Lingua portuguesa, globaliza~ao e...

19
Lingua portuguesa, e lusofonia kloises de Lemos l ll arfills· Falar de globaliza tyao e falar de dos mercacios a escala ll1uncli<li. E fal:"lr de int egrar;ao cl os mercaclos e fa lar de tecnol og i as cia cOlllun icar;ao e ci a inf ormar;a o, que sao a condir;ao de possibiliclade dessa PO I' sua ve z, falar de tecnol og i as cia cOlllunicar; ao e cia inf or- ma r;: io e falar, t<lmbem , de re cl es so ciotecnicas, que estao cliretament e co nectad as a lima sociedade qu e tem, na inf o rm ar;ao e no conhecimento , a sua for r;a gera cl o ra . As recl es cl i sse minam infonnar;ao e conhecimento: lim ponal, llin sit e, lim bl og ue, 0 Pa cebook, 0 1iuilfer , (em essa dupl a fun r;?I0, instrumental e cogniti va. Selvindo as pavos, as cO lllunidades hu ma nas, as instituir;oes, as e mpresas, Olltras os neg6cios, as red es sociotecni cas selve m, poi s, para 0 dese nvolvimento humano (Macedo, Martins e Mace do , 2010; La Rocca e Marlins, 2009). Mas tamb em se rvem ° desen volv iment o civ ico, qu e e part e do d ese nvo lviment o human o. Ao fa vo recerem a troca e 0 debate de icl ei as, Professor cateclratico cia Uni ve rsiclacle cl o Minho. Diri ge 0 Ce ntro cl e Es tllclos cl e Comuni ca\= ao e Sociedade (Cecs). E dir etor da revista Co mllllicardo e Socie dade e cia Revista LIls6jo11a de £S tile/OS CIl/turals. Di rige 0 programa cl o lll oral Estuclos de T ec nol og ia , Cultura e Sociedad e, num cons6rcio de seis centros de investiga\=30 portugueses. E tambem 0 diretor ci a programa doutoral ( Minho/Ave iro) em Estucl os Culturais. Preside a Sopcom, a Lu socQm e a Confibercom. Publicou, em 2011 , Cr ise 110 Castelo cia CII/tllra - Das Esfre/as par a CiS Te las (Sao Paulo, Anll<lblume).

Transcript of Lingua portuguesa, globaliza~ao e...

Lingua portuguesa, globaliza~ao e lusofonia

kloises de Lemos lllarfills·

Falar de globalizatyao e falar de integra~ao dos mercacios a escala ll1uncli<li. E fal:"lr de integrar;ao clos mercaclos e fa lar de tecnologias cia

cOlllunicar;ao e cia informar;ao, que sao a condir;ao de possibiliclade dessa integ ra~ao . POI' sua vez, falar de tecnologias cia cOlllunicar;ao e cia infor­

mar;:io e falar, t<lmbem , de recles sociotecnicas, que estao cliretamente

conectadas a lima sociedade que tem , na info rmar;ao e no conhecimento,

a sua forr;a geraclo ra . As recles cl isseminam infonnar;ao e conhecimento: lim ponal, llin site,

lim blogue, 0 Pacebook, 0 1iuilfer, (em essa dupla funr;?I0, instrumental e cognitiva. Selvindo as pavos, as cOlllunidades humanas, as instituir;oes, as

empresas, Olltras organiza~oes, os neg6cios, as redes sociotecnicas selvem,

pois, para 0 desenvolvimento humano (Macedo, Martins e Macedo, 2010; La Rocca e Marlins, 2009).

Mas tambem serve m ° desenvolv imento civ ico, que e parte do

desenvo lvimento humano . Ao favorecerem a troca e 0 debate de icleias,

• Professor cateclratico cia Universiclacle clo Minho. Dirige 0 Centro cle Estllclos cle Comunica\=ao e Sociedade (Cecs) . E diretor da revista Comllllicardo e Sociedade e cia Revista LIls6jo11a de £Stile/OS CIl/turals. Dirige 0 programa clollloral Estuclos de Comllnica~ao: Tecnologia , Cultura e Sociedade, num cons6rcio de seis centros de investiga\=30 portugueses. E tambem 0 diretor cia programa doutoral (Minho/Aveiro) em Estuclos Culturais. Preside a Sopcom, a LusocQm e a Confibercom. Publicou , em 2011 , Cr ise 110 Castelo cia CII/tllra - Das Esfre/as para CiS Telas (Sao Paulo, Anll<lblume).

16 Ullgllr1 porl lfg llesa e /us% nia

~ss il11 C0l110 0 at iv ismo na recie, em favor de causas socia is, po llt icas e

cuhurais. as recles sociotecnicas constroem e aprofunclam 0 sentido de

cidadania de lima comuniclacle e 0 seu senl icio cdtieo e clemocratico. ' Apesar de toclos esses beneficios, penso, no ent ;:~nto, que a lingua­

gem das redes e menos icleias do que emoc;oes, e 0 sell valor e menos va lor-mercacloria , e menos tarnbem valor informativo e cognitivQ, do que

valor relacional e afetivo . Tanto Oll mais do que a icleia, importa hoje, de

facto, a imagem que se cia de lima cOl11uniclacle, de LIma instituic;ao au de lima empresa (0 look, 0 timiJIg, 0 marketing, a marca - a griffe), assim como 0 design, au seja , a criativiclacle e a jnova~ao. Menos icleias e mais

emor;oes, a linguagem clas recles existe, pais, em fun~ao cia reJa~ao : para

estabelecer contacto, para nos aproximarmos de um outro , para friccio­

nell" e massa jar com palavras a pele cle um out ro, para exprimir as nossos

humores, as nossas irrita~6es, para desabafa r ...

Importa, nas recles sociotecnicas, a ci rclilarid;:lde da rede, que consti­

lui sempre para n6s proprios lim apoio afetivo. Pode, afinal , nao chegar a

dizer-se nada de importante - mas e importante para nos .1 conexao que

a rede lorna posslvel , lima vez que os <lfetos sao eJetivos. A recle constitui

lim refllg io im<lginario, um<l experimenta~ao, a cria~ao cl e lIlll muncie

Ollt ro, a fabrica~ae cle um illgar cle sonho, oncle nos e posslveJ respirar

nas condi,oes que estabelecemos (Maffesoli e Martins, 2011).

Culturas da unidade e cldnlras da misnJra

E lim entenclimento cacla vez mais generali zaclo na literatllra p6s­

-colonial que existem culturas cia unidacle, que se op6em a cuituras cia

mistura. As culturas cia uniclade seri<lm de exclusao e .15 cia mistura seriam culturas de pa rl icipa, ao (Santaella , 2012)' .

Vejcl-se, nesse semido, p O l' exemplo , sobre Jiteraci<l , cidadania e media , e 1l111ito pal1 icuJannenLe sobre experiencias, cHo res e contextos da educae;ao para os media: Pinlo, Pcreim, Pereira e Ferrei ra (2011). E ;:lssinale-se lamiJem o impol1ante <;o ntribtlLo das cOll1l1nicae;oes ou-line em lingua pOJ1uguesa para a pl'Omo.:;;:10 de tim munclo global mult icultural (Martins, 20 12).

2 Vejcl-se, tambem nesse sentido, Fiorin, que convoca 0 romance a Guorani, de Jose de Alencar, para iclentificar a n<t e;ao brasi lcira : "0 mito de origem da na~ao brasileira opera com a uniao cia natl1l'eza e a cll lt llra, Oll seja, dos va­lores amcricanos com os europeus. 0 13rasil seria , assim , a sfntese do velho e do novo munclo, construfda depois da destrui c;;1o do ediffcio colonial e dos e1ememos pelversos da natureza. Os elementos lllsitanos permanecem, mas Illodificados peJos valores cia natureza americana (Fiorin , 20 11 , p. 125).

