LEAD Magazine - Nº 1

50
Nº1 SETEMBRO DE 2011 | DISTRIBUIÇÃO GRATUITA QUEM É ELE? MIGUEL PINA MARTINS É O CEO DA SCIENCE4YOU, A EMPRESA QUE FUNDOU AOS 22 ANOS. AOS 25 FOI DISTINGUIDO COM O PRÉMIO EMPREENDEDOR DO ANO 2010 PELA COMISSÃO EUROPEIA. DESCOBRE O QUE O DESAFIA HOJE, ASSIM COMO AS HISTÓRIAS DO DAVID VALENTE, DO FÁBIO RODRIGUES E DO MIGUEL QUEIMADO: OS CEOS SUB-30. PÁGINA 18

description

A Lead Magazine não é mais uma revista de economia para gente que só se interessa por economia. A Lead Magazine não sabe tudo: fala com quem sabe e para quem quer saber. A Lead Magazine não pode mudar o mundo, mas quer criar essa vontade em quem a ler. A Lead Magazine não quer saber de crise, quer saber do futuro e do que temos de melhor. A Lead Magazine é um instrumento de informação e inspiração para quem procura novos desafios.

Transcript of LEAD Magazine - Nº 1

Page 1: LEAD Magazine - Nº 1

Nº1 SETEMBRO DE 2011 | DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

QUEM É ELE?MIGUEL PINA MARTINS É O CEO DA SCIENCE4YOU, A EMPRESA QUE

FUNDOU AOS 22 ANOS. AOS 25 FOI DISTINGUIDO COM O PRÉMIO

EMPREENDEDOR DO ANO 2010 PELA COMISSÃO EUROPEIA. DESCOBRE

O QUE O DESAFIA HOJE, ASSIM COMO AS HISTÓRIAS DO DAVID VALENTE,

DO FÁBIO RODRIGUES E DO MIGUEL QUEIMADO: OS CEOS SUB-30.

PÁGINA 18

Page 2: LEAD Magazine - Nº 1
Page 3: LEAD Magazine - Nº 1

PINA MARTINS

FICHA TÉCNICA

FOTOGRAFIA / BRUNO SIMÃO

Nuno Saraiva: [email protected]é Costa: [email protected]árbara França Silva: Editora e [email protected]!a Simões de Almeida: Editora e [email protected] Almeida: Design e Paginaçã[email protected] Simão: [email protected] Sales Barreto: [email protected]

Miguel Pina Martins é o rosto de um grupo de empresários que decidiram arriscar antes de ganhar cabelos brancos e toda a sabedoria do mundo. Este grupo é o re"exo de uma geração com mundo, que empreende e não espera por ninguém para liderar o seu percurso. São donos do seu destino.

ÍNDICE

LIDERANÇAPrepara-te. Planeia. Age!Uma Ideia, Um MundoO Sucesso Partilha-se

EMPREENDEDORISMOCEOs sub-30Saltos de Gigante

INOVAÇÃOPapel? Qual Papel?15 Milhões de Boas Ideias

INTERNACIONALDe Malas AviadasFrames de Saudade

TALENTOO que é o Talento?Obsessão, a partícula chaveAs Coordenadas do Sucesso

781014

171821

252628

3132 35

39404648

Page 4: LEAD Magazine - Nº 1

EDITORIAL

NÃO ME DEIXAM SER FELIZ!

NUNO SARAIVA / [email protected] fotogra!a: BS

SOBRE A LEAD...

Diz o português com mil queixas na ponta da língua, co-ladas nas testas de umas centenas de culpados. Nunca na dele próprio. Desde o emprego que tem, ou não tem, à crise !nanceira (e económica!) que enfrentamos, tudo serve para nos impedir de estar felizes. Mas estarão estes aconteci-mentos ligados, da maneira como pensamos, com a nossa felicidade? Convido-vos a analisar comigo dois estudos que desmisti!cam dois dos principais paradigmas relacionados com a felicidade:

O primeiro foi realizado pelo Happy Planet Index e permite-nos tirar conclusões muito interessantes relativa-mente ao nível de desenvolvimento de uma nação e à sua taxa de felicidade. Uma análise rápida permite-nos chegar à conclusão que os países mais desenvolvidos do mundo não são de todo os mais felizes! De facto a lista é encabeça-da pela Costa Rica, a República Dominicana, a Jamaica, a Guatemala e mesmo o Vietname. Países como os E.U.A. (114º), China (20º), Reino Unido (74ª) ou Alemanha (51º) encontram-se bastante mais abaixo, sendo que Portugal é o número 98 deste ranking de 143 Países. Podem-os então concluir que a conjuntura do país em que vivemos é menos importante do que seria expectável.

O segundo estudo, realizado pela Associação America-na de Psicologia com base nas experiências de 22 pessoas que sofreram acidentes graves e de outras 22 pessoas que ganharam a lotaria, tem como objectivo medir o impacto destes acontecimentos na felicidade. Chegou-se então à conclusão que tanto as vítimas de acidentes graves como os vencedores de lotaria experienciaram alterações nos níveis de felicidade que duraram aproximadamente um ano. O mais curioso é que passado esse ano os seus níveis de felici-dade voltaram aos níveis anteriores!

Pensemos sobre isto. Não será então altura de deixar-mos de culpar a crise pela nossa infelicidade congénita? De deixarmos de achar que só seremos felizes se vivermos naquela casa, se tivermos aquele carro e se conseguirmos aquelas férias? Quantos de nós vivem com ses e mais ses que usamos como desculpas para adiar tudo, incluindo a felicidade?

E tu, quais são as tuas desculpas? Quais são os teus ses?

Numa altura em que crise é a primeira pala-vra que surge quando pensamos no Mundo, a Lead Magazine atreve-se a desa!ar a conjuntu-ra. Esta não será mais uma revista que convida apenas à leitura, será antes um convite ao posi-tivismo e à participação activa.

A Lead Magazine é uma revista com substân-cia, que diz o que ainda não foi dito. E como a forma também importa, apostamos em tra-balhos de infogra!a, boa fotogra!a, páginas dinâmicas que aliam a leitura rápida a textos de maior folgo.

Nesta primeira edição encontrarás histórias inspiradoras de indivíduos e projectos em-preendedores. De Portugal ao Mundo, da gestão ao ambiente, na Lead falamos de tudo!

Page 5: LEAD Magazine - Nº 1

A pressão sobre nós, jovens, aumenta a cada dia que passa. Cada vez mais somos vistos como a solução para as di!culdades que a nossa sociedade vive. Será que somos a solução? Como nos preparamos para os desa!os que o fu-turo nos irá colocar?

As experiências que vamos tendo ao longo das nossas vidas vão determinar as nossas aprendizagens pro!ssion-ais, mas acima de tudo pessoais. São estas experiências, o mais diversi!cadas possível, que se revelarão cruciais para a nossa formação e desenvolvimento pessoal de forma a tornarmo-nos indivíduos mais completos.

Numa altura em que vivemos numa sociedade cada vez mais consumista onde o carácter das pessoas se torna es-sencial nas relações que têm na sua vida, mas acima de tudo na relação que têm com a sociedade é importante que, en-quanto jovens, sejamos capazes de ir para além da nossa formação académica, sair da nossa zona de conforto para aprender com a diversidade.

O desenvolvimento de jovens responsáveis e capazes de criar valor para a nossa sociedade torna-se cada vez mais crucial para a construção de uma comunidade mais justa, livre e responsável.

Como Lincoln disse uma vez, se quiserem pôr à prova o carácter de um homem, dêem-lhe poder. O poder de es-colher, o poder de ousar, o poder de transformar. Está nas nossas mãos aceitar este desa!o. Não é fácil, mas é a forma como ultrapassamos as di!culdades que determina o nosso carácter.

A nossa sociedade exige cada vez mais que os jovens se-jam capazes de ser empreendedores, que tenham uma ci-dadania activa, que sejam responsáveis. Sendo assim, nós temos de assumir a responsabilidade pelo nosso futuro e pelo futuro da nossa sociedade.

Numa altura em que muitas questões se levantam sobre o amanhã, não deixamos também nós de levantar a questão: temos a capacidade para lidar com o futuro? São as ex-periências que vamos agarrando que nos dão a chave para encontrar a resposta.

Uma certeza existe… nós somos o futuro e temos de nos preparar para sermos uma solução válida para o país. Uma certeza eu tenho: a nossa qualidade e o nosso potencial faz-me acreditar num Portugal com um futuro brilhante.

NA LINHA DA FRENTE

RUI DUARTEPRESIDENTE DA AIESEC PORTUGAL

fotogra!a: BSMaio de 2010/2011

Page 6: LEAD Magazine - Nº 1

| LEAD MAGAZINE6Para saber mais visite-nos em www.haygroup.com/pt

Investindo em relações duradouras e numa partilha constante de conhecimento.

Companies

Sobre o Hay Group

C

M

Y

CM

MY

CY

CMY

K

HG_ANUNCIO.pdf 1 9/8/11 7:00 PM

Page 7: LEAD Magazine - Nº 1

LEAD MAGAZINE | 7

LIDER

ANÇA

Há momentos que estilhaçam a imagem que temos do mundo. E mudam o rumo da nossa vida. Lembro-me como se fosse hoje: aos seis anos, falaram-me sobre a extin ção dos animais. Algo despertou em mim. Nunca es-quecerei aquelas palavras. Passados três anos, reuni toda a minha família e amigos e, com a ajuda de outras organizações locais, criei a minha ONG: a “Organização Ambiental das Crianças”. Acreditava que ia mu dar o mundo...

Nessa altura ouvimos falar sobre a Conven-ção Am biental das Nações Unidas, no Rio de Janeiro, e questionámo-nos se haveria alguém que rep resentasse a nossa visão do mundo. Aquela era a nossa oportunidade para intervir e atiramo-nos logo ao trabalho. Durante um ano angariámos dinheiro, unimos a comu-nidade e aproveitávamos todos os momentos para praticar os nossos discursos. Até abor-dávamos estranhos na rua. Foi um processo que nos marcou para a vida – uma intensa aprendizagem sobre o poder da acção. Quan-do dei por mim estava no Brasil a discursar perante os mais importantes líderes mundiais da altura. Tinha 12 anos.

Passados todos estes anos ainda recebo car-tas e e-mails de pessoas que vêem o vídeo do meu discurso. A pergunta mais difícil que me colocam é se penso que !z alguma diferença no mundo. Não sei dizer. Infelizmente, o que disse naque la sala, há 19 anos atrás, ainda pode ser dito, mas aprendi que esperar pe-los nossos líderes não é su!ciente, temos de ser nós a fazer algo. Onde realmente se vê a mudança é a nível lo cal. Pode soar um pouco cliché, mas não deixa de ser verdade. O que podemos fazer no nosso jardim é mais real, mais tangível que os diál ogos diplomáticos das convenções. Claro que estes também têm o seu grau de importância, mas as acções em comu-nidade são igualmente importantes.

Os jovens, neste ponto, devem querer ter um papel fundamental. Precisamos que se façam ouvir, que sejam apaixonados pelos vossos ideais e que desa!em aqueles que comandam o mundo. Exijam mais, melhor, mas nunca se esqueçam da vossa responsabili dade enquanto cidadãos. Aqui entramos numa perspectiva ainda mais micro e pessoal: o que podemos fazer nós, no nosso dia-a-dia, para melhorar o mundo? Devemos olhar para os nossos hábitos, manias e questionarmo-nos: faz sen-

tido? Como posso diminuir a minha pegada ecológica e tornar-me mais sus tentável? A!-nal de contas, não é só o ambiente que gan-hará, aqui está igualmente em jogo a nossa saúde, longevidade e qualidade de vida. Outro parâmetro deste olhar recai sobre o estilo de vida altamente individualista do mundo oci-dental. Não con! amos uns nos outros, não conhecemos os nos sos vizinhos - de que for-ma é que esperamos que uma mudança ocorra quando não esperamos que o nosso vizinho faça a coisa certa? Temos que construir essa con!ança.

O meu discurso hoje pode repetido - é ver-dade - mas opto por acreditar que a diferença se constrói uma pessoa de cada vez. E é por isso que luto diariamente. O poder não é um acto isolado, é uma teia de acções, quer a um nível micro, quer a um nível macro. O impor-tante é não esquecer que temos um papel fun-damental. Sempre.

ESPERAR PELOS OUTROS? PARA QUÊ?SEVERN SUZUKI

L

Severn Suzuki, activista ambiental Canadiana, licenciada pela Universidade de Yale (E.U.A.) em Ecologia e Biologia Evolutiva e também uma das organizadoras da Canadian Earth Summit Coalition.

Testemunho recolhido por BFS

fotogra!a: DR

Page 8: LEAD Magazine - Nº 1

| LEAD MAGAZINE8

PREPARA-TE. PLANEIA. AGE!LEADERSHIP TOURNAMENT

“Crise”, “Estamos em crise”, “E mais crise nos espera”. Estas palavras estão por todo o lado: nas páginas de jornais, nos lamentos e protestos de muitos e no realismo puro e duro de outros. Contra factos não há argumentos. O que há também é uma oportunidade de criação de soluções, de trazer novas formas de olhar o mundo. Coadunando esta realidade com a crença que na boa liderança está a diferença entre comandar e inspirar, foi criado pela AIESEC o Leadership Tournament (LT).

Sentado no meio da plateia de uma sala do Pavilhão Atlântico, um participante enverga um blazer escuro, camisas às riscas, botões de punho dourados e uma gravata a condizer. Na cadeira ao lado, a cor garrida da t-shirt e os jeans propositadamente gastos dão o contra-ponto. Ambos fazem parte de uma das 16 melhores equipas nacionais que marcam presen ça na !nal nacional do LT. O êxtase é evidente na sala, a agenda indica que o dia será marcado por desa!os lançados por várias empresas e apresentações do projecto !nal sobre os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM).

“Quando somos jovens, estamos no pico das nossas melhores forças, talentos, generosidade e queremos fazer parte do futuro”, inicia Rute Marques, representante da Bolsa de Valores Sociais a apresentação do que seria mais um dos desa!os. “Essa energia é absolutamente única”, aponta. O ruído da sala aumenta instantaneamente aquando da partida do cronómetro. Cada equipa tem uma pulsação diferente. “De!nimos sempre uma fase de brainstorming bastante alargada”, partilha Samuel Vicente, líder da equipa Global Vision da Universidade de Coimbra. “Depois de termos duas ou três ideias principais dividimo-nos com vis-ta a aplicá-las devidamente”, acrescenta. Num tom mais entusias mado, Manuel Teixeira, da equipa Watermelon, da Universidade Católi ca de Lisboa, aponta que nem sempre há uma estrutura no processo criativo. “A nossa dinâmica era incrível. Podíamos estar até à última a tentar

encontrar uma solução realmente criativa e nos instantes !nais apare-cia sempre aquela ideia chave que fazia toda a diferença”, comenta. Dinâmi ca essa que deu frutos no momento de criação do slogan da equipa: Verdes por fora, maduros por dentro.

17h00: Sala Tejo do Pavilhão Atlântico. Muda-se de sala, aumenta a tensão, não fosse este o momento crucial do dia: a atribuição de pré-mios. Enquanto isso, Nuno Saraiva e Viola Gauci, criadores e organi-zadores do LT, tomam as rédeas por uma última vez. O organizador conquista a atenção dos presentes. “Liderar não é che!ar. Ao contrário do ‘chefe’, o líder não actua apenas de cima para baixo na escada hi-erárquica, de facto, a sua in"uencia não conhece limites hierárquicos”, defende Nuno Saraiva. “A capacidade de um líder não vem do poder que lhe é dado formal mente mas sim do poder que este ganhou baseado nas suas acções e atitudes”, remata.

