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Listas de MAT0334 - Análise Funcional - 2015/1 Ivo Terek Couto Neste texto faremos as resoluções das listas de exercícios do curso de Análise Funcional ministrado pelo prof. Antonio de Pádua, no primeiro semestre de 2015. Os enunciados foram transcritos o mais fielmente possível das listas originais. Os exercícios das provas eram retirados das listas, então também deixaremos indicado se algum item do exercício foi para alguma avaliação, e qual. Notação: Se V é um espaço vetorial, V * irá denotar o seu espaço dual topológico (não o algébrico). As resoluções são despretensiosas e sujeitas a erros. Avisos de erros, e sugestões podem ser enviadas para [email protected]. Sumário 1 Lista 1 2 1.1 Topologia de Espaços Normados ........................ 2 1.2 Séries de Fourier ................................. 7 1.3 Espaços de Banach ................................ 15 2 Lista 2 23 3 Lista 3 35 4 Lista 4 53 4.1 Aplicações do teorema de extensão de Hahn-Banach ........... 62 4.2 Teorema da Aplicação Aberta e do Gráfico Fechado ............ 67 4.3 Princípio da Limitação Uniforme e o Teorema de Banach-Steinhaus . 71 4.4 Convergência de Séries de Fourier ...................... 73 1

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Listas de MAT0334 - Análise Funcional - 2015/1

Ivo Terek Couto

Neste texto faremos as resoluções das listas de exercícios do curso de AnáliseFuncional ministrado pelo prof. Antonio de Pádua, no primeiro semestre de 2015.Os enunciados foram transcritos o mais fielmente possível das listas originais. Osexercícios das provas eram retirados das listas, então também deixaremos indicadose algum item do exercício foi para alguma avaliação, e qual.

Notação: Se V é um espaço vetorial, V∗ irá denotar o seu espaço dual topológico(não o algébrico).

As resoluções são despretensiosas e sujeitas a erros. Avisos de erros, e sugestõespodem ser enviadas para [email protected].

Sumário1 Lista 1 2

1.1 Topologia de Espaços Normados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21.2 Séries de Fourier . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71.3 Espaços de Banach . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15

2 Lista 2 23

3 Lista 3 35

4 Lista 4 534.1 Aplicações do teorema de extensão de Hahn-Banach . . . . . . . . . . . 624.2 Teorema da Aplicação Aberta e do Gráfico Fechado . . . . . . . . . . . . 674.3 Princípio da Limitação Uniforme e o Teorema de Banach-Steinhaus . 714.4 Convergência de Séries de Fourier . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73

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1 Lista 1

1.1 Topologia de Espaços NormadosExercício 1. Seja X um espaço normado.

(a) Mostre que toda sequência convergente em X é limitada, de Cauchy e possui umúnico limite.

(b) Mostre que se uma sequência (xn)n≥0 ⊆ X é convergente, então qualquer sub-sequência de (xn)n≥0 converge para o mesmo limite.

(c) Mostre que se uma sequência de Cauchy possui uma subsequência convergente,então ela é convergente.

Solução:

(a) Seja (xn)n≥0 ⊆ X tal que xn → x. Existe n0 ∈ N tal que n > n0 implica ‖xn−x‖ < 1,donde ‖xn‖ < 1 + ‖x‖ para todo n > n0. Então temos que ‖xn‖ ≤ M, ondeM = max‖x1‖, · · · , ‖xn0‖, 1+ ‖x‖. Portanto (xn)n≥0 é limitada.Seja ε > 0. Existe n0 ∈ N tal que n > n0 implica ‖xn − x‖ < ε/2. Se m,n > n0,então:

‖xn − xm‖ ≤ ‖xn − x‖+ ‖x− xm‖ <ε

2+ε

2= ε,

portanto (xn)n≥0 é de Cauchy.Agora suponha que xn → x e xn → y. Dado ε > 0, existem n1, n2 ∈ N tais quen > n1 implica ‖xn−x‖ < ε/2 e n > n2 implica ‖xn−y‖ < ε/2. Se n0 = maxn1, n2

e n > n0, podemos escrever:

‖x− y‖ ≤ ‖x− xn‖+ ‖xn − y‖ <ε

2+ε

2= ε.

Como ε > 0 é arbitrário, ‖x− y‖ = 0 e daí x = y, portanto o limite é único.

(b) Seja (xnk)k≥0 uma subsequência de (xn)n≥0, e suponha que xn → x. Vamosmostrar que xnk

k→+∞−→ x também. Seja ε > 0. Existe n0 ∈ N tal que n ≥ n0implica ‖xn − x‖ < ε. Mas existe k0 ∈ N tal que nk0 > n0. Então k > k0 implicank > nk0 > n0, e daí em particular vale que ‖xnk − x‖ < ε.1

(c) Suponha que (xn)n≥0 seja uma sequência de Cauchy e que (xnk)k≥0 seja umasubsequência convergente, xnk

k→+∞−→ x. Vamos ver que xn → x. Seja ε > 0. Comoxnk

k→+∞−→ x, existe k0 ∈ N tal que k > k0 implica ‖xnk − x‖ < ε/2. E como (xn)n≥0é de Cauchy, existe n1 ∈ N tal que m,n > n1 implica ‖xn − xm‖ < ε/2. Sejan0 = maxn1, nk0. Se n > n0 e k é tal que nk > n0, temos:

‖xn − x‖ ≤ ‖xn − xnk‖+ ‖xnk − x‖ <ε

2+ε

2= ε,

portanto xn → x.

1Não confundir o 0 em n0 com os índices em k.

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Exercício 2. Se X é um espaço normado sobre R, prove:

(a) A função ‖ · ‖ : X→ [0,+∞[ é contínua.

(b) A operação adição definida sobre X× X é contínua.

(c) A operação multiplicação por escalar definida sobre X×R é contínua.

Solução:

(a) Dados x, y ∈ X, temos ‖x‖ = ‖x−y+y‖ ≤ ‖x−y‖+‖y‖, donde ‖x‖−‖y‖ ≤ ‖x−y‖.Trocando x e y e repetindo, temos que |‖x‖− ‖y‖| ≤ ‖x−y‖. Seja ε > 0, δ = ε > 0,x0 ∈ X fixado, e x ∈ X tal que ‖x−x0‖ < δ. Então |‖x‖− ‖x0‖| ≤ ‖x−x0‖ < δ = ε,logo ‖ · ‖ é contínua em x0 ∈ X. Como x0 era arbitrário, ‖ · ‖ é contínua em X.

(b) Considere em X×X a norma ‖·‖1 da soma. Seja ε > 0, δ = ε > 0, (x0, y0) ∈ X×Xfixado e (x, y) ∈ X× X tal que ‖(x, y) − (x0, y0)‖1 < δ. Então:

‖x+y−(x0+y0)‖ = ‖x−x0+y−y0‖ ≤ ‖x−x0‖+‖y−y0‖ = ‖(x, y)−(x0, y0)‖1 < δ = ε.

Então a adição é contínua em (x0, y0) ∈ X × X. Como (x0, y0) era arbitrário, aadição é contínua em X× X.

(c) Considere em R × X a norma da soma. Seja ε > 0, (λ0, x0) ∈ R × X fixado,δ = min

1, ε

1+|λ0|+‖x0‖

, e (λ, x) ∈ R× X tal que ‖(λ, x) − (λ0, x0)‖1 < δ. Então:

‖(λ, x) − (λ0, x0)‖1 < δ =⇒ |λ− λ0|+ ‖x− x0‖ < δ =⇒ |λ− λ0| < δ

‖x− x0‖ < δ

Como δ < 1 e |λ− λ0| < δ, segue que |λ| < 1+ |λ0|. Nestas condições:

‖λx− λ0x0‖ = ‖λx− λx0 + λx0 − λ0x0‖ = ‖λ(x− x0) + (λ− λ0)x0‖≤ ‖λ(x− x0)‖+ ‖(λ− λ0)x0‖ = |λ|‖x− x0‖+ |λ− λ0|‖x0‖< |λ|δ+ δ‖x0‖ < (1+ |λ0|)δ+ δ‖x0‖ = (1+ |λ|+ ‖x0‖)δ

< (1+ |λ|+ ‖x0‖)ε

1+ |λ|+ ‖x0‖= ε.

Assim a multiplicação por escalar é contínua em (λ0, x0) ∈ R× X. Como (λ0, x0)era arbitrário, a multiplicação por escalar é contínua em R× X.

Exercício 3. Dizemos que duas normas ‖ · ‖1 e ‖ · ‖2 num espaço X são equivalentesse existem constantes c1, c2 > 0 tais que:

a‖x‖1 ≤ ‖x‖2 ≤ b‖x‖1, ∀ x ∈ X.

Prove que:

(a) A relação acima é de equivalência.

(b) Normas equivalentes definem as mesmas sequências de Cauchy.

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Solução:

(a) Reflexiva: ‖ · ‖ ∼ ‖ · ‖ pois 1 · ‖x‖ ≤ ‖x‖ ≤ 1 · ‖x‖, para qualquer x ∈ X.Simétrica: Se ‖ · ‖1 ∼ ‖ · ‖2, existem c1, c2 > 0 com:

c1‖x‖1 ≤ ‖x‖2 ≤ c2‖x‖1, ∀ x ∈ X.

Mas isto implica que:

1c2‖x‖2 ≤ ‖x‖1 ≤

1c1‖x‖2, ∀ x ∈ X.

Como 1/c1, 1/c2 > 0, tem-se que ‖ · ‖2 ∼ ‖ · ‖1.Transitiva: Suponha que ‖·‖1 ∼ ‖·‖2 e ‖·‖2 ∼ ‖·‖3. Então existem c1, c2, c3, c4 > 0

com: c1‖x‖1 ≤ ‖x‖2 ≤ c2‖x‖2e c3‖x‖2 ≤ ‖x‖3 ≤ c4‖x‖2

, ∀ x ∈ X.

Disto segue que:

c1c3‖x‖1 ≤ ‖x‖3 ≤ c2c4‖x‖1, ∀ x ∈ X.

Como c1c3, c2c4 > 0, obtemos ‖ · ‖1 ∼ ‖ · ‖3.

(b) Suponha que ‖ · ‖1 ∼ ‖ · ‖2. Seja (xn)n≥0 uma sequência de ‖ · ‖1-Cauchy. Vamosmostrar que (xn)n≥0 é uma sequência de ‖ · ‖2-Cauchy. Existem c1, c2 > 0 tais quec1‖x‖1 ≤ ‖x‖2 ≤ c2‖x‖1 qualquer que seja x ∈ X. Seja ε > 0. Como a sequênciaé de ‖ · ‖1-Cauchy, existe n0 ∈ N tal que m,n > n0 implica ‖xn − xm‖1 < ε/c2.Assim, se m,n > n0, temos que:

‖xn − xm‖2 ≤ c2‖xn − xm‖1 < c2ε

c2= ε,

e portanto (xn)n≥0 é uma sequência de ‖·‖2-Cauchy. Isto prova que toda sequênciade ‖·‖1-Cauchy é de ‖·‖2-Cauchy. A recíprova prova-se de forma análoga, usandoa constante c1.

Exercício 4 (Corolário). Se ‖·‖ e ‖·‖0 são duas normas equivalentes sobre um espaçovetorial X então (X, ‖ · ‖) é um espaço de Banach se, e só se, (X, ‖ · ‖0) o for.

Solução: Suponha que (X, ‖·‖) é um espaço de Banach. Seja (xn)n≥0 uma sequênciade ‖·‖0-Cauchy. Pelo exercício anterior, a sequência é de ‖·‖-Cauchy também. Como(X, ‖ · ‖) é de Banach, existe x ∈ X tal que xn

‖·‖−→ x. Devemos mostrar que xn‖·‖0−→ x.

Existe c > 0 tal que ‖ξ‖0 ≤ c‖ξ‖ para todo ξ ∈ X. Seja ε > 0. Existe n0 ∈ N tal quen > n0 =⇒ ‖xn − x‖ < ε/c. Desta forma, se n > n0:

‖xn − x‖0 ≤ c‖xn − x‖ < cε

c= ε,

e xn‖·‖0−→ x. Assim, (X, ‖ · ‖0) é um espaço de Banach. Analogamente se mostra que

(X, ‖ · ‖0) Banach =⇒ (X, ‖ · ‖) Banach.

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Exercício 5. Seja X um espaço normado.

(a) Prove que para cada a ∈ X, a aplicação x ∈ X 7→ x + a ∈ X é um homeomor-fismo. Prove que, para cada λ ∈ K, λ 6= 0, a aplicação x ∈ X 7→ λx ∈ X é umhomeomorfismo.

(b) Conclua que um subconjunto A de X é aberto se, e só se, x0 +A·= x0 + a | a ∈ A

é aberto.

(c) Mostre que se K é compacto e F é fechado (em X), então F+K ·= f+k | f ∈ F, k ∈ K

é fechado. Sugestão: use a caracterização de compacidade por sequências, válidapara espaços métricos.

Solução:

(a) Seja fa : X → X dada por fa(x) = x + a. Fixe x0 ∈ X. Seja ε > 0 e escolhaδ = ε > 0. Se x ∈ X é tal que ‖x− x0‖ < δ, então temos que:

‖(x− a) − (x0 − a)‖ = ‖x− x0‖ < δ = ε,

e daí fa é contínua em x0. Como x0 era qualquer, fa é contínua. Afirmo que faé inversível e (fa)

−1 = f−a. De fato:fa(f−a(x)) = fa(x− a) = (x− a) + a = x = idX(x)f−a(fa(x)) = f−a(x+ a) = (x+ a) − a = x = idX(x)

Temos que fa é contínua qualquer que seja a ∈ X, então o nosso trabalho anteriorna realidade mostra que f−a também é contínua. Portanto fa é um homeomor-fismo.Agora seja λ 6= 0 e gλ : X → X dada por gλ(x) = λx. Fixe x0 ∈ X. Seja ε > 0 eescolha δ = ε/|λ| > 0. Se x ∈ X é tal que ‖x− x0‖ < δ, então temos que:

‖λx− λx0‖ = ‖λ(x− x0)‖ = |λ|‖x− x0‖ < λε

|λ|= ε,

portanto gλ é contínua em x0. Como x0 era qualquer, gλ é contínua. Afirmo quegλ é inversível e (gλ)

−1 = g1/λ. Com efeito:gλ(g1/λ(x)) = gλ

( 1λx)= λ 1

λx = x = idX(x)

g1/λ(gλ(x)) = g1/λ(λx) =1λλx = x = idX(x)

Porém provamos que gλ é contínua qualquer que seja λ ∈ K \ 0, então o feitoacima de fato mostra que g1/λ também é contínua, pois 1/λ 6= 0. Assim gλ é umhomeomorfismo.

(b) Vamos manter a notação do item acima. Homeomorfismos são aplicações abertas,isto é, levam abertos em abertos, então x0 +A = fx0(A) é a imagem de um aberto(por hipótese) por um homeomorfismo, logo é aberto. E se supormos que x0 + Aé aberto, temos que A = f−x0(x0 +A) é aberto pelo mesmo argumento.

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(c) Seja x ∈ F+ K. Basta provar que x ∈ F + K. Existe (xn)n≥0 ⊆ F + K com xn → x.Para cada n ≥ 0, ponha xn = fn + kn, com fn ∈ F e kn ∈ K. Como K é compacto,é sequencialmente compacto e existe uma subsequência convergente (knj)j≥0, comknj

j→+∞−→ k ∈ K. Então:

xnj = fnj + knj =⇒ fnj = xnj − knj → x− k ∈ F,

pois F é fechado. Desta forma, x = (x− k) + k ∈ F+ K.

Exercício 6 (Conjuntos Convexos). Um subconjunto C de um espaço vetorial X éconvexo se, para todo escalar λ ∈ [0, 1], e x, y ∈ C temos que λx+ (1− λy) ∈ C.(a) Mostre que as bolas de um espaço normado são convexas.

(b) Mostre que se C é um subconjunto convexo de um espaço normado então seu fechotambém é convexo.

Solução:(a) Sejam x0 ∈ X e r > 0 quaisquer. Vejamos que a bola B(x0, r) é convexa (para a

bola fechada B[x0, r] é análogo). Sejam x, y ∈ B(x0, r) e t ∈]0, 1[. Então temosque:

‖x+ t(y− x) − x0‖ = ‖(1− t)x+ ty− x0‖ = ‖(1− t)x+ ty− (1− t)x0 − tx0‖= ‖(1− t)(x− x0) + t(y− x0)‖ ≤ (1− t)‖x− x0‖+ t‖y− x0‖< (1− t)r+ tr = r,

ou seja, x + t(y − x) ∈ B(x0, r), qualquer que seja t ∈]0, 1[. Portanto B(x0, r) éconvexa.

(b) Seja C um conjunto convexo e x, y ∈ C. Então existem sequências (xn)n≥0, (yn)n≥0 ⊆C tais que xn → x e yn → y. Seja t ∈]0, 1[ qualquer. Como C é convexo,(1− t)xn + tyn ∈ C para todo n ≥ 0. Então:

limn→+∞(1− t)xn + tyn = (1− t)x+ ty ∈ C,

e logo C é convexo.

Exercício 7 (Distância de ponto a conjunto). Se A é um subconjunto de um espaçonormado X, definimos a distância de x ∈ X a A pondo d(x,A) ·= inf‖x − a‖ | a ∈ A.Prove que x ∈ A ⇐⇒ d(x,A) = 0.

Solução:=⇒ : Se x ∈ A, dado ε > 0 tem-se que B(x, ε) ∩ A 6= ∅, donde existe y ∈ A tal que

d(x, y) < ε. Então d(x,A) ≤ d(x, y) < ε. Como d(x,A) < ε qualquer que sejaε > 0, devemos ter d(x,A) = 0.

⇐= : Se d(x,A) = 0, dado ε > 0, existe yε ∈ A tal que d(x, yε) < ε, e daí B(x, ε) ∩A 6= ∅ (yε pertence ao conjunto). Como ε é qualquer, x ∈ A.

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1.2 Séries de FourierExercício 1 (P1). Desenvolver as funções:

(1) f(x) = 1.

(2) f(x) =1 se x ≥ 0−1 se x < 0

(3) f(x) = x

(4) f(x) = |x|

(5) f(x) = x2

(6) f(x) = | sen x| =⇒2π−

(cos(2x)1 · 3

+cos(4x)3 · 5

+cos(6x)5 · 7

+ · · ·)

em séries de Fourier, senos e cossenos no intervalo [−π, π].

Solução:

(1) f(x) = 1. Temos:

an =1π

∫π−π

cos(nx) dx = 1nπ

sen(nx)∣∣∣π−π

= 0, ∀n ≥ 1

bn =1π

∫π−π

sen(nx) dx = −1nπ

cos(nx)∣∣∣π−π

= 0, ∀n ≥ 1

a0 =1π

∫π−π

dx = 1π2π = 2 =⇒ a0

2= 1.

Então a expansão de Fourier de f ≡ 1 é 1.

(2) f(x) =

1 se x ≥ 0−1 se x < 0

. Seja n ≥ 1. Temos an = 0 para todo n ≥ 0, pois f

é uma função ímpar2 e assim x 7→ f(x) cos(nx) é uma função ímpar. Também,x 7→ f(x) sen(nx) é uma função par, e portanto:

bn =1π

∫π−π

f(x) sen(nx) dx = 2π

∫π0sen(nx) dx

= −2nπ

cos(nx)∣∣∣π0= −

2nπ

(cos(nπ) − 1) = 2nπ

(1− cos(nπ))

=

4nπ

se n é ímpar0 se n é par

Portanto:

f(x) =4πsen x+ 4

3πsen(3x) + 4

5πsen(5x) + · · · = 4

π

∑n≥0

sen((2n+ 1)x)2n+ 1

2Na verdade é igual a uma função ímpar q.t.p. e portanto a integral não se altera. Faremos issomais vezes se necessário sem comentar.

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(3) f(x) = x. Temos que f é uma função ímpar, donde x 7→ f(x) cos(nx) é ímpar eassim an = 0 para todo n ≥ 0. Do mesmo modo, x 7→ f(x) sen(nx) é uma funçãopar, logo:

bn =1π

∫π−π

f(x) sen(nx) dx = 2π

∫π0x sen(nx) dx

=2π

(−x cos(nx)

n

∣∣∣∣∣π

0

+

∫π0

cos(nx)n

dx

)

=2π

(−π cos(nπ)

n+

sen(nx)n2

∣∣∣∣∣π

0

)

= −2ncos(nπ) =

− 2nse n é par

2nse n é ímpar

Portanto

f(x) = 2 sen x− sen(2x) + 23sen(3x) − 1

2sen(4x) + · · ·+ · · · = 2

∑n≥1

(−1)n+1

nsen(nx).

(4) f(x) = |x|. A função f é par, donde x 7→ f(x) cos(nx) é par e x 7→ f(x) sen(nx) éímpar. Portanto bn = 0 para todo n ≥ 1, e aí:

a0 =1π

∫π−π

|x| dx = 1ππ2 = π =⇒ a0

2=π

2.

E também:

an =1π

∫π−π

f(x) cos(nx) dx = 2π

∫π0x cos(nx) dx

=2π

(x sen(nx)

n

∣∣∣∣∣π

0

∫π0

sen(nx)n

dx

)

=2n2π

cos(nx)

∣∣∣∣∣π

0

=2n2π

(cos(nπ) − 1)

=

0 se n é par− 4n2π

se n é ímpar

Desta forma:

f(x) =π

2−

4πcos x− 4

9πcos(3x) − 4

25πcos(5x) − · · · = π

2−

∑n≥0

cos((2n+ 1)x)(2n+ 1)2

(5) f(x) = x2. A função f é par, assim x 7→ f(x) cos(nx) é par, e x 7→ f(x) sen(nx) éímpar, donde bn = 0 para todo n ≥ 1. Temos:

a0 =1π

∫π−π

x2 dx = 2π

∫π0x2 dx = 2

π

π3

3=

2π2

3=⇒ a0

2=π2

3.

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E também:

an =1π

∫π−π

f(x) cos(nx) dx = 2π

∫π0x2 cos(nx) dx

=2π

(x2 sen(nx)

n

∣∣∣∣∣π

0

−2n

∫π0x sen(nx) dx

)

= −4nπ

∫π0x sen(nx) dx = −4

(−π

ncos(nπ)

)=

4n2 cos(nπ) =

4n2 se n é par− 4n2 se n é ímpar,

aproveitando os cálculos do item (3). Assim obtemos:

f(x) =π2

3− 4 cos x+ cos(2x) − 4

9cos(3x) + · · · = π2

3+ 4∑n≥1

(−1)n

n2 cos(nx)

(6) f(x) = | sen x|.

• Expansão de Fourier: aqui temos que f é uma função par, donde x 7→f(x) cos(nx) é par e x 7→ f(x) sen(nx) é ímpar. Assim, bn = 0 para todon ≥ 1. Temos:

a0 =1π

∫π−π

| sen x| dx = 2π

∫π0sen x dx = −

2πcos x

∣∣∣π0=

=⇒ a0

2=

E para n ≥ 1:

an =1π

∫π−π

f(x) cos(nx) dx = 2π

∫π0sen x cos(nx) dx

Em geral:∫sen x cos(nx) dx = sen x sen(nx)

n−

1n

∫cos x sen(nx) dx

=sen x sen(nx)

n−

−1n

(− cos x cos(nx)

n−

1n

∫sen x cos(nx) dx

)=

sen x sen(nx)n

+cos x cos(nx)

n2 +1n2

∫sen x cos(nx) dx

Isolando, vem:∫sen x cos(nx) dx = n2

n2 − 1

(sen x sen(nx)

n+

cos x cos(nx)n2

).

Com isto:

an =2π

(1+ cos(nπ)

1− n2

)=

0 se n é ímpar4π

11−n2 se n é par

Portanto a expansão de Fourier é:

f(x) =2π−

43π

cos(2x) − 415π

cos(4x) − · · · = 2π−

∑n≥1

cos(2nx)4n2 − 1

.

9

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• Expansão em senos: Façamos a expansão considerando a extensão ímpar de| sen x|, que é apenas sen x. Evidentemente a expansão será apenas sen x. Defato, os detalhes são: temos an = 0 para todo n ≥ 0, e:

bn =2π

∫π0sen x sen(nx) dx

Como anteriormente, calculemos uma primitiva geral:∫sen x sen(nx) dx = − sen x cos(nx)

n+

1n

∫cos x cos(nx) dx

=− sen x cos(nx)

n+

+1n

(cos x sen(nx)

n+

1n

∫sen x sen(nx) dx

)=

− sen x cos(nx)n

+cos x sen(nx)

n2 +1n2

∫sen x sen(nx) dx

Isolando, vem:∫sen x cos(nx) dx = n2

n2 − 1

(− sen x cos(nx)

n+

cos x sen(nx)n2

),

e disto segue que bn = 0 para todo n ≥ 1.• Expansão em cossenos: coincide com a expansão de Fourier.

Exercício 2. Obter as séries dos senos em [0, π] para f(x) = cos x, f(x) = sen(x/2),f(x) = senhax.

Solução: Como consideramos extensões ímpares, teremos an = 0 para todo n ≥ 0em todos os casos.

• f(x) = cos x. Temos que:

bn =2π

∫π0cos x sen(nx) dx, ∀n ≥ 1.

Vamos achar uma primitiva primeiro:∫cos x sen(nx) dx = − cos x cos(nx)

n−

1n

∫sen x cos(nx) dx

=− cos x cos(nx)

n−

1n

(sen x sen(nx)

n−

1n

∫cos x sen(nx) dx

)=

− cos x cos(nx)n

−sen x sen(nx)

n2 +1n2

∫cos x sen(nx) dx

Isolando e supondo n 6= 1, temos:∫cos x sen(nx) dx = n2

n2 − 1

(− cos x cos(nx)

n−

sen x sen(nx)n2

).

