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PAISAGENS AMAZÔNICAS : REPRESENTAÇÕES REPLETAS DE SENTIDOS Klondy Lúcia de Oliveira Agra * RESUMO: Neste estudo, com o objetivo principal de conhecer os sentidos e significados atribuídos pelo homem/mulher amazônico à paisagem e ao lugar, procurou-se pela definição de paisagem e lugar sob o quadro teórico da abordagem da Geografia Cultural, em sua vertente fenomenológica, com interface a Geografia Sociocultural. Para analisar essas relações do ser humano com o meio, utilizou-se de mapas mentais como uma forma de linguagem, ou seja, de inúmeros enunciados que nos permitiram ir além da referência ao lugar e ao mundo vivido, proporcionando uma observação ampla no contexto social e cultural em que esse sujeito está inserido e a que ele/a denomina de “meu lugar” na Amazônia brasileira. PALAVRAS- CHAVE: cultura; Amazônia; lugar. Índice Introdução .................. 1 1 A compreensão do sentido ....... 2 2 O mundo vivido do amazônida: seu lugar 2 3 Resultados ................ 3 3.1 Colaborador 01 ............ 3 3.2 Colaborador 02 ............ 4 3.3 Colaborador 03 ............ 6 3.4 Colaborador 04 ............ 7 3.5 Colaborador 05 ............ 7 Considerações Finais ............ 8 Referências ................. 8 Introdução C OM grande número de povos, diferentes lin- guagens e costumes, a Amazônia constitui-se em enorme etnodiversidade, razão pela qual des- perta o interesse de diferentes pesquisadores com objetivos diversos. Tal etnodiversidade, além de ser composta por imigrantes de várias regiões do Brasil e de outros países do mundo, é formada, principalmente, por povos indígenas, caboclos, ri- beirinhos e negros remanescentes com seus conhe- cimentos e riquezas culturais. A fim de conhecer e compreender esse ser hu- mano amazônico, primeiramente, fez-se a reto- mada da teoria sobre Sentido, Cultura, Linguagem, Memória, Identidade e Lugar, com um olhar atento à utilização desses conceitos com interesse ao vi- ver amazônico. A partir de estudos culturais, procurou-se, por meio de autores distintos, evidenciar que em es- tudos de paisagens diversas é necessário o olhar geográfico, com sentidos e significados da cultura observada. Isso porque a paisagem exprime con- cretamente a relação socioespacial produzida, re- produzida e transformada pelos agentes sociais nas relações entre esse agente social e o mundo e, por isso mesmo, faz da compreensão à cultura como o contexto e cenário construtor de sentidos e signifi- cados um fator essencial à pesquisa. Ademais, destaca-se que os sentidos, embora natos, recebem as influências culturais e são for- mados por todos os modos de ações em que o in- divíduo é situado no seio de uma cultura, no seu * Klondy Lúcia de Oliveira Agra é Doutora em Geografia pela Universidade Federal do Paraná – UFPR – Professora da Facul- dade Interamericana de Porto Velho – UNIRON c 2018, Klondy Lúcia de Oliveira Agra. c 2018, Universidade da Beira Interior. O conteúdo deste artigo está protegido por Lei. Qualquer forma de reprodução, distribuição, comunicação pública ou transforma- ção da totalidade ou de parte desta obra carece de expressa auto- rização do editor e do(s) seu(s) autor(es). O artigo, bem como a autorização de publicação das imagens, são da exclusiva respon- sabilidade do(s) autor(es).

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PAISAGENS AMAZÔNICAS:REPRESENTAÇÕES REPLETAS DE SENTIDOS

Klondy Lúcia de Oliveira Agra∗

RESUMO: Neste estudo, com o objetivo principal de conhecer os sentidos e significados atribuídos pelohomem/mulher amazônico à paisagem e ao lugar, procurou-se pela definição de paisagem e lugar sob oquadro teórico da abordagem da Geografia Cultural, em sua vertente fenomenológica, com interface aGeografia Sociocultural. Para analisar essas relações do ser humano com o meio, utilizou-se de mapasmentais como uma forma de linguagem, ou seja, de inúmeros enunciados que nos permitiram ir alémda referência ao lugar e ao mundo vivido, proporcionando uma observação ampla no contexto social ecultural em que esse sujeito está inserido e a que ele/a denomina de “meu lugar” na Amazônia brasileira.PALAVRAS-CHAVE: cultura; Amazônia; lugar.

