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1 EDITORIAL Antigamente a paróquia fazia um boletim informativo para falar das suas atividades, das pastorais, temas relacionados à saúde e outros (mas era feito pelos missionários). Depois de 20 anos do movimento indígena, muitos projetos estão em andamento na região, e vem sendo desenvolvidos pelos próprios moradores e seus assessores: livros, debates, plantas medicinais e benzimentos no Centro de Estudos e Revitalização das Culturas Indígenas de Iauaretê (CERCI); pesquisas escolares (técnicas e tradicionais) no Centro de Pesquisadores Indígenas de Iauaretê (CEPI); defesa dos direitos territoriais e políticos das populações indígenas da região pela Coordenadoria das Organizações Indígenas de Iauaretê (COIDI); educação escolar disciplinar, ativi- dades que valorizem os conhecimentos tradicionais e as línguas indígenas na Escola Estadual Indígena São Miguel, desenvolvimento técnico para segurança alimentar através da criação de peixes em cativeiro pela Estação de Piscicultura de Iauaretê. Esses, e outros exemplos, motivaram pessoas envolvidas nos projetos a criarem este boletim para informar aos parentes as atividades, conquis- tas e desafios enfrentados no dia- a-dia pela população do distrito de Iauaretê. Dessa maneira, além de manter os parentes informados, o boletim aumen- ta as chances de que mais pessoas se envolvam nos projetos e se benefi- ciem das suas atividades, comparti- lhando o o conhecimento à favor da qualidade de vida em toda a região. Cada um dos projetos de Iauaretê, busca a seu modo, com seu katisehé, melhorar a qualidade de vida da população indígena do Uaupés. Katisehé Este informativo é parte do projeto 375 PDPI - Manejo Pesqueiro em Iauaretê vol. 1 ed. 1, dezembro de 2009 CERCI | CEPI | COIDI | Escola São Miguel | Estação de Piscicultura Ya Informativo do movimento indígena do Distrito de Iauaretê DESTAQUES DESTA EDIÇÃO Projeto Manejo Pesqueiro/PDPI 2 Uma das grandes preocupações dos conhecedores indígenas e das lideranças de Iauaretê sempre foi a alimentação das pessoas da região. A primeira iniciativa do movimento indígena para enfrentar o problema foi a criação de uma estação de piscicultura e de uma equipe técnica indígena capacitada para fazer criação artificial de peixes, em parceria com a FOIRN, COIDI e ISA. O avanço desse processo foi a recente aprovação do projeto Manejo Pesqueiro em Iauaretê no PDPI, que articula diversas instituições e projetos para debater o jeito de nos relacionarmos com os peixes nativos. Assim, o desafio passa a ser não apenas criar peixes em cativeiro, mas também pensar nossa relação com a pesca. Investindo em atividades de piscicultura, agricultura, registro e valorização de conhecimentos tradicionais, esperamos encontrar os problemas e pensar em soluções para que a qualidade de vida das pessoas aumente e que os peixes voltem para os rios. Basá-Busa: Retorno à Ya 6 Os “Ornamentos Sagrados de Danças”, que pertenciam a todos os grupos indígenas do Alto Rio Negro, voltam para casa depois de mais de 70 anos nas mãos dos missionários Salesianos. Através de parceria inédita entre FOIRN, ISA e IPHAN, parte dos enfeites exibidos no Museu do Índio de Manaus, onde era cobrada uma taxa de 5 reais por visitante, agora está em poder do CERCI que realiza exibições dos mesmos todas às quartas-feiras, na antiga capela do Hospital São Miguel. E MAIS Oficinas já realizadas pelo Projeto Manejo Pesqueiro 4 Escola São Miguel - o desafio de ensinar em Iauaretê 8 Surge um grupo de pesquisadores indígenas 10 Coordenadoria da COIDI 12 ANDRÉ MARTINI , 2009 katisehe brochura2.indd 1 2/3/2010 11:03:32

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Informativo do movimento indígena do Distrito de Iauaretê. Esta publicação é parte do projeto 375 PDPI - Manejo

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EDITORIALAntigamente a paróquia fazia um boletim informativo para falar das suas atividades, das pastorais, temas relacionados à saúde e outros (mas era feito pelos missionários).

Depois de 20 anos do movimento indígena, muitos projetos estão em andamento na região, e vem sendo desenvolvidos pelos próprios moradores e seus assessores:

livros, debates, plantas medicinais e benzimentos no Centro de Estudos e Revitalização das Culturas Indígenas de Iauaretê (CERCI);

pesquisas escolares (técnicas e tradicionais) no Centro de Pesquisadores Indígenas de Iauaretê (CEPI);

defesa dos direitos territoriais e políticos das populações indígenas da região pela Coordenadoria das Organizações Indígenas de Iauaretê (COIDI);

educação escolar disciplinar, ativi-dades que valorizem os conhecimentos tradicionais e as línguas indígenas na Escola Estadual Indígena São Miguel,

desenvolvimento técnico para segurança alimentar através da criação de peixes em cativeiro pela Estação de Piscicultura de Iauaretê.

Esses, e outros exemplos, motivaram pessoas envolvidas nos projetos a criarem este boletim para informar aos parentes as atividades, conquis-tas e desafios enfrentados no dia-a-dia pela população do distrito de Iauaretê.

