Lado Direito III
-
Upload
lado-direito -
Category
Documents
-
view
212 -
download
0
description
Transcript of Lado Direito III
1 Novembro 2011| Lado Direito
��������������� �������������������� �������
Universidades JP Universidades JP —— Uma boa aposta! | 8Uma boa aposta! | 8 Ainda este ano se vai realizar mais uma edição das Universidades JP, organizadas Ainda este ano se vai realizar mais uma edição das Universidades JP, organizadas
pelo Gabinete de Estudos Gonçalo Begonha. Vem conhecer a perspectiva do pelo Gabinete de Estudos Gonçalo Begonha. Vem conhecer a perspectiva do
Coordenador do GEGBCoordenador do GEGB, , relativamente aos frutos da prática desta actividade relativamente aos frutos da prática desta actividade
pedagógica.pedagógica.
SEGUE-O
E agora, Tunísia? - O futuro
do país pioneiro
da “Primavera Árabe” por Daniel Albino | 4
Rubrica Internacional
Primavera Árabe:
Mudança de Estação por Miguel Turnbull |6
O s tempos são de mudança. O mundo Árabe torna-se o centro
de todos os noticiários e, a qualquer instante, notícias de
última hora podem surgir nas nossas televisões. Daniel
Albino e Miguel Turnbull debruçam-se sobre a “Primavera Árabe”,
proporcionando-nos uma credível análise sobre a actualidade
2 Novembro 2011| Lado Direito
nesta edição
Página 4
E agora Tunísia? O futuro do país pioneiro da
“Primavera Árabe” Por Daniel Albino
Página 6
Rubrica Internacional: Primavera Árabe:
Mudança de Estação por
Miguel Turnbull
Página 6 Universidades JP—Assim se faz
melhor JP por
iago Loureiro
Página 10
Tribuna da Liberdade por
Samuel de Paiva Pires
Página 11
Coluna literária por Miguel Turnbull
Página 12
Opinião Marco Marques
Patrícia Braz Pires
Página 15
Agenda
Editor
Joana Martins Rodrigues
Colaboradores
Filipe Carneiro de Almeida
João Empis
Joaquim Henriques
Corrector Linguístico
Ricardo Raposo
equipa
3 Novembro 2011| Lado Direito
EDITORIAL JOANA RODRIGUES | EDITOR DE
“LADO DIREITO”
Activos e passivos
Ultimamente tenho-me deparado com uma certa
ambiguidade no que diz respeito à forma como é
possível caracterizar a juventude. Juventude, no seu
sentido mais lato. Essa dupla caracterização divide-
se, nem mais nem menos, pelos que são activos e
os que são passivos.
Sendo este texto uma opinião e, como tal,
completamente parcial, tenho a prerrogativa de
exprimir as minhas ideias tais quais elas são, sem
complexos e/ou medos de ferir susceptibilidades.
Voltando à caracterização, classifico os activos
como pessoas que efectivamente se debruçam
sobre as questões da actualidade e que, quando
confrontados com uma questão, não de cultura
geral, mas do que pensam do quotidiano, se
aprontam imediatamente a responder de forma
coerente e arrojada. Diminuindo em larga escala o
lato sentido da minha caracterização, é possível
afirmar que dentro da Juventude Popular há jovens
activos – quase todos, atrevo-me a assegurar. Isto
deixa-me, de certa forma, contente e feliz por
partilhar com centenas de pessoas uma instituição
que consegue fazer com que cresçamos.
Provavelmente, não será da Instituição. Será das
próprias pessoas que a procuram! Essa ideia ainda
me agrada mais. Afinal, há pessoas capazes neste
país, com ideias próprias e sem complexos de
serem reis neste país de cegos.
