Diagnostico Canoas bairro Grande Mathias

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1 DIAGNÓSTICO PARA A IMPLEMENTAÇÃO DE AÇÃO TERRITORIAL INTEGRADA “GRANDE MATHIAS VELHO” CANOAS/RS Canoas, setembro de 2011.

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Relatório do Observatório de Segurança Pública de Canoas para implementação de ação territorial integrada.

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DIAGNÓSTICO PARA A

IMPLEMENTAÇÃO DE AÇÃO

TERRITORIAL INTEGRADA

“GRANDE MATHIAS VELHO”

CANOAS/RS

Canoas, setembro de 2011.

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EQUIPE TÉCNICA

Aline Kerber Socióloga e Coordenadora de Pesquisas

Rafael Dal Santo Sociólogo e Coordenador de Pesquisas

Janine Prandini Silveira Licenciada em Ciências Sociais

Pâmela Bergonci Geógrafa

Rodrigo Sabedot Soares Sociólogo

Heloise Canal Acadêmica de Geografia

Mariana Flores Nunes Acadêmica de Direito

COORDENADOR INSTITUCIONAL

Eduardo Pazinato Mestre em Direito

PARCERIAS

Ministério da Justiça

Prefeitura de Canoas

Fórum Brasileiro de Segurança Pública

Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Grupo de Pesquisa Violência e Cidadania

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SUMÁRIO

1. APRESENTAÇÃO E METODOLOGIA .......................................................... 6

2. O MUNICÍPIO DE CANOAS ........................................................................ 12

2.1. HISTÓRIA DE CANOAS........................................................................ 12

2.2 CARACTERIZAÇÃO SÓCIO-DEMOGRÁFICA ...................................... 13

2.3. DADOS DE CRIMES E DE VIOLÊNCIAS ............................................. 16

2.3.1 HOMICÍDIOS ................................................................................... 16

2.3.2 PESQUISA DE VITIMIZAÇÃO ......................................................... 31

3. HISTÓRIA E CARACTERIZAÇÃO DOS BAIRROS MATHIAS VE LHO E

HARMONIA ...................................................................................................... 34

3.1. HISTÓRIA.............................................................................................. 34

3.2 CARACTERIZAÇÃO SOCIODEMOGRÁFICA DA ÁREA....................... 40

3.2.1 LOCALIZAÇÃO ................................................................................ 40

3.2.2 POPULAÇÃO................................................................................... 41

4. INVESTIMENTOS PÚBLICOS DE SEGURANÇA ....................................... 45

4.1 VIDEOMONITORAMENTO E FURTO E ROUBO DE VEÍCULOS ......... 45

4.1.1 CÂMERAS EM PRÓPRIOS MUNICIPAIS ....................................... 46

4.2 ALARMES EM PRÓPRIOS MUNICIPAIS............................................... 46

4.3 DENÚNCIAS E SOLICITAÇÕES ADVINDAS DO SISTEMA DE

PARTICIPAÇÃO........................................................................................... 47

4.4 PLANTÃO INTEGRADO DE FISCALIZAÇÃO (PIF) ............................... 49

4.5 BOLETINS DE ATENDIMENTO E REGISTROS DE OCORRÊNCIAS

ADMINISTRATIVAS ..................................................................................... 51

5. EQUIPAMENTOS DE USO COLETIVO ...................................................... 53

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Localização geográfica do Município de Canoas. Em destaque,

bairros Mathias Velho e Harmonia. .................................................................. 13

Figura 2: Comparação entre os homicídios ocorridos em Canoas no primeiro

semestre dos anos de 2009, 2010 e 2011. ...................................................... 19

Figura 3: Relação entre o local dos homicídios e a residência das vítimas. .... 23

Figura 4: Relação entre o local dos homicídios de jovens de 15 a 24 anos e a

residência das vítimas...................................................................................... 29

Figura 5: localização dos bairros Mathias Velho e Harmonia e áreas de

loteamentos irregulares ou em fase de regularização...................................... 41

Figura 6: Pessoas residentes de 12 a 24 anos. ............................................... 42

Figura 7: Pessoas residentes de 25 a 59 anos. .............................................. 43

Figura 8: Registros de furto e roubo de veículos e localização das câmeras de

videomonitoramento com área de alcance....................................................... 45

Figura 9: Denúncias e solicitações advindas dos Sistemas de Participação. .. 48

Figura 10: Plantão Integrado de Fiscalização com os bairros mais visitados. . 50

Figura 11: Locais visitados pelo Plantão Integrado de Fiscalização. ............... 50

Figura 12: Relação dos Boletins de Atendimento e Registros de Ocorrências

Administrativas com os Recursos Institucionais............................................... 52

Figura 13: Equipamentos de uso coletivo nos bairros Mathias Velho e

Harmonia.......................................................................................................... 53

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Bairro de ocorrência dos Homicídios, por ano.................................. 18

Tabela 2: Bairro de ocorrência por bairro de residência das vítimas de

homicídios ........................................................................................................ 21

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1: Tipificação dos registros sistematizados no âmbito do GGI-M de

Canoas............................................................................................................. 17

Gráfico 2: Taxas de homicídio por ano (por 100 mil habitantes) ...................... 24

Gráfico 3: Locais de ocorrência de homicídios (%). ......................................... 24

Gráfico 4: Meio empregado nos homicídios (%)............................................... 25

Gráfico 5: Sexo das vítimas de homicídio (%).................................................. 26

Gráfico 6: Faixas etárias das vítimas de homicídio (%).................................... 27

Gráfico 7: Taxas de homicídio entre jovens de 15 a 24 anos........................... 28

Gráfico 8: Antecedentes policiais e criminais das vítimas de homicídio (%). .. 30

Gráfico 9: Comparação da vitimização na cidade de Canoas com os bairros

Mathias Velho e Harmonia – Adultos (%)......................................................... 32

Gráfico 10: Comparação da vitimização na cidade de Canoas com os bairros

Mathias Velho e Harmonia – Jovens (%) ......................................................... 33

irregulares ou em fase de regularização. ........................................................ 41

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1. APRESENTAÇÃO E METODOLOGIA

Presencia-se uma crise nas instituições de controle social primário

(família, escola e igreja), tanto pelos novos arranjos societários, que acarretam

novas sociabilidades, quanto pela própria descrença nessas instituições. Junto

disso, a mídia, do seu modo, neste contexto, acaba sendo fundamental para

potencialização de uma maior vulnerabilidade, exclusão e desagregação social,

visto que através da espetacularização do crime provoca o aumento do medo e

da sensação de insegurança, maior descrença nas instituições policiais,

reafirmando que o crime é uma ameaça à sociedade. Com isso, instiga que a

própria comunidade tenha um papel importante na resolução dos conflitos,

através de práticas individualizadas e pouco pacificadoras.

Além disso, o aumento dos processos estruturais de exclusão social

pode vir a gerar a expansão das práticas de violência como norma social

particular, vigente em vários grupos sociais enquanto estratégia de resolução

de conflitos, ou meio de aquisição de bens materiais e de obtenção de

reconhecimento e prestígio social. Para tanto, faz-se necessário o

entendimento de que o direito à segurança só será garantido assim que outros

direitos sejam promovidos com amplo acesso e qualidade, tais como: espaços

de lazer e de cultura, escola pública, saúde pública, assistência social,

emprego e renda, saneamento, transporte público, iluminação, moradia, entre

outros.

Somado a isso tudo, a violência tem como principal ator e vítimas as

juventudes. Entre os jovens, de duas em cada três mortes se originam numa

violência, seja ela homicídios, suicídios ou acidentes de trasnporte.

Por fim, a fragmentação do espaço social urbano e a criação de áreas

isoladas, com populações desfavorecidas economicamente e desprovidas da

presença do Estado, pode favorecer uma violência sistemática, que se

apresenta como uma das formas de sobrevivência.

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Orientado pelas relações epistemológicas expostas acima, o

Observatório de Segurança Pública de Canoas1, criado em maio de 2010, vem

num esforço sistemático de construção de objetos sociológicos que busquem

traçar conexões entre dados objetivos, estatísticas criminais e investimentos

públicos, e dados subjetivos, ligados à representação social das violências. O

Observatório foi concebido para atuar como uma ferramenta estratégica do

Gabinete de Gestão Integrada Municipal (GGI-M), realizando periodicamente

diagnósticos e estudos locais para subsidiar a tomada de decisão dos gestores

públicos, favorecendo uma melhor adequação dos recursos, identificando as

áreas com menos recursos públicos e com maior concentração de

criminalidade.

O Observatório vem estruturando e analisando informações advindas

tanto de fontes primárias quanto de secundárias. Através de múltiplas

estratégias metodológicas, analisa-se documentos históricos, registros policiais

e registros da Guarda Municipal; avalia-se a relação das tecnologias de

monitoramento com os crimes; analisa-se as solicitações populares; realiza-se

pesquisas de opinião junto à população, alvos diretos e indiretos de programas

municipais de segurança pública. Todos esses dados são estudados

espacialmente, seja através de software estatístico e/ou de

georreferenciamento com a finalidade de selecionar as áreas críticas de

insuficiência do Estado e com índices altos de criminalidade.

Para este estudo, optamos por apresentar dados gerais do município e

de uma área da cidade (abrangendo dois bairros – Mathias Velho e Harmonia),

devido à constatação de que nestes bairros ocorre grande parte das

ocorrências de homicídios e vitimização de jovens e há peculiaridade históricas

e sócio-demográficas que constituem esses locais.

Como ocorre nos demais locais do país, os homicídios nesses bairros

eleitos são extremamente expressivos entre os homens, sendo que a faixa

etária de concentração está entre os 15 e 29 anos, sendo a maioria das vítimas

1 Para maiores informações sobre o Observatório acesse o site http://www2.forumseguranca.org.br/observatorio-de-seguranca-publica-de-canoas

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residentes do próprio bairro onde ocorreu o fato, apontando para uma dinâmica

com natureza e agenciamento local. Dessas vítimas, 63,6% possuem

antecedentes criminais e policiais, percentual acima da média da cidade. Outro

dado destoante é a taxa de homicídio juvenil - 108 homicídios por 100 mil

habitantes - a mesma taxa juvenil da cidade de Alvorada que localiza-se no

Estado do Rio Grande do Sul e detém a maior taxa de homicídio juvenil do

Estado. Apesar de ser impossível a comparação de taxas com unidades

territorais diferentes, município e bairro, serve de indicativo para a expressão

da magnitude do problema.