Em uníssono uma chuva de aplausos ecoa: os OMEGA, equipa vinda do ISCTE, ganha com 69.4 pontos – uma vantagem de apenas 0.52 pon-tos sobre os #e Management Leaders, da Universidade do Al garve. “É bom ver uma luta renhida pela vitória”, comenta Viola Gauci. “Só demonstra o quão bons são os jovens líderes do futuro!”, assevera com um sorriso. Texto de BFS e Fotogra!a por BS

L

Apresentação do Desa!o Intermédio, por uma equipa !nalista, que tinha como estratégia colocar em prática os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio.

Page 9: LEAD Magazine - Nº 1

LEAD MAGAZINE | 9

PASSO-A-PASSO:ELIMINATÓRIAS LOCAIS

Equipas:3 a 5 estudantes universitários de qualquer área de formaçãoConcorrência:restantes equipas da mesma universidadeObjectivo:Resolver 10 case studies dados por empresas, baseados em situações reais

DESAFIO INTERMÉDIO

Equipas:as 2 equipas !nalistas de cada equipa univer-sidade trabalham em conjuntoConcorrência:restantes !nalistas a nível nacionalObjectivo:resolução dos oito Objectivos do Milénio, apresentados pela agência ODM

ELIMINATÓRIA FINAL

Equipas:16 equipas !nalistas das eliminatórias !naisObjectivo:resolução de case studies apresentados no evento !nal, por empresas, e apresentação do desa!o intermédio

Vencedores:1º LugarEquipa OMEGA, do ISCTE com 69.4 pontos2º LugarEquipa "e Managment Leaders, da Universi-dade do Algarve com 68.88 pontos

Viola Gauci, organizadora do LT, a receber os participantes Nuno Saraiva, organizador do LT nos agradecimentos !nais

Equipa Ómega a receber o prémio João Magalhães premeia vencedores com formação na Klim

The Managment Leaders, equipa que !cou em 2º lugar Rui Duarte, presidente da AIESEC Portugal 2010-2011, no discurso de encerramento

Viola Gauci discursa perante a plateia

Page 10: LEAD Magazine - Nº 1

| LEAD MAGAZINE10

UMA IDEIA, UM MUNDOMAKE IT POSSIBLE

Tudo começou com Pedro Ferreira, de 24 anos, em Julho passado. Como Vice-Presi-dente para as relações institucionais e área !nanceira do comité nacional da AIESEC, tinha dois objectivos: trabalhar com escolas secundárias e, através do programa de está-gios da AIESEC, trazer voluntários de todo o mundo para Portugal. “Queríamos desenvolv-er um projecto com impacto na sociedade”, ex-plica Pedro, “por isso escolhemos como tema os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM) promovidos pela ONU”, conclui.

A equação tomou forma e, após meses de planeamento, o resultado provou-se: 36 vol-untários de 13 países chegaram a Lisboa no !nal do mês de Janeiro, o projecto ‘Make It Possible’ concretizou-se. “Estou ansiosa!”, partilha Sophie de 24 anos, vinda da Aústria. “Sinto que os ODM são um tema crucial para o desenvolvimento mundial e nada será mais

cativante que ensiná-los a jovens”, explica a austríaca.

Na Escola D. Pedro V, Urgyen, natural de Amesterdão, pede à turma para se dividir em grupos de cinco. A fragmentação é feita rapi-damente e tem como objectivo a encenação de uma Assembleia de Emergência dos cinco continentes: “Ocorreu uma catástrofe natural numa cidade africana”, lê num português suave Anamaria, romena de 23 anos. “Elaborem um conjunto de medidas prioritárias e de longo prazo que o vosso continente deve estabelecer para ajudar esta população”, pede. O semblan-te de dúvida é visível na cara de muitos alunos, mas, após uns minutos, as soluções começam a de spontar para o papel: “água, alimentos e cui dados médicos”, aponta con!ante Fernan-da, 17 anos, enquanto incentiva as suas colegas a participarem no brainstorming.

“We need to provide basic things !rst, in order to make them stronger”, apresenta à turma Bruno, num sotaque semelhante ao do vocalista da banda que traz na sua bracelete, os Sex Pistols. “Only that way they can start be-ing independent”, conclui. Ali a apresentação tem tudo menos de unilateral. A argumen-tação é forte e incentivada pelos voluntários. “Queremos que eles pensem, desenvolvam o raciocínio, só assim aprenderão”, comenta Guilherme, natural de São Paulo. “É crucial que eles compreendam, nesta idade, que o mundo não é só o que está à sua volta”, adianta pensativa a professora Paula. “A evolução que vi ao longo destas semanas foi simplesmente indescritível”, remata.Texto de BFS e Fotogra!a por BS

L

“Meninos, nada de tocar nos brigadeiros”, avisa a professora Paula Carmelo, enquanto os alunos entram e observam com olhos pecami nosos a mesa do lanche. Na sala 201, da Escola Secundária D. Pedro V, haverá um momento de celebração agridoce pois neste dia fechar-se-á um ciclo. Durante 6 semanas, esta turma do 12º de Humanidades foi acompanhada por Anamaria, Urgyen, Irina e Guilherme, quatro jovens voluntários de vários pontos do mundo que escolheram vir para Portugal ensinar as oito formas de melhorar o mundo.

Page 11: LEAD Magazine - Nº 1

LEAD MAGAZINE | 11

Fernanda Freitas,Apresentadora dos eventos da Make It Possible

Elisabetta Naborri,Estagiária de Itália

Dr. Fernando Nogueira,Presidente da Fundação Millennium BCP

Inês Faria,Vencedora do Make an Impact

“O valor real do voluntariado foi traduzido em números há muito pouco tempo e a nível económico sabemos que cada euro investido numa acção de voluntariado, se traduz depois num retorno de 5 a 8 euros. Mas o que nós recebe-mos em olhares e sorrisos, isso não tem comparação monetária. Sou uma multi-milionaria de afectos.”

“Foram 2 meses muito intensos. Trabalhei imenso e tal recom-pensou pois no colégio onde !z voluntariado, o Colégio do Rosário, Porto, gostaram tanto do desempenho da minha equipa que a direcção nos convidou a dar sessões de sensibilização a turma no 1º ciclo. Fizeram desenhos, cantamos juntos, foi adorável.”

“Com iniciativas destas é que as consciências vão mexer, vai aparecer a criatividadee assim um maior leque de repos-tas a problemas a vários níveis. Como se tem visto nos dias de hoje, não conseguem ser solucio-nados pelos Estados e organi-zações, está também nas mãos da sociedade querer evoluir.”

“Decidi representar o que este projecto me deu e que pode dar ao mundo: a capacidade de fazer a diferença. Nós temos de fazer com que as pessoas se ques-tionem, nós podemos segurar o Mundo, nós podemos desmontar o que está errado e voltar a mon-tar... Parafraseando o presidente norte-americano: Yes we can!”

Créditos da fotogra!a: BS

Professora Paula Carmelo com alguns alunos na Drawing Attention, iniciativa da Make It Possible no Terreiro do Paço, Lisboa

Com desenhos e frases, dezenas de jovens deixaram as suas mensagens de esperança

Urgyen, estagiário holandês, a dar os retoques !nais

Page 12: LEAD Magazine - Nº 1

| LEAD MAGAZINE12

Uma taça cheia de papéis brancos dob-rados. Em cada um deles, um !m: um smile sorri dente dá direito a uma bolacha, um smile triste, nada em troca.

Foi assim que os alunos da Escola Se-cundária Tomás e Cabreira, de Faro, e a Es-cola Secundária de Loulé, decidiram mostrar o quão fortuita é felicidade através da inicia-tiva Drawing for Attention. Quem passou nas ruas de Faro dividiu a atenção entre a rapariga que fazia o pino e as duplas bem dispostas que tinham uma missão simples: fazer dos Objec-tivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM) para 2015, impulsionados pela ONU, tópico de conversa.

Estes são momentos do projecto de impacto nacional Make it Possible, da AIESEC, no Al-garve numa das suas várias iniciativas locais. Michele Catena, estagiário italiano, acom-panhou as escolas ao longo de várias semanas, coleccionando estas imagens. BFS

SABE DO QUE FALO? MAKE IT POSSIBLE

L

Page 13: LEAD Magazine - Nº 1

LEAD MAGAZINE | 13

Créditos da fotogra!a: BS

Page 14: LEAD Magazine - Nº 1

| LEAD MAGAZINE14

L

O SUCESSO PARTILHA-SEPERCURSOS

Estádio Olímpico Yves-du-Manoir, Paris. 80 mil pessoas enchem as bancadas. O ba-rulho é ensurdecedor e Nuno pensa: “ou fujo ou mostro o que sei”. Colocam-se em posição de corrida e ouve-se o som esperado: partida! 400 metros! O público vibra intensamente. O nível de concentração é máximo. 200 metros! O pico da corrida. O adversário mais compli-cado está muito perto e ameaça ultrapassar. 100 metros! A liderança tornou-se óbvia, o esforço também. 50 metros! A sincronia dos corpos faz a força. Carlos ainda não sabe mas está quase a ganhar. Meta !nal. O estádio em polvorosa. “Ganhámos Carlos, ganhámos!”, grita Nuno efusivo. Tudo isso se passa em 52 segundos, mas para ambos é um momento que reviverão para o resto das suas vidas.

Enquanto corriam estavam !sicamente unidos por uma correia de 50 centímetros - tamanho delineado por alguns países, nome-adamente Portugal, para impedir um reforço positivo, isto é, uma ajuda por parte do atleta-guia. Nuno Alpiarça, atleta-guia de 44 anos, correu ao lado de Carlos de Lopes, de 41, du-

rante 15 anos. “Há casamentos que não duram nem metade”, brinca Nuno. O que os uniu foi uma simetria de corpos em movimento, ve-locidade e passadas. Não se recordam como foi o primeiro treino, mas algo foi desde logo evidente: “Isto não se trata apenas de uma questão física, a empatia foi forte desde o princípio”, realça Carlos.

Ser atleta é uma construção constante sem fórmulas de sucesso exacta. Mas ambos par-tilham a mesma visão do que é essencial den-tro e fora da pista: “para se ser o melhor, há que criar objectivos realistas”, avança Carlos, “mas realistas com aspiração a evoluir, senão há um contentamento vazio”, remata. Nuno acrescenta outros factores, a seu ver, primor-diais: “competência, persistência, disciplina, destreza mental e muito suor”. Nos Jogos Paraolímpicos de Pequim, China, em 2008, puseram à prova outra das capacidades que um atleta deve ter: o diagnóstico. As expectati-vas eram altas na prova de estafeta – prova em equipa que tem como objectivo a passagem do testemunho entre as várias extensões - pois

era uma equipa que tinha sido campeã da Eu-ropa em 2005 e mundial em 2006. Nuno tinha avisado a Federação Portuguesa que o facto da prova ser feita à noite, poderia trazer proble-mas a alguns dos membros com de!ciência visual, pois não conseguiriam ver tão bem com luzes arti!ciais. A advertência tornou-se real: “quando o Potra me bate no pé, caio instantaneamente e o Carlos, sem se aperce-ber da situação, continuou a correr”, relembra Nuno. Foram assim desquali!cados na última prova o!cial das suas carreiras com o mundo a assistir.

A dependência não é aqui vista como fraqueza, mas sim como um alicerce para o sucesso. “Sem o Carlos não teria !cado a treinar até tão tarde na minha vida”, confessa Nuno sorridente. Do outro lado da correia, o sentimento é o mesmo, tal como a gratidão. “Fomos duas peças que se encaixaram perfei-tamente, e isso é único”, remata Carlos.Texto de BFS

Carlos, cego, aprendeu que, para ser fora do comum, necessitava de alguém do seu lado. Nuno, por sua vez, sabia que só se sentiria pleno ao dar atenção, con hecimento e alento a alguém com quem pudesse evo-luir. A história não é perfeita. Envolve medalhas de ouro em competições paraolímpicas e uma desquali!-cação na última corrida das suas carreiras como atletas. Olhando para trás, admitem que não mudariam nada e sabem relativizar: “Ganhámos, per demos e o mundo continuou a girar”.

“CONFIANÇA.É ESSA A PEDRA BASILAR DESTA DINÂMICA.”

Carlos Lopes e Nuno Alpiarça no momento da vitória em Paris

Page 15: LEAD Magazine - Nº 1

LEAD MAGAZINE | 15

Enquanto adolescente, Carlos sabia muito bem que ramo pro!ssional que-ria seguir: saúde. Era aluno de cinco nas ciências exac tas, mas no que tocava a letras assumia uma posição mediana. Como amblíople - doença congénita o"álmica que leva à redução ou perda da visão - os professores mostravam-se reticentes sobre a escolha. “Até a direcção da escola falou com os meus pais”, comenta Carlos, “consideravam que a área mais certa para uma pessoa como eu seria humanidades”. Então, aos 14 anos, realista da sua condição, optou por seguir psicologia, não ce-dendo às pressões externas.

Em 1988, já na faculdade e no curso que pretendia, ouviu falar de um grupo de atletis mo só para cegos. Nessa mesma altura, tomou a “dura decisão” de usar bengala. “O meu tra jecto até à faculdade, de Alverca a Lisboa, es tava a ocupar parte das minhas preocu-pações”, relembra o atleta com voz em-bargada. Uma bengala, uma iniciativa pós curricular, duas decisões que sem

Desde os 8 anos que Nuno brincava ao atletismo com os seus irmãos. O de-sporto tornou-se a tradição familiar da sua geração: em 9 irmãos, 4 tornaram-se professores de Educação Física e Nuno um atleta de alta competição. Outra irmã ainda tirou o curso de in-strutora, mas acabou por não seguir os passos familiares. Para além desta par-tilha, Nuno aprendeu que o desporto não era só sobre competição ou apetên-cias físicas, havia algo indispensável: “o que aprendi em termos humanos foi primordial para os meus anos de crescimento”, re#ecte o atleta. “É essa a men sagem que deixo igualmente aos meus atletas: estas competências soci-ais são fundamentais quer no desporto, quer no mundo do trabal ho”, acres-centa.

Nuno con tou igualmente com al-guém que até aos dias de hoje consid-era o seu mentor: o profes sor Joaquim Neves. Conheceu-o aos 12 anos e nun-ca perderam o contacto. “Ele ensinou-me tudo o que havia para ensinar no atletismo”, conta. Tal conhecimento

se dar conta lhe abririam um mundo de possibilidades. Começou a treinar todos os sábados, durante dois meses, e, com o passar do tempo, apercebeu-se que as suas aptidões físicas e mentais o permitiam ultra passar o patamar de desportista amador.

Olhando para a árvore genealógica deste desportista, a aptidão não foi re-cebida com surpresa. O seu primo de 2º grau, com quem coincidentemente partilha o mesmo nome e paixão pelo atletismo, é um dos mais conhecido atletas na praça por tuguesa. Carlos Lopes, hoje com 64 anos, conta com medalhas olímpicas de ouro e prata em atletismo de longa distância. “Apesar de ser de uma modalidade diferente da minha, sempre admirei o seu per-curso”, aponta Carlos. Mas os genes da família Lopes na história do atletismo português não acabam por aqui: “A Maria João Lopes, que foi campeã Ibé-rica 200 e 400 metros na década de 80, era também minha prima”, acrescenta divertido.

revelou-se ainda mais produtivo quan-do chegou às aulas de Biomecânica, na Faculdade de Motricidade Portu-guesa, onde se licenciou. “O professor Joaquim não só me explicava o que faz-er, mas também o porquê de tal movi-mento”, e remata, “por isso tive im enso gozo e facilidade nessa cadeira”.

Enquanto se licenciava em Educação Física, Nuno treinava para ser 400 met-ros barreirista – em barreiras – partic-ipou em inúmeras com petições dentro e fora da fronteira, colocando-se sem-pre entre os primeiros sete lugares. Através do seu treinador da altura, o professor Joaquim Santos, !cou a saber que o Carlos estava sem atleta-guia. “Agora, olhando para trás, é que vejo a dimensão da aventura”, conta com um sorriso rasgado enquanto olha aten-tamente para os atletas que treinavam à sua frente, aquando da entrevista. “Como 400 metros barreirista, fui treinado para ter diferentes ti pos de passadas e velocidades, por isso treinar com o Nuno foi um dos maiores desa-!os da altura”, acrescenta.

