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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO FACULDADE DE DIREITO ESPECIALIZAÇÃO EM DIREITO AGROAMBIENTAL E SUSTENTABILIDADE LIMIARES PLANETÁRIOS: os impactos das atividades humanas no Meio Ambiente KARINA MARTINS Cuiabá - MT 2016

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

FACULDADE DE DIREITO

ESPECIALIZAÇÃO EM DIREITO AGROAMBIENTAL E SUSTENTABILIDADE

LIMIARES PLANETÁRIOS: os impactos das atividades humanas no Meio Ambiente

KARINA MARTINS

Cuiabá - MT

2016

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

FACULDADE DE DIREITO

ESPECIALIZAÇÃO EM DIREITO AGROAMBIENTAL E SUSTENTABILIDADE

LIMIARES PLANETÁRIOS: os impactos das atividades humanas no Meio Ambiente

KARINA MARTINS

Projeto de monografia submetido à Universidade Federal de Mato Grosso - Faculdade de Direito, para conclusão do curso de Especialização em Direito Agroambiental e Sustentabilidade.

Orientador: Dr. Carlos Teodoro José Hugueney Irigaray

Cuiabá - MT

2016

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KARINA MARTINS

LIMIARES PLANETÁRIOS: os impactos das atividades humanas no Meio Ambiente

Projeto de monografia submetido à Universidade Federal de Mato Grosso - Faculdade de Direito, para conclusão do curso de Especialização em Direito Agroambiental e Sustentabilidade.

Orientador: Dr. Carlos Teodoro José Hugueney Irigaray

Cuiabá, 01 de abril de 2016.

Banca Examinadora

_____________________ Prof. Dr. Nome completo

_____________________ Prof. Dr. Nome completo

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“Partindo do pressuposto, compartilhado por vários autores, de que a problemática da degradação ambiental reside no

modelo econômico, cultural e antropocêntrico adotado na modernidade, que caminhos poderemos trilhar

para um novo modelo de desenvolvimento? Como conscientizar a humanidade para a necessidade da mudança nos

hábitos de produção e de consumo? A complexidade da problemática ambiental poderá conduzir

o ser humano a uma nova forma de ver e compreender as relações estabelecidas entre sociedade

e natureza?” (VILAS-BOAS, 2002, p.6).

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 7 CAPITULO I 11 1. ERAS GEOLÓGICAS E O USO DOS RECURSOS NATURAIS NO

PLANETA 11 1.1.Holoceno 12

1.2.Antropoceno 13

1.3.Aceleração no uso dos recursos naturais 15 CAPITULO II 20 2. LIMITES PLANETÁRIOS 20 2.1.Mudanças climáticas 23

2.2.Perda de ozônio estratosférico 26

2.3.Outros impactos decorrentes da ação humana 28

2.3.1.Acidificação dos oceanos 28 2.3.2.Perda de biodiversidade 31 2.3.3.Mudança no uso do solo e dos recursos hídricos 32 CAPITULO III 35 3. DESAFIOS E PERSPECTIVAS 35 3.1.Onde estamos? 35

3.2.O que precisa ser feito 38

CAPITULO IV 44 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS 44 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 47

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Estimativa da posição atual dos limites planetários desde a

época pré-industrial até a atualidade. A área verde é considerada segura, no espaço

operacional terrestre; a área em amarelo indica a entrada na zona de incerteza; e a

área em vermelho é a região de alto risco. As variáveis de controle foram

normalizadas para comparação. Três processos que ainda não é possível quantificar

adequadamente são mostrados em cinza: carga de aerossóis atmosféricos, perda

de biodiversidade funcional e novos riscos, tais como poluição química.

Fonte: STEFFEN et al. (2015a). Disponível em: https://agenda.weforum.org/wp-

content/uploads/2015/01/slika2.jpg. Discutido em ROCKSTRÖM et al. (2009) e

STEFFEN et al. (2015a, 2015b)

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho aborda os limiares planetários e os impactos das

atividades humanas no Meio Ambiente. Mostra-se relevante diante do notório

conhecimento de que o planeta Terra está sob sérias ameaças decorrentes do

crescimento da população humana e do desenvolvimento industrial e tecnológico.

Com o término da última glaciação e o início da nova era geológica, o

Holoceno, o clima tornou-se mais ameno e estável. Propiciou-se as condições

climáticas ideais para o desenvolvimento do ser humano. Neste período a

humanidade começou e expandiu as atividades agrícolas, a domestificação dos

animais e a construção das cidades. O homem passou de caçador, coletor e

nômade para estágios de intervenção cada vez mais agressivos ao meio ambiente.

Desde, então, o crescimento da influência humana no ambiente foi

intenso. identifica-se que a humanidade tem afetado não só o clima da Terra, mas

também a química dos oceanos, os habitats terrestres e marinhos, a qualidade do ar

e da água, os ciclos de água, nitrogênio e fósforo, alterando os diversos

componentes essenciais que sustentam a vida do planeta.

Há quem afirma que avaliando o grau de impacto ambientalmente

destruidor das atividades humanas, o mundo entrou em uma nova era, a do

Antropoceno. Identificando seu início com a ultrapassagem das fronteiras

planetárias, limites geobiofísicos para a existência segura da espécie humana sobre

a Terra.

Em 2009, um grupo de cientistas liderado pelo Stockholm Resilience

Centre (SRC) identificou nove dos chamados “limites planetários” - eles são limites

ambientais seguros dentro dos quais a humanidade pode se desenvolver sem que

os impactos causados ao meio ambiente sejam irreversíveis. Esses limites levam em

conta a taxa de resiliência do planeta, ou seja, a capacidade do planeta retornar ao

seu estado natural após uma perturbação.

Os estudiosos alhures mencionados, concluíram que três, dos nove

identificados, limites já foram ultrapassados, sendo eles a perda de biodiversidade,

as mudanças climáticas e as alterações do ciclo do nitrogênio (que é uma subdivisão

do limite planetário "ciclos biogeoquímicos”).

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Em janeiro de 2015, a revista Science publicou um estudo que mostra o

quarto limite: os abusos no uso da terra. Em seguida, há a acidificação dos oceanos,

o ciclo do fósforo (segunda subdivisão dos "ciclos biogeoquímicos"), as mudanças

no uso da água e a degradação da camada de ozônio.

Tratar de limites ambientais e tentar minimizar os impactos da ação

humana sobre eles é desafiador, principalmente quando uma das fronteiras é

extrapolada. Isto se deve ao fato de que tudo é inter-relacionado no ecossistema

terrestre. Impactos significativos em uma fronteira podem, por consequência, causar

danos a uma outra.

A preservação dos recursos naturais é a única forma de se garantir e

conservar o potencial evolutivo da humanidade. Nas ultimas décadas, felizmente,

muitas pessoas vem percebendo a necessidade de empenhar-se em um uso mais

racional dos recursos naturais.

A análise do tema aborda, portanto, o estudo dos limiares planetários, os

limites ambientais seguros dentro dos quais a humanidade pode se desenvolver sem

que os impactos causados ao meio ambiente sejam irreversíveis.

O estudo visa aprofundar os principais limites ambientais identificados

pelo grupo de cientistas liderado pelo Stockholm Resilience Centre (SRC), levando

em conta a taxa de resiliência do planeta, ou seja, a capacidade do planeta retornar

ao seu estado natural após uma perturbação.

A problema mais geral, de natureza exploratória-descritiva, que orienta

esta pesquisa é quais os impactos das atividades humanas nas fronteiras

planetárias?

A principal finalidade deste trabalho é de identificar e descrever os

limiares planetários e os impactos das atividades humanas no Meio Ambiente

correlacionados ao enfrentamento dos desafios ambientais positivos do

Antropoceno. E, tem como objetivos específicos o de identificar as fronteiras

planetárias que podem levar à extinção do Planeta e de descrever as atividades

humanas que impactam na sustentabilidade da espécie humana e do Meio

Ambiente.

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A importância do trabalho pode ser considerada de irrefutável

indispensabilidade, pois sua relevância prática é a sustentabilidade do Planeta. O

desenvolvimento sustentável é de certa forma a mais recente tentativa de resolver

democraticamente os dilemas das sociedades modernas.

A relevância teórica baseia-se, sobretudo, nas mais complexas relações

entre povos e agentes da sociedade abrangente, sendo a interdisciplinaridade tema

de grande relevância.

A interdisciplinaridade equivale à necessidade de superar a visão

fragmentada da produção de conhecimento e de articular as inúmeras partes que

compõem os conhecimentos da humanidade. Busca-se estabelecer o sentido de

unidade, de um todo na diversidade, mediante uma visão de conjunto, permitindo ao

homem tornar significativas as informações desarticuladas que vem recebendo.

Para a concretização deste estudo buscou-se adaptar o problema e os

objetivos de estudo ao método científico mais adequado.

Levou-se em consideração que método é o conjunto das atividades

sistemáticas e racionais que, com maior segurança e economia, permite alcançar o

objetivo – conhecimentos válidos e verdadeiros – traçando o caminho a ser seguido,

detectando erros e auxiliando as decisões do cientista.

Realizou-se uma pesquisa bibliográfica,ou seja, a que se efetiva tentando-

se resolver um problema ou adquirir conhecimentos a partir do emprego

predominante de informações provenientes de material gráfico, sonoro ou

informativo. Com finalidade precípua de colocar o pesquisador em contato direto

com tudo o que foi escrito, dito ou filmado sobre determinado assunto, inclusive

conferências seguidas de debates que tenham sido transcritos por alguma forma,

quer publicadas, quer gravadas, e que serviu como contextualização da

fundamentação teórica do estudo.

Após a pesquisa bibliográfica, foram feitas as análises e discussão das

informações, constituindo-se ambas no núcleo central da pesquisa. Representando

a aplicação lógica dedutiva e indutiva do processo de investigação.

Esta monografia está estruturada em 5 capítulos, começando com as

considerações iniciais, em que foram apresentadas a introdução do trabalho, a

definição do problema, a justificativa e os objetivos, seguindo abaixo a estrutura dos

outros 4 capítulos.

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No Capítulo 1, é direcionado as eras geológicas, no qual são discutidos

os seguintes temas: eras geológicas, holoceno e a nova época Antropoceno, entre

outros assuntos, os quais foram baseadas em pesquisas bibliográficas sobre a

temática, por meio de consultas em livros, revistas e sites especializados sobre o

tema, que serviram de base para o desenvolvimento da pesquisa.

