Lima focando em sua carreira docente e em “sua” cas · o agravamento da situação do Ensino...
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A professora Joana de Jesus Lima e a “sua” casa-escola em
Lagoa Grande-PI – 1972 a 1984.
JÉSSIKA MARIA LIMA
O presente trabalho visa construir a trajetória de vida da professora Joana de Jesus
Lima focando em sua carreira docente e em “sua” casa-escola. Para a realização desta
pesquisa foi necessário à utilização de fontes bibliográficas e relatos memoriais. Nossos
entrevistados foram: a professora aposentada Joana de Jesus Lima (82 anos), a ex-aluna Maria
José Sousa Sales (61 anos), a ex-aluna Carmeci de Jesus Sousa (57 anos) e o ex-aluno Agenor
Rocha (57 anos).
A história da educação está interligada com a vida dos professores, pois podemos
compreender o modo de ensino referente a uma determinada época a partir de suas trajetórias,
na qual se pode concluir que são correlacionadas, de acordo com isso, poderemos entender
um pouco mais sobre a formação do conhecimento docente que a professora Joana Lima
construiu com base em suas vivências e assimilar as formas de ensino que persistiram no
âmbito rural.
De acordo com Jane Bezerra (2009: 46 apud Goodson 1995: 95):
Os estudos referentes às vidas dos professores podem ajudar-nos a ver o indivíduo
com a história do seu tempo, permitindo-nos encarar a intersecção da história de
vida com a história da sociedade, esclarecendo, assim, as escolhas, contingências e
opções que se deparam com ao indivíduo. ‘Histórias de vida’ das escolas, das
disciplinas, e da profissão docente proporcionariam um contexto fundamental. A
incidência inicial sobre a vida de professores reconceptualizaria, por assim dizer,
os nossos estudos sobre escolaridade e currículo.
Rememorar é um ato que se apoia em pontos de referências, momentos que marcaram
a lembrança individual. As recordações mais distantes permanecem submersas em nosso
inconsciente, e precisa na maioria das vezes evocá-las para que elas possam surgir. “Se as
lembranças às vezes afloram ou emergem, quase sempre é uma tarefa, uma paciente
reconstituição” (BOSI, 1994: 39).
As recordações são revestidas por valores e sentimentos que cada sujeito atribui as
etapas de sua vida, são modificadas com a visão que a pessoa tem da atualidade, ou seja, elas
passam por uma espécie de releitura.
* UFPI, mestranda no Programa de Pós-Graduação em História do Brasil.
Sobre a lembrança de velhos, o principal assunto tratado na obra de Bosi, se torna
pertinente para a compreensão deste trabalho, pois será possível construir a trajetória de vida
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como professora da senhora Joana Lima a partir da sua narração com base em sua memória.
Segundo Bosi (1994: 60):
Um verdadeiro teste para a hipótese psicossocial da memória encontra-se no estudo
das lembranças das pessoas idosas. Nelas é possível verificar uma história social
bem desenvolvida: elas já atravessaram um determinado tipo de sociedade, com
características bem marcadas e conhecidas.
As lembranças de pessoas idosas têm a característica idônea de apresentar as
evoluções/rupturas das sociedades. Uma fonte viva capaz de transcrever emoções históricas
de um dado momento.
A história oral é um dos meios de construção do passado e foi escolhida para narrar a
história da casa-escola, essa que não está incluída na História Oficial, é interessante salientar
que os relatos memoriais possuem um elevado grau de detalhes e a forma como é relatado
torna o fato mais vivo, mais perto. É proeminente ressaltar, mesmo que o ser que conta os
fatos seja participante daquele momento, as suas experiências de toda a sua vida, sejam elas
passadas ou atuais, vão de certo modo modificar a sua visão.
Pensar a memória historicamente é ver o quão relevante ela foi para as comunidades
não letradas ate chegar à sociedade da atualidade. O que podemos perceber é a importância
que cada uma delas atribui às lembranças e como elas a utilizam de acordo com sua
necessidade. Antonio Torres Montenegro (2013: 18) afirma: “A memória contém os
elementos básicos para a construção de uma concepção histórica”.
A memória coletiva está correlacionada com a individual, na qual um fato grupal se
entrelaça com a experiência pessoal, gerando conotações divergentes, isso se explica a partir
do ponto de vista do sujeito, isso porque a sua narrativa foi moldada de acordo com sua
subjetividade,
Uma memória coletiva se desenvolve a partir de laços de convivência familiares,
escolares, profissionais. Ela entretém a memória de seus membros, que acrescenta,
unifica, diferencia, corrige e passa a limpo. Vivendo no interior de um grupo, sofre
as vicissitudes da evolução de seus membros e depende de sua interação(BOSI,
1994: 408-411).
Le Goff (1990: 423) aborda: “A memória, como propriedade de conservar certas
informações, remete-nos em primeiro lugar a um conjunto de funções psíquicas, graças às
quais o homem pode atualizar impressões ou informações passadas, ou que ele representa
como passadas”. O sujeito sempre estará fazendo releituras na narração de suas experiências.
