Licoes de Geografia Dois

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Saber estudar e Aprender Técnicas de estudo, organizar trabalhos e exposições orais, Dar aulas e motivar os estudantes, aprendizagem e processos mentais 3ª Edição Textos de apoio editorial presença

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Saber estudar e Aprender

Tcnicas de estudo,

organizar trabalhos e exposies orais,

Dar aulas e motivar os estudantes,

aprendizagem e processos mentais

3 Edio Textos de apoio

editorial presena

NOTA GERAL SOBRE A TRADUO

Sendo esta obra de carcter pedaggico, naturalmente constante, ao longo de todo o livro, a referncia aos diferentes nveis de escolaridade. Para que o leitor portugus possa estabelecer as devidas correspondncias entre o caso italiano e o portugus, achmos conveniente esclarecer que a escolaridade, em Itlia, se encontra dividida em elementar, com a durao de cinco anos, mdia, com durao de trs anos e superior, com a durao de cinco anos, ciclo de estudos que constitui o liceu e d acesso Universidade. Tal como entre ns, o incio da escolaridade por volta dos seis anos de idade.

PREFCIO

Tenho seguido com interesse o debate em Itlia sobre a educao lingustica na escola, desde a poca em que comecei a ensinar, o final dos anos 70. Estive sobretudo atenta aos estudos tericos e aplicados dos sociolinguistas, linguistas de orientao generativa e psiclogos cognitivos. Cursos de actualizao e novos livros de textos para a escola mdia inferior e para o primeiro binio da superior tm vindo a sensibilizar os docentes, que tomam progressivamente conscincia dos processos da aprendizagem e das tcnicas didcticas especficas para desenvolver as competncias lingusticas dos jovens. Os estudantes tm vindo a utilizar tambm modelos gramaticais alternativos ou complementares do modelo tradicional e a distinguir diversos usos e tipos de lngua.

Perante este quadro, de alcance limitado, senti sempre uma certa perplexidade. claro que sempre til conhecer a lngua e os seus usos, mas muitas vezes so descurados os processos mais complexos que ocorrem por seu intermdio. Esta falha em grande parte impw tvel aos linguistas, muitos dos quais consideram que no da sua competncia tudo aquilo que est acima da frase. Uma das minhas maiores preocupaes nestes dez anos tem sido estudar a maneira de enriquecer a educao lingustica (que hoje justamente entrou na escola) tambm com o contributo da retrica, do conhecimento dos modos de estruturar a informao num texto no literrio, e de todas -as competncias procedimentais de manipulao da informao necessari.as produo e compreenso de textos referenciais e argumentativos.

0 doutoramento com Domenico Parisi, em psicolinguistica, e o ano de estudos de lingustica computacional na Universidade de StanJord com Terry Winograd e David Rumelhart suscitaram em mim um grande interesse pelo problema da representao do conhecimento e pelo seu uso nas linguagens naturais e na inteligncia artificial. Este

livro nasceu do desejo de mostrar as extraordinrias implicaes pedaggicas de conceitos como as redes semnticas, os guies, os esque- ~* no estudo, o importante aprender a elaborar conjuntos de informaes estruturadas e no apenas a adquirir meros conhecimentos.

Finalmente,'os ltimos sete veres passados na Universidade de Stanford e de Berkeley na Califrnia deram-me oportunidade de analisar a ateno diversa que as universidades americanas prestam aos problemas da aprendizagem individual e da aquisio de um mtodo de estudo e de investigao. Universidades como Stanford, que cobram matrculas muito elevadas, tm obviamente de fornecer aos estudantes todos os meios para obterem sucesso. Stanford, como muitas universidades americanas, possui um Learning Center a que com- *pete ajudar de modo pragmtico docentes e discentes. disposio dos docentes so postos textos com conselhos para aumentar a eficdcia das suas aulas e melhorar as suas relaes com os estudantes. Para os estudantes, so organizados mtodos de estudar e de elaborar trabalhos escritos. Para alm disso, nos Learning Center so tambm formados estudantes com boas classificaes, que monitorizam os seus colegas, no sentido de os ajudarem nas dificuldades do estudo, e que so pagos pela universidade. Nos livros de textos destes cursos encontrei conselhos prticos particularmente teis para estudantes de todas as idades.

Este livro destinado a todos aqueles que se interessam pelas tcnicas de estudo. Na primeira parte do livro, dedicada aos estudantes, do-se conselhos concretos sobre a maneira de se tornarem eficientes: como planificar o dia, como abordar a leitura de um texto, como tomar apontamentos, como memorizar, como fazer investigao, como enfrentar os exames, interrogatrios e apresentaes orais. A segunda parte do livro dedicada aos professores, e d indicaes sobre como programar a didctica dos mtodos de estudo, como individuar os estilos de aprendizagem dos estudantes, como abordar as diversas actividades na aula. A terceira parte do livro, que interessa tanto aos estudantes como aos professores, tem um carcter mais terico, e mostra quais so as bases do estudo: como funciona a memria, como se representam os conhecimentos, como que surge a compreenso e como se resolvem problemas. Estes aspectos tericos constituem a ossatura da cincia cognitiva, uma nova cincia nascida na confluncia de vrias disciplinas, entre as quais a psicologia, a lingustica, a informtica (para os aspectos relativos inteligncia artificial), a filosofia e a fisiologia (para os aspectos relativos ao funcionamento do crebro).

Vrias experincias didcticas contriburam tambm para este livro. Primeiro nas classes superiores e depois nas mdias, tentei que

os adolescentes se tornassem autnomos no estudo, ajudando-os a

estabelecer uma boa relao com os livros. Em Milo dei cursos a

nvel institucional, para universitrios e adultos, em que me esforcei por apresentar do modo mais simples possvel, no s as metodologias prticas, mas tambm os processos que esto na base do estudo: a compreenso e a memorizao.

Nos ltimos anos, os encontros dos grupos de trabalho sobre informtica e cincias humanas do IRRSAE da Lombardia, coorde- nados por Pinuccia Samek e Giorgio de Michelis, e do projecto de informtica experimental do Ministrio, coordenados por Pierluigi Della Vigna e Marta De Vita, ajudaram-me a esclarecer as implicaes didcticas das metodologias da representao da conscincia, prprias da inteligncia artificial.

Foi-me igualmente vantajosa a experincia que tive no Centro Studi Comunicazione de Milo, onde ensinei a profissionais e a dirigentes de empresa mtodos de melhorarem as suas comunicaes com base na argumentao e na persuaso.

0 meu marido, Stefano Ceri, ajudou-me muito na organizao e redaco deste livro. Com ele discuti os aspectos metodolgicos do estudo universitrio de tipo cientfico e os modelos da inteligncia artificial. Paola Mostacci e Luciana Arcidiacono releram pacientemente o manuscrito.

DEDICATRIA

A todos os membros da minhafamilia que estiveram ou esto no mundo do ensino:

ao meu av Renato Snior dirigente das escolas de marinhagem, que, em 1940, publicou o livro Notas de Psicologia Aplicada ao Ensino, o primeiro a ser lanado em Itlia, neste domnio

ao meu pai Umberto, que ensinou aos seus companheiros de priso, naindia, formou professores e tambm ensinou na escola para assistentes sociais, e que depois, todo dedicado ao federalismo europeu, durante a minha infncia, continuava a dizer que queria voltar a ensinar Histria e Filosofia

minha me Laura que ensinou Matemtica e Cincias durante quarenta e dois anos, efez livros interdisciplinares em colaborao com os seus alunos de um bairro popular em Roma

ao meu irmo Renato Jnior instrutor de vela e professor de Anlise Matemtica

minha tia Ana mdica efarmacutica, mas que preferiu ensinar numa escola mdia no lago Bracciano

minha sogra Luciana professora de Pedagogia no Magistrio e de Cincias Humanas nos liceus cientficos da Lombardia.

minha cunhada Gianna directora de uma escola, em Roma, para cabeleireiros e ourives profissionais

ao meu marido Stefano professor de Informtica em universidades italianas e americanas

ao meu filho Paolo que est agora a aprender a ler

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DO PONTO DE VISTA DO ESTUI),4NTE: AS TCNICAS DE ESTUDO

A primeira parte deste livro descreve as tcnicas do estudo do Ponto de vista do estudante. 0 primeiro captulo introduz o estudo visto Como uma profisso e mostra quais so as qualidades dos estudantes mais bem sucedidos e os defeitos dos que tm insucessos. Para melhorar as tcnicas pessoais de estudo so depois analisados seis problemas.

Primeiro problema: como organizar o tempo

Partindo do princpio de que os estudantes com roaiores dificuldades so tambm os menos capazes de gerir o tempo s de cidos e os sais a que do origem por qumica com umia base:

Bico de pato, Frederico no espeto Osso de cabrito

rigem Assim, por e>xemplo, um cido como o cido clrico dar5@ se da a um clorato, m@as o cido clordrico (a sonoridade apro=4em a da palavra Frede@rico), que no contm oxignio, j dara ok,, osso um cioreto, enqu,,anto um cido como o cloroso (faz lembrar o,.@ ocl. da mnemnica), , que contm mais um tomo de oxignio qui rico, dar origenn a sais cloritos*.

* Adaptado na ttraduo. (N. da T.)

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0 TRABALHO DE PESQUISA

Tenho de fazer um trabalho sobre a China: vou copiar

da enciclopdia!

0 trabalho de pesquisa um estmulo interessante para as actividades acadmicas. Na escola italiana, desde a elementar at universidade, tem vindo a ser encorajado, nas modalidades mais diversas (relatrios, teses e projectos). H mesmo quem sugira que se passe decididamente os manuais para segundo plano, para permitir que os

estudantes recolham as informaes de que precisam, em todos os

casos, em livros e contextos diversos.

Com efeito, a aprendizagem atravs das actividades de pesquisa apresenta muitas vantagens. Antes de mais estimula a curiosidade e clarifica as ideias, levando o estudante a pr-se perguntas e a abordar a leitura de um modo mais crtico, superando o estudo tantas vezes passivo e mecnico dos manuais. Alm disso, a pesquisa de informaes constitui uma oportunidade excelente para variar o tipo de fontes: alm de livros e jornais pode-se recorrer tambm a entre-

vistas, trabalho de campo, arquivos e bancos de dados. Finalmente, a actividade de pesquisa leva definio de critrios pessoais para reorganizar a informao, condio necessria para uma boa aprendizagem.

Em sntese, a pesquisa permite desenvolver todas aquelas capacidades necessrias a um estudo autnomo, indispensveis no s a quem realiza actividades de pesquisa por necessidades profissionais, mas tambm aos adultos que pretendem continuar a aprender.

A capacidade de definir os interesses pessoais e de seleccionar as melhores fontes constitui uma defesa e permite-nos agir como protagonistas num mundo saturado de informao: no sculo xx foi criada mais informao do que em toda a histria da Humanidade e frequentemente o problema do homem moderno no o de encontrar dados que lhe interessem, mas o de libertar-se de todos os dados inteis [Toraldo di Francia, 19771.