No Capítulo 2, estão os limites planetários, em que discorre sobre as

mudanças climáticas, perda do ozônio atmosférico, acidificação dos oceanos, perda

da biodiversidade, mudança do uso dos solos e recursos hídricos, mostrando a

metodologia da pesquisa por meio análises, interpretação e discussão das

pesquisas bibliográficas.

No Capítulo 3, são apresentadas as análises, interpretação e discussões

da pesquisa bibliográfica, mostrando a importância do tema escolhido localizando

onde estamos e o que precisa ser feito para superarmos os desafios da nova época

geológica, qual seja: o antropoceno.

No capitulo 4, são apresentadas as conclusões e as recomendações da

pesquisa. Completando a monografia seguem as referências bibliográficas.

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CAPITULO I

1. ERAS GEOLÓGICAS E O USO DOS RECURSOS NATURAIS NO PLANETA

A Terra surgiu há aproximadamente 4,5 bilhões de anos, resultando da

agregação de poeira cósmica e do bombardeamento de material rochoso atraídos

pela força gravitacional. De sua origem até o estágio atual, o planeta passou por

diversas transformações, em termos geológicos e biológicos. Essas transformações

são compreendidas a partir da disposição das camadas rochosas e dos fósseis

nelas encontrados. Essas camadas representam registros dos acontecimentos

passados e permitem compreender a evolução do planeta (LUCCI, 2014).

Enquanto a vida se transformou e se desenvolveu, a crosta terrestre

também se modificou. Para organizar e melhor compreender como o processo de

formação e transformação do Planeta Terra ocorreu, dividiu-se essa cadeia de

acontecimentos nas chamadas eras geológicas (ARTAXO, 2014).

As eras geológicas são divisões da escala de tempo geológico que

podem ser subdivididos em períodos a fim de se conhecer a longa vida do planeta.

As eras são caracterizadas pelas formas em que os continentes e os oceanos se

distribuíam e pelos seres viventes que neles se encontravam (ADAS, 2006).

Essa periodização do tempo geológico foi realizada – e é ocasionalmente

alterada – em função dos achados fósseis e da análise de rochas antigas, que foram

marcados a partir dos métodos de datação relativos e radiométricos. Desse modo,

além dos dois principais éons que compõem a história da Terra, temos as cinco eras

geológicas que, respectivamente, foram: Arqueozóica, Proterozóica, Paleozóica,

Mesozóica e Cenozóica (ADAS, 2006).

A Era Cenozóica se iniciou há 65 milhões de anos e se estende até os

dias atuais. Dividida em dois períodos distintos, o terciário e o quaternário (ADAS,

2006).

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A sua principal característica é o surgimento de novas espécies depois do

grande cataclismo (meteoro) que se abateu sobre a terra no final da Era Mesozóica

e que teria sido o responsável pela extinção dos dinossauros que até então

predominavam sobre a terra (FARIA, 2016).

Entretanto, alguns seres sobreviveram ao período de escassez de comida

que se estendeu até o início da Era Cenozóica, e foram evoluindo ao longo do

tempo até ficar como os conhecemos hoje. A principal espécie a evoluir foi a dos

mamíferos. Tanto é, que a Era Cenozóica às vezes é chamada de “Era dos

mamíferos”, tal qual a Era Mesozóica com relação aos dinossauros. Mas a

diversidade biológica deste período e a rápida evolução das espécies tornam injusta

tal denominação (FARIA, 2016).

O nome atribuído ao Período “Terciário” é um nome informal utilizado para

denominar os Períodos oficiais denominados Paleogeno e Neogeno, excluindo-se

deste último as Épocas do Pleistoceno e Holoceno, que segundo a correspondência

com a denominação informal, são conhecidos como Quaternário, indicando as

Épocas mais recentes da cronologia geológica (FARIA, 2016).

1.1.Holoceno

Aproximadamente há onze mil anos terminou a última glaciação. Iniciou-

se uma nova era geológica, chamada de Holoceno. O clima tornou-se mais ameno e

estável (VIOLA, 2002). Propiciou-se as condições climáticas para o desenvolvimento

do ser humano. Neste período a humanidade começou e expandiu as atividades

agrícolas, a domestificação dos animais e a construção das cidades. O homem

passou de caçador, coletor e nômade para estágios de intervenção cada vez mais

agressivos ao meio ambiente (CAIXETA ANDRADE, 2014).

Assim, durante os últimos 10 mil anos a Terra se manteve no domínio do

Holoceno: era de estabilidade geológica em que os mecanismos naturais do planeta

Terra eram capazes de absorver os impactos endógenos e exógenos sofridos pela

ecosfera terrestre (CAIXETA ANDRADE, 2014).

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O domínio do fogo pelos nossos antepassados desde a humanidade

como uma ferramenta poderosa monopolista, indisponíveis para outras espécies,

nos colocou firmemente no caminho longo para o Antropoceno. O uso de fogo

acompanhou o desenvolvimento anterior do instrumento de pedra e uma arma

tomada, outro passo importante na trajetória do ser humano em empreendimento

(STEFFEN et al., 2007).

Os primeiros seres humanos usaram o poder considerável de fogo para a

sua vantagem. O fogo mantinha animais perigosos em uma respeitosa distância,

especialmente durante a noite, e ajudou na caça, rica em proteínas, alimento mais

facilmente digerível. A dieta dos nossos antepassados mudou de, principalmente,

vegetariana para onívora, uma mudança que a levou às capacidades físicas e

mentais melhoradas (STEFFEN et al., 2007).

As sociedades humanas pré-industriais, de fato influenciaram o seu

ambiente, em muitos aspectos, do local às escalas continentais. A maioria das

mudanças foram baseadas no conhecimento, provavelmente adquiridos a partir de

observação e de tentativa e erro, de dinâmica dos ecossistemas naturais e sua

modificação para aliviar a tarefas de caça, coleta, e, eventualmente, da agricultura

(STEFFEN, 2007).

A marca humana no ambiente pode ter sido visível a nível local, regional e

até mesmo escalas continentais, mas os seres humanos pré-industriais não tiveram

a capacidade tecnológica ou organizacional para igualar ou dominarem as grandes

forças da natureza (STEFFEN, 2007).

1.2.Antropoceno

Apesar de sermos uma única espécie entre os estimados 10 a 14 milhões

de espécies atuais, e de estarmos habitando a Terra muito recentemente, nos

últimos séculos estamos alterando profundamente a face de nosso planeta.

Durante o Holoceno, e acelerando no período industrial, as atividades

humanas tornaram-se uma crescente força geológica e morfológica (STEFFEN et

al., 2007).

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O crescimento da influência humana no ambiente foi reconhecido por

vários estudiosos no decorrer dos tempos, já em 1873, pelo geólogo italiano Antônio

Stoppani (1824-1891), que falou sobre uma “nova força telúrica cujo poder e

universalidade podem ser comparados às grandes forças da Terra”, batizando essa

era de ‘antropozóica’. Outro geólogo, o norte-americano Joseph Le Conte

(1823-1901), sugeriu o nome ‘psicozóico' em 1879, no livro Elementos de geologia.

Em 1926, o jesuíta e antropólogo francês Teilhard de Chardin (1881-1955)

e o geoquímico russo Vladmir Vernadsky (1863-1945) chamaram de ‘nossa era’ (o

mundo do pensamento), período em que o poder intelectual humano gerou efeitos

suficientes para ser considerado uma força geológica.

Em 2002 o holandês Paul Crutzen, prêmio Nobel de Química (em 1995),

publicou um artigo chamado Geologia da Humanidade (CRUTZEN, 2002), avaliando

o grau de impacto ambientalmente destruidor das atividades humanas. Afirmou-se

que o mundo entrou em uma nova era geológica: a do Antropoceno.

O termo antropoceno, raízes etimológicas gregas, significa “época de

dominação humana”. Representando um novo período da história na Terra. O ser

humano tornou-se a causa da escalada global da mudança ambiental. Vive-se, hoje,

o Antropoceno, uma nova época geológica em que a estabilidade climática não é

mais realidade (CRUTZEN e STOEMER, 2000).

O termo Antropoceno sugere que a Terra já deixou a sua natural época

geológica, o estado presente interglacial chamado o Holoceno. Atividades humanas

tornaram-se tão penetrante e profunda que elas rivalizaram as grandes forças da

natureza e estão empurrando a Terra para uma incógnita planetária. A Terra está a

evoluir rapidamente para um meio biologicamente menos diversificados, menos

arborizada, muito mais quente, e provavelmente um estado úmido e tempestuoso

(STEFFEN et al., 2007).

O fenômeno da mudança global representa uma profunda mudança na

relação entre os seres humanos e o resto da natureza.

Alguns pesquisadores defendem o estabelecimento do Antropoceno a

partir da Revolução Industrial, impulsionada pela máquina a vapor, aperfeiçoada na

segunda metade do século 18 pelo escocês James Watt (1736-1819).

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Outros argumentam que o Antropoceno teve origem mais tarde, com os

primeiros testes e o uso, em 1945, de armas nucleares, seguidos pela forte

intensificação de testes nas décadas de 1950 e 1960, durante a chamada Guerra

Fria.

Estudos sugerem que o início do Antropoceno seja o dia da primeira

explosão de uma bomba nuclear (ROCKSTROM et al, 2009).

Também há quem apoie uma definição técnica, baseada em uma

‘fronteira’ estratigráfica específica, que evidencie mudanças causadas pela

tecnologia humana e possa ser reconhecida em nível global.

O início do Antropoceno coincide com a ultrapassagem das fronteiras

planetárias, limites geobiofísicos para a existência segura da espécie humana sobre

a Terra (ROCKSTROM et al, 2009).

No entanto, para que essa nova época não traga, em si, a destruição da

espécie que lhe dá o nome, os seres humanos precisam utilizar sua capacidade

intelectual para a harmonização de suas sociedades com os limites ambientais do

planeta que as sustenta (MARTINI, 2011).

1.3.Aceleração no uso dos recursos naturais

Ao descobrir o fogo, o homem conquistou uma vantagem sobre as outras

espécies, que consolidou com a agricultura, e possibilitou o surgimento das cidades,

liberando tempo para o aprimoramento das demais áreas, como das artes e da

tecnologia. Desde então, tem modificado o planeta, desmatando, domesticando e

extinguindo animais e devastando territórios conquistados.

Até recentemente, essas atividades eram localizadas, afetando uma

superfície pequena. Incapazes de mudar perceptivelmente o sistema de forças

físicas e biológicas, como os fluxos atmosféricos, os movimentos tectônicos, a

circulação dos oceanos e a dispersão de novas espécies, que determinam o

macroambiente no planeta (CRUTZEN, 2007).

