Leitura Interdisciplinar: utopia ou uma possibilidade · 2008-12-10 · nosso entendimento. Essa...

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LEITURA INTERDISCIPLINAR: UTOPIA OU UMA POSSIBILIDADE? LIGESKI, José do Carmo 1 RESUMO O presente artigo pretende mostrar os resultados obtidos a partir da implantação da proposta de intervenção na Escola Estadual Padre Pedro Grzelczaki. O objetivo maior da proposta é desenvolver a leitura de forma interdisciplinar, (DCE, p. 61) onde ela deva ser prioridade para desenvolver um ensino mais eficiente. A partir de um Plano de Trabalho elaborado em 2007 como parte das atividades do PDE, levamos à discussão com os professores as deficiências que nossos alunos apresentam na prática da leitura. Com base nessas reflexões iniciais, cada professor trabalhou a leitura de modo que as idéias pertinentes aos temas trabalhados em sala fossem analisadas, discutidas e enfatizadas. Periodicamente fizemos reuniões para avaliarmos os resultados obtidos, o que precisaria ser mudado ou melhorado. Como um dos nossos objetivos é incentivar a troca de experiências, esses encontros estão sendo altamente positivos, pois estamos comprovando que se pode intensificar a prática de leitura e, assim, despertar nos nossos estudantes não só o gosto, mas também o valor dessa atividade intelectual na sua vida diária como instrumento de desenvolvimento pessoal. (BRITTO in Práticas de letramento no ensino, pp 65 e 66, org. CORREA E SALETH). Para que esta proposta possa ter êxito, é necessário muito esforço e planejamento, que certamente será o próximo passo para aperfeiçoarmos o que começamos. Assim, acreditamos que priorizar a leitura na escola é o melhor caminho para tornar a escola um lugar de desenvolvimento e formação de pessoas melhor preparadas para a vida. Palavras-chave: leitura, interdisciplinaridade, ensino-aprendizagem, planejamento. 1 Professor Especialista da Rede Pública do Ensino do Estado do Paraná

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LEITURA INTERDISCIPLINAR: UTOPIA OU UMA POSSIBILIDADE?

LIGESKI, José do Carmo1

RESUMO

O presente artigo pretende mostrar os resultados obtidos a partir da

implantação da proposta de intervenção na Escola Estadual Padre Pedro

Grzelczaki. O objetivo maior da proposta é desenvolver a leitura de forma

interdisciplinar, (DCE, p. 61) onde ela deva ser prioridade para desenvolver

um ensino mais eficiente. A partir de um Plano de Trabalho elaborado em

2007 como parte das atividades do PDE, levamos à discussão com os

professores as deficiências que nossos alunos apresentam na prática da

leitura. Com base nessas reflexões iniciais, cada professor trabalhou a

leitura de modo que as idéias pertinentes aos temas trabalhados em sala

fossem analisadas, discutidas e enfatizadas. Periodicamente fizemos

reuniões para avaliarmos os resultados obtidos, o que precisaria ser

mudado ou melhorado. Como um dos nossos objetivos é incentivar a troca

de experiências, esses encontros estão sendo altamente positivos, pois

estamos comprovando que se pode intensificar a prática de leitura e, assim,

despertar nos nossos estudantes não só o gosto, mas também o valor dessa

atividade intelectual na sua vida diária como instrumento de

desenvolvimento pessoal. (BRITTO in Práticas de letramento no ensino, pp

65 e 66, org. CORREA E SALETH). Para que esta proposta possa ter êxito, é

necessário muito esforço e planejamento, que certamente será o próximo

passo para aperfeiçoarmos o que começamos. Assim, acreditamos que

priorizar a leitura na escola é o melhor caminho para tornar a escola um

lugar de desenvolvimento e formação de pessoas melhor preparadas para a

vida.

Palavras-chave: leitura, interdisciplinaridade, ensino-aprendizagem,

planejamento.

1 Professor Especialista da Rede Pública do Ensino do Estado do Paraná

ABSTRACT

This article intends to show the results from the deployment of the proposed

intervention in the State School Padre Pedro Grzelczaki. The prime objective

of the proposal is to develop the reading in a interdisciplinary way, (DCE, p.

61) where it should be a priority to develop a more efficient teaching. From

a Work Plan prepared in 2007 as part of the activities of PDE, we discussed

with teachers the problems that our students were having in the practice of

reading. Based on these initial observations, each teacher worked on

reading and the relevant ideas of the issues worked in the classroom were

analyzed, discussed and emphasized. Periodically we had meetings to

evaluate the results obtained, what had to be changed or improved.

Because one of our goals is to encourage the exchange of experiences,

these meetings are being very positive, because we are proving that we can

intensify the practice of reading and thereby awakening in our students not

only the wish, but also the value of intellectual activity in their daily lives as

a tool for personal development. (BRITTO in Práticas de letramento no

ensino, pp 65 e 66, org. CORREA E SALETH). For this proposal to be

succeeded, we need much effort and planning, which will certainly be the

next step to improve what we started. Therefore, we believe that prioritizing

the reading at school is the best way to make school a place of development

of well-prepared people for life.

KEY-WORDS: reading, interdisciplinary approach, teach-learning, planning.

INTRODUÇÃO

Neste artigo, pretendemos apontar alguns caminhos para desenvolver

a leitura com alunos do ensino fundamental a partir de um plano de

trabalho orientado dentro do PDE-Programa de Desenvolvimento

Educacional desenvolvido pela Secretaria de Educação do Estado do Paraná.