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0 principal problema dos trabalhos de pesquisa, na escola como na universidade, que aqueles que tm de os fazer no possuem um bom mtodo de trabalho. 0 estudante muitas vezes posto perante um tema de trabalho sem uma preparao especfica para o fazer. E talvez o professor nem valorize as actividades mais originais (como a procura de informaes pouco habituais, ou ento a consulta de fontes diversificadas e seu confronto), mas valorize apenas o resultado final (por exemplo, com base na qualidade da exposio). Nestas condies, natural a tentao de copiar o trabalho das fontes que o estudante tem sua disposio (talvez um nico texto, escolhendo mais ou menos ao acaso as partes a copiar). 0 trabalho reduz-se assim a um plgio, at porque quem copia desta forma to pouco original se esquece geralmente de indicar a fonte de informao.

No entanto, o trabalho de pesquisa de qualquer maneira muito til aos jovens, mesmo quando os resultados parecem ser medocres. H estudantes da escola mdia que no final do ano s conseguem lembrar-se dos assuntos tratados nos seus prprios trabalhos. Para muitos estudantes universitrios a tese de licenciatura a nica ocasio que tm na vida para fazer uma pesquisa aprofundada em bibliotecas ou um verdadeiro trabalho de campo [Eco, 1977].

Na realizao de um trabalho de pesquisa, podemos distinguir dois aspectos principais, muitas vezes relacionados e dificilmente separveis em termos de tempo. 0 primeiro aspecto o da escolha do plano de trabalho e o da definio das informaes necessrias. 0 segundo aspecto o da reorganizao das informaes e a apresentao dos resultados finais, sob a forma de um texto escrito, um quadro ou uma apresentao oral que possuam uma lgica interna. Mais particularmente, o processo de realizao de um trabalho constitudo por quatro fases distintas:

- Definio do argumento e do escopo.

- Localizao das informaes.

- Seleco e organizao das informaes.

- Apresentao clos, resultados.

No que diz respeito apresentao escrita dos resultados, so dadas poucas indicaes relativas a aspectos tcnicos (ndice, bbliografia, notas, citaes) que caracterizam a apresentao de trabalhos relativamente a outro tipo de escritos. A exposio oral dos resultados ser tratada no prximo captulo, no mbito do problema mais geral que corno falar em pblico.

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amua uma

6.1 - Definio do argumento e do escopo

Um dos aspectos que mais peso tem no xito de um trabalho a escolha do tema e a clarificao do seu escopo. Na escola, o tema de um trabalho muitas vezes indicado apenas por um simples ttulo genrico. Ttulos como Os dinossauros, A China, ou 0 ADN raramente produzem bons resultados: dada a vastido e a complexidade do tema, o estudante no tem muitas possibilidades de avaliar a importncia das informaes e tende a copiar de modo acrtico textos que apresentam snteses explcativas. Alrri disso, ao procurarem informaes sobre temas muitogerais, no fcil perceberem onde e quando devem interromper o processo de recolha, arriscando-se a acumular uma grande quantidade de dados desorganizados.

Quando no so os professores a delimitar o tema e a indicar os objectivos do trabalho, necessrio dedicar urna primeira parte deste a definir um objectivo. Para poder fazer uma escolha sensata, o estudante precisa antes de mais de se familiarizar com o tema. Para isso bastar folhear um livro de consulta ou uma enciclopdia.

Para definir os pontos a tratar no trabalho ser til tentar eIaborar uma lista de palavras-chave e de frases breves que tornem mais precisas as ideias a desenvolver. Por exemplo:

Sobre a China: - a cozinha chinesa

- a famlia chinesa

- a Revoluo Chinesa

- os meios de transporte na China

- a vida das crianas na China e em Itlia: seme-

lhanas e diferenas

- existe igualdade entre homens e mulheres na

China? Mais ou menos do que entre ns?

Cada um destes aspectos pode constituir o objecto de uma investigao. Convm por isso delimitar posteriormente o mbito da investigao, fazendo uma outra seleco, talvez recorrendo de novo enciclopdia para percebermos qual destes pontos nos interessa mais. Um tema como A cozinha chinesa suficientemente restrito para produzir um bom trabalho. Uma vez seleccionado este tema, podemos continuar a precis-lo atravs da indivduao de palavras-chave e frases breves, que constituiro o fio condutor do nosso trabalho. Por exemplo:

Cozinha chinesa:

- Alimentos bsicos. comem carne ou peixe?

arroz ou massa? verduras e fruta? que condimentos utilizam?

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- Os pratos mais clebres.

- uma cozinha sauddvel? Haver doenas tpicas relacionadas

com este tipo de alimentao? (0 que signfica cozinha sauddvel?)

- Como constitudo um prato tpico?

- As refeies de todos os dias e as refeies festivas.

- Qual o aspecto da mesa?

Quando o objectivo da pesquisa definido de um modo articulado como o do nosso exemplo, o trabalho pode ser feito em grupo, porque,se torna fcil dividi-lo com base nos pontos a desenvolver.

Um tema como ADN pode ser circunscrito de acordo com os seguintes aspectos:

- As caractersticas fsicas hereditrias. A personalidade tambm

depende da hereditariedade? 0 ambiente eXercerd maior influncia do que os cromossomas?

- As doenas hereditrias.

- Como se descobriu o ADN.- histria. das investigaes que con-

duziram sua descoberta. Como se explicavam, na Antiguidade, as semelhanas e as doenas hereditrias.

- Ser possvel que, no futuro, se procure criar apenas pessoas

belas e inteligentes? Problemas ticos.

Tambm neste caso, cada um dos problemas individuados se presta a constituir, por si s, tema para um nico trabalho. Por exemplo, se considerarmos as doenas hereditrias:

- Quais so as doenas hereditrias?

- Este tipo de doenas herdado do pai ou da me? Como?

- Mesmo que os pais no tenham doenas, pode nascer um [lho

doente?

- Ser possvel diagnosticar doenas quando a criana ainda est

no tero? Se sim, como e que doenas? Se for diagnosticada uma doena no tero, a criana pode ser logo tratada? Ou ento que medidas tomar: problemas ticos.

Tambm este trabalho pode ser dividido entre vrios estudantes: por exemplo, um deles poder encarregar-se apenas das metodologias de diagnstico in utero. Aps ter consultado livros, artigos no

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-M.IIZMM, 1 -

jornal e uma enciclopdia, poder restringir posteriormente o mbito e clarificar os pontos do seu trabalho. Por exemplo:

Diagnstico in utero:

- Metodologias (anlise das vilosidades coriais, amniocentese,

etc.)

- Riscos para a me e para o filho

- Quando que se comeou a fazer este tipo de diagnstico?

- Quais so as mes que devem submeter-se ao diagnstico pr,

-natal?

Estes exemplos mostram a importncia de definir bem, e a prior, o tema do trabalho. Uma vez definido e redigida uma lista porme, norizada das informaes a procurar, a recolha dos dados fica extremamente facilitada, at porque explicitmos os critrios que no5 permitem dizer quais so os dados pertinentes e os que o no so,

importante que o processo de definio do tema seja explicitado no somente no incio do trabalho, mas tambm em fase de apresentao. Se temos dvidas sobre se o professor ir ficar ou no inte, ramente satisfeito com a nossa escolha, convir consult-lo mesmo antes de completado o processo, apresentando-lhe a nossa lista de pontos a desenvolver. Alm disso, ser til descrever, no incio do trabalho, o caminho percorrido at definio clara do tema, pof exemplo, introduzindo o trabalho com uma frase que explique as escolhas feitas:

Ao abordar este trabalho sobre o ADN, preferi deter-me sobre um aspecto especfico, a transmisso hereditria das doenas, A minha investigao concentra-se particularmente sobre as pos, sibilidades de diagnstico no tero, sobre os riscos e as vantagens de tais diagnsticos, e sobre as perspectivas de cura do Jto.@@

6.2 - Pesquisa de informaes no convencionais

A segunda fase de um trabalho a da identificao concreta das fontes. A investigao profissional feita com elaborao de dados de primeira mo, depois de uma anlise atenta das publicaes recer, tes sobre o tema da investigao. Os dados so recolhidos de modos diversos consoante as disciplinas: um bilogo realiza experincias de laboratrio, um linguista faz anlises quantitativas e qualitativas dos testes, um socilogo recolhe factos e opinies nos mais diversos cow textos.

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Os estudantes utilizam como fontes de informao sobretudo livros e jornais. Mas convm tomar em considerao a possibilidade de recolher informaes directas de fontes diversas; por exemplo, entrevistando os habitantes do bairro, ou ento revendo documentrios televisivos numa videoteca, ou ainda realizando uma experincia simples no laboratrio.

0 tipo de fonte tem frequentemente a ver com o tema do trabalho. Por exemplo, se se pretende desenvolver uma tese sobre Publicidade-progresso ou sobre Anncios pessoais nos jornais, pode-se ir a uma biblioteca para ver se se encontra algum ensaio sobre este tipo de assuntos, mas mais interessante analisar e classificar os dados recolhidos directamente nos jornais. Ou ento, se se pretende analisar o modo de trabalhar dos operrios, ser til visitar uma fbrica da zona. Os materiais audiovisuais podem ser uma grande ajuda, e hoje esto disponveis em qualquer escola. Por exemplo, trabalhos sobre Consequncias de automao no trabalho dos operrios fabris pode ser estruturado a partir de uma anlise do filme Tempos Modernos de Charlot, e, da mesma maneira, um trabalho sobre As ditaduras na Amrica do Sul pode extrair muito material do filme Missing de Costa-Gravas.

Mas a fonte de informao mais ao alcance de cada um, sobretudo dos alunos da escola mdia inferior, que ainda sentem grandes dificuldades perante textos complexos, so as pessoas. A entrevista e o questionrio so instrumentos de valor inestimvel para recolha de dados a elaborar, quantificar e apresentar. Os alunos das classes mdias que pretendam estudar a economia do seu bairro podem preparar com os professores um questionrio a apresentar aos comerciantes da zona. Em particular, um estudo sobre a evaso fiscal dos comerciantes do bairro pode ser levado a cabo pedindo s pessoas que saem das lojas para mostrarem a factura ou o recibo verde e anotando depois quantas que efectivamente o tm. Este tipo de recolha de dados tem a vantagem de estimular a iniciativa dos jovens, bem como a sua capacidade de comunicar, qualidades diferentes daquelas que so frequentemente as mais valorizadas na escola.

6.3 - A investigao na biblioteca

.De qualquer maneira, a biblioteca o principal instrumento dis~ posio dos estudantes para encontrarem os dados de que precisam. Mas existem algumas regras do jogo que necessrio aprender, relativas ao acesso biblioteca, consulta dos livros, elaborao de- fichas e recolha de apontamentos [Cuturi, 1985].

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6.3. 1 - Seleco de um texto

Para seleccionar um livro na biblioteca utilizam-se os ficheiros, que geralmente se encontram entrada. H ficheiros de vrios tipos: por autores, por ttulos, por assuntos, e o ficheiro de publicaes peridicas. Um livro da biblioteca aparece no nome do autor, no ficheiro de autores, no ttulo, no ficheiro de ttulos e uma ou mais vezes no ficheiro por assuntos, em diversas rubricas. As informaes sobre livros encontram-se em fichas, que geralmente incluem os seguintes pontos:

Autor Ttulo Editora Local de publicao Ano de publicao Assinatura

Os estudantes tm de aprender a utilizar os ndices gerais e por assuntos, alm de aprenderem a avaliar a importncia de um texto pela data, pela bibliografia, pela editora e pelas informaes fornecidas acerca dos autores. importante ser-se muito selectivo. Se um assunto tratado em quinze livros diferentes, conveniente ler com

ateno as fichas de todos os livros e procurar os dois ou trs que inspirem mais confiana. A escolha da primeira fonte essencial, at porque nela se encontram outras referncias bibliogrficas, talvez mais especficas do que as da nossa primeira lista de quinze ttulos.