Os dados históricos desses bairros tiveram como referencial os

seguintes trabalhos: “As paisagens da memória do bairro Harmonia, em

Canoas/RS: um estudo a partir de registros fotográficos e relatos orais”, de

Francisco de Paula Brizolara de Freitas e Lucas Graeff; e o sexto volume -

referente ao bairro Mathias Velho - do Projeto “Canoas - Para Lembrar Quem

Somos”, iniciado em 1994, fruto de uma parceria entre o Centro Universitário

La Salle e a Prefeitura Municipal de Canoas. Esse volume, publicado em 2000,

tem como autores Rejane Penna (Coord.), Darnis Corbellini e Miguel Gayeski.

Em relação aos dados socio-econômicos e demográficos, a fonte foi a

pesquisa realizada em julho de 2010 pela Fundação La Salle, para subsídio de

ações de reassentamento, regularização fundiária e infra-estrutura urbana do

PAC2 na cidade de Canoas. É possível destacar uma caracterização,

especialmente das condições habitacionais, das vilas Santo Operário e União

dos Operários - localizadas nestes bairros. Foram amostrados 343 domicílios

na primeira vila e 306 domicílios na segunda.

As informações apresentadas neste diagnóstico são as seguintes:

históricas e sócio-demográficas; homicídios (perfil das vítimas e

espacialização), furto e roubo de veículos (espacialização e área de visada das

câmeras), pesquisa de vitimização e denúncias feitas através dos canais de

comunicação da Prefeitura; investimentos públicos de segurança (ações e

projetos); equipamentos de uso coletivo, comparando a cidade e os bairros

selecionados.

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Com base na sistematização desses dados, para a delimitação da área

de abrangência, utilizamos os seguintes critérios: concentração de jovens de

12 a 24 anos, com base nos dados censitários 2010 do IBGE e concentração

de vítimas de homicídios residentes e não residentes no bairro, considerando a

intersecção entre os eventos na faixa etária de 15 a 24 anos. Para a análise a

partir dos dados do IBGE utiliza-se a faixa etária de 12 a 24 anos, pois

acredita-se ser de suma importante iniciar a prevenção com jovens que ainda

não alcançaram a idade apontada como crítica para os crimes contra a vida (15

a 24 anos).

A informações descritas foram sendo agregadas, possibilitando a

correlação de dados e a contextualização mais ampla do objeto selecionado

para a análise. Os dados (Censo IBGE 2010), foram classificados por desvio

padrão em 5 classes, sendo a classe do meio (nos mapas representada com a

cor amarela) a que abrange a média de pessoas nessas faixas etárias por setor

do município.

As fontes utilizadas para a análise dos homicídios são os Boletins de

Ocorrência (BO’s) registrados pela Polícia Civil e Brigada Militar e os dados

advindos do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), fornecidos pela

Secretaria Municipal de Saúde. Esses registros são repassados mensalmente

ao Observatório, que os sistematiza e os analisa, com dados de dois anos e

meio (janeiro de 2009 a agosto de 2011). Entretanto, esse delito é muito

complexo para ser compreendido com essa série histórica e sem os inquéritos

policiais, pois envolve vários cenários sociais do crime, nos quais reúnem

diversos atores e objetos, relações sociais, temas de confrontação, interesses

e dinâmicas em jogo, o que remete à necessidade de um monitoramento

permanente e cada vez mais aprofundado do tema.

Para os dados de furto e roubo de veículos, utiliza-se um questionário

estruturado que é entregue pela Secretaria Municipal de Segurança Pública e

Cidadania em cada Delegacia de Polícia da cidade, o qual é preenchido

semanalmente para cada situação de registro policial para esses crimes e

entregue ao Observatório para tabulação, espacialização e análise dos

registros. Os dados ilustrados que serão demonstrados correspondem ao

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período de julho de 2010 a julho de 2011. Neste período, foram contabilizados

517 furtos de veículos e 669 roubos de veículos.

Com relação as câmeras de videomonitoramento, para além da sua

localização, delimita-se a sua área real de cobertura. Após a espacialização

das câmeras na cidade, mapeia-se a área de cobertura de cada câmera em via

pública e identifica-se os pontos de obstrução da área de visão. Munidos de

software específico, a metodologia consistiu em vetorizar, sobre a imagem de

satélite, conforme o operador direcionava a câmera na interface de seu

monitor, o alcance da câmera. A contribuição dos operadores foi importante

não só pela manipulação das câmeras como também pelo compartilhamento

de saberes adquiridos ao longo da sua rotina de trabalho. Este trabalho é

importante para medir o impacto dessa tecnologia na redução e/ou migração

dos crimes de furto e roubo de veículos.

A pesquisa de vitimização que será apresentada foi realizada em

Canoas entre os meses de junho e novembro de 2009, sob coordenação do

sociólogo Marcos Rolim. Os resultados fazem referência aos 12 meses

anteriores - junho a novembro de 2008. No total foram entrevistadas 1.568

pessoas, sendo 1.315 adultos com 18 anos ou mais e 253 jovens entre 12 e 17

anos. Nos bairros Mathias Velho e Harmonia, se contabilizados conjuntamente,

a amostra foi de 248 adultos e 50 jovens. As pesquisas de vitimização vêm se

destacando como instrumento complementar no entendimento das dinâmicas

criminais e para o planejamento de políticas públicas de segurança, uma vez

que são capazes de precisar informações não disponíveis em outras fontes,

como os registros policiais, em razão dos sub-registros.

A partir das manifestações/solicitações dos(as) cidadãos(as) canoenses,

o Observatório construiu um banco de dados que subsidia tanto a metodologia

dos Plantões Integrados de Fiscalização2 quanto possibilita a correlação com

outros indicadores criminais e não-criminais a fins de estudos mais analíticos e

2 Para maiores informações acesse o documento “Análise das solicitações populares no site:http://www2.forumseguranca.org.br/observatorio-de-seguranca-publica-de-canoas/lista/documentos

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explicativos das dinâmicas da participação popular e a importância dessas

informações para a prevenção da criminalidade e para o aumento da sensação

de segurança. O período de análise está entre janeiro de 2009 a agosto de

2011.

Tais expressões se dão na forma de reivindicações, denúncias, pedidos

de informações e/ou elogios, feitas através de mecanismos do Sistema de

Participação Popular Municipal3, (como as Plenárias de Serviços e Prefeitura

na Rua), da Coordenadoria de Atendimento ao Cidadão - CAC (espécie de

disque-denúncia), dos órgãos de fiscalização do Município (Secretaria

Municipal de Saúde/ Diretoria de Vigilância Sanitária – SMS/VS, Secretaria

Municipal de Meio Ambiente - SMMA, Secretaria de Desenvolvimento

Econômico - SMDE), da Sala Integrada de Monitoramento (SIM) da Secretaria

Municipal de Segurança Pública e Cidadania (SMSPC)), e demais denúncias

que chegam a SMSPC.

Os mapas utilizados para as análises dos homicídios são os de

intensidade (hotspot) cuja representação cartográfica é estabelecida por

variações de cores quentes a frias entre as escalas de maior a menor

concentração dos fenômenos em questão, respectivamente. Estes mapas são

gerados a partir de ferramentas específicas do software cuja base de cálculo

de concentrações está baseada em estimador Kernel. Esta função tem como

parâmetro básico a busca por pontos em um raio de influência apontado pelo

profissional, definindo assim a vizinhança dos pontos e ponderando-os pela

distância de cada um à localização de interesse.

Os registros realizados pela Guarda Municipal de Canoas referem-se às

situações que envolvem serviços públicos e encaminhamentos a outras

secretarias, não relacionados diretamente à violência (Registro de Ocorrências

3 O Prefeito Municipal Jairo Jorge, desde o dia 3 de janeiro de 2009 vem realizando, todo sábado, atendimentos públicos em praças e parques da cidade. Trata-se do projeto Prefeitura na Rua. Outra ação que compõe o Sistema de Participação é a Plenária de Serviços, encontros regionais em que o prefeito presta contas sobre a execução dos serviços públicos, com espaço para a participação social através de críticas e sugestões. Intenta-se, desta forma, reduzir o déficit democrático e empoderar a cidadania canoense mediante uma nova pactuação entre Estado e sociedade.

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Administrativas - ROCA), assim como às situações que envolvem conflito, risco

de vida e/ou acidente (Boletim de Atendimento - BA). Serão apresentadas no

estudo as concentrações de ROCAs e BAs nos bairros Mathias Velho e

Harmonia no período de março de 2010 a fevereiro de 2011 (1 ano). Foi

utilizado a mesma metodologia de análise dos homicídios e residência das

vítimas (intersecção) cuja representação de cores varia do rosa (maior

concentração concomitante dos dois registros) ao lilás (menor concentração).

Também estão localizados no mapa os equipamentos públicos referentes às

escolas municipais, praças e parques, equipamentos de saúde e prédios

administrativos.

A metodologia das demais informações será explicitada ao longo das

exposições neste relatório.

2. O MUNICÍPIO DE CANOAS

2.1. HISTÓRIA DE CANOAS

Através do Decreto nº 7.839, de 27 de julho de 1939, Canoas foi incluída

na categoria de município. Seu território constituía-se do 4º distrito de Gravataí,

nos mesmos limites da antiga sesmaria de Francisco Pinto Pandeira, e do 6º

distrito de São Sebastião do Caí, Santa Rita, antigos campos de D. Rita de

Melo de Azevedo Coutinho, viúva do Sargento-Mor Manoel José Pires da

Silveira Casado, que passou a ser 2º Distrito de Canoas. A instalação do

Município de Canoas ocorreu a 15 de janeiro de 1940.

O crescimento populacional de Canoas deu-se, principalmente, a partir

de 1970, devido ao surgimento de pólos industriais e tecnológicos instalados no

município. Canoas tornou-se um espaço estratégico devido a sua localização

geográfica, ligando Porto Alegre às demais regiões do Estado e do País

através das rodovias BR-116, BR-386, pela hidrovia dos Rios Gravataí e dos

Sinos, além do sistema integrado de transporte metropolitano e da Trensurb.

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Em pouco tempo atraiu investimentos comerciais e industriais, caracterizando-

se como pólo industrial da Região Metropolitana de Porto Alegre (RMPA). Além

disso, atualmente, é um grande centro educacional da RMPA, pois possui dois

Centros Universitários e uma Universidade.

2.2 CARACTERIZAÇÃO SÓCIO-DEMOGRÁFICA

Canoas é um município situado no leste da Depressão Central do

Estado do Rio Grande do Sul e no centro geográfico da Região Metropolitana

da Grande Porto Alegre. Além da Capital, limita-se com os municípios de

Esteio, Cachoeirinha e Nova Santa Rita. A delimitação dos limites físicos dos

bairros foi estipulada pela Lei Nº 4736 de 2003, criando 18 bairros, nove a leste

e nove a oeste da BR 116. (Figura 1).

Figura 1: Localização geográfica do Município de Canoas. Em destaque, bairros Mathias Velho e Harmonia.

