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    LETRAMENTO ACADMICO: PRINCIPAIS ABORDAGENS SOBRE A ESCRITA DOS ALUNOS NO ENSINO SUPERIOR

    Eliane Feitoza Oliveira (IEL/ UNICAMP)

    RESUMO: O OBJETIVO DESTE TRABALHO APRESENTAR E DISCUTIR AS PRINCIPAIS ABORDAGENS SOBRE A ESCRITA DOS ALUNOS NA ESFERA ACADMICA. PARA TANTO, SO APRESENTADOS O CONCEITO DE LETRAMENTO E OS MODELOS BSICOS DESTE. EM SEGUIDA. DISCUTE-SE AS TRS PRINCIPAIS ABORDAGENS SOBRE A ESCRITA NO ENSINO SUPERIOR, BEM COMO A NOO DE DISCURSO, PROPOSTAS PELO GRUPO DE PESQUISADORES QUE INTEGRA A REA DOS NOVOS ESTUDOS DO LETRAMENTO. CONCLUI-SE QUE O MODELO DO LETRAMENTO ACADMICO, QUANDO INTEGRADO A OUTROS MODELOS, COLABORA PARA QUE OS ALUNOS SE ENGAJEM DE FORMA EFETIVA NO DISCURSO DESSE DOMNIO. PALAVRAS-CHAVE: LETRAMENTO, LETRAMENTO ACADMICO E DISCURSO

    1. INTRODUO

    Nos ltimos anos, no Brasil, alguns pesquisadores vem demonstrando uma maior preocupao em relao leitura e escrita dos alunos que ingressam na universidade. As recentes pesquisas apontam que os estudantes calouros apresentam srias dificuldades em produzir gneros tipicamente da esfera acadmica (na modalidade escrita, podemos citar o fichamento, o relatrio, a resenha, o resumo, entre outros), sendo que essas dificuldades so mais acentuadas em alunos atendidos pelas instituies privadas geralmente, oriundos de camadas sociais menos favorecidas e que h at pouco tempo no tinham acesso ao ensino de nvel superior. No entanto, as discusses sobre como a escrita do estudante compreendida na esfera acadmica so poucas e, de modo geral, restritas a um pequeno grupo de pesquisadores.

    Sendo assim, o objetivo deste trabalho expor e discutir, a partir dos estudos de Lea e Street (1998), pesquisadores que integram a rea dos Novos Estudos do Letramento, as trs principais abordagens sobre as quais a escrita do estudante universitrio compreendida: modelo dos estudos das habilidades, modelo da socializao acadmica e modelo do letramento acadmico. Para tal, iniciaremos apresentando o conceito de letramento expresso por Terzi (2006) e os modelos bsicos de letramento definidos por Street (1984; 2003): autnomo e ideolgico, bem como a noo de Discurso desenvolvida por Gee (1996). Por fim, discutiremos como a opo pelo modelo de letramento acadmico, em consonncia com

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    os outros modelos, auxilia os alunos a se engajarem no discurso exigido pela esfera universitria.

    2. LETRAMENTO E OS MODELOS BSICOS DE LETRAMENTO: AUTNOMO E IDEOLGICO

    O termo letramento empregado por Terzi (2006, p. 3) para designar a relao que indivduos e comunidades estabelecem com a escrita nas interaes sociais. Conforme a autora, essa relao condicionada pelo uso, amplo ou restrito, que as pessoas fazem da escrita nas mais diversas situaes sociais, pelo conhecimento que elas tm sobre essas situaes, pelas relaes de poder que envolvem o uso social da escrita e, entre outros fatores, pelo valor que a comunidade atribui a essa modalidade da lngua.

