LITERATURA E REDES SOCIAIS: UMA CONVIVÊNCIA HARMONIOSA

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LITERATURA E REDES SOCIAIS: UMA CONVIVÊNCIA HARMONIOSA Angélica Mothé, Carla Cardoso Silva, Daniella Costantini, Evandro Bolsoni, João Ventura, Joyce Vieira – Grupo Ciber Redes – [email protected] Orientador: Prof. Dr. Carlos Henrique M. de Souza [email protected] Universidade Estadual do Norte Fluminense – UENF - CCH - Pós-Graduação em Cognição e Linguagem A relação entre literatura e ciberespaço está cada vez mais presente na educação. Com pouco mais de uma década, em uso de forma mais ampla no país, a Internet já ocupa um importante espaço no âmbito cultural da sociedade, e também como suporte para a leitura e aquisição de conhecimento. Em meio a blogs, microblogs, Facebook, Orkut, as redes sociais na Internet se consolidam, de forma contínua e crescente, como novos espaços para a criação de narrativas e difusão de conhecimentos. Entre fluxos de pensamentos à atualização da palavra, as histórias têm continuidade e vão tomando formas diferentes das tradicionais como as impressas em livros, em novos meios e propriedades. A definição de literatura não é exata, visto que ela muda de tempos em tempos. Com isso, “podemos abandonar, de uma vez por todas, a ilusão de que a categoria ‘literatura’ é ‘objetiva’, no sentido de ser eterna e imutável”, (EAGLETON, 2001, p. 14). É propício o momento atual para que o professor utilize a ferramenta de forma adequada e ao seu favor, aproveitando a agilidade promovida pela interação entre os indivíduos que pode ser utilizadas, inclusive, na criação de obras literárias coletivas, por exemplo. Destaca-se, para este artigo, a utilização do microblog Twitter, serviço que vem alcançando um bom número de pessoas no Brasil e no mundo e que possibilitou a criação de um novo conceito para o fazer literário: a Twitteratura (Twitter + Literatura), questão que remete a algumas abordagens. Escritores (emissores) e leitores (receptores) se adaptam ao ciberespaço, se adequam à nova mídia, já que a arte literária deve “procurar espaços criadores até então desconhecidos, latitudes ainda não percorridas”, (PORTELLA, 1973, p.94). INTRODUÇÃO DESENVOLVIMENTO A facilidade de mobilidade no tempo e espaço do texto destaca-se nesse contexto. A narrativa, desta forma, pode ser lida em qualquer lugar do mundo, a qualquer hora. Como aponta Lévy (1996), os “dispositivos hipertextuais nas redes digitais desterritorializaram o texto. Fizeram emergir um texto sem fronteiras nítidas, sem interioridade definível”, (LÉVY, 1996, p.48). Para o pesquisador, o texto é uma entidade virtual e abstrata que atualiza-se por meio da leitura e que, ao interpretá-lo, “aqui e agora”, o leitor leva adiante uma cascata de atualizações (LÉVY, 1996, p.35). O autor diz que o texto é repleto de vazios que estimulam o desdobrar de seus múltiplos sentidos e assim, “a interpretação comporta uma parte não eliminável de criação”, (LÉVY, 1996, p.41). Como bem definido por Roland Barthes (2004) “o texto é um espaço de dimensões múltiplas, onde se casam e se contestam escrituras variadas... O texto é um tecido de citações”, (BARTHES, 2004, p.62). Esse é o espaço onde várias vozes dialogam, onde autor e leitor se encontram e juntos, tecem os sentidos literários dessa produção. A pesquisadora Cinthya C. Santos observa que, por meio das ligações hipertextuais, a literatura passou, portanto, por muitas modificações. Desde a do estatuto do leitor, “já que toda leitura na internet é também uma edição, uma montagem singular, em que o leitor participa ativamente selecionando tópicos e navegando de acordo com suas escolhas, em uma seqüência própria e única”, (SANTOS, 2003, p. 5), como a do próprio suporte em si, o suporte digital, que permite concatenação de discursos em uma rede articulada. Estabelecem-se novos tipos de leitura e escritas coletivas, nos quais “um grande número de pessoas anota, aumenta, comenta, conecta os textos uns aos outros por meio de ligações hipertextuais em relação a outros corpus hipertextuais e instrumentos de auxílio à interpretação, o que multiplica as ocasiões de produção de sentido e permite enriquecer a leitura. Os usuários, tradicionalmente passivos, tornam-se parte ativa de um processo de