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Segundo os dados do Censo, IBGE de 2010, a população é de 323.827,

em um território de 131,17 km². A densidade demográfica é de 2.500

habitantes por km². Se por um lado, em uma série de aproximadamente 20

anos, apresenta um aumento de população de aproximadamente 16%, por

outro o crescimento no número de domicílios chega a 50%, se comparado com

o dado de 1991. O número de habitantes por domicílio (Censo 2010) é de 3,11,

o que se assemelha a nova sociedade urbana, configurada por novas

organizações familiares, com um número menor de pessoas por residência.

As mulheres são a maioria da população canoense, com uma

representação de 51,8%. A distribuição etária da população se dá seguinte

forma: crianças (0 a 11 anos) representam 56.516 pessoas, 17,4% da

população; jovens (12 a 24 anos) correspondem a 69.568 pessoas, ou seja,

21,5% da população; adultos (25 a 59 anos) equivalem a 160.604 pessoas, que

representa 49,6% dos canoenses; idosos (60 a 100 anos) são 37.139 pessoas,

11,4% do total de habitantes.

Sobre as condições de saúde em Canoas, o coeficiente de mortalidade

geral (CMG)4 no ano de 2010 foi de 7,43, taxa semelhante a do Estado do Rio

Grande do Sul, mas superior aos CMG para o país. Para esse mesmo ano, o

percentual de mulheres que tiveram filhos e que tinha até 19 anos5 foi de

19,02%. Embora o percentual tenha diminuído nos últimos anos, observa-se

que a proporção ainda é expressiva, se compararmos com outras realidades no

país. Sobre a taxa de internação por drogradição6, de 2009 para 2010,

praticamente dobrou, saindo de 3,0 para 5,3, o que pode sugerir uma política

4 Mede o risco de morte por todas as causas em uma população de um dado local e período. Taxa calculada pelo número de óbitos por 1.000 habitantes, ocorridos na população geral. Fonte: DATASUS, Estimativas populacionais (2007-2009) e Censo Demográfico (2010) – IBGE Publicação: Estado da Cidade - Um retrato de Canoas - 2011 5 Distribuição percentual de nascidos vivos por idade da mãe (até 19 anos) na população residente.Fonte: DATASUS, Secretaria Municipal de Saúde/Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS): SINASC. Publicação: Estado da Cidade - Um retrato de Canoas - 2011 6 Taxa de internação por consumo de álcool e outras drogas na população acima de 10 anos de idade. Calculado a partir da divisão entre o número de internações por uso de álcool e outras drogas e a população de idade superior a 10 anos, por 10.000 habitantes. Publicação: Estado da Cidade - Um retrato de Canoas - 2011

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15

municipal de saúde em relação às drogas com mais acesso para possibilidades

de tratamento.

Já sobre a educação pública do município, em 2009, a taxa de

abandono escolar7 no Ensino Fundamental da Rede Estadual foi de 3,6 e para

a Rede Municipal foi de 1,7. Essa taxa no Ensino Médio da Rede Estadual, no

mesmo período, foi de 17,5, ou seja, praticamente quatro vezes maior que a do

Ensino Fundamental da mesma Rede. Tal resultado no abandono escolar pode

ter uma intrínseca relação com a a violência objetiva e/ou subjetiva

experimentada no espaço social, visto que os alunos que frequentam o Ensino

Médio estariam na faixa etária principal das situações de violência, podendo

estar deixando de frequentar a escola ou por comungarem o sentimento de

insegurança e de maior exposição à violência com os seus pares ou por serem

vítimas dessas ocorrências.

Os dados levantados sobre a cultura demonstram que o município tem

71 associações culturais e entidades com ou sem fins lucrativos8 - o que

significa 0,22 entidades por 1000 habitantes. Esse resultado acompanha a

maior parte das demais cidades brasileiras em termos de desequilíbrio entre as

ofertas culturais e a população residente.

De 2006 para 2008 o PIB per capita do município9 de Canoas teve um

incremento de 32%, ou seja, passou de R$ 28.790 para R$ 38.133. No Rio

Grande do Sul, nesse mesmo período em comparação, o aumento foi de 25%,

passando de R$ 14.305 para R$ 17.980. O PIB per capita de Canoas é 47%

superior ao do Estado. Contribui para o alto PIB do muncípio o setor

secundário, principalmente a indústria metal-mecânica e a Refinaria Alberto

Pasqualini.

7 É a proporção de alunos da matrícula total em cada nível de ensino, no ano, que abandonaram a escola. Fonte: Censo Escolar: Edudata Brasil INEP/MEC; SEC-RS. Publicação: Estado da Cidade - Um retrato de Canoas - 2011 8 Calculado a partir da divisão do número de associações e entidades culturais pela população residente. Expressa por 1000 habitantes.Fonte: Secretaria Municipal de Cultura. Publicação: Estado da Cidade - Um retrato de Canoas - 2011 9 É o valor do PIB dividido pelo total da população. Fonte: Fundação de Economia e Estatística

– FEE/RS. Publicação: Estado da Cidade - Um retrato de Canoas - 2011.

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2.3. DADOS DE CRIMES E DE VIOLÊNCIAS

2.3.1 HOMICÍDIOS10

Segundo o Mapa da Violência 2011, há um crescimento no RS das

taxas de homicídios em 10 anos (1998-2008) de 21,8% para a população em

geral e 40,4% para os jovens (15 a 24 anos). Este crescimento é ainda maior

na RMPA, em que as taxas aumentaram 60,3% na população em geral e

64,4% para os jovens (15 a 24 anos). Canoas, em relação às taxas de

homicídios juvenis no Estado, aparece em 5º lugar.

No entanto, conforme dados da SSP/RS (Secretaria de Segurança

Pública do Estado do Rio Grande do Sul), percebe-se que de 2009 a 2010

houve uma diminuição de 23,3% nas taxas de homicídios em Canoas.

Dentro do acompanhamento realizado no âmbito do Gabinete de

Gestão Integrada do Município (GGI-M), através do Observatório, dispondo de

uma metodologia extraoficial, foram contabilizados 333 casos de homicídios em

Canoas desde Janeiro de 2009 a junho de 2011, classificados segundo as

tipificações do Gráfico 1, que são superiores aos dados da SSP/RS, visto que a

metodologia adotada considera todos os eventos violentos com resultado morte

como homicídio, encontros de cadáveres, latrocínios e confrontos com a

Brigada Militar.

10 O uso do termo “homicídio” neste estudo deve ser entendido em seu contexto mais genérico, como um agregado dos crimes violentos com resultado morte.Essa metodologia traz de um modo mais próximo da “realidade”, ou seja, agregando-se eventos inicialmente distintos, que produzem, todavia, reações sociais similares. Por outro lado, a tipificação legal, as motivações e as circunstâncias (agenciamentos) para a prática desses crimes não são as mesmas. Uma desvantagem significativa é a falta de comparabilidade com outros municípios da região e do país, uma vez que há divergência na metodologia utilizada.vantagens e desvantagens à gestão das políticas públicas de segurança de prevenção das violências e da criminalidade, especialmente de crimes violentos contra vida. A vantagem reside na possibilidade de se compreender os eventos.

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17

No ano de 2009, foram contabilizados 154 casos; em 2010, foram 127 e

nos primeiros seis meses de 2011, foram 52 casos. Considerando os dados

populacionais do Censo 2010 e a estimativa populacional do IBGE para o ano

de 2009, chega-se às taxas de 47,5 homicídios por 100 mil habitantes em 2009

e de 39,2 em 2010 – uma redução de 17,4% na taxa de homicídio.

Gráfico 1: Tipificação dos registros sistematizados no âmbito do GGI-M de

Canoas

No período em análise, o bairro que apresentou o maior número de

homicídios foi o Mathias Velho, concentrando quase 25% dos homicídios

ocorridos em Canoas, seguido dos bairros Guajuviras (15%) e Harmonia

(14,7%), conforme a Tabela 1. Ressalta-se que em 10% dos casos não foi

possível identificar o bairro de ocorrência dos homicídios em virtude desses

registros terem como fonte exclusiva de informação o SIM / Datasus11.

11 Nestes casos, as vítimas faleceram no hospital. Como o SIM/Datasus registra o local de ocorrência do óbito, o local de ocorrência do fato não pôde ser identificado.

Page 18: Diagnostico Canoas bairro Grande Mathias

18

Tabela 1: Bairro de ocorrência dos Homicídios, por ano.12 Ano_recod

bairro_ocorrMathias VelhoGuajuvirasHarmoniaNão informadoRio BrancoMato GrandeNiteróiOlariaFátimaSão LuisCentroIgaraNossa Senhora das GraçasEstância VelhaSão JoséMarechal RondonIndustrialBrigadeiraTOTAL

2009 2010 2011 TOTAL

24,7 ( 38) 23,6 ( 30) 28,9 ( 15) 24,9 ( 83) 18,2 ( 28) 13,4 ( 17) 9,6 ( 5) 15,0 ( 50) 14,9 ( 23) 11,0 ( 14) 23,1 ( 12) 14,7 ( 49) 12,3 ( 19) 11,0 ( 14) 3,9 ( 2) 10,5 ( 35)

4,6 ( 7) 6,3 ( 8) 11,5 ( 6) 6,3 ( 21) 5,2 ( 8) 7,1 ( 9) 0,0 ( 0) 5,1 ( 17) 3,9 ( 6) 7,1 ( 9) 1,9 ( 1) 4,8 ( 16) 1,3 ( 2) 5,5 ( 7) 1,9 ( 1) 3,0 ( 10) 2,0 ( 3) 3,2 ( 4) 5,8 ( 3) 3,0 ( 10) 2,6 ( 4) 3,2 ( 4) 3,9 ( 2) 3,0 ( 10) 2,6 ( 4) 0,8 ( 1) 3,9 ( 2) 2,1 ( 7) 2,6 ( 4) 2,4 ( 3) 0,0 ( 0) 2,1 ( 7) 1,3 ( 2) 2,4 ( 3) 0,0 ( 0) 1,5 ( 5) 1,3 ( 2) 1,6 ( 2) 1,9 ( 1) 1,5 ( 5) 0,7 ( 1) 0,8 ( 1) 1,9 ( 1) 0,9 ( 3) 1,3 ( 2) 0,8 ( 1) 0,0 ( 0) 0,9 ( 3) 0,7 ( 1) 0,0 ( 0) 0,0 ( 0) 0,3 ( 1) 0,0 ( 0) 0,0 ( 0) 1,9 ( 1) 0,3 ( 1)

100 (154) 100 (127) 100 ( 52) 100 (333)

Em 2010, apesar de os homicídios terem apresentado redução de 21%

no Mathias Velho e no Guajuviras e Harmonia ter reduzido 39% em relação ao

ano de 2009, tais bairros continuam liderando o ranking na cidade. No primeiro

semestre de 2011, destes três bairros, apenas o Guajuviras dá sinais de que

conseguirá manter uma redução. No bairro Harmonia, por sua vez, o número

de homicídios no primeiro semestre de 2011 já representa quase a mesma

quantidade de homicídios ocorridos no ano anterior. No mapa abaixo (Figura 2)

são apresentados, através da graduação de cores, os bairros do município de

Canoas que tiveram redução ou aumento do número de homicídios no primeiro

semestre dos anos de 2009, 2010 e 2011.