Ltngu({ portllguCStl, glob(J/izm;du e Ills%llitl 17

Essa tematiza~'ao e feita, por exemplo, a prop6sito cia nar;ao brasi­

leira, considerada, clesde Freyre, como uma clIltllra cle mistllra, de "mis­

cigenaC;ao", senclo 0 Brasillllll pafs de "cultura hfbricla", para retomar 0

classico conceito cle Canclini, um pais multicuhural, de cultura participa­

tiva e dial6gica (Freyre, sid e 1957[1933]). A idcia de cuitura participativa

e dial6gica, pr6pria de um pais multicultural como 0 Brasil, valoriza os

diferentes contributos - africanos, amerfnclios, orienta is e europeus - na

constrllc;ao cia iclentidacle nacional. 3

Acontece, no entanto, que 0 ocidente foi feito sob 0 influxo cia

cultura cia uniclacle. Foi feito, desde os gregos, por um logos que sendo

palavra, tambem e razao, visto que 0 logos e a instfincia soberana de

decisao. E uno e unico. E foi feito, tambem, pcla tradic;ao judaico-crista,

uma palavra com funr;ao simb6lica, uma paJavra que relJl1e e f<lz uniclacle.

Toclos nos lembramos cle que na simb6lica ociclental, no principio

era a Verbo e 0 Verbo estava orientaclo para Deus e 0 Verbo era Deus,

como e clito no Pr610go clo Evangelho de Sao joao. Ou seja, em sintese,

o grande mito sobre 0 qwIl repousa 0 Ociclcnte e a pabvra, tanto na tra­

dir;ao classica, greco-btiml, como na tradir;ao judaico-crista. E a palavra

sempre reuniu 0 que estava disperso e clesorclenaclo, sempre trabalhou

no senticlo cia uniclade, fosse a palavra logos, ou entao simbolo (Martins,

2011a).

o pensamento cia uniclacle contrapor-se-ia entao ao pensamento

cla multiplicidade. 0 principio da iclenticlade, da 16gica de Arist6teles,

junta mente com a clialetica hegeliana e a sua sfntese reclentora, e ainda 0

Mais adiante, Fiorin acrescenta, todavia, uma nota critica: "0 selo de nobreza cia na~ao brasileira e cI,lClo pehl fusao clo sangue portugues com 0 sanglle tupi L . .J esta exclufdo 0 elcmento africa no, que foi importantissimo, juntam­ente com 0 indigena e 0 europeu, para a forma<;ao da nacionalidade" (ibid., p.26).

3 A iclein da "coloniza<;,10 doce", que teria caracterizado 0 processo de ex­pansao maritimo portugucs, teve no salazarismo c no luso-tropicalismo os seus principais apoios icleol6gicos (Castelo, 1998). E por muito que Ch,lCon (2000, 2002) remeta para 0 desconhecimcnto do pensamento de Gilbelto Freyre a hostilidadc que muitos investig<lclores afivclam ao 11lso-tropicalisI110, a sua mera convoca<;ao e suficiente anatema para l11uitos autares, que nele denunciam UIl1 jufzo condescendente no que respeita it violencia hist6rica em que consistiu 0 coionialismo (por excmplo: Boxer, 1963; Bastide, 1972; Alexandre, 1973).

18 Lfugua porluguesa e /us% Hia

principia cia reuniao icle ntiUiria subjacente a figllra~ao s imb6 lica, contra­por-se-iam ao prindpia cia clife ren~a. Seriam 0 pensamento cia uniclacle e a Jogica cia iclentidacle que funclariam a cultura cia exciusao no Ociclente.

Fixemo-nos, pOl' mornentos, na expansao ocident::ll ciqs seculos XV

e XVI. Sulcando oceanos, abrindo caminho para novas lerrilo rios, pa ra

o utras tenets, ta nto para 0 Ocidente como para 0 O rieme, a ex pansao maritima ocicle nta l seguiu a 16gica cia cultura cia unidacle: 0 territo rio, a u melhor, 0 mundo, era uno; a igreja era ulla; 0 Estaclo era LIm ; a familia

era una; a hist6ria era igualmente una, e ainda pOl' cima clecli nava lima

narrativa cia salvac;ao; enfim , a verdade e ra unica e eterna.4

Quer isso cl izer que a metaffsica cia uniclade e uma escarologia,

entenclicla esta como a projec;ao para cl iante cle um prop6silo reclentor,

ou seja, de um prop6silO para 0 futuro, fundado numa origem perclid;:1.

E essa metaffsica que nos garante um funda mento seguro, lim territ6rio

conhecido e uma iclentidade estavel, tlluito embora paclec;a do "castigo

ocidental", pa ra fa lar como Santaella (2011), cia submissao a "tirania clas

oposic;oes bin{trias" : materia e espfrito; corpo e alma; concreto e abslrato;

forma e conteudo; ser e nao ser; slljeito e objelo; pensamento e senti­

menta; razao e emoc;ao. O rclenanclo-se clenlro clo principio cia dualidade

4 Pode dizc r-sc que a expansf!o marftima po rtllgllesa teve lUll momento mi­tico fllndador, de que a Carta de Perc Vaz de Caminha ao rei POttugues, D. Manuel I, sobre 0 acbameuto do I3wsil, e uma boa expressao - lim tempo lllftico de descoberta e ellcontro. Mas logo se passou a lima segunda fase, de integra\=f!o, e a uma terceira , de domin:l\=ao. A ideia da "divcrsidade do mundo", que a expansao marftima europeia eoloeol! a descobel1o (Moclelski, 1996), ficou, pois, comprometida, p raticamente logo no infcio, petas ne­cessidades imperialistas do capital ismo eomercia l. Tambcm Todorov, em A

Conquista da A l1u!rica (991), coloca-se a questao da alteridade no encontro com 0 outro civi lizacional. Colocando-se na perspet iva da cOl11unica~ao in­tercullural e opondo-se ao eI1lendimento do ddlogo intercultural, Todorov interroga , antes de mais, a 16gica das intcrdependencias, que se exercem a IreS nfvcis: axiol6gico, praxeol6gico e epistemico. 0 nive l axiol6gico clas interdependencias prende-se com os jllizos de valor que Lemos sobre 0 Olltro. No nlvel prJxeol6gico, colocam-se as pnlticas concrelas de assimi la­~ao, submiss;10 Oll indireren\=a relativamente ao outro. POI' sua vez, 0 conhe­cimento que temos sobre a identidade do outro caracteriza 0 nivel epistemi­co. Todorov contra ria, po is, a "16gica da unidade", da perspetiva do di[llogo intercultural, lim di(lIogo que desconhece os processos comunicacionais de segrega(ao, d011lina~ao e lomada de poder. Sobre a ideia de "diversidade do mUlldo", com que se conrrontotJ a expansao maritima cliropeia, assim como sobre a qllestao da alteridade no enconlro com 0 oulro civilizacional, vel' Macedo (20 13, Parle O.

JJnp,u(/ jJOrlUp,UeSU, globallz({friO e lusofolllCl 19

sujeito c preclicaclo, a metafisica cia uniclaclc sempre nos clell iclenticlades clefinidas, ou seja, definitivas, em vez de idcntidades indefinidas, ou seja, infinitivas, a fazer-se.

Parece-nos (ltil, nesse contexto, convocar 0 pensamento cia dij'e­

reJl(:a de Derricla (1967a, p. 47). Nao existe realidade preexistenle ao discurso, scnelo na linguagem e at raves clela que se constr6i a realidade sociaL Diluindo a oposic;ao entre sujcito e estrutura, ou seja descentrando

o sujcito, a diferel1t;;C1 constitui-se no ate em que se manifesta, "entre Dionisos e Apolo, entre 0 eia c a estrutura" (ibid.).

A diferelIt;;({ "nao pCl1ence simplesmente a historia, nem a cstrutura", e1a "nao se apaga na historia, porque nao esta Ila historia; ela e tambem

"uma estrutura originaria: a aiJertura cia historia, a propria historicidade" (ibid.). Insurginclo-se contra Levi-Strauss, Denicla clenuncia, entretanto, a

metaffsica cia presenC;a, do funclamento ultimo e cia verclade pOl' cletras

do jogo clas reprcsentac;oes, mostrando-se recetivo a participac;ao no jogo infinitiv~, a partir de llma posi,ao indefinicla (ibid., pp. 409-412). Contrariamentc £10 pensamcnto cia uniclade, 0 pensamento cia cliferenc;a

chi-nos, pois, iclentidacles indefiniclas e infinitivas, conforme a nossa con­clic;ao hibricla e em socicdacles multiculturais.