Índice

Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11 A compreensão do sentido . . . . . . . 22 O mundo vivido do amazônida: seu lugar 23 Resultados . . . . . . . . . . . . . . . . 33.1 Colaborador 01 . . . . . . . . . . . . 33.2 Colaborador 02 . . . . . . . . . . . . 43.3 Colaborador 03 . . . . . . . . . . . . 63.4 Colaborador 04 . . . . . . . . . . . . 73.5 Colaborador 05 . . . . . . . . . . . . 7Considerações Finais . . . . . . . . . . . . 8Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . 8

Introdução

COM grande número de povos, diferentes lin-guagens e costumes, a Amazônia constitui-se

em enorme etnodiversidade, razão pela qual des-perta o interesse de diferentes pesquisadores comobjetivos diversos. Tal etnodiversidade, além deser composta por imigrantes de várias regiões doBrasil e de outros países do mundo, é formada,

principalmente, por povos indígenas, caboclos, ri-beirinhos e negros remanescentes com seus conhe-cimentos e riquezas culturais.

A fim de conhecer e compreender esse ser hu-mano amazônico, primeiramente, fez-se a reto-mada da teoria sobre Sentido, Cultura, Linguagem,Memória, Identidade e Lugar, com um olhar atentoà utilização desses conceitos com interesse ao vi-ver amazônico.

A partir de estudos culturais, procurou-se, pormeio de autores distintos, evidenciar que em es-tudos de paisagens diversas é necessário o olhargeográfico, com sentidos e significados da culturaobservada. Isso porque a paisagem exprime con-cretamente a relação socioespacial produzida, re-produzida e transformada pelos agentes sociais nasrelações entre esse agente social e o mundo e, porisso mesmo, faz da compreensão à cultura como ocontexto e cenário construtor de sentidos e signifi-cados um fator essencial à pesquisa.

Ademais, destaca-se que os sentidos, emboranatos, recebem as influências culturais e são for-mados por todos os modos de ações em que o in-divíduo é situado no seio de uma cultura, no seu

∗Klondy Lúcia de Oliveira Agra é Doutora em Geografia pelaUniversidade Federal do Paraná – UFPR – Professora da Facul-dade Interamericana de Porto Velho – UNIRON

c© 2018, Klondy Lúcia de Oliveira Agra.c© 2018, Universidade da Beira Interior.

O conteúdo deste artigo está protegido por Lei. Qualquer formade reprodução, distribuição, comunicação pública ou transforma-ção da totalidade ou de parte desta obra carece de expressa auto-rização do editor e do(s) seu(s) autor(es). O artigo, bem como aautorização de publicação das imagens, são da exclusiva respon-sabilidade do(s) autor(es).

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estar junto espacial e na comunicação. Essa paisa-gem geográfica que comporta sentidos e significa-dos é compreendida, portanto, como um produtosocial, representado por agentes que lhe atribuemsignificados a partir de seus sentidos culturalmenteconstruídos, formados em seus círculos de inter-subjetividades e nas suas conformações identitá-rias (Berque, 2004).

Compreende-se, ainda, que os homens/mulhe-res amazônicos em diferentes modos de interação,pela comunicação, constroem sentidos que mudamconforme essas interações, mas que também per-mitem, através de suas memórias e sua identidade,apreciar o seu mundo vivido e fazer do espaço devivência, cercado de água, o seu lugar.

1 A compreensão do sentidoCom o ser humano tomado como seu centrode interesse, a Geografia sente necessidade de(re)conhecer o seu mundo circundante, seus valo-res, seus marcadores, seus sentidos concretos. As-sim, os estudos geográficos passam a integrar ou-tros aportes na interface com os signos linguísti-cos de Ferdinand Saussure (1857-1913), a pragmá-tica de Charles Sanders Peirce (1839-1914) ou re-flexões teóricas filosóficas pelos estudos de Bour-dieu (1930-2002), Heidegger (1889-1976), Hus-serl (1959-1938), entre outros.

Heidrich (2013), em seu artigo Território eCultura: Argumento para uma Produção de Sen-tido apresenta a definição de sentido com basenos estudos sociológicos de Berger e Luckmann(2012, p. 15): “Sentido é a consciência de queexiste uma relação entre as experiências”. Apartir dessa compreensão, Heidrich complementa:“Qualquer objeto ou ação para os quais movimen-tamos nosso olhar aparece com importância e va-lidade por causa do sentido humano que possui.Todo o mundo geográfico é impregnado de senti-dos, tudo tem uma função e um significado”. (Hei-drich et. al., 2013, p.53).