construção de discursos, na elaboração de uma tessitura polifônica”, (SANTOS, 2003, p.5). TWITTER: REDE DE LEITURA A pesquisadora Raquel Recuero (2009) define sites de redes sociais como uma conseqüência da apropriação “das ferramentas de comunicação mediada pelo computador pelos atores sociais (...) toda a ferramenta que for utilizada de modo a permitir que se expressem as redes sociais suportadas por elas”, (RECUERO, 2009, p.102). Uma pesquisa divulgada pelo IBOPE Inteligência em 2008 anunciou o Brasil como o país que possui a maior taxa de participação em comunidades on-line: 78,4%, estando o país à frente do Japão (73,7%) e França (62,9%). Foram entrevistados também 14 gestores de Marketing e Comunicação de diversas empresas. Segundo o estudo, já são 40 milhões de brasileiros freqüentando a internet, onde 64% deles participam de sites de comunidades e 13% criam ou atualizam blogs. Nota-se, portanto, um avanço cada vez maior nesta utilização, que é constatada por Recuero (2004) por meio do fenômeno dos blogs, surgidos, inicialmente, com a proposta de servirem como filtros de conteúdo na Internet. O Twitter se destaca entra tantas redes sociais oferecidas pela Internet. Trata-se de um serviço global de mensagens rápidas, assim como os torpedos de telefones celulares, só que, na Internet, como um blog, onde os participantes postam as informações respondendo a uma pergunta básica: “What are you doing?” (O que você está fazendo?). O serviço de troca de mensagens foi criado em 2006 por Jack Dorsey, Biz Stone e Evan Williams, e foi “descoberto” pelos internautas, principalmente pelos brasileiros, em 2008, (SILVA E VENTURA, 2009). Essas mensagens curtas, constantemente enviadas, são também chamadas de tweets ou piados (está aí a explicação para o nome e do símbolo do serviço, um pássaro). As mensagens postadas são observadas por todos os ‘seguidores’, pessoas que acompanham o cotidiano do emissor da informação – sejam elas de seu convívio social, ou desconhecidas. O cadastro para receber atualizações de um usuário é aberto a qualquer outro. Quem se cadastrar no espaço vai ficar informado de todos os passos do twitteiro. São milhares de seguidores atentos às informações postadas a todos os momentos, numa comunicação rápida e contínua. II Fórum Internacional de Educação do Mercosul REFERÊNCIAS BARTHES, Roland. O rumor da língua. São Paulo: Martins Fontes, 2004.EAGLETON, Terry. Teoria da literatura: uma introdução. São Paulo: Martins Fontes, 2001. LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo. Editora 34, 1999 ___________ O que é o virtual? São Paulo. Editora 34, 1996. PARENTE, André. O Virtual e o Hipertextual. Rio de Janeiro: Pazulin, 1999. PORTELLA, Eduardo. Teoria da comunicação literária. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1973. RECUERO, Raquel. Redes Sociais na Internet. Coleção Cibercultura. Porto Alegre. Sulina. 2009. ________________. Webrings: As Redes de Sociabilidade e os Weblogs - Artigo publicado na revista Sessões do Imaginário, da Famecos/PUCRS, edição 11, em 2004. SANTOS, Cinthya Costa. Literatura Digital: Intertexto, Intratexto E Hipertexto. Disponível no site: http://www.letras.ufrj.br/ciencialit/encontro. SILVA, Carla Cardoso e João Ventura. “O ‘eu’ no Twitter – a autobiografia no microblog”. Artigo apresentado no III Simpósio Nacional da ABCiber, disponível em: http://www.abciber.com.br/simposio2009/trabalhos/anais/pdf/artigos/2_entretenimento/eixo2_art7.pdf. Acesso em 31.05.2010. SOUZA, Carlos Henrique Medeiros e Maria Lúcia Moreira Gomes. Educação e Ciberespaço. Brasília. Editora Usina de Letras, 2009. SOUZA, C.H.M. Comunicação, Educação e Novas Tecnologias. Campos dos Goyataczes, Ed. FAFIC-Grafimax, 2003. Este trabalho tem como objetivo discutir a conexão entre literatura, cibercultura e ciberespaço, palavras tão faladas na contemporaneidade, e sua utilização como ferramenta para produção de conhecimento e incentivo à leitura na sala de aula. Pretende-se, ainda, com esta pesquisa, identificar uma forma de sugestão para que aulas apresentem mais dinamismo com a utilização das redes sociais da Internet, por meio de uma pesquisa bibliográfica e observações no espaço das redes. Foi realizada, ainda, uma entrevista com o escritor Cláudio Soares, que, no