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LEONARDO SILVEIRA DE SOUZA
A QUALIDADE NO PROCESSO DE SELEÇÃO DOS ATLETAS DASCATEGORIAS DE BASE DO FUTEBOL NA PERSPECTIVA DO TÉC NICO
CANOAS, 2007.
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LEONARDO SILVEIRA DE SOUZA
A QUALIDADE NO PROCESSO DE SELEÇÃO DOS ATLETAS DASCATEGORIAS DE BASE DO FUTEBOL NA PERSPECTIVA DO TÉC NICO
Trabalho de Conclusão do Curso de EducaçãoFísica do Centro Universitário La Salle - Unilasalle,como exigência parcial para a obtenção do grau deLicenciado em Educação Física, sob Orientação doProf. Otávio Nogueira Balzano
CANOAS, 2007
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TERMO DE APROVAÇÃO
LEONARDO SILVEIRA DE SOUZA
A QUALIDADE NO PROCESSO DE SELEÇÃO DOS ATLETAS DASCATEGORIAS DE BASE DO FUTEBOL NA PERSPECTIVA DO TÉC NICO
Trabalho de conclusão aprovado como requisito parcial para a obtenção do grau de
Licenciado em Educação Física, do Centro Universitário La Salle - UNILASALLE,
pelo seguinte avaliador:
Prof. Otávio Nogueira Balzano
UNILASALLE
Canoas, 09 de julho de 2007.
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Dedicatória
Dedico aos meus pais, Paulo e Ana, aos meus
verdadeiros amigos, e a todos aqueles que me
ajudaram com sua paciência e apoio para a
realização deste trabalho.
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"Existem homens que lutam um dia e são bons; existe m outros que lutam umano e são melhores; existem aqueles que lutam muito s anos e são muito bons.
Porém, existem os que lutam toda a vida. Estes são os imprescindíveis."
Bertolt Brechet
6
Agradecimento
Ao concluir este trabalho, quero agradecer,
primeiramente, a Deus pela força que me
proporcionou, e ao meu amigo, orientador,
professor Otávio Nogueira Balzano pela orientação
e incansável dedicação nessa elaboração.
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RESUMO
O presente trabalho teve como objetivo verificar a qualidade dos processos seletivosde jogadores nas categorias de base do futebol, na perspectiva do técnico. Acategoria escolhida foi a sub–20, nascidos até 1987, pois é uma categoria onde ojogador esta a um passo do nível profissional. O estudo se caracteriza por umainvestigação qualitativa dentro do futebol, categorias de base (sub–20),caracterizada por um estudo do caso no Grêmio FBPA. Os dados para essapesquisa foram obtidos, por uma entrevista semi–estruturada, com o técnico dacategoria investigada. Buscou–se estabelecer os pontos de convergência, entre aliteratura e os resultados obtidos, através do conhecimento do profissional deEducação Física atuante como técnico em categoria de base do futebol. Asreflexões finais sinalizam o contraponto entre a indicação teórica de critérios a seremavaliados, num jovem jogador, e a aplicação prática desses critérios no processo deseleção. Ao analisar os dados coletados, com a atual literatura, concluí que osprocessos seletivos estão qualificados e sendo valorizados dentro do clube deponta. O que é prenúncio de uma melhor qualidade dos jogadores oriundos desteprocesso.Palavras chave : Processos Seletivos - Futebol - Categoria sub 20.
ABSTRACT
The present work had the objective to verify the quality of the selective process ofplayers in the base categories of the soccer in the perspective of the technician. Thechosen category was “u – 20”, players born up to 1987, because it’s a categorywhere the player is a step from the professional level. The study characterizes for aqualitative inquiry of the soccer base categories (u - 20), built from a study of thecase in Grêmio FBPA. The data for this research had been gotten, for a interview -half structuralized with the technician of the investigated category. The objective wasto establish the convergence points, between the literature and results, through theknowledge of the professional of operating physical education as technician incategory of base. The final reflections signal the counterpoint between the theoricindication of criteria to be evaluated in a young player and the practical application ofthese criteria in the election process. When analyzing the collected data, with currentliterature, conclude that the selective processes are qualified and being valued insideof the top club, wich is prognostic of the better quality of the deriving players of thisprocess.Key Words: Selective Processes - Soccer - u 20 Category.
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................10
1.1 Breve história do futebol ...................................................................................11
2 HISTÓRIA DO FUTEBOL NO BRASIL ..................................................................13
2.1 A importância do futebol para o brasileiro ......................................................15
2.2 Futebol e ascensão social (futuro melhor) ......................................................16
3 A SELEÇÃO NAS CATEGORIAS DE BASE DO FUTEBOL .................................18
3.1 Categoria sub-20 (juniores) ...............................................................................19
3.2 Tipos de processos de seleção ........................................................................21
3.2.1 Peneiras............................................................................................................21
3.2.2 Empresários......................................................................................................21
3.2.3 Os observadores técnicos (olheiros..................................................................22
3.2.4 Os convênios e parcerias................................................................................. 22
3.2.5 As franquias e as escolinhas independentes................................................... 23
3.2.6 Futsal................................................................................................................ 23
3.3 O QUE É AVALIADO NO PROCESSO DE SELEÇÃO ? ...................................24
3.3.1 Capacidades condicionais (aspectos físicos)....................................................24
3.3.2 Resistência........................................................................................................25
3.3.3 Força.................................................................................................................26
3.3.4 Velocidade.........................................................................................................27
3.3.5 Capacidade coordenativas (aspectos técnicos)................................................27
3.3.6 Coordenação.....................................................................................................28
3.3.7 Domínio.............................................................................................................28
3.3.8 Condução e drible.............................................................................................29
3.3.9 Passe e chute....................................................................................................29
3.3.10 Aspectos táticos..............................................................................................30
3.3.11 Tática de jogo..................................................................................................30
3.3.12 Capacidades psicológicas...............................................................................31
3.4 PRINCÍPIOS PARA AVALIAÇÃO DE JOGADORES DE FUTEB OL.................31
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3.4.1 O atleta com a bola...........................................................................................31
3.4.2 Visão de jogo.....................................................................................................31
3.4.3 Aptidão para esporte coletivo............................................................................32
3.4.4 Objetividade e audácia......................................................................................32
3.4.5 Característica técnica, tática ou física própria ..................................................32
3.4.6 Participação e concentração para o jogo .........................................................33
3.4.7 O caráter atlético...............................................................................................33
3.4.8 Competitividade................................................................................................ 33
3.4.9 Comando...........................................................................................................33
3.4.10 Leitura de jogo.......................................................................................... .....34
3.4.11 Equilíbrio emocional........................................................................................34
3.4.12 Personalidade forte....................................................................................... 34
4 CARACTERÍSTICAS DOS JOGADORES DE FUTEBOL POR POSI ÇÕES........ 36
5 DECISÕES METODOLÓGICAS ........................................................................... 38
5.1 Caracterização do estudo ..................................................................................38
5.2 Os participantes .................................................................................................39
5.3 Critérios de seleção do clube estudado e a cate goria ...................................40
5.4 Negociação de acesso .......................................................................................40
5.5 Instrumentos de coleta de informações ..........................................................41
5.6 A entrevista .........................................................................................................41
5.7 Descrição dos resultados .................................................................................41
5.8 Análise e interpretação das informações ........................................................47
5.9 Categorias de análise ........................................................................................47
6 COSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................51
REFERÊNCIAS.........................................................................................................53
APÊNDICE A – Entrevista..........................................................................................57
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1 INTRODUÇÃO
Depois de todas as minhas experiências como jogador de futebol, em categorias
de base, participando de processos seletivos, e também com a minha identificação
com o esporte, resolvi, então, levar a prova a qualidade dos processos seletivos
atualmente realizados, que até certo ponto tenho como duvidosos. Minha justificativa
acadêmica foi a pouca abordagem e falta de literatura sobre esse assunto, dentro de
parâmetros científicos.
Assim, tenho como problema – Os processos de seleção dos atletas de futebol,
nas categorias de base, são qualificados na perspectiva do técnico?
Trata-se de uma pesquisa investigativa, com o título “A qualidade no processo
de seleção dos atletas das categorias de base do futebol na perspectiva do técnico”,
tendo como recorte a categoria de base (sub -20).
O objetivo principal é investigar a qualidade do processo seletivo dentro das
categorias de base de futebol na perspectiva do técnico.
Meus objetivos específicos são definir os processos de seleção, verificar os
critérios adotados para escolha de um jogador dentro das categorias de base,
identificar quais processos seletivos são feitos pelo clube e caracterizar a categoria
sub-20.
O procedimento metodológico consistiu, inicialmente, numa revisão da
literatura. Vou, também, utilizar uma entrevista semi-estruturada com um técnico de
equipe de futebol sub-20.
Desenvolverei neste trabalho uma reflexão a partir de um levantamento junto
ao técnico da categoria sub-20, de um grande clube, sobre os processos utilizados
para avaliar um atleta de futebol. Busquei refletir sobre a qualidade e validade dos
critérios adotados por ele dentro desta prática.
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Aproveitei muito o apanhado teórico e saberes, que potencializaram
conhecimentos à prática adquirida durante minha formação acadêmica. Nesse
trabalhado, utilizarei como base obras de dois autores, Drubscky e Weineck.
Nessa perspectiva, meu trabalho foi ganhando corpo, através de observações,
entrevistas, referencial teórico, análise de comentários esportivos, reportagens e
conversas com profissionais no meio esportista.
O futebol é um dos esportes que alimentam a alegria popular nas competições
e envolve toda a população brasileira e também mundial. Sabendo disso, organizei
meu trabalho de maneira imparcial sem que minhas experiências dentro desse
campo influenciassem na busca das informações.
1.1 Breve história do futebol
Onde nasceu o futebol? Esta pergunta recua no tempo, milênios antes de
cristo. E, no entanto, até hoje não foi convincentemente respondida. A versão mais
aceita aponta para China, onde certas datas eram comemoradas com um jogo que
reunia multidões. O povaréu se dividia em dois grupos, que tentavam se ultrapassar
chutando bolas de papel. Mais tarde, a diversão foi adotada pelos romanos e as
bolas de papel substituídas por bexigas cheias de ar, ou, simplesmente, pelas
cabeças dos inimigos mortos em combate. A novidade chegou aos burgos da
Bretanha, que aperfeiçoaram, cuidando antes de civilizá-la, abolindo o uso de
cabeças como bolas. Mas, jogavam de forma tão brutal que nasceu, então, um
slogan que marcaria o futebol por muitos anos: o de ser o violento esporte de bretão.
Tal violência gerava acidentes fatais, a ponto do jogo ser proibido. Ele só reviveria
muitos anos mais tarde, na Itália renascentista, sob o nome de Calcio e na Inglaterra
como Football. Era, então, a diversão predileta de lordes e barões da Europa.