12 Os valores da tabela são os percentuais em coluna. Os retângulos de intensidade (em verde) são proporcionais a estes percentuais. Entre parênteses estão os valores absolutos.

Page 19: Diagnostico Canoas bairro Grande Mathias

19

Figura 2: Comparação entre os homicídios ocorridos em Canoas no primeiro semestre dos anos de 2009, 2010 e 2011.

Em termos de dinâmica temporal, nota-se que o bairro Guajuviras

diminuiu significativamente o número de homicídios no período de análise. Tal

fato pode estar relacionado aos projetos sociais do Território de

Paz/PRONASCI implementados no bairro neste mesmo período e as

tecnologias utilizadas para a redução das violências, como o Sistema

Shotspotter e o videomonitoramento. Já nos bairros Mathias Velho e Harmonia

nota-se, além da maior concentração de homicídios em relação aos outros

bairros, uma constância do número de eventos, apresentando apenas no bairro

Mathias Velho uma pequena redução entre 2009 e 2010, no entanto essa

diminuição não se manteve, em 2011, continuando na mesma classe de

homicídios. Em relação ao bairro Harmonia, observa-se uma manutenção da

classificação por classe em todo o período de análise, apesar da diminuição de

2009 para 2010, considerando os doze meses.

Page 20: Diagnostico Canoas bairro Grande Mathias

20

Além de estarem entre os bairros com o maior número de homicídios, os

bairros Mathias Velho, Guajuviras e Harmonia também são aqueles em que

residiam a maior parte das vítimas de homicídio de Canoas, com 29%, 15% e

10,8%, respectivamente. Conforme pode ser verificado na Tabela 2, a maior

parte dos homicídios tem como vítimas moradores do próprio bairro em que

estes acontecem. No bairro Mathias velho, por exemplo, 66% dos homicídios

vitimaram moradores do próprio bairro. No bairro Guajuviras o percentual de

vítimas residentes é de 78% e no bairro Harmonia é de quase 43%. Ressalta-

se que em outros 22% dos homicídios ocorridos no Harmonia as vítimas

residiam no bairro Mathias Velho.

Page 21: Diagnostico Canoas bairro Grande Mathias

21

Tabela 2: Bairro de ocorrência por bairro de residência das vítimas de homicídios13

bairro_resid bairro_ocorrMathias VelhoGuajuvirasHarmoniaRio BrancoMato GrandeNiteróiOlariaFátimaSão LuisCentroIgaraNossa Senhora das GraçasEstância VelhaOutros bairrosNão informadoTOTAL

MathiasVelho

Guajuviras Harmonia Rio Branco EstânciaVelha

Niterói MatoGrande

Fátima Igara Nãoinformado

Outrosbairros

Outromunicípio

TOTAL

66,3 ( 55) 2,4 ( 2) 9,6 ( 8) 3,6 ( 3) 0,0 ( 0) 1,2 ( 1) 2,4 ( 2) 0,0 ( 0) 0,0 ( 0) 13,3 ( 11) 1,2 ( 1) 0,0 ( 0) 100 ( 83) 8,0 ( 4) 78,0 ( 39) 2,0 ( 1) 0,0 ( 0) 2,0 ( 1) 0,0 ( 0) 0,0 ( 0) 0,0 ( 0) 0,0 ( 0) 8,0 ( 4) 0,0 ( 0) 2,0 ( 1) 100 ( 50)

22,5 ( 11) 0,0 ( 0) 42,9 ( 21) 0,0 ( 0) 4,1 ( 2) 0,0 ( 0) 6,1 ( 3) 4,1 ( 2) 2,0 ( 1) 10,2 ( 5) 2,0 ( 1) 6,1 ( 3) 100 ( 49) 4,8 ( 1) 0,0 ( 0) 9,5 ( 2) 57,1 ( 12) 0,0 ( 0) 4,8 ( 1) 0,0 ( 0) 9,5 ( 2) 0,0 ( 0) 9,5 ( 2) 0,0 ( 0) 4,8 ( 1) 100 ( 21)

17,7 ( 3) 5,9 ( 1) 5,9 ( 1) 0,0 ( 0) 0,0 ( 0) 0,0 ( 0) 35,3 ( 6) 0,0 ( 0) 0,0 ( 0) 29,4 ( 5) 5,9 ( 1) 0,0 ( 0) 100 ( 17) 6,3 ( 1) 6,3 ( 1) 0,0 ( 0) 0,0 ( 0) 0,0 ( 0) 50,0 ( 8) 0,0 ( 0) 0,0 ( 0) 0,0 ( 0) 37,5 ( 6) 0,0 ( 0) 0,0 ( 0) 100 ( 16) 0,0 ( 0) 10,0 ( 1) 0,0 ( 0) 0,0 ( 0) 30,0 ( 3) 0,0 ( 0) 0,0 ( 0) 10,0 ( 1) 0,0 ( 0) 0,0 ( 0) 10,0 ( 1) 40,0 ( 4) 100 ( 10)

10,0 ( 1) 0,0 ( 0) 0,0 ( 0) 10,0 ( 1) 10,0 ( 1) 0,0 ( 0) 0,0 ( 0) 50,0 ( 5) 0,0 ( 0) 10,0 ( 1) 0,0 ( 0) 10,0 ( 1) 100 ( 10) 30,0 ( 3) 0,0 ( 0) 0,0 ( 0) 0,0 ( 0) 0,0 ( 0) 0,0 ( 0) 0,0 ( 0) 0,0 ( 0) 10,0 ( 1) 50,0 ( 5) 10,0 ( 1) 0,0 ( 0) 100 ( 10) 28,6 ( 2) 14,3 ( 1) 14,3 ( 1) 0,0 ( 0) 0,0 ( 0) 0,0 ( 0) 0,0 ( 0) 0,0 ( 0) 14,3 ( 1) 28,6 ( 2) 0,0 ( 0) 0,0 ( 0) 100 ( 7)

0,0 ( 0) 28,6 ( 2) 0,0 ( 0) 0,0 ( 0) 28,6 ( 2) 0,0 ( 0) 0,0 ( 0) 0,0 ( 0) 28,6 ( 2) 0,0 ( 0) 14,3 ( 1) 0,0 ( 0) 100 ( 7) 20,0 ( 1) 0,0 ( 0) 0,0 ( 0) 0,0 ( 0) 0,0 ( 0) 0,0 ( 0) 0,0 ( 0) 0,0 ( 0) 0,0 ( 0) 20,0 ( 1) 40,0 ( 2) 20,0 ( 1) 100 ( 5)

0,0 ( 0) 20,0 ( 1) 0,0 ( 0) 0,0 ( 0) 60,0 ( 3) 0,0 ( 0) 0,0 ( 0) 0,0 ( 0) 0,0 ( 0) 0,0 ( 0) 0,0 ( 0) 20,0 ( 1) 100 ( 5) 0,0 ( 0) 12,5 ( 1) 0,0 ( 0) 0,0 ( 0) 0,0 ( 0) 0,0 ( 0) 0,0 ( 0) 0,0 ( 0) 12,5 ( 1) 37,5 ( 3) 25,0 ( 2) 12,5 ( 1) 100 ( 8)

42,9 ( 15) 2,9 ( 1) 5,7 ( 2) 5,7 ( 2) 17,1 ( 6) 11,4 ( 4) 5,7 ( 2) 0,0 ( 0) 0,0 ( 0) 2,9 ( 1) 5,7 ( 2) 0,0 ( 0) 100 ( 35) 29,1 ( 97) 15,0 ( 50) 10,8 ( 36) 5,4 ( 18) 5,4 ( 18) 4,2 ( 14) 3,9 ( 13) 3,0 ( 10) 1,8 ( 6) 13,8 ( 46) 3,6 ( 12) 3,9 ( 13) 100 (333)

13 Os valores da tabela são os percentuais em linha. Os retângulos de intensidade (em verde) são proporcionais a estes percentuais. Entre parênteses estão os valores absoluto.

Page 22: Diagnostico Canoas bairro Grande Mathias

22

Tendo em vista a incidência de homicídios por bairro de ocorrência e

bairro de residência das vítimas nos últimos dois anos e meio, a necessidade

de se delimitar uma área para a intervenção pública direcionaria o apontamento

do bairro Mathias Velho enquanto “locus” de intervenção. Contudo, conforme

será exposto em seguida, a espacialização das ocorrências de homicídios e

das residências das vítimas demonstra a existência de concentrações

espaciais em áreas de intersecção entre os bairros Mathias Velho e Harmonia.

Em metodologia explicada anteriormente, o raio de influência apontado

pelo profissional, no caso deste estudo, foi de 500 metros. O principal objetivo

da elaboração destes mapas foi subsidiar a identificação de áreas prioritárias

no direcionamento de ações e estratégias tanto repressivas (relacionadas aos

locais de ocorrência de homicídios) quanto preventivas (relacionadas aos locais

de residência das vítimas e que dão pistas para a identificação de áreas com

maior possibilidade de vitimização). A partir da consideração de que as áreas

de concentração destes dois fenômenos, ocorrendo concomitantemente,

devam receber maior atenção no que se refere à implantação de projetos que

visem à redução da violência, foi gerado um mapa com a intersecção de

concentrações de ocorrências de homicídio e de residências de vítimas no

período de Janeiro de 2009 a Julho de 2011 (Figura 3).

A análise do mapa de intensidade mostra que a relação entre a

ocorrência de homicídios e a localização de residências das vítimas não possui

uma distribuição aleatória, visto que podem ser identificados padrões de

concentração em determinadas regiões dos bairros, a destacar áreas paralelas

e comuns entre os bairros Mathias Velho e Harmonia (ao longo da Avenida

Florianópolis), Rua Uruguaiana no bairro Mathias Velho e, na maior parte,

condizente com a localização de loteamentos e ocupações irregulares: Getúlio

Vargas (Mathias Velho), Bom Sucesso (Mathias Velho), Natal (Harmonia),

União dos Operários (Mathias Velho), Santo Operário (Harmonia), ocupação ao

lado do Hospital de Pronto Socorro (Mathias Velho) e Dique São Paulo

(Mathias Velho, divisa bairro São Luís).