Agora, aquilo que me provoca arrepios só de pensar: os passivos. No nosso quotidiano essa palavra até nem tem uma conotação pejorativa. Vejamos o seguinte exemplo: fumador activo e fumador passivo. Bem, não será preciso exemplificar mais. Todavia, para mim e neste contexto, “passivo/s” é de facto péssimo! E, à nossa volta, feliz ou infelizmente (isto, porque seria terrível se a maioria fosse “dos bons”), vemo-nos rodeados de “gente” passiva – relembro que me refiro apenas a jovens – que aproveita a vida de uma forma descontraída. Se frequenta a faculdade é apenas porque “O meu pai matava-me, se eu não tirasse um curso superior!”. Como este exemplo, existem outros milhares. Milhares que se traduzem na concentração de licenciados ou jovens em vias de, que nada próspero podem ou vão proporcionar ao nosso país.
Eu costumava acreditar que quem é de facto bom,
quem consegue atingir os seus objectivos, sem que
isso lhe seja imposto, tem sucesso; consegue
superar os que andam “por andar”. Contudo, hoje
não acredito em nada disso. Hoje acredito que,
mais do que nunca, vivemos num “salve-se quem
puder”. Acredito que, com o passar do tempo, me
sinto mais pessimista no que diz respeito à condição
humana. Todavia, a História é cíclica, logo se por
um lado, os males se repetem, o bem (se é que se
pode apelar assim) repetir-se-á.
Agora interrogam-se do porquê da pertinência dos activos e passivos. Ao que eu respondo que, a meu ver, os activos são aqueles que, a bem ou a mal, ainda conseguem prosperar. Essa prosperidade, muitas vezes, nem sequer é visível – reflecte-se na actividade intelectual e proactiva. Os passivos são aqueles que ainda têm pés para andar, porque os “parvos” dos activos se preocupam. É triste e revoltante. É injusto? Não. É a vida que nunca foi e nunca será perfeita.
4 Novembro 2011| Lado Direito
E agora Tunísia? -
O futuro do país pioneiro na
‘Primavera Árabe’
O processo…
Volvidos 10 meses da imolação de Mohamed Bouazizi, comerciante tunisino que deu origem ao movimento de contestação, hoje designado ‘Primavera Árabe’, ao então Presidente da Tunísia, General Zine El Abidine Ben Ali, que desde Novembro de 1987 chefiava os destinos daquele país do Norte de África, na sequência de um golpe militar, a Tunísia acaba de entrar numa nova fase. Passadas quatro semanas de violentos confrontos que ditaram a fuga de Ben Ali para a Arábia Saudita, o Conselho Constitucional indicou o Presidente do Parlamento Fouad Mebazaâ como Presidente da República interino, com base no artigo 57 da Constituição, sendo Mohamed Ghannouchi, Primeiro-Ministro demissionário, reconduzido no cargo. Contudo, a insatisfação crescente ditou a demissão do mesmo no mês seguinte. Sucedeu-lhe Beji Caid Essebsi, responsável por levar ao país as primeiras eleições livres, após a saída de Ben Ali. As eleições para a Assembleia Constituinte, que foram inicialmente marcadas para Julho pelo Governo de transição tunisino, acabaram por ser adiadas para 23 de Outubro, de forma a garantir a normalidade do processo.
Os candidatos…
As primeiras eleições após a queda de
Ben Ali - eleições para a Assembleia
Constituinte e nomeação do Governo
interino -, elegeram 217 deputados para a
Assembleia Constituinte que terá, num
prazo de um ano, de fazer uma nova
Constituição, formar um novo Governo e
eleger um novo Presidente para a Tunísia.
Concorreram a estas eleições: o Ennahda
- Partido Islamita Moderado - fortemente
reprimido durante a vigência da ditadura
de Ben Ali; o Partido Democrata
Progressista - pólo Democrático e
modernista - composto por cinco
pequenos partidos de esquerda; o Afek
Tounes - partido Liberal; e o Ettakatol -
partido de centro-esquerda, liderando
uma lista de 105 formações políticas do
país.