10

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Com isto:

bn =2π

n2

n2 − 1

(cos(nπ)n

+1n

)=

n

n2 − 1(1+ cos(nπ)) =

0 se n for ímpar4π

nn2−1 se n for par

Para n = 1:

b1 =2π

∫π0cos x sen x dx = 1

π

∫π0sen(2x) dx = −

12π

cos(2x)∣∣∣π0= 0.

Assim temos a expansão:

f(x) =4π

23sen(2x) + 4

π

415

sen(4x) + · · · = 4π

∑n≥1

2n4n2 − 1

sen(2nx).

• f(x) = sen(x/2). Temos:

bn =2π

∫π0sen

(x2

)sen(nx) dx, ∀n ≥ 1.

Calculemos uma primitiva:∫sen

(x2

)sen(nx) dx = − sen(x/2) cos(nx)

n+

12n

∫cos

(x2

)cos(nx) dx

=− sen(x/2) cos(nx)

n+

+12n

(cos(x/2) sen(nx)

n+

12n

∫sen

(x2

)sen(nx) dx

)=

− sen(x/2) cos(nx)n

+cos(x/2) sen(nx)

2n2

+1

4n2

∫sen

(x2

)sen(nx) dx

Isolando, obtemos:∫sen

(x2

)sen(nx) dx = 4n2

4n2 − 1

(− sen(x/2) cos(nx)

n+

cos(x/2) sen(nx)2n2

)Disto segue que:

bn =2π

4n2

4n2 − 1

(− cos(nπ)

n

)= −

4n4n2 − 1

cos(nπ) =

−2π

4n4n2−1 se n é par

4n4n2−1 se n é ímpar

A expansão procurada é:

f(x) =2π

43sen x−2

π

815

sen(2x)+2π

1235

sen(3x)+· · · = 2π

∑n≥1

(−1)n+1 4n4n2 − 1

sen(nx).

• f(x) = senh(ax). Suponha que a 6= 0, caso contrário não há o que fazer. Temosque:

bn =2π

∫π0senh(ax) sen(nx) dx, ∀n ≥ 1

11

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Calculemos uma primitiva:∫senh(ax) sen(nx) dx = − senh(ax) cos(nx)

n+a

n

∫cosh(ax) cos(nx) dx

=− senh(ax) cos(nx)

n+

+a

n

(cosh(ax) sen(nx)

n−a

n

∫senh(ax) sen(nx) dx

)=

− senh(ax) cos(nx)n

+a cosh(ax) sen(nx)

n2 −

−a2

n2

∫senh(ax) sen(nx) dx

Isolando:∫senh(ax) sen(nx) dx = n2

a2 + n2

(− senh(ax) cos(nx)

n+a cosh(ax) sen(nx)

n2

)Disto segue que:

bn =2π

n2

a2 + n2

(− senh(aπ) cos(nπ)

n

)=

−2π

n

a2 + n2 senh(aπ) cos(nπ)

=

− 2π

na2+n2 senh(aπ) se n é par

na2+n2 senh(aπ) se n é ímpar

Logo, a expansão procurada é:

f(x) =2π

11+ a2 senh(aπ) sen x−

24+ a2 senh(aπ) sen(2x) + · · ·

=2πsenh(aπ)

∑n≥1

(−1)n+1 n

n2 + a2 sen(nx).

Exercício 3. Desenvolver, no intervalo [0, π] em séries de cossenos:

(a) f(x) = cosax

(b) f(x) = coshax

(c) f(x) =1 se 0 ≤ x ≤ π/20 se π/2 < x ≤ π

Solução: Como consideramos extensões pares, teremos bn = 0 para todo n ≥ 1, emtodos os casos.

(a) f(x) = cos(ax). Suponha a 6= 0, caso contrário o problema já está resolvido noitem (1) do exercício 1. Temos:

a0 =1π

∫π−π

cos(ax) dx = 2π

∫π0cos(ax) dx = 2

aπsen(ax)

∣∣∣π0=

2 sen(aπ)aπ

=⇒ a0

2=

sen(aπ)aπ

.

12

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E também:an =

∫π0cos(ax) cos(nx) dx.

Achemos uma primitiva primeiro:∫cos(ax) cos(nx) dx = cos(ax) sen(nx)

n+a

n

∫sen(ax) sen(nx) dx

=cos(ax) sen(nx)

n+

+a

n

(− sen(ax) cos(nx)

n+a

n

∫cos(ax) cos(nx) dx

)=

cos(ax) sen(nx)n

−a

n2 sen(ax) cos(nx) +a2

n2

∫cos(ax) cos(nx) dx

Isolando:∫cos(ax) cos(nx) dx = n2

n2 − a2

(cos(ax) sen(nx)

n−a

n2 sen(ax) cos(nx)).

Com isto, vem:

an =2π

n2

n2 − a2

(−a

n2 sen(aπ) cos(nπ))=

a

a2 − n2 sen(aπ) cos(nπ)

=

aa2−n2 sen(aπ) se n é par

− 2π

aa2−n2 sen(aπ) se n é ímpar

E assim obtemos a expansão procurada:

f(x) =sen(aπ)aπ

−2π

a

a2 − 1sen(aπ) cos x+ 2

π

a

a2 − 4sen(aπ) cos(2x) + · · ·

=sen(aπ)aπ

+2aπ

sen(aπ)∑n≥1

(−1)n

a2 − n2 cos(nx).

(b) f(x) = cosh(ax). Temos:

a0 =2π

∫π0cosh(ax) dx = 2

π

senh(ax)a

∣∣∣∣∣π

0

=2 senh(aπ)

aπ=⇒ a0

2=

senh(aπ)aπ

.

Para n ≥ 1:an =

∫π0cosh(ax) cos(nx) dx.

Calculemos uma primitiva:∫cosh(ax) cos(nx) dx = cosh(ax) sen(nx)

n−a

n

∫senh(ax) sen(nx) dx

=cosh(ax) sen(nx)

n−

−a

n

(− senh(ax) cos(nx)

n+a

n

∫cosh(ax) cos(nx) dx

)=

cosh(ax) sen(nx)n

−a senh(ax) cos(nx)

n2 −a2

n2

∫cosh(ax) cos(nx) dx

13

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Isolando:∫cosh(ax) cos(nx) dx = n2

n2 + a2

(cosh(ax) sen(nx)

n−a senh(ax) cos(nx)

n2

).

Desta forma:

an =2π

n2

n2 + a2

(a senh(aπ) cos(nπ)

n2

)=

a

n2 + a2 senh(ax) cos(nπ)

=

an2+a2

senh(aπ) se n é par− 2π

an2+a2

senh(aπ) se n é ímpar

Com isto obtemos a expansão:

f(x) =senh(aπ)aπ

−2π

a

1+ a2 senh(aπ) cos x2π

a

4+ a2 senh(aπ) cos(2x) + · · ·

=senh(aπ)aπ

+2aπ

senh(aπ)∑n≥1

(−1)n

n2 + a2 cos(nx).

(c) f(x) =

1 se 0 ≤ x ≤ π/20 se π/2 < x ≤ π

. Para n = 0 temos:

a0 =2π

∫π/20

dx = 2π

π

2= 1 =⇒ a0

2=

12.

E para n ≥ 1:

an =2π

∫π/20

cos(nx) dx = 2nπ

sen(nx)∣∣∣π/20

=2nπ

sen(nπ

2

)=

2nπ

se n é ímpar− 2nπ

se n é par

Assim a expansão procurada é:

f(x) =12+

2πcos x− 1

πcos(2x) + 2

3πcos(3x) + · · · = 1

2+

∑n≥1

(−1)n+1

ncos(nx).

Exercício 4. Use (5) do exercício 1 e calcule a soma:∑n≥1

1n2 =

π2

6

Solução: Obtivemos:

x2 =π2

3+ 4∑n≥1

(−1)n

n2 cos(nx).

Faça x = π. Notando que cos(nπ) = (−1)n, temos:

π2 =π2

3+ 4∑n≥1

1n2 =⇒ 2π2

3= 4∑n≥1

1n2 =⇒ ∑

n≥1

1n2 =

π2

6.

14

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1.3 Espaços de BanachExercício 1. Mostre que c, o espaço vetorial das sequências convergentes, munido danorma do supremo é um espaço de Banach.

Solução: Seja (ξn)n≥0 = ((x(n)k )k≥0)n≥0 uma sequência de ‖·‖∞-Cauchy. Dado ε > 0,

existe n0 ∈ N tal que:

‖ξn − ξm‖∞ < ε, ∀m,n > n0

supk≥0

|x(n)k − x

(m)k | ≤ ε, ∀m,n,> n0

|x(n)k − x

(m)k | ≤ ε, ∀m,n > n0, ∀k ≥ 0,

então fixado k, (x(n)k )n≥0 é uma sequência de Cauchy em C, logo converge. Ponhaxk = limn→+∞ x(n)k .

Defina ξ = (xk)k≥0. Provemos que ξ ∈ c. Como cada ξn converge (por estar emc), existe o limite x(n) = limk→+∞ x(n)k . Afirmo que (x(n))n≥0 é de Cauchy. Existemn1, n2 ∈ N tais que m,n > n1 implica |x

(n)k − x

(m)k | < ε/3, pois (x

(n)k )n≥0 é de Cauchy, e

k > n2 implica |x(n) − x(n)k | < ε/3, pois x(n)k

k→+∞−→ x(n). Se n0 = maxn1, n2, m,n > n0,e fixamos um certo k > n0, temos que:

|x(n) − x(m)| ≤ |x(n) − x(n)k |+ |x

(n)k − x

(m)k |+ |x

(m)k − x(m)| <

ε

3+ε

3+ε

3= ε.

Como C é completo, existe o limite x = limn→+∞ x(n).Agora afirmo que ξ converge para x. Seja ε > 0. Existem n1, n2, n3 ∈ N tais que:

n > n1 =⇒ |xk − x(n)k | <

ε

3, pois x(n)k

n→+∞−→ xk

k > n2 =⇒ |x(n)k − x(n)| <

ε

3, pois x(n)k

k→+∞−→ x(n)

n > n3 =⇒ |x(n) − x| <ε

3, pois x(n) n→+∞−→ x

Se n0 = maxn1, n2, n3 e n, k > n0, valem todas as condições acima simultaneamente.Daí:

|xk − x| ≤ |xk − x(n)k |+ |x

(n)k − x(n)|+ |x(n) − x| <

ε

3+ε

3+ε

3= ε.

Portanto ξ ∈ c. Agora falta verificar que ξn‖·‖∞−→ ξ. Seja ε > 0. Existe n0 ∈ N tal que:

‖ξn − ξm‖∞ < ε, ∀m,n > n0

supk≥0

|x(n)k − x

(m)k | < ε, ∀m,n > n0

|x(n)k − x

(m)k | < ε, ∀m,n > n0, ∀k ≥ 0

limm→+∞ |x

(n)k − x

(m)k | ≤ ε, ∀n > n0, ∀k ≥ 0

|x(n)k − xk| ≤ ε, ∀n > n0, ∀k ≥ 0

supk≥0

|x(n)k − xk| ≤ ε, ∀n > n0

‖ξn − ξ‖∞ ≤ ε, ∀n > n0,

logo ξn‖·‖∞−→ ξ ∈ c. Assim c é um espaço de Banach.

15

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Exercício 2 (Soma direta externa). Sejam (X, ‖ · ‖) e (Y, ‖ · ‖0) espaços normados.

(a) Mostre que ‖| · ‖| : X× Y → R≥0 dada por ‖|(x, y)‖| = max‖x‖, ‖y‖0 é uma normaem X× Y. Mostre também que tal norma gera a topologia produto em X× Y.

(b) Se X e Y são espaços de Banach, mostre que (X×Y, ‖| · ‖|) é um espaço de Banach.(X× Y, ‖| · ‖|) é chamado de soma direta externa de X e Y.

Solução:

(a) Vamos mostrar que ‖| · ‖| é uma norma. Fixe (x, y), (x ′, y ′) ∈ X × Y e λ ∈ C.Temos que ‖|(x, y)‖| ≥ 0 por ser o máximo entre dois termos não-negativos. E‖|(x, y)‖| = max‖x‖, ‖y‖0 = 0 implica que ‖x‖ = ‖y‖0 = 0, onde x = 0 e y = 0.Logo (x, y) = 0. Ainda, temos que:

‖|λ(x, y)‖| = ‖|(λx, λy)‖| = max‖λx‖, ‖λy‖0 = max|λ|‖x‖, |λ|‖y‖0= |λ|max‖x‖, ‖y‖0 = |λ|‖|(x, y)‖|.

E por fim, temos que:

‖x+ x ′‖ ≤ ‖x‖+ ‖x ′‖ ≤ ‖|(x, y)‖|+ ‖|(x ′, y ′)‖|,

e analogamente partindo de ‖y+ y ′‖0. Tomando o máximo obtemos:

‖|(x, y) + (x ′, y ′)‖| = ‖|(x+ x ′, y+ y ′)‖| ≤ ‖|(x, y)‖|+ ‖|(x ′, y ′)‖|.

Agora vamos provar que esta norma gera a topologia produto. Uma base desta éB = U× V | U ∈ τ‖·‖, V ∈ τ‖·‖0. Primeiro, provemos que fixado r > 0, vale que:

B‖|·‖|((x, y), r) = B‖·‖(x, r)× B‖·‖0(y, r).

Rapidamente, se (p1, p2) ∈ B‖·‖(x, r) × B‖·‖0(y, r), então ‖x − p1‖, ‖y − p2‖0 < r,e daí ‖|(x, y) − (p1, p2)‖| < r, e segue que (p1, p2) ∈ B‖|·‖|((x, y), r). E por outrolado, se (p1, p2) ∈ B‖|·‖|((x, y), r), então max‖x − p1‖, ‖y − p2‖0 < r implica que‖x − p1‖, ‖y − p2‖0 < r, logo p1 ∈ B‖·‖(x, r) e y ∈ B‖·‖0(y, r). Concluímos que(p1, p2) ∈ B‖·‖(x, r)× B‖·‖0(y, r). Assim, vale a igualdade proposta.Em vista disto, toda bola aberta segundo ‖| · ‖| está em B. Agora vamos provarque todo elemento não-vazio de B contém alguma bola aberta segundo ‖| · ‖|. SeU × V ∈ B é não vazio, fixe x ∈ U e v ∈ V . Como U e V são abertos nos seusrespectivos espaços, existem r1, r2 > 0 tais que B‖·‖(x, r1) ⊆ U e B‖·‖0(y, r2) ⊆ V .Seja r = minr1, r2. Então temos que:

B‖|·‖|((x, y), r) = B‖·‖(x, y)× B‖·‖0(y, r) ⊆ B‖·‖(x, r1)× B‖·‖0(y, r2) ⊆ U× V.

Portanto as topologias geradas são as mesmas.

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(b) Seja (zn = (xn, yn))n≥0 uma sequência de ‖| · ‖|-Cauchy em X × Y. Então dadoε > 0, existe n0 ∈ N tal que se m,n > n0, temos:

‖xn − xm‖, ‖yn − ym‖0 ≤ ‖|zn − zm‖| < ε,

donde (xn)n≥0 e (yn)n≥0 são sequências de Cauchy em X e Y, respectivamente.Como estes são espaços de Banach, existem x ∈ X e y ∈ Y tais que xn

‖·‖−→ x eyn

‖·‖0−→ y. Afirmo que zn‖|·‖|−→ (x, y). Com efeito, seja ε > 0. Existe n0 ∈ N grande

o suficiente3 tal que n > n0 implica ‖xn − x‖, ‖yn − y‖ < ε. Tomando o máximovem que ‖|zn − (x, y)‖| < ε, portanto (zn)n≥0 converge e X × Y é um espaço deBanach também.

Exercício 3.

(a) Mostre que:

‖f‖1 =∫ 10|f(x)| dx

é uma norma em C([0, 1]), mas é apenas uma semi-norma no espaço das funçõesRiemann-Integráveis.

(b) Verifique se (C([0, 1]), ‖ · ‖1) é um espaço de Banach.

(c) Qual é a relação (no sentido da inclusão) entre as topologias geradas por ‖ · ‖1 e‖ · ‖∞?

Solução:

(a) É claro que ‖f‖1 =∫10 |f(x)| dx ≥ 0 qualquer que seja f ∈ C([0, 1]). Agora se

‖f‖ =∫10 |f(x)| dx = 0, podemos concluir seguramente que f = 0 se f for contínua.

Caso contrário, podemos apenas concluir que f = 0 q.t.p.. Se λ ∈ C, temos:

‖λf‖1 =∫ 10|λf(x)| dx =

∫ 10|λ||f(x)| dx = |λ|

∫ 10|f(x)| dx = |λ|‖f‖1.

E se f, g ∈ C([0, 1]), vale que:

|(f+ g)(x)| = |f(x) + g(x)| ≤ |f(x)|+ |g(x)|, ∀ x ∈ [0, 1],

e integrando, temos:

‖f+g‖1 =∫ 10|(f+g)(x)| dx ≤

∫ 10|f(x)|+|g(x)| dx =

∫ 10|f(x)| dx+

∫ 10|g(x)| dx = ‖f‖1+‖g‖1.

As verificações de ‖λf‖1 = |λ|‖f‖1 e ‖f + g‖1 ≤ ‖f‖1 + ‖g‖1 também valem paraf, g ∈ R([0, 1]).

3Um para cada sequência coordenada e já tomamos o máximo.

17

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(b) O espaço não é completo. Seja (fn)n≥0 ⊆ C([0, 1]), dada por:

fn(x) =

0 se x < 1

2 −12n

n(x− 1

2 +12n

)se 1

2 −12n ≤ x ≤

12 +

12n

1 se x > 12 +

12n

Vejamos que a sequência é de Cauchy. Temos que se p ∈ N, vale que:

‖fn+p − fn‖1 =∫ 1

2+12n

12−

12n

|fn+p(x) − fn(x)| dx ≤∫ 1

2+12n

12−

12n

|fn+p(x)|+ |fn(x)| dx

≤∫ 1

2+12n

12−

12n

2 dx = 2(12+

12n

−12+

12n

)=

2n

n→+∞−→ 0.

Agora suponha por absurdo que a sequência convirja para uma função contínuaf ∈ C([0, 1]). Então devemos ter limn→+∞ ‖fn − f‖1 = 0. Isto é:

‖fn − f‖1 =∫ 1

2−12n

0|f(x)| dx+

∫ 12+

12n

12−

12n

∣∣∣∣f(x) − n(x− 12+

12n

)∣∣∣∣ dx+ ∫ 112+

12n

|f(x) − 1| dx,

e passando ao limite temos:∫ 1/20

|f(x)| dx+∫ 11/2

|f(x) − 1| dx = 0

Como as integrais são não-negativas, cada uma é zero. Por continuidade, f deveser 0 em [0, 1/2] e 1 em [1/2,0], um absurdo.

(c) Afirmo que a topologia gerada por ‖ · ‖∞ não está contida na topologia geradapor ‖ · ‖1. Considere B∞(0, 1). Vamos mostrar que B∞(0, 1) tem interior vaziona topologia gerada por ‖ · ‖1.4 Vamos mostrar que nenhuma bola B1(ϕ, r) estácontida em B∞(0, 1). Suponha agora que r ≥ 1. Defina fn : [0, 1]→ R pondo:

fn(x) =

ϕ(x) +

√r(−n2x+ n) se x ≤ 1

n

ϕ(x) se x > 1n

Como r ≥ 1, temos que ‖fn−ϕ‖1 =√r/2 para todo n ≥ 1, donde fn−ϕ ∈ B1(0, r)

para todo n ≥ 1. Como estamos em um espaço normado, temos fn ∈ B1(ϕ, r)qualquer que seja n. Porém escolhendo n ∈ N grande o suficiente tal que n

√r > 1,

temos que fn 6∈ B∞(0, 1). Se 0 < r < 1, é feita uma construção análoga com r2 aoinvés de

√r e repete-se o argumento. Portanto B∞(0, 1) não é um aberto segundo

‖ · ‖1.Por outro lado, todo aberto segundo ‖ · ‖1 é um aberto segundo ‖ · ‖∞. Comefeito, dada uma bola qualquer B1(ϕ, r), vale que B∞(ϕ, r) ⊆ B1(ϕ, r), pois sef ∈ B∞(ϕ, r), temos que:

‖f−ϕ‖1 =∫ 10|f(x) −ϕ(x)| dx ≤

∫ 10‖f−ϕ‖∞ dx ≤

∫ 10r dx = r.

Concluímos que τ1 ( τ∞. A topologia τ∞ é estritamente mais fina que a topologiaτ1.

4Na verdade estamos exagerando, pois basta mostrar que B∞(0, 1) 6= int‖·‖1(B∞(0, 1)).

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Exercício 4. Definimos `∞ = x = (xn)n≥0 | ‖x‖∞ = supn≥0 |xn| < +∞, o espaço dassequências limitadas munido da norma do supremo ‖ · ‖∞.(a) Mostre que `∞ é um espaço de Banach.

(b) Mostre que c é um subespaço de `∞. Conclua que se c é fechado (mostre), então cé um espaço de Banach, utilizando o resultado abaixo.

(c) Mostre que c0 = x = (xn)n≥0 | limn→+∞ xn = 0, o espaço das sequências conver-gentes a zero, com a norma do supremo, é um subespaço fechado de c, e portantocompleto.

Solução:(a) Seja (ξn)n≥0 = ((x

(n)k )k≥0)n≥0 uma sequência de ‖ · ‖∞-Cauchy. Dado ε > 0, existe

n0 ∈ N tal que:‖ξn − ξm‖∞ < ε, ∀m,n > n0

supk≥0

|x(n)k − x

(m)k | ≤ ε, ∀m,n,> n0

|x(n)k − x

(m)k | ≤ ε, ∀m,n > n0, ∀k ≥ 0,

então fixado k, (x(n)k )n≥0 é uma sequência de Cauchy em C, logo converge. Ponhaxk = limn→+∞ x(n)k .

Defina ξ = (xk)k≥0. Verifiquemos que ξn‖·‖∞−→ ξ. Seja ε > 0. Existe n0 ∈ N tal

que:‖ξn − ξm‖∞ < ε, ∀m,n > n0

supk≥0

|x(n)k − x

(m)k | < ε, ∀m,n > n0

|x(n)k − x

(m)k | < ε, ∀m,n > n0, ∀k ≥ 0

limm→+∞ |x

(n)k − x

(m)k | ≤ ε, ∀n > n0, ∀k ≥ 0

|x(n)k − xk| ≤ ε, ∀n > n0, ∀k ≥ 0

supk≥0

|x(n)k − xk| ≤ ε, ∀n > n0

‖ξn − ξ‖∞ ≤ ε, ∀n > n0,

logo ξn‖·‖∞−→ ξ.

Só falta verificar que ξ ∈ `∞. Pelo feito acima, existe n0 ∈ N tal que ‖ξn0 −ξ‖∞ <

1, donde ξn0 − ξ ∈ `∞. Com isto, ξ = ξn0 − (ξn0 − ξ) ∈ `∞, e assim c é um espaçode Banach.

(b) Primeiro vejamos que c é um subespaço de `∞. Temos que 0 = (0)n≥0 ∈ c, e se(xn)n≥0, (yn)n≥0 ∈ c e λ ∈ C, temos xn → x e yn → y, donde xn+λyn → x+λy, logo(xn+λyn)n≥0 ∈ c. Vejamos agora que c é fechado. Se ξ ∈ c, existe uma sequênciaem c que converge para ξ. Esta sequência, em particular, é uma sequência deCauchy, e pelo feito no exercício 1 desta seção, converge para um elemento de c.Por unicidade dos limites em espaços normados5, esse elemento deve ser ξ ∈ c.

5Em geral, em espaços topológicos de Hausdorff.

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Concluímos novamente que c é um espaço de Banach.

(c) Primeiro vejamos que c0 é um subespaço de c. Temos que 0 = (0)n≥0 ∈ c, e se(xn)n≥0, (yn)n≥0 ∈ c e λ ∈ C, temos xn → 0 e yn → 0, donde xn+λyn → 0+λ·0 = 0,logo (xn + λyn)n≥0 ∈ c.Vejamos agora que c0 é fechado. Seja ξ = (xk)k≥0 ∈ c0. Então existe (ξn)n≥0 =

((x(n)k )k≥0)n≥0 ⊆ c0 tal que ξn

‖·‖∞−→ ξ. Dado ε > 0, existe n0 ∈ N tal que n ≥ n0

implica ‖ξn − ξ‖∞ < ε/2, isto é, temos então que |x(n)k − xk| < ε/2 para todo

n > n0, para todo k ≥ 0. Porém ξn0 ∈ c0, então existe k0 ∈ N tal que k > k0implica |xn0

k | < ε/2. Então nestas condições temos que:

|xk| = |xk − x(n0)k + x

(n0)k | ≤ |xk − x

(n0)k |+ |xn0

k | <ε

2+ε

2= ε.

Assim ξ ∈ c0 e c0 ⊆ c0 ⊆ c0 nos dá que c0 = c0, isto é, que c0 é fechado.Concluímos que c0 é um espaço de Banach com a norma ‖ · ‖∞.

Exercício 5 (Resultado). Todo subespaço fechado de um espaço de Banach é umespaço de Banach. Reciprocamente, todo subespaço de Banach de um espaço normadoé fechado.

Solução: Seja (X, ‖ · ‖) um espaço de Banach e F ⊆ X.Se F é fechado, tome (xn)n≥0 uma sequência de Cauchy em F. Então (xn)n≥0 é,

com maior razão, uma sequência de Cauchy em X, e portanto converge, xn → x ∈ X.Mas como xn ∈ F para todo n, xn → x ∈ F = F, pois F é fechado. Logo F é completo.

Se F é Banach, tome x ∈ F. Então existe (xn)n≥0 em F tal que xn → x. ComoF é completo, a sequência deve convergir para algum valor de F. Por unicidade doslimites, x ∈ F. Portanto F ⊆ F ⊆ F =⇒ F = F e F é fechado.

