Linguagem, imagem e o performativo: Um tour d´horizon na Nova Geografia Cultural

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  • 8/19/2019 Linguagem, imagem e o performativo: Um tour d´horizon na Nova Geografia Cultural

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    Linguagem, imagem e o performativo:

    Um tour d´horizon na Nova Geografia Cultural.

    Wolf-Dietrich Sahr

     Faculdades Guarapuava,

     Programa de Pós-Graduação em Geografia da UFPR, prof. convidado

    A geografia é um campo de conceituações em permanente movimentação. Em cada

    região e cada época configura-se e/ou transforma-se a geografia como ciência/vivência

    em forma específica. Pretende-se, nesta palestra, fazer uma triangulação da atual

    geografia cultural visando pelo menos três horizontes importantes.

     Nos anos 1970 difundiu-se a virada lingüística nas ciências sociais. Deixou também um

    rastro na geografia, nas suas vertentes da geografia humanística e crítica, principalmente

    no ambiente discursivo da língua inglesa. Descobriu-se, nessa nova abordagem, que o

    “sentido” do espaço, a sua função comunicativa como signo, foi mais importante do que

    se imaginava nas abordagens positivistas dos períodos anteriores. Em conseqüência, o“espaço” perdeu a sua função epistemológica hettneriana de coerência, a qual ainda

    representou na geografia positivista e neopositivista, e tornou-se uma ferramenta

    epistemológica duplicada, dividido entre espaços de significantes e espaços de

    significados. Abriu-se, assim, um “materialismo dialético” apontando tanto o palco do

    corporal como o cenário das representações, formando um horizonte de linguagens, de

    complexos de sentidos, que – magmático na sua pluralidade e variabilidade – guiou a

    discussão para uma semiótica espacial do dizível, uma poética. Esta  privilegia o

    significado, o sentido em baixo das superfícies. Neste contexto, os adeptos da geografia

    humanística referiam-se, na sua poética romântica, à pluralidade das explicações do

    mundo (senso comum, religiões, ideologias), enquanto a geografia crítica interpretou o

    mundo, na sua poética idealista, como paisagem de valores (de uso e de troca).

    Os anos 1990 vivenciam, sob influência da expansão informática, a “invasão” do

    mundo vivido por computadores pessoais, celulares com câmeras, novas formas de

    televisão e comunicação televisiva. Conseqüentemente, o meio imagético tomou conta

    de muitos comportamentos e relacionamentos sociais. Observamos, desde então, uma

    reorganização profunda do conceito do espaço pelas imagens. Nesta virada pictórica 

    aparecem novas formas de comunicação, formas do visível, do não-verbal, o que

    implica uma nova construção “reticular” dos sentidos, beneficiando-se da polissemia

    típica dos efeitos da imagem. Trata-se de uma geografia da comunicação persuasiva

    que substitui as racionalidades da geografia dos significados. Falamos, neste contexto,

    de uma nova linguagem, esta vez pouco “alfabetizada”, de uma estética. Na geografia, a

    virada pictórica é, por enquanto, apenas observável na área instrumental onde mapas,

    sistemas de informação geográfica (SIG), bancos de dados de imagens e coleções defotografias são instrumentos de tradução entre o visível e o dizível. Contudo, uma

    reflexão mais profunda sobre o espaço imagético se espera ainda. Por isso, deveríamos

    debruçar-nos sobre o rico acervo das teorias estéticas abordando questões da arte e

     privilegiar o campo das superfícies, do significante. Ironicamente, isto nos remete às

    épocas e culturas da comunicação imagética predominantes na Idade Média européia

    (Catedrais, ícones) ou a história cultural da China e do Japão (na arquitetura, caligrafia e

     pintura, como nos espaços Zen).

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    Enquanto a virada pictórica ainda nem se expandiu muito no campo epistemológico, já

    se avisa outra virada. Esta busca superar a separação entre significante e significado.

    Trata-se de teorias não-representativas que privilegiam o corpo, esta matéria fática tão

    desconhecida no mundo do dizível e do visível. O corpo baseia-se principalmente no

    tato e no fato, ele se forma em positividade plena, mas desconsidera a diferença entre

    significante e significado. Por isso, é pouco destacado pela ciência a qual está ainda

    confinada na racionalidade do significado. Todavia, observando o nosso ambiente, percebemos um boom  corporal como nunca houve. Assistimos uma permanente (re-

    )construção material, não só de edifícios, cidades e parques de lazer, mas também de

     paisagens agrícolas, de florestas organizadas, até de  space-labs. Hoje, nem a academia

    se propaga mais como lugar científico de pensadores, más se articula através de

     personal trainers  máquinas corporais que transpiram o cheiro do suado. Este boom 

    corporal, o qual acompanha “dialéticamente” a virada imagética, necessita de respostas

    epistemológicas através de uma geografia não-moderna que supera as velhas dicotomias

    entre natureza e cultura, entre corpo e idéia (veja LATOUR, SERRES). Tal geografia só

     pode funcionar quando privilegiamos o elemento performativo, a ação. Este é o meio

     principal da expressão dos corpos. Trata-se, agora, de uma semiótica espacial sócio-

     biológica, uma ótica específica na qual predomina o comportamento, uma ética  no

    sentido pleno.

    Abordando, desta maneira, as questões da linguagem, da imagem e do performativo,

    finalizamos o nosso tour d´horizon  com perspectivas epistemológicas que poderiam

    resultar numa OUTRA geografia cultural. Trata-se de uma geografia das espacialidades

    que desafia epistemologicamente as grandes narrativas geográficas ainda vigentes que,

    no meu ver, ficam muito confinados em antigos idealismos e positivismos, todos de

    certa forma reducionistas como, por exemplo, a geografia funcionalista e sistêmica e a

    geografia crítica estruturalista. Por isso: Aos navios, meus queridos conterrâneos da

    Terra Científica e da Ciência de Terra! Já avistamos os horizontes, mas ainda não

    conhecemos as paisagens epistemológicas embutidos neles. Precisamos embarcar nesta

    direção com novas geografias dos significados, das imagens e da ação.