Durante sccuIos, ate a Segunda Guerra Mundial, 0 Ociclente tratou

o negro como selva gem, primitivo, "embrutecido, cnrecIado em prati­cas perigosas" e agressivas (Cunha, 1994, p. 80)5. Na seguncla metaclc do scculo XIX, ainda os portugueses faziam campanhas militares, ditas

5 Spivak (1999) assinaia quc, na litcratura inglesa do seclIlo XIX, 0 africano e descrito entrc a besta C 0 ser humano, uma espccie de animal com rollpas. POI' SLla vez, Lopes, refcrindo·se a Mo(ambiquc c as SLlas Hnguas nativas (l1ngllas bantu), assinaia que, em contexto colonial, para diminllir como pri111itiv<ls as Ifngu<ls da regiao, Lltilizava111-se os tcnnos de "dlalecto", c ainda em situa(oes extrc111as, "1[llgua de ald', como se cssas linguas, diantc da Ifngu<-l portuguesa, a uni('a lcgftima, nao passassem dc mcros sons articllla­dos (Lopes, 2013, p. 136), Analisando, par slla vez, a "constru(ao clisclIfsiva dos discursos intolcrantes", Barros (2011, p. 264) destaca que, para tratar clas difcl'cn(as, os discursos do preconceito e da intolcrftncia ('onstroc111, entre outros percursos tematkos e figurativos, a animalizac;ao do "outro"; a "antinatur,llidade" do cliferentc; 0 ('anktcr c\oentio da diferenc;a; enfim, a imoralidadc do "Olltro". Desse modo, nos discursos radstas em rel,u;;ao ao negro, por exemplo, 0 tema cia animalizac;ao atribui <to "outro" tra(os fisi­cos e caracterfsticas c0111portamcnt<lis de animais, desumanizando-o. Alem disso, "Ao colocar 0 'mJtro' C01110 antinatmal [. . .I, 0 discurso intolerante vai trata-Io ainda COlllO 'anof1nal'. Os iguais, ao contrario, s,10 'naturalizados' e considerados 'nonnais'" (ibid" pp. 264-265).

20 LinguCi pOJ1uguesa e Ills% llia

de "paci fi cac;:ao" dos negros em Africa (vejam-se, pOl' exemplo, e m

Mo\ambique, as batalhas de Marracliene, Magul e Chaimite, com Ant6nio

Eoes, Paiva Couceiro e MOllzinho de Albuquerque), acompa nhadas de

campanhas missiomlrias para converter e cristianrza r as pretos, fazenda

obra de "civiliza~ao", C0l110 e n taD se dizia.6

A vi t6ria clas ciemocracias sabre as parses tota litarios clesencacleoll

entretanto. no pos-guerra , lim movimento clos pa ises colonizados de luta

pel a independencia. A Inglaterra perclell a India (1947), e mais tarde as

ccl6nias africanas como, por exemplo, a Roclesia do SuI, hoje Zimbabwue

(1980). A Fra n~a perdell a Indochina, atllal Camboja (1953), e mais tarde

a Argelia (1962) . Muitos parses de Afri ca tornaral11-se inclepencienres .

Entretanto, Portuga l deixoll de fa lar de "selvagens" e de "primit ivos" e

passou a fa lar de "assimilados"7. Na aparencia, a distfmcia entre brancos

e negros deixa de ser intransponivel, embora fiqu e condicionada a sub­

missao do negro 010 universo do branco. Ou seja, e assimilado 0 negro

que ace ita os valores da "civiliza«;ao", expressos na subu1,issao e lealdade

pa ra com 0 branco (Cabecinhas e Cunha, 2003, p. 172). Sem cJuvicJa que

a representa~ao do negro corno "assimilado" ex prime un}a rela~ao de

domina~ao, a um tempo simb6lica, social, econ6mica e poiftica . Como

assinala Mia Couto (2009, PI'. 187-188), "A politica p0I111guesa em Africa

6 A seguir a Conferencia de Berlim (1884 / 1885), Portugal , tal C0l110 as poten­ci:lS coloniais e uropei.ls, desencadeou UIll:l corricln a ocupa.;ao de Africa: .1

domina~ao imperial do territ6rio sobrepunha-se, assim, ao tradicional dire i­to hist6rico de propriedade. Foi entao que 0 famoso "Mapa Cor de Rosa", expressao por que ficou conhecida a pretensao pOI1Uguesa de liga r Angola a Mo.;ambiqlle, embate l! de fre nte COIll os inte resses imperi.lis ingleses de ligar 0 Cairo ao Cabo. 0 Ultimatllln, decrctado pela Inglaterra a Portugal, em 1890, dcsfcriu lim rude golpe no orgulho colonial pOl1ugues e desenca­deou l1l11 fervor naciona lista, que apreSSOl! a quechl chi Mo narqllia e levou a j nstaura~ao da Rep(lblic<l, em 1910.

7 0 "Est at uta dos Indfgenas Portllgueses clas Provincias da Guine, Angola e Mopmbique" foi aprovado pelo Decreto-Le i n. 39 666, de 20 de maio de 1954. Estabelecia a distin~ao e ntre ind(genas e {lssimilacios. Mas com o objetivo de assegll rar uma reserva de mao de obra, que respondesse as necessidades do Imperio, depois do (erma do trMico de escravos, foi eslabe­lecido, em finais do secli lo XIX, em 1899, lllll reglilamento sobre 0 Iraba lho indfgella , que fazia a distinc;~o ent re 0 indfgena eo civilizado a ll assimilado, "eSlallilo rese rvaclo a lima minoria negra, que respondia a longo prazo a um cOlljunlo de criterios e pralicas cuilura is ideruificados com a < civili za~ao

p0l1uguesa'" (Begue, 2012, p. 173).

Ungll{l portllguesa, globaliza~ao e Ilisofollin 21

foi orientacia no sentido de fabricar uma camacia social - os assimilados -capaz de gerir a maqllina do Estado colonial. Os candidatos a assimilados deviam virar as costas a sua religiao, a sua cultura, as suas ralzes".

Desde a entrada na decada de 1960, dao-se as guerras pela indepen­dencia das colonias portuguesas. Alguns anos antes, em 1951, Portugal deixa de falar de "imperio colonial" e de "coI6nias". Trata-se agora de "ultramar" e de "provincias ultramarinas". Portugal quer-se um "pals uno, multicultural e pluricontinental", do Minho, a provincia mais ao Norte clo territ6rio continental portugues, ate Timor, no Sudeste Asiatica. A guerra da inclepenciencia, 0 EstacIo portugues chama "teHorismo" e, aos guerri­lheiros, chama "terroristas", ou "tunas", Oll, ainda, "bandoleiros".8

Em 1975, um ano apos a queda clo salazarismo/marcelismo, POliugal faz a descoloniza<;ao. Mas e 0 colonizador que diz tel' feito a descoloniza­<;8.0. 0 colonizado tem um discurso diferente. Diz tel' feito "a luta annada" e tel' ganhado a indepencIencia ao combater 0 colonizador, expulsando-o do seu territ6rio, pel a for<;a clas armas, numa luta de guerrilha.9 0 IlaS­

drnento de novos pafses faz acrecIitar, por algum tempo, que as antigas colonias eram um ex€mplo vivo de povos que nao quiseram ser Hapaga_ dos" nas suas mem6rias, venda a sua iclentidade anulada na narrativa, una e (mica do colonizador, que exercia uma domina<;ao, polftica, economica, sodal e cultural, "assimilando-os"lO.

A cultura do uno, uma cultura logocentrica, etnocentrica e imperia­!ista, que assimilava a diferen<;a, cIestruindo-a, sucecleu a cultura do m61-tiplo e cia participa<;ao, a da multiculturalidade, manifesta no surgimento de uma vasta pan6plia cle pafses diferentes e l1luiticultllrais, fundacIos na

8 Vel', pOI' exemplo, "Videos e documentarios HTP - Guerra Colonial 0961-1974)". Disponlvcl em: <http://www.rtp.pt/wportal/sites/tv/guerracolo­nial/?id~83&t=2#list83>. Acedido a 07 jun 2013.

9 Retomando esse ponto de vista, lllas referindo-se tambem aos colonizadores como colonizados, Couto (2009, pp. 191-192) assinala: "Nao foi Portugal que descolonizou os palses africanos. A descolonizar;aa s6 pode ser feita pelos pr6pri9s colonizados. E n6s todos eramos colonizados. Descolonizamo-nos uns <lOS outros, uns e outros".

