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  • 7/31/2019 Laboratrio do Pos Digital

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    Laboratrios do ps-digital

    Felipe Fonsecahttp://efeefe.no-ip.org

    Maio 2011Edio Web

    http://efeefe.no-ip.org/http://efeefe.no-ip.org/
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    Para A-cor-anil e Rosa-dia.

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    Intro

    Minhas pesquisas atuais passam pela busca de formatos que possibilitem aexpe-rimentao com tudo aquilo que opera na interseo entre asredes digitais livrese a vida cotidiana . Tambm me interessam possibilidades baseadas na expansoda ideia deinovao. Geralmente a inovao associada a intenes meramenteinstrumentais, formas de criar oportunidades de explorao comercial. Entretanto,existe um potencial gigantesco de estimular o desenvolvimento da inovao tambmcomo motor detransformao social , a partir do dilogo entre o campo doscommons

    - a produo aberta e em rede - e o que se poderia chamar deps-digital - internetdas coisas, computao fsica, fabricao domstica, mdia locativa e ans. Existeainda outra linha que se cruza com esses referenciais: a incorporao e valorizaode traos culturais presentes nas culturas brasileiras - agambiarra como criatividadedo dia a dia e omutiro como sociabilidade dinmica e orientada mudana. Minhabusca atual costurar todas essas coisas em propostas concretas.

    Este livrinho uma coletnea de artigos que escrevi recentemente e que navegampor alguns desses temas. Cyberpunk de chinelos o mais antigo, de setembro de2009, e marca o comeo dessa tentativa de relacionar reas que at ento caminhavam

    em paralelo. Caminhos Brasileiros para uma Cultura Digital Experimental de junho de 2010, quando comevamos a explorar as bases da plataforma Rede//Labs1.MetaReciclando as Cidades Digitais foi escrito em agosto de 2010, depois que eu

    1http://redelabs.org

    fui convidado a falar sobre MetaReciclagem2 num debate em Araraquara. O artigoem duas partes Inovao e Tecnologias Livres foi publicado em janeiro de 2011,em plena virada de dcada e de mandatos governamentais. Dois meses depois eupubliquei Laboratrios Experimentais: interface rede-rua, ainda tentando construirpontes entre a reexo sobre laboratrios e o que estou comeando a articular emUbatuba com o Ubalab3. Isso tambm inspirou o artigo nal, Cidades digitais, agramtica do controle e os protocolos livres, publicado em abril. Nenhum desses

    textos indito, mas acredito que faa sentido public-los juntos.Ubatuba, maio de 2011.

    2http://rede.metareciclagem.org3http://ubalab.org

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    http://redelabs.org/http://rede.metareciclagem.org/http://ubalab.org/http://ubalab.org/http://rede.metareciclagem.org/http://redelabs.org/
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    Sumrio

    Cyberpunk de Chinelos 8

    Rede//Labs - Caminhos brasileiros para a Cultura Digital Experimental 10Propondo novos caminhos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1

    MetaReciclando as cidades digitais 13A MetaReciclagem. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1Cidades Digitais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . MetaReciclando cidades digitais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15Experimentao. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Uba . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

    Inovao e Tecnologias Livres 1 - A dcada que foi 17O comeo do milnio. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1Uma Cultura Digital. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1Livre? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

    Inovao e Tecnologias Livres 2 - Hojes e depois 21Laboratrios Experimentais Locais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22O sotaque tecnolgico brasileiro. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23

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    Laboratrios Experimentais: interface rede-rua 25Inovao de ponta vs. inovao nas pontas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25Conhecimento compartilhado e o mundo l fora. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26Acesso e construo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2

    Labs como interfaces. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2

    Cidades digitais, a gramtica do controle e os protocolos livres 29Cidades conversacionais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3

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    Cyberpunk de Chinelos

    O mundo virou cyberpunk. Cada vez mais as pessoas fazem uso de dispositivoseletrnicos de registro e acesso s redes - cmeras, impressoras, computadores,celulares - e os utilizam para falar com parentes distantes, para trabalhar fora doescritrio, para pesquisar a receita culinria excntrica da semana ou a balada doprximo sbado. Telefones com GPS mudam a relao das pessoas com as ideias delocalidade e espao. Mltiplas infraestruturas de rede esto disponveis em cada vezmais localidades. Essa acelerao tecnolgica no resolveu uma srie de questes:

    conito tnico-cultural e tenso social, risco de colapso ambiental e lixo por todolugar5, precariedade em vrios aspectos da vida cotidiana, medo e insegurana emtoda parte. Mas ainda assim embute um grandepotencial de transformao .

    O rumo da evoluo da tecnologia de consumo era bvio at h alguns anos - criarmercados, extrair o mximo possvel de lucro e manter um ritmo autossuciente decrescimento a partir da explorao de inovao incremental, gerando mais demandapor produo e consumo. Em determinado momento, a mistura de competio eganncia causou um desequilbrio nessa equao, e hoje existem possibilidadestecnolgicas que podem ser usadas para a busca deautonomia, libertao e auto-organizao - no por causa da indstria, mas pelo contrrio, apesar dos interessesdela. As ruas acham seus prprios usos para as coisas , parafraseando WilliamGibson. Em algum sentido irnico obscuro, as corporaes de tecnologia se demons-

    5Em particular o Lixo Eletrnico, que no Brasil ainda est longe de ter o tratamento adequado. Maissobre isso no bloghttp://lixoeletronico.org

    traram muito mais inbeis do que sua contrapartida ccional: perderam o controleque um dia imaginaram exercer.

    O tipo de pensamento que deu substncia ao movimento do software livre possibi-litou que os propsitos dos fabricantes de diferentes dispositivos fossem desviados -roteadores de internet sem o que viram servidores versteis, computadores recondi-cionados que podem ser utilizados como terminais leves para montar redes, telefonescelulares com wi- que permitem fazer ligaes sem precisar usar os servios da

    operadora, videogames que se tornam estaes multimdia. Um mundo commenosintermedirios , ou pelo menos um mundo com intermedirios mais inteligentes -como os sistemas colaborativos emergentes de mapeamento de tendncias baseadosna abstrao estatstica dacauda longa .

    Poroutro lado, existe tambmuma forte reao. Governosde todo o mundo - desdeos pases obviamente autoritrios como o Ir at algumas surpresas negativas comoa Frana - tm tentado restringir e censurar as redes informacionais. O espectro dogrande irmo, do controle total, continua nos rondando, e se refora com a sensaode insegurana estimulada pela grande mdia - a quem tambm interessa que as redesno sejam assim to livres.

    Nesse contexto, qual o papel da arte? Em especial no Brasil, qual vem a ser opapel da arte que supostamente deveria dialogar com as tecnologias - arte eletrnica,digital, em "novas" mdias? Veem-se artistas reclamando e demandando espao, con-solidao funcional e formal, reconhecimento, infraestrutura, formao de pblico.

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    http://lixoeletronico.org/http://lixoeletronico.org/
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    So demandas justas, mas nem chegam a passar perto de uma questo um poucomais ampla - qual opapel dessa arte na sociedade ? Essa "nova" classe artstica temalguma noo de qual a sociedade com a qual se relaciona?

    Aqui no Brasil recorrente uma certa projeo dos circuitos europeus de arte em

    novas mdias, como se quisessem transpor esses cenrios para c. No levam emconta que todos esses circuitos foram construdos a partir dodilogo entre arte e osanseios, interesses e desejos de uma parte da populao que expressiva tanto emtermos simblicos como quantitativos. Se formos nos ater denio objetiva, oBrasil no tem uma "classe mdia" como a europeia. O que geralmente identicamoscom esse nome no tem escala para ser mdia. Aquela que seria a classe mdiaem termos estatsticos no tem o mesmo acesso a educao e formao. paradoxalque a "classe artstica" demande que as instituies e governo invistam em formaode audincia, mas se posicione comoalheia a essa formao , como se s pudesse

    atuar plenamente no dia em que a "nova classe mdia" for sucientemente educadapara conseguir entender a arte, e sucientemente prspera para consumi-la.

    Muita gente no entendeu que no s o Brasil no vai virar uma Europa, comoo mais provvel que o mundo inteiro esteja se tornando um Brasil6 - simultanea-mente desenvolvido, hiperconectado e precrio. No entendeu que o Brasil umanaocyberpunk de chinelos : passamos mais tempo online do que as pessoas dequalquer outro pas; desenvolvemos uma grande habilidade no uso de ferramentassociais online; temos computadores em doze prestaes no hipermercado, lanhousesem cada esquina e celulares com bluetooth a preos acessveis, o que transforma

    fundamentalmente o cotidiano de uma grande parcela da populao - a tal "novaclasse mdia". Grande parte dessas pessoas no tem um vasto repertrio intelectualno sentido tradicional, mas (ou justamente por isso) em nvel de apropriao concreta

    6Colei no blog Desvio uma excelente citao de Eduardo Viveiros de Castro a esse respeito:http://desvio.cc/blog/tudo-e-brasil

    de novas tecnologias esto muito frente da elite "letrada".Para desenvolver ao mximo o potencial que essa habilidade espontnea de apro-

    priao de tecnologias oferece, precisamos de subsdios para desenvolver conscinciacrtica. Para isso, o mundo da arte pode oferecer sua capacidade deabrangncia

    conceitual, questionamento e sntese . Vendo dessa forma, as pessoas precisam daarte. Mas a arte precisa saber (e querer) responder altura. Precisa estar dispostaa sujar os ps, misturar-se, sentir cheiro de gente e construir dilogo. Ensinar eaprender ao mesmo tempo. Ser que algum ainda acredita nessas coisas simples efundamentais?

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    http://desvio.cc/blog/tudo-e-brasilhttp://desvio.cc/blog/tudo-e-brasil
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    Rede//Labs - Caminhos brasileiros para a Cultura Digital Experimental

    Tecnologias enredadas no Brasil

    Nos anos recentes, as tecnologias de informao e comunicao se desenvolveramem um ritmo bastante acelerado, disseminando-se por praticamente todas as reasdo conhecimento. Os brasileiros viramosrecordistas no tempo mensal de uso deinternet , especialmente com o uso em massa de redes sociais uma tendncia queseria vista em todo mundo alguns anos depois do que por aqui. As tecnologias em

    rede fazem cada vez mais parte do imaginrio mais um motivo para experimentao,crtica e reexo. Grande parte dos programas de incluso digital do terceiro setore do setor pblico tambm j entenderam que sua misso no pode estar limitadaa oferecer acesso, e atuam na dinamizao deprojetos 7, formao de pblico edesenvolvimento do potencial de jovens criadores.