Os resultados…
O sufrágio contou com uma participação
de mais de 70% da população tunisina
eleitora, tendo as eleições sido
fortemente participadas, quer do lado
5 Novembro 2011| Lado Direito
com uma participação massiva de observadores internacionais e jornalistas. O vencedor das primeiras eleições foi o Partido Moderado Islâmico - Ennahda, que arrecadou 41,47% dos votos expressos, conquistando 90 lugares dos 217 da Assembleia Constituinte. Seguindo-se o Partido do Congresso pela República, com 30 lugares e o Ettakatol, de esquerda, com 21 lugares. Ficando, assim, compostos os primeiros lugares dos novos representantes do povo tunisino. O líder do Partido mais votado, Rachid Ghannouchi, regressou à Tunísia 16 dias após o início dos confrontos, depois de ter passado os últimos 22 anos no exilo forçado pelo ex-presidente Ben Ali. Apurados os resultados eleitorais, os novos representantes tunisinos encontram-se em negociações para a formação do novo Governo interino, que deverá conduzir a Tunísia no próximo ano.
O futuro…
Os partidos laicos e o sector laico da
Sociedade tunisina mostraram já
preocupação pela vitória dos moderados
islamitas, sendo esta preocupação
partilhada por alguns membros da
comunidade internacional, que se
mostraram preocupados com a
possibilidade da Tunísia se virar para o
fundamentalismo islâmico.
Outros aspectos relevantes:
- Argélia, Líbia, Jordânia, Mauritânia, Omã, Iémen, Arábia Saudita, Líbano, Egipto, Síria, Marrocos também foram afectados pelos movimentos de contestação política inseridos na Primavera Árabe;
- A ‘Primavera Árabe’ já depôs o
Presidente Egípcio, Hosni Mubarak, que
abdicou após fortes manifestações no
país;
- O Coronel Kadhafi, recusando-se a
abandonar o poder, mergulhou o país
numa guerra civil, que opôs as forças
militares leais ao governo e os rebeldes,
acabando por vitimar o próprio General
nas mãos dos
Rebeldes;
- As eleições no Egipto estão marcadas para dia 28 de Novembro, depois de terem sido adiadas.
6 Novembro 2011| Lado Direito
O ano de 2011 terá certamente um capítulo de destaque nos livros de história, pelos eventos que tiveram lugar no seu decorrer. Indubitavelmente, a crise nas economias europeias e todas as suas repercussões políticas terão tido um impacto primário na agenda internacional portuguesa. No entanto, o ano iniciou-se chamando a atenção global para uma nova realidade política nos países árabes do norte de África.
O status quo da região foi abalado de uma forma totalmente nova e imprevisível. Lembremo-nos que estes estados são caracterizados por terem poderes estabelecidos com níveis muito altos de repressão das liberdades individuais e
colectivas e com uma forte impermeabilidade face a influências externas. Ora, é neste aspecto que o papel das novas tecnologias foi fundamental. A globalização, para além de permitir a transferência a nível global de bens e capitais, permite a rápida transferência
de algo ainda mais dramático, as ideologias. As novas tecnologias permitiram, então, um fácil acesso a todas as formas de influência ideológica, face às quais os governos, por muito opressivos que sejam, não têm capacidade de controlo.
Um simples evento na Tunísia despoletou um processo que rapidamente se alastrou aos
seus vizinhos, provocando um terramoto nos poderes caducos da região, que sem meios para confrontar as exigências dos povos e a pressão da comunidade internacional, foram abandonando o poder. Os governos da Tunísia e do
Egipto foram derrubados por manifestações civis, enquanto outros governos, como o de Marrocos, foram mais expeditos ao anunciar medidas de liberalização e de flexibilização da participação civil no processo decisório.
Primavera A mudança por Miguel
7 Novembro 2011| Lado Direito
Ao se aperceberem da volatilidade da situação, os governantes espalhados pelo mundo árabe sentiram a necessidade de se aproximarem dos desejos das suas populações.
Na Líbia existiu de facto uma Guerra Civil, na qual a comunidade internacional interveio, mas não sem muitas críticas e reticências. A recente morte do ditador Kadafi parece ter posto fim ao conflito. Neste momento, o líder sírio Bashar al-Assad, apesar da promessa de reformas institucionais, continua irredutível na forte repressão das manifestações, lutando contra os ventos da mudança.