Page 23: Diagnostico Canoas bairro Grande Mathias

23

Figura 3: Relação entre o local dos homicídios e a residência das vítimas.

Tendo em vista a delimitação estabelecida das áreas acima, será

apresentado a seguir um breve perfil das ocorrências e das vítimas de

homicídio nos bairros Mathias Velho e Harmonia, buscando a comparação de

suas características com o perfil geral dos homicídios no município.

Considerando a população dos bairros Mathias Velho e Harmonia no

ano de 2010 (87.879 habitantes), chega-se a uma taxa de 50 homicídios por

100 mil habitantes, quase 28% superior à taxa do município neste mesmo ano,

conforme Gráfico 2.

Page 24: Diagnostico Canoas bairro Grande Mathias

24

Gráfico 2: Taxas de homicídio por ano (por 100 mil habitantes)

Mais da metade dos homicídios ocorridos em Canoas, desde 2009,

ocorreram em vias públicas. Nos bairros Mathias Velho e Harmonia, este

percentual é ainda superior: 66%, conforme grafico 3. A arma de fogo foi o

instrumento utilizado em quase 80% dos homicídios, tanto nos bairros

selecionados quanto no município (grafico 4).

Gráfico 3: Locais de ocorrência de homicídios (%).

Page 25: Diagnostico Canoas bairro Grande Mathias

25

Gráfico 4: Meio empregado nos homicídios (%)

Em relação aos dias da semana e aos horários em que os homicídios

aconteceram, há uma distribuição homogênea, tanto no município quanto nos

bairros selecionados, ou seja, não há um dia ou um horário em que se

concentrem os homicídios. Nos bairros eleitos, 31% dos homicídios ocorreram

entre sábado e domingo, principalmente no período da noite (34%) e

madrugada (28%). Conforme o Gráfico 5 abaixo, as vítimas são

majoritariamente homens: 92% no município e 94% nos bairros Mathias Velho

e Harmonia.

Page 26: Diagnostico Canoas bairro Grande Mathias

26

Gráfico 5: Sexo das vítimas de homicídio (%).

Quanto à faixa etária das vítimas, tanto em Canoas quanto nos bairros

selecionados os jovens dos 15 aos 29 anos são os mais vitimados. Em

Canoas, a proporção de vítimas entre 25 e 29 anos é um pouco superior à

proporção nos bairros selecionados. Já entre os jovens de 15 a 19 anos, esta

proporção é um pouco superior nos bairros Mathias Velho e Harmonia,

demonstrando um perfil de vitimização mais jovem dos bairros em comparação

ao do município. (Gráfico 6).

Page 27: Diagnostico Canoas bairro Grande Mathias

27

Gráfico 6: Faixas etárias das vítimas de homicídio (%).

Levando-se em consideração a população dos 15 aos 24 anos nos

bairros optados (15.703 jovens), chega-se a uma taxa de 108 homicídios por

100 mil habitantes. Em Canoas, a taxa de homicídio entre os jovens neste

mesmo ano foi de 93 homicídios por 100 mil habitantes (Gráfico 7).

Page 28: Diagnostico Canoas bairro Grande Mathias

28

Gráfico 7: Taxas de homicídio entre jovens de 15 a 24 anos

O mesmo tipo de mapa de intensidade foi gerado a partir de intersecção

entre concentrações de ocorrências de homicídios de jovens entre 15 e 24

anos e concentração de residência das vítimas com a mesma faixa etária e

para o mesmo período de análise (Figura 4). Verifica-se uma melhor

delimitação da área onde ocorre vitimização de jovens, a destacar:

concentração da Vila Bom Sucesso (bairro Mathias Velho) e oeste da Vila Natal

(bairro Harmonia); parte da Vila União dos Operários (Mathias Velho) e parte

da Vila Natal; norte da Vila Santo Operário (Harmonia) e oeste da ocupação ao

lado do HPS (Mathias Velho); e ao longo da Rua Uruguaiana (Mathias Velho).

Page 29: Diagnostico Canoas bairro Grande Mathias

29

Figura 4: Relação entre o local dos homicídios de jovens de 15 a 24 anos e a residência das vítimas.

Para melhor compreender as características e identificar as

regularidades nos homicídios faz-se necessário empreender outro tipo de

pesquisa, para além dos boletins de ocorrência, já que os boletins são

confeccionados com poucas informações consistentes – uma vez que a

qualidade destas depende de investigação policial.

Em 2009, a Secretaria Municipal de Segurança Pública e Cidadania de

Canoas encomendou uma pesquisa sobre o perfil dos homicídios ocorridos no

município em 2008, realizada a partir da análise de inquéritos policiais.

Segundo o levantamento realizado, “em 57% dos inquéritos policiais não havia

informações sobre os responsáveis, em 20% deles se apontava suspeitos

(indicações decorrentes, em sua maioria, de depoimentos de familiares e de

denúncias anônimas), e em apenas 23% havia indiciados” (ROLIM, p. 37,

2010) Igualmente, a qualidade dos inquéritos impossibilitou as conclusões à

respeito das relações existentes entre vítima e autor, já que em 51% deles não

Page 30: Diagnostico Canoas bairro Grande Mathias

30

havia informações suficientes. Ainda segundo esta pesquisa, “a qualidade dos

inquéritos não autoriza qualquer conclusão sobre a motivação, vez que 44,57%

deles não apresentam informação alguma sobre o tema” (ROLIM, p. 48, 2010).

Dentre os inquéritos em que foi possível determinar as motivações, 14,3% dos

crimes tinham alguma relação com o tráfico de drogas, 9,7% seriam motivados

por vingança e outros 9,7 por “rixa”.

A despeito das conclusões desta pesquisa encomendada pelo Poder

Público, sobre a impossibilidade de se compreender as motivações a partir de

boletins de ocorrência, pode-se afirmar que os a maior parte dos homicídios

nos bairros Mathias Velho e Harmonia estão de algum modo associadas às

disputas existentes entre grupos de traficantes. A grande maioria dos

homicídios nestes bairros envolveu vários disparos de armas de fogo, o que

afasta a possibilidade de que estes crimes estejam sendo cometidos por

motivos “banais”, como nos casos da violência interpessoal oriunda da

incapacidade de convivência.

Na análise dos registros policiais aqui empreendida, foi possível

identificar que nestes bairros a proporção de vítimas com passagem pelo

sistema de justiça criminal é superior ao que ocorre no município, conforme

Gráfico 8.

Gráfico 8: Antecedentes policiais e criminais das vítimas de homicídio (%).

Page 31: Diagnostico Canoas bairro Grande Mathias

31

No início de junho de 2009, uma operação policial realizada nos

bairros Mathias Velho e Harmonia marcou o início da atuação integrada entre

as forças policiais que compõem o GGI-M na área. Tal operação foi batizada

de Operação “Cova Rasa”, a ação foi precedida de cinco meses de

investigação policial e foi executada com a participação de centenas de

policiais civis e militares que cumpriram 57 mandatos de busca e apreensão,

prendendo mais de 40 pessoas. A ação conseguiu impactar na dinâmica

criminal do município - especialmente nas práticas de homicídios - conforme

dados acima, ao desarticular um grupo de extermínio ligado ao tráfico de

drogas.

Em agosto deste ano, 2011, uma nova operação foi realizada nestes

bairros com o objetivo de desarticular um dos principais grupos que atuam no

tráfico local. A operação resultou na prisão de 17 pessoas e na apreensão de

dois adolescentes que, segundo o delegado da 1ª DP de Canoas, estariam

envolvidos na maioria dos homicídios desta região.14

2.3.2 PESQUISA DE VITIMIZAÇÃO

As pesquisas de vitimização vêm se destacando como instrumento

complementar no entendimento das dinâmicas criminais e para o planejamento

de políticas públicas de segurança, uma vez que são capazes de precisar

informações não disponíveis em outras fontes, como os registros policiais.

A pesquisa aqui em destaque foi realizada em Canoas entre os meses

de junho e novembro de 2009, sob coordenação do sociólogo Marcos Rolim.

Os resultados fazem referência aos 12 meses anteriores - junho a novembro de

2008. No total em Canoas foram entrevistadas 1.568 pessoas, sendo 1.315

14 Para mais informações sobre a operação “Cova Rasa” acesse: <http://www.canoas.rs.gov.br/Site/Noticias/Noticia.asp?notId=5973&pesquisa=Opera%E7%E3o%20Cova%20Rasa>. Acesso em 18/07/2011. Para mais informações sobre a operação “Paranóia” acesse: <http://www.clicrbs.com.br/especial/rs/diario-gaucho/19,222,3453038,Canoas-nove-homens-e-oito-mocas-a-menos-na-fuzarca.html>. Acesso em 01/09/2011.

Page 32: Diagnostico Canoas bairro Grande Mathias

32

adultos com 18 anos ou mais e 253 jovens entre 12 e 17 anos. Nos bairros

Mathias Velho e Harmonia, se contabilizados conjuntamente, foram 248 adultos

e 50 jovens.

Algumas informações, extraídas da pesquisa, mostram que em geral a

porcentagem de pessoas vitimadas nos bairros Mathias Velho e Harmonia

(média dos dois bairros) são maiores que na cidade como um todo. Conforme

gráfico abaixo:

Gráfico 9: Comparação da vitimização na cidade de Canoas com os bairros

Mathias Velho e Harmonia – Adultos (%)

Comparação da vitimização na cidade de Canoas com o s bairros Mathias Velho e Harmonia - Adultos (%)

21,9

6,6

2,1

18,1

9,3

18,9

6,0

2,4

11,3

15,323,5

6,7

0 5 10 15 20 25

Vandalismo na residência

Roubo fora da residência

Roubo na residência

Furto fora da residência

Furto na residência semarrombamento

Furto na residência comarrombamento

Média de Mathias e Harmonia Cidade de Canoas

Os três tipos de furto acima ilustrados (na residência com

arrombamento, na residência sem arrombamento e fora da residência)

apresentaram maior porcentagem nos bairros Mathias Velho e Harmonia do

que na cidade de Canoas. Com relação aos roubos (na residência e fora da

residência) percebe-se pouca diferença. Sobre o vandalismo na residência

novamente é mais alta a porcentagem da média nos dois bairros (21,9%) do

que na cidade de Canoas (18,9%).

Uma outra questão, não presente no gráfico acima, perguntava ao

entrevistado se ele tinha “presenciado venda de drogas”, a diferença foi de

40,4% da cidade de Canoas para 48,4% nos bairros Mathias Velho e

Harmonia.