    Em particular, cresceram de maneira signicativa as aes no cruzamento entrearte, cincia, tecnologia e sociedade . Uma quantidade cada vez maior de espaos,eventos, redes e programas dedicam esforos a promover reexo, produo e ar-ticulao na rea costurando atuao entre as instituies culturais e artsticas, a

    academia, os coletivos independentes, o governo e a indstria. Artistas, produtores,estudantes e curiosos tm cada vez mais oportunidades para se conhecer e aprenderuns com os outros. No s brasileiros frequentemente, os eventos realizados aqui

    7Como as iniciativas de desenvolvimento de projetos comunitrios nos programas Acessa SP eTelecentros.br pela Weblab.tk -http://weblab.tk/

    contam com a presena de nomes importantes do mundo todo, enquanto eventos detodo o mundo tambm convidam representantes brasileiros. Instituies de nature-zas diversas tm fomentado a criao e exibio de projetos crticos e engajados,reconhecendo a relevncia dessa produo. O mesmo em eventos como o FILE, oEmoo Art.Ficial, o Arte.Mov, a Submidialogia e tantos outros. No Brasil aindano existe uma viso clara de circuito, mas grande parte dessas iniciativas operamem parcerias informadas. Estratgias conjuntas j parecem estar no horizonte, s

    questo de criar os mecanismos adequados.

    Uma particularidade: mdia e laboratrio

    Eu demorei para prestar ateno nisso, mas emblemtico que aqui no Brasil agente fale em a mdia como uma palavra no singular. Talvez isso seja um ecodos tempos em que praticamente o nico meio de comunicao relevante era aquelagrande emissora de televiso. Talvez tenha a ver com a tendncia que os meios decomunicao de massa tmao unssono, ao alinhamento e falta de diversidade .De qualquer forma, s vezes tenho a impresso de que usar o termo mdia paraidenticar esse tipo de experimentao convergente para a qual queremos proporcaminhos acaba por limitar bastante a compreenso dela: muitas pessoas pensam quese trata de fazer vdeos, ou ento de fazer meios de comunicao alternativos oque necessrio, mas no o foco aqui. Um assunto sobre o qual todo mundo acha

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    http://weblab.tk/http://weblab.tk/
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    que precisa tomar uma posio claraa favor ou contra acaba tendo pouco espao paraaquele tipo de liberdade que permite inovao concreta. Por isso queremos desviarum pouco do foco da mdia e concentrar mais nas possibilidades de intercmbioentreespaos de articulao , ou laboratrios.

    Durante o Labtolab8, Gabriel Menotti me falou que achava a ideia de laboratrio

    to ou mais complicada que a de mdia. Concordo que alguns dos signicadosgeralmente atribudos a laboratrios so realmente difceis9. Mas ainda assim,muitas interpretaes so possveis. Tentando equacionar uma construo que valm da ideia disseminada de laboratrios de mdia, prero manter o termo quepermite uma maior exibilidade de interpretao.

    Raqueando estruturas

    Talvez porque at h pouco tempo no existia quase nenhuma possibilidade formal denanciamento de projetos experimentais, as pessoas interessadas na rea aprenderama ocupar todo espao possvel, mesmo em projetos com outras naturezas. Umexemplo emblemtico o papel que o SESC de So Paulo10 exerce h alguns anos como umdosprimeiros espaos a abrigar um tipo deexperimentao quese posicionaentre o ativismo miditico e a educao . Muita gente comeou ou desenvolveu acarreira oferecendo ocinas no SESC. Um caso prximo (entre dezenas ou centenasdesenvolvidos por conhecidos): entre janeiro e fevereiro de 2007, eu organizei comRicardo Palmieri o LaMiMe11 Laboratrio de Mdias da MetaReciclagem. Foi uma

    ocupao temporria da sala de internet do SESC Avenida Paulista, que ofereceuocinas sobre eletrnica bsica e hardware livre (arduinos, etc.), software livre

    8Encontro de Laboratrios de Mdia Europeus realizado em Junho de 2010:http://labtolab.org9falei sobre isso em um post http://blog.redelabs.org/blog/laboratorios-de-midia-referencias/

    10http://www.sescsp.org.br/ 11http://rede.metareciclagem.org/wiki/LaMiMe

    (pd, cinelerra, ardour, etc.) e outras. Foi uma oportunidade excelente para trocarconhecimento e conhecer gente nova. Mas o formato de ocina condiciona as trocaspara um lado mais instrumental e pontual, e cobe um pouco o ritmo mais catico edespretensioso dadescoberta . Por mais que se beneciem mutuamente, a educao

    e a experimentao tm objetivos e naturezas distintas, e necessrio que aconteamcom respeito a essas diferenas.

    O mesmo pode ser visto no contexto dos Pontos de Cultura: comum ver pessoasinteressadas em desenvolver projetos experimentais mas que por fora dos formatospossveis acabaram se submetendo lgica educacional. Repito: ocinas sofundamentais. Mas no so tudo.

    Propondo novos caminhos

    Em vez de car sempre tentando encontrar brechas nos formatos possveis, precisa-mos pensar em quais so os formatos que podem dar conta de equilibrar a diversidadede necessidades pessoais, artsticas, institucionais e sociais.

    Uma das conversas online do Rede//Labs12 debateu a questo da experimentaoe da incorporao do erro dentro do processo. Em um desdobramento daquelaconversa na rede MetaReciclagem, eu citei uma imagem que Ivana Bentes trouxepara o debateArte Open Source 13 (com Giselle Beiguelman e Andr Mintz, naCampus Party de 2010): a obra o lixo do processo artstico . O fato de grandeparte dos mecanismos de apoio arte ainda se basearem na ideia de obra pode seruma das causas pelas quais existemais competio do que colaborao . Como fazerpara trazer essa dimenso do processo para dentro do ciclo?

    Hoje em dia, um espao que tem recebido reconhecimento pela inovao e relevn-

    12Documentada emhttp://blog.redelabs.org/blog/cultura-digital-experimental-parte-2-google-buzz/ 13http://blog.premiosergiomotta.org.br/2010/01/28/arte-open-source-na-campus-party-2010/

    11

    http://labtolab.org/http://blog.redelabs.org/blog/laboratorios-de-midia-referencias/http://www.sescsp.org.br/http://rede.metareciclagem.org/wiki/LaMiMehttp://blog.redelabs.org/blog/cultura-digital-experimental-parte-2-google-buzz/http://blog.premiosergiomotta.org.br/2010/01/28/arte-open-source-na-campus-party-2010/http://blog.premiosergiomotta.org.br/2010/01/28/arte-open-source-na-campus-party-2010/http://blog.redelabs.org/blog/cultura-digital-experimental-parte-2-google-buzz/http://rede.metareciclagem.org/wiki/LaMiMehttp://www.sescsp.org.br/http://blog.redelabs.org/blog/laboratorios-de-midia-referencias/http://labtolab.org/
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    cia o Eyebeam14, em Nova Iorque. Um dos formatos com os quais eles trabalhamso asfellowships , bolsas concedidas para artistas destacados, no necessariamenteligadas a um projeto especco. Ser que isso um caminho interessante? Certa-mente, nos ltimos anos tm aparecido oportunidades similares aqui no Brasil. S

    para citar algumas: as bolsas da Funarte15

    , que desde 2009 reconhecem a culturadigital como uma rea de investigao e produo, ou o programa Rumos16 do ItaCultural. Tambm o Prmio Sergio Motta17, o novo File Prix Lux18 e alguns recentesprmios do Ministrio da Cultura propem questes prximas. O Minc criou tambmo projeto XPTA.Labs19, que se posiciona de maneira bastante especca na questoexperimental, e lanou um edital de Esporos de Cultura Digital20, que tambm seprope a apoiar espaos de articulao e produo.

    Um pouco do meu p atrs em propor uma poltica centrada em laboratrios partedo princpio de que a falta de infraestrutura equipamentos e acessibilidade no

    mais o maior obstculo produo. O coordenador de um famoso laboratrio demdia europeu comentou comigo no ano passado que estava frente a um problemagrave: o espao e a infraestrutura de sua organizao triplicariam nos prximosanos, mas o oramento para atividades deveria diminuir em 30%. Ele questionava aretrica de infraestrutura que havia usado para conquistar apoio institucional em seucontexto. O que acho que faz mais falta aqui no Brasil so os mecanismos adequadospara a troca, exibio, formao de pblico e claro sobrevivncia . Estamos nomomento de propor esses mecanismos.

    Da vm algumas perguntas que tenho repetido nas ltimas semanas para algumas

    14http://eyebeam.org/ 15http://funarte.gov.br/ 16http://itaucultural.org.br/index.cfm?cd_pagina=269117http://www.ism.org.br/ism/?page_id=1518http://www.leprixlux.org/ 19http://www.culturadigital.br/xpta/ 20http://www.cultura.gov.br/site/2010/03/10/edital-cultura-digital-2010/

    pessoas, e que quero fazer tambm a qualquer pessoa interessada no assunto:

    Faz sentido pensar em um projeto que tenha por foco apoiar e desenvolver aesde cultura digital experimental? No que ele deveria consistir?

    Como iralm do modelo de laboratrio de mdia ? Acesso internet, equipa-mentos para produo e espaos de encontro estaro cada vez mais disponveis.Se possvel fazer cultura digital experimental em uma livraria que ofereainternet sem o, no prprio quarto ou na garagem de casa, o que um espaoque se dedica a isso precisa ter para atrair as pessoas e fomentar a troca e aproduo colaborativa?

    possvel construir uma conversa realmente colaborativaentre laboratrios ?Projetar em um cenrio em que as diferentes instituies e grupos envolvidosse proponham a, mais do que demandar recursos, tambm oferecer partes desua estrutura, conhecimento aplicado e oportunidades de apoio para uma redeaberta de laboratrios de cultura digital experimental. Mais do que residncias,promoveritinerncias e nomadismo comunicante pode ser um bom caminho.

    Qual a necessidade que temos hoje em dia de infraestrutura? O Minc, porexemplo, est caminhando no sentido de interligar seus espaos com bra tica o que cria uma possibilidade de uso de banda largussima para experimentaoe projetos. O que possvel propor em uma estrutura interconectada dessas?

    12

    http://eyebeam.org/http://funarte.gov.br/http://itaucultural.org.br/index.cfm?cd_pagina=2691http://www.ism.org.br/ism/?page_id=15http://www.fileprixlux.org/http://www.culturadigital.br/xpta/http://www.cultura.gov.br/site/2010/03/10/edital-cultura-digital-2010/http://www.cultura.gov.br/site/2010/03/10/edital-cultura-digital-2010/http://www.culturadigital.br/xpta/http://www.fileprixlux.org/http://www.ism.org.br/ism/?page_id=15http://itaucultural.org.br/index.cfm?cd_pagina=2691http://funarte.gov.br/http://eyebeam.org/
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    MetaReciclando as cidades digitais

    A MetaReciclagem

    A rede MetaReciclagem21 completou recentemente oito anos de um dilogo aberto ecolaborativo sobreapropriao tecnolgica . Ainda insistimos em no nos deixarenquadrar nas caixinhas temticas que tentam nos associar ao mero reuso de compu-tadores com a instalao de software livre e montagem de espaos de incluso digital.Certamente, isso constitui uma das bases comuns entre os integrantes da rede, e at

    assumiu ao longo do tempo um carter ritual, de replicao de metodologias queconstroem identidade. Mas nossos horizontes so mais amplos: a desconstruo detecnologias um universo abrangente. A inclumos computadores e dispositivosenredados, mas tambm a construo de habitaes, a culinria, a tecnologia aplicadaao meio ambiente, assim como os meios de comunicao, as linguagens artsticas,as formas coletivas de organizao e existncia. Entendemos como tecnologia todaao ou objeto que embuteum propsito a partir de algum mtodo .