Brasil, foi reconhecido como o primeiro escritor a escrever um romance no Twitter, tornando-se um dos precursores na criação de literatura utilizando o microblog. No ano passado, ele reescreveu, na rede social, o romance “Santos Dumont Número 8 – o livro das superstições”, obra de sua autoria, publicada de forma tradicional, em papel, em 2006. A idéia é, com a continuação desse estudo, incentivar a prática em sala de aula, principalmente em meio a professores de literatura, para levar mais dinâmica ao ensino. OBJETIVO E METODOLOGIA O escritor Cláudio Soares acredita que no futuro (já não tão distante assim), será possível criar e interagir com uma história “não apenas através do livro de papel, mas através de vários formatos e idiomas. O romance será uma experiência sinestésica”. A previsão mantém um motivo especial. Autor do romance ‘Santos Dumont Número 8 – o livro das superstições’, Cláudio foi reconhecido como o primeiro escritor brasileiro a escrever um romance pelo Twitter e, um projeto literário que se mantém em constante atualização. ‘Santos Dumont Número 8...’ conta a história de um cientista que numera suas invenções com o nome do aviador brasileiro, mas recusa o número oito. E é esse mistério que envolve toda a trama. Para concretizar seu objetivo, o autor criou perfis de oito personagens e é por meio destes que a história vai sendo recontada, com as inserções feitas por quem os segue no Twitter: mais de 1.600 perfis. Segundo o autor, o livro impresso já usava a idéia do hipertexto, e oferecia alternativas aos leitores de ser lido seqüencialmente ou em trechos não-seqüenciais. Por meio do Twitter, é possível “ouvir” as observações do leitor que, ao apropriar-se da rede, acaba fazendo parte da história e esta interação rende novos contornos ao livro. Nesta experiência, que teve início em março deste ano, Soares busca descobrir novas possibilidades para sair de uma certa clausura que pode ser imposta por dogmáticos, conforme o próprio autor explica durante entrevista concedida aos autores: “(...) que tipo de texto (literário) poderia (ou deveria) ser representado no Twitter? Penso que todos, se não formos tão supersticiosos como certos autores (dogmáticos) que só enxergam a limitação dos 140 caracteres. Eu, particularmente, vejo para além do empacotamento de uma narrativa curta em 140 caracteres, a possibilidade do texto em rede, da narrativa fragmentada, distribuída, integrando texto, som, vídeo, etc. (...). Uma narrativa na internet não precisa ser limitada a um único formato pré-definido pelo autor, mas pode ser configurável pelo leitor, de acordo com suas próprias necessidades e vontades”. No Twitter, Soares desdobra seu texto em pequenos fragmentos, mas outros trechos da história também são publicados com anexos de vídeo e música, além da própria conversa com leitores, em outras redes sociais, incluindo uma rádio no blip.fm e um canal no youtube.com. Em outros endereços, cujos links podem ser facilmente encontrados no microblog, é possível encontrar resumos de capítulos inteiros, com traduções para inglês, espanhol e francês. O livro trata-se também de uma metaficção, uma vez que o narrador está lendo a obra e tem a impressão de que a história lida está de fato acontecendo, demonstrando claramente essa possibilidade da atualização da leitura. UM ROMANCE EM REDE Partindo desses pressupostos, podemos considerar ainda que, em meio às novas formas de representação e significação, a literatura se vê frente a novas possibilidades. O exemplo do escritor Cláudio Soares pode ser adequado e levado às salas de aulas, e tornar-se ferramenta de ensino não apenas na disciplina de literatutura, como foi sugerido a princípio, mas a muitas outras matérias curriculares: geografia, línguas, matemática, e outras. A Twitteratura mostra-se apenas uma destas possibilidades. Contudo, a mediação eletrônica, longe de ser um fantasma a assombrar o futuro da arte literária, torna-se um suporte de mecanismos inovadores de produção artística, pautados na mobilidade, na imaterialização, na instantaneidade e na interatividade, tendo autores e leitores como protagonistas da mesma história. O assunto não esgota-se nessa sugestão, mas é tema de estudo e pode render ainda muitos outros trabalhos. CONSIDERAÇÕES FINAIS