Em 1863, Mr. Kiburn, de Oxford, resolveu padronizar o jogo, dando-lhe regras
cujas bases permanecem até hoje. A Football Association, em Londres,
regulamentou a separação do jogo de futebol do jogo de rugby, que permite o uso
das mãos. E, assim, essa nova forma de jogar, sem o uso das mãos, ganhou o
nome de soccer, futebol para os íntimos, no mundo inteiro.
- 1870 : os ingleses levaram o futebol para a Alemanha e Portugal.
- 1872 : chegou à França.
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- 1876: Dinamarca.
- 1879: países baixos e Suíça.
- 1893: oficialmente na América do Sul é fundada a Associação de Futebol
Argentina.
1904 – Foi criada, em Paris, a Federation International de Football Association
(F.I.F.A), entidade que rege o futebol profissional no mundo.
1930 - O francês Jules Rimet – presidente da FIFA - organizou a 1ª Copa do
Mundo. O Uruguai foi escolhido como o país sede, por ser o último campeão
olímpico (1928) e por ser centenário de sua independência.
Depois disso, o futebol transformou-se no mais universal dos esportes.
Profissionalizou-se e adotou seus próprios códigos esportivos.
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2 HISTÓRIA DO FUTEBOL NO BRASIL
Embora historiadores e estudiosos digam que quem trouxe o futebol para o
Brasil foi o paulista Charles Miller, existem controvérsias sobre isto, pois muitos
colocam que, no início da segunda metade do século 19, marinheiros europeus que
atracavam nos portos brasileiros praticavam o esporte em nossas praias. Também,
existem informações que no ano de 1882, os funcionários da São Paulo Railway
teriam aprendido a jogar e praticavam o esporte após o trabalho. No mesmo ano, o
futebol se propagou pelas ferrovias chegando até a Leopoldina Railway, no Rio.
Porém, a data oficial que ficou gravada nos livros é a de 1884, ano em que Miller, o
paulista do Brás, voltava da Inglaterra, onde tinha ido estudar, trazendo consigo
duas bolas, calções, chuteiras, camisas e a bomba para encher a bola, juntamente
com sua bagagem pessoal.
A primeira grande partida esportiva teria acontecido no ano seguinte, 1885, na
Várzea do Carmo, em São Paulo. Os protagonistas eram dois times formados por
ingleses, radicados na capital paulista, funcionários da Companhia de Gás, de um
lado, e da São Paulo Railway, do outro. O resultado do jogo foi 4 a 2, para a São
Paulo Railway. Em pouco tempo, o esporte passou a interessar aos brasileiros. Em
1898, estudantes do Mackenzie College, em São Paulo, fundaram o primeiro clube
brasileiro para a prática do futebol: a Associação Atlética Mackenzie. A partir daí, o
esporte difundiu-se rapidamente, sendo jogado pelas classes sociais mais
abastadas, em face do alto custo dos uniformes, bolas e equipamentos, pois tudo
era importado.
O football era jogado com excessivo vigor, o que mantinha a característica da
origem, a Inglaterra, e por isso ficou conhecido como o "violento esporte bretão". Na
época, era jogado apenas por brancos, as jogadas eram bonitas onde realizavam
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passes altos e longos, na frente as disputas eram viris e os chutes de bico e os
dribles faziam parte do confronto.
Em 1900, surgiram o Sport Club Rio Grande, no Rio Grande do Sul, e a
Associação Atlética Ponte Preta, em Campinas. Em 1902, foi realizado o primeiro
Campeonato Paulista e o vencedor foi o São Paulo Athletic Club. Nesse ano, o
Fluminense FC é fundado no Rio. Quatro anos depois, aconteceria a primeira partida
internacional oficial no Velódromo, em São Paulo, entre a Seleção Paulista e uma
seleção sul-africana. Os paulistas perderam por 6 a 0.
Em 1910, o Fluminense promoveu a vinda de uma excursão do time do
Corinthians, da Inglaterra, que alcançou grandes vitórias em gramados brasileiros.
Em homenagem a esse time inglês, foi fundado em São Paulo um clube que viria a
ser muito famoso no futuro: o Sport Club Corinthians Paulista.
A primeira vitória, em 1911, obtida pelo Sport Club Americano, em São Paulo,
contra um combinado uruguaio foi de 3 x 0, e considerado um grande feito, pois
nossos vizinhos, Uruguai e Argentina, costumavam impor-nos sérias derrotas.
As primeiras vitórias internacionais vieram em 1913, em Buenos Aires e
Montevidéu obtidas pelo Sport Club Americano, campeão paulista naquele ano.
Desde os passos iniciais, nos jogos amistosos e nos campeonato, participavam
apenas membros da elite. Oriundos das mais ricas e nobres famílias, jovens com
muitos projetos de estudos, inclusive no exterior e, com a responsabilidade de ajudar
pais e famílias no comando dos negócios, com pouco tempo para se dedicarem às
práticas e aos treinos.
No ano seguinte, 1914, foi fundada a Federação Brasileira de Sports que, em
1916, passou a se chamar Confederação Brasileira de Desportos, CBD, reconhecida
pela FIFA em 1923. Já a primeira partida profissional no Brasil só aconteceu em
1933, entre o Santos FC e o São Paulo FC. Sete anos depois, o estado São Paulo
ganhou o Estádio do Pacaembu e, em 1948, foi lançada a pedra fundamental do
Maracanã, local da final da Copa do Mundo, no Brasil, em 1950.
O Vasco tornou-se o primeiro time brasileiro a vencer uma competição no
exterior, ao ganhar o Torneio dos Campeões, em 1948, no Chile. A evolução
culminaria em 1958, na Suécia, com a conquista pela primeira vez da Copa do
Mundo. Quatro anos depois, o Brasil tornou-se bicampeão mundial, jogando
novamente no Chile. Confirmando essa supremacia, o Santos FC ganhou
seguidamente, em 1962/63, o campeonato mundial interclubes. No México, em
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1970, a seleção brasileira realizou o grande sonho nacional: a conquista do
tricampeonato mundial e a posse definitiva da Taça Jules Rimet.
Após estes anos, tanto a seleção nacional quanto os clubes brasileiros sempre
tiveram lugar de destaque na mídia mundial. Hoje, o futebol brasileiro é considerado
o melhor do mundo e o Brasil é um verdadeiro formador de grandes craques para o
esporte. Temos, também, o melhor jogador do mundo na atualidade que é o gaúcho
chamado Ronaldo de Assis Moreira, ou Ronaldinho Gaúcho como é conhecido no
Brasil.
2.1 A importância do futebol para o brasileiro
A cada copa do mundo o Brasil pára, o orgulho canarinho toma conta de toda
sociedade brasileira. É quando, desde o mais pobre cidadão até o mais rico se
tornam um só, atrás de um único objetivo, torcer pelo seu país e pelo seu futebol.
Para Roberto Da Matta, estudioso de futebol,
O futebol hoje seria, ao mesmo tempo, um modelo da sociedade brasileira eum exemplo para ela se apresentar. Em outras palavras, o futebol constituir-se-ia, por um lado, numa imagem da sociedade brasileira e, por outro, numexemplo que daria a ela um modelo para se expressar. O homem brasileirocomportar-se-ia na vida como num jogo de futebol, com chances de ganharou perder - e às vezes empatar -, tendo que se defrontar com adversários,tendo que respeitar certas regras, mantendo respeito por uma autoridadeconstituída, jogando dentro de um tempo e de um espaço, marcando esofrendo gols, fazendo jogadas de categoria e cometendo erros fatais. Apósuma derrota, haveria sempre a chance de se recuperar no próximo jogo.(1998)
É nesse sentido que cada sociedade tem o futebol que merece, pois deposita
nele uma série de questões e demandas que lhes são relevantes. Assim, o futebol
brasileiro não é apenas uma modalidade esportiva com regras próprias, técnicas
determinadas e táticas específicas; não é apenas manifestação lúdica do homem
brasileiro; nem tampouco é o ópio do povo, como preferem alguns. Mais que tudo
isso, o futebol é uma forma que a sociedade brasileira encontrou para se expressar.
É uma maneira do homem nacional extravasar características emocionais
profundas, tais como paixão, ódio, felicidade, tristeza, prazer, dor, fidelidade,
resignação, coragem, fraqueza e muitas outras.
De fato, algumas pessoas referem-se ao futebol como um esporte arcaico,
primitivo, opondo-o a modalidades mais modernas. Ora, o futebol brasileiro, como
qualquer outro fenômeno nacional, é e sempre será aquilo que a sociedade fizer
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dele, aquilo que os atores envolvidos - torcedores, dirigentes, imprensa etc. - forem
constantemente atualizando nele e com ele. O futebol não está em oposição à
sociedade brasileira, mas junto dela, expressando-a e renovando-a, talvez
mostrando algumas facetas que nós temos dificuldade de enfrentar e gostaríamos
de esconder.
2.2 Futebol e ascensão social (futuro melhor)
Quando menino, quem nunca sonhou em ser jogador de futebol? Ganhar muito
dinheiro? Ajudar a família? Ter fama? Carrões? Mansão?
São esses os desejos que movem milhares de crianças a procurar seguir a
carreira de jogador de futebol. Hoje em dia, a ascensão social é um dos principais
objetivos, não só delas, mas também dos pais, que querem ver seus filhos seguirem
e tentar uma chance no mundo do futebol. Algo que mudou, foi que não só meninos
negros de classe baixa que estão procurando a fama e a riqueza que o futebol
profissional pode proporcionar, meninos de classe média e alta, vindos de ‘’berço de
ouro’’, também estão fazendo do futebol uma opção de futuro. Muitas vezes,
estimulados pelos pais, que vêem nas crianças um futuro promissor, os pequenos
imaginam que um dia possam subir o padrão de suas vidas. Este fator faz com que
as crianças considerem o futebol como único caminho possível, portanto se
esforçam como se esta realmente fosse a única oportunidade que lhes é oferecida.
Em pesquisa realizada por Araújo (1980), este verificou que o incentivo da
família aparece como terceiro fator mais importante, com 14,3% no incentivo a
prática do futebol como futuro de vida. Nesse caso, o futebol como profissão é um
projeto mais amplo, representa a possibilidade de mobilidade social para toda a
família, e não apenas para o atleta. Outros estudos apontam esta tendência e a
relevância da família como estímulo ao futebol.
Qual é o sonho de nove entre dez garotos? Aqui no Brasil, certamente, é ser
jogador do futebol. Porém, este sonho não depende só da vontade, é necessário
talento e, o mais importante de tudo, boa formação de base. Quantas vezes você já
não viu um jovem que prometia ser um novo craque, mas que não conseguiu chegar
ao último estágio da carreira, o profissional?