DAR SEM MEDIDA

AFINAL CORRE NOS GENESCom o aumentar do nível da sua

perfor mance, Carlos encontrava um problema de difícil solução: encon-trar um atleta-guia que o conseguisse acompanhar, quer nos treinos, quer nas provas. “Em norma é complicado en contrar alguém compatível com o nosso per!l atlético”, partilha, “quando isso acontece, essas pessoas têm carrei-ras próprias”. Tal facto não o impedia de progredir na sua carreira. Um ano após ter começado a treinar, competiu pela primeira vez fora de Portugal, nos campeona tos da Europa de Zurique, em 1989, e conquis tou uma medalha de prata nos 800 metros. “Não tinha atleta-guia e tive que correr com um atleta-guia suíço. Por acaso correu bem, mas precisava de alguém do meu lado a tempo inteiro”. Até que em 1993, Nuno Alpiarça entra na sua vida.

Entre 1993 e 1998, Nuno tornou-se num verdadeiro equilibrista no que to-cava à sua agenda: acompanhava Carlos assiduamente em todas as provas, trei-nava as suas equipas de atletismo, no Sporting, e ainda treinava e participava nas suas provas como 400 metros bar-reirista. “Se quisesse ser realmente bom em tudo o que fazia, tinha de me saber organizar”, confessa, “e foi esse sistema focado que per mitiu manter esse ritmo durante anos”. A partir de 1998, Nuno optou por abdicar da sua carreira como atleta e dedicar-se a Carlos. “Quando me tornei treinador do Carlos, sabia que tinha a oportunidade de lhe dar ainda mais do que havia dado”, aponta, “foi um passo fundamen tal nas nossas carreiras”.

Page 16: LEAD Magazine - Nº 1

| LEAD MAGAZINE16

Page 17: LEAD Magazine - Nº 1

LEAD MAGAZINE | 17

EMPR

EEND

ORISM

O

Já se questionou qual será o melhor mo-mento para empreender? Eu digo: na Uni-versidade. Amigos com conhecimentos e competências complementares? Muitos e dis-poníveis ou pelo menos fáceis de encontrar. Custo da mão-de-obra? Zero (pelo menos se forem todos carolas, tiverem algum tempo disponível e acreditarem na ideia de negócio). Custo da sala de reuniões? Zero (qualquer bar serve). Custo do equipamento? Zero (cada um tem o seu computador ou se não tiver usa o da faculdade). Custo de oportunidade salarial? Zero (quando ganhar um salário confortável di!cilmente toma a opção de arriscar).

Não sou eu apenas quem repara nestas oportunidades. Vejamos os exemplos que nos chegam dos EUA. Facebook, Google e a própria Microso" são exemplos vivos de que o ambiente universitário é o mais fértil para cri-ar novos negócios e inovadores. O Bill Gates não acabou sequer o seu curso – atenção que não recomendo isto a ninguém. Em Silicon Valley, quem não pode pagar um conjunto de programadores, fornece a garagem e o chur-rasco e em troca os amigos e futuros accionis-tas ajudam à criação da embrionária start-up. É um exemplo um pouco extremo mas que se

equipara à abundância de recursos intelectuais que existem nas Universidades e que podem criar projectos que se revelem verdadeiros sucessos amanhã.

As respostas a estas perguntas que colo-quei são a prova de que existem um elevado potencial durante o período universitário. Fe-lizmente existem associações como a AIESEC que estimulam a atitude empreendedora e que abrem janelas a jovens que não tiveram a felicidade de contactar com essa possibili-dade anteriormente, apesar de hoje existirem já bastantes municípios com a preocupação de proporcionar educação a este nível.

Por onde começar? Por um plano de negó-cios, ou pelo menos por um rascunho do que pode vir a ser um plano bem delineado para um conjunto de acções que devem visar um objectivo comum num ambiente bem carac-terizado de concorrentes, clientes e fornece-dores, onde o novo serviço/ produto encon-trará o seu espaço no mercado.

Depois chega o que para o comum dos es-tudantes é o mais difícil - o !nanciamento. Por vezes este aspecto pode ser ultrapassado quando o negócio se consegue !nanciar pelas

vendas, quando se recebe primeiro do que se paga ou quando depende integralmente da mão-de-obra dos empreendedores.

Quando assim não é, convido-o a descobrir um pouco mais sobre os Business Angels, in-divíduos particulares, com capacidade de !-nanciamento e experiência de gestão e estraté-gia, que investem o seu capital pessoal e o seu conhecimento especí!co em projectos com el-evado potencial de crescimento, escaláveis ao mercado global e que se encontram em fases iniciais de desenvolvimento.

Existem cerca de 500 destes investidores um pouco por todo o país e destaco que graças a um fundo de co-investimento recém-criado, dispõem para investir nos próximos dois anos e meio qualquer coisa como 42 Milhões de eu-ros e estão activamente à procura do próximo “Facebook”.

Fica o desa!o: avalie bem a sua ideia, junte a equipa certa e apresente-a aos Business Angels portugueses.

PREPARAR UMA CARREIRA EMPREENDEDORA...NA UNIVERSIDADEFRANCISCO BANHA

E

Francisco BanhaPresidente da Federação Nacionalde Associações de Business Angels

fotogra!a: DR

Page 18: LEAD Magazine - Nº 1

| LEAD MAGAZINE18

EMPRESÁRIOS ESPECIAISRETRATOS

COM 22 ANOS EM JUNHO, 2007Depois de um curso de economia com notas brilhantes e sete propostas de trabalho, Miguel escolhe a Banca de Investimentos para dar os primeiros passos numa carreira que prometia.SETEMBRO, 2007:Quando o despertador toca, Miguel não quer acreditar: “Já?!”. Não se imagina a vender e comprar acções o resto da vida. O projecto !nal de curso, que lhe tinha valido um 18, não lhe sai da cabeça. A vontade de criar uma empresa, sonho que alimenta desde pequeno quando já liderava as brincadeiras, também não.NOVEMBRO, 2007:Despede-se. E começa a investir o tempo em tornar o real o projecto de faculdade, a Sci-ence4You (S4Y). Candidata-se ao programa de !nanciamento FINICIA Jovem e amadurece o projecto: o selo da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL) garante prestígio e os brinquedos cientí!cos são a oportunidade ainda por trabalhar. A decisão é económica, não vale a pena imaginar um Miguel pequeno a desenvolver uma paixão tal por brinquedos que decide prolongar a brin-cadeira para o mundo do trabalho.

30 DE JANEIRO, 2008:Dia da fundação da S4Y. Assina a parceria com a FCUL. Seguem-se os museus de ciên-cia. Hoje só faltam dois em Portugal e já tem as primeiras parcerias em Espanha. Dentro de cada brinquedo há um vale que se traduz em bilhetes de entrada no Visionarium de Aveiro ou no Pavilhão do Conhecimento em Lisboa. É também o início de uma jornada solitária. Os amigos tinham-lhe dito para não arriscar. Mas Miguel abraça o desa!o, aposta a vida na S4Y e falhar não é hipótese. Não quer ter no curriculum a destruição de uma empresa. Dedica-se a tempo inteiro – não acredita em empreendedores em part-time – e faz tudo: porteiro, armazenista, director comercial, di-rector !nanceiro, até designer. Parece que só a qualidade da apresentação das caixas de brin-quedos sofreu com a ousadia.OUTUBRO, 2008:Os primeiros seis brinquedos desenvolvidos pela S4Y, em parceria com a FCUL, são lan-çados no mercado. A Fnac e o El Cort Inglés são os primeiros a acreditar que os seus cli-entes iam comprar a ideia. Hoje a lista é bem maior. É altura também para alargar a equipa. Hoje são 12 pessoas com uma média de idades nos 25 anos: três designers, três gestores, um armazenista, um responsável pela comu-

E

MIGUEL PINA MARTINSCEO DA SCIENCE4YOU

nicação e quatro cientistas que garantem a produção própria dos brinquedos. Trabalham em open space, trocam opiniões sobre o tra-balho e a vida longe das hierarquias, sabendo que o valor mais importante é o empenho.HOJE COM 26 ANOS:Miguel, distinguido como Empreendedor do Ano 2010 pela Comissão Europeia, confunde-se com a empresa, fala sempre com o plural majestático, mesmo quando se refere aos primeiros passos sozinho. Percebe-se porquê: sente a S4Y como casa, é lá que passa, no mínimo, 12 horas por dia. E foi lá que viu a sua ideia expandir-se para Espanha, Angola, Brasil, Reino Unido e Finlândia. Face a isto, o objectivo não podia ser diferente: fazer da S4Y uma empresa de dimensão mundial, sempre com a bandeira de Portugal. Sabe que não é a sua obrigação, mas sente-o como um desí-gnio. Abandonar Portugal não lhe passa pela cabeça. Pelo contrário, se o chamarem para ocupar um cargo político, vai sem olhar para trás, porque Miguel acredita que a política é o melhor instrumento para mudar o país. E hoje, quando o despertador toca, entre as 6h30 e as 7h, acorda bem-disposto e ansioso por chegar ao escritório.

Page 19: LEAD Magazine - Nº 1

LEAD MAGAZINE | 19

SÃO CEOS MAS PODEMOS TRATÁ-LOS POR TU.FOI POUCO DEPOIS DA LICENCIATURA QUE DECIDIRAM TOMAR AS RÉDEAS À VIDA. CRIARAM AS SUAS EMPRESAS E HOJE SÃO MAIS FELIZES.ESTA É A HISTÓRIA, AINDA NO PRINCÍPIO, DE QUATRO JOVENS DESTEMIDOS QUE DECIDIRAM NÃO ESPERAR MAIS. NEM PELO FIM DA CRISE, NEM PELA MATURIDADE PROFISSIONAL, NEM PELO APOIO DA SOCIEDADE.

COM 25 ANOS EM AGOSTO 2008:Miguel decide usar os 15 dias de férias para correr 800 quilómetros de Caminha a Sagres. Quer provar que é possível concretizar os son-hos, mesmo os que muitos se apressam em quali!car como impossíveis. Ao cumprir o objectivo, espera ajudar, a partir daqui, a con-struir a auto-estima dos portugueses e o seu espírito empreendedor. Estes são os primeiros passos do Miguel, regressado a Portugal depois de sete anos a acumular formação académica e experiência pro!ssional lá fora. França, Lon-dres, Washington e China são os países que o viram crescer como estudante, presidente da Associação de Estudantes do King’s Col-lege quando era um perfeito desconhecido ou participar na campanha vencedora do Partido Trabalhista. O último desa!o, antes de regres-sar ao nosso paraíso - como gosta de classi!-car Portugal - passou pelo apoio à criação de uma marca de roupa na China.Enquanto Miguel corria, estavam abertas as inscrições para a primeira edição do concurso de empreendedorismo “Realize o Seu Sonho”. Esperavam-se 50 candidaturas. Mas havia mais aspirantes a empreendedores dispostos a realizar um sonho: 700 pessoas aceitaram o desa!o. Miguel e a equipa !cam surpreendi-dos, mas satisfeitos. Acabavam de criar a opor-tunidade para pensar em soluções e oportuni-dades, não em obstáculos e barreiras. Havia 700 portugueses dispostos a mudar as suas vidas, e, assim, a mudar Portugal. Dos dez !-nalistas escolhidos, sete têm agora os seus pro-jectos em fase de implementação.

MARÇO, 2011:A segunda edição do “Realize o Seu Sonho” é lançada e atinge as 1500 candidaturas. Reúnem-se mais apoios, cria-se uma maior proximidade entre empreendedores e busi-ness angels e melhora-se uma ferramenta que se revela essencial para a estruturação das ideias em projectos: a Dream Factory. Esta ferramenta online permite a pessoas, mesmo sem formação académica na área, estruturar as ideias, testar o plano de negócio e prepa-rar a implementação. E a Dream Factory não discrimina. Serve para quem sonha ter uma empresa, mas também uma associação, or-ganização ou fundação. Para o Miguel, o em-preendedorismo social deve ser valorizado e não esquecido como acontece na maior parte dos concursos deste tipo.HOJE AOS 28 ANOS:Miguel socorre-se do passado para falar do futuro. Relembra o tempo das Descobrimen-tos e as rotas comerciais que os portugueses do século XV e XVI criaram para provar que sempre fomos empreendedores. Que a crise sempre nos inspirou a superação. Miguel olha para o país e admite que é uma dessas fases que atravessamos agora, com os jovens a en-frentar di!culdades a que não estavam habitu-ados. Mas é também tempo de sonhos. Miguel coloca-os em forma de objectivo a dez anos: ajudar milhares de aspirantes a empreendedor, ter a DreamFactory nos curriculae das escolas portuguesas do 9º ao 12º e fundar uma incu-badora da AP. E o maior sonho de todos: tor-nar a AP num símbolo de uma nova atitude em Portugal, em que as pessoas se atrevem a acreditar em si próprias, nos seus projectos e no nosso país como o melhor lugar do mundo para os realizar.

MIGUEL QUEIMADO FUNDADOR DA ACREDITA PORTUGAL

Textos de SSA e Fotogra!a por BS

Fotogra!a: AAP

Page 20: LEAD Magazine - Nº 1

| LEAD MAGAZINE20

DAVID VALENTECEO DA EXPANDGLOBE

FÁBIO RODRIGUESCEO DA DIFERENCIA

COM 23 ANOS EM SETEMBRO, 2009:David regressa a Portugal numa altura em que o país atravessa um período de di!culdade económica. Vem para integrar o programa People Grow do Millennium BCP e nem perde tempo a pensar na conjuntura. Para o David a palavra “crise” é apenas um estado mental e, por isso, depende apenas de cada um de nós escolher vê-la como uma oportunidade ou uma di!culdade. David regressa depois de um semestre em Erasmus e um estágio de verão na Estónia, um ano no programa de estágios internacionais do BCP na Polónia e um ano de mestrado em Maastricht, na Holanda.JULHO, 2010:As dúvidas assaltam-no. Está há um ano em Lisboa, sem viajar, e sente que está a perder as experiências internacionais que o tinham alimentado nos últimos anos. Vê o discurso de Steve Jobs na cerimónia de formatura em Stanford, onde o CEO da Apple faz a plateia re"ectir sobre o sentido da vida. David ques-tiona-se e chega à conclusão que não quer faz-er carreira no BCP. Conheceu pessoas que o desa!aram e aprendeu muito, mas não é aqui-lo que quer para a sua vida. Decide viajar pela Europa durante um mês: primeiro Londres, Polónia e Grécia onde reencontra amigos da vida antiga, e depois Macedónia e Montenegro que descobre sozinho. No !m da viagem, tem a fórmula para a sua felicidade: ser líder do seu caminho, viver experiências internacion-ais e ter um trabalho de constante desa!o. Só não sabe ainda como aplicar a fórmula numa carreira.

COM 21 ANOS EM JUNHO, 2008:Fábio termina a licenciatura e tem de fazer a primeira opção da carreira: trabalhar numa multinacional ou numa PME no sul do país. Como !zera até aqui, escolhe o caminho mais improvável e opta pela segunda opção. Em mente tem o projecto de vida: criar a própria empresa. Acredita que ao assumir o lugar de Director de Marketing e Vendas num jornal regional do Algarve ganhará a experiência que pode vir a ser mais útil no momento de empreender. Foi com esta opção em mente que fez o curso na Universidade do Algarve conciliando com um percurso na AIESEC que culminou na Vice-Presidência da Direcção Nacional.AGOSTO, 2010:O objectivo para ser cumprido perto dos 30 anos, é antecipado. A decisão não é fácil. Só o avô Henrique dá um apoio incondicional desde o início. A família pede-lhe para pen-sar melhor, os amigos chamam-lhe louco. A!nal tem uma vida confortável como Brand Manager numa das três maiores empresas algarvia, mora com a namorada em frente ao mar... e tudo isto numa época de crise. Mas o Fábio, inquieto por natureza, decide arriscar. Estrutura o plano de negócio e vende o carro, um AudiTT, para !nanciar a empresa.

