos dedos no plano frontal normalmentenão se realizam com relação ao plano de simetriado corpo (movimentos de adução-abdução), massim em relação ao eixo da mão, constituído peloterceiro metacarpeano e o dedo médio; assimsendo nos referimos aos movimentos de separa­ção (fig. 5-10) e de aproximação (fig. 5-12) dosdedos. Durante estes movimentos, o dedo médiopermanece praticamente imóvel. Porém, é possí­vel que realize movimentos voluntários para fora(verdadeira abdução, em relação ao plano de si­metria) e para dentro (autêntica adução).

Quando se aproximam voluntariamente osdedos uns dos outros (fig. 5-12), os eixos dos de­dos não são paralelos, mas convergem num pon­to bastante afastado, que se localiza fora da ex­tremidade da mão. Isto se deve ao fato de que osdedos não são cilíndricos, sendo de calibre de­crescente da base até a ponta.

Quando permitimos que os dedos assu­mam uma posição natural (fig. 5-11) - posi­ção a partir da qual podemos realizar os movi­mentos de separação ou aproximação - ficamligeiramente afastados entre si, mas os seus ei­xos não convergem todos num único ponto. Noexemplo que se expõe, existe um paralelismoentre os três últimos dedos e uma divergênciaentre os três primeiros, sempre considerandoque o médio constitui o eixo da mão e serve dezona de transição.

Quando fechamos a mão com as articula­ções interfalangeanas distais estendidas (fig.5-13), os eixos das duas últimas falanges dosquatro últimos dedos e o eixo do polegar, me­nos a sua última falange, convergem numponto situado na parte inferior do canal do pul­so. Observe-se que desta vez, o eixo longitudi­nal é o do dedo indicador, enquanto os eixosdos três últimos dedos são mais oblíquosquanto mais se afastam do dedo indicador.Mais adiante poderemos ver (pág. 198) a uti­lidade e o motivo desta flexão oblíqua dosdedos.

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Fig.5-11

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\ \ -~ \ Fig.5-10

Fig.5-13

Fig.5-12

1. ':'IEMBRO SUPERIOR 181

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182 FISIOLOGIA ARTICULAR

o MACIÇO DO CARPO

o maciço do carpo constitui um corredorde concavidade anteri07; convertida em canalpelo ligamento anular anterior do carpo, que seestende de lado a lado do corredor.

Esta disposição em forma de sulco ou canalpode ser apreciada com bastante evidênciaquando observamos o esqueleto da mão, com opunho em hiperextensão (fig. 5-14). Nesta posi­ção, a direção do olhar se encontra exatamenteno eixo do canal do carpo, cujas margens pode­mos distinguir facilmente:

- por fora: o tubérculo do escafóide (1) ea crista do trapézio;

- por dentro: o pisiforme (3) e o processounciforme do osso hamato (4) (estasanotações levam a mesma numeraçãonas figuras seguintes).

Uma radiografia especial permite tanto ob­servar o mesmo aspecto em sulco quanto encon­trar as mesmas referências.

Dois cortes horizontais confirmam esta for­ma em sulco:

- o primeiro (fig. 5-15) passa pela fileirasllperi07; nível A (fig. 5-13): se distin­guem, de fora para dentro, o escafóide(1), a cabeça do osso capitato (5), limi­tada pelos dois comas do semilunar, opiramidal (7) e o pisiforme (3);

- o segundo (fig. 5-16) passa pela fileirainferior, nível B (fig. 5-13): de fora paradentro se localizam o trapézio (2), o tra­pezóide (6), o osso capitato (5) e o ossohamato (4).

Nestes dois cortes, o ligamento anular ante­rior do carpo está representado por uma linhatracejada.

Durante os movimentos de "escavação dapalma da mão", a concavidade do túnel do car-

po se aumenta ligeiramente graças aos pequenosmovimentos de deslizamento nas artródias quese localizam entre os diferentes ossos do carpo.A cavidade glenóide do escafóide se desliza so­bre a convexidade da cabeça do osso capitatonum movimento de "parafuso" para baixo e pa­ra frente; o piramidal e o osso ):1amatose deslo­cam simetricamente para frente, e especialmen­te o trapezóide e o trapézio se deslizam sobre asduas superfícies articulares inferiores do esca­fóide: o trapézio, em particular, percorre parafrente e para dentro da superfície articular deforma cilíndrica que se estende até a superfícieinferior do tubérculo do escafóide. Os motoresdestes movimentos são os músculos tenares (se­ta X) e hipotenares (seta Y) cujas inserções su­periores provocam a tensão do ligamento anular(fig. 5-16), de modo que os dois lados se aproxi­mam (representação em pontilhado).

No sentido longitudinal, podemos conside­rar que o maciço do carpo (fig. 5-17) está cons­tituído por três colunas (fig. 5-18):

- a coluna externa (a) (traços verticais):a mais importante, por se tratar da co­luna do polegar de Destot. Está consti­tuída pelo escafóide, o trapézio e o pri­meiro metacarpo;

- a coluna média (b) (traços oblíquos):constituída pelo semilunar, o osso capi­tato e o terceiro metacarpo, e forma,como mencionado anteriormente, o ei­xo da mão;

- a coluna interna (c) (traços horizon­tais): desemboca nos dois últimos de­dos. Está constituída pelo pir~midal e oosso hamato, que se articula com oquarto e o quinto metacarpeanos. O pi­siforme se desloca pela frente do pira­midal, de modo que não intervém natransmissão de forças.

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I

3

Fig.5-17

~A3

1. MEMBRO SUPERIOR 183

Fig.5-16

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184 FISIOLOGIAARTICliLAR

A ESCAVAÇÃO PALMAR

A escavação da palma se deve principal­mente aos movimentos dos quatro últimos meta­carpeanos (por enquanto se exclui o primeirometacarpeano) em relação ao carpo. Estes movi­mentos, realizados nas articulações carpometa­carpeanas, consistem em movimentos de fle­xão-extensão de escassa amplitude, comoacontece com todas as artródias. Porém, ditaamplitude vai aumentando do segundo ao quin­to metacarpo:

- quando a mão está plana, as cabeçasdos quatro últimos metacarpeanos es­tão alinhadas numa mesma reta AB(fig. 5-20: mão "em pé");

- quando se torna "oca", a cabeça dos trêsúltimos metacarpeanos "vão para fren­te" (fig. 5-19), quanto mais se aproximado quinto metacarpeano. Assim as cabe­ças dos metacarpeanos se dispõem aolongo de uma linha curvaA'B (fig. 5-20):o arco transversal metacarpeano.

É necessário salientar duas observações:

a) a cabeça do segundo metacarpeano Bquase não avança: os movimentos de fie­xão-extensão na articulação trapez.óide­segundo metacarpeano são, praticamen­te, inexistentes;

b) a cabeça do quinto metacarpeano A, do­tada do movimento mais amplo, se deslo­ca não somente para frente, mas tambémligeiramente para fora, até a posição A' .

Isto conduz ao estudo da articulação ossohamato-quinto metacarpeano:

Trata-se de uma artródia (fig. 5-22) cujassu­perfícies são ligeiramente cilíndricas e cujo eixoXX' apresenta uma dupla obliqüidade. Esta duplaobliqüidade explica os deslocamentos da cabeçado metacarpeano no sentido lateral externo.

I) quando se observa a superfície inferiordo maciço do carpo (fig. 5-21), o eixoXX' da superfície articular interna (indi­cado com uma cruz) do osso hamato es-

tá claramente oblíquo em relação aoplano frontal (traço preto): está oblíquode fora para dentro e de trás para diante.Qualquer movimento de flexão ao redordeste eixo desloca, logicamente, a cabe­ça do quinto metacarpeano para frente epara fora (direção da seta branca);

2) o eixo XX' desta articulação não é estri­tamente~perpendicular ao eixo diafisárioOA do quinto metacarpeano, mas formaum ângulo XOA um pouco menor que oângulo reto (fig. 5-18). Esta disposiçãotambém contribui para deslocar a cabeçado quinto metacarpo para fora, pelo me­canismo de rotação cônica:

- quando um segmento OA (fig. 5-23) gi­ra ao redor de um eixo perpendicularYY', o ponto A descreve um círculo decentro 0, incluído no plano P perpendi­cular ao eixo YY' (rotação plana);

- após certo grau de rotação, o ponto A sesitua em A';

- se este segmento OA gira ao redor deum eixo XX' não perpendicular, já nãodescreve um círculo, e sim um cone devértice 0, tangencial ao plano P em re­lação ao segmento OA. Após o mesmograu de rotação, o ponto A se localizanum ponto A' da base do cone (rotaçãocônica), e este ponto A' se situa, em re­lação ao plano P, do mesmo lado que oângulo agudo que formam o eixo XX' eo segmento OA.

Se transportarmos esta demonstração geo~métrica ao esquema da articulação (fig. 5-22), en­tendermos que a cabeça do metacarpeano sai doplano sagital para situar-se ligeiramente para fora.

Este movimento do quinto metacarpo parafrente e para fora ao mesmo tempo que realizauma ligeira supinação por rotação longitudinalautomática pode ser semelhante a uma oposiçãoem direção ao polegar, participando na oposiçãosimétrica do quinto dedo.

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1. MEMBRO SUPERIOR 185

~XI

Fig.5-20

XI

X

XI

Fig.5-21

Fig.5-22

Fig.5-19

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186 FISIOLOGIA ARTICULAR

AS ARTICULAÇÕES METACARPOFALANGEANAS

As articulações metacarpofalangeanas sãode tipo condilar (fig. 5-24).

Possuem dois graus de liberdade:

- fiexão-extensão, no plano sagital, emtomo do eixo transversal yy';

- desvio lateral, no plano frontal, em tor­no do eixo ântero-posterior xx'.

A cabeça do metacarpeano possui umasuperfície articular A, o côndilo, convexa emambos os sentidos e mais extensa e larga pelafrente que por trás.

A base da primeira falange está "escava­da" por uma superfície B, a cavidade glenóide,côncava em ambos os sentidos, de menor super­fície que a cabeça do metacarpeano. Prolonga-sepela frente mediante uma superfície de "apoio":afibrocartilagem glenóide (2), pequena lingüetafibrosa inserida no bordo anterior da base falan­

geana, com uma pequena incisura (3) que lheserve de charneira.

De fato (fig. 5-25), na extensão (a), a super­fície profunda e cartilaginosa da fibrocartilagemse encontra em contato com a cabeça do meta­carpo. Enquanto na flexão (b), a fibrocartilagemultrapassa a cabeça e, pivotando em tomo dasua chameira, desliza sobre a superfície anteriordo metacarpeano, o que é possível graças à suaflexibilidade. A fibrocartilagem permite conci­liar dois imperativos aparentemente contraditó­rios: uma superfície de máximo contato entre asduas extremidades ósseas e a ausência de pico,

limitando o movimento. A liberdade de movi­

mento da flexão-extensão é possível graças à

ponta arredondada posterior (4) e anterior (5) dacápsula. A profImdidade da ponta arredondadaanterior é indispensável para o deslizamento dafibrocartilagem gle.nóide. Na parte posterior dabase falangeana, se insere a lingüeta profunda(6) do tendão extensor.

A cada lado da articulação se estendemdois tipos de ligamentos:

- um ligamento metacarpoglenóide (vermais adiante) que controla os movimen­tos da fibrocartilagem glenóide;

- um ligamento lateral, mostrado numcorte (1) da figura 5-24. Os dois liga­mentos laterais mantêm as superfíciesarticulares em contato e limitam os mo­vimentos.

Na cabeça metacarpeana (fig. 5-26, segun­do Dubousset), a inserção proximal A do liga­mento lateral não se situa no centro da curva ar­

ticular, estando claramente por trás; por outrolado, existe toda uma série de centros de Cllrraque formam uma espiral, o que indica a variaçãodo raio de curva da cabeça metacarpeana. Destemodo, a distância entre o ponto de inserção pro­ximal A e o ponto de inserção distal B na pri­meira falange em extensão e B' em flexão passade 27 mm a 34 mm. Por conseguinte, o ligamen­to lateral se distende na extensão e está tenso najlexão.

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2

3

Fig.5-24

6

A

X'

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Fig.5-26

6

4

1. MEMBRO SUPERlOR 187

Fig. 5-25 a

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188 FISIOLOGIA ARTICULAR

AS ARTICULAÇÕES METACARPOFALANGEANAS !

(continuação)

r

Assim sendo, é fácil entender (fig. 5-27,corte frontal) que na extensão (a) a distensão dosligamentos laterais permite os movimentos delateralidade (b): um está tenso, enquanto o outrose distende.

Por isso, a estabilização da metacarpofa­langeana se mantém na flexão pelos ligamentoslaterais e na extensão pelos músculos interós­seos.

Outra conseqüência importante desta con­sideração é que as metacarpofalangeanas ja­mais devem imobilizar-se em extensão a não

ser em caso de rigidez quase impossível de re­cuperar: a distensão dos ligamentos lateraispermite a sua retração, algo que não pode acon­tecer na flexão.

A forma das cabeças metacarpeanas (figs.5-28, 5-29, 5-30 e 5-31, cabeças dos metacar­peanos lI, IlI, IV e V do lado direito) e a longi­tude dos ligamentos, bem como a sua direção,desempenham um papel essencial, por uma par­te, na flexão oblíqua dos dedos (ver mais adian-

te) e, por outra parte, segundo R. Tubiana, nomecanismo das inclinações ulnares durante oseu processo reumático.

A cabeça do II metacarpeano (fig. 5-28) éclaramente as simétrica devido à sua grande su­perfície posterior-interna e ao seu aplainamentoexterno; o ligamento lateral interno é mais gros­so e mais longo que o externo cuja inserção émais posterior.

A cabeça do III metacarpeano (fig. 5-29)possui uma assimetria similar à do II metacarpo.embora menos acentuada; os seus ligamentospossuem características idênticas.

A cabeça do IV metacarpeano (fig. 5-30) émais simétrica com superfícies dorsais iguais: osligamentos laterais são de espessura e obliqüida­de idênticos, sendo o externo ligeiramente maislongo.

A cabeça do V metacarpeano (fig. 5-31)possui uma assimetria inversa à do dedo indica­dor e à do médio; os ligamentos laterais se apre­sentam como os da IV cabeça.

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Fig.5-27

Fig.5-28

Fig.5-30

1. MEMBRO SUPERIOR 189

Fig.5-29

Fig.5-31

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190 FISIOLOGIA ARTICULAR

o APARELHO FIBROSO DAS ARTICULAÇÕES METACARPOFALANGEANAS

Os ligamentos laterais da metacarpofalangea­na se integram num aparelho fibroso mais com­plexo que levanta e "centra" os tendões extensorese ftexores.

Numa vista em perspectiva posterior, superior elateral da articulação (fig. 5-32), podemos observaros seguintes tendões:

- o extensor comum (1), que, na superfíciedorsal da cápsula dirige a sua expansãoprofunda (a) para a base da primeira falan­ge na qual se insere; a seguir, o tendão sedivide numafaixa média (b) e duas faixaslaterais (c), que recebem as expansões dosinterósseos (não representadas nas figu­ras). Pouco antes da separação da expan­são profunda, podemos observar como sedesprendem das margens laterais do exten­sor umas faixas sagitais (d), supostamentetransparentes nos desenhos, que atra­vessam as margens laterais da articulaçãopara inserir-se no ligamento transverso in­tercarpeano (4); deste modo, o tendão ex­tensor se mantém no eixo sobre a superfí­cie dorsal convexa da cabeça metacarpea­na, no percurso da ftexão da articulação;

- os flexores, o profundo (2) e o superficial(3), se introduzem na polia metacarpeana(5) que tem origem nafibrocartilagem gle­nóide (5) e se prolonga (5) sobre a superfí­cie palmar da primeira falange: neste ponto,o ftexor superficial se divide em suas duasfaixas (3') antes que o tendão do ftexor pro­fundo o perfure (2).

Também podemos observar o aparelho cápsu­lo-ligamentar:

- a cápsula articular (7) reforçada por:

• ligamento lateral que se insere no tubér­culo lateral (8) da cabeça metacarpeana,deslocada por trás da linha dos centros decurva (ver antes) e se divide em três partes:

- um fascículo metacarpofalangeano (9) oblí­quo para baixo e para frente em direção à ba­se da primeira falange; mencionado anterior­mente;

- o fascículo metacarpoglenóide (10), que sedirige para frente para inserir-se nas margensda fibrocartilagem glenóide (6) que o adapta

contra a cabeça de metacarpeano de modo amanter a sua estabilidade;

- o fascículo falangoglenóide (11) mais fino,que realiza a "chamada" da fibrocartilagemglenóide durante a extensão;

• ligamento transverso intermetacarpea­no (4) se insere nas margens adjacentesdas fibrocartilagens glenóides vizinhas, detal forma que as suas fibras se estendem deum ládo ao outro da mão, no nível das ar­ticulações metacarpofalangeanas com asque delinlitam túneis osteofibrosos por cu­jo interior passam os tendões dos interós­seos (sem representação nas figuras); pelafrente do ligamento transverso se desliza otendão do músculo lumbrical (sem repre­sentação nas figuras).

Deste modo, a polia metacarpeana (5), que seinsere nas superfícies laterais da fibrocartilagem, ficaliteralmente suspensa na cabeça metacarpeana me­diante o fascículo metacarpoglenóideo e a fibrocarti­lagem glenóide.

Este dispositivo desempenha um papel muitoimportante durante a flexão da metacarpofalan­geana:

- em estado normal (fig. 5-33), a polia, cujasfibras se '·arregaçam" distalmente, transmitetodo o "componente de decolagem" (seta) àcabeça do metacarpeano, através do fascícu­lo glenóide: os tendões ftexores permane­cem aderidos ao esqueleto e a base falangea­na fica estável;

- em estado patológico (fig. 5-34), quando osfascículos do ligamento lateral se distendematé destruir-se por um processo reumático, o"componente de decolagem" (seta), provo­cado pela tração dos ftexores, já não se exer­ce sobre a cabeça do metacarpeano, mas simsobre a base da primeira falange que se luxaanteriormente e para cima, de modo que pro­voca uma proeminência acentuada da cabe­ça do metacarpeano;

- a correção de tal situação (fig. 5-35) pode­se conseguir, em certa medida, medianteuma remoção da parte proximal da poliametacarpeana, mas em detrimento da eficá­cia dos ftexores.

Page 196: Kapandji - Volume 1

Fig.5-33

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Fig.5-35

1. MEMBRO SUPERIOR 191

2

Fig.5-34

Page 197: Kapandji - Volume 1

]92 FISIOLOGIA ARTICULAR

o APARELHO FIBROSO DAS ARTICULAÇÕES METACARPOFALANGEANAS(continuação)

Os tendões extensores comuns (fig. 5-36)que convergem na superfície dorsal do punhosão extremamente solicitados para dentro (se­tas brancas) do bordo ulnar, devido ao "ângulode distração" formado entre o metacarpeano ea primeira falange, mais acentuado no caso dodedo mínimo (14°) e do anular (13°) que no ca­so do dedo indicador (8°) e especialmente domédio (4°). Unicamente a faixa sagital do ex­tensor, situada no bordo radial, se opõe a estecomponente de luxação ulnar do tendão exten­sor sobre a superfície dorsal convexa da cabe­ça do metacarpeano.

No curso de um processo reumático (fig.5-37, vista em corte das cabeças metacarpea-

nas), as lesões degenerativas destroem não so­mente os ligamentos laterais (10), o que "de­sengancha" a placa palmar (6) ou fibrocartila­gem glenóide na qual se insere a polia meta­carpeana (5) que inclui os flexores profundo(2) e superficial (3), mas também distendemou despegam a faixa sagital (d) do bordo ra­dial, permitindo assim o deslocamento do ten­dão extensor (1) do bordo ulnar e a sua "luxa­ção" nos "vales" intermetacarpeanos. Em con­dições normais, este espaço intermetacarpeanosó contêm os tendões dos interósseos (12) pe­la frente do ligamento intermetacarpeano (4),enquanto o tendão do lumbrical (13) se locali­za por trás.

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Fig.5-36

1. MEj\1BRO SUPERIOR 193

Fig.5-37

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194 FISIOLOGIA ARTICULAR

A AMPLITUDE DOS MOVIMENTOS DAS ARTICULAÇÕESMETACARPOFALANGEANAS

A amplitude da flexão (fig. 5-38) é aproxi­madamente de 90°; todavia, é necessário ressal­tar que, embora alcance os 90°justos no caso dodedo indicador, aumenta progressivamente até oquinto dedo. Além disso, a flexão isolada de umdedo (neste caso o dedo médio) está limitada pe­la tensão do ligamento palmar interdigital.

A amplitude da extensão ativa varia emcada indivíduo: pode atingir de 30 a 40° (fig. 5­40). A extensão passiva pode atingir quase os90° em indivíduos com uma grande lassidão li­gamentar (fig. 5-41).

De todos os dedos (exceto o polegar), odedo indicador é o que possui (fig. 5-42) amaior amplitude de movimento em direção la­teral (30°) e, como é fácil movê-l o de formaisolada, podemos nos referir à abdução (A) eadução (B). O dedo indicador deve a sua deno­minação, índice = indicador, à esta mobilida­de privilegiada.

Combinando movimentos em diferentesgraus (fig. 5-43) de abdução (A)-adução (B) e deextensão (C)-flexão (D), o dedo indicador poderealizar movimentos de circundução. Estesmovimentos se limitam ao interior do cone decircundução definido pela sua base (ACBD) e oseu vértice (articulação metacarpofalangeana).Este cone está achatado transversalmente devido

à maior amplitude dos movimentos de flexão­extensão. O seu eixo (seta branca) representa a

posição de equiltbrio - tamb~m denominadafuncional - da articulação metacarpofalangeanado dedo indicador.

As articulações de tipo condilar não pos­suem normalmente p terceiro grau de liberdade(rotação longitudinal). É o caso das articulaçõesmetacarpofalangeanas dos quatro últimos dedosque não possuem rotação longitudinal ativa.

Contudo, a laxitude ligamentar permite cer­ta amplitude de rotação axial passiva. A suaamplitude é de 60° aproximadamente (Roud).

É necessário ressaltar que no caso do dedoindicador, a amplitude da rotação axial passivainterna - ou pronação - é muito maior (45°) quea amplitude da rotação axial externa - supinação- quase nula.

Se não possuem movimento de rotaçãolongitudinal ativa individualizada, as metacar­pofalangeanas possuem, porém, devido à assi­metria do côndilo metacarpeano e da desigual­dade de tensão e de comprimento dos ligamen­tos laterais, um movimento de rotação longi­tudinal automática no sentido da supinação.Este movimento cujo mecanismo é idêntico aoda interfalangeana do polegar é mais acentuadoquanto mais interno seja o dedo, de modo queé máximo no caso do dedo mínimo onde se in­

tegra no movimento de oposição simétrica aodo polegar.

--------. -----.--

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Fig.5-38

Fig.5-40

1. MEMBRO SUPERIOR 195

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Fig.5-42 Fig.5-41 Fig.5-43

Page 201: Kapandji - Volume 1

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196 FISIOLOGIA ARTICULAR

ASARTICULAÇÕESINTERFALANGEANAS

I··

As articulações interfalangeanas são dotipo troclear: possuem só um grau de liber­dade:

- a cabeça da falange (fig. 5-44 e figo5-45,A) tem a forma de uma polia e possui sóum eixo XX', transversal, em tomo do

qual se realizam os movimentos de fie­xão-extensão, no plano sagital;

- a base da falange distal (B), que lhecorresponde (fig. 5-45), está escavadapor duas pequenas cavidades glenóidesque se encaixam sobre as duas superfí­cies articulares da tróclea. A crista rom­

ba que separa ambas as cavidades gle­nóides se aloja na garganta da polia.

Como no caso das articulações metacar­pofalangeanas, e pelas mesmas razões me­cânicas, existe uma fibrocartilagem glenóide(2) (os números cOlTespondem aos da figura5-24).

Em fiexão (fig. 5-46), a fibrocartilagem gle­nóide desliza sobre a superfície anterior da fa­lange proximal.

Em vista lateral (fig. 5-47), podemos distin­guir, além dos ligamentos laterais (1), as expan­sões do tendão extensor (6) e os ligamentos fa­langoglenóides (7).

É necessário ressaltar que os ligamentos la­terais estão mais tensos na fiexão que no casodas articulações metacarpofalangeanas: de fato(fig. 5-45), a polia falangeana (A) se alarga no­tavelmente para frente, de modo que a tensãodos ligamentos aumenta e proporciona um apoiomais amplo para a base da falange distal. Portan­to, os movimentos de lateralidade não existem

no caso da fiexão.

Também estão tensos durante a máxima ex­

tensão que representa uma posição de estabilida­de lateral absoluta. Contudo, estão distendidosna posição de fiexão intermédia, que jamais deyeser uma posição de imobilização porque favore­ceria a sua retração e uma rigidez posterior.

Outro fator de rigidez em fiexão está cons­tituído pela retração dos "freios da extensão".O autores anglo-saxões recentemente decreve­ram estas estruturas nas articulações interfalan­geanas proximais (fig. 5-48, vista palmar exter­na e superior de uma articulação interfalangeanaproximal) com a denominação ,de "check rein li­gaments": estão constituídas por um fascículode fibras longitudinais (8) localizado na superfí­cie anterior da placa palmar (2) em um e noutrolado dos tendões fiexores profundo (11) e super­ficial (12), entre a 'inserção da polia da segundafalange (10) e a da primeira (sem represen­tação), formando o limite lateral das fibras dia­gonais (9) da polia da interfalangeana proximal.Estes freios da extensão impedem a hiperexten­são da interfalangeana proximal e, pela sua re­tração, são uma causa primordial da rigidez emftexão; de modo que devem remover-se cirurgi­camente.