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LITERATURA E REDES SOCIAIS: UMA CONVIVÊNCIA HARMONIOSAAngélica Mothé, Carla Cardoso Silva, Daniella Costantini,

Evandro Bolsoni, João Ventura, Joyce Vieira – Grupo Ciber Redes – [email protected]

Orientador: Prof. Dr. Carlos Henrique M. de Souza [email protected]

Universidade Estadual do Norte Fluminense – UENF - CCH - Pós-Graduação em Cognição e Linguagem

A relação entre literatura e ciberespaço está cada vez mais presente na educação. Com pouco mais de uma década, em uso de forma mais ampla no país, a Internet já ocupa um importante espaço no âmbito cultural da sociedade, e também como suporte para a leitura e aquisição de conhecimento. Em meio a blogs, microblogs, Facebook, Orkut, as redes sociais na Internet se consolidam, de forma contínua e crescente, como novos espaços para a criação de narrativas e difusão de conhecimentos. Entre fluxos de pensamentos à atualização da palavra, as histórias têm continuidade e vão tomando formas diferentes das tradicionais como as impressas em livros, em novos meios e propriedades.

A definição de literatura não é exata, visto que ela muda de tempos em tempos. Com isso, “podemos abandonar, de uma vez por todas, a ilusão de que a categoria ‘literatura’ é ‘objetiva’, no sentido de ser eterna e imutável”, (EAGLETON, 2001, p. 14). É propício o momento atual para que o professor utilize a ferramenta de forma adequada e ao seu favor, aproveitando a agilidade promovida pela interação entre os indivíduos que pode ser utilizadas, inclusive, na criação de obras literárias coletivas, por exemplo. Destaca-se, para este artigo, a utilização do microblog Twitter, serviço que vem alcançando um bom número de pessoas no Brasil e no mundo e que possibilitou a criação de um novo conceito para o fazer literário: a Twitteratura (Twitter + Literatura), questão que remete a algumas abordagens. Escritores (emissores) e leitores (receptores) se adaptam ao ciberespaço, se adequam à nova mídia, já que a arte literária deve “procurar espaços criadores até então desconhecidos, latitudes ainda não percorridas”, (PORTELLA, 1973, p.94).

INTRODUÇÃO

DESENVOLVIMENTO

A facilidade de mobilidade no tempo e espaço do texto destaca-se nesse contexto. A narrativa, desta forma, pode ser lida em qualquer lugar do mundo, a qualquer hora. Como aponta Lévy (1996), os “dispositivos hipertextuais nas redes digitais desterritorializaram o texto. Fizeram emergir um texto sem fronteiras nítidas, sem interioridade definível”, (LÉVY, 1996, p.48). Para o pesquisador, o texto é uma entidade virtual e abstrata que atualiza-se por meio da leitura e que, ao interpretá-lo, “aqui e agora”, o leitor leva adiante uma cascata de atualizações (LÉVY, 1996, p.35). O autor diz que o texto é repleto de vazios que estimulam o desdobrar de seus múltiplos sentidos e assim, “a interpretação comporta uma parte não eliminável de criação”, (LÉVY, 1996, p.41).

Como bem definido por Roland Barthes (2004) “o texto é um espaço de dimensões múltiplas, onde se casam e se contestam escrituras variadas... O texto é um tecido de citações”, (BARTHES, 2004, p.62). Esse é o espaço onde várias vozes dialogam, onde autor e leitor se encontram e juntos, tecem os sentidos literários dessa produção.

A pesquisadora Cinthya C. Santos observa que, por meio das ligações hipertextuais, a literatura passou, portanto, por muitas modificações. Desde a do estatuto do leitor, “já que toda leitura na internet é também uma edição, uma montagem singular, em que o leitor participa ativamente selecionando tópicos e navegando de acordo com suas escolhas, em uma seqüência própria e única”, (SANTOS, 2003, p. 5), como a do próprio suporte em si, o suporte digital, que permite concatenação de discursos em uma rede articulada.

Estabelecem-se novos tipos de leitura e escritas coletivas, nos quais “um grande número de pessoas anota, aumenta, comenta, conecta os textos uns aos outros por meio de ligações hipertextuais em relação a outros corpus hipertextuais e instrumentos de auxílio à interpretação, o que multiplica as ocasiões de produção de sentido e permite enriquecer a leitura. Os usuários, tradicionalmente passivos, tornam-se parte ativa de um processo de construção de discursos, na elaboração de uma tessitura polifônica”, (SANTOS, 2003, p.5).