    O aspecto dadesconstruo merece um pouco mais de ateno. O que importaaqui no tanto seu aspecto objetivo, mas sim o processual - no o ponto a que a

    desconstruo leva, mas o caminho que percorre. o proverbial "abrir a caixa preta",questionando aquilo que se apresenta a cada etapa. A abertura supe antes de maisnada uma sensibilidade do gesto de abrir, uma habilidade relacionada percepodaquilo que pode ser aberto . Mesmo tratando de caixas pretas simblicas, buscamos

    21http://rede.metareciclagem.org/

    provocar processosevolutivos - como o monolito de 200122 - cuja mera existnciateria provocado a curiosidade que nos diferenciou das bestas. essa curiosidade- um potencial criativo latente - que emerge como trao comum a todos os bandosmetarecicleiros. Propomos uma criatividade no mais separada da experinciacotidiana, mas harmonizada com todos os aspectos da vida.

    Complementar gestualidade da abertura a defesa dacirculao livre de infor-mao e conhecimento : as aes de MetaReciclagem usam software livre e buscamcaminhos para o desenvolvimento de hardware aberto, promovem o espectro eletro-magntico aberto, publicam contedo com licenas livres. A rede em si funcionano somente como virtualizao das relaes, mas como um espao construdosocialmente que estende o potencial das aes locais - em escala proporcional quantidade de informao que os atores locais publicam e diversidade dos inte-grantes da prpria rede. Sempre esteve presente na MetaReciclagem a certeza deque difcil estabelecer limites precisos entre oonline e o ofine . Essa viso sereete nasmltiplas identidades que ela assume - compreendendo simultaneamenteo relacionamento com comunidades a partir de aes ultralocais e a mais profundasensao de socializao remota. Isso possibilita um nvel elevado de produocolaborativa e enredada: ideias e projetos desenvolvidos atravs da rede, que podemser rapidamente replicados em qualquer lugar.

    22Filme dirigido por Stanley Kubrick:http://www.imdb.com/title/tt0062622/

    13

    http://rede.metareciclagem.org/http://www.imdb.com/title/tt0062622/http://www.imdb.com/title/tt0062622/http://rede.metareciclagem.org/
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    Cidades Digitais

    De certa forma, reetir sobre perspectiva dacidade traz para as redes um contrapontoque pode ser muito produtivo. A cidade a experincia imediata de estar em

    sociedade, uma experincia cuja iminenteirrelevncia os mais afoitos pregadoresdas redes digitais quiseram determinar. Segundo eles, a vida na cidade seria cadavez menos necessria, uma vez que no precisaramos mais conviver com vizinhosdesagradveis. Felizmente, estavam equivocados em sua tentativa de elevar aoextremo o efeito dacmara de eco - em que as pessoas s ouvem opinies parecidascom suas prprias. Hoje a cidade volta ao foco no como oposto do digital, mascomo um cenrio que ele pode ampliar e multiplicar, e com isso ampliar e multiplicara si mesmo. uma relao certamente complementar.

    Nos ltimos anos foram desenvolvidos milhares de sistemas, ferramentas e aplica-

    tivos, alm de instalaes artsticas, projetos educacionais e comerciais, que propemo hibridismo entre as redes e o "mundo l fora", possibilitando uma innidade deinterfaces fsicas para sistemas de informao. Em paralelo, veio tambm a dissemi-nao do discurso das "cidades digitais". Mesmo que se tenha constitudo em grandemedida como mais uma expresso da moda para ossurstas de hype , que adotamideias que soam impactantes sem necessariamente reetir sobre suas consequncias, interessante pensar na expanso de possibilidades enredadas para as cidades.

    possvel construir pontes entre as propostas da MetaReciclagem e os projetos decidades digitais. Podemos comear desconstruindo a prpria denio de digital.Por exemplo: apesar do suporte digital, grande parte dos usos das novas tecnologiasso experincias analgicas - mover um mouse ou tocar na tela, ver uma imagem,escutar msica. Cham-las de digitais s faz deslocar o foco do que realmenteimportante: as possibilidades dedesintermediao, de colaborao e deautogesto .At que ponto os projetos de cidades digitais no incorrem no mesmo vcio?

    Outro aspecto que deve ser considerado em relao a essas tecnologias: acessono tudo. Para falar a verdade,acesso no quase nada . Existem tantas camadasque se sobrepem ao mero acesso que toda a retrica da incluso digital precisaser repensada, ainda mais se colocada em perspectiva histrica. Em levando-se a

    srio, qualquer iniciativa de incluso propriamente dita deveria ansiar pela prpriairrelevncia em alguns anos. Deveria considerar que sua misso ter sido cumpridaquando no for mais necessria.

    Aquelas experincias de cidades digitais que tratam apenas de oferecer acesso internet, mesmo sem o, deixam de lado um grande potencial. Precisam, antes demais nada, incorporar a convico de que astecnologias so polticas , que constroeme transformamimaginrios . No so meros instrumentos cujos usos esto encerradosem maneiras predenidas de uso. Por isso, tais projetos no podem se submeter lgica da indstria, que trata as tecnologias somente como oportunidades de expandir

    e aumentar os lucros dos mercados de "produo cognitiva". fundamental que seestimulem a experimentao, a reinveno e a liberdade de usos.

    Mas todos esses argumentos (hoje em dia) so quase bvios. Eu gostaria de iralm. A gente muitas vezes esquece que a ideia contempornea de cidade no um absoluto, mas um episdio a mais em um longo processo histrico. Desde osprimeiros assentamentos e tribos, passando por aldeias, pelapolis grega e cidades-estado, pelo surgimento e queda dos diferentes imprios do ocidente e do oriente,o limite entre civilizao e caos romanos, os castelos medievais, os burgos, at aaglomerao que se viu a partir da revoluo industrial. Uma transio que fezcom que a vida em sociedade gradualmente perdesse a sensao de familiaridade,acompanhada em sculos recentes de projetos urbansticos e de polticas pblicasque ajudaram a forjar a ideia moderna de cidade. Como a conhecemos hoje, acidade reexo de um ideal de sociedade - industrializada, capitalista, baseada nademocracia representativa e em religies monotestas. Nessa forma idealizada, ela

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    possui algumas caractersticas especcas:

    induz ao agrupamento por atividade econmica, que traz vantagem competitivaa todos - empresas, fornecedores e clientes;

    prope uma distino clara entre os espaos particulares com privacidadeabsoluta e os espaos pblicos, onde a informao circula;

    requer estabilidade e homogeneidade, baseada na formao de classes mdias;

    supe a centralizao de poder (delegado pela populao s autoridades), o quefacilita o controle e a segurana;

    privilegia a centralizao das fontes de informao: escola, imprensa,igreja/sinagoga/mesquita e comunicao de massa.

    Podemos questionar as suposies sobre as quais essa cidade est baseada. O futur-logo alemo Chris Heller23, por exemplo, discorda24 da associao comumente feitaentre privacidade e liberdade. Segundo ele, ao tratar a privacidade como absoluto, odissenso ca esmagado - o que gera sociedades mais moralistas e hipcritas. Hellerno o nico a sugerir uma redenio da privacidade25. Especialmente no caso doBrasil, a cidade moderna uma ideia que foi importada sem muita preocupao comsua adequao s nossas caractersticas. Pior ainda, foi distorcida e implementada demaneira equivocada. Se podemos ler a ideia decidade como uma tecnologia - geral-mente desenvolvida de cima para baixo -, podemos tambm tentar metarecicl-la -desconstruindo suas bases, propondoreleituras, apropriaes e ressignicaes .23http://liftconference.com/person/christianheller24Apresentao de Chris Heller na Lift de 2010:http://liftconference.com/lift10/program/talk/christian-

    heller-post-privacy25Painel sobre privacidade na Lift 2010:

    http://liftconference.com/lift10/program/session/redenition-privacy

    MetaReciclando cidades digitais

    O ideal de cidade moderna est cada vez mais distante do que se pode ver cotidia-namente nos nossos centros urbanos, talvez mais bem descritos comops-cidadescyberpunk . Um exemplo claro, talvez extremo, So Paulo. Vemos redes digitaispor toda parte, sabotando as hierarquias da informao - para o bem e para o mal.Uma cidade no mais centralizada, mas fragmentada em diversas frentes. Umaeconomia distribuda e em grande medida informal. Um dinamismo que respondecriativamente instabilidade. Grandes contraste e mobilidade sociais. Uma sensaoconstante da iminente irrupo da violncia, reforada pelo alto nvel de ilegalidadee impunidade, que reetem uma perda daquele controle que a cidade como estruturacostumava representar. importante tentar atualizar nosso referencial sobre o que uma cidade, para entender como podemos atuar para efetivamente transform-la.

    Um dos primeiros rascunhos de aes elaborado dentro do Projeto Met:Fora26 foio Prefeituras Inteligentes , de Daniel Pdua27, muito antes de qualquer um de ns tercontato com polticas pblicas do mundo real. Propunha basicamente que as cidadesfossem vistas como espaos informacionais complexos, e que se desenvolvessemespaos de catalisao do potencial transformador dessa informao a partir delaboratrios ligados em rede com infraestrutura metareciclada. Isso nunca virou umprojeto concreto, mas certamente inuenciou coisas que a gente desenvolveria nosanos seguintes.

    O que essencial na cidade? Quais so suas estruturas de informao? Ruas,

    praas, espaos pblicos, espaos particulares de uso pblico, espaos privativos...como se pode interferir para criar relaes mais colaborativas, participativas e livres?Como vamos raquear a tecnologia cidade? Como podemos transpor as aes que26O projeto Met:Fora foi a chocadeira colaborativa que deu origem MetaReciclagem (2002).27Um dos fundadores do Met:Fora e da MetaReciclagem, falecido em novembro de 2009:

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Daniel_P%C3%A1dua

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    http://liftconference.com/person/christianhellerhttp://liftconference.com/lift10/program/talk/christian-heller-post-privacyhttp://liftconference.com/lift10/program/talk/christian-heller-post-privacyhttp://liftconference.com/lift10/program/session/redefinition-privacyhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Daniel_P%C3%A1duahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Daniel_P%C3%A1duahttp://liftconference.com/lift10/program/session/redefinition-privacyhttp://liftconference.com/lift10/program/talk/christian-heller-post-privacyhttp://liftconference.com/lift10/program/talk/christian-heller-post-privacyhttp://liftconference.com/person/christianheller
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    promovem a transparncia de dados28 para o espao urbano?Mesmo com cada vez mais rudo na relao, a cidade continua sendo central na

    vida contempornea - pelo acesso a infraestrutura compartilhada (servios bsicos,saneamento, etc.), pela concentrao de oportunidades de estudo, trabalho e ativida-

    des culturais. Existe tambm uma certa vertigem que leva projeo (ou iluso) decrescimento, enriquecimento, mudana de vida. Mas fato que cidades menores tmcada vez mais acesso a infraestrutura, e que cada vez mais oportunidades de trabalhopodero ser realizadas distncia. A mdio e longo prazos, qual ser o efeito dissona concentrao urbana?