Dessa maneira, além de manter os parentes informados, o boletim aumen-ta as chances de que mais pessoas se envolvam nos projetos e se benefi-ciem das suas atividades, comparti-lhando o o conhecimento à favor da qualidade de vida em toda a região.

Cada um dos projetos de Iauaretê, busca a seu modo, com seu katisehé, melhorar a qualidade de vida da população indígena do Uaupés.

K a t i s e h é

Este informativo é parte do projeto 375 PDPI - Manejo Pesqueiro em Iauaretê vol. 1 ed. 1, dezembro de 2009

CERCI | CEPI | COIDI | Escola São Miguel | Estação de Piscicultura Ya

Informativo do movimento indígena do Distrito de IauaretêDESTAQUES DESTA EDIÇÃO

Projeto Manejo Pesqueiro/PDPI 2Uma das grandes preocupações dos conhecedores indígenas e das lideranças de Iauaretê sempre foi a alimentação das pessoas da região.

A primeira iniciativa do movimento indígena para enfrentar o problema foi a criação de uma estação de piscicultura e de uma equipe técnica indígena capacitada para fazer criação artificial de peixes, em parceria com a FOIRN, COIDI e ISA.

O avanço desse processo foi a recente aprovação do projeto Manejo Pesqueiro em Iauaretê no PDPI, que articula diversas instituições e projetos para debater o jeito de nos relacionarmos com os peixes nativos. Assim, o desafio passa a ser não apenas criar peixes em cativeiro, mas também pensar nossa relação com a pesca.

Investindo em atividades de piscicultura, agricultura, registro e valorização de conhecimentos tradicionais, esperamos encontrar os problemas e pensar em soluções para que a qualidade de vida das pessoas aumente e que os peixes voltem para os rios.

Basá-Busa: Retorno à Ya 6Os “Ornamentos Sagrados de Danças”, que pertenciam a todos os grupos indígenas do Alto Rio Negro, voltam para casa depois de mais de 70 anos nas mãos dos missionários Salesianos.

Através de parceria inédita entre FOIRN, ISA e IPHAN, parte dos enfeites exibidos no Museu do Índio de Manaus, onde era cobrada uma taxa de 5 reais por visitante, agora está em poder do CERCI que realiza exibições dos mesmos todas às quartas-feiras, na antiga capela do Hospital São Miguel.

E MAIS

Oficinas já realizadas pelo Projeto Manejo Pesqueiro 4

Escola São Miguel - o desafio de ensinar em Iauaretê 8

Surge um grupo de pesquisadores indígenas 10

Coordenadoria da COIDI 12

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Projeto Manejo Pesqueiro PDPI Piscicultura, Manejo Ambiental e Conhecimentos Tradicionais no Distrito de Iauaretê

Desde fevereiro de 2009, está sendo desenvolvido o projeto do PDPI “Manejo Pesqueiro no Distrito de Iauaretê”, no valor total de R$ 399.840,00 para execução em três anos.

Este projeto propõe desempenhar ações integradas que enfrentem e amenizem alguns dos problemas mais graves que o distrito de Iauaretê enfrenta atualmente: a falta de peixes nos rios; a dependência exagerada de mercadorias de fora edependência de assessoria externa no desenvolvimento das iniciativas de produção de alimentos e renda e a desvalorização dos conhecimentos tradicionais, principalmente por parte dos jovens.

Para alcançar seus objetivos, o projeto pretende continuar oferecendo formas de acesso alternativo à alimentação e circuitos de troca, como a criação de peixes e aves; a formação de agentes locais que disseminem os conhecimentos concentrados na estação de piscicultura para as comunidades do entorno; e pretende, ainda, criar condições de reunir o conhecimento tradicional em meios de comunicação atrativos, que se transformem em referência na educação escolar dos jovens do distrito, contribuindo para sua formação e criando novas atividades às quais eles possam se dedicar - este informativo é um exemplo.

As linhas de ação do projeto são:

1 Aumentar a oferta de alimentos através da criação de peixes e aves;

2 Aumentar a área de atendimento da estação de piscicultura para as comunidades;

3 Realizar a formação de agentes locais de manejo para multiplicarem o conhecimento produzido no projeto, em parceria com a Escola São Miguel;

4 Estimular o manejo de pesca nos rios, valorizando os conhecimentos tradicionais e pensando o comportamento das pessoas;

5 Concretizar a gestão participativa no projeto.

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Aula Teórica de Piscicultura na Escola São Miguel.

Wayuri para Construção de Barragem Comunitária na Comunidade de Uirapixuna, Rio Papuri.

Gestão do ProjetoApesar de o projeto estar ligado às atividades da Estação de piscicultura de Iauaretê, surgido como uma evolução do projeto inicial financiado pelo ISA, se faz necessário o envolvimento de outros grupos e projetos para que os objetivos sejam alcançados.

Em primeiro lugar, é bom reconhecer que a FOIRN como o proponente formal do projeto, tem participado decisivamente, prestando contas para o financiador e ajudando a organizar politicamente as atividades. Erivaldo Cruz, diretor de referência do Uaupés na FOIRN, tem acompanhado a execução do projeto junto com Heraldina, Isaias e Edivino, do financeiro.