TWITTER: REDE DE LEITURA

A pesquisadora Raquel Recuero (2009) define sites de redes sociais como uma conseqüência da apropriação “das ferramentas de comunicação mediada pelo computador pelos atores sociais (...) toda a ferramenta que for utilizada de modo a permitir que se expressem as redes sociais suportadas por elas”, (RECUERO, 2009, p.102).

Uma pesquisa divulgada pelo IBOPE Inteligência em 2008 anunciou o Brasil como o país que possui a maior taxa de participação em comunidades on-line: 78,4%, estando o país à frente do Japão (73,7%) e França (62,9%). Foram entrevistados também 14 gestores de Marketing e Comunicação de diversas empresas. Segundo o estudo, já são 40 milhões de brasileiros freqüentando a internet, onde 64% deles participam de sites de comunidades e 13% criam ou atualizam blogs.

Nota-se, portanto, um avanço cada vez maior nesta utilização, que é constatada por Recuero (2004) por meio do fenômeno dos blogs, surgidos, inicialmente, com a proposta de servirem como filtros de conteúdo na Internet. O Twitter se destaca entra tantas redes sociais oferecidas pela Internet. Trata-se de um serviço global de mensagens rápidas, assim como os torpedos de telefones celulares, só que, na Internet, como um blog, onde os participantes postam as informações respondendo a uma pergunta básica: “What are you doing?” (O que você está fazendo?). O serviço de troca de mensagens foi criado em 2006 por Jack Dorsey, Biz Stone e Evan Williams, e foi “descoberto” pelos internautas, principalmente pelos brasileiros, em 2008, (SILVA E VENTURA, 2009).

Essas mensagens curtas, constantemente enviadas, são também chamadas de tweets ou piados (está aí a explicação para o nome e do símbolo do serviço, um pássaro). As mensagens postadas são observadas por todos os ‘seguidores’, pessoas que acompanham o cotidiano do emissor da informação – sejam elas de seu convívio social, ou desconhecidas. O cadastro para receber atualizações de um usuário é aberto a qualquer outro. Quem se cadastrar no espaço vai ficar informado de todos os passos do twitteiro. São milhares de seguidores atentos às informações postadas a todos os momentos, numa comunicação rápida e contínua.

II Fórum Internacional de Educação do Mercosul

REFERÊNCIAS

BARTHES, Roland. O rumor da língua. São Paulo: Martins Fontes, 2004.EAGLETON, Terry. Teoria da literatura: uma introdução. São Paulo: Martins Fontes, 2001.LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo. Editora 34, 1999___________ O que é o virtual? São Paulo. Editora 34, 1996.PARENTE, André. O Virtual e o Hipertextual. Rio de Janeiro: Pazulin, 1999.PORTELLA, Eduardo. Teoria da comunicação literária. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1973.RECUERO, Raquel. Redes Sociais na Internet. Coleção Cibercultura. Porto Alegre. Sulina. 2009.________________. Webrings: As Redes de Sociabilidade e os Weblogs - Artigo publicado na revista Sessões do Imaginário, da Famecos/PUCRS, edição 11, em 2004. SANTOS, Cinthya Costa. Literatura Digital: Intertexto, Intratexto E Hipertexto. Disponível no site: http://www.letras.ufrj.br/ciencialit/encontro. SILVA, Carla Cardoso e João Ventura. “O ‘eu’ no Twitter – a autobiografia no microblog”. Artigo apresentado no III Simpósio Nacional da ABCiber, disponível em: http://www.abciber.com.br/simposio2009/trabalhos/anais/pdf/artigos/2_entretenimento/eixo2_art7.pdf. Acesso em 31.05.2010.SOUZA, Carlos Henrique Medeiros e Maria Lúcia Moreira Gomes. Educação e Ciberespaço. Brasília. Editora Usina de Letras, 2009. SOUZA, C.H.M. Comunicação, Educação e Novas Tecnologias. Campos dos Goyataczes, Ed. FAFIC-Grafimax, 2003.