As próprias famílias incentivam os jovens a seguirem carreira no futebol, porque
sabem que esta é umas das poucas maneiras de saírem da miséria. Se o garoto tem
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talento, a família deposita nele toda a esperança de mudar sua situação financeira e
social. Nesses casos, é muito comum o jovem abandonar a escola para se dedicar
exclusivamente ao futebol, com o consentimento da família.
Milhares destes garotos passam anualmente pelas “peneiras”, os processos
seletivos dos mais variados clubes. O aparecimento de novos talentos no futebol
brasileiro é constante, e a partir do momento em que um jovem ingressa em um
grande clube, sua carreira profissional segue um rumo quase inacreditável. Além da
possibilidade de disputar dentro do seu próprio país, este jovem tem ainda a
possibilidade de viver e jogar nos lugares mais remotos do mundo. O Brasil é um
dos maiores exportadores de craques de futebol.
A função social exercida pelo futebol brasileiro não pode ser descartada, pois
para muitos jovens jogar bola é sinônimo de trabalho, carreira e ascensão social.
18
3 A SELEÇÃO NAS CATEGORIAS DE BASE DO FUTEBOL
Para poder aproximar-se dos seus sonhos, o jovem atleta deve determinar o
caminho a seguir. O caminho mais próximo e melhor vitrine para sonhar com Europa
e grandes salários são os clubes brasileiros. Pois são neles que muitos
representantes de ‘’fora’’ procuram os futuros ou já jovens craques. Os clubes
grandes não só estão interessados neste tipo de mercado, de exportar seus atletas
e encher os cofres, mas também estão atrás de títulos e para isso exigem e
escolhem de maneira minuciosa seus jovens e futuros atletas. Todo mês,
principalmente, nos grandes clubes, chegam dezenas, as vezes centenas, de
garotos a procura de uma oportunidade de entrar nesse restrito e seleto mercado de
grandes cifras. Ao chegarem ao clube, se deparam com uma avaliação que colocará
à prova suas qualidades físicas, técnicas, táticas e psicológicas é o chamado
processo de seleção.
Seleção tem como um de seus principais significados, segundo o dicionário de
língua portuguesa (2001), o de: ‘’uma escolha fundamentada, escolher dentro de um
certo grupo de indivíduos os melhores’’. Dentro do futebol não poderia ser diferente,
só os melhores sobrevivem.
Drubscky descreve sobre o processo de seleção no futebol:
A seleção segue mais ou menos o mesmo padrão em todos os clubes. Oque diferencia substancialmente o trabalho de base de um clube em relaçãoao outro são as estruturas física e científica, além da qualidade de seusprofissionais (2003, p. 253).
Weinneck expõe o processo de seleção de talentos citando Josh (1992):
O reconhecimento do talento não é um processo dinâmico que se atualizadurante um treinamento. Os talentos somente são reconhecidos através deum treinamento sistemático, e não através de testes executados uma únicavez ou ainda através de competições, instituídos como um modo único deavaliação e desempenho.(1999, p.117)
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Já Sans & Alcaraz (2003) descreve que o mais importante no processo de
seleção é: “captação de jogadores com aptidão para seguir um processo de
formação e que, além disso, apresentem um alto nível de rendimento em relação à
sua idade”.
3.1 Categoria sub-20 (juniores)
Dentro das categorias de base de um clube, chega uma certa etapa em que o
jogador esta pronto para atingir o alto rendimento. Na categoria sub-20, ou Juniores,
é onde se procura atingir um equilíbrio entre os componentes práticos do
rendimento: técnicos, táticos e físicos. Porém, o único componente do atleta que
estará faltando, e fará a diferença após esse equilíbrio, é o fator psicológico.
Segundo Greco e Benda (1998), esta etapa compõe as últimas fases de uma
estrutura temporal criada para o treinamento desportivo em crianças e adolescentes:
Sexta fase: aproximação/integração (18 a 20 anos) – esta fase pode serconsiderada como o momento mais importante na transição do jovemamador para a carreira profissional. Aqui serão estabelecidos os limites derendimento do indivíduo e projetadas suas possibilidades concretas de êxitono esporte de alto nível. A fase de crescimento encontra-se quase quefinalizada, ficando assim determinado o biótipo corporal, como tambémfortes traços do seu perfil psicológico. Esses fatores criam o momento dadecisão pelo esporte de alto nível ou esporte como lazer ou em níveis decompetição, relativamente reduzidos. Aqui é importante, junto com otrabalho de aperfeiçoamento e otimização das capacidades físicas, técnicase táticas, um grande volume de tempo para a otimização das capacidadespsíquicas e sociais. Não é fácil realizar-se no esporte profissional, por essemotivo a fase em questão permite a integração da fase seguinte. Aquidevemos pensar nos grandes talentos que só ficam na promessa de seremgrandes e que às vezes, ‘’não chegam’’ por falta de adequada estrutura detreinamentos.Sétima fase: alto nível – aos 21 anos a estabilização do rendimento nascapacidades físico-técnico-tático-psíquicas atingidas na fase anterior serãoaprimoradas, tendo em conta um significativo aumento da relação dascargas de treinamentos, no que diz respeito aovolume/intensidade/densidade ‘psiquico-físico-técnico-tático’ e,consequentemente, dirigir o processo para a meta de otimização dosprocessos cognitivos (em relação à situação esportiva/ alto rendimento/estilo de vida) e psicológicos (psicorregulação, motivação intrínseca).
Na categoria sub-20, os treinamentos da preparação técnica (manutenção) são
feitos através de exercícios complexos, na tática é considerada todos os
componentes envolvidos na sua preparação, como: capacidades sensoriais,
capacidades cognitivas, capacidades psíquicas, capacidades de vontade e caráter e
habilidades motoras e finalmente a preparação física pelo desenvolvimento,
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aumento e manutenção da performance em todas capacidades (resistência,
velocidade, força, coordenação, flexibilidade). A preparação psicológica é incerta,
pois o jogador muitas vezes pode ter seu caráter ou personalidade indefinidos, o que
pode ocorrer é intervenções do treinador ou uma pessoa especializada em
psicologia do esporte.
Características dos atletas na categoria sub-20
- Atleta formado fisicamente;
- Opções de vida bem definidas;
- Traços fortes de atitude e personalidade;
- Trabalho deve ser de alto nível;
- Atleta com experiência total da competição;
- Atleta com formação técnica-tática e física;
- Suas decisões têm importância no contexto que representa;
- Treino especifico 80% - genérico 20% (BALZANO, 2006/2).
Características das equipes na categoria sub-20
- Treino todos os dias, até em dois turnos;
- Atletas sabem ‘’tudo de bola’’;
- Trabalham-se os detalhes do jogo;
- Sistemas de ataque e defesa, treinados com muitas variantes;
- O talento é essencial para desequilibrar;
- O resultado das competições é de vital importância;
- Programa de treinamentos individuais;
- O jogo é monitorado por scouts (idem).
A preparação de cada jogo é muito cuidada. (BALZANO, 2006/2)
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3.2 Tipos de processo de seleção
3.2.1 Peneiras
“Peneiras” nome dado para a seleção que os clubes de futebol fazem para
descobrir novos jogadores nas categorias de base. Isto é, entre os menores de 16
anos, que ainda não começaram a carreira profissional. Essa seleção pode ser
aberta, entre quem ainda não tem vínculo com os clubes, ou não (neste caso, feita
entre os jogadores das escolinhas licenciadas dos clubes). É muito comum que se
façam jogos sucessivos entre os avaliados, a fim de os “olheiros” e os técnicos
testarem seu domínio nos fundamentos-chute, drible, cabeceio, etc. – e selecioná-
los, ou não, para novas avaliações, cada vez mais detalhadas. O sucesso para a
entrada no futebol profissional pode não vir na primeira peneira, como o jogador
Cafú que foi recusado na primeira peneira, somente sendo levado a um grande
clube quando foi visto por um “olheiro” jogando em um pequeno clube de
Itaquaquecetuba.
Segundo Drubscky, que coloca:
São testes realizados em forma de treinamentos coletivos, que duram emmédia 30 a 40 minutos cada. Os times, de 11 jogadores ou menos,atendendo à metodologia aplicada e ou às necessidades do clube, sãoformados minutos antes dos treinamentos. Os garotos são divididos porfaixas etárias semelhantes às estipuladas para as competições dascategorias de base. Em geral, o garoto indicado, ou que por iniciativaprópria participa de uma peneirada, terá direito a pelo menos trêstreinamentos coletivos, a partir dos quais será direcionado para um critériode seleção mais apurado ou reprovado. A maioria é reprovada,principalmente os de 16 anos de idade em diante. (...)Na verdade, aspeneiradas se tornaram ineficazes no fornecimento de bons valores para ofutebol moderno, principalmente nas grandes cidades. (2003, p.154/155)
3.2.2 Empresários
São pessoas físicas e jurídicas que estão investindo seu tempo, dinheiro e
influência para explorar o futebol.
Para Drubscky:
O empresário de carteirinha, não somente aquele que hoje é credenciadopela FIFA, mas aquele que abraçou o oficio de garimpar talentos pelo País,e às vezes em terras estrangeiras, já é figura presente na estrutura dofutebol atual.(...)Os clubes hoje têm no empresário, um olheiro profissional particular, umagrande fonte de fornecimento de jovens atletas para suas categorias de
22
base.(...) Empresariar atletas no futebol, jovens ou adultos, despertou tantoo interesse em ganhar dinheiro fácil que hoje é comum, não ético, encontrartreinadores, dirigentes, jornalistas esportivos, dentre outras classes,envolvidos diretamente com o esporte, participando de negociata (2003,p.156).
3.2.3 Os observadores técnicos (olheiros)
Os “olheiros” são pessoas vinculadas, principalmente, a um grande clube que
viajam por todo país observando jovens que disputam bons campeonatos contra
adversários qualificados. Este tipo de seleção torna as negociações mais simples e
baratas, pois os observadores técnicos antecipam os olheiros profissionais
particulares e empresários fazendo com que a negociação de jovens talentos seja
de clube para clube. Fora a maior credibilidade no retorno técnico, para os grandes
clubes. O jovem atleta sendo observado em meio a competições esta mais pronto
em relação a maioria dos candidatos que chegam espontaneamente aos clubes.
3.2.4 Os convênios e as parcerias
Os convênios e as parcerias funcionam como um meio dos clubes matrizes
utilizarem clubes menores para corrigirem erros em seleções mal programadas, e é
um ótimo recurso para ampliar o processo formador. Essa iniciativa aumenta
substancialmente o número de jovens observados, com chances de serem
aproveitados futuramente nas equipes profissionais.
3.2.5 As franquias e as escolinhas independentes
No futebol, como em qualquer modalidade esportiva, existem fundamentos
básicos, que fazem a base de ação técnica dos praticantes, esses fundamentos, que
constituem o suporte do futebol como também de outras modalidades esportivas,
chama-se técnica e para uma boa execução durante uma prática desportiva, deve
ser aprendida e treinada. Aqui no Brasil, a tarefa de ensinar futebol não é muito
difícil, pois desde cedo todo garoto toma contato com a bola, fazendo com que
possam vivenciar experiências, que facilitarão no processo de aprendizagem.