A Escola São Miguel é também um importante parceiro e beneficiário do projeto, uma vez que alunos e professores participam diretamente das atividades de formação, através das oficinas de pesca tradicional ou técnicas de piscicultura. Além disso, a direção da escola atua decisivamente ajudando a encontrar maneiras mais eficientes e fáceis para ensinar os conteúdos aos alunos.

O CERCI tem o papel fundamental de reconstituir os conhecimentos tradicionais aos jovens, como benzimentos e histórias de surgimento da humanidade, além de pensarem no funcionamento disso tudo junto às novas técnicas e formas de viver trazidas pelos brancos.

A COIDI e o Conselho de Líderes, que são instâncias máximas do movimento indígena de Iauaretê, têm o papel de articulação política e de ajuda nas decisões do projeto.

Para abarcar todas estas instituições, em novembro de 2008, foi criado o Conselho Gestor de Projetos de Iauaretê com um representante de cada instituição. São eles: Domingos Lana (COIDI); Bernardette Araújo (Escola São Miguel); Geraldo Veloso (CEPI), Israel Vieira (Estação de Piscicultura) e Guilherme Maia (CERCI).

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1 Com relação ao atendimento técnico em piscicultura para construção de viveiros:

As comunidades ou piscicultores interessados devem procurar qualquer membro do Conselho Gestor ou da estação de piscicultura para iniciar sua participação. A seguir, será informado de todo o trabalho necessário para construção de viveiro e deverá providenciar a mão-de-obra necessária adequada à sua própria capacidade.

Os técnicos de piscicultura serão responsáveis por orientar as obras e informar adequadamente os passos necessários para construção de viveiros, fazer todos os levantamentos técnicos e supervisionar a utilização de ferramentas e dos tubos do projeto. Todo o restante do trabalho será de responsabilidade da comunidade ou da família beneficiada.

O projeto possui ferramentas adequadas para a construção de viveiros, que poderão ser emprestadas para os piscicultores e comunidades mediante cautela firmada. Esses equipamentos devem ser devolvidos em perfeitas condições, tão logo sejam usados, para que mais pessoas se beneficiem deles. Se algum equipamento for quebrado, durante o trabalho, deverá ser devolvido para o projeto com a explicação do que aconteceu.

O projeto garante a distribuição dos tubos de PVC 150 mm, que serão doados após levantamento realizado pelos técnicos e do trabalho inicial de limpeza da área por parte do piscicultor familiar ou da comunidade.

2 Com relação as oficinas de manejo agrícola ou práticas culturais tradicionais:

Os temas serão definidos pelo Conselho Gestor do projeto com antecedência, assim como o público a que se destina e o número de vagas de cada atividade. Depois tais informações serão tornadas públicas por escrito e afixadas na COIDI, na Escola São Miguel e nos Correios, e as inscrições serão recebidas. O Conselho Gestor selecionará os participantes se as inscrições superarem as vagas.

Os alunos das oficinas e cursos deverão seguir as orientações dos monitores e responsáveis, obedecendo os prazos e as atividades previstas.

Quando envolver jovens em idade escolar, as oficinas serão desenvolvidas sem prejuízo às atividades educativas formais, de acordo com combinação com a direção das escolas.

A diária para instrutores do projeto foi estabelecida em 40 reais.

Sempre deverá participar um representante do CEPI para acompanhar as atividades e registrarem áudio, vídeo e/ou escrita os conhecimentos gerados nas oficinas, para futura disseminação deles para mais pessoas das comunidades da região.

Os cursos e oficinas desenvolvidos na estação de piscicultura que envolverem alunos das escolas, serão sempre acompanhados de um professor responsável que também ajudará os técnicos com questões de didática e sistematização das informações para os alunos.

Todas as oficinas terão como resultado final a emissão de um certificado assinado pela COIDI, pela Escola São Miguel, pela Estação de Piscicultura e pelo CEPI, descrevendo o tema e a quantidade de horas de formação recebida por seus alunos. Serão negociados reconhecimentos oficiais a estes certificados com a Escola Agrotécnica Federal e com a SEMEC.

As oficinas e cursos do projeto podem, eventualmente, ter reconhecidas horas aula para alunos e professores da Escola São Miguel, a critério do Comitê Gestor e da Direção da Escola.

3 Com relação à guarda de equipamentos do projeto e sua utilização:

As ferramentas e demais materiais de construção ficarão sob guarda da Estação de piscicultura, que, em conjunto com o conselho gestor do projeto e a COIDI, definirão as prioridades para empréstimos e execução das obras. Todos os itens emprestados e doados serão controlados através de anotação em livro próprio para este fim, sob responsabilidade do técnico Zezinho dos Passos da Estação de Piscicultura.

Os equipamentos eletrônicos (câmeras, computadores, filmadora e GPS) serão guardados na Escola São Miguel, em armário próprio para este fim, e serão emprestados para uso em atividades educativas, políticas e culturais ligadas ao projeto e às instituições participantes (Escola, Estação de Piscicultura, COIDI, CEPI, CERCI). Os empréstimos deverão ser aprovados por pelo menos um membro do Conselho Gestor e anotados em caderno próprio. A devolução deverá ocorrer na data combinada, sendo os equipamentos testados na presença do usuário. Em caso de quebra por irresponsabilidade ou mau uso, o usuário deverá devolver o valor do equipamento ao projeto.

