Leitura Coletiva. O Poeta e a Perplexidade Carlos Drummond de Andrade.

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O Poeta e a Perplexidade Carlos Drummond de

Andrade

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Sentimento do Mundo

Tenho apenas duas mãos e o sentimento do mundo, mas estou cheio escravos, minhas lembranças escorreme o corpo transige na confluência do amor.

Quando me levantar, o céu estará morto e saqueado, eu mesmo estarei morto, morto meu desejo, morto o pântano sem acordes.

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Os camaradas não disseram que havia uma guerra e era necessário trazer fogo e alimento. Sinto-me disperso, anterior a fronteiras, humildemente vos peço que me perdoeis.

Quando os corpos passarem, eu ficarei sozinho desfiando a recordação do sineiro, da viúva e do microcopista que habitavam a barraca e não foram encontrados ao amanheceresse amanhecer mais que a noite

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Interpretação • Sentimento do mundo" é primeiro poema e o que deu

nome ao livro. Ele nos revela a visão-de-mundo do poeta: não é alegre, antes, é cheia da realidade que sempre nos estarrece, porque, por mais que sonhemos, a realidade geralmente é dura e muito desafiante.O poeta inicia (estrofe 1) indicando suas limitações para ver o mundo:Tenho apenas duas mãos;mas aponta, em seguida, alguns elementos auxiliares que o ajudarão a suprir suas deficiências de visão: escravos, lembranças e o mistério do amor (versos 3 a 5); escravos podem ser os meios escusos de que nos utilizamos para tocar a vida e decifrá-la e dela nos aproveitarmos.

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O pessimismo denuncia-se com as mortes do céu e do próprio poeta, na estrofe 2. Apesar da ajuda incompleta dos companheiros de vida ("Camaradas"), o poeta não consegue decifrar os códigos existenciais e pede, humilde, desculpas.

Nas duas últimas estrofes, Drummond pinta uma visão de futuro bem negativo, mas bem real: mortos, lembranças, tipos de pessoas que sumiram nas batalhas da vida ("guerra", na estrofe 3). Conclui, na estrofe 5, que o futuro ("amanhecer") é bem negro, tenebroso. Feita só de dois versos, sintetiza seu sentimento do mundo.

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Menino chorando na Noite

Na noite lenta e morna,morta noite sem ruído,um menino chora.O choro atrás da parede,a luz atrás da vidraçaperdem-se na sombra dos passos abafados,das vozes extenuadas,e, no entanto,se ouve até o rumor da gota de remédiocaindo na colher.

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Um menino chora na noite,atrás da parede, atrás da rua,longe um menino chora,em outra cidade talvez,talvez em outro mundo.

E vejo a mão que levanta a colher,enquanto a outra sustenta a cabeçae vejo o fio oleosoque escorre pelo queixo do menino,escorre pela rua, escorre pela cidade,um fio apenas.E não há mais ninguém no mundoA não esse menino chorando.

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Interpretação

O poeta ouve um menino chorando numa noite silenciosa, recebendo uma colher com um remédio líquido, que escorre pelo canto de sua boca. Parece no mundo só existir aquele menino, e o fio oleoso que escorre de sua boca também escorre pelas ruas da cidade.

A imagem da noite remete à época histórica vivida, de escuridão, pessimismo. Da mesma forma que para o menino havia um remédio, que escorria de sua boca, talvez houvesse outro remédio para o mundo: a guerra, que fazia escorrer pelas ruas o sangue.

 

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Os ombros suportam o mundo 

Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.Tempo de absoluta depuração.Tempo em que não se diz mais: meu amor.Porque o amor resultou inútil.E os olhos não choram.E as mãos tecem apenas o rude trabalho.E o coração está seco. Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.Ficaste sozinho, a luz apagou-se,mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.És todo certeza, já não sabes sofrer.E nada esperas de teus amigos.

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Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?Teus ombros suportam o mundoe ele não pesa mais que a mão de uma criança.As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifíciosprovam apenas que a vida prosseguee nem todos se libertaram ainda.Alguns, achando bárbaro o espetáculo,preferiram (os delicados) morrer.Chegou um tempo em que não adianta morrer.Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.A vida apenas, sem mistificação.