    Dentro dessa perspectiva, o letramento define-se como um fenmeno social, influenciado pelas condies locais no que diz respeito aos aspectos socioeconmicos, histricos, culturais, polticos e educacionais, de modo que cada comunidade apresenta diferentes padres de letramento, bem como os seus membros. Em outras palavras, o letramento tem uma dimenso social em decorrncia dos fatores e convenes sociais que regulam o uso da escrita em determinada comunidade, ou dada esfera da atividade humana e uma dimenso individual, por conta da histria e das experincias de vida de cada indivduo que pertence comunidade. Entender o letramento dessa maneira implica reconhecer que cada indivduo ou grupo social, independentemente do grau de letramento, possui algum tipo de conhecimento sobre a escrita e seu uso em prticas sociais, pois as pessoas, conforme aponta Terzi (2006), sabem reconhecer a funo de jornais, revistas, cheques, bilhetes, cartas etc. mesmo sem saber ler e escrever.

    Desse modo, os alunos que ingressam na universidade, diferentemente do que apontam algumas pesquisas, concluindo que eles precisam ser alfabetizados no ensino superior, so sujeitos letrados e que, portanto, trazem para essa esfera concepes de leitura e escrita construdas ao longo do ensino fundamental e mdio. Porm, nem sempre, essas concepes so suficientes para que eles se engajem de modo imediato nas prticas letradas do domnio acadmico, pois, na voz de Machado, Louzada e Abreu-Tardelli (2004), os alunos se veem, nesse novo contexto, obrigados a ler e a produzir textos que no lhes foram

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    ensinados ou apresentados de forma sistemtica nas sries anteriores. Um outro agravante o fato de esses estudantes terem sido submetidos, ao longo de sua trajetria escolar, a um modelo de letramento que no considera a escrita como prtica social.

    2.1. Modelo autnomo de letramento

    A concepo de letramento como a relao de uso que um indivduo ou uma comunidade estabelece com a escrita (cf. TERZI, 2006) convoca outra definio importante: a de prticas de letramento. Street (1984) define as prticas de letramento como prticas culturais discursivas, que determinam a produo e interpretao de textos orais e escritos, em contextos especficos. Ou seja, para o autor, as prticas de letramento so dependentes do contexto, pois esto imersas em uma ideologia e no podem ser tratadas como neutras ou tcnicas.

    Pensar o letramento dentro de uma dimenso meramente tcnica implica acreditar que as pessoas, uma vez que aprendem a decodificar as letras em palavras e depois as palavras em sentenas, esto aptas a transitar em qualquer contexto letrado, abordagem que Street (1984) chama de modelo autnomo de letramento. O modelo autnomo de letramento pressupe que a escrita, de forma autnoma e independente dos fatores sociais que condicionam seu uso, ter efeitos sobre outras prticas sociais e cognitivas, tais como o desenvolvimento cognitivo no qual as capacidades de ler e escrever esto situadas em cada pessoa , a ascenso social e o desenvolvimento econmico (TERZI, 2006; STREET, 2003). Em suma, o modelo autnomo se define na sala de aula como a capacidade de ler e escrever, em que ler significa ser capaz de decodificar as palavras e escrever ser capaz de codificar a lngua dentro de uma forma visual, o texto (Gee, 1996). Kleiman (1993), ao discutir as concepes de texto e leitura que subjazem s prticas escolares, ilustra muito bem como esse modelo de letramento se implementa na prtica. Segundo a autora, o texto tratado na sala de aula a partir de duas perspectivas: como conjunto de elementos gramaticais, no qual o texto pretexto para o ensino das regras gramaticais; e como repositrio de mensagens e informaes, sendo o texto um conjunto de palavras das quais devem ser extradas informaes, a fim de se chegar mensagem que nele est impressa. No que diz respeito leitura, as atividades so baseadas na identificao e no pareamento de palavras do texto com as palavras que aparecem idnticas nos questionrios do

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    livro didtico nessa perspectiva, o aluno s precisa saber decodificar as palavras que esto impressas no texto para responder s perguntas.