Sobre o cenário educacional piauiense, o Estado se empenhou em expandir o Ensino
Primário pelo território piauiense, tentando atingir principalmente os interiores, visto que à
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maioria da população residia na zona rural e consequentemente a taxa de analfabetismo era
alta. O censo demográfico de 1970 aponta que a população entre 5 a 14 anos de um total de
501.215, 403.880 não sabiam ler nem escrever.
Já se tinha em mente, para ter uma sociedade desenvolvida deveria investir em
educação,
Coube ao Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos (INEP), criado em 1937, por
iniciativa de Gustavo Capanema, ministro da educação naquele período, elaborar
um programa geral de construções escolares no interior do país, pois a inexistência
de prédios escolares era tida como um dos principais fatores que contribuíam para
o agravamento da situação do Ensino Primário no Brasil, vinculada a uma enorme
taxa de analfabetismo que o país possuía, especialmente, na zona rural (SANTANA,
2011: 65).
Prova disso, no estado piauiense vários municípios foram selecionados, de acordo com
a Repartição das Escolas no Piauí, produto dos acordos produzido com INEP 1948 –1952, em
Alto Longá – PI foi contemplado com quatro prédios escolares (SANTANA, 2011: 94). Um
avanço para educação dessa região, porém, não foi o suficiente para alcançar toda sua
delimitação territorial, a confirmação disso, é que a Lagoa Grande, o lugar da casa-escola em
foco, não foi alcançando. Aqui entra uma questão relevante a ser tratada referente aos
interesses políticos,
É notório que a política educacional dos governantes nos anos de 1940 a 1970
atendia precariamente à zona rural. Vale ressaltar que o critério de escolha dos
locais das construções ou reformas dos grupos escolares não estava exposto
claramente nas fontes escritas, o que leva à dedução de que isso se dava de acordo
com a demanda por matrículas e com os acordos políticos realizados entre os
fazendeiros e as lideranças políticas que estavam no poder naquele momento (SANTANA, 2011: 96).
A educação rural piauiense se desenvolveu de forma lenta e deficiente, por
consequência de vários motivos,
O ensino rural deixado a cargo do município enfrentava dificuldades, uma vez que
muitos deles não tinham condições de manter essas escolas em pleno
funcionamento. Assim, a maioria dos municípios não implantava políticas
educacionais que atendessem as necessidades locais e, em consequência, o ensino
era realizado em espaços sem uma estrutura própria, como, por exemplo, a casa da
professora ou de algum fazendeiro, onde era cedido um cômodo para que o poder
público municipal ofertasse o Ensino Primário (SANTANA, 2011: 85).
Essa situação exposta por Santana, explica a realidade que a educação rural piauiense
na década de 1970 sofria e que consequentemente alcançava a Lagoa Grande. A necessidade
de ter uma escola nesse ambiente para atender a população desse lugar, na qual os pais não
tinham condição financeira de sustentarem a educação dos filhos na cidade, impulsionou a
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iniciativa da professora aposentada Joana Lima, em meados de 1972, que cedeu um espaço da
sua própria casa e também exerceu o papel do magistério.
Mesmo com todos os esforços, essa educação ainda não seguia um modelo
educacional formal, visto que na maioria das vezes essa forma de ensino acontecia nas
fazendas, como é o caso também da casa-escola em foco.
Para uma melhor contextualização acerca dessa pesquisa histórica sobre a professora
Joana de Jesus Lima e a “sua” casa-escola em Lagoa Grande-PI – 1972 a 1984, faz-se
necessário um breve histórico sobre a vida dela voltada para os aspectos educacionais, os
quais foram norteadores para sua formação como docente. No Piauí, na localidade Belém do
Lobo em São João da Serra1, nasceu no dia 08 de novembro de 1934. Filha do lavrador e
criador de animais, Adilino José de Sousa e da dona de casa Josefa Maria da Conceição. Ela
foi concebida no leito de sua casa amparada por uma parteira. Sua mãe deu a luz a quatro
filhos, sendo ela a primogênita, todos ainda permanecem vivos.
Por volta de 1942, começou a estudar com aproximadamente oito anos de idade,
cursou o primário na escola pública em São João da Serra, por esse motivo ela passava a
semana toda na casa do senhor Quinca Freire, um comerciante e amigo da família. Nessa
escola, ela aprendeu além das noções básicas da alfabetização, também matérias de ciências
sociais, ciências e algo diferencial, em um dia da semana tinham aulas direcionada a fazer
bordados, porém, esse módulo era destinado apenas para as meninas, os meninos nesse
mesmo horário realizavam outros tipos de atividades, mas as alunas tinham que levar os
materiais. Essa escola funcionava numa casa alugada pela prefeitura.
A metodologia que as professoras empregavam começava com uma carta de ABC, na
qual os alunos liam essa cartilha, depois escreviam, esse método auxiliava no aprendizado de
maneira satisfatória. Eram passadas lições com base nos livros, um desses livros que a
memória da professora Joana Lima nos permitiu saber foi o pequeno escolar, depois de feito
os exercícios os alunos deveriam ler para a professora. Outro tipo de atividade frequente eram
os ditados, na qual tinha como base palavras retiradas desse material didático.
Por volta de 1945, o senhor Adilino José de Sousa, se mudou com toda a família para
a Caiçarinha, lugarejo compreendida nos limites de Alto Longá2, porque idealizava que nessas
1São João da Serra é um município brasileiro no estado do Piauí, Distante da Capital Teresina, a 120
quilômetros, microrregião de Campo Maior. A cidade de São João da Serra localiza-se a uma altitude de 155 m.