O que vamos apresentar aqui são resultados parciais, visto que, por

escassez do tempo, ainda não podem ser considerados definitivos, portanto

são passíveis de mudança no que toca à metodologia aplicada. Pode-se

considerar esta análise como a primeira análise da proposta, e entendemos

que para termos resultados mais consistentes é necessário um tempo

maior, quando poderemos obter dados mais concretos em relação aos

objetivos desejados.

Este projeto em si consiste na busca por uma teorização, partindo

de situações concretas no ambiente de sala de aula. Há alguns anos

estamos constatando uma grande deficiência no ensino, e grande parte

dessa deficiência acontece por falta de utilizarmos a leitura como

instrumento indispensável que é para que o nosso aluno possa aprender.

E, ao longo dessas observações, pudemos sentir que não se pode

ensinar leitura somente com algumas aulas de português. Leitura está

ligada ao estudo de qualquer natureza, em qualquer campo de

conhecimento do ser humano. A leitura não serve apenas para entender

certos conceitos, ela faz parte do desenvolvimento do intelecto e da

personalidade do ser humano. Nas palavras do professor Nestor A. Kaercher

“Ler, escrever e falar em público é tarefa ontológica, intrínseca, eterna da

escola, de todos nós educadores.” (KAERCHER, 2001, p. 71).

PDE – PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL

O PDE é um programa de formação continuada para professores da

rede pública de ensino do estado do Paraná, idealizado pela SEED-PR. Tem

duração de dois anos. No primeiro ano, o professor dedica-se integralmente

ao curso que se divide em quatro partes.

No primeiro semestre, ele realiza os cursos teóricos que são

organizados pelas IES e elabora um Plano de Trabalho para ser implantado

como proposta posteriormente na escola onde atua.

No segundo semestre, o professor recebe treinamento técnico para

desenvolver outra etapa do projeto, o GTR-Grupo de Trabalho em Rede,

onde vai monitorar um grupo de professores (máximo 37) pela internet sob

a supervisão da SEED. Nessa etapa, o professor deverá elaborar algum tipo

de material didático (Folhas, Vídeo) que seja destinado a alunos e expô-lo à

apreciação dos professores do seu grupo (GTR).

No segundo ano, o professor retorna à sala de aula com 75% da sua

carga horária, e no primeiro semestre deverá implantar na escola a sua

proposta de intervenção. No segundo semestre ele conclui seu trabalho

escrevendo um artigo ou outro material de caráter pedagógico que seja

destinado a professores da rede. Ressalte-se que todo o seu trabalho, desde

a elaboração do Plano de Trabalho até a produção do material didático no

final do curso é acompanhado e orientado pelo seu professor orientador.

LEITURA COMO PRÉ-REQUISITO PARA ENSINAR: O QUE É ISSO?

Entendemos que leitura não pode ser tratada como “matéria” a ser

tratada apenas em algumas aulas de língua portuguesa e simplesmente

deixada de lado pelos demais educadores. Todas as aulas são oportunidades

de leitura, e foi com esta proposta que elaboramos este projeto e

apresentamos aos colegas da escola e com eles discutimos a viabilidade de

aplicação dele em sala de aula.

Nossa proposta busca desenvolver quatro objetivos que citamos a

seguir:

1) Priorizar a leitura como pré-requisito dos conteúdos a serem

trabalhados pelo professor;

2) Dialogar com alunos e professores sobre as inúmeras

possibilidades de leitura, interpondo as diferentes disciplinas

do currículo;

3) Propiciar situações de leitura em diferentes gêneros e

formas, possibilitando debates, confronto de idéias e

comparações de fatos;

4) Incentivar a troca de experiências de leitura entre

professores, procurando enriquecer a prática de cada um no

seu campo de atuação.

Nesse primeiro contato, a idéia pareceu um tanto estranha para

alguns, porque definitivamente se discute muito sobre problemas de

aprendizagem; buscam-se soluções para suprir essas deficiências, mas não

se discute com ênfase a deficiência de leitura dos nossos estudantes.

Mesmo causando algumas polêmicas, esse primeiro encontro serviu

para algumas reflexões sobre essa defasagem de leitura e também sobre a

formação que nós, professores, recebemos na nossa vida acadêmica e, por

que não dizer, de toda a nossa experiência escolar. Esse momento trouxe à

tona algumas considerações importantes: como trabalhar leitura em

conteúdos tão diversificados?

Antes que o projeto fosse implantado, tivemos um segundo encontro

do qual a nossa orientadora, Professora Doutora Djane Antonucci Correa

participou esclarecendo, conversando com os professores e orientando-os a

respeito das idéias centrais do projeto. Esses dois encontros serviram como

preparação para implantarmos o plano na escola. Nos encontros futuros,

cada um deveria expor suas dificuldades e seu progresso em relação à

utilização da leitura em suas aulas.

Afirmar que ensinamos sem leitura pode parecer uma afirmação

leviana da nossa parte. Antes, o que se faz necessário é deixar claro o que

entendemos por leitura. Se o nosso aluno lê o que escrevemos, ele faz

leitura; se lê alguns textos do livro didático ou, esporadicamente um ou

outro texto, também é leitura. Mas a questão é: que leitura é essa? Até que

ponto esse nosso aluno consegue refletir e emitir opiniões sobre o que leu?

Segundo o professor Ezequiel Teodoro da Silva “Situa-se aqui o primeiro

grande desafio do ensino-aprendizagem, ou seja, “ler” criticamente o

mundo contemporâneo para perceber que dentro dele ocorre uma veloz

explosão de informações.” (SILVA, 2004, p 26).