Exercício 6. Dizemos que um espaço métricoM é separável se existe um subconjuntoD ⊆M denso e enumerável. Mostre que se X é separável, qualquer subconjunto de Xé separável. Consequentemente, qualquer subespaço de X é separável.

Solução: A solução disto se baseia do fato de que para espaços métricos, ter baseenumerável é equivalente a ser separável. Com efeito, suponha que M tenha umabase de abertos enumerável, Un | n ≥ 0. Fixe xn ∈ Un, para cada n. Então afirmoque D =

⋃xn | n ≥ 0 é denso e enumerável. Que é enumerável é claro. E se Ω

for um aberto não vazio, existe n0 ≥ 0 tal que Un0 ⊆ Ω, e assim xn0 ∈ D ∩Ω. Estaimplicação vale para espaços topológicos quaisquer.

Agora suponha que M seja um espaço métrico separável. Afirmo que: B =B(p, 1/n) | p ∈ D, n ≥ 1 é uma base enumerável de abertos para M. Que B éenumerável é claro. Vejamos que é base. Seja Ω um aberto não vazio e fixe x ∈ Ω.Como Ω é aberto, existe r > 0 tal que B(x, r) ⊆ Ω. Agora tome n ≥ 1 tal que

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1/n < r/2. Como D é denso, existe p ∈ B(x, 1/n) ∩D. Por simetria, se p ∈ B(x, 1/n),então x ∈ B(p, 1/n). Agora seja z ∈ B(p, 1/n). Temos:

d(x, z) ≤ d(x, p) + d(p, z) < 1n+

1n<r

2+r

2= r,

donde temos que z ∈ B(x, r) e portanto B(p, 1/n) ⊆ B(x, r). Disto segue que x ∈B(p, 1/n) ⊆ Ω e B é base.

E se M tem base enumerável, qualquer subespaço de M também tem - uma baseé dada pela interseção dos elementos da base de M, com o subespaço.

Então se A ⊆ X e X é separável, X tem base enumerável. Logo A tem baseenumerável, e daí A é separável.

Exercício 7. Dado K um espaço topológico compacto, definimos C(K) = f : K → C |

f é contínua. Mostrar que C(K) equipado com a norma do sup, ‖f‖∞ = sup|f(x)| | x ∈K, a usual, é um espaço de Banach.

Solução: De fato C(K) é um espaço vetorial com as operações definidas pontual-mente, pois todas as propriedades das operações são herdadas das operações de C,e ainda mais, a soma de funções contínuas é contínua, e o produto de uma funçãocontínua por um escalar é contínua. Verifiquemos isso: sejam f, g ∈ C(K) e λ ∈ C.Se λ = 0, f + λg = f ∈ C(K). Se λ 6= 0, seja ε > 0 e x0 ∈ K arbitrário. Existe umavizinhança pequena o suficiente6, V , tal que se x ∈ V valem:

|f(x) − f(x0)| <ε

2e |g(x) − g(x0)| <

ε

2|λ|

simultaneamente. Nestas condições:

|(f+ λg)(x) − (f+ λg)(x0)| = |f(x) + λg(x) − f(x0) − λg(x0)| = |f(x) − f(x0) + λ(g(x) − g(x0))|

≤ |f(x) − f(x0)|+ |λ(g(x) − g(x0))| = |f(x) − f(x0)|+ |λ||g(x) − g(x0)|

2+ |λ|

ε

2|λ|= ε,

e assim f+ λg ∈ C(K), pois x0 ∈ K era qualquer.Vejamos agora que ‖ · ‖∞ é norma. Fixemos f, g ∈ C(K) e λ ∈ C novamente. Claro

que ‖f‖∞ ≥ 0 por ser o máximo entre números não-negativos. E ‖f‖∞ = 0 implicaque supx∈K |f(x)| = 0, e assim |f(x)| = 0 para todo x ∈ K. Isto é, f(x) = 0 para todox ∈ K e concluímos que f = 0. Também temos:

‖λf‖∞ = supx∈K

|λf(x)| = supx∈K

|λ||f(x)| = |λ| supx∈K

|f(x)| = |λ|‖f‖∞.E por fim, temos:

|f(x) + g(x)| ≤ |f(x)|+ |g(x)| ≤ ‖f‖∞ + ‖g‖∞para todo x ∈ K, então tomando o supremo no lado esquerdo segue que ‖f + g‖∞ ≤‖f‖∞ + ‖g‖∞.

6Uma vizinhança para cada função, e já tomamos a interseção, que continua sendo uma vizinhançade x0.

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Agora vejamos que C(K) é completo com essa norma. Seja fnn≥0 uma sequênciade ‖ · ‖∞-Cauchy in C(K). Seja ε > 0. Então existe n0 ∈ N tal que:

‖fn − fm‖∞ < ε, ∀m,n > n0

supx∈K

|fn(x) − fm(x)| < ε, ∀m,n > n0

|fn(x) − fm(x)| < ε, ∀m,n > n0, ∀ x ∈ K

Assim, fixado x ∈ K, fn(x)n≥0 é uma sequência de Cauchy em C, e portanto converge.Chame f(x) = limn→+∞ fn(x) o limite. Então temos definida uma função f : K → C

dada pela regra acima. Agora provaremos que fn‖·‖∞−→ f. Seja ε > 0. Então existe

n0 ∈ N tal que:

‖fn − fm‖∞ < ε, ∀m,n > n0

supx∈K

|fn(x) − fm(x)| < ε, ∀m,n > n0

|fn(x) − fm(x)| < ε, ∀m,n > n0, ∀ x ∈ Klim

m→+∞ |fn(x) − fm(x)| ≤ ε, ∀n > n0, ∀ x ∈ K

|fn(x) − f(x)| ≤ ε, ∀n > n0, ∀ x ∈ Xsupx∈K

|fn(x) − f(x)| ≤ ε, ∀n > n0

‖fn − f‖∞ ≤ ε, ∀n > n0

Por fim, verificaremos que f ∈ C(K), isto é, que f é contínua em um ponto x0 ∈ Karbitrário. Seja ε > 0. Então existe n0 ∈ N tal que ‖fn0 − f‖∞ < ε/3, pelo feitoacima. Esta particular fn0 é contínua, então existe uma vizinhança V de x0 tal quex ∈ V =⇒ |fn0(x) − fn0(x0)| < ε/3. Desta forma, se x ∈ V temos:

|f(x) − f(x0)| ≤ |f(x) − fn0(x)|+ |fn0(x) − fn0(x0)|+ |fn0(x0) − f(x0)| <ε

3+ε

3+ε

3= ε,

donde f é contínua em x0 e assim fn‖·‖∞−→ f ∈ C(K), visto que x0 ∈ K era qualquer.

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2 Lista 2Exercício 1. Mostre que a função

| · | : C→ R dada por |z| =√zz

é uma norma, e que (C, | · |) é um espaço de Banach (completo).

Solução: Que C é um espaço vetorial com as operações usuais é claro. Se z = x+iy,tem-se |z| =

√x2 + y2. Claro que |z| ≥ 0 para todo z ∈ C. E:

|z| =√x2 + y2 = 0 =⇒ x2 + y2 = 0 =⇒ x = y = 0 =⇒ z = 0,

usando que x, y ∈ R e que x2, y2 ≥ 0. Ainda:

|λz| =√

(λx)2 + (λy2) =√λ2x2 + λ2y2 =

√λ2(x2 + y2) = |λ|

√x2 + y2 = |λ||z|,

para todo λ ∈ R. E se w ∈ C, tem-se:

|z+w|2 = (z+w)(z+w) = (z+w)(z+w)

= zz+ zw+ zw+ww = |z|2 + 2Re(zw) + |w|2

≤ |z|2 + 2|zw|+ |w|2 = |z|2 + 2|z||w|+ |w|2

= (|z|+ |w|)2,

e extraindo raízes obtemos |z+w| ≤ |z|+ |w|. Assim | · | é norma. Agora vamos provarque (C, | · |) é Banach. Seja (zn)n≥0 ⊆ C uma sequência de Cauchy. Para cada n,ponha zn = xn + iyn. Dado ε > 0, existe n0 ∈ N tal que se m,n > n0, então:

|xn − xm| =√

(xn − xm)2 ≤√

(xn − xm)2 + (yn − ym)2 = |zn − zm| < ε,

donde (xn)n≥0 e, analogamente, (yn)n≥0 são sequências de Cauchy em R, que assumi-remos completo. Portanto existem x, y ∈ R com xn → x e yn → y. Se z = x+ iy ∈ C,afirmo que zn → z.

Seja ε > 0. Existe n0 ∈ N grande o suficiente7 tal que n > n0 implica |xn−x|, |yn−y| < ε/

√2. Nestas condições:

|zn − z| =√

(xn − x)2 + (yn − y)2 ≤

√(ε√2

)2

+

(ε√2

)2

=

√ε2

2+ε2

2=√ε2 = ε.

Logo zn → z e C é completo.

Exercício 2. Seja K um espaço compacto. Indicamos por C(K) o conjunto das funçõescontínuas do espaço K em C, munido da norma:

‖f‖∞ = sup|f(x)| | x ∈ K.

Para K = [a, b] ⊆ R mostre que (C([a, b]), ‖ · ‖∞) é um espaço completo.7Um n0 para cada sequência e já tomamos o máximo.

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Solução: Feito anteriormente (no caso geral).

Exercício 3 (P1). Sejam E e F espaços normados e f : E → F uma aplicação linear.Mostre que as seguintes sentenças são equivalentes:

(i) f é contínua na origem 0 ∈ E.

(ii) sup‖x‖≤1 ‖f(x)‖ =M < +∞(iii) Existe C > 0 tal que ‖f(x)‖ ≤ C‖x‖ para todo x ∈ E.

(iv) f é contínua.

Solução:

(i) =⇒ (ii): Dado ε = 1 > 0, existe δ > 0 tal que ‖x‖ < δ =⇒ ‖f(x)‖ < 1.Sendo x ∈ E com ‖x‖, o vetor δx/2 satisfaz ‖δx/2‖ = δ/2 < δ, portanto vale que‖f(δx/2)‖ < 1, daí ‖f(x)‖ < 2/δ. Como x nestas condições é arbitrário, tomandoo sup vem que sup‖x‖≤1 ‖f(x)‖ ≤ 2/δ < +∞.

(ii) =⇒ (iii): Fixe M = sup‖x‖≤1 ‖f(x)‖ < +∞. Seja x ∈ E qualquer, com x 6= 0 (poisse x = 0 a desigualdade vale trivialmente). Então x/‖x‖ tem norma 1 e daí‖f(x/‖x‖)‖ ≤M, donde ‖f(x)‖ ≤M‖x‖, para qualquer x ∈ E.

(iii) =⇒ (iv): Se C = 0 nada há o que fazer. Se C > 0, seja ε > 0, fixe x0 ∈ E, etome δ = ε/C > 0. Se x ∈ E é tal que ‖x− x0‖ < δ, então:

‖f(x) − f(x0)‖ = ‖f(x− x0)‖ ≤ C‖x− x0‖ < Cε

C= ε.

Portanto f é contínua em x0 ∈ E, e como x0 é arbitrário, f é contínua.

(iv) =⇒ (i): Trivial.

Exercício 4. Seja (E, 〈·, ·〉) um espaço vetorial sobre C equipado com um produtointerno. Mostre que para todos os x, y ∈ E:

|〈x, y〉| ≤ ‖x‖‖y‖.

Sugestão: 〈x, y〉 = eiθ|〈x, y〉| e calcule o quadrado da norma de λx+ eiθy.

Solução: Se 〈x, y〉 = 0, nada há o que fazer. Suponha que 〈x, y〉 6= 0. Para todoλ ∈ C vale que 〈x− λy, x− λy〉 ≥ 0. Assim:

〈x, x〉− λ〈x, y〉− λ〈y, x〉+ λλ〈y, y〉 ≥ 0

‖x‖2 − λ〈x, y〉− λ〈x, y〉+ |λ|2‖y‖2 ≥ 0‖x‖2 − 2Re(λ〈x, y〉) + |λ|2‖y‖2 ≥ 0

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Se vale para todo λ ∈ C, vale para os da forma λ = t|〈x, y〉|/〈x, y〉, com t ∈ R.8 Noteque |λ|2 = |t|2 = t2. Temos que:

‖x‖2 − 2Re

(t|〈x, y〉|〈x, y〉

〈x, y〉

)+ t2‖y‖2 ≥ 0 =⇒ ‖x‖2 − 2t |〈x, y〉|+ t2‖y‖2 ≥ 0

A expressão acima é um polinômio de segundo grau em t que nunca troca de sinal,portanto seu discriminante é menor ou igual a zero:

4|〈x, y〉|2 − 4‖x‖2‖y‖2 ≤ 0 =⇒ |〈x, y〉| ≤ ‖x‖‖y‖,

após dividir por 4 e extrair raízes.

Exercício 5. Mostre que a aplicação fy(x) = 〈x, y〉 é linear e contínua, para caday ∈ E fixado, e que

‖fy‖∞ = sup‖x‖≤1

|fy(x)| = ‖y‖.

Solução: Que fy é linear segue da bilinearidade de 〈·, ·〉. De fato, dados x1, x2 ∈ Ee λ ∈ C, temos:

fy(x1 + λx2) = 〈x1 + λx2, y〉 = 〈x1, y〉+ 〈λx2, y〉= 〈x1, y〉+ λ〈x2, y〉 = fy(x1) + λfy(x2)

Se y = 0, então fy é a função nula, logo é contínua trivialmente. Se y 6= 0, sejaε > 0, δ = ε/‖y‖ > 0, x0 ∈ E qualquer, e x ∈ E com ‖x− x0‖ < δ. Daí:

|fy(x) − fy(x0)| = |〈x, y〉− 〈x0, y〉| = |〈x− x0, y〉|

≤ ‖x− x0‖‖y‖ <ε

‖y‖‖y‖ = ε,

e portanto fy é contínua.Note que ‖y‖ é uma cota superior de conjunto |fy(x)| | ‖x‖ ≤ 1, pois por Cauchy-

Schwarz temos que |fy(x)| = |〈x, y〉| ≤ ‖x‖‖y‖ ≤ ‖y‖, se ‖x‖ ≤ 1. Agora vejamos queo valor de fato é atingido. Ora, o vetor y/‖y‖ tem norma 1 e vale que:∣∣∣∣fy( y

‖y‖

)∣∣∣∣ = ∣∣∣∣⟨ y

‖y‖, y

⟩∣∣∣∣ = ∣∣∣∣ 1‖y‖〈y, y〉

∣∣∣∣ = ∣∣∣∣ 1‖y‖‖y‖2

∣∣∣∣ = ‖y‖.Portanto sup‖x‖≤1 |fy(x)| = ‖y‖.

Exercício 6. Sejam (xn)n≥0 e (yn)n≥0 duas sequências convergentes, xn → x, yn → y,de um espaço pré-Hilbertiano E. Mostre que 〈xn, yn〉→ 〈x, y〉.

8Esta escolha de λ não é aleatória - é feita para que o termo dentro da parte real na expressãoacima torne-se de fato real, e recaímos na demonstração conhecida da desigualdade para o caso real.

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Solução: Sabemos que toda sequência é limitada. Então existe M > 0 tal que‖xn‖, ‖y‖ < M para todo n ≥ 0. Dado ε > 0 qualquer, existe n0 ∈ N suficientementegrande9 tal que n > n0 =⇒ ‖xn − x‖, ‖yn − y‖ < ε/(2M). Então se n > n0:

|〈xn, yn〉− 〈x, y〉| = |〈xn, yn〉− 〈xn, y〉+ 〈xn, y〉− 〈x, y〉| = |〈xn, yn − y〉+ 〈xn − x, y〉|≤ |〈xn, yn − y〉|+ |〈xn − x, y〉| ≤ ‖xn‖‖yn − y‖+ ‖xn − x‖‖y‖

< M‖yn − y‖+ ‖xn − x‖M <Mε

2M+

ε

2MM

2+ε

2= ε,

portanto 〈xn, yn〉→ 〈x, y〉.

Exercício 7. Seja (M, d) um espaço métrico. Dizemos que um subconjunto Aε ⊆ Mé ε-denso em M, se para todo x ∈M

B(x, ε) ∩Aε 6= ∅.

(i) Mostre que a reunião ⋃A 1n+1

= D

é densa em M, onde é claro, cada A1/(n+1) é 1/(n+ 1)-denso em M.

(ii) Suponha queM tenha base enumerável de abertos. Mostre que todo subconjuntoD ⊆ M que for fechado e discreto é enumerável. Mostre que se An ⊆ M é umconjunto satisfazendo:

∀ x, y ∈ An, x 6= y =⇒ d(x, y) ≥ 1n+ 1

,

então An é fechado e discreto.

(iii) Assuma a seguir que estes subconjuntos An são conjuntos 1/(n+1)-densos (maxi-mais) emM e mostre que a sentença "todo subconjunto fechado e discreto D ⊆Mé enumerável"implica que M tem uma base de abertos que é enumerável.

Solução:

(i) Seja Ω ⊆M um aberto não vazio. Tome x ∈ Ω. Como Ω é aberto existe r > 0tal que B(x, r) ⊆ Ω. Como R é arquimediano, existe n ∈ N tal que 1/(n+ 1) < r,de modo que B(x, 1/(n+ 1)) ⊆ B(x, r) ⊆ Ω, e aí:

∅ 6= B(x,

1n+ 1

)∩A 1

n+1⊆ Ω ∩A 1

n+1=⇒ Ω ∩A 1

n+16= ∅,

e daí segue de A1/(n+1) ⊆⋃A1/(n+1) = D que Ω ∩D 6= ∅, logo D é denso.

9Um n0 para cada sequência e já tomamos o máximo - é uma passagem que costuma ser puladadepois de se ter uma certa prática com esse tipo de demonstração.

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(ii) Como M tem base enumerável, M é um espaço de Lindelöf. Como D é fechado,D também é Lindelöf. Visto que D é discreto, para cada x ∈ D existe rx > 0tal que B(x, rx)∩D = x. Então B(x, rx)x∈D é uma cobertura aberta de D. Pelapropriedade de Lindelöf, existe I enumerável tal que:

D ⊆⋃x∈I

B(x, rx) =⇒ D ⊆

(⋃x∈I

B(x, rx)

)∩D =⇒ D ⊆

⋃x∈I

B(x, rx) ∩D,

isto é, D ⊆⋃x∈Ix. Como D está contido em um conjunto enumerável, D é

enumerável também.Para a segunda parte, basta notar que dada a condição do enunciado, para todox ∈ An tem-se que B(x, 1/(n+1))∩An = x, donde An é discreto. Para ver que éfechado, seja p ∈ An. Então existe (pn)n≥0 ⊆ An tal que pn → p. Em particular,(pn)n≥0 é uma sequência de Cauchy. Dado ε = 1/(n + 1) > 0, existe n0 ∈ N talque n > n0 implica d(pn, pn0) < 1/(n+ 1), e daí pn = pn0 para todo n > n0. Emoutras palavras, a sequência (pn)n≥0 é eventualmente constante e igual a pn0 .Com isto, p = pn0 ∈ An e An é fechado.

(iii) Suponha que todo fechado e discreto é enumerável. Pelo item (ii), cada An éenumerável. Com a hipótese de que cada An é 1/(n+ 1)-denso, temos pelo item(i) que D =

⋃n≥0An é denso. Mas D é a reunião enumerável de conjuntos

enumeráveis, portanto enumerável. Logo M é um espaço métrico separável(possui um subconjunto enumerável e denso), e assim tem uma base de abertosenumerável, a saber, B(x, 1/n) | x ∈ D, n > 1.

Exercício 8.

(a) Estudar o espaço E das funções x definidas em toda a reta real R que admitemuma representação na forma x(t) =

∑∗r∈R cre

irt, onde∑∗ indica que somente um

número finito dos cr é não nulo. Isto é:

r ∈ R | cr 6= 0 é finito.

Demonstrar que dados x, y ∈ E, a expressão define um produto interno em E. Oespaço (E, 〈·, ·〉) é completo?

(b) Mostre que E não é separável.

Solução:

(a) Vejamos que 〈·, ·〉 é um produto interno. Temos que x(t)x(t) = |x(t)|2 ≥ 0 paratodo t ∈ R, donde

∫T−T

|x(t)|2 dt ≥ 0 para todo T > 0. Dividindo por 2T e fazendoT → +∞, a quantidade permanece não-negativa.Por outro lado, se x 6= 0, existe um intervalo ]a, b[ onde |x(t)|2 não se anula,donde existe T0 > 0 tal que |T0| ≥ max|a|, |b| e:

〈x, x〉 ≥ 12T0

∫ba

|x(t)|2 dt ≥ (b− a)m

2T06= 0,

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onde m > 0 é o mínimo de |x(t)|2 em ]a, b[.Agora vejamos que 〈·, ·〉 é hermiteano. Para todo T > 0 vale que:∫ T

−T

x(t)y(t) dt =∫ T−T

x(t)y(t) dt =∫ T−T

x(t)y(t) dt.

Dividindo por 2T e fazendo T → +∞ segue que 〈y, x〉 = 〈x, y〉.A bilinearidade segue de:∫ T

−T

(x(t) + λy(t))z(t) dt =∫ T−T

x(t)z(t) dt+ λ∫ T−T

y(t)z(t) dt,

dividindo por 2T e fazendo T → +∞.Afirmo que o espaço não é completo. Para cada n ≥ 1, ponha xn(t) =

∑nk=1

1keikt.

É claro que xn ∈ E para todo n ≥ 1. Vejamos que a sequência (xn)n≥1 é deCauchy. Para todo p ∈ N temos que:

‖xn+p − xn‖ =√〈xn+p − xn, xn+p − xn〉 =

√√√√⟨ n+p∑k=n+1

1keikt,

n+p∑j=n+1

1jeijt

=

√√√√ n+p∑k=n+1

n+p∑j=n+1

1kj〈eikt, eijt〉 =

√√√√ n+p∑k=n+1

1k2

n→+∞−→ 0,

usando o exercício 15 adiante. Mas xn → x, com x(t) =∑

n≥11neint, e x 6∈ E (pois

a soma não é finita).

(b) Novamente apelaremos para o exercício 15 a seguir. Considere o conjunto A =eirt | r ∈ R. O conjunto é não-enumerável, e dados r, s ∈ R, com r 6= s, temos:

‖eirt − eist‖ =√〈eirt − eist, eirt − eist〉 =

√1− 2 · 0+ 1 =

√2 > 1.

Como ‖eirt − eist‖ > 1 para todos os r, s ∈ R com r 6= s, o conjunto A inicialé discreto. Se D for denso, então conseguimos injetar A em D do seguintemodo: para cada x ∈ A existe rx > 0 com B(x, rx) ∩ A = x. Como D é denso,B(x, rx/2)∩D 6= ∅, então fixe y nesta última interseção e defina f : A→ D pondof(x) = y. Vejamos que f é injetora. Sejam x1, x2 ∈ A e suponha por absurdo quey = f(x1) = f(x2). Então:

‖x1 − x2‖ ≤ ‖x1 − y‖+ ‖y− x2‖ <r1

2+r2

2≤ maxr1, r2,

onde r1 e r2 são os raios correspondentes a x1 e x2 na definição de f. Se r1 ≥ r2,temos ‖x1 − x2‖ < r1 e logo x2 ∈ B(x1, r1). Como ambos estão em D, segue quex2 = x1, absurdo. Se r2 > r1 o tratamento é análogo. Portanto f é injetora.Mas D era um denso qualquer, e que não pode ser enumerável pelo argumentoacima. Portanto E não possui nenhum subconjunto denso e enumerável, logo nãoé separável.

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Exercício 9. Mostre que num espaço pré-Hilbertiano real temos

‖x+ y‖2 = ‖x‖2 + ‖y‖2 =⇒ 〈x, y〉 = 0.

Mostre que o mesmo não vale para um espaço pré-Hilbertiano complexo. Sugestão:y = ix.

Solução: Temos que:

‖x+ y‖2 = ‖x‖2 + ‖y‖2 =⇒ 〈x+ y, x+ y〉 = 〈x, x〉+ 〈y, y〉 =⇒=⇒ 〈x, x〉+ 2〈x, y〉+ 〈y, y〉 = 〈x, x〉+ 〈y, y〉 =⇒ 2〈x, y〉 = 0,

donde 〈x, y〉 = 0, e usamos que o espaço é real.Se o espaço for complexo, tome x 6= 0 e y = ix. Por um lado:

‖x+ ix‖2 = ‖(1+ i)x‖2 = |1+ i|2‖x‖2 = 2‖x‖2.

Por outro:‖x‖2 + ‖ix‖2 = ‖x‖2 + |i|2‖x‖2 = ‖x‖2 + ‖x‖2 = 2‖x‖2.

Porém 〈x, ix〉 = −i〈x, x〉 6= 0.

Exercício 10 (P1). Seja xii∈I uma família de números reais positivos. Suponha queexista um número real α > 0 tal que:

∀ F ∈ [I]<ω valha∑i∈F

xi ≤ α.

Mostre que esta família é somável e que tem por soma:

∑i∈I

xi = sup

∑i∈F

xi | F ∈ [I]<ω

.10

Solução: Se denotarmos o supremo dado por M, então∑

i∈F xi ≤ α para todo F ∈[I]<ω implica que M ≤ α < +∞. Agora basta verificar a definição de somabilidade.Seja ε > 0. Então M − ε não é o supremo e daí existe Fε ⊆ I, finito, tal queM − ε <

∑i∈Fε xi. Agora se F ⊆ I é finito e F ⊃ Fε, como todos os xi são positivos,

temos que:

M− ε <∑i∈Fε

xi ≤∑i∈F

xi ≤M <M+ ε =⇒ ∣∣∣∣∣M−∑i∈F

xi

∣∣∣∣∣ < ε.Como F nas condições dadas é arbitrário, xii∈I é somável e tem por soma M.