Este trabalho tem como objetivo discutir a conexão entre literatura, cibercultura e ciberespaço, palavras tão faladas na contemporaneidade, e sua utilização como ferramenta para produção de conhecimento e incentivo à leitura na sala de aula. Pretende-se, ainda, com esta pesquisa, identificar uma forma de sugestão para que aulas apresentem mais dinamismo com a utilização das redes sociais da Internet, por meio de uma pesquisa bibliográfica e observações no espaço das redes. Foi realizada, ainda, uma entrevista com o escritor Cláudio Soares, que, no Brasil, foi reconhecido como o primeiro escritor a escrever um romance no Twitter, tornando-se um dos precursores na criação de literatura utilizando o microblog. No ano passado, ele reescreveu, na rede social, o romance “Santos Dumont Número 8 – o livro das superstições”, obra de sua autoria, publicada de forma tradicional, em papel, em 2006. A idéia é, com a continuação desse estudo, incentivar a prática em sala de aula, principalmente em meio a professores de literatura, para levar mais dinâmica ao ensino.

OBJETIVO E METODOLOGIA

O escritor Cláudio Soares acredita que no futuro (já não tão distante assim), será possível criar e interagir com uma história “não apenas através do livro de papel, mas através de vários formatos e idiomas. O romance será uma experiência sinestésica”. A previsão mantém um motivo especial. Autor do romance ‘Santos Dumont Número 8 – o livro das superstições’, Cláudio foi reconhecido como o primeiro escritor brasileiro a escrever um romance pelo Twitter e, um projeto literário que se mantém em constante atualização.

‘Santos Dumont Número 8...’ conta a história de um cientista que numera suas invenções com o nome do aviador brasileiro, mas recusa o número oito. E é esse mistério que envolve toda a trama. Para concretizar seu objetivo, o autor criou perfis de oito personagens e é por meio destes que a história vai sendo recontada, com as inserções feitas por quem os segue no Twitter: mais de 1.600 perfis. Segundo o autor, o livro impresso já usava a idéia do hipertexto, e oferecia alternativas aos leitores de ser lido seqüencialmente ou em trechos não-seqüenciais. Por meio do Twitter, é possível “ouvir” as observações do leitor que, ao apropriar-se da rede, acaba fazendo parte da história e esta interação rende novos contornos ao livro.

Nesta experiência, que teve início em março deste ano, Soares busca descobrir novas possibilidades para sair de uma certa clausura que pode ser imposta por dogmáticos, conforme o próprio autor explica durante entrevista concedida aos autores: “(...) que tipo de texto (literário) poderia (ou deveria) ser representado no Twitter? Penso que todos, se não formos tão supersticiosos como certos autores (dogmáticos) que só enxergam a limitação dos 140 caracteres. Eu, particularmente, vejo para além do empacotamento de uma narrativa curta em 140 caracteres, a possibilidade do texto em rede, da narrativa fragmentada, distribuída, integrando texto, som, vídeo, etc. (...). Uma narrativa na internet não precisa ser limitada a um único formato pré-definido pelo autor, mas pode ser configurável pelo leitor, de acordo com suas próprias necessidades e vontades”. No Twitter, Soares desdobra seu texto em pequenos fragmentos, mas outros trechos da história também são publicados com anexos de vídeo e música, além da própria conversa com leitores, em outras redes sociais, incluindo uma rádio no blip.fm e um canal no youtube.com. Em outros endereços, cujos links podem ser facilmente encontrados no microblog, é possível encontrar resumos de capítulos inteiros, com traduções para inglês, espanhol e francês. O livro trata-se também de uma metaficção, uma vez que o narrador está lendo a obra e tem a impressão de que a história lida está de fato acontecendo, demonstrando claramente essa possibilidade da atualização da leitura.

UM ROMANCE EM REDE

Partindo desses pressupostos, podemos considerar ainda que, em meio às novas formas de representação e significação, a literatura se vê frente a novas possibilidades. O exemplo do escritor Cláudio Soares pode ser adequado e levado às salas de aulas, e tornar-se ferramenta de ensino não apenas na disciplina de literatutura, como foi sugerido a princípio, mas a muitas outras matérias curriculares: geografia, línguas, matemática, e outras. A Twitteratura mostra-se apenas uma destas possibilidades. Contudo, a mediação eletrônica, longe de ser um fantasma a assombrar o futuro da arte literária, torna-se um suporte de mecanismos inovadores de produção artística, pautados na mobilidade, na imaterialização, na instantaneidade e na interatividade, tendo autores e leitores como protagonistas da mesma história. O assunto não esgota-se nessa sugestão, mas é tema de estudo e pode render ainda muitos outros trabalhos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS