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UNISALESIANO
Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium
Curso de Pedagogia
Alexandra Tereza Cava Pinto
Leyliane da Costa Andrade
LITERATURA: LEITURA E ANÁLISE DAS FÁBULAS DE MONTEIRO LOBATO
LINS – SP
2017
1
ALEXANDRA TEREZA CAVA PINTO
LEYLIANE DA COSTA ANDRADE
LITERATURA: LEITURA E ANÁLISE DAS FÁBULAS DE MONTEIRO LOBATO
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Banca Examinadora do Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium, curso de Pedagogia, sob a orientação do Prof. Me Paulo Sérgio Fernandes e orientação técnica da Profª Ma. Fatima Eliana Frigatto Bozzo
LINS – SP
2017
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Andrade, Leyliane da Costa; Pinto, Alexandra Tereza Cava,
Literatura: leitura e análise das fábulas de Monteiro Lobato / Alexandra Tereza Cava Pinto; Leyliane da Costa Andrade – – Lins, 2017.
53p. il. 31cm.
Monografia apresentada ao Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium – UniSALESIANO, Lins-SP, para graduação em Pedagogia, 2017.
Orientadores: Paulo Sergio Fernandes; Fatima Eliana Frigatto Bozzo
1. A história da Fábula. 2. Literatura. 3. Monteiro Lobato. I Título.
CDU 37
A568l
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Alexandra Tereza Cava Pinto
Leyliane da Costa Andrade
LITERATURA: LEITURA E ANÁLISE DAS FÁBULAS DE MONTEIRO LOBATO
Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) apresentado ao Centro
Universitário Católico Salesiano Auxilium para obtenção do título de graduação
do curso de Pedagogia.
Aprovado em ________/________/________
Banca Examinadora:
Profº Orientador(a): Paulo Sérgio Fernandes
Titulação: Mestre em Teoria Literária e Literatura Comparada – UNESP- Assis.
Assinatura: ________________________________
1º Prof(a): Fatima Eliana Frigatto Bozzo
Titulação: Mestre em Odontologia – Saúde Coletiva – Universidade Sagrado
Coração - USC - Bauru.
Assinatura: _________________________________
2º Prof(a): Dr ª Fabiana Sayuri Sameshima
Titulação: Doutora em Educação – UNESP - Marília
Assinatura: _________________________________
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AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus por ter nos amparado até aqui, me
refiro à “nós”, pois sem a minha amiga e parceira da vida Leyliane (a melhor
pessoa que eu poderia ter conhecido em um período tão importante da minha
vida), nada disso seria possível.
Sou muito grata a minha mãe Silvia, que sempre esteve ao meu lado
dando o seu melhor, e aguentando toda a complexidade e chatice da minha
pessoa.
Sou muito grata também ao meu namorado, Flávio, que por sua vez me
aguentou problemática, durante esses 4 anos de faculdade. E sem ele eu não
teria escolhido a profissão que me encontrei e aprendo a amar cada vez mais.
Sou muito grata a professora Fátima Eliana, que por sua vez, não mediu
esforços para nos ajudar e auxiliar nesse período do trabalho de conclusão de
curso.
Sou muito grata também ao orientador Paulo Sergio, que com toda a sua
inteligência e paciência, exerceu seu papel da melhor maneira possível.
Alexandra
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AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus por ter me dado força e saúde para chegar até aqui,
superando as dificuldades que estes quatro anos me trouxe, como também
várias conquistas, sendo essa a maior delas e sem Ele nada disso seria
possível.
Aos meus pais Edson e Zenália, que sempre me apoiam em tudo que eu
faço, sendo meu porto seguro e a quem eu devo tudo o que eu sou.
Agradeço imensamente minha irmã Leysiele, que sempre foi minha
amiga e companheira, a qual foi essencial nestes quatro anos de faculdade, me
ajudando em tudo que eu precisava.
Sou grata pelo meu namorado Cleyton que foi um dos maiores
incentivadores para meu ingresso nesta faculdade, acreditou em mim mesmo
quando eu não acreditava. Sempre me apoiando e colaborando para eu nunca
desistir diante as dificuldades que surgiram.
Para este trabalho se tornar possível pude contar com toda orientação e
apoio do professor Paulo Sérgio Fernandes, que depositou seu conhecimento
neste trabalho e em nosso potencial. Sou grata pela professora Fátima Bozzo
por tudo que fez nos quatro anos de formação, especialmente neste ultimo ano
de formação.
Por fim agradeço de coração minha parceira de faculdade Alexandra,
que se tornou uma parceira da vida. Juntas conseguimos superar as
dificuldades e comemoramos todas as conquistas, sendo essa a maior de
todas elas.
Leyliane
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RESUMO
O trabalho procurou mostrar a importância da leitura, literatura e do gênero fábula na vida da criança e em seu desenvolvimento, desde antes da sua inserção na escola. Diante dessa realidade, a família, a escola e o professor devem ter o pensamento de que a leitura deve ser tratada com um olhar mais atento, para que ela seja trabalhada de forma didática, seguindo o objetivo da escola e de cada disciplina em que ela for trabalhada, mas ao mesmo tempo de uma forma que não prejudique a relação prazerosa que ela causa nas crianças, fazendo com que elas pensem que ler é somente obrigação. Sendo importante ressaltar á eles que a leitura pode e deve ser muita das vezes prazerosa e contributiva para o crescimento pessoal de quem as lê. Focando no gênero fábula e nas obras do autor Monteiro Lobato, é necessário que o professor deva estimular a autonomia da criança ao ler determinada fábula e reconhecer situações que aconteçam no seu cotidiano e a partir disso tomar conhecimento do seu pensamento crítico como cidadão pensante. Dito isto, para que essa prática de leitura se torne possível, deve se entender que o professor por sua vez tem o papel fundamental para que isso ocorra, fazendo se rotineiro as leituras de fábulas e outros gêneros para que a criança tome gosto pela leitura, tanto ela deleite que na maioria das vezes, é o preferido das crianças, por ela soar como uma leitura que desperta a imaginação e o prazer de ouvi-la, tanto como ela inserido no contexto de uma atividade que o professor esteja trabalhando. Palavras chaves: A história da Fábula. Literatura. Monteiro Lobato.
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ABSTRACT
The work sought to show the importance of reading, literature and the genre fables in the life of the child and in its development, since before its insertion in school. Faced with this reality, the family, the school and the teacher should have the thought that the reading should be treated with a closer look, so that it is worked in a didactic way, following the objective of the school and of each discipline in which it is worked out, but at the same time in a way that does not detract from the pleasurable relationship it causes in children, making them think that reading is only obligation. It is important to point out to them that reading can and should be very pleasurable and contributory to the personal growth of those who read them. Focusing on the fable genre and the works of the author Monteiro Lobato, it is necessary that the teacher should stimulate the autonomy of the child when reading a certain fable and recognize situations that happen in their daily life and from this to take cognizance of their critical thinking as a thinking citizen. That said, in order for this practice of reading to become possible, it must be understood that the teacher in turn has the fundamental role for this to happen, making routine readings of fables and other genres so that the child takes a liking for reading, so much so that she delights more than often, is preferred by the children, because it sounds like a reading that awakens the imagination and the pleasure of listening to it, as much as it is inserted in the context of an activity that the teacher is working.
Key words: The story of the fable. Literature. Monteiro Lobato.