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Assim como as populações indígenas da Amazônia, que desmatam

pequenas áreas, fazem roças, pescam e caçam, mas não afetam o equilíbrio da

floresta, os cientistas creem que a atividade humana até a Revolução Industrial

tampouco teria afetado o destino do planeta (REINACH, 2011).

A revolução industrial, em meados do século XVIII, iniciou um período

notável da história das civilizações em que uma parte crescente da humanidade

melhorou muito as condições e a qualidade de vida (SANTOS, 2009).

A mais fácil acessibilidade à energia, à água, à medicina e aos cuidados

de saúde, à segurança alimentar, a melhores condições de habitação, ensino e

formação profissional e a múltiplas aplicações da ciência moderna contribuíram para

a aceleração do crescimento da população humana global que aumentou por um

fator de dez nos últimos três séculos. Esta aceleração intensificou-se no século XX

durante o qual a população mundial cresceu por um fator de quatro (SANTOS,

2009).

A partir do final da Segunda Guerra Mundial registou-se um crescimento

muito acentuado da atividade económica, do comércio internacional, da produção e

do consumo de bens, do uso de recursos renováveis e não-renováveis, da

mobilidade e dos transportes, dos fluxos de comunicação e informação, do

conhecimento científico e das aplicações tecnológicas (SANTOS, 2009).

Nas três décadas anteriores a 1945, a economia mundial lutou como

resultado de duas guerras mundiais (e uma série de outras menores ) e da Grande

Depressão (1929-1939), que fora desviado ou bloqueado investimento na mudança

tecnológica. O crescimento econômico 1914-1945 ocorreu mais lentamente do que

tinha durante 1874 a 1914. A guerra aumentou as taxas de mortalidade nos países

combatentes e, embora estes efeitos foram de curta duração, tanto a guerra e

depressão econômica evidenciaram grande baixa em muitas populações (HIBBARD,

2006).

Esta “grande aceleração” do pós-guerra provocou uma aceleração dos

ritmos de alteração das interações entre o homem e o ambiente (HIBBARD, 2006).

Nos últimos 60 anos a humanidade explorou os recursos naturais

renováveis e não-renováveis com uma intensidade e extensão incomparáveis com

os de qualquer outro período da história.

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Os ecossistemas estão a ser perturbados, alterados ou destruídos a um

ritmo jamais atingido para satisfazer uma procura crescente de produtos

alimentares, água potável, madeira, fibra e energia (SANTOS, 2009).

Nos 100 anos desde 1890 a 1990 o uso da água potável aumentou por

um fator de nove, o volume de pescado por um fator de trinta e cinco, a área

agrícola por um fator de dois, a área agrícola irrigada por um fator de cinco e a

população pecuária por um fator de quatro (MCNEILL, 2005).

Entretanto, a área global de floresta diminuiu de 20% e as emissões de

CO2 para a atmosfera aumentaram por um fator de dezessete (MCNEILL, 2005).

A revolução industrial e sobretudo a “grande aceleração” do pós-guerra

melhoraram imensamente a qualidade de vida de uma grande parte da humanidade,

mas criaram um conjunto de desafios ambientais potencialmente muito gravosos, no

presente e principalmente no futuro (SANTOS, 2011).

Importa salientar que o desenvolvimento social e econômico resultantes

da “grande aceleração” têm agravado as iniquidades de desenvolvimento entre

países e no interior dos países. Por outras palavras, o atual modelo de

desenvolvimento tem sido incapaz de distribuir, de forma equitativa, os benefícios do

crescimento económico (UNDP, 1999).

A razão entre o PIB per capita dos países mais ricos e dos mais pobres

está a aumentar assustadoramente: em 1820 era cerca de sete, aumentou para

onze em 1910, trinta em 1960 e em 1974 tinha o valor de setenta e quatro (UNDP,

1999).

A razão entre os vencimentos acumulados pelos 10% mais ricos da

população humana e os 10% mais pobres aumentou do valor 30 em 1960, para 45

em 1980 e para 74 em 2000. (UNDP, 2000).

Quanto maiores forem as iniquidades de desenvolvimento, mais difícil se

torna a resolução dos atuais desafios ambientais, especialmente porque muitos

deles têm cada vez mais uma expressão global. Nos países mais pobres a

problemática prioritária da maior parte da população é assegurar condições mínimas

de sobrevivência pelo que as questões ambientais têm naturalmente uma relevância

muito marginal (STEFFEN et al., 2007).

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As sociedades industriais como regra usam quatro ou cinco vezes mais

energia como fizeram os agrárias, que por sua vez utilizava três ou quatro vezes

mais do que fez nas sociedades com predomínio da caça e coleta (MCNEILL, 2001).

Sem essa transição para uma sociedade de alta energia jamais a

população mundial teria aumentado a partir de um bilhão por volta de 1820 para

mais de seis bilhões de hoje, ou que talvez um bilhão dos mais afortunados entre

nós poderia levar uma vida de conforto desconhecido a quaisquer reis e cortesãos

no séculos passado.

Antes do uso generalizado de combustíveis fósseis, a colheita de energia

disponível para a humanidade foi fortemente restringida. E água e a energia eólica

estavam disponíveis apenas em locais favorecidos, e só em sociedades onde as

tecnologias relevantes de moinhos de água, navios a vela, e moinhos de vento

foram desenvolvidos ou importados (STEFFEN et al., 2007).

Energia muscular proveniente de animais, e através deles a partir de

plantas, foi limitado pela área de terra adequada para as culturas e forrageiras, em

muitos lugares, por escassez de água, e em todos os lugares por ineficiências

biológicos inevitável: plantas fotossíntese menos do que um por cento da energia

solar que incide sobre a terra, e animais que comem as plantas retêm apenas um

décimo do produto químico energia armazenada nas plantas (STEFFEN et al.,

2007).

Tudo isso elevou-se a um gargalo acima do número de seres humanos, a

economia global, bem como a capacidade de humanidade para moldar o resto da

biosfera e para influenciar o funcionamento do sistema terrestre (STEFFEN et al.,

2007).

A invenção (alguns diriam refinamento) do vapor motor por James Watt na

década de 1770 e 1780 e a vez de combustíveis fósseis quebrou esse gargalo,

abrindo uma era de longe restrições mais brandas sobre o fornecimento de energia,

mediante números de humanos, e sobre a economia global (STEFFEN et al., 2007).

Entre 1800 e 2000 a população cresceu mais de seis vezes, a economia global

sobre 50 vezes, e o consumo de energia cerca de 40 vezes (MCNEILL, 2001). Ele

também abriu uma era de intensificar e sempre crescente influência humana sobre o

Sistema Terra.

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Os combustíveis fósseis e seus associados em tecnologias de vapor

Ginés, motores de combustão interna, fez muitas novas atividades possíveis e

antigas mais eficiente.

Por exemplo, com energia abundante revelou-se possível sintetizar

amônia do nitrogênio atmosférico, com efeito para fazer fertilizantes fora do ar, um

processo iniciado pelo químico alemão Fritz Haber no início o século 20.

A síntese de Haber-Bosch, como seria conhecido (Carl Bosch era um

industrial) revolucionou a agricultura e acentuado aumento do rendimento das

culturas em todo o mundo, que, juntamente com bastante melhorada disposições

médicas, possibilitando o aumento no crescimento da população humana (STEFFEN

et al., 2007).

Desmatamento e conversão para a agricultura foram grandes nas

latitudes médias, particularmente no hemisfério norte. Apenas cerca de 10% da

superfície terrestre mundial tinha sido ''domesticados'' no início da era industrial por

volta de 1800, mas este número aumentou de forma significativa para cerca de

25-30% em 1950 (MCNEILL, 2001).

Nos últimos 50 anos, o homem modificou os ecossistemas do mundo

mais rápido e extensivamente que em qualquer outro período comparável de história

humana (PIMM, 1995). A Terra está em sua sexta grande extinção, com taxas de

perda de espécies de crescimento rápido, ecossistemas terrestres e marinhos

(IPCC, 2007).

A notável explosão do empreendimento humano a partir de meados do

século 20, e os impactos em escala global associado a muitos aspectos do

funcionamento do sistema da terra, marcam a Grande Aceleração (STEFFEN et al.,

2007).

Cidades tinham sido há muito tempo os lugares de gestão e inovação

tecnológica e motores do crescimento económico e na Grande Aceleração esse

papel foi desempenhado ainda com maior efeito.

Nesse sentir se faz necessário o conhecimento dos limiares planetários,

limites que levam em conta a taxa de resiliência do planeta, ou seja, a capacidade

do planeta retornar ao seu estado natural após uma perturbação, com o escopo de

tentar minimizar os impactos da ação humana sobre eles, principalmente quando

uma das fronteiras é extrapolada.

Page 20: LIMIARES PLANETÁRIOS: os impactos das atividades humanas ...

CAPITULO II

2. LIMITES PLANETÁRIOS

O início da era industrial sinalizou o alvorecer de um novo período – o

Antropoceno –, no qual a estabilidade característica do Holoceno deixou de ser o

traço marcante. A centralidade das intervenções antrópicas nos desequilíbrios dos

sistemas naturais terrestres e a ameaça à resiliência do ecossistema global marcam

a nova era (STEFFEN et al., 2007, ROCKSTRÖM et al., 2009a, ROCKSTRÖM et al.,

2009b).

Elevaram-se os riscos de perdas irreversíveis e potencialmente

catastróficas e são cada vez mais claros os sinais de mudanças globais,

entendendo-se estas como alterações biofísicas e socioeconômicas que modificam

a estrutura e o modo de funcionamento do sistema terrestre (CAIXETA ANDRADE,

2011).

A magnitude dos impactos do Antropoceno e seus desdobramentos sobre

a capacidade de resiliência dos ecossistemas vêm aumentando, enormemente,

desde o fim da Segunda Guerra Mundial (CAIXETA ANDRADE, 2011).

A elevação da escala das atividades humanas tem provocado extensivas

e rápidas mudanças nos ecossistemas da Terra. As alterações sofridas pelos

ecossistemas do planeta não são comparáveis a nenhum outro período da história

humana e, embora tais mudanças tenham contribuído significativamente para

ganhos líquidos no desenvolvimento e crescimento econômico, tais ganhos foram

alcançados às expensas de custos crescentes na forma de degradação de serviços

ecossistêmicos (MEA, 2005).

Embora haja uma crescente adesão à ideia de que a escala do sistema

econômico e os padrões de consumo decorrentes do estilo de desenvolvimento em

curso são insustentáveis do ponto de vista ecológico, percebe-se que ainda existem

sérias lacunas no que diz respeito à mensuração das escalas atuais do sistema

econômico, bem como à escala ótima que este deveria assumir.