6.3.2 - Seleco por computador

0 mtodo mais cmodo para verificar se existem determinados livros numa biblioteca consultar o computador. As bibliotecas mais modernas esto muitas vezes equipadas com um terminal, em vez ou como complemento dos ficheiros, directamente ligado a um banco de dados. Neles se encontram as informaes relativas aos livros presentes na biblioteca (e, algumas vezes, tambm aos livros de outras bibliotecas).

0 acesso informao memorizada no computador feito atravs de um programa, que oferece ao utente vrias opes (procura com base no ttulo, no autor, na editora, na data, ou mesmo com base em palavras-chave que definem o assunto). A resposta do computador indica geralmente, como primeira informao, quantos livros foram seleccionados.

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Tambm neste caso, uma boa norma consiste em conseguir isolar um nmero bastante limitado de ttulos: se no final da procura obtivermos duzentos e cinquenta livros seleccionados, temos de recomear com condies mais restritivas. Se pelo contrrio no for seleccionado qualquer livro, temos de retirar ento algumas condies e fazer uma seleco menos restritiva, a fim de encontrarmos livros pertinentes.

Quando o nmero de livros se tornou suficientemente pequeno (no mximo dez ttulos) poderemos proceder a uni exame analtico dos vrios ttulos, anotando o ttulo e a localizao dos livros que nos parecerem mais teis. Em certos sistemas, podemos usar uma impressora que produzir a lista dos ttulos seleccionados.

6.3.3 - Localizao de um texto

A situao de um livro nas prateleiras de uma biblioteca depende da sua cota, uma sequncia de letras e nmeros, atribuda a cada livro, que geralmente est relacionada com a sua classificao. As pequenas bibliotecas, como as das escolas, utilizam os mais diversos sistemas de classificao (por exemplo, uma classificao por matrias ou por gneros literrios: ensaios, romances, livros de leitura). A maior parte das grandes bibliotecas usa o sistema decimal Dewey, que clssifica os livros de acordo com este esquema genrico:

000-099 Obras gerais

101-199 Filosofia e Psicologia

200-299 Religio

300-399 Cincias sociais

400-499 Lnguas

500-599 Cincias puras

600-699 Tecnologia: cincias aplicadas

700-799 Belas-artes e divertimentos

800-899 Literatura

900-999 Geografia geral, Histria e Viagens

Estas. grandes- categorias so por sua vez objecto de uma subdiviso. Por exemplo, a Literatura subdividida em:

800 Literatura

810 Literatura americana

820 Literatura inglesa

830 Literatura alem

840 Literatura francesa

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e assim por diante. As subdivises podem suceder-se at ao uso de decimais.

Uma vez encontrado um livro, se o pblico tiver acesso as estantes, bastar ver pela cota em que prateleira se encontra o livro. Se os livros no estiverem ao alcance do pblico, ser necessrio escre-

ver todos os dados num formulrio: neste caso o funcionrio da biblioteca que entrega o livro ao estudante. Dado que os livros esto ordenados por assuntos, nas bibliotecas com estantes abertas ao pblico possvel dar-se uma vista de olhos aos livros que esto junto dos que foram seleccionados e encontrar outros textos sobre o tema do trabalho. Infelizmente as grandes bibliotecas, em Itlia, requerem o uso de formulrios e s vezes longas esperas, para se descobrir afinal que o livro no tem utilidade.

A comparao entre a organizao das bibliotecas em Itlia e no estrangeiro -nos bastante desfavorvel. Efectivamente norma, em muitas universidades dos Estados Unidos e de outros pases europeus, as bibliotecas ficarem abertas at meia-noite, o acesso s estantes ser livre e ser possvel levar para casa quantos livros se quiser. Os investigadores que trabalham na Sormani de Milo ou na Biblioteca Nacional de Roma, superando enormes dificuldades relativamente aos

seus colegas estrangeiros, so, apenas por isso, dignos de admirao.

6.4 - Organizao das informaes

Particularmente quando nos encontramos em presena de tantas fontes escritas (livros e artigos) convm seleccionar e organizar os dados nossa disposio de modo sistemtico. Uma primeira sistematizao ocorre quando, durante a leitura crtica, sublinhamos os textos previamente escolhidos e tiramos apontamentos. Uma maior sistematicidade obtida pela elaborao de fichas, processo anlogo ao que utilizado pelos bibliotecrios.

Para cada livro utilizado no mbito de um trabalho, elaboramos uma nova ficha que inclua todas as informaes indicadas na seco

6.3. 1: autor, ttulo, editor, local e ano de publicao, cota. Para recolher estes dados, convm utilizar pequenas fichas de carto que se

podem encontrar venda ou ser preparadas em casa. Em cada ficha deve ser registada a cota, para permitir a consulta em fases sucessivas do trabalho sem perda de tempo. Nos casos em que se tenha de recorrer a mais de uma biblioteca til indicar na ficha tambm a biblioteca em que o livro foi consultado.

Na parte inferior e no verso da ficha conveniente registar ano-

taes sintticas sobre a legibilidade do texto e sobre o valor do tra-

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balho. Para anotaes mais detalhadas prefervel utilizar sempre o caderno de apontamentos.

As fichas devem ser guardadas por ordem, alfabtica ou por temas. Pode ser til dispor de um miniclassificador. Deste modo, em pequena escala, ficamos com uma estrutura de classificao de informao semelhante das bibliotecas.

Quando queremos ser ainda mais sistemticos, particularmente se as fontes consultadas no mbito de um trabalho forem muito numerosas, podemos fazer um pequeno ndice analtico. 0 ndice conter uma lista de palavras-chave, organizadas alfabeticamente ou por assuntos. Algumas palavras-chave sero acompanhadas por uma frase que lhe esclarea o sentido. Para todas as palavras-chave ser indicada a fonte onde se encontra a sua descrio ou uma referncia aos apontamentos.

0 computador pode ser muito til para a elaborao de um sistema de classificao das fontes. Deste modo torna-se possvel constituir um verdadeiro pequeno banco de dados que contenha toda a informao necessria identificao das fontes bibliogrficas e, para cada fonte bibliogrfica, um certo nmero de palavras-chave. Um sistema deste tipo pode ser usado como classificador (indicando as fontes com base no autor ou no ttulo, por exemplo) ou como ridice arialtico, indicando todas as fontes relacionadas com uma palavra-chave especfica. 0 sistema descrito facilmente posto em prtica com conjuntos de software para a construo de bancos de dados (database), disponveis para computadores pessoais. Resultados anlogos podem ser obtidos tambm com as folhas de clculo (spread-sheets), que permitem organizar num grande espao com uma matriz as informaes relativas a fontes bibliogrficas e a palavras-chave.

6.5 - Alguns aspectos de apresentao escrita de um trabalho

Aps ter escolhido, seleccionado e organizado os dados de modo sistemtico, podemos passar apresentao, escrita ou oral, do trabalho. -0 trabalha de organizao das ideias pode ser feito atravs da elaborao de mapas e de uma subsequente planificao. 0 trabalho de produo do texto articula-se por meio da elaborao de pargrafos bem estruturados. Estes assuntos so tratados em [Serafini, 1985], relacionados com a elaborao de temas e textos escritos argumentativos. Seguidamente iremos tratar aspectos tcnicos (ndice, bibliografia, notas, citaes) que caracterizam a apresentao escrita dos trabalhos relativamente a outro tipo de escritos.

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A. Subdiviso em captulos boa norma articular em vrios captulos a apresentao escrita de um trabalho que seja extenso (mais de dez folhas dactilografadas). conveniente que cada captulo trate um aspecto de um problema e seja, tanto quanto possvel, autnomo em relao aos outros captulos. De um ponto de vista quantitativo, convm que todos os captulos sejam igualmente extensos, evitando captulos demasiado longos ou demasiado breves. Este critrio implica que se subdivida posteriormente os captulos em seces e em subseces (ou poritos)*. A subdiviso do texto em seces e subseces til no caso de textos escritos muito longos. necessrio que tambm as subseces sejam relativamente autnomas, enquanto, por outro lado, se deve evitar uma excessiva subdiviso do texto que resulte em seces e subseces demasiado breves.

Quando a subdiviso em captulos suficiente, estes devem ser numerados. Quando os captulos estejam divididos em pontos (as seces) *ser conveniente numer-los relativamente a cada captulo. Assim, o nmero de cada ponto dado pela dupla indicao:

nmero de captulo, nmero de porito.

Se uma seco estiver ainda dividida em subseces, o nmero de cada subseco dado pela indicao tripla:

nmero de captulo, nmero de ponto, nmero de subponto.

(Veja-se o sistema de numerao usado neste livro.)

Se nos reportarmos ao trabalho sobre o ADN, ilustrado neste captulo, uma possvel diviso em captulos seria a seguinte:

1. Papel do ADN na transmisso dos caracteres hereditrios

2. As doenas hereditrias

3. Metodologias de diagnstico in utero

4. Riscos para a me e para o filho

B. ndice

Quando o trabalho se subdivide em captulos conveniente incluir um ndice, que geralmente aparece na segunda pgina do texto escrito, imediatamente a seguir pgina que contm o ttulo e o autor do tra-

* Parntese da tradutora.

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balho - a primeira. 0 ndice deve conter a lista dos captulos e eventuais seces, com a indicao das pginas em que aparecem no texto.

C. Bibliografia

A bibliografia uma lista de todos os textos escritos (livros e artigos) consultados no mbito do trabalho. Em geral, a bibliografia est ordenada alfabeticamente, com base no apelido -do primeiro autor de cada texto.

H muitas maneiras de organizar as informaes relativas aos textos constantes na bibliografia. Para isso necessrio escolher um esquema e. respeit-lo de modo rgido. boa norma organizar as fichas e a bibliografia pelo mesmo processo. Um formato possvel para os livros o seguinte:

Apelido e inicial do nome prprio do primeiro autor Apelido e inicial do nome prprio de eventuais co-autores Ttulo do livro (sublinhado) Eventuais informaes sobre a edio u sobre o volume Local de publicao Nome da casa editora e data de publicao

Quando os autores so mais de trs so geralmente designados pela expresso latina et alii. Todas estas informaes podem ser extradas da segunda pgina do livro, onde aparece o copyright. Por exemplo:

Dulbecco, R. e Chiaberge, R. Ingegneria della vita. Medicina e morale nell'era del DNA, Milo, Sperting & Kupfer, 1988.

No caso de artigos em revistas, um formato possvel o seguinte:

Apelido e inicial do nome prprio do primeiro autor Apelido e inicial do nome prprio de eventuais co-autores Ttulo do artigo (entre aspas) Nome da revista ou jornal (sublinhado) Nmero da revista, se o tiver, e data de publicao

Por exemplo:

Walker, M.; Cross, D., Os guerrilheiros da Terra, Expresso,

1 de Dezembro de 1990*

* Adaptado para a traduo. (N. da T.)