Em pouco menos de um ano deram-se enormes mudanças na geopolítica da região Mediterrânica, que, de um modo ou de outro, se fizeram sentir na Europa. Desde logo, problemas relacionados com emigração que obrigaram a Itália a revogar momentaneamente o espaço Schengen e, mais importante ainda, uma apreensão generalizada devido à dependência que o sul da Europa tem face aos recursos energéticos vindos do Magrebe.
A Europa está agora expectante para observar como se vão desenrolar os processos de transição de poder em países habituados a décadas de autocracias saídas do vazio pós colonial. É obvio que a comunidade internacional espera que exista
uma suave transição para democracias representativas. Esta condição permitiria a criação de um ambiente menos tenso nas relações entre o Ocidente e o mundo árabe, pois se atendermos a Francis Fukuyama as “democracias não combatem outras democracias”. Para a Europa é de todo o interesse a criação de um cordão de democracias árabes em torno das suas fronteiras. Além do evidente efeito de escudo contra países islâmicos mais radicais, a crescente dependência energética face à Rússia e a sua possível utilização por parte de Moscovo como arma política pode ser menorizada através da construção de relações positivas com as emergentes democracias árabes.
Temos de ter em conta que o processo de transição não será fácil na maioria dos casos. A inexistência de instituições democráticas funcionais, as cicatrizes sociais criadas pelas descriminações perpetradas pelos regimes depostos e toda uma falta de cultura democrática serão, certamente, obstáculos que brotarão no caminho destes povos. A Europa poderá ser chamada a dar o seu contributo e aí a utilização do seu Soft Power (influência positiva através da
Árabe de estação Turnbull
Miguel Turnbull
Colaborador do Gabinete de Estudos e Formação Política
8 Novembro 2011| Lado Direito
UNIVERSIDADES JP
Uma boa aposta
Tiago Loureiro, Coordenador do Gabinete de Estudos da Juventude Popular, faz uma reflexão sobre a utilidade das Universidades JP— momento de extrema importância para a estrutura partidária —, admitindo que o percurso da JP não se deve limitar à conquista de filiações, mas ir além dessas expectativas.
Assim se faz melhor JP
Por Tiago Loureiro
Coordenador do Gabinete de Estudos Gonçalo Begonha
Começo este texto agradecendo o
simpático convite da Joana para dar o
meu contributo no Lado Direito.
Enquanto coordenador do Gabinete de
Estudos Gonçalo Begonha, é com muita
satisfação que vejo exemplos como o
desta publicação, que, de alguma forma,
cumprem a nobre missão de fazer a
Juventude Popular crescer em qualidade.
Na verdade, uma JP mais forte não é
apenas uma JP com mais militantes. Essa
tarefa de engrandecer as nossas fileiras,
que tão bem temos sabido levar a cabo,
não vive sem o equivalente crescimento
intelectual e político daqueles que a nós
se juntam a cada dia que passa. Uma JP
maior é uma JP que, crescendo
quantitativamente, cresce também,
sobretudo, qualitativamente.
Somos diferentes daqueles com quem somos normalmente comparados. Nunca gostamos de viver como um mero satélite do partido, nem como um rebanho de braços úteis apenas na hora de fazer número com bandeiras na mão. Sempre fomos conhecidos como a “jota” que não esquece que a política, antes de representar votos ou os lugares, representa princípios e ideias.
Essa maneira de estar deve ser encarada como uma mais-valia para a JP. Até porque é exactamente isso que tem vindo a representar para o CDS e até para o país. Tal constatação é fácil de obter ao olhar para o Governo, onde rapidamente podemos identificar um ex-Presidente da JP como ministro e dois ex-militantes
9 Novembro 2011| Lado Direito
e dois ex-militantes como secretários de estado, ou para a bancada parlamentar do partido, onde brilham alguns dos mais destacados militantes da história da JP e dois dos seus melhores quadros da actualidade. Somos, de facto, uma escola de políticos de qualidade e não um centro de emprego ou uma oportunidade de uma carreira fácil.