DEZEMBRO, 2010:Fábio funda a Diferencia e muda-se para Oeiras, está mais perto da capital, mas não se afasta do mar. Quer tornar a Diferencia na primeira escolha das empresas que procuram conciliar o marketing com impacto social e acredita que o seu potencial de crescimento passa pelas PME.HOJE AOS 25 ANOS:A Diferencia está dar os primeiros passos e o Fábio ainda é o responsável por tudo. Desde a prospecção comercial à facturação, pas-sando até pelos pormenores burocráticos que o fazem perder mais tempo do que podia im-aginar. Para o futuro, espera dar à sua empresa uma dimensão internacional e criar uma eq-uipa de pessoas felizes. À imagem do próprio Fábio que confessa ser um optimista daqueles que vê sempre o copo meio cheio.

DEZEMBRO, 2010:Deixa o trabalho no BCP e começa a criar as fundações para a ExpandGlobe. Nos últimos meses dedicara-se a olhar para os produtos portugueses e a avaliar quais destes seriam os melhores para exportar para a Europa de Leste – um mercado que conhece bem. Percebe que o vinho tem potencial e é um produto por ex-plorar nesses mercados.HOJE AOS 25 ANOS:Sente que viveu mais nos últimos quatro me-ses, que num ano inteiro em Lisboa. Os desa!-os que se propôs foram alcançados: conseguiu que os maiores e mais premiados produtores de vinho portugueses se juntassem ao seu pro-jecto, assim como os maiores distribuidores na Eslovénia e na Croácia. Mas a Expandglobe do David não se !ca por aqui. Está a ser criada uma plataforma onde, às empresas de vinho, se juntarão as do turismo para promover a marca Portugal. Até ao !m de 2012 a Expand-globe deverá actuar em nove países da Europa de Leste, incluindo Rússia e, até ao !m de 2013, estará no top5 em seis desses mercados. Estes são os objectivos do David que, ao longo do percurso, foi coleccionando mentores com quem gosta de conversar no momento de tomar decisões. São professores, empresários e até amigos – aqueles que fazem as perguntas difíceis.

Page 21: LEAD Magazine - Nº 1

LEAD MAGAZINE | 21

SALTOS DE GIGANTEENTREVISTA: CLÁUDIA CALDEIRINHA

Desde muito cedo, Cláudia Caldeirinha sabia que queria fazer a diferença no mundo e que o seu código postal não seria português. Fez as malas e partiu para Roma ao encontro de uma proposta de trabalho ideal e do seu amor italiano. Passados 14 anos, numa conversa por Skype a partir de Bruxelas, partilhou como foi trabalhar na Comissão Europeia, fazer parte da equipa de George Soros e chegar às Nações Uni-das. Cargos à parte, pede logo para ser tratada por ‘tu’. Enquanto fala, as suas mãos exibem uma dança !uida e sincronizada. O tom de entusiasmo em qualquer tema é latente, especialmente quando na mesa está o futuro de Portugal e do quanto quer fazer parte dele. As malas de regresso ainda estão vazias, mas por pouco tempo.

E

O facto de teres nascido em Timor foi deter-minante para a tua vida?Sim, vim para Lisboa com três anos, mas os meus pais mantiveram sempre o contacto com a comu nidade timorense exilada em Portugal. A minha noção de responsabilidade política e social !cou muito marcada por isso. Tinha 16 anos e já andava a fazer abaixo-assinados para a libertação de Timor. Comecei muito cedo a trabalhar com Organizações Não Governa-mentais (ONG).

Porque é que tiveste essa necessidade de começar tão cedo?Porque para mim sempre foi muito evidente. O facto de ter nascido num sítio onde havia genocídio, injustiças atrozes, pessoas a voltar-em com marcas de tortura no corpo, que tin-ham visto a família ser violada e morta... Isto dá a volta à cabeça de uma miúda de 16 anos. Apercebi-me que havia muita coisa errada no mundo e que era preciso algo.

Decidiste estudar Relações Internacionais. Como foram os tempos de faculdade?Foram tempos interessantes. Decidi organizar um movimento académico para os Direi-tos Humanos. Trabalhámos muito sobre a questão de Timor, do Saara Ocidental, do Curdis tão. Para além disso, também organiza-mos uma luta contra as propinas. Começaram a chamar-me comunista, porque foi a primeira revolução dentro do ISCSP, que, na altura, era profundamente conservador.

É-te natural essa urgência em criar, mel-horar?É-me intrínseco. E ali havia espaço para isso. Mas também havia muito que fazer. (risos) Tive a sorte de ter professores fascinantes como por exemplo o Adelino Maltez, um ver-dadeiro pensador. E como sou muito provo-cadora, espicaçava-me sempre que podia em relação às minhas convicções. Dizia-me que isto dos idealismos era típico dos 20 anos, que, quando fosse mais velha, isso passava.

E respondias o quê?Dizia-lhe que não, muito evidentemente. É muito engraçado porque, 20 anos depois, quando nos encontrámos, disse-me: “Con-tinuas a mesma”. “Pois, os idealismos só mor-rem se quisermos”, respondi-lhe. (risos).Aos teus olhos como era Portugal na altura?Era muito mais fechado, o que não deixa va muito espaço para uma pessoa como eu. As instituições eram feitas por e para pessoas quadradas,(risos). E as poucas onde havia pes-soas que não estavam assim, já para lá camin-havam.

Qual era a tua maior ambição aos 20 anos?Sair. Conhecer o mundo. Ir ver o que havia lá fora.

Texto de BFS

Claúdia Caldeirinha com António Guterres,Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados

fotogra!a: FAIRconsultancy

Page 22: LEAD Magazine - Nº 1

| LEAD MAGAZINE22

E começaste por onde?Comecei a ver tudo o que havia a nível de pos-sibilidades de bolsas de estudo e consegui uma de mestrado em Politica Internacional e Di-reitos Humanos, do British Council. Eu tinha interesse em dar maior digni dade às pessoas, qualidade de vida. Achava que as soluções ain-da se encontravam a nível macro, e portanto fui fazer o mestrado em Gales, num dos de-partamentos mais antigos de política internac-ional do mundo. Foi uma revolução para mim.

Em que sentido?Descobri que tudo o que tinha dado em Por-tugal não era senão a visão das relações inter-nacionais dos meus professores. E que havia, mesmo do ponto de vista conceptual, teórico e académico, um mundo gigantesco por trás. Foi um momento de switch.

Desde muito cedo !zeste missões por ONG’s portuguesas e internacionais, qual te marcou mais?Essa é difícil. Provavelmente a do Saara Oci-dental onde fui identi!car as necessidades de um projecto de apoio ao desenvolvimento a crianças com de!ciência. Tinha 22 anos e achava que ia salvar o mundo. Fiquei lá duas ou três semanas e quando regressei apercebi-me que a!nal tinha feito pouquíssimo. As lições de vida que aquelas pessoas me tinham dado eram desproporcionalmente maiores do que o que eu algum dia pudesse fazer por elas.

Que lição retiraste?Primeiro, foi a humildade. Os nossos peque-nos egos são todos dispensáveis. A nível políti-co tem a ver com o próprio sentido da ajuda ao desenvolvimento, tal como ainda é feita – esta-mos a falar de um paradigma que não tem mu-dado muito. É um paradigma existencialista, em que o norte manda pessoas cheias de con-hecimento para o sul, para ensiná-los como é que eles têm de fazer as coisas. A maior parte das vezes sabem-no fazer melhor que nós... Falta é o dinheiro e um pequeno pilar técnico. A ajuda ao desenvolvimento tem sido uma das grandes desilusões actuais porque o dinheiro investido não tem sido proporcional ao im-pacto. Não está apropriado. Por exemplo, em vez de mandarmos 500 turistas do desenvolvi-mento - porque, no fundo, quando fui para lá era uma turista do desenvolvimento cheia de boas intenções – uma das soluções passaria por enviar menos pessoas e utilizar esse din-heiro no investimento da capacitação local. Criar o tal owernship, futuro.

Foi também numa dessas missões que te apaixo naste pelo teu marido.Sim, em Roma. Foi amor à primeira vista, uma história muito bonita... Encontramo-nos numa missão sobre direitos humanos criada para o sul da Turquia. Quando conheci Roma foi maravilhoso, quis logo ir para lá viver, mas, quando me mudei, apercebi-me que entre a realidade e aparência havia uma grande difer-ença. (risos) Atenção, tornou-se no meu seg-undo país, mas um país que elegeu três vezes, democraticamente, um atrasado mental como o Berlusconi... O problema não é só ele mas

sim as pessoas que votam neles. Ele não fez uma revolução militar, chegou através de uma eleição democrática.

Essa mudança de país foi pouco depois do mestrado?Foi pouco tempo depois, em 1997, julgo eu. Em Portugal, não havia lugar para mim.Tinha de sair. O facto de estar apaixonada pelo meu italiano, fornecia-me a porta certa para escapar.

Foi nessa mesma altura que começaste a fazer missões com as Nações Unidas, como é que chegaste lá?Com muita preserverança. Muita. Passava muito tempo à procura de oportunidades em várias agências, universidades, que me per-mitissem viajar, conhecer o mundo. Que me pudessem colocar em contacto com as bases.

Quais eram essas bases?As pessoas, os desprivilegiados do mundo. Parece um bocado cliché, mas era mesmo isso.

O que é que te move?O instinto, a intuição. Temos muita a tendên-cia a racionalizar e afastarmo-nos do nosso instinto. E uma coisa que me apercebi é que se nos mantivermos próximos do instinto aca-bamos por encontrar o bom caminho.

Foi esse instinto que te levou a Bruxelas?O meu doutoramento era sobre estra tégias de capacitação e empowerment da so ciedade civil no geral e comecei a ter que fazer estágios na Comissão Europeia, trabalhar com várias fundações... Um dia alguém me envia um e-mail com uma oferta de trabalho da Fundação Soros, do George Soros, que era a minha cara. Fiz imensas entrevistas, tudo por telefone, e acabei por ir a Washington e con trataram-me para Directora Regional na Eu ropa do De-mocracy Coalition Project. Bruxelas tornou-se a minha casa até hoje.

Esse passo representou uma mudança na tua vida. Porquê?Porque venho de Portugal, de uma família normal sem nenhum tipo de privilégios so-ciais ou políticos. Nunca tive cunhas. De re-pente estava sentada à mesa com o George Soros que, na altura, só tinha acabado de destabilizar a economia in glesa e a economia do pací!co, percebes?

Sentias-te intimidada?Não, não. Aprendi imenso.

Leccionas na Universidade de Roma um mestrado sobre Liderança. Em Portugal quem consideras ter um bom per!l de líder político?Não te vou dizer isso (risos). Depois do George Soros, trabalhei com alguns dos nosso políticos no Clube Madrid. António Guterres, Cavaco Silva – agora em suspensão por causa do mandato – Jorge Sampaio, Mário Soares e, mais frequentemente, o António Vitorino. Aprendi que é fácil criticar, que os líderes são maus, que não chegam, mas ser líder não é

fácil. Tem que ter a capacidade de dar sentido, dar estratégias com objectivos e mobilizar as pessoas para che gar aos resultados. Não é nada fácil. Se algum dia tivesse essa possibili-dade seria algo que nunca quereria ser.

E daqui a dez anos vês-te onde?Em Portugal... estou a tentar ir para Portugal. Estou começar a ver onde há possibilidade de me integrar e pode ser que haja coisas boas a sair desta crise. Aliás, estou convencida que há.

O que mais vamos aprender?Podemos aprender a ser mais es senciais, acei-tar que ser pequeno não é mau. Não temos que ser grandes. Small is beauti ful. Aprenda-mos a valorizar-nos, a sermos orgulhosamente pequenos mas bons. A crise é um momento de inovação e a criatividade é fundamental. As pessoas com boas ideias são fundamentais, sobretudo no alimentar de uma mentalidade pró-activa.

Se vieres para Portugal, vais querer trabalhar em quê?Há o ideal e há o real. Idealmente gostaria muito de poder ir na lógica de participar na capacitação. Gostaria muito de fazer qualquer coisa que pudesse ajudar – e estou-te a falar de um sonho – a mudar esta mentali dade catastro!sta, negativa, auto-"agelante e que parte das pessoas tem e vai reproduzindo.

E como é que se transforma esse modelo?Isso acredito no que diz o Dalai Lama. “An-tes de quereres mudar o mundo, começa por te mudar a ti próprio”. Portanto, hoje em dia, quando tenho as minhas tendências de ser hu-mano e de portuguesa e apetece-me criticar, páro.

Realisticamente, queres fazer o quê?Tenho duas áreas de formação: relações inter-nacionais e desenvolvimento organizacional em liderança, coaching. Uma é mais macro, outra é mais micro. Cada uma delas é uma maneira diferente de olhar para o ser humano. Política Internacional e tudo o resto que !z na primeira parte da minha vida, foi ligada à noção de que precisas de criar redes, institu-ições e leis que permitam proteger a pessoa. A certa altura, com idade e experiência, aper-cebi-me que a minha in"uência não era muito grande. O que estava a fazer era a contribuir para um processo demasiado burocrático e longe da pessoa. E portanto o que !z foi baixar - não no sentido hierárquico - e me aproximar do contacto com as pessoas. Se antes tratava dos direitos das mulheres, através de redes, agora passo mais tempo com as pessoas.

E agora, passadas tantas experiências, qual a tua maior ambição?(Pausa) Ser feliz e ajudar as pessoas à minha volta a serem mais felizes.

Page 23: LEAD Magazine - Nº 1

LEAD MAGAZINE | 23

QUAIS AS MAIS VALIAS DE SER CLIENTE UNIVERSITÁRIO NA CGD?Pertencer ao Segmento Universitário na Caixa signi!ca dispor de um conjunto de soluções !-nanceiras e benefícios criados especi!camente para satisfazer as necessidades que um es-tudante do ensino superior apresenta durante a sua vida académica.

Se considerarmos que o ciclo de vida académi-co é composto por três fases, nomeadamente: Inicio da Vida Académica; Frequência da En-sino superior Transição para a Vida Pro!s-sional. Para cada uma destas etapas o Uni-versitário manifesta diferentes necessidades, podemos a!rmar que a Caixa apresenta ac-tualmente soluções para cada uma destas eta-pas. O esquema seguinte ilustra bem a ligação entre a oferta da Caixa versus as necessidades dos Universitários, associado ao percurso da vida que os estudantes efectuam:

O QUE É O CAIXA EMPREENDER?O Caixa Empreender é um conjunto de soluções destinadas a que pretende iniciar ou expandir o seu próprio negócio. A solução Caixa Empreender foi lançada em 2010 ten-do como objectivo estimular o espírito em-preendedor dos Portugueses, proporcionando soluções, quer ao nível de !nanciamento, quer ao nível de produtos e serviços, a quem tem espírito empreendedor. Para quem sonha em ter o seu próprio negócio, a solução Caixa Em-preender disponibiliza quatro linhas de !nan-ciamento, que lhe permitirão criar expandir o seu negócio. A linha Caixa Jovem Empreende-dor, a Linha de Crédito ANJE e a Linha de Crédito IEFP resultam de parcerias da Caixa com as referidas instituições.