91

D. Citaes Quando no texto ou nas notas se pretende citar um dos textos da bibliografia, basta indicar o apelido do autor e o ano de publicaoo leitor interessado pode facilmente recuperar a informao completa sobre o livro recorrendo bibliografia.

E. Notas

As informaes que perturbam a leitura, como por exemplo citaes muito longas ou comentrios sobre as informaes referidas no texto, devem ser includas nas notas. Estas podem ser colocadas no fundo da pgina a que se referem ou todas juntas no fim de cada captulo ou no final do livro. 0 primeiro mtodo mais cmodo para o leitor, que pode ler a nota sem ter de voltar a pgina. 0 segundo mtodo vantajoso para quem escreve, porque no cria dificuldades de paginao na redaco final do texto. Para indicar as notas de p-de-pgina podem usar-se asteriscos ou uma numerao progressiva dentro da pgina. Uma numerao nica e progressiva usada obrigatoriamente para as notas em final de captulo ou de livro.

92

A QHAMADA, 0 EXAME E A EXPOSIO ORAL

Ca,da vez que me fazem uma pefgunta, fico a tremer

Apresentaes na aula, chamadas e exames so momentos ImPQrtantes na vida do estudante: grande parte da avaliao, desde as chasses elementares at Universidade, feita atravs de chamadas *or outro lado, as provas escolares io so seno um prlogo de %tras situaes que se apresentam ao longo da vida: todos ns, de ul@na maneira ou de outra, temos por vezes de expor as nossas ideia@s em pblico, em contextos mais ou menos formais e mais ou men>s difceis. Docentes e investigador&, mas tambm gestores e hom'@ns de negcios, tm de enfrentar di,4riamente a prova de falar ern 1)blico. Para outros, a prova ord constitui um excelente treinr@>.

Q rendimento dos estudantes infl&nciado por muitas variveis hessoais: em primeiro lugar, necessrio que dominemos as nOss4s emoes e nos apresentemos calnos e seguros das nossas POssibilidades. Em seguida, preciso conhecer as regras do jogo que Qaracterizam chamadas, exames e exposies orais. Por exemPIO, tvitar pontos mortos e dialogar conI o professor, mostrando que bercebemos as suas perguntas. o conhecimento de alguns segredos pode contribuir para repor as energias do estudante na direc,@O correcta e mesmo para reduzif as preocupaes tantas vezes excessivas ou in.ju_stificadas daqueles que se preparam escruPulosamente.

A seguir so dados alguns conselhOS sobre como falar em pbli,zo. Esta actividade efectivada no contexto escolar no mOm'@nto da apresentao oral, por exefflPlo, de um relatrio no final de um trabalho de pesquisa. Caracterizam-se as diferenas entre exposio escrita e oral, e indica-se como utilizar suportes visuais durante a exposio.

93

7.1 - Dominar as emoes

Um pouco de ansiedade Perante a chamada e, principalmente, perante o exame, normal e constitui sinal de tenso e de desejo de ser bem sucedido. No entanto, urna excessiva preocupao pode ser prejudicial. Foram feitos estudos que mostraram que os estudantes universitrios mais ansiosos tendem a obter as classificaes mais baixas e abandonam mais facilmerte os estudos por insucesso acadmico [Pauk, 1984]. A ansiedade manifesta-se atravs de sintomas como: mos frias e suadas, gaguez, clificuldades respiratrias e at mesmo uma sensao de desmaio. Perante uma chamada ou um exame, h estudantes que experimentam uma tal ansiedade que procuram adiar indefinidamente a prova.

0 melhor modo de superar a ansiedade adquirir um bom mtodo de estudo e fazer diariamente face aos deveres estudantis sem adi-los, a fim de nos tornarmos rnais seguros das nossas prprias capacidades para fazermos face a uma prova oral (na escola) ou a um exame (na Universidade), cor-no aspectos normais da vida de estudante. Como em muitas outras situaes da vida, importante comear bem: alguns sucessos iniciais permitem-nos ganhar confiana em ns prprios.

Em relao ansiedade causacia por uma preparao realmente deficiente, no h muito a fazer (s um inconsciente pode no ficar ansioso nessas circunstncias!), mas possvel dar algumas sugestes para eliminar o sentimento de falta de preparao e o terror dos estudantes que, mesmo quando tm a conscincia tranquila, no conseguem raciocinar de uma forma positiva e objectiva com base no trabalho que desenvolveram. Vicianios:

A. Relaxar e respirar profuradamente

Muitas vezes o stress manifesta-se tambm a nvel fsico: os msculos tornam-se rgidos e a respirao superficial. Se nos concentrarmos possvel tentar relaxar os m,-isculos contrados (em especial os ombros e os maxilares) e desenvolver uma respirao profunda. Uma melhor respirao conduz a uma melhor oxigenao do crebro, o que, por sua vez, permite raciocinar e usar a memria com mais eficincia, eliminando o bloqu@ termO esque-

195

mas de conhecimento em 1932, explicando que a memria no armazm de informaes recolhidas a partir da experincia, mas funciona em grande parte atravs de uma reconstituio. Bartlett assinala que as pessoas tendem a elaborar uma primeira impresso geral da situao global, s depois reconstituindo os pormenores eventuais, a partir da primeira impresso. A reconstituio tem lugar com base nos esquemas de informao presentes na memria, que oferecem um modelo interpretativo da situao na sua totalidade [Bartlett, 1932]. Piaget, por seu lado, usa o conceito de esquema no mbito das suas teorias sobre a aprendizagem e a inteligncia [Piaget, 1974].

Os esquemas introduzidos por Bartlett foram retomados em anos mais recentes por linguistas como Chafe, que se props explicar porque que uma histria sempre contada de modo diferente com o passar do tempo, e por psiclogos como Rumelhart, que usou os esquemas para desenvolver um sistema automtico para analisar contos [Rumelhart, 198 1 ]. 0 conceito de esquema teve um percurso acidentado: Rumelhart, por exemplo, cita Bartlett, mas reconhece ter elaborado este conceito com base nas estruturas descritas por Propp na sua Morfologia do Conto.

Outros investigadores introduziram conceitos semelhantes ao de esquema, como o linguista FilImore, que usa o termo cena para indicar as estruturas de conhecimento evocadas por alguns vocbulos [FilImore, 1975]. Tipos particulares de esquemas so descritos, no campo da inteligncia artificial, por Schank e Abelson com termos como guio (script) ou plano (plan) [Schank e Abelson, 1977], por Minsky com o termo quadro (frame) [Minsky, 1975]. Fizeram-se diversos estudos relacionados com o uso de esquemas pela memria, no domnio das categorizaes [Rosch, 19731, dos modelos mentais [Johnson-Laird, 1989], das metforas da linguagem [Lakoff e Johnson, 1980] e na compreenso dos textos QKintsch, 1977] e [Van Dijk, 1977]). Em resumo, o conceito de esquema tem como base comum os resultados de muitas investigaes levadas a cabo no mbito da cincia cognitiva.

13.4.1 - Esquemas

Os esquemas so estruturas gerais por meios das quais possvel organizar e explicar conhecimentos especficos. Por exemplo, por meio de um esquema das histrias possvel reduzir grande parte das histrias a uma estrutura simples, bem definida, caracterizada por um cenrio, um tema, uma intriga e uma soluo [Galam-

196

bos, Abelson e Black, 19861. Vejamos por exemplo o conto do Capuchinho Vermelho:

Cenrio: 0 bosque, a casa da av Moral: No devemos confiar em desconhecidos Intriga: 0 Captichinho Vermelho encontra o lobo, o lobo chega

antes da menina a casa da av, o lobo come a av e o Capuchinho Vermelho

Analisemos agora uma outra histria, que ser retomada no Captulo 14, relativo compreenso. Tambm neste caso, a histria pode ser encaixada no esquema anterior.

0 prmio da empresa Zoit

Na Zoit, institudo um prinio de produtividade entre os empregados. Como todos os empregados esto empenhados em ganh-lo porque querem fazer carreira, todos eles escrevem uma carta contendo crticas sobre o trabalho dos outros. Por fiffi, a empresa decide no atribuir o prmio.

Histria: 0 prmio da empresa Zoit Cenrio: A empresa Zoit Moral: Nem sempre o facto de se criticar os adversrios faz valo-

rizar as nossas qualidades Intriga: institudo um prmio, os empregados escrevem uma

carta, os empregados fazem crticas uns aos outros Soluo: 0 prmio no atribudo

Outros tipos de esquemas so facilmente reconhecveis. Por exemplo, os artigos de crnica escritos por jornalistas profissionais seguem geralmente um esquema do qual devem sair as respostas s seguintes seis perguntas: quern, que coisa, onde, quando, porqu, como (este esquema vulgarmente chamado SWIH, a partir das iniciais das seis palavras em ingls). Vejamos um exemplo simples:

quem: . Dois - mdicos que coisa: Foram condenados onde: Em Cagliari quando: No dia 1 de Maro de 1989 porqu: Por falso testemunho em acto pblico: falsificaram

uma ficha clnica para esconderem um erro por eles cometido como: Condenados a um ano de priso, pena suspensa

197

A figura 13.14 mostra alguns esquemas tpicos do mundo da escola, relativos Geografia, Literatura e Histria.

Geografia das naes (ex.: Itlia, Frana, ...

1. Limites

2. Dados quantitativos (populao, superfcie)

3. Acidentes naturais (rios, lagos, montes)

4. Economia (agricultura, indstria, produtos)

5. Cidades principais

o Romantismo, o Classicismo, ... )

Movimentos literrios (ex.: I. lugar

2. Tempo

3. Representantes

4. Temas tratados

5. Tipologia dos escritos

6. Relaes com outros movimentos literrios

7. Influncia sobre outras formas de cultura

8. Enquadramento histrico-Poltico dos representantes Histria dos imperadores romanos (ex.: Augusto, Tibrio,

1. Tempo

2. Limites do Imprio

3. Atitude em relao aos cristos

4. Situao econmica

Fig. 13.14 - Alguns esquemas tpicos do mundo da escola, relativos Geografia,

Literatura e Histria

Os esquemas podem ser utilizados para elaborar representaes dos nossos conhecimentos muito semelhantes s redes semnticas. Fala-se neste caso de quadro (frame, veja-se [Minsky, 1975]). Cada esquema representado no interior de um quadro, que delimita um exemplar, ou ento uma classe. Uma legenda distinguir os dois tipos de casos. 0 esquema consiste assim num certo nmero de propriedades, que so inseridas no interior de posies (slots) que fazem parte do quadro. Cada posio tem um ttulo e possui um ou mais valores. Entre os ttulos possveis, encontram-se o nome do objecto ou classe, as aces que se lhe referem, as suas propriedades e, quando o quadro se refira a classes que fazem parte de agregaes ou hierarquias de generalizao, o nome das classes componentes, das sobreclasses ou das subclasses.