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Esopo.............................................................................................. 17
Figura 2: La Fontaine..................................................................................... 18
Figura 3: Fedro.............................................................................................. 19
Figura 4: Monteiro Lobato.............................................................................. 31
Figura 5: Livro: Urupês................................................................................... 32
Figura 6: Livro: O sítio do picapau amarelo.................................................... 37
Figura 7: Livro: Fábulas.................................................................................. 41
Figura 8: O leão e o ratinho............................................................................ 42
Figura 9: A rã e o boi...................................................................................... 43
Figura 10: A cabra, o cabrito e o lobo............................................................ 44
Figura 11: A raposa e as uvas........................................................................ 45
Figura 12: O cavalo e o burro......................................................................... 46
Figura 13: O homem e a cobra....................................................................... 48
LISTA DE QUADROS
Quadro 1: Estruturação da fábula.................................................................... 15
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ................................................................................................. 10
CAPÍTULO I – A HISTÓRIA E O SIGNIFICADO DE FÁBULA........................ 12
1 A HISTÓRIA DA FÁBULA..................................................................... 12
1.1 Esopo..................................................................................................... 16
1.2 Fedro...................................................................................................... 17
1.3 La Fontaine.............................................................................................19
CAPÍTULO II – A IMPORTÂNCIA DA LITERATURA E LEITURA NA
FORMAÇÃO DA CRIANÇA ............................................................................ 21
1 A LITERATURA NO BRASIL................................................................. 21
1.1 A literatura na escola.............................................................................. 24
1.2 A importância da leitura.......................................................................... 25
CAPÍTULO III – MONTEIRO LOBATO: VIDA E OBRA................................... 30
1 A BIOGRAFIA DO AUTOR................................................................... 30
1.1 O fazendeiro que se tornou escritor e editor......................................... 31
1.2 Monteiro Lobato e a literatura para crianças no Brasil........................... 38
CAPÍTULO IV – ANÁLISE DAS FÁBULAS DE MONTEIRO LOBATO........... 41
1 ANÁLISE DAS FÁBULAS...................................................................... 41
CONCLUSÃO................................................................................................... 50
REFERÊNCIAS................................................................................................. 51
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INTRODUÇÃO
A leitura é fundamental para que a criança construa o seu
conhecimento de mundo, sua imaginação e criatividade. Para formar a criança
leitora é necessário que ela tenha uma experiência significativa com a leitura,
que não deve ocorrer por obrigação, mas sim que seja apresentada de forma
prazerosa e familiar, por meio de livros que desperte o prazer no sujeito que lê,
fazendo com que este converse com texto.
Trata-se de um trabalho com base teórica, onde se busca autores que
apresentem fundamentos para a discussão teórica com base na leitura e
formação de leitores na escola, na mediação do professor para com a literatura
na escola e, em relação às obras de Monteiro Lobato destinadas às crianças,
em especial o gênero fábula.
O capítulo I “A história da fábula - A história e o significado de fábula”,
trata-se de esclarecer o que é o gênero fábula e suas contribuições na
formação da criança e também expõem os grandes nomes que deram vida a
tantas fábulas. E eles são, Esopo, um fabulista grego, Caio Júlio Fedro, um
escritor latino e por fim, o Jean da La Fontaine, o que modificou um pouco a
fábula tradicional.
O capítulo II “A importância da literatura e leitura na formação da criança -
A literatura no Brasil”, mostra didaticamente como a literatura foi dividida
naquilo que conhecemos como Escolas Literárias, e explicadas brevemente
todos os seus períodos. Neste capítulo ressalta se também que a literatura
abre portas para a criança e contribui em vários aspectos para a sua formação.
O capitulo III “Monteiro Lobato: vida e obra - Biografia do autor” neste
terceiro capitulo, tem como enfoque a vida de Monteiro Lobato, tanto a sua vida
pessoal, quanto a sua vida profissional, e sua trajetória até se tornar um dos
maiores e mais conhecido pioneiro da fábula no Brasil.
Relata também algumas de suas obras, as de mais sucesso, na qual o
trouxe a todo esse reconhecimento e referência sobre literatura infantil.
O capítulo IV “Análise das fábulas de Monteiro Lobato”. Tendo em vista a
importância das fábulas, que vai além do contexto bibliográfico do autor,
mostrando-se evidente por suas formas em relação ao gênero, como também
em relação ao contexto de sua produção, este capítulo apresentará a análise
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do percurso de tal obra, por meio das diferentes morais apresentadas, fazendo
a correlação com situações do cotidiano da criança e a importância de tal para
seu desenvolvimento social.
E por fim mostrar que Lobato se empenhava em fazer o leitor ver, sentir
e entender as coisas, assim o mesmo retira cada vez mais de seu texto tudo o
que tenha evidência acadêmica.
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CAPÍTULO I
A HISTÓRIA DA FÁBULA
1 A HISTÓRIA E O SIGNIFICADO DE FÁBULA
A leitura é um elemento fundamental e indispensável para a formação de
um sujeito na aquisição do seu conhecimento, e inserir este comportamento de
ler com crianças é primordial que seja de forma espontânea e prazerosa, para
ter assim uma experiência significativa. Ressaltando que a criança não deve
ser obrigada a ler, já que dessa forma não terá interesse em se aprofundar na
leitura e algo que te faria bem e aprimoraria seu conhecimento e inteligência
passa a ser algo odiado.
Um bom leitor não somente encontra maior prazer nos livros, mas também pode pensar melhor e aprender melhor. Isso é fácil de compreender: as pessoas que lêem palavra por palavra, devagarzinho, não compreendem a história nem as idéias. Com a prática, podemos aprender a ler um grupo de palavras que devem estar juntas as mesmo tempo, ler depressa sem nos apressarmos e compreender melhor o que lemos. (BAMBERGER, 1977, p.31)
Trabalhar a literatura contribui em diversos fatores para o
desenvolvimento da criança, sabendo que o mesmo não é muito utilizado nos
dias de hoje. Esta pesquisa se fundará em visar estas contribuições e apontar
caminhos para que isso ocorra.
A leitura é a interação entre o leitor e a informação. Existem vários tipos de leitura, é preciso que se mostre para as crianças para que serve ler. Para Solé [...] Os objetivos da leitura determina a forma em que um leitor se situa frente a ela e controla a consecução do seu objetivo, isto é, a compreensão do texto [...] (SOLÉ, 1998, p. 92-93).
De acordo com Solé (1998), a criança que lê tem como privilégio
expandir seus conhecimentos, e mostra que se trabalhar com o gênero textual
fábula faz com que a criança aprenda o real sentido de ler, como por exemplo:
ler uma notícia, é ficar informado sobre o que se passa na cidade e até mesmo
no país, isso faz com que a criança se interaja com o mundo em que vive.
Deixar claro o que se esta trabalhando é importante, toda informação
transmitida de forma correta é válida para ter o melhor desempenho no que se
está trabalhando.
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Segundo Abramovich (1997) quando as crianças ouvem histórias,
passam a visualizar de forma mais clara sentimentos que tem em relação ao
mundo.
As histórias trabalham problemas existenciais típicos da infância, como o
medo, sentimentos de inveja e de carinho, curiosidade, dor, perda, além de
ensinarem infinitos assuntos.
Com base nisso, pode-se observar que trabalhando de forma adequada
com o gênero textual fábula, é possível abordar diversas situações que
ocorrem com a criança, feito isso, estará ajudando ela de forma lúdica e
despertando que ela desenvolva todos esses aspectos de forma descontraída
e prazerosa.