23
Praticamente não existe um garoto que nunca tenha tido contato com a bola, ou não
assistiu a uma partida de futebol. Portanto, é possível inferir que já existe um contato
inicial com a bola, fazendo com que o garoto tenha noções básicas das técnicas
necessárias para a prática do futebol.
O trabalho em escolinha de futebol deve ser bem planejado, no entanto não
podemos esquecer que a grande maioria dos alunos não serão atletas de futebol
profissional, seguirão a vida normal de um trabalhador. Portanto, a obrigação das
escolinhas é de oferecer aos alunos, além da prática de futebol, uma quantidade de
informações motoras que servirão como base para melhora da qualidade de vida
futura dessas crianças.
Contudo, a finalidade das “escolinhas” é permitir que os verdadeiros talentos se
desenvolvam e sejam descobertos, pois essas são um pólo formador de jogadores,
encaminhando esses garotos que se destacarem para o profissionalismo. Na
maioria das escolinhas de futebol, os craques mirins são treinados segundo
parâmetros dos adultos.
3.2.6 Futsal
O Futsal ou Futebol de Salão, por ser jogado em um espaço reduzido, pode
acrescentar com uma grande qualidade no futebol de campo, pois ajuda na
formação e seleção de craques inteligentes e habilidosos.
Para Drubscky (2003): “Muitos jovens, após anos de prática no salão, passam
para o campo e fazem carreira brilhante”.
3.3 O que é avaliado no processo de seleção
O sucesso do futebolista, dentro do campo de jogo, não depende única e
exclusivamente de sua técnica, tampouco de sua condição física. Existem diversos
fatores que influenciam e, portanto, devem ser avaliados em um atleta de futebol
durante sua performance, que é determinada pelo complemento interdependente de
várias habilidades, capacidades, técnicas e qualidades.
24
Basicamente, o desenvolvimento das qualidades físicas, técnicas, táticas epsíquicas representam a preparação atlética no futebol, equipotentes, sendodifícil identificar o elemento mais importante e representativo. Todos, deuma forma geral, podem contribuir decisivamente para a vitória, tantoindividual quanto coletivamente (VENZON, 1998, p.14).
3.3.1 Capacidades condicionais (aspectos físicos)
Por capacidades condicionais, entendemos as valências físicas que podem ser
desenvolvidas no treinamento.
Como já foi visto, a modernização do futebol o transformou em um esporte de
extrema exigência física. ‘’Em cada partida acontecem cerca de 400 contatos físicos,
e o futebolista realiza até 100 arranques e acelerações em distâncias de 5 a 20
metros” (GODIK, 1996, p.109). De acordo com tal exigência, é necessário que o
futebolista esteja apto a suportar a demanda de energia mobilizada durante todo o
período da disputa.
Apenas o jogador que for fisicamente resistente será possível conservar a
coordenação dos movimentos durante o jogo, pois deverá manter uma maior
velocidade nos arranques e acelerações do primeiro ao último minuto e não perder
os combates. ‘’Com duração média de 91 a 97 minutos, o futebol submete o jogador
a um trabalho físico intenso e difícil (GODIK, 1996, p.109).’’
O futebolista moderno precisa de força para saltar, chutar, parar abruptamente
e trocar de direção em velocidade. Como, também, possuir arranques, giros e ações
rápidas, para vencer o adversário, que são manifestações de velocidade. Portanto,
movimentos múltiplos requerem muita coordenação. Para superar todos esses
movimentos, o futebolista necessita, invariavelmente, de uma boa resistência.
Devido à interdependência de ações, que ocorrem em um jogo de futebol, não
basta ao futebolista ser apenas resistente, forte, veloz ou coordenado. Ele precisa
atingir um estado de equilíbrio harmônico, entre todas as suas valências físicas, para
poder responder de modo satisfatório aos diferentes estímulos durante a partida.
3.3.2 Resistência
‘’A capacidade de resistência psíquica e física de um atleta compreende o
conceito de resistência” (WEINECK, 1999, p. 135). ‘’Com efeito, ela permite ao
futebolista suportar os diferentes estímulos físicos e psíquicos em um ritmo elevado
25
em jogos ou treinamentos” (CARRAVETTA, 2001, p.109). ‘’Além disso, proporciona
maior resistência à fadiga e uma rápida recuperação após os esforços físicos”
(WEINECK, 2000, p. 23).’A resistência é dividida em dois tipos, de acordo com suas
manifestações:
- Resistência aeróbia: compreende a forma de resistência geral, que independe
da modalidade esportiva. ‘’Durante o jogo de futebol, o jogador está sempre em
movimento e pronto para participar ativamente de uma jogada, exigindo uma
resistência aeróbia satisfatória para suportar essa dinâmica” (WEINECK, 2000,
p.25). Entre os benefícios que a resistência aeróbia traz para o futebolista
estão: aumento do desempenho físico geral, ótima capacidade de recuperação,
diminuição de lesões e de erros técnico-táticos.
- Resistência anaeróbia: enquadra as formas especificas de manifestação de
acordo com a modalidade esportiva. No futebol, é necessário o
condicionamento especifico das características do desempenho muscular,
especialmente nos membros inferiores. ‘’Melhor capacidade de resistir as
mudanças de velocidade, durante o jogo, e a capacidade de realizar
acelerações, saltos, dribles e chutes, que são alguns benefícios que a
resistência anaeróbia proporciona (WEINECK, 2000, p. 30).’’
De acordo com as características especificas do futebol, a resistência é, sem
duvida, um dos fatores essenciais que influenciam e devem ser avaliados durante a
performance.
3.3.3 Força
A definição precisa de força muscular é complexa e influenciada pordiversos fatores, como caracteres da tensão muscular, tipo de força etrabalho, além de aspectos físicos e psíquicos. Sendo assim, paradefinirmos força, precisamos analisar o contexto de sua manifestação esuas formas relevantes no jogo. (WEINECK, 1999; p.224 e 2000, p. 187)
Além de ser um componente essencial no desempenho técnico-tático, de uma
equipe de futebol, a força é parte integrante de seu treinamento, imprescindível para
melhorias na eficiência competitiva. ‘’Mudanças de direção, chutes, cabeceios,
26
lançamentos, contatos, acelerações são algumas das manifestações de força no
futebol”. Dessa forma, em determinadas circunstancias, a falta de força dos
grupamentos musculares envolvidos no esforço do futebol culminam com erros
técnico-táticos” (CARRAVETTA, 2001, p.125).
‘’As principais formas de força são: rápida, máxima e resistência, igualmente
importantes no jogo de futebol (WEINECK, 2000, p.187)”.
- Força rápida: segundo Carravetta (2001), ‘’é a capacidade muscular para a
execução da força máxima no menor espaço de tempo’’. ‘’No jogo de futebol,
composto basicamente por acelerações e frenagens, a força rápida é o fator mais
relevante, sendo manifestada nos saltos e nas finalizações (aceleração), nas
mudanças de direção e nas paradas abruptas (frenagens), além da fase inicial das
corridas e dos saltos” (WEINECK, 2000, p.187/188).
-‘’Força máxima: é a real capacidade de força. Importante nas extremidades
inferiores” (WEINECK, 2000, p.188), ’’e possibilita a realização de movimentos
rápidos durante momentos adversos no jogo” (CARRAVETTA, 2001, p.127).
- Resistência de força: importante no condicionamento físico geral do futebolista,
especialmente em relação à musculatura auxiliar. ‘’É trabalhada com
movimentos lentos e com altos números de repetições, recrutando as fibras
lentas” (WEINECK, 2000; p.188).
‘’É importante ressaltar que a simples repetição de elementos táticos do futebol
não implica na melhoria da força” (CARRAVETTA, 2001, p.133). Dessa forma,
exercícios específicos e treinamentos alternativos são necessários para o
desenvolvimento das diferentes capacidades de força.
3.3.4 Velocidade
‘’A velocidade pode ser definida como a capacidade que nos permite atuar em
um tempo mínimo” (LANGLADE, 1976 p.158). ‘’O futebol moderno exige respostas
imediatas e não padronizadas dos jogadores. Dessa forma, a velocidade exerce
uma das mais importantes funções nas relações técnico-táticas do futebolista”
27
(CARRAVETTA, 2001, p.119). ‘’Considerando a dinâmica do jogo a velocidade é um
valioso requisito motor, permitindo tanto a assimilação de outras capacidades de
condicionamento (duração, força e coordenação), quanto à movimentação
propriamente dita “(WEINECK).
De acordo com o universo de ações que abrange o jogo de futebol, avelocidade é uma capacidade verdadeiramente múltipla, produto final dediferentes fatores como ação e reação rápidas, sair e correr, velocidade notrato com a bola, sprint e frenagens. Talvez, um dos aspectos maisrelevantes na velocidade seja a capacidade de reconhecimento e autilização rápida desse raciocínio em certas situações ( 2000, p.355).
Como também, através do pensamento do também estudioso do assunto
Yessis, que coloca:
Grande parte das movimentações executadas durante a partida de futebolenvolve aspectos da velocidade. A velocidade não é usada apenas paraexecução de um bom passe ou de um chute potente, mas também érequisitada para que o futebolista seja apto a estar no lugar certo parachutar a gol, por exemplo, e para marcar ou se desmarcar do seuadversário. Para tanto, o jogador deve ser mais veloz o bastante pararesistir às trocas de direções durante os movimentos (2001, p.1).
3.3.5 Capacidades coordenativas (aspectos técnicos)
‘’As capacidades coordenativas são responsáveis pela aprendizagem técnica
eficaz, pela descoberta de novos gestos motores e pela habilidade adaptativa de
movimentos” (CARRAVETTA, 2001, p.85). A coordenação e a técnica especifica do
futebol são fatores que, além de diferenciar jogadores, influenciam na sua avaliação
e performance.
Ao futebolista não basta ter suas capacidades físicas bem aguçadas, se não
lhe for desenvolvida a capacidade técnica propriamente dita do futebol. Todos os
fundamentos do futebol são capacidades técnicas que possibilitam ao jogador
manejar a bola de acordo com as necessidades especificas do jogo. Domínio,
condução, passe e chute são os fundamentos básicos do futebol, devendo ser
considerados dentro do planejamento de treinamentos. Para tanto, a coordenação é
indispensável.
28
3.3.6 Coordenação
A coordenação compreende a interação do sistema nervoso central com a
musculatura esquelética, dentro de uma seqüência objetiva de movimentos.
Pode ser classificada em:
- Coordenação geral: ‘’resulta da instrução geral para movimentação em diversas
modalidades esportivas. Qualquer movimento pode ser executado de modo
eficiente e criativo. Exemplo: correr, saltar, deslocamento lateral, saltar em um
pé só” (WEINECK,1999, p.515).
