LEFEBVRE, Henri. O Direito à Cidade

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FICHAMENTO Referência LEFEBVRE, Henri. O Direito à Cidade. São Paulo: Centauro, 2001. Excertos “para apresentar e expor a “problemática urbana”, impõe-se um ponto de partida: o processo de industrialização. Sem possibilidade de contestação, esse processo é, há um século e meio, o motor das transformações da sociedade. Se distinguirmos o indutor e o induzido, pode-se dizer que o processo de industrialização é indutor e que se pode contar entre os induzidos os problemas relativos ao crescimento e à planificação, as questões referentes à cidade e ao desenvolvimento da realidade urbana, sem omitir a crescente importância dos lazeres e das questões relativas à “cultura”. ” (p.11) “Em suma, são centros de vida social e política onde se acumulam não apensa riquezas como também os conhecimentos, as técnicas e as obras (obras de arte, monumentos.” (p.12) “Observamos também o deslocamento para bairros residenciais afastados e a pobreza crescente na área urbana central, a procura crescente pela segurança privada e pelo transporte individual e a proliferação de espaços monofuncionais.” (p.14) O desaparecimento de espaços públicos multifuncionais não é apenas um caso a ser lamentado: pode gerar terríveis consequências sociais dando início a um processo de declínio. À medida que a vitalidade dos espaços públicos diminui, perdemos o hábito de participar da vida urbana da rua. O policiamento natural ou espontâneo das ruas, aquele produzido pela própria presença das pessoas, é substituído pela segurança oficial e a própria cidade torna-se menos hospitaleira e mais alienante. Logo, nossos espaços públicos passa a ser percebidos como realmente perigosos e o medo entra em cena.” (p.10/11) “Atualmente, a ênfase encontra-se no egoísmo e na separação, em vez de basear-se em inter-relações e comunidade. Nestes novos tipos de desenvolvimento urbano, as atividades que tradicionalmente se sobrepõem são organizadas com o objetivo de maximizar o lucro para incorporadores e comerciantes. Os

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FICHAMENTO

Referência

LEFEBVRE, Henri. O Direito à Cidade. São Paulo: Centauro, 2001.

Excertos

“para apresentar e expor a “problemática urbana”, impõe-se um ponto de partida: o processo de industrialização. Sem possibilidade de contestação, esse processo é, há um século e meio, o motor das transformações da sociedade. Se distinguirmos o indutor e o induzido, pode-se dizer que o processo de industrialização é indutor e que se pode contar entre os induzidos os problemas relativos ao crescimento e à planificação, as questões referentes à cidade e ao desenvolvimento da realidade urbana, sem omitir a crescente importância dos lazeres e das questões relativas à “cultura”. ” (p.11)

“Em suma, são centros de vida social e política onde se acumulam não apensa riquezas como também os conhecimentos, as técnicas e as obras (obras de arte, monumentos.” (p.12)

“Observamos também o deslocamento para bairros residenciais afastados e a pobreza crescente na área urbana central, a procura crescente pela segurança privada e pelo transporte individual e a proliferação de espaços monofuncionais.” (p.14)

O desaparecimento de espaços públicos multifuncionais não é apenas um caso a ser lamentado: pode gerar terríveis consequências sociais dando início a um processo de declínio. À medida que a vitalidade dos espaços públicos diminui, perdemos o hábito de participar da vida urbana da rua. O policiamento natural ou espontâneo das ruas, aquele produzido pela própria presença das pessoas, é substituído pela segurança oficial e a própria cidade torna-se menos hospitaleira e mais alienante. Logo, nossos espaços públicos passa a ser percebidos como realmente perigosos e o medo entra em cena.” (p.10/11)

“Atualmente, a ênfase encontra-se no egoísmo e na separação, em vez de basear-se em inter-relações e comunidade. Nestes novos tipos de desenvolvimento urbano, as atividades que tradicionalmente se sobrepõem são organizadas com o objetivo de maximizar o lucro para incorporadores e comerciantes. Os negócios são isolados e agrupadas em centros empresariais, as lojas são agrupadas em shopping centers com ‘ruas internas’, as casas, por sua vez, são agrupadas em bairros residenciais e conjuntos. Inevitavelmente as ruas e praças da cidade são esvaziadas de sua vida comercial e tornam-se nada mais que uma terra de ninguém, tomadas por carros particulares ou pedestres apressados.” (p.10)

“A cidade tem sido encarada como arena para o consumo. A conveniência política e comercial deslocou a ênfase do desenvolvimento urbano de atender às necessidades mais amplas da comunidade para atender às necessidades circunscritas de indivíduos.” (p.9)

“Nas últimas décadas e por todo o mundo, o domínio público das cidades, os espaços públicos entre os edifícios, tem sido negligenciados ou dilapidados. Este processo aumentou a polarização da sociedade e criou mais pobreza e alienação. São necessários novos conceitos de planejamento urbano para integrar as responsabilidades sociais. As cidades cresceram e transformaram-se em estruturas tão complexas e difíceis de administrar, que quase não nos lembramos que elas existia em primeiro lugar, e acima de tudo, para satisfazer as necessidades humanas e sociais das comunidades.” (p.8)

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“A cidadania manifesta-se em gestos cívicos planejados e de grande escala, mas também em gestos espontâneos e de pequena escala. Juntos, eles criam a rica diversidade da vida urbana.” (p.15)

“É fantástica sua combinação de idades, raças, culturas e atividades, a mistura de comunidade e anonimato, de familiaridade e surpresa, e até mesmo o senso de perigosa efervescência. Admiro seus espaços grandiosos, bem como a animação que simples cafés ou bares de calçada trazem às ruas. A vitalidade informal do espaço público é a mistura de espaços de trabalho, lojas e casas que torna os bairros vivos.” (p.15)

“Os italianos têm, inclusive, uma palavra especial que descreve a forma como homens, mulheres e crianças interagem com o espaço público da cidade à medida que caminham pelas ruas e praças à noite: é a passeggiata.” (p.15)

“Devem sentir que o espaço público é responsabilidade e propriedade da comunidade. Da ruela mais modesta até a grande praça cívica estes espaços pertencem aos cidadão e completam a totalidade da esfera pública, uma instituição com seus próprios direitos que, como qualquer outra, pode aumentar ou frustrar nossa existência urbana.” (p.16)

“Os atenienses da Grécia antiga reconheciam a importância da cidade e o papel que ela desempenhava no estímulo da moral e democracia intelectual de seu tempo. A ágora, os templos, o estádio, o teatro e os espaços públicos entre eles eram, a um só tempo, expressão artística grandiosa da cultura helênica e os catalisadores do seu rico desenvolvimento humanista.” (p.16)

“ É muito grave situar a cultura das cidades e segundo plano na agenda política, porque embora elas sejam lugares onde a vida pode ser bem precária, as cidades também podem nos inspirar. Esta é a dicotomia da cidade: seu potencial para embrutecer e para refinar.” (p.17)