Em resumo, as interfalangeanas, especial­mente as proximais, devem ser imobilizadas nu­ma posição próxima à extensão.

A amplitude dafiexão nas articulações inter­falangeanas proximais (fig. 5-49) ultrapassa os90°: por conseguinte. F e F formam entre si umI _ângulo agudo (neste esquema, as falanges não se\"êmexatamente de perfil, o qual faz com que osângulos pareçam obtusos). Como no caso dasmetacarpofalangeanas, esta amplitude de fiexãoaumenta progressivamente do segundo ao quin­to dedo, para alcançar os 135° no dedo mínimo.

A amplitude da fiexão nas articulações in­terfalangeanas distais (fig. 5-50) é ligeiramente

inferior a 90° (o ângulo entre F2 e F3 permaneceobtuso). Como no caso anterior, esta amplitudeaumenta do segundo ao quinto dedos, para atin­gir os 90° no dedo mínimo.

A amplitude da extensão ativa (fig.j-51)nas articulações interfalangeanas é:

- inexistente nas articulações proximais(P);

- inexistente ou muito pequena (5°) nasarticulações distais (D).

Page 202: Kapandji - Volume 1

1. MEMBRO SUPERIOR 197

Fig.5-45

Fig.5-49

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Fig.5-46

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Fig.5-47

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Fig.5-48

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11Fig.5-50

Page 203: Kapandji - Volume 1

198 FISIOLOGIA ARTICULAR

ASARTICULAÇÕESINTERFALANGEANAS(continuação)

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Com relação à extensão passiva (fig. 5­52), esta é inexistente na interfalangeana pro­ximal (P), mas bastante acentuada (30°) na in­terfalangeana distal (D).

As articulações interfalangeanas possuemsó um grau de liberdade, nesse caso não exis­tem movimentos ativos de lateralidade. Seexistem alguns movimentos passivos de late­ralidade no caso da interfalangeana distal(fig. 5-53), pelo contrário, a interfalangeanaproximal é bastante estável lateralmente, oque explica o transtorno que traz uma rupturade um ligamento lateral neste nível.

Um ponto importante é o plano no qualse realiza a flexão dos quatro últimos dedos(fig. 5-54):

- o dedo indicador se flexiona diretamenteno plano sagital (P), em direção à baseda eminência tenar (seta branca grande);

- porém, vimos anteriormente (ver figo5-13) que, na flexão dos dedos, os seuseixos convergem num ponto situado naparte inferior do canal do pulso. Portan­to, para que isto aconteça, é necessárioque os três últimos dedos se flexionem,não como o dedo indicador no plano sa­gital, mas sim numa direção mais oblí­qua quanto mais interno seja o dedo;

- com relação ao dedo mínimo, esta dire­cão, oblíqua ao máximo, está representa­da no esquema pela seta branca pequena.

A importância deste tipo de flexão "oblí­qua" é que permite que os dedos mais internosrealizem o movimento de oposição ao polegardo mesmo modo que o faz o dedo indicador.

Como é possível esta flexão "oblíqua"?Um esquema simples (fig. 5-55) e um encaixe

(ver no final deste volume) facilitam a com­preensão:

- uma tira estreita de papelão (a) repre­senta a cadeia articular de um dedo: o

metacarpeano (M) e as três falanges (FI'F2 e F);

- se a dobra, que representa o eixo de fle­xão de uma interfalangeana, é perpendi­cular (xx') ao eixo longitudinal da tira, afalange vai se flexionar diretamente noplano sagital (d) e vai cobrir exatamen­te a falange suprajacente;

- pelo contrário, se a dobra é levementeoblíqua para dentro (xx'), a flexão jánão se produz no plano sagital e a fa­lange flexionada (b) desdobrará parafora a falange suprajacente;

- basta uma leve obliqüidade do eixo deflexão, já que se multiplica por três(xx', yy', zz'), para que o dedo míni­mo totalmente flexionado (c), sua obli­qüidade lhe permita atingir o polegar:

- esta demonstração é válida, em grausdecrescentes, para o anular e o médio.

Na realidade, os eixos de flexão das meta­carpofalangeanas e das interfalangeanas nãosão fixos nem imutáveis: perpendiculares emmáxima extensão, se tornam progressivamenteoblíquos no decurso da flexão; assim, dizemosque são evolutivos.

A evolução dos eixos de flexão das articu­lações dos dedos se deve à assimetria das su­perfícies articulares metacarpeanas (ver aci­ma) e falangeanas e à tensão diferencial dos li­gamentos laterais, como teremos ocasião decomprovar no caso da metacarpofalangeana einterfalangeana do polegar.

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Fig.5-52 Fig.5-53

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200 FISIOLOGIA ARTICULAR

SULCOS OU CANAIS E BAINHAS DOS TENDÕES FLEXORES

Para percorrer as porções côncavas da sua trajetó­ria, os tendões devem estar ligados ao esqueleto median­te sulcos ou canais fibrosos, porque senão, a tensão pro­vocaria que seguissem a corda do arco do esqueleto, demodo que seriam ineficazes devido ao relativo alonga­mento em relação ao esqueleto.

Entre as duas margens do canal do carpo (fig. 5­56) se estende uma faixa fibrosa, o ligamento anularanterior do carpo (1). Assim, se constitui um primeirosulco osteofibroso, o canal do carpo (fig. 5-57, segundoRouviere) pelo qual passam (seta branca) todos os ten­dões flexores que se dirigem do antebraço à mão.

No corte do canal do carpo (fig. 5-58), podemosobservar os dois planos dos tendões flexores superficiais(2) e profundos (3), bem como o tendão do flexor longopróprio do polegar (4). O tendão do palmar maior (5)passa por um compartimento especial do canal do carpopara inserir-se no segundo metacarpeano (fig. 5-57). Onervo mediano (6) também passa pelo canal, onde, emdeterminadas circunstâncias, pode ficar comprimido, oqual não acontece com freqÜência no caso do nervo ul­nar (7) que, acompanhado da sua artéria, passa por umcanal especial, o canal de Guyon, pela frente do liga­mento anular.

Os tendões flexores estão mantidos por três poliasfibrosas em cada dedo (figs. 5-56 e 5-59): a primeira (8)ligeiramente acima da cabeça do metacarpeano, a segun­da (9) na superfície anterior da primeira falange, a tercei­ra (10) na superfície anterior da segunda falange. Dessemodo, com a superfície anterior ligeiramente côncavadas falanges, as polias constituem (destaque na figo5-56)autênticos canais osteofibrosos. Entre estes três canais,os tendões estão mantidos por um sistema de fibras tan­to oblíquas quanto cruzadas (11) que passam "em fan­farra", diante da articulação metacarpofalangeana e in­terfalangeana proximal.

As bainhas serosas permitem o deslizamentodos tendões no interior dos sulcos, como se fossem asbainhas dos cabos de freio.

As bainhas digitais têm a estrutura mais simplesno caso dos três dedos médios (fig. 5-60, esquema sim­plificado): o tendão (para simplificar só está representa­do um deles) está envolvido numa bainha serosa (umaparte do qual foi removida no esquema) constituído porduas lâminas: uma lâmina "visceral" (a) em contatocom o tendão e uma lâmina "parietal" que recobre a su­perfície profunda do sulco osteofibroso. Entre estas duaslâminas se encontra uma cavidade virtual fechada (c),porque as duas lâminas continuam uma com a outra for­mando dois recessos peritendinosos (d); o corte A cor-

responde a esta disposição simples. Quando o tendão sedesloca no seu sulco, a lâmina visceral, lubrificada poruma pequena quantidade de líquido sinovial, desliza so­bre a lâmina parietal (semelhante ao movimento da cor­rente de um trator). Se, por conseqüência da infecção deuma bainha, as duas lâminas se aderem entre si, o tendãojá não pode deslizar pelo seu canal, fica "entalado" co­mo se fosse um cabo de freio enferrujado: deixa de fun­cionar.

Em algumas zonas (corte B) vasos destinados aotendão deslocam arÍlbas as lâminas, de modo que cons­tituem um "mesotendão" (e), os vincula tendinorum, es­pécie de septo longitudlnal que parece manter o tendãono interior da cavidade sinovial (c). Trata-se de uma des­crição bastante simplificada, principalmente com rela­ção aos recessos (ver a descrição num tratado de anato­mia).

Na palma da mão, os tendões deslizam por trêsbainhas carpeanas (fig. 5-56) que são, de fora paradentro:

- a bainha rádio-carpeana (13), que envolve otendão do flexor longo do polegar e se continuacom a bainha digital do polegar;

- a bainha média (12), anexa ao tendão flexorprofundo do dedo indicador;

- a bainha ulnocarpeana (14), que desloca trêsrecessos para frente, para trás e entre os tendõessuperficiais e profundos (fig. 5-58) e se prolon­ga com a bainha digital do quinto dedo.

No plano topográfico, é importante ressaltar:

1) as pontas superiores das bainhas do carpoultrapassam amplamente por cima do liga­mento anular, em direção ao antebraço(fig. 5-56);

2) as bainhas digitais dos três dedos médios ascen­dem quase até a metade da palma e as suas pon­tas superiores se correspondem com a prega pal­mar inferior (ppi) para o terceiro e quarto dedoe com a prega palmar média (ppm) para o se­gundo (fig. 5-56),

3) as pregas palmares (setas pretas) de flexão dosdedos (fig. 5-59) são - salvo a prega superior- suprajacentes às articulações corresponden­tes; neste caso a pele entra diretamente em con­tato com a bainha que pode ser inoculada poruma injeção séptica.

Observar também que as pregas dorsais (setasbrancas) são suprajacentes à sua articulação.

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Fig.5-60

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Fig.5-59

1. MEMBRO SUPERIOR 201

Fig.5-57

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202 FISIOLOGIA ARTICULAR

OS-TENDÕES DOS MÚSCULOS FLEXORES LONGOS DOS DEDOS

o corpo carnoso dos músculos flexores dosdedos se localiza no compartimento anterior doantebraço: portanto, se trata de músculos ex­trínsecos, com relação à mão. Após haver estu­dado o seu trajeto no punho e na palma da mão,resta considerar de que maneira finalizam e queação realizam.

O músculo mais superficial - o flexor co­mum superficial dos dedos (sem tracejar, figo 5­61, a) - deve terminar antes (em F) que o múscu­lo mais profundo - o flexor comum profundo dosdedos (tracejado, figo5-61, a). De modo que é ne­cessário que estes dois tendões se Cnlzem no es­paço e de forma simétrica a não ser que seja in­troduzido um componente lateral prejudicial. Aúnica solução é que um dos tendões passe atra­-résdo outro. Mas, qual dos dois deve perfurar ooutro? Podemos entender com facilidade que oprofundo é o que perfura o supe1jicial. Os esque­mas tradicionais de anatomia (fig. 5-61) mostramas diferentes modalidades do cruzamento:

- o tendão superficial (b) se divide em duaslingüetas no nível da articulação metacar­pofalangeana; ditas lingüetas rodeiam asmargens do tendão profundo (c) antes dereunir-se na articulação FoF para se inse-" 1

rir nas superfícies laterais de F2• Isto ficaclaro nos cortes e na vista em perspectiva(fig. 5-62), na qual podemos observartambém os mesotendões (ver figo5-60).

Estes vincula tendinorum asseguram a vas­cularização dos tendões, segundo Lundborg ecols., conforme dois sistemas (fig. 5-62):

- o sistema do flexor comum superficial,por dois aportes:

• proximal, para a zona A, pelos micro­vasos longitudinais intrínsecos (1) e osvasos da ponta proximal da bainha si­novial (2);

• distal, para a zona B, pelos vasos dovinculum brevis (3) nas inserções dasfaixas laterais da segunda falange;

Entre as duas zonas, existe um segmentoavascular (4) que se corresponde com a divi-são das faixas. I

- o siste~ma do flexor comum profundo,por três aportes:

• proximal, para a zona A, com os doistipos de vasos (5) e (6) comparáveisaos do flexor superficial;

• intermédio, para a zona B, pelos va­sos do vinculum longus (7) dependen­te por sua vez do vinculum brevis doflexor superficial;

• distal, para a zona C, pelos vasos dovinculum brevis, que se insere na ter­ceira falange (8).

No caso do flexor profundo, existem trêszonas avasculares:

- um segmento (9) entre as zonas A e B;

- um outro segmento (10) entre as zonasB e C;

- e por último, no nível da "terra de nin­guém", na frente da interfalangeanaproximal, urna zona periférica (11) deum milímetro de espessura, ou seja aquarta parte do diâmetro do tendão.

O conhecimento desses sistemas de vas­

cularização tendinosa é indispensável para ocirurgião da mão, se ele não quiser comprome­ter ou destruir os aportes vasculares necessá­rios para o bom trofismo dos tendões. Alémdisso, as zonas avasculares têm o maior riscode desco1amento das suturas.

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1. MEMBRO SUPERIOR 203

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Fig.5-62

Fig.5-61

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204 FISIOLOGIA ARTICULAR

OS TENDÕES DOS MÚSCULOSFLEXORES LONGOS DOS DEDOS(continuação)

Poderíamos conceber uma disposiçãomais simples na qual os tendões não deveriamse cruzar (o tendão que termina em Fo seria

profundo e o que se insere em F3 seria süperfi­cial) de modo que seria útil perguntar: qual é anecessidade mecânica deste cruzamento tãocomplicado? Sem cair na posição finalista, éconveniente assinalar (fig. 5-63) que permane­cendo superficial quase até a sua terminação otendão flexor da segunda falange forma comesta um ângulo de tração ou ângulo de aproxi­mação. maior que se estivesse em contato como esqueleto; isto aumenta a sua eficácia e pode­mos dar uma explicação lógica ao fato de que otendão superficial e não o profundo é o que éperfurado.

A ação destes dois músculos se pode dedu­zir pela sua inserção:

- o flexor comum superficial dos dedos(fig. 5-63) que se insere, como foi com­provado anteriormente, na segunda fa­lange, é fiexor da segunda falange:

• naturalmente, está privado de ação so­bre a terceira falange;

• é pouco flexor da primeira falange e in­clusive é necessário que a segunda es­teja completamente flexionada;

• a sua eficácia é máxima quando a pri­meira falange está estendida pela con-

I -

tração do extensor comum (antagonis­mo-sinergia) ,

• seu ângulo de aproximação, e portantoa sua eficácia, aumenta progressiva­

mente à medida que F2 se flexiona.

- flexor comum profundo dos dedos (fig.5-64); que se insere na base da terceirafalange, é antes de tudo flexor da terceirafalange:

• mas esta flexão de F3 se associa rapida­mente com a flexão de Fo, porque nãoexiste extensor seletivo de Fo capaz derealizar a oposição a esta flexão. Paraexplorar a força do flexor profundo énecessário manter manualmente F2 emextensão;

• quando FI e F2 se colocam manualmen­te em flexão de 900, o flexor profundo

é incapaz de flexionar F3: fica distendi­do demais e, portanto, é ineficaz;

• a sua eficácia é máxima quando a pri­meira falange se mantém em extensãopor contração do extenso r comum (an­tagonismo-sinergia) .

Apesar dessas limitações, se pode demons­trar a importante função do flexor profundo. Osextensores radiais longo e curto do carpo (Rs)e oextensor comum (EC) são sinérgicos dos fiexores(fig. 5-65).

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Fig.5-65

Fig.5-63

Fig.5-64

1. MEMBRO SUPERIOR 205

EC

EC

~ECRs

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206 FISIOLOGIA ARTICULAR

OS TENDÕES DOS MÚSCULOS EXTENSORES DOS DEDOS

Os músculos extensores dos dedos tambémsão músculos extrínsecos. Percorrem os sulcos,mas como o seu trajeto é, em conjunto, convexo,são menos numerosos. Só existem no punho,único ponto onde o trajeto dos tendões se trans­forma em côncavo durante a extensão. Neste ca­so, o sulco osteofibroso está constituído pelaporção inferior dos dois ossos do antebraço e pe­lo ligamento anular posterior do carpo (fig. 5­66). Este sulco, por sua vez, está subdivididoem seis túneis por septos fibrosos que se esten­dem da superfície profunda do ligamento anularao esqueleto. Podemos observar, de dentro parafora (de esquerda à direita no esquema), os tú­neIS:

1) do extensor ulnar do carpo;

2) do extensor do dedo mínimo cujo tendãose une mais abaixo com o do extensor co­mum destinado também ao quinto dedo;

3) dos quatro tendões do extensor comum,acompanhado em profundidade pelotendão do extensor próprio do dedo indi­cador, que se une um pouco mais abaixodo tendão do extensor comum destinadoao dedo indicador;

4) do extensor longo próprio do polegar;

5) dos extensores radiais longo e curto docarpo;

6) do extensor próprio curto do polegar edo abdutor longo do polegar.

Nestes sulcos osteofibrosos, os tendões ex­postos estão envolvidos por bainhas serosas(fig. 5-67) que passam por cima do ligamentoanular dorsal e se estendem bastante abaixo so­bre a superfície dorsal da mão.

Do ponto de vista fisiológico, o extenso rcomum dos dedos é, principalmente, o exten­sor da primeira falange sobre o metacarpeano.

Esta ação se manifesta com força e evidên­cia, seja qual for a posição do punho (fig. 5-69).Transmite-se à primeira falange pela expansãoprofunda (1), longa de 10 a 12 mm, que se des­cola da superfície profunda do tendão, diferente

da cápsula da metacarpofalangeana, para inserir­se junto com a cápsula na base de FI: em umavista dorsal (a), um segmento de tendão removi­do deixa ver esta expansão profunda (1).

Pelo contrário, a ação sobre a segundafalange - através da lingüeta média (2)- e so­bre a terceira falange - através das duas lingüe­tas laterais (3) - depende do grau de tensãodo tendão e, por conseguinte, da posição dopunho (fig. 5-69), e também do grau de fie­xão da metacarpofalangeana:

- só é relevante quando o punho está fle­xionado (A);

- é parcial e incompleta em posição dealinhamento (B);

- é inexistente quando o punho está esten­dido (C).

De fato, a ação do extensor comum sobreas duas últimas falanges depende do grau de ten­são dos flexores:

- se os tendões estão tensos devido à exten­são do punho ou da metacarpofalangea­na, o extensor comum é incapaz, por sisó, de estender as duas últimas falanges;

- se, pelo contrário, os tendões estão dis­tendidos devido à flexão do punho ou dametacarpofalangeana (ou por sua sec­ção), o extensor comum pode estenderfacilmente as duas últimas falanges.

O tendão do extensor próprio do dedo in­dicador e o do dedo mínimo possuem a mesmafisiologia que o tendão correspondente do exten­sor comum com o qual se confundem. Permitema extensão isolada do dedo indicador e do quin­to dedo (gesto de "pôr chifres").

De maneira acessória, no caso do dedo indi­cador, os tendões extensores têm, segundo Du­chenne de Boulogne, uma ação de lateralidade(fig. 5-70): o extensor próprio (EP) realiza a"adução" e o extensor comum (EC) a "abdução".Esta ação aparece quando a flexão das duas últi­mas falanges e a extensão da primeira anulam aação dos interósseos correspondentes.

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1. MEMBRO SUPERIOR 207

Fig.5-67

Fig.5-69

-

J

Fig.5-66

Fig.5-70

aFig.5-68

b

EP

EC

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208 FISIOLOGIA ARTICULAR

MÚSCULOS INTERÓSSEOS E LUMBRICAIS

Não descreveremos de novo as inserções dos in­terósseos; e:'.tão resumidas nas figuras 5-71, 5-72 e 5­73. Estas inserções não interessam se não for para escla­recer as ações musculares.

No plano fisiológico, os interósseos possuem doistipos de ações: ação de lateralidade e ação sobre a fle­xão-extensão.

Sua ação de lateralidade sobre os dedos está de­terminada pela inserção de uma parte do tendão termi­nal sobre o tubérculo lateral da base da primeirafalan­ge (1); esta ação é tão diferente que esta inserção inclu­sive se cOlTesponde, às vezes, com um corpo musculardiferente (disposição encontrada no primeiro interósseodorsal, segundo Winslow).

O sClllido do movimento de lateralidade está regu­lado pela direção do corpo muscular:

- quando se dirige em direção ao eixo da mão(terceiro dedo) - é o caso dos interósseos dor­sais (traços verticais, figs. 5-71 e 5-73) - omúsculo ordena a separação dos dedos (setasbrancas, figo 5-71).

É evidente que, se o segundo e o terceiro inte­rósseos se contraem simultaneamente, a sua

ação de lateralidade sobre o médio se anula.Com relação ao quinto interósseo, a separaçãoé realizada pelo adutor do quinto (5) (fig. 5­72), que equivale a um interósseo dorsal. Nopolegar, a escassa separação que produz o ab­dutor curto do polegar (6) está compensada pe­la realizada pelo abdutor longo que age sobre oprimeiro metacarpeano;

- quando se afasta do eixo da mão - é o caso dosinterósseos palmares (traços horizontais, figs.5-72 e 5-73) - o músculo dirige a aproximaçãodos dedos (setas brancas, figo 5-72);

- os interósseos dorsais são mais volumosos e

portanto mais potentes que os pa1mares, o queexplica que estes últimos sejam menos eficazesquanto à aproximação dos dedos;

- os tendões dos interósseos, envolvidos em for­

mações fibroaponeuróticas anexadas ao liga­mento transverso intermetacarpeano, não po­dem se luxar para frente durante a flexão dasmetacarpofalangeanas, porque o ligamentotransverso, localizado na frente deles, os man­tém no seu lugar. Não é o caso do primeiro in­terósseo dorsal que carece deste mecanismo:quando a faixa fibrosa que o mantém seguro sedistende por um processo reumático, o seu ten-

1--

dão se desloca para frente e perde a sua ação deabdução para se converter em flexor.

A sua ação sobre a flexão-extensão não pode serentendida sem descrever previamente a estrutura daaponeurose dorsal do dedo (figs. 5- 74, 5-75 e 5-76):

- após ter emitido a sua inserção (1) para o tubér­culo lateral de FI' o tendão do interósseo cons­titui uma lâmina fibrosa que,' passando sobre asuperfície dorsal de F. vai continuar na sua ho­móloga cOfltralateral:' se trata da correia dosinterósseos (2). Vista pela sua superfície pro­funda (foram removidas as falanges), a apo­neurose dorsal·(fig. 5-75) permite observar es­ta cOlTeia formada de uma parte relativan1enteespessa (2) e de uma parte mais fina (2'), fibrasoblíquas que se expandem em direção às lin­gÜetas laterais (7) do extensor comum. A parteespessa (2) desliza sobre a superfície dorsal deFI e da articulação metacarpofalangeana me­diante uma pequena bolsa selvsa (9), debaixoda qual se descola a lingÜeta profunda (4) doextensor comum;

- uma terceira expansão do tendão do interós­seo constitui uma fina lingÜeta (3) que se di­rige em dois contingentes de fibras para o ex­tensor:

• algumas fibras oblíquas (10) para a lingÜetamédia constituem a lâmina triangular;

• a maior parte das fibras se fundem com a lin­gÜeta lateral pouco antes da sua passagem pe­la interfalangeana proximal, para formar umafaixa (12), que vai inserir-se sobre F, com asua homóloga contralateral: '

• observar (fig. 5-76) que a faixa lateral (12)não passa exatamente pela superfície dorsalda interfalangeana proximal, mas sim ligeira­mente sobre o lado onde está colada à cápsu­la por algumas fibras transversais, a expan­são capsular (11):

- os quatro lumbricais (fig. 5-77), numeradosde fora para dentro. se inserem nas margensdos tendões fiexores profundos, principal­mente na margem radial. O seu tendão (13)se dirige para baixo e volta para dentro. Emprimeiro lugar o ligamento transverso inter­metacarpeano o separa do tendão do interós­seo (fig. 5-76), dando-o, assim, uma posiçãomais palmar. A seguir (figs. 5-75 e 5-76), sefunde com a terceira expansão do interósseo,mais abaixo do que a correia.

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Fig.5-77 Fig.5-76 Fig.5-75

1. MEMBRO SUPERIOR 209

Fig.5-74

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210 FISIOLOGIA ARTICULAR

A EXTENSÃO DOS DEDOS

A extensão dos dedos se deve à ação combinadado extensor comum (EC), dos interósseos (Is), dos lum­bricais (Ls) e também em certa medida, do flexor super­ficial (FCS); todos estes músculos intervêm nas liga­ções de sinergia-antagonismo variáveis dependendo daposição da articulação metacarpofalangeana (MP) e dopunho. Acrescente-se a ação totalmente passiva do liga­mento retinacular, que coordena a extensão das duasúltimas falanges.

O extensor comum

Já vimos anteriormente (pág. 206) que o extensorcomum não é verdadeiro extensor salvo no caso da pri­

meirafalange (F) e que não atua sobre F2 e F3se os flexo­res não estão distendidos (flexão do punho, flexão da me­tacarpofalangeana, secção dos flexores). Numa peça ana­tômica. a tração do extensor comum determina uma exten­

são completa da FI e incompleta de F2 e F3 (fig. 5-69, C).

