Lima Barreto

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1881-1922

Lima Barreto

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Obras Principais

Recordações do Escrivão Isaias Caminha (1909)

Triste fim de Policarpo Quaresma (1911)

Numa e a ninfa (1915)

Vida e morte de M. J. Gonzaga de Sá (1919)

Os Bruzundangas (1923)

Clara dos Anjos (1924)

Cemitério dos vivos (1957, edição póstuma)

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Biografia Lima Barreto

Afonso Henriques de Lima Barreto nasceu no Rio de Janeiro, em 1881, filho de um operário de uma professora primária, ambos mulatos. Órfão de mãe desde menino, passou a frequentar a Colônia de Alienados, um asilo de loucos no qual seu pai exercia a função de almoxarife. Graças a protetores, Lima Barreto concluiu o secundário e iniciou os estudos superiores na Escola Politécnica. Por ironia do destino, seu pai enlouqueceu e acabou internado no próprio asilo em que trabalhava. Lima Barreto encarregou-se então de sustentar a família, abandonando os estudos e conseguindo um emprego burocrático na Secretaria de Guerra. Ao mesmo tempo começou a colaborar em quase todos os jornais do Rio de Janeiro.

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Biografia de Lima Barreto Contudo, seu espírito inquieto e rebelde, seu

inconformismo com a mediocridade reinante e suas críticas mordazes aos letrados nativos tornaram-lhe bastante difícil a vida econômica. Além disso, manifestou-se contra ele o preconceito de cor. Para fugir das complicações pessoais e sociais, entregou-se então, de corpo e alma, ao álcool. Contínuos ataques de depressão o levaram várias vezes ao hospital de alienados mentais. Morreu de um colapso cardíaco, em absoluta miséria, aos 41 anos, em 1922. Há muito tempo já não escrevia coisas importantes, caindo no esquecimento ainda em vida. Somente na década de 1970 sua obra voltaria a circular no país.

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No Rio de Janeiro do início do século XX, Lima Barreto produziu uma literatura inteiramente desvinculada do padrão e do gosto vigentes.

De forma consciente, o escritor abandona os delírios gregos e os deuses olímpicos dos literatos da época para revelar sobretudo a tristeza dos subúrbios e sua gente humilde: funcionários públicos aposentados, jornalistas pobretões, tocadores de violão, meninas sonhadoras, etc.

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Além disso – e como negação da época

– impregna sua obra de uma justa

preocupação com os fatos históricos e

com os costumes sociais, tornando-se

uma espécie de cronista apaixonado da

antiga capital federal, seguindo alinha

aberta por Manuel Antônio de

Almeida, sessenta anos antes.

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Era uma brutal mudança de enfoque. Poucos aceitaram esses contos e romances, os quais, sem qualquer idealização, desvelam a vida cotidiana das classes populares e mostram simpatia pelos personagens mais sofridos. Isso o diferencia, por exemplo, de Aluísio de Azevedo, que também enfoca as massas urbanas, mas com certa náusea. Ao contrário do autor de O Cortiço, Lima Barreto demonstra grande ternura pelos desvalidos e humilhados, fugindo, no entando, do sentimentalismo populista – o maior perigo dessa literatura a favor dos pobres.

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Denúncia social e caricatura

O caráter de denúncia social dos textos de Lima Barreto tem originalidade.

Ele vê o mundo com os olhos dos derrotados, dos que sofrem as injustiças, dos que são feridos pelos preconceitos.

O preconceito de cor, especialmente, é o motivo da sua indignação. Ele conhece bem a estrutura discriminatória da sociedade brasileira: com sua pele de mulato, sentiu muitas vezes a rejeição aberta ou sutil.

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Clara dos Anjos e Recordações do

Escrivão Isaías Caminha são libelos

contra o racismo e ainda hoje têm

validade documental.

O detalhado registro dos subúrbios e de

suas criaturas ofendidas tem um

contraponto: a caricatura, com a qual

fulmina os poderosos e os intelectuais

da época.

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Ao debruçar-se sobre pessoas reais,

com o intuito de acentuar-lhes os traços

ridículos ou grotescos, compromete a

verdade artística de seus textos. Sem

função dramática, a caricatura acaba

espelhando apenas a amargura íntima e

os ressentimento do escritor.

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A simplicidade do estilo

A rebeldia de Lima Barreto contra a estética

dominante se manifesta também na questão do

estilo. Desprezando a retórica bacharelesca e

parnasiana, escreve com simplicidade, mesmo

com certo desleixo intencional, querendo

aproximar o texto da linguagem coloquial.

Acusado de escrever de forma incorreta e

condenado por suposta vulgaridade, décadas

depois, Lima Barreto é considerado o romancista

mais importante do período como também aquele

que mais se aproxima da expressão prosaica,

conquistada pela geração de 1922.

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Vida e morte de M. J. Gonzaga

de Sá É o seu romance mais singular, pois foge dos

padrões narrativos tradicionais. Não há enredo nem conflitos, nem ações concretas na sua composição.

O funcionário público aposentado Gonzaga de Sá é um homem culto, sensível, que ama o Rio de Janeiro. Da manhã à noite, caminha pela cidade, nela flagrando a beleza, o drama e a comédia. Seu olhar enternecido acaba produzindo um conjunto de observações personalíssimas e engenhosas a respeito da cidade e da própria vida.

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Vida e morte de M. J. Gonzaga

de Sá O texto configura-se, assim, como uma

grande crônica da paisagem física e

humana da antiga capital federal.