Não transparecer a leitura como uma obrigação, pode-se englobar
muitos assuntos, esclarecer dúvidas e trabalhar a oralidade dos alunos, pois é
de pequeno que se constrói a base de seus conhecimentos.
As funções da literatura infantil são, portanto, amplas. O modo mais comum de apresentar os seus objetivos se faz tratando se de suas três finalidades mais abrangentes: educar, instruir e distrair. Das três, a mais importante é a terceira. Deve ser preocupação primeira do escritor infantil, porque o interesse pelo livro existirá a partir dela. O prazer deve envolver as idéias e os idéias que queremos transmitir à criança. Se não houver a arte, que traz o prazer, a obra não será literária, e sim didática [...]. (CUNHA, 1968, p.35)
É importante que o livro seja tocado pela criança, folheado, de forma que
ela tenha um contato mais intimo com o objeto do seu interesse. A partir daí,
ela começa a gostar de livros, percebe que eles fazem parte de um mundo
fascinante, onde a fantasia apresenta-se por meio de palavras e desenhos. É
preciso ajudar a criança a descobrir o que eles podem oferecer. Assim, pais e
professores têm um papel fundamental nesta descoberta: serem estimuladores
e incentivadores da leitura.
Outro fato relevante á ser citado é que todo individuo que lê um livro, ou
que esteja adquirindo tal hábito, este carrega uma bagagem com experiências
e conhecimentos. O mesmo deve ser respeitado pelo o que já tem e o
conteúdo que se tem nos livros devem-se acrescentar á este conhecimento já
existente, caso isso não ocorra, o individuo será desestimulado, fazendo com
que os dois lados saiam perdendo: o livro em não ser lido e a pessoa que
perdeu em aprender um pouco mais.
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Contudo, ele não pode ir longe demais: os leitores precisam se reconhecer nas personagens, há limites para mexer com a temporalidade, e a ação precisa ter um mínimo de coerência. Outra questão é crucial: o leitor também traz algum tipo de experiência, uma bagagem de conhecimento que precisa ser respeitada, caso contrário se estabelece um choque entre quem escreve e quem lê, rompendo a parceria que só da certo se ambos se entendem. Se o escritor contradisser demais as expectativas do leitor, este rejeita a obra, que pode ficar à espera de outra oportunidade ou então desaparecer da história. (ZILBERMAN, 2014, p.13)
Quando se trata sobre literatura, é preciso um conhecimento sobre os
gêneros literários que é uma manifestação difícil de entender. Dessa forma
Aristóteles em sua Arte Poética (335 a.C. apud CASTRO, 2015) definiu o que
hoje se dá o nome de gêneros literários os quais são usados para referirem-se
a vários tipos de linguagens, tanto na forma escrita como na forma oral. A
noção de gênero inclui seleções de atividades e elementos da realidade, pois
opõe ao conceito formal e social. O gênero se caracteriza em algumas
categorias básicas.
Gênero épico ou narrativo: No gênero épico ou narrativo há a presença de um narrador, responsável por contar uma história na qual as personagens atuam em um determinado espaço e tempo. Pertencem a esse gênero as seguintes modalidades: épico, fábula, epopeia, novela, conto, crônica, ensaio e romance. Gênero lírico: Os textos do gênero lírico, que expressam sentimentos e emoções, são permeados pela função poética da linguagem. Neles há a predominância de pronomes e verbos na 1ª pessoa, além da exploração da musicalidade das palavras. Estão, entre as principais estruturas utilizadas para a composição do poema: elegia, ode, écloga e soneto. Gênero dramático: De acordo com a definição de Aristóteles em sua Arte Poética, os textos dramáticos são próprios para a representação e apreendem a obra literária em verso ou prosa passíveis de encenação teatral. A voz narrativa está entregue às personagens, atores que contam uma história por meio de diálogos ou monólogos. Pertencem ao gênero dramático os seguintes textos: auto, comédia, tragédia, tragicomédia e farsa. (CASTRO, 2015, p.1)
A fábula se caracteriza por apresentar narrativas em prosa, ou até
mesmo em verso se aproximando da poesia e do mito. Durante a Idade Média
a fábula era chamada de flabliaux um conto fictício de riso e continha uma
moral na história envolvendo sentimentos, era chamada de lenda de cavalaria.
La Fontaine inicia uma distinção estreito entre apólogo e fábula, afirmando que
aquele é composto de duas partes: o corpo, ou a fábula e alma, ou a moral. Ou
seja, para o fabulista francês, a fábula é uma parte do apólogo: puramente
narrativa genuinamente imaginativa. (ROBLES, 1954)
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Para que haja um entendimento mais fácil e de forma clara, o quadro a
seguir visa sintetizar e sistematizar características do gênero fábula. Este se
separa em três partes: Conteúdo temático diz o que é possível ser dito na
fábula; Forma Composicional se refere à estrutura do texto e o seu Estilo que
condiz com quais recursos da língua se utiliza para o que diz a fábula.
Quadro 1: Estruturação da fábula (cont)
CONTEÚDO TEMÁTICO
A fábula apresenta um conteúdo didático-moralista que veicula valores éticos, políticos, religiosos ou sociais. Este conteúdo pode vir organizado de modo a enfocar o discurso moralista – mais comum nas fábulas em prosa, clássicas – ou pode assumir um valor mais estético, com uma linguagem mais metafórica e a presença de descrições mais apreciativas que investem na constituição mais poética das personagens e da ação narrativa. Neste caso, o desfecho é, em geral, surpreendente, humorístico ou impactante.
FORMA COMPOSICIONAL
Em prosa ou verso, as fábulas se organizam como uma narrativa concisa: há uma ação que se desenvolve por meio do estabelecimento de um conflito, em geral, de natureza competitiva ou exemplar. A ação da fábula, em geral, é episódica, constitui-se como um episódio do cotidiano da vida das personagens. Daí o tempo e o espaço não serem, em geral, situados, a não ser que contribuam para o desenvolvimento da ação. A moral, nas fábulas mais clássicas, entendida como a sua essência, aparece como o objetivo verdadeiro e final da fábula. Por esta razão, em geral, aparece explícita, evidente, no final do texto. Já nas fábulas em versos, houve uma transgressão deste princípio: a moral passou a constituir-se como parte do procedimento artístico na construção da fábula, podendo não aparecer explicitada, aparecer incorporada na fala das personagens ou, ainda, como introdução da narrativa.
ESTILO
A voz que fala ou canta (3ª pessoa): tanto nas versões mais clássicas das fábulas em prosa de Esopo, quanto em versões mais atuais e em versos, a voz que conta ou ‘canta’ assume, normalmente, a voz da sociedade. Daí a narração em 3ª pessoa, que distancia, impessoaliza o narrador. Nas versões mais modernas (versos de La Fontaine ou prosas mais atuais) esta voz assume um caráter mais individual e contestador de valores sociais ou comportamentos humanos: dialogam e contrapõem-se à voz autoritária e monolítica das fábulas clássicas. Ao assumir esta voz mais individual, com certa freqüência se coloca pessoalmente na fábula, fazendo o uso da 1ª pessoa: ... que eu não estou falando senão a verdade. A escolha das personagens da fábula tem relação direta com o seu potencial de colaboração para o desenvolvimento da ação narrativa. Ou seja, os animais ou outros seres são escolhidos em função de alguma característica específica (ágil, lento, ligeiro, pesado, leve, belo, feio...), de algum traço, um certo caráter da sua ação
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(manso, feroz, traiçoeiro, forte, frágil, desprotegido, perigoso,inofensivo...) que contribua para o estabelecimento de um conflito a partir do qual se desenvolva a história. Cabe ressaltar que a preferência pelo uso de animais e outros seres animados ou inanimados como personagens trazem um colorido à narrativa porque ilustram, personificam caracteres, de modo que podem ser facilmente substituídos por seres humanos.