Por exemplo, a figura 13.15 apresenta uma estrutura de frames que representa uma poro da rede semntica ilustrada na figura

13. 10. A figura ilustra quatro frames relativos a trs classes e a um

198

exemplar: as classes animal, pssaro e canrio e o exemplar canrio Tweety. Note-se que a referncia s sobrecl"ses ou s subclasses substitui as ligaes constitudas pelas setas is a da rede e permite reconstituir as propriedades herdadas ao longo da hierarquia de generalizao. Por exemplo, atravs deste frame possvel deduzir que Tweety come, na medida em que Tweety unI canrio, um canrio um pssaro, um pssaro um animal e todos os ani-

mais comem.

Os frames so muito utilizados na representao do conhecimento em computadores, porque a sua estrutura regular se presta a ser representada com preciso. Muitas vezes, no lugar dos valores so inseridos os nomes de programas a serem activados.

CLASSE

NOME: animal ACES: move-se, come, respira SUBCLASSES: pssaro, peixe

CLASSE

NOME. pssaro ACES: voa PROPRIEDADES: tem asas

SOBRECLASSE: animal

SUBCLASSES: candrio, andorinha

CLASSE

NOME: PROPRIEA]CADEESS:.-

SOBRECLASSE:

SUBCLASSES:

canrio canta cor verde pssaro canrio amarelo

EXEMPLAR

NOME: Tweety CLASSE: canrio PROPRIEDADE: pertence a Maria

Fig. 13.15 - Exemplo de uso dosframes

199

13.4.2 - Guies

Um tipo particular de esquema, chamado guio (script), descreve aces que so normalmente executadas em sequncia [Schank e Abelson, 19771. Os guies permitem interpretar e orientar o comportamento de executores humanos ou mecnicos (os robots). Vejamos, como exemplo o clssico de guio, a sequncia de aces levadas a cabo para ir ao restaurante. Para dar relevo ao facto de que podem existir vrias verses do mesmo guio, a figura 13.16 mostra dois guies, relativos respectivamente aos restaurantes italianos e americanos.

Guio: o restaurante em Itlia

1. As pessoas sentam-se se vem uma mesa livre com as dimenses apropriadas

2. 0 empregado traz a lista

3. Uma pessoa l-a em voz alta e cada um faz a sua escolha

4. 0 empregado toma nota dos pedidos

5. 0 empregado traz o primeiro prato, o segundo e o terceiro

6. 0 empregado traz a conta

7. A refeio paga, pondo-se o dinheiro num pratinho

Guio: o restaurante na Amrica

1 .0 empregado acompanha as pessoas a uma mesa que escolhida por ele

2. 0 empregado traz uma lista para cada um dos comensais

3. Cada pessoa faz a sua escolha individualmente

4. 0 empregado toma nota dos pedidos

5. 0 empregado traz um nico prato

6. 0 empregado traz a conta

7. A refeio paga com cartes de crdito

Fig. 13.16 - Exemplo de guio do restaurante, em Itlia e na Amrica

Um guio faz parte dos nossos esquemas interpretativos da realidade. Por exemplo, entre as nossas expectativas contamos que, uma

vez sentados, o empregado nos apresente a lista, assim como esperamos que ele venha tomar nota do nosso pedido passado algum tempo. Com base nestas expectativas, ficaremos surpreendidos se o empregado, depois de ter trazido a lista, atender imediatamente um pedido nosso. Ou ficaremos impacientes se, pelo contrrio, o empregado no vier tomar nota do nosso pedido passado uns momentos.

A compreenso de um guio est relacionada com a capacidade de compreender regras gerais e ocorre aps termos passado por algumas experincias. Por exemplo, tpico o comportamento dos italianos que visitam pela primeira vez a Amrica e que, quando entram

200

num restaurante e vem uma mesa livre, vo pr, ontaniente sentar-se nela. Esse comportamento gera imediatarrient. reaces dos empregados (especialmente se houver uma longa fila 9#d, ram pacientemente a sua vez). Por estas reace ! clientes que espeque o nosso script tem de ser adaptado S d@ko-nos conta de

n mnundo fornecem-nos um contexto interpretativo.

As teorias da lnguagern de Chorirrisky e dos linguistas que seguem a sua orientao sublinham o papel 4 da sintaxe e estudam a estrutura formal da lngua. No entanto, poi- si;i ss, estas teorias no permitem explicar a compreenso da lingual-,enm,. Modelos mais interessantes da compreenso lingustica foram prop>,Osttos por investigadores que estudam a linguagem de outros pontos de visua, entre psicolinguistas, sociolinguistas e filsofos da linguagem, a@ssiiim como etnolinguistas e estudiosos da inteligncia artificial. Em Itli;ia veja-se, por exemplo, o modelo de [Castelfranchi e Parisi, 19801. Neestes modelos, vai-se muito alm dos limites da gramtica, mostraridco-se as conexes entre as capacidades lingusticas e o resto das activicJaddes, humanas. Em especial, procura-se explicar num quadro orgnico o incodo de adquirir, conservar e utilizar os conhecimentos com vista a atirigirr objectivos previamente fixados.

Por exemplo, no modelo de Casttelfranchi e Parisi, o processo de compreenso de uma frase constitxicHo por vrias fases. Numa primeira fase ocorre a compreenso do seu siignificado literal por meio de um mecanismo que permite passar dc:>s ssons ou das letras de uma frase sua representao semntica. Este mecanismo constitudo pelas chamadas regras de projeco. Aritess de entrar na memria de longo prazo, a informao semntica de uma i frase manipulada e transformada numa simples configurao de prediccados e argumentos que constitui o contedo cognitivo da frase. Exitreetanto, a sua forma lingustica esquecida. Aquilo que depois um in4ivKduo conserva realmente na memria est relacionado com os seus ot>jecctivos, no que diz respeito a receber e a conservar a informao. As naovas informaes interagem com o conjunto das informaes que j poDssui, gerando muitas vezes outras informaes atravs do mecanisrrio (da inferncia e, por vezes, transformando e reorganizando mes"o iinformaes mais antigas.

Durante a leitura de um textc>, ppor exemplo, fazemos constantemente previses com base nas frasees j lidas e nas nossas informaes sobre o mundo. Um exemplo de frase ambgua o seguinte:

La vechia porta la sbarra*

* Optmos aqui por manter a frase clo coriginal italiano, uma vez que uma frase equivalente em portugus implicaria uma anlise diferente, em termos de rede semntica, da que ser apresentada na figura 14 - 2. 1 Um equivalente possvel, no entanto, em

matria de ambiguidade de sentido, seri,-iL a - frase A velha conta no banco, sendo que poderamos considerar como sujeito d,-,x fraase, quer A velha quer A velha conta, e que, no primeiro caso conta seria o preedicado, enquanto, no segundo, conta seria um nome, estando o verbo subentendido (est). (N. da T.)

204

Esta frase pode ser interpretada como uma mulher velha que leva uma barra e como uma velha porta barra a passagem de uma pessoa (do sexo feminino>. Estes dois sentidos podem ser distinguidos com base em informaes do contexto lingustico ou extralingustico. Por exemplo, a ambiguidade desaparece nos dois casos seguintes:

1. La vecchia porta Ia sbarra; molto pesante. (A velha leva a barra; muito pesada)

2. Maria vuole entrare nel castello; Ia veccha porta Ia sbarra. (Maria quer entrar no castelo; a velha porta barra(-lhe o caminho

A compreenso do texto coincide com a construo de uma rede de conhecimentos correcta, que represente o texto e onde se evidendem as relaes entre as vrias palavras [Della Casa, 1989].

14.1.1 ticas

Representao de uma frase por meio de redes semn-

Uma rede semntica que descreva o significado de uma frase pode ser construda de diversos modos. Uma representao clssica a que se obtm associando um n a cada constituinte da frase (ou sin~ tagma), e ligando os ns por meio de traos com legendas que indiquem o papel desempenhado por cada um dos sintagmas. Em seguida, usaremos a notao apresentada em [Anderson, J. R., 1985]. Vejamos um exemplo, relativo frase o co enterra o osso no jardim. Neste caso, individuamos quatro sintagmas: co, enterra, osso, jardim. Cada um destes sintagmas corresponde a um n da rede. Um n adjunto ser gerado para representar o tempo em que decorre a aco (presente). Os cinco ns assim determinados so. ligados a um nico ncleo central, que representa a frase (figura

14. 1). As conexes so legendadas com base no papel desempenhado por cada n relativamente frase. As conexes representadas no exemplo so sujeito, aco, tempo, verbo, lugar. Cada frase dotada de um sujeito, enquanto os outros tipos de conexes dependem do tipo de frase considerada.

Mostrmos j que algumas frases so ambguas. Quando a mesma frase se presta a vrias interpretaes, compreend-la significa atribuir um papel aos vrios sintagmas da frase. Por exemplo, consideremos ainda a frase Ia vecchia porta Ia sbarra, da qual demos duas interpretaes na seco anterior. Na figura 14.2a vemos a rede semntica relativa primeira interpretao: vecchia desempenha

205

Fig. 14.1 - Rede semntica relativa frase o co enterra o osso no jardim

o papel de sujeito, portare o verbo, sbarra o objecto. Por seu turno, a figura 14.2b mostra a rede semntica relativa segunda interpretao da frase: porta sujeito, o verbo sbarrare e la um pronome que se refere a sintagmas de outras frases (no caso em questo, a Maria). Note-se que a anlise dos modos pelos quais se faz referncia quilo que precede (anfora) ou quilo que se segue (catfora) constitui um problema clssico da lingustica textual [Dressler, 1974]. A rede da figura 14.2b contm dois ncleos, uma vez que em segundo ncleo estabelece a relao entre porta e o atributo vecchia. Note-se a profunda diferena entre as duas redes.

Figura 14-2a

206

Fig. 14.2 - Redes semnticas relativas frase la vecchia porta Ia sbarrA

Com o exemplo anterior vimos que duas redes semnticas Olu'tO diferentes podem representar a estrutura profunda de uma frase ambgua. Tambm possvel frases diferentes serem representada-4 Pela mesma rede semntica. COM efeito, a lngua permite expresses ][@1uito diversificadas (parfrases) para o mesmo significado ProfuOdo. As diferentes formas de superfcie podem, por exemplo, reflectir o nvel cultural e o estado de esprito de quem escreve ou fala. Diversas -,xPerincias tm demonstrado clue as pessoas recordam o significadp das frases, mas nem sempre a sua forma de superfcie ([Sachs, 19671 e [Anderson, 19741). Pode-se portanto pr a hiptese de que a rpente codifique a informao de XIM modo independente da forma superfi-

1 cial das frases. Tomemos Qm considerao o seguinte exemplo

L Joo deu uma linda rosa a Maria, professora de dana, de

2. Uma linda rosa foi dada por Joo a Maria, professojra

dana.

3. A Maria, professora de dana, foi dada uma linda roSO Por

Joo.

Estas frases so obtveis umas das outras mudando a orderO dos sintagmas ou a forma (activa ou passiva) do verbc>, mas tm clara-

207

mente o mesmo significado profundo. Com efeito, podem ser representadas por meio da mesma rede, mostrada na figura 14.3.

Fig. 14.3 - Exemplo de rede semntica correspondente a vrias frases com o mesmo

sentido

0 exemplo da figura 14.2b mostra que as redes semnticas incluem vrios ncleos, ligados por referentes comuns ou conectivos. Para evidenciar essas ligaes, introduzimos um segundo tipo de redes, as redes proposicionais.