Em específico, no caso da câmera filmadora, apenas o operador de vídeo - João Arimar Noronha Lana - está autorizado a manejá-la.

As instituições partilharão os benefícios do projeto (uso de equipamentos e serviços, infra-estrutura e conhecimentos específicos) e arcarão em comum acordo com as contrapartidas: alunos participarão de atividades na estação e ajudarão na sua manutenção; técnicos de piscicultura ajudarão os professores nas roças da escola, com técnicas agrícolas e de criação de animais, e a COIDI fará a mediação política com as comunidades e beneficiários do projeto.

Regras do Projeto Manejo Pesqueiro

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Oficinas já realizadas pelo Projeto Manejo Pesqueiro

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As oficinas temáticas do projeto 375 do PDPI têm como objetivo reunir e ensinar conhecimentos técnicos e tradicionais para os jovens estudantes de Iauaretê e das comunidades próximas. Estes conhecimentos são sempre voltados para que suas famílias consigam seu sustento, melhorem sua qualidade de vida e, também, para que os jovens aprendam a respeitar os mais velhos, sua forma de saber e de se comportar no mundo. É importante que os jovens vejam que existe uma alternativa à vida nas grandes cidades e mesmo aos problemas observados na pequena cidade de Iauaretê, incluindo aí a falta de peixes, causada em grande parte pela forma como as pessoas pescam hoje em dia, abusando do uso de malhadeiras, anzóis e da pesca na piracema, por exemplo.

Além disso, os membros do projeto procuram sempre valorizar o protagonismo de conhecedores indígenas tradicionais, técnicos e professores indígenas, pois são eles que sabem as reais necessidades e a forma correta de passar estes conhecimentos aos mais jovens.

A parceria preferencial do projeto é com a Escola Estadual Indígena São Miguel, que reúne mais de 1.200 alunos entre 7 e 20 anos, de várias etnias e origens, como baixo rio Uaupés, Papuri e outros. Cerca de 60 alunos do ensino médio, 5 professores e 5 conhecedores tradicionais já participaram das seguintes oficinas temáticas:

Cercado no Igarapé MiritiEsta oficina teve a participação dos alunos da escola São Miguel e de pesquisadores do CEPI. A coordenação desta atividade foi dos técnicos Israel Vieira e Luis Arcanjo, da Estação de Piscicultura, e do sr. Juscelino Arcanjo (Tariano), como conhecedor tradicional. Euclides da Cunha, do CEPI, fez o registro fotográfico.

A duração desta oficina foi de 5 dias. Os alunos participaram ativamente das regras tradicionais de comportamento e alimentação para que as armadilhas funcionassem. O conhecedor tradicional deu informações sobre o benzimento do cercado de matapi para capturar os peixes durante a piracema.

Os peixes capturados durante a atividade forneceram ovos para serem reproduzidos na estação de piscicultura e também serviram na alimentação dos participantes e para a família do Sr. Juscelino Arcanjo, original da região do Igarapé Miriti.

Construção de casa com cobertura de CaranãEssa oficina foi executada na primeira semana de abril, em cinco dias, e contou com a participação de dez estudantes do ensino médio da escola São Miguel, sendo 5 alunos e 5 alunas.

O conhecedor tradicional foi o sr. João Batista Martins (Desana), que ensinou aos alunos diversas formas de amarração de caraná (muhî) e o nome das madeiras quando instaladas nos lugares específicos do telhado (travessões, varas etc).

Foi possível aprender a fazer uma construção sem depender de pregos, ferragens e telhas de zinco.

O resultado foi a construção de uma casa de forno na estação. A oficina foi registrada pelo cinegrafista João Arimar Tariana, e o pesquisador Dácio Teixeira do CEPI.

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Oficina de Pesca Tradicional. Oficina de Construção de Casa com Caranã.

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Oficina de técnicas de pisciculturaEsta oficina desenvolveu-se no dia 15 de março de 2009. Participaram deste treinamento todos os alunos de 1° e 2° anos do Ensino Médio da Escola São Miguel .

Estes alunos foram orientados por toda a equipe técnica da estação, aprendendo como é feita a criação artificial de peixes no povoado, desde a extração de hipófises de peixes adultos (partes do corpo de um peixe que são usadas para fazer com que outro peixe desove fora do rio) até a contagem de pós-larvas (pequenos peixinhos) retirados das incubadoras artificiais, e posteriormente como esses pequenos peixinhos são criados nos viveiros da estação.

Dessa forma, os jovens tiveram conhecimento da técnica utilizada por seus parentes e do trabalho desenvolvido na piscicultura.

Oficinas geram material didático para as Escolas de Iauaretê e regiãoOs parentes leitores podem questionar se apenas os alunos da Escola São Miguel serão beneficiados pelos conhecimentos adquiridos nas oficinas temáticas do projeto Manejo Pesqueiro do PDPI. A resposta é não.

Graças à parceria com o ISA e com o IPHAN, alguns moradores da região foram treinados em técnicas de fotografia e filmagem, por exemplo, os jovens pesquisadores do CEPI (ver pág. 6) ou o cinegrafista João Arimar Tariana. Essas pessoas sempre estão presentes nas oficinas temáticas, Filmando, fotografando ou gravando a fala dos instrutores e dos técnicos de piscicultura.