Page 33: Diagnostico Canoas bairro Grande Mathias

33

Gráfico 10: Comparação da vitimização na cidade de Canoas com os bairros

Mathias Velho e Harmonia – Jovens (%)

Comparação da vitimização na cidade de Canoas com o s bairros Mathias Velho e Harmonia - Jovens (%)

13,6

12,5

18,4

30

25,4

15,9

11,7

13,6

38,8

38,8

0 5 10 15 20 25 30 35 40

Já viu consumo de drogasilegais dentro da escola

Envolvimento com briga de rua

Furtado ou roubado na escola

Roubo fora da escola

Furto fora da escola

Média de Mathias e Harmonia Cidade de Canoas

Com relação à vitimização de jovens no ambiente escolar, furtos e

roubos apresentaram um valor inferior nos dois bairros em comparação à

cidade (13,6% contra 15,9%). Na questão sobre “já ter visto consumo de

drogas ilegais dentro da escola” ocorre o inverso, 38,8% nos bairros Mathias e

Harmonia e 30% na cidade de Canoas. Sobre o consumo de drogas na escola,

foram relatados 12 casos de “ter presenciado consumo de crack” em toda a

cidade de Canoas, metade destes casos nos bairros Mathias Velho e

Harmonia.

Sobre a vitimização dos jovens de 12 a 17 anos fora da escola nota-se

diferença significativa no que tange aos furtos (18,4% nos dois bairros e 13,6%

na cidade) e resultados próximos com relação aos roubos, com a porcentagem

ligeiramente maior nos dois bairros (12,5% nos bairros Mathias Velho e

Harmonia e 11,7% na cidade). Ainda com relação aos jovens há uma

considerável diferença na questão sobre envolvimento com briga de rua, pois

na média dos dois bairros o percentual foi de 38,8% e na cidade de 25,4%,

uma diferença de 52,8%.

Page 34: Diagnostico Canoas bairro Grande Mathias

34

Por fim, um dado de relevo captado pela pesquisa, sobre os jovens, foi o

de agressão sexual fora da escola, ao todo foram relatados 7 casos em toda a

cidade de Canoas, 4 deles nos bairros Mathias Velho e Harmonia.

A pesquisa de vitimização - em linhas gerais - vai ao encontro da

caracterização sociodemográfica e do levantamento das estatísticas criminais

que demonstram que a região que abrange os dois bairros é mais vulnerável às

violências se comparada ao restante da cidade.

3. HISTÓRIA E CARACTERIZAÇÃO DOS BAIRROS MATHIAS VE LHO E

HARMONIA

3.1. HISTÓRIA

A história dos bairros vizinhos Harmonia e Mathias Velho têm muito em

comum: desde a proximidade do período de início do povoamento, passando

pelas características geomorfológicas, até a fluidez das delimitações político-

administrativas. A área que atualmente compreende os bairros Harmonia e

Mathias Velho foi delimitada oficialmente somente em 2003 – assim como o

restante dos bairros do município – através da “Lei de Bairros” (Lei Municipal

Nº 4736/03) já mencionada acima. Através dessa lei, a Rua Florianópolis torna-

se o limite entre os dois bairros, sendo a área localizada ao norte da via o

bairro Mathias Velho, e a área ao sul, o bairro Harmonia. Algumas vilas e/ou

loteamentos irregulares identificados com o bairro Mathias Velho atualmente

compõem o bairro Harmonia. Em razão disso, a história desses bairros estão

imbricadas, principalmente, no que tange aos processos históricos de

ocupação das áreas hoje limítrofes desses bairros e à organização dos

moradores na luta por infraestrutura urbana.

O povoamento na região do Mathias Velho e Harmonia iniciou na

década de 1950. A área compreendida por esses bairros caracterizava-se por

seus terrenos planos e baixos, e solos mal-drenados com textura areno-

argilosa. Segundo um antigo morador e corretor do bairro Mathias Velho, “os

terrenos da Mathias eram alagadiços, baixos, muita água” (Penna; Corbellini e

Page 35: Diagnostico Canoas bairro Grande Mathias

35

Gayeski, p. 25, 2000)15. O morador do Harmonia relembra situação semelhante

em seu bairro: “Era tudo granja de arroz por todos os lados! Antigamente, nós

tínhamos que ir para o Centro com as calças pelos joelhos devido ao barro,

pois era um lugar muito encharcado.” (Freitas e Graeff, p. 33, 2010)16. Com

efeito, as terras que hoje compreendem os bairros Mathias Velho e Harmonia,

favoráveis à lavoura de arroz, não eram as mais adequadas para residência.

Conforme Penna; Corbellini e Gayeski (p.19, 2000) , “Ora, se um local é ideal

para plantação de arroz , a condição básica é que seja extremamente úmido e,

melhor ainda, completamente alagado.”

Entretanto, segundo os autores acima (2000), justamente pelas

condições desfavoráveis à moradia, e, por conseguinte, pela sua

desvalorização, as terras se tornaram atraentes à população devido aos baixos

preços dos lotes (nas áreas loteadas e colocadas à venda). O grande número

de ocupações ocorridas entre o 1979 e 1985 nos bairros Harmonia e Mathias

Velho (9, segundo a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano e

Habitação, antiga Secretaria Municipal de Planejamento Urbano), pode ser

entendido também como resultado, por um lado, da grande extensão de

terrenos deixados ociosos na região pelos seus proprietários, aguardando

valorização, e por outro, do êxodo rural que trouxe muitas pessoas de

municípios do interior do estado em busca de empregos no Pólo Petroquímico

e na indústria metal-mecânica no município.

O nome do bairro Mathias Velho deve-se aos proprietários da área, a

família descendente de Saturnino Mathias Velho, que adquiriu as terras em

1885, ocupando-as e explorando-as com criação de gado e cultura de arroz.

Somente em 1950, a área passou de zona produtiva à zona residencial, após

contrato dos herdeiros das terras de Saturnino Mathias Velho com loteadora.

15 Uma das fontes orais que fez parte do sexto volume - referente ao bairro Mathias Velho - do Projeto “Canoas - Para Lembrar Quem Somos”, iniciado em 1994, fruto de uma parceria entre o Centro Universitário La Salle e a Prefeitura Municipal de Canoas. O sexto volume, publicado em 2000, tem como autores Rejane Penna (Coord.), Darnis Corbellini e Miguel Gayeski 16 Uma das fontes orais de pesquisa realizada em 2010, que deu origem ao artigo “As paisagens da memória do bairro Harmonia, em Canoas/RS: um estudo a partir de registros fotográficos e relatos orais”, de Francisco de Paula Brizolara de Freitas e Lucas Graeff.

Page 36: Diagnostico Canoas bairro Grande Mathias

36

Como na época ainda não existia Plano Diretor, a loteadora apenas

abriu as ruas e vendeu os terrenos sem qualquer tipo de infraestrutura. Além

disso, farta propaganda foi utilizada para vender os lotes do bairro, escondendo

o problema das cheias, que eram frequentes em razão da combinação das

condições do terreno com a falta de planejamento do loteamento. Após a

enchente mais grave em 1967 - quando a região foi devastada e muitos dos

moradores perderam tudo o que tinham, somente de barco podia-se atravessar

a Av. Rio Grande do Sul, transformada em leito de rio - pensou-se em terminar

com a vila, transferindo os moradores para áreas mais altas da cidade como o

atual bairro Estância Velha, mas os moradores não aceitaram e ao invés de

saírem, reivindicaram melhorias, como a construção do dique Mathias Velho

(Penna; Corbellini e Gayeski, 2000), que começou a operar sua casa de

bombas em 1970 (JusBrasil, 2010).

De acordo com Penna; Corbellini e Gayeski (2000), o período em que

se iniciou a venda dos lotes no bairro Mathias Velho (início da década de 1950)

correspondeu ao auge do expansionismo da cidade: em 10 anos, de 1940 a

1950, a população foi triplicada.

No final da década de 1970, inicia-se o período de ocupação das terras

à oeste da Vala do Leão (rua República no bairro Harmonia e Mathias Velho).

É nesse mesmo período que as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs)

começaram a atuar nas áreas que compreendem os dois bairros, tendo um

papel fundamental nos movimentos comunitários que ali se formaram, nas lutas

por moradia e por infraestrutura nos bairros.

Uma dificuldade encontrada na delimitação da área do projeto refere-se

a diferença entre a delimitação e denominação oficial de bairros em vigor

desde 2003 e o reconhecimento e identificação popular dos bairros do

município. Nesse sentido, o livro que nos baseamos para recontar a história

desses dois bairros, que é uma publicação de 2000, é o volume que resgata,

através de fontes orais predominantemente, a história do bairro Mathias Velho

ou do que ali se denomina a “Grande Mathias Velho”: compreendendo a área

que, segundo um morador da Vila Natal, “de um lado vai até a beira do dique

[Rua Curitiba] e do outro vai até a Vila Cerne e a Harmonia. A rua José

Page 37: Diagnostico Canoas bairro Grande Mathias

37

Veríssimo divide Mathias da Harmonia” (Penna; Corbellini e Gayeski, p. 28,

2000). Isto é, da “Grande Mathias” fariam parte, segundo o morador, as Vilas

Santo Operário, Vila Natal e Vila Porto Belo, que pela Lei de Bairros de 2003,

fazem parte do bairro Harmonia.

Mesmo entre as delimitações e denominações das diferentes vilas há

certa confusão. É o caso da divisão da Vila Santo Operário e da Vila Natal,

ocupações que correram em 1979 em áreas contíguas, cujo limite é a Rua

Dona Maria Isabel. O morador da Vila Natal, que tem dúvidas quanto o nome

certo do local onde vive, já que para ele ainda é Santo Operário, critica a

divisão entre as vilas: “Quando tu repartes uma vila em várias vilas, ela perde a

força que tem. Eu não concordo com isso até hoje. Se tu vê a situação da vila

hoje [Vila Natal], vai ver que era para estar muito melhor se não fosse a divisão

feita” (Penna; Corbellini e Gayeski, p. 28, 2000)

Portanto, atualmente, há bastante confusão entre moradores da cidade,

que desconhecem a lei de bairros, e mesmo entre os próprios atores da

administração municipal que também são moradores do município,

acostumados com uma denominação e delimitação diferente dos bairros de

Canoas. Tendo em vista tudo isso, esta breve revisão histórica dará foco

especial a essa região compreendida pela “Grande Mathias Velho”,

principalmente às vilas Santo Operário, Natal, União dos Operários, Getúlio

Vargas e Bom Sucesso.