14.1.2 - As redes proposicionais

Um texto constitudo por um conjunto de proposies ligadas de modos diversos QDressIer, 1974], [Conte, 19771, [Halliday e Hasan,

208

19761). A compreenso de um texto realiza-se por meio de redes proposicionais, que evidenciam as relaes entre as frases [Galambos, Abelson e Black, 1986]. Um texto pois transformado numa rede proposicional em que cada proposio traduzida na seguinte enumerao:

(predicado, argumento-1 ..., argumento-n)

Note-se que cada predicado corresponde a um ncleo das redes semnticas apresentadas na seco precedente, perdendo-se no entanto a informao relativa ao papel que cada argumento desempenha no mbito da frase. Seguidamente ligam-se as proposies que tm um argumento comum. A vantagem proporcionada por esta representao pr em evidncia as ligaes entre as proposies de um modo explcito. Na figura 14.4 retomamos um pequeno texto muito simples, que foi introduzido no captulo anterior, para vermos como apresent-lo numa rede de proposies.

A representao da figura 14.4 no entra profundamente no significado da conexo entre proposies. Por outro lado, diversas fontes, no mbito da lingustica textual, estabelecem que os tipos de conexes entre duas proposies vizinhas so em nmero limitado. Uma possvel classificao das conexes, sem pretenso de exaustividade, inclui conexes temporais, causais, de especificao, de modalidade, de pergunta-resposta, de comparao, de correco, de contraste e de enquadramento.

Vejamos um exemplo para cada caso, partindo das conexes que esto presentes no nosso exemplo.

Na Zoit institudo um prmio de produtividade entre os empregados. Como todos os empregados esto empenhados em ganh-lo porque querem fazer carreira, todos eles escrevem uma carta contendo criticas sobre o trabalho dos outros. Por fim, a empresa decide no atribuir o prmio.

(institui, Zoit, prmio de produtividade)

(esto empenhados, empreg@dos, @.oprmio)

(querem, empregados, fazer carreira) /q /(escrevem, empreg dos, carta)

(no atribui, Zoit, prmio)

(contm, carta, crticas)

Fig. 14.4 - Exemplo de rede proposicional

209

11 a a a a a a a a

-11[, -1[ 11

Temporal: (primeiro) a Zoit institui um prmio (depois) a Zoit no atribui o prmio Causal: os empregados esto empenhados no prmio (porque)

querem fazer carreira. Especificao: os empregados escrevem uma carta (mais especifica-

mente) a carta contm crticas. Modalidade: os empregados esto empenhados no prmio, (de que

modo) escrevendo uma carta.

Vejamos agora outros tipos de conexes:

Pergunta- Resposta:

Comparao:

Correco:

Contraste:

Enquadramento:

Quando que nasceste? (resposta) No dia de Natal. Ontem esteve frio (reforo), mas hoje ainda est mais frio. Ontem comi um gelado, (correco) na realdade, era um sernifrio. Em Itlia come-se bem, (pelo contrrio) em Inglaterra a cozinha deixa a desejar. (situao) Todos os meus filhos praticam desporto: (enumerao) a Lusa faz natao, o Car- los joga tnis, o Alpio joga futebol.

0 tipo de conexo pode ser indicado na rede proposicional. Neste caso, as ligaes entre as proposies tornam-se ainda mais explcitas. Veja-se por exemplo a figura 14.5, que mostra uma rede proposicional mais pormenorizada que a da figura 14.4.

Note-se, a propsito, que a estrutura em rede proposicional facilita a elaborao do resumo de um texto. Com base na rede, eliminam-se todos os aspectos no essenciais das proposies e todas as proposies que no estejam estritamente ligadas a outras proposies da rede. Aps este processo eliminatrio (ou contraco da rede), o resumo gerado transformando as proposies que restam em frases breves e essenciais.

14.1.3 - A linguagem e as categorizaes

A linguagem um elemento essencial para a organizao das novas experincias e informaes. As palavras funcionam como categorias, atravs das quais se organizam as percepes (vejam-se as abstraces analisadas na seco 13.2). A compreenso de um texto apoia-se de modo fundamental no uso da linguagem como instru-

210

mento da standardizao, que faz com que duas pessoas associem o mesmo significado mesma palavra (figura 14.5). No entanto, enquanto alguns elementos so identificados como centrais a uina categoria (sendo consequentemente prottipos da prpria categoria), outros elementos so considerados perifricos. Para estes ltimos, muito mais difcil avaliar a sua relao com a categoria.

(institui, Zoit, prmio de. produtividade)

CTEMPORAL

(esto empenhados, empregados, p ados, p ra o prmio)

C C. CA .CAUSAL

C.TEMPORAL

(querem, empregados,

fazer carreira)

C. MODALIDADE

(escrevem, empregados, carta)

C. ESPECIFICAO

(no atribui, Zoit, prmio) (contm, carta, crticas)

Fig. 14.5 - Rede proposicional com classificao das conexes

Rosch documentou a presena de objectos prottipos e perifrcos atravs de uma experincia em que pediu a alguns indivduos que avaliassem a tipicidade de alguns elementos em relao a vrias categorias numa escala de 1 a 7, em que 1 significa verdadeiramente tpico e 7 verdadeiramente atpico. Em geral, os indivduos submetidos a esta experincia tm concordado nas suas respostas. Vejamos algumas delas. Na categoria pssaro, pintarroxo considerado muito tpico (tem uma notao mdia de 1. 1) e galinha apenas mediamente tpico

Joo, cheio de ansiedade e ao mesmo tem,,vo dePrimidG j no dormia havia muitos das. Porfim, teroltOU csUicdio B. Objectivos de divertimento, que incluem t,@dQs Os tiPOS d

divertimentos, como viajar, i

alitar fora, ir @O cinema, faze, desporto e participar em competies. GeraI@n@@nte quando a necessidades deste tipo no so satisfeitas, %n"tinILo-nos entQ diados ou moderadamente insatisfeitos. Pe4r @esta razO, s Pouco compreensveis textos como:

Joo, quando Maria recusou r ao cinema (,0,^ ele, matou-Q

C Objectivos relacionados com a realizao Pes,@oC.;zl, qte incIuer@

elementos como a propriedade, o prestgio p roffissional, a, relaes sociais, os talentos pessoais. GeralNeoWItrge, e, apQ\ rentemente era repelido. Jorge fez tudo.,, qt,&epde par, que ele ficasse mal visto e, por fim, desesp,,r..,-a,( do, ameao,,, -0 de morte. Ricardo acabou por se afa,@t,#ar-_-.

219

E. Objectivos relacionados com situaes de crise, que !surgem em funo de um perigo imediato (uma guerra, uma ctioena, um incndio). Podem surgir inesperadamente e, em reg,,ra, tm :I

prioridade sobre todos os outros objectivos. Por exe~lo:

Quando viu que a estrada estava cortada, Jorge mudou bruscamente de direco.

F. Objectivos instrumentais, que no fazem sentido toma(dos iso-

ladamente, mas podem contribuir para ajudar a realizarr outros objectivos. Geralmente, os objectivos instrumentais s1o facilmente substituveis, como se mostra no seguinte texttO:

Maria procurou uma baby-sitter para poder ir ao cinema. Como no encontrou nenhuma, deixou as crianas ~ casa dos avs.

Em presena de vrios objectivos, simultneos e talvez co)ntraditrios, cria-se uma situao de conflito, uma vez que se torn,-ii necessrio escolher um dos objectivos como prioritrio, e realiz-lo, em primeiro lugar. Em regra, so vlidas as seguintes regras [S;chank,

1982a]:

1 .Os objectivos de crise tm prioridade sobre os objectiwos pri-

mrios.

2. Os objectivos primrios tm prioridade sobre os objectvos de

realizao.

3. Os objectivos de divertimento tornam-se prioritrios naL ausn-

cia de crise e quando os objectivos primrios e de reailizao no so muito prementes.

4. Os objectivos instrumentais assumem a mesma priorid,-ade que

os objectivos que servem.

5. Todos os objectivos tm um perodo de activao, quie pode

ser cclico (veja-se as necessidades primrias). Certos objectivos tornam-se mais prementes em funo do reforo das; expectativas de satisfao, outros, pelo contrrio podem to@rnar-se cada vez menos importantes e desaparecer ao fim de uim certo tempo.

Estas regras podem ajudar-nos a compreender o signific:ado de alguns textos. Por exemplo:

Jorge no jantou naquela noite, porque tinha de reparar #a porta da cantina.

220

Neste caso, a reparao da porta deve ser cons@iderado um objectivo ligado a uma situao de crise, dado que pr%alece sobre um objectivo primrio. Provavelmente, Jorge age movidq0 pelo receio de que a cantina, sem proteco, seja assaltada. Podemos,>, alm disso, supor que a situao de crise tenha surgido inesperad4amente, por exemplo, porque a porta se partiu, ou ento porque, dur4ante a tarde, um objecto de valor tenha sido depositado na cantina. IIsto justifica

* incio da crise e a renncia ao jantar. Sobre os objectilivos e sobre

* conflito entre eles veja-se [Castelfranchi e Parisi, M80].

221

is

A RESOLUO DE PROBLEMAS

A anlise e a resoluo de um problema consiste num conjunto de aces e comportamentos necessrios para realizar um determinado objectivo. Resolver problemas uma actividade tpica do homem: como deslocar-se at ao local de trabalho, como confeccionar uma refeio, como jogar uma partida de xadrs, como diagnosticar uma doena. Alguns psiclogos explicam todos os problemas de compreenso como resoluo de problemas ([Newell e Simon,

1972], [Branford e Stein, 19841 e [01shavsky, 1976]).

Ao enfrentar um problema, necessrio antes de mais individuar o espao das possveis situaes intermdias, ou estados a que podemos chegar. Cada problema pode ser esquematizado pela passagem de um estado inicial a um estado final, atravs de um conjunto limitado de movimentos que nos conduzem de um estado ao estado seguinte. Comparando com uma partida de xadrs, o estado inicial dado pela configurao inicial das peas sobre o tabuleiro, o estado final a que cada jogador pretende chegar consiste em fazer xeque-mate ao rei adversrio, e os movimentos disponveis so todas as jogadas lcitas para cada pea de que dispe.

Uma vez determinado o espao dos estados, a soluo do problema pode ser descrita como uma sucesso de movimentos que fazem passar de um estado ao seguinte. 0 problema fica resolvido no final da sequncia, se efectivamente se encontrar o estado final. Vrias estratgias podem ser utilizadas para gerar esta sequncia de movimentos. Uma delas, muito complicada consiste em produzir, por tentativas, todas as possveis sequncias. Tcnicas mais eficientes, chamadas heursticas, procuram gerar apenas algumas das possveis sequncias, as que com maior grau de probabilidade conduzem resoluo do problema.

Uma tcnica geral para resolver problemas consiste em individuar subproblernas e solucionar separadamente. Por exemplo, numa par-

222

btida de xadrs possvel, em certas fases, concentr,4rmo-nos em [email protected] problemas (mudar algumas peas, fazer avanar os pees) que poY contribuir para a vitria.