10 it <linda como ato de insurgencia contra a expropriar;ao e a apagamento da vaz e da narrativa pr6prias que Nataniel Ngamane (2012) se encrespa, ainda haje, contra a designar;ao de Mor;;'lInbique como pats lus6fono. E tambem Mia Couto (2009, p. 191) distingue entre a escolha que Mor;ambique fez da lingua portuguesa e a sua condi<;ao de pais Ills6fona: "0 portugues e ado­tado nao como uma heranp, mas como 0 mais valioso trofell de guerra. Se a ado~'ao do portLlgues foi tim ata de soberania, ja a criar;ao da lusofonia nao resultou da iniciativa pr6pria de Mor;ambique".

22 Lingua par/ugliest! e /usa/ollia

riqueza de Illuitas IingU<ls, na mistura de muit,lS etnias e na explosao de

lima Illuhiplicidade de narr<ll ivClS. Tambem e esse 0 espa~o cia lusofonia , lim espac;o plu ra l num contexto p6s-colon ial. ll

A c1iferenc;a p~H'ecia impo l" agora os sells clireitos. ESlav3mos nos 3110S

1960 e 1970. Para Illuitas dessas antigas col6 nias, pode falar-se entao de "parses em vias de clesenvolvimento" . Foi assim com a Argelia , a Tanzan ia,

a Nigeria, 0 Zirnbabwue , e l<1mbem com Angola e [vlo~ambiqll e.

Mas fo i pOl' p O ll CD te mpo que a cuitura cia dife renc;a e cia partici­

pa~ao fez valeI' os sells cii reitos, porque hoje, pOl' toclo 0 laclo, a cultum clo uno voltOl! a levar a melhor sabre a diferenc;a, e a l11uhicultura lidade

regride em favor cia "cultura-munc!o" (Lipovetsky e SeIToy, 2010; Martins,

Cabecinhas e Macedo, 2011), lima icleia hOlllogeneizante e empobrececlora

das culturas, que clillli melll6rias e fronleiras, virlllaliza paisagens e apaga pavos e na~oes . 12

As redes globais cia infonna~ao, proplIlsadas pelas lecnologias cia jnfonna~ao, acelerara lll 0 tempo hist6rico e mobil izaram a epoca, tota l

e infinitamente, criando 0 mercaclo global. A cinetica do munclo e agora

esta , a de um mercado global, cr iado pelas tecno logias d;] informac;flo,

um espac;o de com role, que tudo converte em mercacloria, bens, corpos e almas, e nao cessa m de nos Illobilizar para ele.13

11 Fioril), ao interrogar a utopia de lim espa(o IlIs6fono, funda-o nessa cullum do m(i1 tipio e da participa \ ao, um espa~o Illulticllhural. Depois de con­vocar Benveniste, e a sua obm 111SlitWiollS ludo-Ellropeellnes, iembrando que ptilritl e pal sao formados pela Illesllla I"<l iz, remctendo ambos para a /Jotes/as, cli z 0 segllinte: "A lusofonia nao sed p<"i tria, porquc nao sed tim espa~o de podcr ou de autoridade. Sed m(uria , porque cleve ser UIll cspa\'o de scntimento, e ser<"i fr{ltria , porque cleve scr 0 espa~o de iguais que tem a mcsllla origem" (Fiorin , 2011 , pp . 134-135). Couto (2009, p. 187), por sua vez, insistc no cl istinto entendimento quc os mo\,ambicanos (em sobre a lusofonia, relativ<lmente a portuglleses C b rasi leiros: "A adesiio mopmbi­cana a lusofonia est{l curegada de reservas, aparentes rccusas, desconfiadas aderencias" .

12 Vcr lambcm, ncsse scnliclo, Mart ins (2011b). 13 A idcia de encarar ,,'a lingua como prodlllO" ( RCIO, 2012), como Ifng lla

cl e conhccimcnto e conH~ rc io, e lima cxcclente ilustra~ao dessa cinetica e dessa ll1obili za~ao. NUIll eSluclo inlitulado Polellcial lkoJlomico da Linglla POIlIIg uesa, cncomenclado pelo Instilllto Camocs - Instituto cI·a Coopem\ao e cia LIngua c coordenado po r Luis nCIO, os principais capitulos lem a seguimc cles igna~ao: "Efeitos de rede e valor econ6mico cia lingua"; " Va lor cia Hngua e das ind(lslrias cullurais e criati vas em pcrcentagem do pm"; "Comcrcio ex tcrno c inveSlimcnto d irelo estrangeiro (I DE)"; "Fluxos mign1l6rios e turismo" .

Hilguet jJortugliesa, g!aba/izm;rlo e {/{sa/allin 23

As tecnologia~ cia informa~ao constituem 0 "rei clanclestino" cia nossa

epoca (Simmel), Elas Jigam giobalmente os inclividuos em tempo real e

criam nelcs 0 cerebro de que precisam: (1) 0 cle individuos moveis, ou

seja, 0 de indivfduos que assumem doravante uma condic;ao nomada,

precdria, sem direitos sociais, (2) prontos para a mobiliza~ao, 0 que sig­

nifica, prontos para qualquer trabalho, responc\endo em permanencia as

necessidades do mercado, (3) 0 de indivfduos competitivos, com 0 sentido

apurado da 16gica cia produc;;:ao, (4) e performantes, ou seja, realizadores,

concretizadores de sucesso,

Moveis, ou seja, prontos a ser mobilizaclos, competitivos e perfor­

mantes, quer dizer, aptos a trabalhar para 0 mercado, e tambem para

o banco de dados, 0 rallking e a estatistica, enfim, para aquilo a que a

tcodiceia do mel'caclo chama "qualiclacle" e "excelencia". As tecnologias da informa~ao podem programar-nos assim, podem dar-nos esse cerebro,

ebs que se constituiram entre n6s como lim espac;o de controle.

A metafisica tradicional era funclada na palavra, um espar;;o de pro­

messa. E a promessa cleclinava um futuro, danclo-nos garantias sabre ele.

Essa metaffsica cia uniclade acabou no Ocidente: ja nao lan~amos um

prop6sito para diante (para 0 futuro), funclanclo-o numa origem perdida.

Agora e para 0 presente que somos mobilizaclos. As palavras cia promessa

(centradas no futuro) foram substitufdas peIos nll1nerOS cia promessa

(que, no Ocidente, sao sobretudo nll1llCrOS da crise): os do Produto

Interno Bruto (PIB), que nao crescem ou tem crescimento negativo; os

cia Baiarwa Comercial, com desequilibrios cronicos entre as exporta~oes

e as importar;;oes; os clo dCfice, interno e externo; os do desemprego; os

do envelhecimento da popular;;ao; os clas desigualclades socia is, que se

alastram; os da quebra drastica dos Indices demogrMicos ...

Trata-se de nlU11eros vil'ados para 0 presente e que, no Ocidente,

assinalam a sua crise. 0 padre, 0 homem de leis e 0 poiftico j3 nao orga­

nizam a vida no Ocidente, porque a crise se impos no presente de modo

a nao se vislumbrar um horizonte; para a promessa, temos agora os eco­

nomistas,' os engenheiros e os gestores. Sao os nossos magos - magos

do presente.

Nesse contexto de mobiliza~ao tecno16gica para 0 mercado global,

com as culturas em escombros e por entre paisagens cle rufnas, a tema­

tizar;ao do debate sobre a lfngua chega a assemelhar-se a Ulll.:'1 alucinada

narrativa messifInica. Numa entrevista concedida ao site "Inteiigencia

Economica", por ocasiao do lan~amento da obra Potencial Ecollomico

24 Hugua porluglfesa e !us%llia

cia Liug l/a PorlllgllesCl, pOl' si coordenada, LU Is RetD, reitor do ISCTE-IUL,

exclama: "Esta e a hora do portugues" « ilttp :/linteiigencia economica.

com.pI»14.