Assim sendo, segundo relatos dos moradores, a Vila Natal é uma

divisão da Santo Operário, que primeiro foi ocupada da vala do Leão até a Rua

Dona Maria Isabel, e depois, dessa via para oeste do município até o Rio dos

Sinos. Conforme morador da Vila Natal, aposentados da polícia civil e

engenheiros se apossaram de alguns hectares da área da vila, usando-os para

lazer. Segundo ele, “como eles não tinham a posse da área e não tinham como

comprovar nós ocupamos em pé de igualdade”. (Penna; Corbellini e Gayeski,

p. 27, 2000)

A vila Santo Operário possui esse nome em homenagem a um líder

sindicalista ligado à Pastoral Operária morto pela polícia durante uma

manifestação em São Paulo em 1979, chamado Santo Dias da Silva. O

Page 38: Diagnostico Canoas bairro Grande Mathias

38

processo de ocupação da área vazia ou “granja”, que hoje é a Vila Santo

Operário, iniciou no final de 1979 nas reuniões preparatórias para o Natal,

organizadas pelas CEBs, onde o estudo bíblico ocorria lado à lado com a

reflexão sobre realidade local.

O Natal de 1979, bem como a organização comunitária liderada pelos

agentes pastorais das CEBs, também foram importantes para a ocupação, em

maio de 1980, da área do antigo Hipódromo do Prado: a atual Vila União dos

Operários. De acordo com o presidente da Associação de Moradores da União

dos Operários do final da década de 1990, “ Lá pelo final dos anos sessenta e

começo dos anos setetenta, conforme consta no processo, o Jóquei entrou em

falência. Aí esta área foi penhorada pela Justiça e alguns funcionários

receberam terras em troca de pagamentos. Como isso aqui era campo de

futebol e campo para criação de cavalos, tinha espaço e as noventa famílias

foram chegando na beira, ao longo da Av. Rio Grande do Sul, foram cercando

as terras.” (Penna; Corbellini e Gayeski, p. 85, 2000).

Aqui o processo de ocupação não se deu sem a corajosa resistência dos

moradores à violência de jagunços contratados pelos proprietários e da polícia

militar. Segundo um dos líderes da ocupação, até novembro de 1983 - “o

período de resistência à violência” -, muitos moradores migravam para a Santo

Operário, que era uma ocupação pacífica (Penna; Corbellini e Gayeski, p. 56,

2000). Conforme relatos de pessoas que participaram de outras ocupações

realizadas em Canoas, a da Vila União dos Operários foi uma das mais

violentas. Os jagunços contratados, e até mesmo alguns policiais civis e

militares, colocavam fogo nas casas, batiam nas famílias, abriam buracos de

retroescavadeiras para as pessoas não entrarem em casa. Mas a união e

organização dos moradores na resistência às violências teve até um símbolo:

um sino usado para mobilizar a comunidade e que deu nome à Rua Sinos da

União. “[...] colocaram um sino lá embaixo, quando os jagunços chegavam

aqui, para corrê-los daqui eles batiam o sino lá, os invasores corriam para lá

para resistir e corriam com os brigadianos. O sino era para avisar. O pessoal se

uniu para correr os brigadianos, os jagunços. Por isso ficou a Rua Sino da

União” (Penna; Corbellini e Gayeski, p. 29, 2000).

Page 39: Diagnostico Canoas bairro Grande Mathias

39

Os anos 1984 até 1989 foram considerados como o período de

estruturação da União dos Operários. A posse da área foi garantida pela

Justiça em 1986 em nome da Associação dos Moradores. Nesse espaço de

participação comunitária, as famílias decidiram que iriam partilhar a posse com

todos os que necessitassem de um terreno para morar. “A vila organizou-se

nos seus oitocentos e trinta e dois lotes e mais várias áreas comunitárias

destinadas à horta, praça, sede da associação, campos de futebol e espaços

para igrejas.” (Penna; Corbellini e Gayeski, p. 57, 2000).

As “Frentes de trabalho”, entre 1983 a 1986, organizada pela

Associação de Moradores, foram muito importantes para a estruturação das

vilas já que eram formadas por grupos de moradores desempregados que em

troca de dois dias e meio de trabalho (construindo casas, abrindo valetas nas

ruas), ganhavam 21 quilos de alimento, podendo voltar ao grupo dali a um mês.

Havia também a Comissão de Moradores que, como observa um

morador, “[...] era gente séria, que tinha consciência da gravidade dos sem-

teto, do movimento pela moradia, que é um direito primeiro [...]” (Penna;

Corbellini e Gayeski, p. 86, 2000). A comissão fazia a marcação dos lotes, fazia

o controle das pessoas que chegavam na vila - “Se alguém tinha propriedade

nós expulsávamos de lá” (Penna; Corbellini e Gayeski, p. 86, 2000). As

reuniões da Comissão de Moradores, em um primeiro momento, ocorriam

diariamente, depois passaram a ser semanais. Enfim, a Comissão de

Moradores teve importante papel na organização e estruturação da vila. Devido

a essa organização que um morador conclui : “Por isso que estas vilas hoje

não são favelas, porque parece que são vilas feitas pelo Prefeito” (Penna;

Corbellini e Gayeski, p. 86, 2000).

A Vila Getúlio Vargas é fruto da ocupação ocorrida em 1985 em área de

propriedade da família Mathias Velho. De acordo com um morador, é uma área

de 70 hectares entre a Rua Campinas e a Rua Curitiba, que é uma gleba de

terra só, mas tem dois nomes: a Getúlio Vargas à norte da Av. Rio Grande do

Sul e a Bom Sucesso a sul dessa via (Penna; Corbellini e Gayeski, 2000). A

Vila Getúlio Vargas é conhecida pejorativamente como “Vila Sapo”, nome

criticado pelo morador: “Foram as elites que deram esse nome, porque lá,

Page 40: Diagnostico Canoas bairro Grande Mathias

40

quando chovia, tinha muita água. As elites queriam que o povo saísse de lá.

Diziam: lá é para sapo!” (Penna; Corbellini e Gayeski, p. 65, 2000).

Além da luta pela moradia, a organização comunitária também foi

imprescindível para a garantia de infraestrutura urbana. É o que demonstra a

fala de um morador do bairro Harmonia: “A rua era rebaixada e carro não

entrava [...] A nossa rua aqui era barro e valo também então fizemos abaixo

assinado para botar pedra aqui! Pra melhorar botaram aquela baita pedra”

(Freitas e Graeff, p. 32, 2010). Essas vilas, ainda hoje, não possuem todas

suas ruas pavimentadas.

Quase trinta anos depois, vê-se que, a partir da mobilização dos

moradores, muitas melhorias foram conquistadas, porém, a luta por

regularização fundiária e urbanização ainda não terminou.

3.2 CARACTERIZAÇÃO SOCIODEMOGRÁFICA DA ÁREA

3.2.1 LOCALIZAÇÃO

Os bairros Mathias Velho e Harmonia, localizam-se a Oeste da BR 116,

rodovia que divide o município de Canoas no sentido Norte-Sul. Os dois

bairros compreendem uma área de 11,01 km², ou seja, 11,9% da área total do

município. Os outros tipos de regionalização que compreendem estes bairros

referem-se à AISP 1 (Áreas Integradas de Segurança Pública - divisão

administrativa para planejamento de ações) e Microrregiões 11,12,13,14 e 15

do Orçamento Participativo.

A área conta atualmente com 10 vilas e loteamentos irregulares ou em

fase de regularização, são elas: Vila Getúlio Vargas, Vila Bom Sucesso, Vila

Natal, Vila União dos Operários, Dique São Paulo, Ocupação da Rua Araçá,

Faixa de Domínio RFSSA, Vila Porto Belo, Ocupação ao lado do HPS e Vila

Santo Operário. A localização destas áreas consta no mapa a seguir, assim

como o limite dos dois bairros em questão. (Figura 5).

Page 41: Diagnostico Canoas bairro Grande Mathias

41

Figura 5: localização dos bairros Mathias Velho e Harmonia e áreas de loteamentos irregulares ou em fase de regularização.

3.2.2 POPULAÇÃO

Segundo o Censo IBGE 2010, os bairros Mathias Velho e Harmonia

concentram 87.879 habitantes dos 323.827 que residem em Canoas, isto é,

aproximadamente 27%. Esses são os bairros com a maior densidade

demográfica do município, com 8.127 hab/km² e 7.819 hab/km²,

respectivamente, enquanto que a densidade demográfica de Canoas é de

2.471 hab/km².

Observa-se que, entre as vilas compreendidas pela área dos bairros

Mathias Velho e Harmonia e que estão de alguma forma cobertas pelas

manchas de intersecção da concentração de ocorrência de homicídios e de

residência das vítimas desse tipo de crime, a Vila Santo Operário é mais

populosa, com 14.254 habitantes. Em seguida, está a Vila Getúlio Vargas com

5.895 pessoas residentes, a Vila União dos Operários (5.121), a a Vila Natal

(4.834) e Vila Bom Sucesso (1.453).

Page 42: Diagnostico Canoas bairro Grande Mathias

42

Em Canoas, 21,5% da população são jovens de 12 a 24 anos (69.568),

o que equivale a uma média de 116 pessoas por setor censitário. Já nos

bairros Harmonia e Mathias Velho, a proporção de jovens é um pouco maior:

23,2% (20.409). Analisando esses bairros por setor censitário, vemos que

quase a totalidade dos setores apresenta um número de pessoas com essa

faixa etária na média ou acima da média do município, demonstrando uma

população mais jovem em relação a outros locais de Canoas. (Figura 6).

Figura 6: Pessoas residentes de 12 a 24 anos.

Comparando as vilas da área, vemos uma semelhança na proporção de

jovens nessas vilas: em torno de 25% da população residentes nesses locais.

A Vila Getúlio Vargas é a que apresenta um percentual um pouco maior de

pessoas de 12 a 24 anos (26%), enquanto o menor percentual fica na Vila Bom

Sucesso (24%). Sendo assim, os bairros Harmonia e Mathias Velho possuem

uma proporção maior de jovens em relação ao município como um todo, e as

Page 43: Diagnostico Canoas bairro Grande Mathias

43

vilas em análise, por sua vez, apresentam maior proporção de jovens em

relação ao total de residentes da área Mathias Velho e Harmonia.

A população na faixa etária de 25 a 59 anos representa 49,6% do total

de residentes do município, sendo a média por setor censitário igual a 267.

Mathias Velho e Harmonia apresentam 41.976 pessoas nessa faixa etária, o

que corresponde a 47,7% do total da população desses bairros. Nota-se que

há menos setores censitários onde o número de residentes está acima da

média do município, havendo muitos setores classificados na média do

município (cor amarela) e alguns abaixo da média (cor verde). (Figura 7).

Figura 7: Pessoas residentes de 25 a 59 anos.

Olhando para as vilas, vê-se que a proporção de adultos de 25 a 59

anos é um pouco menor que a do total da área dos bairros, ficando perto dos

45%. A Vila Getúlio Vargas é a que apresenta o menor percentual de adultos

(41,2%) e a Vila Santo Operário, o maior percentual de população nessa faixa

etária (46,7%).