Ler criticamente o mundo, eis o desafio para professores e alunos, e

este desafio muitas vezes é para o próprio professor que, nas palavras do

mesmo autor “..seria melhor falar do trinômio aprendizagem-ensino-

aprendizagem. Mesmo porque quem ensina precisa primeiro aprender para

depois ensinar.” (ibid.)

Essa dificuldade de trabalhar com leitura é uma realidade que se faz

presente para o corpo docente, principalmente no ensino fundamental.

Fomos formados para dar aulas, para transmitir conteúdos com domínio e

eficiência, mas não fomos treinados, embora habilitados, para trabalhar

com leitura. Essa deficiência da formação de professores da atual geração

aparece no depoimento de uma professora que humildemente afirmou o

seguinte: “ Não sou uma leitora assídua e, confesso, tenho

dificuldades de trabalhar com leitura na minha disciplina de uma

forma mais profunda e crítica.” A insegurança de pôr em prática uma

maneira diferente de ensinar, ou seja, compartilhando leituras com os

alunos, deixou alguns professores bastante inseguros quanto à eficiência da

proposta por nós apresentada, Contudo, para outros não representou

grandes dificuldades. São justamente aqueles que são leitores assíduos e já

congregam, de certa forma, a leitura mais crítica em suas aulas. Num

ponto, porém, houve unanimidade: poucos alunos gostam de ler.

Outra dificuldade que se percebeu por parte da maioria foi: como

vencer os conteúdos se trabalharmos mais com leitura? Como se fosse

possível trabalhar um conteúdo sem leitura. Sabemos que os conteúdos são

fundamentais para a formação do aluno. Nenhuma proposta seria coerente

se a idéia fosse “eliminar” conteúdos. O que procuramos mostrar aos

nossos colegas que é bem mais profícuo trabalhar conteúdos lendo,

refletindo, pensando e repensando conceitos, concordando ou discordando.

E isso só é possível fazer se o professor criar situações para esses debates.

Todos os nossos professores são ótimos na sua

disciplina. Mas todos se queixam que os alunos não aprendem. Onde está o

problema?

O nosso primeiro objetivo, como mencionado no início deste artigo é

priorizar a leitura como atividade constante na sala de aula. As leituras

recomendadas pelo professor devem fazer parte da aula, como elemento

básico para entender melhor o que está sendo ensinado. Assim, o professor

não precisa ficar preso aos conteúdos do livro didático, com textos muitas

vezes fragmentados ou sintetizados e uma gama de exercícios

intermináveis e repetitivos, que não permitem nem aos alunos nem ao

professor uma discussão mais profunda e eficaz sobre o assunto. Queremos

deixar claro aqui que não estamos condenando o livro didático, ele pode ser

o nosso apoio em inúmeras aulas, entretanto não devemos segui-lo como se

fosse um seriado, capítulo por capítulo. Cabe ao professor selecionar o que

vai utilizar e quando utilizar esse instrumento. Lembramos aqui o que diz o

professor Nestor A. Kaercher “O livro, o conteúdo deve estar a nosso serviço

e não ser o senhor do processo pedagógico.” (KAERCHER 2001, p. 75)

Outro objetivo que buscamos nesta proposta de leitura é possibilitar o

diálogo entre professores/alunos, professores/professores sobre as inúmeras

possibilidades de leitura, que poderão ser desenvolvidas. Nesse aspecto, as

primeiras dificuldades surgiram na questão entrosamento. Explica-se.

Nunca paramos para discutir dificuldades de leitura. Sempre discutimos as

dificuldades de aprendizagem, e a falta de leitura, a mãe de todas as

dificuldades, sempre ficou de fora do processo. Não dá para discutir

ensino/aprendizagem sem antes falar de leitura. Esta antecede aquela no

nosso entendimento. Essa articulação entre professores/alunos/professores

certamente é o que vai representar um peso maior no resultado final do

processo. Sugerimos aos colegas para trocarmos material e informações a

fim de criarmos situações de leitura em diferentes gêneros e tipos,

possibilitando debates, confronto e comparações de idéias e fatos.

Nosso objetivo com essa prática é incentivar a troca de experiências

de leitura entre professores, procurando enriquecer o trabalho de cada um

no seu campo de atuação ou na sua disciplina.

TRABALHAR COM LEITURA EM TODAS AS DISCIPLINAS. COMO?

Neste ponto queremos deixar claro que não é nossa pretensão ensinar

professores como trabalhar com leitura. Temos como propósito, antes de

tudo, trocar experiências e rever as nossas práticas como docentes, visando

à melhoria do ensino. Constatado o problema, há que se buscar soluções. E

trabalhando em conjunto, tudo fica mais fácil. E como leitura é um ato

abrangente, sugerimos que cada professor aproveitasse ao máximo dentro

da sua disciplina as várias possibilidades de leitura: livros, periódicos,

filmes, documentários, artes plásticas, mas sempre fazendo de forma crítica

e relacionando-as com os temas presentes nas aulas dadas. O professor de

português pode utilizar um texto de história, biologia, ou de outros campos

da ciência. Professores de geografia, matemática ou história podem se

utilizar de um poema para ilustrar melhor a sua aula. E o aluno deve sempre

ser sujeito nesse processo.