- Coordenação potencial especifica: ‘’caracterizada por movimentos específicos
para determinado esporte. No futebol, dominar e conduzir a bola são alguns
exemplos” (WEINECK, 1999 , p.515).
‘’A coordenação é necessária para que se tenha controle sobre situações que
requerem reações rápidas, além de propiciar reserva energética e alto
aproveitamento motor. Além disso, tem fundamental importância na prevenção de
lesões, evitando colisões, tombos, etc.” (WEINECK, 1999, p.515).
3.3.7 Domínio
O domínio é a recepção correta da bola. É através desse fundamento que o
futebolista mantém a bola sob seu domínio, possibilitando, assim, o desenvolvimento
de outras características fundamentais do jogo. O tempo de domínio de bola se
correlaciona positivamente com as chances de vitória.
‘’O primeiro toque na bola é fator determinante para os jogadores que fazem
uma leitura antecipada da jogada, podendo ser transformado no passo inicial de
ações ofensivas ou defensivas” (LUXBACHER, 2003, p.24). Desse modo, o domínio
é um dos aspectos técnicos a serem estimulados e considerados na avaliação do
atleta.
29
3.3.8 Condução e drible
‘’A condução caracteriza o ato de progredir com a bola pelos espaços do
campo. Esse controle é essencial ao futebolista, e, para ser aperfeiçoado, necessita
de uma pratica sistemática” (GLORIA, 1972, p.27). É através dela que o jogador está
em condições de passar, finalizar, manter a posse de bola ou concluir ao gol
adversário.
Como conseqüência da condução, o drible é uma ação igualmente individual e
de grande importância no jogo. ‘’É a forma de expressão particular do jogador,
traduzindo sua habilidade em mover a bola e mantê-la próxima dos pés, sob pressão
adversária” (LAUFER/KATER, 2001, p.8).
Por se tratar de uma ação jogador-dependente, não existem linhas de
execução para o drible. Dessa forma, o futebolista deve ser submetido a situações
que estimulem o controle da bola e o uso de sua criatividade durante o jogo.
3.3.9 Passe e chute
O passe é o elo, de ligação, entre os componentes de uma equipe. Ao efetuar
um passe, o jogador transfere a bola para seu companheiro, permitindo, assim, que
sua equipe mantenha a posse da mesma. Por se tratar da única forma técnica de
conexão entre o individual e o coletivo, o passe é o movimento mais importante a ser
executado.
A técnica do passe é semelhante à do chute, sendo diferenciadas apenas pelo
objetivo e a força aplicados ao movimento. É através do chute que se obtém a
máxima do futebol, o gol. O chute é o finalizador das construções ofensivas
coletivas, sendo imprescindível para a conquista da vitória.
3.3.10 Aspectos táticos
Segundo Carravetta (2001):
(...) o jogo de futebol é realizado através de um conjunto complexo deações, em situações diversificadas e indeterminadas, de oposição ecooperação, onde os componentes táticos exercem um papel decisivo norendimento competitivo das equipes.
30
Dessa forma, além de todos os fatores técnicos e físicos, a movimentação e
obediência tática do atleta em campo e da equipe determinam a vitória no futebol.
3.3.11 Tática de jogo
“Entendemos de tática tudo o que se faz dentro do campo com a bola em jogo.
Compreende o direcionamento das capacidades coordenativas (componentes
técnicos) utilizadas no jogo pelo futebolista, visando à superação do adversário”
(CARRAVETTA, 2001; p.96).
A tática é subdividida em três partes, segundo Godik (1996):
- Tática individual: movimentações individuais executadas durante o jogo.
Marcação, desmarcação, antecipação e corridas, sem bola para abertura de
espaços, são algumas das manifestações da tática individual;
- Tática em pequenos grupos: ações coletivas e coordenadas executadas por um
grupo de jogadores com um único objetivo. Esses grupos não são constantes,
formando-se e separando-se diversas vezes durante o jogo. Por exemplo,
quando um jogador tem a posse de bola, existem alguns jogadores de sua
equipe que se movimentam e executam ações de apoio para dar continuidade
à jogada;
- Tática coletiva: ações coletivas que envolvam todos os jogadores, ativamente
ou apenas como suporte. O posicionamento diferenciado dos defensores, em
virtude de uma ação ofensiva da sua equipe, é um exemplo.
3.3.12 Capacidades psicológicas
Segundo Becker Jr., “Durante uma partida de futebol, o ambiente circunjacente
exerce diversas pressões emocionais sobre o jogador, podendo prejudicar o seu
desempenho”. (2000, p.111) A torcida, o arbitro, o treinador, a equipe adversária e a
responsabilidade são pontos relevantes no âmbito psicológico. Frustrações,
31
ansiedade, medo e sucesso, por exemplo, são sentimentos experimentados ao
longo da disputa e que desencadeiam respostas fisiológicas e
neuroendocronológicas de estresse. Ao atleta que for psicologicamente capaz de
suportar essas reações, as possibilidades de êxito serão maiores.
3.4 Princípios para avaliação de jogadores de futeb ol
3.4.1 O atleta com a bola
Drubscky (2003) apresenta pontos simples e eficazes para avaliar-se um
jogador de futebol:
São avaliados principalmente os fundamentos técnicos e suas variações:
recepção, condução, passes e dribles curtos, chutes e cabeceio. Neste tópico é
observada a desenvoltura do atleta nos espaços reduzidos, para executar os
fundamentos do futebol em situações de pressão do adversário ou com liberdade
para jogar.
3.4.2 Visão de jogo
Nesse item observar-se a inteligência tática para ver o jogo na seqüência dos
lances em espaços reduzidos e amplos. Essa competência está relacionada à
tomada de decisão em várias situações que apresentam no jogo. A visão periférica
deverá ser muito utilizada, com muita atenção nesse detalhe, pois visão de jogo não
significa, para o autor, apenas fazer lançamentos longos. O atleta, segundo ele,
deve enxergar as melhores soluções para as jogadas nos pequenos espaços, assim
estará dando mostras de apurada inteligência tática ou visão do jogo.
3.4.3 Aptidão para o esporte coletivo
É importante que o jogador, além de bom executante, faça uso tenha da tática
de conjunto, pois, conforme o autor, o futebol é um esporte coletivo, por isso
solicita dos seus jogadores o interesse pelo jogo solidário. O bom executante dos
fundamentos terá pouco valia em campo se não colocar seus atributos a serviço do
time, coloca Drubscky. O uso da tática com competência e o interesse pelo jogo
32
coletivo são elementos avaliados nas jogadas em que o atleta está com a posse da
bola “e precisa ocupar com inteligência e disposição o espaço livre do campo,
tanto nas ações ofensivas quanto defensivas”.
3.4.4 Objetividade e audácia
Conforme Drubscky, esse são elementos que distinguem um jogador confuso
do objetivo, e o individualista prejudicial à equipe do corajoso, criativo e eficiente.
Portanto, segundo o autor, a melhor solução para as jogadas deve ser sempre
analisada, para que os jogadores observados se enquadrem no perfil e às
condições de jogo do futebol no mundo atual. Pois, o futebol atual esta repleto de
jogadores ‘’passadores de bola’’, conforme o estudioso, e que não oferecem nada
de produtivo e ou criativo às equipes.
3.4.5 Característica técnica, tática ou física própria
São essas marcas registradas do jogador. Conforme o autor, a velocidade
acima da média, o drible desconcertante ou a visão de jogo ampla e eficiente, por
exemplo, podem diferenciar o potencial de um atleta de futebol em relação ao
modelo conhecido para uma posição ou função. Mesmo apresentando deficiência
em outros itens, um jogador pode ser útil a uma equipe se apresentar
característica físicas, técnicas, ou táticas que se enquadrem em determinada
filosofia de jogo. É importante ressaltar que esta valência é quase sempre
considerada em relação à idéia de jogo de cada técnico. Um jogador pode ser
avaliado de maneiras diferentes, atendendo a objetivos táticos distintos. As
velocidades de deslocamento e ou de raciocínio são valências muito consideradas
na escolha dos melhores atletas no futebol.
3.4.6 Participação e concentração para o jogo
Segundo Drubscky, (2003) “o atleta que se mostra interessado e atento às
várias situações do jogo acresce qualidades ao seu potencial competitivo”.
33
3.4.7 O caráter atlético
Mede, por assim dizer, a qualidade do jogador no que diz respeito ao seu
interesse pelo aprendizado e desenvolvimento, na aplicação das muitas táticas do
futebol.
3.4.8 Competitividade
O futebol, no atual mundo moderno, exige muito dos seus praticantes. Os
parâmetros de hoje, conforme Drubscky (2003), quando são comparados aos do
passado, apresentam-se bem diferentes. Portanto, o autor enfatiza “não é possível
correr em certas situações três vezes mais que há vinte anos se o jogador não for
competitivo. A competição se resume em um constante criar espaços para a sua
equipe e eliminar os do adversário”. A personalidade competitiva do atleta do futebol
é um fato considerável nos tempos atuais.
3.4.9 Comando
Esta é uma característica, conforme o autor, particular mais ou menos
desenvolvida, depende, no entanto, da formação recebida pelo jogador. Drubscky
(2003) coloca ainda que, “não é mensurada precisamente como as valências
técnicas, físicas ou táticas do esporte, mas contribui para que todas elas se
concretizem. E continua a sua explanação dizendo que, é muito fácil perceber a
atuação de um líder dentro de campo, pois a atuação de um líder é indispensável
dentro de uma equipe. Porque é a partir de sua liderança que a tática de jogo poderá
ser melhor interpretada e aplicada. O autor ainda coloca que, “um comandante nas
quatro linhas, mesmo que não seja tecnicamente evoluído para o futebol,
exacerbará o potencial dos companheiros”.
3.4.10 Leitura de jogo
Drubscky (2003) coloca que, se a equipe possuir atletas que consigam fazer
uma leitura de jogo inteligente, terá essa um poder tático maior em relação às que
não os possuem. O estudioso define que “um jogador que antevê situações táticas
34
e posiciona bem seus companheiros em campo é de muita valia para a fluência do
sistema de jogo”, pois as várias circunstâncias que o jogo apresenta exige
constantes mudanças do posicionamento dos jogadores. Assim, a atitude de um
ou mais jogadores, que organizem a equipe em campo, ajuda muito no trabalho
dos técnicos.
3.4.11 Equilíbrio emocional
“O estresse emocional do futebol em todos os seus níveis de competição é
cada vez maior” coloca Drubscky (2003). Pois, temos conhecimento de muitos
exemplos de jogadores que se perdem nesse contexto, muitas vezes durante jogos
decisivos. Portanto enfatiza o estudioso, “o perfil emocional do atleta é fator
importante para a analise de suas qualidades desde criança”. O modo de ser,
desequilibrado, de um jogador põe a perder o trabalho de uma equipe, pois,
conforme o autor, “um atleta de futebol vale muito pela soma das suas qualidades,
e o sistema emocional pode pesar na balança nestas circunstâncias.