Page 44: Diagnostico Canoas bairro Grande Mathias

44

Sobre as condições habitacionais17, no que tange a coleta de esgoto, há

a cobertura de 94% na União dos Operários e 97% no Santo Operário. Sobre o

abastecimento de água, na vila União dos Operários 24% não tem

abastecimento regularizado enquanto o percentual na vila Santo Operário é de

22%. Acerca do abastecimento regular de energia elétrica, tanto União dos

Operários quanto Santo Operário apresentaram 16% das residências sem

abastecimento regular. Sobre a coleta de lixo, na vila União dos operários 10%

das famílias não contam com coleta coletiva domiciliar, percentual que cai pela

metade, 5%, na vila Santo Operário.

Com relação à renda familiar, segundo a pesquisa, há pouca diferença

entre as duas vilas, enquanto na União dos Operários 77% das famílias ganha

até 2 salários mínimos, no Santo Operário o percentual é de 70%.

Sobre a escolaridade do responsável pelo domicílio, a vila União dos

Operários apresentou 64% com ensino fundamental incompleto, mesmo

percentual verificado na vila Santo Operário.

Percebe-se, pelas informações acima descritas, que as condições

socioeconômicas das duas vilas são bastante semelhantes, aparentando a vila

Santo Operário uma condição ligeiramente melhor.

17 Pesquisa realizada para subsídio do PAC 2, maiores informações constam no item 1.0 deste diagnóstico.

Page 45: Diagnostico Canoas bairro Grande Mathias

45

4. INVESTIMENTOS PÚBLICOS DE SEGURANÇA

4.1 VIDEOMONITORAMENTO E FURTO E ROUBO DE VEÍCULOS

Figura 8: Registros de furto e roubo de veículos e localização das câmeras de videomonitoramento com área de alcance.

As câmeras de videomonitoramento foram instaladas em Canoas a partir

de 2009 em diversas fases de instalação. Das 130 câmeras existentes no

município, 74 estão em via pública, 23 nos dois parques principais da cidade

(Parque Esportivo Eduardo Gomes e Parque Getúlio Vargas), 31 nos próprios

municipais e duas câmeras com reconhecimento facial no Trensurb. Das

câmeras instaladas em via pública, 12 (9,23%) localizam-se nos bairros

Mathias Velho e Harmonia com suas áreas de visão representadas no mapa

acima. (Figura 8).

Page 46: Diagnostico Canoas bairro Grande Mathias

46

As ocorrências de furto e roubo de veículos vêm sendo sistematizadas

pelo Observatório desde julho de 2010. Nestes primeiros 13 meses de

acompanhamento (julho de 2010 a julho de 2011) foram contabilizados 517

furtos e 669 roubos de veículos. Destes, os bairros Mathias Velho e Harmonia

concentram 8,7% dos furtos de veículos e 10,3% dos roubos de veículos.

Os eventos em que foi possível o georreferenciamento, ou seja, aqueles

em que contávamos com endereço e número das ocorrências e/ou alguma

referência em que fosse possível a localização, mostra que não há um padrão

de distribuição das ocorrências no bairro, não sendo possível delimitar uma

área crítica para estes registros.

4.1.1 CÂMERAS EM PRÓPRIOS MUNICIPAIS

Dos próprios municipais, 31 deles tem câmeras de Circuito Fechado de

TV (CFTV). Destas, 17 são em escolas, sendo que 6 delas, ou seja, quase ⅓

das unidades de ensino que são contempladas com essa tecnologia estão nos

bairros Mathias Velho e Harmonia.

4.2 ALARMES EM PRÓPRIOS MUNICIPAIS

Das 197 instalações de alarmes em próprios municipais, 31 estão

localizadas nos bairros Mathias Velho e Harmonia, ou seja, 15,7% do total da

cidade. Tais alarmes são distribuídos em escolas de Educação e Infantil e

Ensino Fundamental, em 6 Unidades Básicas de Saúde (UBS), 1 na unidade

de Pavimentação, 1 no Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) e 1

em um dos Pontos Populares de Trabalho.

Page 47: Diagnostico Canoas bairro Grande Mathias

47

4.3 DENÚNCIAS E SOLICITAÇÕES ADVINDAS DO SISTEMA DE

PARTICIPAÇÃO

As denúncias sistematizadas pelo Observatório vem através do Sistema

de Participação Popular Municipal, conforme explicitação na metodologia. Para

esse estudo, analisamos as solicitações recebidas no período de janeiro de

2009 a agosto de 2011 que se referiam diretamente à segurança (não entraram

aqui as reivindicações por melhorias na iluminação pública, por exemplo). Para

o município de Canoas constaram 424 solicitações, e para os bairros Mathias

Velho e Harmonia foram recebidas 91, sendo o segundo e o quarto bairro,

respectivamente, com maior número de solicitações da cidade. Das 91

solicitações, somente foi possível o georreferenciamento de 17 (Figura 9) que

se referiam a locais específicos e/ou que tinham a possibilidade de

georreferenciamento18. Das informações não georreferenciadas muitas não

indicavam um local específico, tendo um caráter mais genérico, como

reivindicações de mais segurança para o bairro.

18 Para ser possível o georreferenciamento é necessário o endereço e número do local ou alguma informação que o indique.

Page 48: Diagnostico Canoas bairro Grande Mathias

48

Figura 9: Denúncias e solicitações advindas dos Sistemas de Participação.

Alguns destaques foram observados ponderando a quantidade de

solicitações nos dois bairros pelo total de solicitações do município. Houve 217

demandas genéricas por mais segurança na cidade, sendo que 47 (21,7%)

localizaram-se nos bairros Mathias Velho e Harmonia. Com relação ao roubo

foram 48 solicitações em Canoas e 9 (18,75%) nos dois bairros. No que tange

o roubo/furto/arrombamento de veículos foram 17 solicitações no município e

somente 1 (5,9%) nos bairros Mathias Velho e Harmonia.

As solicitações relacionadas ao “tráfico de drogas” apresentaram 49

casos no município, destes 13 (26,5%) foram nos dois bairros. Outro dado com

valor elevado nos dois bairros foi o referente ao “uso de drogas”, sendo 48 no

município e 10 (20,8%) nos bairros Mathias Velho e Harmonia. Comércio de

armas e desmanche de carro apresentaram um caso na cidade, justamente na

área dos dois bairros.

Page 49: Diagnostico Canoas bairro Grande Mathias

49

A demanda por câmeras de videomonitoramento foi baixa, das 18 do

município somente 2 (11,1%) foram nos bairros Mathias Velho e Harmonia.

As solicitações acima descritas revelam uma maior demanda da área

que compreende os bairros Mathias Velho e Harmonia no que se refere aos

crimes relacionados às drogas. Junto a isso os bairros também apresentaram

uma demanda maior por segurança, dita de forma genérica, se comparados ao

resto da cidade.

4.4 PLANTÃO INTEGRADO DE FISCALIZAÇÃO (PIF)

Analisando as visitas do Plantão por bairro notamos que Mathias Velho e

Harmonia foram o segundo e terceiro bairros com o maior número de

fiscalizações no período de análise - 13 meses -, apresentando 37 e 35 visitas,

respectivamente (Figura 10). Das cinco situações de tráfico de drogas

identificadas no PIF, três foram nos bairros Harmonia e Mathias. Destas uma

foi na vila Santo Operário, local que também recebeu denúncias para esse tipo

de atividade ilegal, o que corrobora a importância da participação popular e da

metodologia de realização dos PIFs impulsionadas por essas demandas.

(Figura 11).

Page 50: Diagnostico Canoas bairro Grande Mathias

50

Figura 10: Plantão Integrado de Fiscalização com os bairros mais visitados.

Figura 11: Locais visitados pelo Plantão Integrado de Fiscalização.

Page 51: Diagnostico Canoas bairro Grande Mathias

51

4.5 BOLETINS DE ATENDIMENTO E REGISTROS DE OCORRÊNC IAS

ADMINISTRATIVAS

Nestes bairros, percebe-se que o trabalho realizado pela Guarda

Municipal atrelou-se a equipamentos públicos, principalmente, de ensino, o que

indica um trabalho mais preventivo junto às escolas, possibilitando estar no

momento de muitos conflitos registrados por eles - o que pode impactar a

médio ou longo prazo na diminuição das taxas de abandono escolar e na

diminuição das situações graves de violência entre eles - envolvendo os

“bondes”, o tráfico de drogas e uso/porte de instrumento de risco. (Figura 12).

Nota-se que a Guarda Municipal vem exercendo funções muito ligadas às

práticas de suspeição no extramuro escolar, ou seja, pessoas em

comportamento suspeito, não-alunos das escolas, são comumente abordados

pelos guardas, o que pode evitar maiores transtornos, ligado à ações de

prevenção secundárias. Conforme pesquisas recentes, municípios nos quais

possuem Guarda Municipal atuantes e estruturadas tem um impacto maior na

redução da criminalidade.

Page 52: Diagnostico Canoas bairro Grande Mathias

52

Figura 12: Relação dos Boletins de Atendimento e Registros de Ocorrências Administrativas com os Recursos Institucionais.

Page 53: Diagnostico Canoas bairro Grande Mathias

53

5. EQUIPAMENTOS DE USO COLETIVO

Figura 13: Equipamentos de uso coletivo nos bairros Mathias Velho e Harmonia.

Os equipamentos compreendem os locais dos serviços oferecidos para

a população, dividos no bairro Mathias Velho em Segurança: delegacia; Saúde:

unidades básicas de saúde, hospital, ambulatório, unidade de pronto-

atendimento; Praças e parques; Esporte, Cultura e Lazer: entidades culturais,

tradicionalistas, carnavalescas, bibliotecas, clubes, monumentos, prédios

tombados, quadras de esportes, rádios comunitárias; Escolas; Entidades de

Assitência Social: Centro de Referência de Assistência Social (CRAS),

albergues, associações, abrigos, asilos; Associações: associações de

moradores; Administrativo: outros próprios municipais, como secretarias, casa

de bombas, depósitos. (Figura 13).

De modo geral, os dois bairros apresentam uma diversificação grande

de equipamentos. Entretanto, algumas áreas específicas são carentes de

Page 54: Diagnostico Canoas bairro Grande Mathias

54

equipamentos administrados pelo setor público, a destacar o extremo oeste

dos dois bairros (Vila Getúlio Vargas, Vila Bom Sucesso e parte da Vila Natal).

Quanto à existência de equipamentos de ensino, percebe-se que esta mesma

área cujo número de residentes entre 12 e 24 anos é bem acima da média do

município (já explicitada na Figura 6) não possui estabelecimentos de ensino.

O estabelecimento mais próximo é a Escola Municipal de Ensino Fundamental

Professora Odette Yolanda Freitas onde também há Educação de Jovens e

Adultos - EJA.