O grau de tensão das diferentes inserções do extensor comum

depende praticamente da flexão das falanges:

- a flexão isolada de F, (fig. 5-78) distende 3 rum a faixamédia e a expansão profunda; de modo que o extensor co­

mum já não atua diretamente sobre F, e F,;

- a flexão de F, (fig. 5-79) tem duas conseqüências:

• distende 3 rum as faixas laterais (a) graças à "derrapa­

gem" das faixas que deslizam em posição palmar, atraí­

das pela expansão capsular (fig. 5-75, 11). Durante a ex­

tensão de F, voltam à sua posição dorsal devido à elasti­cidade da lâmina triangular (fig. 5-75, 10);

• distende de 7 a 8 rum a expansão profunda (c) o que anu­

la a ação direta sobre F, do extensor comum. Porém, po­

de estender indiretamente F, através de F" se esta últimaestá estabilizada em flexão pelo flexor comum superfi­

cial' que desempenha assim um papel coadjuvante do ex­

tensor comum na extensão da metacarpofalangeana (fig.5-80): e" e f" se anulam, e' e f" se somam e se decom­

põem sobre FI em A, componente axial e em B, compo­

nente de extensão, incluindo uma parte da ação do flexor

comum superficial (R. Tubiana e P. Valentin).

Os interósseos

Os interósseos são flexores de FJ e extensores de F2

e F3, mas a sua ação sobre as falanges depende do grau deflexão da metacarpofalangeana e do estado de tensão doextensor comum:

- se a metacarpofalangeana está estendida (fig. 5­81) por contração do extensor comum;

- se a correia se desloca (a) por cima da metacar­pofalangeana em direção à superfície dorsal doprimeiro metacarpo (Sterling Bunnel);

- deste modo, as expansões laterais podem estartensas (b) e produzir a extensão de FI e F2;

- se a metacarpofalangeana se flexiona (fig. 5-82)por distensão do extensor comum (a) e contraçãodo lumbrical (sem representação na figura);

- a correia desliza sobre o dorso de FI (b); o seutrajeto é de 7 rnm (Sterling Bunnel);

- a contração dos interósseos (c) atuando sobre acorreia flexiona com potênc~a a metacarpofalan­geana;

- embora, por este fato, as expansões laterais, man­tidas pela correia, se distendessem (d) e a sua açãoextensora sobre FI e F2 desaparecesse, quantomais flexionada estiver a metacarpofalangeana;

- contudo, neste preciso momento é quando o ex­tensor comum é eficaz sobre FI e F2•

Portanto existe, cómo o demonstrara Sterling Bun­nel, um balanço sinérgico na ação de extensão do exten­

sor comum e dos interósseos sobre FI e F2 (fig. 5-89):

- metacarpofalangeana flexionada 90°: ação máxi­ma do extensor comum sobre F2 e F3; ação máxi­ma dos lumbricais estando as faixas laterais ten­

sas outra vez (fig. 5-84), sendo ineficazes os inte­rósseos;

- metacarpofalangeana em posição intermédia:ação complementar do extensor comum e dos in­terósseos;

- metacarpofalangeana estendida: ação inexistentedo extensor comum sobre F2 e F,; ação máximados interósseos estando as faixas laterais tensas

outra vez (fig. 5-81, b).

Os lumbricais

Flexores de FI e extensores de F2 e F3 possuem, aocontrário dos interósseos, estas funções seja qual for aflexão da metacarpofalangeana. São músculos extrema­mente importantes para os movimentos dos dedos. Devemesta eficácia a duas disposições anatôrnicas:

- a sua localização mais palma/; pela frente do li­gamento transverso intermetacarpeano, lhes ou­torga um ângulo de aproximação de 35° comFI (fig. 5-83): deste modo, podem flexionar ametacarpofalangeana inclusive se está hiperes­tendIda. São, assim, os "iniciadores" da flexão

de FI (flexor-starters), os interósseos atuam se­cundariamente sobre a correia;

- a sua inserção distal se localiza (fig. 5-84) nas ex­pansões laterais debaixo do nível da correia. Aonão estar mantidos por este último, podem tensio­nar de novo o sistema extensor de F2 e F3seja qualfor o grau de flexão da metacarpofalangeana.

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EC

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Fig.5-82

Fig.5-81

Fig.5-83

Fig.5-85

b

Fig.5-84Fig.5-86

Fig.5-87 Fig.5-88

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212 FISIOLOGIA ARTICULAR

A EXTENSÃO DOS DEDOS(continuação)

- Eyler e Marquée, e Landsmeer demonstraramque em certos indivíduos os interósseos possuemduas porções, uma porção para a correia e outraporção para a expansão lateral;

- para Recklinghausen, os lumbricais facilitam aextensão de F2 e F3 (fig. 5-85) produzindo a dis­tensão da porção distal dos tendões do fiexor co­mUln superficial (a) nos quais se localiza a sua in­serção superior (b). Graças a este sistema diago­naI, a contração dos lumbricais desloca funcio­nalmente a inserção teI1lÚnal do flexor comumsuperficial da superfície palmar à superfície dor­sal de F3' transformando-o num extensor, equiva­lente a um interósseo; este sistema é semelhante,em eletrônica, a um transistor que troca a passa­gem da corrente num sentido ou outro dependen­do do seu estado de excitação. Este "efeito tran­sistor" conduz, graças a uma baixa potência - ado lumbrical -, à derivação de uma forte potên­cia - a do flexor comum profundo - para o siste­ma extensor;

- por último, os lumbricais, possuidores de nume­rosos receptores proprioceptivos, recolhem in­fOlmações essenciais para coordenar o tônusdos extensores e dos flexores entre os quais es­tão tensos formando uma diagonaI.

O ligamento retinacular (LR)

O ligamento retinacular (Landsmeer, 1949) estáconstituído por fibras (fig. 5-86) que partem da superfíciepalmar (a) de F, e se projetam (b) sobre as faixas lateraisdo extensor comum e, através destas, sobre F). Todavia, énecessário ressaltar como algo essencial o fato de que, aocontrálio das faixas laterais do extensor comum, as fibrasdo ligamento retinacular cruzam a interfalangeana proxi­mal (IFP) pela frente do seu eixo (c), isto é, em posiçãopalmar. Então podemos deduzir que (fig. 5-87) a exten­são da interfalangeana proximal provoca a tensão dasfibras do ligamento retinacular e produz a extensão dainterfalangeana distal(IFD) na metade do seu recorrido,passando de uma flexão de 80° a uma flexão de 40°. Estatensão do ligamento retinacular pela extensão da interfa­langeana proximal é fácil de comprovar (fig. 5-88): seseccionarmos o ligamento retinacular em B, a extensãoda F, já não se associa com a extensão automática de F3 'enqllamo é possível observar a separação de uma distân­cia CD (D representa a posição final de B, ponto do liga­mento retinacular que gira em tomo de A, enquanto C re­presenta a posição final de B, ponto de Fogirando em tor­no de O) das duas margens do ligamentõ retinacular.

Ao contrário, é possível obter, mediante uma flexãopassiva da interfalangeana distal, e estando intacto o liga­mento retinacular, a flexão automática da interfaIangeanaproximal.

Em caso de patologia, a retração do ligamento reti­nacular:

- instaura a deformação do dedo denominada "emcasa de botão", devido à ruptura da aponeurosedorsal;

- provoca a hiperextensão da interfalangeana distalna doença de Dupuytren nO,seu terceiro grau.

Resumo das ações musculares para a flexão-ex-tensão dos dedos

Extensão simultânea de Fj + F2 + FJ (fig. 5-89, A):Sinergia EC + Is + Ls.

Ação passiva e automática do ligamento retinacular.

Extensão isolada de Fj: EC.

+ Flexão F : FCS )(coadjuv~nte do EC) relaxamento dos Is

+ Flexão F): FCP+ Flexão F2: FCS (Id.)

+ Extensão F3: Ls + Is (esta última ação é muitodifícil).

Flexão isolada de FI: Ls (starters) + ls (antagonis­mo EC/Is: relaxamento EC).

+ Extensão F, e F, (fig. 5-89, C): Ls (extensores emqualquer põsição da metacarpofalangeana) + ba­lanço sinérgico EC + Is (fig. 5-89, B).

+ Flexão F,: FCS.

+ Extensão F}: Ls (ação difícil porque a ftexão dasinterfalangeanas proximais distende as faixas late­rais).

+ Flexão F,: FCS.

+ Flexão F3: FCP (a sua ação está facilitada pela"derrapagem das faixas laterais devido à ftexão dainterfalangeana proximal ").

Os movimentos habituais dos dedos ilustram as seguintes si­tuações:

- os movimentos que se realizam durante a escritura (Du­chenne de Boulogne):

- quando empurramos o lápis para frente (fig. 5-90),

o interósseo flexiona F, e estende F, e F,;

- quando conduzimos novamente o lápis para trás

(fig. 5-91), o extensor comum estende F, e o tlexorcomum superficial tlexiona F,:

- os movimentos dos dedos em gancho (fg. 5-92): o fle­xor comum superficial e o flexor comum profundo secontraem e os interósseos se relaxam. Este movimento é

indispensável para o alpinista que se agarra a uma pare­de rochosa vertical;

- os movimentos dos dedos em martelo (fig. 5-93): o ex­

tensor comum intervém para estender FI enquanto o fle­xor comum superficial e o flexor comum profundo fle­

xionam F, e F, . É a posição inicial dos dedos do pianis­ta. O dedo percute a tecla por contração dos interósseose dos lumbricais que tlexionam a metacarpofalangeanaquando o extensor comum se relaxa.

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I

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1. i\IEMBRO SUPERIOR 213

Fig.5-89

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214 FISIOLOGIAARTIClJLAR

ATITUDES PATOLÓGICAS DA MÃO E DOS DEDOS

A insuficiência ou o excesso de ação de qualquerdos músculos que acabamos de expor pode desenca­dear múltiplas atitudes ,iciosas.

Entre as atitudes viciosas dos dedos (fig. 5-94),devemos conhecer:

a) a ruptura da aponeurose dorsal, na lâminatriangular, que se estende entre as duas faixaslaterais e cuja elasticidade é necessária paraque estas faixas voltem à posição dorsal quan­do a interfalangeana proximal se estenda denovo. Neste caso. a superfície dorsal da articu­lação produz uma hérnia na fenda aponeuróti­ca, e as faixas se luxam sobre as suas superfí­cies laterais; se mantém assim em semi-fiexão,enquanto a interfalangeana proximal está emhiperextensão. Esta mesma atitude denomina­da "em casa de botão" aparece ante uma sec­ção do extensor na interfalangeana proximal;

b) a ruptura do tendão extenso r imediata­mente anterior à sua inserção em F} provo­ca a fiexão de F,. que pode reduzir-se de for­ma passiva, mas não ativa. A flexão se deve àtonicidade do flexor comum profundo nãocompensada pelo extensor comum; a defor­mação se denomina "dedo em martelo" (oumallet finger);

c) a ruptura do tendão do extenso r longo porcima da metacarpofalangeana se deve àfie­xão da metacarpofalangeana sob a ação pre­dominante da correia dos interósseos; esta ati­tude "intrínseca plus" se observa quando osinterósseos predominam sobre o extensor co­mum,

d) a ruptura ou a insuficiência do flexor co­mum superficial determina uma hiperexten­são da interfalangeana proximal sob a influên­cia predominante dos interósseos. Esta atitude"em inversão" da interfalangeana proximal seassocia com uma ligeira flexão da interfalan­geana distal devido ao encurtamento relativodo flexor comum profundo (por hiperextensãoda interfalangeana proxirnal), daí a sua deno­minação de deformação "em pescoço de cis­ne";

e) a paralisia ou a secção do tendão do flexorcomum profundo conduz à impossibilidadede flexionar ativamente a última falange;

f) a insuficiência dos interósseos, implicauma hiperextensão de M/FI sob a ação doextensor comum e por uma fiexão acentuadadas duas últimas falanges sob a ação do fle­xor comum superficial e do flexor comumprofundo. Deste modo, a paralisia dos mús­culos intrínsecos rompe o arco longitudinalna "chave" da sua abóbada. Esta atitude, de­nominada "em garra" (fig. 5-96) ou "intrín­seca menos", aparece principalmente na pa­ralisia dó nervo ulnar - que inerva os inte­rósseos - e é a razão pela qual também se de­nomina garra ulnar. Acompanha-se de umaatrofia da eminência tenar e dos espaços in­terósseos.

A perda dos extensores do punho e dos dedos,com freqüência no curso de uma paralisia radial,determina uma atitude caraterística de "mão caÍda"

(fig. 5-95) com flexão acentuada do punho e flexãodas articulações metacarpofalangeanas, estando asduas últimas falanges estendidas pelos interósseos.

Na doença de Dupuytren (fig. 5-97), a retra­ção das faixas pré-tendíneas da aponeurose palmarmédia acarreta umafiexão irredutível dos dedos so­bre a palma: flexão da metacarpofalangeana e da in­terfalangeana proximal e extensão da interfalangea­na distal. Freqüentemente, esta atitude viciosa émais acentuada nos dois últimos dedos, o dedo indi­cador e o médio se afetam posteriormente e poucasvezes afeta o polegar.

A doença de Volkmann (fig. 5-98) se deve àretração isquêmica dos músculos fiexores e determi­na uma atitude em garra dos dedos, muito nítida naextensão do punho (a), e menos visível na flexão (b),que distende os flexores.

Outra atitude en garra (fig. 5-99) que se corres­ponde com a inflamação da bainha ulnocarpeana.A garra é mais acentuada quanto mais interno é o de­do (atinge o seu máximo no quinto dedo). Qualquertentativa de reduzir esta garra resulta muito dolorosa.

Por último, a atitude em "rajada ulnar" (fig.5-100, segundo o quadro de G. La Tour, "Briga demendigos") se caracteriza pelo desvio simultâneodos quatro últimos dedos em direção à superfície in­terna da mão; também podemos apreciar a proemi­nência anormal das cabeças metacarpeanas. Esteconjunto de deformações permite considerar o diag­nóstico (retrospectivo) de poliartrite reumatóide.

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Fig.5-98

Fig.5-95

Fig.5-100

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~~~c.~d e

~ Fig.5-94

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216 FISIOLOGIA ARTICULAR

OS MÚSCULOS DA ElVIINÊNCIA HIPOTENAR

A eminência hipotenar está composta portrês mÚsculos (fig. 5-101):

1) o flexor curto do quinto dedo (1); se in­sere abaixo, no tubérculo interno da ba­

se de FI' a sua direção é oblíqua para ci­ma e para fora em direção à sua inserçãocarnosa na superfície anterior do liga­mento anular e do processo unciforme;

2) o adutor do quinto dedo (2); adutor emrelação ao plano de simetria do corpo.termina abaixo como um interósseo no

tubérculo lateral de F (com o fiexor CUf-Ito), por uma correia comum com o quar-to interósseo palmar e por uma expansãopara a faixa lateral do extensor comum.Por cima, se insere na superfície anteriordo ligamento anular e no pisiforme;

3) o oponente do quinto dedo (3) se inse­re abaixo na superfície interna do quintometacarpeano, rodeia a sua margem (fig.5-88) para se dirigir (seta branca) paracima e para fora em direção à margeminferior do ligamento anular e do proces­so unciforme, no qual se insere.

No plano fisiológico

O oponente (fig. 5-102) fiexiona o quintometacarpeano sobre o carpo, em tomo do eixo

XX", o qual o desloca para frente (seta 1) e pa­rafora (seta 2). Esta direção oblíqua é a do cor­po muscular (seta branca).

Mas, ao mesmo tempo, proporciona aoquinto metacarpeano um movimento de rota­ção em torno ao seu eixo longitudinal (repre­sentado por uma cruz) no sentido da seta 3, emsupinação, isto é, de tal maneira que a parteanterior do metacarpeano se orienta para fo­ra, em direção ao polegar. Portanto, o oponen­te merece a sua denominação porque realiza aoposição do dedo mínimo com relação ao po­legar.

O fle_xor curto (1) e o adutor do quinto de­do (2) exercem em conjunto uma ação quaseidêntica (fig. 5-103):

- o fiexor curto (1) fiexiona a primeira fa­lange sobre o metacarpeano e separa oquinto dedo em relação ao eixo da mão;

- o adutor (2) possui a mesma ação: demodo que é abdutor com relação ao ei­xo da mão (terceiro dedo) e pode serconsiderado equivalente a um interós­seo dorsal. Como os interósseos, fle­xiona a primeira falange, por ação dacorreia, e estende duas falanges poração de sua expansão lateral.

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1. MEMBRO SUPERIOR 217

Fig.5-102

1-

Fig.5-103

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218 FlSIOLOGIAARTICULAR

o POLEGAR

o polegar ocupa uma posição e desem­penha uma função à parte na mão, porque é in­dispensável para realizar as pinças polegar-digi­tais com cada um dos outros dedos, e principal­mente com o dedo indicador, e também para aconstituição de uma preensão de força com osoutros quatro dedos. Também pode participarem ações associadas às preensões que se refe­rem à própria mão. Sem o polegar, a mão perdea maior parte de suas capacidades.

O polegar deve esta função eminente, poruma parte, à sua localização para frente tantoda palma da mão quanto dos outros dedos (fig.5-104) que lhe permite, no movimento de opo­sição, se dirigir aos outros dedos, de forma iso­lada ou global, ou se separar pelo movimento decontra-oposição para relaxar a preensão. Poroutro lado, deve a sua função à grande flexibili­dade funcional que lhe proporciona a organiza­ção tão peculiar da sua coluna articular e dosseus motores musculares.

A coluna ósteo-articular do polegar (fig.5-105) contêm cinco peças ósseas que consti­tuem o raio externo da mão:

- o escafóide (esc);

- o trapézio (T) que os embriologistas con-sideram equivalente a um metacarpeano;

- o primeiro metacarpeano (Mr);

- a primeira falange (F);

- a segunda falange (F).

O polegar anatomicamente só possui duasfalanges, mas, o que é importante, a sua colunase articula com a mão num ponto muito maisproximal que no caso dos outros dedos. A suacoluna é claramente mais curta e o seu extremo

só alcança a parte média da primeira falange dodedo indicador. Este é o seu comprimento per­feito porque:

- maiS curto, como seria o caso apósuma amputação falângica, perde assuas possibilidades de oposição pornão ter suficiente longitude, nem sufi­ciente separação, nem suficiente fle­xão global;

- mais longo, como seria o caso de umamalfor,mação congênita com três fa­langes, a oposição fina ponta do dedo­ponta do ~edo (término-terminal) po­de se ver perturbada pela flexão insu­ficiente da interfalangeana distal dodedo ao qual se opõe.

Então, isto é um exemplo do princípio deeconomia universal (princípio de OCCAM).segundo o qual qualquer função está assegura­da pela mínima estrutura e organização: parauma função ótima do polegar, são necessáriase suficientes cinco peças.

As articulações da coluna do polegar sãoquatro:

- a trapéÚo-escafóidea (TE) artródiaque, como já vimos, permite que o tra­pézio realize um curto deslocamentopara frente sobre a superfície articularinferior, a qual se apóia sobre o tubér­culo do escafóide: neste caso se esbo­

ça um movimento de flexão de escas­sa amplitude;

- a trapéÚo-metacarpeana (TM) dotadade dois graus de liberdade;

- a metacarpofalangeana (MF) que pos­sui dois graus de liberdade;

- a interfalangeana (IF) com só um graude liberdade;

ou seja, em total, CINCO GRAUS DELIBERDADE necessários e suficientespara se realizar a oposição do polegar.

Page 224: Kapandji - Volume 1

Fig.5-105

TOTAL: 5 GRAUS

,_1F:10

1. MEMBRO SUPERIOR 219

Fig.5-104

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220 FISIOLOGIA ARTICULAR

GEOMETRIA DA OPOSIÇÃO DO POLEGAR

Desde um ponto de vista estritamente geo­métrico (fig. 5-106), a oposição do polegar con­siste em que, num ponto dado A' , a polpa do po­legar seja tangente à polpa do outro dedo, comopor exemplo o dedo indicador, num ponto A: is­to é, fazer coincidir no espaço num único pontoA + A' os planos das polpas tangentes A e A' .

Para começar, para coincidir dois pontos noespaço (fig. 5-107) são necessários três graus deliberdade segundo as coordenadas x, y e z. A se­guir, são necessários mais dois graus de liberda­de para que possam coincidir os planos das pol­pas, plano sobre plano e direção sobre direção,por rotação em tomo aos eixos teu (como as pol­pas não podem entrar em contato pela superfíciedorsal, é inútil um terceiro grau em tomo de umeixo y e perpendicular aos dois precedentes).

Em resumo, a coincidência dos planos daspolpas necessita de cinco graus de liberdade:

- três para que coincidam os pontos decontato;

- dois para que coincidam mais ou menosos planos das polpas.

Como podemos demonstrar de forma sim­ples que cada eixo de uma articulação constituium grau de liberdade que se soma aos outros pa­ra contribuir para o resultado final, podemos de­duzir que os cinco graus de liberdade da colunado polegar são imprescindíveis e suficientes pa­ra se realizar a oposição.

Se considerarmos, unicamente no plano(fig. 5-108), o movimento dos três segmentos

móveis M , F e F da coluna do polegar em tor-1 1 2

no dos três eixos de flexão yy' para a TM, fi pa-ra a MF e f, para a IF, podemos constatar que sãonecessários dois graus para situar o extremo deF2 num ponto H do plano: se se bloqueia fi ou f:.só existe uma forma para ambos os casos alcan­çarem o ponto H. Porém, introduzir um terceirograu permite chegar a H com diferentes incidên­cias: estão representadas na figura duas orienta­ções O e O' da polpa, de modo que podemosconstatar como este mecanismo necessita de três

graus de liberdade no plano.

No espaço (fig. 5-109), se acrescenta umquarto grau de liberdade, em tomo do segun­do eixo xx' da TM, permitindo uma orientaçãoadicional da polpa que "se orienta" numa dire­ção diferente, a qual autoriza uma verdadeiraescolha da oposição com um determinado dedodo dedo indicador ao dedo mínimo.

Um quinto grau de liberdade (fig. 5-110)conseguido graças ao segundo eixo da MF me­lhora ainda mais a coincidência dos planos daspolpas, permitindo uma rotação limitada de umplano sobre outro em torno do ponto de tangên­cia. De fato, podemos comprovar que o eixo deflexão f da MF não é estritamente transversal

1

a não ser no curso da flexão direta; na verdade.durante a maior parte do tempo é oblíquo numsentido ou outro:

- oblíquo em f' 1: a flexão se associa comum desvio ulnar e com uma supinação:

- oblíquo em f" 1: neste caso se associacom um desvio radial e com uma pro­nação.

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[

y

Fig.5-106

x

Xl

Xl

X

Fig. 5-110

z

Fig.5-107

H

Fig.5-108

1. MEMBRO SUPERIOR 221

tI

y

Fig.5-109

Page 227: Kapandji - Volume 1

222 FISIOLOGIA ARTICULAR

A ARTICULAÇÃO TRAPÉZIO-META CARPEANA

Topografia das superfícies

A articulação trapézio-metacarpeana (TM)se localiza na base da coluna móvel do polegare desempenha um papel primordial dado que as­segura a sua orientação e participa de maneirapreponderante no mecanismo da oposição.

Os anatomistas a denominam articulaçãopor encaixamento recíproco, o que não significamuito, ou também articulação selar (fig. 5-111),o que parece mais correto porque esta última de­nominação lembra a forma de sela de cavalgar,côncava num sentido e convexa no outro. Exis­

tem duas superfícies em sela, uma no trapézio ea outra na base do primeiro metacarpeano que sóse correspondem por causa de uma rotação de90° que faz coincidir a curva convexa de umacom a curva côncava da outra e vice-versa.

A topografia exata das superfícies desta ar­ticulação tem sido causa de numerosos estudos edebates. A descrição mais precisa foi exposta re­centemente por K. Kuczynski (1974). Com atrapézio-metacarpeana aberta (fig. 5-112) e a ba­se do primeiro metacarpeano deslocada para fo­ra, as superfícies articulares do trapézio T e doprimeiro metacarpeano M1 apresentan as seguin­tes particularidades:

- a superfície do trapézio T apresenta umacrista média CD ligeiramente curva se­guindo uma concavidade orientada paradentro e para frente. A parte dorsal Cdesta crista é claramente mais convexaque a sua parte palmar F que é quaseplana. Esta crista aparece deprimida nasua parte média por um sulco AB que acruza transversalmente e se estende damargem dorsal externa A à margem pal­mar interna B onde é evidentementemais escavada. Um fato importante éque este sulco é curvo e apresenta uma

convexidade ântero-externa. A parteposterior-externa E é quase plana;

- a superfície metacarpeana M) se formaao contrário, apresentando uma cristaA'B' que corresponde ao sulco AB dasuperfície do trapézio e um sulco C'D'que encaixa sobre a crista do trapézioCD. -

Encaixada sobre a superfície do trapézio(fig. 5-113), a metacarpeana a ultrapassa porambos os extremos a e b do sulco. Além disso,num corte (fig. 5-114) se pode observar que aconcordância das duas superfícies não é absolu­ta. Porém, encaixadas com firmeza uma contraa olltra, "o encaixamento" das superfícies nãopermite nenhuma rotação sobre o eixo longitu­dinal do primeiro metacarpo, sempre segundoKuczynski.