Fonte: (SÃO PAULO, 2009, p. 44 e 45)
Hoje em dia são normais pessoas que confundem contos com fábulas,
creem ser a mesma coisa, quando na verdade não é. Conto relata história
sobre afeições humanas e a fábula é uma história curta em prosa ou versos,
com já foi citado acima, apresentando geralmente animais como personagens
os quais possuem vida própria, como também por outros seres, objetos
inanimados ou homens em seu enredo, marcada pela presença implícita ou
explicita de uma moral, um ensinamento ou uma crítica.
O conto, segundo a terceira acepção de Julio Casares, entendido como “fábula que se conta às crianças para diverti-las”, liga-se mais estreitamente ao conceito de estória e do contar estórias, e refere-se, sobretudo, ao conto maravilhoso, com personagens não determinadas historicamente. E narra como “as coisas deveriam acontecer”, satisfazendo assim uma expectativa do leitor e contrariando o universo real, em que nem sempre as coisas acontecem da forma que gostaríamos. (GOTLIB, 2002, p.17)
O gênero fábula pode ser considerado um gênero didático, pois a partir
de sua moral dá para se trabalhar conceitos éticos, morais e sociais sejam qual
for à idade: criança, jovem ou adulto, pois os assuntos abordados nos textos
são vivenciados em alguma fase da vida do ser humano.
1.1 Esopo
Esopo foi um fabulista grego, nascido na Trácia (região da Ásia Menor),
do século VI a.C. personagem quase mítico. Sabe-se que foi um escravo
libertado pelo seu último senhor, o filósofo Janto (Xanto). Considerado o maior
representante do estilo literário Fábula, possuía o dom da palavra e a
habilidade de contar histórias curtas retratando animais e a natureza e que
invariavelmente terminavam com lições de morais. (ROBLES, 1954)
Esopo foi a pessoa do 1° período do surgimento e evolução, aquele que
a moralidade constitui parte fundamental, é o das fábulas orientais, que
17
passaram da Índia para a China, o Tibet, a Pérsia, e terminaram na Grécia com
Esopo. (ROBLES, 1954)
Figura 1 – Esopo
Fonte: https://cdn.pensador.com/img/authors/es/op/esopo-l.jpg
Aristóteles afirmou que as fábulas de Esopo não eram uma forma de
poesia, mas pelo contrário, era uma forma de persuasão aos seus ouvintes,
para que agissem de forma adequada e com bom senso. (ROBLES, 1954)
É o sentido moral da moralidade do auto-interesse esclarecido. Uma
moral que nos estimula não a sacrificar, não ao heroísmo, não à castidade,
mas simplesmente à prudência. (ROBLES, 1954)
A fábula se resume em um conhecimento prudente que a vida tem, onde
o poeta se vê apto a emitir receitas para se viver bem. Pode-se perceber que
os conteúdos presentes nas fábulas vão estar justamente ligados à informação
que elas passam para quem as leem e para quem as ouvem.
A fábula sempre foi escrita com situações que eram vividas por Esopo, e
como naquela época não podia se rebelar contra seu ‘’senhor’’, escrevia suas
verdades usando sua imaginação e dando voz à vida e aos animais.
1.2 Fedro
Escritor latino, nascido na Trácia, que viveu (de 15 a.C. a 50),
considerado o introdutor da fábula, contos de cunho didático e moralizante, na
literatura latina. Recolheu, reescreveu e adaptou as fábulas atribuídas a Esopo
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a versificação latina. A ele atribui-se o mérito de ter fixado a forma literária do
gênero fábula, o que garante para ele um lugar na poesia.
Figura 2 - Fedro
Fonte: https://cdn.pensador.com/img/authors/fe/dr/fedro-l.jpg
Caio Júlio Fedro começou a escrever suas fábulas, partindo dos
modelos de Esopo, sendo assim reinventados novos modelos acerca deste
gênero. Pois ele trata das histórias de uma forma mais satirizada, por meio dos
personagens animais, ele fazia críticas às sociedades da época de uma forma
divertida, porém não deixando de lado o significado principal deste mesmo, que
é a lição de moral e de formação do caráter do ser humano. (ROBLES, 1954)
Escritas em versos, às histórias de Fedro são sátiras amargas, bem ao
sabor do gosto latino, contra costumes e pessoas de seu tempo. (ROBLES,
1954)
A Idade Média cultivou a tradição esópica. Entre as muitas versões da
época, divulgadas sob o nome de Ysopets (Esopetes), a mais famosa ficou
sendo a de Marie de France, do século XII. Os fabliaux (fabuletas) medievais,
embora não sejam propriamente fábulas, guardam com elas algumas
analogias. Por meio dos personagens animais, os poetas fazem críticas e
pretendem instruir divertindo. (ROBLES, 1954)
1.3 La Fontaine
19
Jean da La Fontaine nasceu em Château-Thierry, na região de
Champagne, na França, no dia 8 de julho de 1621. Estudou Teologia no
Oratório de Reins e Direito. Mudanças ocorreram em sua vida, e uma delas foi
virar um poeta e fabulista. Resgatou as fábulas do grego Esopo (século VI a.C.)
e do romano Fedro (século I a.C.) Considerado um dos mais importantes
escritores da França, é conhecido por modernizar nas fábulas o frescor da
poesia, imprimindo-lhes ritmo e ironia. (ROBLES, 1954)
Figura 3 - La Fontaine
Fonte: http://www.musee-jean-de-la-fontaine.fr/UserFiles/30-1-1.jpg
O grande passo de La Fontaine foi modificar um pouco a fábula,
transformá-la um pouco em teatro, fazendo assim com que o interesse das
pessoas em ver o verdadeiro sentido da fábula crescesse ainda mais. Torna-se
importante ressaltar que foi a partir de La Fontaine nos séculos XVIII, XIX e XX
que a fábula ganhou o mundo, tornando-se famosa em grandes países como:
França, Espanha, Portugal, Inglaterra, Alemanha e Brasil.
Mas só se tornou conhecido no ano de 1664, com os contos e com suas
primeiras fábulas dedicadas ao filho de Luís XIV. As histórias, na qual as
personagens principais eram representadas por animais, fizeram grande
sucesso na França. Entre elas destacam-se “A Lebre e a Tartaruga”, “O Leão e
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o Rato” e “O Lobo e o Cordeiro”. “A Cigarra e a Formiga”, atribuída a Esopo, foi
recontada por La Fontaine. (ROBLES, 1954)
21
CAPÍTULO II
A IMPORTÂNCIA DA LITERATURA E LEITURA NA FORMAÇÃO DA CRIANÇA
1 A LITERATURA NO BRASIL
A literatura infantil surgiu de início apenas para contar mitos e lendas,
mas depois surge um olhar voltado para a valorização do papel social da
criança, com objetivo dessas narrativas terem finalidade formativa para a
criança.
Ao sentir a necessidade de transmitir acontecimentos, ideias e
conhecimentos o homem torna-se o principal responsável pelo surgimento da
literatura infantil, buscando na ficção uma forma de transmitir uma herança
cultural para aqueles que iniciam um contato com a leitura, criando uma ligação
entre a literatura e a oralidade.