Além disso, a equipe da estação está preparada para gerar relatórios, narrando o que foi ensinado e como isso aconteceu. Com a colaboração dos professores e com assessoria antropológica do ISA, em breve esses materiais registrados e relatórios serão transformados em cartilhas, livros e filmes que poderão ser exibidos em Iauaretê e em todas as escolas da região.

Com estes materiais publicados, muitos outros alunos poderão ter acesso aos conhecimentos reunidos nas oficinas, aprendendo a fazer suas casas, suas armadilhas de pesca, viveiros de piscicultura e melhorando suas roças.

Esperamos também que estes filmes e livros chamem a atenção dos mais jovens para que eles próprios procurem aprender técnicas, benzimentos e regras de comportamento com seus parentes mais velhos.

Qualquer conhecedor tradicional, professor ou técnicos indígenas que quiserem contribuir com seus conhecimentos, tendo idéias para oficinas e mesmo para publicações, podem procurar Bernardette Araújo, Domingos Lana, Geraldo Veloso, Israel Vieira ou o sr. Guilherme Maia, membros do Conselho Gestor de Projetos de Iauaretê, e fazer sua proposta e sugestão.

O projeto PDPI Manejo Pesqueiro só vai poder alcançar seu objetivo maior com a colaboração do maior número de pessoas interessadas.

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Oficina de Técnicas de Piscicultura. Oficina de Construção de Galinheiro Suspenso.

Construção de galinheiro suspensoInstruídos pelos técnicos da estação de piscicultura Zezinho e Jacinto, doze alunos da Escola São Miguel e um pesquisador do CEPI, durante cinco dias tiveram aulas teóricas em manejo de aves (galinhas) e, em seguida, formaram grupos para construir miniaturas de galinheiro suspenso. Na abertura da oficina, o Gerente da Estação, Arlindo Maia, fez o uso da palavra para dizer qual a origem dessa criatura em relação à história tradicional de surgimento do mundo. No final do treinamento, todos assistiram a um vídeo sobre o manejo técnico das aves. Alguns alunos foram entrevistados sobre a realização desta oficina a fim de manifestarem suas dúvidas e sugestões para as oficinas do PDPI, entrevistas registradas através de vídeo por João Arimar, cinegrafista do projeto e Arlindo Maia, coordenador da Estação de Piscicultura de Iauaretê.

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Basá-Busa: Retorno à YaOs ornamentos sagrados de dança do Rio Negro voltaram para Iauaretê em junho deste ano, depois de mais de 70 anos nas mãos dos padres salesianos. Quando eles chegaram na região, disseram que os enfeites eram “coisa do demônio” e que deveriam ser destruídos; mas alguns foram guardados no Museu do Índio, em Manaus, onde as irmãs salesianas cobravam a quantia de R$ 5,00 por pessoa para exibi-los aos visitantes.

Este retorno tornou-se possível graças a batalha de Adriano de Jesus, Pedro de Jesus e Luis Aguiar da Maloca Koivathe; e Laureano e Guilherme Maia, da Maloca do CERCI, ambos centros culturais tradicionais da cidade de Iauaretê. Estes e outros líderes indígenas há anos lutam para que a cultura tradicional seja novamente conhecida e valorizada pela população do rio Uaupés, assim também como pelos brancos - sejam eles políticos, religiosos ou pesquisadores. Esse movimento é chamado, na região, de “revitalização cultural”. Apoiados por diversos parcerios, entre eles o Instituto Socioambiental (ISA), o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e o PDPI, diversos projetos permitiram a reconstrução das malocas, montagem de acervos de livros e vídeos, publicações de livros com mitos e o registro da Cachoeira de Iauaretê como Patrimônio Imaterial do Brasil.

Depois do reconhecimento da importância da Cachoeira de Iauaretê pelo governo foi elaborado um plano de auxílio, chamado “Plano de Salvaguarda”, para que os líderes indígenas pudessem contar suas histórias, realizar suas danças e valorizar a sua cultura.

O resgate dos enfeites do Museu do Índio fazia parte deste Plano.

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Miguel ajudando Adriano a colocar o Moho po’arí, ornamento de cabeça do Baya, no dia da festa na maloca.

Comitê de retorno dos enfeites da FOIRN desmontando a mostra no prédio do Centro de Capacitação da FOIRN, em junho.

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Em julho de 2008, parte dos enfeites do museu foi entregue para a FOIRN em uma cerimônia em São Gabriel da Cachoeira. Depois ficaram guardados na entidade até novembro de 2008, quando o IPHAN e a FOIRN organizaram uma exposição no Centro de Capacitação da FOIRN. Em junho de 2009, a exposição foi desmontada e uma comitiva da FOIRN e do ISA entregou os enfeites para os diretores do CERCI, em Iauaretê, que são os responsáveis pela sua guarda e conservação.

Quando receberam os enfeites da comitiva, Guilherme e Laureano Maia fizeram todos os benzimentos necessarios para poderem utilizar as peças. O presidente do CERCI, Sr. Guilherme, afirmou que a data foi “uma ocasião de alegria, mas também de tristeza, como se os corpos de nossos avós mortos voltassem para nós, o que nos faz lembrar de todo o sofrimento deles”. Ele estava nos lembrando que quando os velhos foram obrigados pelos padres a derrubar suas malocas e entregar os ornamentos sagrados, muitos morreram de tristeza. Laureano Maia, vice-presidente do CERCI, ressaltou que todos os enfeites sob sua proteção são dos povos indígenas do rio Uaupés e que, por isso, todos podem usá-los em danças e outras cerimônias.

