Mapadoc | Ensaios e Ensejos -Um Inventário de Percepções sobre Artistas nos limiares de uma...

108
I

description

No Livro organizado por Felipe Camilo, os escritores convidados Alan Mendonça, Clara Capelo, Danilo Castro, Érico Araújo Lima, Fernanda Brasileiro, Kelsen Bravos, Karlo Kardozo e Rouxinol do Rinaré ensaiam um olhar sobre os artista mapeados Aldenor Miranda, Benício Pitaguary, Francélio Figueredo, Luciano Bento, Narcélio Grud Pajé Barbosa Pitaguary, Verónica Valenttino, Vitor Colares e Zé Ferreira. O projeto é uma realização Coletivo Pã/Trama de Olhares e tem apoio cultural da Secult/Ce.

Transcript of Mapadoc | Ensaios e Ensejos -Um Inventário de Percepções sobre Artistas nos limiares de uma...

Page 1: Mapadoc | Ensaios e Ensejos -Um Inventário de Percepções sobre  Artistas nos limiares de uma Capital

I

Page 2: Mapadoc | Ensaios e Ensejos -Um Inventário de Percepções sobre  Artistas nos limiares de uma Capital
Page 3: Mapadoc | Ensaios e Ensejos -Um Inventário de Percepções sobre  Artistas nos limiares de uma Capital

I

Page 4: Mapadoc | Ensaios e Ensejos -Um Inventário de Percepções sobre  Artistas nos limiares de uma Capital

II

Page 5: Mapadoc | Ensaios e Ensejos -Um Inventário de Percepções sobre  Artistas nos limiares de uma Capital
Page 6: Mapadoc | Ensaios e Ensejos -Um Inventário de Percepções sobre  Artistas nos limiares de uma Capital
Page 7: Mapadoc | Ensaios e Ensejos -Um Inventário de Percepções sobre  Artistas nos limiares de uma Capital
Page 8: Mapadoc | Ensaios e Ensejos -Um Inventário de Percepções sobre  Artistas nos limiares de uma Capital
Page 9: Mapadoc | Ensaios e Ensejos -Um Inventário de Percepções sobre  Artistas nos limiares de uma Capital
Page 10: Mapadoc | Ensaios e Ensejos -Um Inventário de Percepções sobre  Artistas nos limiares de uma Capital
Page 11: Mapadoc | Ensaios e Ensejos -Um Inventário de Percepções sobre  Artistas nos limiares de uma Capital

Agradeço primeiramente a todos os envolvidos direta e indiretamente no projeto: Artistas, Gestores Culturais, Alunos, Ongs, Prefeituras e Secretarias de Cultura nas cidades

de Aquiraz, Caucaia, Eusébio, Fortaleza, Itaitinga, Maracanaú, Maranguape, Pacatuba e São Gonçalo do Amarante. Em seguida agradeço aos inúmeros artistas que ofereceram contribuições voluntárias de diversas formas para a realização deste trabalho. Destaco a disposição da Secretária de Cultura de São Gonçalo do Amarante, Maria Vênus Andrade Cunha, e do Secretário de Cultura e Turismo de Itaitinga, Cícero Gonçalo. É preciso agradecer a amizade de Karlo Kardozo, Paulo Victor G. Feitosa, Mardônio Barros, Ivina Passos, Amália Morais e Natasha Silva. Finalmente, agradeço à dedicação dos parceiros de mais de 10.000km rodados: Fernanda Brasileiro, Leandro Bezerra, Henrique Kardozo, Guilherme Silva, Andreia Costa.

Page 12: Mapadoc | Ensaios e Ensejos -Um Inventário de Percepções sobre  Artistas nos limiares de uma Capital
Page 13: Mapadoc | Ensaios e Ensejos -Um Inventário de Percepções sobre  Artistas nos limiares de uma Capital

Esse livro é dedicado a todos os artistas, assim reconhecidos ou não, sobre os quais nunca se ouviu falar nos rádios, sobre os quais não se escreveu uma linha de jornal se quer, sobre os quais

nunca fi zeram um retrato para ser curtido na internet, ou entrevista para a tv, esses tais que, resilientes, nunca deixaram de fazer o que fazem por conta disso ou por conta de outra coisa qualquer.

Page 14: Mapadoc | Ensaios e Ensejos -Um Inventário de Percepções sobre  Artistas nos limiares de uma Capital

Na trama, é fundamental tecer encontros. A trama é um novelo de olhares. Ela é tecida de modos de ver, de ouvir e de sentir. Ela trama as diferenças para pensar o que

pode nos unir. O que podemos tramar juntos? Se acreditamos na aposta desse embarque, é porque queremos gerar momentos de conversação e de acolhida. Um projeto pode ser lançado para que um se tome pelas inquietações do outro, para que um experimente os desejos que o outro tem para o mundo. O importante é inventar um lugar que possa tornar possível a companhia do outro, um espaço em que todos possam embarcar nas aventuras de cada um. Fazer trama é fazer junto. E é colocar no balaio um emaranhado de fi os que são puxados em processos de partilha. Nos reunimos, com as diferenças de olhares que nos singularizam, no intuito de apostar nas potencialidades daquilo que os encontros trazem. Juntos, experimentamos a construção de imagens; em busca das diversas manifestações do fazer artístico, adentramos o mundo virtual, descrevendo o que encontramos na cidade e no agora, nos aventuramos pelo estado. O que se pretende é construir relações e possibilidades de criação. Trama e conexão em rede são os mobilizadores de

Page 15: Mapadoc | Ensaios e Ensejos -Um Inventário de Percepções sobre  Artistas nos limiares de uma Capital

uma vontade de constituir tessituras de afeto. Queremos olhar juntos para as formas do mundo, para os detalhes, criar olhares vindos desse contágio entre as diferenças, dos contatos que, entre nós mesmos, podem se abrir de modo imprevisto. Assim, desencadeando esse movimento, esperamos fazer ver um outro jeito de se conhecer e de ser tocado pelas energias da cidade, daquilo que se fi lma, daquilo que se inventa, daquilo que se organiza com o olhar.

Nas tramas que queremos fazer, as amarrações precisam estar em constante fl uxo, sempre por se elaborar, sempre por derivar. Pontas que se juntam e se reordenam depois, forças que se arranjam e entram em conexão para também seguir novos e livres desvios. A trama que precisamos deve ser multiplicadora. Uma trama que se tece nos caminhos das mãos de quem se reúne para criar e pensar imagem. Nossas tramas, façamos a cada gesto de costura. Façamos trama, façamos juntos.

Por uma trama de diferenças - Érico Araújo Lima.

Page 16: Mapadoc | Ensaios e Ensejos -Um Inventário de Percepções sobre  Artistas nos limiares de uma Capital

“— Denô, diabé isso de num pescar? A gente veio aqui num fazer nada, foi?— Num sei...(em Aldenor e os pescadores que [não] viriam ao mar para pescar)

Livro livre vive fora das estantes. Na cabeceira, incendeia o juízo alheio. Promove insurgências, o desesperar – esse brotar de fl or do impossível chão sem mais espera.

Chão de concreto. Natureza de asfalto e cimento e fuligem. A metrópole não brota, implanta-se, sufoca dunas, rios e lagoas, faz das jangadas paisagem e visagem os ancestrais. Grande Região Metropolitana, cosmopolita província, sedutora, implantada em nome do bom futuro e vida melhor. Mas uniformiza existires e impõe quereres de cidade grande. Lesco-lesco de formigueiro.

Page 17: Mapadoc | Ensaios e Ensejos -Um Inventário de Percepções sobre  Artistas nos limiares de uma Capital

Ir e vir por vias de asfalto em poluentes naves. Rotina para vidas sem tempo ou contratempos. Tantas entrevidas sem entretantos. No leme, dessa imensa e disciplinadora nau em expansão, um e$tranho Noé vaticina salvação ao preço do desejo imposto, do viver condicional, da obediência servil. Em meio à subserviente conformação, o espírito insólito, ávido, incandescente juízo a imbricar razão-emoção, lúdica lucidez, louca anatomia, saudável fi siologia a brotar – impossível! – sua arte. São os artistas! Espécime independente da arca do mitológico Noé; advindos sim da estirpe boêmia – plena de arte! – que mesmo de fora da grande nau chegou a nado pelo imenso apego à vida, pela insurgência em nome da liberdade! Este livro traz o olhar de boêmios sobre outros boêmios a semear insurgências. Livro para ser livre das estantes, para povoar as cabeceiras, promover urgências e desesperar e cumprir o inexorável afã da liberdade!

Inexorável afã da liberdade - Kelsen Bravos.

Page 18: Mapadoc | Ensaios e Ensejos -Um Inventário de Percepções sobre  Artistas nos limiares de uma Capital

1

int o_

itaitinga;maria gentil machado;cantora, atriz.;3/14/1936;itaitinga;francisca itaitinga;maria gentil machado;cantora, atriz.;3/14/1936;itaitinga;francisca ouchôa de olivei-ra;cantora, atriz.;8/14/1946;itaitinga;maria do socorro

g g g f

alopes sales;cantora, atriz.;6/2/1951;itaitinga;francisca maria de sousa g

tavares;cantora, atriz.;6/11/1947;itaitinga;maria elane de sousa;cantora, p g f

aatriz.;02/09/1989;itaitinga;cirilo noro-nha de lima;cantor.;7/22/1956;itaitinga;maria gg

eneusa da silva;cantora, atriz.;6/5/1947;itaitinga;maria erandir duarte g g

alves;cantora, atriz.;7/18/1956;itaitinga;lourene pinheiro da silva;atriz, g

l-contadora de histórias;27/11/1977;itaitinga;raimunda valentino da sil-g p

va;cantora, atriz;9/23/1933;itaitinga;maria eulina duarte de freitas;cantora, g

aatriz;2/14/1947;itaitinga;sérgio henrique da justa filho;ator, sonoplas-ta;31/03/1994;itag fg f

itinga;lucineide da silva sousa;atriz;29/09/1971;itaitinga;francisco de assis sousa;cantor, g g q j f pj

6compositor;1/1/1948;itaitinga;francisco monteiro da silva;artes plásti-cas;10/14/196g g fg f

de 3;itaitinga;francisco iranildo soares vieira;vocalista;05/11/1980;itaitinga;francisco de p g f p

eassis sousa;cantor e compositor;1/1/1948;itaitinga;sebastião pereira soares;mestre g f g f

-de capoei-ra;23/07/1981;itaitinga;pedro paulo oliveira nunes;instrutor de capoei-int op g pt -ra;29/06/1995;itaitinga;john hellyo assunção ribeiro;instrutor de capoei-int op g p p pp

sra;20/10/1993;itaitinga;kaiky da silva leite;músico;23/08/2005;itaitinga;oseias int og j y pg j ytatargino de olivei-ra;fotógrafo;19/07/1977;itaitinga;antônio isidoro alves da

g y g

de silva;professor de música e músi-co;31/12/1982;itaitinga;dhon mario sousa de g f g f g

eoliveira;dramaturgo, instrumentista, can-tor;02/12/1988;itaitinga;cleidiane p f g

onunes bento;atriz, oficineira e produtora cultu-ral;10/03/1987;itaitinga;antônio g g

oanderson da s. honorato;-;11/11/1986;itaitinga;veridiano uchôa do nascimento f p gp

filho;cantor, ator, escritor;13/01/1982;itaitinga;renata de sousa ribeiro;artesã, g

ncrochê;02/03/1978;itaitinga;williams de sousa ribeiro;poeta;17/03/1981;itaitinga;jonathan f gg

/1do-mingos carneiro da silva;professor de música, saxofonista, bateris-ta;15/1g p g j

e0/1983;itaitinga;gertrudes pires da costa;artesã;6/24/1957;itaitinga;rejane g p f fg p f f

ade oliviera ferrer;artesã;07/09/1974;itaitinga;vaniéle pereira g g p g j

ocosta;artesã, trabalhos com eva e iso-por;05/08/1994;itaitinga;márcio f g p

srangel de lima;artista plástico;23/05/1984;itaitinga;lucimeire alves p gp

-uchôa;cantora;2/12/1940;itaitinga;johnelton fideles felix;canta, compõe e toca vio-g p g

dlão;11/09/2008;itaitinga;antonia luiza de sousa;cantora, atriz;11/17/1954;itaitinga;leonardg j f f pg j f f

Page 19: Mapadoc | Ensaios e Ensejos -Um Inventário de Percepções sobre  Artistas nos limiares de uma Capital

2

O que é um artista? Quais suas condições de existência? A quem interessa sua existência e sua arte? Quem o legitima? Como é ser artista em uma capital e nas

múltiplas paragens que a cercam? De que se trata ser artista no Ceará? Quem são e como vivem os artistas em Fortaleza e na Região Metropolitana?