Sendo a leitura um “ato dialógico”, (BAKHTIN,1997) ela deve se fazer

presente em todas as aulas. Conforme as DIRETRIZES CURRICULARES DE

LÍNGUA PORTUGUESA “É nessa dimensão dialógica, discursiva, intertextual,

aberta a toda sorte de contágio, que a leitura deve ser experienciada, desde

a alfabetização.” Não se trata de um professor “invadir” o espaço do outro.

Como professor de português não me atreveria ensinar sobre escarpa

devoniana; um professor de história não vai ensinar para seus alunos a

diferença entre novela e romance numa aula de história. O que se propõe é

a utilização da leitura adequada ao momento da aula e sempre tendo o

aluno como elemento ativo nessa atividade.

Nesse aspecto, nos apoiamos no que afirma o professor Luiz Percival

Leme Britto:

“Por isso, ao invés de apresentar qualquer nova proposta de ensino de língua portuguesa, parece-me necessário avançar a reflexão sobre a instituição escolar tal qual ela se nos apresenta atualmente, e, a partir daí, pensar eixos organizadores para uma educação transdisciplinar.” (BRITTO, 2007).

Essa educação transdisciplinar de que nos fala o professor Percival vai

além do que entendemos por interdisciplinar (relação entre disciplinas). É

uma proposta mais universalista e, mais do que nunca, práticas eficientes

de leitura são necessárias para que obtenhamos êxito no nosso trabalho.

E para que essa educação transdisciplinar se realize é imperativo que

os professores estejam preparados e motivados para mudarem estratégias,

metodologias e até mesmo o seu relacionamento com os alunos no

cotidiano da sala de aula. Não se trata de uma vez ou outra fazer uma aula

“diferente.” Isso acreditamos que todos os professores o fazem. Trata-se de

dar outra dinâmica ao ensino, de modificar a própria concepção de

ensino/aprendizagem. E o maior desafio é fazer do aluno um ser ativo em

vez de passivo nesse processo. Para ele, aluno, aula é simplesmente copiar

conteúdos, fazer exercícios do livro ou elaborados pelo professor sem

nenhuma participação mais efetiva. Mudar isso é tarefa do professor e da

escola. Não será uma mudança simples e que vai acontecer facilmente, mas

em algum momento ela terá que acontecer. E deve começar no chão da

escola com um esforço unificado do corpo docente e equipe pedagógica.

Não se modifica uma situação precária de aprendizagem como a que

vivenciamos por decreto ou programas emergenciais e isolados.

E nesse aspecto, o corpo docente da nossa escola, na qual

implantamos a proposta, demonstrou bastante interesse em discutir novas

formas de melhorar o nível de leitura dos alunos, a despeito de inúmeras

dificuldades como classes muito numerosas, biblioteca precária e sem

funcionários para atender os estudantes, alunos desmotivados etc. Como

hoje dispomos de algumas horas/atividade, tornou-se possível aos

professores trocarem informações sobre suas práticas e até mesmo

planejarem alguns temas de forma mais coesa. Todavia, isso ainda é pouco

e, além do mais, para alguns profissionais da nossa rede, trabalhar de forma

interdisciplinar ainda é uma idéia que assusta. E mais uma vez fica claro

que a nossa formação não foi direcionada para profissionais que deveriam,

na prática, ensinar a ler e valorizar a leitura e a cultura em geral. A escola

onde trabalhamos é pequena e se encontra na periferia da cidade. Como o

número de professores é pequeno, é possível trabalharmos em equipe, e foi

esse fator que propiciou algumas facilidades para implantarmos a nossa

proposta de intervenção.

Projetos e programas de leitura não faltam. Mas entendemos e

acreditamos que uma mudança de direcionamento para tornar o aluno

sujeito no processo ensino/aprendizagem deve partir do próprio corpo

docente. Para isso, cada profissional deve: 1) fazer uma autocrítica e

reconhecer onde está falhando; 2) dar sugestões e dizer o que pensa, pois o

mínimo que se espera de um professor é que ele seja um cidadão

atualizado e crítico.

O ensino como se encontra hoje, sem leitura e sem motivação por

parte de professores e alunos, está condenado a se tornar uma mera

reprodução de conteúdos e exercícios sem objetivos. E a finalidade é, antes

de tudo, despertar no estudante o seu senso crítico.

ALUNO-LEITOR CRÍTICO: É POSSÍVEL?

Antes de julgarmos a possibilidade de formar leitores, devemos fazer

algumas reflexões: qual é o perfil do nosso aluno hoje? O que interessa mais

a ele no estágio atual da sociedade em que está inserido? Com tanta

revolução tecnológica, a internet a sua disposição, tudo acontecendo num

ritmo alucinante, o que a leitura pode significar na sua vida? Seria uma

coisa atraente para ele?

Analisando friamente, diríamos que não. Dar um livro na mão do

aluno, mesmo que seja uma obra prima da literatura ou um tratado

científico fascinante, não despertará seu interesse, pois a leitura até esse

momento não foi despertada dentro dele.

Mas se cada professor tiver preparo e paciência necessários para

comentar sobre determinadas obras, ler junto, contextualizar a leitura, seja

ela uma reportagem, uma crônica, um poema ou um filme; que saiba “ligar”

isso tudo ao contexto, certamente vai começar a mostrar que leitura não é

a “coisa chata” que lhe é atribuída pela maioria dos alunos.

Leitura, num primeiro momento, não se faz por obrigação ou por

tarefa. Faz-se por necessidade e associação de idéias. Necessidade porque

ao expor aos alunos determinados conteúdos, o professor vai pedir a eles,

alunos, que leiam em determinado livro, jornal ou revista tal texto,

reportagem ou crônica que venha reforçar o tema explicado pelo professor.