QUAIS OS PRÉ-REQUISITOS PARA A CANDIDA-TURA NA CAIXA EMPREENDER?Antes de efectuarem a sua candidatura ao Caixa Empreender, os promotores deverão respeitar os “pré-requisitos” base para se ser empreendedor, nomeadamente: Ser Inovador; Ter capacidade para criar Valor; Saber avaliar o Mercado; Planear e gerir com e!cácia. Se um promotor se vê reconhecido nestes valores, es-senciais para a criação do próprio negócio, e pretende recorrer a !nanciamento bancário, necessita primeiramente de preparar o seu projecto. Um projecto bem estruturado é um projecto que apresenta garantias e segurança de investimento, tornando o processo de análise e decisão do !nanciamento rápido. E nunca esquecendo que criar o próprio negócio é um projecto de vida.

PORQUÊ E PARA QUEM FOI CRIADA A FÓRMULA U?A Solução Fórmula_U foi criada especi!ca-mente para os Estudantes do Ensino Superior que pretendem adquirir um automóvel, novo ou usado, ou moto. Esta Solução apresenta condições "exíveis quer em Crédito quer em Leasing, com vantagens nos preços para os estudantes do ensino superior, para além de disponibilizar um desconto de 15% no seguro da OK Teleseguro.

QUAIS OS BENEFÍCIOS DE TER UMA CONTA POUPANÇA NA CGD?A Caixa enquanto Banco com maior nível de segurança no sistema !nanceiro português pode-se assumir como uma relevante opção para quem pretende aplicar as poupanças. Associado ao valor da con!ança e segurança a Caixa incorpora na sua oferta um diversi!-cado conjunto de opções para diferentes níveis de interesse e objectivos. Os clientes Caixa têm oportunidade de verem remunerado os seus depósitos com muito atractivas taxas de juro. Vale a pena conhecer os depósitos Caixa através do site www.cgd.pt.

O QUE É O CRÉDITO COM GARANTIA MÚTUA (CGM)?.O Crédito de Garantia Mutua, é uma iniciativa do anterior Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (MCTES) e que resulta da celebração de um protocolo entre a CGD e as Sociedades de Garantia Mútua (SGM) com o objectivo de criar condições de !nanciamento aos estudantes universitários, sem a necessi-dade de recorrer a garantias ou !adores. Este Produto destina-se a alunos inscritos em cur-sos de licenciatura, mestrado e doutoramen-to, pós-graduação, cursos de especialização tecnológica, bem como alunos abrangidos por programas de mobilidade internacional, nomeadamente para estadias no estrangeiro de 3 a 12 meses, no âmbito dos Programas ERASMUS e outros programas de intercâm-bio internacional de estudantes. Os prazos de !nanciamento poderão ir até aos 16 anos, e o montante até ao máximo de # 5.000, por ano de curso com aproveitamento, com um máx-imo global de # 25.000 (em cursos de 5 anos).

UNIVERSITÁRIO NA CGDE

Page 24: LEAD Magazine - Nº 1

| LEAD MAGAZINE24

Page 25: LEAD Magazine - Nº 1

LEAD MAGAZINE | 25

INOV

AÇÃO

Vivemos num momento particularmente difícil da nossa vida comum, em que nos deparamos com problemas !nanceiros e económicos de natureza complexa e de difícil resolução. Torna-se assim fundamental pro-curar encontrar respostas colectivas, mobili-zando as energias e recursos disponíveis (in-telectuais, cívicos e de empreendedorismo) e identi!cando espaços comuns de actuação.

As cidades emergem, cada vez mais, como um palco particularmente rico, quer pela signi!cativa concentração de pessoas, infra-estruturas e conhecimento, quer pelas con-dições que oferecem para estimular a conexão social, o compromisso cívico e a mobilização colectiva para resolver problemas comuns.

Neste sentido, e perante as actuais di!cul-dades, é fundamental re"ectir sobre os mé-todos adequados para apoiar a mobilização cívica em torno da quali!cação e valorização do papel das cidades, no que podemos des-ignar por ‘inovação social pelas cidades’.

O tema da inovação social tem vindo a ganhar um crescente interesse quer no meio académi-co e pro!ssional quer no político, destacando-se a esse propósito uma iniciativa recente da Comissão Europeia que visa ‘criar uma comu-

INOVAÇÃO SOCIAL PELAS CIDADESJOSÉ CARLOS MOTA

nidade de inovadores sociais a nível europeu que partilhem informação e aprendizagens’.

A designação não sendo nova tem tido um desenvolvimento recente relacionado com a ‘procura de novas ideias (produtos, serviços ou modelos) que simultaneamente respondam a novas necessidades sociais (por ex: integração social, promoção da cultura, protecção do am-biente) e novas formas de trabalho colaborativo’.

Apesar de alguns problemas relaciona-dos com di!culdades de reconhecimento e visibilidade, pequena dimensão e fragmen-tação das iniciativas, as áreas de interven-ção da inovação social começam a alargar-se e a responder a um crescente número de desa!os da sociedade contemporânea.

Neste quadro, surgiu recentemente em Por-tugal o movimento ‘CIDADES PELA RETO-MA’ (http://noeconomicrecoverywithoutci-ties.blogs.sapo.pt/) que se pretende a!rmar como um desa!o para promover e discutir o papel das cidades neste contexto de transição e re"ectir sobre como podem os cidadãos or-ganizar-se para ajudar a encontrar respostas para os problemas concretos do seu espaço de vida colectiva (a rua, o bairro e a cidade) e para valorizar e potenciar os recursos existentes.

No âmbito deste movimento estão a desen-volver-se dois projectos. O primeiro é uma rede de re"exão sobre ‘movimentos cívicos de cidade’, designada ‘GLOBAL CITY 2.0’, no âmbito da qual se está a produzir um mapa de ‘blogues [ou sites] de ruas, bairros, vilas ou cidades’ promovidos por cidadãos, grupos ou instituições que pretendem pensar de forma colaborativa sobre o futuro das suas cidades (http://globalcity.blogs.sapo.pt/). O segundo pretende identi!car ‘PROJECTOS URBANOS DE ‘BAIXO-CUSTO’ E ‘ELEVADO BENEFÍ-CIO’ com potencial de geração de emprego, de animação da actividade económica e so-cial e de organização espacial e funcional das cidades (http://ruadasideias.blogs.sapo.pt/).

Num momento crítico da nossa vida colecti-va esta é uma oportunidade importante para mobilizarmos o nosso esforço individual em torno de um objectivo comum - a construção de um futuro diferente para as nossas cidades.

A

José Carlos Motadocente e investigador da SACSJP - Universidade de Aveiro [email protected]

fotogra!a: Cláudia Pinto

Page 26: LEAD Magazine - Nº 1

| LEAD MAGAZINE26

O PAPEL. QUAL PAPEL?INFOGRAFIA

A

COMO É QUE DE UMA ÁRVORE NASCE UMA FOLHA DE PAPEL? A LEAD MAGAZINE ACOMPANHOU O PROCESSO DESDE A FLORESTA ATÉ CHE-GAR À SECRETÁRIA. PELO CAMINHO DESCOBRIMOS QUE A PRODUÇÃO PODE SER SUSTENTÁVEL E AMIGA DO AMBIENTE. ENTRA NESTA VIAGEM COM O GRUPO PORTUCEL SOPORCEL (PS).

FLORESTA

PARCERIA COM A WWF(World Wide Found for Nature)com o projecto New Generation of Plants

CERTIFICAÇÃO FLORESTAL QUE GARANTE A ORIGEM DA MATÉRIA-PRIMA

Florestação que

PREVINEo aquecimento global

FÁBRICAS DEPASTA E PAPEL

Estão em três pontos do país:

SETÚBAL, CACIA E FIGUEIRA DA FOZ

Energias renováveis:

BIOMASSAsão usadas nas fábricas de Pasta essencialmente.

GESTÃO DE RESÍDUOS:80% dos resíduos são reutilizados no próprio processo produtivo

Dispõe actualmente de uma capacidade instalada de1,6 MILHÕES DE TONELADAS DE PAPEL de 1,4 milhões de toneladas de pasta de celulose (das quais 1,1 milhões integradas em papel) e de 2,5 TWh/ano de energia eléctrica, atingindo (em 2010) um volume de negócios anual de aproximada-mente 1 400 milhões de euros.

Page 27: LEAD Magazine - Nº 1

LEAD MAGAZINE | 27

CLIENTE FINAL O papel Navigator é o preferido dosconsumidores,por isso o grupo PS é o

LÍDER MUNDIALem papel Premium de escritório

DISTRIBUIÇÃO

NOS EUA O GRUPO PS CONTACOM CINCO PLATAFORMASDE DISTRIBUIÇÃOna costa este e leste: Los Angeles, Houston,Savannah, Baltimore e Port Elizabeth

94% das vendas para mais de

100 países nos cinco continentes

O papel é distribuído através dos portos de Leixões (3%), Figueira (20%), Sines (16%), Lisboa (31%) e Setúbal (30%)

Page 28: LEAD Magazine - Nº 1

| LEAD MAGAZINE28

Luísa Valle, Directora para o Programa Gul-benkian de Desenvolvimento Humano, usa as mãos para sublinhar as palavras que lhe saem mais lentas que o seu pensamento. Encontrá-mo-nos num !m de tarde, nos escritórios da Gulbenkian, com o sol e o verde do jardim a entrarem pela janela. Foi este cenário que in-spirou uma entrevista a começar no projecto Ideias de Origem Portuguesa (IOP) e a acabar a discutir o estado do país e a capacidade em-preendedora dos portugueses em Portugal e lá fora. Foi a estes cinco milhões de emigrantes que o IOP, criado pela Fundação Calouste Gulbenkian em parceria com a Fundação Tal-ento, lançou o desa!o: 203 pessoas respond-eram com projectos de empreendedorismo social para serem executados em Portugal. As dez melhores ideias já foram escolhidas e terão apoio à sua imlementação. Texto de SSA

Porquê uma iniciativa de empreendedoris-mo dirigida aos portugueses lá fora?Porque estamos a passar uma fase de alguma depressão, de grande crise para o país. Senti-mo-nos todos um pouco perdidos e, no meio disto tudo, esquecemo-nos que não somos só dez milhões de portugueses. Somos pelo menos mais cinco milhões a viver fora deste rectângulo, por todo o mundo. Admitimos que seria muito interessante contribuir para construir pontes entre toda essa diáspora, todo esse conhecimento e todo esse amor a este país que vive no coração de uma boa parte desses cinco milhões de portugueses. Unidos teremos muito mais hipóteses de encontrar respostas e saídas.

E qual é o objectivo fundamental: pôr as pes-soas a pensar ou levá-las à acção pondo as ideias em prática?Eu diria que é um pouco as duas coisas. É pedir às pessoas que estão de fora que re-"ictam sobre este país, porque como estão menos emocionalmente afectadas, conseguem ser mais racionais e ter melhores ideias. E por outro lado, é pedir às pessoas que retirem id-eias e conhecimento inovadores da experiên-cia que estão a viver para os aplicar em Por-tugal.O que é uma boa ideia?Quando falamos em melhores ideias estamos a falar em inovação, motivação e em exequibili-dade. Há ali ideias fantásticas, mas dependem de tantos factores e de tantos re cursos que não são exequíveis no quadro deste concurso.

Uma vez escolhidas as melhores ideias como se assegura que passam à realidade?Esse é o nosso grande sonho por trás disto tudo. Vamos ter formação de mentoring às dez melhores ideias. O projecto vencedor é !-nanciado pela fundação [com um prémio de 50 mil euros]. Em relação aos outros, há uma grande vontade nossa de par ticipar nesse pro-cesso para tentar encontrar !nanciadores.

A

15 MILHÕESDE BOAS IDEIASENTREVISTA

Page 29: LEAD Magazine - Nº 1

LEAD MAGAZINE | 29

DEVÍAMOS BEBERESSA CULTURA[DO EMPREENDEDORISMO]NO BIBERÃO EM NOSSA CASA.

A forma de divulgação privilegiada foi a in-ternet, através do Facebook e do Twitter, por exemplo, que são usa dos sobretudo pelos mais novos. É nos jovens que estão as respostas?Não necessariamente. Eu considero-me uma criativa, tenho ideias e não sou propriamente jovem. Agora os jovens são aqueles que po-dem e devem assumir um compromisso nes-tas coisas porque o futuro é deles, é mais de-les do que dos mais velhos. E eu acho que os verdadeiramente jovens, aqueles que estão a sair agora da faculdade, têm uma consciência de cidadania muito maior do que os pais, os avós ou bisavós. E é a primeira geração portu-guesa que acorda para esse sentido de respon-sabilidade. Até chegar a vocês havia muito esta cultura de “o Estado é que trata das coisas, a responsabilidade é sempre dos outros”. Há vários casos que, felizmente, são excepção a esta regra, mas a maioria era assim que pen-sava. A minha percepção é que esta geração mais nova está muito afastada da política mas tem uma consciência social forte no que diz respeito às preocupações com o ambiente, a solidariedade, a ajuda ao desenvolvimento, a pobreza… com as grandes causas da actu-alidade e que marcam a nossa sociedade.Quando se lança um concurso destes não se inibe ninguém de concorrer, mas achámos que provavelmente o target que mais rapidamente nos responderia seriam os mais novos, daí que nós tenhamos adoptado como meios privile-giados de comunicação as redes sociais.

O IOP teve 203 participações. O problema dos portugueses é a concretização? Porque ideias, pelo que se vê, até há.Temos algumas di!culdades de planear, somos muito burocratizados, adoramos a adrenalina, por isso, quando executamos, é sempre a cor-rer. Mas temos uma grande capacidade de “de-senrascanço” e, essa capacidade de responder na hora quando os outros são incapazes, é uma qual-idade. Colegas meus na União Eu ropeia contam-me que os portugueses são sempre chamados para resolver problemas de última hora.

Somos desenrascados. E empreendedores, também?Nós somos empreendedores, não temos é a cultura do empreendedorismo. Ou seja, no nosso ADN há essa capacidade. Temos um enorme espírito de aventura. Ao longo dos séculos, mostrámos sempre uma enorme ca-pacidade para saltar para fora de pé. Isso são actos de coragem, é capacidade de mudar – é empreendedorismo. Mas fomos perdendo essa cultura. Agora só somos empreendedores, porque nos obrigam, por exemplo porque perdemos o emprego. Não acontece porque acordamos de manhã e pensamos que temos de criar o nosso próprio posto de trabalho. Devíamos beber essa cultura no biberão em nossa casa, no seio da família, e devia ser-nos transmitida na escola também. As coisas estão a mudar, mas até há muito pouco tempo todos éramos educados para sermos empregados de outros e não para assumirmos o nosso próprio destino.Muitas vezes as pessoas não assumem o próp-rio destino porque têm medo de falhar. E isso não é característica dos portugueses, é a cultura europeia: não admitimos falhas e er-ros. Alguém que experimente um percurso de empreendedorismo e falha !ca imediata mente marcado. Di!cilmente volta a encontrar apoio da sociedade e dos bancos, perde credi-bilidade. A própria pessoa sente vergonha. Se for para os Estados Unidos, a cultura é difer-ente. Para eles é perfeitamente natural e nor-mal que as pessoas não acertem à primeira. É até é extremamente valorizado alguém que teve um insucesso e que, mais tarde, aparece com uma ideia bem trabalhada e com a cor-agem de voltar ao princípio e começar do zero. São estas sociedades que criam condições para que as pessoas sejam empreendedoras. O erro e o insucesso podem ser formas importantís-simas de aprendizagem e que nos permitem uma segunda experiência muito mais am-biciosa e muitíssimo mais bem-sucedida. O paradigma é sempre o sucesso sem se perceber que, para lá chegar, se tropeçou pelo caminho.