E colocanclo de imecliato a lingua portuguesa na ' ro ta cia economia ,

avisa que a navegac;ao sera agora em dire~ao a lim novo arquivo cultural ,

em que a lingua seja "procilHo" e "va lor econ6mico", sendo avaliada a sua

importancia em termos de percentagem no PIB ( ibid.). Lan~ada . pais, ao

mar cia sua transfonna~ao "numa palencia econ6mica munclial" (ibid.), 0

fumo cia ifngu:l portuguesa e, por lim lado, "a comunidacle lus6fona ", e,

pOl' Qutro, "0 vaJor criaclo para fora, para urna economia em rede" (ibid.).

Tecnologias da informa~ao, globaliza~ao

e rede sociotecnica lus6fona

Partincio do Ociciente, as tecnologias cia informac;ao prociuziram,

toclavia, a "globaJizac;ao cosrnopolita", uma globali zi:lc;ao comandada par

especu ladores e usunl rios, que serve 0 mercado globa l, para onele nos

mobiliza, total e infinitmne nte Olinger, 1990[1930]; Sloterclijk, 2000; Mal1ins,

2011b). Como assinalei, essa globali zac;ao nos deu tJll1 Cl iclenticlacle defi ­

nida, ou seja , definili va, a de individuos m6veis, rnobili zaveis, compeliti­

vos e performantes. 'fem~s, po is, agora, uma outra cuitura cia uniclacle, a

"cultura-mundo", servida por lima (mica lingua, 0 ingles.

A "globalizac;ao cosmopolita", funclacla nas tecnologias cia informa­

~ao e na economia, nao pode ser contrariada par indivicluos solitarios e

impotentes, nem por ESlados-naC;6es em crise. A globalizac;ao COS1110PO­

Iita reqller a alternaliva de lima "globalizac;ao multiculturalista" (Marlins,

2011b), "natllralmente associacla ao mllitilingllismo" (Lopes, 2013, p. 139),

um clesafio que se espera possa rellnir os pavos de areas geocliiturais

14 "Estao criacla's loclas as concli~6es para lornarmos iSlo lim fen6meno global", diz ainda LUIS HelO na enlrevista int ilulad'l "0 valor economico cia lingua por­tuguesa", concedida ao mesmo site « Imp:! / inleiigenciaeconomica.com.pt». E defendendo que e do interesse de IOclos os Estados da Lusofonia que "a afirma~iio da LIngua seja global", afinna a convio; iio de que "Hapidamenle loda a America Latina eSlad a falar po rtugues" (ibid.). Enltlsiasmacio, entrelanto, com as pagillas que a revista nOlle-americana Monocle dedicou a wGeneralioll Llisopbonia" , concluiu : "a Monocle fez mais peia notoriedade cia Lingua do que n6s e a CPLP fi zemos" (ibid.).

Lilzgua portuguesa, globo/izariio e lusojoJlio 25

alargadas, que promova e respeite as difercnr;;as, dignificando as Hnguas

nacionais, aquila a que Lopes (ibid.), fundado na cxperiencia mo~ambi­

cana, chama de "sistema eco16gico linguistico".

A globalizar;;ao multiculturalista e fcita pela mistura, pela miscigena­

c;ao de etnias e pela miscigenac;ao de mem6rias e tradic;oes, enfim, pelo

plurilinguismo 1-) (Brito e Martins, 2004).

E esse 0 contcxto em que se insere a lusofonia como movimento

multicultural de povos que falam a mesma lfngua, 0 portugues. A luso­

fonia, ao inves cia homogeneizac;ao empobrecedora e de sentido (mico,

estabelecida pela globalizac;ao cosmopolita, tem a virtude do heterogcneoj

a seduc;ao de uma rede tecida de fios de varias cores e texturas, UIna rede

capaz de resistir a reduc;ao do diverso a UIna unidade artificial.

Precisamos, no entanto, manter-nos vigilantes sobre todos os equf­

vocos que possam atravessar 0 conceito de lusofonia:

(1) devemos dcsconstrl.lir as cqufvocos de uma centralidade por­

tuguesa cia lusofonia (Martins, 2006)16;

15 Lopes (2013) sente-se constrangido com 0 concdto de globaliza<:;ao lus6fo­na, par Ihe vcr associada a idcia de desvaloriza~10 das Hnguas nacionais. Inspirando-se na lfngua bantu, ve ai LIma timaka, ou seja, um "contlito", para 0 qual e preciso encontrar uma SOlll(aO. Chamando a debate 0 liYfo que escreveu em 2004, A batalha elas lrnguas, Lopes (2013, p. 145) confessa entender a babeliza<;:10 e tudo 0 que passou elepois de Noe como 0 infcio da maravilha que julga ser 0 1l1uitilingllis1l1o. Nesse sentido, e no seu ponto de vista, 0 1l1uiticulturalis1l1o 1l1ultilinguista transforma-a em miltmdo, que no p011uglles mo<;ambicano, pOl' via cbs lfnguas bantu, quer dizer urn problema ja com <l solll<;ao nas maos e COI11 a indica<;~10 do caminho que e necessario pcrcorrer. Tambem Ngomane (2012), atllal diretor da Escola de Comllnica<;ao e Artes da Universidade Eduardo Mondlane, recusa, em Mo<;ambique, 0 conceito de lusofonia: "LlIs6fonos, e? S6 se for no quaelro do velho sonho imperial portugues do alem-mar, do Minim a Timor".

16 E nlCU entendimento que nesse equfvoco reSSO<l, embora remota mente, ain­da uma "visao Ilisocentrica" salazarista (Martins, Oliveira e Bandeira, 2011). TaI'nbem Ribeiro (2013), num texto que assinou no suplcmento ipsiloll do jornal Pi/blico, de 18 de janeiro de 2013, com 0 tftulo "Para acabar de yez C0111 a lusofonia", denuncia esse equivoco. Mas como bem assinala Pomar, em cinco posts que escrevclI no seu blogue, entre 19 de janeiro e oito de fevereiro de 2013, 0 texto de Ribeiro assenta ele pr6prio em alguns equf­V{)COS, nan senelo 0 mais despiciendo 0 de excluir a bibliografia que n10 reconforta as Sllas posil;oes (veja-se, sobretudo 0 post que escreveu a 20 de janeiro de 2013, acedido a 16 jlln 2013: <http://alexandrcpomar.typepad. com/alexandre_pomar/2013101/111sofonia-3.html> ).

26 LIngua por/uguesa e /us% llia

(2) os equrvocos de reconst i lu i ~ao, em contexto p6s-colonial, de

narrativas do antigo ilnperio, hoje com prop6siloS neocoloniais,

sejam eles conscientes Oll inconscientes (I3aptista, 2006, Call to,

1993 e 2009; Ngomane, 2012) 17;

(3) tambem os equlvocos clo Iusotropicalismo renascente e redi­

vivo, de uma "coloniza~ao doce", que hoje tanto pode gloriri car

a antigo pars colonial corno exa ltar as atua is parses indepen­

dentes (Cape la , 1974; Casle lo, 1999; Freyre, sid)";

(4) e ainda , os equfvocos de algum cliscu rso p6s-colonial, que e a narrativa de lima hist6ria do "ressentin1ento", 19 lim disclirso

17 Com cfc ito, nos casos de paises africanos mu ltilingues, COIllO Angola e JVlo~ambique , a lllsofonia pode nao passar de "Iusoa fonias" (Couto, 2009). E, nessas circunslancias, "quem qucr SCI' apagado?" (Ngomane, 2012).

18 Nunca cxistill lima "co lon iza~flo doce". C.l pela , na illl l"Ocilu; ao ao livre que publicou, em 1974, intitulado Escmvfllurtl. A empresa de saque. a aboli­cioJlisl1/O (18 10-1875), mostra como ainda nos anos 1940, 1950 e 1%0, a escravatura era regra 11<1 Colonia POltuguesa de t\'lo~·ambique. Exemplo disso foram as notas cia visita que 0 Cardeal Cerejeiu fez como leg~lclo ",I lmere" do Papa, para a sagrae;r1O da Catedral de Lourenc;o Mclrqucs, em 1944. Ao passar pela Missflo do lie, na Zambcsia, comenloll , no sell cl i;hio: "[, .. 1 c preciso que cesse 0 abuso cle se constru ir gr<lI1c1es fOl1lll1as com 0 sangue dos pretos" (Capeicl, 1974, p. 13). Depo is, cm viagem p:l ra M;lceqllece, ma­nifcstou 0 sell des,llenro: "Impera na Bcira a escravatu ra! N;Jo h;1 m;lllei ra de se convencerem que os pretos sao pessoas hUlllanas" (ibid .) . A clenlmcia cia ideia de lima "coloni za\,iio doce" e feila, tambcm, por Begue (2012), na sec~,10 "L'indigenat: un ap;lItheid non avouc" (ibid ., pp. 173-"(74). POI' sua vez, Baptista, com lim enfoquc pr6prio cia tcoria cia cultura, Illostra como, ja durante 0 Estado Novo, "a feriela que todo 0 colonialismo se esforp por esconder", a de tl111:1 "identicbde negada c humilhacla do negro na sua propria terra ", fo i abertamcnrc ex posta na sua intrfnseca violencia, primeiro atraves da literatura , c dcpois pclo ci ncma (Baptista, 2013).