10A notação [I]<ω indica a coleção de todos os subconjuntos de I com cardinalidade menor que ω,isto é, todos os subconjuntos finitos de I.

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Exercício 11. Se xii∈I e yii∈I são famílias somáveis em um espaço normado, entãoxi + yii∈I e λxii∈I, para todo λ ∈ C, são tambem somáveis.

Solução: Seja ε > 0. Se∑

i∈I xi = x e∑

i∈I yi = y, existem F(1)ε , F

(2)ε ⊆ I, finitos, tais

que:

F ⊃ F(1)ε , finito =⇒ ∥∥∥∥∥x−∑i∈F

xi

∥∥∥∥∥ < ε

2

F ⊃ F(2)ε , finito =⇒ ∥∥∥∥∥y−∑i∈F

yi

∥∥∥∥∥ < ε

2

Chame Fε = F(1)ε ∪ F(2)ε . Então Fε ⊆ I é finito, por ser uma união de dois conjuntos

finitos, e se F ⊆ I é finito com F ⊃ Fε, vale que:∥∥∥∥∥(x+ y) −∑i∈F

(xi + yi)

∥∥∥∥∥ =

∥∥∥∥∥x+ y−∑i∈F

xi −∑i∈F

yi

∥∥∥∥∥ =

∥∥∥∥∥x−∑i∈F

xi + y−∑i∈F

yi

∥∥∥∥∥≤

∥∥∥∥∥x−∑i∈F

xi

∥∥∥∥∥+∥∥∥∥∥y−

∑i∈F

yi

∥∥∥∥∥ < ε

2+ε

2= ε,

logo xi + yii∈I é somável e tem por soma x+ y.Agora seja xii∈I somável com soma x e λ ∈ C. Se λ = 0, então a soma é o vetor

nulo e nada há o que fazer. Caso contrário, existe Fε ⊆ I, finito tal que se F ⊆ I éfinito com F ⊃ Fε, vale que:∥∥∥∥∥x−∑

i∈F

xi

∥∥∥∥∥ < ε

|λ|=⇒ |λ|

∥∥∥∥∥x−∑i∈F

xi

∥∥∥∥∥ < ε =⇒ ∥∥∥∥∥λ(x−∑i∈F

xi

)∥∥∥∥∥ < ε=

∥∥∥∥∥λx− λ∑i∈F

xi

∥∥∥∥∥ < ε =⇒ ∥∥∥∥∥λx−∑i∈F

λxi

∥∥∥∥∥ < ε.Como F nas condições dadas é arbitrário, temos que λxii∈I é somável e tem porsoma λx.

Exercício 12. Dizemos que uma família xii∈I de um espaço normado é absolutamentesomável se a família ‖xi‖i∈I é somável. Mostre que num espaço normado e completo,toda família absolutamente somável é uma família somável. Mostre que se E = R

ou E = C, vale a recíproca. Mostre que em `2(N) existem famílias somáveis nãoabsolutamente somáveis.

Solução: Primeiro provemos que absolutamente somável implica somável, em geral.Se (xi)i∈I é absolutamente somável, então (‖xi‖)i∈I é somável e daí verifica a condiçãode Cauchy. Dado ε > 0, existe Fε ∈ [I]<ω tal que se F ′ ∈ [I]<ω e F ′ ∩ Fε, vale que:∣∣∣∣∣∑

i∈F ′‖xi‖

∣∣∣∣∣ =∑i∈F ′‖xi‖ < ε.

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Nestas condições, vale que: ∥∥∥∥∥∑i∈F ′

xi

∥∥∥∥∥ ≤∑i∈F ′‖xi‖ < ε,

e daí (xi)i∈I também verifica a condição de Cauchy. Como o espaço é completo, segueque (xi)i∈I é somável.

Para a recíproca, façamos a prova primeiro para R. Seja (xi)i∈I uma famíliasomável em R. Então verifica a condição de Cauchy. Provemos que é absolutamentesomável. Seja ε > 0. Existe Fε ∈ [I]<ω tal que se F ′ ∈ [I]<ω e F ′ ∩ Fε = ∅, vale que∣∣∑

i∈F ′ xi∣∣ < ε/2. Seja F ′ nas condições acima. Chame P = i ∈ I | xi ≥ 0 e N = I \ P

as partes positiva e negativa de I. Temos:∣∣∣∣∣∑i∈F ′

|xi|

∣∣∣∣∣ =∣∣∣∣∣∑i∈F ′∩P

|xi|+∑i∈F ′∩N

|xi|

∣∣∣∣∣ ≤∣∣∣∣∣∑i∈F ′∩P

|xi|

∣∣∣∣∣+∣∣∣∣∣ ∑i∈F ′∩N

|xi|

∣∣∣∣∣=

∣∣∣∣∣∑i∈F ′∩P

xi

∣∣∣∣∣+∣∣∣∣∣ ∑i∈F ′∩N

−xi

∣∣∣∣∣ =∣∣∣∣∣∑i∈F ′∩P

xi

∣∣∣∣∣+∣∣∣∣∣ ∑i∈F ′∩N

xi

∣∣∣∣∣<ε

2+ε

2= ε,

pois (F ′ ∩ P) ∩ Fε = (F ′ ∩N) ∩ Fε = ∅. Então (xi)i∈I verifica a condição de Cauchy, ecomo R é completo, (|xi|)i∈I é somável e daí (xi)i∈I é absolutamente somável.

Agora seja (zj)j∈I uma família somável em C. Afirmo que (Re(zj))j∈I e (Im(zj))j∈Isão somáveis11. Se z =

∑j∈I zj, afirmo que Re(z) =

∑j∈IRe(zj), e analogamente para

a outra. Seja ε > 0. Então existe Fε ∈ [I]<ω tal que se F ∈ [I]<ω verifica F ⊃ Fε, valeque

∣∣z−∑i∈F zj∣∣ < ε. Daí nestas condições vale que:∣∣∣∣∣Re(z) −∑

j∈I

Re(zj)

∣∣∣∣∣ =∣∣∣∣∣Re(z) − Re

(∑j∈F

zj

)∣∣∣∣∣ =∣∣∣∣∣Re

(z−∑j∈F

zj

)∣∣∣∣∣ ≤∣∣∣∣∣z−∑

i∈F

zj

∣∣∣∣∣ < ε.Do mesmo modo para (Im(zj))j∈I. Pelo trabalho feito em R, temos que (Re(zj))j∈Ie (Im(zj))j∈I são absolutamente somáveis, e assim as famílias dos seus respectivosmódulos verificam a condição de Cauchy.

Seja ε > 0. Então existem F(1)ε , F

(2)ε ∈ [I]<ω tais que:

F ′ ∈ [I]<ω, F ′ ∩ F(1)ε = ∅ =⇒ ∣∣∣∣∣∑j∈F ′

|Re(zj)|

∣∣∣∣∣ =∑j∈F ′

|Re(zj)| <ε

2

F ′ ∈ [I]<ω, F ′ ∩ F(2)ε = ∅ =⇒ ∣∣∣∣∣∑j∈F ′

|Im(zj)|

∣∣∣∣∣ =∑j∈F ′

|Im(zj)| <ε

2

Então Fε = F(1)ε ∪ F(2)ε ∈ [I]<ω. Se F ′ ∈ [I]<ω e F ′ ∩ Fε = ∅, valem ambas as condições

11Na verdade vale a recíproca, como corolário do exercício 11, mas não precisaremos disso.

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acima. Com isto:∣∣∣∣∣∑j∈F ′

|zj|

∣∣∣∣∣ =∣∣∣∣∣∑j∈F ′

|Re(zj) + i Im(zj)|

∣∣∣∣∣ =∑j∈F ′

|Re(zj) + i Im(zj)|

≤∑j∈F ′

|Re(zj)|+ |iIm(zj)| =∑j∈F ′

|Re(zj)|+∑j∈F ′

|Im(zj)|

≤ ε2+ε

2= ε.

Portanto (|zj|)j∈I verifica a condição de Cauchy, e como R é completo, (|zj|)j∈I ésomável e (zj)j∈I é absolutamente somável.

Finalmente, vejamos um contra-exemplo para a recíproca em `2(N). Seja en ∈`2(N) o elemento cujo n-ésimo termo seja 1 e o resto 0. Considere a sequência(en/n)n≥1 em `2(N). De fato, ‖en/n‖2 = 1

n. Temos que (en/n)n≥1 é somável e tem por

soma:x =

(1, 12,13, · · · , 1

n, · · ·

),

e∑

n≥11n2 < +∞, donde x ∈ `2(N). Mas a sequência não é absolutamente somável.

Temos que: ∑n≥1

∥∥∥enn

∥∥∥ =∑n≥1

1n

= +∞.

Exercício 13 (P1). Sejam E um espaço de Hilbert, e eii∈I um sistema ortonormal.Mostre que ∑

i∈I

xiei

é a projeção de x ∈ E no subespaço vetorial fechado F gerado por eii∈I

Solução: Note que para todo J ⊆ I finito,∑

i∈J xiei ∈ F, portanto∑

i∈I xiei ∈ F.Estenda o sistema dado para um sistema ortonormal maximal eii∈A, com I ⊆ A.Como E é um espaço de Hilbert, x =

∑i∈A xiei. Fixe j ∈ I. Daí temos:⟨

x−∑i∈I

xiei, ej

⟩=

⟨∑i∈A

xiei −∑i∈I

xiei, ej

⟩=

⟨∑i∈A\I

xiei, ej

⟩=∑i∈A\I

xi〈ei, ej〉 = 0,

pois (A \ I) ∩ I = ∅. Como j ∈ I era qualquer,∑

i∈I xiei é a projeção de x em F.

Exercício 14. Em (E, 〈·, ·〉) seja eii∈I um sistema ortonormal. Mostre que o funcionallinear

y ∈ E→ f(y) = 〈y, x〉−∑i∈I

yixi

é contínuo, onde x ∈ E está fixado e vale que x 6=∑

i∈I xiei.

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Solução: Vejamos que f é a soma de duas funções contínuas: temos que E 3y 7→ 〈y, x〉 ∈ C é contínua pelo exercício (5). E se nas condições dadas, definirmosg : E → C por g(y) =

∑i∈I yixi, temos que g é linear. Provemos que é contínua

verificando que é limitada na esfera. Suponha que ‖y‖ = 1. Temos que:

|g(y)| =

∣∣∣∣∣∑i∈I

yixi

∣∣∣∣∣ =∣∣∣∣∣⟨∑

i∈I

yiei,∑i∈I

xiei

⟩∣∣∣∣∣ ≤∥∥∥∥∥∑i∈I

yiei

∥∥∥∥∥∥∥∥∥∥∑i∈I

xiei

∥∥∥∥∥ ≤ ‖y‖‖x‖ = ‖x‖,onde usamos, em ordem, a identidade de Parseval, a desigualdade de Cauchy-Schwarz, e a desigualdade de Bessel.

Exercício 15. Mostre que as funções eirt, r ∈ R formam uma base ortonormal doespaço pré-hilbertiano definido no exercício (8).

Solução: Que formam uma base é claro, da forma dos elementos do espaço.Vejamos que é ortonormal. Sejam r, s ∈ R, com r 6= s. Temos que:

limT→+∞

12T

∫ T−T

eirteist dt = limT→+∞

12T

∫ T−T

eirte−ist dt = limT→+∞

12T

∫ T−T

ei(r−s)t dt

= limT→+∞

1i(r− s)

ei(r−s)t∣∣∣T−T

= limT→+∞

12T

1i(r− s)

(ei(r−s)T − e−i(r−s)T) = 0,

pois 1/(i(r − s)) é constante, a diferença das exponenciais é limitada, e 1/(2T) vaipra zero. Por outro lado:

12T

∫ T−T

eirteirt dt = 12T

∫ T−T

eirte−irt dt = 12T

∫ T−T

dt = 12T

2T = 1.

Fazendo T → +∞ o resultado ainda é 1.

Exercício 16. Sejam E um espaço de Hilbert e F pré-Hilbertiano. Demonstrar quepara cada funcional linear contínuo u de E em F, existe um único funcional linearcontínuo u∗ de F em E tal que para todosos x ∈ E e y ∈ F tenhamos:

〈u(x), y〉 = 〈x, u∗(y)〉.

Sugestão: indicar por u∗(y) o elemento de E que determina o funcional linear contínuox ∈ E 7→ 〈u(x), y〉 ∈ C.Solução: Como u é contínuo e 〈·, y〉 também é (pelo exercício 5 desta mesmalista), temos que x 7→ 〈u(x), y〉 é um funcional linear contínuo. Pelo Teorema daRepresentação de Riesz, existe um único vetor, que chamaremos de u∗(y), tal que〈u(x), y〉 = 〈x, u∗(y)〉. Se y1, y2 ∈ E e λ ∈ C, mesmo argumento dá a existência de umúnico vetor u∗(y1 + λy2) tal que:

〈x, u∗(y1 + λy2)〉 = 〈u(x), y1 + λy2〉.

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Mas:

〈u(x), y1 + λy2〉 = 〈u(x), y1〉+ 〈u(x), λy2〉 = 〈u(x), y1〉+ λ〈u(x), y2〉= 〈x, u∗(y1)〉+ λ〈x, u∗(y2) = 〈x, u∗(y1)〉〉+ 〈x, λu∗(y2)〉= 〈x, u∗(y1) + λu∗(y2)〉

Como x é arbitrário, por unicidade, segue que u∗(y1 + λy2) = u∗(y1) + λu∗(y2), e

assim u∗ é linear. Resta ver que temos u∗ contínuo. Façamos isto verificando queu∗ é limitado na bola. Tome y ∈ F com ‖y‖ ≤ 1. Temos:

‖u∗(y)‖2 = 〈u∗(y), u∗(y)〉 = 〈y, u(u∗(y))〉≤ ‖y‖‖u(u∗(y))‖ ≤ ‖u(u∗(y))‖≤ ‖u‖‖u∗(y)‖.

Se u∗(y) = 0, vale ‖u∗(y)‖ ≤ ‖u‖ trivialmente. Caso contrário, dividimos ambos oslados da desigualdade por ‖u∗(y)‖ e novamente obtemos ‖u∗(y)‖ ≤ ‖u‖. Mas y ∈ Fcom ‖y‖ ≤ 1 nestas condições era arbitrário, portanto u∗ é limitado e ‖u∗‖ ≤ ‖u‖.12

12Na verdade vale a igualdade, pelo mesmo argumento.

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3 Lista 3Exercício 1. Seja (fn)n≥0 uma sequência de funções contínuas do espaço compactoK no espaço dos números complexos C. Dê um exemplo onde fn(x) converge pontual-mente para uma função f que não é contínua.

Solução: Considere, para todo n ≥ 0, fn : [0, 1] → C dada por fn(x) = xn, Então éclaro que (fn)n≥0 ⊆ C([0, 1]), e [0, 1] é compacto. Mas (fn)n≥0 converge pontualmentepara f : [0, 1]→ C dada por:

f(x) =

0, se x ∈ [0, 1)1, se x = 1,

e f 6∈ C([0, 1]).

Exercício 2 (P2, Sub). Mostre que C(K), o espaço das funções contínuas de um espaçocompacto K em C, com a norma:

‖f‖∞ = sup|f(x)| | x ∈ K

é um espaço linear completo, isto é, C(K) é um espaço de Banach quando equipadocom a topologia da convergência uniforme.

Solução: Feito anteriormente.

Exercício 3. Mostre que: se uma sequência (fn)n≥0 de funções contínuas, de umespaço compacto X em R converge uniformemente para uma função f : X → R, entãof ∈ C(X).

Solução: Fixe x0 ∈ X. Vamos provar que f é contínua em x0. Seja ε > 0. Comofn‖·‖∞−→ f, existe n0 ∈ N tal que n ≥ n0 =⇒ ‖fn − f‖∞ < ε/3, donde temos que

|fn(x) − f(x)| < ε/3 para todo x ∈ X (em particular para x0). Como fn0 é contínua emx0, existe uma vizinhança V de x0 tal que x ∈ V =⇒ |fn0(x) − fn0(x0)| < ε/3. Entãose x ∈ V , temos que:

|f(x) − f(x0)| ≤ |f(x) − fn0(x)|+ |fn0(x) − fn0(x0)|+ |fn0(x0) − f(x0)| <ε

3+ε

3+ε

3= ε.

Logo f é contínua em x0. Como x0 ∈ X era qualquer, f é contínua em X.

Exercício 4. Calcule limn→+∞ fn na norma:

‖f‖1 =∫ 20‖f(t)| dt

para a sequência:

fn(x) =

xn se 0 ≤ x ≤ 11 se 1 ≤ x ≤ 2.

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Solução: Seja f : [0, 2]→ R dada por:

f(x) =

0 se 0 ≤ x < 11 se 1 ≤ x ≤ 2

Afirmo que fn‖·‖1−→ f. De fato, temos que ‖fn − f‖1 = 1/(n+ 1) n→+∞−→ f.

Exercício 5 (P2). Mostre que CL2([0, 2]), o espaço das funções contínuas de um espaçocompacto [0, 2] em C, com a norma:

‖f‖2 =(∫ 2

0|f(x)|2 dx

)1/2

não é um espaço completo.

Solução: Considere a sequência e o limite do exercício anterior. Vejamos que(fn)n≥0 é de ‖ · ‖2-Cauchy. Seja p ∈ N qualquer. Então ‖fn+p − fn‖2

n→+∞−→ 0 indepen-dentemente de p. Com efeito:

‖fn+p − fn‖2 =

√∫ 20|fn+p(x) − fn(x)|2 dx

=

√∫ 10(xn+p − xn)2 dx

=

√∫ 10x2(n+p) − 2x2n+p + x2n dx

=

√1

2(n+ p) + 1−

22n+ p+ 1

+1

2n+ 1n→+∞−→ 0

Porém f 6∈ CL2([0, 2]), pois se f fosse contínua, pelo Teorema do Valor Intermediário,f deveria assumir todos os valores entre 0 e 1, o que não ocorre. Vejamos quefn‖·‖2−→ f. Temos que:

‖fn − f‖2 =

√∫ 20|fn(x) − f(x)|2 dx =

√∫ 10x2n dx =

√1

2n+ 1→ 0.

Exercício 6 (P2, Sub).

(a) Mostre que:

`1(N) =

(xn)n∈N |

∑n∈N

|xn| < +∞é um espaço vetorial normado e completo para a norma ‖(xn)n∈N‖1 =

∑n∈N |xn|.

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(b) Mostre que:

`2(N) =

(xn)n∈N |

∑n∈N

|xn|2 < +∞

é um espaço vetorial normado e completo para a norma ‖(xn)n∈N‖2 =√∑

n∈N |xn|2.

(c) Vale a inclusão `1(N) ⊆ `2(N)? Vale a inclusão `2(N) ⊆ `1(N)?

Solução:

(a) Recorde que as operações em `1(N) são definidas termo a termo, então as pro-priedades das operações são herdadas das operações de C. Provemos que x =(xn)n≥0, y = (yn)n≥0 ∈ `1(N) =⇒ x+ y ∈ `1(N). Diretamente:

|xn + yn| ≤ |xn|+ |yn|, ∀n ≥ 0 =⇒ ∑n≥0

|xn + yn| ≤∑n≥0

|xn|+∑n≥0

|yn| < +∞.E se λ ∈ C, temos:∑

n≥0

|xn| < +∞ =⇒ |λ|∑n≥0

|xn| < +∞ =⇒ ∑n≥0

|λxn| < +∞,logo λx ∈ `1(N) também.Façamos uma rápida verificação de que ‖ · ‖1 é norma. Temos que ‖x‖1 ≥ 0 porconsistir de uma soma de termos positivos. Se ‖x‖1 = 0, então |xn| = 0 e logoxn = 0 para todo n, então x = 0.Se λ ∈ C, temos:

‖λx‖1 =∑n≥0

|λxn| =∑n≥0

|λ||xn| = |λ|∑n≥0

|xn| = |λ|‖x‖1.

E a desigualdade triangular segue do cálculo feito para verificar que x, y ∈`1(N) =⇒ x+ y ∈ `1(N).Vejamos agora que (`1(N), ‖ · ‖1) é um espaço de Banach. Seja

(ξn)n≥0 = ((x(n)k )k≥0)n≥0 ⊆ `1(N)

uma sequência de ‖ · ‖1-Cauchy. Dado ε > 0, existe n0 ∈ N tal que:

‖ξn − ξm‖1 < ε ∀m,n > n0 =⇒ ∑k≥0

|x(n)k − x

(m)k | < ε ∀m,n > n0.

Mas:|x

(n)k − x

(m)k | ≤

∑k≥0

|x(n)k − x

(m)k | < ε ∀m,n > n0, ∀k ≥ 0.

Portanto temos que fixado k, (x(n)k )n≥0 é uma sequência de | · |-Cauchy em C.

Como C é completo, existe o limite xk = limn→∞ x(n)k . Defina ξ = (xk)k≥0. Afirmoentão que ξ ∈ `1(N) e que ξn

‖·‖1−→ ξ.

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Seja ε > 0. Existe n0 ∈ N tal que:

‖ξn − ξm‖1 < ε, ∀m,n > n0∑k≥0

|x(n)k − x

(m)k | < ε, ∀m,n > n0

r∑k≥0

|x(n)k − x

(m)k | < ε, ∀m,n > n0, ∀ r ≥ 0

limm→+∞

r∑k≥0

|x(n)k − x

(m)k | ≤ ε, ∀n > n0, ∀ r ≥ 0

r∑k≥0

|x(n)k − xk| ≤ ε, ∀n > n0, ∀ r ≥ 0∑

k≥0

|x(n)k − xk| ≤ ε, ∀n > n0

‖ξn − ξ‖1 ≤ ε, ∀n > n0,

portanto ξn‖·‖1−→ ξ. Isto também nos dá que ξ = ξn0 − (ξn0 − ξ) ∈ `1(N), fixado o

n0 correspondente a, digamos, ε = 1.

(b) Recorde que as operações em `2(N) são definidas termo a termo, então as pro-priedades das operações são herdadas das operações de C. Provemos que x =(xn)n≥0, y = (yn)n≥0 ∈ `2(N) =⇒ x+ y ∈ `2(N). Temos que para todo n ≥ 0 valeque (xn + yn)

2 ≤ (|xn|+ |yn|)2. Com efeito:

(xn+yn)2 ≤ (|xn|+|yn|)

2 ⇐⇒ x2n+2xnyn+y2n ≤ |xn|2+2|xnyn|+|yn|

2 ⇐⇒ xnyn ≤ |xnyn|,

o que é verdade. Ainda mais, vale que (|xn| + |yn|)2 ≤ 4|xn|2 + 4|yn|2 (a análise

pode ser feita sem perder generalidade se |xn| ≥ |yn|, diretamente). Isto vale paratodo n, portanto:

∑n≥0

|xn+yn|2 ≤∑n≥0

(|xn|+|yn|)2 ≤∑n≥0

4|xn|2+4|yn|2 = 4

(∑n≥0

|xn|2 +∑n≥0

|yn|2

)< +∞,

daí x+ y ∈ `2(N). E se λ ∈ C, temos:∑n≥0

|xn|2 < +∞ =⇒ |λ|2

∑n≥0

|xn|2 < +∞ =⇒ ∑

n≥0

|λxn|2 < +∞,

logo λx ∈ `2(N) também.Façamos uma rápida verificação de que ‖ · ‖2 é norma. Com efeito, ela é induzidapela aplicação 〈·, ·〉 : `2(N)× `2(N)→ C dada por 〈x, y〉 =

∑n≥0 xnyn, que veremos

ser um produto interno.Temos que 〈x, x〉 ≥ 0 qualquer que seja x ∈ `2(N) por ser uma soma de termospositivos. E:

〈x, x〉 =∑n≥0

|xn|2 = 0 =⇒ |xn|

2 = 0 ∀n ≥ 0 =⇒ xn = 0, ∀n ≥ 0,

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daí x = 0. E também:

〈x, y〉 =∑n≥0

xnyn =∑n≥0

xnyn =∑n≥0

xnyn = 〈y, x〉.

E dado z ∈ `2(N), e λ ∈ C, temos:

〈x+ λy, z〉 =∑n≥0

(xn + λyn)zn =∑n≥0

xnzn + λ∑n≥0

ynzn = 〈x, z〉+ λ〈y, z〉.

Isto, juntamente com o fato de 〈·, ·〉 ser hermiteana, nos dá a sesquilinearidadede 〈·, ·〉. Portanto 〈·, ·〉 é um produto interno, que induz ‖ · ‖2. Então ‖ · ‖2 éautomaticamente uma norma.Vejamos agora que (`2(N), ‖ · ‖2) é um espaço de Banach. Seja

(ξn)n≥0 = ((x(n)k )k≥0)n≥0 ⊆ `2(N)

uma sequência de ‖ · ‖2-Cauchy. Dado ε > 0, existe n0 ∈ N tal que:

‖ξn − ξm‖2 < ε ∀m,n > n0 =⇒ ∑k≥0

|x(n)k − x

(m)k |2 < ε2 ∀m,n > n0.

Mas:|x

(n)k − x

(m)k |2 ≤

∑k≥0

|x(n)k − x

(m)k |2 < ε2 ∀m,n > n0, ∀k ≥ 0.

Portanto temos que fixado k, (x(n)k )n≥0 é uma sequência de | · |-Cauchy em C.