Estudos com aportes fenomenológicos comoos de Tuan e Buttimer, assim como estudos ad-vindos de outras bases teóricas, quando abordam aconstituição do sentido, convergem a um só ponto:a cultura. Ou seja, o sentido é constituído cultural-mente e, por isso, é um processo que está presenteem todos os universos culturais.

Ademais, os sentidos humanos, embora façamparte da consistência humana, são sempre influen-ciados pelo contexto e cenário, ou seja, por seremconstruídos culturalmente, é por meio desses sen-tidos que os seres humanos se relacionam com o

meio. Assim, cada homem/mulher, a partir de suacultura, do seu mundo vivido, percebe o mundoexterior de formas distintas.

Por ser esse sentido culturalmente construídoo condutor às percepções de formas distintas, éele também quem conduz ao compreender ou nãocompreender, ao gostar ou ao não gostar. Fato-res que conduzem as pessoas a verem somente oque interessa ou ao ouvir o que atendem seus pró-prios interesses. A cultura influencia fortemente apercepção do indivíduo, sua maneira de ver e suamaneira de pensar (Tuan, 2012). Portanto, o sen-tido culturalmente construído interfere também navalorização ou não dos elementos naturais.

O Homem/mulher vive a remoldar de sentidose significações o mundo. Graças às situações e ten-sões culturais a que está vinculado, esse ser cultu-ral cria, renova, interfere, dá sentido à sua existên-cia.

2 O mundo vivido do amazônida: seulugar

Neste estudo, as categorias de análise geográficasão vistas como formas de representação, sendoa paisagem um conceito que se coloca como umamplo espaço de intenções com sentidos e signifi-cado. Tais intenções se concretizam por meio des-sas representações em que os sujeitos se projetame descrevem suas experiências no seu mundo vi-vido. Por isso este estudo relaciona o conceito depaisagem à construção de identidade, exibida pelamodificação da paisagem natural e a construção dapaisagem cultural pelos seres humanos amazôni-cos observados.

A paisagem, portanto, se encontra relacionadaà observação desse sujeito que a modela e a re-modela. Um movimento que produz cicatrizes tra-duzidas por representações simbólicas que trazemsentido e significado ao seu lugar. Por isso a re-lação entre esses elementos “[...] torna também apaisagem apta a significar: ela se apresenta comuma unidade de sentidos, ela fala a quem a olha”(Collot, 1990, p.24). Para esse autor, esses sen-tidos são produto da visão, da existência e do in-consciente, elementos constituintes do sistema or-ganizador da paisagem.

Esse é um entendimento da paisagem no sen-tido fenomenológico, ou seja, a paisagem é a re-presentação do “[...] acúmulo, através da memória,e o descarte, pelo esquecimento, das expressões eassociações culturais que se definem sobre o es-paço geográfico e que são a base do ser social daspessoas.” (Holzer, 1992, p.163). Se a paisagem é

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Paisagens Amazônicas: representações repletas de sentidos

portadora de atributos simbólicos, há vida nela eé preciso reproduzir os valores culturais para quecontinuem a ter sentido. Compreende-se, portanto,que a paisagem supera a expressão morfológica, aestrutura física e fornece ao homem, a partir deseus próprios sentidos, sentido à sua própria vida.

Para analisar essas relações do ser humanocom o meio, esse mundo percebido pelos sentidosculturalmente construídos, que conduzem à signi-ficação, tornou-se necessário compreender comoestavam estruturadas essas paisagens percebidasna mente desses humanos amazônicos, ou seja,como ocorre a construção das imagens mentais.Mapas mentais correspondem a uma forma de lin-guagem, ou seja, de inúmeros enunciados que per-mitem ir além da referência ao lugar e ao mundovivido, proporcionando uma observação ampla nocontexto social e cultural em que esse sujeito estáinserido (Kozel, 2007, 136).

Na busca da compreensão desses mapas men-tais, importante foi lembrar que a construção deuma imagem é proveniente da cognição associ-ada à bagagem cultural. Essa bagagem cultural éconstituída por experiências, valores, informações(sentidos construídos e especializados em uma de-terminada cultura), estabelecendo representações.Essas representações não existem à parte da leituraque se faz do mundo. Desse modo, compreende-se que esses mapas mentais também podem refle-tir um processo mental construído pelas pessoasao longo de suas vidas. Uma representação inte-grada multimodal, ou seja, muitas representaçõescoexistentes em uma mesma imagem.

Como se procurou conhecer os sentidos e sig-nificados atribuídos pelo homem/mulher amazô-nico à paisagem e ao lugar, levou-se em conta,também, que mapas mentais na percepção ambi-ental não devem ser vistos apenas como produ-tos cartográficos, mas como forma de comunicar,interpretar e imaginar conhecimentos ambientais.Um mapa não é a realidade e não nos deixa vercoisa nenhuma, mas ele nos permite perceber oque outras pessoas viram, acharam ou descobri-ram. Mapas, portanto, são, realmente, caricaturascientíficas do fenômeno que eles representam. Osdetalhes e a complexidade da realidade são sele-cionados, simplificados e, em seguida, enfatizadosde uma maneira que eles apenas retratam o que ofazedor do mapa acredita ser essencial a respeitodo espaço referido (Wood, 1992, p. 133). Mapasmentais, aqui, são entendidos como representaçõesque revelam a ideia que as pessoas têm do mundo

e assim, vão além da percepção individual, refle-tindo a construção social.

Com o reconhecimento de que cada colabora-dor é um sujeito atuante na paisagem que integrae vivifica intensamente, acredita-se que a percep-ção individual se dá pelos seus sentidos construí-dos culturalmente, ou seja, são esses sentidos quepermitem perceber, por meio da captação dos es-tímulos externos representados por essa subjetivi-dade, o que está a sua volta de maneira particular.

Refletindo, desse modo, a percepção e compre-ensão sociocultural dos indivíduos que as produ-zem, perpassadas por diferentes prismas em dire-ção ao representativo/ simbólico que se situa nabase da relação sujeito/ signo/ imagem (Kozel,2007).

As paisagens culturais dessas comunidadesamazônicas são, portanto, aqui consideradas poresse ângulo e compreendidas não apenas comouma soma de objetos, mas como uma forma de lin-guagem explicitada no sistema de relações sociaisno qual estão inseridos sentidos, valores, atitudese vivências.

Na compreensão desse homem/mulher encon-trado no espaço amazônico, contexto da pesquisa,utilizou-se o mapa mental como um aporte que re-flete uma forma de linguagem, a ser lido e com-preendido, um recurso metodológico de apoio aoconhecimento dos sentidos que cada um dos co-laboradores(as) tem em relação a paisagem que ocerca.

No contexto comunicativo é que o sentido seconstrói e adquire significações, por isso na com-preensão de enunciados expostos, tanto nas narra-tivas como nos mapas mentais desses colaborado-res amazônicos, a leitura é feita com o conheci-mento do contexto comunicativo no qual os senti-dos foram produzidos.

3 Resultados

3.1 Colaborador 01O colaborador 01 nasceu em Porto Velho, filho denordestinos, com valores e sentidos repassados porseus pais a partir da cultura nordestina. Moradordo Bairro Triângulo, em Porto Velho, local ondeconstruiu seus valores culturais, casou com moçaportovelhense, também filha de nordestinos, criou04 (quatro) filhos e contribuiu e ainda contribuipara a modificação da paisagem natural e a cons-trução da paisagem cultural. Colaborador: F.C. S.– 60 anos, nascido no lugar. Lado direito do RioMadeira. Bairro do Triângulo – Porto Velho.

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Figura 01. Mapa Mental 01 – Bairro Triângulo – Porto Velho – ROFonte: Colaborador F. C. da S. – 60 anos. Ícones: linhas, figuras geométricas. Elementos da paisagem natural: o rio, a

água. Elementos da paisagem construída: casa, estrada de ferro. Elemento humano.

Nessa sua narrativa, proporcionada à pes-quisa pela oralidade e pela imagem (figura 02),observou-se que esse colaborador nasceu inseridona cultura da comunidade pesquisada, construiusentidos nessa paisagem cultural e, através dessessentidos, percebe o perigo: [...] Antigamente, agente usava essa água para tomar banho, para be-ber, agora até o peixe que sai do Igarapé para deso-var morre nessa água (se referindo ao Igarapé quedeságua no Madeira), Algo tem de errado nessaágua... Uma paisagem que ele ajudou a construir,ali constituiu família, educou os filhos, repassousentidos e com eles valores. Agora, esse colabora-dor sente receio pela perda do seu lugar: [...] Meusfilhos se empregaram na Usina... mas, ainda pes-cam... Eu esperava que pelo menos eles mantives-sem o bairro, aqui já vi em vários governos retira-rem gente. Meus amigos, nesta última leva, saíramdaqui para morar no aperto, que casa que nada, umnegócio fechado que daqui alguns dias cai tudo...