19 I3loolll 0997, p. 31) fala, ncsse contexto, dc lima "Escola do ressentimcnto", em que associa "afrocentristas" a " feminisl<is, marxistas, novos-historicistas de inspirac;;10 fouca ultiana , Oll desconstnnores". Tr:lta-se de uma crft ica lIlll

tanto controversa. Ena ltcccndo, pOl' lim !aclo, aqllilo que designa como "C'inone OCiclenlal", quc "cx istc prccisa mcnte P;lnI impor limilcs, para cs­tabelccer lim principio de medida" (ibid ., p. 44), Bloom desqualifica como "resscntidos" (ibid., p. 42) aqueles a que chama de umulticultura listas" (ibid., pp. 29 e 39), que bem gostariam, em SCli enlencler, de se livrar de utodos os homens brancos europclls e ja fa lcciclos" (ib id. , p. 48). No meslllo sentido, entcndc-sc 0 processo dc descreC\ibi li za~'iio a que l3loom (ibid ., p. 40) sujeita a escritora americana negra , Alice Walker, aulonl de Meridia no. Nesse contex to, ga nl1a parti cula r relevo a il1trodu \,fl o no d ebate contcmpora neo do tema "d lnone lus6fono". Vcr, por exemplo, Venfl ncio

L(lIgllC1 jJOrtllgllcsa, glolJafizardo e lusq(oll/(/ 27

que se constitlli como lima especic de vindicta historica, de

"revanche" ser6dia, a pretexto de rcsgatar a memoria de um

passado colonial. 20

Conclusao

E c nesse contexto, afastados todos csses equlvocos, que as tecnolo­

gins cia informa~:Jo ganham novas virtllaliclades. A convergencia de recles

informaticas e de telecomllnicac;oes, tal C01no obscrvou \Vebster (1999),

pennitill 0 desenvolvimento de rneios de ge.stao c de clistribuic;ao cia infor­

mac;ao, bem como a possibiliclade de estabelecer liga<;ao, em tempo real

e a baixo custo, entre espas;os flsicos geograficamente distantes. Como

conseqllencia clessa revolw;ao clas tcleC011111nica<;oes, surgiram na internet,

entre 0 final do secllio XX e 0 tempo presente, "milhares de blogues e

de Olltros c1ispositivos escritos em Hngua portugllcsa, tendo-se esta tor­

nado numa cbs mais presentes na Yflorld Y'(f(de W'eb" (Macedo, Martins e

Cabecinhas, 2011, p. 130),

Em 2010, segundo a IJlternet ''(Iorld Statistics, a internet era lltilizac!a

qU<1se pOl' dois mil milhoes cle pessoas (dois bilhoes de pessoas) em

toclo 0 mundo. E os utilizadores lus6fonos eram cerea de 83 milhoes,

representanclo a quinta c0111unidacle linguIstica corn maior presenc;a no

ciberespa~:o, a frente dos utilizaclores falantes de alemao, arabe, frances

c russo (ibid.).

(2012). A.., "cscriws da /}/orgen!" a que Venfmcio se refere sao as de In{\cio Rebelo de Andrade e AdeJino l·orrcs.

20 Era comulll, sobretudo nos anos qlle se seguiram a indepl'nclencia clas col6-nias portllgLles~15 em Africa, circlliarem nos media desses parses variadissimos exemplos dessa "hist6ria do ressentimenw", uma hist6ria argllmentada em termos racials e fllndada na "lcgitimidade histor1ca" de sc tel' participado na luta armada. Para dar lUll (l11ico exemplo, con\'oco 0 artigo de opiniao do jornalista Salomao j\Ioyana, publicado no jornal diario mor;ambicano Notre/as, de 13 de outubro de 1993, que denuncia como raci.''>tas e intoleran­tes as cr6nicas que 0 ministro da lnforma<;ao mO~'ambicano, Rafael j\'iagllni, antiga vot': da Frelimo na Tanzfli1ia, entao publicava, com 0 pselld6nimo de Vandole Ukalyol. Escreve Moyana: Vamlole: cOllsiclera-se "no caminho cer­to" e "patriota" "simplcsmente pm ter participado na iuta armada e por ser preto". E cita expressamente Vandome: "Para nos pretos, termos i\linistros em l\Io~'ambiqlle e lima conquis[a cia Ima de liberta~'ao l1aciol1a\", que "os colonialistas portugueses nao nos deram. de mao beijada" (J\Ioyana, 1993).

28 Linglla porluguesa e lus% llia

E nesse contexto em que gostaria de convocar 0 projeto colelivo de investiga~ao, em cursa no Centro de Estucios de COl11unica~ao e Socieclade (Cecs) cia Universidacle clo Minho, sabre "narrativas icle ntitarias e mem6ria

social - (re)constrw;oes cia lusofonia em contextos interculturais".21 Ao analisa r lim conjulllo de blogues porlugueses, rno~ambicanos e

brasileiros, que c!ocumentam as enormes virtualiclacles desses dispositivos

de clicllogo inte rcultura l, esse projeto convoca a questao cia divers idacle do muncio ius6fono, colocanclo-se a questao com que ja se havia confrontado a expansao maritima portuguesa: a de lima descoberta noetica, tambem a de LIma filosofia cia integra~ao, e ainda a de lima icleologia cia clomina\=ao, enquanto conexoes cia re la~ao com 0 munclo cliverso.21

As tecnologias cia informa~ao e cia comunica~ao permitem, pois, clisclltir globalmenre, em portugues, temaricas lus6fonas. E enquanto e interrogado 0 olhar com que cada pais de expressao portuguesa enca ra a lusofonia , e lan\=aclo 0 desa fio de abrir caminho novo, que seja, na dife­

ren~a, promessa cle clia!ogo, coopera~ao, paz e clesenvolvimenro.

21 Sobre 0 Projeto "Narrativas Identit{lrias e Mem6ria Social" (Re f. P1'OC/ CC!­COM/ 10510012008), ver: <http://www.lasics.uminho .pt/ idnar/>.

22 E esse 0 ponto de vista desenvolvido p~r Macedo (2013), na tese de doutora­me nto, apresentada na Universidade do Minho, com 0 titulo Da c1iversidade do 11l1llldo ao l1Iulido diverso da Ills% llia: a reillvell~do de Ulua comlill;­dade geocullural lUI sociedade em rede. Inspirando-se no tdpt ico fa rdlm das De/(cias, de Hieronymus Bosh, sobre a divers idade do mundo, Lurdes Macedo ap rofunda 0 conce ito de lusofonia projetanclo-o como um conceito cOlllplexo, que cOlllpreencle tanto lima hist6 ria de coloniz<l\"ao, como uma hist6 ria p6s-colonial. Tomanclo como melMora 0 trfptico de Bosh, que nos fala da diversidade do mundo, nUllla hist6 ria da coloniz<l\"ao, at raves da expansao marItima , 0 conceito de lusofonia talllbelll pode fa lar-nos cia diversidade do mundo , IlUllla hist6 ria p6s-colonia l de navega\"ao oll-lille, em que os paises lus6fonos partilhalll d ife re n\"as e interdepende ncias, numa cultura de p.1Z e desenvolvimento. Nesta hist6 ria de colonia lismo e p6s-colonia lis1l10, c toclavia salvaguardada a complexicbde de ambos, e m tempos sa lie ntada por Boaventura Sousa Santos (2002, p. 31) : "Enquanto 0

discurso colonial assentQU na poJariclacle e ntre 0 colonizador (Pr6spero) e 0

colonizaclo (Ca lib.ln), 0 p6s-colonialismo salienta a ambivalencia e a hibridez entre ambos ja que nao sao inclepenclentes lUll do outro nem sao pensaveis lim sem 0 o llt ro".