Na soluo de problema so utilizados os chamados conhecII'I@es tos procedimentais, que nos permitem individuar e avaliar as ac&e_ que nos permitem chegar soluo do problema. Este tipo de conG cimentos permite inferir as consequncias das no.5sas aces e a@te liar a sua eficcia relativamente ao objectivo que teohamos em me po (por exemplo, permite-nos avaliar a justeza de uffi movimento de tabuleiro). Vimos j, no captulo anterior, que os conhecimentos atipo procedimental podem ser codificados em esqtiemas determ@de dos, chamados plarios, e passar a fazer parte do patrimnio iinformaes da nossa memria que nos permite ititerpretar a re@ dade. Os planos so constitudos aps repetidas experincias de r0@o_ luo de problemas. si

Neste captulo, sero descritas as solues de problemas cl@;e: cos definidos no mbito das cincias cognitivas e, en1 especial, da il@psligncia artificial. Os problemas foram escolhidos com base na P 0, sibilidade de descrev-los rapidamente e com exactid@erepresentando-os de modo eficaz. Ainda que algljns destes prot@is_ mas possam parecer abstractos e inslitos, na realdade os mecafl ,,;e mos que os resolvem so de tipo muito geral e, cofflo tal, muito as quentemente utilizados, por vezes de forma joconsciente, actividades quotidianas. pis

Este captulo mais tcnico que os anteriores C, como tal 111as, difcil de apreender, em alguns aspectos. Determioados@problew0s de natureza matemtico-cientfica, sero mais facilmente percebiC por leitores com uma preparao matemtica deste tipo.

15.1 - A representao de um problema

0 primeiro passo na soluo de um problema encontrar uin-. a

representao que lhe seja adequada. Em muitos casos, uma rep fe-

da sentao correcta -aproxima-nos sensivelmente da determinao ue soluo. Analisaremos,, em primeiro lugar, o famoso problema CV@e consiste em atravessar para a outra margem de uni rio uma cou,41-um lobo e uma ovelha (nas pginas que se seguem, voltaremos in tas vezes a este problema, designado pela sigla CILO):

Um campons encontra-se na margem esquerda de um rio, c@ M

a uma couve, uma ovelha e um lobo. Pretende atravessar par@I_a margem direita do rio, para ir ao mercado vender as suas meW

23

doras. Tem sua disposio um pequeno barco, no qual pode levar apenas um dos seus produtos. Mas, se deixar, na margem do rio, a ovelha e a couve, a ovelha comer a couve, enquanto, por outro lado, se deixar a ovelha e o lobo, o lobo comer a ovelha. Felizmente, os lobos no comem couves. Como que o cam-

pons ter de fazer para conseguir levar todas as suas mercadorias ao mercado?

Este problema pode ser esquematizado do seguinte modo:

LEm primeiro lugar, representamos trs lugares nas duas mar-

gens do rio, que podem conter respectivamente a couve (C), o lobo (L) e a ovelha (0). Representamos a presena do barqueiro numa das margens por um asterisco.

MARGEM ESQUERDA

RIO

MARGEM DIREITA CAMPONS

2.Em seguida representamos o barco, onde podem ter lugar o bar-

queiro e uma das suas mercadorias. 0 barco pode mover-se em duas direces, para a margem direita ou para a margem esquerda.

MARGEM ESQUERDA

BARCO

MARGEM DIREITA

3. Podemos agora representar o vnculo relativo aos estados que

no so admissveis na soluo do problema: o campons no deve abandonar em nenhuma das margens do rio qualquer dos pares: ovelha-lobo (L, 0) e ovelha-couve (0, C).

4.Finalmente, estamos aptos a representar o estado inicial e final

do problema. No estado inicial, o campons est na margem esquerda com todas as suas mercadorias; no estado final, campons e as mercadorias esto todos na margem direita.

ESlAb0 I NICIA@

c

ES'1ADIO FINAL

Esta es quematizaO pq permite compreender bem os termos do probl,ema c atializar urna sequu_uricia de movimentos para ver se existe uma so-luO coirrezta. @fectivaramente bastar garantir que a sequncia parta do estado tnicial, chegue a ao estado final e no inclua qualquer estado iwadmissv,el.

NoutINs casos, a simplples representao de um problema por meio de urn des10, collsidere-s,?-se o seguinte problema:

Dois @ect4ngtj10S conmtm no seu interior trs rectngulos mais Peq'@et1 os, Por su,1 vez@,z, cada um dos rectngulos mais pequenos contkt- quatrO rectn.vigulos. Quantos rectngulos so ao todo?

A respc->Sta intuitiva a o a este problema obtm-se fazendo o clculo:

2 >,@ 3 x4=>-4. Na realdadobde, este nmero no representa todos os rec-

trIgulosex--istentes, Was soisorriente o nmero total dos mais pequenos. Ccpntudo, hmsta ufria, siInP'Vles representao grfica do problema para nos darrlj_,S conu da sua a soluo correcta. Veja-se a figura 1 S. 1.

L-

:113

J 13

15.2 - Tcnicas de resoluo de problemas

Nesta seco analisamos vrias tcnicas para a resoluo de um problema. Vejamos antes de mais como se representa uma soluo do problema CLO, sem aprofundar por ora como constituda, mas limitando-nos a verificar a sua validade.

Uma soluo do problema pode ser descrita como se segue:

Em primeiro lugar o campons transporta a ovelha para a mar-

gem direita, deixando o lobo e a couve na margem esquerda.

0 campones volta em seguida margem esquerda e leva o lobo no barco. Desembarca na margem direita, deixando l o lobo e voltando a levar consigo a ovelha. Na margem esquerda desembarca a ovelha e leva a couve. Assim, a couve transportada para a margem direita, onde j se encontra o lobo. Estas duas mercadorias podem ficar sozinhas. Finalmente, o barqueiro volta margem esquerda e leva ento a ovelha.

Vejamos como se traduz esta descrio na descrio grfica anteriormente apresentada. A figura 15.2 mostra, esquerda os ~ovimentos, isto , as viagens do barco de uma margem para a outra. Obviamente, durante os movimentos o campons encontra-se sempre no barco e no necessita por isso de ser representado. direita mostram-se os estados, isto , as situaes que se criam depois dos movimentos. Neste caso, o asterisco (que representa o campons) passa de uma margem do rio para a outra. A representao dos estados, portanto, pode ser reduzida a poucos smbolos: basta representar uma sequncia de caracteres com um separador (/) para distinguir as duas margens, e tambm os caracteres L, 0, C e * para representar o lobo, a ovelha, a couve e o campons. A soluo produzida por uma sequncia de sete movimentos entre os quais o quarto provavelmente o menos intuitivo, na medida em que consiste em voltar a levar um animal que j tinha sido transferido para a margem esquerda.

Na realidade, a representao dos estados suficiente para recons-

tituir os movimentos que caracterizam uma soluo. Dois estados consecutivos so correctos quando o campons aparece em cada uma das margens (isto , do outro lado do separador) e as duas margens diferem pelo menos em um carcter (correspondente a um animal transportado de uma margem para a outra pelo movimento).

Assim, a soluo pode ser resumida pela seguinte sequncia:

CLO*/--CL/*0--CL*/0--C/*LO--CO*/L--0/*CL--0*/CL--/*OCL

a a 11 a a

Urna segunda soluo a seguinte:

CLO*/--CL/*0--CL*/0--L/*CO--LO*/C--0/*CL--0*/CL--/*OCL

Estas duas solues so as nicas que comportam 7 movimentos. Outras solues do problema comportam um maior nmero de movimentos. Depois de termos visto um exemplo, analisemos agora de modo sistemtico as tcnicas de resoluo de um problema.

MOVIMENTO ESTADO

0:

CLO*/

c 1

o

1:1

1

i_l

-i

I-

I-

I-

1

CL/*O

2:1

c 1 L 1

o

I-[-

1

CL/*0

c

L o

3:1

1

C/LO*

- I-

c

o L

4:1

I-

15.2.1 - A ndlise exaustiva

A anlise exaustiva do espao das solues uma abordagem sistemtica mas ineficaz, que consiste em gerar todos os possveis movimentos a cada alternativa. Por exemplo, se a partir do estado SO for possvel fazer dois movimentos MI e M2 que conduzem aos estados SI e S2, geram-se duas sequencias alternativas, SO - SI e SO - S2. Este modo de proceder gera as chamadas rvores de solues, em que cada estado est ligado a todos os estados que possvel atingir atravs de um movimento.

Por exemplo, considere-se o seguinte problema:

Num tabuleiro de xadrs com as dimenses 3 X 3, punhamos uma torre na posio central. Pretendemos levar a torre para o ngulo esquerdo ou inferior direito. Quantos movimentos so necessrios?

0 problema muito simples. De cada posio, a torre pode movimentar-se na horizontal ou na vertical, cobrindo 4 casas do tabuleiro. Cada casa representada pelas suas coordenadas, ou seja, por dois nmeros. 0 estado inicial SI = 22, os estados finais so SF = 11 ou SF = 33. A figura 15.3 mostra o espao dos estados.

Fig. 15.3 - Espao dos estados do problema da lorre

A rvore das solues obtm-se ligando cada estado a todos os estados sucessrios, isto , os estados que se podem atingir atravs de um movimento, partindo do estado inicial. A fgura 15.4 mostra os primeiros dois nveis da rvore das solues constituda de

228

modo exaustivo. Note-se que esta rvore permite encontrar as 4 solues do probleffi~e comportam o nmero mnimo de 2 movimentos. No entanto, a rvore das solues no se limita parte mostrada, mas cresce indefinidamente. Com efeito, uma sequncia possvel de movimentos consiste em movimentar para a frente e para trs a torre, ao longo de uma linha ou coluna central, sem nunc a atingir um estado final.

Fig. 15.4 - Construo dos primeiros dois nveis da rvore de solues do problema

da torre

Estamos aptos, neste ponto, a avaliar uma procura exaustiva. Antes de mais, um tal procedimento poderia fazer com que alcanssemos a soluo do problema, no caso de ela existir. Na verdade, o mtodo exaustivo gera todas as possveis sequncias de estados atingveis a partir do estado inicial. Evidentemente este mtodo muito ineficaz, alm disso, algumas sequncias so construd as voltando a um estado j anteriormente atingido, realizando-se por isso movmentos que so de todo inteis para a soluo do problema.

A tcnica exaustiva ligeiramente melhorada se decidirmos interromper todas as sequncias que conduzam a um estado j anteriormente atingido. Esta simplificao lcita, na medida em que elimina a possibilidade de sequencias de movimentos muito longas (na realidade, infinitas) que no conduzem resoluo do problema. Com esta simplificao, a rvore completa das solues relativas ao problema do movimento da torre reduz-se sensivelmente. 0 leitor pode mesmo verificar que a soluo mais longa comporta exactamente 7 movimentos.

A figura 15.5 mostra a rvore das solues do problema CLO, que compreende todas as sequncias que no incluem um estado inadmissvel ou um estado j anteriormente encontrado. Quando estas

229

duas condies se verificam, a sequncia interrompida. Uma marca de fim de sequncia indica se o estado atingido admissvel [i] ou igual a um estado precedente [p]. Note-se que, graas s regras de interrupo, todas as solues consideradas consistem no mximo em

8 movimentos.