Produzir signifi cados a partir dessas perguntas é o que ensaiamos com textos, vídeos e fotos. A experiência aqui deve ser compreendida como um inventário de tentativas literárias, sociológicas, fotográfi cas e audiovisuais. Não se tratam de respostas, mas de ensaios produzidos ao longo de seis meses, com cerca de 400 artistas de nove cidades a ensejo do projeto Mapadoc/Ceará - mapeamento da cultura cearense em audiovisual. Em sua edição piloto, o projeto manteve contatos com um grande número de artistas, estabelecendo vínculos mais intensos com um número reduzido no decorrer de seu percurso

ca ca orro asa

ra, aria erte

iz, l-il-

ra, aita

or, 696

de de etre -ei--ei-sias ada

de de ene o nioonto

sã, nhan

/1/1ene aira o cio slves -io-drd

Page 20: Mapadoc | Ensaios e Ensejos -Um Inventário de Percepções sobre  Artistas nos limiares de uma Capital

3

cartográfi co que consistia em: 01) Mapeamento; 02) Ofi cinas; 03) Realização de documentários, ensaios escritos e mapa interativo. O processo se desenvolveu em Aquiraz, Caucaia, Eusébio, Fortaleza, Itaitinga, Maracanaú, Maranguape, Pacatuba e São Gonçalo do Amarante. Após estabelecer parcerias com secretarias de culturas e organizações não-governamentais em cada cidade, iniciamos os processos de aproximação e mapeamento de artistas, grupos e equipamentos culturais. Os dados eram coletados, não na ingênua intenção de conhecer-lhes por meio de números, mas no intento de estreitar laços para aprofundá-los e com eles começar a signifi car nossas questões. As ofi cinas que sensibilizavam estudantes secundaristas para a documentação da cultura local através da fotografi a e do vídeo fortaleciam vínculos com artistas das cidades - os quais, ao fi nal do processo, eram entrevistados para a composição deste livro e da série de documentários que o acompanha.

Page 21: Mapadoc | Ensaios e Ensejos -Um Inventário de Percepções sobre  Artistas nos limiares de uma Capital

4

Assim, esse conteúdo também é uma ode à arte que não se encontra no grande circuito de mídia. Sua leitura/apropriação pode se dar em três intensidades: I - No sentir - ensaios e observações mais sensíveis, subjetivas e fragmentadas das vidas de oito artistas narradas de maneira mais íntima ou mais impessoal por escritores convidados; II - No pensar - um ensaio sobre o artista e a arte no limiar de uma grande capital; III - No fazer por vir - através de sugestões de como se apropriar dos nossos gestos e métodos para seguir pensando sobre/com artistas em outras realidades.

O que encontra-se aqui são registros de processos, um inventário de ensaios e um convite a construir mapas de vivências presentes, trajetos de como descobrir relações com artistas, mais que descobrir “artistas” - estes que, por acaso, são mais carentes de relações que de descobertas.

Page 22: Mapadoc | Ensaios e Ensejos -Um Inventário de Percepções sobre  Artistas nos limiares de uma Capital

l h / / f h lfpf

pjp

s

g

q

p

f

gpg

itaitinga;maria gentil machado;cantora, atriz.;3/14/1936;itaitinga;francisca uchôa de olifilho;pintura, cenografia para teatro, adere-ços;8/26/1960;caucaia;jorge josé de alcântara;

g g g f

poética, escritos e grafitei-ro;04/12/1986;caucaia;deoclécio lino martins;humorista, comediaf p g f p j g j

(violão e baixo);30/12/1981;caucaia;eluana forte martins de paulo;orquestra de - um - p g fg f

cais);5/14/1962;caucaia;kenned ícaro cavalcante;trombonista;10/11/1995;caucaia;jakison de lf p qf p

professor;13/10/1977;caucaia;juarez cunha de andrade;compositor, escritor de cordel;3/14jj

junina;24/04/1977;caucaia;francisco adauto abreu filho;compositor, acordeonista, tecladis-p f j p

la;9/7/1948;caucaia;daniel do nascimento sombra;professor de música, intérprete-cantor, ;10/1j f f p

rodrigues façanha;cantor e compositor ;6/6/1968;caucaia;benedito rodriges ribei-ro;trombp f p

ra;05/06/1989;caucaia;adriano de souza;voz e violão;07/07/1975;maracanaú;sudailson kenng f p gf p

san-tos;atriz;28/12/1984;maracanaú;anderson fernandes barros rodrigues;videomaker, diret/01/1991;maracanaú;angela maria de sousa oliveira;atriz, bailari-na;15/07/1998;maracan

f gf g

educadora e diretora artística;27/06/1981;maracanaú;francisco márcio da silva de sousa;ator;g

circo;02/08/1991;maracanaú;francisco mário ferreira jorge;diretor e produtor de teatro de rua;7/f

gardel aragão gomes;multi instrumentista;02/02/1974;maracanaú;gonzaga monteiro;cof f j g pj g

cantador violei-ro;5/27/1956;maracanaú;dener luis de sousa soares;hip hop, break dance, g g g g g

técnico de som e ilumi-nação;13/04/1979;itaitinga;cícero gonçalo da costa;ator, diretor e gesp p

quadri-nho;01/10/1978;maranguape;alexandre santos de lima;professor de flautas e chori-g g g

lão;28/05/1985;maranguape;rosa de saron feitosa vieira;compositora, paró-dia;3/12/1959;mq g p p f fg p p f f

misson lucas da silva pinheiro;desenhista e roteiris-ta;04/08/2000;maranguape;lucas levy cg p f p pp

professor de ar-tes;12/05/1986;fortaleza;robson levy araújo prado;diretor;05/03/1991;fortalp g p yp g p

vieira de oliveira;cantora e compositora;3/18/1957;são gonçalo do amarante;joão mauríciop f f y j p f

feliciano moraes;professor de dança, diretor do grupo junino aconchego do pecém;6/6/1964p g j

do amarante;josé robério góis duarte;talha em madeira;10/8/1961;fortaleza;liliane de sá sf p f g p j g p

oliveira;brincante de quadri-lha;27/09/1988;caucaia;eliane lobo martins;artista plástj g f

leonardo da silva castro;ator, diretor teatral, musicista (guitar-ra);25/11/1984;maracanaúq p

da silva;”instrumenti sta; baterista; maestro; regente; regente de banda; can-tor; intérprete; pg

co;02/12/1981;aquiraz;francisco veronico xavier de oliveira;genipapeiro, professor de cultura tg g p p

lucia-no bento;produtor cultural;11/02/1974;maracanaú;bruno leonardo da silva cas-tro;inq f g p p p f

gomes gabriel;produtor cultural;23/12/1984;maracanaú;marcos venicius gomes gabriel;prp

professor, can-tor;7/3/1967;fortaleza;francisco de assis soares quintela junior;professor de músig g p g g p

Page 23: Mapadoc | Ensaios e Ensejos -Um Inventário de Percepções sobre  Artistas nos limiares de uma Capital

de olivei-ra;cantora, atriz.;8/14/1946;itaitinga;maria do socorro lopes sales;cantora, atviana

a -

/á -l -s 1

os

m -ie a o

lo de o z -e s

s

de olivei-ra;cantora, atriz.;8/14/1946;itaitinga;maria do socorro lopes sales;cantora, atviana tara;repente, cantor e composi-tor;12/18/1964;caucaia;francisco ítalos soares de sousa;prosa,

g p

ediante, ator;7/28/1969;caucaia;elenildo alves sobrinho;cantor, compositor, instrumentista p p f p

m - tu-do;30/07/1986;caucaia;josé wladimir vieira vivo;fotografia esportiva (esportes radi-pp

n de lima silva;músico e cantor;31/07/1981;caucaia;josafá honorato de messi-as;instrumentista/j f g f p p

3/14/1965;caucaia;rosangela bandeira gomes;cantora, atriz, cantora da quadrilha cea-rá j f

ladis-ta;18/11/1982;caucaia;jesus rodrigues sindeaux;poeta, compositor, cantor, escritor, vio-g g q

10/15/1961;caucaia;francisco rosalvo cândido costa;cantor de mpb;10/15/1961;caucaia;manoel j g p pj g p p

ombonista;12/8/1968;maracanaú;luzilângela nunes da silva;atriz, figurinista, professo-f p

kennedy galucho da silva;teatro de rua, palhaço;12/03/1986;maracanaú;aline fontenele dos g f g p f

diretor de fotografia e editor;27/12/1985;maracanaú;angélica matos gadelha sil-va;atriz;01y g p f

acanaú;geyson costa cunha;ator;22/08/1995;maracanaú;germana cavalcante tavares;atriz, f g f g g

ator;05/09/1971; maracanaú;henrique rosa da costa;ator de teatro, palhaço e malabarista no g y gg y

a;7/25/1966;maracanaú;márcia adriana ribeiro de araúo;atriz;10/10/1994;maracanaú;carlos q pq p

iro;contador violeiro, repentista;6/26/1955;maracanaú;josé ferreira de freitas;repentista, nce, house, grafite, rap;01/06/1993;itaitinga;christie de souza silva;cantor, instrumentista,

p j f f p

gestor cultu-ral;23/05/1976;maranguape;alexandre santos de lima;desenho e histórias em g f p g

hori-nho;20/10/1979;maranguape;claudio fernandes damasceno da silveira;professor de vio-g g p

59;maranguape;augusto césar silva costa;desenhista e roteiris-ta;19/08/2015;maranguape;jeig p f p f

l vy correia de lima alexan-dre;desenhista;03/02/2000;aquiraz;edgleison silva de sousa;ator eg p g g p j

f rtaleza;clara bezerra nunes barros;cantora, professora de música;21/12/1983;fortaleza;adna y q g

urício furtado;reisado bumba meu boi;5/26/1950;são gonçalo do amarante;marcos antônio f p f fp

/1964;são gonçalo do amarante;edson gonçalo de souza;quadrilheiro;22/03/1976;são gonçalo f gf g

sá silva;cantora, compositora e interpre-te;03/06/1992;aquiraz;francisco veronico xavier de g g q g

lásti-ca;01/01/2015;eusébio;adriana soares alcantara;escritora;6/17/1969;maracanaú;bruno p p q fp p q f

anaú;marcos venicius gomes gabriel;produtor;23/12/1984;maracanaú;sandro george queirozte; professor de músi-ca. ;7/3/1967;maranguape;adriano sobrinho de carvalho;diretor artísti-

g g p g g qg

ra tradicional;27/09/1988;eusébio;adriana soares alcantara;escritora;6/17/1969;itaitinga;jose p f g pg p

ro;instrumentista, editor, cinegrafista dentre outros;25/11/1984;maracanaú;marcos venicius g j

l;produtor cultural;23/12/1984;maracanaú;sandro george queiroz da silva;instrumentista, g fg

música, composi-tor, baterista e produtor musical;12/05/1993;fortaleza;ana amália de moraisp g g qg g

p;01/06/1993;itaitinga;chri01/06/1993;itaiting/05/1976;maranguape;alexan5/1976;maranguape;alexan

p gp

maranguap ;claudio f rnanmaranguape;claudio fernang pg p

tie de souza silva;cantor, isilva;candre santos de lima;desenhodre santos de lima;desenho

d d d ld d d l

Page 24: Mapadoc | Ensaios e Ensejos -Um Inventário de Percepções sobre  Artistas nos limiares de uma Capital
Page 25: Mapadoc | Ensaios e Ensejos -Um Inventário de Percepções sobre  Artistas nos limiares de uma Capital

_ Aldenore os pescadores que [não] viriam ao mar para pescar

Por Felipe Camilo

Page 26: Mapadoc | Ensaios e Ensejos -Um Inventário de Percepções sobre  Artistas nos limiares de uma Capital

9

Desconsiderasse o vento, que sempre se encontrava ali, haveria silêncio a princípio. Ou não. Desconsiderasse, talvez, um estalar de vela e um gemido manso e aquoso

de Xerife, a jangada velhinha, aí sim, quando depois de alguns sopros de vento acostumasse o ouvido, aí sim, aí sim haveria silêncio no princípio. Fosse possível, esse silêncio propagaria sua presença. Fosse dia, fosse cedo, fosse madrugada, nem faria sol ainda e provavelmente um gesto de Aldenor pediria um paradeiro já a uma longa distância que, certamente, teriam eles percorrido mar a dentro. Poderia ser autopreservação, mas não , não seria este paradeiro para si, e sim para o descanso dos outros três que já iam em idade mais avançada que Aldenor - um moço de 67 anos ao lado de Seu Miranda com 73, Seu Chico da Rosa com 81, Seu Assis com 85 e a pró-pria Xerife, sua velha jangada.