Com sua experiência pessoal, ele estrutura e dáo seu tom sentimental às paisagens e, pelos seussentidos, percebe e vai da experiência aos propó-sitos enquanto sujeito. O conhecimento de mundoque esse humano amazônico adquiriu, com todasas suas possibilidades e limitações, permite-lhe fa-zer o reconhecimento de suas paisagens e, pela suanarrativa, expõe suas inquietações quanto às modi-ficações por ele observadas.

Como sujeito ativo na paisagem cultural emque está inserido, ele expõe sua percepção e deixaque os seus sentidos natos (visão, tato, audição eolfato sejam orientados por sua cultura, a culturaribeirinha, na vivência com o rio, nas movimenta-ções das águas) venham à tona. Desse modo, pelossentidos construídos culturalmente, esse indivíduo

se representa pelo seu discurso e demonstra a sin-gularidade da sua percepção.

Na imagem do seu mapa mental há a represen-tação do elemento natural: o rio, a presença hu-mana representada pela figura do humano e pelapaisagem construída: as casas e a estrada de ferro.Em sua resposta, esse informante representa o va-zio de sua paisagem, seu lugar desterritorializado,com a água chegando às casas que restam. Essehumano amazônico representa, também, sua tris-teza pelas lágrimas que correm no rosto percebidoe representado, mostrando, desse modo, por suarepresentação simbólica, o que ele próprio sente epercebe: o seu lugar sem vida, sem árvores, sendomodificado pelas águas do rio e pela interferênciahumana.

No olhar da geógrafa pesquisadora, tambémfica a marca dessa cultura, ao observar a paisa-gem do homem que vive o rio. Ao analisar a cul-tura desse ser humano amazônico que, a partir dachegada de novos projetos em suas águas, teme aperda do seu lugar, de suas raízes.

3.2 Colaborador 02Nascido no Amazonas, o colaborador 02 veio àregião já adulto, portanto, com sentidos construí-dos em sua própria cultura. Com sentidos, per-cepções e representações sociais que lhe permi-tiam ver o mundo de uma maneira diferenciada daspessoas que aqui encontrou, conheceu sua compa-nheira nessa comunidade, casou-se e constituiu fa-mília. Integrou-se à comunidade Niterói, construiusua casa à beira do rio e nesse lugar tem construídoseus sonhos. Com o casamento e a convivência nolugar, ele construiu sentidos na cultura da comu-nidade analisada e, pela interação e troca de sabe-res, também influenciou na construção de sentidos

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de sua comunidade e na construção da paisagemcultural ali observada. Colaborador: A. I. P. – 47anos, mora na comunidade há 25 anos. Lado es-querdo do Rio Madeira. Comunidade Niterói –Porto Velho.

Na fala desse colaborador, reconheceu-se sen-tidos, percepções e representações que indicam a oseu lugar, o seu mundo vivido. Uma paisagem ge-ográfica, vivenciada e modelada de acordo com asrelações simbólicas que vão sendo criadas na tes-situra da superfície e, por isso mesmo, uma paisa-gem portadora de sentidos. Esse humano amazô-nico, pela sua narrativa, deixa claro que a paisa-gem natural constituída pelas águas está na basede suas representações e apresenta à pesquisa seustemores e anseios.

A paisagem observada e narrada por esse serhumano pertencente à Comunidade Niterói, mos-tra que suas representações a respeito da água es-tão delineadas, basicamente, por duas categorias:subsistência e temor. O sentido do ribeirinho, se-guro, conhecedor do seu lugar dá lugar ao temorao novo empreendimento trazido pelo homem esuas variações com inundações fora do seu calen-dário, construindo novos sentidos, percepções e re-presentações: As Usinas Hidrelétricas do Madeira.

Esse humano amazônico vê sua vida se modi-ficar: [...] Muita gente se empregou na Usina, masas mulheres acabaram arrumando outro marido ealgumas deixaram até seus filhos para trás. E per-cebe sua subsistência se extinguir: [...] O peixetambém não gosta de água suja, ele subia com as

águas mais limpas e, pela sua oralidade, demons-tra seus sentidos percepções e representações e osfornece à pesquisa como um ser em busca de res-postas e soluções aos seus temores na manutençãoda sua paisagem natural envolta nas modificaçõesde sua paisagem cultura.