O objetivo da literatura infantil além de levar ao conhecimento é encantar, logo que, a criança precisa de incentivo e motivação para interagir no mundo da leitura, ligando seu mundo imaginário com o mundo real, e com isso, obter o desenvolvimento do hábito da leitura desde pequeno. (SCANTAMBURLO, 2012, p.11)
A literatura no Brasil teve início no século XIX, mas antes disso, a
mesma passou por diversas mudanças e um notório desenvolvimento que
duraram décadas e décadas, os quais serão citados a seguir. Porém antes de
qualquer coisa é preciso entender qual a importância do surgimento da
literatura no Brasil e o que ela representa.
Trata-se de uma arte que trabalha além de palavras a imaginação, isso
se dá, com o objetivo de despertar ao leitor o prazer em ler e o quão isso pode
ser benéfico a seu conhecimento de cultura e mundo, também tem como
resultado servir para valores essenciais que lidamos no dia a dia.
A literatura infantil é, antes de tudo, literatura; ou melhor, é arte: fenômeno de criatividade que representa o mundo, o homem, a vida, através da palavra. Funde os sonhos e a vida prática, o imaginário e o real, os ideais e sua possível/impossível realização. (COELHO, 2000, p. 27)
A literatura no Brasil se liga à literatura portuguesa, e levou um bom
tempo para que mudasse a produção das obras literárias brasileiras, pois elas
22
continham um pensamento português, até porque “seguiam-se” o modelo de
Portugal. Foi só na era do Romantismo que a história da literatura brasileira
tomou novos rumos e adquiriu sua autonomia, a partir de então se criaram
obras literárias próprias. Para entender um pouco de como aconteceu toda
essa trajetória da literatura no Brasil é importante entender o que e como foi
cada fase.
Segundo José Veríssimo, A Literatura no Brasil está intrinsecamente ligada à Literatura portuguesa. Durante muito tempo, toda produção literária esteve subjugada ao pensamento português. A partir do Romantismo, nossa Literatura emancipou-se, alcançou sua autonomia e criou manifestações literárias próprias. Sendo assim, para facilitar o estudo de nossa literatura, didaticamente ela foi dividida naquilo que conhecemos como Escolas Literárias (NOGUEIRA, 2015, p.1)
O Quinhentismo (1500 – 1601). É o estilo da colonização, trazido pelos
padres jesuítas. Um grande exemplo da Literatura Jesuíta é o padre José de
Anchieta, com seus sermões, poemas, autos e cartas. Pero Vaz de Caminha
também se destaca nesse período. (NOGUEIRA, 2015)
O Barroco (1601 – 1728). É marcado pelo exagero. A literatura
barroca tinha muitos detalhes, metáforas, hipérboles e o teor dos textos era
sempre voltado para a angústia entre o sagrado e o humano. Exemplos desse
período são os padres Antônio Vieira e Gregório de Matos, conhecido como
Boca do Inferno. (NOGUEIRA, 2015)
O Arcadismo (1768 - 1836). É o conhecido fugere urbem, a fuga das
cidades. É marcado pelo desejo de vida bucólico, com muitos elementos da
natureza, e a exaltação dos padrões de beleza femininos. São exemplos de
autores dessa época, Tomás Antônio Gonzaga e Cláudio Manoel da Costa.
(NOGUEIRA, 2015)
O Romantismo (1836 – 1881). Essa é uma escola de transição. Ressalta
o nacionalismo, o espírito sonhador, individualismo, valorização da liberdade e
idealização da mulher. A mulher amada passa a ser algo inalcançável, suas
caracterizações quase divinas. Exemplos de escritores são José de Alencar,
Castro Alves e Gonçalves Dias. (NOGUEIRA, 2015)
O Realismo e Naturalismo (1881 – 1922). Nesse período, o teor das
obras passou a ser mais objetivo, de cunho social, com linguagem mais
popular, uso das cenas cotidianas e valorização da realidade. Totalmente
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oposto ao romantismo. Escritores dessa escola são Aluísio Machado e
Machado de Assis. (NOGUEIRA, 2015)
O Parnasianismo (1882 - 1922). É a escola literária mais metalinguística
que existiu. Nesta, os autores afirmavam que faziam “a arte pela arte”.
Buscavam uma retomada dos valores clássicos, linguagem culta e rebuscada.
Eram tachados de alienados, pois não escreviam sobre problemas sociais. Por
exemplo Olavo Bilac, Raimundo Correa e Vicente de Carvalho. (NOGUEIRA,
2015)
O Simbolismo (1893 - 1922). Começa em 1893, com a publicação de
Missal e Broquéis, de Cruz e Souza. O Simbolismo vai até o início do século
XX, quando ocorre a Semana de Arte Moderna. (NOGUEIRA, 2015)
O Pré-Modernismo (1902 - 1922). Tem como base elementos que marca
o capitalismo contemporâneo, influenciado pelos meios tecnológicos,
inovações científicas e pelas atitudes do homem pós-moderno. O sentimento é
de liberdade imensa, com opções infinitas de possibilidades. (NOGUEIRA,
2015)
O Modernismo e suas outras correntes que alcançam a Literatura
contemporânea (século XX). Iniciou a partir da Semana de Arte Moderna de
1922. Os textos passam a ser mais diretos, com humor e uma maior liberdade
de escrita e com temas urbanos. Manuel Bandeira, Oswald de Andrade, Mario
de Andrade e Monteiro Lobato são exemplos de autores dessa escola literária.
(NOGUEIRA, 2015)
Analisando todos os períodos que a literatura no Brasil passou, entende-
se que o período modernista ainda em uso, com sua flexibilidade em abranger
diversos temas quando escritos.
A literatura é uma arte, a arte da palavra, isto é, um produto da imaginação criadora, cujo meio especifico, é a palavra, e cuja finalidade é despertar no leitor ou ouvinte o prazer estético. Tem, portanto, um valor em si e um objetivo, que não seria de comunicar ou servir de instrumento a outros valores – políticos, religiosos, morais, filosóficos. Dotada de uma composição especifica, que elementos intrínsecos lhe fornecem, tem um desenvolvimento autônomo. (COUTINHO; SOUZA, 2001, p.960)
A partir deste contexto, o professor deve ter o cuidado ao escolher livros
para que não desmotivem os alunos, pois a leitura deve ser vista como algo
prazeroso e não uma obrigação, que estimule a curiosidade e desperte o
24
interesse dos alunos em buscarem conhecimentos através dos livros.
Deixando-lhes a vontade para seguir buscando seus próprios saberes,
utilizando referências prévias que o professor fornecerá.
1.1 A literatura na escola
Sabe-se que a maioria dos alunos não possui o hábito de ler em casa,
por não terem a motivação necessária, que muitas vezes deixa de partir do
professor e dos próprios pais da criança e a desmotivação dificulta a criação
deste hábito.
A falta dessa leitura em casa faz com que a criança chegue à escola
desinteressada pelos livros, fazendo relação negativa ao fato de ler, rotulando
a leitura como uma obrigação imposta pela escola e algo que não desperta
prazer.
Sendo que o fato de saber ler e compreender aquilo que se lê, são
fundamentais na formação do pensamento da criança, é a partir de novos
conhecimentos que o professor ensina que ela vai criando seu próprio
pensamento crítico e formando suas opiniões em relação a vida e sua
formação como um indivíduo pensante e não robotizado, que age de modo
automático, sem questionar seus direitos.