    At mesmo nos grandes centros, comeam a despontar projetos mais focados nosbairros do que na cidade toda - tentando trazer de volta a familiaridade da vizinhana,o compromisso de pessoas que compartilham condies de vida. Um movimentointeressante nesse sentido o dastransition towns 29, que prope solues para os

    desaos das mudanas climticas a partir da transformao emergente do cotidianolocal - bairros, vilarejos, pequenas cidades. Outro projeto interessante o espanholWikiplaza30, que prope entender o espao pblico como sistema operacional, e nelepromover a circulao de informao.

    Experimentao

    necessrio reetir sobre o papel que as aes situadas na fronteira entre arte,cincia e tecnologia devem assumir nessa metareciclagem de cidades. Um dosaspectos que investigamos no projeto Rede//Labs31 justamente essa conexo entre28Como os projetos desenvolvidos pela Transparncia Hacker:http://thacker.com.br/ 29Cidades (ou Vilas, ou Vilarejos) em Transio:http://www.transitiontowns.org/ 30http://wikiplaza.org/ 31Plataforma de pesquisa sobre laboratrios experimentais enredados criada em 2010. Mais informa-

    es no site:http://redelabs.org/

    a experimentao e a cidade. De que forma podemos propor que a explorao dasfronteiras abstratas da inovao continue fazendo sentido e realimentando a vida"real"?

    interessante perceber essa mudana acontecendo tambm nos circuitos expe-

    rimentais. A edio de junho de 2010 do projetoInteractivos , no Medialab Pradode Madri32, reconheceu o movimento de "cincia de garagem", que vem emergindonos ltimos anos, mas props uma abordagem mais participativa: cincia de bairro.Os resultados foram muito interessantes: projetos que mesclavam conhecimentocientco, perspectiva esttica e demandas sociais ou ambientais33.

    Uba

    Mesmo em contextos nos quais o urbanismo moderno nunca chegou a se desenvolver

    plenamente, til pensar na metareciclagem da ideia de cidade como ferramenta deconstruo de imaginrio e transformao (talvez pensando em umdesurbanismo 34).Nos ltimos tempos, tendo a concordar com John Thackara35 - podemos fazer muitomais em nossa prpria vizinhana do que fora dela 36. Estou articulando um projeto37

    aqui em Ubatuba, litoral do estado de So Paulo, tentando trazer todas essas questespara um ambiente diferente daqueles em que trabalhei at hoje38. Vamos ver no qued.

    32http://medialab-prado.es/ 33Os projetos desenvolvidos durante o Interactivos esto disponveis no sitehttp://medialab-

    prado.es/article/interactivos1034Escrevi um post curto sobre isso:

    http://efeefe.no-ip.org/blog/desurbanizando35http://www.thackara.com/ 36http://observatory.designobserver.com/entry.html?entry=694737http://ubalab.org38Sobre Ubatuba:http://efeefe.no-ip.org/blog/ubanismo

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    http://thacker.com.br/http://www.transitiontowns.org/http://wikiplaza.org/http://redelabs.org/http://medialab-prado.es/http://medialab-prado.es/article/interactivos10http://medialab-prado.es/article/interactivos10http://efeefe.no-ip.org/blog/desurbanizandohttp://www.thackara.com/http://observatory.designobserver.com/entry.html?entry=6947http://ubalab.org/http://efeefe.no-ip.org/blog/ubanismohttp://efeefe.no-ip.org/blog/ubanismohttp://ubalab.org/http://observatory.designobserver.com/entry.html?entry=6947http://www.thackara.com/http://efeefe.no-ip.org/blog/desurbanizandohttp://medialab-prado.es/article/interactivos10http://medialab-prado.es/article/interactivos10http://medialab-prado.es/http://redelabs.org/http://wikiplaza.org/http://www.transitiontowns.org/http://thacker.com.br/
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    Inovao e Tecnologias Livres 1 - A dcada que foi

    O comeo do milnio

    Dez anos atrs, naquele comeo de dcada que foi tambm comeo de milnio, eutinha acabado de decidir que continuaria em So Paulo. Havia me mudado para acapital do concreto no ano anterior para viver com a famlia de meu pai, mas eleestava retornando a Porto Alegre. Foi o corao que me convenceu a permanecer.O corao romntico, apaixonado por aquela que veio a se tornar minha amada e

    me da minha lha, mas tambm o corao da coragem, do desao. Me incomodavaa ideia de voltar a Porto Alegre sem ter realizado nada de relevante. Fiquei. Parapagar as contas vendi o carro, comecei a trabalhar em uma produtora multimdia e deinternet, mudei para uma casinha pequena e simptica a dois quarteires do trabalho.

    A internet era cada vez mais importante na minha vida. Eu tinha a sensao de quea vivncia em rede levava a modos deaprendizado, criao e sociabilidade que notinham precedentes. Pela rede conheci outras pessoas que compartilhavam a certezade que a internet no era s comrcio, nem o mero acesso a contedo publicado poroutras pessoas. Entendi que cada pessoa conectada rede tambm uma co-criadora,

    que no s acessa contedo (uma abstrao equivocada), mas tambm constri umcontexto nico em que interpreta e recongura tudo que vivencia.

    Inspirado pelas conversas em listas de discusso, criei meu primeiro blog em 2001.Comecei a estudar sistemas para o compartilhamentoonline de ideias e referncias,e esse foi meu primeiro contato com software livre. Em pouco tempo eu quase

    no trabalhava mais, e dedicava o dia todo a essas pesquisas. Acabei demitido daprodutora, mas quei amigo de um dos scios, Ike Moraes. Ele tambm tinha umprojeto chamado Roupa Velha, elaborado com alguns amigos e tocado pelo saudosoAdilson Tavares.

    Meu foco de interesses foi mudando naquela poca. Acabei deixando a publi-cidade de lado para trabalhar numa empresa de cursos corporativos. Ali tinha umpouco (um pouquinho) mais de liberdade pra pensar em tecnologia para educaoe inovao, e no tempo livre testar sistemas livres de publicao online e colabora-o. Paralelamente, participava de um monte de redes abertas. Em 2002 criamos oprojeto Met:Fora, que reuniu gente interessante como Hernani Dimantas39, DanielPdua40, Paulo Bicarato41, Bernardo Schepop42, Dalton Martins43, Charles Pilger44,Tati Wells45, Marcus46 e Paulo Colacino47, TupiNamb, Marcelo Estraviz48, Drica

    39http://marketinghacker.com.br/ 40http://imaginarios.net/dpadua41http://alfarrabio.org42http://twitter.com/schepop43http://daltonmartins.blogspot.com44http://www.charles.pilger.com.br/ 45http://baobavoador.midiatatica.info/ 46http://twitter.com/#!/inovamente47http://colacino.wordpress.com/ 48http://www.estraviz.com.br/

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    http://marketinghacker.com.br/http://imaginarios.net/dpaduahttp://alfarrabio.org/http://twitter.com/schepophttp://daltonmartins.blogspot.com/http://www.charles.pilger.com.br/http://baobavoador.midiatatica.info/http://twitter.com/#!/inovamentehttp://colacino.wordpress.com/http://www.estraviz.com.br/http://www.estraviz.com.br/http://colacino.wordpress.com/http://twitter.com/#!/inovamentehttp://baobavoador.midiatatica.info/http://www.charles.pilger.com.br/http://daltonmartins.blogspot.com/http://twitter.com/schepophttp://alfarrabio.org/http://imaginarios.net/dpaduahttp://marketinghacker.com.br/
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    O site, mais de mil cadastros. Alguns milhares j participaram de ocinas deMetaReciclagem, de forma radicalmente descentralizada. Fomos convidados aparticipar de eventos em diversos lugares do mundo, de Banff (Canad) - ondeHernani Dimantas foi palestrar - a Kuala Lumpur (Malsia), onde Dalton Martins

    participou de um seminrio de empreendedorismo. Fomos tema de teses, dissertaese artigos acadmicos. Inspiramos dezenas de projetos. E a rede continua pulsante, oque me deixa feliz todo dia.

    Uma Cultura Digital

    Em termos de compreenso sobre o papel das novas tecnologias de informao ecomunicao, o momento agora outro. No precisamos mais convencer as pessoassobre a importncia da internet. Das redes sociais. Do software livre. Boa parte dos

    gures do mundo poltico, de todos os partidos, tem pelo menos um blog, usa otwitter e tem canal no facebook. Comeamos a nova dcada em um patamar muitomais alto. A internet entendida como recurso fundamental para uma cidadaniaplena. Existem iniciativas como o Plano Nacional de Banda Larga56, o programaComputador Para Todos57, o Um Computador por Aluno58. A maioria dos estadostem projetos de incluso digital com software livre. J existem mais telefonescelulares do que habitantes no Brasil. Pessoas que tinham averso aos computadoresso hoje os mais entusisticos usurios das redes sociais. Os internautas brasileirosso os que usam a rede por mais tempo a cada ms, em comparao com outros

    pases.Tivemos por seis anos um Ministro da Cultura que declarou-se hacker59 e fomen-

    56http://www4.planalto.gov.br/brasilconectado/pnbl57http://www.computadorparatodos.gov.br/ 58http://www.uca.gov.br/institucional/ 59http://www.cultura.gov.br/site/2008/06/16/gil-sou-hacker-um-ministro-hacker

    tou o desenvolvimento de uma srie de projetos baseados em uma Ecologia Digital60.Os primeiros anos da ao cultura digital nos Pontos de Cultura, implementada porintegrantes de diversas redes e coletivos independentes61 e orquestrada por ClaudioPrado62, foram um captulo importante na construo de uma compreenso brasileira

    das tecnologias livres como expresso cultural legtima e extremamente frtil. Algunsdos princpios colocados naquele projeto -descentralizao integrada, autonomia,identicao de catalisadores locais para replicao das redes, incentivo a uma

    ecologia de publicao de contedos livres, educao sobre ferramentas livres de

    produo multimdia - foram de uma inovao profunda para o mundo institucional,mesmo que - por conta do descompasso entre a velocidade necessria e a precari-edade de condies de implementao - nunca tenham chegado a se desenvolverplenamente.