É a oportunidade para o professor mostrar que os textos dialogam entre si,

e que autor e leitor são personagens vivos e ativos dos fatos. “Um texto

agencia um espaço de interlocução que multiplica, potencializando,

as possibilidades de leitura.” (DIRETRIZES, 2006), pág. 61. Quando o

aluno associa uma coisa a outra, ele começa a se tornar um leitor. A aula foi

dada, mas a participação do aluno só vai acontecer se ele for envolvido,

comentando, concordando ou discordando. Se o aluno tiver a oportunidade

de ler e comentar sobre o tema trabalhado, o processo de leitura crítica já

está acontecendo.

Esse primeiro momento é bastante difícil. O desinteresse do aluno

pela leitura esfria o ânimo do professor. E, além disso, no dia-a-dia da sala

de aula, o professor identifica bons leitores, uma minoria, e muitos outros

esforçados ou alienados, mas com uma leitura superficial. Uma leitura que

não passa de mera decodificação.

Num dos encontros que tivemos, uma professora desabafou: “Parece

que não estou fazendo nada de novo, não consigo ver resultados.”E

a mesma professora disse uma frase surpreendente: “ Eu deveria falar

menos e deixar meus alunos falarem mais, mas não me sinto

segura ainda para fazer isso.” Vemos por esse depoimento que vontade

de mudar não falta, e que parte do caminho já está sendo percorrido, pelo

menos por essa colega que, mesmo angustiada pela situação, afirmou que

sentiu uma certa melhora na participação dos alunos nas aulas após a

implantação do projeto no que concerne à leitura. Ela atribuiu essa melhora

ao conjunto de fatores que foram se somando na prática e não a uma ação

isolada.

Segundo a colega mencionada, é difícil romper com os velhos

paradigmas, pois, segundo ela, somos aquilo que nos formaram, não só

profissionalmente, mas também socialmente. Mas se quisermos mudar o

ensino, temos que começar por nós mesmos.

Outra professora afirmou que a implantação do projeto e as reflexões

que se fizeram a partir de então, permitiram a ela estabelecer uma melhor

articulação entre leitura e conteúdos. No olhar da professora, houve

melhora de qualidade no tocante a questões perguntas/respostas. Palavras

da professora: “A partir das discussões sobre leitura, procurei mais

opções de leitura relativas a minha disciplina. Posso inclusive

trabalhar até com obras da literatura brasileira, como “Vidas

Secas” de Graciliano Ramos que ilustra tão bem o drama da seca e

a vida dos retirantes. Leituras assim enriqueceriam as minhas

aulas.”

Depoimentos como esses mostram que é possível trabalhar a leitura

de forma interdisciplinar e enriquecedora. A professora citada disse ainda

que tem pleno domínio da sua disciplina, considera-se uma estudiosa da

geografia, mas lhe faltam outras leituras que, segundo ela, fazem muita

falta no momento de compartilhar com seus alunos uma leitura

complementar e uma discussão mais aprofundada de determinados temas.

Já a colega da disciplina de História relatou que já faz parte da sua

prática reforçar suas aulas com leituras, debates e pesquisas. Segundo a

ela, “o livro didático não dá conta nem de leitura nem de conteúdo,

porque os conteúdos de história são amplos e extremamente

diversificados, não caberiam num único livro. Assim, os conteúdos

acabam sendo restringidos e sintetizados de tal forma que, se o

professor quiser fazer um trabalho mais aprofundado, tem que

completar com outras leituras. Esses conteúdos, sintetizados e

fragmentados, servem apenas para dar uma noção geral da

história, mas não permitem uma leitura e estudo mais

abrangentes.”

A maior dificuldade, segundo a professora, em trabalhar a leitura na

sua disciplina é fazer o aluno envolver-se com o texto. Para ela, o aluno lê

“de fora”, ou, em outras palavras, não se envolve, não toma partido, não

interage, mas lê por mera obrigação, mas que a partir do momento que

começou a compartilhar leitura com eles, percebeu uma melhora sensível

nas turmas em geral. Muitos alunos passaram a valorizar mais a história e

também associar melhor os fatos históricos entre si. E sem esse

envolvimento não há leitura, é um mero exercício muitas vezes sem

nenhum sentido. Assim,

“Mediante a leitura, se estabelece uma relação entre leitor e autor que tem sido definida como responsabilidade mútua, pois ambos têm a zelar para que os pontos de contato sejam mantidos, apesar das possíveis divergências entre opiniões e objetivos.” (KLEIMAN 2001p. 65)

Para a nossa colega de História “não pode haver leitura sem que

leitor e autor se encontrem em algum momento.” Acreditamos que,

como professores, todos já constatamos o fato de o aluno sempre “fugir” do

texto, em outras palavras, não assumir nenhuma responsabilidade como

sujeito da leitura e na leitura. E nossa função é inseri-lo nesse contexto de

diálogo leitor/autor.