Flaneurs da alvorada, argonautas de antes da alvorada, desbravariam todas as manhãs os mares de Hemingway ou de Homero, não fossem as suas marés ancoradas ao nordeste do

Page 27: Mapadoc | Ensaios e Ensejos -Um Inventário de Percepções sobre  Artistas nos limiares de uma Capital

10

Brasil e suas águas verde-atlânticas do Pecém do Ceará - ali muito além do farol da Bahia.

Recolhida, a vela não estalaria mais com o vento. Sentados à mesma beira da embarcação, os quatro velhos pescadores estariam reunidos e ilhados por água salgada pela primeira vez em muitos anos. E pela primeira vez em suas vidas, não seriam a cavala, o serra, o biquara e o pargo a levá-los ao mar. Estariam a sós e não haveria outra jangada sequer a partilhar as primeiras águas do dia.

Mal estava para nascer o dia, e raiaria uma nova experiência às retinas fatigadas de sol e sal dos quatro velhos que, por hora, nada quereriam com o oceano que não fosse contemplar sua fl utuante e renitente vista da terra, de sua terra. Cidadezinha litorânea próxima da capital, extensa praia com um porto a cortar-lhe a paisagem que subiria e desceria sem cansar-se ainda dos pares de olhos a observá-la dali.

Page 28: Mapadoc | Ensaios e Ensejos -Um Inventário de Percepções sobre  Artistas nos limiares de uma Capital

11

Aldenor saltaria os olhos do porto às jangadinhas na praia e de volta ao porto. Seu Miranda cravaria os olhos no horizonte em busca de onde fi caria sua casa. Assis e Chico da Rosa se perderiam no horizonte que mudava conforme o vagaroso Xerife girava à deriva em águas calmas, como se cuidasse em não sobressaltar o simbiótico silêncio entre o vento e os velhos - os pescadores que não vieram ao mar para pescar. Talvez seu Chico fosse o primeiro que tomara consciência da água a lhe brincar com os pés, ou talvez fosse seu Assis. Pouco depois, estariam os quatro, ainda que timidamente sapateando a brincadeira do coco com os pés nas ondinhas vespertinas, agitando paisagem, horizonte e silêncio. A estes pescadores, os pais ensinaram duas coisas: tirar a pesca do mar, fazer a brincadeira do coco. Agora, no entanto, Miranda e Assis batucando o casco da jangada, Chico e Aldenor improvisando o cantado, meio que em transe, meio que aos risos pueris, quatro pares de pés tirariam o coco de dentro do oceano.

Page 29: Mapadoc | Ensaios e Ensejos -Um Inventário de Percepções sobre  Artistas nos limiares de uma Capital

12

Seria possível que tivesse sido seu Miranda, o mais invocado, que interrompendo a dança perguntaria:

- Denô, diabé’isso de num pescar? A gente veio aqui num fazer nada, foi?

- Num sei...

Ventaria um pouco mais e o sol começaria com amarelo a romper o azul orvalhado das primeiras horas, pois um novo silêncio chegava junto das novas cores. Os brincantes fariam um paradeiro. Umas horas antes, Aldenor teria acordado de madrugada. Estaria ele confuso? O corpo haveria retornado ao tempo de labor em pesca que justifi casse tal lapso de sono? Não saberia dizer. Sabia, porém, que pescava e depois à luz da fogueira comia pirão e peixe com a mão direto à panela. Sabia que depois brincava o coco. E sabia que ainda hoje brincava o coco. E sabia que não pescava mais e talvez por isso teria acordado inquieto essa noite. Bastando um lampejo de coragem,

Page 30: Mapadoc | Ensaios e Ensejos -Um Inventário de Percepções sobre  Artistas nos limiares de uma Capital

decidiria pôr o mar à prova mais uma vez. Nem faria lua e se ouviria das casas do mestre Chico da Rosa, de Seu Assis e de Seu Miranda o chamado de Seu Aldenor.

- Vam’enino, Hoje tem coco no mar! Esquece a rede e empurra a jangada que hoje tem coco no mar!

Houvesse ocorrido, fosse dia, fosse madrugada, o Pecém todo dormira sem ver os quatro velhinhos brincantes na rua escura. Houvesse ocorrido, seguiriam sem discutir, os outros três, a ideia de Aldenor. Amanheceria na praia sem que se soubesse como os já aposentados pescadores empurraram Xerife na água. E nem o sol entenderia que fariam na beira do barco os quatro velhos sapateando no mar.

Page 31: Mapadoc | Ensaios e Ensejos -Um Inventário de Percepções sobre  Artistas nos limiares de uma Capital

“”Talvez Aldenor tivesse encontrado Vitor. Isso provavelmente aconteceria na praia. Vitor é urbano, mas um cara de Fortaleza gosta de mar. Precisaria ser no Pecém, porque Aldenor é um homem do Pecém. O músico estaria embotado na beira da água - pensando em um sei lá quê - quando o gentil pescador cumprimentaria de passagem o estranho. Conversariam sobre música? Sobre a vida? Sobre o Coco? Conversariam?

Page 32: Mapadoc | Ensaios e Ensejos -Um Inventário de Percepções sobre  Artistas nos limiares de uma Capital
Page 33: Mapadoc | Ensaios e Ensejos -Um Inventário de Percepções sobre  Artistas nos limiares de uma Capital

_ VitorPor Clara Capelo

Page 34: Mapadoc | Ensaios e Ensejos -Um Inventário de Percepções sobre  Artistas nos limiares de uma Capital

17

F ico imaginando como ele acorda. Fico imaginando o que ele faz naquele momento que acordamos e fi camos entre o onírico e a realidade, aquele momento que a gente fi ca

lembrando dos sonhos (ou, ainda, só tentando lembrar) e ao mesmo tempo a gente olha ao redor pra entender que horas são, entender o que aquele dia nos espera, se estamos atrasados ou se simplesmente bate um certo desespero por não saber o que fazer, por não saber porque motivo nos levantamos da cama. Fico tentando adivinhar como ele trava o seu primeiro diálogo, como ele inicia uma primeira conversa do dia. Vivenciei ser essa primeira conversa. E já eram conversas profundas, mesmo sendo bem cedo da manhã e eu ainda não tendo saído dos meus sonhos.

Se eu junto o que ele me conta do seu dia com o que eu imagino que ele faça, vejo ele acordando, tomando um café (mesmo sabendo que ele não toma, ele já tem energia demais e o café não faz muito sentido pra ele), coloca um vinil na altura máxima

Page 35: Mapadoc | Ensaios e Ensejos -Um Inventário de Percepções sobre  Artistas nos limiares de uma Capital

18

que seu som alcança, lê um pouco, resolve - do nada - pintar uma parede de sua casa, escreve um pouco e tenta terminar seu livro, fi ca horas pensando existencialmente em qualquer coisa que seja, pega o violão, dedilha algumas de suas músicas e torna a pensar novamente, apenas pensar. Como um bom canceriano, ao resolver sair de casa, deve passar horas resolvendo a roupa que vai vestir. Não pela futilidade em mostrar alguma coisa com uma roupa, mas ele acredita que a roupa deve dizer, minimamente, como ele está, se está bem ou se está num dia de sombras. Acredita que a roupa é um escudo e, dependendo dela, pode evitar alguns encontros constrangedores em que uma pessoa chega muito feliz pra falar e ele, naquele instante, não tem sorrisos para retribuir.

Nos dias bons, ele pode chegar com grande ideias, grandes histórias, com muito entusiasmo, os olhos brilham e as veias de sua testa saltam. Ele grita, pula, se contorce, sai de si e fala, fala, fala. Nos dias que tem uma nuvem cinza acima de sua cabeça,

Page 36: Mapadoc | Ensaios e Ensejos -Um Inventário de Percepções sobre  Artistas nos limiares de uma Capital

ele se indigna. As contorções, ao falar, continuam existindo, os pulos também, mas o gritos parecem sair mais de dentro, mais de vísceras do que de outro lugar.

Eu nunca sei se vou encontrá-lo de roupas pretas, dentro de si, ou se vou encontrá-lo com uma camisa rosa, sorriso estampado e o ébrio gritando por ele. Acho que eu tô começando a saber, mas ele não sabe, ainda que qualquer encontro pra mim vale. A troca, o que ele me traz numa conversa, vale. Mesmo ele estando bem ou não. Os questionamentos e os seus pensamentos mais altos me trazem a verdadeira sensação de que eu não estou só. E não estar só já vale, já vale acordar e ver a claridade irritante, muitas vezes, do sol.

Volto à minha imaginação e penso que, num dia em que ele esteja bem, deverá apenas colocar um chapéu, sair caminhando e nem perceber se o sol irrita. A cabeça dele deve falar mais alto que o sol. Ele não liga, apenas caminha.

Page 37: Mapadoc | Ensaios e Ensejos -Um Inventário de Percepções sobre  Artistas nos limiares de uma Capital

“”Talvez Vitor tivesse encontrado Pajé Barbosa. Sabe lá! O índio Pitaguary é caminhador. Vitor também é meio nômade. Sendo assim poderiam se achar em qualquer lugar entre as matas e as urbes. Que será que trocariam? Algo mais que olhares? Trocariam visões?

Page 38: Mapadoc | Ensaios e Ensejos -Um Inventário de Percepções sobre  Artistas nos limiares de uma Capital
Page 39: Mapadoc | Ensaios e Ensejos -Um Inventário de Percepções sobre  Artistas nos limiares de uma Capital

_ Benício e o Pajé BarbosaPor Fernanda Brasileiro

Page 40: Mapadoc | Ensaios e Ensejos -Um Inventário de Percepções sobre  Artistas nos limiares de uma Capital

23

Quando a chuva acaba de cair na pedreira, a vasta muralha brilha com a água que ainda retém e, aos poucos, vai deslizando se deixando engolir pela terra que abriga uma

vasta vegetação debaixo daquele céu que não espalha nem dia nem noite, apenas uma penumbra cálida.

Debaixo das folhas de um frondoso cajueiro, um cachorro fuça de mansinho a mão de Benício que, cautelosamente, mescla tauá e água sobre um pedaço disforme de telha até formar uma lama amarela viscosa. Algumas gotas de sereno ainda caem e ao longe a sombra de um homem se aproxima e ele o observa, há um tempo ele estava ali, o observando também.

Ele senta ao seu lado e tem pendurado na boca um cachimbo fumegante, com uma fumaça muito antiga. Mais antiga que aquelas pedras. Pajé Barbosa, em gestos lentos, pega sementes do chão, de diversas cores, formas e tamanhos e as liga misteriosamente por um cordão de fi no cipó. Benício olha a

Page 41: Mapadoc | Ensaios e Ensejos -Um Inventário de Percepções sobre  Artistas nos limiares de uma Capital

24

variedade de sementes que surgem do chão, caídas de árvores e vindas com o vento e em como elas mudam de cor de modo imperceptível ao seu olhar.

Seu preparo de tauá permanece na telha e distraído pelo movimento de cores das contas ele escuta Barbosa perguntar baixinho o que ele iria pintar. Benício pega o preparo e mistura novamente e, enquanto Barbosa continua inserindo contas de muitas cores no vistoso colar, ele o responde que iria fazer uma pintura em seu rosto, mas não sabia de quê. Ele nunca sabia o que iria pintar, era sempre aquele tipo de imagem que surge e pede para ser pintada, encontrava em sua mão repouso e na superfície, perene ou efêmera, abrigo.

Barbosa para de pôr sementes em seu colar e ancora o olhar em algum lugar indefi nido, longe dali. E com a voz suave, fala o orgulho de carregar em sua pele, além de em seu espírito, a cultura dos antigos, em desenhos, em tinta e em sementes

Page 42: Mapadoc | Ensaios e Ensejos -Um Inventário de Percepções sobre  Artistas nos limiares de uma Capital

“Tudo aqui, em toda essa natureza, do grão de barro, das areias, até a pedra que toca o céu, respira essa energia - e nos toca e é carregado pelos os que vevem.”