    O Ministrio precisaria de uma equipe muito maior do que vivel para gerenciare acompanhar satisfatoriamente essa multiplicidade de contextos. Os Pontos tambmacabam cando dependentes das verbas de uma s fonte (verbas que por sinal nuncachegam na data prevista), e no trabalham com o horizonte de autonomia efetivade recursos. necessrio avanar, e muito, nas questes da autogesto da redede Pontos; dos arranjos econmicos locais; do seu impacto social, econmico eambiental. Mas eles continuam sendo umas das experincias mais transformadorasrealizadas pelo governo que se encerrou dezembro passado. Estamos esperando quea nova gesto trate de ampliar, prossionalizar e aprofundar essa experincia.

    60Jos Murilo, que tornou-se o coordenador de cultura digital no Ministrio, escreve h anos sobre oassunto:http://ecodigital.blogspot.com/

    61Escrevi com Alexandre Freire e Ariel Foina um artigo sobre esse processo:http://pub.descentro.org/o_impacto_da_sociedade_civil_des_organizada

    62http://culturadigital.org.br/

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    http://www4.planalto.gov.br/brasilconectado/pnblhttp://www.computadorparatodos.gov.br/http://www.uca.gov.br/institucional/http://www.cultura.gov.br/site/2008/06/16/gil-sou-hacker-um-ministro-hackerhttp://ecodigital.blogspot.com/http://pub.descentro.org/o_impacto_da_sociedade_civil_des_organizadahttp://culturadigital.org.br/http://culturadigital.org.br/http://pub.descentro.org/o_impacto_da_sociedade_civil_des_organizadahttp://ecodigital.blogspot.com/http://www.cultura.gov.br/site/2008/06/16/gil-sou-hacker-um-ministro-hackerhttp://www.uca.gov.br/institucional/http://www.computadorparatodos.gov.br/http://www4.planalto.gov.br/brasilconectado/pnbl
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    Livre?

    Uma questo que cou em aberto no meio do caminho est ligada qualidade doengajamento em ecologias abertas e livres. O Brasil tem se tornado de fato umgrande usurio, mas estamos l atrs no que toca aodesenvolvimento propriamentedito de software livre. De certa forma, uma relao parasitria: estamos nosutilizando de software disponibilizado livremente, mas no estamos em retornocontribuindo com esse banco aberto de conhecimento aplicado. No uma situaoto desequilibrada que inviabilize o sistema como um todo (a tragdia do comum63

    no se transfere totalmente para o contexto digital), mas investir de forma maispesada no desenvolvimento de software livre seria a atitude coerente com o discursoque estamos adotando. O conhecimento livre muito mais profundo do que amera distribuio gratuita64. Ele engendra uma economia aberta, distribuda edescentralizada. E precisa de investimento que assegure o funcionamento dessaeconomia.

    Os novos governos federal e estaduais que assumiram nesse momento de refe-renciais avanados em relao a oito anos atrs precisam entender o potencial e aimportncia de adotarem alguns princpios claros. O apoio liberdade de circulaoda informao (e a publicao de dados ociais abertos, como tem defendido aTransparncia Hacker65), o fomento emergncia de solues livres e descentrali- zao integrada , a orientao sobre asustentabilidade socio-economico-ambientalda produo criativa em rede e a escolha intransigente deprotocolos abertos e livres

    so necessrios em todas as reas do conhecimento. Precisamos compreender queo acesso informao no basta - precisamos de participao, cotidianos com-

    63Teoria que explica o conito entre a ao egosta e a generosidade, sugerindo que a primeira sempreprevalece sobre a ltima:http://pt.wikipedia.org/wiki/Trag%C3%A9dia_dos_comuns

    64Escrevi mais sobre isso aqui:http://efeefe.no-ip.org/blog/processos-criativos65http://thacker.com.br

    partilhados e aprendizado em rede. O estmulo inovao aberta baseada nessesprincpios pode promoversaltos quantitativos no alcance de iniciativas das comunica-es, diplomacia, educao, cidades, segurana, defesa civil, sade, meio ambiente,transporte, turismo, direitos humanos, cincia e tecnologia, e por a vai.

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    http://pt.wikipedia.org/wiki/Trag%C3%A9dia_dos_comunshttp://efeefe.no-ip.org/blog/processos-criativoshttp://thacker.com.br/http://thacker.com.br/http://efeefe.no-ip.org/blog/processos-criativoshttp://pt.wikipedia.org/wiki/Trag%C3%A9dia_dos_comuns
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    Inovao e Tecnologias Livres 2 - Hojes e depois

    Acesso s o comeo. Nos dias de hoje e no futuro prximo, a separao entreincludos e excludos digitais66 est se reduzindo cada vez mais. Mas existe outratenso qual precisamos car atentos: a tenso entretecnologias de conana etecnologias de controle (como exposto por Sean Dodson no prefcio67 do Internet of Things68, de Rob van Kranenburg69). Essa situao j est nossa porta.

    Por mais que tenhamos avanado substancialmente nos ltimos anos, existemameaas cada vez maiores liberdade que em ltima instncia a matria-prima

    para a inovao na internet. So congressistas elaborando leis para controlar a rede,invadindo a privacidade de seus usurios70. So empresas de telecomunicaes queno respeitam a neutralidade da rede71. Associaes de propriedade intelectual queforam a associao entre compartilhamento e pirataria72 (e empresas jornalsticas

    66Sobre incluso, ver:http://mutgamb.org/livro/O-fantasma-da-inclusao-digital67Original em ingls

    http://networkcultures.org/wpmu/portal/publications/network-notebooks/the-internet-of-things/the-internet-of-things-forward/

    68Publicao editada pelo Institute of Network Cultures, disponvel para download emhttp://networkcultures.org/wpmu/portal/publications/network-notebooks/the-internet-of-things/

    69Fundador do conselho europeu da Internet das Coisas:http://www.theinternetofthings.eu/content/rob-van-kranenburg

    70Como a infame Lei Azeredo - ver petio online aqui:http://www.petitiononline.com/veto2008/petition.html

    71http://pt.wikipedia.org/wiki/Neutralidade_da_rede72Como relatado (em ingls) aqui:

    http://www.guardian.co.uk/technology/blog/2010/feb/23/opensource-intellectual-property

    que usam a lei para silenciar crticas bem-humoradas73). Fabricantes de hardwareque deliberadamente restringem o uso de seus produtos74. Iniciativas que tendem ausar as tecnologias como ferramentas de controle, para o benefcio de poucos. Essa uma batalha rdua e longa que est sendo travada globalmente, e vai car aindamais feia nos prximos anos. No podemos perd-la de vista.

    Alm desse quadro atual de conitos, tambm importante trazer para a reexoas novas possibilidades das tecnologias digitais, que cada vez mais se distanciam da-

    quela ideia equivocada que opunha o virtual ao real. A tecnologia que vem por a notrata somente de computadores ou telefones mveis para acessar a internet. Existeum amplo espectro de pesquisa e desenvolvimento que propenovas fronteiras , noque pode ser entendido comops-digital : computao fsica e realidade aumentada;redes ubquas; hardware aberto75; mdia locativa; fabricao digital, prototipageme a cena maker76; internet das coisas77; diybio78, cincia de garagem e cincia debairro.

    A internet deixou de ser um assunto de mesas e computadores. A cada dia surgem

    73Ver o caso Falha de S. Paulohttp://desculpeanossafalha.com.br/entenda-o-caso/ 74Campanha da Free Software Foundation sobre equipamentos defeituosos por projeto (em ingls):

    http://www.defectivebydesign.org/ 75Ver artigo na Wired (em ingls) sobre manufatura aberta:

    http://www.wired.com/techbiz/startups/magazine/16-11/ff_openmanufacturing?currentPage=all76Minha resenha do livro Makers, de Cory Doctorow:http://desvio.cc/blog/fazedorxs77Ver http://internetofthings.eu/ (ingls)78Biologia faa-voc-mesmx:http://diybio.org/

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    http://mutgamb.org/livro/O-fantasma-da-inclusao-digitalhttp://networkcultures.org/wpmu/portal/publications/network-notebooks/the-internet-of-things/the-internet-of-things-forward/http://networkcultures.org/wpmu/portal/publications/network-notebooks/the-internet-of-things/the-internet-of-things-forward/http://networkcultures.org/wpmu/portal/publications/network-notebooks/the-internet-of-things/http://www.theinternetofthings.eu/content/rob-van-kranenburghttp://www.theinternetofthings.eu/content/rob-van-kranenburghttp://www.petitiononline.com/veto2008/petition.htmlhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Neutralidade_da_redehttp://www.guardian.co.uk/technology/blog/2010/feb/23/opensource-intellectual-propertyhttp://desculpeanossafalha.com.br/entenda-o-caso/http://www.defectivebydesign.org/http://www.wired.com/techbiz/startups/magazine/16-11/ff_openmanufacturing?currentPage=allhttp://desvio.cc/blog/fazedorxshttp://internetofthings.eu/http://diybio.org/http://diybio.org/http://internetofthings.eu/http://desvio.cc/blog/fazedorxshttp://www.wired.com/techbiz/startups/magazine/16-11/ff_openmanufacturing?currentPage=allhttp://www.defectivebydesign.org/http://desculpeanossafalha.com.br/entenda-o-caso/http://www.guardian.co.uk/technology/blog/2010/feb/23/opensource-intellectual-propertyhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Neutralidade_da_redehttp://www.petitiononline.com/veto2008/petition.htmlhttp://www.theinternetofthings.eu/content/rob-van-kranenburghttp://www.theinternetofthings.eu/content/rob-van-kranenburghttp://networkcultures.org/wpmu/portal/publications/network-notebooks/the-internet-of-things/http://networkcultures.org/wpmu/portal/publications/network-notebooks/the-internet-of-things/the-internet-of-things-forward/http://networkcultures.org/wpmu/portal/publications/network-notebooks/the-internet-of-things/the-internet-of-things-forward/http://mutgamb.org/livro/O-fantasma-da-inclusao-digital
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    mais tipos de aparelhos conectados. O exemplo bvio so os telefones celulares comacesso internet, mas possvel ir muito alm e pensar emtodo tipo de objeto quepode se beneciar de conectividade em rede. Interruptores de energia associados asensores de temperatura e umidade, que podem prever quando a chuva est chegando

    e fechar janelas automaticamente. Um enfeite de mesa que avisa quando chegouemail79. Chips RFID para identicar objetos. Aparelhos que monitoram o consumodomstico de energia eltrica e ajudam as pessoas a diminurem a conta de luz.Graas ao hardware e ao software livres (e o conhecimento sobre como utiliz-los),esse tipo de objeto conectado no precisa mais de uma grande estrutura para serprojetado e construdo. Muito pelo contrrio, eles podem ser criados a custo baixo, eadequados demanda especca de cada localidade, de cada situao.