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Interpretação

Poema publicado primeiramente em 1940, no livro "O Sentimento do Mundo", é um dos que traz de fato o sentimento do mundo em face à Segunda Guerra Mundial. Tornam-se inúteis para o eu lírico as emoções, o amor, a religião, ele se sente solidário com os que ainda não se libertaram do sofrimento.

E sua vida traz uma nova ordem de continuar e sofre junto com aqueles que sofrem, tendo a “sensação” de carregar o mundo nos ombros.

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Mundo GrandeMundo grandeNão, meu coração não é maior que o mundo.É muito menor.Nele não cabem nem as minhas dores.Por isso gosto tanto de me contar.Por isso me dispo,por isso me grito,por isso frequento os jornais, me exponho cruamente nas

livrarias:preciso de todos.Sim, meu coração é muito pequeno.Só agora vejo que nele não cabem os homens.

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Os homens estão cá fora, estão na rua.A rua é enorme. Maior, muito maior do que eu esperava.Mas também a rua não cabe todos os homens.A rua é menor que o mundo.O mundo é grande.Tu sabes como é grande o mundo.Conheces os navios que levam petróleo e livros, carne e

algodão.Viste as diferentes cores dos homens,as diferentes dores dos homens,sabes como é difícil sofrer tudo isso, amontoar tudo issonum só peito de homem... sem que ele estale.

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Fecha os olhos e esquece.Escuta a água nos vidros,Tão calma. Não anuncia nada.Entretanto escorre nas mãos tão calma! Vai inundando tudo...Renascerão as cidades submersas?Os homens submersos – voltarão?Meu coração não sabe.Carlos Drummond de AndradeEstúpido, ridículo e frágil é meu coração.Só agora descubroComo é triste ignorar certas coisas.

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(Na solidão de indivíduodesaprendi a linguagemcom que os homens se comunicam.)Outrora escutei os anjos,as sonatas, os poemas, as confissões patéticas.Nunca escutei voz de gente.Em verdade sou muito pobre.Outrora viajeipaíses imaginários, fáceis de habitar,ilhas sem problemas, não obstante exaustivas e

convocando ao suicídio.Meus amigos foram às ilhas.Ilhas perdem o homem.

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Entretanto alguns se salvaram e trouxeram a notícia de que o mundo, o grande mundo está crescendo todos

os dias,entre o fogo e o amor.Então meu coração também pode crescer.Entre o amor e o fogo,entre a vida e o fogo,meu coração cresce dez metros e explode– Ó vida futura! nós te criaremos.

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Interpretação

Quando o livro foi publicado estavamos vivendo em uma epoca de absoluta censura (vivíamos a época de ascensão dos grandes ditadores, como Getúlio no Brasil, Hitler na Alemanha e varios outros ditadores. Tem como um dos temas explicitos temas sociais, aos problemas de um mundo marcado pelas injustiças e também pelas grandes transformaçoes.

Inicialmente o eu lirico expoe no poema as suas incertezas das suas capacidades, ou seja ja sabe o seu limite final. Afirmando que o seu coração não é maior que o mundo.

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O conflito entre o eu e o mundo mostra no poema de forma explicita ,que se faz de incapaz de sentir as dores do mundo. As proprias dores que ele expoe no poema ultrapasam o limite do seus objetivos. e por isso tem a necessidade de uma outra pessoa para dividir suas dores.

E que nisso tudo há uma esperança de tanta maldade e sofrimrnto.Mas ele agora sabe que todos nós precisamos uns dos outros para criar uma vida futura mais melodiosa e agradável e fazer renascer as cidades submersas.

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Noturno a janela do apartamento

‘’Silencioso cubo de treva:um salto, e seria a morte.mas é apenas, sob o vento,a integração da noite.nenhum pensamento de infância,nem saudade nem vão propósito.Somente a contemplaçãode um mundo enorme e parado.

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A soma da vida é nula.mas a vida tem tal poder:na escuridão absoluta,com líquido, circula.38Carlos Drummond de AndradeSuicídio, riqueza, ciência...A alma severa se interrogae logo se cala. e não sabese é noite, mar ou distância.triste farol da ilha Rasa’’

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Interpretação Neste poema do livro Sentimento do Mundo, o autor

mostra sua visão pessimista do mundo, obscura. É notório que nesta época em que estava ocorrendo a 2º Guerra Mundial, não havia esperança, não havia otimismo. Consequentemente, Carlos demonstra em sua  falta de confiança com o mundo. Onde tudo era apenas "…escuridão absoluta, como líquido, circula. Suicídio, riqueza, ciência…".

Em Sentimentos do Mundo, Carlos Drummond mostra sua visão e sensação de viver em uma sociedade desigual, onde há guerras, ódios, crises financeiras etc.Na coletânea de 28 poemas ele escreve críticas, retratos de solidão, tristeza, angústias e esperanças de um mundo melhor e mais justo.

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A noite dissolve os homens

A noite desceu. Que noite!

Já não enxergo meus irmãos.E nem tão pouco os rumores que outrora me perturbavam.A noite desceu. Nas casas, nas ruas onde se combate,nos campos desfalecidos, a noite espalhou o medo e a total incompreensão.A noite caiu. Tremenda, sem esperança...Os suspiros acusam a presença negra que paralisa os guerreiros.E o amor não abre caminho na noite.A noite é mortal, completa, sem reticências,a noite dissolve os homens, diz que é inútil sofrer,a noite dissolve as pátrias, apagou os almirantes cintilantes!nas suas fardas.

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A noite anoiteceu tudo... O mundo não tem remédio...Os suicidas tinham razão.Aurora, entretanto eu te diviso,ainda tímida, inexperiente das luzes que vais ascendere dos bens que repartirás com todos os homens.

Sob o úmido véu de raivas, queixas e humilhações,adivinho-te que sobes,vapor róseo, expulsando a treva noturna.O triste mundo fascista se decompõe ao contato de teus dedos,teus dedos frios, que ainda se não modelaram mas que avançamna escuridãocomo um sinal verde e peremptório.

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Minha fadiga encontrará em ti o seu termo,minha carne estremece na certeza de tua vinda.

O suor é um óleo suave, as mãos dos sobreviventesse enlaçam,os corpos hirtos adquirem uma fluidez, uma inocência, um perdãosimples e macio...

Havemos de amanhecer.O mundo se tinge com as tintas da antemanhãe o sangue que escorre é doce, de tão necessáriopara colorir tuas pálidas faces, aurora.

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Interpretação - Dedicação

- História da Guerra (estragos e destruições)- 1º estrofe - Guerra 2º estrofe – A esperança 3º estrofe – “alerta” - No poema a 42 versos, dividindo – se em três estrofes e divido em dois segmentos: “noite” e “aurora” No fim do verso a aurora, ela significa que apesar de toda a dor, ainda exista esperança. - “Noite” como sinônimo de uma bomba. - “Campos desfalecidos”

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Congresso internacional do

medo Provisoriamente não cantaremos o amor, que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços, não cantaremos o ódio porque esse não existe, existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos, o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas, cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas, cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte, depois morreremos de medo e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas.

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Interpretação

Em Congresso internacional do medo,o sentimento de medo se alastra pelo mundo e paralisa os homens impedindo os de se rebelarem contra a ordem estabelecida. O medo se faz presente em todos os lugares, em todas as pessoas e em todos os níveis, impedindo as ações e culminando na paralisia geral da morte. na própria forma do poema, a palavra “medo” vai se espalhando por todos os versos e o som da sibilante contínuo no último verso do poema “Sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas” parece sugerir que os efeitos do medo prolongam-se para além do ponto final. Ou seja, o medo não encontra obstáculos que o interrompa.

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Fim

AmandaAmandaBruna RodriguesBruna Rodrigues

Isabela ReisIsabela ReisJuliana RuizJuliana RuizThaina SaraThaina Sara

Vivian FontesVivian Fontes