A natureza que tecia a condição de sujeitonesse humano ribeirinho foi enfrentada e modifi-cada. Suas escolhas de viver no lugar, de viver àbeira do rio e ser produto e produtor dessa paisa-gem estão ameaçadas. A intimidade com a paisa-gem ribeirinha, que o permitiu escolher essas pai-sagens como o seu lugar, deixou de existir. Nãohá mais a segurança do lugar, tudo desmorona emvolta, o barranco, as plantas, as famílias. O ban-zeiro do tempo certo, agora aparece a qualquerhora, e faz com que o temor das águas passe a fazerparte de suas representações.

No mapa (figura 03), em perspectiva, esse co-laborador utilizou de linhas e figuras para a repre-sentação da paisagem observada e vivida. Em suaresposta à pergunta: O que é sua comunidade paravocê? Ele expõe sua vida em relação à água, suacasa, suas plantas, sua criação, sua vizinhança. Aidentidade amazônica ribeirinha que constitui suaprópria identidade.

Pela oralidade e pela imagem, esse colabora-dor expõe a sua interação com a paisagem, masdemonstra que, pelos seus sentidos culturalmenteconstruídos, passa por uma crise de sentidos e sepercebe que já não é o sujeito de transformaçãodessa paisagem.

Figura 02. Mapa Mental 02 – Comunidade Niterói – Porto Velho – ROFonte: Colaborador A.I.P – Ícones: linhas, figuras geométricas. Elementos da paisagem natural: o rio, a água, os

peixes, as galinhas, o lago, as árvores etc. Elementos da paisagem construída: casas, barco. Elemento humano, emboranão seja evidente, está presente por suas diversas obras.

Mas sabe, também, que é sob a interferênciaobjetiva e subjetiva do homem que essa paisagem étransformada. Através de sua percepção, sabe que

sua paisagem está sendo modificada e teme pelaperda de seu lugar, não com revolta, mas silen-ciosamente, permanece na quietude e sobrevive:

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Estou sobrevivendo. A gente não sai aí fazendogreve, bagunça nada, só fica aqui quieto, espe-rando...

3.3 Colaborador 03Nascido em Rondônia, o colaborador 03 veio in-tegrar as paisagens ribeirinhas do Rio Madeira aossete anos de idade, filho de pais rondonienses, comsentidos construídos no lugar, vê perigos em suaágua. Na comunidade São Sebastião, ele cres-ceu, constituiu família e educou seus filhos. Comsentidos construídos em sua comunidade tão pró-xima do viver urbano, especializa seus sentidos,reavalia-os no convívio e na comunicação com ourbano. Em uma crise de sentidos, ele descrevesua trajetória de vida e demonstra, por suas per-cepções, o receio do futuro incerto de sua água, doseu espaço, do seu lugar: [...] O futuro que eu vejo,se eles verem pro lado do pessoal da lei... Vendopelo um lado a gente que é acostumado a viver naárea ribeirinha, a gente que vê o que era a natureza,pra você ver hoje... A tendência é acabar. Se nãotomar providência mesmo... Tendência é acabar.

Colaborador: J. R. R. F., 64 anos. ComunidadeSão Sebastião – Porto Velho. Mora na Comuni-dade há 57 anos.

Pela sua narrativa, nota-se que seus sentidossão ligados à água, como um condutor de vida àsua comunidade e ao seu viver. Mostra a influên-cia da água nas suas relações e na sua sobrevivên-cia, deixa vir à tona os seus sentidos, inquietaçõese temores. Percebe-se que ele próprio tem dificul-dades em traduzir em palavras essas inquietações.[...] Não vejo nenhuma educação ambiental oupreservação... Esse lado aí nunca, nunca, nunca.Aqui eu moro desde mil novecentos e cinquenta esete, né, nós estamos em dois mil e treze, entãoisso da parte do governo, prefeito aqui, nós nãotemos nada, né? Ainda que passou aqui fazendoanálise da água ... Mas nunca passou resposta pragente foi a Santo Antônio, né? Pegaram a água doigarapé, pegaram a água do rio, pegaram os peixedo igarapé, pegaram os peixe do rio, mas a respostaaté hoje nunca nós tivemos, de chegar na nossa co-munidade e dizer pra nossa comunidade “ Vocêspode consumir esse peixe? vocês pode consumiressa água?”, essa resposta nunca nós tivemos...

