Língua culta e língua coloquial

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Língua culta e língua coloquial Os cririos que determinam a norma (padrões de uso) de uma língua se estabelecem ao longo do tempo principalmente pela ação da escola e dos meios de comunicação. Esses dois instrumentos sociais levam os falantes de um idioma a aceitar como "certo" o modo de falar da camada da população que, em virtude de sua situação social privilegiada, tem maior prestígio na sociedade. Essa variedade chamada língua culta - usualmente é falada e escrita em situações mais formais pelas pessoas de maior instrução e de maior escolaridade. Os documentos oficiais (leis, sentenças judiciais etc.), os livros e relatórios científicos, os contratos, as cartas comerciais, os discursos políticos etc. são exemplos de textos escritos nessa variedade lingüística. A ngua coloquial, por outro lado, é uma variante mais espontânea, utilizada nas relações formais entre os falantes. É a língua do cotidiano, sem preocupações com as regras rígidas da gramática normativa. Outra característica da língua coloquial é o uso constante de expressões populares, frases feitas, gírias etc. Uma comparação entre a língua culta e a língua coloquial permite notar que, em certos aspectos, as diferenças entre as duas são bastante evidentes; mas, em outros, os limites não são claros e fica difícil, nesses casos, definir o que é culto e o que é coloquial. No quadro a seguir, estão resumidas, de forma bastante simplificada, as diferenças mais facilmente observáveis entre essas duas variedades lingüísticas. NA l.ÍNGUA COLOQUIAL NA LÍNGUA CULTA Pronúncia simplificada de palavras e expressões: nóis, oceis, tá bão, num vô, num qué. Maior preocupação com a pronúncia: Nós, vocês, está bom, não vou, não quer. Emprego freqüente de palavras/expressões do tipo: aí, então, né. Uso menos comum desse tipo de palavra. Uso da expressão "a gente", em lugar de "nós". Exemplo: A gente sempre lutou muito. Predominância do uso da forma "nós". Exemplo: s sempre lutamos muito. Não utilização de marcas de concordância. Exemplo: Os menino vai bem. Utilização das marcas de concordância. Exemplo: Os meninos vão bem. Mistura de pessoas gramaticais. Exemplo: Você sabe que te enganam. Mais uniformidade no uso das pessoas gramaticais. EX.: Você sabe que o enganam. Adequação e inadequação lingüística Quando uma pessoa se comunica com outra(s), para que esse ato se realize com eficiênc ia, é necessário que ela seja capaz de fazer a adequação da linguagem àquela situação de comunicação. Veja, por exemplo, esta tira humorística: No segundo quadrinho, o falante usou palavras que seu ouvinte não conhecia; ou seja, o falante adequou sua linguagem. Isso impossibilitou que o cozinheiro entendesse a pergunta. É interessante notar que, nesse contexto (situação de comunicação), podem ser feitas duas "leis" para explicar a inadequação: 1 hipótese - O falante foi incapaz de adequar a linguagem ao ouvinte; ele não teve habilidade lingüística para perceber que, ao fazer a pergunta ao cozinheiro, deveria falar de maneira mais simples. Assim, por exemplo: "Quem foi o indivíduo danoso que preparou essa massa podre e nojenta?

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Língua culta e língua coloquial

Os critérios que determinam a norma (padrões de uso) de uma língua se estabelecem ao longo do tempo principalmente pela ação da escola e dos meios de comunicação. Esses dois instrumentos sociais levam os falantes de um idioma a aceitar como "certo" o modo de falar da camada da população que, em virtude de sua situação social privilegiada, tem maior prestígio na sociedade. Essa variedade – chamada língua culta - usualmente é falada e escrita em situações mais formais pelas pessoas de maior instrução e de maior escolaridade. Os documentos oficiais (leis, sentenças judiciais etc.), os livros e relatórios científicos, os contratos, as cartas comerciais, os discursos políticos etc. são exemplos de textos escritos nessa variedade lingüística.

A língua coloquial, por outro lado, é uma variante mais espontânea, utilizada nas relações formais entre os falantes. É a língua do cotidiano, sem preocupações com as regras rígidas da gramática normativa. Outra característica da língua coloquial é o uso constante de expressões populares, frases feitas, gírias etc.

Uma comparação entre a língua culta e a língua coloquial permite notar que, em certos aspectos, as diferenças entre as duas são bastante evidentes; mas, em outros, os limites não são claros e fica difícil, nesses casos, definir o que é culto e o que é coloquial.

No quadro a seguir, estão resumidas, de forma bastante simplificada, as diferenças mais facilmente observáveis entre essas duas variedades lingüísticas.