Com o talo de folha de bananeira, Benício traça no rosto do Pajé linhas e círculos de formas diferentes, combinados como em seu cordão. Em sua pintura, os círculos se unem por essa linha, disformes, coloridos e mutáveis, belos em sua harmonia. “Também somos essas sementes - todos de formas, cores, texturas diversas”. Barbosa entrega o colar de sementes disformes com um sorriso. “Somos unidos por esse cordão, portanto somos todos parentes”. Benício com o colar na mão olha para o topo do cajueiro que se move em outra velocidade, em outro tempo longe daquele que vai embora e retorna de novo. Em devaneio ou não, ele vê a sombra do Pajé distante e mais distante. O colar em sua mão vibra uma energia calorosa. Um vento sopra suave, ele inspira de olhos fechados e agradece.

Page 43: Mapadoc | Ensaios e Ensejos -Um Inventário de Percepções sobre  Artistas nos limiares de uma Capital

“”Talvez o Pajé tivesse encontrado Luciano. Já se sabe que o Pitaguary é caminhador e para tanto, não precisaria ir lá tão distante. Talvez o Índio tivesse visto o outro brincar o Boi de Itaitinga. Que energia ele sentiria vibrar do ator junto dos seus. Lhe perguntaria os signifi cados da Acauã? Ou já carregava consigo alguns deles? Eles, que partilham quase a mesma distância da capital, sentem as mesmas difi culdades e satisfações dessa lonjura?

Page 44: Mapadoc | Ensaios e Ensejos -Um Inventário de Percepções sobre  Artistas nos limiares de uma Capital
Page 45: Mapadoc | Ensaios e Ensejos -Um Inventário de Percepções sobre  Artistas nos limiares de uma Capital

_ Luciano Bento Por Karlo Kardozo

Page 46: Mapadoc | Ensaios e Ensejos -Um Inventário de Percepções sobre  Artistas nos limiares de uma Capital

29

Somos todos fi cção. Somos fi cção de nós mesmos, nos nossos devaneios, sonhos, projeções. Construímos imagens em verdades que repetimos à exaustão até enxergar em

nós mesmos aquilo que acreditamos ser. Fazemos como assim fi zeram nossos pais que nos batizaram nominando-nos. Antes eu nem era Luciano Bento. Esse nome foi invenção de minha mãe que eu só vim aceitar e entender mais tarde quando conheci o santo de quem ela roubara o nome. Depois disso, veio a criação de nossos irmãos, dos nossos amigos e dos nossos inimigos também, que nos recriam com apelidos as vezes carinhosos, outras vezes nem tanto. Bentinho, Lu-lu, Cabeção, Cara de Lua, Calango Seco, Quatro-olhos, Batoré, Fí-de-vó. E à identidade cumulativa de rótulos, personas, máscaras, disfarces, que se colam em nossa imagem como invólucros fi ccionais, como anéis de crescimento de uma árvore, se ajunta à criação do olho curioso e inventivo dos vizinhos insones. O

Page 47: Mapadoc | Ensaios e Ensejos -Um Inventário de Percepções sobre  Artistas nos limiares de uma Capital

30

lugar onde nascemos é parte dessa verdade inventada. Antes de mim ele era apenas um território, uma invenção, mais política que real, mais legal que afetiva. Ele só se torna lugar quando as primeiras lembranças se concatenam formando uma narrativa, formando aquela sequência de fatos signifi cativos que selecionamos para chamá-la de minha vida. O lugar que a gente nasce só nasce depois da gente, quando nossa vida, aos pouquinhos, vai ganhando sentido ou quando pouco a pouco a gente vai dando sentido a ela, quando na verdade a gente vai inventando esse lugar. E foi assim que um pacatubano deixou de se identifi car com os resquícios de mata atlântica e assumiu a caatinga como berço. A umidade deu lugar à secura poeirenta de paisagem cinza, de sol escaldante de um eterno meio-dia. Aqui, o verde só se ampara nos raros invernos. Invernos geralmente rápidos, de esperança que não se demora. Itaitinga é feita de pedra e secura. O seu chão é duro como o pau do jucá. Nesse

Page 48: Mapadoc | Ensaios e Ensejos -Um Inventário de Percepções sobre  Artistas nos limiares de uma Capital

chão só prospera o tingui venenoso e o jiquiri espinhento que marca na pele o arranhão que infl ama. Berço de bravos e rudes viventes que se agarram com teimosia ao esguio fi lete d’agua do Cocó impedindo a vida de ir-se de vez. Nesse drama entre o ser e o estar eu me aconteci, inventado e inventando, gente e lugar, tramando as tramas do ser bordado no espaço. Colei as falas, os dizeres, os achares nas cortinas entreabertas, na rotunda negra do fundo da cena. Pendurei as imagens, as fotos, os quadros, as lembranças, as paisagens nas varas do meio do tablado. Fui encenando a cada caminho percorrido um drama de uma realidade impossível e absurda. Vivo toda a diversidade de gentes, bichos, plantas e coisas existentes e imaginárias ao mesmo tempo em tempos sobrepostos, onde passado e futuro são só presentes. Pois eu, Luciano Bento, escolhi o sonho como modo de vida.

Page 49: Mapadoc | Ensaios e Ensejos -Um Inventário de Percepções sobre  Artistas nos limiares de uma Capital

“”Talvez Luciano tivesse encontrado Verónica. Talvez Luciano a tivesse visto em cena. Atuando? Cantando? E mesmo sendo ator, quiçá exatamente por isso, não teria conseguido sentir o quanto de Verónica é personagem, o quanto Verónica não é personagem. Teria ele perguntado o quanto de si é atuação, o quanto de si é “real”?

Page 50: Mapadoc | Ensaios e Ensejos -Um Inventário de Percepções sobre  Artistas nos limiares de uma Capital
Page 51: Mapadoc | Ensaios e Ensejos -Um Inventário de Percepções sobre  Artistas nos limiares de uma Capital

_ Verónica Valen inoTestemunho de um boy

Por Danilo Castro

Page 52: Mapadoc | Ensaios e Ensejos -Um Inventário de Percepções sobre  Artistas nos limiares de uma Capital

35

Foi um susto. Eu tinha 17 anos. Recém-ingresso na faculdade. E ele me apareceu de pernas cruzadas no banco da universidade, cerrou os olhos e me enlaçou com

uma fumaça de cigarro. Ele, com seu jeito ambíguo, cabelos ondulados, uma magreza clássica, puxou-me pelo braço e simulou chupar-me como se fosse a última vez em que um homem pudesse ser chupado na Terra. Encolhi a pélvis, olhei para os lados, ensimesmado, e me desvencilhei. As outras do tipo dele riram de mim. Dali pra frente, eu passei a olhar aquela fi gura de um jeito cada vez mais instigado, mas minha pueril e lenta descoberta de mim não me permitia ainda a segurança de tirar sarro daquilo tudo e levar na brincadeira – afi nal não passava disso. O que eu fazia? Enterrava o pescoço e admirava a metamorfose daquela criatura que deixava cada vez mais sua pequenez morrer para dar espaço a uma mulher daquelas que rasgam a voz sem medo das pedras.

Page 53: Mapadoc | Ensaios e Ensejos -Um Inventário de Percepções sobre  Artistas nos limiares de uma Capital

36

Jomar Carramanhos foi percebendo-se numa nova identidade até que Verônica Valenttino não aguentasse mais latejar no seu tórax, estourando a garganta com o som de Piaf. Ali, em meados de 2008, ela dublou no palco pela primeira vez e não conseguiu mais parar. Pouco tempo depois, lá estava Verónica embebida de Ney Matogrosso no espetáculo Engenharia Erótica (2010). Cantar lhe é tão necessário como ar que respira. Verónica fez carão, testemunhou-se como trava e virou persona da madrugada de Fortaleza.

Mal sabia eu que aquele jovem brincalhão havia sido expulso da igreja evangélica aos 20 anos porque queria fazer faculdade de teatro; mal sabia eu que estava diante de uma potência de artista prestes a desabrochar; mal sabia eu que aquele berço que o renegou pregando o fanatismo religioso travestido de decência seria - aos meus olhos - um dos maiores problemas da violência e opressão na contemporaneidade.

Page 54: Mapadoc | Ensaios e Ensejos -Um Inventário de Percepções sobre  Artistas nos limiares de uma Capital

37

Mesclando teatro e música como quem mescla identidades, surgiu a banda Verónica Decide Morrer, um misto de fashion-rock-punk-gay teatralizado, com letras autorais, que ganhou as noites alternativas da cidade. Verónica celebra o ambiente caótico da última noite de uma travesti marcada pelos excessos de toda uma vida. Suas inquietudes e lembranças a direcionam para uma poesia cênica que oscila entre versículos da Bíblia e poemas eróticos de Ayla Andrade.

Ela botou fogo no salão, assim como “o fogo do Senhor caiu e queimou completamente o holocausto, a lenha, as pedras e o chão” (1 Reis 18:38). Verónica é política, militante, artista que se usa como instrumento de uma luta maior em defesa do movimento LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais e Travestis). Tanto que o trabalho com o grupo teatral As Travestidas se encorpa mais a cada ano, sob as plumas de Silvero Pereira (Gisele Almodóvar).

Page 55: Mapadoc | Ensaios e Ensejos -Um Inventário de Percepções sobre  Artistas nos limiares de uma Capital

38

Sete anos depois daquele primeiro encontro, numa madrugada embriagada pelo Centro, Verónica e eu nos encontramos outra vez. Na porta do Cine Betão, a fumaça enlaçou-me novamente. Ela cerrou os olhos e pediu-me com uma tez ironicamente infante. “Posso lamber sua axila? É que gosto de feromônios”. Aquele moço inseguro de outrora já não existia mais, nem aquela criatura afeminada de cabelos curvilíneos. Ali, éramos homem e mulher. “”Talvez Verónica tivesse encontrado Zé Ferreira. Não seria impressionante se a dama andrógina tomasse carona no caminhão do violeiro? Estaria ela em fuga para algum lugar mais interessante que Fortaleza, ou de volta desse lugar? Só aqui já iriamos com dois bons assuntos comuns aos dois artistas distintos: a música e a extensão de estradas rodadas. Conversariam a respeito?

Page 56: Mapadoc | Ensaios e Ensejos -Um Inventário de Percepções sobre  Artistas nos limiares de uma Capital
Page 57: Mapadoc | Ensaios e Ensejos -Um Inventário de Percepções sobre  Artistas nos limiares de uma Capital

_ O Repentista Zé Fer eira da viola ao caminhão

Por Rouxinol do Rinaré

Page 58: Mapadoc | Ensaios e Ensejos -Um Inventário de Percepções sobre  Artistas nos limiares de uma Capital

Repente, a arte do gênioGeraldo Amancio PereiraE tantos outros QuixotesDessa “sina violeira”...Andando por toda parteTambém viveu dessa arte,O poeta Zé Ferreira.

Nasceu em ItapiunaNo Ceará, belo estado,Seu pai foi agricultor,Mas Zé foi predestinadoPara um rumo diferenteE ainda adolescenteAbandonou o roçado!

Page 59: Mapadoc | Ensaios e Ensejos -Um Inventário de Percepções sobre  Artistas nos limiares de uma Capital

Quando ainda era menino,No seu querido “torrão”Cantoria de violaEra a maior atração;E os romances, as canções,Lhe despertavam emoçõesBem fundo em seu coração!

A melodia do pinho,Os romances de amor,O improviso, o baião,Do bom improvisadorFaziam José dizer:— Um dia, quando eu crescer,Também vou ser cantador!

Page 60: Mapadoc | Ensaios e Ensejos -Um Inventário de Percepções sobre  Artistas nos limiares de uma Capital

Dizem que a vida é assim:Basta a gente acreditarE, com determinação,Por nossa meta lutar.Quando um sonho nos inspiraO Universo conspiraPara se concretizar.

Assim, aos dezesseis anos,O Zé Ferreira ganhouUma viola novinhaQue o pai lhe presenteou.De cantar já tinha planos,Mas ainda por seis anosSó aprendendo fi cou.