Figura 03. Mapa Mental 03 – Comunidade São Sebastião – Porto Velho – ROFonte: Colaborador J.R.R.F. Ícones: linhas, figuras geométricas, letras. Elementos da paisagem natural: o rio, a água,os peixes, árvores. Elementos da paisagem construída: casa, igreja, barcos, usina. Elemento humano está representado

por suas diversas obras: usina, casas, barcos etc.

Em seu mapa mental (Figura 04), ele utilizoulinhas, figuras geométricas e letras, com elemen-tos da paisagem natural: o rio, a água, os peixes,árvores que se juntam com os elementos da paisa-gem construída: casa, igreja, barco e a usina, tãopresente em suas percepções. Ele expõe sua vidaem relação à água, com toda a importância dada aela em sua constituição enquanto sujeito e expõesuas memórias e seus temores.

Na decodificação desses signos que formamesse diálogo, ele expõe não somente suas repre-

sentações individuais, mas sim as representaçõescoletivas, de valores, sentidos e significados com-partilhados na rede de relações dessa comunidade.

Sentidos construídos na beira da água, com va-lores construídos nessa comunidade, o lugar esco-lhido por seus pais para criá-lo e criar seus irmãos,hoje, só lhe traz a certeza de que o seu horizonteconcreto não existe mais. Em sua narrativa, essehomem amazônico demonstra que não vê mais asegurança em seu lugar, ao contrário, a aderênciaque antes lhe garantia o equilíbrio de suas paisa-

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Paisagens Amazônicas: representações repletas de sentidos

gens, a sua rotina de vida, está desabando e suasperguntas continuam sem respostas.

3.4 Colaborador 04Proveniente de comunidade rural do Amazonas, acolaboradora 04 trouxe os filhos para a beira doRio Madeira e na Comunidade Maravilha (figura5) os criou. Já viveu com seus filhos na área ur-bana, mas deu preferência ao viver nesse espaço,onde o rural prevalece e a paisagem natural aindapredomina. Colaboradora: M. D. T., 68 anos. Co-munidade Maravilha – Porto Velho. Moradora dacomunidade há 05 anos.

Com o seu particular de vida, com suas parcas

produções agrícolas e pequenas criações, ela per-cebe, também, que o seu mundo vivido não estámais seguro: O rio Madeira aqui está meio feio.Porque está caindo tudo à beira do rio, tudo o quea gente planta. Mas, como os outros colaborado-res, insiste e permanece no lugar.

Em seu mapa mental (figura 05) ela expõe suavida em relação ao lugar, com toda a importânciaem sua constituição enquanto sujeito e expõe suasmemórias e sua identidade enquanto um ser hu-mano que lida com a terra, planta e cria. Com aágua a seu dispor, fazendo da beira do rio o seu lu-gar: [...] Eu moro aqui porque eu gosto. Eu gostode plantar, criar minhas galinhas. Ter as minhascriações, minhas plantas, eu gosto...

Figura 04. Mapa Mental 04. Comunidade Maravilha – Porto VelhoFonte: Colaboradora M.D.T. Ícones: linhas, figuras geométricas. Elementos da paisagem natural: o rio, a água, ospeixes, o lago, as árvores etc. Elementos da paisagem construída: casas, barco. Elemento humano e suas diversas

obras: casas, escola (embora não evidenciada) etc. (2013)

3.5 Colaborador 05

Nascido no Paraná, o colaborador 05 trilhou cami-nhos diversos até chegar a Rondônia. Com senti-dos interculturais, ele escolheu o Bairro Triânguloguajaramirense para fazer o seu lugar. Apresentoua dimensão de sua experiência e de sua vivêncianão só em rios amazônicos, mas em rios brasilei-ros de vários Estados. Colaborador: R. F. C., 72anos, mora na comunidade há 38 anos. Bairro Tri-ângulo. Guajará-Mirim.

Com a naturalidade da sua fala e a complexi-dade do seu mapa mental, ele procura se expressare mostrar os elementos do seu mundo vivido pe-culiares à sua história de vida e a sua relação ín-tima com o lugar, sem deixar de lado a família, o

trabalho, o aprendizado sobre o rio, as suas expe-riências, as dificuldades diárias, os conflitos, o seuolhar sobre as belezas e mistérios das águas, osencantados do rio com suas peripécias, problemasambientais existentes e aspectos culturais e sociaisdiversos.