NA l.ÍNGUA COLOQUIAL NA LÍNGUA CULTA

Pronúncia simplificada de palavras e expressões: nóis, oceis, tá bão, num vô, num qué.

Maior preocupação com a pronúncia: Nós, vocês, está bom, não vou, não quer.

Emprego freqüente de palavras/expressões do tipo: aí, então, né.

Uso menos comum desse tipo de palavra.

Uso da expressão "a gente", em lugar de "nós". Exemplo: A gente sempre lutou muito.

Predominância do uso da forma "nós". Exemplo: Nós sempre lutamos muito.

Não utilização de marcas de concordância. Exemplo: Os menino vai bem.

Utilização das marcas de concordância. Exemplo: Os meninos vão bem.

Mistura de pessoas gramaticais. Exemplo: Você sabe que te enganam.

Mais uniformidade no uso das pessoas gramaticais. EX.: Você sabe que o enganam.

Adequação e inadequação lingüística Quando uma pessoa se comunica com outra(s), para que esse ato se realize com eficiência, é

necessário que ela seja capaz de fazer a adequação da linguagem àquela situação de comunicação. Veja, por exemplo, esta tira humorística:

No segundo quadrinho, o falante usou palavras que seu ouvinte não conhecia; ou seja, o falante adequou sua linguagem. Isso impossibilitou que o cozinheiro entendesse a pergunta.

É interessante notar que, nesse contexto (situação de comunicação), podem ser feitas duas "leis" para explicar a inadequação:

1 – hipótese - O falante foi incapaz de adequar a linguagem ao ouvinte; ele não teve habilidade lingüística para perceber que, ao fazer a pergunta ao cozinheiro, deveria falar de maneira mais simples. Assim, por exemplo: "Quem foi o indivíduo danoso que preparou essa massa podre e nojenta?

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2 – hipótese - O falante estava indignado com a péssima qualidade da comida, mas, para evitar confusão, ele, intencionalmente, construiu a frase de modo que o cozinheiro não a entendesse mesmo. Nessa hipótese, ele teria usado a frase apenas para desabafar sua irritação. Fatores que influenciam a adequação

Há situações em que a relação entre os interlocutores (quem fala/escreve e quem ouve/lê) é descontraída, mais pessoal, por isso fica mais adequado o emprego de uma linguagem informal. Por outro lado, há situações em que a relação é mais impessoal, cabendo, nesses casos, uma linguagem formal.

São muito variados os fatores que influem no modo como a linguagem deve ser ajustada às circunstâncias do ato de comunicação. Entre esses fatores destacam-se:

o interlocutor - não se fala do mesmo modo com um adulto e com uma criança.

o assunto - falar sobre a morte de uma pessoa amiga requer uma linguagem diferente da usada para lamentar a derrota do time de futebol.

o ambiente - não se fala do mesmo jeito em um templo religioso e em uma festa com amigos.

a relação falante-ouvinte - não se fala da mesma maneira com um amigo e com um estranho; em uma situação social formal e em uma informal.

o efeito pretendido (intencionalidade) - para se fazer um elogio ou um agradecimento, fala-se de um jeito; para ofender, chocar ou ironizar alguém, usam-se outras formas de falar.

Esses fatores quase sempre estão presentes em conjunto (ocorrem dois ou mais ao mesmo tempo) e levá-los em conta é fundamental para que o ato de comunicação tenha a eficiência desejada.

Aula de português A linguagem

na ponta da língua, tão fácil de falar e de entender.

A linguagem na superfície estrelada de letras, sabe lá o que ela quer dizer?

Professor Carlos Góis, ele é quem sabe, e vai desmatando o amazonas de minha ignorância. Figuras de gramática, esquipáticas. atropelam-me, aturdem-me, seqüestram-me.

Já esqueci a língua em que comia, em que pedia para ir lá fora, em que levava e dava pontapé, a língua, breve língua entrecortada do namoro com a prima.

O português são dois; o outro, mistério. Carlos Drummond de Andrade. © Grana Drummond. www.carlosdrummond.com.br Boitempo. Rio de Janeiro, Record.

Em relação a esse texto, responda aos itens a seguir: a. A que variedade lingüística fazem referência as estrofes 1 e 4? E as estrofes 2 e 3? Justifique sua resposta com passagens das próprias estrofes. b. De acordo com o Dicionário Aurélio, a palavra esquipático talvez tenha surgido da junção das palavras esquisito e antipático. Considerando essa possibilidade, estabeleça relação entre esquipáticas (verso 11) e o conteúdo da 3ª estrofe. c. Explique o último verso do poema: "O português são dois; o outro, mistério.",