Tal coisa não seria verdade, se a formação
política no seio da JP não tivesse sido
sempre tão valorizada. Essa é uma das
nossas marcas. Não temos apenas as
melhores ideias: sabemos trabalhá-las e
melhora-las.
Um dos grandes palcos para o
desenvolvimento das nossas ideias de
sempre, para o debate de ideias novas,
para o combate de argumentos e para as
discussões que façam incidir a luz sobre
novos e melhores caminhos a percorrer,
sempre foi a Universidade JP.
Todos aqueles que tiveram a
oportunidade de participar nesta
experiência estão habituados a olhá-la
com um carinho especial. Na verdade,
não há na JP momento mais especial do
que aquele em que a partilha de
experiências e a aquisição de
competências com algumas das mais
relevantes personalidades da nossa praça
– seja a nível político ou académico, ou
simplesmente figuras da sociedade civil,
responsáveis por factos dignos de
destaque – nos enriquece a capacidade
de pensar e nos oferece uma série de
competências e conhecimentos que nos
tornam melhores militantes, mais úteis à
JP e ao CDS e, em consequência, mais
úteis ao país.
António Lobo Xavier, José Pacheco
Pereira, Paulo Rangel, Raul Rosado
Fernandes, Paulo Portas e Pedro Passos
Coelho, são apenas alguns nomes que
compõe o grupo de notáveis de que
falava. Figuras de inegável impacto na
sociedade portuguesa e com uma
indesmentível capacidade para
acrescentar algo a quem os ouve.
Esta é uma tradição que importa manter
viva. Mais: importa fazê-la crescer,
tornando-a cada vez melhor e fazendo
com que o seu contributo seja visto como
cada vez mais indispensável para aqueles
que têm a sorte de ser os seus primeiros
e principais beneficiários.
Perante a riqueza histórica que o passado da Juventude Popular representa, importa que no futuro saibamos cumprir a missão de a honrar tornando-a melhor. Por isso, estou certo de que a Universidade JP perdurará como o momento decisivo para esse crescimento. E assim se fará uma JP melhor.
10 Novembro 2011| Lado Direito
Tribuna da Liberdade
por Samuel de Paiva Pires
Vice-Presidente da Mesa da Concelhia de Lisboa da JP
O Paradoxo dos Indignados
O mês que passou viu as ruas de centenas de cidades em todo o mundo serem varridas por uma vaga de indignações e ocupações. Enquanto na Europa o efémero movimento já perdeu força, nos Estados Unidos da América os ocupantes de Wall Street continuam a aumentar os seus números. Motivados pelo livro panfletário Indignez-vous! da autoria do intelectual francês Stéphane Hessel e, certamente, pelo revanchismo patente em Inside Job, uma película cinematográfica à boa maneira de Hollywood, plena de pseudo-moralismo esquerdista, os “indignados”, a começar por Hessel, acertam no diagnóstico mas falham redondamente na cura, conforme Axel Kaiser1 e Russ Roberts2 evidenciam.
Os indignados acertam em cheio quando reclamam contra a relação promíscua entre o poder político e a banca. Tanto nos EUA como na Europa, assistimos nas últimas décadas a uma convergência de interesses entre políticos e banqueiros. Os políticos expandiram o aparelho estatal a coberto do Estado Social, prometendo benefícios e direitos como forma de ganhar eleições, e ao aperceberem-se que não seria aceitável aumentar (ainda mais) os impostos cobrados aos contribuintes, descobriram que a forma que tinham de continuar a financiar as suas clientelas eleitorais e partidárias era através de empréstimos, ficando em larga medida à mercê da banca. Na Zona Euro, acresce ainda uma outra perversão, a da moeda única. Esta incentivou os países conhecidos jocosamente como PIIGS a endividarem-se a juros baixos, que se justificavam em virtude dos investidores terem encarado os títulos de dívida destes tão seguros quanto os da Alemanha, crendo que esta e a França os resgatariam se algum deles
entrasse em incumprimento. Com estes incentivos, não admira que os políticos dos países do sul da Europa tivessem aproveitado a oportunidade para prometer aos eleitores mais benefícios, assim conseguindo vitórias eleitorais e alargando redes clientelares onde a promiscuidade entre políticos, banqueiros e empresários é a regra. E tanto na Zona Euro como nos EUA, a actividade dos bancos centrais é também ela perversa, pois não só criam dinheiro a partir do nada e mantêm taxas de juro artificialmente baixas, como se prestam ainda à função de credor de último recurso, resgatando bancos privados mal geridos em vez de os deixarem falir, como defende o mercado livre e o capitalismo.