Em toda sua narrativa, esse colaborador deixaclaro a sua preferência pelo viver à beira do rio.Com sentidos construídos em comunidades diver-sas, chegou a Guajará-Mirim, instalou-se no bairroTriângulo há 38 anos e ali ficou, modificou eintegrou-se em paisagens e auxiliou na construçãode novos sentidos no lugar. [...] A natureza tá nabeira d’água. Na cidade não tem natureza, natu-reza na cidade é poluição e eu de cidade não gosto.Hoje, estou aqui, mas na beira do rio.

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Klondy Lúcia de Oliveira Agra

Figura 05. Mapa Mental 05, Comunidade Colônia dos Pescadores do Bairro Triângulo –Guajará-Mirim/RO

Fonte: Colaborador Paranazinho (R.F.C.). Ícones: linhas, figuras geométricas. Elementos da paisagem natural: o rio, aágua, os peixes. Elementos da paisagem construída: casas, barco. Elemento humano está presente, assim como suas

diversas obras: casas, barcos etc.

Com a sua narrativa alicerçada à beira da água,esse colaborador não tem dificuldade em falar dassuas sensações, do seu deleite ao sentir a água emsua vida. Ele expressa seus sentimentos com o lu-gar, o seu lar, o modo de ganhar a vida e mostraseus laços com o meio ambiente e com o seu enten-dimento de mundo, numa intensa relação de amore de vida com a água que o cerca.

Em sua resposta à pergunta (figura 06), ele ex-põe seu mundo vivido, sua relação de amor e con-forto em relação ao seu lugar, com toda a impor-tância dada a ele em sua constituição enquanto su-jeito e expõe suas memórias e sua identidade en-quanto ser humano que na água e na pesca moldousua identidade. Uma imagem proveniente da cog-nição associada à bagagem cultural que ele possui.

Uma bagagem cultural constituída por experi-ências, valores, informações (sentidos construídose especializados em culturas diversas) que esta-beleceram representações, as quais, não existemà parte da leitura que se faz do mundo. Dessemodo, esse colaborador, pela oralidade e pela ima-gem permitiu a análise de seu íntimo, sua reflexãomental construída ao longo de sua vida. Uma re-presentação integrada multimodal, ou seja, muitasrepresentações coexistentes em uma mesma ima-gem.

Considerações FinaisAo buscar pelos sentidos e significados atribuídospelo homem/mulher amazônico à paisagem e aolugar, com o aporte dos mapas mentais, procurou-se pela sua percepção ambiental. Essa busca pos-sibilitou conhecer os pensamentos, atitudes e valo-res que assumem formas diferenciadas, com varia-

ções de amplitude emocional e intensidade, per-cepções que, justamente por se originarem nossentidos culturalmente construídos, percebem oque esses sentidos permitem perceber.

A cultura influencia na forma de perceber, deformar uma visão de mundo e de desenvolver ati-tudes em relação ao ambiente encontrado, por issoobservou-se que as comunidades de Porto Velhoe de Guajará-Mirim possuem percepções, o quefica exposto em suas narrativas. Isso se deve aossentidos culturalmente construídos que, por pos-suírem características culturais diferentes, interfe-rem no modo de perceber o ambiente, na forma deorganizar o espaço e o lugar. É esse sentido quefaz da percepção algo muito subjetivo, intrinseca-mente ligada ao mundo vivido dos sujeitos e naconstrução do que eles(as) chamam de meu lugar.

Referências

Berque, A. (2004). Paisagem Marca, PaisagemMatriz: elementos da Problemática para umaGeografia Cultural. In R. L. Corrêa & Z.Rosendhal (org.), Paisagem, tempo e cultura(pp. 84-91). 2 ed. Rio de Janeiro: UERJ.

Kozel (2007). Mapas mentais – uma forma de lin-guagem: Perspectivas metodológicas. In S.Kozel S. et al (org.), Da percepção e cogni-ção à representação (pp. 114-13). São Paulo.Terceira Margem.

Heidrich, Á. L. et al (orgs.) (2013). Maneiras deler: geografia e cultura [recurso eletrônico].Porto Alegre: Imprensa Livre: Compasso Lu-gar Cultura.

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Paisagens Amazônicas: representações repletas de sentidos

Holzer, W. A (1992). Geografia humanista: suatrajetória de 1950 a 1990. Dissertação deMestrado em Geografia. Rio de Janeiro UFR-JIPPGG.

Tuan, Yi-Fu (2012). Topofilia – Um estudo de per-

cepção, atitudes e valores do meio ambiente(Trad. L. de Oliveira). São Paulo: DIFEL.

Wood, D. (1992). The power of maps. New York:Guilford Press.

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