    Em relao aos alunos oriundos de escolas pblicas que ingressam em universidades particulares, submetidos ao modelo autnomo de letramento, no de se estranhar que apresentem dificuldades quando as disciplinas que compem os cursos requisitam deles habilidades de leitura e escrita supostamente desenvolvidas no ensino fundamental. Porm, no possvel consider-los sujeitos iletrados, pois, em alguma medida, tm uma relao de uso com a escrita, s que voltada para as prticas escolares do ensino fundamental e mdio, e no para atuar no contexto acadmico, prtica na qual devero ser inseridos, como veremos posteriormente.

    2.2. Modelo ideolgico de letramento

    O modelo ideolgico concebe o letramento como uma prtica social, e no como uma habilidade tcnica ou neutra. Desse modo, o letramento no se desvincula do contexto cultural e social no qual construdo, bem como do significado que as pessoas atribuem escrita e das relaes de poder que regem os seus usos, de modo que a juno desses fatores resulta em letramentos mltiplos que variam de comunidade para comunidade, por conta das condies socioeconmicas, culturais e polticas que as influenciam (cf. TERZI, 2006; STREET, 2003). Terzi (2006, p. 5) aponta que, na prtica, a opo pelo modelo ideolgico de letramento exige

    no apenas ensinar aos alunos a tecnologia da escrita, ou seja, promover a alfabetizao, mas, simultaneamente, oferecer-lhes a oportunidade de entender as situaes sociais de interao que tm o texto escrito como parte constitutiva e as significaes que essa interao tem para a comunidade local e que pode ter para outras comunidades. Em suma, significa ensinar o aluno a usar a escrita em situaes do cotidiano como cidado crtico (TERZI, 2006, p. 5)

    e, alm disso, mostrar ao aluno que a linguagem s existe na escola porque tambm elemento constitutivo das mais variadas esferas sociais (religiosa, publicitria, jornalstica, acadmica etc.), que, por sua vez, fazem usos especficos da escrita.

    Com base nessa concepo ideolgica do letramento, entende-se que a universidade formada por diversas prticas sociais, nas quais professores e alunos, sujeitos letrados, revelam as relaes de uso que estabelecem com a escrita e abrem espao para que novas relaes sejam construdas a partir das necessidades de interao desse domnio.

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    Partindo do pressuposto, ento, de que as pessoas tm e fazem uso de mltiplos letramentos associados a diferentes contextos (Barton, 1994), abordamos neste trabalho um tipo especfico de letramento: o letramento acadmico. De acordo com Fischer (2008, p. 180), o letramento do meio acadmico refere-se fluncia em formas particulares de pensar, ser, fazer, ler e escrever, muitas das quais so peculiares a esse contexto social. Em outras palavras, o letramento acadmico pode ser visto como um processo de desenvolvimento de habilidades e conhecimentos sobre as formas de interagir com a escrita para os fins especficos desse domnio, sem, contudo, desconsiderar, nessas interaes com a escrita, a histria de letramento dos alunos.

    3. TRS PRINCIPAIS ABORDAGENS SOBRE A ESCRITA DO ESTUDANTE NO ENSINO SUPERIOR

    A noo de letramento acadmico, desenvolvida dentro da rea dos Novos Estudos do Letramento (Street, 1984; Barton, 1994; Barton & Hamilton, 1998; Gee 1996), constitui-se em uma tentativa de extrair as implicaes dessa abordagem para o entendimento das questes relativas aprendizagem no ensino superior. Lea e Street (1998) apontam que a escrita do estudante universitrio compreendida a partir de trs principais perspectivas ou modelos: estudo das habilidades, socializao acadmica e letramento acadmico. A primeira abordagem compreende o letramento como um conjunto de habilidades individuais e cognitivas que os estudantes precisam adquirir e desenvolver a fim de transferi-las para os contextos mais amplos da universidade. Ver o letramento apenas dentro desse modelo desconsiderar a trajetria anterior de letramento do aluno e atribuir a ele a responsabilidade de desenvolver competncias cognitivas e metacognitivas de leitura e escrita para adaptar-se universidade, de modo que qualquer insucesso com o uso da escrita, nesse domnio, passa a ser de inteira responsabilidade do aluno.

    importante salientar que no estamos dizendo que o aluno no precisa desenvolver habilidades de leitura e escrita especficas da esfera acadmica, mas, para que isso acontea, preciso considerar as capacidades de leitura e escrita j desenvolvidas nas sries anteriores, no sentido de saber qual a condio letrada do estudante.