Lfngua pm1uguesa, globa/izaf(c1o e lllsofollia 29

Referencias

ALEXANDRE, v. (973). "Le colonialisme portugais: n'alite et my the". In:

Suisse-Portugal, de l'Europe ell'Ajrique. Genebra, Pl'. 8-17. BAPTISTA, M. M. (2006). "A lusofonia nao e um jarditn ou da necessidade

de 'perder a medo as realidades e aos mosquitos"'. In: MARTINS, M.

L.; SOUSA, H.; CABECINHAS, R. (eds.). ComUilicar;iio e lusojoilla.

Leitllra cn7ica da cultura e dos media. Porto: Campo das Letras,

PI'. 23-44. __ (2013). Identidade Cultural Portuguesa: do colonialismo ao p6s­

-colonialismo. Li~iio. Provas de agregac;ao em Estudos Culturais,

realizadas na Universidade do Minho, a 11 e 12 de junho.

BARROS, D. L. P. de (2011). "A constru,ao discursiva dos discursos

intolerantes". In: __ (org.) PrecoHceito e Inlo/erancia. Reflexoes Lillg11istico-Discursivas. Sao Paulo, Universidade Presbiteriana

Makenzie, PI'. 255-270. BASTIDE, R. (1972). "Lusotropicology, race, nationalism, class protest

and development in Brazil and portuguese Africa". In: CHILCOTE, R. H. (ed.). Protest alld resistallce ill Angola alld Brazil. Berkeley,

University of California Press, Pl'. 225- 240. BEGUE, S. (2012). "Societes dans I'Empire Portugais". In: BAR]OT, D.;

FREMEAUX, J. (orgs.). Les societes coloniales ell'age des empires des

anllees 1850. allx amu!es 1950. Paris, Sedes/Cned, PI'. 168-176. BENVENISTE, E. (969). Le vocabulaire des illstitlltions illdo-europee,,"es.

Paris, Minuit, 1 voL

BLOOM, H. (1997). 0 Callone Ocidelltal. !.isboa, Temas e Debates -Actividades Editoriais.

BOXER, C. (963). Race relations ill the pOituguese colollial empire, 1415-1825. Londres, Oxford University Press.

BRITO, R. e MARTINS, M. L. (2004). "Considera,oes em torno da rela­

C;ao entre lfngua e pertenc;a identitaria em contexto lus6fono". In:

Alluario internaciona/ de Comunicafiio LlIsa/ona 2. Sao Paulo,

Feder~lc;ao Lus6fona de Ciencias cia Comunicac;ao, pp. 9~77.

CABECINHAS, R. e CUNHA, L. (2003). Colonialismo, identidade nacional e representac;oes do "negro". E,llldos do SeCli/O xx.

CANCLINI, N. G. (1989). Cllilltras hfbridas. Estrategiaspara ellfrarysalir

de la lI1odemidad. Mexico, Grijalbo. CAPELA, J. (1974). I!SCI"avatlira. A empresa de saqlle. 0 aboliciollisll1o

(1810-1875). Porto, Afrontamento.

30 LlnBI/CI porlllglfesa e {lls%llia

CASTELO, c. (1999). "0 Modo pOr/llglles de es/ar 110 1IIIIIIdo ". In : 0 11150-

-/ropiealislllo e a ideologia cololliet! por/llgllesa (1933-1961). Porto, Afrontamento.

CHACON, V. (2000). "Gilberto Freyre, a globa liza,ao e q luso-tropica­IiSlllO" . In: MOREIRA, A.; VENANCIO, J. C. (eds.). a Illso-/ropica­

lismo. Villa leoria socia l em qllesfclo. Lisboa , Vega, pp. 33-4 1. __ (2002). Ojillllro da IlIsojiJllia. Lisboa, Verbo.

COUTO, M. (1993). Celebrar uma cultura mulat,\. NOlleias, j om al Didrio Mor,;alllbicclI/o, 20 de dez.

__ (2009). "Luso-Afonias. A Lusofonia entre Viagens e Crimes" . In :

Illlerillvellr,;6es. Lisboa, Editorial Caminho, pp. 183-198. CRl ST6VAO, F. (2012a). "A identidade lusofona e a forma,ao multicul­

tural ". In: __ (ed.). EI/Saios LIIS6/01l0s. Coimbra , Almedina! Clepul , pp. 23-34.

__ (2012b). "Modern idade e exemplaridade mult icultural de Casa

Gra nde e Senza la". In: __ (eel. ). ElIsaios LIIS6/01l0s. Coimbra, Almedina! Clepul , pp. 219-229.

CUNHA, L. (1994). A imagen do negro na banda desenhacla do Estado Novo. Neja/ario de all/a leorico-jJriilica, Provas de APee. Brag;],

Universiclacle do ivlinho. DERRlDA, J. (1967a). "Force et significa tion". In: L 'eeri/IlIe de la difjerell ce.

Paris, Seuil , pp. 9-49.

-_(1967b). "La stru cture , Ie signe et Ie jeu " . In : L'eeri/llre de la difjereuee. Paris, Seuil, PI' . 409-428.

FlORI N, J. L. (2011). "Lingua portuguesa, identidade nacional e lusofonia ". In : 13ARROS, D. L. P. de (org.). Precolleei/o e 11lI0lerdll c ia. lIeJlexoes Lillgu(slico-Disclirsivas. Sao Paulo, Universidade Presb iteriana Mackenzie, pp. 119-135.

FREYRE, G. (si d). a M ll lldo qlle 0 por/llglliis erioll. Lisbml , Eeli,ao "Livros clo 13rasil ".

__ (195711 9331). Casa Crallde & Sellzala. Lisboa, Eeli, ao "Livros elo Brasil".

JUNGER, E. (1990119301) La mobilisatiou/o/ale, in et/a/ UllivelSel - slliui de La mobilisCl /io'll totale. Paris, Galt imard.

LA ROCCA, F. e MARTINS, M. L. (2009) . Dialogo tra Fabio La Rocca e

Moises de Le mos Marlins: I 'esposizione in rele de lla vita quoti­diana. Pol.is - Centro di iniziativa politico-cullUrale. Homa e J\'lilano,

13evivino Editore, pp . 109-11 4.

LlPOVETSKY, G. e SERROY, .J. (2010). A CII/lllra -ll/.lll1do. lIespos/a a IIl1/a sociedade desoriell ladCl. Lisboa, Ed . 70.

Li11glla porfligIlcsn, g!obnliz{/{XfO c !lIs%llia 31

LOPES, A. J. (2004). A Balalha das Lfngllas. PersjJeclivas sobre Lillgll[,lica

Aplicada em 11lofambique. Maputo, Imprensa Universit~lria. __ (2013). LIngua Portuguesa em Mo~ambique. Reuista Brasileira,

Academia Brasileira de Letra, fase yIII, ano II, n. 74. MACEDO, L. (2013). Da diversidade do lIl11ndo ao IIllllldo diverso da

lllso!onia: a reillUellr;aO de wna CO}}lullidade geocliltural na socie­dade em rede. Tese de doutoramento em Ciencias cia Comunica~ao, especialidade de Comunica~ao Intercultural. Braga, Univcrsidade clo Minim.

__ ; I'vlARTINS, M. L. e CABECINHAS, R. (2011). "B1ogando a lusafo­

nia: experiencias em tres paises de lingua oficial portuguesa". In: __ (cds.). Llis%llia e ClIltlira-lll11Hdo, Anuario Interllaciollal de

COlllllllicar;ao LlIs6jolla. Coimbra, Cees/Gracio Editor, pp. 121-142,

9 vol. __ ; MARTINS, M. L. c MACEDO, I. (2010). "Por mares nunea dantes

navcgados: contributos para uma cartografia do ciberespac;.'O lus6-fono". In: MARTINS, M. L.; CAIlECINHAS, R.; MACEDO, L. (eds.).