Page 61: Mapadoc | Ensaios e Ensejos -Um Inventário de Percepções sobre  Artistas nos limiares de uma Capital

Até que na regiãoApareceu João Pereira(Repentista João Campina),Que incentivou Zé Ferreira.Fizeram uma cantoriaE, a partir daquele dia,Largou a vida roceira.

Cantando em AracoiabaCom João Campina, afi nal,Na noitada de violasConheceu José Sinval,Com quem passou a cantar,Decidiram viajarComo dupla especial.

Page 62: Mapadoc | Ensaios e Ensejos -Um Inventário de Percepções sobre  Artistas nos limiares de uma Capital

A dupla, durante um ano,Fez bastante cantoria.Baturité, Fortaleza,Toda a região cobria...Vivia como sonhava,Mas descobriu que não davaPra viver de poesia.

Quando casou, fi nalmente,O poeta Zé Ferreira,Viu que o repente exigiaUma vida aventureira.Pensou noutra profi ssãoPara dar mais atençãoAo lar e a companheira.

Page 63: Mapadoc | Ensaios e Ensejos -Um Inventário de Percepções sobre  Artistas nos limiares de uma Capital

Daquele dia em dianteTornou-se caminhoneiro,Mas parava mais em casaQuando era um violeiro.Rodava do sul ao norte,Porque era a sua sorteViver como um estradeiro!

Então seguiu Zé FerreiraComo uma sina traçada.Ficou por vinte e três anosCortando chão, na estrada;E, assim, por muitas vezes,Demorava até três mesesLonge do lar e da amada.

Page 64: Mapadoc | Ensaios e Ensejos -Um Inventário de Percepções sobre  Artistas nos limiares de uma Capital

Por este Brasil afora,Nesses anos que rodou,Encontrando repentistasDiversas vezes cantou.Cantava esporadicamente,Mas a arte do repenteEle nunca abandonou.

Aos cinquenta e nove anos,Por motivo de saúde,Não é mais caminhoneiro;Mas lúcido e com atitudeSe dedica integralmenteÀ viola e ao repente,Como em sua juventude!

Page 65: Mapadoc | Ensaios e Ensejos -Um Inventário de Percepções sobre  Artistas nos limiares de uma Capital

“”Talvez Zé Ferreira não tivesse encontrado um “Grud” riscado ao canto de um grande mural pintado a céu aberto, mas com sorte encontraria um Narcélio com uma lata de spray em punho precipitando os primeiros traços de seu grafi te. Acreditaria o caminhoneiro tratar-se de um pixador? Que faria a respeito? O acusaria de vandalismo? Celebraria o mural com o mesmo carinho que dedica ao repente? Será que conversariam sobre a efemeridade de suas obras? Chamariam de “Obras”?

Page 66: Mapadoc | Ensaios e Ensejos -Um Inventário de Percepções sobre  Artistas nos limiares de uma Capital
Page 67: Mapadoc | Ensaios e Ensejos -Um Inventário de Percepções sobre  Artistas nos limiares de uma Capital

_ Gr dMurais para uma cidade por vir

Por Érico Araújo Lima

Page 68: Mapadoc | Ensaios e Ensejos -Um Inventário de Percepções sobre  Artistas nos limiares de uma Capital

51

A cidade se transforma em um corpo plástico a ser modelado e reinventado pelas tintas, pelo spray, pelas intervenções de cores e formas de Narcélio Grud. A arte urbana é

essa forma de expressão capaz de transformar a experiência de cidade em algo completamente inaudito. A arte de Grud está no meio da rua, no meio do mundo, suscitando sensações para o movimento de quem passa e está aberta, de modo radical, aos rastros do mundo que vão também se compondo com os traços deixados no muro pelo artista. Ele dispara uma cena, desviante e ao mesmo tempo tributária do mundo vivido.

De um lado, ela vem em diálogo com as formas da cidade, mas de outro, ela também cria o seu próprio espaço de arranjo sensível, a partir do olhar do artista. É como se Grud fi zesse surgir uma terceira cidade, entre aquela que está nele e uma outra, aquela que se apresenta em um fora, aberta às modelagens de suas mãos. Terceira cena, portanto, que já não pertence mais nem a uma simples subjetividade do artista, nem a uma realidade do que estaria no mundo. Essa terceira cidade se projeta como

Page 69: Mapadoc | Ensaios e Ensejos -Um Inventário de Percepções sobre  Artistas nos limiares de uma Capital

52

um corpo comum, uma nova superfície modelável que convoca todo um coletivo de imaginações.

Esse diálogo criador, em que a cidade e o artista inventam juntos muitas vidas possíveis, parte de uma experiência de corpo bastante concreta, que remonta a períodos de explosão dos limites do mundo. Juventude marcada por uma experimentação intensa da cidade, Grud desbravou trajetos no skate, inventou percursos com a deriva punk, deixou camadas de subjetividade nas primeiras inscrições que arriscou fazer nas texturas do urbano.

Riscar é imprimir uma presença. É também dar forma a novos volumes, a murais de afetos. O grafi te traça curvas, sinuosos volteios, desenha rostos, seres imaginários, cartografa fábulas para uma cidade, uma maneira de produzir, em força pictórica, algumas linhas de fuga nas superfícies chapadas e, por vezes, sem horizontes, do urbano. Rastros sobre rastros, as tintas fazem surgir novas potências de vida em meio às restrições de possíveis que nossas cidades costumam nos impor como lógica de consenso.

Page 70: Mapadoc | Ensaios e Ensejos -Um Inventário de Percepções sobre  Artistas nos limiares de uma Capital

Quando Grud faz essas pulsões ganharem vida em muros pela cidade, ele desconcerta a maneira habitual de olharmos para os espaços. Muros que disparam novos hábitos. Multiplicidades de pontos de vista: multiplicar cidades. A arte urbana se transforma num gesto de parto de cidades dissonantes. Ela projeta para a cena do urbano uma descentrada e polifônica experiência de cenografi as moventes. Ela dá movimento a um muro, dá fl uidez a uma rua, faz surgir outros fl uxos nos trânsitos da cidade. Um corpo passa e se vê alterado por aquilo que, no muro, não cessa de interrogá-lo. Uma nova memória de cidade se cria, com a conjugação de várias memórias na espessura dos traços. No entremeio dessas formas e fi guras, um muro se transforma em um agregado de travessias para os corpos dos passantes.

Grud e a cidade se entrelaçam, assim, num só e mesmo atravessamento. O próprio artista investe numa travessia que precisa afi rmar um território sensível para a criação. As origens de uma arte urbana que emerge das franjas de uma cidade vêm irromper em uma subjetividade potente em se fazer como

Page 71: Mapadoc | Ensaios e Ensejos -Um Inventário de Percepções sobre  Artistas nos limiares de uma Capital

expressão artística. Metamorfoses de um corpo, de um muro, de uma rua – de uma cidade inteira. A arte de Narcélio Grud testa as bordas, brinca com os materiais, para fazer do urbano o laboratório para a invenção de uma sensibilidade por vir.

“”Talvez Grud tivesse encontrado Francélio. Defi nitivamente seria pela noite, possivelmente em um bar. Se Grud estivesse a descansar, com certeza esse não seria o caso do Poeta que vendia livros madrugada à dentro. A conversa poderia ser longa se tratassem de suas relações com a rua. Encontrariam defi nição sobre o lugar dos versos e das imagens nas vias da cidade?

Page 72: Mapadoc | Ensaios e Ensejos -Um Inventário de Percepções sobre  Artistas nos limiares de uma Capital
Page 73: Mapadoc | Ensaios e Ensejos -Um Inventário de Percepções sobre  Artistas nos limiares de uma Capital

_ Francélio Fig eredoPor Alan Mendonça

Page 74: Mapadoc | Ensaios e Ensejos -Um Inventário de Percepções sobre  Artistas nos limiares de uma Capital

57

A noite cai sobre a cidade triste, confusa e risonha. Formam-se labirintos de mesas. Dizem que há alguém feliz. E porque hoje é sábado... ou terça... ou quinta... ou

quarta... ou sexta... ou um domingo depois da missa... e porque há segundas intenções em quase tudo, um poeta perambula entre as cervejas e as pessoas, entre as conversas, as mentiras e os fl ertes, com livros nas mãos e uma bolsa nas costas. Entre os livros, há um que tem na capa as cores de uma antiga bala popular; pois, à noite, quando todos os gatos são pardos, qualquer convencimento há de valer qualquer coisa. Chama-se, o poeta, Francélio Figueredo, o próprio inverso do feliz. Sujeito sisudo, tem na memória do sangue a ancestralidade das viagens. Nasceu em Tabuleiro do Norte, no vale da onça... do rio seco... Antes de pisar fi rme as areias do Tabuleiro, veio para a Fortaleza de Nossa Senhora de Assumpção. Seu pai vivia de viajar, até que fez a viagem que se vai e não se volta. Restou a Messejana, ainda sem índia bronzeada a lhe tomar de conta, a ter com o menino,

Page 75: Mapadoc | Ensaios e Ensejos -Um Inventário de Percepções sobre  Artistas nos limiares de uma Capital

58

virando homem nas antigas ruas calmas de fi m de século. Quisera o destino que o menino dado a liberdades fosse estudar em uma escola que tem o triste nome de Presidente Médici - a inteligência brasileira ainda é calada pela gritaria dos imbecis. Pois bem, justo nessa escola havia uma professora, sobrevivente das intempéries, que teve a lúcida ideia de pedir aos alunos que escrevessem, cada um, um livro, como quem pede a cada vida uma nova vida. A professora Maria de Lourdes fez com que a doidice comum do menino de falar sozinho virasse aos poucos um despeneirado de versos que ele repetia pelo caminho da escola até decorar, para escrever no caderno quando parasse de caminhar. Francélio era poeta... desde aquele tempo até o resto de sua vida, caso queira ou não, inevitavelmente. Depois da descoberta íntima, quando chegou a precoce hora da seriedade das decisões futuras, o poeta, a conversar sozinho, decidiu ir ouvir histórias ofi ciais, sem entender ainda que gostava era das histórias inventadas, mas das inventadas fora dos muros do

Page 76: Mapadoc | Ensaios e Ensejos -Um Inventário de Percepções sobre  Artistas nos limiares de uma Capital

poder. A vida é uma história inacabada, a faculdade também. Então, o poeta danou-se a cantar poesia, a inventar histórias, como a do lindo conto da menina que virava água; Inversos Felizes, o livro com cores de bala popular; A borboleta e o jacaré; Amor menino; Deixe que a vida nasça; e Mariposas são feitas de cobre. Pousou entre amigos, músicos e cantores, com o Mariposas, no palco, em um espetáculo que mistura sua palavra cantada e falada, como assim ele o é: expressão de palavras misturadas, mas de força e delicadeza próprias, singulares. Assim, também, misturada de caminhos, de viagens, encontros e despedidas é sua própria vida, sua história.

Finda a noite na cidade triste e o poeta recolhe os livros não-vendidos e conta o dinheiro que sobrou depois das contas dos bares e sai a falar sozinho, a decorar versos pelo caminho decorado de sua Messejana.