Durante um mês após a recepção dos ornamentos, os coordenadores do Centro de Revitalização trabalharam com os enfeites retornados trocando algumas penas, limpando-os e benzendo-os. Em julho de 2009, organizaram uma grande festa no CERCI onde grupos de bayaroa Tukano, Desana e Tariana dançaram kapiwaia usando os ornamentos dos antigos, agora vivos novamente. Foi uma festa alegre, que contou com a presença de quase 400 pessoas na maloca.

Antes das danças, Guilherme Maia explicou para os presentes a importância de usar os enfeites nas festas tradicionais: “Esses enfeites lembram os mortos, mas também eram usados para trazer alegria entre os parentes e os cunhados; usando-os, se divertiam, bebendo caxiri e aumentado sua amizade”. Foi realmente o que se viu na festa. Os enfeites podem ser vistos todas as quartas e quintas, na biblioteca do CERCI, no Antigo Hospital São Miguel, em Iauaretê. Para usá-los em cerimônias, os coordenadores Guilherme e Laureano Maia pedem que os bayaroa avisem com antecedência de um mês para eles se prepararem. Todos têm o direito de ver e usar os basá busá, desde que cuidem e respeitem os ornamentos.

Este é o começo de um longo processo de recuperação de ornamentos, pois ainda existem muitos enfeites do Rio Negro nos museus dos brancos. E, no que depender do interesse dos jovens, o movimento de revitalização cultural está mais que garantido.A

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Crianças de Iauaretê curiosas examinando os enfeites que voltaram, na maloca da CERCI.

Guilherme Maia trocando penas de garça de ornamento de cabeça do Baya.

Bayaroa Tukano e mulheres de Iauaretê dançando Kapiwaia com os ornamentos dos antigos, na Maloca do Cerci

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Há anos que a escola São Miguel é uma das instituições de ensino mais importantes do distrito, que trabalha com alunos pertencentes de 13 etnias oriundos de várias comunidades e de diferentes calhas dos rios: Papuri e seus afluentes, rio Waupés acima e do Waupés abaixo e seus afluentes. Através dela é que a vida dos moradores de toda a região se encontra e é através dela que muitos vêem a possibilidade de uma vida melhor para seus filhos.

Muitas vezes as crianças, adolescentes, jovens e professores da Escola imaginavam que

não sabiam nada sobre os conhecimentos tradicionais como: danças, cantos, histórias,

mitos, crenças, lendas, tradições, ornamentos, caça, pesca, pinturas etc. Na escola,

apesar de contar com professores indígenas, ensinava-se somente o que vinha dos

livros vindos de fora. Cada dia que passava sonhavam em ser outros, não enxergavam o

que era real. Foram esquecendo a sua cultura, os seus conhecimentos, a sua educação

e as suas riquezas tradicionais.

Escola São Miguel e o desafio de ensinar em IauaretêG

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Petroglifo da Cachoeira de Aracapá, Rio Papuri. Alunos recebendo instrução em técnicas de piscicultura.

Escola Estadual Indígena São Miguel, Iauaretê.

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Alunos fazendo pesquisa. Dabucuri em homenagem aos professores da Escola São Miguel.

Um dia embarcaram em uma luta, promovendo vários encontros de reflexões, discussões e debates. Assim chegaram à uma conclusão, elaborando uma pergunta: quem somos nós? Decidiram juntos, alunos e professores, que eram um povo indígena, com uma cultura própria e diferente de outros povos, possuidores de conhecimentos que lhes oferecem a possibilidade de viver sem influência de fora. Por outro lado, sofreram críticas dos mais velhos, pois não detinham os conhecimentos que eles possuíam, e isso é um desafio enfrentado até hoje.

Durante o ano de 2007, a direção e os professores da Escola São Miguel tomaram uma importante iniciativa, sem que ninguém de fora influenciasse essa decisão: propor atividades extra-classe para alunos como forma de ampliar os horizontes dos estudantes e suas possibilidades de futuro. Foi assim que alguns alunos passaram a freqüentar a Centro de Estudo de Revitalização da Cultura indígena - CERCI, a Estação de Piscicultura e a Associação das Mulheres Indígenas do distrito de Iauaretê - AMIDI. Justamente, com esse tipo de atividade extra-classe que o horizonte dos alunos foi ampliado, completando a educação formal e estimulando o aprendizado através de pesquisas.

A partir de 2009, a escola São Miguel começa com uma parceria mais sistemática com a estação de Piscicultura, AMIDI, CERCI e COIDI. Assim os professores, a gestora (Conselho Gestor?) e assessores da Escola Estadual Indígena São Miguel se interessaram em participar de tal iniciativa, através da seleção de alguns alunos do ensino médio para participarem do projeto como pesquisadores indígenas.