A crise que estamos a viver é uma boa altura para arriscar dar esse passo?Quem gosta de ler e sabe alguma coisa de História percebe que os momentos de crise são os grandes momentos de oportunidade. Porque são os momentos em que é possível fazer rupturas mais facilmente. Saibamos nós ter a força para saber fazer esse aproveitamen-to. Não podemos é dormir na forma. E isso é um apelo que eu faço todos os dias na família e no quadro da pro!ssão: não podemos ador-mecer. Nós vamos passar por momentos de uma enorme di!culdade, momentos de pôr à prova a nossa resiliência, a nossa capacidade de sobrevivência, a nossa capacidade de man-termos viva a nossa humanidade e o que de melhor temos enquanto seres humanos que é estarmos atentos uns aos outros. Oxalá que nos consigamos manter humanos e solidários e pôr ao serviço deste país o nosso poder de imaginar, de desenrascar, de romper os hábi-tos e processos. Temos de rever tudo. Nós fo-mos, à medida que os anos foram passando, confundindo felicidade com “ter”. Todos nós vamos passar a ter menos coisas. Nós temos é de valorizar as pessoas fantásticas que o nosso país tem, a segurança, o sol, uma História de que nos podemos orgulhar e onde ir buscar lições, energia e força para olhar em frente e ter es perança para construir o nosso futuro. Não podemos é !car de braços cruzados e pensar que algum D. Sebastião ou algum pres-idente de partido vai encontrar essa resposta. Não. Cada um de nós vai ter de desempenhar esse papel. Temos que assumir participação, ser cidadãos, temos de estar presentes quando formos chamados a ter voz. Por isso temos de acreditar em nós, porque ideias há, não só no IOP. Temos é de encontrar em nós as forças para as pôr de pé.

fotogra!a: Fundação Gulbenkian

Luísa Valle, Directora para o Programa Gulbenkian de Desenvolvimento Humano

Page 30: LEAD Magazine - Nº 1

| LEAD MAGAZINE30

Page 31: LEAD Magazine - Nº 1

LEAD MAGAZINE | 31

INTE

RNAC

IONA

L

Pela primeira vez, aos 18 anos, saí de Portu-gal sem a minha família. Fui para um campo de férias, em Cabo Verde, e entretive-me a aprender os vários dialectos, a provar a lagosta grelhada, a cachupa e o côco ralado, a rever velhos amigos que tinha feito em Portugal e a fazer novos. Percebi que gostava de me mis-turar noutras culturas.

E este sentimento perseguiu-me sempre. Aos 22 anos, quando estava a acabar o curso de Engenharia Electrotécnica e Computado-res, entrei numa empresa de projectos de mi-croships. Todos os !ns de tarde, durante um ano, dava por mim a sonhar acordado. Não conseguia deixar de pensar que era a altura certa: não tinha casa nem carro para pagar. Via-me a passar uma temporada a viajar, a conhecer locais que tinha no imaginário, quem sabe até a visitar amigos e família espal-hados pelo mundo.

Em Setembro de 2007 tomei a decisão. Fui ter com os meus chefes para apresentar a de-missão. Um deles disse-me que invejava este meu passo e que gostava de fazer o mesmo.

Parti no dia 5 de Fevereiro de 2008. Apanhei o metro, depois o comboio da ponte e parei na estação de serviço da Amora onde fui de boleia com um casal espanhol até Cádiz, em Espanha. O meu objectivo era chegar a Marro-cos. Queria perceber se gostava de viajar soz-

O MUNDO EM 19 MESESJOÃO LOPES AGUIAR

inho, se me adaptava a África, se queria voltar para trás e regressar ao meu trabalho… mas, caso tudo corresse bem, tinha um esboço de viagem até Dakar, no Senegal, em plena África Ocidental.

A “temporada” acabou se prolongar por 19 meses. Estive um mês a fazer voluntariado na aldeia de Massaca, em Moçambique, com crianças, algumas delas infectadas com SIDA. Foi uma lição de vida. No interior do estado de São Paulo, participei no processo de trans-formação da Fazenda Roseira num centro cultural. Aprendi sobre como viver uma vida simples. Nos arredores de Sidney, integrei a equipa de cozinha de uma quinta biológica e dei os primeiros passos na meditação. Durante a viagem percebi que o mais importante é ser generoso, agradável e genuíno com as pessoas com quem nos cruzamos. Elas devolvem-nos exactamente o mesmo.

O país que mais me desa!ou foi a Mau-ritânia. O clima é muito exigente, quase não chove, é só areia e costa atlântica. De resto é um país islâmico, com uma forte presença religiosa e a gastronomia também não é fácil. Para entrar no país é preciso atravessar cinco quilómetros de areia com minas espalhadas. O segredo é seguir os trilhos dos camiões. No !m, acabou por ser um dos sítios que mais gostei de conhecer.

E aprendi muito sobre o nosso país. Como valorizamos pouco a nossa História. Há mar-cas da passagem dos portugueses por todo o lado. Até na Austrália, várias pessoas me con-taram que aprenderam na escola que o seu país tinha sido descoberto por antepassados nossos e não pelos ingleses.

Tenho a sensação de estar sempre a partir. Mas é a parte mais difícil. Deixar para trás a família, a namorada, os amigos, a cidade, o emprego… Regressar é a parte mais fácil. Per-gunto-me muitas vezes que pro!ssão gostava de ter e onde a podia exercer para sempre. Mas nunca encontro resposta para essa pergunta.

I

João Lopes Aguiar é formado em Engenharia Electrotécnica e Computadores e, durante 19 meses, viajou pelo mundo.

Testemunho recolhido por SSA

Créditos da fotogra!a: DR

Page 32: LEAD Magazine - Nº 1

| LEAD MAGAZINE32

DE MALAS AVIADASDISCURSO DIRECTO

I

Abraçaram o desa!o de pertencer à AIESEC, organi-zação internacional de estudantes, e mudaram a sua vida para sempre. Dey, Daúdo, Chico e Viola aprovei-taram a faculdade para levar na bagagem muito mais que um diploma. Nesses anos, ganharam competências pro!ssionais: lideraram equipas, venceram eleições, or-ganizaram e apresentaram conferências e, !nalmente, foram estagiar para um país distante do seu. E, pelo meio, viveram dias cheios: construíram amizades em várias línguas, descobriram formas diferentes de fazer a festa e até se apaixonaram.A AIESEC foi fundada em 1948 com o objectivo de criar impacto positivo no mundo, uma pessoa de cada vez. Hoje, este desafio é abraçado por 50 mil membros espalhados por 110 países.

Texto de SSA e Fotogra!a por BS

Quando era pequena não me imaginava a sair de Malta. Só queria ser uma mulher de negócios com muito sucesso no meu país na-tal. Mas a AIESEC veio mudar a minha per-spectiva sobre a vida. Nos últimos cinco anos, vivi em quatro países diferentes. Estou viciada nesta vida que estou a viver sempre a fazer as malas para o próximo destino.

Só não podia prever que uma dessas vezes em que !z a mala, no tempo em que as fazia apenas para uns dias, mudaria a minha vida. Aterrei em Portugal numa quinta-feira de Abril para substituir uma desistência de últi-ma hora numa conferência. Foi aí que conheci o grupo de que se preparava para estagiar na Índia no Verão. Decidi juntar-me a eles.

Em Julho comecei uma jornada mágica que se prolongou por 3 meses. Trabalhei na ONG BOSCO Bangalore com crianças que tinham fugido de casa sem nunca terem conhecido o que é o amor incondicional. Gostavam de mim como se fosse mãe deles. O tempo que ali passei fez-me perceber que a vida para ser plena não pode passar apenas pela carreira.

E !z mais: usei a minha experiência para

Nome: Viola GaucciNaturalidade: MaltaIdade: 23 anosPosto máximo alcançado:NST (equipa de apoio à direcção nacional) no Leadership Tournament da AIESEC PortugalPro!ssão:Estudante (CEMS Masters in International Management)

criar uma equipa e juntos conseguimos asse-gurar um terreno para a ONG construir uma casa. Foi uma grande conquista, mas não foi a única. Apaixonei-me e decidi seguir o meu namorado até ao seu país: Portugal. Foi um ano e meio onde !z amigos que considero família, rendi-me à melhor gastronomia do mundo e nadei na água que, para mim, é fria dessas praias incríveis.

Cheguei a S. Paulo em Janeiro para fazer o meu último semestre de mestrado. Num dia normal falo com pessoas de 20 nacionalidades diferentes em quatro línguas. Mas já estou a pensar onde ir a seguir. Chegou a altura de mostrar o que nós AIESECERS somos capazes de fazer no mundo pro!ssional.

fotogra!a: DR

Page 33: LEAD Magazine - Nº 1

LEAD MAGAZINE | 33

“Preferes ir ao restaurante chinês ou comer em Pequim? A decisão é tua”. A AIESEC espal-hou esta mensagem em cartazes pela minha faculdade e eu !quei curioso. Depois percebi que a missão e os valores da organização eram em tudo idênticos aos meus e decidi que pas-saria a descobrir os sabores de cada país pre-parados pelas suas gentes na sua terra.

Pelo caminho !z amigos da Síria ao Chile, da Austrália ao Canadá. E acompanhei o impacto que a AIESEC é capaz de criar nas pessoas que agarram as oportunidades. Vi a Cynthia Capresse a iniciar o seu mandato de Presidente da AIESEC Toulouse sem saber falar inglês e a terminar esse ano num estágio em Nova Iorque. Vi o Martin Giura, no Uru-guai, a hesitar sobre o passo de abrir a sua em-presa e, ao decidir tomá-lo, tornar-se líder de mercado. Vi o polaco Pawel Turel a lidar com o seu receio de falar em público e a tornar-se pro!ssional como orador em conferências por todo o país.

Nome: Francisco Miguel SousaNaturalidade: PortugalIdade: 27 anosPosto máximo alcançado:Vice-presidente da AIESEC França para as relações empresariaisPro!ssão: International Account Manager na GryphTech

E eu, com a AIESEC, com as experiências por esse mundo fora, descobri que não somos assim tão diferentes. Não esquecerei nunca o impacto que o estágio que !z no Uruguai teve em mim. Foi aí que percebi o que queria fazer o resto da vida, com um toque de marketing e de tecnologias da informação (IT). Foi nessa altura que descobri a Amé rica Latina e tive a oportunidade de ser orador em conferências não apenas no Uruguai, mas também no Bra-sil e na Argentina.

Não sou uma pessoa de planos, tenho ob-jectivos. Para este ano as minhas metas pas-sam por viajar com as pessoas de quem gosto, terminar o mestrado com média superior a 15 e reforçar o impacto do meu trabalho. E, mais tarde, hei-de criar a minha própria empresa.

fotogra!a: DR

Page 34: LEAD Magazine - Nº 1

| LEAD MAGAZINE34

Eu quero ser Presidente da República de Moçambique. Mas não !co à espera desse momento para contribuir para o desenvolvi-mento do meu país. Aos 22 anos, concretizei um sonho ao dar os primeiros passos para a criação da AIESEC em Moçambique. Foi esta a forma que encontrei para apostar na for-mação e crescimento dos líderes moçambica-nos do futuro.

Para concretizar este sonho tive de ultrapas-sar obstáculos. Envolver os jovens universi-tários em actividades da AIESEC, em regime de voluntariado quando são pressionados para encontrar trabalho remunerado, foi um desa-!o. Enfrentar uma cultura de trabalho mais lenta e burocrática foi outro. A nossa eq uipa ultrapassou tudo com empenho e dedi cação, concentrada em encontrar soluções, mais que problemas.

A experiência que tive em Portugal foi fun-damental no meu percurso. Cheguei aos 18 anos para tirar a licenciatura e vivi os melhores anos da minha vida de crescimento como pes-soa e pro!ssional. E estive mais perto do Ben-!ca, a minha paixão de infância.

Nome: Daúdo ValliNaturalidade: PortugalIdade: 24 anosPosto máximo alcançado:Vice-presidente da AIESEC Internacional

A AIESEC contribuiu de forma de!nitiva para este balanço. Tive uma ascensão meteóri-ca. Seis meses depois de me tornar membro, fui eleito director de !nanças !cando respon-sável por um orçamento de 30 mil euros, aos 19 anos. No ano seguinte, tornei-me director da organização no meu núcleo do Algarve onde liderei uma equipa de 40 pessoas. E cul-minei o meu percurso, em Portugal, como Vice-Presidente na direcção nacional. Ganhei con!ança, noção das minhas qualidades e dos meus defeitos e ainda aprendi a cozinhar!

O meu mais recente desa!o é a Vice-presidência na AIESEC Internacional que me trouxe a Roterdão, onde viverei um ano. De pois farei um estágio com o selo da or-ganização na América Latina ou na Ásia para aprender práticas relacionadas com os negó-cios sociais.

Um passo de cada vez para construir o meu maior sonho: ser decisivo no crescimento de Moçambique.

Imaginem tudo o que se pode viver numa vida inteira. Eu vivi isso tudo e ainda mais. Depois de ter sido um dos melhores alunos da minha faculdade, UNITEC, e ter vivido uma experiência com a AIESEC na Venezuela, no Perú e no Equador estava pronto para abraçar a vida pro!ssional. Pensava eu.

Tornei-me no consultor sénior mais jovem de Valência, na Venezuela, mas mantinha quartos livres na minha casa para receber os aiesecers que passavam pela cidade. Foi no meio dos dias de trabalho que soube que não havia candidatos para a direcção nacional da AIESEC Venezuela. E esse ano prometia ser especialmente difícil: Chávez tinha subido ao poder. Não consegui resistir e candidatei-me. Venci e liderei a AIESEC Venezuela no ano em que o orçamento foi reduzido para mais de metade. Tive de investir o meu dinheiro, mas obtive resultados muito para além do es-perado.

Estava convencido que o meu contributo para a AIESEC !cava por ali. Ia só estar pre-sente em mais uma conferência internacional. Foi lá que encontrei a minha amiga Tanja. Estava desolada. Tinha criado um programa de um ano na Macedónia mas não tinha re-cebido candidaturas. “Ninguém sabe onde é a Macedónia. Nem querem saber”, desabafou. Disse-lhe que estava a olhar para o primeiro candidato e !z-lhe uma promessa: “Vou pôr o teu país no mapa”. Regressei à Venezuela e hesitei. Estava lá a minha família, já tinha feito tanto com a AIESEC, para quê mais um ano fora? Duas semanas depois, estava a arrumar toda a minha vida em três malas e a despedir-me da minha família. Não podia viver no país de Chávez. Não pretendia voltar.

Nome: Dey DosNaturalidade: VenezuelaIdade: 36 anosPosto máximo alcançado:Presidente da AIESEC InternacionalPro!ssão: Inovador e empreender social, speaker, coach

Ao chegar à Macedónia, ainda sem visto, a polícia pediu-me para sair do comboio. Es-tava convencido que seria para me darem o visto, mas não. Fiquei do lado de fora a ver o comboio partir com a minha vida toda lá den-tro. Os polícias não falavam inglês, não tinha como lhes explicar a minha situ ação. Passei uma noite preso e fui deportado para a Grécia no dia seguinte.

Só recuperei uma mala. Foi com ela e 30 euros no bolso que parti para a Sérvia. Estive um mês à espera de visto para entrar de vez na Macedónia. Pus tudo em causa. Mas quando !nalmente cheguei ao meu destino entreguei-me ao trabalho e vivi o amor da minha vida. No !m do ano, subi ao palco da AIESEC Inter-nacional para receber o prémio que distinguia a Macedónia e, aí, percebi que tinha cumprido a promessa que !zera à Tanja.

E dei mais um passo em frente. Fui eleito Director para África da AIESEC Internacion-al. Numa jornada sem precedentes visitei os 14 países africanos com presença da AIESEC sem direito a folgas. Criei o programa ASK (An-swers, Solution and Knowledge sobre SIDA) que ainda hoje existe e já teve impacto em mais de 300 mil pessoas.

No ano seguinte, conquistei a derradeira prova: fui eleito Presidente da AIESEC Inter-nacional, o cargo máximo da organização. Nem nos meus sonhos mais ousados de cri-ança imaginaria que, vindo de uma peque na cidade na Venezuela, acabaria por me tor nar presidente de uma rede global.