A causa da curva da sela sobre o seu eixolongitudinal, Kuczynski a compara com uma se­la (mole) colocada sobre o lombo de um "cava­lo com escoliose" (fig. 5-115). Também pode­mos compará-Ia com um desfiladeiro (fig. 5­116) entre duas montanhas, percorrido por umarodovia curva: a direção do caminhão que sobepela rodovia forma um ângulo r com a do ca­minhão que desce por ela. Para Kuczynski, esteângulo que atinge os 90° entre os pontos a e b dosulco do trapézio explicaria a rotação do primei­ro metacarpo sobre o seu eixo longitudinal nopercurso da oposição. Todavia, para que isto se­ja assim, seria necessário que a base de M) per­corresse (como o caminhão no desfiladeiro) to­do o sulco do trapézio, o que requereria uma lu­xação completa da articulação num sentido e/ouno outro, enquanto o deslocamento só é parcial:o importante desta rotação longitudinal se reali­za, então, segundo a nossa opinião, graças a ou­tro mecanismo que será exposto mais adiante.

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1. MDIBRO SUPERIOR 223

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224 FISIOLOGIA ARTICULAR

A ARTICULA çÃO TRAPÉZIO- METACARPEANA(continuação)

Coaptação

A cápsula da articulação trapézio-metacar­peana é conhecida pela sua lassidão, de modoque permite um importante jogo mecânico,que, segundo os autores clássicos e inclusivesegundo os modernos, origina a rotação do pri­meiro metacarpeano sobre o seu eixo longitudi­nal, o que, como se poderá comprovar maisadiante, é falso.

De fato, a lassidão capsular só tem comoefeito, na prática, permitir o deslocamento dasuperfície metacarpeana sobre a do trapézio,mas esta articulação trabalha em compressão,semelhante a um pivô (fig. 5-117), permitindoassim orientar o primeiro metacarpeano em to­das as direções do espaço, como se se tratassede uma capa cuja orientação se pode variarmodificando a tensão das cordas representadasneste caso pelos músculos tenares. Estes asse­guram a coaptação articular em qualquer posi­çao.

Os ligamentos da trapézio-metacarpeanadirigem o movimento e asseguram, segundo oseu grau de tensão, a coaptação em cada posi­ção. A sua descrição e a sua função foram recen­temente particularizados por J.Y. da Caffiniere(1970) que diferencia quatro (figs. 5-118, vistaanterior, e 5-119, vista posterior).

- o ligamento intermetacarpeano (UM).Ramo fibroso, espesso e curto, se esten­de das bases do primeiro e do segundometacarpeanos até a parte superior da.. .pnmelra cormssura;

- o ligamento oblíqUf( póstero-interno(LOPI), descrito pelos clássicos, se tratade uma faixa larga mas fina que envolvea articulação por trás como uma grava­ta, para se enrolar por dentro da base doprimeiro rnetacarpeano se dirigindo pa­ra frente;

- o ligamento oblíquo ântero-interno(LOAI) se estende da parte distal dacrista do trapézio até a zona justaco­missural da base do primeiro metacar­peano, cruza a superfície anterior daarticulação se enrolando no sentido in­verso ao precedente;

- o ligamento reto ântero-externo(LRAE) se estende diretamente entre otrapézio e a base do primeiro metacar­peano até a superfície ântero-externa daarticulação, o seu claro e agudo limiteinterno delimita um hiato capsular poronde passa uma bolsa serosa para o ten­dão do abdutor longo (AbL).

Para J.Y. de Ia Caffiniere, estes ligamentospodem se associar de dois em dois:

- UM e LRAE, a abertura da primeira co­missura no plano da palma da mão é li­mitada pelo LIM e o seu fechamento pe­lo LRAE;

- LOPI e LOAI são solicitados principal­mente durante a rotação do primeirometacarpeano sobre o seu eixo longitu­dinal. O LOPI limita a pronação e oLOAI a supinação .

Page 230: Kapandji - Volume 1

I•

Fig.5-118

Fig.5-117

UM

1. 1IEMBRO SUPERIOR 225

AbL

Fig.5-119

Page 231: Kapandji - Volume 1

226 FISIOLOGIA ARTICULAR

A ARTICULAÇÃO TRAPÉZIO-lVIETACARPEANA(continuação)

Função dos ligamentos

Segundo a nossa opinião, estes fenômenossão algo mais complexos, já que precisamosdescrever a ação dos ligamentos em relação aosmovimentos de anteposição e retroposição, e deflexão e extensão do primeiro metacarpeano talcomo serão definidos mais adiante.

No curso dos movimentos de anteposição eretroposição podemos observar:

- numa vista anterior (fig. 5-120) em ante­posição, como o LOAI está tenso e sedistende o LRAE ao passo que para trás(fig. 5-121) o LOPI está tenso;

- numa vista anterior (fig. 5-122) em re­troposição, como o LRAE está tenso ese distende o LOAI, ao passo que paratrás (fig. 5-123) se distende o LOPI;

-. com relação ao UM (fig. 5-124, vistaanterior), como está tenso, tanto em an­teposição (AP), onde "traciona" a basede M1 para ;"12, quanto em retroposição(RP) onde "retém" a base de M1 ante­riormente subluxada pelo trapézio. Dis­tende-se em posição intermédia.

No curso dos movimentos de flexão-exten­são podemos observar:

- como na extensão (fig. 5-125) os liga­mentos anteriores LRAE e LOAI estãotensos e o LOPI se distende;

- como naflexão (fig. 5-126) se produz asituação contrária: distensão dos LRAEe LOAI e tensão do LOPI.

Ao estar enrolados em sentido contrário so­

bre a base de M1 (fig. 5-127, vista axial de M1 so-

bre o trapézio e M2M) o LOPI e o LOAI contro­lam a estabilidade rotatória de M sobre o seu

1

eixo longitudinal.

- o LOAI está tenso durante a pronação;de modo que a sua tensão isolada acar­retaria urna supinação;

- o LOPI é solicitado durante a supinação;podemos afirmar que a sua tensão inde­pendente dos outros acarretaria umapronação do primeiro metacarpeano.

Na oposição que associa a anteposição e aflexão, todos os ligamentos (UM, LOAI, LOPI)estão tensos exceto o LRAE, o que é normalporque este ligamento é paralelo aos músculoscontraídos (abdutor curto, oponente, flexor cur­to). É notável que o mais tenso seja o LOPI queassegura deste modo a estabilidade da articula­ção para trás. A oposição se corresponde entãocom a close packed position, como já havia res­saltado Mac Conaill: é a posição na qual as su­perfícies articulares estão mais firmemente en­caixadas uma contra a outra, o que, somado aofato de que os dois ligamentos oblíquos estão si­multaneamente tensos, exclui toda rotação so­bre o eixo longitudinal do primeiro metacar­peano que corresponderia a um jogo mecânicoentre as superfícies articulares.

Na posição intermédia, que será definidamais adiante, todos os ligamentos estão disten­didos e, conseqüentemente, o jogo mecânico émáximo, o qual não aporta nenhuma vantagemcom relação à rotação longitudinal de M.

Na contra-oposição, a tensão quase isoladado LOAI é capaz de produzir certo grau de supi­nação de M1 sobre o seu eixo longitudinal.

Page 232: Kapandji - Volume 1

1. MEMBRO SUPERIOR 227

."-t>RETROPOSIÇÃO

Fig.5-122

LRAE$

LOPI ffiLOAI8

~

ANTEPOSIÇÃÓ

LOPI e

UM EB

<}---'RETROPOSIÇÃO

Fig.5-123

Fig.5-120

~ANTEPOSIÇÃO

Fig.5-125

LOPI EBLRAE 8

LOAI e

Fig.5-126 Fig.5-127

Page 233: Kapandji - Volume 1

228 FISIOLOGIA ARTICULAR

A ARTICULAÇÃO TRAPÉZIO-METACARPEANA(continuação)

Geometria das superfícies

Se a rotação do primeiro metacarpeano so­bre o seu eixo longitudinal não se pode explicarnem pelo jogo mecânico nem pela ação dos liga­mentos, a única explicação que resta é pelas pro­priedades das superfícies articulares (além dis­so, esta explicação não foi contestada no caso doquadril).

As superfícies selares possuem, como afir­mam os matemáticos, uma curva negativa, istoé que sendo convexas num sentido e côncavasno outro, não podem fechar-se sobre si mesmas,como seria o caso da esfera, exemplo perfeito decurva positiva. Tentaram comparar estas superfí­cies selares a um segmento hiperbolóide de re­volução (fig. 5-128) como Bausenhart e Littler,ou com um segmento hiperbolóide parabólico(fig. 5-129, a hipérbole H se apóia sobre uma pa­rábola P), ou inclusive hiperbólico (fig. 5-130, ahipérbole H se apoia sobre outra hipérbole H').No nosso caso, parece mais interessante compa­rá-Ias com um segmento axial de superfície tóri­ca (fig. 5-131): na parte central de uma câmarade ar, que representa o toro ou bocel, existe umacurva côncava cujo centro é o eixo da roda O euma curva convexa cujo centro é o eixo da "mol­dura" (na verdade, existem uma série de eixos p,q, s, etc ... um dos quais, q, corresponde à posi­ção média). Esta superfície selar ou "toróide ne­gativa" possui dois eixos principais ortogonaise, por conseguinte, dois graus de liberdade. Seconsiderarmos a descrição de K. Kuczynski,com a curva lateral da crista da sela (o "cavalocom escoliose"), este segmento axial de superfí­cie tórica deve delimitar-se assimetricamente

(fig. 5-132) sobre o toro, como se a sela se tives­se deformado, deslizando lateralmente sobre olombo de um cavalo normal. O eixo maior lon­

gitudinal (a crista) da sela nm está curvado late-

ralmente de tal modo que os raios li, v, \1', quepassam por cada ponto da crista, convergemnum ponto O' situado no eixo xx' do tara parafora do seu plano de simetria. Esta superfície se­lar sempre é uma superfície, toróide negativacom dois eixos principais ortogonais e doisgraus de liberdade. Claro que isto só é certo pa­ra um pequeno segmento de superfície, porque,caso contrário, a multiplicidade dos eixos con­verteria em "caduca" a comparação. De fato, en­quanto a superfície for pequena, os eixos suces­sivos (p, q, s, etc ... ) estarão suficientemente pró­ximos entre si para que o jogo mecânico com­pense as discordâncias. É o caso das superfíciesdo trapézio e das metacarpeanas cujas curvassão relativamente moderadas, menos acentuadasque nos esquemas.

Nestas condições, é totalmente lógico e lí­cito modelar a articulação trapé::.io-metacar­peana do mesmo modo que os biomecânicosmodelam o quadril, como se se tratasse de umaarticulação "de patela", embora saibamos de so­bra que a cabeça femoral não é uma esfera per­feita.

o modelo mecânico de uma articulação dedois eixos é o "Cardão" (fig. 5-133): dois eixosxx' e yy' perpendiculares e concorrentes quepermitem movimentos em dois planos perpendi­culares AB e CD. Do mesmo modo, duas super­fícies selares A e B situadas uma sobre a outra

(fig. 5-134) permitem, uma em relação à outra(fig. 5-135), movimentos AB e CD em dois pla­nos perpendiculares.

Porém, o estudo da mecânica do cardãomostra que as articulações de dois eixos pos­suem uma possibilidade adicional, a rotação au­tomática do segmento móvel sobre o seu eixolongitudinal, neste caso o primeiro metacarpo.

Page 234: Kapandji - Volume 1

Fig.5-128x

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1. MEMBRO SUPERIOR 229

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Fig.5-131

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Fig.5-133

Fig.5-132

Fig.5-135

Page 235: Kapandji - Volume 1

230 FISIOLOGIA ARTICULAR

A ARTICULAÇÃO TRAPÉZIO-METACARPEANA(continuação)

A rotação sobre o eixo longitudinalÉ fácil construir um cardão cortando e co­

lando (fig. 5-136): sobre as duas superfícies deum círculo a, colar os semicírculos de duas tirasb e c pregadas em ângulo reto em 1-2 e 3-4, detal maneira que as pregas sejam perpendiculares.Este cardão de demonstração (faça-o!) permiti­rá materializar a rotação automática em tornoao eixo longitudinal do segmento móvel.

Em primeiro lugar, podemos constatar (fig.5-137), que estando um dos segmentos fixos,pode mobilizar o segundo ao redor dos dois ei­xos do cardão; seja em torno do eixo 1-2 nummovimento a no curso do qual permanece nomesmo plano, ou ao redor do eixo 3-4 num mo­vimento b que faz formar um ângulo diedro coma sua posição inicial.

Se considerarmos (fig. 5-138) o primeiromovimento em torno do eixo 1-2, sem que serealizem flexão ou extensão prévias em torno doeixo 3-4 que permanece perpendicular ao seg­mento móvel, podemos constatar, que este "seorienta" sempre na mesma direção, indicada pe­las setas: é uma rotação plana, igual às que seobservam nas articulações de charneira onde oeixo é perpendicular ao segmento móvel.

Se anteriormente (fig. 5-139), o segmentomóvel realiza uma flexão b, inferior a 90°, emtorno do eixo 3-4, a rotação a em torno do eixo1-2 provoca uma mudança de orientação do seg­mento móvel, representado nesta figura pelas se­tas que apontam para um ponto P situado no pro­longamento do eixo 1-2. Esta troca de orienta­ção do segmento móvel no curso de uma rota­ção cônica realiza uma rotação automática so­bre o eixo longitudinal que Mac Conaill deno­mina rotação conjunta. Esta existe nas articula­ções de charneira cujo eixo é oblíquo em relaçãoao segmento móvel; é de valor constante. Existeprincipalmente nas articulações de dois eixos

nas quais é variável em função do grau de flexãoprévia. Podemos calcular com uma fórmula tri­gonométrica simples considerando as duas rota­ções.

Um caso particular interessante desta rota­ção conjunta automática, ocorre durante a rota­ção cilíndrica (fig. 5-140): sendo de 90° a flexãoprévia sobre o eixo 3-4, toda rotação a em tornodo eixo 1-2 produz uma mudança de orientaçãograu a grau do segmento móvel; neste caso, a ro­tação automática é máxima.

Claro que entre a rotação conjunta automá­tica nula da rotação plana e o máximo da rotaçãocilíndrica, são viáveis todos os valores intern1é­dios nas articulações de dois eixos de tipo car­dão.

É possível encontrar de novo esta rotaçãocilíndrica (fig. 5-141) se se articulam ao cardãotrês segmentos pelo eixo 3-4, paralelos aos ou­tros dois 5-6 e 7-8. A flexão de 90° sobre o eixo

3-4, podemos, então, distribuir sobre os três ei­xos, o que faz com que o último segmento sejaparalelo ao eixo 1-2. Observamos como a rota­ção conjunta automática aumenta do primeiro aoúltimo segmento para atingir o seu valor máxi­mo no segmento distal. Isto modela a coluna dopolegar articulada na sua base por um cardão ecuja segunda falange sofre uma rotação conjun­ta automática sem que em nenhum momento in­tervenha qualquer jogo mecânico na trapézio­metacarpeana.

Graças à ação coordenada das três articula­ções trapézio-metacarpeana, metacarpofalan­geana e interfalangeana se realiza a rotação dopolegar sobre o seu eixo longitudinal, mas é atrapézio-metacarpeana, "a rainha", a que inicia omovimento.

Esta demonstração pode se reproduzir como modelo mecânico da mão mostrado ao finaldeste volume.

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Fig.5-137

II

~II

I,II

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Fig.5-139

Fig.5-136

---------------- -----

1. MEMBRO SUPERIOR 231

I Fig.5-140

Fig.5-141

Page 237: Kapandji - Volume 1

232 FISIOLOGIA ARTICULAR

A ARTICULAÇÃO TRAPÉZIO-METACARPEANA(continuação)

r

Os movimentos do primeiro metacarpeanoo primeiro metacarpeano pode realizar, de forma isolada ou

simultânea, movimentos em tomo de dois eixos ortogonais e um

movimento sobre o seu eixo longitudinal que deriva dos movimen­tos precedentes. Resta definir a posição no espaço de dois eixosprincipais da trapézio-metacarpeana.

Numa peça anatômica (fig. 5-142), se inserirmos um espetometálico no centro da curva média de cada uma das superfícies do

trapézio e do metacarpeano, podemos materializar:

- na base do primeiro metacarpeano, o eixo xx' que corres­ponde à curva côncava do trapézio;

- no trapézio, o eixo yy' que corresponde à curva côncavada sela metacarpeana.

Claro que na realidade viva, estes eixos não são imutáveismas sim móveis, evolutivos no curso mesmo do movimento, o es­

peto representa uma posição média. Contudo, numa primeira apro­ximação. podemos considerá-Ios, com objetivo de modela1; isto é,de representar parcialmente a realidade para facilitar a compreen­

são de um fenômeno complexo, como os dois eixos da trapézio­metacarpeana. Constituem o que os mecânicos denominam um

cardão porque são ortogonais, ou seja, perpendiculares entre si noespaço. Portanto, a articulação possui as propriedades de um car­dcio.

Além disso, observamos duas características importantes:

- por uma parte, o eixo xx' é paralelo aos eixos de flexão­

extensão da metacarpofalangeana fi e da interfalangeana

f" fato que se poderá ver as conseqüências;

- por outra parte, o eixo xx', ortogonal a yy', também o é

ao fi e f, e, portanto, está incluído no plano de flexão daprimeira e da segunda falange; isto é, no plano de flexão

da coluna do polegar.

Por último, como fato essencial, os dois eixos xx' e yy' da

trapézio-metacarpeana são oblíquos em relação aos três planos dereferência frontal (F), sagital (5) e transversal (T). Podemos dedu­

zir que os movimentos puros do primeiro metacarpeano se realizamnos planos oblíquos em relação aos três planos de referência clás­sicos e não podemos designá-los pelos termos inventados pelos an­

tigos anatomistas, ao menos quanto à abdução cujo plano é frontal.

Desse modo, podemos definir os movimentos pu­ros do primeiro metacarpeano (fig. 5-143) no sistemade referência do trapézio:

- em torno do eixo XX' que se denominará prin­cipal, porque graças a este eixo o polegar "es­colhe" o dedo ao qual vai se opor, se realiza ummovimento de anteposição-retroposição nopercurso do qual a coluna do polegar suposta­mente estendida se desloca num plano AORperpendicular ao eixo xx' e que inclui a unhado polegar. A retroposição R dirige a unha dopolegar para trás para conduzi-Io ao plano dapalma da mão, afastado aproximadamente 60°do segundo metacarpeano. A anteposição A di-

rige o polegar para frente, quase perpendicularao plano da palma da mão, numa posição queos autores da língua inglesa denominam abdu­ção (o que não contribui para esclarecer muito);

- em tomo ao eixo yy' que, por referência ao pri­meiro, se denominará secundário, se realiza ummovimento de flexão-extens&o num plano FOEperpendicular ao eixo yy' e ao plano precedente.

A extensãç E dirige o primeiro metacarpeanopara cima, para trás e para fora e se prolongapela extensão da primeira e da segunda falan­ges, conduzi na o a coluna do polegar quase aoplano da palma da mão.

Aflexão F dirige o primeiro metacarpeano pa­ra baixo, para frente e para dentro, sem ultra­passar nesta direção o plano sagital que passapelo segundo metacarpeano, embora prolon­gando-se através da f1exão das falanges que fazcom que a polpa contate com a palma da mãono nível da base do dedo mínimo.

Assim, a noção de f1exão-extensão do primeirometacarpeano é perfeitamente justificada por­que se complementa com o movimento homó­logo nas outras duas articulações da coluna dopolegar.

Além destes movimentos puros de ante-retroposi­ção e de flexão-extensão, todos os outros movimentos doprimeiro metacarpeano são movimentos complexos queassociam, em diversos graus, movimentos em tomo dosdois eixos, sucessivos ou simultâneos e que integram, co­mo ficou demonstrado anteriormente, uma rotação auto­mática ou uma rotação conjunta sobre o eixo longitudi­naL Esta, como teremos ocasião de comprovar, desem­penha uma função essencial na oposição do polegar.

Os movimentos de f1exão-extensão e de ante-re­

troposição do primeiro metacarpeano se originam naposição neutra ou de repouso muscular do polegar (fig.5-144), como a definiram C. Hamonet e P. Valentin, secorrespondendo com a posição de "silêncio" eletromio­gráfico: nenhum dos músculos do polegar, em estado dedescontração, libera potencial de ação. Esta posição N éimportante nas radiografias: a projeção sobre o planofrontal de Mj com M2 forma um ângulo de 30°. No pla­no sagital, o mesmo ângulo é de 40°.

Devemos lembrar que esta posição N correspondeà distensão dos ligamentos e à máxima congruência dassuperfícies articulares que, neste caso, se recobrem to­talmente.

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I

Fig.5-143

Fig.5-144

1. MEMBRO SUPERIOR 233

Fig.5-142

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234 FISIOLOGIA ARTICULAR

A ARTICULAÇÃO TRAPÉZIO-METACARPEANA(continuação)

Avaliação dos movimentos do primeirometacarpeano

Após definir os movimentos reais do pri­meiro metacarpeano, convém explicar cornoavaliá-Ias na prática. Existem três sistemas, oque não ajuda a esclarecer o problema.

O primeiro sistema que poderia se deno­minar clássico (fig. 5-145): o primeiro meta­carpeano evolui num triedro de referência re­tangular constituído pelos três planos perpendi­culares. transversal T, frontal F e sagital S, es­tes dois últimos se cortam no eixo longitudinaldo segundo metacarpeano e a intersecção dostrês planos se situa na trapézio-metacarpeana.A posição de referência se consegue quando oprimeiro metacarpeano está "colado" ao segun­do no plano da palma da mão, a grosso modo oplano F. Convém ressaltar duas observações:esta posição não é natural e o primeiro meta­carpeano não pode ser estritamente paralelo aosegundo.

A abdução (seta 1) é a separação do pri­meiro em relação ao segundo metacarpeano noplano F, a adução ou aproximação, o movimen­to contrário.

A flexão (seta 2), ou avanço, é o movi­mento que dirige o primeiro metacarpeano pa­ra frente, a extensão ou retrocesso, o movimen­to contrário.

A posição do primeiro metacarpeano sedefine mediante dois ângulos (ilustraçãomenor): a abdução a e a flexão b.

Este sistema apresenta dois inconvenientes:

- medir projeções sobre p'lanos abstratos enão sobre ângulos reais;

-- não avaliar a rotação sobre o eixo longi­tudinal. ~

O segundo sistema, que poderia se denomi­nar moderno (fig. 5-146), proposto por J. Du­pare, J.Y de Ia Caffiniere e H. Pineau, não defi­ne movimentos, mas sim, posições do primeirometacarpeano seguindo um sistema de coorde­nadas polares. A localização do primeiro meta­carpeano se define pela sua posição sobre umcone cujo eixo se confunde com o eixo longitu­dinal do segundo metacarpeano e o vértice se si­tua na trapézio-metacarpeana. O semi-ângulo novértice do cone (seta 1) é o ângulo de separaçãoa, válido quando o primeiro metacarpeano sedesloca sobre a superfície do cone. A sua posi­ção se particulariza sem ambigüidade alguma,graças ao ângulo (seta 2) que forma o plano quepassa pelo eixo dos dois primeiros metacarpea­nos com o plano frontal. Este ângulo b é deno­minado por alguns autores "ângulo de rotaçãoespacial", o que é urna tautologia porque qual­quer rotação somente pode ocorrer no espaço.Assim sendo, seria mais indicado denominá-Ioângulo de circundução, já que o deslocamentodo primeiro metacarpeano sobre a superfície docone é uma circundução.

O mais interessante deste sistema de avalia­ção é que estes dois ângulos são bastante fáceisde medir com um esquadro.

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Fig.5-146

1. MEMBRO SUPERIOR 235

s

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236 FISIOLOGIA ARTICULAR

A ARTICULA çÃO TRAPÉZIO-META CARPEANA(continuação)

o sistema do trapézio

Porém, o maior inconveniente destes siste­mas de avaliação, é que medem movimentoscomplexos da trapézio-metacarpeana integran­do obrigatoriamente um componente de rotaçãolongitudinal, produto das rotações em tomo dosdois eixos da articulação.

O terceiro sistema que se propõe é um sis­tema de referência do trapézio que só pode ex­plorar-se com radiografias em incidências espe­cíficas:

- quando colocamos a coluna do polegarde frente (fig. 5-147), a curva côncavado trapézio e a curva convexa do pri­meiro metacarpo se vêm estritamentede perfil, sem nenhum efeito de pers­pectiva. Se realizamos uma radiografiaem retroposição e outra em anteposi­ção e se constata que:

• a retroposição de 15 a 25° de amplitu­de conduz o eixo do primeiro metacar­peano a estar quase paralelo ao do se­gundo, enquanto a sua base se "sublu­xa" por fora da superfície do trapézio;

• a anteposição de 25 a 35° de amplitu­de "abre" o ângulo entre os dois pri­meiros metacarpeanos até 65°, enquan­to a base do primeiro desliza por den­tro em direção a do segundo.

Estes deslocamentos da base do primei­ro metacarpo sobre a sela do trapézio seentendem perfeitamente como o resulta­do de uma rotação em tomo centro dacurva côncava do trapézio, projeçãona base de M] do eixo principal xx' datrapézio- metacarpeana.