3.4.12 Personalidade forte
Esse, conforme colocações do escritor, talvez, seja o fator mais importante da
analise. Porque o jogador que se “omite em campo por sentir a responsabilidade
dos jogos é improdutivo e traz conseqüências danosas à equipe”. O meio
futebolístico na competições é muito exigente, em termos emocionais. Dessa
forma, segundo Drubscky, os jogadores que não forem capazes de desenvolver
seus competências, sob pressão, estarão fadados à mediocridade. Essa é uma
característica que aflora já na fase inicial do atleta. O autor ainda enfatiza que,
“geralmente, aqueles que desenvolvem ou que por natureza são alheios ao
ambiente opressivo do futebol em favor da alta performance se dão bem na
carreira”. Portanto, uma certa dose de alienação às responsabilidades e à atitude
forte para o jogo são dois fatores que costumam andarem juntos e diferenciam o
atleta de alto nível do atleta mediano.
Outro três pontos são fundamentais na avaliação pelo conteúdo subjetivo aos
olhos do avaliador: a maturação do atleta, pois é importante observar se este vai
35
evoluir fisicamente; a bagagem de treinamentos, porque essa interfere na
produtividade em campo; e por último os treinamentos e os jogos, neles o treinador
pode ter uma analise melhor da personalidade do atleta e seu caráter profissional.
36
4 CARACTERÍSTICAS DOS JOGADORES DE FUTEBOL POR POSI ÇÕES
Goleiros:
Fundamentos técnicos - Queda, pegada, reposição de bola, saída do gol, chute
e habilidade com as mãos.
Fundamentos táticos - Colocação, Reposição rápida, barreira e entrosamento
com a defesa.
Valências físicas - Impulsão, flexibilidade, agilidade e velocidade de reação.
Características psicológicas - Liderança, coragem, tranqüilidade e atenção.
Zagueiros:
Fundamentos técnicos - Cabeceio, antecipação, marcação e passe.
Fundamentos táticos - Colocação, cobertura, noção de impedimento e
ocupação de espaço.
Valências físicas - Força, impulsão, velocidade, resistência anaeróbica.
Características psicológicas - Decisão, coragem, determinação e tranqüilidade.
Laterais e alas:
Fundamentos técnicos - Marcação, condução, passe e antecipação.
Fundamentos táticos - Cobertura, ocupação de espaço, apoio a defesa e ao
meio.
Valências físicas - Agilidade, resistência aeróbica e anaeróbica, força e
velocidade.
Características psicológicas - Iniciativa, coragem e agressividade.
Volantes ou centro médio:
Fundamentos técnicos - Marcação, passe, antecipação e cabeceio.
Fundamentos táticos - Cobertura dos laterais e zagueiros, visão de jogo,
entrosamento com zagueiros e meias.
Valências físicas - Força, resistência aeróbica e anaeróbica, impulsão.
Características psicológicas - Determinação, coragem e persistência.
37
Meias ou armadores:
Fundamentos técnicos - Passe, controle de bola, chute e drible.
Fundamentos táticos - Armação das jogadas, infiltração, apoio ao ataque e
visão de jogo.
Valências físicas - Velocidade, força, resistência aeróbica e anaeróbica.
Características psicológicas - Determinação, criatividade e persistência.
Atacantes pelos lados:
Fundamentos técnicos - Passe, chute, drible e condução de bola.
Fundamentos táticos - Entrosamento com centroavante, noção de impedimento
e conhecimento das manobras ofensivas.
Valências físicas - Força, velocidade e agilidade.
Características psicológicas - Coragem, decisão e agressividade.
Centroavante:
Fundamentos técnicos - Cabeceio passe, chute e drible.
Fundamentos táticos - Colocação, noção de impedimento, entrosamento com
atacante e meias.
Valências físicas - Força, velocidade, agilidade e impulsão.
Características psicológicas - Coragem, personalidade, determinação e
iniciativa. (BALZANO, 2006/2.)
38
5 DECISÕES METODOLÓGICAS
Nesta seção, descrevo os referenciais teórico-metodológicos que conduziram à
investigação em questão. As decisões, por um determinado paradigma, demonstram
o pensamento que apresento a respeito do fenômeno que me proponho a estudar, e
assim, poderá fornecer uma melhor análise e interpretação dos resultados obtidos
no campo de estudo.
5.1 Caracterização do estudo
Esse estudo se caracteriza por uma investigação de corte qualitativo, pois
busquei trabalhar com o universo de significados, crenças, valores e atitudes que os
sujeitos envolvidos atribuem as suas práticas. Esses sentimentos foram
apresentados de forma descritiva, pois acredito que assim melhor poderia se
interpretar, perceber e explicar o que estudei. Acredito que esse estudo não poderia
ser apresentado através da operacionalização de variáveis, pois isto reduziria, nesse
caso, as possibilidades de análise.
Outra característica que me leva a entender como uma pesquisa qualitativa é a
não pretensão de generalizar os resultados obtidos no campo de investigação, mas
procurar contextualizá-los para o grupo específico ao estudo em questão.
Para Manning (1979), “O desenvolvimento de um estudo de pesquisa
qualitativa supõe um corte temporal–espacial de determinado fenômeno por parte do
pesquisador”.
39
É importante salientar que o termo qualitativo é bastante amplo, necessitando
de uma designação mais específica. Portanto, este estudo teve um viés qualitativo e
foi do tipo estudo de caso. A justificativa para esta opção se dá em função de
entender que as características do estudo de caso se adaptam ao que me propus
investigar.
Segundo Hartley (1994), o estudo de caso consiste em uma investigação
detalhada de uma ou mais organizações, ou grupos dentro de uma organização,
com vistas a prover uma análise do contexto e dos processos envolvidos no
fenômeno em estudo.
Triviños (1987) define o estudo de caso como sendo uma categoria de
pesquisa cujo objeto é uma unidade que se analisa com profundidade.
O caso que estudei foi o Grêmio FBPA, com o técnico da categoria sub-20 de
futebol, que é o principal elemento tanto da categoria quanto da comissão técnica.
5.2 Os participantes
Características do entrevistador:
Leonardo Silveira de Souza, 22 anos, acadêmico do Curso de Educação Física,
no Centro Universitário Lasalle (Unilasalle), cursando 8° semestre e atualmente
trabalhando em academias. Envolvido com futebol desde os 5 anos de idade, com
passagens em categorias de base de alguns clubes, dentre eles o S. C.
Internacional. Já participei de alguns processos de seleção como jogador e passei
em um, porém posteriormente fui reprovado. Em outro, sofri um processo de seleção
diferenciado e acabei aprovado.
Característica do entrevistado:
Júlio César Valduga Camargo, 36 anos, formado em Educação Física, pós–
graduado em psicologia do esporte e exercício, e pós-graduado também em Técnico
Desportivo (futebol). Trabalha atualmente com a categoria sub 20 (juniores) no
Grêmio FBPA, e na sua trajetória profissional teve passagens nos clubes Sport
Clube Internacional, RS Futebol Clube, Veranópolis, Brasil de Farroupilha e seleções
sub 20 e sub 23, do Kuwait. Alguns livros que admira e tem como referência são
Cestas Sagradas (Phill Jackson, ex-técnico do Chicago-Bulls), Mil Exercícios de
40
futebol e futsal (Marcelo Mantovane) e todos livros ligados ao esporte de
rendimento. Seus títulos dentro do futebol são vários, sendo alguns conquistados
fora do país. Dentre eles se destacam o título mundial conquistado com a categoria
sub 15 do Sport Clube Internacional e o título da Copa Federação Gaúcha de
Futebol em 2006, com a equipe B do Grêmio FBPA. Vários jogadores passaram por
suas mãos, alguns deles são Rafael Sobis, atualmente jogador do Betis na Espanha;
Anderson, jogador do Porto de Portugal; Lucas, recentemente negociado com o
futebol inglês e Carlos Eduardo, atual titular do grupo profissional do Grêmio.
O treinador foi comunicado da entrevista e demais procedimentos de coleta de
informações semanas antes. O critério adotado, para selecionar o treinador, foi a
sua identificação com a faixa etária pesquisada.
5.3 Critérios de seleção do clube estudado e da cat egoria
Acredito que os critérios de seleção do clube estão de acordo com o desenho
metodológico apresentado anteriormente. Portanto, a escolha do clube que
participou do estudo procurou ser coerente com a caracterização do estudo de caso,
tendo em vista que esse foi o modelo adotado para o desenvolvimento da
investigação.
- O Grêmio Foot-ball Porto-Alegrense é um clube de ponta no futebol brasileiro
e com uma ótima estrutura, no que se refere às categorias de base de futebol;
- Clube que valoriza o trabalho nas suas categorias de base;
- Pelos recentes jogadores lançados no futebol brasileiro e exterior; pela
descoberta do atual melhor jogador do mundo Ronaldinho Gaúcho e por ter no
seu histórico títulos nas categorias de base;
- Categoria sub–20.
5.4 Negociação de acesso
A negociação de acesso ao clube e entrevista, foi realizada através de meu
professor e orientador Otávio Nogueira Balzano, que com seus conhecimentos e
contatos me ajudou a coletar todos os dados.
41
5.5 Instrumentos de coleta de informações
Respeitando as características do estudo de caso, assim como o desenho da
pesquisa e o problema a ser investigado, utilizei como instrumentos de coleta de
dados, uma entrevista semi-estruturada com o técnico da categoria (sub 20), sendo
ele o principal responsável da mesma e um gravador da marca PANASONIC Model
No. RN - 305.
5.6 A entrevista
Para o levantamento dos dados trabalhei com uma entrevista semi-
estruturada, de caráter qualitativo, optando-se por localizar um técnico de futebol
que trabalhasse com a categoria sub-20. A entrevista se desenvolveu através de um
esquema básico, porém flexível, não aplicado rigidamente, permitindo que o
entrevistador fizesse as necessárias adaptações de acordo com a dinâmica do
entrevistado.
A entrevista com o treinador ocorreu no próprio clube, no período em que o
mesmo não estava envolvido com o grupo de atletas, pois eles estavam fazendo um
trabalho especifico com o preparador físico da categoria. Assim, pude ter uma
melhor atenção do entrevistado. A entrevista ocorreu logo após as 16 horas, tendo
como duração aproximadamente 40 min.
O entrevistado respondeu todas as perguntas com clareza e objetividade
demonstrando receptividade ao trabalho.
5.7 Descrição dos resultados
1- Como você vê a qualidade no processo de seleção de atletas no futebol? E por
quê?