O município, com uma área total de 959,1 km², tem apenas 6 760 habitantes, o que corresponde a uma densidade
demográfica de 7,05 h/km². Fonte: Wikipédia 2 Alto Longá é um município brasileiro do estado do Piauí. Localiza-se a uma latitude 05º15'04" sul e a
uma longitude 42º12'37" oeste, com uma altitude de 170 metros. Sua população pelo censo de 2007 era de
13.612 habitantes, com uma área de 1.621 km². Fonte: Wikipédia.
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novas terras seria melhor para criar os animais pelo fato de estar mais próximo dos familiares.
Nesse novo lugar, a professora Joana Lima e seu irmão Manoel Quirino estudaram em uma
escola particular em Bom Princípio, localidade de Alto Longá, por já serem mais velhos que
os outros irmãos, com o professor Pedro Gomes, na casa de Zé Moreira, amigo da família,
lavrador e criador de animais, ele possuía filhos que ainda não eram alfabetizados, nessa
escola também estudaram mais crianças e adolescentes. Ela durou cerca de seis meses, pelo
fato dos filhos do dono terem aprendido o básico e o pai deles não ver mais sentindo a
continuar pagando e mantendo essa escola. Prática bastante comum, nas quais o aluno
frequentava as aulas durante o tempo que os pais achassem necessário. Logo após esse
período a professora Joana Lima parou de estudar.
O seu percurso de aprendizagem que a professora Joana Lima absorveu, foi de suma
importância na constituição do seu saber docente e em suas práticas pedagógicas, visto que
ela fez parte da categoria denominada como professores leigos, os quais aplicavam em sua
metodologia o ensinamento de mestres anteriores, posto que era o principal tipo de referência
que se poderia ter.
No dia 12 de setembro de 1950, a professora Joana Lima casou com Aristides Lima, a
cerimônia foi realizada na sala principal da casa grande, na Lagoa Grande3, quem realizou a
consagração de casamento foi um juiz. Essa nova senhora teve uma juventude efêmera, essa
fase de sua vida foi encerrada com o seu casamento, tendo ela apenas 15 anos. Começa, então,
uma etapa de adaptação ao casamento, ser uma dona de casa. Em meados de 1972, por
iniciativa própria, decide abrir uma escola em sua casa para alfabetizar as crianças da
comunidade.
Evidenciar a casa-escola é envolvê-la no assunto da educação rural piauiense e
demonstrar algumas mazelas desse passado. Ou seja, para compreender a sua estrutura,
funcionamento, normas, práticas, ensino é preciso conhecer o meio em que ela esteve
inserida.
No Piauí, era comum a presença de professores leigos responsáveis pela alfabetização
da população, ou seja, docentes que não tiveram uma formação formal para seguirem
profissão. Sobre o assunto, a professora Joana Lima (2013) afirma: “Tenho formação no
3 O lugarejo na qual ela residiu após casar-se. O seu marido era o vaqueiro responsável pelas atividades
pecuaristas na fazenda. Em 1975, a professora Joana Lima e o senhor Aristides Lima compraram a fazenda na
Lagoa Grande do doutor Franklin, pela quantia de 15 milhão de cruzados.
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segundo grau pedagógico LOGOS II. Enquanto estava funcionando a escola e eu estava
estudando o LOGOS II4”. Foi em meados de 1980 que ela iniciou esse curso.
Uma das questões norteadores dessa pesquisa: quais foram os motivos que a
impulsionaram a fundar uma escola dentro de sua casa? Sobre isto, a professora Joana Lima
justifica:
Foi porque eu vi a necessidade, e eu devia enfrentar, porque só eu que podia
enfrentar. Eu me atrevi enfrentar e eu acho que eu fiz uma tarefa forte, pesada. Lá
ninguém sabia ler nada! Lá onde eu morava se chegasse uma carta na casa do
Deca Cabral nenhum filho dele sabia ler e levavam pra mim ler. Não tinha escola
perto, só no Novo Santo Antônio5 era duas léguas não dava pras crianças irem, a
maioria não tinha bicicleta. No inverno tinha o rio cheio, riacho que não dava pros
alunos ir, ai ficava todo mundo em casa, ninguém ia pra escola (LIMA, 2013).
Essa escola que a professora Joana Lima criou dentro da sua casa, possibilitou àquelas
crianças a oportunidade de serem alfabetizadas. Por mais que existisse uma ou outra escola
desse tipo naquela região no interior de Alto Longá, tudo era mais difícil por conta da
distância e consequentemente a dificuldade de locomoção.
Sobre o processo que ela enfrentou para conseguir oficializar a escola na sua casa, a
professora Joana Lima esclarece o seguinte:
[...] Eu fui na casa do Pedro Henrique, foi Pedro Henrique que me ajudou a
começar a escola lá (lagoa grande). Mas eu foi que vim na casa dele e ele foi quem
me ajudou, me levou até o campo maior para mim tirar uma carteira, pra poder
assinar, porque eu trabalhei dois anos de serviço prestado, porque não tinha
carteira ai ele levou em campo maior pra mim tirar a carteira, pra poder assinar a
carteira, pra registrar que a escola era da prefeitura (LIMA, 2013).