Finalmente, a escola São Miguel consolida sua parceria com outros setores de trabalho, que são acima citados. Especificamente com a estação de piscicultura, pois ela tem todas as ferramentas para conduzir as atividades relacionadas ao incentivo no aumento de oferta de alimento através da criação de peixes, aumento de atendimento na área de piscicultura, formação de agentes locais para transmitir os conhecimentos tradicionais e realizar oficinas temáticas (construção de viveiros, técnicas de criação de animais, extração de hipófise, cercamento tradicional e outros). Os mais velhos sempre criticavam a falta de conhecimento dos professores quanto às danças culturais e como poderiam passar os conhecimentos tradicionais aos seus alunos. A partir dessa iniciativa, mostraram que são capazes de aprender os conhecimentos dos mais velhos e repassar aos seus alunos. No entanto, os próprios alunos já trazem de casa muitas coisas que seus pais ensinaram, mostrando que este saber está vivo em Iauaretê.

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Surge um grupo de pesquisadores indígenas em Iauaretê

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InovaçãoAtravés de parceria firmada entre a da Escola Estadual Indígena São Miguel e o Instituto Socioambiental (ISA) foi criado o Centro de Pesquisadores Indígenas de Iauaretê (CEPI). Tarefa antes reservada para pessoas que vinham de fora, das Universidades de todo o Brasil e do exterior, agora a pesquisa passa a ser realizada pelos próprios indígenas de Iauaretê.

A iniciativa conta com Bolsa de Estudos que paga para 9 alunos secundaristas da Escola, mais a reforma de instalações para sediar o projeto e a doação de equipamentos como: laptops, câmeras fotográficas, gravadores digitais e outros equipamentos para uso dos pesquisadores.

HistóricoDurante o ano de 2006, a direção e os professores da Escola São Miguel tomaram uma importante iniciativa: propor atividades extra-classe para alunos para ampliar os horizontes dos estudantes e suas possibilidades de futuro. Foi assim que alguns alunos passaram a freqüentar o CERCI, a Estação de Piscicultura e a AMIDI. Este foi o primeiro passo para atividades de pesquisa fora da sala de aula.

Parceiro de muitos anos do movimento indígena, o ISA resolveu apoiar a iniciativa. Pensando no valor que todos dão à educação e, ao mesmo tempo, na necessidade de aprimorá-la integrando os conteúdos da cultura tradicional, na criação de um espaço de debates, no levantamento de questões importantes e em soluções que levem em conta a vida das populações indígenas da região, surgiu a idéia de conseguir recursos para oferecer bolsas de estudo a alguns alunos e, ao mesmo tempo, garantir uma pequena infra-estrutura como equipamentos e locais adequados para os estudos. Das conversas entre professores e gestor da Escola São Miguel e assessores do ISA e COIDI nasceu a idéia de criar o CEPI/Iauaretê

Primeira pesquisa e o benefício para os alunosComo primeiro tema, selecionado em conjunto com algumas lideranças, professores e assessores, decidiu-se tratar o problema da escassez de peixes em Iauaretê, que já vem afetando a população gravemente desde a década de 90.

Todos os moradores têm explicações locais para o fenômeno da escassez de peixes, mas elas estão dispersas.

Os especialistas brancos nesse assunto podem contribuir com sugestões para facilitar a reprodução dos peixes nos rios, além de apresentar a legislação ambiental que ajuda a preservar as espécies, mas que, até hoje, não é de conhecimento da população; também podem orientar e colaborar no registro, sistematização e estudo destas iniciativas para a solução do problema e sua divulgação para comunidades do entorno.

Esta pesquisa visa despertar nos alunos

o interesse pela realidade local,

sensibilizando-os sobre os problemas

relacionados à comunidade em que vivem.

Entrevistar moradores de Iauaretê e

das comunidades mais próximas pode

despertar interesse e sensibilização.

Outro objetivo deste trabalho é estimular

o aprendizado já que, neste tipo de

atividade, estão envolvidas noções de

matemática, língua portuguesa, biologia,

informática e cultura tradicional. Além

de todos estes benefícios, há o benefício

da bolsa de estudos!

Através dos dados obtidos por esta pesquisa espera-se conhecer melhor a atividade da pesca, como é praticada hoje em Iauaretê e, desta forma, diagnosticar melhor o problema da escassez de peixes no distrito. Espera-se também que, ao conhecer melhor as práticas de pesca e os problemas que algumas práticas podem gerar para a própria população e para o meio-ambiente, os moradores pensem e discutam formas de resolver estes problemas, inclusive cobrando apoio de políticas públicas do governo municipal, estadual e federal.

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Alunos pesquisando no CEPI. .

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Como funciona o CEPI?Coordenado por André Martini, antropólogo do ISA, e Geraldo Veloso Ferreira, mestre em Educação pela Universidade Católica de São Paulo e professor da Escola São Miguel, o Centro de Pesquisadores Indígenas de Iauaretê conta com 9 pesquisadores selecionados pelos professores da Escola São Miguel em novembro de 2008: Carlos André Chaves Moreira, Charles Paiva Lima, Dácio Teixeira Almeida, Edvaldo Barreto, Euclides Almeida da Cunha, José Adair Almeida Vargas, Júlio César Trindade da Cunha, Ladilson Fontoura Freitas e Sérgio Andrade Nascimento.

Além das entrevistas para a pesquisa, entre as atividades dos pesquisadores estão o preenchimento de diários com suas observações relacionadas à vida dos jovens em Iauaretê e também aos ciclos naturais (mudança de água dos rios, chuvas, temperatura, migração de peixes e pássaros etc.), um material que pode ajudar a compreender a situação dos jovens que vivem na “cidade do índio” e dar pista sobre as mudanças do tempo.