Hoje Lisboa é a minha casa e considero-me um popcorner, não páro de ter ideias novas. Se já !z tudo? Ainda tenho de aprender a tocar viola.

fotogra!a: DR

fotogra!a: DR

Page 35: LEAD Magazine - Nº 1

LEAD MAGAZINE | 35

I

FRAMES DE SAUDADEPHOTO VOICE

PORTUGUESES ESPALHADOS PELOS QUATRO CANTOS DO MUNDO SAÍRAM À RUA DE MÁQUINA FOTOGRÁFICA NA MÃO. O OBJECTIVO? DISPARAR PARA O QUE LHES LEMBRASSE CASA.DE MACAU A NOVA IORQUE. PARECE QUE ESTAMOS MESMO EM TODO O LADO.Recolha por BFS e SSA

A!nal parece que não é só o pastel de nata que faz sucesso lá fora.Ana Relvas França, Londres, Grã-Bretanha

A cidade é pequena mas não podia faltar uma vinoteca portuguesaMiguel Marques, Zlín, República Checa

“Onde está o Wally?” versão Galo de BarcelosValério Boto, Nova Iorque, Estados Unidos da América

Page 36: LEAD Magazine - Nº 1

| LEAD MAGAZINE36

As notícias do país e o mundo em português a mais de 5 mil quilómetros de casaValério Boto, Nova Iorque, Estados Unidos da América

As farturas do senhor Teixeira Valério Boto, Nova Iorque, Estados Unidos da América

IOs portugueses foram os pioneiros globalização, quando ainda nem se conhecia todo o desenho do globo. No século XV, os marinheiros embarcaram nas Naus e a palavra saudade fez mais sentido que nunca. Hoje, continuamos a partir. Sete jovens deixaram o nosso país. E con-tinuamos a chegar. Londres, Itália, República Checa, Istambul, Nova Iorque, Macau, Japão. Estes foram os destinos escolhidos para con-struírem uma nova história no !lme das suas vidas. Eles encontraram Portugal um pouco por todo o mundo. Estes são os seus frames de saudade.

Page 37: LEAD Magazine - Nº 1

LEAD MAGAZINE | 37

As danças tradicionais portuguesas chegam à escolaFátima Almeida, Macau

Dulce Pontes merece destaqueAndré Cunha Oliveira, Génova, Itália

Orgulho nacional a olhos vistosAndré Cunha Oliveira, Génova, Itália

Com nome turco e coração portu-guês, Fikret Özdemir leva os nossos sabores ao país de Orhan PamukCláudia Malagueta, Istambul, Turquia

O nosso tradicional arroz doce devorado com pauzinhosCláudia Sequeira, Kyoto, Japão

As trocas culturais também se fazem entre cerveja portuguesa e o copo japonêsCláudia Sequeira, Kyoto, Japão

Page 38: LEAD Magazine - Nº 1

| LEAD MAGAZINE38

Page 39: LEAD Magazine - Nº 1

LEAD MAGAZINE | 39

TALE

NTO

A incerteza parece ter vindo para !car e parece mais evidente agora que temos de fazer opções.

Não há como evitar, é neste mundo de com-petição que temos de estudar e de trabalhar. É nele também que temos de fazer escolhas, mesmo que a competitividade e a incerteza nos cria uma sensação de impossibilidade e impotência para escolher na abundância de opções e contradições, no seio de uma das maiores crises do mundo ocidental.

Este é o mundo e esta é a vez da geração milénio. Aquela que foi criada a observar a vida (pro!ssional) dos pais. aquela que não quer perpetuar este mundo da mediocracia, mas moldá-lo para o regresso da experimen-tação, pela cultura do erro, a que nos permite experimentar. Esta é a geração que aceita a incerteza como pano de fundo para a sua ex-periência de trabalho, aquela que aceita que fará muitas funções em variadas empresas, em muitas cidades do mundo e que por isso mes-mo precisa de um mundo muito mais líquido na produção de oportunidades. São estes os jovens que querem servir o mundo e não ape-nas servir-se dele. Detidos e incompreendidos na re"exão condicionada dos seus pais, estes jovens percebem que uma licenciatura é ap-enas uma licença para estudar sozinho (como diz há muito o Prof. Adriano Moreira). Quase

SER OU FAZER... EIS A QUESTÃOTIAGO FORJAZ

todos percebem que terão de estudar toda a vida, pois o ritmo a que os conteúdos se actu-alizam e contextualizam é alucinante. Alguns até não se importam (pois até o estudar pas-sou a ser uma actividade fundamentalmente diferente).

Mas ainda são poucos os que se percebem das oportunidades deste novo mundo. De um mundo onde os conteúdos instalados em nós são de livre acesso (e consomem-se na inter-net).Um mundo onde deixamos de aceitar que somos o que fazemos, mas preferimos fazer o que somos.

Hoje todos têm de aceitar que a juventude irá moldar um novo mundo, um mundo onde deixamos de perguntar aos nossos !lhos: “O que queres ser quando fores grande?” e passa-mos a perguntar aos nossos !lhos o que queres fazer quando fores grande? Um mundo onde o debate sobre o que é o nosso talento perde o preconceito e passa para o domínio social, para as redes sociais e que passa a ser organiza-do com a ajuda da sabedoria da multidão. Um mundo onde a lei dos grande números eviden-cia as opções actuais que existem para pessoas como Eu. Um mundo onde não se confunde mobilidade e liquidez no mercado de trabalho com a precariedade dos seus contratos. Um mundo onde os jogos online assumem um pa-pel sério na criação de um ambiente colabora-

tivo e divertido para se aprender e produzir de uma forma consciente e experimental, antes de se agir de forma irreversível no mundo real. Um mundo de diálogo onde eu posso saber o que posso fazer e o que me fará feliz e em que parte do mundo essa oportunidade "oresce.

Poucos reconhecem nestes tempos que cor-rem a brilhante emergência de uma nova era. Poucos escrevem e advogam o novo renasci-mento ou o neo-humanismo, mas é exacta-mente essa perspectiva que me nutre o espírito e é esse modelo que temos de construir para as gerações vindouras. Como diz um grande amigo meu “Não há comer o bolo e !car com ele”, todos temos de escolher lados: ou aceita-mos que Somos o que Fazemos ou escolhemos construir o mundo onde Fazemos o que So-mos.

Por isso insisto. Eu sei o que quero fazer. Quero usar a minha experiência para ajudar a construir o mundo dos meus !lhos. Quanto mais não seja porque reconheço que não há opção. Ao longo da história da humanidade foi sempre a geração seguinte que teve razão, foi por isso que se criou a palavra progresso.

Por isso hoje dir-se-ia “Ser ou fazer eis a questão?”

T

Créditos da fotogra!a: BS

Tiago Forjaz, Mentor na Fundação Talento

Page 40: LEAD Magazine - Nº 1

| LEAD MAGAZINE40

O QUE É O TALENTO? VOX POP

T

Olhando para o umbigo ou além fronteiras, as reacções têm tudo menos de consensuais.Nas ruas de Lisboa, aquecidas pelo sol de prima-vera, a palavra tanto provoca risos contidos como trocas de argumentos acesas.Mas a!nal, o que se pensa na rua sobre talento?

Texto de BFS e Fotogra!a por BS

MARCELO SILVA, 19 ANOS, ESTUDANTE DE INFORMÁTICAANA, 18 ANOS, ESTUDANTE DE ENFERMAGEM.“(Ele) Não são os nossos talentos que nos farão felizes... (Ela) Porque não? (Ele) Porque acabam! (Ela) Mas os talentos não têm que acabar! Então? Há pessoas que só descobrem o seu talento aos 90 anos, por exemplo. (Ele) Há? O quê? (Ela) Sei lá, desenho?! Sim, por que não? (Risos) Estás a descriminar os mais velhos. (Ele) Ok, o talento pode não acabar, mas é uma cena que é só nossa.”

Page 41: LEAD Magazine - Nº 1

LEAD MAGAZINE | 41

VANESSA PINHEIRO, 22 ANOS. ESTUDANTE “Sem dúvida pintar, mas não o faço como meio de substância, é mes-mo só por prazer, realização pessoal. A natureza é o meu habitat, por isso adoro trazê-la para as minhas telas e não estou muito preocupada em agradar o mundo.”

NANY COSTA, 17 ANOS ESTUDANTE “Samba e Kuduro! Desde os meus 10 anos que pratico vários tipos de danças na Escola de Loures, mas são estas que me fazem sentir mais perto das minhas raízes, com sabor a casa.”

Page 42: LEAD Magazine - Nº 1

| LEAD MAGAZINE42

MARIA BARROS, 65 REFORMADA “Talento, talento não tenho daqueles muito famosos. Talvez o facto de nunca desistir de lutar. Aos 40 e poucos anos, quando !quei desem-pregada e tive que morar nos arredores de Lisboa, vi-me obrigada a tirar a carta de condução. Estava cheia de medo, mas a minha vizinha de 70 anos - que não sabia conduzir nem ler - ia sempre ao meu a lado a dizer: “tu consegues”! Quando aos 57 anos !quei outra vez desempregada, tornei-me motorista de uma instituição para distribuir comida aos doentes. Desistir para quê?”

LIYUN WU, 26 ANOS, COM A SUA TIA EMPREGADA DE LOJA “Adorava ter o talento de falar vária línguas! Estou cá há cinco anos e é muito complicado, mas as pessoas até me têm dito que falo muito bem... Agora uma coisa que os portugueses não têm talento é na coz-inha, não gosto nada.”

MARLON FORTES, 34 ANOS ACTOR “O talento que mais gosto das minhas raízes cabo verdianas é a mora-beza, e isso não se explica. Sente-se. Recentemente quando fui para o estrangeiro, senti falta de outro talento, mas desta vez português: a simpatia.”

Page 43: LEAD Magazine - Nº 1

LEAD MAGAZINE | 43

ANDREIA, 29 ANOS “O talento é algo contemporâneo que se usa para adjectivar muitas coisas, e que é uma palavra que eu particu-larmente gostaria de riscar do meu vocabulário por causa disso. Nada existe sem trabalho!”

Page 44: LEAD Magazine - Nº 1

| LEAD MAGAZINE44

MARIA, 29 ANOS, ADVOGADAIDACHE, 28 ANOS, ESTUDANTE DE TURISMO“(Maria) Considero o meu talento especial a constância! É isso que me move, faz querer mais e resistir perante as adversidades. (Idache). Pessoal mente não tenho nenhum, mas acho que, como espanhola, tenho a capacidade de adaptação, de improvisação.”

VITALINA MENDES, 63 ANOS REFORMADA “O meu talento é cada vez mais sentir-me apaixonada pela natureza... Com a idade tornamo-nos mais sensíveis e vamo-nos apercebendo das coisas com outros pormenores - coisa que durante a juventude somos muito acelerados para fazer”

SORAIA, 27, JORNALISTA; PILAR, 26, TÉCNICA DE MEDICINA NUCLEAR“ (Pilar)Não sei bem como dizê-lo, mas o que vejo de mais talentoso em Portugal são mesmo os homens. (Risos) Gostei tanto que até estou a pensar mudar-me de Madrid para cá. (Soraia) Concordo com a Pilar, mas não me posso esquecer da comida, é sem dúvida extraordinária.”

Page 45: LEAD Magazine - Nº 1

LEAD MAGAZINE | 45

VÍTOR SANTOS, 47 ANOS, FUNCIONÁRIO PÚBLICO “O talento português vem da criação. É um facto que, com a situação que estamos hoje a viver, a criação !ca de certa forma bloqueada devido ao medo. Tem que haver uma luta muito grande contra o medo. Sou um homem que escreve, pinta e indigno-me. Talvez seja o meu maior talento: continuar a indignar-me. Esse sim é um dos grandes talentos que Portugal necessita. Neces-sitamos de materializar a nossa indignação, mas com razão e coerência!”

Page 46: LEAD Magazine - Nº 1

| LEAD MAGAZINE46

OBSESSÃO,A PARTÍCULA CHAVEENTREVISTA: PEDRO TOCHAS

AOS OLHOS DE PORTUGAL, É O EXCÊNTRICO CEO DA PUBLICIDADE FRIZE. AOS DO MUNDO, É CONSIDERADO UM DOS MELHORES PALHAÇOS DA ACTUALIDADE. EM CASA, PEDRO TOCHAS GUARDA COM ZELO AS PRIMEIRAS EDIÇÕES DAS REVISTAS EXAME E FORTUNA E FAZ DE EMPRE-SAS COMO A SONAE, GALP E ZON MAIS UM PALCO DE TRABALHO, DESTA VEZ COMO SPEAKER. MAS CALMA, ESTE ARTISTA NÃO SE FICA POR AQUI: FALTA JUNTAR AS TRÊS MATRÍCULAS QUASE CONCLUÍDAS EM ENGENHARIA QUÍMICA, QUÍMICA INDUSTRIAL E GESTÃO, FORMAÇÕES EM MALABARISMO, DANÇA BURLESCA E MAIS DUAS MÃOS CHEIAS DE EXEMPLOS DO GÉNERO... DEPOIS DE TUDO ISTO, COMO É QUE SE TORNOU SPEAKER? POR ACASO - MAS HISTÓRIAS PARA CONTAR NÃO LHE FALTAM. Texto de BFS

Porque saíste de Portugal para apostar na tua carreira artística?Fui para fora porque quando comecei a minha carreira tinha um desa!o: ser um ar tista de rua internacional. Estava inspirado por um docu-mentário que tinha visto em Coimbra sobre o tema. Tinha 19 anos e achava romântica a ideia de andar pelo mundo com a mochila às costas, conhecer pessoas e cidades novas. Então com-ecei cá em Portugal a trabalhar em trade-shows, mas, só em 2003, quando um ami go faleceu su-bitamente é que me apercebi que na vida nada é certo... Então fui seguir o meu sonho de ser artista de rua internacional, de cidi atirar-me ao mundo. Estudei nas melhores escolas dos E.U.A e Inglaterra e cumpri o meu desa!o.

O que é que mudou?A primeira coisa que notei é que o planeta en-colheu! Depois de estares dois dias só para che-gares a um sítio, 2h30 para Londres não é nada. Ir ao Porto é mesmo ali. E depois abriu-me por-tas, conheci pessoas incríveis...

Em quantos países é que já actuaste?Só não estive em África, mas de resto já actuei nos continentes todos. Cerca de vinte países, se não me engano: desde o Dubai, à Nova Zelân-cia, ao Canadá, à Índia ou Singapura, etc.

E agora ainda continuas de mochila às costas ou já és convidado?Agora já sou convidado. (Risos)

Como foi o início da tua aventura como speaker?Antes de ser speaker era contratado pelas em-presas para fazer Stand-Up Comedy. Até que um dia uma empresa lançou-me o desa!o: “É o seguinte: nós vamos lançar uns produtos novos e estamos a perceber que os nossos colabora dores estão com medo. Sabemos que o Pedro estava a estudar na uni versidade e resolveu ser artista de rua. Venha-nos falar dessa experiência do que é arriscar e superar o medo.” Aceitei. Fui lá, com-ecei a contar as minhas histórias e correu bem. Cu riosamente, passado um mês, outra empresa contratou-me para fazer a mesma coisa.

Fez-se o clique?Sim, fui para casa e comecei a ver que histórias minhas é que tinham uma mensagem. Como comediante, o objectivo é entreter, mas como speaker é inspirar, motivar e deixar algum con-teúdo que possam usar na vida, depois da pal-estra.