Page 21: LIMIARES PLANETÁRIOS: os impactos das atividades humanas ...

!21

Avaliações biofísicas e econômicas dos impactos humanos sobre os

ecossistemas e sua resiliência são condição sine qua non para elaboração e

implementação de políticas que visem ao desenvolvimento sustentável. Mesmo que

incertezas e a falta de uma completa compreensão dos processos ecológicos

difluem ou mesmo inviabilizem análises sobre a magnitude da escala humana, é

preciso a integração transdisciplinar para a construção de referenciais que elucidem

limiares seguros até os quais a atividade econômica pode avançar (CAIXETA

ANDRADE, 2011).

Uma primeira tentativa na direção de se enfrentar o desafio acima

colocado foi publicado estudo que apresenta de maneira explícita, o que os autores

chamam de “fronteiras planetárias”.

Por limites planetários entende-se o trabalho desenvolvido pelo Centro de

Resiliência de Estocolmo, sob a coordenação de Rockström (2009), junto com

diversos cientistas proeminentes. No estudo foi definido um padrão de risco para o

planeta e a humanidade, e foram estabelecidas nove fronteiras planetárias que

formam o chamado “espaço de operação seguro para a humanidade” (MOYA, 2012).

São elas, além da Mudança climática, Erosão da biodiversidade e Ciclo

do Nitrogênio e Fósforo (três fronteiras já cruzadas), Depleção da camada de

ozônio, Acidificação oceânica, Uso global de água doce, Mudanças no uso da terra,

Concentração de aerossóis atmosféricos, e Poluição química (MOYA, 2012).

Figura 1. As fronteiras planetárias

O eneágono que limita a mancha verde evidência os níveis tidos como seguros para a existência humana na Terra, as manchas vermelhas, o atual grau de impacto humano nas nove variáveis. “Planetary Boundaries: Exploring the Safe Operating Space for Humanity”

Page 22: LIMIARES PLANETÁRIOS: os impactos das atividades humanas ...

!22

Nessa esteira de ideias há que se identificar que a humanidade tem

afetado não só o clima da Terra, mas também química dos oceanos, os habitats

terrestres e marinhos, a qualidade do ar e da água, os ciclos de água, nitrogênio e

fósforo, alterando os diversos componentes essenciais que sustentam a vida no

planeta.

Essas nove fronteiras referem-se a processos do sistema-Terra, e são

avaliadas no estudo segundo as causas humanas de pressão sobre esse sistema e

as consequências resultantes no caso dessas fronteiras serem cruzadas.

Cruzar essas fronteiras, segundo os autores, poderia causar resultados

irreversíveis. A transgressão (overshooting) de uma ou mais fronteiras pode

desencadear mudanças abruptas e não lineares em escalas continentais ou mesmo

em escala global (CAIXETA ANDRADE, 2011).

O estudo aponta para um novo conceito de sustentabilidade baseado na

capacidade de resiliência global. Segundo o documento três fronteiras de limite de

carga planetária já foram ultrapassadas: perda de biodiversidade; ciclo bioquímico

de nitrogênio e alterações climáticas (CORNILS, 2013).

A figura 1 acima sistematiza os resultados sobre as mensurações feitas,

indicando quais são as escalas para cada um dos sistemas considerados, bem

como o estado atual e os valores pré-industriais.

Pelos resultados encontrados, percebe-se que a escala humana vem

transgredindo três fronteiras planetárias (taxa de perda de biodiversidade, ciclo do

nitrogênio e mudança climática). Isto significa que os valores seguros para operação

da atividade humana foram ultrapassados nestes sistemas, indicando uma

possibilidade (ainda desconhecida) de mudanças ambientais potencialmente

catastróficas. Tais resultados são ainda mais alarmantes quando se constata que as

várias fronteiras são inter-relacionadas, o que faz com que o overshooting de

algumas delas possa levar à disrupção de outros sistemas (CAIXETA ANDRADE,

2011).

A perda de biodiversidade é a mais extrapolada (ROCKSTROM, 2009).

Se vive contemporaneamente a sexta extinção em massa de espécies da história do

planeta, esta com uma particularidade: a ação antrópica é a principal causa.

Page 23: LIMIARES PLANETÁRIOS: os impactos das atividades humanas ...

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Segundo dados de 2012 da International Union for Conservation of Nature

– IUCN, a perda da biodiversidade é a consequência da ação do homem no mundo

natural mais devastadora. O que fez com que a instituição iniciasse uma

metodologia para uma lista que pretende analisar o nível de degradação e perda de

ecossistemas.

Não é possível afirmar com certeza quais as consequências dessa perda

gradativa para o funcionamento saudável dos ecossistemas. O que já se sabe é que

a Terra é um sistema em que a própria vida ajuda na regulação. Os processos

biológicos interagem fortemente com processos físicos e químicos para criar o meio

ambiente planetário, mas a biologia desempenha um papel muito mais forte do que

se pensava em manter o ambiente da Terra dentro de limites habitáveis (STEFFEN

et al.2006).

2.1.Mudanças climáticas

As condições atmosféricas mudam constantemente: a temperatura

aumenta durante o dia e diminui à noite; um dia chove e no outro faz sol,

determinadas épocas do ano são mais quentes e úmidas, outras mais frias e secas.

A meteorologia chama estas condições instantâneas e variáveis da atmosfera de

“tempo” (CORTIZO, 2008).

Por outro lado, as variações do tempo não são totalmente caóticas: elas

seguem um padrão mais ou menos regular, característico de cada região do Planeta.

Em São Paulo, por exemplo, todos os anos chove mais no verão do que no inverno,

em outros pontos da Terra os invernos são chuvosos e os verões são secos

(CORTIZO, 2008).

Esse padrão regional de variação do tempo de acordo com a época do

ano é chamado de “clima” da região.

O clima de cada região depende de diversos fatores, como sua latitude,

seu relevo, sua vegetação, a proximidade do mar e a ocorrência de correntes

marítimas próximas à costa. Estes fatores em geral, no entanto, não variam

rapidamente, de forma que o clima de cada região tende a permanecer constante ao

longo dos anos.

Page 24: LIMIARES PLANETÁRIOS: os impactos das atividades humanas ...

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No decorrer dos séculos e milênios, o clima das diversas regiões da Terra

se altera, tanto devido à ação humana (como o desmatamento) quanto em

decorrência de causas naturais (como variações na órbita do Planeta) (CORTIZO,

2008).

Atualmente, não há mais dúvidas de que a composição da atmosfera está

mudando devido às emissões de gases e aerossóis causadas pelas atividades

antrópicas (ARTAXO, 2014).

Entende-se por mudança climática qualquer mudança do clima que ocorra

ao longo do tempo em decorrência da variabilidade natural ou da atividade humana.

Esse uso difere da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do

Clima, em que “mudança do clima” se refere a uma mudança do clima que possa ser

atribuída direta ou indiretamente à atividade humana e que altere a composição da

atmosfera global, sendo adicional à variabilidade climática natural observada ao

longo de períodos comparáveis de tempo (NOBRE, 2010).

Considera-se, também, como sendo as condições do clima da Terra pelo

acúmulo de seis tipos de gases – como o dióxido de carbono (CO2) e o metano

(CH4) – na atmosfera, emitidos em quantidade excessiva há pelo menos 150 anos,

desde a Revolução Industrial, através da queima de combustíveis fósseis, como o

petróleo e o carvão, e do uso inadequado da terra com a conversão das florestas e

da vegetação natural em pastagens, plantações, áreas urbanas ou degradadas

(SANTILLI, 2008).

Estes gases – também chamados gases de efeito estufa – formam uma

espécie de cobertor na atmosfera, que impede que os raios solares que incidem

sobre a Terra sejam emitidos de volta ao espaço, acumulando calor e provocando o

aumento da temperatura na sua superfície, assim como ocorre numa estufa de

plantas.

São gases que sempre estiveram presentes na composição da atmosfera,

mas estima-se que há atualmente acúmulo de cerca de 30% a mais do que havia

antes da Revolução Industrial, e a sua emissão continua crescendo, o que altera as

condições climáticas naturais anteriores (SANTILLI, 2008).

Page 25: LIMIARES PLANETÁRIOS: os impactos das atividades humanas ...

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Estima-se, também, que a temperatura da Terra aumentou 0,7 grau

centígrado no último século e que os últimos dez anos foram os mais quentes da

história. Parece pouco, mas a provável intensificação desse processo deverá

provocar o degelo nos pólos e em outras regiões geladas do planeta, com o

conseqüente aumento do nível dos oceanos. Assim, ficarão afetados os

ecossistemas marinhos,as correntes e as ilhas oceânicas, as praias, os mangues e

as áreas urbanas mais baixas das cidades litorâneas (SANTILLI, 2008).

O efeito estufa já vem afetando o regime de chuvas em várias partes do

mundo, provocando secas e enchentes mais intensas, com sérias consequências

para a agricultura. O fenômeno El Nino – provocado pelo aquecimento das águas do

Oceano Pacífico nas proximidades da costa peruana – está associado ao efeito

estufa, que aumenta a sua frequência e intensidade, e tem afetado o clima sul-

americano – e brasileiro – além de outras regiões. Também se atribui ao efeito estufa

o aumento em número e intensidade de ocorrências catastróficas como ciclones e

furacões (SANTILLI, 2008).

Segundo previsões da maior parte dos cientistas, o mundo todo sofrerá

com o impacto da mudança climática já no decorrer deste século. Além de ameaçar

a sobrevivência de inúmeras espécies, que não terão tempo de se adaptar a elas,

sofrerão, em particular, as populações humanas cuja sobrevivência dependa da

pesca ou da agricultura.

Embora os países desenvolvido sejam os principais responsáveis

históricos pelo acúmulo de gases estufa na atmosfera, estima-se que os países

pobres serão mais duramente afetados pela mudança climática. O caso mais grave

é dos países insulares da Oceania que, com o aumento do nível do oceano – e em

vista da sua baixa altitude – correm o risco de submersão (SANTILLI, 2008).

Para estudos mais pormenorizados sobre a mudança climática, a ONU

criou em 1988, o IPCC (Painel Inter-governamental sobre Mudança Climática

Globais, em português).

O papel do IPCC é avaliar as informações cientificas, técnicas e

socioeconômicas relevantes para o entendimento do risco das mudanças climáticas

induzidas pelo homem, seus impactos potenciais e as opções de adaptação e

mitigação.