    As pesquisas sobrefabricao domstica, impresso tridimensional e prototipado-ras replicantes 80 prometem uma nova revoluo industrial: a partir do momento emque as pessoas podem imprimir utenslios, ferramentas e quaisquer outros objetosem suas casas, o que acontece? Se um dia pudermosreciclar materiais plsticos emcasa - desfazer objetos para transform-los em outros - quais as consequncias dissona produo industrial como a conhecemos hoje? Em paralelo, quando comeamosa misturarcoordenadas geogrcas com a internet mvel , que tipo de servio podeemergir? Locais fsicos podem ser enriquecidos com camadas de informao. Ecomo a cincia de garagem pode enriquecer o aprendizado nas escolas pblicas?Esquea o laboratrio de qumica: hoje em dia, com hardware de segunda mo, osalunos podemmontar seus prprios microscpios digitais .

    79http://laboratorio.us/new/mail_alert.php80Como o projeto RepRap:http://reprap.org/wiki/Main_Page

    Laboratrios Experimentais Locais

    Os projetos que levam tecnologias de informao e comunicao s diferentes co-munidades do Brasil no podem se limitar areproduzir os usos j estabelecidosdessas tecnologias - acesso internet e impresso de documentos. O que precisamosso plos locais de inovao , dedicados experimentao e ao desenvolvimentode tecnologias livres. Esses plos precisam ser descentralizados, mas enredados.Devem tratar de diversos assuntos, no somente acesso internet: dialogar comescolas, projetos sociais, ambientais e educativos. Precisam acolher coletivos ar-tsticos, engenheiros aposentados, amadores apaixonados, empreendedores sociais,inventores em potencial. No podem ter medo de gerar renda, criar novos mercados.Precisam congurar-se emlaboratrios experimentais locais .

    No ano passado eu comecei um projeto chamado Rede//Labs, que tem por objetivoentender qual tipo de laboratrio experimental de tecnologia e cultura adequado aoBrasil dos dias atuais. A pesquisa foi documentada em um weblog81 e um wiki82.Entre as concluses, percebi que ainfraestrutura mero detalhe . Como dizia DanielPdua, "tecnologia mato, o que importa so as pessoas ". Ainda assim, precisamospensar em infraestrutura, mas indo alm do trivial. O modelo "computadores, bandalarga, impressoras e cmera" uma resposta adequada demanda explcita delocais para acesso internet . Mas temos tambm que tratar das demandas que no estoexplcitas: criar condies para odesenvolvimento de tecnologia livre brasileira .Para isso, precisamos de massa crtica. Alm de espaos congurados como plosde inovao livre, precisamos tambm dar as condies para o desenvolvimento denovos talentos.

    Hoje em dia, jovens de cidades pequenas que tm potencial precisammigrar paragrandes centros em busca de oportunidades. raro que voltem, o que leva a uma81http://blog.redelabs.org82http://redelabs.org

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    http://laboratorio.us/new/mail_alert.phphttp://reprap.org/wiki/Main_Pagehttp://blog.redelabs.org/http://redelabs.org/http://redelabs.org/http://blog.redelabs.org/http://reprap.org/wiki/Main_Pagehttp://laboratorio.us/new/mail_alert.php
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    espcie dexodo criativo . Mesmo aqueles que chegam s cidades grandes tambmprecisam fazer uma escolha difcil: podemvender seu talento criativo ao mercado- por vezes de maneira equilibrada, mas em muitos casos limitando-se a ajudarquem tem dinheiro a ganhar mais dinheiro; ou ento trocar seu futuro por capital

    especulativo. Podem tambm tentar usar suas habilidades para ajudar a sociedade- mas para isso precisam conviver com precariedade e instabilidade. Essa umacondio insustentvel para um pas que tanto precisa de inovao e criatividade. Porque razo uma pessoa jovem, criativa, talentosa e consciente no encontra maneirasviveis de usar essas qualidades para ajudar a sociedade? Alguma coisa est errada.E no me interessa que isso seja verdade no mundo inteiro. Estamos em uma pocade transformaes e de expectativas altas.

    O sotaque tecnolgico brasileiro

    Existem pases que nos anos recentes se tornaram emblemticos daacelerao queas tecnologias possibilitam. A China terceiriza afabricao de hardware. Tem umavasta oferta de mo de obra, uma populao disciplinada e trabalhadora - e um estadocontrolador que refora essa disciplina -, alm da "exibilidade" social, ambiental ede segurana no trabalho. A ndia tem despontado na terceirizao detelemarketing- por conta tambm de grande oferta de mo de obra, associada educao em lnguainglesa - e nodesenvolvimento de software , talvez relacionado s suas faculdadesque formam mais de uma centena de milhar de engenheiros a cada ano. A Coreia doSul promoveu grandes avanos naeducao e treinamento tcnicos e colhe os frutosdessa escolha. E o Brasil?

    Eu tive a oportunidade de viajar algumas vezes nos ltimos anos para localidadesem diversos pases - de Manchester a Bangalore. Em toda parte, existe uma grandecuriosidade sobre o Brasil - um certo fascnio pela nossanaturalidade em encarar

    transformaes (mais do que isso, temos um grande desejo pela transformao), pelocartericonoclasta de algumas de nossas realizaes, pela nossasociabilidade semtravas . Com base nisso, co pensando: qual a nossa caracterstica contemporneaessencial? Antropofgica, certamente. Tropicalista, sim.Criativa , talvez?

    At h pouco tempo, se falava que o povo brasileiro no empreendedor . Essaviso absurdamente preconceituosa est gradualmente mudando, medida que nossosotaque criativo compreendido e tratado como tal. Ainovao do cotidiano ,presente nos mutires e nas gambiarras83, vem aos poucos sendo reconhecida nocomo atraso e sim como vantagem competitiva. Nossa criatividade no se enquadrafacilmente nosmodelos pr-denidos das chamadas indstrias criativas.

    Quando falo em criatividade, no me rero somente indstria de entretenimentoe cultura, baseada na explorao comercial da separao entre criadores e consumi-dores. No estou falando daquele "contedo" que no se relaciona com o contexto.

    , pelo contrrio, oesprito inovador que transborda no dia a dia.Voltando ao ponto anterior - hoje em dia possvel projetar solues tecnolgicas

    baseadas emconhecimento livre , disponvel abertamente nas redes. Isso aliado a essacriatividade que temos no dia a dia tem o potencial de oferecer saltos tecnolgicosconsiderveis. A inovao tecnolgica tipicamente brasileira (com um qu da sensi-bilidade criativa da gambiarra) pode ser fomentada em plos de inovao baseadosno conhecimento livre. Ela pode ajudar a metareciclar as cidades digitais, comosugeri no primeiro captulo. Isso possibilita que o desenvolvimento de tecnologiasdialogue com as diferentesrealidades locais .

    Todos sabemos o que acontece quando a tecnologia desenvolvida sem contatocom o cotidiano. Ela caespetacular, alienada e homognea . Vamos trazer ainovao tecnolgica de volta ao dia a dia, fazer com que ela seja no somentelucrativa mas tambm relevante. Que ajude a construir a sociedade conectada que

    83Leia mais sobre gambiarra e gambiologia emhttp://desvio.cc/tag/gambiologia

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    http://desvio.cc/tag/gambiologiahttp://desvio.cc/tag/gambiologia
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    queremos. Temos a oportunidade de provocar uma onda de criatividade aplicada emtodas as regies do pas. Temos a oportunidade de provar que o Brasil digno dafama depas do futuro . Mas precisamos decidir qual o futuro que queremos. Jdeixamos de lado os futuros imaginrios84 da guerra fria. Nosso futuro pode ser um

    futuro participativo, socialmente justo, que reconhea mrito, talento e dedicao .Precisamos da coragem para faz-lo acontecer.

    84Referncia ao livro de Richard Barbrook:http://futurosimaginarios.midiatatica.info/

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    http://futurosimaginarios.midiatatica.info/http://futurosimaginarios.midiatatica.info/
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    Laboratrios Experimentais: interface rede-rua

    Qualquer cidade pode ser entendida como justaposio de uxos de informaoque se entrecortam, afetam-se uns aos outros e no processo criam realidades, oportu-nidades e tambm limitaes. Essa viso quase bvia sugere incontveis formas deintervir na realidade local. H alguns meses eu estava procurando um foco especcopara concentrar esforos, um formato para inspirar e orientar. A imagem dainterfacepareceu um caminho interessante.

    Inovao de ponta vs. inovao nas pontas

    H pouco tempo eu estava assistindo (com alguns anos de atraso) ao documentrioZeitgeist Addendum85. Naturalmente, no consigo concordar com todas as tesesexpostas por ali. Me incomoda em particular a viso de um futuro impecvel pintadapor Jacque Fresco86, que de certa forma coloca a tecnologia de pontaacima de todoo restante do conhecimento humano. Seu Venus Project87 tem uma viso algo datadade tecnoutopia, em alguns sentidos ingnua e em outros at opressora. Ele pareceexigir converso total para funcionar. Em outras palavras, demanda um contextosocial em que no existe dissenso. Uma espcie de ditadura dos inventores - umfuturo que eu no desejo para ningum.

    85http://www.zeitgeistaddendum.com/ 86http://pt.wikipedia.org/wiki/Jacque_Fresco87http://www.thevenusproject.com/

    Por outro lado, no posso deixar de concordar quando ele sugere que uma posturainovadora em relao s tecnologias poderia resolver uma srie de problemas queconsideramos inevitveis. Um dos exemplos que ele d so os acidentes com autom-veis, um tipo de ocorrncia que poderia ser amenizado se o foco do desenvolvimentotecnolgico fosse asoluo de problemas . Faz sentido. Mas a minha projeo deinovao aplicada para futuros melhores no centralizada nem depende de grandesestruturas. Pelo contrrio, ela estnas pontas , conversando com as ruas, presente nas

    gambiarras do dia a dia, naturalizada como prtica cultural que alia adaptabilidade,autodidatismo e desejo de mudana. Essa viso de ao inovadora que transforma ocotidiano me parece extremamente necessria em um pas repleto de desigualdades.

    Alta tecnologia e apropriao cotidiana so extremos complementares do mesmoespectro. Ainovao de ponta requer especializao, grandes capitais orientados criao de mercados que sustentem todo o processo. Ainovao nas pontas precisaessencialmente de generosidade, criatividade transdisciplinar e inteligncia de rede.A inovao de ponta tem formatos e estruturas estabelecidos - reconhecidamente nafronteira entremercado, universidade e cincia . A inovao nas pontas tem cadavez mais se dinamizado a partir de espaos autnomos - laboratrios experimentaisque operam em rede promovendo a apropriao crtica de tecnologias. Que tipo defuno esses laboratrios podem assumir na sociedade atual?