Page 77: Mapadoc | Ensaios e Ensejos -Um Inventário de Percepções sobre  Artistas nos limiares de uma Capital
Page 78: Mapadoc | Ensaios e Ensejos -Um Inventário de Percepções sobre  Artistas nos limiares de uma Capital

l / / f l l ls

pjp

g

ç

torquato e sil-va;compositor e guitarrista;30/12/1990;fortaleza;arlindo orlando de sousa silva câmara vieira;produtora e realizadora;05/05/1992;fortaleza;adna vieira de oliveira;c

q p g f

educador popu-lar;12/10/1960;pacatuba;conceição ferreira pinto;cantora e produto-ra;08/12p ff

de oliveira;violeiro e repentista;5/23/1947;maracanaú;joão paulo rodri-gues;grafiteirp p p f p p

música.;03/01/1985;fortaleza;priscilla cunha simoes;atriz;27/08/1985;fortaleza;paulo rogérp j p g g fp j p

palestran-te.;4/4/1969;fortaleza;maira izaias puig sauri;atriz ;24/07/1991;fortaleza;adrief p f p gf p f

jacqueline moura de oliveira;bailarina, atriz e coreógrafa, professora de a dança contemp f p g f

coreógrafa, pro-fessora de a dança contemporânea;11/11/1964;fortaleza;francisco ribeiro de aj q g f p fg f

gonçalves da silva;diretor, roteirista, montador, desenhista de som, designer de produ-ção;11g f p f p f f

brasileira de capoeira;grupo de capoeira;itaitinga;apoci - associação dos produtores de artesando re mi folia;marchinhas e frevos;caucaia;rozangela bandeira e banda;banda de forró ção;maracanaú;grupo garajal;teatro de rua;maracanaú;faca cega creu;hip hop, dança, break clássico ao popular;maracanaú;quadrilha junina caninha verde;quadrilha junina;marangubumba meu boi;reisado;são gonçalo do amarante;grupo junino aconchego do pecém;quadrilteatro acauã;teatro tradicional, de rua, do oprimi-do,;aquiraz;quadrilha junina girassol de lar;caucaia;grupo de capoeira arara;dança;caucaia;quadrilha infantil balão junino;dança;cauindíge-na;caucaia;gremio de recreio e estudos de caucaia;banda;maracanaú;gratf grupo artísticorita costa;dança folclóri-ca;aquiraz;associação tapera das artes;teatro para todas as idades;aquirade aquiraz;quadrilha juni-na;caucaia;grupo de capoeira arara;capoeira;caucaia;quadrilha infade caucaia - acita;comunidade indígena;itaitinga;quadrilha arraia pegada santa;quadrilha juroda;teatro e cir-co;fortaleza;companhia cle(circo lúdico experimental);artes circenses, teatro d

g g q p g q jg q p g

na;teatro;afortaleza;grupo bagaceira de teatro;teatro;fortaleza;grupo expressões huma-nas;teatde teatro;teatro de bonecos;fortaleza;as catirinas;teatro, literatura, contação de histórias e cultude teatro;teatro, performance;fortaleza;cia cle;teatro e circo;fortaleza;grupo ânima teatro de

f

união breaks crew/ eubc;hip-hop;eusébio;grupo de teatro macunaíma;rua, palco, panfletá-rio;fp f f f g pf

lengo;fortaleza;grupo bricoleiros;teatro de bonecos;fortaleza;pavilhão da magnó-lia;teatro;fmusical;fortaleza;água de quartinha;música popular (rock, samba, regional, blu-es);forta

g f g p f p g fp g

tropical;-;fortaleza;circo meridiano;-;fortaleza;coletivo artístico as travestidas ;coletivo artísticomarinho;instrumental/experimental;fortaleza;siege of hate - s.o.h.;rock;fortaleza;velhos abu

p f f

Page 79: Mapadoc | Ensaios e Ensejos -Um Inventário de Percepções sobre  Artistas nos limiares de uma Capital

usa andrade;roteirista e operador de som direto. ;07/03/2015;fortaleza;luciana ribeiro da

é de

-a e s o a-

do dode

-oala

de -aa e -oo a

usa andrade;roteirista e operador de som direto. ;07/03/2015;fortaleza;luciana ribeiro da ira;cantora e composito-ra;3/18/1957;fortaleza;elias josé da silva;poeta, compositor, escritor,

p f

8/12/1976;maracanaú;maria luciana mendes da silva;pintora;10/11/1961;maracanaú;josé p f j p pp f j p

fiteiro;03/01/1983;fortaleza;anna henrike eymess;cantora, violonista e professora de p j

rogério de oliveira jales;regente de corais, professor de música, cantor, compositor e violonista - f f y p f

driele magalhães nu-nes freitas;montador, performer, fotógrafo;06/06/1990;fortaleza;silvia g j g p f pp

ntemporâ-nea;11/11/1964;fortaleza;silvia jacqueline moura de oliveira;bailarina, atriz e g f p f f g f f

de alencar fi-lho;fotografo, compositor, diretor, roteirista;25/09/1987;fortaleza;rafael de jesus p f j q

ão;11/11/1991;itaitinga;flor da pedra;dramas;itaitinga;atos;banda evangélia;itaitinga;legião f f g f p f f jf

tesano e confecção de itaitinga;artesanato;caucaia;ai forrozão;forró pé de serra;caucaia;banda rró das anti-gas;caucaia;folia das artes;banda;fortaleza;panelinha de teatro;sem especifica-eak dance;maracanaú;banda municipal de maracanaú;banda instrumental, que mistura do anguape;pastoril de sornadas bordados de luz;arte natalina;são gonçalo do amarante;reisado adrilha juni-na;fortaleza;banda renegados;rock, blues, música brasileira ;itaitinga;grupo de l de aquiraz;tradição popu-lar;aquiraz;quadrilha junina girassol de aquiraz;tradição popu-;caucaia;associação das comunidades dos índios tapeba de caucaia acita;capacitação e artesanato ístico teatro folclórico;lapinha ;maracanaú;grupo angelos;dança;maracanaú;associação cultura quiraz;associação tapera das artes;teatro para todas as idades;aquiraz;quadrilha junina girassol

infantil balão junino;quadrilha junina;caucaia;associação das comunidades dos índios tapeba ha junina;maracanaú;gratf grupo artísti-co teatro folclórico;teatro folclórico;maracanaú;pano de tro de rua;fortaleza;circo mirtes;circo;maracanaú;trupe cangaias;teatro;fortaleza;teatro máqui-

j g fg p f f p

;teatro;fortaleza;cia vatá;dança;fortaleza;associação vidança;dança;fortaleza;grupo formo-suraultura popular;fortaleza;cia. epidemia de bonecos;teatro de bonecos;fortaleza;grupo panelinha o de bonecos;teatro de bonecos;eusébio;equipe união breaks crew/ eubc;hip-hop;eusébio;equipe

p p f p f g p pf

á-rio;fortaleza;the pulse rb;rock alternativo;eusébio;circo tupiniquim;teatro de bonecos, mamu-q p p p q p

atro;fortaleza;coletivo soul;teatro;fortaleza;teatro esgotado;teatro;fortaleza;às de tea-tro;teatro fortaleza;nação girassol;maracatu;fortaleza;marley circo;-;fortaleza;circo must;-;fortaleza;circo

f f g f

ístico ;fortaleza;comedores de abacaxi: sociedade anônima;teatro de gru-po;fortaleza;astronauta abutres;blues, rock;fortaleza;jardim suspen-so;rock;fortaleza;b

f

Um Ensaio/Inventáriobanda municipal de maracanaú;banda instrumental, qnda municipal de maracanaú;banda instrumental, qnadas bordados de luz;arte natalina;são gonçalo do amnadas bordados de luz;arte natalina;são gonçalo do amsobre ar istas nos limiaresfortaleza;banda renegados;rock, blues, música brasileira ;itaif rtaleza;banda renegados;rock, blues, música brasileira ;itai

dição popu-lar;aquiraz;quadrilha junina girassol de aquiraz;dição popu-lar;aquiraz;quadrilha junina girassol de aquiraz;

de uma Capitaldios tapeba de caucaia acita;capacitaçs tapeba de caucaia acita;capacitaç;grupo angelos;dança;maracanaú;ass;grupo angelos;dança;maracanaú;assra todas as idades;aquiraz;quadrilha jq

s comunidades dos comunidades do

Page 80: Mapadoc | Ensaios e Ensejos -Um Inventário de Percepções sobre  Artistas nos limiares de uma Capital

rado;diretor;05/03/1991;fortaleza;clara bezerra nunes barros;cantora, professora de música;21/12/1983;fortaleza;adna vieira de oliveira;cantora e compositora;3/18/1957;são

f p ff p f

gonçalo do amarante;joão maurício furtado;reisado bumba meu boi;5/26/1950;são f p

gonçalo do amarante;marcos antônio feliciano moraes;professor de dança, diretor do grupo junino aconchego do pecém;6/6/1964;são gonçalo do amarante;edson gonçalo de g f p ff

souza;quadrilheiro;22/03/1976;são gonçalo do amarante;josé robério góis duarte;talha g p j g p g g

em madeira;10/8/1961;fortaleza;liliane de sá silva;cantora, compositora e interpre-q g j g

te;03/06/1992;aquiraz;francisco veronico xavier de oliveira;brincante de quadri-f p p

lha;27/09/1988;caucaia;eliane lobo martins;artista plásti-ca;01/01/2015;eusébio;adriana q f qq f

soares alcantara;escritora;6/17/1969;maracanaú;bruno leonardo da silva castro;ator, p

diretor teatral, musicista (guitar-ra);25/11/1984;maracanaú;marcos venicius gomes gabriel;produtor;23/12/1984;maracanaú;sandro george queiroz da silva;”instrumenti

g gg

sta; baterista; maestro; regente; regente de banda; can-tor; intérprete; professor de músi-ca. ;7/3/1967;maranguape;adriano sobrinho de carvalho;diretor artísti-

g g p p f

co;02/12/1981;aquiraz;francisco veronico xavier de oliveira;genipapeiro, professor de cultura g p

tradicional;27/09/1988;eusébio;adriana soares alcantara;escritora;6/17/1969;itaitinga;jose q f g p p p fq f g p p p

lucia-no bento;produtor cultural;11/02/1974;maracanaú;bruno leonardo da silva cas-g j

tro;instrumentista, editor, cinegrafista dentre outros;25/11/1984;maracanaú;marcos p

venicius gomes gabriel;produtor cultural;23/12/1984;maracanaú;marcos venicius g f

gomes gabriel;produtor cultural;23/12/1984;maracanaú;sandro george queiroz da g g p

silva;instrumentista, professor, can-tor;7/3/1967;fortaleza;francisco de assis soares quintela g g p g g q

junior;professor de música, composi-tor, baterista e produtor musical;12/05/1993;fortaleza;ana p f f f q

amália de morais feitosa;teatro (atriz e professora de teatro);30/08/1987;fortaleza;cirio dos santos j p f p p fp p

bra-sil;circo;01/01/2015;fortaleza;ana lúcia pereira ;circo;01/01/2015;fortaleza;wanderson f p f ff p f

lúcio freitas brasil;circo;01/01/2015;fortaleza;wanderson lúcio freitas bra-sil;circo;01/f p f

01/2015;fortaleza;wenderson freitas brasil;circo;01/01/2015;fortaleza;cirio dos san-tos f f ff f

brasil júnior;circo;01/01/2015;fortaleza;samara aparecida freitas bra-sil;circo;01/01/f f ff f

2015;fortaleza;mara conceição freitas brasil;circo;01/01/2015;fortaleza;nayara freitas j f p f

brasil;circo;01/01/2015;fortaleza;tamara dos santos freitas bra-sil;circo;01/01/2015;fortf f f y ff f y

aleza;francélio figueredo alencar;poeta, contis-ta;13/02/1978;fortaleza;sâmia regina de f f ff

albuquerque bittencourt;atriz, bailari-na;19/04/1975;fortaleza;augusto cesar barreto f f g p f g

“” Um dia, lá para o fi m do f t ro, alg ém escreverá sobre mim um poema, e talvez só

então eu comece a reinar no meu Reino. Livro do Desassossego - Fernando Pessoa.

Page 81: Mapadoc | Ensaios e Ensejos -Um Inventário de Percepções sobre  Artistas nos limiares de uma Capital

64

de ão ão do de

lha re-

dri-na or,

mes nti sor ti-ra ose as-cos ius da la

na tos on 1/tos 1/tas

fortde

f

O que viria a ser um artista? Essa sina que os pais [muitos deles ao menos] não desejam para seus fi lhos e fi lhas. Esse tipo que os pais [muitos deles ao menos] não desejam

como genro ou nora. Trata-se de um tipo? Não parece fascinante a vida daquela atriz da tevê? Ela seria o tipo certo para o fi lho ou fi lha de alguém? Há muito dito e sempre ainda por se falar sobre o estatuto da arte e do artista. Então logo à princípio deste ensaio cartográfi co , nos esquivamos deste nó no mapa como nosso primeiro movimento. Isso porque tratamos aqui das proveniências, condições e atuações sociais de sujeitos reais em sua mais ampla diversidade de atuação artística nos limiares em sua cidade e a capital.