Llls%llia e COIJlli11icafclo em Rede. A1lltario InterllClcional de COlllllnicar;clo L1Is6jona. Coimbra, Cees/Gracio Editor, pp. 11-39, 8

vol. MAPFESOLI, M. e MARTINS, M. L. (2011). Ciberculturas. Revisla de

C0111111licafclO e Linguagells, n. 42. MARTINS, IvI. L. (2006). "Lusofonia c luso-tropicalismo. Equivocos e possi­

bilidades de dois conceitos hiper-identitarios". BASTOS, Neusa (ed.). LIngua Portuguesa. Rejlex6es Ills6jonas. Sao Paulo, Educ, pp. 49-62.

__ (2011'1). Crise JlO Castelo da C1I111Im. Das JisllPlas panl as Telas. Sao

Paulo, Annablume. __ (2011b). "Globalization and Lusophone world. Implications for

Citizenship". In: PINTO, M.; SOUSA, 1-1. (eds.). COllllllllllication aJld Ci"flZenshtjJ. Rethl"nking crls(, alld cbaJlge. Coimbra, Gracia Editor, pp. 75-81.

__ (2012). "The Portuguese language Internet communications contribute to a multicultural global worlel". In: lAMCR CONFERENCE.

AnaL, .. Durban, University of Kuazulu-NataL __ ; CABECINHAS, R. e MACEDO, L. (eds.) (2010). LlIsojcmia

e Sociedade em Rede, Anucirio Intern(fcional de COIJIllJlicariio Llfsq(ona. COimbra, Cecs/ Gracio Editor, 8 vol.

__ ; CABECINHAS, R. e MACEDO, L. (eels.) (2011). L1Isojonia e C1I1t1lm­

-il1l11ulo, AJll{(irio 11lternacional de COnlllnicar;clo Lusqjolla. Coimbra, Cecs/ Gracio Editor, 9 vol.

32 Lingua portuguestl e lusofolliCi

MARTINS, M. L.; O LI VEIRA, M. e flANDEIRA , tV!. (2011). 0 "mundo POI'­(ugliest) cia Expos i~ao de 1940 em posta is ilust raclos. 0 global i1uma visao lusocentrica. Revis/a de Com/{Il ica~clo e Linglfagells, n. 42.

__ ; SOUSA, H . e CAflECINHAS, R. (eds.) (2006). Cqlllll ll iccu;:iio e

Lusa/oJ/fa, Para II1JlCi analise crft ica cia cu/lura e dos media. Porto,

Campo ci HS Letras. (Cole~ao Comunicar;ao e Sociedacle) ,

MINISTEIUO DE ULTRA MAR (J954) . Decl'eto Lei n. 39.666 cle 20 cle maio.

£Sfallllo das illdfgellCis Portllgueses etas Provfllcias cia Cuim], Angola e Mo,a lllbiqlle.

MODELSKI , G. (1 996). Portu guese Sea power and th e Evolut ion o f

Global Politics. The EvollltiOllalY \'(Iorld Politics HOlllepage. Lisboa, Academia de Marinha, 15 out. D isponivel em: <https://faclJlty. washington.eclu/ mocielsk ilMARI NHA.html>. Acessaclo em: 07 jun. 2007.

MONOCLE (2012). Gel/emlioll Ll/sop bollY' /Vby Porl l/g llese is Ibe I/ew langllage a/power and tracie, issue 57, v. 6, oct.

MOYANA, S. (1993). 0 vanda lismo cia terra. Notlc ias. Jom al D iiirio lHofClmbicClllo, 13 de olltubro.

NGOMANE, N. (2012). Quem quel' sel' apagaclo' Selllclllar io Sol, 06 cle janeiro.

PINTO, M.; PEREIRA, S.; PEREIRA, L. e FERREIRA, T. (2011). EcllICClriio para os ;Wedia em Portllgal: E:>.periencias, Aclores e Con/ex/os. Lisboa, ERe.

POMAR, A. (2013a). Lusofonia 5: referencia superficial a Gilberto Freyre. Lusolollict, n. 5, 02 cle agosto. D isponivel em: <http://alexancl repo­mar.typepacl.com/ alexandre_pomaI'/ 2013/ 02/ Iusofonia-5.html>.

__ (2013b). Lusofonia 4: primeio Mapa cor-cle-rosa. Lusolollict, n. 4,

21 cle janeiro. D isponivel em: <http://alexandrepomar. typepad.com/ a lexa nd re_poma 1'/ 20 13/ 01/ 1usofonia -4 .ht ml>.

__ (2013c). Lusofonia 3. Lusolollict, n. 3, 20 de janeiro. D isponivel em:

<http://a lexancl repomar.typepa cI .coml a I exa nd re_poma 1'/20 13/0 1 I lusofonia-3.html>.

__ (2013d). Lusofonia 2. Lllsololl ict, n. 2, 19 cle janeiro. D isponivel em: <http ://alexand;·epomar.typepacl.com/ a lexa ncl re_pomar/20 13/0 II lusofonia-2.html>.

__ (2013e). I.usofon ia 1. Lusolollia. n. 1, 19 de janeiro. D isponivel em: <http://alexanclrepomar. typepacl . coml a lexa nclre_pomar/20 13/011 lusofonia. html>.

PROj ETO NARRATIVAS IDENTITARlAS E MEM6RIA SOCLAL. D isponivel

em: <hup:llWW\v.Jasics.uminho. ptliclnar/>.

OOltllgucsa (! /us%Hio

11). ° "mundo po1'­dos. ° global nllma ngllageJls, n. 42.

5). COJ1l11Jlicaf.;ao e

e dos media. Porto,

iedade).

.666 de 20 de maio. IS da CUim?, Allgola

I the Evolution of IIomep"ge. Lisboa,

1: <https:!/faculty. ~ssaclo em: 07 jun.

'tugllese is the new

;ias. jOrllal Didrio

Ilallario Sol, 06 de

(201]). EduCClfcio

'J COlltextos. Lisbo<l,

a Gilberto Freyre. ttp:! lalexandrepo­,fonia-5.html>. 1. Lus%tlia, n. 4, Imar.typepad.coIU/

roo Disponfvel em:

'_pomar!2013/01/

1'0. Disponivel em:

_pomar/2013/01/

'0. Disponfvel em:

_pomar/2013/0 1/

)CJAL. Disponivel

Llngllo jJOrtllgllCS({, g/ob(//izt1(:ao e /lisojoJlia 33

RETO, L. (ed.) (2012). Potellcial ecollomico cia Hllgll" Portllglles". Lisboa, Texto Editores.

RIBEIRO, A. P. (2013). Para acabar de vez com a lusofonia. Plivlico

(!psiloll), 18 de janeiro. SANTAELLA, L. (2012). "IntercuituraJidade no espa<;o brasileiro··. In: ADAMI,

A. e HOI-ILFELDT, A. (orgs.). llls~foilia e [llterCllltlll'Cllidade, IX Congresso Llisocom. Sao Paulo, Intercom, pp. 42-54. Disponfvel em:

<http://www.intercon1.org.br/e-book/ix -ilisocom. pelf>

SANTOS, B. S. (2002). "Entre pr6spera e Caliban: colonialismo, p6s-colonia­

lismo e inter-identidade". In: RAlVlALHO, M. J.; RIBEIRO, A. S. (01'gs.). h'Jltre ser e eslar. Ra[zes, perc1ln;;os e discllrsos cia identidode. Porto,

Afrontamento, pp. 23-85. SLOTERDIJK, P. (2000). La mobilisatioll illfillie. Paris, Christian Bourgeois. SPIVAK, G. (1999). A Critiqlle of PostcolollialReasoll.· rowanl a HIstmy 0/

the VaJlis/JiJlg Prese/lt. Harvard University Press.

TODOROV, T. (1991). A COllqllista da AlileriCCI. A Qllestcio do Olltro (3 eel.).

Sao Paulo, Martins Fontes.

VENANCIO, J. C. (2012). "Lusofonia e cfmone lus6fono. Da controversia

dos conceitos a manifesta~ao de cluas escritas a partir cia margem". In:

CRlSTOVAO, F. (eel.l. ElISaios LliSO/Ollos. Coimbra, Almedina/Clepul,

pp.83-99. WEBSTER, F. (1999). 7beories 0/ illformatioll socie(y (4 ed.). London,

Routledge. http://www.rtp.pt/wportal! sites/tv 1 guerracolonial!?icl =83&t= 2#list83