Treinador:
-Vejo como algo que está crescendo a cada dia, principalmente pela
profissionalização do departamento amador dos clubes brasileiros. Acho que é
muito importante, porque o processo de seleção de atletas, principalmente, no
país que tem um berço de grandes jogadores, a grande técnica do esporte que
42
é o futebol. Eu acho que com a profissionalização desta busca, a gente vai
conseguir detectar o talento dos atletas um pouco mais cedo e de forma mais
correta, mais coerente e com certeza vamos errar menos nesta escolha.
2- Qual o processo seletivo usado por você e por quê? Baseado em quê?
Treinador:
- Na verdade, o processo seletivo da formação de atletas se baseia em nível de
treinamento da condição técnica e também da condição atlética do jogador,
tendo muito a ver com suas valências físicas, desde aptidão em termos de
velocidade à aptidão em termos de potência. A gente que trabalha em
categorias de base, tem que ter em mãos dados a respeito da maturação do
atleta, para que possa comparar um atleta com o outro, e através da sua
performance e da sua evolução, ao longo dos treinamentos, a gente vai
detectando até onde ele vai chegar e o nível que ele pode chegar e, assim,
vamos selecionando os que achamos que podem chegar mais longe.
3 - Conhece outros tipos de avaliação? Quais seriam?
Treinador:
- A avaliação pode ser feita tanto da parte subjetiva, quanto da parte empírica,
através do feeling e da experiência que geralmente um treinador que já está
numa categoria de juniores, juvenil tem, isto é, mais de 10, 15 anos de trabalho.
Mas, além de ser subjetiva e do feeling, ela contém dados do grau de
maturação do atleta, toda a parte da avaliação física que o treinador pode ver
se o jogador é veloz ou não, em que nível de força ele está, qual a capacidade
aeróbia, e através desse conjunto de elementos físicos, poder detectar que tipo
de jogador ele tem a nível técnico. Qual a resposta do atleta em campos
pequenos, qual a resposta em campos grandes, que tipo de batida na bola ele
tem, se ele apresenta lateralidade boa, se ele faz com o pé direito e com o pé
esquerdo a mesma coisa, etc. Por isso, é muito vago poder falar que tipo de
avaliação pode ser feita, pois é um conjunto muito grande de ações que a gente
acaba tendo. Hoje, temos um conjunto de 9, 10, 11 elementos para selecionar
um grande atleta; posso citar desde a formação de caráter de jogador, à
43
formação física, técnica, familiar, à estrutura que ele vai ter para trabalhar dos
seus 10, 12 anos até o final dos 20 anos quando se torna um profissional.
Também, posso citar a assistência social que hoje nos auxilia muito, os
psicólogos do esporte, nutricionistas. Enfim, são muitos elementos que acabam
influenciando, nos ajudando como ferramenta de treinamento e acabam nos
dando subsídios para poder selecionar um atleta e também ajudam a
potencializar o atleta; então seria difícil dizer que uma coisa é mais importante
que outra, pois na verdade todas elas são importantes e estão interligadas, não
tendo como fugir disso.
4 - O que achas importante ser avaliado no atleta?
Treinador:
- Essencialmente, de juniores para baixo (categorias para baixo), a técnica
principalmente, pois ela é determinante no futuro do atleta e podemos trabalhar,
a partir dela, outros elementos. Acho que em nível de juniores, perto do
profissional, é muito importante também o aspecto psicológico de suportar
determinadas pressões, de ser uma pessoa psicologicamente forte para
enfrentar situações que ele vai viver. E o atleta tem que ser muito levado a
sério, pois muitas vezes acabamos vendo um jogador extremamente técnico,
às vezes melhor do que outro, chegando ao juniores, ele vai muito bem,
quando chega ao profissional ele já não apresenta a mesma performance, do
que um jogador que até o juniores era mediano, e no profissional este se solta,
tornando-se um grande jogador. Isto acontece porque até os juniores a gente
trabalha cruzamentos e situações sem marcação. Trabalha, também,
cruzamentos em situação de jogo com marcação, com cruzamentos com
dribles. Enfim, há vários elementos a respeito do cruzamento, só que nunca
trabalha um jogador fazendo esse cruzamento com 40.000 pessoas atrás dele.
Então, muitas vezes o grande jogador do infantil, do juvenil, do juniores, é um
jogador que possui uma técnica fantástica, é o titular, é seleção brasileira, ele é
tudo. No momento que coloca esse mesmo jogador frente a 40.000 pessoas
gritando no ouvido dele, ele pode errar um cruzamento básico e os leigos não
entenderem, se perguntando como este jogador se tornou profissional,
treinando toda semana e errando uma jogada como essa. Isso tem tudo a ver
44
com o aspecto psicológico do jogador, da força psicológica que ele tem, de ele
ser um atleta que suporta esse tipo de pressão, e eu vejo jogadores com os
quais eu trabalhei, como por exemplo, o Carlos Eduardo, que é um jogador em
evidência aqui no clube, é um jogador completamente frio, ele pode entrar em
um jogo de 10.000 ou de 50.000 pessoas e é o mesmo jogador. Ele trabalhou
dois anos aqui com a gente e nesses dois anos nós trabalhamos vários
elementos com ele, desde aspectos atléticos de colocar mais força nele,
potencializar a sua técnica e, também, os outros aspectos que interagem com o
jogador. E ele, nesses dois anos, terminou uma fase de amadurecimento, onde
ele se tornou um jogador forte psicologicamente, que é uma coisa que no
profissional tem que ter, por isso que eu volto a ressaltar, quando a gente fala
de futebol, de formação de atletas, é muito difícil explanar em poucas palavras
o que vem determinar, ou não, um grande atleta.
5 - Você sugere alguma proposta que contemple tudo dito anteriormente, desde a
parte emocional, parte física até a parte técnica. Tem alguma sugestão?
Treinador:
- Eu acho que a essência do futebol está no campo e na sua estrutura, isto é,
campo, bola, comissão técnica, jogadores e na estrutura que está por trás de
tudo isso, que é a direção de um clube. Os outros elementos, antes citados,
são partes de apoio que auxiliam em todo esse processo. Mas, o grande
gancho na formação de atletas, que eu acho que as pessoas têm que
finalmente entender, é o fato de hoje, todos os clubes brasileiros dependerem
de um grande atleta, vindo da base para ser vendido mais tarde e com isso
darem dinheiro ao clube, para este poder sobreviver. Por essa razão, os clubes
têm que profissionalizar da melhor forma possível seus departamentos de
amadores, possuírem treinadores no juniores, no juvenil e no infantil bem
pagos, com muita capacidade, com uma formação correta, com um amplo
entendimento a respeito da formação de um atleta, possuírem também
preparadores físicos que tenham um grande domínio da fisiologia e da ciência
dessa formação atlética, possuírem grupos de apoio, e é com isso que eu acho
que o futebol está se encaminhando. Hoje, grandes clubes brasileiros que
possuem grandes jogadores formados nas suas bases, têm grandes comissões
45
técnicas, grandes direções nas suas categorias de base, têm um grupo de
apoio muito grande, e isso está fazendo com que o jogador se torne mais
completo, mais preparado, e não é a toa que os jogadores brasileiros, sem
nenhuma dúvida, ainda dominam o futebol europeu e ainda são os melhores do
mundo, mesmo com os europeus pensando que aqui nós não trabalhamos
bem. Podemos ver que a todo o momento que um clube brasileiro vai jogar lá
fora um sub-20, sub-17, sub-15, e os adversários ainda são surpreendidos e
acabam vendo grades trabalhos em clubes como no São Paulo, Cruzeiro, na
dupla GRENAL, no Vitória da Bahia, no Atlético Mineiro, no Fluminense, etc. O
mais importante é que a essência do trabalho está, e sempre estará, no
jogador, em uma boa comissão técnica e em uma estrutura, tanto de campo
quanto de direção, para que possa suportar isso. O resto auxilia, mas não é
determinante.
6 - Quais processos que conhece para ingressar no clube? O que acha deles?
Treinador:
- Nós temos, hoje no Grêmio, processos para ingressar, o primeiro deles é o
processo de avaliação aberta, onde o jogador chega no clube e se inscreve. É
uma chamada peneira, onde vai ser avaliado por uma a duas semanas e os
melhores são repassados para um segundo grupo, onde já têm, além desses
melhores da peneira aberta, ele, também, acaba incluindo jogadores indicados
por treinadores amigos, “olheiros” do clube, empresários que são parceiros que
querem colocar jogadores dentro do clube. Essa é uma seleção mais restrita,
eles continuam esses processos de seleção, por mais uma ou duas semanas,
onde os professores, que trabalham com isso, junto com os treinadores das
categorias, que acabam puxando um ou dois dos melhores para o seu plantel.
7 - Qual avaliação, que achas mais confiável?
Treinador:
- Quando a gente sai para jogar campeonatos a nível nacional e campeonatos
fora, a gente sempre leva dois, três integrantes do nosso departamento de
busca de atletas e eles vão para essas competições olharem as outras chaves,
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outros jogos e ver quem são os destaques dessa competição, para se tiverem
interesse numa futura negociação para o Grêmio. Então, assim, a gente tem
hoje no clube, o departamento só para isso, chamado departamento de
avaliação. Onde existem seis integrantes, que trabalham na primeira peneira
aberta, na segunda que é só de indicados e com a busca de jogadores. Hoje,
qualquer pessoa que seja confiável, que ligue para nós, que fale, que tenha
algum jogador bom, em tal lugar, a gente acaba enviando sempre um
funcionário nosso deste departamento para ir ver se realmente o jogador é
bom. Se está dentro dos parâmetros e, além dessas vias normais, também, o
próprio treinador da categoria, no caso eu, no juniores, a gente esta sempre de
olho nos próprios adversários para que a gente possa ver aí jogadores de
qualidade, que estão em clubes médios e pequenos para trazer para o clube
grande. Além disso, eu fui atleta de futsal e tenho muitos amigos no futsal que é
um grande celeiro de atletas, principalmente a nível de 13, 14 anos.
Geralmente, os melhores jogadores do estado, com 12,13 anos, não estão no
campo, estão no salão ainda, os do interior. Então, é um local bom de pegar
jogadores. Mais ou menos é isso, a gente tem exemplos destes casos que citei.
Estava falando contigo e me lembrando do Adilson, que é jogador, que veio do
Caxias, que a gente acabou jogando contra, vendo ele jogar e o clube em uma
negociação trouxe ele. Então são todos esses exemplos que falei que engloba
essa busca.
8 - Que critérios são avaliados para ingresso no clube? O que pesa mais? Indicação
de empresários ou qualidade técnica?