São eles, dançarinos ou brincantes de coco, reisado, pastoril, grafi teiros, ou pichadores, atores, escritores, violeiros, cordelistas, escultores, pintores, artesãos e tantos mais que por vezes sequer se afi rmam como artistas mas são identifi cados como tal pela vizinhança ou por uma política pública. Convivemos com uma

Page 82: Mapadoc | Ensaios e Ensejos -Um Inventário de Percepções sobre  Artistas nos limiares de uma Capital

65

pluralidade tão grande de singularidades e subjetividades que custa crer que o tipo artista lhes seja usado para identifi car a todos. Opor concepções como cultura popular e alta cultura, tradicional e contemporâneo, além de potencialmente ofensivo, mais esterilizaria nosso ensaio num velho embate conceitual e menos favoreceria nosso fl uir num mapa/inventário de afetos e experiências presentes em meio aos usos, efeitos e vestígios da palavra artista.“” o mapa é aber o, é conectável em todas as suas dimensões, desmontável, reversível, suscetível de receber modifi cações constantemente. Ele pode ser rasgado, rever ido, adaptar−se a montagens de qualquer nat reza, ser preparado por um indivíduo, um g po, uma for ação social.(DELEUZE, 1995, p.22)

Page 83: Mapadoc | Ensaios e Ensejos -Um Inventário de Percepções sobre  Artistas nos limiares de uma Capital

66

Nosso ensaio-inventário é montado a ensejo do projeto Mapadoc/Ceará - Mapeamento da Cultura Cearense em Audiovisual, cuja pretensão de localizar e documentar a arte na região metropolitana de Fortaleza em sua edição piloto foi levada a cabo por pouco mais de meia dúzia de artistas pesquisadores. Com os olhos atentos a esta polarização geográfi ca no modo de vida do artista da Capital e daqueles nas cidades e distritos da região metropolitana de Fortaleza, traçamos os primeiros percursos e movimentos de engrenagem dessa tecnologia social que tem por fi nalidade gerar relações entre artistas, redes e comunidades através do audiovisual. Por se tratar de um primeiro ensaio do projeto, suas rotas limitaram-se a 09 cidades: a Capital cearense, Fortaleza, Aquiraz, Caucaia, Eusébio, Itaitinga, Maracanaú, Maranguape, Pacatuba, São Gonçalo do Amarante e outros 08 distritos entre elas. Dessa forma, escolhemos um conjunto de 09 entre 15 localidades que permitisse observar a diversidade de população, território, Idh1 e tradições culturais características 1- Índice de Desenvolvimento Humano.

Page 84: Mapadoc | Ensaios e Ensejos -Um Inventário de Percepções sobre  Artistas nos limiares de uma Capital

67

dessa região metropolitana que se estende do litoral ao sertão. Mantivemos contatos com um grande número de artistas, cerca de 400, estabelecendo vínculos mais intensos com pouco mais de 50 deles no decorrer do percurso cartográfi co que consistia em: 01) Mapeamento; 02) Ofi cinas; 03) Realização de documentários. Após estabelecer parcerias em cada cidade, iniciávamos os processos de aproximação e mapeamento de artistas, grupos e equipamentos culturais. Os dados eram coletados, não na ingênua intenção de conhecer-lhes por meio de números, mas no intento de estreitar laços para aprofundá-los e com eles começar a signifi car questões junto dos artistas. As ofi cinas tinham a fi nalidade de sensibilizar estudantes de ensino médio para a documentação da cultura local através da fotografi a e do vídeo. Neste processo introduzimos artistas das cidades na relação, fortalecendo vínculos e desconstruindo, junto aos jovens, concepções midiáticas do que deveria ser a arte e o artista. Não se tratavam de escolhas aleatórias, por

Page 85: Mapadoc | Ensaios e Ensejos -Um Inventário de Percepções sobre  Artistas nos limiares de uma Capital

68

meio do mapeamento e das parcerias com que contávamos, procuramos estabelecer relações com os artistas que já estavam atuando a mais de dois anos e que se encontravam afastados do grande circuito de fruição cultural já abraçados pelo mercado e pela mídia regional ou nacional. Assim, ao fi nal das ofi cinas entrevistamos 56 pessoas inventivas para a composição deste ensaio-inventário de artistas e de uma série de documentários que o complementa. E é resultante desse encontro entre sujeitos, redes e comunidades, entre artistas locais, jovens estudantes e representantes de instituições de Cultura que a tecnologia social do Mapadoc/Ceará nos coloca em fl uxo de (re)signifi cação do viver e do fazer artístico dentro e fora dos limiares de uma grande capital. Fluxo sobre o qual, já avisamos de antemão, não pretendemos ser mais conclusivos além do que um ensaio possa ser.

Page 86: Mapadoc | Ensaios e Ensejos -Um Inventário de Percepções sobre  Artistas nos limiares de uma Capital

69

Alguns números que possam servir

O fato é que no Brasil somos [ou éramos] menos de meio por cento - segundo o senso de 20102, 0,44% da população indicou “artes, cultura, esporte e recreação” como sua atividade principal de trabalho. No Ceará éramos 0,33%, pouco mais que 23 mil pessoas. Se tratando da região metropolitana de Fortaleza, a coisa fi ca mais curiosa: Se Fortaleza tinham pouco mais de 14 mil pessoas “vivendo de arte, cultura, esporte e recreação”, em Pacatuba onde havia o menor número das cidades por onde passamos, tratavam-se de 90 pessoas, 0,13% da sua população. Façamos a ressalva de que esses dados não indicam diretamente quantos artistas exitem de fato no país ou nos municípios, pensemos em todos aqueles que possam ter informado “trabalho em cartório, mas sou escritor” e poderemos afi rmar que existem

2- http://www.censo2010.ibge.gov.br/apps/mapa/ acessado em 07/09/2015.

Page 87: Mapadoc | Ensaios e Ensejos -Um Inventário de Percepções sobre  Artistas nos limiares de uma Capital

70

muitos artistas por aí que não se sustentam exclusivamente de arte. Isso porém, não nos impede de considerar que até 2010 não haviam tantas pessoas que podiam afi rmar que tiravam seu sustento no ramo. Outra pesquisa3 do IBGE sobre os dados da cultura no período de 2007 a 2010, mostra que o governo federal ampliou o volume de gastos na área de R$ 824,4 milhões (2007) para R$ 1,5 bi (2010). Na mesma época no entanto, houve redução da população ocupada na cultura. A queda coincide com a crise de 2009, provocada pela turbulência internacional dos mercados. O número de pessoas ocupadas caiu em quase todo o país. A maior diminuição foi no Ceará.

Se olharmos os números mais recentes a respeito do rendimento nominal mensal domiciliar per capita4 da população cearense é a 3- Sistema de informações e indicadores culturais : 2007-2010. http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv65974.pdf4- A PNAD Contínua é uma pesquisa que, a cada trimestre, levanta informações em mais de 200.000 domicílios. ftp://ftp.ibge.gov.br/Trabalho_e_Rendimento/Pesquisa_Nacional_por_Amostra_de_Domicilios_continua/Renda_domiciliar_per_capita_2014/Renda_domiciliar_per_capita_2014.pdf

Page 88: Mapadoc | Ensaios e Ensejos -Um Inventário de Percepções sobre  Artistas nos limiares de uma Capital

71

menor até o ano passado, estando à frente apenas de Alagoas. Isso não se refere somente às casas de artistas, mas de toda a população. O dados referentes a desocupação e nível de instrução colocam as cidades nordestinas atrás das cidades ao sul e sudeste. Não se deve, porém, entender que apresentamos esses dados por alguma sorte de pessimismo. Assim como Nietzsche já observou que “o fi lósofo é uma planta rara”, muitos já lhe fi zeram o empréstimo das palavras para se referirem ao artista como uma planta rara que precisa de cuidados. No Nordeste, no Ceará, entre as 09 cidades por onde passamos, diante de toda a diversidade de modos de vida e de fazeres artísticos que encontramos diante da aspereza do cotidiano, foi e é preciso levar essa máxima à sério: o artista é uma planta rara.

* * *

Page 89: Mapadoc | Ensaios e Ensejos -Um Inventário de Percepções sobre  Artistas nos limiares de uma Capital

72

Aos 17 anos todo mundo é poeta, junto com as espinhas da cara, todo mundo faz poesia. Homem, mulher, todo mundo têm seu cader inho lá dent o da gaveta, e têm os seus versinhos que depois ele joga fora ou g arda como mera curiosidade. Ser poeta aos 17 anos é fácil, eu quero ver alg ém continuar acreditando em poesia aos 22 anos, aos 25 anos, aos 28 anos, aos 32 anos, aos 35 anos, aos 40 anos, eu estou com 41, aos 45 anos, aos 50, aos 60 anos(…) Ervilha da Fantasia - Paulo Leminski.

“”

Page 90: Mapadoc | Ensaios e Ensejos -Um Inventário de Percepções sobre  Artistas nos limiares de uma Capital

73

Meu nome é Aldenor, tenho 65 anos de Idade, moro no Pecém, profi ssão pescador, sou fi lho de pescador

e meus ir ãos, todos pescador (...) No princípio não tinha muita diversão, as nossas diversões eram as

novenas e pros homens a brincadeira do Coco”Aldenor Miranda - Entrevista no Pecém/Ce.

“”

Page 91: Mapadoc | Ensaios e Ensejos -Um Inventário de Percepções sobre  Artistas nos limiares de uma Capital

74

Um Inventário de Mar, Asfalto e Serra

Já velhinho, seu Aldenor é um exemplar fantástico da construção social de um artista. Nos encontramos com ele mais que uma dezena de vezes, pois ele foi nosso guia no Pecém. Afi rmou-se em algumas ocasiões como “pescador” expressamente ou apenas com as sutilezas de seus modos. Nunca se intitulou artista na nossa presença, nunca o indagamos. Porque nunca indagamos? Pela mesma razão pela qual ele nunca precisou nos afi rmar.

Para seu Aldenor, a Brincadeira do Coco, antes de tornar-se um bem cultural a ser conservado, tratava-se de uma brincadeira. No entanto, em algum ponto da história do pescador, as coisas mudaram a respeito do Coco. Em muitas comunidades litorâneas o Coco vem sendo reavivado (quando preciso). Associações comunitárias de pescadores atentos às suas tradições, prefeituras,

Page 92: Mapadoc | Ensaios e Ensejos -Um Inventário de Percepções sobre  Artistas nos limiares de uma Capital

75

pesquisadores têm ensaiado formas de conservar e atualizar a cultura em volta do Coco.

Continuação de uma família de pescadores, Aldenor é um homem bem integrado à comunidade pesqueira do Pecém. Um marco na sua vida o fez parar de pescar, o que nunca o fez deixar de se identifi car como pescador. Pelo contrário, o zelo que se constituía socialmente em torno do Coco, seu deslocamento [mais lento ou mais rápido que seja] para a condição de cultura popular, de arte, mais o afi rmava como pescador ao mesmo tempo em que sua comunidade o abraçava como… como aquele sujeito que conserva e expressa com legitimidade e propriedade traços daquele agrupamento social. Ele ou Seu Chico da Rosa ou Seu José de Miranda ou Seu Assis, qualquer lhe pode falar sobre pesca, assim como um jovem pescador do Pecém, mas pergunte a este sobre o Coco e pode ser que ele lhe mande falar com Seu Miranda, irmão de Seu Aldenor, ou com Seu Assis.

Page 93: Mapadoc | Ensaios e Ensejos -Um Inventário de Percepções sobre  Artistas nos limiares de uma Capital

76

Balman talvez recuperasse o otimismo na força dos velhos laços comunitários, ao observar nos velhinhos sapateadores conexões que não percebemos entre os artistas dos grandes centros urbanos e suas cidades, seus bairros e por vezes nem em suas ruas. Nós do lado de cá do limiar da Capital estamos com Balman quando ele lembra que a “ ‘comunidade’ é o tipo de mundo que não está, lamentavelmente, a nosso alcance — mas no qual gostaríamos de viver e esperamos vir a possuir” 5. Para aqueles senhores em suas relações próximas, suas vizinhanças, é curioso que alguém não saiba quem eles são. Sua camiseta branca com o texto “Coco do Pecém” é para você, estranho desavisado, de que ali é o Aldenor do Coco. Entre os seus, não há que dizer ou que perguntar se ali é possível encontrar um artista.

5- Balman, 2003. P.9.