Como C é completo, existe o limite xk = limn→∞ x(n)k . Defina ξ = (xk)k≥0. Afirmoentão que ξ ∈ `2(N) e que ξn

‖·‖2−→ ξ.Seja ε > 0. Existe n0 ∈ N tal que:

‖ξn − ξm‖2 < ε, ∀m,n > n0∑k≥0

|x(n)k − x

(m)k |2 < ε2, ∀m,n > n0

r∑k≥0

|x(n)k − x

(m)k |2 < ε2, ∀m,n > n0, ∀ r ≥ 0

limm→+∞

r∑k≥0

|x(n)k − x

(m)k |2 ≤ ε2, ∀n > n0, ∀ r ≥ 0

r∑k≥0

|x(n)k − xk|

2 ≤ ε2, ∀n > n0, ∀ r ≥ 0∑k≥0

|x(n)k − xk|

2 ≤ ε2, ∀n > n0

‖ξn − ξ‖2 ≤ ε, ∀n > n0,

portanto ξn‖·‖2−→ ξ. Isto também nos dá que ξ = ξn0 − (ξn0 − ξ) ∈ `2(N), fixado o

n0 correspondente a, digamos, ε = 1.

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(c) Vale a inclusão `1(N) ⊆ `2(N). Seja x = (xn)n≥0 ∈ `1(N). Então∑

n≥0 |xn| < +∞,e portanto |xn| → 0. Assim existe n0 ∈ N tal que n > n0 implica que |xn| < 1.Nestas condições |xn|

2 < |xn| e daí:∑n>n0

|xn|2 <∑n>n0

|xn| ≤∑n≥0

|xn| < +∞,e daí

∑n≥0 |xn|

2 < +∞ (desprezamos apenas uma quantidade finita de termos).Não vale a inclusão contrária. A sequência (1/n)n≥1 está em `2(N) pois:∑

n≥1

1n2 =

π2

6< +∞,

mas não está em `1(N) pois: ∑n≥1

1n

= +∞.

Exercício 7. Seja X um espaço de Banach. Se E ⊆ X é um subespaço de dimensãofinita, então E é um subespaço fechado de X.

Solução: Vamos primeiro provar que se um espaço vetorial qualquer V tem dimen-são finita, então todas as normas sobre V são equivalentes. Fixe uma base e1, . . . , en

uma base de V . Então todo x ∈ V se escreve unicamente como x =∑n

i=1 xiei. Defina‖ · ‖ : V → R por ‖x‖ = max|xi| | 1 ≤ i ≤ n. Claramente ‖ · ‖ é uma norma. Agoraseja p : V → R outra norma qualquer. Por um lado, temos:

p(x) = p

(n∑i=1

xiei

)≤

n∑i=1

|xi|p(ei) ≤n∑i=1

‖x‖p(ei) = b‖x‖,

onde b =∑n

i=1 p(ei). Por outro lado, como V tem dimensão finita, a esfera S =x ∈ V | ‖x‖ = 1 é compacta. Como p é uma norma, p é contínua. Pelo teoremado extremo de Weierstrass, p atinge um mínimo em S, digamos em x0, e chamea = p(x0). Como x0 ∈ S, temos ‖x0‖ = 1 6= 0, então x0 6= 0 e daí a > 0. Seja x ∈ Vqualquer, x 6= 0 (se x = 0 nada há o que fazer). Então:

p

(x

‖x‖

)≥ a =⇒ a‖x‖ ≤ p(x).

Como obtivemos a desigualdade:

a‖x‖ ≤ p(x) ≤ b‖x‖,

temos que p e ‖ · ‖ são equivalentes. Como p era qualquer, todas as normas em V

são equivalentes a ‖ · ‖, e portanto equivalentes entre si.De volta ao contexto do exercício, aproveitemos a notação e fixemos e1, . . . , en

uma base de E. Então defina T : Cn → E, pondo T((xj)

nj=1)=∑n

j=1 xjej. É claro queT é linear. Temos que T é injetora pois ej

nj=1 é linearmente independente, e T é

sobrejetora pois todo elemento de E se escreve como∑n

j=1 xjej, e aí a n-upla (xj)nj=1 é

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levada no elemento por T . Assim T é bijetora, e portanto um isomorfismo entre Cn eE. Defina ‖ · ‖T : Cn → R pondo ‖x‖T = ‖Tx‖. Vejamos rapidamente que ‖ · ‖T é umanorma em Cn. Que ‖x‖T ≥ 0 para todo x é claro. E:

‖x‖T = 0 =⇒ ‖Tx‖ = 0 =⇒ Tx = 0 =⇒ x = 0,

pois T é injetora. Se λ ∈ C e x ∈ Cn temos:

‖λx‖T = ‖T(λx)‖ = ‖λTx‖ = |λ|‖Tx‖ = |λ|‖x‖T .

E por fim, dados x, y ∈ Cn, vale que:

‖x+ y‖T = ‖T(x+ y)‖ = ‖Tx+ Ty‖ ≤ ‖Tx‖+ ‖Ty‖ = ‖x‖T + ‖y‖T .

Assim ‖ · ‖T é uma norma em Cn. E note que pela construção de ‖ · ‖T , T é umisomorfismo isométrico entre (Cn, ‖ · ‖T) e (E, ‖ · ‖). Pelo início da discussão, temosque ‖ · ‖ é equivalente, digamos à norma do máximo ou a norma canônica em Cn,que o torna um espaço de Banach. Portanto (Cn, ‖ · ‖T) é também um espaço deBanach. Como Cn e E com as tais normas são isometricamente isomorfos, segue queE é um espaço de Banach com a norma induzida de X. Porém, como X é um espaçode Banach, para começar, concluímos que E é fechado em X.

Exercício 8. Mostre que a aderência de qualquer subespaço vetorial F ⊆ X ainda éum subespaço vetorial deste espaço normado X.

Solução: Basta mostrar que F é fechado para as operações de X. Notamos que0 ∈ F ⊆ F. E ainda, dados x, y ∈ F e λ ∈ C, existem sequências (xn)n≥0, (yn)n≥0 ⊆ Ftais que xn → x e yn → y. Como F é um subespaço vetorial de X, F é fechado paraas operações de X, portanto para cada n ≥ 0, temos que xn + λyn ∈ F. Desta formaxn + λyn → x+ λy ∈ F.

Exercício 9. Seja E um espaço vetorial de dimensão finita dimE = n e e1, . . . , en

uma base de E. Para cada x ∈ E, escreva:

x = α1e1 + · · ·+ αnen.

Mostre que:x ∈ E 7→ ‖x‖ = max|αk| | 1 ≤ k ≤ n ∈ R

é uma norma sobre E.

Solução: Primeiro notamos que como eknk=1 é uma base de E, x ∈ E se escreve de

forma única como explicitado no enunciado, e sendo assim, a aplicação ‖·‖ está bemdefinida. Que ‖ · ‖ ≥ 0 para todo x ∈ E é claro, pois |αk| ≥ 0 para todo k = 1, . . . , n.E:

‖x‖ = 0 =⇒ max|αk| | 1 ≤ k ≤ n = 0=⇒ |αk| = 0, ∀k = 1, . . . , n=⇒ αk = 0, ∀k = 1, . . . , n.

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Assim, x =∑n

k=1 αkek = 0. Ainda, se λ ∈ C, temos que x =∑n

k=1 αkek =⇒ λx =∑nk=1 λαkek, donde:

‖λx‖ = max1≤k≤n

|λαk| = max1≤k≤n

|λ||αk| = |λ| max1≤k≤n

|αk| = |λ|‖x‖.

E por fim, se y =∑n

k=1 βkek, temos que x + y =∑n

k=1(αk + βk)ek, e assim, fixado kentre 1 e n qualquer, vale:

|αk + βk| ≤ |αk|+ |βk| ≤ ‖x‖+ ‖y‖.

Tomando o máximo em k segue que ‖x+y‖ ≤ ‖x‖+ ‖y‖. Portanto ‖ · ‖ é uma normaem E.

Exercício 10 (P2). Seja E um espaço vetorial, B = (ei)i∈I uma base algébrica13 de E.Portanto, para cada x ∈ E existe finito F ⊆ I e λi ∈ C | i ∈ F, tais que:

x =∑i∈F

λiei.

Mostre que existe uma norma para E.

Solução: Seja x ∈ E. Suponha que dados F1, F2 ⊆ I, finitos, tenhamos

x =∑i∈F1

aiei =∑i∈F2

biei.

Então: ∑i∈F1\F2

aiei +∑i∈F1∩F2

(ai − bi)ei +∑i∈F2\F1

(−bi)ei = 0.

Por independência linear dos (ei)i∈F1∪F2 , segue que:ai = 0, ∀ i ∈ F1 \ F2ai = bi, ∀ i ∈ F1 ∩ F2bi = 0, ∀ i ∈ F2 \ F1

Em outras palavras, a combinação finita é única módulo coeficientes nulos. Assim,max|ai| | i ∈ F1 = max|bi| | i ∈ F2. Portanto, se F ⊆ I é finito e x =

∑i∈F xiei, está

bem-definida a aplicação ‖ · ‖ : E → R dada por ‖x‖ = maxi∈F |xi|. Isto é, o valor de‖x‖ não depende do conjunto F usado para escrever a combinação. Agora só faltaverificar que esta aplicação ‖ · ‖ de fato funciona.

Que ‖x‖ ≥ 0 para todo x ∈ E é claro. E:

‖x‖ = 0 =⇒ maxi∈F

|xi| = 0 =⇒ |xi| = 0, ∀ i ∈ F =⇒ xi = 0, ∀ i ∈ F,

logo x =∑

i∈F xiei = 0. Se λ ∈ C, temos:

‖λx‖ = maxi∈F

|λxi| = maxi∈F

|λ||xi| = |λ|maxi∈F

|xi| = |λ|‖x‖.

13Base de Hamel. A existência de uma tal base para qualquer espaço segue do Axioma da Escolha,portanto o resultado desse exercício também!

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E para a desigualdade triangular, escreva x =∑

i∈F1 xiei e y =∑

i∈F2 yiei, com F1, F2 ⊆I, finitos. Podemos escrever:

x+ y =∑i∈F1

xiei +∑i∈F2

yiei =∑i∈F1\F2

xiei +∑i∈F1∩F2

(xi + yi)ei +∑i∈F2\F1

yiei,

isto é:

x+ y =∑i∈F1∪F2

ciei, com ci =

xi, ∀ i ∈ F1 \ F2xi + yi, ∀ i ∈ F1 ∩ F2yi, ∀ i ∈ F2 \ F1

Assim: se i ∈ F1 \ F2, |ci| = |xi| ≤ |xi|+ ‖y‖ ≤ ‖x‖+ ‖y‖se i ∈ F1 ∩ F2, |ci| = |xi + yi| ≤ |xi|+ |yi| ≤ ‖x‖+ ‖y‖se i ∈ F2 \ F1, |ci| = |yi| ≤ ‖x‖+ |yi| ≤ ‖x‖+ ‖y‖

Então como |ci| ≤ ‖x‖ + ‖y‖ para todo i ∈ F1 ∪ F2, tomamos o máximo e obtemos‖x+ y‖ ≤ ‖x‖+ ‖y‖. Portanto ‖ · ‖ é uma norma sobre E.

Exercício 11. Dados espaços vetoriais normados E e F, seja:

L(E, F) = f : E→ F | f é linear e contínua.

(a) Mostre que L(E, F) é um espaço vetorial.

(b) Defina:f ∈ L(E, F) 7→ ‖f‖ = sup

‖x‖≤1‖f(x)‖.

Mostre que (L(E, F), ‖ · ‖) é um espaço normado.

(c) Mostre que ‖f(x)‖ ≤ ‖f‖‖x‖ para todo x ∈ E e toda f ∈ L(E, F).

Solução:

(a) Se f, g ∈ L(E, F) e λ ∈ C, definimos f + g e λf por (f + g)(x) = f(x) + g(x) e(λf)(x) = λf(x), para todo x ∈ E. As propriedades das operações em L(E, F) sãoherdadas das operações de F, que já sabemos ser um espaço vetorial. Verifiquemosque f+ λg ∈ L(E, F).

Linearidade: Sejam x, y ∈ E, k ∈ C. Temos:

(f+ λg)(x+ ky) = f(x+ ky) + (λg)(x+ ky) = f(x+ ky) + λg(x+ ky)

= f(x) + kf(y) + λ(g(x) + kg(y)) = f(x) + kf(y) + λg(x) + λkg(y)

= f(x) + λg(x) + k(f(y) + λg(y)) = f(x) + (λg)(x) + k(f(y) + (λg)(y))

= (f+ λg)(x) + k(f+ λg)(y),

portanto f+ λg é linear.

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Continuidade: Se λ = 0 nada há o que fazer. Suponha λ 6= 0. Seja ε > 0. Fixex0 ∈ E qualquer. Existem δ1, δ2 > 0 tais que:

‖x− x0‖ < δ1 =⇒ ‖f(x) − f(x0)‖ < ε/2‖x− x0‖ < δ2 =⇒ ‖g(x) − g(x0)‖ < ε/2|λ|

Chame δ = minδ1, δ2 > 0. Se ‖x − x0‖ < δ, então valem as duas condiçõesacima e:

‖(f+ λg)(x) − (f+ λg)(x0)‖ = ‖f(x) + λg(x) − f(x0) − λg(x0)‖= ‖f(x) − f(x0) + λ(g(x) − g(x0))‖≤ ‖f(x) − f(x0)‖+ |λ|‖g(x) − g(x0)‖

2+ |λ|

ε

2|λ|= ε,

portanto f+λg é contínua em x0 ∈ E. Como x0 é arbitrário, f+λg é contínua.

Concluímos que f+ λg ∈ L(E, F), portanto L(E, F) é um espaço vetorial.

(b) Seja f ∈ L(E, F) qualquer. Como ‖f(x)‖ ≥ 0 qualquer que seja x ∈ E, segue que‖f‖ = sup‖x‖≤1 ‖f(x)‖ ≥ 0. Se ‖f‖ = 0, então ‖f(x)‖ = 0 e logo f(x) = 0 qualquerque seja x com ‖x‖. É claro que f(0) = 0. E se x 6= 0, x/‖x‖ tem norma 1 e daíf(x/‖x‖) = f(x)/‖x‖ = 0 =⇒ f(x) = 0. Portanto f = 0.Seja agora λ ∈ C. Temos:

‖λf‖ = sup‖x‖≤1

‖λf(x)‖ = sup‖x‖≤1

|λ|‖f(x)‖ = |λ| sup‖x‖≤1

‖f(x)‖ = |λ|‖f‖.

Para a desigualdade triangular, tome x ∈ E com ‖x‖ ≤ 1, qualquer. Temos:

‖(f+ g)(x)‖ = ‖f(x) + g(x)‖ ≤ ‖f(x)‖+ ‖g(x)‖ ≤ ‖f‖+ ‖g‖.

Agora passe ao supremo no lado esquerdo e obtemos ‖f+ g‖ ≤ ‖f‖+ ‖g‖.

(c) Seja x ∈ E qualquer. Se x = 0 a desigualdade vale trivialmente. Caso contráriox/‖x‖ tem norma 1 e daí:∥∥∥∥f( x

‖x‖

)∥∥∥∥ ≤ ‖f‖ =⇒ ∥∥∥∥ 1‖x‖

f(x)

∥∥∥∥ ≤ ‖f‖ =⇒ ‖f(x)‖‖x‖

≤ ‖f‖ =⇒ ‖f(x)‖ ≤ ‖f‖‖x‖.

Exercício 12 (P2, extra). Seja m ≥ 0 um número natural fixado. Mostre que entretodos os polinômios P ∈ C[X] de grau ≤ m tais que P(0) = 1, existe um que tornamínimo o valor: ∫ 1

0|P(t)| dt.

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Solução: Seja Pm(C) o espaço dos polinômios com coeficientes complexos e grau≤ m. Temos que ‖ · ‖ : Pm(C) → R dada por ‖P‖ =

∫10 |P(t)| dt é uma norma em

Pm(C). Como a dimensão de Pm(C) é finita (m+ 1, para ser exato), a bola unitária:

B[0, 1] =P ∈ Pm(C) |

∫ 10|P(t)| dt = 1

é compacta, e ‖ · ‖ é contínua por ser uma norma.

Defina T : Pm(C) → C pondo T(P) = P(0). Dados P,Q ∈ Pm(C) e λ ∈ C, temosque:

T(P + λQ) = (P + λQ)(0) = P(0) + λQ(0) = T(P) + λT(Q),

donde T é linear. Como além de Pm(C), C também tem dimensão finita, segue que Ttambém é contínua. Desta forma, o conjunto:

T−1(1) = P ∈ Pm(C) | P(0) = 1

é a pré-imagem de um conjunto fechado por uma função contínua, portanto é fechadotambém. Como Pm(C) é um espaço normado, e portanto Hausdorff, temos queB[0, 1] ∩ T−1(1) é a interseção de um compacto com um fechado, logo compacto.Pelo teorema do extremo de Weierstrass, existe P0 ∈ B[0, 1] ∩ T−1(1) que minimiza‖ · ‖ em B[0, 1] ∩ T−1(1). Mas evidentemente ‖P0‖ ≤ ‖P‖ se ‖P‖ ≥ 1 (isto é, seP 6∈ B[0, 1]). Portanto P0 minimiza ‖ · ‖ em T−1(1) e é o polinômio procurado.

Exercício 13. Seja E um espaço normado, e E o espaço das sequências de Cauchy deE, e a aplicação:

(xn)n≥0 ∈ E 7→ ‖(xn)n≥0‖ = supn≥0‖xn‖

(a) Mostre que esta aplicação é uma norma.

(b) Mostre que o subespaço E0 das sequências de E que convergem para 0 é fechadoem E.

(c) Mostre que o espaço quociente E = E/E0 é completo para a norma quociente.14

(d) A aplicação I : E → E tal que I(x) = [x] (a classe das sequências tais que xn = x

para todo n) é uma isometria linear de E em um subespaço denso de E.

Solução:(a) Sejam x = (xn)n≥0, y = (yn)n≥0 ∈ E e λ ∈ C. É claro que ‖x‖ ≥ 0, por ser o

supremo entre números não-negativos. E se ‖x‖ = supn≥0 ‖xn‖ = 0, então temos‖xn‖, e logo xn iguais a zero para todo n, donde x = 0. Também:

‖λx‖ = supn≥0‖λxn‖ = sup

n≥0|λ|‖xn‖ = |λ| sup

n≥0‖xn‖ = |λ|‖x‖.

E por fim, temos:

‖xn + yn‖ ≤ ‖xn‖+ ‖yn‖ ≤ ‖x‖+ ‖y‖, ∀n ≥ 0,

então podemos tomar o supremo no lado esquerdo e obtemos ‖x+y‖ ≤ ‖x‖+‖y‖.14Neste item e no seguinte, utilizamos uma outra norma, mais factível de ser trabalhada. Você

pode me enviar ma resolução direta usando a norma quociente, caso ache (será acrescentada com odevido agradecimento).

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(b) Seja (ξn)n≥0 = ((x(n)k )k≥0)n≥0 uma sequência em E0, com ξn → ξ = (xk)k≥0. Vamos

provar que (xk)k≥0 converge para zero também. Seja ε > 0. Como ξn → ξ, existen0 ∈ N tal que ‖ξn0 − ξ‖ < ε/2, isto é, ‖x(n0)

k − xk‖ < ε/2 para todo k ≥ 0. Mascomo (xn0

k )k≥0 converge para zero, existe k0 ∈ N tal que ‖x(n0)k ‖ < ε/2 para todo

k > k0. Então se k > k0 temos:

‖xk‖ = ‖xk − xn0k + x

(n0)k ‖ ≤ ‖xk − x

n0k ‖+ ‖x

n0k ‖ <

ε

2+ε

2= ε,

donde (xk)k≥0 converge para zero, e daí ξn → ξ ∈ E0. Portanto E0 é fechado.

(c) Se [ξ] ∈ E/E0, colocamos:‖[ξ]‖ = lim

k→+∞ ‖xk‖,onde (xk)k≥0 ∈ [ξ]. Vejamos que o valor acima não depende da escolha de repre-sentante (xk)k≥0. Mais exatamente, vejamos que se (yk)k≥0, (zk)k≥0 ∈ [(xk)k≥0], en-tão limk→+∞ ‖yk‖ = limk→+∞ ‖zk‖. Seja ε > 0. Existe k0 ∈ N grande o suficiente15tal que se k > k0, temos ‖xk−yk‖, ‖xk−zk‖ < ε/2, pois (yk)k≥0, (zk)k≥0 ∈ [(xk)k≥0].Nestas condições:

|‖yk‖− ‖zk‖| ≤ ‖yk − zk‖ ≤ ‖yk − xk‖+ ‖xk − zk‖ <ε

2+ε

2= ε.

Agora façamos a verificação de que realmente temos uma norma. Como sem-pre, é claro que ‖[(xk)k≥0]‖ ≥ 0 para qualquer sequência (xk)k≥0 ∈ E. E se‖[(xk)k≥0]‖ = 0, temos que limk→+∞ ‖xk‖ = 0, e disto segue que limk→+∞ xk = 0,assim (xk)k≥0 ∈ E0 = [0], e temos que [(xk)k≥0] = [0]. As outras propriedadesseguem das propriedades da norma em E, aplicando limk→+∞.Se I : E→ E/E0 é dada por I(x) = [(x)], onde (x) é a sequência constante e iguala x, veremos no item a seguir que I(E) é denso em E/E0. É claro que I é linear(veja por exemplo o exercício 17 adiante). E ainda I preserva normas pois:

‖I(x)‖ = ‖[(x)]‖ = limk→+∞ ‖x‖ = ‖x‖.

Vejamos com isto que E/E0 é completo.

Seja ([ξ]n)n≥0 uma sequência de Cauchy em E/E0 e ε > 0. Como I(E) é denso,para cada n ≥ 0 existe yn ∈ E tal que ‖[ξ]n − Iyn‖ < ε/3. Vejamos que asequência (yn)n≥0 é de Cauchy. Temos que existe n0 ∈ N tal que m,n > n0implica ‖[ξ]n − [ξ]m‖ < ε/3. Aí:

‖yn − ym‖ = ‖I(yn − ym)‖ = ‖Iyn − Iym‖

≤ ‖Iyn − [ξ]n‖+ ‖[ξ]n − [ξ]m‖+ ‖[ξ]m − Iym‖ <ε

3+ε

3+ε

3= ε.

Chame ξ = (yn)n≥0. E agora teremos que ([ξ]n)n≥0 converge para [ξ] em E/E0,pela construção dos yn, pois ‖[ξ]n − [ξ]‖ = ‖[ξ]n − Iyn‖ vai pra zero quandon→ +∞.

15Um para cada sequência e tomamos o máximo.

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(d) Só resta mostrar que I(E) é denso em E/E0. Seja [ξ] ∈ E/E0 qualquer classe.Tome um representante (xn)n≥0 ∈ [ξ]. Como o representante é uma sequência deCauchy, dado ε > 0 existe n0 ∈ N tal que n > n0 implica ‖xn − xn0‖ < ε. Entãoconsidere (xn0 , xn0 , · · · ) = Ixn0 ∈ I(E). Temos:

‖[ξ] − Ixn0‖ = ‖[(xn)n≥0] − [(xn0)]‖ = ‖[(xn − xn0)n≥0]‖ = limn→+∞ ‖xn − xn0‖ ≤ ε,

pois ‖xn − xn0‖ < ε para todo n > n0 implica limn→+∞ ‖xn − xn0‖ ≤ ε). PortantoIxn0 está na bola centrada em [ξ] de raio ε, o que conclui o argumento.

Exercício 14. Seja Cn≥2 com a norma uniforme ‖·‖∞. Para x = (x1, x2, . . . , xn) defina:

T(x) =

(n∑j=1

α1jxj, . . . ,

n∑j=1

αnjxj

).

Mostre que T é um operador linear limitado e calcule a sua norma.

Solução: Sejam x = (xj)nj=1, (yj)

nj=1 ∈ Cn e λ ∈ C. Vejamos que T é linear.

T(x+ λy) =

(n∑j=1

α1j(xj + λyj), . . . ,

n∑j=1

αnj(xj + λyj)

)

=

(n∑j=1

α1jxj + λα1jyj, . . . ,

n∑j=1

αnjxj + λαnjyj

)

=

(n∑j=1

α1jxj + λ

n∑j=1

α1jyj, . . . ,

n∑j=1

αnjxj + λ

n∑j=1

αnjyj

)

=

(n∑j=1

α1jxj, . . . ,

n∑j=1

αnjxj

)+ λ

(n∑j=1

α1jyj, . . . ,

n∑j=1

αnjyj

)= T(x) + λT(y).

Agora vejamos que T é limitado. Fixe um índice i entre 1 e n qualquer. Temos:∣∣∣∣∣n∑j=1

αijxj

∣∣∣∣∣ ≤n∑j=1

|αij| |xj| ≤n∑j=1

|αij|‖x‖∞ =

(n∑j=1

|αij|

)‖x‖∞ ≤

(max1≤i≤n

n∑j=1

|αij|

)‖x‖∞.

Tomando o máximo em i do lado esquerdo, temos:

‖T(x)‖∞ ≤(max1≤i≤n

n∑j=1

|αij|

)‖x‖∞.

Portanto T é limitado e ‖T‖ ≤ max1≤i≤n∑n

j=1 |αij|. Vejamos que vale a igualdade. Sejai∗ o índice que realiza o máximo. Então seja x ∈ Cn o vetor cuja j-ésima coordenadaseja αi∗j/|αi∗j| se αi∗j 6= 0, e 0 caso contrário. Então temos que ‖x‖∞ = 1 (pois omódulo de todas as suas entradas é 1), e a i∗-ésima coordenada de T(x) verifica:∣∣∣∣∣

n∑j=1

αi∗jαi∗j

|αi∗j|

∣∣∣∣∣ =∣∣∣∣∣n∑j=1

|αi∗j|2

|αi∗j|

∣∣∣∣∣ =∣∣∣∣∣n∑j=1

|αi∗j|

∣∣∣∣∣ =n∑j=1

|αi∗j| = max1≤i≤n

n∑j=1

|αij|.

Portanto ‖T‖ = max1≤i≤n∑n

j=1 |αij|.