Nesta passagem fica claro o envolvimento político. É relevante destacar que na
dissertação da Santana, ela explicita sobre esse tema e deixa claro que era comum a relação
dos educadores com a política. A respeito da Professora Joana Lima, ela foi procurar apoio
para a realização do seu desejo.
Depois de oficializada, a professora Joana Lima anunciou para os pais da região sobre
a escola que iria funcionar em sua casa. Segundo Maria de José, ex-aluna: “ela avisou que ia
dar aula né, que ia abrir essa escola e queria que os pais fossem fazer a matrícula dos filhos e
fez o convite pra gente participar” (SALES, 2015).
4 Esse curso era destinado aos professores leigos, seu objetivo geral é "habilitar, em nível de 2°. grau, para
lecionar até a 4ª série do 1º grau, com avaliação no processo, mediante ensino à distância, aplicado através de
módulos de ensino, professores não titulados, em exercício no magistério nas quatro primeiras séries do 1º grau”.
Fonte: http://www.rbep.inep.gov.br/index.php/emaberto/article/viewFile/2182/1451 data: 20/05/15 hora:
22h11min. 5Novo Santo Antônio é um município brasileiro do estado do Piauí. Localiza-se a uma latitude 05º17'18" sul e a
uma longitude41º56'00" oeste, estando a uma altitude de 180 metros. Sua população estimada em 2004 era de 3
129 habitantes, fonte: Wikipédia.
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Com relação ao espaço físico da escola, ou melhor, como ela organizava a sala de aula
da casa-escola, na qual buscava adequar a estrutura à realidade do momento, além de destacar
os seus materiais didáticos e sua metodologia, a professora Joana Lima relata:
Era só uma sala, eu ensinava de 1º a 4º série, mas, eu repartia, como as séries
assim: como quem faz trabalhos em grupo, nesse canto fica o primeiro ano, naquele
fica o segundo e assim até a quarta série. Para copiar os alunos de segundo ano, os
de primeiro ano eu escrevia no caderno, os de segundo ano eu escrevia no quadro;
ai então eu botava matemática para os de quarto ano e fazia um ditado para os de
terceiro ano, atendia todos, tudo ao mesmo tempo. Eu mandei fazer uns bancos para
os meninos sentar e a mesa também era minha, o quadro também era meu, a sala
era na minha casa, tudo era meu. O quadro, o giz (era a prefeitura que fornecia).
Eu tinha o diário de anotar a presença dos meninos e o livro do professor pra dar
aula. Frequentava uns trinta, vinte e tantos alunos. Era tudo misturado. A primeira
série era junto com os outros, que não dava pra separar não. Tudo junto (LIMA,
2013).
O formato utilizado pela professora para a dinamização dos alunos tem um caráter
multisserial, que consiste do docente ensinar alunos de séries diferentes em um mesmo local,
ou seja, divide as atividades e conteúdos para os alunos de diferentes níveis, que geralmente
eram repartidos entre ler, escrever e contar. A respeito disso, a ex-aluna Maria de José e a
professora Joana Lima explanam sobre as dificuldades dessa realidade do ensino:
[...] Às vezes o aluno até misturava uma coisa com a outra né, era difícil também
pra gente, tanto era difícil pro professor como pra gente, porque bem aqui, eu
acabava de ver uma aula do segundo ano, agora é aula do terceiro do ano, isso
mexia com a gente (SALES, 2015).
[...] Porque não tinha quadro, não tinha giz, era no lápis, no caderno, eu escrevia
no caderno pro aluno copiar, aí depois foi que eu mandei fazer um quadro, era tão
difícil que nem material não tinha, um quadro lá na cidade a gente não arranjava,
era tudo difícil, enquanto não teve o quadro era muito difícil (LIMA, 2015).
São perceptíveis pelos relatos das entrevistadas as dificuldades que enfrentavam
com a estrutura deficiente da escola, dificultando assim o ensino. A professora Joana Lima
expõe o problema presente em seu dia-a-dia na atuação como profissional, isso fica claro
quando declara que era mais complicado sem o quadro, visto que esse instrumento a ajudaria
dinamizar melhor a sua didática.
Fazendo uma breve síntese, essas escolas do meio rural eram destinadas
primordialmente a ler, escrever e contar, princípios básicos da educação e a casa-escola não
foge dessa regra, assim, o depoimento da professora aposentada Joana Lima confirma esse
fato:
Ensinava a ler, escrever, gramática e matemática. A prefeitura as vezes fornecia
livros, quando não eram pra todos, mas pra séries mais alteradas, por exemplo a
quarta série, a terceira e por ai, ai os primeiros eu ia ensinando mesmo nos
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caderno, para atividade melhor que eles tavam precisando era ler e escrever. Eu
ensinava escrever o nome dele, o nome do pai, da mãe, da localidade, fazia assim as
colunas de palavras pra eles copiar ou então mandava eles escrever uma coluna de
palavras começada com tal letra, por exemplo: c, n, j; e ai então a gente navegava
pra frente. Eu dava aula de todas as matérias de primeiro a quarto ano. Dava as
primeiras letras que era silibas e o abc, a gente sempre usava o abc e ler e escrever
para os meninos de primeira e segunda serie, agora os de terceiro e de quarto a
gente avançava mais, dava uma gramática, dava a matemática, que quando o
menino chegava na terceira série, ele já sabia ler, porque no primeiro e no segundo
ele só fazia letra e não sabia ler. Os bem pequenininho eu escrevia nos cadernos e
ficava perto deles (LIMA, 2013).
Nesse trecho, a entrevistada expõe o seu cotidiano escolar, a sua forma de atuação e
sua didática. Essa narração é rica em detalhes sobre o trabalho que ela desenvolvia em sala de
aula e a precisão dos fatos é surpreendente. De acordo com Ecléa Bosi (1994: 53): “A
lembrança é a sobrevivência do passado. O passado conserva-se no espírito de cada ser
humano, aflora à consciência na forma de imagens-lembrança”.
A professora Joana Lima descreveu práticas educacionais do momento, geralmente
essas escolas rurais seguiam uma metodologia semelhante. É interessante a forma como ela
separava as lições e os conteúdos, passando desde as primeiras letras à matemática, tudo em
um mesmo dia.
Outra característica proeminente da casa-escola, ela aplicava o método lancasteriano
ou mútuo6, Lima (2013) relata: “quem me ajudava era os mesmos meninos que sabiam mais
um pouco, eu mandava eles ensinar a lição para aquele que nada sabia”. Como ela não
possuía ajudante, era viável esse método, assim facilitava para ela dar assistência a todos os
alunos, já que eram muitos.
É interessante também escutar os alunos que estavam sendo instruídos pela professora
Joana, seus ex-alunos Maria José, Carmeci e Agenor se posicionaram quanto ao assunto:
[...] Mas eu lembro muito que a tia Joana botava muito pra gente fazer cópia,
ditado, ler livro, né, toda semana tinha o dia da leitura do livro, aquele que não
fazia a leitura ficava num cantinho até aprender e a gente aprendia mesmo, né, uma
forma assim que hoje não usam mais, mas era tão interessante, né. [...] Uma
contona! Ela gostava muito de passar conta, e eu não aprendi muito na época, eu
nunca fui boa de matemática, é porque eu não aprendi mesmo. Matemática e
português era bem explorado (SALES, 2015).
[...] Primeiramente era assim, a gente estudava só o ABC minúsculo, quando a
gente aprendia aquele minúsculo a gente ia pro maiúsculo. A gente só passava de
um pra outro quando sabia aquele mesmo, ta entendendo? Do maiúsculo a gente
aprendia a gente ai pro B A Ba, aí quando terminava o B A Ba todinho que
aprendia mesmo ai ia para os nome (SOUSA, 2015).
6 Sua elaboração inicial é atribuída ao educador inglês Joseph Lancaster, e tem como característica principal o
fato de utilizar os próprios alunos como auxiliares do professor. (FILHO, 2000: 141).
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[...] É com a cartilha de ABC suletrando be a ba; be e be; be i bi; be o bo era
assim. Eu li a cartilha do ABC e li uma revista e um livrozin que parecia uma
revista e pronto, aí botava pra nós tirar conta de somar, diminuir, multiplicar tudo
na caneta, naquele tempo nem calculadora não existia não, era tudo na caneta
(ROCHA, 2015).
O cotidiano escolar explicitado pela professora Joana Lima e pelos seus ex-alunos
trazem características próprias do momento, especificidades das práticas educacionais do
meio rural. Direcionada mais para o aprendizado das letras, desencadeando outras etapas,
depois as silabas, as formações das palavras e assim até de fato aprender a ler.
A educação no meio rural tinha um formato simples e não perde o seu significado, até
hoje é relembrado pelos alunos, que mostram um sentimento de satisfação e gratificação,
porém, a realidade para eles nesse período da década de 1970 apresentava algumas
dificuldades principalmente referentes à parte financeira. Mas, para o bom funcionamento de
toda escola é necessário materiais didáticas, embora os mais simples que sejam. A respeito
desse tópico, as entrevistadas narram o seguinte:
[...] O pai que comprava, quando entrou o Hugo Napoleão foi que deu caderno
pros menino, mas antes eram os pai que comprava o caderno e o lápis eu mesmo dei
muitos lápis pros menino que eu comprava logo era um bocado pra não faltar, folha
de papel, as vezes eu botava um caderno assim na sala de aula, fulano hoje não
escreveu porque não tem papel, pegava tirava uma folha do caderno: pegue
escreva, enquanto seu pai compra. Porque os pai era pobre não era todo dia que
tinha e eu dava uma folha pra aquele menino naquele dia escrever, bichin escrevia
por um lado escrevia pro outro, tanto que hoje tem aluno que só começa escrever no
caderno e já estrói, estraga, eh. [...] Era papel de embrulho é que os comerciante
ante dessas sacola usavam eram umas folhonas de papel pra embrulhar a
mercadoria e aí a gente comprava porque era mais barato e dobrava pro menino
escrever ali, enquanto dava certo pra comprar... [...] olha, uma só borracha, eu
comprava os lápis para os menino porque naquele tempo os lápis não vinha com
borracha, mas eu comprava uma borracha e botava em cima da mesa, uma
borracha pra todo mundo, ninguém tira de cima da mesa! E eu tinha cuidado de na
hora que saírem quem foi que botou a borracha? quem foi que pegou a borracha?