Os pesquisadores também fazem registros fotográficos e de som de eventos, debates e oficinas de projetos relacionados aos temas da cultura indígena e relação do homem com o meio-ambiente (pesca, roças, entre outros). Para essa documentação utilizam os equipamentos fornecidos pelo projeto. Todas os arquivos são guardados no banco de dados do centro estão disponíveis para consultas da comunidade.

A sede do CEPI fica na antiga sala do dentista, no Hospital São Miguel, Vila Cruzeiro. Se quiserem saber mais das atividades do CEPI ou convidar os pesquisadores para registrar suas atividades culturais, procurar o coordenador Geraldo Veloso no local.

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Ornamentos de Dança Repatriados.

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Coordenadoria das Organizações Indígenas de Iauaretê (COIDI)

No mês de fevereiro deste ano, a Coordenadoria das Organizações Indígenas do Distrito de Iauaretê (COIDI) iniciou suas atividades enviando uma carta circular para todas as associações e organizações indígenas a ela filiadas. O objetivo era incentivar que elas apresentassem suas propostas e sua programação para 2009, mas, infelizmente, quase não houve respostas. Contudo,estamos caminhando.

A COIDI está representada com cinco cursistas no curso de gestão de projetos indígenas promovido pela FOIRN: pelo rio Papuri, Marivaldo Maia; pelo alto Uaupés, Moisés Trindade; pelo médio Uaupés, Maria Neide Lana Ribeiro; pela AMIDI, Rosane Gonçalvez Cruz; e pela própria coordenadoria, Nivaldo Maia Castilho. Estes cursistas já estão no seu período de pesquisas em suas áreas de origem.

Outra conquista baseada em muita insistência foi a instalação da internet na COIDI, em parceria com a Fundação Bradesco. O Centro de Inclusão Digital (CIDI) tem permitido que muitos jovens aprendam a manusear computadores, além de garantir acesso a informação e a comunicação pela internet. O CIDI funciona de segunda a sexta-feira, das 8h as 11h30 e das 14h as 17h, na COIDI. O responsável é o vice-presidente da COIDI, Eliseu. Para acessar a internet, basta trazer o CPF e assinar o livro de presença. Se você não souber usar computadores, não se preocupe: monitores preparados vão auxiliá-lo (a).

Também acompanhamos o retorno dos ornamentos de danças tradicionais após setenta anos, o que, infelizmente, aconteceu somente depois que todos que originalmente usaram estes ornamentos faleceram. Os enfeites estão em exposição nas dependências do prédio do antigo hospital São Miguel, todas as quartas-feiras e quintas-feiras (ver pág. 6 deste informativo).

Como organização de base da FOIRN, contamos com o seu apoio esse ano recebendo alguns equipamentos: um notebook e uma impressora; uma máquina fotográfica; um pendrive e um motor de popa de 40 HP todos equipamentos que certamente ajudarão no trabalho da coordenadoria.

Enfrentamos atualmente algumas dificuldades como, por exemplo: sanar prestações de contas dos projetos da diretoria anterior, o que tem nos impossibilitado de apresentar novos projetos e problemas com a equipe atual (a secretária eleita em assembléia se retirou em virtude de sua mudança para São Gabriel da Cachoeira e o tesoureiro saiu para trabalhar no IDAM). Para substituí-los com propriedade estamos consultando o estatuto da coordenadoria.

Neste segundo semestre ainda temos esperança de realizar um seminário de capacitação de líderes, com data a ser confirmada, dependendo da aprovação de um projeto já encaminhado.

Infelizmente não foram realizadas viagens de articulação no decorrer deste ano por falta de projetos que as financiassem. Mas esperamos em breve ter recursos para ouvir as necessidades da base.

A v i s oA Coordenadoria das Organizações Indígenas do Distrito de Iauaretê, COIDI, vem por meio desta mensagem avisar a todos os parentes que o seu escritório mudou de lugar.

Após a conquista de todo o prédio do antigo hospital São Miguel a COIDI mudou seu escritório para as salas da porta principal que se localizam de frente ao porto, onde antes ficava a enfermaria.

Portanto, aos parentes que quiserem apoio da direção da COIDI, precisarem de documentos ou do telefone, pedimos que agora nos procurem na entrada principal do prédio, na porta maior.

Por enquanto, o Centro de Inclusão Digital permanece no mesmo lugar.

No próximo informativo contaremos como foi o processo de conquista do prédio do Hospital e os planos para todas as associações locais na construção deste grande Centro Cultural.

E x p e d i e n t eCERCI | CEPI | COIDI | Escola São Miguel | Estação de Piscicultura Ya

Organização André Martini, ISA | Arlindo Maia, EPYa | Geraldo Veloso, CEPI

Textos André Martini, Arlindo Maia, Bernardette Araújo, Geraldo Veloso e Nivaldo Castilho

Revisão Sônia Moretto e André Martini

Fotos André Martini, Arlindo Maia, Dácio Teixeira, Guilherme Tenório, Jaciel Freitas e Euclides da Cunha

Projeto gráfico Renata Alves de Souza, Tipográfico Comunicação

Realização

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