    25

    http://www.zeitgeistaddendum.com/http://pt.wikipedia.org/wiki/Jacque_Frescohttp://www.thevenusproject.com/http://www.thevenusproject.com/http://pt.wikipedia.org/wiki/Jacque_Frescohttp://www.zeitgeistaddendum.com/
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    Conhecimento compartilhado e o mundo l fora

    Atravs da internet, as redes sociais e os ambientes colaborativos online tm pos-sibilitado a construo e circulao de conhecimento compartilhado - em especialnaqueles ecossistemas informacionais que usamlicenas livres como ferramenta dedisseminao e replicao. Independente da licena mais adequada para cada caso, aideia decommons 88 (anloga ao que os espanhois esto chamando de procomn89) essencial.

    Tendo em vista o horizonte amplo de inovao aplicada, muito mais importantesdo que msica e vdeo disponibilizados online so osbancos compartilhados deconhecimentos especcos que ensinam qualquer pessoa a solucionar uma innidadede problemas. Desde receitas de comida ou de medicina natural at dicas de anaopara instrumentos musicais. De tutoriais para criar robs com pedaos de sucataeletrnica at guias sobre como cuidar de bebs ou construir casas que gastemmenos energia. Informaes sobre a histria e geograa de localidades no mundointeiro. Opinies sobre equipamentos, servios, organizaes. Um volume imensode informao honesta, livre, relevante e remixvel. Mas esse universo em expansono parece ter nenhuma relao direta com os dispositivos informacionais da cidadecontempornea.

    De fato, a vida urbana como a entendemos no tem - ainda - nenhuma conexoestruturada e intencional com oconhecimento livre disponvel na internet. Voltando metfora da cidade como sistema: bibliotecas podem ser entendidas como estaesde acesso ao mundo editorial. Agncias de correios nos pem em contato comqualquer pessoa que tenha um endereo fsico. As instncias administrativas comoCmara de Vereadores e Prefeitura abrem caminho para a participao na polticarepresentativa. Escolas e Universidades proporcionam o contato com conhecimento88http://www.gpopai.usp.br/wiki/index.php/O_que_s%C3%A3o_Commons%3F89http://medialab-prado.es/laboratorio_del_procomun

    acadmico, homogneo e estvel (com algumas notveis excees, que vo muitoalm disso). O transporte pblico nos leva de um lugar ao outro. Podemos analisaratravs dos uxos de informao tambm os bancos, postos de sade, centroscomunitrios, escritrios de contabilidade, agncias de motoboys, e por a vai.

    Por sua vez, as lanhouses e telecentros oferecem de fato o acesso internet, emtoda a sua potncia. Mas se tecnicamente tm tudo que algum precisa para vivenciaraquele conhecimento comum disponibilizado nas redes, elas no tm nenhumaorientao estratgica nesse sentido. Tm as mquinas e o acesso, mas a intenoe o horizonte de atuao so amplos demais, e por consequncia algo superciais. bvio que existem muitos telecentros e algumas lanhouses que vo alm, criamprogramao local voltada autonomia, apropriao das tecnologias em rede, aodesenvolvimento de projetos. Mas o modelo mental sobre o qual esto montados sempre um fator de limitao: a prioridade noacesso a algo que est remoto e

    estabelecido.

    Acesso e construo

    Eu sempre acho estranho que um monte de ONGs (e escolas) brasileiras que sedizem inuenciadas pelo pensamento de Paulo Freire - um crtico contundente daprpria ideia de "transmisso de conhecimento" - permitam-se pensar a internet comoquesto de mero acesso. Para Paulo Freire, o conhecimento criado na vivncia, nomomento mesmo do dilogo.

    Se possvel uma analogia das teorias de Paulo Freire com a internet, a relevnciano estaria no contedo publicado, mas narelao criada a cada instante, quando setrava contato com diferentes informaes, pessoas e contextos. Aquela hora em quea gente manda uma mensagem para um grupo de centenas de pessoas espalhadaspor todas as regies do Brasil ou do mundo e curiosamente se sente em casa. O

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    http://www.gpopai.usp.br/wiki/index.php/O_que_s%C3%A3o_Commons%3Fhttp://medialab-prado.es/laboratorio_del_procomunhttp://medialab-prado.es/laboratorio_del_procomunhttp://www.gpopai.usp.br/wiki/index.php/O_que_s%C3%A3o_Commons%3F
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    momento em que queremos aprender sobre algum assunto e encontramos pela redeuma pessoa que publicou, espontaneamente, um verdadeiro roteiro de aprendizado justamente sobre aquele tema. O conhecimento gerado no processo, na vivncia, natroca, no compartilhamento.

    Se queremos fortalecer os aspectos transformadores das redes colaborativas eenriquecer os contextos locais com suas possibilidades, precisamosultrapassar o paradigma do acesso . Na MetaReciclagem temos insistido na importncia daapropriao, da experimentao e da proximidade com o cotidiano para trilhar essaestrada. a partir dessa experincia que tenho pensado sobre Laboratrios Locaisde Tecnologias Livres.

    Labs como interfaces

    Atravs da experincia Rede//Labs90

    , eu tenho tido a oportunidade de saber umpouco mais sobre iniciativas do mundo inteiro que tm proposto estruturas paraexperimentao e criatividade distribuda. So formatos diversos, com graus variadosde autonomia, atuando justamente no dilogo entre o conhecimento comum dasredes e as diferentes realidades locais.

    Uma iniciativa pioneira de Laboratrio no Brasil foi o IP://, criado em 2004 naLapa carioca. O nome veio das iniciais de "Interface Pblica", e essa uma ideiaque tem ressoado nas minhas andanas por aqui. Laboratrios Experimentais locaisorientados para o desenvolvimento de inovao livre socialmente relevante podem

    funcionar justamente comointerfaces entre os uxos locais e a abundncia das redesdigitais. Tambm me vm cabea dois outros projetos que tm bem clara a naturezade interface: o Medialab Prado, de Madri91 e o Bailux92, em Arraial dAjuda.90http://redelabs.org91http://medialab-prado.es/ 92http://bailux.wordpress.com/

    bom enfatizar aqui o que se entende por interface: aquilo que se coloca comoponto de comunicao entre dois campos distintos. Atraduo ativa entre contextosou reas de conhecimento diversos. O portal entre mundos. O buraco de minhocaque possibilita saltos qunticos. O IP://, o Medialab Prado, o Bailux e tantos outros

    se colocam justamente nessa posio de fronteira.Algumas dezenas ou mesmo centenas de projetos em todo o Brasil tm poten-cial para tornarem-se esse tipo de interface. S precisam tomar algumas decises.Preocupar-se menos com a ideia abstrata de pblico e de ocinas de formao, e maiscom odesenvolvimento de tecnologias em si, soluo de problemas. Tentar criarum ambiente acolhedor, que receba visitas no agendadas sem intimidar as pessoas.Que proporcione liberdade de ao e facilite a criao colaborativa. Que tenhaum mnimo de infraestrutura (cadeiras, bancadas, tomadas, cabos de rede). Umamistura de esporo de MetaReciclagem93, Ponto de Cultura, The Hub94, hacklab95,

    centro comunitrio e incubadora de startups. Podem ter programao de encontros eocinas, complementada por um cotidiano de experimentao e desenvolvimento deprojetos. E mais importante, que promovam a colaborao a partir da liberdade eda diversidade, e assumam seu papel deinterface entre as redes digitais e as redestecidas na vida da cidade . Projetos que se posicionam dessa forma mais ampla so oOpen Design City96 em Berlim, o Citilab Cornell97 em Barcelona, entre outros.

    Como eu sugeri em um texto no ano passado98, esses ncleos no precisam sedenir somente como "laboratrios de mdia". No devem limitar-se produode "contedo". Tratam, na verdade, decriatividade aplicada , busca desolues

    93http://rede.metareciclagem.org/listas/esporos94http://saopaulo.the-hub.net/public/ 95http://pt.wikipedia.org/wiki/Hacklab96http://odc.betahaus.de/ 97http://www.citilab.eu/ 98Caminhos Brasileiros para a Cultura Digital Experimental, disponvel em

    http://blog.redelabs.org/blog/redelabs-caminhos-brasileiros-para-cultura-digital-experimental

    27

    http://redelabs.org/http://medialab-prado.es/http://bailux.wordpress.com/http://rede.metareciclagem.org/listas/esporoshttp://saopaulo.the-hub.net/public/http://pt.wikipedia.org/wiki/Hacklabhttp://odc.betahaus.de/http://www.citilab.eu/http://blog.redelabs.org/blog/redelabs-caminhos-brasileiros-para-cultura-digital-experimentalhttp://blog.redelabs.org/blog/redelabs-caminhos-brasileiros-para-cultura-digital-experimentalhttp://www.citilab.eu/http://odc.betahaus.de/http://pt.wikipedia.org/wiki/Hacklabhttp://saopaulo.the-hub.net/public/http://rede.metareciclagem.org/listas/esporoshttp://bailux.wordpress.com/http://medialab-prado.es/http://redelabs.org/
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    em mltiplas reas de conhecimento. Um laboratrio experimental pode, claro,produzir vdeos, programas de rdio, cobertura online de eventos, material grco,websites. Mas tambm desenvolve pesquisa em captao e armazenamento deenergia alternativa, monitoramento ambiental com sensores, redes de aprendizado

    distribudo, instalaes imersivas, projetos de robtica educacional. Pode trabalharcom mediaode conitos, democracia experimental, poltica cultural, nanciamentosolidrio de pequenos projetos. Elabora e implementa planos crticos para cidadesdigitais. No existem limites para laboratrios que se proponham a atuar comointerfaces entre o mundo cotidiano e a multiplicidade das redes.

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    Cidades digitais, a gramtica do controle e os protocolos livres

    A busca por alternativas locais, sustentveis e justas para o desenvolvimento deinovao e tecnologias livres aponta necessariamente para uma maior articulaoentre duas classes de estruturas informacionais que se sobrepem: acidade e asredes digitais .

    No primeiro captulo eu citei a perspectiva de cidade como sistema operacional.Essa aproximao no indita. Na mesma conuncia mas talvez em sentidoinverso, o artigoReading the Digital City 99, publicado no site Next Layer por

    Clemens Apprich100

    , analisa justamente a inuncia que a ideia de cidade exerceunos primeiros anos de popularizao da internet, e como essa inuncia foi usadapara estabelecer relaes decontrole e poder :

    "No por acidente que a cidade tenha sido escolhida como uma dasmais signicativas metforas para os primeiros dias da internet. A cidadetem (como o Ciberespao) uma origem militar e denida (pelo menossimbolicamente) por muros cujos portes constituem a interface para oresto do mundo. (...) A interface determina como o usurio concebe oprprio computador e o mundo acessvel a partir dele."

    Naquele momento, em meados dos anos noventa, procurava-se entender como osprocessos sociais aconteceriam em um espao de uxos para o qual no existia99http://www.thenextlayer.org/node/1346

    100http://t0.or.at/

    precedente histrico. Lanou-se mo da cidade como modelo de organizao eidentidade, mas tambm como instrumento para estabelecerlimites . Eu ainda notinha reetido, no contexto contemporneo das redes, sobre a questo da cidadetambm comocontrole e segregao de identidades . Talvez porque o urbanismo queeu vivencio cotidianamente seja algo mais permevel do que a referncia histricade Apprich, um pesquisador europeu.