Se por acaso a borracha não tivesse em cima da mesa que ali o menino tava ali
precisava pegar, usava e botava lá em cima da mesa que era pra outro, a borracha
era pra todo mundo que eu não podia comprar uma borracha pra cada um,
comprava só uma borracha pra todos (LIMA, 2015).
[...] Tudo era por conta da gente essa parte aí, papai comprava caderno e lápis, na
época não recebia ajuda de nada, tudo era bem mais simples mesmo. Até pro
professor dá aula era difícil o material didático era muito pouco mesmo (SALES,
2015).
[...] a gente ganhava só um caderninho dos bem pequeninho e um lápis. O outro
caderno o pai da gente tinha que comprar o pai da gente às vezes não podia
comprar, às vezes arrancava a folha de outro caderno lá. La no comercio enrolava
a mercadoria era com um papelzinho amareladinho aí às vezes a gente levava
aquele papel, as vezes a gente não tinha e levava aquele pedaço de papel pra ficar
escrevendo até ver se o pai podia comprar o cadernhio pra gente porque a escola
dava pouquinho e a gente estregava rapidinho, que era bem... Era umas dezoito
folhinha, o máximo era dezoito folhazinha talvez e era pequeninho os cadernhio,
então aí o quê que acontecia, ai acabava e não tinha nem um centavosim pra
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comprar, aí ficava naquelas folhinha mesmo, aí a professora ficava juntando lá as
folhinha as folhinha pra no final do mês ficar tudin direitin. Era difícil de mais,
muito difícil! O lápis ficava o pedacinho de madeira acabando entrando na
borrachinha e a gente pegando com os dois dedinhos pra poder fazer as letrinha
porque acaba e não tinha como comprar. Era difícil, muito difícil! (SOUSA, 2015).
Esses relatos comprovam que a vontade de aprender era maior que as dificuldades,
tornando assim a educação resistente e forte com o passar dos anos. A sede de conhecimento
amplia os horizontes e supera as barreiras.
A casa escola funcionava de segunda a sexta no turno da tarde. É conveniente salientar
que naquele período da segunda metade do século XX, a Lagoa Grande e nas suas
redondezas, a base da economia era a agricultura e a pecuária, os pais tinham a ajuda dos seus
filhos nesse serviço, vejamos qual era o posicionamento dos pais com relação aos filhos irem
à escola, a professora Joana Lima suas ex-alunas Maria de José e Carmeci relatam:
[...] Tinha não, os pais tudo queriam, porque quem é que não quer que os filhos estudem? Só obrigavam os filhos a ir pra roça de manhã ao mei dia e levava os meninos, quando eles vinham passavam no riacho tomavam banho, iam pra casa almoçar ai vinha correndo alegre porque viam para o colégio, ai meu Deus que tempo (LIMA, 2013).
[...] Sim, incentivavam principalmente a mamãe, a minha mãe lutava muito pra gente ir, muitas vezes o papai desviava a gente da sala de aula pra ir trabalhar com ele na roça, aí a mamãe falava: deixa as meninas estudar, tira essas meninas da roça, ai a gente fazia as duas coisas ia pra roça pela manhã e a tarde ia pra escola (SALES, 2015)
[...] Meu pai às vezes falava assim: não hoje não vai não, hoje vai é pra roça a gente vai plantar, vai fazer isso e minha mãe: Manelo não pode fazer isso com as menina elas têm que estudar, eu não tive essa opostunidade, não aprendi nada, mas já que elas tem essa opostunidade de ir até a escola tem que deixar as menina ir. Minha mãe sempre batalhou por isso. Meu pai achava melhor levar pra roça pra ajudar ele porque era sozinho e a família muito grande, né, não tinha vencimento de nada, tinha que plantar muito chão pra ter muito ligume mesmo pra poder vender pra comprar outras coisas o óleo, café, o açúcar, essas coisas assim, né. Por isso que os pais da gente tinha que tirar a gente da escola e levar pra roça por causa disso (SOUSA, 2015).
A partir dessas narrações, fica ilustrado o cotidiano daquela época. A educação se
adéqua a essa realidade para se desenvolver. Os pais entendiam a importância do ensino para
seus filhos, apesar das dificuldades que enfrentavam nesse ambiente rural, o sustento provinha
da terra, da roça e em outros casos também da criação de animais.
Um assunto pertinente sobre a educação das décadas passadas é a temida palmatória,
instrumento de punição presente no meio escolar como forma de inibir o mau comportamento.
A respeito disso, a ex-aluna Carmeci e a professora Joana Lima declaram:
[...] Lá quando a gente chegava lá a gente estudava quando tava pra sair, a
professora chamava por nome de cada aluno e cada um ia ler uma página do livro,
se a gente errasse uma letrinha daquela ela já chamava a gente pegava nos dedo da
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gente e tinha uma palmatória aí dava três lapada da mão da gente e tinha gente que
chorava mesmo. Amanhã você vai dizer direitinho, você vai aprender, vai estudar
hoje à noite e amanhã você vai dizer todos os nome completo. No outro dia a gente
chegava lá a gente e dizia o nome completo e não pegava mais a palmatória. E era
assim! (SOUSA, 2015).