- quando se dispõe a coluna do polegarde perfil (fig. 5-148), a curva convexa dotrapézio e a curva côncava do metacar­peano se vêm sem nenhuma defomlaçãoem perspectiva. Uma radiografia da co­luna do polegar em máximafiexão e ou­tra em extensão permitem constatar que:

• afiexão de 20 a 25° de amplitude colo­ca quase paralelo o eixo dos dois pri­meiros metacarpeanos;

• a extensão de 30 a 45° de amplitude fazcom que o eixo do primeiro metacar­peano forme um ângulo de 65° com odo segundo. Também, neste caso, odeslizamento da superfície basal côn­cava do primeiro metacarpeano sobre otrapézio se entende perfeitamente co­mo o resultado de uma rotação em tor­no do centro da curva convexa dotrapézio, se projetando no trapé~io co­mo o eixo secundário YY' da trapézio­metacarpeana.

Em resumo, a amplitude dos movimentosna trapézio-metacarpeana é mais reduzida doque podíamos pensar pela grande mobilidade dacoluna do polegar:

- trajeto de 40 a 60° entre a anteposição eretroposição máximas;

- trajeto de 50 a 70° entre a flexão e a ex­tensão máximas.

Só a realização de radiografias em incidên­cias específicas da trapézio-metacarpeana, co­locando a coluna do polegar de frente e de per­fil, permite explorar convenientemente a fisiolo­gia desta articulação e apreciar as limitações(Kapandji, 1980).

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1. MEMBRO SUPERIOR 237

Fig.5-148

ANTEPOSIÇÃO- RETROPOSIÇÃO = 40-60'

Fig.5-147

FLEXÃO-EXTENSÃO = 50-70'

25-85°

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238 FISIOLOGIA ARTICULAR

A ARTICULAÇÃO lVIETACARPOFALANGEANA DO POLEGAR

Os anatomistas consideram a articulaçãometacarpofalangeana uma condilar, uma ovóide,como denominam os autores ingleses. Portanto,possui, como todas as condilares, dois graus deliberdade, a flexão-extensão e a lateralidade. Naverdade, a sua complexa biomecânica associaum terceiro grau de liberdade, a rotação da pri­meira falange sobre o seu eixo longitudinal, se­ja em supinação ou em pronação, movimentonão somente passivo, mas principalmente ativoindispensável na oposição.

Com a metacarpofalangeana aberta pelafrente (fig. 5-149) e a primeira falange desloca­da para trás, a cabeça do metacarpeano (1) apa­rece convexa em ambos os sentidos, mais longaque larga, prolongada para frente por dois espal­dões assimétricos, o interno (a) mais proeminen­te que o externo (b). A base da primeirafalangeestá ocupada por uma superfície cartilaginosa(2) côncava nos dois sentidos e a sua margemanterior serve de inserção àfibrocartilagem gle­nóide (3) ou placa palmar que contém, próxi­mos à sua margem inferior, os dois ossos sesa­móides internos (6) e externos (7). O corte dacápsllla (8) se caracteriza, de um lado ao outro,pelo espessamente que formam os ligamentosmetacarpoglenóides interno (9) e externo (10).Podemos observar os recessos capslllares ante­rior (11) e posterior (12), bem como os liga­mentos laterais, o interno (13) mais curto e queestá tenso antes que o externo (14). As setas xx'representam o eixo de fiexão-extensão e a setayy' o eixo de lateralidade.

Em vista anterior (fig. 5-150), podemos ob­servar os mesmos elementos: o metacarpeano(15) abaixo, a primeira falange (16) acima, embo­ra se distingam muito melhor os detalhes da pla­ca palmar com a fibrocartilagem glenóide (3), osesamóide interno (4) e o externo (5) unidos peloligamento intersesamóide (17) e fixos à cabeça

metacarpeana pelos ligamentos metacarpoglenói­des interno (18) e externo (19) e à base da primei­ra falange pelas fibras falango-sesamóides diretas(20) e cruzadas (21). Os músculos sesamóides in­ternos (6) se inserem no sesamóide interno e en­viam uma expansão (22) à base da falange ocul­tando parcialmente o ligament0 lateral interno(13). Está seccionada a expansão falangeana (23)dos sesamóides externos (7) para poder observarmelhor o ligameÍlto lateral externo (14).

Em vista lateral interna (fig. 5-152) e emvista lateral externa (fig. 5-153) podemos obser­var também o recesso capsular posterior (24) e oanterior (25), bem como a inserção do tendão doextensor curto próprio do polegar (26), e é pre­ciso ressaltar a inserção do metacarpo claramen­te descentrada dos ligamentos laterais interno(13) e externo (14) e dos ligamentos metacar­poglenóides (18) e (19). Também podemosconstatar que o ligamento lateral interno (fig. 5­152), mais curto, está tenso antes que o externo(fig. 5-153), o que provoca um deslocamentomais limitado da base da falange sobre a mar­gem interna da cabeça do metacarpeano que so­bre a margem externa. Uma vista esquemáticasuperior (fig. 5-157, página 241) da cabeça dometacarpeano (tracejada) explica como este des­locamento diferencial, I para dentro, L para fora,provoca uma rotação longitudinal em pronaçãoda base da falange, especialmente quando os se­samóides externos (SE) se contraem mais vigo­rosamente que os internos (SI).

Este fenômeno se acentua ainda mais pelaassimetria da cabeça do metacarpeano (fig. 5­151, vista de frente), onde o espaldão ântero-in­terno (a) mais proeminente desce menos que oexterno (b): no lado externo a base da falange sedesloca mais para frente e para baixo o que, naflexão, provoca uma pronação e um desvio ra­dial da primeira falange.

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1. MEMBRO SUPERIOR 239

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Fig.5-150

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240 FISIOLOGIA ARTICULAR

A ARTICULAÇÃO METACARPOFALANGEANA DO POLEGAR(continuação)

As possibilidades de inclinação e de rota­ção longitudinal da falange dependem de seugrau de flexão.

Em posição de alinhamento ou de extensc70(fig. 5-154) os ligamentos laterais estão disten­didos, mas o sistema da placa palmar e dos liga­mentos metacarpoglenóides está tenso (como assuperfícies articulares condilares do joelho emextensão), o que impede a rotação longitudinal ea lateralidade. É a primeira posiçc7o de bloqueio,em extensão.

Em posição intermédia ou de sel71ifle:rc7o(fig. 5-155), os ligamentos laterais ainda estãodistendidos, o externo mais que o interno, e osistema da placa palmar se distende, devido àbasculação dos sesamóides debaixo dos espal­dões anteriores da cabeça do metacarpeano. Tra­ta-se da posição de máxima mobilidade na qualos movimentos de lateralidade e rotação longitu­dinal são viáveis pela ação dos músculos sesa­móides: a contração dos internos determina umdesvio ulnar e uma leve supinação e a dos exter­nos um desvio radial e uma pronação.

Em posição de fiexc70 máxima Oli de blo­queio (fig. 5-156), o sistema da placa palmar sedistende, mas os ligamentos laterais estão tensosao máximo, o que acarreta um deslocamento dabase da falange em desvio radial e pronação. Aarticulação fica literalmente bloqueada pela ten­são dos ligamentos laterais e o recesso dorsalnuma posição de oposição máxima pela açãopredominante e quase exclusiva dos músculos

tenares externos. É a dose packed position deMac Conaill. Trata-se da segunda posição debloqueio, em flexão. '

Em resumo (Kapandji, 1980), a metacarpo­falangeana do polegar pode realizar dois tiposde movimentos a partir da posição de alinha­mento (fig. 5-158, vista posterior da cabeça dometacarpeano com os eixos de diferentes movi­mentos):

- afiexc70 plira (seta 1) em tomo de um ei­xo transversal fi' por ação equilibradados músculos sesamóides externos e in­ternos até a semiflexão;

- os movimentos complexos de fiexão­desvio-rotação longitudinal:

• seja a fiexc7o-desvio ulnar-supinação(seta 2) ao redor de um eixo oblíquo (eevolutivo) f" o que produz uma rotaçãocônica. Este movimento se deve à açãopredominante dos sesamóides internos;

• seja a fiexc7o-desvio radial-pronação(seta 3) em tomo de outro eixo oblíquono outro sentido (e também evolutivo)de obliqÜidade mais acentuada f3'Tam­bém neste caso se trata de uma rotaçãocônica e o movimento se deve à açãopredominante dos sesamóides externos.

A máxima flexão sempre conduz ao desvioradial-pronação devido à forma assimétrica dacabeça do metacarpeano e à tensão desigual dosligamentos laterais.

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Fig.5-154 Fig.5-155

1. MEMBRO SUPERIOR 241

Fig.5-156

Fig.5-157

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Fig.5-158

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242 FISIOLOGIA ARTICULAR

A ARTICULAÇÃO METACARPOFALANGEAN~ DO POLEGAR(continuação)

Os movimentos

Aposição de referência da metacarpofalan­geana do polegar é a posição de alinhamento(fig. 5-159): o eixo da primeira falange se loca­liza no prolongamento do eixo do primeiro me­tacarpeano. A partir desta posição, a extensãonum indivíduo normal, seja ativa ou passiva, éinexistente. A fiexão ativa (fig. 5-160) é de 60­70°, afiexão passiva pode atingir 80° e inclusive90°, As amplitudes dos diferentes componentesdo movimento na metacarpofalangeana podemser observadas, fixando sobre a superfície dorsaldo polegar, de um lado e outro da articulação,um triedro de referência construído com fósfo­ros, de tal modo que na posição de alinhamentosejam paralelas (ou no prolongamento uma daoutra) (fig. 5-161). Dessa forma, podemos evi­denciar os componentes de rotação e desvio.

[ --

Em posição de semifiexão podem-se con­trair tanto os sesamóides internos quanto os ex­ternos.

A contração dos sesamóides internos (fig.5-162, vista distal com o polegar em leve ante­posição e figo5-163, vista proximal com o pole­gar em retroposição no plano da palma) leva aum desvio ulnar de alguns graus e a uma supina­ção de 5 a r

A contração dos sesamóides externos (fig.5-164, vista distal e figo5-165, vista proximal)produz um desvio radial, muito visível na vistaproximal, claramente maior que o desvio ulnarprecedente e uma pronação de 20°.

Poderemos ver mais adiante toda a impor­tância deste movimento de fiexão-desvio radial­

pronação na oposição do polegar.

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Fig.5-162

Fig.5-165

Fig.5-160

1. MEMBRO SUPERIOR 243

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Fig.5-163

Fig.5-164

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244 FISIOLOGIA ARTICULAR

A ARTICULAÇÃO METACARPOFALANGEANA DO POLEGAR(continuação)

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Os movimentos

Nas preensões cilíndricas com toda a pal­ma da mão, a ação dos músculos sesamóides ex­ternos sobre a metacarpofalangeana é a que as­segura o bloqueio da preensão. Quando o pole­gar não intervém (fig. 5-166) e permanece para­lelo ao eixo do cilindro, a preensão não é blo­queada e o objeto pode cair facilmente pelo es­paço que fica livre entre os dedos e a eminênciatenar.

Se, por outro lado, o polegar se dirige aosoutros dedos (fig. 5-167), o cilindro já não podecair: o desvio radial da primeira falange, clara­mente visível no desenho, completa o movimen­to de anteposição do primeiro metacarpeano.Desta maneira, o polegar percorre o caminhomais curto em tomo do cilindro, isto é, o círcu­lo gerado (f), enquanto sem desvio radial segui­ria um trajeto elíptico mais longo (d).

Portanto, o desvio radial é indispensávelpara o bloqueio da preensão, cada vez melhorquanto mais fechado esteja o anel formado pelopolegar e o dedo indicador que segura o objeto epercorre na sua superfície o trajeto mais curto(fig. 5-168): da posição onde o polegar está si­tuado ao longo de um gerador do cilindro e pelaqual se rompe o anel da preensão, passando pe­las posições sucessivas b-c-d-e pelas quais oanel vai se fechando progressivamente até che­gar, finalmente, à posição f onde o polegar segueo círculo gerador, o que fecha totalmente o anele dá firmeza à preensão.

Além disso, a pronação da primeira falan­ge (fig. 5-169), visível pelo ângulo de 12° forma­do pelos dois pontos de referência transversais,

permite que o polegar entre em contato com oobjeto com a máxima superfície da sua superfí­cie palmar e não com a sua margem interna. Au­mentando a superfície de contato, a pronação daprimeira falange é um fator de consolidação dapreensão.

Quando, por causa do diâmetro mais redu­zido do cilindro (fig. 5-170). o polegar cobreparcialmente o dedo indicador, o anel da preen­são é ainda mais estreito, o bloqueio é absolutoe a preensão é mais firme.

A fisiologia peculiar da metacarpofalan­geana do polegar e dos seus músculos motoresse adapta notavelmente à função de preensão.

A estabilidade da metacarpofalangeanado polegar não somente depende de fatores ar­ticulares, mas também de fatores musculares.Normalmente, no movimento de oposição dopolegar (fig. 5-171), as duas cadeias articularesdo dedo indicador e do polegar se estabilizampela ação de músculos antagonistas (representa­dos por pequenas setas pretas). Em alguns casos(fig. 5-172, segundo Sterling Bunnel), podemosconstatar como "se inverte a metacarpofalangea­na" em extensão (seta branca):

1) quando uma insuficiência do abdutorcurto e do flexor curto provoca um des­locamento da falange:

2) quando uma retração dos músculos doprimeiro espaço interósseo aproxima oprimeiro metacarpeano do segundo;

3) quando uma insuficiência do abdutorlongo impede a abdução do primeirometacarpeano.

Page 250: Kapandji - Volume 1

Fig.5-166

Fig.5-169

Fig.5-171

Fig.5-168

1. MEMBRO SUPERIOR 245

Fig.5-170

Fig.5-172

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246 FISIOLOGIA ARTIClJLAR

A INTERFALANGEANA DO POLEGAR

À primeira vista, a articulação interfalan­geana do polegar não tem mistério: de tipo tro­clear, possui só um eixo transversal e fixo, quepassa pelo centro da curva dos côndilos da pri­meira falange, ao redor do qual se realizam osmovimentos de fiexão-extensão.

Flexão (fig. 5-173) ativa de 75 a 800, passi­va de 900•

Extensão (fig. 5-174) ativa de 5 a 10°, masé especialmente notável a hiperextensão passiva(fig. 5-175) que pode ser muito pronunciada(30°) em alguns profissionais, como é o caso dosescultores que utilizam o polegar como espátulapara trabalhar a argila.

A realidade é muito mais complexa porque,à medida que se fiexiona, a segunda falange rodalongitudinalmente no sentido da pronação.

Numa peça anatômica (fig. 5-176), apóshaver inserido dois espetos paralelos, a na cabe­ça da primeira falange e b na base da segunda,em máxima extensãCY.a fiexão da interfalangea­na produz a aparição de um ângulo de 5 a 100,

aberto do lado interno. no sentido da pronação.

A mesma experiência, realizada no ser vivocom fósforos colados paralelos entre si na super­fície dorsal de F e F . conduz ao mesmo resul-

I 2

tado: a segunda falange do polegar realiza a pro-nação de 5 a 10° no curso da sua fiexão.

A explicação deste fenômeno se conseguecom argumentos puramente anatômicos: com aarticulação aberta pela sua superfície dorsal (fig.

1- --

5-177), podemos observar as diferenças entreambos os côndilos: o interno é mais proeminen­te, se estende mais para frente e para dentro queo externo. O raio de curva do externo é menor,embora a sua parte anterior "desça" de formamais abrupta em direção à superfície palmar.Assim sendo, podemos deduzir que o ligamentolateral interno (LU), que está rapidamente maistenso que o externo durante a fiexão, freia a par­te interna da falange, enquanto a parte externada base da falange continua o seu trajeto.

Em outros termos (fig. 5-178), o trajeto per­corrido AA' sobre o côndilo interno é levemente

mais curto que o trajeto sobre o externo BB', oque acarreta a rotação longitudinal da pequenafalange. De modo que podemos afirmar que nãoexiste um eixo de fiexão-extensão, mas sim, umasérie de eixos instantâneos e evolutivos entre a

posição inicial i e a posição final.f

Se temos a intenção de modelar esta articu­lação, sobre uma lâmina de papelão, por exem­plo, (fig. 5-179), basta traçar uma prega de fie­xão, que não seja perpendicular ao eixo longitu­dinal do dedo, mas sim inclinada uns 5-10°: apequena falange descreverá o seu trajeto em fie­xão corno uma rotação cônica provocando umamudança de orientação proporcional ao grau defiexão.

Este componente de pronação na interfa­langeana se integra, como poderemos conferirmais adiante, na pronação global da coluna dopolegar no percurso da oposição.

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Fig.5-177

Fig.5-179

Fig.5-174

Fig.5-178

1. MEMBRO SUPERIOR 247

Fig.5-175

Fig.5-176

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248 FISIOLOGIA ARTICULAR

OS MÚSCULOS MOTORES DO POLEGAR

o polegar possui nove músculos motores:esta riqueza muscular, que ultrapassa comevidência à dos outros dedos, condiciona a mobi­lidade superior e a principal função deste dedo.

Estes músculos se classificam em doisgrupos:

a) os músculos extrínsecos, ou músculoslongos, são quatro e se localizam no an­tebraço. Três são abdutores e extensorese se utilizam para soltar a preensão, o úl­timo é flexor e a sua potência se utilizapara o bloqueio das preensões de força;

b) os músculos intrínsecos, incluídos naeminência tenar e no primeiro espaçointerósseo, são cinco. Participam na rea­lização de diferentes preensões e em par­ticular na oposição. Não se trata de mo­tores de potência. mas de precisão ecoordenação.

Para entender a ação dos motores sobre oconjunto da coluna do polegar, é necessário si­tuar o seu trajeto em relação aos dois eixos teó­ricos da trapézio-metÇlcmpeana (fig. 5-180): oeixo yy' de flexão-extensão, paralelo aos eixosfi' e f2 de f1exão da metacarpofalangeana e dainterfalangeana, e o eixo xx' de anteposição eretroposição delimitam entre eles quatro qua­drantes:

- um quadrante x'y' localizado atrás doeixo yy' de f1exão-extensão da trapézio­metacarpeana e diante do eixo xx' de an­tepu1são/retropulsão, ocupado pelo ten­dão de só um músculo, o abdutor longo(1), que se localiza muito perto deste úl­timo eixo xx'. Isto explica a escassa im­portância do seu componente de antepo­sição e a sua forte ação de extensão so-

bre o primeiro metacarpeano (fig. 5-181,vista externa e proximal do punho emposição de fuga);

- um quadrante x'y situado por trás do ei­xo xx' e por trás do eixo yy', que incluios dois tendões extensores:

• o extensor:.curto (2),

• o extensor longo (3);

- um quadrante Xy localizado pela frentedo eixo yy' e por trás do eixo xx', ocu­pado por dois músculos situados no pri­meiro espaço e que produzem uma retro­posição associada a uma ligeira f1exãona trapézio-metacarpeana:

• o adutor com os seus dois fascículos (8),

• o primeiro interósseo palmar (9) quan­do existe.

Estes dois músculos são adutores do pri­meiro metacarpeano: fecham a primeira comis­sura. aproximando o primeiro metacarpeano dosegundo (fig. 5-182);

- um quadrante xy' situado pela frente dosdois eixos xx' e yy' que inclui os princi­pais músculos da oposição, por reali­zarem ao mesmo tempo uma f1exão euma anteposição do primeiro metacar­peano:

• o oponente (6),

• o abdutor curto (7).

Com relação aos dois últimos:

• o flexor longo próprio do polegar (4),

• e o flexor curto (5).

Situam-se no eixo xx' e, portanto, são f1e­xores puros da trapézio-metacarpeana.

Page 254: Kapandji - Volume 1

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Fig.5-181

Fig.5-182

Fig.5-180

1. MEMBRO SUPERIOR 249

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250 FISIOLOGIA ARTICULAR

OS MÚSCULOS MOTORES DO POLEGAR(continuação)

Uma breve lembrança de anatomia esclare­ce a fisiologia dos músculos motores do polegar.

Músculos extrÍnsecos (fig. 5-183, vista an­terior e 5-184, vista externa):

- o abdutor longo do polegar (1) se inserena parte ântero-externa da base do pri­meiro metacarpeano;

- o extensor curto do polegar (2) paraleloao anterior (fig. 5-184) se insere na par­te dorsal da base da primeira falange;

- o extenso r longo do polegar (3) se inse­re na parte dorsal da base da segunda fa­lange;

Com relação a estes três músculos pode­mos constatar duas observações:

• no plano anatômico: estes três ten­dões, visíveis na superfície dorsal e ex­terna do polegar, delimitam entre si umespaço triangular de vértice inferior, atabaqueira anatõmica, em cujo fundodeslizam os tendões paralelos do pri­meiro (10) e segundo radial (11);

• no plano "funcional: cada um deles émotor de um segmento do esqueleto dopolegar e os três em conjunto no senti­do da extensão;

- o fiexor próprio do polegar (4) corre pe­lo túnel do carpo, passa entre os dois fas­cículos musculares do flexor curto, des­liza entre os dois ossos sesamóides (fig.5-183) para se inserir na superfície pal­mar da base da segunda falange.

Músculos intrínsecos (figs. 5-183 e5-184). Classificam-se em dois grupos:

O grupo externo contêm três músculos,inervados pelo mediano, que são, da profundida­de à superfície:

- o fiexor curto (5) constituído por doisfascículos, um se fixa no fundo do canaldo carpo e o outro na margem inferior

do ligamento anular e do tubérculo dotrapézio; terminam mediante um tendãocomum no sesamóide externo e no tu­bérculo externo da base da primeira fa­lange; direção oblíqua para cima e paradentro;

- o oponente (6) se insere na parte externada superfície anterior do metacarpeano, sedirige pata cima, para dentro e para frentepara se inserir na metade externa da super­fície anterior'do ligamento anular;

- o abdutor curto (7) se fixa no ligamentoanular, acima do anterior e sobre o tubér­culo do escafóide, constituindo o planosuperficial dos músculos tenares e se in­sere no tubérculo externo da primeira fa­lange; uma expansão dorsal forma umespaldão com o primeiro interósseo pal­mar (9), este músculo não se localiza pa­ra fora, mas para frente e para dentro doprimeiro metacarpeano, e se dirige, co­mo o oponente, para cima, para dentro epara a frente.

Estes três músculos constituem o grupo ex­terno porque se inserem na parte e:rterna do me­tacarpeano e da primeira falange. O flexor cur­to e o abdutor curto formam os sesamóides ex­temos.

O grupo interno contém dois músculosinervados pelo ulnar que se inserem na margeminterna da articulação metacarpofalangeana:

- o primeiro interósseo palmar (9), cujotendão se insere no tubérculo interno dabase da primeira falange e envia uma ex­pansão dorsal;

- o adutor do polegar (8), cujos dois fas­cículos oblíquo e transverso se inseremno sesamóide interno e no tubérculo in­terno da base da primeira falange.

Por motivo de simetria, estes dois músculosconstituem os sesamóides internos. São sinérgi­cos-antagonistas dos sesamóides externos.

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Fig.5-186

1-----

Fig.5-183

Fig.5-185

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252 FISIOLOGIA ARTICULAR

AS AÇÕES DOS MÚSCULOS EXTRÍNSECOS DO POLEGAR

o abdutor longo do polegar (AL) (fig. 5-187)desloca o primeiro metacarpeano para fora e parafrente. Portanto, não só é abdutor mas também an­tepulsor do metacarpeano, especialmente quando opunho está em flexão leve. Este componente ante­rior se deve ao fato de que o tendão do abdutor lon­go é o mais anterior dos tendões da tabaqueira ana­tômica (ver figo 5-184). Quando o punho não estáestabilizado pelos extensores radiais - principal­mente o curto - o abdutor longo também éfiexor dopunho. Quando o punho está estendido, o abdutorlongo se transforma em retropulsor do primeiro me­tacarpeano.

No p/ano funcional, o par abdutor longo emúsculos do grupo externo desempenha um papelprimordial na oposição. De fato, para que o polegarse coloque em oposição, é necessário que o primei­ro metacarpeano se desloque perpendicularmentepela frente do plano da palma da mão, com a emi­nência tenar formando um cone proeminente por ci­ma da margem externa da palma da mão. Esta açãoé o resultado do funcionamento do par funcional(figs. 5-185 e 5-186, página anterior: o primeiro me­tacarpeano aparece estilizado):

- primeira fase (fig. 5-185): o abdutor longo(]) estende o metacarpeano, para frente epara fora, da posição I à posição II;

- segunda fase (fig. 5-186): a partir desta po­sição II, os músculos do grupo externo, fle­xor curto e abdutor curto (5 e 7) e oponente(6) deslocam o metacarpeano para frente epara dentro (posição lU) e o rodam sobre oseu eixo longitudinal.

Para maior comodidade da descrição vamosexpor as duas fases de maneira sucessiva.

Na verdade, são simultâneas e a posição finallII do metacarpeano é o resultado da ação sincrôni­ca dos dois elementos do par funcional.

O extensor curto do polegar (EC) (fig. 5-188)possui duas ações:

a) estende a primeirafalange sobre o metacar-peano;

b) desloca o primeiro metacarpeano e, porconseguinte o polegar, diretamente para fora:se trata do verdadeiro abdutor do polegar, oque corresponde a uma extensão e a uma retro­posição da trapézio-metacarpeana. Para que

esta abdução se relize de maneira isolada, é ne­cessário estabilizar o punho mediante a contra­ção sinérgica do flexor ulnar do carpo e princi­palmente do extensor ulnar do carpo, casocontrário, o extensor curto também realiza aabdução do punho.