Page 26: LIMIARES PLANETÁRIOS: os impactos das atividades humanas ...

!26

Ademais o IPCC tem como principal atividade a de avaliar em intervalos

regulares o conhecimento a respeito das mudanças climáticas. E, ainda, elabora

Relatórios Especiais e Artigos Técnicos que fornecem subsídios adicionais para as

decisões políticas no âmbito da Convenção Quadro da ONU sobre Mudanças

Climáticas.

Diante do consenso na comunidade cientifica, reunida no IPCC, quanto

ao aumento da temperatura na Terra, a ONU aprovou a Convenção Quadro sobre as

Mudanças Climáticas Globais, subscrita pelos chefes de estados reunidos no Rio de

Janeiro durante a Rio-92 (SANTILLI, 2008).

Sete anos depois, em 1997, como recomendação da Convenção para que

os países desenvolvidos reduzissem as suas emissões não estava sendo cumprida,

foi aprovado, dentro do seu marco jurídico, um novo instrumento - o Protocolo de

Quioto - para estabelecer prazos e metas obrigatórias. Estas metas - redução média

de 5,2% em relação ao nível de emissões dos países industrializados em 1990 - são

insuficientes para reverter a gravidade do clima, mas seriam um começo (SANTILLI,

2008).

2.2.Perda de ozônio estratosférico

Em meados do século XIX, o químico suíço Christian Friedrich Schönbein

observou que o odor notado quando se produziam descargas elétricas na atmosfera

era similar àquele notado quando a água era decomposta por uma corrente voltaica.

Schönbein acreditou que esse odor poderia ser atribuído à existência de um gás

atmosférico de odor peculiar. A esse gás atribuiu o nome ozônio, da palavra grega

para cheiro – “ozein” (INPE, 2006).

O ozônio é um gás produzido naturalmente na atmosfera terrestre, reativo

e capaz de oxidar metais como ferro, chumbo e arsênico. A descoberta de que o

ozônio pode despolarizar eletrodos de platina foi a principal motivação para que o

mesmo começasse a ser estudado e medido com maior atenção. Em seguida,

Schönbein concluiu que o ozônio tinha um papel ainda mais importante, utilizando-o

como um eficaz desinfetante durante epidemias infecciosas (INPE, 2006).

Page 27: LIMIARES PLANETÁRIOS: os impactos das atividades humanas ...

!27

A distribuição vertical de ozônio é praticamente constante na troposfera e

aumenta com a altura na estratosfera, até uma região de concentração máxima que

depende da latitude e estação do ano.

A descoberta do buraco de ozônio na Antártida, em meados dos anos 80,

causou surpresa à comunidade científica que, até então, pensava compreender os

processos físicos e fotoquímicos que controlam a produção e extinção de ozônio na

atmosfera (FARMAN et al., 1985).

Os primeiros estudos sobre a depleção do ozônio na Antártica mostraram

duas características principais. A primeira indicava grandes perdas no ozônio

estratosférico observadas, durante a primavera, entre os anos 1974 e 1985; a

segunda, mostrou comparações com medidas realizadas entre os anos 1950 e

1960, que indicavam uma atenuação média de 300 para 200 unidades Dobson (DU)

de ozônio (INPE, 2006)

O ozônio naturalmente presente na estratosfera filtra a radiação

ultravioleta solar que incide sobre a superfície terrestre. Uma combinação de

aumento na concentração de substâncias feitas pelo homem, os clorofluorcarbonos

(CFCs) com cristais de gelo em nuvens estratosféricas, destrói parcialmente as

moléculas protetoras de ozônio na estratosfera (ARTAXO, 2014).

Os CFCs compreendem uma vasta gama de produtos que são utilizados

na refrigeração comercial e industrial, sistemas de ar condicionado fixo e móvel,

fabricação de espumas, aerossóis de uso médico, outros aerossóis e dissolventes,

sistemas de proteção contra incêndio, entre outros usos (TOMAZONI, 2009).

Essa radiação ultravioleta em excesso causa danos no DNA de todos os

seres vivos expostos a ela. É difícil estimar o dano de DNA aceitável, pois seus

efeitos dependem dos organismos, da cobertura de nuvens e de outros aspectos.

Valores limites da ordem de 5% de decréscimo na coluna de ozônio estratosférico

com relação aos valores de 1964-80 foram considerados como limite possível em

Rockstrom et al. (2009), enquanto Steffen et al. (2007) recomendam um limite de

concentração de coluna de O3 de 275 DU (Dobson Units).

Observa-se que ações tomadas pela implementação do Protocolo de

Montreal estão limitando a redução do ozônio estratosférico, e até uma certa

recuperação da camada de ozônio tem sido observada em algumas regiões

(ARTAXO, 2014).

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2.3.Outros impactos decorrentes da ação humana

2.3.1. Acidificação dos oceanos

Os oceanos são um dos recursos mundiais fundamentais e apresentam-

se como um dos mais importantes componentes da natureza tendo em conta o seu

papel vital no planeta, como suporte de bens e serviços. Ocupam 71% da superfície

terrestre (GARCIA, 2004) e estendem-se numa superfície de 362 milhões de km2

(MASSOUD, 1992). Com um volume de 1,37x106 km3 constituem o maior repositório

de organismos do planeta, representativos de 31 filos (NYBAKKEN, 2001).

Terra, rios, mar aberto, atmosfera, sedimentos e biota interagem com

zonas costeiras e plataformas continentais, levando a uma heterogeneidade

temporal e espacial substancial dos fluxos de carbono (CHEN e BORGES, 2009).

Nos últimos 250 anos, as actividades humanas têm vindo a acelerar as

emissões de gases de efeito de estufa (GEE), particularmente as emissões de

dióxido de carbono (CO2) contabilizando-se cerca de 7,7±0,5 Gt de carbono por ano,

entre 2000 e 2009, sobretudo pelo consumo de combustíveis fósseis (ASSMANN et

al., 2010). Os níveis de CO2 na atmosfera passaram de 280 ppmv (partes por milhão

em volume), ao nível pré-industrial, para 384 ppmv em 2007 (SOLOMON et al.,

2007; DONEY et al., 2009b).

Isoladamente, os oceanos absorvem cerca de 25% do CO2 atmosférico

de origem antropogénica (FEELY, 2008) correspondendo a cerca de um-terço do

CO2 antropogénico produzido nos últimos 200 anos (SABINE et al., 2004).

As trocas gasosas do sistema ar-água vão acompanhando este aumento

de carbono atmosférico mas a um custo. À medida que o CO2 aumenta, a pressão

parcial do CO2 (pCO2) também vai aumentando (fenómeno conhecido como

hipercapnia) na água do mar, a concentração de iões hidrogénio cresce, a

concentração de iões carbonato diminui e a capacidade de absorção adicional de

CO2 fica limitada (BARROS, 2011).

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A absorção de carbono antropogénico desde 1750 tem sido responsável

pela diminuição média do pH em 0,1 unidades (BERNSTEIN et al., 2007),

atualmente o pH médio dos oceanos é de 8,1. Apesar do decréscimo de pH ser

apenas de 0,1 unidades é importante lembrar que a escala de pH baseia-se numa

escala logarítimica e portanto um decréscimo de décimas pode ter elevadas

ramificações fisiológicas (RINGWOOD e KEEPPLER, 2002).

Ainda que a absorção de CO2 pelos oceanos venha a atenuar a dimensão

do aquecimento global, este desequilíbrio no pH dos oceanos tende a afetar

profundamente o biota marinho. Estas alterações podem acontecer ao nível do

decréscimo de saturação do carbonato de cálcio (CaCO3) (FABRY et al., 2008) ou

por via de distúrbios ácido-base (metabólicos) afetando a reprodução e o

crescimento de populações e até mesmo espécies (PORTER et al., 2004).

Em particular, é esperado que a acidificação progressiva tenha impactos

negativos sobre o processo de calcificação utilizado por vários organismos na

produção de conchas ou placas a partir de carbonato de cálcio (CaCO3) (e.g. corais,

pterópodes, bivalves, crustáceos) e sobre as espécies que deles dependem

(BERNSTEIN et al., 2007). São estes consumidores primários que estão na base da

cadeia alimentar marinha e sustentam os restantes níveis tróficos. O seu

desaparecimento ou redução poderá condicionar em grande escala a existência de

outras espécies (e.g. mais de 60% da dieta do salmão juvenil é composta por

pterópodes (FABRY, et al., 2009)) e em última instância contribuir para um futuro

desequilíbrio sócio-económico, uma vez que os moluscos, por exemplo, formam uma

parte significativa da produção mundial de pesca e aquacultura (CSIRKE, 2005).

A acidificação dos oceanos não é uma consequência direta das

alterações climáticas mas sim uma consequência das excedentes emissões

antropogénicas de carbono atmosférico (DENMAN et al., 2007) que têm ocorrido nas

últimas décadas. É necessário agir agora para evitar o risco de danos irreversíveis

nos oceanos (CALDEIRA et al., 2005).

O aumento da concentração atmosférica de CO2 e sua parcial

solubilidade na alcalina água do mar levam a uma absorção de CO2 atmosférico

pelos oceanos (ARTAXO, 2014).

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Cerca de 33% das emissões atmosféricas humanas de CO2 atualmente

são absorvidas pelos oceanos através da sua dissolução na água do mar e

absorção de carbono pela biota marinha. A pressão parcial de CO2 na coluna de

água do mar aumentou significativamente nas últimas décadas e esse composto

químico, combinado com a água do mar, forma compostos ácidos que aumentam a

acidez dos oceanos (ARTAXO, 2014).

Nos últimos 200 anos , a acidez dos oceanos (medida pela concentração

de íons H+) aumentou cerca de 30%, em média, enquanto a concentração de

carbonatos caiu 16% desde a era pré-industrial (ARTAXO, 2014).

Muitos animais marinhos são sensíveis a alterações da acidez oceânica,

pois eles secretam carbonato de cálcio na forma de aragonita e calcita, que se

dissolvem em meio mais ácido. Os corais e o plâncton marinho também são

particularmente sensíveis ao aumento da acidez (ARTAXO, 2014).

Como a cadeia alimentar oceânica é muito complexa e interdependente,

essas alterações afetam toda a biota marinha. Além do aquecimento oceânico, a

eutroficação (excesso de nutrientes causados por uso excessivo de fertilizantes)

coloca uma grande pressão nos ecossistemas marinhos (ARTAXO, 2014).

A definição dos limites, nesse caso, é particularmente difícil, mas definida

como sendo uma diminuição no estado de saturação de aragonita de 80% do valor

pré-industrial (ARTAXO, 2014).