[...] Tinha e foi usado poucos dias porque eu mesmo não quis ficar com palmatória,
mas naquela época tinha. [...] Sim, mas depois eu desisti. Eu botava eles mesmo pra
se usarem quando faziam uma entrevista que se chamava argumento aí eu dizia
assim: fulano vai assoletrar a palavra chocalho, aí ele não sabia se outro soubesse
assoletrava e dava o bolo nele, eu mesmo pegar um pra bater nunca bati, era assim
(LIMA, 2015).
Nesses relatos é evidente uma pequena divergência. A memória que se evoca pode ser
transmitida de uma forma mais afável pelo entrevistado, isso porque na narração dessas
lembranças julgam elas de acordo com o seu trajeto de vida, se pauta em valores atuais. A
punição, hoje em dia em sala de aula, é vista com argumentos negativos, porém, há décadas
atrás era uma prática corriqueira e aceitável.
Em toda escola, seja ela humilde ou sofisticada, existem procedimentos para avaliar o
desempenho dos alunos. A professora Joana Lima explica como ocorria esse processo:
[...] Fazia. Era só quatro, porque a gente começa em março, abril, maio e junho e
logo ficava o mês todinho de férias em julho, era o tempo que iam ajudar os pais na
roça, apanhar os legumes. Ai quando começava em agosto ai continuava. Tinha oito
prova dentro do ano. Para quem não sabia ler ditava, a prova era oral, para quem
sabia ler escrevia a prova no caderno e depois que eu mandei fazer o quadro eu
escrevia no quadro, pra eles copiarem e depois responderem (LIMA, 2015).
O processo de avaliação se adéqua a realidade que está inserida. Mesmo que de forma
simples, a professora Joana arrumava maneiras para aplicação de provas e adaptava o teste de
acordo com as carências dos alunos.
Em toda instituição de ensino é necessário uma boa relação entre professor e aluno,
essa é outra instância importante na composição do processo de ensino e aprendizagem. Sem
ela a educação fica debilitada e não consegue alcançar o alvo almejado. Sobre esse assunto as
entrevistadas a professora Joana Lima e a ex-aluna Maria de José relatam o seguinte:
[...] Naquele tempo os meninos, tinha respeito e consideração pelo professor, era o
mestre, era o mestre mesmo. Não é como hoje depois do conselho tutelar, que os
meninos não respeitam ninguém, nem mesmo os pais e muito menos os professor
(LIMA, 2013).
[...] A gente aprendeu muito, a gente ia com interesse pra sala de aula, né, tinha
muito interesse o aluno naquela época ia pra brincar não e tinha mais se a gente
ficasse na brincadeira bastava a professora mandar o recado: diga pra Manel ou
diga pra João que o filho dele não se interessou, aí meu filho já era castigo em casa
já tava no ponto, agora não a gente vê uma professora reclama com o filho o pai dá
é o apoio pro menino aí fica difícil, né (SALES, 2015).
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A educação na casa como escola tinha um caráter disciplinador, mas essa
característica se aplica a maioria das instituições do século XX. Pelos relatos se percebe uma
relação respeitosa e com pudor, uma particularidade que podemos destacar no discurso das
entrevistadas é a necessidade da comparação do tempo passado com o tempo presente
referente à educação, isso imprime a sensação que o ensino naquele período era melhor.
O cotidiano escolar marca a vida dos estudantes, muitos guardam na memória
momentos felizes e também infelizes desse período. Amigos, brincadeiras, professor entre
outros, fazem parte desse conjunto. Sobre isto, a ex-aluna Maria de José e a ex-aluna Carmeci
relatam algumas experiências referentes à vida escola:
[...] Era correndo atrás do outro, era brincando de roda, era cantando, chupando
limão debaixo dos pé de limão saber quem mais chupava limão que outro. Uma vez
eu com a Mariana, me lembro de mais nós pegamos uma aposta pra saber quantos
limão a gente chupava sem fazer cara feia olhando olho no olho. [...] Agora uma
coisa que a tia Joana fazia sempre todo dia era cantar o hino do Piauí. Antes de
iniciar a aula vamos cantar um hino, muito bonito eu achava isso da parte dela,
cantava o hino do Piauí e o hino do Brasil. A gente desenhava a bandeira do Brasil,
a família da gente, a casa da gente, desenhe você e a professora, hoje é o dia do
professor bora desenhar a professora aí desenhava a gente fazia aquele desenho,
chegava “nam será que sua professora é desse jeito, será que ela não ta com a
barriga muito grande ou é porque minha barriga é grande mesmo?” Ela gostava de
brincar assim com a gente, era muito gostoso (SALES, 2015).
[...] Tinha a lição da mamãezinha, mamãezinha você é linda mais que ninguém,
mamãe me beija me faz carinho, me ensina a ser bonzinho [...] cumade, você se
lembra que a gente parava nos pé de jatobá e derruba um monte de jatobá e comia
ia comendo, oh mermã do céu chega se entalava os meninos na estrada faltava
morrer porque ele tem uma massa, não dava, a aguinha da boca não dava conta
(SOUSA, 2015).