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Clara dos Anjos

Em Clara dos Anjos – novela inacabada –Lima Barreto aborda a questão do preconceito. Clara, jovem suburbana de origem humilde, é vítima de um sedutor profissional, Cassi Jones. Esse grotesco galã dos arrabaldes, apesar de sua condição social elevada, cria galos de rinha e aproveita-se de donzelas ingênuas. Sua principal arma de sedução é o violão. Hábil intérprete de modinhas, revira os olhos ao tocá-las e, assim, desperta amores ardentes.

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Clara torna-se preza fácil do desprezível

sedutor e termina por engravidar. Sua

mãe descobre a gravidez e, juntas, as

duas vão até a casa de Cassi exigir o

casamento. Na cena mais forte do

relato, a mãe do rapaz as expulsa:

- É possível admitir-se meu filho casado

com gente dessa laia?

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Desoladas, Clara e a mãe retornam

para o subúrbio. A narrativa é

interrompida nesse ponto e o autor não

a conclui, por razões jamais

esclarecidas. Apesar de tematicamente

interessante, Clara dos Anjos é o mais

fraco dos romances de Lima Barreto.

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Recordações do Escrivão

Isaías Caminha Narrado em primeira pessoa, esse

romance narra a trajetória de um jovem

mulato, Isaías, que vindo do interior,

cheio de talento e ilusões, procura

vencer na capital federal.

Mas sua crença nas possibilidades do

saber e seu sonho de conseguir um

título de bacharel desfazem-se pouco a

pouco.

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Recordações do Escrivão

Isaías Caminha Na inglória do jovem Isaías, todas as

ilusões vão se perdendo. Para sobreviver, consegue um emprego de contínuo no principal jornal da cidade (aqui a ficção se aproxima das experiências de Lima Barreto na redação do Correio da Manhã)

Protegido pelo dono do jornal, Ricardo Loberant, ascende rapidamente na carreira, no entanto, corrompe-se. Isaías vê a degradação do seu talento e de sua sensibilidade, mas não reage.

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Recordações do Escrivão

Isaías Caminha Por fim, encerrando sua trajetória

degradada, Isaías consegue, pelo

prestígio político de Ricardo, um cartório

no interior, para onde se retira. É um

vitorioso economicamente, mas seus

melhores ideais foram aniquilados.

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Triste Fim de Policarpo

Quaresma A obra apresenta a drama de um velho de

um velho aposentado, Policarpo Quaresma, em sua luta ingênua pela salvação do Brasil.

Nacionalista xenófobo, propõe a adoçãodo tupi-guarani como língua oficial, alimenta-se apenas com comidas brasileiras, recebe as visitas gesticulando e chorando como um verdadeiro índio goitacaz e se dedica a malsucedidaspesquisas folclóricas.

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Depois de uma passagem pelo hospício, causada pela distância entre seu nacionalismo ufanista e a realidade, Policarpo resolve adquirir um sítio. Quer plantar e, acima de tudo, comprovar a máxima de que, em se plantando, tudo dá nas terras férteis brasileiras. Também nessa experiência o protagonista fracassa. Agora, entretanto, sua visão ingênua e até bizarra vai cedendo lugar à percepção de que os problemas do país são maiores do que ele supunha – a exemplo da má distribuição da terra:

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Mas de quem era então tanta terra

abandonada que se encontrava por aí?

(…) Por que estes latifúndios

improdutivos?

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O caso de Policarpo passa do cômico ao dramático. Tanto seu sincero desejo de progresso para a nação quanto a consciência crítica, que aos poucos vai adquirindo, lhe dão grande autenticidade humana e social. Ao estourar a Revolta da Armada, em 1893, ele já tem conhecimento de algumas das verdadeiras causas do atraso brasileiro. Mesmo assim, alista-se entre os voluntários defensores do regime republicano, chefiado por Floriano Peixoto. Ele acredita nos princípios do marechal, e essa será a sua última ilusão.

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Vitorioso e dentro de seu estilo bonapartista, o presidente da República inicia violenta perseguição aos derrotados, que são impiedosamente fuzilados, Policarpo lhe escreve então uma carta de conteúdo áspero e lúcido, solicitando que o terrorismo de Estado seja sustado. A resposta do ditador jacobino vem em seguida: o visionário Policarpo Quaresma é preso sem qualquer base legal, mandado para uma ilha e lá condenado à morte por fuzilamento. Sua compreensão derradeira sobre tudo o que havia vivido é extraordinária.

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A mudança que se opera em Policarpo –

da alienação ufanista à consciência real do

país – constitui o cerne da narrativa. Sua

visão final o leva a analisar corrosivamente

as mitologias dos grupos dirigentes e as

mistificações de que fora vítima. Quando

compreende o papel da ideologia no

processo histórico, precisa morrer. O

sistema tem suas defesas, sabe como

extirpar os hereges.

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Antes que a madrugada raie, que os galos cantem e que os assassinos a soldo do poder, o velho Policarpo pensa na falta de sentido do conhecimento que alcançara a respeito da realidade nacional. O fato de não ter seguidores e não ter podido transmitir a ninguém sua percepção crítica o entristece. Então, os soldados chegam e arrastam-no para a execução, para o seu triste fim.

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Lima Barreto não dá esperanças ao

anti-herói que criou, mas, ao término do

relato, a jovem Olga apresenta uma

perspectiva de futuro. A amiga do

burocrata sabe que, apesar de tudo, a

História não para. Pela primeira vez na

ficção brasileira, uma mulher entente o

fluir social. (ler trecho).

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O homem que sabia

javanês