    Ns no temos muralhas separando a cidade histrica de seus desenvolvimentos

    posteriores, como ainda pode ser visto em Barcelona, Londres e outras cidadeseuropeias. Na minha experincia, pensar no limite entre cidades visualizar umaplaca na estrada, cercada de vazio. At que ponto isso se torna uma barreira culturalquando falamos em urbanismo? A ordem urbana europeia, invejada por boa parteda classe mdia brasileira, considerada por alguns pesquisadores uma grandecastradora da inovao, como sugere John Thackara101 em "Plano B":

    "Grande parte do nosso mundo simplesmente projetado demais. Con-trole demais sobre o espao pblico prejudicial para a sustentabilidade

    dos locais. Vrias cidades europeias esto levando em considerao apromulgao de zonas livres de design, nas quais o planejamento e ou-tras melhorias de cima para baixo e de fora para dentro sero mantidasa distncia para permitir os tipos de experimentao que podem surgir,

    101http://www.doorsofperception.com/

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    http://www.thenextlayer.org/node/1346http://t0.or.at/http://www.doorsofperception.com/http://www.doorsofperception.com/http://t0.or.at/http://www.thenextlayer.org/node/1346
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    sem planejamento e inesperadamente, de um territrio selvagem, livre dedesign."

    Quando nossas realidades que tendem muito mais complexidade - seno ao caos- entram em contato com essas referncias trazidas de fora, natural que surjam

    descompassos. Rob Kranenburg chamou minha ateno para dois artigos sobre omegaprojeto de monitoramento urbano no Rio: um na Fast Company102 e outroem um site coreano103. claro que usar tecnologias de informao para preverdeslizamentos e enchentes necessrio. Os problemas surgem com a gramticado "centro de controle " (no mnimo uma iluso em uma cidade como o Rio) e apretenso de que esse tipo de projeto esgote o assunto "cidades digitais inteligentes".

    Centros de informao para preveno de emergncias so somente a ponta doiceberg em um cenrio urbano recheado de dispositivos de produo, transmisso eanlise de dados. Mas minha questo para esses projetos :a quem pertencem os

    dados gerados ? Como acess-los? A tendncia o surgimento de um novo domniode informao relevante para a sociedade, e ningum est debatendo sobre comoessa informao vai circular. Grande parte dos atores envolvidos s querem saberquantodinheiro ou quantaexposio na mdia essas tecnologias vo gerar.

    Um elemento comum, mas raramente analisado, nas propostas de "cidades digitaisinteligentes"104 justamente atenso entre controle e emergncia 105. No podemosser ingnuos. A cidade, enquanto tecnologia de organizao de informao, usadafrequentemente como instrumento demanuteno das relaes de poder .

    O controle no exercido somente sobre a circulao de pessoas, objetos e

    informaes, mas tambm sobre as maneiras como a prpria cidade se desenvolve.Isso est presente em grande parte das cidades do Brasil (e certamente do mundo):

    102http://www.fastcompany.com/1712443/building-a-smarter-favela-ibm-signs-up-rio103http://english.etnews.co.kr/news/detail.html?id=201102140008104Por exemplo, estes artigos no Guardian:http://www.guardian.co.uk/smarter-cities105como comento de maneira mais aprofundada no captulo Inovao e Tecnologias Livres

    o envolvimento escuso da indstria imobiliria com as campanhas polticas emtroca de favorecimento futuro, a gentricao dos centros e o urbanismo miditicoque adota a lgica do espetculo e se relaciona mais com a mdia do que com apopulao. So iniciativas impostas de cima para baixo, sem dialogar com aquilo

    que a prpria essncia da cidade: asredes formais e informais de circulao deinformao . Essa uma limitao que inevitavelmente vai se repetir nos projetos detecnologias aplicadas ao cenrio urbano.

    Mesmo iniciativas bem intencionadas acabam usualmente reetindo a lgica docontrole. No captulo anterior eu j critiquei o projeto Venus106, de Jacque Fresco107,como exposto no documentrio Zeitgeist Addendum108. Vou me permitir falar maisum pouco sobre isso porque Fresco foi novamente entrevistado para o terceiro lme,Zeitgeist - Moving Forward109. O documentrio tem alguns momentos interessantes,como mostrar o potencial transformador das iniciativas deprototipagem e fabri-

    cao domstica como o RepRap110

    de Adrian Bowyer. Mas pretende (uma vezmais) indicar a supremacia da cincia sobre a economia, a religio e a poltica. Eentende esses trs assuntos de maneira supercial, no reconhecendo que so emltima instncia o resultado de alguns milnios de evoluo de nossas necessidadesmateriais, espirituais e sociais. Sugerir que se jogue tudo isso fora para viver umavidacontrolada e homognea uma insanidade.

    Jacque Fresco tem uma imaginao mpar. certamente um visionrio. Mas passaa impresso de ignorar a histria humana (talvez s tenha lido co cientca). Suaproposta de cidade ideal, alm de provavelmente entediante, tambm tem alguns

    problemas de condicionamento. No por acaso, um dos elementos centrais de106http://www.thevenusproject.com/ 107http://pt.wikipedia.org/wiki/Jacque_Fresco108http://www.zeitgeistaddendum.com/ 109http://www.zeitgeistmovingforward.com/ 110http://reprap.org/

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    http://www.fastcompany.com/1712443/building-a-smarter-favela-ibm-signs-up-riohttp://english.etnews.co.kr/news/detail.html?id=201102140008http://www.guardian.co.uk/smarter-citieshttp://www.thevenusproject.com/http://pt.wikipedia.org/wiki/Jacque_Frescohttp://www.zeitgeistaddendum.com/http://www.zeitgeistmovingforward.com/http://reprap.org/http://reprap.org/http://www.zeitgeistmovingforward.com/http://www.zeitgeistaddendum.com/http://pt.wikipedia.org/wiki/Jacque_Frescohttp://www.thevenusproject.com/http://www.guardian.co.uk/smarter-citieshttp://english.etnews.co.kr/news/detail.html?id=201102140008http://www.fastcompany.com/1712443/building-a-smarter-favela-ibm-signs-up-rio
  • 7/31/2019 Laboratrio do Pos Digital

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    seu projeto o "centro de controle", com um "mainframe" que gerencia sensoresespalhados por toda a cidade e permite o monitoramento de tudo que acontece.Subliminarmente, cria-se umaassimetria entre quem administra (controla) a cidade,e a populao que s temacesso restrito aos dados gerados.

    a mesma lgica que opera em experimentos corporativos como os dos labo-ratrios da francesa Orange111: sensores vo gerar dados, que sero teis paratomar decises que reetem no gasto pblico (energia, manuteno, semforos, etc.).Mas a administrao das cidades (em conjunto com as prprias empresas quedesenvolvem a infraestrutura) quem decide o que ser feito com esses dados.

    O problema, obviamente, no so os sensores ou o monitoramento em si. No anopassado, enquanto visitava com o grupo do LabtoLab112 o espao La Tabacalera113

    em Madri, debatemos rapidamente sobre as cmeras espalhadas pelo prdio (umaantiga fbrica de tabaco transformada em centro cultural autogestionado), cujo

    centro de controle cava justamente em seuEspacio Copyleft . Alguns artistase ativistas levantaram a possvel contradio entre o copyleft e as cmeras. Eudiscordei, argumentando que o problema no eram as cmeras em si, mas a potencialrelao de poder embutida nelas: quem que tem acesso informao que elascapturam e transmitem? Se toda a comunidade tivesse acesso s cmeras, talvezelas pudessem ser entendidas como aradicalizao da coletividade , em vez deinvaso de privacidade. No era o caso, mas eu estava tentando desconstruir aquelaassociao direta entre monitoramento e controle. Nesse sentido, o problema noso os dispositivos que geram dados, mas decidir quem est autorizado a acessar e

    manipular esses dados, e a informao que vo gerar. Em outras palavras, interessasaber se o sistema desenhadopara o controle ou para a participao .

    111http://www.newelectronics.co.uk/electronics-technology/cover-story-smartening-up-the-city-with-smart-metering/30894/

    112http://desvio.cc/blog/labtolab-dia-dia113http://latabacalera.net/

    Cidades conversacionais

    Adam Greeneld114 publicou no Urban Scale o artigo "Alm da cidade inteli-gente"115, no qual discorre sobre a importncia depadres abertos em um cenriourbano iminente no qual diversos objetos geram informaes disponibilizadas aos ci-dados. Ele prope "alavancar o poder do processamento de informao em rede parapossibilitar um modo mais leve, exvel e responsivo, at brincalho, de interagircom a diversidade metropolitana".

    Para isso, Greeneld considera fundamental que esses objetos adotemprotocolosabertos e publiquem dados de forma aberta. "A vantagem primordial dos dadosabertos nesse contexto que eles resistem a tentativas de concentrao poder atravsda alavancagem de assimetrias de informao e diferenciais de acesso. Se uma pessoatem esse conjunto de dados, todas tm". Ele associa o potencial inovador de ver-sea cidade como software de cdigo aberto: "assim como o programador iniciante convidado a aprender, entender e at incrementar - hackear - software de cdigoaberto, a prpria cidade deveria convidar seus usurios a demisticar e reengenheirar[desculpem pelo neologismo] os lugares nos quais vivem e os processos que geramsignicado, no nvel mais ntimo e imediato".

    Mais tarde, escreve que "se por nenhuma outra razo do que as expectativas seremto altas, qualquer sistema distribudo com uma superfcie de ataque to amplaquanto uma cidade enredada precisa verdadeiramente da segurana acentuada queacompanha o desenvolvimento aberto. Ou seja,a internet das coisas precisa ser aberta ." Greeneld acredita (e eu tambm) na criatividade potencial que residenas pontas, na apropriao cotidiana (e na gambiarra), na liberdade potencial queacompanhar os protocolos abertos.

    Entretanto, em paralelo essencial especicao de protocolos, necessrio ree-114http://twitter.com/agpublic115http://urbanscale.org/2011/02/17/beyond-the-smart-city/

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    http://www.newelectronics.co.uk/electronics-technology/cover-story-smartening-up-the-city-with-smart-metering/30894/http://www.newelectronics.co.uk/electronics-technology/cover-story-smartening-up-the-city-with-smart-metering/30894/http://desvio.cc/blog/labtolab-dia-diahttp://latabacalera.net/http://twitter.com/agpublichttp://urbanscale.org/2011/02/17/beyond-the-smart-city/http://urbanscale.org/2011/02/17/beyond-the-smart-city/http://twitter.com/agpublichttp://latabacalera.net/http://desvio.cc/blog/labtolab-dia-diahttp://www.newelectronics.co.uk/electronics-technology/cover-story-smartening-up-the-city-with-smart-metering/30894/http://www.newelectronics.co.uk/electronics-technology/cover-story-smartening-up-the