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Exercício 15. Para x = (xn)n≥0 ∈ `2(N), defina:

T(x) = (xn+1)n≥0 ∈ `2(N).

Mostre que T é um operador linear limitado e calcule a sua norma.

Solução: Sejam x = (xn)n≥0, y = (yn)n≥0 ∈ `2(N), e λ ∈ C. Vejamos que T é linear.Temos:

T(x+ λy) = (xn+1 + λyn+1)n≥0 = (xn+1)n≥0 + λ(yn+1)n≥0 = T(x) + λT(y).

E também temos:

‖T(x)‖2 =

(∑n≥0

x2n+1

)1/2

(∑n≥0

x2n

)1/2

= ‖x‖2,

pois apenas estamos acrescentando o termo x20 na soma. Assim T é limitado e‖T‖ ≤ 1. Para ver que a igualdade ocorre basta considerar x = (0, 1,0, . . .) ∈ `2(N).Claramente temos ‖x‖2 = 1, T(x) = (1,0,0, · · · ) e por fim ‖T(x)‖2 = 1. Assim ‖T‖ = 1.

Exercício 16. Seja BC(]0,+∞[) o espaço linear das funções limitadas na semi-reta]0,+∞[, equipado com a norma uniforme. Defina T ∈ L(BC(]0,+∞[)) por:

(Tx)(t) =1t

∫ t0x(τ) dτ.

Mostre que T é um operador linear limitado e calcule a sua norma.

Solução: Sejam x, y ∈ BC(]0,+∞[) e λ ∈ R. Vejamos que T é linear. Temos,qualquer que seja t > 0:

(T(x+ λy))(t) =1t

∫ t0(x+ λy)(τ) dτ = 1

t

∫ t0x(τ) + λy(τ) dτ

=1t

∫ t0x(τ) dτ+ 1

t

∫ t0λy(τ) dτ

=1t

∫ t0x(τ) dτ+ λ1

t

∫ t0y(τ) dτ

= (Tx)(t) + λ(Ty)(t) = (Tx)(t) + (λTy)(t)

= (Tx+ λTy)(t).

Logo T(x+ λy) = Tx+ λTy. Agora vejamos que T é limitado. Temos:

|Tx(t)| =

∣∣∣∣1t∫ t0x(τ) dτ

∣∣∣∣ ≤ 1t

∫ t0|x(τ)| dτ ≤ 1

t

∫ t0‖x‖∞ dτ = ‖x‖∞.

Tomando o sup em t obtemos ‖Tx‖∞ ≤ ‖x‖∞, portanto T é limitado e ‖T‖ ≤ 1.Vejamos agora que vale a igualdade. Considere x :]0,+∞[→ R dado por x(t) = 1para todo t > 0. Claramente ‖x‖∞ = 1. E:

|Tx(t)| =

∣∣∣∣1t∫ t0dτ∣∣∣∣ = 1

tt = 1.

Portanto ‖T‖ = 1.

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Exercício 17. Seja P([0, 1]) o conjunto dos polinômios no intervalo [0, 1] equipado coma norma uniforme:

‖x‖∞ = max|x(t)| | t ∈ [0, 1].Para x ∈ P([0, 1]), seja:

(Tx)(t) = x ′(t) =dx(t)dt

.

Mostre que T é um operador linear não limitado.

Solução: Sejam x, y ∈ P([0, 1]) e λ ∈ C. Então:

(T(x+ λy))(t) = (x+ λy) ′(t) = x ′(t) + λy ′(t) = Tx(t) + λTy(t) = (Tx+ λTy)(t).

Como t ∈ [0, 1] é qualquer, T(x + λy) = Tx + λTy, e T é linear. Para verificar que Tnão é limitado, vejamos que T não é limitado na esfera: para cada n ∈ N, considerexn : [0, 1] → C dado por xn(t) = tn. Então temos ‖xn‖∞ = 1 qualquer que seja n,porém (Txn)(t) = nt

n−1 e daí ‖Txn‖∞ = n.

Exercício 18. Seja X um espaço normado e F um subespaço fechado de X. Defina afunção quociente:

q : X→ X/F q(x) = [x] = x+ F.

Mostre que q é um operador limitado cuja norma é ‖q‖ = 1.

Solução: Sejam x, y ∈ X e λ ∈ C. Temos:

q(x+ λy) = (x+ λy) + F = (x+ F) + (λy+ F) = (x+ F) + λ(y+ F) = q(x) + λq(y),

portanto q é linear. Por um lado, temos que ‖q(x)‖ = ‖x + F‖ ≤ ‖x‖, tomandoy = 0 ∈ F e recordando a definição de ‖x + F‖ como o ínfimo das normas dosrepresentantes da classe. Disto segue que q é limitado e ‖q‖ ≤ 1. Agora sejaα ∈]0, 1[. Aí 1/α > 1 e:

1α‖x+ F‖ > ‖x+ F‖.

Então existe y ∈ F tal que:1α‖x+ F‖ > ‖x+ y‖.

Chame z = x+ y. Então temos que q(x) = q(z), pois y ∈ F. Reorganizando a últimaexpressão temos:

1α‖z+ F‖ > ‖z‖ =⇒ ‖q(z)‖ > α‖z‖.

Como α entre 0 e 1 era qualquer, segue que ‖q‖ ≥ 1. Concluímos que ‖q‖ = 1.

Exercício 19. Mostre que: se Y é um espaço de Banach, então (B(X, Y), ‖ · ‖∞) é umespaço de Banach.

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Solução: Que B(X, Y) com as operações definidas pontualmente é um espaço vetoriale é normado com ‖ · ‖∞ segue do exercício 11. Resta ver que é completo. Seja(Tn)n≥0 ⊆ B(X, Y) uma sequência de ‖ · ‖∞-Cauchy. Vamos provar que para todox ∈ E, (Tnx)n≥0 é uma sequência de Cauchy em Y. Se x = 0 é óbvio. Suponha x 6= 0e seja ε > 0. Existe n0 ∈ N tal que m,n > n0 implica ‖Tn − Tm‖∞ ≤ ε/‖x‖. Então sem,n > n0, temos:

‖Tnx− Tmx‖ = ‖(Tn − Tm)(x)‖ ≤ ‖Tn − Tm‖∞‖x‖ < ε

‖x‖‖x‖ = ε.

Assim (Tnx)n≥0 é uma sequência de Cauchy em Y, e como Y é Banach, existe y =limn→+∞ Tnx. Defina T : X→ Y pondo Tx = y. Vejamos que T é linear. Sejam x, y ∈ Xe λ ∈ C:

T(x+ λy) = limn→+∞ Tn(x+ λy) = lim

n→+∞ Tnx+ λTny = limn→+∞ Tnx+ λ lim

n→+∞ Tny = Tx+ λTy.

Agora vejamos que Tn‖·‖∞−→ T e que T ∈ B(X, Y).

Seja ε > 0. Existe n0 ∈ N tal que:

‖Tn − Tm‖∞ < ε, ∀m,n > n0

supx6=0

‖Tnx− Tmx‖‖x‖

< ε, ∀m,n > n0

‖Tnx− Tmx‖‖x‖

< ε, ∀m,n > n0, ∀x 6= 0

limm→+∞

‖Tnx− Tmx‖‖x‖

≤ ε, ∀n > n0, ∀x 6= 0

‖Tnx− Tx‖‖x‖

≤ ε, ∀n > n0, ∀x 6= 0

supx6=0

‖Tnx− Tx‖‖x‖

≤ ε, ∀n > n0

‖Tn − T‖∞ ≤ ε, ∀n > n0,

portanto Tn‖·‖∞−→ T . O argumento acima também mostra que fixado, digamos, ε = 1 e

o n0 correspondente, Tn0 − T ∈ B(X, Y), donde T = Tn0 − (Tn0 − T) ∈ B(X, Y). PortantoB(X, Y) é um espaço de Banach com a norma ‖ · ‖∞.

Exercício 20 (Teorema de Baire). Seja M um espaço métrico completo. Se (Un)n≥0é uma sequência de abertos densos em M, então:

G =⋂n≥0

Un

é um conjunto Gδ denso em M.

Solução: Seja A um aberto não vazio. Então A ∩ U0 6= ∅ pois U0 é denso em M.Tome x0 ∈ A ∩ U0, que é aberto por ser a interseção de dois abertos. Então existe0 < r0 < 1 tal que:

x0 ∈ B(x0, r0) ⊆ B(x0, r0) ⊆ A ∩U0.

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Então como U1 é denso em M e B(x0, r0) é aberto, a interseção é aberta e não vazia,donde podemos escolher x1 ∈ B(x0, r0) ∩U1 e 0 < r1 < 1/2 tal que:

x1 ∈ B(x1, r1) ⊆ B(x1, r1) ⊆ B(x0, r0) ∩U1.

Prosseguindo indutivamente, conseguimos xn ∈ B(xn−1, rn−1)∩Un e 0 < rn < 1/(n+ 1)tal que:

xn ∈ B(xn, rn) ⊆ B(xn, rn) ⊆ B(xn−1, rn−1) ∩Un.

Então temos que B(xn, rn)n≥0 é uma sequência de fechados encaixados, e:

0 ≤ diam(B(xn, rn)) ≤ 1/(n+ 1) n→+∞−→ 0,

donde os diâmetros vão pra zero. Como M é completo, temos que:⋂n≥0 B(xn, rn) 6=

∅. Fixe x ∈⋂n≥0 B(xn, rn). Então para todo n ≥ 0, x ∈ B(xn, rn) ⊆ Un, donde x ∈ G.

E também x ∈ B(x0, r0) ⊆ A. Então x ∈ A ∩ G, e assim concluímos que G é densoem M.

Exercício 21. Seja C([a, b]). Para cada x ∈ C([a, b]) defina f : X→ R por:

f(x) =

∫ba

x(t) dt.

Mostre que f é um funcional linear limitado cuja norma é igual a b− a.

Solução: Sejam x, y ∈ C([a, b]) e λ ∈ C. Temos:

f(x+λy) =

∫ba

(x+λy)(t) dt =∫ba

x(t)+λy(t) dt =∫ba

x(t) dt+λ∫ba

y(t) dt = f(x)+λf(y).

Portanto f é um funcional linear. E também:

|f(x)| =

∣∣∣∣∫ba

x(t) dt∣∣∣∣ ≤ ∫b

a

|x(t)| dt ≤∫ba

‖x‖∞ dt = (b− a)‖x‖∞,portanto f é limitado e ‖f‖ ≤ b − a. Agora considere a função x : [a, b] → R dadapor x(t) = 1 para todo t. É claro que ‖x‖∞ = 1. E:

|f(x)| =

∣∣∣∣∫ba

x(t) dt∣∣∣∣ = ∣∣∣∣∫b

a

dt∣∣∣∣ = b− a.

Concluímos que ‖f‖ = b− a.

Exercício 22. Seja C([a, b]). Fixe t ∈ [a, b] e defina δt : C([a, b])→ R por:

δt(x) = x(t).

Mostre que o funcional linear chamado de avaliação no ponto t, é um funcional linearlimitado cuja norma é igual a 1.

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Solução: Sejam x, y ∈ C([a, b]) e λ ∈ R. Temos:

δt(x+ λy) = (x+ λy)(t) = x(t) + λy(t) = δt(x) + λδt(y),

portanto δt é um funcional linear. Temos:

|δt(x)| = |x(t)| ≤ ‖x‖∞,daí δt é um funcional linear limitado e ‖δt‖ ≤ 1. Agora considere x : [a, b] → R

dado por x(t) = 1 para todo t. É claro que ‖x‖∞ = 1. E |δt(x)| = |x(t)| = 1 = ‖x‖∞.Concluímos que ‖δt‖ = 1.

Exercício 23. Seja C([a, b]). Fixe c1, c2, . . . , cn números reais. Defina f : C([a, b])→ R

por:

f(x) =

n∑j=1

cjx(tj) para t1, t2, . . . , tn ∈ [a, b].

Mostre que f é um funcional linear limitado.

Solução: Sejam x, y ∈ C([a, b]) e λ ∈ C. Temos:

f(x+ λy) =

n∑j=1

cj(x+ λy)(tj) =

n∑j=1

cj(x(tj) + λy(tj))

=

n∑j=1

cjx(tj) + λcjy(tj) =

n∑j=1

cjx(tj) + λ

n∑j=1

cjy(tj)

= f(x) + λf(y),

portanto f é um funcional linear. E também:

|f(x)| =

∣∣∣∣∣n∑j=1

cjx(tj)

∣∣∣∣∣ ≤n∑j=1

|cj||x(tj)| ≤n∑j=1

|cj|‖x‖∞ =

(n∑j=1

|cj|

)‖x‖∞,

portanto f é um funcional limitado e ‖f‖ ≤∑n

j=1 |cj|.

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4 Lista 4Exercício 1. Mostre que o espaço dual de `1(N) é isometricamente isomorfo a `∞(N),isto é, `1(N)∗ ∼= `∞(N).

Solução: Fixe (en)n≥1 a base de Schauder usual de `1(N). Defina Φ : `1(N)∗ → `∞(N)pondo Φ(f) = (f(en))n≥1. Vejamos que Φ(f) de fato está em `∞(N). Temos:

|f(en)| ≤ ‖f‖‖en‖1 = ‖f‖, ∀n ≥ 1 =⇒ ‖Φ(f)‖∞ = supn≥1

|f(en)| ≤ ‖f‖ < +∞.Agora afirmo que Φ é linear. Se f, g ∈ `1(N)∗ e λ ∈ C, temos:

Φ(f+ λg) = ((f+ λg)(en))n≥1 = (f(en) + λg(en))n≥1= (f(en))n≥1 + (λg(en))n≥1 = (f(en))n≥0 + λ(g(en))n≥1= Φ(f) + λΦ(g)

Então Φ é um operador linear limitado.Vejamos que Φ é sobrejetor. Seja y = (yn)n≥1 ∈ `∞(N). Queremos f ∈ `1(N)∗

tal que Φ(f) = y. Sendo x = (xn)n≥1, defina f : `1(N) → C por f(x) =∑

n≥1 xnyn.Devemos verificar que de fato f(x) ∈ C, isto é, que a série anterior converge. Temos:

|f(x)| =

∣∣∣∣∣∑n≥1

xnyn

∣∣∣∣∣ ≤∑n≥1

|xn||yn| ≤∑n≥1

|xn|‖y‖∞ =

(∑n≥1

|xn|

)‖y‖∞ = ‖x‖1‖y‖∞ < +∞.

Isto já nos dá que f assume valores em C, e tomando o supremo na bola unitária,que ‖f‖ ≤ ‖y‖1. Vejamos que f é linear. Chame x(1) = (x

(1)n )n≥1, x

(2) = (x(2)n )n≥1 ∈ `1(N)

e λ ∈ C.

f(x(1) + λx(2)) =∑n≥1

(x(1)n + λx(2)n )yn =∑n≥1

x(1)n yn + λx(2)n yn

=∑n≥1

x(1)n yn +∑n≥1

λx(2)n )yn =∑n≥1

x(1)n yn + λ∑n≥1

x(2)n )yn

= f(x(1)) + λf(x(2)).

Assim f é um funcional linear limitado, em outras palavras, f ∈ `1(N)∗. Isto provaque Φ é sobrejetora.

Verificar que Φ preserva normas também garante injetividade de Φ. Fixe f ∈`1(N)∗ qualquer. Já temos a desigualdade ‖Φ(f)‖∞ ≤ ‖f‖. Por outro lado, tomex = (xn)n≥1 ∈ `1(N) qualquer. Temos:

|f(x)| =

∣∣∣∣∣f(∑n≥1

xnen

)∣∣∣∣∣ =∣∣∣∣∣∑n≥1

xnf(en)

∣∣∣∣∣≤∑n≥1

|xn||f(en)| ≤∑n≥1

|xn|‖Φ(f)‖∞

≤ ‖Φ(f)‖∞∑n≥1

|xn| = ‖Φ(f)‖∞‖x‖1.

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Assim:‖f‖ = sup

‖x‖≤1|f(x)| ≤ ‖Φ(f)‖∞.

Concluímos que ‖f‖ = ‖Φ(f)‖∞ qualquer que seja f ∈ `1(N)∗. Assim Φ é tambéminjetora, e portanto um isomorfismo isométrico entre `1(N)∗ e `∞(N).

Exercício 2. Mostre que o espaço dual de c0(N) é isometricamente isomorfo a `1(N),isto é, c0(N)∗ ∼= `1(N).

Solução: Defina:

Φ : `1(N)→ c0(N)∗

x = (xn)n≥1 7→ Φ(x) : c0(N)→ C

y = (yn)n≥1 7→ Φ(x)(y) =∑n≥1

xnyn.

Repetindo os passos do exercício anterior, temos que Φ é uma aplicação linear, eΦ(x) também, para cada x ∈ `1(N). Vejamos agora que Φ(x) é limitada e que de fatoassume valores em C (isto é, a série converge):

|Φ(x)(y)| =

∣∣∣∣∣∑n≥1

xnyn

∣∣∣∣∣ ≤∑n≥1

|xn||yn| ≤∑]n≥1

|xn|‖y‖∞ =

(∑n≥1

|xn|

)‖y‖∞ = ‖x‖1‖y‖∞,

donde ‖Φ(x)‖ ≤ ‖x‖1. Vejamos agora que vale a igualdade. Para cada m ≥ 1, definauma sequência truncada y = (yn)n≥1, por yn = xn/|xn| se n ≤ m e |xn| 6= 0, yn = 1se xn = 0 e n ≥ m, e por fim yn = 0 para todo n > m. Por construção, y ∈ c0(N) e‖y‖∞ = 1. E temos:

‖Φ(x)‖ = ‖Φ(x)‖‖y‖∞ ≥ |Φ(x)(y)| =

∣∣∣∣∣∑n≥1

xnyn

∣∣∣∣∣ =m∑n=1

|xn|, ∀m ≥ 1.

Fazendo m→ +∞ obtemos ‖Φ(x)‖ ≥ ‖x‖1, portanto Φ preserva normas e é injetora.Agora só resta ver que Φ é sobrejetora. Para isto, seja f ∈ c0(N)∗. Fixe (en)n≥1 =

((δnm)m≥1)n≥1 uma base de Schauder de c0(N). Como antes, para cada m ≥ 1, definauma sequência truncada

∑mn=1

f(en)|f(en)|en, convencionando que o coeficiente de ek seja 1

se f(ek) = 0. É claro que esta última sequência unitária está em c0(N) e tem norma1. Temos:∣∣∣∣∣f

(m∑n=1

f(en)|f(en)|

en

)∣∣∣∣∣ =m∑n=1

|f(en)| ≤ ‖f‖

∥∥∥∥∥m∑n=1

f(en)|f(en)|

en

∥∥∥∥∥ = ‖f‖, ∀m ≥ 1.

Fazendo m → +∞ obtemos∑

n≥1 |f(en)| ≤ ‖f‖ < ∞, de modo que (f(en))n≥1 ∈ `1(N).Finalmente, se y = (yn)n≥1 ∈ c0(N) é qualquer, vale que:

f(y) = f

(∑n≥1

ynen

)=∑n≥1

ynf(en) = Φ((f(en))n≥1)(y),

e assim f = Φ((f(en))n≥1). Concluímos que Φ é sobrejetora. Portanto Φ é umisomorfismo isométrico entre c0(N)∗ e `1(N), isto é, c0(N)∗ ∼= `1(N).

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Observação 4.1. À primeira vista pode parecer que Φ é um isomorfismo isométricoentre `∞(N)∗ e `1(N). Não é o caso, pois a sequência (en)n≥1 = ((δnm)m≥1)n≥1 é umabase de Schauder de c0(N), mas não de `∞(N), então a construção feita para verificara sobrejetividade de Φ falha para `∞(N).

Exercício 3. Enuncie e mostre a desigualdade de Hölder para `p(N) e `q(N).

Solução: Sejam p e q tais que 1 < p, q < +∞ e (1/p) + (1/q) = 1. Então dadox = (xn)n≥1 ∈ `p(N) e y = (yn)n≥1 ∈ `q(N), vale que:∑

n≥1

|xnyn| ≤ ‖x‖p‖y‖q.

Primeiro provaremos a desigualdade de Young: se a, b ≥ 0 e p, q são como acima,então vale que:

ab ≤ ap

p+bq

q.

Se a ou b forem zero, é trivial. Então suponha que são ambos não nulos. Consideref : R → R dada por f(s) = es. Então f ′′(s) = es > 0 e f é convexa, portanto dadosα,β ∈ R, e t ∈ (0, 1), vale que:

f(tα+ (1− t)β) ≤ tf(α) + (1− t)f(β)

Isto é:etαe(1−t)β ≤ teα + (1− t)eβ.

Como a, b > 0, tome α = lnap, β = lnbq, e escolha t = 1/p, de modo que 1− t = 1/q.Substituição direta nos dá:

e1plnape

1qln bq ≤ e

lnap

p+eln b

q

q=⇒ ab ≤ a

p

p+bq

q.

Agora provemos a desigualdade de Hölder. Faça na desigualdade de Young a =|xn|/‖x‖p e b = |yn|/‖y‖q. Temos:

|xnyn|

‖x‖p‖y‖q≤ 1p

|xn|p

‖x‖pp+

1q

|yn|q

‖y‖qq, ∀n ≥ 1.

Então podemos fazer a soma:∑n≥1

|xnyn|

‖x‖p‖y‖q≤∑n≥1

(1p

|xn|p

‖x‖pp+

1q

|yn|q

‖y‖qq

)1

‖x‖p‖y‖q

∑n≥1

|xnyn| ≤∑n≥1

1p

|xn|p

‖x‖pp+∑n≥1

1q

|yn|q

‖y‖qq1

‖x‖p‖y‖q

∑n≥1

|xnyn| ≤1

p‖x‖pp

∑n≥1

|xn|p +

1q‖y‖qq

∑n≥1

|yn|q

1‖x‖p‖y‖q

∑n≥1

|xnyn| ≤1

p‖x‖pp‖x‖pp +

1q‖y‖qq

‖y‖qq

1‖x‖p‖y‖q

∑n≥1

|xnyn| ≤1p+

1q= 1.

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Multiplicando tudo por ‖x‖p‖y‖q segue que:∑n≥1

|xnyn| ≤ ‖x‖p‖y‖q.

Exercício 4. Mostre que o espaço dual de `p(N) é isometricamente isomorfo à `q(N),isto é, `p(N)∗ ∼= `q(N), onde:

1p+

1q= 1 e 1 < p, q < +∞.

Solução: Vamos nos organizar com o:

Lema 4.1. Sejam 1 < p, q < +∞ tais que 1p+ 1

q= 1, e x = (xn)n≥1 ∈ `p(N) qualquer.

Então:

‖x‖p = sup‖y‖q=q

∣∣∣∣∣∑n≥1

xnyn

∣∣∣∣∣ ,onde y = (yn)n≥1.

Demonstração: Pela Desigualdade de Hölder temos que:∣∣∣∣∣∑n≥1

xnyn

∣∣∣∣∣ ≤∑n≥1

|xnyn| ≤ ‖x‖p‖y‖q, ∀y ∈ `q(N),

e tomando o supremo obtemos a desigualdade sup‖y‖q=1∣∣∑

n≥1 xnyn∣∣ ≤ ‖x‖p. Para

realizar a igualdade, considere y = (yn)n≥1, com yn = xn|xn|(p/q)−1/‖x‖p/qp . Então:∣∣∣∣∣∑

n≥1

xnxn|xn|

pq−1

‖x‖p/qp

∣∣∣∣∣ =∣∣∣∣∣∑n≥1

|xn|pq+1

‖x‖p/qp

∣∣∣∣∣ = 1‖x‖p/qp

∣∣∣∣∣∑n≥1

|xn|p

∣∣∣∣∣ = 1‖x‖p/qp

‖x‖pp = ‖x‖p−p

qp = ‖x‖p

Defina:

Φ : `q(N)→ `p(N)∗

x = (xn)n≥1 7→ Φ(x) : `p(N)→ C

y = (yn)n≥1 7→ Φ(x)(y) =∑n≥1

xnyn.

Temos que:

|Φ(x)(y)| =

∣∣∣∣∣∑n≥1

xnyn

∣∣∣∣∣ ≤ ‖x‖q‖y‖p =⇒ ‖Φ(x)‖ ≤ ‖x‖q,

pela Desigualdade de Hölder. Então pelo Lema, temos:

‖x‖q = sup‖y‖p=1

∣∣∣∣∣∑n≥1

xnyn

∣∣∣∣∣ = sup‖y‖p=1

|Φ(x)(y)| = ‖Φ(x)‖.

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Desta forma, Φ preserva normas e é injetora. Agora vejamos que Φ é sobrejetora.Tome f ∈ `p(N)∗ e fixe uma base de Schauder, a canônica: (en)n≥1 = ((δnm)m≥1)n≥1.Para qualquer y ∈ `p(N), temos:

f(y) = f

(∑n≥1

ynen

)=∑n≥1

ynf(en) = Φ((f(en))n≥1)(y),

donde temos que f = Φ((f(en))n≥1). Para concluir, só precisamos verificar que(f(en))n≥1 ∈ `q(N). Considere, para cadam ≥ 1, as sequências truncadas

∑mn=1

ynf(en)|ynf(en)|ynen,

convencionando que o coeficiente de ek seja 1 se ykf(ek) = 0. Na expressão anterior,isto nos dá:

f

(m∑n=1

ynf(en)|ynf(en)|

ynen

)=

m∑n=1

|ynf(en)| ≤ ‖f‖

∥∥∥∥∥m∑n=1

ynf(en)|ynf(en)|

ynen

∥∥∥∥∥p

≤ ‖f‖‖y‖p, ∀m ≥ 1

Tomando o supremo sobre os y ∈ `p(N) com ‖y‖p = 1, e fazendo m → +∞, peloLema temos que:

‖(f(en))n≥1‖q ≤ ‖f‖ < +∞.Assim Φ é também sobrejetora, e concluímos que Φ é um isomorfismo isométricoentre `p(N)∗ e `q(N). Em outras palavras, `p(N)∗ ∼= `q(N).

Exercício 5. Seja H um espaço de Hilbert sobre o corpo R. Mostre que H∗ é isome-tricamente isomorfo a H.

Solução: Defina Φ : H → H∗, pondo Φ(x) : H → R, definida por Φ(x)(y) = 〈x, y〉.Fixado x, e dados y1, y2 ∈ H, λ ∈ R, temos:

Φ(x)(y1 + λy2) = 〈x, y1 + λy2〉 = 〈x, y1〉+ 〈x, λy2〉= 〈x, y1〉+ λ〈x, y2〉 = Φ(x)(y1) + λΦ(x)(y2).

Assim Φ(x) é linear. Ainda mais:

|Φ(x)(y)| = |〈x, y〉| ≤ ‖x‖‖y‖,

logo Φ(x) é limitada e vale ‖Φ(x)‖ ≤ ‖x‖. Isto garante que de fato temos Φ(x) ∈ H∗.Agora, tome y qualquer em H. Temos que dados x1, x2 ∈ H e λ ∈ R, vale:

Φ(x1 + λx2)(y) = 〈x1 + λx2, y〉 = 〈x1, y〉+ 〈λx2, y〉= 〈x1, y〉+ λ〈x2, y〉 = Φ(x1)(y) + λΦ(x2)(y).

Como y era arbitrário temos Φ(x1 + λx2) = Φ(x1) + λΦ(x2), assim Φ é linear. Severificarmos que Φ preserva normas, a injetividade de Φ segue imediatamente. Temosque ‖Φ(0)‖ = ‖0‖ = 0 trivialmente. Se x 6= 0, temos que x/‖x‖ tem norma 1 e:∣∣∣∣Φ(x)

(x

‖x‖

)∣∣∣∣ = ∣∣∣∣⟨x, x‖x‖⟩∣∣∣∣ = ∣∣∣∣〈x, x〉‖x‖

∣∣∣∣ = ‖x‖2‖x‖= ‖x‖.

Isto juntamente com a desigualdade ‖Φ(x)‖ ≤ ‖x‖ nos dá que ‖Φ(x)‖ = ‖x‖, paratodo x ∈ H. A sobrejetividade de Φ segue do fato de H ser um espaço de Hilbert,pelo Teorema da Representação de Riesz. Portanto Φ é um isomorfismo isométricoentre H e H∗.

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Exercício 6. Seja H um espaço de Hilbert sobre o corpo C. Mostre que H é isometri-camente isomorfo a um subespaço de H∗.

Solução: A estratégia anterior falha pois a aplicação Φ será linear-conjugada, enão linear. Façamos o caso em que H é separável e temos um sistema ortonormalcompleto (en)n≥1. É suficiente mostrar que H ∼= `2(N), pois isto nos dá que:

H∗ ∼= `2(N)∗ ∼= `2(N) ∼= H,

pelo exercício 4.Defina Φ : H → `2(N) por Φ(x) = (〈x, en〉)n≥1. A linearidade de Φ segue da

linearidade de 〈·, ·〉 na primeira entrada: com efeito, sejam x, y ∈ H e λ ∈ C. Temos:

Φ(x+ λy) = (〈x+ λy, en〉)n≥1 = (〈x, en〉+ λ〈y, en〉)n≥1= (〈x, en〉)n≥1 + λ(〈y, en〉)n≥1 = Φx+ λΦy.

Pela Identidade de Parseval, temos que:∑n≥1

|〈x, en〉|2 = ‖x‖2 < +∞,de modo que Φ de fato assume valores em `2(N). Ainda mais, Φ preserva produtosinternos, e logo normas:

〈Φx,Φy〉 =∑n≥1

〈x, en〉〈y, en〉 =

⟨∑n≥1

〈x, en〉en,∑n≥1

〈y, en〉en

⟩= 〈x, y〉,

novamente pela Identidade de Parseval. Segue que Φ é injetora. Só resta ver que Φé sobrejetora. Tome (an)n≥1 ∈ `2(N). Então temos que dado p > 0, vale que:∥∥∥∥∥

n+p∑k=1

akek −n∑k=1

akek

∥∥∥∥∥ =

∥∥∥∥∥n+p∑k=n+1

akek

∥∥∥∥∥ =

√√√√ n+p∑k=n+1

|ak|2n→+∞−→ 0,

pois (an)n≥1 ∈ `2(N). Assim (∑n

k=1 akek)n≥1 ⊆ H é uma sequência de Cauchy em H.Mas H é um espaço de Hilbert, logo existe x =

∑n≥1 anen ∈ H. Porém, para cada

n ≥ 1, temos 〈x, en〉 = an, de modo que Φx = (an)n≥1, e portanto Φ é sobrejetora.

Observação 4.2. Se não supormos H separável, basta tomarmos um sistema ortonor-mal maximal ej | j ∈ J e repetir os argumentos acima para `2(J) = (xj)j∈J ⊆ H |∑

j∈J |xj|2 < +∞. Analogamente define-se `p(J) e provam-se os resultados análogos

enunciados para `p(N).

Exercício 7. Sejam X e Y espaços lineares normados sobre um mesmo corpo K.Mostre que se T ∈ B(X, Y), então ker T é um subespaço linear fechado de X.

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Solução: As operações de ker T são induzidas das de X, então todas as propriedadesvalem automaticamente. Se x, y ∈ ker T e λ ∈ K, vale que:

T(x+ λy) = Tx+ λTy = 0+ λ0 = 0,

assim x+ λy ∈ ker T . E finalmente, reconheça que:

ker T = x ∈ X | Tx = 0 = T−1(0)

é fechado, por ser a pré-imagem de um conjunto fechado, 0, por uma funçãocontínua, T (pois T ∈ B(X, Y)).

Exercício 8 (P3). Mostre que o operador "right-shift" R : `2(N)→ `2(N) definido por:

R((x1, x2, · · · , xn, · · · )) = (0, x1, x2, · · · , xn, · · · )

é um operador limitado em `2(N) e ache sua norma.

Solução: Vejamos que R é linear. Dadas sequências x = (xn)n≥1, y = (yn)n≥1 ∈`2(N), e λ ∈ R, temos:

R(x+ λy) = (0, x1 + λy1, · · · , xn + λyn, · · · )= (0, x1, · · · , xn, · · · ) + (λ0, λy1, · · · , λyn, · · · )= (0, x1, · · · , xn, · · · ) + λ(0, y1, · · · , yn, · · · )= Rx+ λRy.

Mantendo a notação acima, escreva Rx = ((Rx)n)n≥1, com (Rx)1 = 0 e (Rx)n = xn−1se n > 1. Temos:

‖Rx‖22 =∑n≥1

|(Rx)n|2 =∑n≥2

|(Rx)n|2 =∑n≥2

|xn−1|2 =∑n≥1

|xn|2 = ‖x‖22.

Extraindo raízes, vem ‖Rx‖2 = ‖x‖2. Como x ∈ `2(N) era arbitrário, segue que R élimitado e ‖R‖ = 1.

Exercício 9. Fixe x ∈ C(] − π, π[). Mostre que o operador "multiplicação" Mx :L2(] − π, π[)→ L2(] − π, π[) definido por:

Mx(y) = xy onde Mx(y)(t) = x(t)y(t), ∀ t ∈] − π, π[

é um operador limitado em L2(] − π, π[).

Solução: Se o intervalo for aberto o resultado é falso, basta tomar x(t) = 1/(t− π)e y ≡ 1 ∈ L2(]−π, π[) para que a integral não seja finita. Então troquemos o intervalo

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aberto pelo fechado. Vejamos que Mx é linear. Fixe y1, y2 ∈ L2([−π, π]) e λ ∈ C.Fixado t ∈ [−π, π] qualquer, vale:

Mx(y1 + λy2)(t) = x(t)(y1 + λy2)(t) = x(t)(y1(t) + (λy2)(t))

= x(t)(y1(t) + λy2(t)) = x(t)y1(t) + x(t)(λy2(t))

= x(t)y1(t) + λx(t)y2(t) =Mx(y1)(t) + λMx(y2)(t)

= (Mx(y1) + λMx(y2)(t).

Como t é arbitrário vem que Mx(y1 + λy2) =Mx(y1) + λMx(y2). E por fim, temos:

‖Mx(y)‖22 =∫[−π,π]

|x(t)y(t)|2 dt =∫[−π,π]

|x(t)|2|y(t)|2 dt

≤∫[−π,π]

‖x‖2∞|y(t)|2 dt = ‖x‖2∞∫[−π,π]

|y(t)|2 dt

= ‖x‖2∞‖y‖22Extraíndo raízes vem que ‖Mx(y)‖2 ≤ ‖x‖∞‖y‖2, portantoMx é um operador limitadoe ‖Mx‖ ≤ ‖x‖∞.

Exercício 10 (P3). Fixe x = (x1, x2, . . . , xn, . . .) ∈ `∞(N). Mostre que o operadorMx : `2(N)→ `2(N) definido por:

Mx(y) = (x1y1, x2y2, . . . , xnyn, . . .)

é um operador limitado em `2(N) e que ‖Mx‖ = ‖x‖∞.

Solução: Vejamos que Mx é linear. Dados y = (yn)n≥0, z = (zn)n≥0 e λ ∈ C, temos:

Mx(y+ λz) = (xn(yn + λzn))n≥0 = (xnyn + λxnzn)n≥0

= (xnyn)n≥0 + (λxnzn)n≥0 = (xnyn)n≥0 + λ(xnzn)n≥0

=Mxy+ λMxz.

Agora vamos verificar que Mx é limitado. Temos:

‖Mxy‖22 =∑n≥0

|xnyn|2 ≤∑n≥0

‖x‖2∞|yn|2 = ‖x‖2∞∑

n≥0

|yn|2 = ‖x‖2∞‖y‖22,

e extraíndo raízes vem que ‖Mxy‖2 ≤ ‖x‖∞‖y‖2. Portanto ‖Mx‖ ≤ ‖x‖∞. O cálculoacima também mostra que Mx de fato assume valores em `2(N).

Agora, seja ε > 0. Por definição de ‖x‖∞, existe n0 ≥ 0 tal que |xn0 | > ‖x‖∞ − ε.Agora defina uma sequência y = (yn)n≥0 pondo yn0 = 1, e yn = 0 para todo n 6= n0.Claramente y ∈ `2(N) e ‖y‖2 = 1. E daí:

‖Mx‖ = ‖Mx‖‖y‖2 ≥ ‖Mxy‖2 =√∑

n≥0

|yn|2 =√|xn0 |

2 = |xn0 | > ‖x‖∞ − ε.

Como para todo ε > 0 temos ‖Mx‖ > ‖x‖∞−ε, concluímos que ‖Mx‖ ≥ ‖x‖∞. Destaforma obtemos ‖Mx‖ = ‖x‖∞.

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Exercício 11. Defina f : `2(N)→ C por:

f(x) =∑n≥1

xn

n2 onde x = (x1, x2, . . . , xn, . . .) ∈ `2(N).

Mostre que f é um funcional linear limitado e que ‖f‖ = π2/(3√10).

Solução: Se x = (xn)n≥1, y = (yn)n≥1 ∈ `2(N) e λ ∈ C, temos:

f(x+ λy) =∑n≥1

xn + λynn2 =

∑n≥1

xn

n2 + λyn

n2

=∑n≥1

xn

n2 + λ∑n≥1

yn

n2 = f(x) + λf(y).

Agora, pela desigualdade de Cauchy-Schwarz temos:

|f(x)| =

∣∣∣∣∣∑n≥1

xn

n2

∣∣∣∣∣ ≤√∑

n≥1

1n4‖x‖2 =

√π4

90‖x‖2 =

π2

3√10‖x‖2.

Portanto f é um operador linear limitado e ‖f‖ ≤ π2/(3√10). Podemos encarar f

como:f(x) = 〈x, y〉 =

∑n≥1

xnyn, y =

(1n2

)n≥1,

de modo que ‖f‖ = ‖y‖2 = π2/(3√10), por exercícios anteriores.16

16O cálculo de∑n≥1

1n4 = π4

90 utiliza Séries de Fourier, o teorema de Parseval, e está fora do escopoda resolução deste exercício.

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4.1 Aplicações do teorema de extensão de Hahn-BanachExercício 12 (P3). Seja M um subespaço do espaço linear normado (X, ‖ · ‖) e x ∈ Xtal que

d = d(x,M) = infy∈M‖x− y‖ > 0.

Mostre que existe x∗ ∈ X∗ tal que ‖x∗‖ = 1, x∗(x) = d e finalmente x∗(m) = 0 para cadam ∈M.

Solução: A ideia é definir um funcional linear limitado apenas em M⊕Cx e entãoestendê-lo pelo Teorema de Hahn-Banach. Cada elemento de M ⊕ Cx se escreveunicamente como m + αx, com m ∈ M e α ∈ C, e portanto está caracterizado pelocoeficiente α. Defina f :M⊕ Cx→ C pondo f(m+ αx) = αd(x,M). Vejamos que f élinear. Dados α1, α2, λ ∈ C, e dados m1,m2 ∈M, temos:

f(m1 + α1x+ λ(m2 + α2x)) = f(m1 +m2 + (α1 + λα2)x)

= (α1 + λα2)d(x,M)

= α1d(x,M) + λα2 d(x,M)

= f(m1 + α1x) + λf(m2 + α2x).

Se m ∈M, temos f(m) = f(m+ 0 · x) = 0 · d(x,M) = 0. E também temos que:

f(x) = f(0+ 1 · x) = 1 · d(x,M) = d(x,M).

Vejamos agora que f é limitado e que tem norma 1. Se m ∈M, claro que f(m) ≤ ‖m‖.Se tomarmos um elemento que não está em M, então o coeficiente α é não nulo epodemos escrever:

‖m+ αx‖ = |α|

∥∥∥∥ 1αm+ x

∥∥∥∥ ≥ |α|d(x,M) = |αd(x,M)| = |f(m+ αx)|.

Assim f é limitado e ‖f‖ ≤ 1. Para a outra desigualdade, seja ε > 0. Pela definiçãode d(x,M), existe mε ∈M tal que 0 < ‖x−mε‖ < d(x,M) + ε. Então:

‖f‖ = ‖f‖ · 1 = ‖f‖∥∥∥∥x−mε

x−mε

∥∥∥∥ ≥ ∣∣∣∣f( x−mε

‖x−mε‖

)∣∣∣∣=

∣∣∣∣ 1‖x−mε‖

f(x−mε)

∣∣∣∣ = |f(x−mε)|

‖x−mε‖

=d(x,M)

‖x−mε‖≥ d(x,M)

d(x,M) + ε

Como ε > 0 era qualquer, ε→ 0 nos dá ‖f‖ ≥ 1, e então concluímos que ‖f‖ = 1.Pelo Teorema de Hahn-Banach, existe um funcional linear x∗ : X→ C que estende

f preservando a norma, isto é, x∗∣∣M⊕Cx = f e ‖x∗‖ = 1. Em particular x∗

∣∣M

= 0 ex∗(x) = d(x,M).

Exercício 13. Seja o espaço linear normado (X, ‖ · ‖). Dados y, z ∈ X com y 6= z,mostre que existe x∗ ∈ X∗ tal que x∗(y) 6= x∗(z).

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Solução: Temos dois casos a analisar. Suponha que y e z sejam paralelos, e semperder generalidade que y 6= 0. Todo elemento de Cy se escreve unicamente como αye está caracterizado por este coeficiente α. Defina f : Cy→ C dado por f(αy) = α‖y‖.Vejamos rapidamente que f é linear: sejam α1, α2, λ ∈ C. Temos:

f(α1y+ λα2y) = f((α1 + λα2)y) = (α1 + λα2)‖y‖ = α1‖y‖+ λα2‖y‖ = f(α1y) + λf(α2y).

Ainda mais, f é injetora:

αy ∈ ker f =⇒ f(αy) = 0 =⇒ α‖y‖ = 0 =⇒ α = 0 =⇒ ker f = 0,

já que y 6= 0. Em particular f(y) 6= f(z). Agora vejamos que f é limitado e calculemosa sua norma:

|f(αy)| = |α‖y‖| = |α|‖y‖ = ‖αy‖.

Como αy ∈ Cy era qualquer, segue que f é limitado e ‖f‖ = 1. Pelo Teorema deHahn-Banach, existe x∗ ∈ X∗ que estende f preservando a norma. Em particularx∗(y) 6= x∗(z).

Se y e z não são paralelos, temos que d(z,Cy) > 0. Pelo exercício acima, existex∗ ∈ X∗ com x∗(z) = d(z,Cy) > 0 e x∗

∣∣Cy

= 0. Em particular x∗(y) = 0, pois y ∈ Cy.Assim x∗(y) 6= x∗(z).

Exercício 14. Seja o espaço linear normado (X, ‖ · ‖). Mostre que se o dual X∗ desteespaço é separável, então X também é separável.

Sugestão: Tome um denso enumerável e enumere S = x∗n | ‖x∗n‖ = 1. Mostre queexiste xn ∈ X de norma 1 e que x∗n(xn) > 1/2. Gere M = span(xn) e mostre que édenso em X.

Solução: Como X∗ é separável, temos que a esfera unitária de X∗ também é, entãopodemos fixar um subconjunto denso e enumerável desta esfera:

S = x∗n ∈ X∗ | ‖x∗n‖ = 1,∀n ≥ 0.

Pela definição de ‖x∗n‖ como supremo, existe xn ∈ X tal que ‖xn‖ = 1 e |x∗n(xn)| > 1/2.Considere agora M = span(xnn≥0). Então M é separável, pois o conjunto de todasas combinações lineares dos xnn≥0 com coeficientes racionais (no caso real), oucujas partes reais e imaginárias dos coeficientes sejam racionais (no caso complexo),é denso em M e enumerável. Agora afirmo que M = X. Suponha por absurdo quenão. Então existe x ∈ X \M, e como M é fechado, temos d(x,M) > 0. Pelo exercício12 existe x∗ ∈ X∗ tal que x∗

∣∣M

= 0 e ‖x∗‖ = 1. Então como todos os xn estão em M,segue que, para todo n ≥ 0:

12< |x∗n(xn)| = |x∗n(xn) − x

∗(xn)| = ‖(x∗n − x∗)(xn)‖ ≤ ‖x∗n − x∗‖.

Isto contradiz a densidade de S na esfera unitária de X∗, pois ‖x∗‖ = 1. Uma bolacentrada em x∗ com raio, digamos, 1/4, não contém elementos de S. PortantoM = X.

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Exercício 15. SejaM um subespaço do espaço linear normado (X, ‖·‖). O aniquilador(annihilator) de M é indicado por M⊥ e é o subespaço:

M⊥ = x∗ ∈ X∗ | x∗(y) = 0 para todo y ∈M.

(i) Mostre que M⊥ é um subespaço linear fechado de X∗.

(ii) Mostre que a função:Φ(x∗ +M⊥) = x∗

∣∣M

do espaço quociente X∗/M⊥ em M∗ está bem definida, é linear, e que ela ésobrejetora.

(iii) Mostre que ‖Φ(x∗ +M⊥)‖ = ‖x∗ +M⊥‖, e portanto Φ é uma isometria linear.

Solução:(i) Para cada y ∈ M, defina avaly : X∗ → C pondo avaly(x∗) = x∗(y). Afirmo que

avaly ∈ X∗∗. Com efeito, dados x∗1 , x∗2 ∈ X∗ e λ ∈ C, temos:avaly(x∗1 + λx∗2) = (x∗1 + λx

∗2)(y) = x

∗1 (y) + λx

∗2(y) = avaly(x∗1 ) + λ avaly(x∗2).

E também:|avaly(x∗)| = |x∗(y)| ≤ ‖x∗‖‖y‖ =⇒ ‖avaly‖ ≤ ‖y‖.

Então para cada y ∈ M, avaly é um funcional linear limitado, e portanto écontínuo. Pela definição de M⊥, basta notar que:

M⊥ =⋂y∈M

aval−1y (0)

é a interseção de uma família de fechados, portanto é fechado. Com efeito,cada aval−1

y (0) é a pré-imagem de um fechado, 0, por uma função contínua,avaly, logo é fechada.Agora vejamos que M⊥ também é subespaço de X∗. Claro que 0 ∈M⊥, e dadosx∗1 , x

∗2 ∈M⊥ e λ ∈ C, temos que dado y ∈M qualquer, vale:

(x∗1 + λx∗2)(y) = x

∗1 (y) + λx

∗2(y) = 0+ λ · 0 = 0 =⇒ x∗1 + λx

∗2 ∈M⊥.

(ii) Visto que restrições de aplicações lineares continuam lineares, ‖x∗∣∣M‖ ≤ ‖x∗‖

pois M ⊆ X, e x∗ ∈ X∗, segue que x∗∣∣M∈M∗, então Φ realmente assume valores

em M∗. Agora vejamos que Φ está bem definida. Sejam x∗, y∗ ∈ X∗ tais quex∗ ≡ y∗ mod M⊥. Então x∗ − y∗ ∈M⊥. Com isto:

(x∗ − y∗)∣∣M

= 0 =⇒ x∗∣∣M− y∗

∣∣M

= 0 =⇒ x∗∣∣M

= y∗∣∣M,

e assim Φ está bem definida.Agora vamos verificar a linearidade. Sejam x∗+M⊥, y∗+M⊥ ∈ X∗/M⊥ e λ ∈ C.Temos:

Φ((x∗ +M⊥) + λ(y∗ +M⊥)) = Φ((x∗ +M⊥) + (λy∗ +M⊥))

= Φ(x∗ + λy∗ +M⊥)

= (x∗ + λy∗)∣∣M

= x∗∣∣M+ (λy∗)

∣∣M

= x∗∣∣M+ λy∗

∣∣M

= Φ(x∗ +M⊥) + λΦ(y∗ +M⊥)

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E por fim, verifiquemos que Φ é sobrejetora. Seja y∗ ∈ M∗. Pelo Teorema deHahn-Banach, existe y∗ ∈ X∗ que estende y∗. Então temos y∗ +M⊥ ∈ X∗/M⊥ epodemos calcular:

Φ(y∗ +M⊥) = y∗∣∣M

= y∗∣∣M.

(iii) Provaremos duas desigualdades. Seja y∗ ∈M⊥ qualquer. Temos:

‖Φ(x∗ +M⊥)‖ = ‖x∗∣∣M‖ = ‖x∗

∣∣M+ y∗

∣∣M‖ = ‖(x∗ + y∗)

∣∣M‖ ≤ ‖x∗ + y∗‖

Tomando o ínfimo entre todos os y∗ ∈M⊥, vem:

‖Φ(x∗ +M⊥)‖ ≤ infy∗∈M⊥

‖x∗ + y∗‖ = ‖x∗ +M⊥‖

Para a outra desigualdade, notamos que Φ(x∗ +M⊥) ∈M∗, e pelo Teorema deHahn-Banach existe φx∗ ∈ X∗ que estende Φ(x∗ +M⊥) preservando a norma.Afirmo que φx∗ +M⊥ = x∗ +M⊥. Com efeito, basta notar que:

(φx∗ − x∗)∣∣M

= φx∗∣∣M− x∗

∣∣M

= Φ(x∗ +M⊥) − x∗∣∣M

= 0.

Apelando para a primeira desigualdade, temos:

‖x∗ +M⊥‖ = ‖φx∗ +M⊥‖ ≤ ‖φx∗‖ = ‖Φ(x∗ +M⊥)‖ ≤ ‖x∗ +M⊥‖,

pois 0 ∈M⊥ e usamos a definição de ‖x∗ +M⊥‖ como ínfimo. Concluímos que‖Φ(x∗ +M⊥)‖ = ‖x∗ +M⊥‖, e portanto Φ é um isomorfismo isométrico.

Exercício 16 (Sub). Sejam X e Y espaços lineares normados e T ∈ B(X, Y). O adjuntode T é T ∗ ∈ B(Y∗, X∗) definido por:

T ∗(y∗)(x) = y∗(T(x)), para todo y∗ ∈ Y∗ e todo x ∈ X.

(Em dimensão finita, sem normas, é a transposta, caso real, e a adjunta no casocomplelxo de operadores lineares)(i) Mostre que T ∗ é efetivamente um operador linear e que é limitado.

(ii) Mostre que Λ : B(X, Y) → B(Y∗, X∗) definido por Λ(T) = T ∗ é uma isometrialinear.

Solução:(i) Sejam y∗1 , y

∗2 ∈ Y∗ e λ ∈ C. Seja x ∈ X qualquer. Temos:

T ∗(y∗1 + λy∗2)(x) = (y∗1 + λy

∗2)(Tx) = y

∗1 (Tx) + λy

∗2(Tx)

= T ∗(y∗1 )(x) + λT∗(y∗2)(x) = (T ∗(y∗1 ) + λT

∗(y∗2))(x),

e daí T ∗(y∗1 + λy∗2) = T ∗(y∗1 ) + λT ∗(y∗2). Para ver que T ∗ é limitado, temos:

‖T ∗(y∗)(x)‖ = ‖y∗(Tx)‖ ≤ ‖y∗‖‖Tx‖ ≤ ‖y∗‖‖T‖‖x‖.

Tomando o supremo sobre os x ∈ X com ‖x‖ = 1 vem que:

‖T ∗(y∗)‖ ≤ ‖T‖‖y∗‖.

Tomando o supremo sobre os y∗ ∈ Y∗ com ‖y∗‖ = 1 vem que:

‖T ∗‖ ≤ ‖T‖,

e T ∗ é limitado.