Mas os ocupantes de Wall Street e os seus camaradas europeus falham redondamente quando ao criticarem este panorama o denominam como capitalista, visto que na realidade aquilo a que assistimos é mais correctamente designado por crony capitalism, ou seja, uma perversão do capitalismo em que os privados se tornam próximos do poder político e fazem depender o seu sucesso dos favores que este lhes confere. O diagnóstico dos sintomas está correcto, mas a doença não é demasiado capitalismo mas sim pouco capitalismo. O capitalismo e o mercado livre fundamentam-se, como Kaiser assinala, na concorrência entre actores privados como os bancos e empresários, na ausência de agências de planeamento monetário centralizado, na falência de empresas que são geridas de forma irresponsável, numa moeda forte que assegure o poder de compra do dinheiro das pessoas, e na ausência de relações promíscuas entre o governo e as elites económicas. Ou seja, exactamente o oposto daquilo a que vimos assistindo um pouco por todo o Ocidente.
A solução dos indignados para um problema que é reflexo da expansão do aparelho estatal é mais estado, o que é perfeitamente ilógico: é o paradoxo dos indignados. Para Hessel, se os políticos e burocratas tiverem mais poder, o sistema será menos corrupto. A evidência histórica mostra precisamente o contrário, e não é por acaso que os países mais corruptos são aqueles onde o estado e os políticos têm mais peso na sociedade. Esta solução errada baseia-se em ideias que há muito vêm fazendo escola no pensamento político, tendo contribuído para alguns dos maiores desastres da humanidade, nomeadamente a combinação entre o colectivismo e o bem comum na perspectiva de Rousseau e a rejeição da liberdade individual que é o fundamento essencial da civilização ocidental.
1Axel Kaiser, “The Paradox of the Outraged”, in Ludwig von Mises Institute website, 17 de Outubro de 2011. Disponível em http://mises.org/daily/5762. Consultado em 1 de Novembro de 2011. 2Russ Roberts, “Occupy Wall Street and Washington’s History of Fi-nancial Bailouts”, in Foreign Affairs website, 21 de Outubro de 2011. Disponível em http://www.foreignaffairs.com/articles/136609/russ-
11 Novembro 2011| Lado Direito
Critica Literária
Nova coluna onde, todos os meses,
teremos as perspectivas daqueles que
pretendem partilhar com os leitores as
suas experiências literárias.
Este mês, Miguel Turnbull
Obra: A Evolução da Riqueza Autores: Alvin e Heidi Toffler
Num mês preenchido pelo debate da
situação económica europeia e pelas negociações do orçamento de estado
português, será interessante ter uma perspectiva de como será produzida riqueza
no futuro. No livro “A Revolução da Riqueza”, de Alvin e Heidi Toffler, é-nos apresentada a
ideia de que a presente forma como é encarada a produção de riqueza está
desfasada da realidade. Existe uma enorme dessincronização entre a tradicional forma
de estar na produção e nos negócios e a nova realidade provocada pelo
desenvolvimento das tecnologias de informação. Desde logo, os autores
identificam como nova principal fonte de riqueza o conhecimento. Existe assim uma
terceira revolução da riqueza, após as revoluções agrícola e industrial. Todo o livro é escrito com a preocupação de dar
exemplos simples e incisivos sobre cada capítulo, para que mesmo um leitor menos
conhecedor das matérias possa entender bem o descrito. O capítulo 5 “O choque das
velocidades” é especialmente gráfico e dá uma excelente perspectiva das diferentes
velocidades com que os diferentes agentes económicos encaram as mudanças.