O extensor longo do polegar (EL) (fig. 5-189)tem três ações:

a) estende a segundafa/ange sobre a primeira:

b) estende a primeirafalange sobre o metacar­peano;

c) desloca o metacarpeano para dentro e paratrás:

• para dentro: "fecha" o primeiro espaçointerósseo, de modo que é adutor do pri­meiro metacarpeano;

• por trás do plano da mão: é retropulsordo primeiro metacarpeano graças a suareflexão sobre o tubérculo de Lister (fig.5-181). Devido a isto, o extensor longo éum antagonista da oposição: contribui aaplanar a palma da mão; a polpa do pole­gar se orienta para frente.

O extensor longo forma um par antagonista­sinérgico com o grupo externo dos mLÍsculos tena­res: de fato, quando queremos estender a segundafalange sem deslocar o polegar para trás, é necessá­rio que o grupo tenar externo estabilize o metacar­peano e a primeira falange pela frente. O grupo te­nar externo atua como moderador do extenso r lon­

go do polegar: quando os músculos tenares se para­lisam, o polegar se desloca irresistivelmente paradentro e para trás. De maneira acessória, o extensorlongo também é extenso r do punho quando estaação não está anulada pela contração do palmarmaIOr.

O flexor longo próprio do polegar (FL) (fig.5-190) é fiexor da segunda falange sobre a primei­ra, e de maneira acessória flexiona levemente a pri­meira falange sobre o metacarpeano. Para que a fle­xão da segunda falange se realize de maneira isola­da, o extensor curto, mediante sua contração, deveimpedir a flexão da primeira (par sinérgico).

Mais adiante poderemos analisar o papel in­discutível que desempenha o fiexor longo do polegarna preensão terminal (ver figs. 5-211 e 5-212).

Page 258: Kapandji - Volume 1

AL

EC

Fig.5-187

EL

Fig.5-189

Page 259: Kapandji - Volume 1

254 FISIOLOGIA ARTICULAR

AS AÇÕES DOS MÚSCULOS INTRÍNSECOS DO POLEGAR

,----

Grupo interno dos músculos tenares,também denominados músculos sesamóides in­ternos:

O adutor do polegar (fig. 5-191), com osseus dois fascículos (I, fascículo transverso; 1',fascículo oblíquo), estende sua ação sobre astrês peças ósseas do polegar:

a) no primeiro metacarpeano (esquema,figo5-192), a contração do adutor deslo­ca o primeiro metacarpo para uma posi­ção de equilíbrio ligeiramente para forae para frente do segundo metacarpeano(posição A), embora o sentido do movi­mento dependa da posição inicial dometacarpeano (segundo Duchenne deBoulogne):• o adutor é realmente adutor se o meta­

carpeano parte de uma posição de má­xima abdução (posição 1);

• mas se transforma em abdutor se o me­tacarpeano está, no ponto de partida,em máxima adução (posição 2);

• se o metacarpeano está em máxima re­tropulsão, sob a influência do extensorlongo próprió (posição 3), o adutor setransforma em antepulsor;

• ao contrário, se o metacarpeano é colo­cado previamente em anteposição peloabdutor curto (posição 4), se transfor­ma em retropulsor;

(R indica a posição de repouso do pri­meiro metacarpeano);

Recentes estudos eletromiográficos de­monstraram que o adutor do polegarnão intervém ativamente durante a adu­ção somente, mas também durante a re­tropulsão do polegar, durante a preen­são com toda a palma e no percurso dapreensão subterminal (pulpar) e princi­palmente subterminal-lateral (pulpar­lateral). Durante a oposição do polegar

aos outros dedos, intervém mais ativa­mente quanto mais o polegar realiza aoposição a um dedo mais interno. Por­tanto, sua ação é máxima para a opo­sição polegar/dedo mínimo.

O adutor não intervém na abdução, naantepulsão, na preensão tetminal-termi­nal (pulpoungueal).

Posteriores -trabalhos eletromiográficosconfirmaram que "a sua atividade se ma­nifesta principalmente no movimentoque aproxima o polegar do segundo me­tacarpeano, e isto em todos os setores daoposição. Sua atividade é menor numtrajeto maior que em outro menor" (fig.5-193, esquema de ação do adutor se­gundo Hamonet, de Ia Caffiniere e Opso­mer).

b) na primeira falange (fig. 5-191) a ação étripla: ligeira fiexão, inclinação sobre amargem interna (margem ulnar), rota­ção longitudinal em supinação (rotaçãoexterna) (seta preta);

c) na segllndafalange: extensão, na medi­da em que as inserções terminais do adu­tor são comuns com as do primeiro inte­rósseo.

O primeiro interósseo palmar possui umaação muito semelhante:

- adllção (aproximação do primeiro meta-carpeano ao eixo da mão);

- fiexão da primeirafalange pelo espaldão;

- extensão da segunda por expansão lateral.

A contração global dos músculos do grupotenar interno provoca que a polpa do polegar en­tre em contato com a superfície externa da pri­meira falange do dedo indicador e, ao mesmotempo, uma supinação da coluna do polegar (fig.5-191). Estes músculos são indispensáveis parasegurar com firmeza os objetos entre o polegar eo dedo indicador.