É à literatura, como linguagem e como instituição, que se confiam os diferentes imaginários, as diferentes sensibilidades, valores e comportamentos através dos quais uma sociedade expressa e discute, simbolicamente, seus impasses, seus desejos, suas utopias. Por isso a literatura é importante no currículo escolar: o cidadão, para exercer, plenamente sua cidadania, precisa apossar-se da linguagem literária, alfabetizar-se nela, tornar-se seu usuário competente, mesmo que nunca vá escrever um livro: mas porque precisa ler muitos. (LAJOLO, 2008, p.106)
Dito isto, pode-se refletir o quão é importante que a criança tenha
consigo a convicção que aprender a ler, não é apenas porque ela é obrigada
ou pelo fato do professor estar pedindo e sim porque é necessário para sua
formação pessoal e acadêmica.
Os alunos precisam entender e compreender que para se tornarem
cidadãos ativos na sociedade, é necessário ter o conhecimento e a propriedade
do que se fala e do que se ouve. Para assim, conseguir chegar aos seus
objetivos pessoais e profissionais.
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Ler não é decifrar, como num jogo de adivinhações, o sentido de um texto. É a partir do texto, ser capaz de atribuir-lhe significado, conseguir relacioná-lo a todos os outros textos significativos para cada um, reconhecer nele o tipo de leitura que seu autor pretendia e, dono da própria vontade, entregar-se a esta leitura, ou rebelar-se contra ela, propondo outra não prevista. (LAJOLO; ZILBERMAN, 1982, p.59)
A literatura abre portas para a criança, mostra que ela tem o direito de
construir sua visão de mundo, com todo o arsenal de significações que se
possa embutir através dessa prática, a partir disso, pode haver uma revisão de
conceitos e do papel que ela exerce em sua realidade.
Segundo Rocco (1992), o ensino da literatura deve ser conduzido de tal
forma que se perceba do que os alunos são capazes de, em termos sociais,
afetivos e mentais e a partir disso, se torna possível trabalhar com base naquilo
que o professor já possui de seus alunos, buscando cada vez evoluir com estes
conhecimentos.
Ao promover a interação entre indivíduos, a leitura, compreendida não só como leitura da palavra, mas também como leitura de mundo, deve ser atividade constitutiva de sujeitos capazes de interligar o mundo e nele atuar como cidadão (BRANDÃO, 1997, p.22).
A partir disso, o professor pode trabalhar de forma mais ampla com os
alunos, pois eles terão uma base sólida de conhecimento gerado pelos livros
que leem, e assim cada vez mais o professor poderá estar expandindo as
áreas de novos saberes dos alunos. Mostrando se sempre motivado em ver o
crescimento mental dos alunos, motivando lhes a sempre querer mais de si
mesmo.
1.2 A importância da leitura
Bamberger (1977) identifica a leitura como um processo mental de
vários níveis, que muito contribui para o desenvolvimento do intelecto. É
também uma forma exemplar de aprendizagem. É um dos meios mais eficazes
de desenvolvimento sistemático da linguagem e da personalidade.
Segundo Cagliari (1996), a leitura é uma atividade de assimilação de
conhecimentos, de interiorização, de reflexão, um processo de descoberta. É a
extensão da escola na vida das pessoas.
Fazendo isso, o professor consegue chegar ao nível, no qual a maioria
dos alunos saia com o conhecimento elevado e aproveitamento suficiente das
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aulas para ter a habilidade de pensar sozinho e coerentemente sobre situações
impostas pelo seu cotidiano.
E para que esse conhecimento se expanda cada vez mais, o professor
deve desenvolver um trabalho com os pais dos alunos, explicando a
importância de ter continuidade desse hábito diário na vida de seus filhos.
Deste mesmo modo os professores de todas as disciplinas e não
somente os de língua portuguesa, devem ter a consciência que precisam dar
continuidade a essa motivação em relação a ler.
A formação dos leitores não é tarefa exclusiva dos professores de Língua Portuguesa, mas é compromisso de todos educadores, que formam leitores, caracterizando, assim, uma dinâmica multidisciplinar sustentada, necessariamente, por princípios consistentes (RÖSING, 1996, p.22)
O professor precisa ter um olhar atento para as dificuldades do seu
aluno, como foi citado acima, seja qual disciplina que o professor dê, ele não
pode ignorar o fato de que a maioria delas precisa saber ler, compreender e
interpretar o que o texto diz, por exemplo, em matemática, às vezes o aluno
não consegue desenvolver as operações com êxito por não conseguir ler e
interpretar o que o enunciado da situação-problema diz.
O aluno muitas vezes não resolve problemas de matemática, não porque não saiba matemática, mas porque não sabe ler o enunciado do problema [...] Porque de fato ele não entende mesmo é o português que lê. Não foi treinado para ler números, relações quantitativas, problemas de matemática [...] Tudo o que se ensina na escola está diretamente ligado à leitura e depende dela para se manter e se desenvolver (CAGLIARI, 1996, p.148 e 149)
Contudo, é de extrema importância que seja trabalhado a leitura nas
aulas de língua portuguesa de forma ampla e clara, pois é a partir desta
disciplina que os alunos terão a base para se desenvolver nas outras. Fazendo
relações significativas para os alunos, mostrando a eles que ser um bom leitor
é de grande ajuda em tudo que for fazer fora da disciplina de língua
portuguesa.
O domínio da leitura por si só é gratificante e leva a criança a produzir seus próprios textos com prazer. Aos poucos o pequeno leitor descobre um diálogo com a escrita que lhe abre os horizontes do mundo, as possibilidades de expressão; nesse momento, ocorre uma consciência intuitiva de que há o que buscar e encontrar na literatura. (YUNES, 1981, p. 137)
O ensino da leitura é muito mais do que ligar palavras, ler uma frase, ou
até mesmo um livro inteiro sem que o leitor seja beneficiado por isso, a leitura
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compreende várias fases de desenvolvimento. Pois inicia pelo processo
perceptivo reconhecendo os símbolos da leitura (letras), após isso ocorre à
transferência para conceitos intelectuais.
Cada ser processa essa tarefa mental se ampliando num processo
reflexivo e cada vez que essas ideias se ligam, a mente trabalha para captá-las
e gravá-las. Mas o processo mental não se baseia apenas na compreensão
daquilo que se recebe como também sua interpretação e avaliação, todas
essas fases fazem parte do processo que se fundem no ato da leitura.
(BAMBERGER,1977)
A percepção de símbolos impressos ocorre durante as “pausas de fixação”, à medida que os olhos se movem para a frente. O leitor inexperiente só percebe uma ou duas letras numa pausa de fixação simples. A prática conduz a um “período de fixação” maior, em que se percebem duas ou três palavras ao mesmo tempo. (BAMBERGER, 1977, p.25)
A habilidade de leitura não se baseia em ser capaz de combinar com
exatidão os “sons em palavras e palavras em unidades mentais”, como
acreditava antigamente, mas sim no “reconhecimento imediato de palavras já
armazenado na mente”, para que isso ocorra é necessário que o indivíduo
pratique leituras silenciosas e até mesmo exercícios instantâneos de leitura que
concorrem para o aperfeiçoamento da mesma.
Bamberger (1977) relata um trecho da história da aquisição da leitura,
dizendo que nos tempos antigos, reservava-se a pouquíssimos o privilégio da
leitura, e mesmo depois do Século do Humanismo ela só era acessível a uma
elite culta.