A exploração não sustentável dos recursos marinhos tem provocado

danos possivelmente irreversíveis em algumas zonas dos oceanos. A pesca

excessiva e ilegal, as descargas de poluentes, a formação da “ilha de lixo” no giro do

Pacífico Norte e a contaminação com micro-plásticos são vários exemplos de

exploração e destruição de um dos recursos mais ricos e diversificados do planeta. A

acidificação dos oceanos é mais um exemplo e a juntar aos restantes poderá

contribuir para um desequilíbrio físico-químico que conduzirá estes recursos a um

estado de desgaste extremo, de difícil recuperação (BARROS, 2011).

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2.3.2.Perda de biodiversidade

A biodiversidade é a base de toda a vida na Terra, e determina as funções

ecossistêmicas essenciais para a vida no planeta. Biodiversidade e ecossistemas

funcionais propiciam resiliência à biosfera. Com a perda e a degradação da

biodiversidade, a sociedade humana e as comunidades tornam-se mais vulneráveis,

pois as opções para mudanças ficam mais restritas (WEHAB, 2002).

A conservação e o uso sustentável da biodiversidade são pré-condições

para o desenvolvimento. Atividades que reduzem a biodiversidade ameaçam o

desenvolvimento econômico e a saúde humana, devido à perda de materiais úteis,

estoques genéticos e serviços ambientais fornecidos por ecossistemas intactos

(SCARIOT, 2010).

Os produtos da natureza são a base para indústrias tão diversas como as

de agricultura, medicamentos, cosméticos, polpa e papel, horticultura, construção e

tratamento de resíduos. Os genes presentes nas espécies selvagens são

fundamentais para salvar as colheitas que nos alimentam. É impossível substituir os

serviços que a biodiversidade fornece, tais como a controle de pragas feito por

várias espécies que depredam umas às outras, ou a polinização feita por insetos e

aves. A perda da biodiversidade afetará o fornecimento de alimentos, reduzirá as

opções de lazer e turismo e as fontes de medicamentos, energia e madeira

(SCARIOT, 2010).

A diversidade genética fornece a capacidade em longo prazo de a vida no

planeta se adaptar a mudanças abióticas tais como temperatura, salinidade,

radiação e outros fatores.

A perda da biodiversidade afeta negativamente o sistema terrestre,

aumentando a vulnerabilidade de ecossistemas terrestres e marinhos a mudanças

no clima e na acidez oceânica, entre outros efeitos.

Ao longo dos últimos séculos, muitas espécies foram extintas devido ao

impacto humano tanto nos ecossistemas terrestres como nos oceanos. É possível a

construção de um índice de integridade biológica que indique mudanças na

população de espécies como resultado da ação humana. Uma possível medida é a

perda de variabilidade de espécies genéticas (MACE et al., 2014).

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Em princípio, o limite às mudanças na integridade da biosfera deveria ser

colocado a um valor próximo da razão de perda da biodiversidade ao longo do

Holoceno, mas essa razão não é conhecida. Estima-se que esse limite possa ser

definido como a extinção de 10 espécies por milhão de espécies por ano. Outra

possível abordagem seria definir um índice tal como o Biodiversity Intactness Index

(BII), que indica a mudança na biodiversidade advinda de impactos humanos, tais

como mudanças de uso de solo, acidez oceânica, etc. (ARTAXO, 2014).

Entretanto, as incertezas na área são significativas, já que as interações

entre as espécies e os ecossistemas são enormes. Também existem fortes efeitos

não lineares entre a extinção de espécies e as mudanças ambientais globais, que

ainda não são completamente compreendidos. Algumas espécies tem maior

capacidade de adaptação do que outras (ARTAXO, 2014).

2.3.3.Mudança no uso do solo e dos recursos hídricos

Todos os biomas terrestres sofreram importantes mudanças no uso do

solo, incluindo florestas, savanas, tundras, etc. Os avanços na agricultura nos

últimos séculos fazem com que se tenha, atualmente, cerca de 12% da área do

planeta dedicada a cultivos (FOLEY et al., 2005).

O caso de mudanças no uso de solo é importante, pois está fortemente

associado à produção de alimentos e influência outros limites, tais como

biodiversidade, uso de água, clima e outras variáveis (ARTAXO, 2014).

Mudanças no uso do solo alteram o albedo da superfície terrestre,

através, por exemplo, da retirada de florestas e da implementação de pastagens ou

cultivos, e as estimativas são de uma forçante radiativa de -0,15 w/m2 de 1750 a

2011. Esse efeito é de resfriamento do planeta, pois uma floresta absorve mais

radiação solar do que uma área de pastagem, que é mais escura (STEFFEN et al.,

2007).

Na pastagem, uma fração maior da radiação solar é refletida ao espaço.

O limite para o uso do solo pode ser estruturado lembrando-se que sua ligação com

a produção de alimentos é forte, e que a eficiência de produção de alimentos por

hectare é muito grande no Planeta Terra (ARTAXO, 2014).

Page 33: LIMIARES PLANETÁRIOS: os impactos das atividades humanas ...

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Esforços são feitos para aumentar a produtividade agrícola, intensificando

sistemas agropecuários nas áreas mais férteis, mantendo florestas essenciais para o

funcionamento do ecossistema terrestre preservadas, e mantendo solos que são

ricos em carbono em sua condição a menos perturbada possível.

É proposto um limite de 15% da área global sem gelo para uso da

humanidade. Chegou-se a 12%, e isso permite uma ampliação de 3% da área

agricultável no planeta, que deve ser realizada em conjunto com o aumento da

produtividade agrícola global (ARTAXO, 2014).

Água é um recurso natural essencial para os seres humanos, a biota e os

ecossistemas. Mesmo sendo um bem essencial, a água não é distribuída

equitativamente em nosso planeta, com fortes variações sazonais e decadais, e em

várias regiões se tornou um bem precioso e escasso.

A questão do uso da água tem aspectos regionais e locais que a faz difícil

de ser caracterizada globalmente. Cada bacia hidrográfica tem os seus próprios

limites de exploração e suas características, que variam sazonalmente e com fortes

alterações decadais (ARTAXO, 2014).

O uso de água para a agricultura visando à produção de alimentos é uma

das maiores pressões na maior parte das bacias hidrográficas afetadas, mas a água

é também essencial para a manutenção de florestas, manutenção de florestas,

manutenção da biodiversidade e sequestro de carbono, entre outras questões.

Em muitas áreas densamente ocupadas, o uso de água excedeu a

capacidade de recarga, comprometendo a qualidade e o fluxo necessários. Em

outras áreas, onde se tem muita água, como na Amazônia, aspectos climáticos e

logísticos limitam o seu uso para a agricultura e outras atividades. A manipulação

global de recursos aquáticos afeta a produção de alimentos, a biodiversidade, o

clima e o funcionamento ecológico, a segurança hídrica, etc. (ARTAXO, 2014).

Em, geral, separa-se a água em três componentes: 1) a chamada “água

azul”, que consiste em rios, lagos e água subterrânea; 2) a “água verde”, que é

armazenada no solo como umidade; 3) os chamados “fluxos de água verde”, que

são o transporte de umidade pela atmosfera (FALKENMARK et al., 2001).

Estimativas indicam que 90% dos fluxos de água verde são necessários

para manter os serviços dos ecossistemas, enquanto de 20% a 50% da água azul é

necessária para manter o sistema hídrico de lagos e rios em funcionamento.

Page 34: LIMIARES PLANETÁRIOS: os impactos das atividades humanas ...

!34

O fluxo de água verde influencia a quantidade de água azul através do

transporte umidade de chuva. É estimado que o uso de aproximadamente 4.000 km3

por ano de água seja um limite para a humanidade, para que se possa evitar o

colapso de bacias hidrográficas importantes (FALKENMARK et al., 2001).

Atualmente, a humanidade usa cerca de 2.600 km3 por ano, o que indica

que se tem um certo espaço de crescimento, mas a pressão por recursos aquáticos

está aumentando significativamente, principalmente no setor da agricultura e no

fornecimento à população urbana global (ARTAXO, 2014).

Estima-se que o uso de água verde na agricultura seja hoje de 5.000 km3

por ano, e tenha que aumentar 50% em 2030 para fornecer segurança alimentar ao

nosso planeta (VIOLA, 2008).

Diante do cenário ora apresentado onde, realmente, estamos e o que

precisará ser feito para conseguirmos mitigar os efeitos desastrosos das atividades

humanos no meio ambiente?

Page 35: LIMIARES PLANETÁRIOS: os impactos das atividades humanas ...

CAPITULO III

3. DESAFIOS E PERSPECTIVAS

3.1.Onde estamos?

Vivemos em um mundo no qual a humanidade pode ter se tornado uma

força geológica, ou seja, um fenômeno capaz de transformar a paisagem planetária.

Essa questão da definição dos limites planetários e a nossa atual

colocação foram discutidas em várias publicações, como, por exemplo, em Running

(2012) e Steffen et al. (2015). Uma dificuldade na quantificação está no fato de que

os limites nas nove fronteiras planetárias globais são interconectadas

(ROCKSTROM, 2009).

O planeta atua como entidade integrada e única, com inter-conexões em

praticamente todas as áreas de risco. A Figura 1 ilustra um diagrama dos limites

planetários com uma qualificação de onde estamos atualmente em cada aspecto

discutido.

Já ultrapassamos os limites na perda de biodiversidade, adição de

nitrogênio e fósforo, e estamos nos aproximando dos limites nas áreas de mudanças

climáticas e mudança de uso do solo. A carga de aerossóis atmosféricos, perda de

biodiversidade funcional e novos riscos, tais como poluição química, ainda,

permanecem em estudos pormenorizados para a devida quantificação.

Esses limites e a avaliação de sua posição atual são uma primeira

indicação, e deverão ser aprimorados conforme a ciência avança.

A discussão dos limites seguros do planeta mostra que existe a

possibilidade de que, ultrapassando os limites físicos do planeta, pode-se

desestabilizar o relativamente estável clima que tivemos no Holoceno.

Dois dos limites, mudanças climáticas e integridade da biosfera, estão em

situação tão crítica que necessitam de medidas urgentes para a estabilização das

condições de sustentabilidade na Terra.

Page 36: LIMIARES PLANETÁRIOS: os impactos das atividades humanas ...

!36

As pressões sociais, econômicas e ambientais vão aumentar nas

próximas décadas, e precisamos urgentemente de um sistema de governança global

para superar esses desafios. Essa tarefa pode demorar muitas décadas, por isso

precisamos iniciar esse processo o mais rápido possível. O tempo corre contra a

humanidade.

Não obstante, ameaças e incertezas pertencem às condições gerais de

existência humana; a semântica do risco está relacionada especificamente com o

processo de modernização, no qual adquirem maior significado as decisões, as

incertezas e a probabilidade. Está relacionada à tematização no presente de perigos

futuros, percebidos como resultado da civilização (MOTTA, 2009).

A ambiguidade do risco reside na necessidade de decisão que ele implica:

pesar oportunidades e perdas. Toda uma ciência do risco se desenvolveu e nasceu o

cálculo probabilístico, a primeira tentativa de controlar o incontrolável. O risco tem

uma dimensão de experimentação: não se pode teorizar sobre ele, é da ordem da

probabilidade (MOTTA, 2009).

A categoria de risco gera um mundo que ultrapassa a clara separação

entre conhecimento e desconhecimento, verdadeiro e falso, bom e ruim. Não quer

dizer que saia do horizonte do conhecimento, mas se trata de um conhecimento

probabilístico, que envolve o trato com incertezas, que atualmente não pode ser

resolvido com mais saber, pelo contrário, é resultado do maior conhecimento. “Risco

é um tema mediador que demanda uma nova divisão de trabalho entre a ciência, a

política e a economia” (BECK, 2007).

A sociedade moderna se tornou uma sociedade de risco à medida que se

ocupa, cada vez mais, em debater, prevenir e administrar os riscos que ela mesma

produziu (BECK, 2008).

Nas sociedades de risco as consequências do sucesso da modernização

são tematizadas: os riscos se tornam mais arriscados, pois as condições para seu

cálculo e sua gestão fracassam em parte, e, correlativamente, altera-se o papel da

ciência e da técnica (MOTTA, 2009).

Risco não significa catástrofe. Risco significa a antecipação da catástrofe.

Os riscos existem em um estado permanente de virtualidade, e transformam-se

“atuais" somente até o ponto em que são antecipados. Riscos não são "reais", eles

estão se tornando “reais" (BECK, 2008).

Page 37: LIMIARES PLANETÁRIOS: os impactos das atividades humanas ...

!37

Neste momento em que os riscos se tornam reais – por exemplo, na

forma de um ataque terrorista – eles deixam de ser riscos e tornam-se catástrofes.

Os riscos já estão em outras partes: na antecipação de novos ataques, nas

mudanças climáticas ou em uma crise financeira potencial (BECK, 2008).

Riscos são sempre eventos ameaçadores. Sem técnicas de visualização,

sem formas simbólicas, sem suportes, sem meios de comunicação de massa, etc.,

os riscos não são nada. Em outras palavras, é irrelevante se vivemos em um mundo

que esteja de fato, ou em alguma medida, "objectivamente" mais seguro do que

qualquer outro mundo; se a destruição e os desastres são antecipados, então isso

produz uma compulsão para a ação (BECK, 2008).

A história da sociedade moderna dos séculos XIX e XX pode ser

entendida como a criação conflituosa de um sistema legal para lidar com as

incertezas e riscos industriais fabricados, isto é, fruto de decisões. O cálculo de

risco, o princípio do seguro, o Estado de Bem estar social possibilitam contratos de

risco, sancionados pelo Estado, isto é, institucionalizam promessas de segurança

frente a um futuro desconhecido (BECK, 2008).

A categoria da sociedade de risco tematiza o processo de questionamento

das idéias centrais para o contrato de risco, a possibilidade de controle e a

possibilidade de compensação de incertezas e perigos fabricados industrialmente

(BECK, 2007). Sua dinâmica está no sucesso da modernidade, cujos efeitos não

mais são passíveis de controle, daí a incerteza auto-fabricada.

A sociedade de risco é uma sociedade revolucionária latente em que o

estado de normalidade e o estado de emergência se sobrepõem. Isso pode explicar

o poder histórico do risco global, que é negligenciado pela teoria social convencional

e pela sociologia do risco: ao tratar de riscos catastróficos o presente de um estado

de emergência futuro está em negociação. O estado de emergência antecipado não

é mais nacional, mas cosmopolita (BECK, 2008).

A crença de que os riscos que a humanidade enfrenta podem ser evitados

pela ação política tomada em nome da humanidade ameaçada torna-se um recurso

sem precedentes para o consenso e a legitimação, nacional e internacionalmente

(BECK, 2008).

Page 38: LIMIARES PLANETÁRIOS: os impactos das atividades humanas ...

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Neste sentido, os princípios fundamentais da modernidade, incluindo o

princípio do livre mercado e a ordem própria da Estado-nação, tornam-se sujeitos à

mudança, à existência das alternativas, e à contingência (BECK, 2008).

3.2.O que precisa ser feito

A humanidade continuará a ser uma grande força geológica por muitos

milênios, talvez milhões de anos, por vir. Desenvolver uma estratégia universalmente

aceita para garantir a sustentabilidade do sistema de suporte de vida da Terra contra

tensões induzidas pelo homem é um dos maiores desafios de investigação e política

(STEFFEN, et al., 2006).

Sinais sugerem que o contexto intelectual, cultural, político e legal que

permitiu a grande aceleração depois de 1945 mudou de maneiras que poderiam

levar a isso.

Não surpreendentemente, algumas pessoas observaram impactos

humano sobre o meio ambiente por séculos e até milênios atrás. No entanto, como

uma grande preocupação social que data de 1960, com a ascensão do

ambientalismo moderno, observações mostraram que a concentração de CO2 na

atmosfera estava subindo acentuadamente.

Na década de 1980 medições de temperatura mostrou que o aquecimento

global era uma realidade, um fato que encontrou oposição política por causa de suas

implicações, mas dentro de 20 anos já não manifestavam dúvidas. Este processo

representa o início do reconhecimento de que as atividades humanas estão, de fato

a afetar a estrutura e funcionamento da Sistema Terra como um todo.

A crescente consciência da influência humana sobre o Sistema Terra,

segundo Steffen et al. (2007), foi auxiliado pelo(a):

i) os rápidos avanços em pesquisa e compreensão;

ii) o enorme poder da internet como uma informação global, de auto-

organização;

iii) a disseminação de sociedades mais livres e abertas, com meios de

comunicação independentes; e

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!39

iv) o crescimento de sistemas políticos democráticos, estreitando o

espaço para o exercício do poder do Estado e reforço do papel da sociedade civil.

A humanidade está, de uma forma ou de outra, tornando-se uma auto-

consciente, agente ativo no funcionamento do seu próprio sistema de suporte de

vida (LOMBORG, 2003).

Este processo ainda está em curso, e onde ele pode levar, resta bastante

incerto. No entanto, três teorias filosóficas aproximam-se no crescente debate sobre

como lidar com o alterar do ambiente global (STEFFEN et al., 2004).

Business-as-usual. Neste sentir, as instituições e sistema económico que

têm impulsionado a grande aceleração continuam a dominar assuntos humanos.

Esta abordagem é baseada em várias suposições.

Em primeiro lugar, a mudança global não será grave ou rápida o suficiente

para causar importantes rupturas do sistema económico global ou a outros aspectos

importantes das sociedades, tais como a saúde humana.

Segundo, o sistema econômico orientado para o mercado existente pode

lidar normalmente com quaisquer adaptações que são necessárias. Este

pressuposto baseia-se no fato de que as sociedades têm tratado eficazmente, local

e regional, problemas de poluição (RAHMSTORF, 2007). Exemplos incluem a

limpeza de grandes rios europeus e a melhoria da chuva ácida na Europa Ocidental

e Oriental e América do Norte.

Terceiro, os recursos necessários para mitigar a mudança global

proativamente seria melhor gasto em necessidades humanas mais prementes.

A abordagem de negócios como de costume parece, na superfície, para

ser uma maneira segura e conservadora para a frente. No entanto, isso implica

riscos consideráveis.

O Sistema Terra muda em resposta às atividades humanas, que opera a

uma escala de tempo que é incompatível com a tomada de decisão humana ou com

o funcionamento do sistema econômico (STEFFEN et al., 2004).

A longo prazo o mundo se compromete a mudanças ambientais durante

as próximas décadas ou mesmo séculos. Um colapso da sociedade moderna e

globalizada sob mudança ambiental incontrolável é um resultado possível.

Page 40: LIMIARES PLANETÁRIOS: os impactos das atividades humanas ...

!40

Um exemplo disso, é a estabilidade da criosfera, o gelo na terra e no mar

e no solo. Dependendo do cenário e o modelo, o Painel-intergovernamental sobre as

Alterações Climáticas (IPCC) projetado o aquecimento global médio de 1.1-6.48C

para 2094-2099 em relação a 1980-1999, acompanhado por um aumento do nível

do mar projetado de 0,18-0,59 m (Excluindo as contribuições das dinâmica do

grande manto polar de gelo).

No entanto, o aquecimento é projetado para ser mais do que duas vezes

a média global nas regiões polares, aumentando a instabilidade e derretimento de

geleiras. Recente observações da dinâmica glacial sugerem um grau mais elevado

da instabilidade do que o estimado pelos modelos atuais, que a criosfera levaria a

um maior aumento do nível do mar através deste século do que estimado pelo IPCC

em 2001 (PACHAURI, 2006).

É concebível que agora um limiar irreversível poderia ser atravessado nas

próximas décadas, eventualmente (mais de séculos ou um milênio) que conduzem a

perda de gelo da Groenlândia e consequente aumento do nível do mar de cerca de

5m (STEFFEN, et al. 2004).

Mitigação. Uma via alternativa para o futuro baseia-se no reconhecimento

de que a ameaça de nova mudança global é suficientemente grave que deve ser

tratada de forma proativa.

A via de mitigação tenta tirar a pressão humana do Sistema Terra

melhorando a tecnologia e gestão, a utilização racional dos recursos naturais, o

controle do ser humano e população de animais domésticos, e uso cuidadoso em

geral e restauração do ambiente natural.

O objetivo final é para reduzir a modificação humana do ambiente global

de evitar níveis e taxas de perigosas ou difíceis de controlar ou mudar (STEFFEN,

2007), e, finalmente, para permitir que o sistema terrestre retorne aos níveis

anteriores ao Antropoceno (STEFFEN et al., 2004).

A tecnologia deve desempenhar um papel importante na redução da

pressão sobre o Sistema Terra (STEFFEN et al., 2004). Ao longo das últimas

décadas rápidos avanços em transportes, energia, agricultura e outros setores

levaram a uma tendência de desmaterialização em várias economias avançadas.

A quantidade e o valor da atividade económica continuará a crescer, mas

a quantidade de material físico que flui através da economia não.