    O modelo da socializao acadmica parte do princpio de que o professor responsvel por introduzir os alunos na cultura universitria, com o intuito de que eles

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    assimilem os modos de falar, raciocinar, interpretar e usar as prticas de escrita valorizadas nas disciplinas e reas temticas da universidade. Esse modelo parte da concepo de que os gneros discursivos acadmicos so relativamente homogneos e, sendo assim, uma vez que o aluno aprende as convenes que regulam esses gneros, estar habilitado a se engajar nas prticas letradas que permeiam essa instncia. A opo apenas por este modelo refora a ideia de que a esfera acadmica monoltica, imutvel e suas entidades facilmente identificveis (Zamel, 2003 apud Ramires, 2007, p.67).

    Ramires (2007) assevera que ver a comunidade acadmica como monoltica e imutvel colabora para formar reprodutores de discursos legitimados na academia e dificulta o avano para solucionar problemas srios, como a formao de cidados preparados para atuarem de forma efetiva na sociedade contempornea.

    No tocante avaliao da leitura e da escrita dos alunos, o modelo das habilidades e o modelo da socializao no privilegiam o desenvolvimento de estratgias de leitura e de escrita, mas apenas testam o nvel de compreenso atingido por eles em situaes e contextos isolados (provas, trabalhos...), perpetuando as lacunas e dificuldades nos nveis cognitivo e metacognitivo.

    A abordagem do letramento acadmico, compartilhada pelos pesquisadores dos Novos Estudos do Letramento, entende os mltiplos letramentos que permeiam a instncia universitria como prticas sociais, nos termos que temos sugerido. Essa abordagem atenta para o fato de que as demandas de letramento do currculo universitrio envolvem prticas comunicativas que variam de acordo com as disciplinas e os gneros discursivos em que se inscrevem.

    Do ponto de vista do estudante, uma das caractersticas do letramento acadmico a exigncia de ter de implantar um repertrio lingustico adequado s diferentes disciplinas e manipular as identidades e significados sociais que cada uma evoca. Assim, o modelo do letramento acadmico pode ser caracterizado por concentrar-se nos significados que alunos, professores e instituio atribuem escrita, partindo de questes epistemolgicas que envolvem as relaes de poder estabelecidas entre esses sujeitos, no que diz respeito ao uso dessa modalidade da lngua. Alm disso, esse modelo considera a histria de letramento dos alunos e suas identidades sociais, bem como o processo de aculturao pelo qual o estudante passa ao aderir a um novo discurso. importante ressaltar que esses trs modelos no se excluem, mas se hibridizam, j que o aluno precisa conhecer as convenes que regulam as prticas de letramento da

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    universidade, desenvolver habilidades de leitura e de escrita especficas da esfera acadmica para, ento, se engajar nos modos de uso da escrita valorizados pelas disciplinas e reas temticas da instituio, sem, contudo, desconsiderar sua histria prvia de letramento e seus valores identitrios. Ou seja, os trs modelos se complementam a fim de auxiliar os alunos na aprendizagem de novas linguagens sociais e gneros discursivos. O problema reside quando apenas um modelo contemplado para tratar dos problemas de escrita dos alunos e do engajamento dos mesmos no discurso acadmico, pois a opo apenas pelo modelo dos estudos das habilidades ou modelo da socializao acadmica pode reforar a crena de que o aluno que ingressa na universidade iletrado.