São essas situações simples que marcam todo um período de vida estudantil,
atividades feita em sala de aula, brincadeiras que eram realizadas pelos alunos na escola, a ida
para as aulas, todos esses momentos são formados por características simbólicas que são
guardadas por esses sujeitos em um espaço da memória que podemos denominar de lugar
feliz. Atitudes da professora como o ato de cantar o hino do Brasil e Piauí junto com a turma
revela o patriotismo. O ato de lembrar é “Na maior parte das vezes, lembrar não é reviver,
mas refazer, reconstruir, repensar, com imagens e ideias de hoje, as experiências do passado”
(BOSI, 1994: 55).
É de extrema relevância para essa pesquisa saber qual foi a importância que a casa-
escola teve na vida desses ex-alunos, eles relatam: “Só assinei o nome e escrevi pouca coisa”
(ROCHA, 2015).
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Naqueles tempo a gente não tinha muita opostunidade mesmo pra estudar, né, aí
quando eu já fui estudar eu já tinha quase 10 anos de idade, né, e o pouco que eu
aprendi foi com a dona Joana Lima, o pouquin que eu aprendi mesmo foi com a
dona Joana Lima mesmo (SOUSA, 2015).
A importância foi muito grande assim, porque a gente não tinha estudo em quase
nada, né, antes de estudar lá na casa-escola o papai tinha pago uma escolinha
particular pra gente e a gente só conheceu algumas letras e o primário mesmo foi
feito com a tia Joana Lima... Com certeza, como serviu o que eu aprendi foi com a
tia Joana Lima [...] (SALES, 2015).
Os ex-alunos da professora Joana Lima trazem em seus discursos gratidão, como eles
mesmos expuseram não se tinha muita oportunidade no meio social em que eles viviam e foi
através da sua iniciativa que eles conseguiram, mesmo que de maneira simples, se alfabetizar.
A educação da casa-escola serviu de base para aqueles que prosseguiram nos estudos e
também para aqueles que não seguiram, de uma maneira geral todo o aprendizado desse
período serviu de suporte para a vida.
De acordo com as informações recolhidas das entrevistas com os ex-alunos eles
começaram a estudar com cerca de oito a dez anos de idade e o período que ficaram na escola
foi de aproximadamente de dois a quatro anos. Na casa-escola funcionava apenas o primário.
Para alguns alunos essa escola foi a única oportunidade de ensino que tiverem em toda a sua
vida. Outros prosseguiram nos estudos.
A professora aposentada Joana Lima era e ainda é muito respeitada pelos seus ex-
alunos. Ela desempenhou um belíssimo papel como educadora e ainda colhe frutos desse
período saudoso. Contribuiu, mesmo que de maneira ínfima, a diminuir os índices de
analfabetismos, mas marcou de maneira feliz a vida desses alunos, e reconhecem que
aprenderam a ler, contar e somar com a professora Joana em uma escolinha tão simples,
porém muito acolhedora. E guardam em suas lembranças esse tempo cheio de
particularidades.
REFERÊNCIAS
BOSI, Ecléa. Memória e sociedade: lembranças de velhos. 3. ed. São Paulo: Companhia das
Letras, 1994.
COSTA, Alcebíades Filho. A escola do sertão: ensino e sociedade no Piauí, 1850-1889.
Teresina: Fundação Cultural Monsenhor Chaves, 2006.
LE GOFF, Jacques. História e memória; tradução Bernardo Leitão, Campinas, SP Editora da
UNICAMP, 1990.
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MONTENEGRO, Antonio Torres. História Oral e Memória: a cultura popular revisitada. 6.
ed., 2ª reimpressão. São Paulo, Contexto, 2013.
SANTANA, Maria do Perpetuo Socorro Castelo Branco. A constituição da rede escolar e a
prática das professoras primárias na zona rural do Piauí nos anos de 1940 a 1970. 2011.
179 f. Dissertação (Mestrado em Educação), Universidade Federal do Piauí, 2011. Site
http://www.ufpi.br/subsiteFiles/ppged/arquivos/files/DISSERT%20Socorro%20Santana.PDF,
Acesso em: 10/07/15.
SOUSA, Jane Bezerra de. Ser e fazer-se professora no Piauí no séulo XX: a história de
vida de Nevinha Santos. 2009. 236 f. Dissertação, Universidade Federal de Uberlândia,
2009. Site https://www.fe.unicamp.br/revistas/ged/histedbr/article/viewFile/3789/3205, Data
de acesso: 16/07/15.
ENTREVISTAS
Entrevista concedida por LIMA, Joana de Jesus. [Abril de 2013]. Entrevistadora Jéssika
Maria Lima. Alto Longá, 2013.
___________. [Julho de 2015]. Entrevistadora Jéssika Maria Lima. Novo Santo Antonio,
2015.
Entrevista concedida por ROCHA, Agenor. [Julho de 2015]. Entrevistadora Jéssika Maria
Lima. Novo Santo Antonio, 2015.
Entrevista concedida por SALES, Maria de José Sousa. [Janeiro de 2015]. Entrevistadora
Jéssika Maria Lima. Novo Santo Antonio, 2015.
Entrevista concedida por SOUSA, Carmecir de Jesus. [Janeiro de 2015]. Entrevistadora
Jéssika Maria Lima. Novo Santo Antonio, 2015.