Mas tal privilégio foi aos poucos sendo de fácil acesso para todos, afinal
é direito de todo o indivíduo o “direito de ler” que significa o direito igual de
desenvolver várias capacidades, dentre elas se destacam: capacidade
intelectual e espiritual da pessoa, além de possuir o direito de desenvolver seu
aprendizado e assim progredir conforme for.
A leitura foi outrora considerada como um simples meio de receber uma mensagem importante mas, hoje em dia, a pesquisa nesse campo definiu o ato de ler, por si mesmo, como um processo mental de vários níveis, que muito contribui para o desenvolvimento do intelecto. [...] A combinação de unidades mentais em sentenças e estruturas mais amplas de linguagem constitui, ao mesmo tempo, um processo cognitivo e um processo de linguagem. A contínua repetição desse processo resulta num treinamento cognitivo de qualidade especial. (BAMBERGER, 1977, p.12)
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Ao oferecer à criança um livro, muitos escolhem o mais colorido, o que
possui mais figuras, os mais diferentes e divertidos, sem pensar e sem ao
menos ler o que o livro traz. Sem se importar ainda com o que tem mais valor:
o impressionar a criança com algo tão chamativo, ou pelo fato da criança estar
adquirindo o hábito de ler, este que interfere diretamente na sua aquisição de
conhecimento, aprimoramento de sua imaginação e o desenvolvimento do fator
cognitivo da criança.
Se tivermos de escolher entre um livro que apenas eduque ou instrua e outro que só divirta a criança, não hesitemos: fiquemos com o que a distrai. O primeiro será logo posto de lado, e o segundo será sempre valioso: trará à infância o interesse pela leitura, despertará nela a curiosidade intelectual, e lhe proporcionará momentos agradáveis, o que já é uma grande conquista. (CUNHA, 1968, p.35)
Cunha (1968) em seu falar traduz muito bem o “olhar” que se deve ter
num livro, pois ele importa primeiramente ao que vai somar na vida da criança,
essa que mesmo tendo já seus próprios conhecimentos de mundo, é ainda
receptora de conhecimentos, dessa forma o que ela vê, lê e escuta se
memorizam e tais memórias são levadas para a vida toda, por isso se faz
importante saber o que ela lê, e se possível introduzir leituras que ajudará em
seu desenvolvimento psíquico, cognitivo e social. Segundo Cunha (1968) a
leitura é um dos meios mais eficazes de desenvolvimento sistemático da
linguagem e da personalidade. O trabalho sobre a linguagem é o trabalho
sobre o homem.
Permitir e dar acesso às crianças para terem contato com o livro é tão
importante quanto ensiná-las a andar e esse “apresentar” do livro para a
criança é fundamental para que a mesma se familiarize e faça o uso de tal.
Mais do que oferecer é preciso ter prática de ler, envolver-se com a leitura, não
importa a quantidade de páginas lidas, mas sim o uso e aprendizado que aquilo
trará para a criança.
"Como em qualquer outra tarefa didática, o primeiro passo consiste em
conhecer a criança, ou seja, conhecer-lhe os interesses, baseando neles o
trabalho que há de ser feito e desenvolvendo-os ao máximo [...]".
(BAMBERGER, 1977, p.67)
É relevante ressaltar que esse convite que faz com a criança em praticar
o hábito de ler, deve-se conhecer quem é esta criança, seus gostos, desejos,
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sensações, a partir daí iniciar este contato com a leitura, para que além da
criança se desenvolver, ela esteja fazendo isso com um tema do seu gosto,
contribuindo para motivar ainda mais esse gosto pela leitura e ao crescer
carregará consigo este hábito, passando para os outros a importância de se
praticar a leitura.
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CAPÍTULO III
MONTEIRO LOBATO: VIDA E OBRA
1 BIOGRAFIA DO AUTOR
Na literatura brasileira um dos maiores e mais conhecidos autor pioneiro
da fábula no Brasil foi o Monteiro Lobato, que tinha como objetivo levar o leitor
a refletir e entender sobre a realidade em que está inserido. Com sua literatura
criada tanto para as crianças quanto para adultos, abordam diversas situações
reais no imaginário das pessoas, permitindo que o leitor entenda e dialogue
com sua própria realidade.
Segundo Lopes (2012) na noite de 18 de abril de 1882 nasce em
Taubaté/SP, José Bento Renato Monteiro Lobato, que tem o apelido de Juca.
Seu encantamento pelos livros se iniciou quando visitava seu avô, passava
horas na biblioteca, gostava ainda mais dos livros ilustrados que ali havia. Seu
primeiro contato com lições não foram na escola, mas sim em casa, onde sua
mãe Olímpia o ensinou a ler, escrever e contar. Depois contrataram o professor
particular Joviano Barbosa, que ficou encarregado da educação de José Bento,
um pouco mais tarde ingressou numa escola particular de Taubaté.
Em 1896, matricula-se no Instituto Ciências e Letras, colaborou nos
jornais “O Patriota” e “A Pátria”, e então fundou seu próprio jornal H2O.
Participa ainda do Grêmio Literário Álvares de Azevedo, onde realizavam
torneios oratórios e discursos.
Quando seus pais faleceram, o avô assume a guarda de Monteiro e
suas irmãs. A vontade de Lobato era de ingressar na Escola de Belas Artes,
mas se viu obrigado, por seu avô, a matricular-se no curso de Direito, anos
mais tarde ingressou na Faculdade de Direito de São Paulo, em 1900.
Segundo Lajolo (1985) nos primeiros anos de faculdade, já era
perceptível o desinteresse de Lobato pelos estudos das leis, substituindo-os
pelas caricaturas que fazia de seus professores enquanto explicavam a
matéria, como também pelas atividades estudantis.
Lobato funda a “Arcádia Acadêmica”, sendo a literatura a mais discutida
no grupo. O conto “Gens Ennuyeux” foi o conto vencedor em um concurso
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literário que ele participou em 1903, já no ano seguinte, em 1904, o jornal
publicou o texto vencedor do concurso. Após tal premiação Lobato funda com
seu grupo de amigos “O Cenáculo”. (LAJOLO, 1985)
Segundo Coutinho e Souza (2001) em 1904, Lobato realizou estudos
primários e secundários em sua cidade natal, se formando em bacharel na
Faculdade de Direito de São Paulo.
Após conquistar seu diploma e retornar para Taubaté, fica noivo de
Maria Pureza, neta do professor com quem Lobato jogava xadrez. Em 1907,
assume o cargo de promotor na cidade de Areias, um ano mais tarde, em
1908, casou-se com Maria Pureza. (LOPES, 2012)
No ano de 1911, após a morte de seu avô Visconde de Tremembé,
Lobato se transforma num grande proprietário rural e com sua família: esposa
Maria Pureza e seus três filhos: Marta, Edgar e Guilherme, mudam-se para a
fazenda.
Figura 4 - Monteiro Lobato
Fonte: http://www.pedromigao.com.br/ourodetolo/2014/09/monteiro lobato.jpg
1.1 O fazendeiro que se tornou escritor e editor
Lobato estava cada vez mais insatisfeito com o caminho que a fazenda
estava tomando, pois já não se conseguia render lucros, dessa forma começou
32
a escrever seus primeiros contos, que foram publicados no jornal O Estado de
S. Paulo, como: “Velha Praga” e “Urupês”. (LOPES, 2012)
Em 1918, Lobato compra a Revista do Brasil, inaugurando a marca
Monteiro Lobato com o livro que havia escrito anos antes: “Urupês”, que foi
lançado no mesmo ano da compra da Revista. (LAJOLO, 1985) A autora relata
que Lobato reconhece a literatura como se fosse uma mercadoria, e se
preocupa com a qualidade visual, ou seja, gráfica e estética dos livros.