Em suma “A Revolução da Riqueza” consiste numa leitura fácil, mas nem por isso menos
incidente sobre a mudança do paradigma actual da produção de riqueza. Recomendo,
sem reservas, a conhecedores e a leigos igualmente.
12 Novembro 2011| Lado Direito
Opinião Opinião Opinião Opinião
Nesta edição, dois militantes da Juventude Popular abordam temas como a
retrospectiva dos erros cometidos em Portugal e a forma de os corrigir;
também é questionada a importância do voto, particularmente, em Portugal
Erros do passado,
correcções do presente
Muito tem sido discutido, debatido, sobre quais
serão as consequências sociais e económicas que o
Orçamento de Estado 2012 terá no país. Mas antes
de avançar com qualquer análise, penso que é meu
dever não só, enquanto apoiante das ideologias
políticas defendidas pelo CDS/PP e militante da JP,
mas também como cidadão português, que tenho
de relembrar que esta situação poderia
perfeitamente ter sido amenizada.
É um facto incontestável que o anterior governo,
liderado pelo senhor licenciado em engenharia José
Sócrates, cometeu diversos erros. Erros esses, não
só de avaliação nas medidas a ser tomadas para
revitalizar a economia, penso aliás, que isso nem
terá sido o mais grave, apesar de ter sido uma
demonstração de uma enorme incompetência,
sendo que a grande maioria dos líderes europeus
fracassaram nesse campo, mais gravoso que isso,
vexatório até para a população portuguesa, é que a
determinada altura, se torna evidente, que se sabe
do processo cada vez mais intenso que iria
direccionar a situação económica nacional a uma
instância recessiva e irreversível e, em vez de
assumirem que algo estava errado, que era
necessário repensar as políticas e tentar alterar a
tendência que se avizinhava, tentam dissimular a
situação com discursos retóricos carregados de
declarações falaciosas e pouco consensuais. No
entanto, seria incorrecto depositar a culpa toda da
situação que se presencia actualmente em Portugal
no anterior governo. A responsabilidade inclui
outras figuras políticas. A primeira vez que Portugal
recebe o apoio comunitário regular é no ano de
1986, quando o Professor Aníbal Cavaco Silva era
Primeiro Ministro e, até 2006 (ano em que Portugal
deixa de receber o mesmo apoio), pouco foi feito
com esse dinheiro que contribuísse aumentar a
potencialidade comercial, aumentando
consequentemente as exportações. Observou-se
um crescimento bastante efectivo do PIB até ao
final dos anos 90, algo que perfeitamente
justificável tendo em conta que havia muito para
evoluir em Portugal. Mas antes de avançar, vamos
recuar um pouco no tempo.
Em Abril de 1974, cai o regime ditatorial fascista em
Portugal e, depois de um curto período onde o
General Spínola (25 de Abril de 1974 - 16 de Maio
de 1974) e o Doutor Adelino da Palma Carlos (16 de
Maio de 1974 - 18 de Julho de 1974) foram
Primeiros Ministros em Portugal, assume a
liderança de um governo provisório de esquerda
apoiado essencialmente pelo PCP e MRPP, o
General Vasco dos Santos Gonçalves.
É sobre a liderança do General que se dá o Verão
quente de 1975 e por pouco Portugal não cai numa
Ditadura Comunista.
13 Novembro 2011| Lado Direito
O Governo de Vasco Gonçalves acaba por cair em
25 de Novembro de 1975, mas os governos
provisórios só cessam a 23 de Julho de 1976.
Durante dois anos existiram cinco governos
provisórios em Portugal. O ano de 1975 foi marcado
por uma eminente guerra civil. Portugal pouco
evolui, e consequentemente muito havia para
investir. De relembrar igualmente que pouco foi
feito no Estado Novo para desenvolver o país a nível
económico.