Page 260: Kapandji - Volume 1

Fig.5-191

1. MEMBRO SUPERIOR 255

~~~p @~~~

Fig.5-192

I

Page 261: Kapandji - Volume 1

256 FlSIOLOGIAARTICULAR

AS AÇÕES DOS MÚSCULOS INTRÍNSECOS DO POLEGAR(continuação)

Grupo externo dos músculos tenares(fig.5-194)

O oponente (2) possui três ações, simétricasàs do oponente do quinto (ver figo 5-102); o dia­grama eletromiográfico (fig. 5-195, mesma ori­gem) ressalta os setores:

- antepulsão do primeiro metacarpeano sobreo carpo, principalmente no maior trajeto;

- adução, aproximando o primeiro metacar­peano ao segundo nas posições extremas;

- rotação longitudinal no sentido da prona­ção.

Sendo estas três ações simultâneas necessáriaspara a oposição, este músculo faz jus ao seu nome.

De modo que o oponente intervém ativamenteem qualquer tipo de preensão que necessita da inter­venção do polegar. Além disso, a eletromiografiademonstra sua atuação paradoxal na abdução, nocurso da qual desempenharia uma função estabili­zadora sobre a coluna do polegm:

O abdutor curto (3) afasta o primeiro meta­carpeano do segundo no final da oposição (fig.5-196, esquema eletromiográfico; mesma origem):

- desloca o primeiro metacarpeano parafrente e para dentro no percurso do maiortrajeto da oposição, durante a máxima se­paração do segundo;

- jfexiona a primeira falange sobre o meta­carpeano,provocando:

• um movimento de desvio radial (sobre amargem externa) e

• uma rotação longitudinal no sentido dapronação (rotação interna) (seta preta)

- por último, estende a segunda falange so­bre a primeira mediante a sua expansão aoextensor longo.

Quando se contrai de maneira isolada (exci­tação elétrica), o abdutor curto desloca a polpa dopolegar em oposição com o dedo indicador e omédio (fig. 5-194). Portanto, se trata de um mús­culo essencial na oposição. Já vimos anteriormen­te (figs. 5-185 e 5-186) que constitui, com o abdu­tor longo, um par funcional indispensável para aoposição.

O flexor curto (4) participa na ação geral dosmúsculos do grupo externo (fig. 5-197). Porém,quando se contrai de maneira isolada (experiênciasde excitação elétrica de Duchenne de Boulogne),podemos constatar que a sua ação de adução é mui­to mais pronunciada, porque desloca a polpa do po­legar em oposição com os dois ú\timos dedos. Pelocontrário, sua ação de antepulsão do primeiro meta­carpeano (projeção para frente) é menos ampla,porque o seu fascículo profundo (4') realiza a opo­sição neste ponto ao superficial (4). Possui umaação de rotação longitudinal muito acentuada nosentido da pronação.

A concentração dos potenciais sobre o seu fas­cículo superficial (fig. 5-198, esquema segundo amesma origem) mostra que existe uma atividade se­melhante à do oponente: sua ação máxima se reali­za durante o maior trajeto da oposição.

Este também é fiexor da primeira falange so­bre o metacarpeano, porém o abdutor curto. com oqual forma o grupo dos sesamóides externos. e oprimeiro interósseo palmar que fonna o espaldão daprimeira falange, também participam ajudando-o arealizar esta ação.

A contração global dos músculos do grupo te­nar externo, reforçada pela do abdutor longo. reali­za a oposição do polegar.

A extensão da segunda falange se realiza(experiências de Duchenne de Boulogne) por trêsmúsculos ou grupos musculares que intervêm emcircunstâncias diferentes:

1) pelo extenso r longo próprio do polegar: seassocia com uma extensão da primeira fa­lange e uma diminuição da eminência te­nar. Estas ações acontecem quando abri~mos e aplanamos a mão;

2) pelos músculos do grupo tenar interno(primeiro interósseo palmar): se associacom uma adução do polegar. Estas açõesacontecem quando fazemos a oposição dapolpa do polegar à superfície externa daprimeira falange do dedo indicador (ver figo5-214);

3) pelos músculos do grupo tenar externo(principalmente o abdutor curto) na açãode oposição da polpa (ver figo5-213).

Page 262: Kapandji - Volume 1

\.

Fig.5-197

Fig.5-194

Fig.5-196

1. MEMBRO SUPERIOR 257

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258 FISIOLOGIA ARTICULAR

A OPOSIÇÃO DO POLEGAR

A oposição é o principal movimento do po­legar: é a ação de deslocar a polpa do polegarem contato com a polpa de um dos outros qua­tro dedos para constituir uma pinça polegar-di­gital. Portanto, não existe uma única oposição,mas toda uma gama de oposições que realizamuma grande variedade de preensões e de açõesdependendo do número de dedos envolvidos ede sua modalidade de associação. O polegar ad­quire todo o seu significado funcional em rela­ção aos outros dedos e vice-versa. Sem o pole­gar, a mão perde quase totalmente o seu valorfuncional até o ponto que as intervenções cirúr­gicas complexas planejam a sua reconstruçãopartindo dos elementos remanescentes: se tratadas operações de "polegarização" de um dedo eatualmente, de transplante.

Todos os tipos de oposição estão incluídosno interior de um setor cônico de espaço em cu­jo vértice se localiza a trapézio-metacarpeana, o

cone de oposição. Na verdade, este cone é bas­tante deformado porque a sua base está limitadapelos "trajetos maior e menor de oposição". Otrajeto maior (fig. 5-199) descrito perfeitamen­te por Sterling Bunnel durante a sua clássica ex­periência dos "fósforos" (fig. 5-203). O trajetomenor (fig. 5-200), no percurso do qual "o pri­meiro metacarpeano realiza num plano e de for­ma praticamente linear um movimento que des­loca progressivamente a sua cabeça pela frentedo segundo metacarpeano", é, na verdade, umareptação do polegar pela palma da mão, muitopouco utilizada e pouco funcional, que não me­rece a denominação de oposição porque não seassocia praticamente com este componente derotação que é, como já vimos, fundamental paraa oposição. Por outra parte, esta reptação do po­legar pelo interior da palma da mão se observajustamente nas paralisias da oposição por déficitdo nervo mediano.

Page 264: Kapandji - Volume 1

Fig.5-199

Fig.5-200

1. MEMBRO SUPERIOR 259

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260 FISIOLOGIA ARTICULAR

A OPOSIÇÃO DO POLEGAR(continuação)

Do ponto de vista mecânico, a oposição dopolegar é um movimento complexo que associa,em diversos graus, três componentes: a anteposi­ção, a flexão e a pronação da coluna ósteo-articu­lar do polegar:

- a anteposição ou projeção (fig. 5-201) éo movimento que desloca o polegar pa­ra frente com relação ao plano da pal­ma da mão, de modo que a eminênciatenar constitui um cone no ângulo súpe­ro-externo da mão. Realiza-se principal­mente no nível da trapézio-metacarpea­na e de maneira acessória na metacar­pofalangeana, onde o desvio radialacentua o alinhamento da coluna do po­legar. Esta separação do primeirometacarpeano com relação ao segundose denomina abdução no caso dos auto­res ingleses, o que se contradiz com osegundo componente de adução quedesloca o dedo para dentro. De modoque, se desejamos utilizar o termo deabdução, devemos reservá-lo para a se­paração do primeiro metacarpeano dosegundo no plano fron tal;

- a flexão (fig. 5-202) desloca toda a colu­na do polegar para dentro, e este é omotivo pelo qual se denomina adução naterminologia clássica. Participam as trêsarticulações do polegar:

• principalmente a trapézio-metacarpea­na, embora não possa deslocar o pri­meiro metacarpeano além do plano sa­gital que passa pelo eixo longitudinaldo segundo. Trata-se de um movimentode flexão porque se continua com a fle­xão da segunda articulação;

• a metacarpofalangeana que acrescentasua flexão em diversos graus dependen­do do dedo "enfocado" pelo polegar noseu movimento de oposição;

• por último, a interfalangeana se flexio­na para dar o "toque final" prolongandoa ação da metacarpofalangeana de mo-

do que atinja o seu objetivo;

- a pronação (fig. 5-203), componenteessencial da oposição do polegar, gra­ças a qual as polpas dos dedos podemtocar umas às outras, é definida comoa mudança de atitude da última falan­ge do polegar que "se orienta" em di­reções diferentes dependendo do seugrau de rótação sobre o seu eixo longi­tudinal. A denominação de pronação sedeve à analogia com o movimento doantebraço e se realiza no mesmo senti­do. Esta rotação da primeira falangesobre o seu eixo longitudinal é o resul­tado da atividade da coluna do polegarem conjunto, onde todas as articula­ções estão envolvidas em graus e pormecanismos diversos. A experiência"dos fósforos" de Sterling Bunnel(fig. 5-203) o comprova: após ter cola­do um fósforo transversalmente na ba­se da unha do polegar, e observando amão "em pé", medimos um ângulo de90 a 1200 entre a sua posição inicial A,mão plana, e a sua posição final B, po­sição de máxima oposição, polegarcontra dedo mínimo. Em princípio,pensamos que a rotação da coluna dopolegar sobre o seu eixo longitudinalse realizava graças à lassidão da cáp­sula da trapézio-metacarpeana. Porém,trabalhos recentes demonstram quedurante a oposição é quando a articula­ção está mais "fechada" (close packedposition) e que o jogo mecânico é me­nor.

Hoje sabemos que se o essencial da ro­tação provém da trapézio-metacarpeana,é graças a outro mecanismo, o do "c ar­dão" desta articulação de dois eixos. Porconseguinte, uma prótese de dois eixosda trapézio-metacarpeana realizada se­guindo estes princípios desempenha per­feitamente a sua função, permitindo umaoposição normal.

Page 266: Kapandji - Volume 1

1-····

A

Fig.5-201

Fig.5-203

Fig.5-202

1. MEMBRO SUPERIOR 261

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262 FISIOLOGIA ARTICULAR

A OPOSIÇÃO DO POLEGAR(continuação)

o componente de pronação

A pronação da coluna do polegar provémde dois contingentes de rotação:

- a rotação automática produzida pelaação da trapézio-metacarpeana, como semencionou anteriormente (ver pág.230), lembrando que as duas outras arti­culações metacarpofalangeana e interfa­langeana intervêm acrescentando a suaflexão à da trapézio-metacarpeana; istofaz com que o eixo longitudinal da se­gunda falange seja quase paralelo ao ei­xo principal xx' de anteposição e retro­posição, conseguindo que esta falangeterminal realize uma rotação cilíndricaonde toda rotação da trapézio-metacar­peana ao redor deste eixo realize umarotação igual, uma mesma mudança deatitude, da polpa do polegar.

Este mecanismo é fácil de verificar graçasao modelo mecânico da mão (ver ao final destevolume).

Da posição de partida (fig. 5-204) à posi­ção de chegada (fig. 5-205) a mudança de atitu­de da segunda falange e a sua oposição com a úl­tima falange do dedo mínimo se obtém median­te a mobilização em tomo dos quatro eixos xx',

yy', fi e f2, sem necessidade de torcer o papelãoque seria equivalente a "um jogo mecânico" nu­ma das articulações.

Resumindo (fig. 5-206), basta realizar su­cessivamente (ou simultaneamente) as quatrooperações seguintes:

1) rotação na trapézio-metacarpeana em tor­no do eixo xx' da peça inter,média do car­dão no sentido da anteposição (seta 1) des­locando o primeiro metacarpeano da posi­

ção 1 à posição 2 e o eixo YIYI' a y2y2';

2) rotação da trap~zio-metacarpeana da pri­meira falange em tomo do eixo fi;

3) flexão da metacarpofalangeana da pri­meira falange em torno do eixo fi;

4) flexão da interfalangeana da segunda fa­

lange em tomo do eixo f2•

Desse modo se demonstra, não medianteargumentos teóricos, mas por trabalhos práticos,a importante função do cardão da trapézio-meta­carpeana na rotação longitudinal do polegar.

~ a rotação "acrescentada" (fig. 5-207)que aparece com clareza após ter fixadoos fósforos de referência transversais

sobre os três segmentos móveis do pole­gar cuja posição é a máxima oposição.Assim, podemos constatar que a prona­ção aproximada de 30° que se soma àanterior se situa em dois níveis:

• na metacarpofalangeana onde uma pro­nação de 24° é o resultado da ação dosmúsculos sesamóides externos, abdutor

curto e flexor curto. É uma rotação ati­va;

• na inteifalangeana onde uma pronaçãode 7°, puramente automática, é o resul­tado do fenômeno de rotação cônica(ver figo 5-176).

Page 268: Kapandji - Volume 1

Fig.5-204 Fig.5-206

1. MEMBRO SUPERlOR 263

Fig.5-205

Fig.5-207

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264 FISIOLOGIA ARTICULAR

A OPOSIÇÃO E A CONTRA-OPOSIÇÃO

Já mencionamos a função essencial que de­sempenha a trapézio-metacarpeana, "a rainha",poderíamos dizer, da oposição do polegar; sófalta dizer que a trapézio-metacarpeana e a inter­falangeana permitem distribuir a oposição sobrecada um dos últimos quatro dedos. De fato, égraças ao grau de flexão mais ou menos acentua­do destas duas articulações que o polegar podeescolher o dedo que vai realizar a oposição.

Na oposição polegar-dedo indicador, polpacontra polpa (fig. 5-208), a metacarpofalangea­na se ftexiona muito pouco sem nenhuma prona­ção nem desvio radial. É o seu ligamento lateralinterno o que se opõe ao desvio radial do pole­gar sob o deslizamento do dedo indicador; a in­terfalangeana está estendida; mas existem outrasformas de oposição polegar-dedo indicador, aponta do dedo-ponta do dedo (término-terminal)por exemplo, onde, pelo contrário, a metacarpo­falangeana está totalmente estendida e a interfa­langeana ftexionada.

Na oposição polegar-dedo mínimo térmi­no-terminal (fig. 5-208 bis), a metacarpofalan­geana se ftexiona com desvio radial e pronação,e a interfalangeana se flexiona. Na oposição dapolpa, a interfalangeana está estendida.

Portanto, é totalmente viável afirmar que apartir de uma posição de base do primeiro meta­carpeano em oposição, a metacarpofalangeanaéa que permite escolher a oposição.

A oposição, indispensável para pegar obje­tos, não serviria de nada sem a contra-oposição

que permite soltá-Ios ou preparar a mão para ob­jetos mais volumosos. Este movimento (fig. 5­209) é definido por três componentes a partir daoposição:

- extensão; "

- retroposição;

- supinação da coluna do polegar.Os seus motores são:

- o abdutor longo;

- o abdutor curto;

- e, principalmente, o extensor longo dopolegar, que é o único capaz de deslocá­10 em máxima retroposição, no plano damão.

Os nervos motores do polegar (fig. 5-210)são:

- o radial no caso da contra-oposição;

- o ulnar e especialmente o mediano paraa oposição.

Os testes de movimentos são:

- a extensão do punho e das metacarpofa­langeanas dos quatro últimos dedos, aextensão e separação do polegar para aintegridade do radial;

- a extensão das duas últimas falanges dosdedos e separação e aproximação para oulnar;

- o fechamento da mão e a oposição dopolegar para o mediano.

Page 270: Kapandji - Volume 1

Fig.5-208

Fig.5-209

Fig. 5-208 bis

1. MEMBRO SUPERIOR 265

Fig.5-210

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266 FISIOLOGIA ARTICULAR

OS TIPOS DE PREENSÃO

A complexa organização anatõmica e funcional da mão con­verge na preensão; porém, não existe só um tipo de preensão, mas vá­rios tipos que se classificam em três grandes grupos: as preensõespropriamente ditas, as preensões com a gravidade e as preensões comação. Isto não resume todas as possibilidades de ação da mão: alémda preensão, também pode realizar percussões, contato e expressãogestual. De modo que vamos analisar sucessivamente: a preensão, apercussão, o contato manual e a expressão gestual da mão.

APREENSÃOAs preensões propriamente ditas se classificam

em três grupos: as preensões digitais, as preensões pal­mares, as preensões centradas. Todas têm um ponto emcomum: ao contrário das que vamos expor a seguir, nãonecessitam da participação da gravidade.

A) As preensões digitais se dividem por sua vezem dois subgrupos: as preensões bidigitais e aspreensões pluridigitais:

a) as preensões bidigitais constituem a clássicapinça polegar-digital, geralmente polegar-dedoindicador. Assim, são de três tipos, dependendode que a oposição seja terminal, subterminal osubterminal-lateral:

1) a preensão por oposição terminal ou ter­minal-polpa (figs. 5-211 e 5-212) é a maisfina e precisa. Permite segurar um objeto depequeno calibre (fig. 5-211) ou pegar um ob­jeto muito fino: um fósforo ou um alfinete(fig. 5-212). O polegar e o dedo indicador(ou o médio) realizam a oposição pela extre­midade da pàlpa e inclusive no caso de al­guns objetos extremamente finos (pegar umcabelo) com a ponta da unha. Portanto, pre­cisa de uma polpa elástica e corretamenteterminada pela unha, cuja função é primor­dial neste tipo de preensão. Por este motivo,também podemos denominá-Ia preensãopulpoungueal. É a preensão mais fácil deser prejudicada, mesmo com uma mínima al­teração da mão; de fato, precisa de um máxi­mo jogo articular (a fiexão é máxima) e prin­cipalmente necessita de que os grupos mus­culares e os tendões estejam íntegros, e espe­cialmente:

- o fiexor profundo (lado dedo indicador),que estabiliza a pequena falange em fie­xão, daí a importância de uma reparaçãoprioritária do fiexor comum profundoquando ambos os fiexores estão seccio­nados;

- fiexor longo próprio do polegar (lado po­legar), pela mesma razão;

I -

2) a preensão por oposição subterminal ouda polpa (fig. 5-213) é o tipo mais co­mum. Permite segurar objetos relativa­mente mais grossos: um lápis ou uma fol­ha de papel: o teste de eficácia da preen­são da polpa sub-terminal consiste emtentar arrancar uma folha de papel segura­do com firmeza pelo polegar e o dedo in­dicador. Se a oposição é boa, a folha nãose pode arrancar. Também denominamossigno de Froment, que avalia tanto a po­tência do adutor quanto a integridade donervo ulnar que o inerva.

Neste tipo de preensão, o polegar e o dedoindicador (ou qualquer outro dedo) realizama oposição pela superfície palmar da polpa.Naturalmente, o estado da polpa é importan­te, porém a articulação interfalangeana distalpode estar em extensão ou inclusive blo­queada em semifiexão mediante uma artro­dese. Os principais músculos deste tipo depreensão são:

- o fiexor superficial (lado dedo indicador)para a estabilização em flexão da segun­da falange;

- os músculos tenares fiexores da primeirafalange do polegar: flexor curto, primeirointerósseo palmar, abdutor curto e espe­cialmente o adutor;

3) a preensão por oposição subterminal-Iate­ralou pulpolateral (fig. 5-214), como quan­do seguramos uma moeda. Este tipo depreensão pode substituir a oposição terminalou a sub-terminal no caso de amputação dasduas últimas falanges do dedo indicador: apreensão não é tão fina embora continue sen­do sólída. A superfície palmar da polpa dopolegar entra em contato com a superfícieexterna da primeira falange do dedo indica­dor. Os músculos mais importantes deste ti­po de preensão são:

- o primeiro interósseo dorsal (lado dedoindicador) para estabilízar o dedo indica­dor lateralmente (além de estar auxiliadopelos outros dedos);

- o fiexor curto, o primeiro interósseo pal­mar e especialmente o adutor do polegar.A atividade deste último músculo está

confirmada por eletromiografia.

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Fig.5-213

Fig.5-212

1. MEMBRO SUPERIOR 267

Fig.5-214

Page 273: Kapandji - Volume 1

------~

268 FISIOLOGIA ARTICULAR

OS TIPOS DE PREENSÃO(continuação)

4) entre as preensões digitais, existe umaque não constitui uma pinça polegar-di­gital, se trata da:

preensão interdigital lateral-lateral(fig. 5-215): é um tipo de preensão aces­sória: por exemplo segurar um cigarro.Geralmente, se realiza entre o dedo in­dicador e o médio, o polegar não inter­vém. O diâmetro do objeto que se dese­ja pegar deve ser pequeno. Os músculosque participam são os interósseos (se­gundos interósseos palmar e dorsal). Éuma preensão débil e sem precisão, em­bora os indivíduos que tenham sofridoamputação do polegar a realizem demaneira surpreendente;

b) as preensões pluridigitais provocam aparticipação, além do polegar, dos ou­tros dois, três ou quatro dedos. Permi­tem uma preensão muito mais firme quea bidigital que persiste como preensãode precisão;

I) as preensões tridigitais envolvem opolegar, dedo indicador e o médio esão as que se utilizam com maior fre­qüência. Uma parte importante, paranão dizer preponderante, da humani­dade que não usa o garfo, utiliza estapreensão para levar os alimentos àboca. É semelhante à preensão tridi­gital da polpa (fig. 5-216), que se uti­liza para segurar uma bola pequenaem que o polegar realiza a oposiçãoda sua polpa à do dedo indicador e àdo médio com relação ao objeto. Porexemplo, para escrever com um lápis(fig. 5-217), necessitamos de umapreensão tridigital, da polpa, no casodo dedo indicador e do polegar, e dolateral para a terceirafalange do mé­dio que serve de suporte da mesmamaneira que o fundo da primeira co­missura. Assim sendo, esta preensão é

muito direcional e é semelhante às

preensões centradas e às preensõesativas, que poderemos analisar maisadiante, já que a escritura não é so­mente o resultado dos m'Ovimentos do

ombro e da mão que se desliza pelamesa sobre o seu bordo ulnar e o de­do mínimo, mas também dos movi­mentos dos .três primeiros dedos queprovocam a participação do ftexorlongo próprio do polegar e do ftexorsuperficial do dedo indicador para ovaivém do lápis e dos músculos sesa­móides externos e do segundo inte­rósseo dorsal para segurá-Io.

A ação de desenroscar a tampa de umagarrafa (fig. 5-208) é uma preensão tri­digital, lateral para o polegar e a se­gunda falange do médio que realizama oposição diretamente e da polpa pa­ra o dedo indicador que bloqueia oobjeto sobre o terceiro lado. O dedomédio serve de pico, encaixado entre oanular e o dedo mínimo. O polegaraperta com força a tampa contra o mé­dio graças à contração de todos osmúsculos tenares; o bloqueio se iniciagraças ao ftexor longo próprio e termi­na com o dedo indicador por ação doseu ftexor superficial. Quando abrimosa tampa, para desenroscar, não neces­sitamos de ajuda do dedo indicador,com o polegar e o médio: ftexão do po­legar, extensão do médio.

Se no início a tampa não estiver muitoapertada, podemos realizar apreensãotridigital da polpa para os três dedoscom movimento de desenroscar porftexão do polegar, extensão do médio eparticipação do dedo indicador em ab­dução (primeiro interósseo dorsal).Também é considerada como umapreensão ativa.

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/Fig.5-216

Fig.5-218

Fig.5-217

Fig.5-215

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270 FISIOLOGIA ARTICULAR

OS TIPOS DE PREENSÃO(continuação)

2) as preensões tetradigitais se utilizamquando um objeto é muito grande e deveser segurado com maior firmeza. Então,a preensão pode ser:

- tetradigital da polpa (fig. 5-219)quando pegamos um objeto esféricocomo uma bola de pingue-pongue.Neste caso podemos observar que ocontato se faz com a polpa no caso dopolegar, dedo indicador e médio, sen­do lateral no caso da terceira falangedo anular, cuja função é evitar que oobjeto escape para dentro da mão,

- tetradigital da polpa-lateral (fig. 5­220) quando desenroscamos uma tam­pa. Neste caso, o contato do polegar éamplo, abrangendo a polpa e a super­fície palmar da primeira falange, bemcomo sobre o dedo indicador e o mé-

dio; é lateral e da polpa na segunda fa­lange do anular que bloqueia o objetopor dentro. "A volta" da tampa pelosquatro dedos produz um movimentoem espiral sobre o segundo, o terceiroe o quarto dedos e podemos demons­trar que a resultante das forças queexercem se anula no centro da tampa,que se projeta para a metacarpofalan­geana do dedo indicador;

- tetradigital da polpa do polegar-tridi­gital (fig. 5-221), como quando semantém um crayon, um pincel ou umlápis: a polpa do polegar dirige e man­tém o objeto com força contra a polpado dedo indicador, do médio e do anu­

lar quase em máxima extensão. Tam­bém é a maneira como o violinista e o

violoncelista seguram o seu arco.

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Fig.5-219

1. MEMBRO SUPERIOR 271

Fig.5-221

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272 FISIOLOGIA ARTICULAR

OS TIPOS DE PREENSÃO(continuação)

3) as preensões pentadigitais utilizam to­dos os dedos, o polegar realiza a opo­sição de forma variada com relação aosoutros dedos. São utilizadas geralmentepara pegar grandes objetos. Porém,quando se trata de um objeto pequeno,podemos pegar com urna preensão pen­tadigital da polpa (fig. 5-222), de modoque só o quinto dedo realiza um conta­to lateral. Se o objeto é um pouco maisvolumoso, como urna bola de tênis, apreensão se converte em pentadigitalpolpa-lateral (fig. 5-223): os quatroprimeiros dedos entram em contatocom toda a sua superfície palmar e en­volvem o objeto quase totalmente, o po­legar realiza a oposição aos três outrosdedos e o dedo mínimo evita, mediantesua superfície externa, qualquer possí­vel deslocamento do objeto para dentroe em sentido proximal. Embora não setrate de uma preensão palmar, a bola selocaliza mais nos dedos que na palmada mão, também é uma preensão firme.

Outra preensão pentadigital que poderia serdenominada pentadigital comissural (fig. 5-224)pega objetos grossos semi-esféricos, um pratode sobremesa por exemplo, envolvendo-o com aprimeira comissura: polegar e dedo indicadoramplamente estendidos e separados entram emcontato com toda sua superfície palmar, o qual

precisa de uma grande flexibilidade e possibili­dades normais de separação da primeira comis­sura. Este não é o caso após fraturas do primei­ro metacarpeano ou feridas do primeiro espaçoque acarretam uma~retração da primeira comissu­ra. Além do mais, seg~ramos o prato (fig. 5-225)com os dedos médio, anular e mínimo, que só en­tram em contato por meio das suas duas últimasfalanges. Portanto, se trata de uma preensão di­gital e não palmar.

Apreensão pentadigital "panorâmica" (fig5-226) permite pegar grandes objetos pla­nos, uma travessa, por exemplo. Para poder rea­lizá-Ia necessitamos de uma grande separaçãodos dedos, amplamente divergentes, o polegar secoloca em retroposição e em máxima extensão,de modo que é em máxima contra-oposição. Apreensão se realiza diametralmente ao anular(setas brancas) com o qual tensiona um arco de180° sobre o que se engancham o dedo indica­dor e o médio. O dedo mínimo "morde" o outrosemicírculo de tal maneira que o arco estabele­cido entre ele e o polegar é de 215°; estes doisdedos, em máxima separação. uma oitava segun­do os pianistas, formam com o dedo indicadoruma preensão "triangular" quase regular e, comos outros dedos, uma preensão tipo "gancho" daqual o objeto não pode escapar. Observamos quea eficácia desta preensão depende da integridadedas interfalangeanas distais e da ação dos flexo­res profundos.

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Fig.5-222

Fig.5-224

Fig.5-223

Fig.5-225

1. MEMBRO SUPERIOR 273

Fig.5-226

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274 FISIOLOGIA ARTICULAR

OS TIPOS DE PREENSÃO(continuação)

B) Nas preensões palmares particIpamtanto os dedos quanto a palma da mão.São de dois tipos, dependendo da utili­zação ou não do polegar:

a) apreensão digital-palmar (fig. 5­227) realiza a oponência da palma damão com os últimos quatro dedos. Éum tipo de preensão acessória, masutilizada com freqüência quando acio­namos uma alavanca ou seguramosum volante. O objeto, de escasso diâ­metro (de 3 a 4 cm), está segurado en­tre os dedos flexionados e a palma damão, o polegar não participa: a preen­são, até certo ponto, só é firme no sen­tido distal; o objeto pode deslizar comfacilidade em direção ao punho,porque a preensão não está bloquea­da. Além disso, podemos constatarque o eixo da preensão é perpendicu­lar ao eixo da mão e não segue a dire­ção oblíqua do sulco palmar. Estapreensão digital-palmar também podeser utilizada para se pegar um objetomais volumoso, um copo, por exem­plo, (fig. 5-228), mas quanto mais im­portante seja o diâmetro do objeto,menos firmeza possui apreensão.

b) apreensão palmar com toda a mãoou toda a palma (figs. 5-229 e 5­230) é a preensão de força para osobjetos pesados e relativamente vo­lumosos. Um termo antigo e poucousado, mão fechada, é idôneo paradenominar este tipo de preensão emerece esta honra. A mão literalmen­te se fecha ao redor de objetos cilín­dricos (fig. 5-229); o eixo do objetofica na mesma direção que o eixo dosulco palmar, isto é, oblíquo da base

da eminência hipotenar à base do de­do indicador. Com relàção à base damão e do antebraço, esta obliqüidadese corresponde com a inclinação docabo das ferramentas (fig. 5-230) queforma um ângulo de 100 a 110°. É fá­cil constatar que é possível compen­sar com mais facilidade um ângulomuito aberto (120 a 130°) graças aodesvio ulnar do punho, do que um ân­gulo muito fechado (90°), já que odesvio radial é bastante menos am­plo.

O volume do objeto que seguramoscondiciona a força da preensão: é per­feita quando o polegar pode entrar emcontato (ou quase) com o dedo indica­dor. De fato, o polegar constitui o úni­co elemento que realiza a oposiçãocom relação à força dos outros quatrodedos, e sua eficácia é maior quantomais flexionado esteja. O diâmetrodos cabos das ferramentas dependedesta constatação.

A forma do objeto que seguramostambém não é indiferente e na atuali­dade se fabricam cabos que contêmas marcas dos dedos.

Os principais músculos deste tipode preensão são:

- os flexores superficiais e profundose especialmente os interósseos paraa flexão potente da primeira falan­ge dos dedos;

- todos os músculos da eminência te­nar,especialmente o adutor e o fle­xor longo próprio do polegar parabloquear a preensão graças à flexãoda segunda falange.

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Fig.5-228

Fig.5-230

1. MEMBRO SUPERIOR 275

Fig.5-227

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276 FISIOLOGIA ARTICULAR

OS TIPOS DE PREENSÃO(continuação)

1) Quando utilizamos apreensão palmarcilíndrica para objetos de diâmetrogrande (figs. 5-231 e 5-232), apreensãoé menos firme quanto maior seja o diâ­metro. De modo que o bloqueio depen­de, como já vimos anteriormente, daação da metacarpofa1angeana que per­mite que o polegar percorra uma direçãodo cilindro, ou seja, um círculo, ou o ca­minho mais curto para dar a volta. Poroutro lado, o volume do objeto exige amáxima liberdade de separação da pri-..melra comlssura;

2) as preensões palmares esféricas po­dem envolver três, quatro ou cinco de-

dos. Quando intervêm três (fig. 5-233)ou quatro dedos (fig. 5-234), o últimodedo envolvido por dentro, seja o mé­dio na preensão esférica tridigital, ou oanular na preensão esférica tetradigi­tal, entram em contato com o objeto pe­la superfície lateral externa, constituin­do assim um elemento interno, reforça­do pelos outros dedos (dedo mínimosozinho ou junto com o anular). Esteelemento realiza a oposição à pressãodo polegar de modo que o objeto ficabloqueado distalmente pelos "ganchos"dos dedos que mantêm um contato pal­mar com o objeto.

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;-Fig.5-233

Fig.5-232

1. MEMBRO SUPERIOR 277

Fig.5-234

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278 FISIOLOGIA ARTICULAR

OS TIPOS DE PREENSÃO(continuação)

Na preensão palmar esférica pentadigi­tal (fig. 5-235) todos os dedos entram em conta­to com o objeto pela sua superfície palmar. Opolegar realiza a oponência ao anular; em con­junto ocupam o maior diâmetro e o bloqueio dapreensão está assegurada distalmente pelo dedoindicador e o médio e proximalmente pelaemi­nência tenar e pelo dedo mínimo. O objeto, se­gurado com firmeza por todos os dedos em for­ma de gancho, o que supõe tanto as máximaspossibilidades de separação das comissurasquanto a eficácia dos f1exores superficiais e pro­fundos, entra em contato com toda a palma damão. Esta preensão é muito mais simétrica queas duas anteriores e, assim sendo, constitui atransição para as seguintes.

C) As preensões centradas realizam, de fa­to. uma simetria em tomo do eixo longitudinalque. em geral, se confunde com o eixo do antebra­ço. Isto é evidente no caso da batuta do maestro(fig. 5-236) cuja função é prolongar a mão e re­presenta uma extrapolação do dedo indicador

com relação à sua função de assinalar. Isto é in­dispensável do ponto' de vista mecânico napreensão da chave de fenda (fig. 5-237) que seconfunde com o eixo de pronação-supinação noato de parafusar ou desparafusar. Também estábastante claro na preensão de um gaifo (fig. 5­238) ou de uma faca que tem o objetivo de pro­longar a mão distalmente.

Em todo caso, o objeto de forma alongadase agarra com firmeza mediante uma preensãopalmar na qual participam o polegar e os últimostrês dedos, o dedo indicador, neste caso, desem­penha uma função orientativa indispensável pa­ra dirigir o talher.

As preensões centradas ou direcionais seutilizam com freqüência; requerem a integrida­de da flexão dos três últimos dedos, a extensão

completa do dedo indicador cujos f1exores de­vem ser eficazes, e um mínimo de oposição dopolegar para o qual a flexão da interfalangeananão é indispensável.

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Fig.5-235

Fig.5-238

1. MEMBRO SUPERIOR 279

Fig.5-236

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280 FISIOLOGIA ARTICULAR

OS TIPOS DE PREENSÃO(continuação)

Até aqui analisamos os tipos de preensãonos casos em que a gravidade não intervém, masexistem outros nos que a ação da gravidade é in­dispensável, de modo que não podem utilizar-seem meios sem gravidade, como é o caso de umacápsula espacial.

Nestas preensões em que a gravidade aju­da, a mão serve de suporte, como quando segura­mos uma travessa (fig. 5-239), o que supõe quepodemos aplanar, com a palma da mão horizontal,orientada para cima (e, portanto, sem os dedos emforma de gancho) ou que podemos constituir umtrípode debaixo do objeto que queremos segurar.

Graças à gravidade, a mão também pode-secomportar como uma colher que contém grãos(fig. 5-240) ou um líquido. A escavação da pal­ma da mão se prolonga pela dos dedos aduzidosao máximo, pela ação dos interósseos palmares,para evitar as possíveis fugas. O polegar, muitoimportante nesta ação, fecha o sulco palmar porfora: em semiflexão, se aproxima do segundometacarpeano e da primeira falange do dedo in­dicador, pela ação do adutor. A aproximação dasduas mãos "ocas" (fig. 5-241) em forma de doissemipratos fundos unidos pelo seu bordo ulnar

pode constituir uma~cavidade muito mais ampla.

Todos estes tipos de preensão de suportenecessitam de que a supinação esteja íntegra: defato, sem ela, a palma da mão, única parte damão capaz de constituir uma parede côncava,não pode orientar-se para cima. Desse modo, oteste da travessa permite constatar a recuperaçãoda supinação já que não existe nenhuma possibi­lidade de compensação do ombro.