Page 94: Mapadoc | Ensaios e Ensejos -Um Inventário de Percepções sobre  Artistas nos limiares de uma Capital

77

É bonitinho, é ag adável, virou ar e. Mas como o g afi te virou ar e se ‘a pixação não é ar e’? E como meu g afi te pode ser ar e se ele é uma breve, uma leve evolução da minha pixação daquela época? Uzone (P2k/Crew) - Entrevista em Maracanaú /Ce

Se o envolvimento comunitário e as ressignifi cações da Brincadeira do Coco de Seu Aldenor, não nos aparentam uma relação confl ituosa, os relatos de grafi teiros do Maracanaú talvez apresentem fi ssuras no status de arte que socialmente se vem atribuindo à sua linguagem de expressão. Durante anos estigmatizado como “vândalo” por policiais e transeuntes quando visto pichando paredes de Fortaleza, de Maracanaú ou de Sobral, Uzone, a exemplo de diversos outros grafi teiros, resiste ao título de artista urbano, a ele direcionado por parte

“”

Page 95: Mapadoc | Ensaios e Ensejos -Um Inventário de Percepções sobre  Artistas nos limiares de uma Capital

78

daqueles que, segundo ele, não enxergam em seus murais um desenvolvimento de sua pichação e que não o tomariam por artista se assim viessem a conceber seu trabalho. Da mesma forma como Uzone receie uma tentativa de domesticação ou estetização daquilo a que ele se refere como cupim urbano, outros grafi teiros como Narcélio Grud, acreditam na possibilidade da concepção da pichação e do grafi te enquanto arte - nos murais como interface de diálogo com as cidades. Grud faz alusão a um paralelo entre o grafi te contemporâneo e a forte tradição de muralistas latino-americanos a exemplo de Diego Rivera ou José Clemente Orozco. O limiar que distingue o artista e o vândalo, que neutraliza a distinção entre o artista e o pescador, não é concreto e tangível como um uniforme ou uma bandeira, mas se trata de um constante confl ito entre concepções, ressignifi cações e práticas políticas desses sujeitos que resistem ou afi rmam os modos como são designados nas e pelas comunidades.

Page 96: Mapadoc | Ensaios e Ensejos -Um Inventário de Percepções sobre  Artistas nos limiares de uma Capital

79

A liberdade e a seg rança, ambas ig almente urgentes e indispensáveis, são difíceis de conciliar sem at ito — e at ito considerável na maior par e do tempo. Estas duas qualidades são, ao mesmo tempo, complementares e incompatíveis; a chance de que ent em em confl ito sempre foi e sempre será tão g ande quanto a necessidade de sua conciliação. (BAUMAN, 2003, p.24)

Em busca não exatamente de conciliação, mas de atualização das concepções do que vem a ser “índio”, do que vem a ser “Pitaguary”, Benício experimenta como linguagem a pintura dos corpos de homens e mulheres na reserva indígena localizada em Monguba na Serra de Pacatuba. Uma prática que segundo Benício estava rarefeita ou mesmo descontinuada na cultura Pitaguary, A pintura corporal vem sendo retomada pelo indígena de forma autodidata e à partir do contato com outras etnias em eventos e outras vivências. Sem uma matriz ou repertório

“”

Page 97: Mapadoc | Ensaios e Ensejos -Um Inventário de Percepções sobre  Artistas nos limiares de uma Capital

80

visual tradicional da cultura Pitaguary, a experiência de Benício se abre para o presente e, diferente do que vínhamos discutindo até agora, não se trata da interferência da comunidade nos processos do indivíduo, mas dele sendo agente de ressignifi cação nas formas como a comunidade, como os outros sujeitos nessa comunidade se identifi cam. A pintura corporal (re)surge nesse contexto como uma possibilidade étnica, política ou meramente estética. Semelhante à tradição do Coco, do Pastoril, às tradições juninas, do Cordel, da embolada, a potente presença criativa do indígena que traz a pintura corporal como ferramenta ética e estética de afi rmação e atualização também encontra eventuais resistências geracionais e culturais. A velocidade das identifi cações e desidentifi cações, dos processos midiáticos mundiais de subjetivação, não se limita às grandes urbes e atinge da mesma forma as cidades, distritos e comunidades nos seus arredores. Assim como Benício troca experiência sobre pintura com outros indígenas via facebook, muitos outros Pitaguarys podem e têm vivências em culturas totalmente distintas das suas - o que torna complexa suas concepções a respeito da pintura

Page 98: Mapadoc | Ensaios e Ensejos -Um Inventário de Percepções sobre  Artistas nos limiares de uma Capital

81

corporal e de identifi cação étnica. Da mesma forma, artistas plásticos de Caucaia, Grupos de dança e teatro de Itaitinga a São Gonçalo, Cordelistas do Maracanaú, entre outras práticas artísticas com que fi zemos contato em nossos trajetos, todas encontram o desafi o de conservação e atualização de suas tradições, diante das possibilidades apresentadas pelos fl uxos do capitalismos e das tecnologias de informação.

É que a mesma globalização que intensifi ca as mist ras e pulveriza as identidades, implica também na produção de kits de perfi s-padrão de acordo com cada órbita do mercado, para serem consumidos pelas subjetividades, independentemente de contex o geog áfi co, nacional, cult ral, etc. Identidades locais fi xas desaparecem para dar lugar a identidades globalizadas fl exíveis que mudam ao sabor dos movimentos do mercado e com ig al velocidade. (Rolnik, 1997. P.01)

“”

Page 99: Mapadoc | Ensaios e Ensejos -Um Inventário de Percepções sobre  Artistas nos limiares de uma Capital

82

O desafi o não está apenas aí. Não são os artistas locais e nem a cultura local que as crianças e jovens consomem prioritariamente na televisão, no rádio, no cinema e às vezes nem em jornais e casas de show da cidade. Nossas escolas e cidades talvez precisem se espelhar nos Pitaguarys e formar mais Benícios, no intuito, não de conservar tradições culturais intactas aos movimentos geracionais, mas de formar sujeitos dispostos a atualizar, a pôr em devir, a fazerem suas culturas fl uírem no tempo.

Chegado o fi nal deste ensaio, após labirínticas idas e vindas nos limiares tênues entre capital e seus arredores, esperamos fazer perceber a diversidade e algumas linhas de força que envolvem a problemática das defi nições do termo ‘artista’ - tratar-se-ia de um instrumento sensível da coletividade? Uma potência criativa livre que resiste à investidas de domesticação das comunidades? Um guardião de tradições diante das intempéries da globalização? Um criador intempestivo a se reinventar constantemente? Façamos o que façamos com os vestígios do nosso inventário, lembremos, porém, que o artista é uma planta rara.

Page 100: Mapadoc | Ensaios e Ensejos -Um Inventário de Percepções sobre  Artistas nos limiares de uma Capital

BIBLIOGRAFIA

BAUMAN, Zygmunt. Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003._________________. Comunidade: a busca por segurança no mundo atual. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003.BERGER, Peter & LUCKMANN, Thomas. A construção social da realidade. 2ª ed.; Petrópolis: Vozes, 1985.DELEUZE, Gilles. Mil Platôs – Capitalismo e esquizofrenia / Gilles Deleuze, Félix Guattari; tradução de Aurélio Guerra e Célia Pinto Costa. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1995.________________. Conversações. São Paulo: 34, 1998.________________. Foucault. São Paulo: Brasiliense, 1988.GUATTARI, Félix / Suely Rolnik. Micropolítica: Cartografi as do Desejo. Rio: Vozes, 1986GEERTZ, Clifford. A Interpretação das Culturas. Rio de Janeiro: Zahar, 1978.HALL, Stuart. As identidades culturais na Pós Modernidade. Tradução Tomaz Tadeu da Silva, Guacira Lopes Louro. Rio de Janeiro: DP&A, 1997

Page 101: Mapadoc | Ensaios e Ensejos -Um Inventário de Percepções sobre  Artistas nos limiares de uma Capital

MAFFESOLI, Michel. O Tempo das Tribos: o declínio do individualismo nas sociedades de massa.2 ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1998.NIETZSCHE, F. O Nascimento da Tragédia ou Helenismo e Pessimismo. Tradução, notas e pósfacio J. Guinsburg.- São Paulo: Companhia das Letras, 1992._____________. Além do bem e do Mal: prelúdio a uma fi losofi a do futuro; tradução, notas e posfácio Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.PAIVA, Antonio Crístian S. Sujeito e laço social – A produção de subjetividade na arqueogenealogia de Michel Foucault (2000).SIBILIA, Paula. O show do eu - Subjetividade nos gêneros confessionais da Internet. Rio de Janeiro: UFRJ, 2007. Tese (Doutorado em Comunicação e Cultura) Programa de Pós-Graduação da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2007.

Page 102: Mapadoc | Ensaios e Ensejos -Um Inventário de Percepções sobre  Artistas nos limiares de uma Capital

Sobre o Mapadoc/Cearáhttp://mapadoc.com.br

Engendrar-se na produção artística do nosso estado, coletar dados, divulgar os artistas e seus trabalhos e aproximar os protagonistas da economia criativa cearense são alguns objetivos que o projeto MapaDoc/Ceará aponta ao propor um mapeamento da cultura cearense em audiovisual. Realizado entre os meses de fevereiro e agosto de 2015, o projeto percorreu os municípios de Aquiraz, Caucaia, Eusébio, Fortaleza, Itaitinga, Maracanaú, Maranguape, Pacatuba, São Gonçalo do Amarante em busca das manifestações da arte e cultura locais. O mapeamento contemplou as mais diversas expressões como teatro, dança, música, literatura, artesanato, circo, tradições e também os equipamentos culturais de cada localidade por meio de coleta de dados, fotografi a e vídeo-documentário. Ao fi nal do percurso, os dados coletados estão disponibilizados no portal do projeto com mapa interativo, uma série de documentários em 12 episódios para TV e este livro. Com o objetivo de facilitar a apropriação da metodologia do projeto e a divulgação dos dados, kits contendo livro e DVD foram distribuídos gratuitamente para bibliotecas e instituições culturais das cidades envolvidas. O Projeto

foi realizado pelo Coletivo Pã e pela Trama de Olhares com apoio

cultural da Secretaria de Cultura do Ceará - Secult/Ce.

Page 103: Mapadoc | Ensaios e Ensejos -Um Inventário de Percepções sobre  Artistas nos limiares de uma Capital

Coletivo Pã - realização

O Coletivo Pã é composto por integrantes oriundos de áreas de saber e atuação diversas. O coletivo cearense, que iniciou suas atividades em 1996 no campo das artes cênicas, então Companhia Pã, desde 2007 atua com pesquisas e produções com a integração da arte cênica às artes visuais, música e audiovisual. O Coletivo busca interfaces para o diálogo, intervenção e a pesquisa sobre cidades e sobre memória.

Associação Trama de Olhares em Audiovisual - produção

Tramada por fotógrafos, artistas visuais e realizadores em audiovisual, a Trama de Olhares foi fundada em 2014 por “livres realizadores” e egressos do curso de Cinema da Universidade Federal do Ceará. O coletivo visa a criação autoral em vídeo e fotografi a, assim como a refl exão e a difusão da produção audiovisual cearense.

Felipe Camilo - Organizador

Artista visual com enfoque em fotografi a, vídeo e design, é membro-fundador do Coletivo Pã e da Associação Trama de Olhares em Audiovisual. Atua como fotógrafo autoral, realizador audiovisual e arte-educador. Licenciado em sociologia e Mestre em Educação, desenvolve projetos que integram arte, cultura e processos educativos. Coordenou o projeto Mapadoc/Ceará.

Page 104: Mapadoc | Ensaios e Ensejos -Um Inventário de Percepções sobre  Artistas nos limiares de uma Capital
Page 105: Mapadoc | Ensaios e Ensejos -Um Inventário de Percepções sobre  Artistas nos limiares de uma Capital

Rotas de DerivaPrefácios______.

Introdução___ 01.Travessias ensaiadas___ 06.

Aldenor – por Felipe Camilo___ 08.Vitor Colares – por Clara Capelo___ 16.

Benício e o Pajé Barbosa– por Fernanda Brasileiro___ 22.Luciano Bento – por Karlo Kardozo___ 28.

Verónica Valenttino – por Danilo Castro___ 34.Zé Ferreira – por Rouxinol do Rinaré___ 40.

Grud - Érico A. Lima___ 50.Francélio Figueredo - Alan Mendonça___ 56.

Ensaio sobre vir a ser artista nos limiares de uma Capital___ 62.Sobre o Projeto___ 85.

Page 106: Mapadoc | Ensaios e Ensejos -Um Inventário de Percepções sobre  Artistas nos limiares de uma Capital
Page 107: Mapadoc | Ensaios e Ensejos -Um Inventário de Percepções sobre  Artistas nos limiares de uma Capital

8989

Page 108: Mapadoc | Ensaios e Ensejos -Um Inventário de Percepções sobre  Artistas nos limiares de uma Capital

III