•É facto incontestável que Salazar foi
importantíssimo numa instância inicial. Portugal
deparava-se com uma grave crise financeira e social
e, o então Presidente de Concelho de Ministros,
consegue equilibrar as contas Nacionais. É
igualmente um dado irrefutável que os cofres
nacionais tinham imenso ouro guardado e, sem
dúvida foram feitas algumas obras Públicas que
tiveram alguma influência no desenvolvimento da
Nação
•A premissa principal do governo salazarista era
disciplina e contenção. E apesar de se ter
evidenciado alguns esforços em abrir as portas a um
investimento externo, foi uma tentativa tardia e
pouco eficaz. Portugal tinha muito ouro, mas
relações externas muito insuficientes.
Retomando a contextualização histórica dos anos
90, e como já referi, Portugal pouco aposta nas
relações internacionais, não faz um controlo forte e
severo aos empresários em Portugal que acabam
por receber ajudas do Estado. Vive-se uma anarquia
económica. Outro evento, de igual seriedade, foi o
endividamento contraído. Na década de 90 75% da
dívida era nacional 25% era estrangeira. No
entanto, e pelas facilidades apresentadas pelos
nossos parceiros europeus, onde a Alemanha
assume um papel fulcral, nos dias de hoje a divida
que nós temos para com o estrangeiro ultrapassa os
80%.
Fomos desgovernados durante muito tempo,
demasiado. Agora temos obrigações a cumprir.
Temos prazos e juros para pagar. Temos a TROIKA
que controla o nosso comportamento para com os
compromissos efectuados. E se é verdade que o
Orçamento de Estado apresentado para 2012 é
severo para a maioria das famílias em Portugal,
também é verdade que se queremos ultrapassar
esta situação crítica e desconfortável, temos de nos
unir e agradecer a honestidade apresentada pelo
actual governo. Temos de saldar as nossas dívidas,
para reinvestir e voltar a ganhar a confiança dos
mercados. No entanto, temos de aprender com os
erros do passado. Nunca seremos uma grande
potência, mas podemos tornar a nossa economia
mais sustentável. Com os recursos existentes, é
necessário criar condições que nos tornem
competitivos. Encontramo-nos na periferia da
Europa, mas podemos ser o elo de ligação entre os
países Sul-Americanos e o resto da Europa. Falar no
TGV de passageiros com ligação Porto/ Lisboa seria
um disparate, mas um TGV de mercadorias a partir
de Sines poderia ser uma enorme valência
económica futura para o nosso País.
Marco Marques
Coordenador do Gabinete de Educação da Concelhia de Lisboa
14 Novembro 2011| Lado Direito
Voto em Portugal
Votar é, ou deveria ser, tanto um dever como um direito da população. Mas, não! Como sempre, as pessoas preferem o comodismo e o não fazer nada, ao chamado acto cívico, onde podem duma forma subtil dar o seu parecer sobre o que querem para a política e para o futuro do seu país, designado por voto.
Será isto coerente com o passado? E a resposta é muito clara, não. Se outrora, os portugueses se queixaram da ‘impotência’ que o seu voto tinha para as contagens, pois supostamente a corrupção na hora do voto era existente e isso criava descontentamento à população, hoje que vivem numa democracia onde a liberdade de expressão existe, preferem não votar e optar sempre pelo caminho mais fácil e mais comum, o criticar, mas nada fazer para mudar o que pensam estar mal.
Como militante da Juventude
Popular, acredito que nós, os jovens, somos quem tem maior poder nos dias de hoje para fazer a mudança. Para isto, temos que nos focar nos problemas e arranjar soluções. Parte da solução está na ideia de criarmos maior e melhor consciência política no país e, mais que não seja, sermos activos nela. Para isso, o voto é essencial. Portanto, vota! Para uma maior coerência e v e rd a d e n a p o l í t i c a portuguesa.
Patrícia Teixeira Braz Pires
Secretária da Mesa da Concelhia de Lisboa
15 Novembro 2011| Lado Direito
dos eleitores, quer no interesse da
Comunidade Internacional,
agenda
10 dezembro |4.ª Edição “Lado Direito”
|LADO DIREITO|
SEGUE-O