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(ii) Vejamos que Λ é linear. Tome T1, T2 ∈ B(X, Y) e λ ∈ C. Tome y∗ ∈ Y∗ e x ∈ Xquaisquer. Temos que:

Λ(T1 + λT2)(y∗)(x) = (T1 + λT2)

∗(y∗)(x) = y∗((T1 + λT2)(x))

= y∗(T1x+ λT2x) = y∗(T1x) + y

∗(λT2x)

= y∗(T1x) + λy∗(T2x) = T

∗1 (y

∗)(x) + λT ∗2 (y∗)(x)

= Λ(T1)(y∗)(x) + λΛ(T2)(y

∗)(x)

= (Λ(T1)(y∗) + λΛ(T2)(y

∗))(x)

Como x ∈ X é qualquer, temos:

Λ(T1 + λT2)(y∗) = Λ(T1)(y

∗) + λΛ(T2)(y∗) = (Λ(T1) + λΛ(T2))(y

∗),

e como y∗ é qualquer segue que Λ(T1 + λT2) = Λ(T1) + λΛ(T2). Agora só restaver que dado T ∈ B(X, Y), tem-se ‖T ∗‖ = ‖T‖. Do item acima, já temos que‖T ∗‖ ≤ ‖T‖.Façamos a verificação da outra desigualdade. Se T = 0, então segue da definiçãode T ∗ que também temos T ∗ = 0, e aí a igualdade vale trivialmente. Casocontrário, tome x0 ∈ X tal que Tx0 6= 0. Pelo exercício 12 aplicado com M = 0,existe y∗ ∈ Y∗ tal que ‖y∗‖ = 1 e y∗(Tx0) = ‖Tx0‖. Então:

‖Tx0‖ = y∗(Tx0) = T ∗(y∗)(x0) ≤ ‖T ∗(y∗)‖‖x0‖ ≤ ‖T ∗‖‖y∗‖‖x0‖ = ‖T ∗‖‖x0‖,

e daí segue que ‖T‖ ≤ ‖T ∗‖. Concluímos então que ‖T‖ = ‖T ∗‖ = ‖Λ(T)‖ e daíΛ é uma imersão isométrica.

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4.2 Teorema da Aplicação Aberta e do Gráfico FechadoExercício 17 (Teorema da Aplicação Aberta). Sejam X e Y espaços de Banach, eT ∈ B(X, Y). Mostre que para todo aberto U ⊆ X, a imagem T(U) é um aberto de Y.

Solução: Vamos nos organizar com o:

Lema 4.2. Sejam X e Y espaços de Banach, e T ∈ B(X, Y) sobrejetora. Então TBX(0, 1)contém alguma bola aberta de Y, centrada na origem.

Demonstração: Note inicialmente que:

X =⋃k≥1

BX

(0, k

2

)=⋃k≥1

kBX

(0, 1

2

).

Como T é sobrejetora, temos:

Y = T(X) = T

(⋃k≥1

kBX

(0, 1

2

))=⋃k≥1

kTBX

(0, 1

2

)=⋃k≥1

kTBX

(0, 1

2

),

onde no penúltimo passo usamos que T é linear, e no último apenas acrescentamospontos. Como Y é um espaço de Banach, Y é um espaço de Baire, portanto existek ≥ 1 tal que intY kTBX

(0, 12)6= ∅. Assim existem y0 ∈ Y e r > 0 tais que:

BY(y0, r) ⊆ kTBX(0, 1

2

)=⇒ 1

kBY(y0, r) ⊆ TBX

(0, 1

2

)=⇒ BY

(y0,

r

k

)⊆ TBX

(0, 1

2

).

Chame r = r/k. Transladando tudo para a origem, temos:

BY(y0, r) − y0 = BY(0, r) ⊆ TBX(0, 1

2

)− y0.

Agora afirmo que BY(0, r) ⊆ TBX(0, 1). Provemos isto verificando que na verdadetemos TBX

(0, 12)− y0 ⊆ TBX(0, 1), e esta verificação será feita diretamente. Seja

y ∈ TBX(0, 12)− y0, de modo que y+ y0 ∈ TBX

(0, 12). Então:

y0 ∈ TBX(0, 12)

=⇒ existe (un)n≥1 ⊆ TBX(0, 12)

tal que un → y0

y+ y0 ∈ TBX(0, 12)

=⇒ existe (vn)n≥1 ⊆ TBX(0, 12)

tal que vn → y0.

Para cada n ≥ 1, podemos escrever un = Twn e vn = Tzn, com as sequências(wn)n≥1, (zn)n≥1 em BX

(0, 12). Temos:

‖wn − zn‖ ≤ ‖wn‖+ ‖zn‖ <12+

12= 1,

de modo que para todo n ≥ 1 temos wn − zn ∈ BX(0, 1). Com isto:

T(wn − zn) = Twn − Tzn = un − vn ∈ TBX(0, 1),

para todo n ≥ 1. Então:

un − vn → y0 − (y+ y0) = −y ∈ TBX(0, 1),

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e daí y ∈ TBX(0, 1). Concluímos que BY(0, r) ⊆ TBX(0, 1).Agora, para cada n ≥ 1 considere a bola BX

(0, 1

2n). Como T é linear, temos:

TBX

(0, 1

2n

)=

12nTBX(0, 1).

Aí, dividindo tudo por 2n, temos:

BY(0, r) ⊆ TBX(0, 1) =⇒ 12nBY(0, r) ⊆

12nTBX(0, 1) =⇒ BY

(0, r

2n)⊆ TBX

(0, 1

2n

),

para todo n ≥ 1.Agora vejamos que BY

(0, r2)é a bola procurada, isto é, que BY

(0, r2)⊆ TBX(0, 1).

Seja y ∈ BY(0, r2). Pelas inclusões acima, y ∈ TBX

(0, 12), então podemos17 tomar

x1 ∈ BX(0, 1) com ‖y− Tx1‖ < r4 .

Assim y− Tx1 ∈ BY(0, r4

), e pelas inclusões acima, y− Tx1 ∈ TBX

(0, 1

4

). Podemos

tomar x2 ∈ BX(0, 1

4

)com ‖y− Tx1 − Tx2‖ < r

8 .Repetindo este processo, podemos, para cada n ≥ 1, tomar xn ∈ BX

(0, 1

2n)tal que

‖y− Tx1 − · · · Txn‖ < r2n+1 . Chame zn =

∑nk=0 xk. Afirmo que (zn)n≥1 é uma sequência

de Cauchy. De fato, supondo n > m, temos que:

‖zn − zm‖ =

∥∥∥∥∥n∑k=1

xk −

m∑k=1

xk

∥∥∥∥∥ =

∥∥∥∥∥n∑

k=m+1

xk

∥∥∥∥∥ ≤n∑

k=m+1

‖xk‖ <n∑

k=m+1

12k

n→+∞−→ 0.

Como X é um espaço de Banach, a sequência (zn)n≥1 converge para um elementox =∑

n≥1 xn ∈ X. Afirmo que x ∈ BX(0, 1). Temos:

‖x‖ =

∥∥∥∥∥∑n≥1

xn

∥∥∥∥∥ ≤∑n≥1

‖xn‖ <∑n≥1

12n

= 1.

É claro que Tzn → y, por construção. E como T é contínuo, zn → x nos dá Tzn → Tx.Por unicidade dos limites, temos que y = Tx ∈ TBX(0, 1).

O principal da demonstração se resume ao lema. Agora provemos o teorema. SejaU ⊆ X aberto, e x ∈ U. Queremos provar que existe uma bola centrada em Tx contidaem T(U).

Como U é aberto, existe a > 0 tal que BX(x, a) ⊆ U. Então como BX(x, a) =x+ BX(0, 1), temos:

x+BX(0, a) ⊆ U =⇒ BX(0, a) ⊆ U−x =⇒ aBX(0, 1) ⊆ U−a =⇒ BX(0, 1) ⊆1a(U−x)

Aplicando T e usando linearidade, temos:

TBX(0, 1) ⊆1a(T(U) − Tx).

17Existe uma sequência em TBX(0, 12

)que converge para y, basta tomar um elemento próximo o

suficiente de y nesta sequência.

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Pelo Lema, existe r > 0 tal que BY(0, r) ⊆ TBX(0, 1). Então:

BY(0, r) ⊆1a(T(U) − Tx) =⇒ aBY(0, r) ⊆ T(U) − Tx

=⇒ BY(0, ra) ⊆ T(U) − Tx=⇒ Tx+ BY(0, ra) ⊆ T(U)=⇒ BY(Tx, ra) ⊆ T(U).

Como Tx era um elemento arbitrário de T(U), concluímos que T(U) é aberto.

Exercício 18. Todo subespaço vetorial fechado F de C([a, b]) formado por funçõescontinuamente diferenciáveis é de dimensão finita.

Solução: Defina D : F → C([a, b]) o operador derivada. Vejamos que D é umoperador fechado. Como F é fechado, F é um espaço de Banach. Sejam (fn)n≥1 ⊆ Fe g ∈ C([a, b]) tais que fn → f ∈ C1([a, b]) e Dfn → g. Como F é fechado, f ∈ F.Como as funções tem derivadas contínuas, vale o Teorema Fundamental do Cálculoe temos:

fn(x) = fn(0) +∫ x0Dfn(t) dt, ∀n ≥ 1 n→+∞

=⇒ f(x) = f(0) +∫ x0g(t) dt,

observando que convergência uniforme permite o passo:

limn→+∞

∫ x0Dfn(t) dt =

∫ x0

limn→+∞Dfn(t) dt =

∫ x0g(t) dt.

Por outro lado, temos que:

f(x) = f(0) +∫ x0Df(t) dt,

donde concluímos que Df = g. Pelo Teorema do Gráfico Fechado à seguir, temosque D é um operador contínuo, e assim limitado. Então existe K > 0 tal que:

‖f‖C1 ≤ K‖f‖C0 , ∀ f ∈ F.

Tome n ∈ Z>0 tal que n > K(b− a). Defina Φ : F→ Cn+1 pondo:

Φ(f) =

(f(a), f

(a+

b− a

n

), f

(a+ 2b− a

n

), · · · , f(b)

).

Considere o subespaço:

Fn = kerΦ =

f ∈ F | f

(a+ k

b− a

n

)= 0, ∀0 ≤ k ≤ n

.

Temos que:dim F = dim Fn + dim Im(Φ) ≤ dim Fn + n+ 1.

Afirmo que Fn = 0. Suponha por absurdo que não, e tome f ∈ Fn com ‖f‖C0 = 1.Suponha que o módulo máximo seja realizado em t ∈ [a, b]. Aplicando o Teorema do

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Valor Médio, e notando que a maior distância entre t e o próximo ponto da formapk = a+ kb−a

né b−a

2n , temos que existe x ∈ [a, b] tal que:

|f(t) − f(pk)| = |f ′(x)||t− pk| =⇒ |f(t)| = |f ′(x)||t− pk| ≥ |f ′(x)|b− a

2n=⇒ |f ′(x)| ≥ 2n

b− a=⇒ |f ′(x)| > 2K =⇒ ‖f‖C1 > 2K‖f‖C0 ,

contradizendo que ‖f‖C1 ≤ K‖f‖C0 . Portanto Fn = 0, logo dim Fn = 0 e concluímosque dim F ≤ n+ 1 < +∞.

Exercício 19 (Teorema do Gráfico Fechado). Sejam X e Y espaços de Banach, eT ∈ B(X, Y) cujo gráfico é fechado no produto X× Y. Mostre que T é contínua.

Solução: Consideremos em X×Y a norma da soma. Defina a projeção π : G(T)→ X,onde G(T) = (x, Tx) ∈ X × Y | x ∈ X é o gráfico de T . Temos que π é linear, pelaestrutura de G(T), e contínua:

‖π(x, Tx)‖ = ‖x‖ ≤ ‖x‖+ ‖Tx‖ = ‖(x, Tx)‖,

logo ‖π‖ ≤ 1.Ainda mais, π é uma bijeção entre G(T) e X, logo existe π−1. Como G(T) e X são

espaços de Banach18, π é uma aplicação aberta, pelo Teorema da Aplicação Aberta.Segue que π−1 é contínua, logo limitada. Digamos, ‖π−1x‖ ≤ C‖x‖ para algum C ≥ 0.Finalmente temos:

‖Tx‖ ≤ ‖x‖+ ‖Tx‖ = ‖(x, Tx)‖ = ‖π−1x‖ ≤ C‖x‖,

e T é limitada. Concluímos que T é contínua, como queríamos.

18Já vimos que X× Y é Banach com a norma da soma, e G(T) é fechado em X× Y, por hipótese.

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4.3 Princípio da Limitação Uniforme e o Teorema de Banach-Steinhaus

Exercício 20 (Princípio da Limitação Uniforme). Sejam X um espaço de Banach eY um espaço normado, e B ⊆ B(X, Y). Se, para todo x ∈ X tem-se supT∈B ‖Tx‖ < +∞,então vale supT∈B ‖T‖ < +∞.

Solução: Para cada n ≥ 1, chame Bn = x ∈ X | supT∈B ‖Tx‖ ≤ n. Então temos quepara cada n ≥ 1:

Bn =⋂T∈B

x ∈ X | ‖Tx‖ ≤ n.

Como cada T ∈ B é contínuo, temos que Bn é a interseção de uma família defechados19, e logo é fechado também. Note então que X, por ser um espaço deBanach, é um espaço de Baire. A igualdade:

X =⋃n≥1

Bn

nos dá, pelo Teorema de Baire, que existe n0 ≥ 1 tal que Bn0 tem interior não vazioem X. Mais exatamente, existem x0 ∈ X e r > 0 tais que B(x0, r) ⊆ Bn0 . Sejam x ∈ Xe T ∈ B quaisquer. Se x = 0 nada há o que fazer. Se x 6= 0, então o vetor rx

2‖x‖ + x0está em Bn0 , e daí:∥∥∥∥T ( rx

2‖x‖+ x0

)∥∥∥∥ ≤ n0 =⇒ ∥∥∥∥ r

2‖x‖Tx+ Tx0

∥∥∥∥ ≤ n0 =⇒ ∥∥∥∥ r

2‖x‖Tx

∥∥∥∥ ≤ n0 + ‖Tx0‖.

Mas note que o próprio x0 está em Bn0 , donde ‖Tx0‖ ≤ n0 para todo T ∈ B. Podemosprosseguir:∥∥∥∥ r

2‖x‖Tx

∥∥∥∥ ≤ 2n0 =⇒ r‖Tx‖2‖x‖

≤ 2n0 =⇒ ‖Tx‖ ≤ 4n0

r‖x‖, ∀ x ∈ X, ∀ T ∈ B.

Tomando o supremo nos vetores unitários, temos que:

‖T‖ ≤ 4n0

r, ∀ T ∈ B.

Tomando o supremo em B resulta:

supT∈B‖T‖ ≤ 4n0

r< +∞,

como queríamos.

Exercício 21 (Teorema - Banach-Steinhaus). Sejam X um espaço de Banach e Yum espaço normado, e seja (fn)n≥1 ⊆ B(X, Y) uma sequência de aplicações linearescontínuas tal que para todo x ∈ X, existe o limite f(x) = limn→+∞ fn(x). Entãof ∈ B(X, Y) e:

‖f‖ ≤ lim infn→∞ ‖fn‖.

19As pré-imagens dos fechados T−1[0, n].

71

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Solução: Que f ∈ B(X, Y) já vimos no exercício 19 da lista 3, os passos são osmesmos. Como para todo x ∈ X existe o limite limn→+∞ fn(x), temos que:

B = fn ∈ B(X, Y) | n ≥ 1

é pontualmente limitado. Como X é Banach, pelo Princípio da Limitação Uniforme,temos que supn≥1 ‖fn‖ < +∞. Em particular, isto implica que lim infn→+∞ ‖fn‖ < +∞.Então temos que:

‖fnx‖ ≤ ‖fn‖‖x‖, ∀n ≥ 1 =⇒ lim infn→+∞ ‖fnx‖ ≤ lim inf

n→+∞ ‖fn‖‖x‖ =⇒ ‖fx‖ ≤(lim infn→+∞ ‖fn‖

)‖x‖,

donde segue que ‖f‖ ≤ lim infn→+∞ ‖fn‖, pois fnx → fx =⇒ ‖fnx‖ → ‖fx‖ elim infn→+∞ ‖fnx‖ = limn→+∞ ‖fnx‖.

Exercício 22. Sejam E, F e G espaços normados. Se B : E × F → G é uma aplicaçãobilinear separadamente contínua e E ou F é completo, então B é contínua.

Solução: Suponha sem perder generalidade que E é um espaço de Banach. Vejamosque B é contínua, verificando que é limitada. Para os pares (x,0) ∈ E× F nada há oque fazer. Caso contrário, para cada y, considere a aplicação B(·,y)

‖y‖ . Temos que:∥∥∥∥B(x, y)‖y‖

∥∥∥∥ ≤ ‖B(x, ·)‖‖y‖‖y‖ = ‖B(x, ·)‖ < +∞, ∀ x ∈ E,

pois B é separadamente contínua. Pelo mesmo motivo, para cada y ∈ F \ 0, temosque B(·,y)

‖y‖ é contínua. Já que E é Banach, pelo Princípio da Limitação Uniforme,temos:

supy∈F\0

∥∥∥∥B(x, y)‖y‖

∥∥∥∥ < +∞, ∀ x ∈ E =⇒ supy∈F\0

∥∥∥∥B(·, y)‖y‖

∥∥∥∥ = C < +∞.Com isto, finalmente temos que se y 6= 0, vale:

‖B(x, y)‖ =∥∥∥∥B(x, y)‖y‖

∥∥∥∥ ‖y‖ ≤ ∥∥∥∥B(·, y)‖y‖

∥∥∥∥ ‖x‖‖y‖ ≤ C‖x‖‖y‖, ∀ x ∈ E, ∀y ∈ F \ 0.Assim obtemos ‖B(x, y)‖ ≤ C‖x‖‖y‖ para todo par (x, y) ∈ E × F, já que os pares(x,0) são triviais. Como B é limitada, B é contínua.

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4.4 Convergência de Séries de FourierExercício 23 (P3, Sub). Determinar os pontos em que podemos assegurar a conver-gência da série de Fourier das seguintes funções, definidas no intervalo [−π, π[, e daro valor da soma de sua série de Fourier:

• f(t) = t3;

• f(t) = eat;

• f(t) = sen(at);

• f(t) =

1 para − π ≤ t ≤ 0cos t para 0 < t < π

;

• f(t) = | sen t|;

• f(t) = t sen 1t;

• f(t) = t2 − 1;

• f(t) = t3 sen 1t2.

Solução: Vamos sempre considerar extensões periódicas. Em quase todos os casos,tal extensão introduzirá descontinuidades de salto nos pontos x = π+ 2kπ, k ∈ Z. Oargumento principal a ser feito é que se a função é derivável em um intervalo aberto,então ela é derivável à direita e à esquerda em cada ponto. Assim é Lipschitz à direitae à esquerda em cada ponto, e daí o Critério de Lipschitz garante a convergênciadesejada, em média. Sendo a função contínua neste intervalo aberto, a série deFourier converge para a função no ponto. Em detalhes:

• f(t) = t3: A função f é derivável em ] − π, π[, portanto a sua série de Fourierconverge para a função em todos os pontos e a soma é t3.Para o ponto t = −π, temos que f é derivável à direita e à esquerda (com asderivadas valendo 3π2), portanto a série de Fourier converge em média para afunção no ponto, isto é:

sm[f](−π)→ 12(f(−π−) + f(−π+)) =

12(π3 + (−π)3) = 0.

-10 -5 5 10

-30

-20

-10

10

20

30

Figura 1: Extensão periódica de t3.

73

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• f(t) = eat: A função f é derivável em ] − π, π[, portanto a sua série de Fourierconverge para a função em todos os pontos e a soma é eat.Para o ponto t = −π, temos que f é derivável à direita e à esquerda (com asderivadas valendo ae−aπ e aeaπ), portanto a série de Fourier converge em médiapara a função no ponto, isto é:

sm[f](−π)→ 12(f(−π−) + f(−π+)) =

12(eaπ + e−aπ) = cosh(aπ),

pela definição de cosh.

-10 -5 5 10

0.5

1.0

1.5

2.0

2.5

Figura 2: Extensão periódica de e0.3t.

• f(t) = sen(at): A função f é derivável em ] − π, π[, portanto a sua série deFourier converge para a função em todos os pontos e a soma é sen(at).Para o ponto t = −π, temos que f é derivável à direita e à esquerda (com asderivadas valendo a cos(aπ)), portanto a série de Fourier converge em médiapara a função no ponto, isto é:

sm[f](−π)→ 12(f(−π−) + f(−π+)) =

12(sen(aπ) + sen(−aπ)) = 0,

pois f é ímpar.

-10 -5 5 10

-1.0

-0.5

0.5

1.0

Figura 3: Extensão periódica de sen(0.6t).

74

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• f(t) =

1 para − π ≤ t ≤ 0cos t para 0 < t < π

: A função f é contínua e derivável em ] − π, π[.

Se x 6= 0 isto é claro, e para x = 0 temos:

limh→0+

f(h) − f(0)h

= limh→0+

cosh− 1h

= 0, limh→0−

f(h) − f(0)h

= limh→0−

1− 1h

= 0,

donde f ′(0) = 0. Então a série de Fourier converge para a função em todos ospontos: em ] − π,0] a soma é 1 e em ]0, π[ a soma é cos t.Para o ponto t = −π, temos que f é derivável à direita e à esquerda (com asderivadas valendo 0), portanto a série de Fourier converge em média para afunção no ponto, isto é:

sm[f](−π)→ 12(f(−π−) + f(−π+)) =

12(−1+ 1) = 0.

-10 -5 5 10

-1.0

-0.5

0.5

1.0

Figura 4: Extensão periódica de f.

• f(t) = | sen t|: A função f é contínua em ] − π, π[. Em ] − π,0[ a função éderivável, e aí a sua série de Fourier converge para a função em todos ospontos, e a soma é − sen t.Em ]0, π[ a função também é derivável, e também temos que a sua série deFourier converge para a função em todos os pontos, com soma sen t.Para t = 0, temos que f é derivável à direita e à esquerda (com as derivadasvalendo 1 e −1), portanto a série de Fourier converge em média para a funçãono ponto. Como a função é contínua em 0, o valor da soma é f(0) = 0.Para t = −π, temos que f é derivável à direita e à esquerda (com as derivadasvalendo 1 e −1), portanto a série de Fourier converge em média para a funçãono ponto, isto é:

sm[f](−π)→ 12(f(−π−) + f(−π+)) =

12(0+ 0) = 0.

75

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-10 -5 5 10

0.2

0.4

0.6

0.8

1.0

Figura 5: Extensão periódica de | sen t|.

• f(t) = t sen 1t: A expressão não está definida para t = 0, mas extendemos

primeiro a função pondo f(0) := limt→0 t sen 1t= 0. Em ]−π,0[ e ]0, π[ a função

é derivável e assim a sua série de Fourier converge para a função nestes pontos,com soma t sen 1

t.

A função f não é derivável em t = 0, porém é Lipschitziana à direita e àesquerda de 0. Com efeito, f(0+) = 0, e |f(s + 0) − f(0+)| = |s sen 1

s| ≤ s para

todo s ∈ ]0, π[, e assim f é Lipschitziana à direita de 0. Analogamente verifica-se que é Lipschitziana à esquerda de 0. Pelo Critério de Lipschitz, a série deFourier converge em média para a função no ponto:

sm[f](0)→ 12(f(0−) + f(0+)) =

12(0+ 0) = 0.

Para t = −π, temos que f é derivável à direita e à esquerda (com as derivadasvalendo − sen 1

π+ 1πcos 1

πe sen 1

π− 1πcos 1

π), portanto a série de Fourier converge

em média para a função no ponto, isto é:

sm[f](−π)→ 12(f(−π−) + f(−π+)) =

12

(π sen 1

π+ π sen 1

π

)= π sen 1

π.

-10 -5 5 10

-0.2

0.2

0.4

0.6

0.8

1.0

Figura 6: Extensão periódica de t sen 1t.

76

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• f(t) = t2− 1: A função f é derivável em ]−π, π[, portanto a sua série de Fourierconverge para a função em todos os pontos e a soma é t2 − 1.Para o ponto t = −π, temos que f é derivável à direita e à esquerda (com asderivadas valendo 2π e −2π), portanto a série de Fourier converge em médiapara a função no ponto, isto é:

sm[f](−π)→ 12(π2 − 1+ (−π)2 − 1) = π2 − 1.

-10 -5 5 10

2

4

6

8

Figura 7: Extensão periódica de t2 − 1.

• f(t) = t3 sen 1t2: A expressão não está definida para t = 0, mas extendemos

primeiro a função pondo f(0) := limt→0 t3 sen 1

t2= 0. Em ] − π,0[ e ]0, π[

a função é derivável e assim a sua série de Fourier converge para a funçãonestes pontos, com soma t3 sen 1

t2.

A função f não é derivável em t = 0, porém é Lipschitziana à direita e àesquerda de 0. Com efeito, f(0+) = 0, e |f(s + 0) − f(0+)| = |s3 sen 1

s2| ≤ s3 < s

para todo s ∈ ]0, 1[, e assim f é Lipschitziana à direita de 0. Analogamenteverifica-se que é Lipschitziana à esquerda de 0. Pelo Critério de Lipschitz, asérie de Fourier converge em média para a função no ponto:

sm[f](0)→ 12(f(0−) + f(0+)) =

12(0+ 0) = 0.

Para t = −π, temos que f é derivável à direita e à esquerda (com as derivadasvalendo 3π2 sen 1

π2− 2 cos 1

π2), portanto a série de Fourier converge em média

para a função no ponto, isto é:

sm[f](−π)→ 12(f(−π−) + f(−π+))

=12

(π3 sen 1

π2 + (−π)3 sen 1(−π)2

)=

12

(π3 sen 1

π2 − π3 sen 1π2

)= 0.

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-10 -5 5 10

-3

-2

-1

1

2

3

Figura 8: Extensão periódica de t3 sen 1t2.

78