Para outro professor, também de História, devemos utilizar várias

formas de leitura em sala de aula. Segundo seu pensamento, ler de

imagens, por exemplo, desperta bastante interesse no aluno. E esse

exercício , se bem trabalhada, ajuda o aluno nas outras leituras que o

professor propõe. Ele a chama de leitura por associação. Como outros

professores, este também faz algumas restrições ao livro didático que,

segundo ele, além de não serem direcionados para leituras mais

abrangentes, ainda vêm com muitos erros, inclusive de datas e dados. Para

o professor, o ato de ler é sempre um intertexto, se o aluno ainda não

entende isso, cabe ao professor conduzi-lo ao caminho certo. Para este

colega, “o aluno tem que estar motivado, pois sem motivação não

há leitura. E também cabe ao professor não só mostrar, mas provar

aos seus estudantes que a leitura é útil e necessária. Quando

lemos, interagimos, interferimos nos fatos, vasculhamos suas

causas e conseqüências. Leitura passa pela interatividade

aluno/autor/contexto, e o professor deve ser um bom guia nessa

jornada.” Na fala do professor Fernando Seffner são duas as tarefas

necessárias para retirar o indivíduo da exclusão social.

“Primeiro, possibilitar que a maioria se apodere da linguagem como instrumento de pensamento, e não simplesmente como técnica de transcrição e oralidade. Segundo, possibilitar a utilização dessa linguagem para teorizar outra experiência social daquela que a classe dominante considera legítima.” (SEFFNER, 2001 pág. 110)

Pode ser que o nosso aluno não perceba o quanto é importante o

domínio das várias linguagens que se cruzam no seu meio social. E é à

escola que cabe o papel de desenvolver esses diferentes discursos e

mostrar ao estudante a sua importância. Formar e informar.

Perguntamos aos nossos colegas sobre a possibilidade de um trabalho

interdisciplinar voltado para a prática de leitura teria êxito, e a maioria

afirmou que é possível sim, mas que dependerá muito do corpo docente e

equipe pedagógica. Tomamos aqui as palavras de uma professora de língua

portuguesa: “É possível sim, mas o que falta é planejamento. Cada

professor, de certa forma, já é interdisciplinar na sua prática, mas

não o é no seu trabalho como um todo. Por que os livros didáticos

não acompanham a interdisciplinaridade? Falta articulação entre os

livros didáticos e não podemos esperar que um dia isso venha

acontecer, pois há muitos interesses em jogo. Então a solução é o

professor criar o seu próprio material em consonância com os

demais colegas. Planejamento coletivo é a saída.”

Seria utopia um planejamento interdisciplinar? Nossos professores

não entendem assim, a despeito de cada grupo planejar por áreas. Jamais

descartaríamos um planejamento de disciplinas, mas entendemos que um

planejamento interdisciplinar seria um grande passo para se trabalhar a

leitura regular e diariamente na escola. Um planejamento assim seria a

oportunidade para que professores de diferentes formações trocassem

idéias e experiências de leitura que, aliás, é um dos objetivos do nosso

projeto. Citamos aqui o que declarou uma das professoras de matemática:

“A partir do momento que passamos a refletir sobre leitura, passei

a prestar mais atenção aos enunciados do livro didático e mesmo

aos que eu formulo para os alunos. Como são complicados! Passei a

ler junto com os meus alunos e só aí percebi a dificuldade deles

para entender uma linguagem tão complexa.”

Situações como essa relatada pela professora não são, geralmente,

discutidas a fundo quando se faz planejamento só por disciplina. Nossos

alunos já carregam a pecha de não gostarem de ler. Se não os auxiliamos,

ficarão cada vez mais distantes dos livros. Não podemos adivinhar suas

dificuldades, e eles não falam, mas a nossa experiência e percepção nos

dizem exatamente onde estão as maiores dificuldades deles. As disciplinas

em si já são multidisciplinares, conforme constata a professora de artes da

nossa escola: “A utilização de textos e outros trabalhos sobre artes

propicia inferências sobre todas as artes em si, como também

possibilita inferir sobre outras áreas do conhecimento. Por

exemplo, qual é a influência da música em nossa vida? Por que as

pessoas gostam tanto de música? Por que gostamos de olhar uma

pintura ou escultura? Qual é a relação de tudo isso com a nossa

vida?”

Para a professora, trabalhar com os alunos essas leituras nas artes

leva-os a refletir e reaprender outras áreas do conhecimento. Mas essa

multidisciplinaridade só vai acontecer se o professor estiver bem seguro do

que está fazendo, lendo muito e com muito planejamento.

É a partir dessas reflexões que entendemos ser possível conscientizar

os nossos alunos sobre a importância da leitura para sua formação tanto

intelectual como personalística. Não é mais possível insistir em formar e

educar só pele cópia ou reprodução; não se admite que no estágio atual de

desenvolvimento social e científico, ainda pratiquemos um modelo de

ensino excludente, embora tanto se propague a prática da inclusão.

Diplomas se conseguem com algumas horas de curso. Conhecimento e

preparo para a vida se faz com muita leitura e reflexão. Faz-se necessário

que nós, professores, abandonemos alguns daqueles velhos e surrados

jargões como “estude, senão você vai ser o último da fila” ou “se não

estudar, você não vai ser ninguém na vida.” Há milhares de pessoas com

uma pasta cheia de diplomas, porém incapazes de interpretar um parágrafo

que apresente um pequeno grau de dificuldades ou de responder

satisfatoriamente uma simples entrevista. O domínio da linguagem ainda é

uma grande barreira para muitos que anseiam por um bom lugar no mundo

do trabalho. Vencer essa barreira é o desafio a ser vencido, e é pela leitura

que devemos começar. Formação intelectual aliada à formação humana é,

ou deveria ser, o objetivo maior do ensino, desde o ciclo básico à

universidade. E o domínio da leitura é essencial para que o indivíduo se

sinta seguro, autoconfiante e competente na profissão escolhida.