    4. NOO DE DISCURSO

    A fim de esclarecer a concepo de discurso adotada neste trabalho, recorremos s consideraes de Gee (1996) acerca do termo. Para o autor, os Discursos, com D maisculo,

    so maneiras de ser no mundo, ou formas de vida que integram palavras, atos, valores, crenas, atitudes e identidades sociais [...]. Um Discurso um tipo de kit de identidade que vem completo com [...] instrues de como agir, falar e tambm escrever, a fim de aceitar um papel social particular que outros reconhecero (GEE, 1996, p. 127)4

    Dentro dessa perspectiva, o autor concebe a linguagem como elemento constitutivo dos Discursos, e estes, por sua vez, so produtos sociais e histricos, por refletirem nossos modos de ser e nossas formas de vida. atravs dos diferentes Discursos, que esto presentes nas instncias sociais, que nos identificamos e somos aceitos ou rechaados pelos diferentes grupos que compem a sociedade. Assim, entender um Discurso como um kit de identidade possibilita explicar as identidades sociais que os sujeitos precisam assumir para participarem ou se engajarem nas mltiplas prticas de letramento, engajamento este que convoca a adequao da linguagem dentro de uma situao especfica de uso.

    No que diz respeito ao domnio acadmico, o aluno universitrio assume a identidade acadmico-cientfica para melhor se inserir, participar e interagir nesse contexto. Porm, antes que essa adeso acontea, ele precisa ser socializado no Discurso acadmico, o que no acontece de forma imediata, pois, para o aluno, esse domnio se configura como um novo Discurso, ou seja, ele se v com o desafio de aprender uma nova linguagem social.

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    Na viso de Lea e Street (1998), como dito anteriormente, o estudante universitrio v a necessidade de utilizar um repertrio lingustico adequado a cada disciplina. Ao tentar adequar seu Discurso s diferentes disciplinas que compem o curso, o aluno procura aderir aos Discursos dominantes legitimados pelos professores dentro da universidade, o que no pressupe o engajamento efetivo nessas prticas, j que os letramentos no esto apenas ligados aos contedos das disciplinas de forma isolada, mas tambm aos outros Discursos e gneros institucionais que esto presentes na universidade.

    Assim, a construo e o desenvolvimento do letramento acadmico, por parte do aluno, vai muito alm das instrues de como ler ou escrever para atender s exigncias impostas por cada disciplina e, por conseguinte, por cada professor. Conforme Gee (1996), para que os alunos possam assumir-se insiders da comunidade acadmica precisam entender o funcionamento dos inmeros Discursos que circulam nela, bem como as formas de constituio dos gneros discursivos prprios dessa esfera, e isso envolve muito mais do que habilidades de leitura e escrita, mas formas de ser, agir, valorizar e utilizar recursos e tecnologias, a fim de construir a condio letrada exigida pela universidade.

    O autor aponta que os alunos fracassam nas atividades iniciais propostas pela universidade pelo fato de no terem sido expostos, no ensino bsico e fundamental, aos comportamentos lingusticos e sociais especficos do domnio acadmico, e no por no saberem ler e escrever.

    Desse modo, um modelo de letramento que se preste ao desenvolvimento acadmico do aluno no pode ser apenas pautado em concepes tericas que reforam que h uma capacidade geral para a escrita, que, quando bem desenvolvida, habilita o aluno a transitar em qualquer contexto letrado. Concepes como essa no colaboram para que os alunos se engajem no Discurso acadmico, pois desconsideram a histria de letramento desses alunos, os significados que atribuem escrita, ou seja, conforme aponta Gee (1996), quem5 so e quem se espera que sejam nesse novo Discurso.

    Para que o aluno passe a compartilhar dos modos de agir, de valorizar, de acreditar do domnio acadmico e a produzir de forma eficiente os gneros discursivos dessa esfera, faz-se necessrio que ele seja visto como sujeito de linguagem, como de fato o , e com valores identitrios construdos ao longo das suas experincias sociais prvias; esses aspectos so contemplados pelo modelo do letramento acadmico proposto por Lea e Street (1998).

    Sendo assim, no desenvolvimento do letramento acadmico, as questes relativas escrita e aprendizagem so consideradas a partir do ponto de vista epistemolgico e

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    identitrio, e no apenas do ponto de vista da aquisio de habilidades ou da socializao acadmica.