MOVIMENTOS

o 1 2

CLO*/ CLO/* i

CO/*1_ [i]

OL/ C [i]

CL/*O r- CLO*/ [p]

CL*/O

CL/*O [p]

- L/*CO L*/CO i]

@ C1,*/O 1p1

LO-/C LO/-C [i]

L/*CO [p)

0/*CL

~ LO*/C [p]

- CO-/1_ CO/-1--- [i]

@ 0/-CL [p)

C/ LO C-/LO [i]

@ CI--/O [p]

CO*/1- [p]

- 0/*CL r 0/*CL 1p1

/*CLO resoluo)

- C/-LO C-/LO [i]

@ CI--/O [p]

CO-/I- CO/-1--- [i]

@ C/1LO [p]

0/*CL

- CO*/1- [p]

- LO*/1- LO/*1_ i]

@ 0/*CL ipl

L/-CO L-/CO [i)

@ C1,*/O p]

CO*/L [p]

- 0*/CL r- 0/*CL [p]

/*CLO resoluo)

Fig. 15.5 - rvore exaustiva das solues para o problema CLO

15.2.2 - 0 mtodo da reduo das diferenas

Este mtodo escolhe o movimento seguinte confrontando os estados atingveis a partir do estado corrente e movendo-se para aquele estado que merios diferente do estado final. Por exemplo, perante o problema de atingir o cimo de uma montanha, esta tcnica sugere que devemos mover-nos na direco do declive mximo, na medida em que deste modo a posio em que nos encontramos estar num nvel mais prximo do cume. Do mesmo modo, perante o problema

230

de encontrar a sada de um labirinto, este mtodo escolher diminuir a distncia at sada, movendo-se para ela. Note-se como, em ambos os casos, o mtodo pode falhar, por exemplo, porque nos leva para o cume de uma montanha que no aquela para a qual nos dirigamos, ou para uma zona de labirinto completamente obstruda.

Este mtodo consiste em desenvolver apenas uma parte da rvore das solues, a que seja mais prometedora. No se pode afirmar, no entanto, que a direco que corresponde reduo mxima da distncia da soluo seja tambm a melhor. Basta considerar o quarto movimento da soluo do problema CLO, em que se tem de voltar a trazer a ovelha para o ponto de partida. Se aplicarmos estritamente o mtodo de reduo das diferenas, o problema CLO no pode ser resolvido.

Uma variante deste mtodo consiste em observar com ateno o estado corrente para determinar a principal diferena em relao ao estado final, e ter como objectivo a reduo desta diferena. Isto, em geral, no ser possvel atravs de um nico movimento, mas exigir um certo nmero de movimentos coordenados. Um problema clssico que pode ser abordado com este mtodo o das torres de Hani [Anderson, 1985] (figura 15.6):

Considere-se trs estacas (A, B, C) e trs discos (1, 2, 3) de raio diferente. Os discos devero ser dispostos de modo tal que os discos de raio menor fiquem sobre os discos de raio maior. Respeitando esta regra, possvel deslocar a cada movimento um disco de uma estaca para a outra. Partindo da situao inicial em que os discos esto sobre a estaca A, representada nafigura 15.6, o objectivo deslocar os trs discos para a estaca C.

Como anteriormente, conveniente dar antes de mais uma descrio sinttica dos estados do problema. Representamos um estado atravs de trs sequncias de algarismos, separadas por um carcter (/). Cada sequncia representa a situao de uma estaca, indicando-se quais os discos que esto presentes. Os algarismos 1, 2 e 3 referem-se respectivamente ao disco de raio mnimo, mdio e mximo, enquanto um tracinho representa'uma estaca sem discos. Um estado admissvel se a sequncia de algarismos correspondente a cada estaca estiver por ordem crescente. Esta condio obriga a que os discos mais pequenos estejam situados sobre os maiores. Com esta representao, o estado inicial : l23/-/-, enquanto o estado final -/-/123. 0 estado -/31/2 inadmissvel. Um nico movimento pode deslocar um nico algarismo de uma sequencia para outra. 0 algarismo deslocado dever ser o primeiro, quer na sequncia de partida quer na de chegada.

231

ESTADO INICIAL:

A

c

ESTADO FINAL:

A

Fig. 15.6 - 0 problema das torres de Hani

0 mtodo por reduo das diferenas requer antes de mais que se descreva a principal diferena entre o estado inicial e o estado final. Neste caso, possvel reconhecer a principal diferena na presena do disco 3 sobre a estaca A em vez da estaca C. Portanto, o objectivo ser a colocao do disco 3 para a estaca C. Por outro lado, no imediatamente possvel tentar alcanar este objectivo, uma vez que para poder mover o disco 3 necessrio que nenhum outro disco esteja sobre ele. Da que seja gerado um outro objectivo, que consiste em mover os discos 1 e 2 para a estaca B. Finalmente, torna-se possvel tentar alcanar o objectivo de fundo, comeando por deslocar o disco 1 sobre a estaca C e depois o disco 2 sobre a estaca B e o disco 1 para cima do disco 2 sobre a estaca B. Estes quatro primeiros movimentos conduzem colocao do disco 3 sobre a estaca C:

123/-/- 23/-/1 3/2/1 3/12/- -/12/3

Finalmente, resta deslocar os dois discos 1 e 2 da estaca B para a estaca C. Confrontando o estado actual com o final, a principal diferena determinada pelo facto de o disco 2 estar na estaca B em vez de estar sobre o disco 3 da estaca C. Deslocar o disco 2 torna-se o objectivo seguinte. Para alcan-lo, o disco 1 deslocado para a estaca A, de forma a ser possvel deslocar o disco 3 para a posio pretendida. Por fim, a ltima diferena a ultrapassar tem que ver com

232

o disco 1, que permaneceu sobre a estaca A, a desloc,,r :para a estaca C. A sequncia total de estados que conduz solu) do problema, em 7 movimentos, a seguinte:

123/-/- 23/-/1 3/2/1 3/12/- -/12/3 1/2/3 1/-/23 -/`-/123

15.2.3 - Resoluo andando para trs

Por vezes, a soluo de um problema obtm-se mais facilT1e@nte se, em lugar de se partir do estado inicial e proceder para o o estd , C> final, se parte do estado considerado final e se procede em direc:@o ao incio (backwards) tentando encontrar a sequncia de passos qte Conduz a esse estado inicial. Por exemplo, considere-se o seguinte p'Oblema:

Carlos tem de se deslocar a Roma para participar numi reunio que comea s 9 horas da manh, e de maneira nenhumQ pode chegar atrasado. 0 primeiro avio parte de Milo s 6. ffi horas, o segundo s 7. 10, o terceiro s 7.40 e o quarto s 8. 00. 0 avio leva 50 minutos para chegar a Roma, mas depois so ne:@e&sdrios

20 minutos para o carro de transporte chegar ao trio d aeroporto e 20 minutos para se deslocar at sala de reunie@ d'e txi. Carlos dorminhoco e por isso marca o voo para o m2's@ tarde possvel. Em que voo parte o Carlos?

Neste exemplo, partimos do princpio que as previses sobre os tempos de percurso se realizam pontualmente (!). 0 probl@Ma tem uma soluo fcil procedendo para trs: partindo da solu (estar s nove na sala de reunies) subtramos 20 minutos para o tsi (8.40),

20 minutos para o autocarro (8.20) e 50 minutos para a viagem de avio (7.30). 0 voo escolhido ser aquele que parte imediatarnente antes das 7.30, ou.seja, o das 7.10. Procedendo para trs, e clculo dos tempos feito de uma s vez. Se, pelo contrrio, procedssemos da hora dos voos em direco chegada, teramos de calcular todos os quatro tempos de chegada para depois escolher o horrie de partida que resolve o problema.

15.2.4 - Resoluo por analogia

Por vezes, a tcnica para resolver um problema obtida 1)Or analogia, a partir da soluo de um problema conhecido. Para exemplificar este mtodo de soluo, vejamos dois problemas de geometria.

233

-N1INSiffigs

Demonstrar que, se dois segmentos de recta tiverem o mesmo

comprimento, tambm os segmentos obtidos se lhes acrescentarmos um terceiro segmento tm o mesmo comprimento.

0 problema tem uma soluo muito simples:

hiptese: AB = DC tese: AC = DB

demonstrao:

BC = CB AB = DC

( o mesmo segmento) (hiptese)

AB+BC = DC + CB (os dois pares de segmentos so iguais) AC = DB (tese)

Vejamos agora um segundo problema, que pode ser resolvido por analogia.

Demonstrar que, se duasfiguras geomtricas tm a mesma rea, tambm as figuras geomtricas obtidas suprimindo a sua interseco tm a mesma drea, independentemente da forma como estejam dispostas no plano.

A figura 15.7 mostra este problema. Aparentemente o problema diferente do anterior, no entanto possvel seguir o mesmo esquema de raciocnio (substituindo a soma pela diferena):

hiptese: rea (fig. 1) =rea (fig. 2) tese: rea (fig. 3) =rea (fig. 4) demonstrao: rea (fig. 1) = rea (fig. 2) (hiptese)

rea (interseco) = rea (interseco)

rea (fig. 1 -interseco)= rea (fig . 2-interseco) rea (fig. 3) =rea (fig. 4)

A resoluo por analogia largamente usada para produzir descobertas de tipo cientfico, uma vez que o trabalho original desenvolvido por um grupo de investigadores muitas vezes uma variante de um trabalho j conhecido. Entre os exemplos clebres temos Gutemberg, que inventou a imprensa imitando as mquinas de cunhar moedas. No se deve pensar que este modo de proceder seja menos nobre. Na realidade, reconhecer as analogias entre os problemas e reduzir um problema novo a um j conhecido requer normalmente grande inteligncia e inventividade.

234

i[ 1[ 111[ J[ J[ 9 9 a

FIGURA

FIGURA 3

INTERSECO

Fig. 15.7 - Um problema geomtrico resolvido por analogia

15.3 - Aspectos da resoluo de problemas

Depois de termos passado emrevista algumas das principais tcnicas da resoluo de problemas, iremos ver alguns problemas especficos e curiosidades. Muitas ideias para esta seco foram colhidas em [Anderson, 1985].

15.3. 1 - 0 que fazer em caso de insucesso

As tcnicas de tipo heurstico que acabmos de analisar procuram solucionar os problemas por tentativas. por isso possvel, e na realidade, bastante provvel, que essas tentativas falhem e conduzam numa direco muito afastada da resoluo do problema.

0 que se deve fazer neste caso?

0 remdio para esta situao tem o nome de backtrading (literalmente: retroceder sobre os nossos passos). Devemos voltar a examinar as escolhas feitas com base nas nossas heursticas, para determinar aquela que nos fez falhar e recomear a partir do estado anterior a tal escolha, alterando-a. Como exemplo tpico de backtrading, consideremos a situao em que, numa excurso a uma montanha, o nosso caminho cortado por um obstculo. Neste caso, temos de retroceder at primeira encruzilhada onde tnhamos feito a escolha errada e retomar a caminhada a partir desse ponto. possvel que tambm a segunda escolha seja errada. Teremos de voltar atrs uma vez maise tentar de novo.

235

0 backtrading uma tcnica largamente utilizada no mbito da inteligncia artificial. Esta tcnica utilizada juntamente com heursticas que permitem escolher, a cada alternativa da rvore das solues, a mais prometedora. 0 backtrading permite retroceder sobre as