Embora a leitura não seja uma prática escolar, mas uma prática

escolarizada, segundo Pietri, (2007) é na escola que o aluno terá o maior e

mais importante contato com a leitura. E é responsabilidade da escola

desenvolver no estudante essa competência. Ele, estudante, vai se

constituir leitor durante e a partir da escola. Negar ou omitir essa prática é

mera reprodução de conteúdos e discursos.

ALUNO E LEITURA: RELAÇÃO DIFÍCIL?

Nós, educadores, convivemos com uma imensa diversidade de

identidades no nosso trabalho. E como trabalhamos amparados num

planejamento de aulas e conteúdos pré-estabelecidos, muitas vezes caímos

na tentação da “produção em série”, ou seja, queremos obter os mesmos

resultados com alunos que são diferentes no ritmo, no grau de atenção e

até na receptividade diante deste ou daquele conteúdo trabalhado.

Queremos ensinar português ou geografia sem nos preocuparmos em fazer

o aluno pensar português e geografia. E se ele não internaliza o que está

estudando, fica difícil atraí-lo para o estudo, e mais difícil ainda atraí-lo para

fazer uma leitura independente e crítica. E aquela idéia cristalizada em

todas as escolas e de todos os níveis se repete: aluno não gosta de ler.

Mas se cada um de nós analisarmos com cuidado essa situação vai

constatar que o aluno gosta de ler sim. O que esquecemos muitas vezes de

verificar é o que eles lêem ou o que gostariam de ler. Esse é o nosso

primeiro equívoco. O segundo equívoco é cobrar certas leituras sem um

objetivo bem determinado. Por que devo ler isso? Quais são as finalidades

da leitura para aquele dia ou para aquela aula? O que a prática da leitura

pode mudar na nossa vida? Questionamentos assim, mais do que serem

feitos, devem ser mostrados na prática diariamente. O professor é o

mediador, e o seu domínio da leitura deve ficar evidente no dia-a-dia com

os seus alunos. Antes de exigir leitura, deve-se fazer leitura; antes de impor,

há que se sugerir, instigar, provocar.

RESULTADOS

Aproximadamente quatro meses após a implantação da Proposta de

Intervenção na escola, fizemos duas perguntas a alunos de 7ª e 8ª séries

sobre leitura. A primeira pergunta foi:

O que é leitura para você? E as respostas obtidas foram bastante

diversificadas. Separamos essas respostas em dois blocos.

“Leitura é conhecimento. Pode ser um livro, uma revista ou coisa mais

complexa”. (aluno de 8ª série)

“Leitura é aprender” (aluna de 8ª série)

“Leitura é conhecimento de novas palavras.” (aluna de 7ª série)

“Leitura é quando você se interessa por um livro e lê”

(aluna de 7ª série)

Como se observa nestes poucos depoimentos colhidos

aleatoriamente, a leitura está ligada ao conhecimento básico, sem estar

bem claro para os alunos o que realmente ela significa. É uma visão bem

utilitarista da língua, quase que restrita às atividades de sala de aula. Nos

quatro depoimentos colhidos, nenhum aluno falou da leitura como uma

atividade prazerosa ou, de outra forma, importante em sua vida, como

experiência compartilhada com outras pessoas.

Em outro grupo já recebemos depoimentos que mostram certo

progresso em relação ao valor do ato de ler.

“Leitura é tudo; filme, anúncios, uma entrevista. Na entrevista o

entrevistador “lê” o entrevistado.” (aluno de 8ª série)

“Leitura é o conhecimento do contexto. É a interpretação dos fatos.”

(aluna de 8ª série)

“Leitura é entender um livro, uma revista, um programa de televisão.

É entender o que ocorre a nossa volta. Não basta ler, temos que entender o

conteúdo.” (aluna de 7ª série)

“Leitura é uma descoberta.” (aluno de 7ª série )

Importante constatar nos dois blocos de depoimentos que os alunos

têm noção do que é leitura, mesmo porque os professores da nossa escola

procuram trabalhar a leitura de forma eficiente, apesar das dificuldades

anteriormente mencionadas. E mesmo encontrando resistência, aos poucos

eles estão se conscientizando do valor dessa prática.

Sobre a segunda pergunta, O que mudou na sua vida escolar a partir

da implantação do projeto? Novamente obtivemos respostas bem

diversificadas, mas animadoras em relação à proposta implantada.

“Eu não lia. Passei a ler de forma espontânea, isso me ajudou a

compreender melhor os assuntos da aula.” (aluno de 7ª série)

“Antes eu lia, mas era só ficção, mas agora eu leio outras coisas para

ter uma visão diferente do mundo.” (aluno de 8ª série)

“A nossa leitura melhorou a partir da cobrança maior dos professores.

Notamos que alguns colegas estão bem melhores para ler.” (aluna de 8ª

série)

“Comecei a ler mais e estou me tornando mais calmo, inclusive estou

falando mais devagar. Eu falo rápido demais. E agora já consigo falar de

coisas mais complexas.” (aluno de 8ª série)

“Houve evolução. Agora fazemos ligação do que lemos com a

realidade, aprendemos que mesmo numa propaganda tem alguma coisa de

gramática. Leitura é associação. Eu melhorei muito, agora quando vejo uma

propaganda ou um outdoor eu presto atenção. E também quando comecei

a ler mais, me tornei mais espontânea.” ( aluna de 7ª série )

“A partir do momento que os professores começaram a exigir mais

leitura, passei a relacionar tudo o que leio com a realidade.” (aluna de 8ª

série)

Estes poucos depoimentos que recebemos mostram que não é uma

missão impossível fazer com que o aluno leia, desde que essa leitura seja

bem direcionada e bem planejada pelo professor. E ela tem que ser uma

rotina na escola, uma prática constante dentro de cada conteúdo estudado.