Page 41: LIMIARES PLANETÁRIOS: os impactos das atividades humanas ...

!41

Existem novas oportunidades tecnológicas. No mundo todo o consumo de

energia é equivalente a apenas 0,05% da radiação solar que atinge os continentes.

Há muitas oportunidades para a conservação de energia, inúmeras

tecnologias de energia solar térmica e fotovoltaica através da fissão nuclear e da

fusão, a energia eólica e biocombustíveis a partir de florestas e culturas já estão

disponíveis ou em desenvolvimento para substituir os combustíveis fósseis.

Embora a melhoria da tecnologia é essencial para mitigar mudança

global, pode não ser suficiente por si só. Alterações dos valores sociais e

comportamentos individuais provavelmente serão necessários (RAHMSTORF,

2007).

Alguns sinais dessas mudanças são agora evidentes, mas a Grande

Aceleração tem um impulso considerável e parece ser intensificando (STEFFEN et

al., 2004). A questão crítica é se as tendências de desmaterialização e alterações

nos valores sociais tornam-se forte o suficiente para desencadear uma transição da

nossa sociedade globalizante a uma direção de um meio ambiente muito mais

sustentável (STEFFEN et al., 2004).

Opções de geo-engenharia. A gravidade da mudança global,

particularmente, mudar para o sistema climático, pode forçar sociedades a

considerar as opções mais drásticas.

Por exemplo, a emissão de partículas de aerossol (por exemplo, fumo,

sulfato, poeira, etc.) para a atmosfera leva a um efeito de arrefecimento líquido

porque estas partículas influenciam na radiação solar recebida.

Assim, aerossóis agiriam em oposição ao efeito de estufa, mascarando

alguns dos aquecimento que, caso contrário, vê agora (STEFFEN et al., 2004).

Paradoxalmente, uma limpeza da poluição do ar pode, assim, aumentar o efeito

estufa, talvez levando a temperatura a 18ºC adicional de aquecimento e trazendo a

Terra mais perto de níveis 'perigosos' do ciclo de carbono e outros efeitos das

mudanças climáticas (IPCC, 2005), que pode tornar os esforços de mitigação em

grande parte ineficazes.

Só para estabilizar a concentração atmosférica de CO2, sem levar em

conta estes efeitos, requer uma redução das emissões antrópicas por mais de 60% -

qual será uma tarefa árdua, considerando que a maioria das pessoas na Terra, a fim

de aumentar seu padrão de vida, estão em necessidade de energia adicional.

Page 42: LIMIARES PLANETÁRIOS: os impactos das atividades humanas ...

!42

Uma abordagem de engenharia para reduzir a quantidade de CO2 na

atmosfera é o seu sequestro em reservatórios subterrâneos (The Royal Society

(2005). Este ''geo-sequestro'' não só aliviaria as pressões sobre clima, mas também

diminuiria a acidificação dos oceano e águas de superfície, o que leva a dissolução

do calcário e organismos marinhos (STEFFEN et al., 2004).

Nesta situação alguns defendem as soluções da geo-engenharia, um

tópico altamente controverso. Geo-engenharia envolve propositalmente a

manipulação por seres humanos de escala global de processos do Sistema Terrestre

com a intenção de contrariar antropogenicamente impulsionado as alterações

ambientais como o aquecimento do efeito estufa (CRUTZEN, 2006).

Um proposta baseia-se no efeito de arrefecimento de aerossóis

observado na parágrafo anterior (STEFFEN et al., 2004). A ideia é aumentar

artificialmente o albedo da Terra, liberando material de luz solar-reflexivo, tal como

de partículas de sulfato, na estratosfera, onde permanecem por 1-2 anos antes de

se estabelecer na troposfera.

As partículas de sulfato seriam produzidas pela oxidação do SO2, tal

como acontece durante as erupções vulcânicas. A fim de compensar uma duplicação

de CO2. Se isso vier a acontecer, a entrada de enxofre teria de ser cerca de 1-2 Tg S

yA1 (Em comparação com uma entrada de cerca de 10 Tg S pelo Monte Pinatubo

em 1991). As injecções de enxofre teriam que ocorrer durante o tempo que CO2

permanecem em elevados níveis.

Olhando mais profundamente na evolução do Antropoceno, as futuras

gerações de H. sapiens provavelmente farão tudo para evitar uma nova era glacial

adicionando artificialmente poderosos gases de efeito estufa para a atmosfera

(STEFFEN et al., 2004).

Da mesma forma, qualquer queda na CO2 em níveis para baixas

concentrações, causando fortes reduções das fotossíntese e produtividade agrícola,

podendo ser combatido por versões artificiais de CO2. E da mesma forma, em um

futuro distante, H. sapiens desviariam meteoritos e asteróides antes que eles

pudessem acertar a Terra (STEFFEN et al., 2004).

Page 43: LIMIARES PLANETÁRIOS: os impactos das atividades humanas ...

!43

Para o presente, no entanto, apenas a sugestão de geo-engenharia

podem levantar sérias questões éticas e intenso debate. Além das preocupações

éticas fundamentais, a questão crítica é a possibilidade de não intencional e não

antecipado efeitos secundários que pode ter consequências graves (STEFFEN et

al., 2004).

A cura poderá ser pior que a doença.

Enormes desafios imediatos confrontam a humanidade sobre as próximas

décadas, uma vez que tenta passar por um gargalo de continuação do crescimento

populacional, uso excessivo de recursos e deterioração ambiental (STEFFEN et al.,

2004).

Em muitas partes do mundo demanda por combustíveis fósseis supera o

desejo de reduzir de forma significativa as emissões de gases de efeito estufa.

Cerca de 60% do ecossistema serviços já estão degradados e continuará a se

degradar ainda mais, a menos que significativas mudanças sociais nos valores e

gestão ocorrer (PIMM, 1995).

Também há evidência para direções radicalmente diferentes construídas

em torno de soluções inovadora, baseada no conhecimento. O que quer que se

desenrolar nas próximas décadas será certamente um ponto de inflexão na evolução

da Antropoceno (STEFFEN et al., 2004)

No entanto, para que essa nova época não traga, em si, a destruição da

espécie que lhe dá o nome, os seres humanos precisam utilizar sua capacidade

intelectual para a harmonização de suas sociedades com os limites ambientais do

planeta que as sustenta.

Page 44: LIMIARES PLANETÁRIOS: os impactos das atividades humanas ...

CAPITULO IV

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Segundo Steffen et al. (2015), a única realidade previsível é que já

adentramos no território do imprevisível. A humanidade, terá de correr contra o

tempo para achar diversas soluções que minimizem os impactos do aquecimento

global.

A grande questão é se a humanidade será suficientemente altruísta e

abrirá mão do consumo presente para beneficiar as gerações vindouras. Dilema

extremamente complicado e que nunca antes foi vivenciado na história da Terra.

Quanto maior a postergação da tentativa de diminuição dos impactos

antropogênicos sob o meio ambiente, mais oneroso será tentar minorar o efeito das

mudanças climáticas vigentes.

No melhor cenário possível, caso tomada a decisão de enfrentar o

enorme problema existente, será necessário o alinhamento de muitos governos

promovendo a criação de uma governança global pró ativa que regule todas as

facetas que geram a crise do meio ambiente.

Os limites físicos do planeta precisam ser respeitados. Necessitarão ser

impostos limites para a poluição, aquecimento e desmatamento de cima para baixo,

criando incentivos de forma que limitem, e acabem com desvios. A humanidade

deveria abrir os olhos e enxergar que o único sistema demasiadamente grandioso

para fracassar é o Planeta Terra, e deveriam fazer de tudo para evitar que isso

ocorresse, pois caso isso ocorra o maior prejudicado será o próprio ser humano.

Atualmente os gases que geram o efeito estufa já são precificados e

regulados. A internalização mandatória destes são a melhor sinalização que poderia

ser dada ao mercado, para que ocorra a correção das falhas mercadológicas

existentes. Esquentar mais o planeta deixará de ser algo sem custo e se tornará

extremamente oneroso.

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!45

Presidentes das diversas empresas espalhadas pelo globo terão de

aumentar as taxas de desconto vigentes que medem a viabilidade do ramp up de

seus novos projetos. Muitos destes por serem extremamente dependentes de fontes

de energia não renováveis, assim como por poluírem demasiadamente o meio

ambiente, causando gigantescas externalidades, serão financeiramente inviáveis.

Nesse cenário, diversas fontes de energias renováveis serão

economicamente mais atrativas. Alguns conglomerados com uma visão ponderada

de risco e um bom planejamento estratégico já vem investindo no setor a alguns

anos.

Países desenvolvidos como a Dinamarca e a Alemanha já tem como meta

ter diversas fontes de energia limpa e renovável como pilares da sua base

energética (STOFFAES, 2015). Vale ressaltar que 40% da energia consumida na

Dinamarca advém de fontes renováveis, e até 2050 o país pretende ter 100% da sua

energia produzida proveniente da mesma fonte, acabando com a queima de

combustíveis fósseis (GILLIS, 2014).

Cabe lembrar que as energias renováveis também tem aspectos

negativos. O principal é a intermitência, que gera uma maior imprevisibilidade na

produção de energia. Dessa forma, é recomendável que os países recorram a um

pooling de fontes energéticas diferentes diminuindo o impacto gerado por cada uma

delas.

Empiricamente, em períodos de seca há menor concentração de chuvas,

porém há maior incidência de ventos fazendo com que a geração de energia eólica

seja inversamente correlacionada com a geração de energia hídrica, tornando a

produção de ambas complementar.

Nenhuma fonte de energia é perfeita, mas uma das diversas soluções

necessárias para mitigar os efeitos que causam o aquecimento global pode ser

alcançado através da diversificação da matriz energética global.

Com tantos fracassos consecutivos dentro das rodadas climáticas

organizadas pela ONU, aparenta ser ilusório a possibilidade da criação de um

alinhamento entre os diversos países do mundo.

Apesar de parecer utópico, uma coordenação mundial é cada vez mais

concebível dado o cenário contemporâneo.

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Atualmente existe uma tendência crescente de uma maior

conscientização quanto a valoração da necessidade de se preservar a natureza.

Portanto, apenas com a criação de uma governança global plena será

possível acabar com as falhas mercadológicas existentes, fazendo a correção

necessária nos preços relativos, nos planos de risco, assim como no investimento,

para que a humanidade consiga fazer com que o crescimento mundial ocorra de

uma forma sólida, mas também sustentável.

Page 47: LIMIARES PLANETÁRIOS: os impactos das atividades humanas ...

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