    5. CONSIDERAES FINAIS

    Conforme aponta Terzi (2006), a opo por um modelo de letramento no neutra. A opo pelo modelo do letramento acadmico como a forma mais adequada de compreender como os alunos revelam e constrem a condio letrada exigida pela universidade reflete uma preocupao muito grande com os discursos que circulam dentro dessa esfera, de que o aluno que ingressa na graduao iletrado, no sabe ler nem escrever ou precisa ser alfabetizado na graduao. Essas crenas sobre a escrita dos alunos podem levar a prticas equivocadas que apenas exigem dos estudantes reproduo, de forma automtica, das convenes do discurso acadmico.

    Desse modo, conclumos que as orientaes baseadas na transferncia de letramento como um dado adquirido, no que diz respeito s convenes escriturais do discurso acadmico, no so suficientes para minimizar os problemas que o aluno enfrenta quando se v obrigado a ler e a produzir um texto acima do seu nvel de compreenso. Acreditamos que valorizar os significados que os alunos atribuem escrita em suas prticas e enxerg-los como sujeitos da linguagem so medidas que colaboram para que eles passem de meros reprodutores de Discursos legitimados na academia a produtores de seus prprios Discursos; essa proposta viabilizada pelo modelo de letramento acadmico em consonncia com os modelos das habilidades e da socializao.

    6. REFERNCIA BIBLIOGRFICAS

    BARTON, D. Literacy: an Introduction to the Ecology of Written Language. London: Blackwell, 1994.

    BARTON, D. & HAMILTON, M. Local Literacy: reading and writing in one community. London and New York: Routledge, 1998.

    FISCHER, A. Letramento Acadmico: uma perspectiva portuguesa. In: Revista Acta Scientiarum. Language and Culture. Maring, v.30, n.2, pp. 177-187, jul./dez., 2008.

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    GEE, J. P. Social linguistics and literacies: ideology in Discourses. 2ed. London/ Philadelphia: The Farmer Press, 1996.

    KLEIMAN, A. Oficina de Leitura: teoria e prtica. Campinas: Pontes, 1993.

    LEA, M.R.; STREET, B. Student Writing in higher education: an academic literacies approach. In: Studies in Higher Education. London, v. 23, n. 2, pp. 157-16, June, 1998.

    MACHADO, A.R.; LOUSADA, E.; ABREU-TARDELLI, L.S. Resenha. So Paulo: Parbola, 2004.

    RAMIRES, V. Gneros Textuais e relaes de poder na comunidade acadmica. Disponvel em: http://www.revistaveredas.ufjf.br/volumes/20/artigo05.pdf. Acesso em: 02 fev. 2009.

    STREET, B. V. Literacy in theory and practice. London: Cambridge University Press, 1984. _____________. Abordagens alternativas ao letramento e desenvolvimento, 2003. Paper entregue aps a Teleconferncia UNESCO Brasil sobre letramento e diversidade.

    TERZI, S.B. A construo do currculo nos cursos de letramento de jovens e adultos no escolarizados, 2006. Disponvel em: http://www.cereja.org.br/arquivos/uploads/sylviaterzi.pdf. Acesso em: 08 mai. 2008.

    NOTAS

    [1] Mestranda do Programa de Lingustica Aplicada IEL/UNICAMP e bolsista CNPq.

    [2] O presente trabalho parte de uma pesquisa maior apresentada no 17 Congresso de Leitura (COLE).

    [3] Dentro desta rea, o letramento tido como prtica social, ou seja, a escrita no deve desvincular-se das

    situaes reais de uso.

    [4] Discourses are ways of being in the world, or forms of life which integrate words, acts, values, beliefs,

    attitudes, and social identities, as well as gestures, glances, body positions, and clothes. A Discourse is a sort of identity kit which comes complete with the appropriate costume and instructions on how to act, talk, and often write, so as to take on a particular social role that others will recognize.

    [5] Grifos do autor.