Um parágrafo bem lido e compartilhado vale muito na caminhada do

aprender a ler. Nessa caminhada, cada um vai descobrindo com a ajuda do

professor o que é bom, o que é prazeroso e o que útil em termos de leitura.

Se ele vai descobrir tudo isso na leitura de numa pintura de Portinari, num

poema de Cecília Meireles ou na obra de um filósofo, isso será com ele.

Nossa parte é mostrar os caminhos. E são muitos!

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Quando decidimos participar do PDE - Programa de Desenvolvimento

Educacional, vislumbramos a possibilidade de levar à discussão alguns

questionamentos que vínhamos fazendo ao longo da nossa função de

educador na rede pública. Como professor de Língua Portuguesa,

observávamos a cada ano letivo que nossos alunos estavam lendo e

escrevendo cada vez pior.

Em 2007 tivemos a oportunidade, como participantes do PDE, de

aprofundar essas reflexões sobre essas deficiências dos nossos alunos na

sua produção escolar, principalmente na leitura. Foi com esse objetivo que

elaboramos um Plano de Trabalho, no qual todos os professores e equipe

pedagógica da escola poderiam participar, ou seja, um plano de trabalho

interdisciplinar. A elaboração desse plano e, posteriormente, a implantação

de uma proposta de intervenção na escola onde atuamos, propiciou

momentos muito ricos, que levaram a reflexões profundas sobre a leitura

como elemento básico para o ensino-aprendizagem.

Esses encontros foram fundamentais para direcionarmos a nossa

proposta, porquanto foi possível uma aproximação maior com colegas

professores de outras áreas com quem muito aprendemos e, também,

tivemos a possibilidade de voltar por algum tempo à universidade onde

participamos de alguns cursos preparatórios. Essa volta ao meio acadêmico

proporcionou uma oportunidade de aproximação da universidade com a

rede pública. E nessa aproximação, encontramos e reencontramos

professores da UEPG, entusiastas da PDE, que foram fundamentais para o

nosso trabalho nos cursos que ministraram. Nesses encontros, não só

obtivemos o suporte teórico necessário como também levamos um pouco

da nossa experiência como educadores da rede para a universidade.

Convidamos a orientadora do nosso trabalho, a Professora Doutora

Djane Antonucci Correa, que imediatamente aceitou a difícil tarefa,

principalmente na implantação da proposta no primeiro trimestre de 2008.

Embora a idéia inicial de um trabalho de leitura interdisciplinar tenha

causado alguma surpresa, seja pela ousadia ou até pela falta de uma

apresentação mais detalhada dos objetivos, gostaríamos de destacar aqui

que ela só foi possível graças a colaboração de todos os professores e da

equipe pedagógica da Escola Estadual Padre Pedro Grzelczaki, que

aceitaram o desafio e contribuíram muito com várias sugestões que

acrescentaram positivamente no nosso trabalho.

A implantação da proposta se deu no primeiro trimestre de 2008,

quando apresentamos e discutimos com os professores os objetivos que

pretendíamos atingir. Num segundo momento, ainda no primeiro bimestre,

a orientadora, Professora Djane, participou conosco explicando e

esclarecendo ao grupo os objetivos e fundamentos do Plano de Trabalho.

Posteriormente nos reuníamos para discutir sobre quais caminhos seguir

para trabalhar a leitura com os nossos alunos que vêem a leitura como uma

coisa chata e complicada.

Nesses encontros que organizamos, cada professor discorreu sobre o

seu progresso ou dificuldades, tanto por parte por parte deles, professores,

como por parte dos alunos. Dos alunos porque, pelo que se constatou, a

leitura há muito deixou de ser prioridade na escola; de professores, porque

trabalhar com leitura, fazendo com que o aluno se envolva nela, implica em

uma grande diferença. Conforme já expusemos no corpo deste artigo, as

dificuldades de boa parte dos professores em aliar a leitura a sua prática é

uma tarefa difícil. A resistência do aluno é muito grande, assim, encontrar

uma metodologia eficiente e adequada passou a ser o maior desafio para

todos nós. Como esta proposta não traz nenhuma “receita” acabada, mas

sugestões a serem experienciadas, cada professor procurou intensificar a

leitura como atividade diária em sala de aula. E quando chegamos ao final

do ano letivo, pudemos afirmar que os resultados foram gratificantes em

dois aspectos: os alunos começaram a entender a importância da leitura na

sua vida, e os professores passaram a dar também maior importância a ela,

a refletir e trocar experiências com colegas sobre as iniciativas que deram

certo ou não. Certamente este foi o resultado mais positivo do nosso

projeto.

Acreditamos que os primeiros passos que foram dados nos levam ao

caminho certo, mas há muito caminho a percorrer ainda. E o próximo passo

será o de elaborar um planejamento mais coerente com os nossos objetivos.

E essa vai ser a nossa meta para o futuro. Com os recursos de mídia de que

dispomos hoje, com uma biblioteca que possa dispor de recursos materiais

e humanos e com uma equipe de professores dispostos a mudar a realidade

em sua vida de educador e como educador, teremos sim alunos mais cultos,

mais educados e de espírito crítico. Não é utopia, é uma realidade que está

bem próxima. Basta acreditar e trabalhar.

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