A preensão de uma xícara com três dedos(fig. 5-242) utiliza a gravidade porque a suacircunferência está segurada por dois elemen­tos, constituídos pelo polegar e dedo médio,além de um gancho formado pelo dedo indica­dor. Esta preensão necessita de uma grande es­tabilidade do polegar e do médio, bem como aintegridade do flexor profundo do dedo indica­dor cuja terceira falange mantém a margem daxícara. O adutor do polegar também é impres­cindível.

As preensões em forma de gancho comum ou vários dedos, como quando se transpor­ta um balde ou uma mala ou, inclusive, no casode se agarrar nas pontas de uma parede rochosa,também utilizam a ação da gravidade.

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1. MEMBRO SUPERIOR 281

Fig.5-239

Fig.5-240

Fig.5-241

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Fig.5-242

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282 FISIOLOGIA ARTICULAR

OS TIPOS DE PREENSÃO(continuação)

As preensões estáticas analisadas até aqui nãobastam para esgotar todas as possibilidades da mão.A mão também é capaz de "atuar pegando algo". Éo que se denominará de preensões ativas ou preen­sões-ação.

Algumas destas ações são elementares comopor exemplo lançar um pião (fig. 5-243) medianteuma preensão polegar-dedo indicador tangencial,ou também lançar uma bolinha de gude (fig. 5-244)mediante um impulso abrupto da segunda falangedo polegar (ação do extensor longo); a bolinha degude está mantida previamente na concavidade dodedo indicador totalmente ftexionado (ação do fte­xor profundo).

Existem ainda outras ações mais complexas,nas quais a mão realiza uma ação reflexa sobre simesma. Neste caso, o objeto que seguramos por

uma parte da mão sofre uma ação que provém deoutra parte. Estas preensões-ação em que a mão atuasobre si mesma são inumeráveis; podemos mencio­nar como exemplos:

- a ação de acender um isqueiro (fig. 5-245)

que se parece bastante com a ação de lançaruma bolinha de gude; seguramos o isqueirona concavidade do dedo indicador e dos ou­

tros últimos dedos, enquanto o polegar, emforma de gancho, atua sobre o mecanismo(ação do ftexor próprio e dos músculos tena­res);

- a ação de apertar a tampa de um frasco deaerosol (fig. 5-246): desta vez, seguramos oobjeto por uma preensão palmar e a ftexãodo dedo indicador em forma de gancho é a

que atua sobre a tampa (ação do ftexor pro­fundo);

- a ação de cortar com tesoura (fig. 5-247): osanéis se inserem, por uma parte, com o pole­gar e, por outra, com o dedo médio ou o anu­lar. A ação do polegar é principalmente mo­tora tanto para fechar a tesoura (músculos te­nares) quanto para abri-Ia (extensor longopróprio). A separação dos anéis pode, quan­do se repete como um ato profissional, pro­vocar a ruptura do extensor longo. O dedoindicador orienta a tesoura, o que constituium exemplo de preensão ativa orientativa;

- a ação de comer com pauzinhos chineses

(fig. 5-248), em que um dos pauzinhos per­

manece fixo, bloqueado pelo anular na co­

missura do polegar, e o outro pauzinho

móvel mediante uma preensão tridigital

polegar-dedo indicador-médio forma umaI

pinça com o primeiro. Isto constitui, sem

dúvida, um teste excelente de habilidade

manual para úm europeu, já que os asiáti­cos o realizam de forma inconsciente;

- a ação defazer nós só com uma mão (fig. 5­

249). Neste caso, também se trata de um tes­

te de habilidade manual que supõe a ação in­

dependente e coordenada de duas pinças bi­

digitais; uma dedo indicador-médio, que

atua de preensão lateral-lateral, e a outra po­

legar-anular, que atua de preensão polegar­

digital embora muito pouco utilizada. Os ci­

rurgiões utilizam um método muito parecido

para fazer nós com uma mão só. Estas ações

múltiplas, com uma mão só, são muito fre­

qüentes nos digitadores e nos mágicos, cuja

destreza, aperfeiçoada constantemente com

exercícios cotidianos, é claramente superior

à média;

- a mão esquerda de um violinista (fig. 5-250)

ou a do guitarrista realiza uma preensão ati­

va móvel: o polegar segura o "cabo" do vio­

lino e, mesmo que se mova, serve de contra­

apoio à ação dos outros quatro dedos que,

ao tocar as cordas, formam as notas. Esta

pressão que se exerce sobre a corda deve ser

ao mesmo tempo precisa, firme e modulada

para conseguir a vibração. Estas ações tão

complexas são o resultado de uma longa

aprendizagem e devem-se manter e aperfei­

çoar com exercícios cotidianos.

Cada leitor pode descobrir por si mesmo a in­

finita variedade de preensões ativas que represen­

tam a atividade mais elaborada da mão em plena in­

tegridade funcional.

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:/:'/Fig.5-250

Fig.5-244

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284 FISIOLOGIA ARTICULAR

AS PERCUSSÕES - O CONTATO - A EXPRESSÃO GESTUAL

A mão do homem não é utilizada somentepara a preensão, mas também a podemos utilizarcorno instrumento de percussão:

- seja no trabalho, por exemplo quando seutiliza uma calculadora (fig. 5-251) ouurna máquina de escrever, ou quando to­camos piano: cada dedo se comporta co­rno um martelo diminuto que toca a te­cla, graças à ação coordenada dos inte­rósseos e dos flexores, especialmente oprofundo. A dificuldade consiste em ad­quirir a independência funcional dos de­dos entre si e das mãos entre si, o que re­quer urna aprendizagem cerebral e mus­cular, bem como um treino permanente;

- seja na luta onde os golpes são dadoscom a mão fechada (fig. 5-255) cornono boxe, com o bordo ulnar da mão oua extremidade dos dedos, no karatê, outambém a mão amplamente estendidacomo numa tapa comum.

O contato da mão no caso de uma carícia(fig. 5~253) é menos brusco; a mão desempenhauma função primordial no contato social e prin­cipalmente afetivo. Também devemos ressaltar anecessidade de urna sensibilidade cutânea intata,tanto para a mão que acaricia quanto para o ob­jeto da carícia. Em alguns casos, o contato deambas as mãos pode desempenhar urna funçãoterapêutica na imposição de mãos que pode ser"eficaz", mesmo a distância. Por último, o gestomais trivial da vida cotidiana do homem ociden­tal, o aperto de mãos (fig. 5-254), representa umcontato social cheio de significado simbólico.

Isto conduz, sem dúvida, a urna função in­substituível da mão na expressão gestual. Defato, esta expressão se realiza em estreita cola­boração com o rosto e a mão; depende de cen-

tros subcorticais, tal corno o demonstra o seudesaparecimento na doença de Parkinson. Estalinguagem da mão e do rosto está codificada pa­ra a comunicação entre surdo-mudos, mas a ges­ticulação instintiva constitui uma segunda lin­guagem; com diferença do sistema Ide comuni­cação falado, o seu significado é universal. Estetipo de comunicação compõe inumeráveis for­mas, que podem contar com algumas variaçõesregionais, mas que, em 'geral, se compreendemem todos os lugares do planeta, tanto se se tratada mão fechada em sinal de ameaça (fig. 5-252),quanto do cumprimento com a mão amplamenteaberta em sinal de paz, do dedo apontando (fig. 5­255, segundo Mathias Gnmewald no desenho deIsenheim) como sinal de acusação, ou inclusivedos aplausos em sinal de aprovação. Esta gesticu­lação está "trabalhada" profissionalmente pelosatores de teatro, mas é instintiva no caso do ho­mem comum, mais irreprimível quanto maismeridional seja a sua origem. O seu objetivo é ode ressaltar e acentuar o sentido da expressão,mas, com freqüência, o gesto ultrapassa à pa­lavra e, se basta por si só para expressar senti­mentos e situações, o que explica a grande abun­dância da "mão gesticuladora" nas obras pictó­ricas e nas esculturas. Esta função da mão não éa menos importante ao lado da sua utilidade fun­cional e sensorial. Em certas atividades artesa­

nais, como é o caso das mãos do alfareiro (fig.5-256), a ação da mão se realiza em todos osplanos de maneira simultânea: função realizado­ra na modelagem do objeto, função sensorial pa­ra reconhecer sua forma que se modifica conti­nuamente sob a sua carícia-trabalho e, por últi­mo, o seu significado simbólico, gesto de ofere­cimento da sua criação à coletividade dos ho­mens. Este caráter completo do gesto criativodo artesão é o que lhe dá todo o seu valor.

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1. MEMBRO SUPERlOR 285

Fig.5-256

Fig.5-252

Fig.5-251

ô~Fig.5-255

Page 291: Kapandji - Volume 1

286 FISIOLOGLc\ ARTICULAR

POSIÇÕES FUNCIONAIS E DE IMOBILIZAÇÃO

Descrita inicialmente por S. Bunnell (1948), como a posi­ção da mão em repouso, a posição funcional da mão é, na verda­de, bastante diferente da que se observa no indivíduo adormeci­do (fig. 5-257, segundo Miguel Ángel), igualmente denominadaposição de rela"Xamento, que também constitui a posição anti­álgica da mão lesada: antebraço em pronação, punho jlexionado,polegar em aduçãolretroposição, comissura fechada, dedos rela­tivamente estendidos principalmente no nível das metacarpofa­langeanas.

W. Littler (1951) mencionou a posição funcional (figs. 5­258 e 5-259): antebraço em semipronação, punho em extensãode 30° e adução que situa o polegar, especialmente o primeirometacarpo, em alinhamento com o rádio, constituindo com o se­gundo metacarpo um ângulo aproximado de 45°, metacarpofa­langeana e interfalangeana quase em posição de alinhamento,dedos ligeiramentê flexionados, mais no nível das metacarpofa­langeanas quanto mais interno seja o dedo. Em resumo, a posi­ção funcional é aquela a partir da qual poderíamos realizar apreensão com o núnimo de mobilidade articular se uma ou vá­rias articulações dos dedos ou do polegar estivessem anquilosa­das ou a partir da qual a recuperação dos movimentos resultasserelativamente fácil. realizando a oposição quase em sua totalida­de e bastando para completá-Ia alguns graus de flexão numa dasarticulações remanescentes.

Contudo. segundo R. Tubiana (1973), na prática é preferí­vel definir três tipos de posições de imobilizaçlio:

- a posição de imobilização temporal, denominada"proteção" (fig. 5-260), que tenta preservar a mesmamobilidade da mão:

o antebraço em semiflexão, pronação, cotovelo flexio-nadl\ 100°.

o punbü em extensão a 20° e ligeira adução,

o ded"s mais flexionados quanto mais internos sejam.

As métacarpofalangeanas flexionadas entre 50 e 80°,aumc'otando em proporção quanto menos estejam fle­xionclJas as interfalangeanas proximais.

As imerfalangeanas moderadamente flexionadas. pro­porcionalmente menos quanto se quer diminuir a ten­são e a isquemia neste ponto:

- no caso das interfalangeanas proximais entre 10 e 40°,

- no caso das interfalangeanas distais entre 10 e 20°,

o polegar preparado para realizar a oposição: primeirometacarpo em ligeira adução e também em anteposição,de modo que a abertura da primeira comissura esteja as­segurada. metacarpofalangeana e interfalangeana numabreve flexão de tal modo que a polpa do polegar estejadirigida em direção ao dedo indicador e médio.

- as posições de imobilização funcionais definitivasdenominadas "fixação".

Dependem de cada caso particular:

o no caso do punho:

- quando os dedos mantêm as suas possibilidades depreensão. devemos realizar uma artrodese do punho emextensão de 25° para colocar a mão em posição depreensão:

- quando os dedos perdem a sua função de preensão, obloqueio do punho é mais vantajoso em flexão;

- se os dois punhos estão definitivamente imobilizados,necessitamos do bloqueio de um deles para a higieneperineal;

- a utilização de uma muleta ou de uma bengala induz aobloqueio do punho em posição de alinhamento. A uti­lização de duas muletas conduz a uma artrodese em ex­tensão de 10° da mão dominante e uma artrodese emflexão de 10° da outra;

• para imobilizar o antebraço em pronação mais oumenos completa;

o no relativo às metr;zcarpofalangeanas, a posição deflexão varia de 35" no caso do dedo indicador a 50°no caso do dedo ilÚnimo;

o com relação às intelfalangeanas proximais a flexãovai de 40 a 60°;

o a artrodese da trapézio-metacmpeana se realiza nu­ma posição adaptada a cada caso. mas cada vez quese bloqueia definitivamente um dos elementos dapinça polegar-digital, devemos considerar necessa­riamente as possibilidades da zona que fica móvel;

- as posições não funcionais denominadas "imobili­zação temporal"-posições de imobilização parcial.

Só se justificam num período de tempo mais curtopossível para se obterem uma maior estabilidade numfoco de fratura ou um relaxamento numa sutura tendi­nosa ou nervosa.

Existe um grave risco de rigidez por estase venosa elinfática. Este perigo diminui consideravelmente se asarticulações adjacentes às imobilizadas se movi­mentam ativamente:

o após uma sutura do mediano. do ulnar ou dos flexo­res. podemos flexionar o punho até os 40° sem gran­des conseqüências durante três semanas, porém éimprescindível imobilizar as metacarpofalangeanasem flexão aproximadamente de 80°, deixando as in­terfalangeanas no seu grau de extensão naturalporque a sua extensão é difícil de recuperar apósuma flexão forçada;

o após a reparação dos elementos dorsais, as articula­ções devem ser imobilizadas em extensão, porém énecessário conservar sempre pelo menos 10° de fle­xão nas metacarpofalangeanas. Com relação às inter­falangeanas a flexão pode ser de 200 se a secção se lo­caliza acima das metacarpofalangeanas, mas deveráser nula se a secção se localiza na primeira falange;

o após tratamento das lesões denominadas "em casa debotão", se imobiliza a interfalangeana proximal emextensão e a interfalangeana distal em flexão pararealizar a tração distal do aparelho extensor;

o ao contrário, se a lesão está localizada perto da in­terfalangeana distal, esta articulação ficaria imobi­lizada em extensão e a interfalangeana proximalem flexão para relaxar, desta maneira, as faixas la­terais do extensor.

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1. MEMBRO SUPERIOR 287

Fig.5-258

Fig.5-259

Fig.5-260

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288 FISIOLOGIA ARTICULAR

AS MÃOS FICÇÕES

As mãos ficções não são um simples exer­cício de imaginação, mas permitem uma melhorcompreensão das razões arquitetõnicas da mão.De fato, poderíamos imaginar, sem problemas,outras soluções que não fossem a mão normal,por exemplo a mão assimétrica ou a simétrica.

As mãos assimétricas derivam da mãonormal por redução ou aumento do número dededos, ou por inversão da simetria.

O aumento do nÚmero de dedos, seis ou se­te dedos, depois do dedo núnimo no lado ulnarda mão, com certeza aumentaria a preensão comtoda a palma da mão, mas à custa de uma com­plicação funcional proibitiva.

A redução do nÚmero de dedos a quatro outrês faz com que a mão perca as suas possibili­dades. Alguns macacos de América Central pos­suem, no membro superior, uma mão com qua­tro dedos sem polegar, e a única ação que podemrealizar é a de se agarrarem nos ramos, mas nomembro inferior possuem uma "mão" de cincodedos com polegar capaz de realizar a oposição.A mâo com três dedos (fig. 5-261), como pode­mos observar após determinadas amputações,conserva as preensões tridigitais e bidigitais, asmais freqüentes e as mais precisas, mas perde apreensão com toda a palma da mão, indispensá­vel para pegar os cabos das ferramentas. A mãocom dois dedos (fig. 5-262), polegar e dedo in­dicador, pode realizar um gancho, com o dedoindicador e uma pinça bidigital para as preen­sões finas, mas não pode realizar, de jeito ne­nhum, as preensões tridigitais e as preensõescom toda a palma da mão; contudo, podemosnotar o resultado inesperado que pode oferecer aconservação ou a restituição de uma mão comdois dedos em alguns mutilados!

Observamos também que esta mão chega aser simétrica com os defeitos inerentes a estadisposição.

A mão de simetria inversa, isto é, umamão com cinco dedos, mas com um polegar ul-

nar, acarretaria uma mudança de obliqüidade dosulco palmar: em pronação-supinação neutra, ocabo de um martelo em vez de estar oblíquo pa­ra cima, estaria oblíquo para baixo, o que impe­diria bater um prego de cima para baixo, a nãoser que houvesse uma alteração de +1800 da po­sição neutra de pronação-supinaçã0, a palma damão estaria orientada para fora! Desse modo, aulna passaria por cima do rádio e a inserção dobíceps sobre este osso careceria de eficácia. Emresumo, se deveria mop.ificar toda a arquiteturado membro superior sem nenhuma evidência devantagem funcional.

As mãos simétricas teriam dois polega­res, um radial, outro ulnar, limitando um, doisou três dedos médios. A mais simples, a mão si­métrica com três dedos (fig. 5-263) pode reali­zar duas pinças polegar-digitais, uma pinça bi­polegar (entre ambos os polegares) e umapreensão tridigital (fig. 5-264) por oposiçãodos dois polegares sobre o dedo indicador, sen­do quatro preensões de precisão. Também é im­possível imaginar uma preensão "com toda apalma da mão" (fig. 5-265) entre os dois pole­gares por uma parte e, pela outra, entre a palmada mão e o dedo indicador. Porém, dotada decerta firmeza, esta preensão teria um sério in­conveniente, a sua simetria converteria o caboda ferramenta perpendicular ao eixo do ante­braço; entretanto, vimos anteriormente que aobliqüidade do cabo unida à pronação-supina­ção permite orientar a ferramenta. O mesmoaconteceria no caso de qualquer mão simétricacom dois ou três dedos médios (fig. 5-266), ouseja, de cinco dedos dos quais dois são polega­res. Os papagaios possuem dois dedos poste­riores que realizam uma garra simétrica que ospermite se segurar com firmeza a um galho.

Uma conseqüência inoportuna da mão comdois polegares seria a estrutura simétrica do an­tebraço. Nestas condições, o que aconteceriacom a pronação-supinação?

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Fig.5-261

Fig.5-264

Fig.5-263

Fig.5-266

1. MEMBRO SUPERIOR 289

Fig.5-262

1I

Fig.5-265

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290 FISIOLOGIA ARTICULAR

A MÃO DO HOMEM

A mão do homem, na sua complexidade,se realiza como uma estrutura perfeitamentelógica e adaptada às suas diferentes funções. A

sua arquitetura reflete o princípio da economiauniversal. É um dos mais belos logros do uni­verso.

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1. MEMBRO SUPERIOR 291

Fig.5-267

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292 FISIOLOGIA ARTICULAR

MODELOS DE MECÂNICA ARTICULAR PARA CORTAR

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Estes modelos mecânicos, construídos mediante cor­tes, dobradiças e colagens, estão destinados a concretizarno espaço noções expostas ao longo deste volume; são es­quemas em três dimensões, com possibilidade de movi­mento. Com a sua montagem podemos adquirir, sem nen­hum esforço, graças ao sentido cinestésico que adquirem,conhecimentos difíceis de descobrir de outra forma. Por­tanto, recomendamos que o leitor dedique um pouco detempo e paciência; terá a sua recompensa.

Antes de começar, é necessário ler atentamente to­das as indicações.

Pranchas I e lI:Modelo mecânico da mão

Este modelo está composto por quatro peças A, B, Ce D. distribuídas nas pranchas I e 11. Na parte inferior daprancha II aparecem os esquemas de montagem a, b e c.

Por razões inerentes à edição deste livro, o papel so­bre o qual estão impressos os desenhos não tem a espessu­ra necessária para dar uma boa consistência ao modelo, is­to significa que o melhor resultado pode se obter transfe­rindo os desenhos das quatro peças A, B, C e D para umpapelão de pelo menos um milímetro de espessura.

Corte

Cortam-se com tesouras as quatro peças seguindo otraço contínuo da linha de contorno. Algumas peças con­têm recortes de linhas interiores que deverão ser feitoscom uma lâmina Olfa ou estilete:

- peça A: entre as lingüetas h, j e k;

- peça D: linha reta perto de m e n -linha compostapor três segmentos perto de m' e n'.

Também se indicam algumas partes que ficarão va­zias mediante:

- traços espessos

• peça A: perto de k';

• peça D: fenda central;

- traços duplos paralelos sobre as peças A e C: se deverealizar uma fenda estreita entre os dois traços umavez aproximados, de modo que possamos receberposteriormente as polias tendinosas (ver esquema c).

Também se devem perfurar alguns furos:

- furos circulares: passagem dos tendões cujos núme­ros correspondem ao esquema c;

- furos circulares marcados com uma cruz: inserçõestendinosas;

- cruz simples: fixação de faixas elásticas de lem­brança.

Dobradura

Não se deve realizar nenhuma dobradiça sobre o pa­pelão sem recortar antes com a pequena faca ou o estiletea terceira parte ou a metade da espessura do papelão

- incisão na parte da frente para as linhas tracejadas;

- incisão no verso para as linhas de pontos e traços;para transportar estas últimas com precisão ao ver­so, é conveniente assinalar os seus extremos perfu­rando o papelão com uma agulha ou a ponta de umcompasso.

Após haver reaÍizado a incisão, se dobra o papelãocom facilidade e de forma precisa pelo lado oposto à inci­são; durante a realização das dobradiças, a flexão do pape­lão nunca deve ultrapassar, no início, os 4SO. As duas do­bradiças longitudinais da peça A se marcam levemente erepresentam a escavação da mão. As dobradiças marcadaseixo I sobre A e eixo 2 sobre C são de 90°. As duas pregasconvergentes a partir dos extremos do eixo I sobre a peçaA são superiores a 90°, igual que as das lingüetas j e h. Apeça B não contém nenhuma dobradiça.

Observar sobre a peça C a obliqüidade das dobradi­ças de flexão da interfalangeana e da metacarpofalangea­na, que traduzem o tipo de flexão tão particular destas duasarticulações; quanto à metacarpofalangeana, considera­mos um dos três eixos. o que. no curso da oposição do po­legar, permite a flexão-pronação-desvio radial.

A10ntagem

O esquema a mostra a montagem dos elementos:

. a peanha (peça D) se monta aproximando e fazen­do coincidir m sobre m' e n sobre n'. Pode-se co­lar as lingüetas m e 11 nas superfícies tracejadas m'

e n'; se posteriormente desejamos desmontar omodelo, podemos unir as duas com dois gramposque passem através dos furos m, m', n, n ';

. na mão (peça A) após haver assinalado as dobra­diças dos dedos e da palma da mão, devemos pre­parar o suporte da articulação trapézio-metacar­peana:

1. invertemos a superfície semicircular tracejada90° para trás;

2. pregamos para frente os dois triângulos paraconstituir uma pirâmide triangular de base su­penor;

3. esta pirâmide está fixa:

- colando as lingüetas h e j sobre as superfíciesh' e j' (montagem definitiva);

- fixando a lingüeta k, que vai passar pelo espa­ço vazio entre h' e j'. dobrada por trás de k' efixa por um grampo nos furos k e k' (modelodesmontável);

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- o polegar (peça C), após preparado pela dobra­diça do eixo 2 para trás (seta 1) e colado (seta 2)na parte da frente da peça B,fsobref', fazendocom que os furos e as linhas do eixo 2 coinci­dam. A seguir, colar este conjunto (seta 3) napirâmide que suporta o polegar, unindo o versog' da peça B sobre a parte da frente g da peçaA, de tal forma que tanto os furos quanto aslinhas do eixo 1 coincidam.

Deste modo, se realiza a articulação de tipo cardãode dois eixos 1 e 2 da trapézio-metacarpeana.

O esquema b mostra como se fixa a mão sobre a suabase, introduzindo-a na fenda central.

Utilização

Tal como está, este modelo permite entender pormobilização passiva três características funcionais funda­mentais da mão:

I. a escavação da palma da mão, por flexão dasduas dobradiças longitudinais que simula os mo­vimentos de oposição do 4.° e principalmente do5.° metacarpo;

2. a ftexão oblíqua dos dedos, que os faz convergerpara a base da eminência terrar, graças à obliqÜi­dade cada vez mais acentuada dos eixos das inter­falangeanas e das metacarpofalangeanas, quandose dirige o dedo indicador em direção ao mínimo(exemplo de rotação cônica). Este fenômeno é re­forçado pela oposição dos raios metacarpeanosinternos (4.° e principalmente 5.° metacarpo);

3. a oposição do polegar: os três casos de rotaçãoplana, rotação cônica e rotação cilíndrica expostosno texto podem se verificar aqui, considerando oeixo I como eixo principal e o eixo 2 como eixosecundário; deste modo, podemos comprovar quea flexão sllcessiva no eixo 2 e as duas outras arti­culações do polegar (metacarpofalangeana e in­terfalangeana) permitem realizar uma rotação ci­líndrica da última falange do polegar que provocauma mudança de orientação sem que esteja mar­cada a flexão na trapézio-metacarpeana e sem quea rotação do primeiro metacarpeano sobre o seueixo longitudinal seja relevante. Podemos com­provar que sem a intervenção de nenhum jogo me­cânico nas articulações do polegar, é possível rea­lizar a oposição em "pequeno e grande trajeto" dodedo indicador até o mínimo com uma mudançade orientação da polpa do polegar que se corres­ponde rigorosamente com a realidade.

A flexão-pronação da interfalangeana e a da meta­carpofalangeana aparecem graças à obliqÜidade das do­bradiças.

Instalação dos "tendões"

É possível animar este modelo instalando "tendões"(esquema c). Estes são constituídos por um cordãozinhobloqueado por um nó na sua inserção falangeana (furos

1. MEMBRO SUPERIOR 293

circulares assinalados com uma cruz), passando a seguirpelas "polias" preparadas nas falanges e os furos realiza­dos na base. Cada tendão tem um número em todo o seutrajeto:

1. abdutor longo do polegar: fixo na peça B, mobili­za a trapézio-metacarpeana ao redor do seu eixoprincipal (eixo 1);

2. flexor próprio do polegar: fixo sobre a 2: falange,passa pelo sulco (2) da primeira falange na peçaB. Flexiona as duas falanges do polegar;

3. este "tendão" de direção transvt;rsal, fixo sobre oprimeiro metacarpo (3), e que desenha numa po­lia da palma da mão (3), é ao mesmo tempo equi­valente do adl1tor e do flexor curto;

4. flexor profundo do dedo indicador fixo sobre aterceira falange do dedo indicador (4) e que passaatravés de três poÍias: flexiona totalmente o dedoindicador;

5. este "tendão" de direção transversal, simétrico ao3, se fixa sobre uma cunha de 6 a 7 mm de espes­sura (trapézio tracejado 5); se reflete na palma damão sobre a polia 5, equivale ao oponente do de­do mínimo;

6. flexor profundo do dedo mínimo (o mesmo traje­to, a mesma função que 04).Nota: Os ftexores do 3.° e do 4.° dedos não estãoinstalados com a finalidade de simplificar. apesarde se poder fazer isto sem dificuldade;

7. este tendão não está visível no esquema. Trata-sedo extensor longo próprio do polegar: se fixa naface dorsal de sua segunda falange no mesmo fu­ro que o ftexor próprio (os dois nós estão opostos).passa pela polia 7 da face dorsal da sua primeirafalange e logo após por um furo na peça B.

As polias podem ser construídas com facilidade me·diante pequenas faixas de papelão de 6 mm de largura, su­ficientemente flexíveis para poder penetrar num túnel; ca­da um dos seus extremos se passa de diante para trás pelasfendas realizadas nas peças A e C, e se cola sobre a sua fa­ce dorsal, depois de dobrar para o (em ômega).

A única exceção é a polia dupla 2-7 da peça C : éventral para 2 e dorsal para 7 (dois ômegas invertidos umcom relação ao outro).

No extremo de cada tendão podem se fazer rolos pa­ra passar os dedos, ou fixar anéis que permitam mobilizaros tendões com mais facilidade.

Para estabilizar o polegar numa posição funcional,podemos utilizar elásticos para manter os eixos 1 e 2 nu­ma posição média.

No caso do eixo 1, o elástico tem origem num dosfuros el da peça B, se reflete no furo el da base da peça Ae se fixa de novo na peça B, no nível do outro furo e,- aposição média se obtém deslizando o elástico pelo furo dapeça A. Fixamos o elástico com um pouco de cola em ca­da extremo. Para estabilizar o eixo 2 entre os três furos

marcados e2 nas peças B e C se realiza a mesma operação.

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294 FISIOLOGIA ARTICULAR

Para ter certeza de que o dedo indicador e o míni­mo voltem à exten"são, podemos colocar um elástico emtensão sobre a sua face dorsal, entre os furos 4 e 6 e ou­tros furos que se realizarão na face palmar da peça A.Também neste caso é possível regular a tensão com umpouco de cola.

Animação do modelo

Graças aos tendões podemos realizar praticamentetodos os modelos da mão:

1. escavação da palma da mão: puxando o tendão5 (a eficácia desta manobra depende da altura docuneiforme 5);

2. flexão do dedo indicador e do mínimo mediantetração dos tendões 4 e 6;

3. animação do polegar

a) colocação do polegar no plano da palma damão (mão plana: posição inicial da experiênciade Sterling-Bunnel): puxando de forma equili­brada os tendões 7 e 3;

b) oposição polegar-dedo indicador: enquan­to flexionamos o dedo indicador é necessá­rio puxar simultaneamente os tendões 1. 3 e7:

c) oposição polegar-dedo mínimo: enquanto tle­xionamos o dedo mínimo é preciso puxar si­multaneamente os tendões 1,3 e 4;

d) oposição polegar-base do dedo mínimo: épreciso puxar os tendões 1 e 2 e eventualmen­te o 3;

e) oposição término-lateral polegar-dedo indi­cador: como no caso b), mas tlexionando maiso dedo indicador.

Prancha III

Modelo de um dedo com as suas articulações e osseus tendões.

Cortar com cuidado as quatro peças M, FI' F, e F]que representam o metacarpeano e as três falanges. dei­xando vazia a fenda lateral de M, FI e F2• Marcar as dobra­diças incidindo levemente com uma pequena faca, na par­te da frente sobre as linhas tracejadas e no verso sobre aslinhas de pontos. Perfurar com uma agulha os passos doeixo no nível das cruzes. Uma vez dobrada em ângulo re­to a face lateral esquerda, pregar e colar como se indica noesquema 1 a lingüeta da base das falanges (depositar a co­la no canto da lingüeta). Dobrar a segunda face lateral co­lando igualmente a lingüeta e colar a face palmar com asua lingüeta para colar, tal como se indica no esquema 2.Deste modo podemos dar forma e colar a polia de ~1, FieF, como se indica no esquema 3 (a lingüeta para colar de­ve passar pela fenda antes de se colar no interior). Cortaras peças A e B, dobrar copiando do esquema 4 e colar nosseus correspondentes lugares, marcar A eB na face dorsal

de M. Quando a cola das falanges e do metacarpeano estábem seca, procedemos à montagem das articulações, co­mo se indica no esquema 5: o eixo é constituído por umalfinete ou um arame fino, passando pelos furos de eixoanteriormente perfurados. Porém, na articulação F/ F2 oeixo de arame (um grampo de cabelo fino é bastante ma­leável) se dobra em forma de garfo de cada lado (esque­ma 7).

Enquanto as falanges se secam, podemos construira base. Cortar a peça C, com as suas três fendas marca­das f e as suas dobradiças (seguindo o mesmo código);colar a lingüeta tracejada sobre o lado aposto de manei­ra que se forme uma espécie de chaminé com quatro lin­güetas na base. Inspirando-se no esquema 6, colar porsuas lingüetas de base. a chaminé sobre um quadrado depapelão de 6 x 6 cm, no seu centro, cortar um segundoquadrado de 6 x 6 e depois de esvaziar no centro um re­tângulo com as dimensões exteriores do pé da chaminé,colar no primeiro quadrado encaixando-o sobre a chami­né (esquema 6). Uma vez constituída a base, encaixar ometacarpeano (a chaminé, levemente cônica, se colocacom facilidade na base do metacarpeano).

Resta construir e fixar, como se indica nos esque­mas em perspectiva 8 e 9, os diferentes tendões: comelásticos planos de 3-4 mm de largura (se encontram empapelarias ou nas lojas de modelos de aviões):

- o flexor comum profundo (FCP) se coloca comfacilidade como se indica no esquema 9, passan­do um elástico pelas três polias e fixando o extre­mo na face palmar de FJ mediante um alfinete ouuma fita adesiva;

- o flexor comum superficial (FCS), constituídopor um elástico separado 2,5 cm no seu extremo(esquema 9), passa, a seguir, pelas duas primeiraspolias, e logo as suas pontas se fixam nas faceslaterais de F2 (ponto v);

- o extensor comum (EC) é mais difícil de realizar(esquema 8); podemos cortar longitudinalmenteo elástico ou juntar três cabos de 1 mm com fiosaos pontos p, q, r, S, t.

De tas os três cabos estão colados. A partir de sse descola a expansão profunda Ep que se fixa na facedorsal de FI (fixa com o alfinete). Novamente, de r a qcom três cabos colados. A partir de q o cabo central fi­gura a lingüeta mediana 1M que se fixa na face dorsal dabase de F2' os dois cabos laterais representam as faixaslaterais BI que passam pelos grampos do eixo da articu­lação FI / F2 antes de se unir em p para, por último, se fi­xar na face dorsal de F];

- os interósseos e lumbricais estão constituídos porduas partes diferentes:

a) a expansão lateral El, constituída por um finocordão amarrado firmemente na faixa lateral,antes dos grampos do eixo FI / F2, e que passapelos sulcos B e A;

b) o espaldão Es, localizado na face dorsal de FI(esquema 8), fixos nas faces laterais de FI com

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um alfinete que perfura o ponto u e que final­mente .passa pelo sulco A;

- o ligamento retinacular (sem representação naprancha) : se bloqueia um fio apertado a cada la­do da expansão lateral do extensor no nível de F2,o mais perto possível da articulação F3/ F2' O de­do em extensão máxima, depois se fixa cada umdos fios com adesivos na polia de FI procurandoque esteja moderadamente tenso e passe paradiante do eixo FI / F2•

Este modelo permite verificar praticamente todas asações dos músculos motores dos dedos:

1. ação de extensão preferente do EC sobre FI;

2. ação de extensão preferente dos interósseos e lum­bricais sobre F2e F, quando o EC é ineficiente;

1. MEMBRO SUPERIOR 295

3. ação de flexão do espaldão sobre FI quando serelaxa ligeiramente o EC;

4. eficácia do FCS na flexão de F, aumentada pelasua posição superficial, que aumenta o seu ângu­lo de ataque;

5. "luxação" lateral das faixas laterais do EC no ní­vel da articulação FI / F" que ao distender o siste­ma extensor facilita a flexão de F3' Neste caso nãoexiste sistema elástico dorsal para que retomem àsua posição dorsal o que se corresponde com umaruptura da aponeurose dorsal; ,

6. a função do ligamento retinacular: F2 e F3 flexio­nados, se a tensão do fio é regulada corretamente,podemos comprovar que a extensão passiva de F2acarreta a extensão automática de F,.

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296 FISIOLOGIA ARTICULAR

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