Treinador:
- Bom, o critério técnico, físico, psicológico, social. Na verdade, o jogador vem
fazer avaliação, ele faz trabalhos técnicos, coletivos e através desse grande
jogo, que é o coletivo, que tu vais fazendo a avaliação do jogador. Tem o nível
para o que tu quer, e se tiver no nível a gente investiga se a idade é correta,
qual a condição de vida que ele tem. O que pesa mais vai ser sempre a
qualidade técnica, uma coisa é o clube conversar com o empresário, outra é o
treinador. O treinador é o que vale, para mim de todas as avaliações que
participei, trabalhei sempre, vai importar a qualidade de futebol como um todo.
47
Se o jogador e do empresário x ou y, se ele é do clube a ou b, eu não me
preocupo com isso.
5.8 Análise e interpretação das informações
A análise das informações foi realizada a partir dos resultados obtidos, através
da entrevista que foi realizada com o treinador e principal componente da categoria
sub-20 do Grêmio Futebol Porto Alegrense, tendo como referência o marco teórico
da pesquisa.
As perguntas das entrevistas serviram como base para a construção das
categorias de análise. Categorizar as informações significa agrupá-las, a partir das
características comuns, elaborando-se, então, determinada classificação. Esse tipo
de procedimento, geralmente, pode ser usado em qualquer tipo de análise em
pesquisa qualitativa.
5.9 Categorias de análise
- Qualidade do processo de seleção
Dentro desta categoria de análise, o treinador colocou como ponto principal,
fazer com que se profissionalize ainda mais este processo para que se torne mais
qualificado e se erre menos ao fazer essa escolha, dizendo que todo trabalho se
apóia em uma boa comissão técnica e em uma boa estrutura, tanto dentro de campo
quanto fora dele (direção). Dentro dessa visão, Drubscky (2003) já colocava como
importante esse ponto: “A seleção segue mais ou menos o mesmo padrão em todos
os clubes. O que diferencia substancialmente o trabalho de base de um clube em
relação ao outro são as estruturas física e científica, além da qualidade de seus
profissionais”.
Realmente, o que faz com que se descubra jogadores preparados para seguir
uma carreira no futebol de rendimento é a qualificação dos profissionais que atuam
nesta área. Hoje em dia, acredito que a maioria dos clubes já tomou conhecimento
disso e, assim, seguem tentando melhorar suas estruturas e tentando dar os
48
subsídios necessários para que este departamento amador se torne cada vez mais
qualificado.
- Critérios de avaliação para ingressar no clube
Para o treinador existem alguns processos, como a participação em
competições, que faz com que o clube leve profissionais do departamento de
avaliação para que detectem algum talento, o entrevistado citou exemplos, a
indicação de pessoas confiáveis, no caso empresários ou amigos, porém o critério
essencial para que um jogador ingresse no clube é a qualidade técnica, segundo
ele. O principal processo dentro do clube é feito através de uma avaliação aberta.
Uma peneira diferente, pois o jogador permanece no clube por uma ou duas
semanas, não apenas participa de um coletivo, grande jogo, e é dispensado como
diz Drubscky:
São testes realizados em forma de treinamentos coletivos, que duram emmédia 30 a 40 minutos cada. Os times, de 11 jogadores ou menos,atendendo à metodologia aplicada e ou às necessidades do clube, sãoformados minutos antes dos treinamentos.(...). A maioria é reprovada,principalmente os de 16 anos de idade em diante. (...) Na verdade, aspeneiradas se tornaram ineficazes no fornecimento de bons valores para ofutebol moderno, principalmente nas grandes cidades.( 2003 )
Outro processo é a indicação de jogadores por empresários ou pessoas de
confiança do treinador, sobre este processo Drubscky, (2003) também, tem um
ponto quando coloca que, “Os clubes hoje têm no empresário, um olheiro
profissional particular, uma grande fonte de fornecimento de jovens atletas para suas
categorias de base (...)”. Dentro da escolha de atletas nas competições acredita–se
que: “Fora a maior credibilidade no retorno técnico para os grandes clubes. O jovem
atleta sendo observado em meio a competições esta mais pronto em relação a
maioria dos candidatos que chegam espontaneamente aos clubes.”.
Outra citação, desse processo, do treinador foi o futsal, pois diz que muitos
jogadores são oriundos dessa modalidade, seguindo a literatura e a opinião de
Drubscky (2003), “Muitos jovens, após anos de prática no salão, passam para o
campo e fazem carreira brilhante”.
E por fim, o treinador enfatizou que independente de todos esses processos o
que vale é o treinador da categoria, essa pessoa que dá a última palavra. Estou de
acordo com todos esses processos, mas levanto aqui um ponto muito preocupante e
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seguindo uma frase colocada por Drubscky (2003) ”(...) hoje é comum, não ético,
encontrar treinadores, dirigentes, jornalistas esportivos, dentre outras classes,
envolvidos diretamente com o esporte, participando de negociatas.”, não pude
detectar nada desse gênero dentro da minha pesquisa, porém, segue este assunto,
pois o futebol esta se tornando uma modalidade cada vez mais restrita e se tornou
um ciclo único, pois que hoje em dia ouvimos falar apenas de algumas pessoas
influentes e, não é qualquer um, que pode colocar seus jogadores nesse mundo,
sempre existe um porém maior e que nunca é identificado.
- Critérios de avaliação para subir de categoria dentro do clube
Na terceira categoria, o treinador diz que a avaliação é feita de forma subjetiva
e empírica, através do feeling e experiência do treinador. Ele leva em conta muitos
critérios para que o atleta suba de categoria dentro do clube. O aspecto técnico,
físico e o psicológico é muito citado por ele, ainda mais na faixa em que trabalha
(sub–20), pois diz que é um fator importante porque depois desta categoria o
próximo passo é o profissional. “Processo seletivo da formação de atletas se baseia
em nível de treinamento da condição técnica e também da condição atlética do
jogador, tendo muito a ver com suas valências físicas, desde aptidão em termos de
velocidade à aptidão em termos de potência. A gente que trabalha em categorias de
base, tem que ter em mãos dados a respeito da maturação do atleta, para que
possa comparar um atleta com o outro, e através da sua performance e da sua
evolução ao longo dos treinamentos a gente vai detectando até onde ele vai chegar
e o nível que ele pode chegar e assim vamos selecionando os que achamos que
podem chegar mais longe.”, diz o treinador. Para ele são inúmeros os aspectos para
escolher um atleta, seria difícil definir um mais importante que o outro, pois todos
estão interligados. Segundo o estudioso Venzon,
Basicamente, o desenvolvimento das qualidades físicas, técnicas, táticas epsíquicas representam a preparação atlética no futebol, equipotentes, sendodifícil identificar em elemento mais importante e representativo. Todos, deuma forma geral, podem contribuir decisivamente para a vitória, tantoindividual quanto coletivamente (1998, p.14).
Ligado a todos esses aspectos Weineck, fala com muita sabedoria que,
O reconhecimento do talento não é um processo dinâmico que se atualizadurante um treinamento. Os talentos somente são reconhecidos através deum treinamento sistemático, e não através de testes executados uma única
50
vez ou ainda através de competições, instituídos como um modo único deavaliação e desempenho (2003).
Não tenho muito o que avaliar sobre essa categoria, pois a experiência do
treinador, que trabalha a mais de 12 anos com categorias de base, só me leva a
absorver seus conhecimentos e idéias, ligadas a trabalhos dentro de clubes.
51
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após concluir esta pesquisa, pude notar o quanto evoluíu a busca por
jogadores, tanto na literatura quanto na conversa com o treinador da categoria sub–
20 do Grêmio. Na época em que eu atuava como atleta e almejava algo melhor para
meu futuro, passei por alguns processos seletivos. No que me recordo eram feitos
de maneira pouco fundamentada e sem chances de um atleta demonstrar se poderia
evoluir dentro de um clube ou não. O jogador, no caso, teria que chegar pronto para
os chamados avaliadores. Dentre esses avaliadores era notável a falta de formação
para identificar algo a mais em um dos jogadores. A equipe de avaliação era
formada por ex–atletas, portanto, isso levava a avaliação só para o lado da forma
empírica deixando a forma subjetiva de lado. Muitos garotos que chegaram comigo
eram reprovados
Atualmente, principalmente, no final dessa pesquisa, notei que as chances de
um menino crescer dentro do futebol aumentaram. O trabalho de seleção de
jogadores vem se qualificando, no Grêmio, clube de ponta do futebol brasileiro, o
qual pesquisei, existe um departamento voltado só para essa busca. Isso aumenta a
chance de jogadores serem notados e saírem do anonimato. Provavelmente, esses
processos estejam melhorando devido a grandes erros de avaliações passadas, tais
como exemplos de jogadores que são dispensados e acabam crescendo em outros
clubes. A busca está cada vez mais minuciosa, para que ninguém escape, pois
além da descoberta de um jogador o clube pode estar ganhando um ótimo retorno
financeiro.
Estou de acordo com o treinador Júlio, que levanta o ponto de que todo o setor
vinculado a essa busca deva ter uma formação adequada fazendo com que seja
valorizado o encontro da teoria com a prática. Os processos de seleção estão se
tornando cada vez mais qualificados, isso engrandece tanto nossa formação e
acaba criando mais uma área de atuação para futuros professores e pessoas
ligadas ao futebol. O trabalho tem de ser contínuo, pois o futebol tem que ter sempre
subsídios, ou seja, material humano de qualidade (jogadores) para fazer por
merecer o nome de paixão nacional.
Finalizando, tenho que exaltar o trabalho feito na categoria sub–20 do Grêmio
Futebol Portoalegrense, pois o clube apresenta uma excelente estrutura para os
52
seus jovens atletas, oferecendo tudo o que seja necessário para que os mesmos
desenvolvam um ótimo trabalho. Além disso, o clube tem revelado atletas de ponta
para o futebol mundial, como exemplos, o volante Lucas, atualmente vendido ao
Liverpool da Inglaterra, o meia–atacante Carlos Eduardo, promovido aos
profissionais e jogador da seleção brasileira sub–20.
Para dar uma maior fundamentação e credibilidade a uma futura pesquisa
nessa área, acredito que seria importante entrevistar e pesquisar outros treinadores
e clubes de ponta do futebol brasileiro. Como também, realizar a pesquisa com
outras categorias de esporte e verificar o nível de formação dos profissionais
envolvidos nesses processos.
53
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57
APÊNDICE A - Entrevista
Entrevista do técnico:
1. Como você vê a qualidade no processo de seleção de atletas no futebol? E Porquê?
2. Qual o processo seletivo usado por você e por quê? Baseado em quê?
3. Conhece outros tipos de avaliação? Quais seriam?
4. Que achas importante ser avaliado no atleta?
5. Você sugere alguma proposta que contemple tudo, dito anteriormente, desde aparte emocional, parte física até a parte técnica, tem alguma sugestão?
6. Quais os processos que conheces para ingressar no clube? O que acha deles?
7. Qual avaliação que achas mais confiável?
8. Que critérios são avaliados para ingresso no clube? O que pesa mais? Indicação
de empresários ou qualidade técnica?