T

“O SUCESSO DO DIA PARA A NOITE DEMORA 10 ANOS”

fotogra!a: Luís Barra (Visão)

Page 47: LEAD Magazine - Nº 1

LEAD MAGAZINE | 47

E qual é a tua impressão digital?No espectáculo “Ser Sisudo Não É Sinal de Competência, É Só Sinal Que Se É Sisudo” conto as minhas histórias, a minha maneira de ver o mundo, o espírito positivo como encaro as coisas más que acon tecem. Para além disso, faço um trabalho muito personalizado, absorvo o máximo da cultura da empresa, como é que eles interagem, o que os faz reagir. Há certos pro cessos que, para a pessoa da empresa, faz todo o sentido, mas para quem está de fora é a coisa mais engraçada de sempre. Extrapolando para uma relação, muitas vezes a namorada está sempre a dizer: “Oh Zé, tu não deves usar verde. Oh Zé, tu não deves usar verde”. E vem alguém de fora e diz: “Oh Zé, olha que verde !ca-te muito mal”. O Zé vai para casa e diz à namorada: “Oh querida, hoje disseram-me que o verde me !ca mal...”, “ Já te estou a dizer há um ano que o verde te !ca mal!!”, grita a namorada. É isto. Às vezes tem de vir alguém de fora para reforçar as ideias do que corre bem e mal – esse é um dos meus trabalhos.

No início da tua carreira no Stand-Up, um crítico aconselhou o público a não se sentar na primeira !la pois és metediço. Nas pal-estras manténs o mesmo per!l?Eu meto-me com a primeira !la e com todas as restantes. Sou interactivo e essa é a beleza de um espectáculo ao vivo. Como speaker nem tanto...

Contudo, na tua primeira sessão na SONAE, Belmiro de Azevedo, que estava na primeira !la, foi o teu alvo favorito...(Risos) Sim, sim, esse episódio por acaso é uma das histórias que conto nas palestras pois foi um momento que causou uma explosão de risos e descompressão na sala. O é impor tante é que as pessoas sintam que aquilo está a acon-tecer realmente, que ninguém está imune e que aquilo não é um espectáculo por televisão, que estou realmente a vê-los, ouvi-los.

Em média, quantas vezes actuas por ano?Este é o tipo de pro!ssão que tens de estar pre-parado para não fazer nada pois nunca sabes. Sou freelancer. Aqui em Portugal, ser free lancer é algo que faz confusão a muita gente. O free-lancer só trabalha quando há trabalho e não há segurança, mas é uma pro!ssão como outra qualquer.

E como é que lidas com isso?Muito bem, pois trabalho vinte e quatro horas por dia. Tudo é material para mim. Até esta entrevista é material! Qualquer coisa que ache graça coloco no meu espectáculo. Nos tempos mortos, há sempre livros por ler, DVD’s, coisas na Internet a pesquisar, muito por onde crescer.

Focas-te sempre na comédia?Não, de todo. Quanto mais coisas souber, mel-hor. Senão lá está, pescadinha de rabo na boca. Se queres ser melhor, tens que ser diferente. Alguns dos gestores mais bem sucedidos que conheço são pessoas que vêem, lêem sobre tudo. Tens que te inspirar, que ir buscar ideias ao mundo e se !cas fechado na tua caixinha... não corre assim tão bem. Há uma coisa que as pessoas têm de meter na cabeça: tirar um curso universitário é como ter uma caixa de ferra-mentas e aos poucos ir enchendo-a, mas não é o !m. O que fazes com as tua ferramentas é que depende de ti – a!nal é só o começo.

O teu sucesso tem fórmula?Não há fórmulas, se houvesse fórmulas éra-mos todos bem sucedidos, grandes gestores, grandes jornalistas. O que tento mesmo fazer é não ter uma fórmula. É arriscar, é estar sempre a pesquisar novas formas de comunicar com o público e, por isso, tenho uma lista in!ndável de tipos de espectáculos.

Na adolescência eras muito calado, tímido, como é que se passa disso para o melhor pal-haço do mundo?E ainda contínuo a não beber e fumar (risos). Sempre fui muito curioso, sempre achei muita graça ao mundo e é isso que me anima.

A que não achas graça?Não acho graça às pessoas que querem e gos-tam de ser limitadas, sem vontade de arriscar, de serem maiores. Acho que é uma pena porque este mundo tem tanto, mas tanto para te oferecer, tantos livros em que te perdes com-pletamente, vídeos, bandas desenhadas... Sou coleccionador de BD e há uns dias atrás estava a dizer à minha futura mulher, “acho que esta BD até me fez mal ao cérebro” (risos). Aquilo era tão fora que adorei.

Como é que se chamava?Prison Pit. Aquilo por ser tão fora fez-me sair da minha zona de conforto e isso deixou-me contente. Ficas a pensar “wow, isto é de doidos, este mundo tem tanta coisa diferente e tantas pessoas a criar”. A maior frustração que eu tenho é saber que, quando morrer, !carei com tantas coisas por fazer, ler, conhecer... (risos)

E pela televisão, algum projecto? Recordo-me que declinaste o convite do Levanta-te e Ri...Aquilo não fazia sentido para mim e ainda por cima era um programa que eu achava não ter critérios de qualidade. Algo muito importante na vida é saberes o que queres, de!nires objec-tivos e acima de tudo ter certos valores e não te deixares guiar só pelo que é fácil. Eu adoro o processo, há pessoas que andam nisto pelo !m,

só querem ser famosos. Gosto de criar os meus próprios espectáculos, esse sim é o meu !m. A televisão é apenas um meio para passar o meu trabalho.

O Herman José na altura do Stand-Up disse que tu eras apenas uma cópia.O Herman na altura foi o típico exemplo de quem se sentiu ameaçado. O mais engraçado foi que ele disse que os meus espectáculos não eram grande coisa e no momento a seguir ad-mitia que nunca os tinha visto. Só demonstra uma grande arrogância. Ele, durante muito tempo, foi o maior, mas também porque não havia mais ninguém. Hoje o mundo não é as-sim. Ele já não é o que era e perdeu um certo contacto com o público.

Ao !m do dia, qual é a coisa mais importante para ti em termos pro!ssionais?(Pausa) Acima de tudo, acho que o mais impor-tante é sentires que fazes um trabalho honesto e não me estou a referir a honestidade de um ponto de vista legal, mas uma honestidade contigo próprio. Sentires que é isso que gos-tas de fazer e ao qual dedicas o teu tempo sem qualquer tipo de ódios em prol de ganhar mais para teres status ou um carro XPTO. Trabalhar sete ou oito horas em algo que te faz infeliz... Para quê? Para além disso, tenho sorte porque o meu hobbie é também o meu trabalho.

O que é para ti o talento? É possível de!nir?(Pausa) Talento não é possível de!nir, mas pen-so que é um ponto de partida. Se tens talento, é um belo ponto de partida. Agora, explorá-lo dá-te muito trabalho. É um pequeno empurrão, onde, numa corrida de cem metros, tu partes nos dez e eles partem no zero, mas para che-gar lá tens que continuar a correr porque senão ultrapas sam-te.

Então sentes-te feliz?Sim, porque lutei por isso. Agora, do ponto de vista !nanceiro é confortável, mas houve alturas em que não foi, mas nunca pus em causa a min-ha escolha. E estava disposto a fazer sacrifícios. Li uma frase que achei demais: “O sucesso do dia para a noite demora 10 anos”, acho que isto diz tudo. Agora é meter na cabeça que é trabal-ho, trabalho, trabalho, esforço, dedicação e se queres ter sucesso é preciso também um pouco de obsessão. Só assim se consegue evoluir. Ge-stores com uma carreira de sucesso prolonga-do? Ali também há uma pontinha de obsessão por trás... (Risos)

Page 48: LEAD Magazine - Nº 1

| LEAD MAGAZINE48

AS COORDENADAS DO SUCESSOCONTRA-PONTO

T

P&GPT

TALENTO

FACTORESDE ATRACÇÃO

PREPARAÇÃOUNIVERSITÁRIA

FACTORESDE SELECÇÃODECISIVOS

COMPETÊNCIASADQUIRIDAS

AMBIÇÃO

PWC

Empenho, iniciativa, espírito de equipa, excelência, atitude positiva.

Estabilidade, inovação e diversidade.

A universidade dá uma preparação ténica de base que não é su!ciente para cumprir o nível de desempenho esperado para os trainnees, por isso têm uma formação ao longo de dois anos. As universidades deveriam trabalhar mais temas comportamentais como: técnicas de apresentação, e!cácia pessoal, gestão de prioridades, trabalho em equipa, dar e receber feedback.

Competência técnica, atitude positiva, dinamismo, iniciativa, vontade de pertencer à equipa.

Conhecimento do negócio e cultura da PT e com-petências associadas ao rigor, excelência, ino-vação e desenvolvimento técnico.

Existem jovens que pretendem fazer carreira dentro da PwC, especializando-se numa deter-minada área. Outros, ao !m de alguns anos na PwC, e detendo já posições mais séniores, optam por passar para um departamento !nanceiro de outra empresa. Também há pessoas que criam o seu próprio negócio. Dependendo das ambições e experiências que pretendem, a PwC procura ir ao encontro às perspectivas de evolução de cada colaborador.

Existem jovens que pretendem fazer carreira dentro da PwC, especializando-se numa deter-minada área. Outros, ao !m de alguns anos na PwC, e detendo já posições mais séniores, optam por passar para um departamento !nanceiro de outra empresa. Também há pessoas que criam o seu próprio negócio. Dependendo das ambições e experiências que pretendem, a PwC procura ir de encontro às perspectivas de evolução de cada colaborador.

Querem crescer numa carreira dentro da empresa e, sobretudo, numa perpespectiva internacional.

Conciliação de um desempenho de alto nível com elevado potencial de desenvolvimento.

Ambiente de trabalho positivo, respeito pelo equilí-brio entre a vida pessoal e pro!ssional, oportuni-dades de desenvolvimento e trabalho.

Saem preparados enquanto cidadãos com a ma-turidade para encarar uma etapa diferente. Têm o know how teórico para gerir os desa!os e a predisposição para aprender. Compete, depois, a quem emprega, potenciar e desenvolver os conhecimentos adquiridos e orientá-los para um desempenho de excelência. As universidades que começam a investir nas soft skills e a estabelecer fortes interacções com o mercado de trabalho começam a ter alunos mais preparados.

Identi!cação com os valores e comportamentos da organização, iniciativa, dinamismo, predis-posição para aprender e desenvolver potencial. Experiências como associativismo, voluntariado ou estágios.

Para além das competências técnicas especí!cas, desejamos vê-los crescer enquanto pessoas e fu-turos líderes.

Capacidade para ultrapassar desa!os complexos.

Carreira que permite crescer e valorizar as suas capacidades em Portugal e\ou no estrangeiro.

Os alunos não saem preparados. Procuramos preferencialmente pessoas sem experiência pro!ssional relevante para se formar nas difer-entes áreas funcionais e de negócio na empresa.

Avaliamos um conjunto de factores de sucesso – as 9 competências, entre as quais: e!cácia e rapi-dez na resposta aos desa!os, capacidade de rea-plicar ideias, inovar e capacidade de desenvolver um trabalho com excelência, isto é, excedendo-se.

Capacidade de adaptação e para ultrapassar de-sa!os, desenvolver e propor soluções a problemas de negócio, participação no desenvolvimento de outros colegas e ajudar a P&G a desenvolver o negócio dos seus clientes.

Talento vem do grego “tálanton” e do latim “talentu” e signi!ca um conjunto de aptidões, naturais ou adquiridas, que condicionam o êxito em dada actividade. A Lead Magazine reuniu seis pontos de vista e traça as rotas do mapa do sucesso, segundo os melhores mestrados nos rankings internacionais e as empresas mais desejadas pelos estudantes. Confrontámos teoria e prática, escola e mercado de trabalho para tentar descobrir onde se encontra e potencia o talento, no nosso país.

Dados recolhidos por BFS, CSB e SSA

Page 49: LEAD Magazine - Nº 1

LEAD MAGAZINE | 49

MESTRADOSda ISCTE Business School

CATÓLICA LISBONSchool of Business and Economics

CEMS-MIMNova School of Business and Economics

A maior parte dos alunos é recrutada para posições interessantes no sector !nanceiro e na consultoria, os restantes alunos intuem metas se-melhantes. Está a crescer a proporção de alunos que quer criar o seu próprio negócio, incluindo os que querem criar negócios com impacto social positivo.

Há um grupo de alunos com vocação empreende-dora, mas a maioria tem a ambição de trabalhar nas empresas mais desa!antes com actividade e projecção internacional.

Carreira numa grande empresa.

Curiosidade intelectual, foco na entrega de re-sultados, capacidade de relacionamento inter-pessoal, visão big picture e paixão por atingir resultados em equipa.

Formação multi-cultural e 360º para perseguir uma carreira internacional. Desenvolvimento de competências técnicas e soft skills. Tira partido da globalização. Top3 no ranking do Finantial Times. Ligação às empresas. Empregabilidade de 96% ao !m de seis meses.

Dá aos alunos o conhecimento técnico com a pro-fundidade e solidez que o ritmo acelerado de uma empresa não permite. Antecipação da criação de competências que adquiririam no mundo cor-porativo a um ritmo mais lento o que permitirá o desenvolvimento da carreira, da criatividade, da multi-cultiralidade e da cidadania pro!ssional.

Competências adequadas para desenvolvimento actual e potencial no futuro: inatas como inteligên-cia e criatividade ou adquiridas como competên-cias comportamentais de organização, gestão do tempo, gestão emocional e interacção social.

Iniciativa, rigor analítico, capacidade de liderança e de trabalho em equipa.

O ensino de excelência, a primeira a conquistar a Triple Crown (acreditação de três agências inter-nacionais), o sucesso dos alunos. Melhor Business School portuguesa segundo o Finantial Times. Em-pregabilidade de 100% nos primeiros três meses.

Relacionamento privilegiado com o mundo em-presarial, programa inovador de mentoring com ex-alunos de sucesso e formação com empresas recrutadoras. Mestrado oferece oportunidade de fazer estágios e projectos em empresas, ventures com ONG’s e gabinetes de desenvolvimento de tal-ento e carreira (Leadership Lab e Departamento de Carreiras).

Rigor e qualidade cientí!ca com forte aplicação prática. Empresa muito presente na sala de aula. Intensa perspectiva internacional.Empregabilidade de praticamente 100%.

Desenvolvimento de competências e conhecimen-tos num ambiente próximo da vida das empresas (professores com larga experiência pro!ssional, trabalhos de aplicação prática ao longo do curso e projecto !nal de aplicação dos conhecimentos adquiridos à realidade empresarial). O aprofunda-mento integrado de conhecimentos e instrumentos que asseguram maior capacidade analítica e de resposta.

Dados recolhidos com base nas entrevistas feitas a: Sandra Rebelo, Responsável pela Área de Liderança da Portugal Telecom (PT). António Saraiva, Director Coordenador Human Capital da PWC. José Figueira, Human Resources Manager Portugal da Procter & Gamble (P&G).Elisabete Cardoso, Directora-Executiva do CEMS-MIM. António Gomes Mota, Dean of ISCTE Busi-ness School. Guilherme Almeida e Brito, Director-Adjunto da Católica Lisbon School of Business and Economics.

Page 50: LEAD Magazine - Nº 1

| LEAD MAGAZINE50

Madridwww.ie.edu

Master in International Management

Master in Finance

Master in International Legal Practice

Masters in Communication

Master in International Relations

Master in Work Space Design

Master in Global Environmental Change

Ranked as one of the world’s top ten business schools by the Financial Times and The Economist, IE’s Master programs for recent graduates are taught in English or Spanish. They are designed to !t the needs and trends of the ever-changing global marketplace in terms of both general management and sector speci!c knowledge. Students are immersed in a multicultural environment, making their experience more rounded.

IE is made up of 7 specialized schools. It is an international institution dedicated to educating leaders through programs based on our core values of global focus, entrepreneurial spirit, and a humanistic approach. With over 90 nationalities represented on the Madrid and Segovia campuses, our alumni, now standing at over 40.000, hold positions of responsibility in over 100 countries.