Figura 5 – Livro: Urupês
Fonte: http://verdademasculina.com.br/2013/09/Urup%C3%AAs-1.jpg
Monteiro Lobato tinha um grande desejo em ser pintor, mas dada às
circunstâncias, esse gosto acabou colaborando de forma expressiva para seu
extinto crítico, nas obras que produz. Por esse motivo o autor se mantém tão
fiel nos desenhos que produz para seus contos, detalhando-se atentamente ao
qual tom usar, nitidez da imagem e tudo aquilo que faz a mesma ser tão
importante quanto aquilo que é escrito.
Monteiro Lobato sempre desejou ser pintor; os seus melhores críticos e ele mesmo assinalaram o imenso débito de sua obra de escritor para com esse gosto pela pintura. Vem daí, certamente a preocupação em escolher o tom exato, a imagem mais nítida, mais
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vigorosa, mais expressiva. Esforçava-se Lobato por colocar a cena evocada ao alcance da visualização concreta do leitor - por “pintar com palavras”, como ele próprio declarou. (MOREIRA, 1962, p.11)
Ainda no ano de 1918, sem êxito comercial com os textos que
publicavam em sua Editora Monteiro Lobato, dedicou-se à literatura infantil,
criando o gênero no Brasil com um valor artístico e construiu uma verdadeira
biblioteca para as crianças brasileiras. (COUTINHO e SOUZA, 2001)
Segundo Lajolo (1985) ainda na fazenda, Lobato percebeu o
agravamento das queimadas que a população executava pelos arredores da
fazenda, e assim acabava prejudicando o solo, outra coisa prejudicial era a
política econômica que não favorecia a lavoura. Para alertar as pessoas,
Lobato produzia textos com uma linguagem para que as pessoas refletissem
sobre a realidade em que viviam e sobre o Brasil. É nesta época que surge a
personagem Jeca-tatu que abordava esta realidade. A personagem foi tão
famosa que se multiplicou por várias vozes, como: Rui Barbosa, retomando a
imagem do caipira e amplifica a tribuna eleitoral e Miguel Pereira, utilizando a
personagem em campanhas sanitaristas.
A personagem Jeca Tatu representava um dos muitos problemas do
Brasil, primeiro foi o saneamento e depois outras doenças: malária, doença de
chagas, tuberculose e sífilis. A abordagem desta personagem iniciou com
objetivo didático, descrevendo sobre a doença, sua gênese, desenvolvimentos
e possíveis consequências. Diante disso, Monteiro Lobato toma a liderança
jornalística, tornando os temas discutidos como conversa obrigatória, levando
os poderes públicos tomarem algumas providências, já que não levava em
conta estes problemas, permitindo à população viver em desleixo.
(CAVALHEIRO, 1955)
Diante das polêmicas que surgiam sobre os textos de Lobato, sua
carreira se amplia e faz parceria com uma empresa da Argentina, objetivando o
aumento do capital. Lajolo (1985) diz que “a Editora da Revista do Brasil,
desdobrada na Monteiro Lobato & Cia e depois na Companhia Gráfica Editora
Monteiro Lobato, acaba falindo em virtude da revolução de 1924 que paralisa a
cidade de São Paulo”. Com a falência da editora de Monteiro, ele produziu o
Sítio do Picapau Amarelo em 1921, ano também que publicou a Menina do
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Narizinho Arrebitado. Em 1925, funda a Companhia Editora Nacional, sendo
uma das pioneiras das grandes editoras modernas brasileiras.
A história de Dona Benta, aquela velha de mais de sessenta anos, óculos de ouro no nariz, que mora na companhia da mais encantadora das netas, mergulha na eternidade. Mais do que desdobrar-se nas aventuras contadas nos livros que até o fim da vida Lobato publicou aqui e na Argentina, o sítio do Picapau Amarelo marcou a imaginação de gerações e gerações de brasileiros (LAJOLO, 1985, p. 48)
Foi no ano de 1921, que Monteiro Lobato pela primeira vez apresenta a
literatura infantil no Brasil. Sem se esquecer das belas imagens que os livros
continham.
O surgimento de livros para crianças pressupõe uma organização social moderna, por onde circule uma imagem especial de infância: uma imagem que encare as crianças como consumidoras exigentes de uma literatura diferente da destinada aos adultos (LAJOLO, 1985, p. 49)
Sendo a Menina do Narizinho Arrebitado umas das histórias mais
queridas e prediletas das crianças, passou a ser vista com outros olhos pelo
governo do Estado que adquiriu grande parte dos livros, os distribuindo
gratuitamente nas escolas.
Cavalheiro (1955) relata que a partir desse momento, Lobato escreve:
“O Saci”, “O Marquês de Rabicó”, “Fábulas” e “Juca Tatuzinho” vendendo
milhares de exemplares, Monteiro Lobato se deu conta que estava então
criando a literatura infantil brasileira.
A editora de Monteiro Lobato sofre uma grande crise, forçando-o a se
mudar para o Rio de Janeiro. No fim do ano de 1925, tendo quarenta e quatro
anos de idade, Lobato tem uma visão de sua vida, verificando que um dia já foi
rico de sonhos, de esperanças e também de bens materiais, mas que perdeu
tudo. Diante dessa visão se fez necessário começar tudo de novo, reiniciar e
partir da estaca zero. (CAVALHEIRO, 1955)
Em meio a tantas dificuldades, é na literatura que Monteiro Lobato se
apoia e nela que continua sua luta. Para se manter como Monteiro Lobato, ele
só tinha um recurso, o qual era o trabalho intelectual. Criou diversos livros
como: “As Novas Reinações de Narizinho” e “História do Mundo para as
Crianças”, traduz também obras como: “Mowgli, o Menino Lobo”, “Pinocchio” e
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alguns outros. Já em 1934, escreve “Emília no País da Gramática”, traduzindo
também outras histórias. (CAVALHEIRO, 1955)
Depois do sucesso que foi A Menina do Narizinho Arrebitado, Lobato
precisou se comprometer com as personagens que irão participar dessas
aventuras.
[...] é o sítio do Picapau Amarelo propriedade de Dona Benta, que vive originalmente acompanhada de sua neta, a menina Lúcia, conhecida por Narizinho, e de uma cozinheira antiga e fiel, tia Nastácia. Trata-se de uma população pequena para preencher um cenário tão grande, mas personagens multiplicam-se rapidamente, com a inclusão de outros seres humanos (Pedrinho), seres mágicos (os bonecos animados Emília e Visconde), animais falantes (o porco Rabicó, o burro Conselheiro e o rinoceronte Quindim), sem falar dos eventuais seres aquáticos, habitantes do Reino das Águas Claras, localizado nas cercanias do sítio, ou dos visitantes mais ou menos habituais, como Peninha, o Gato Félix ou o Pequeno Polegar (LAJOLO; ZILBERMAN, 1991, p. 55)
A partir dessas criações, Lobato pôde manter um grupo com diversas
personagens definitivas, o que permite a criação de novas histórias, sendo o
Sítio do Picapau Amarelo o ponto de partida para todas as aventuras.
Assim sendo, o sítio não é apenas o cenário onde a ação pode transcorrer. Ele representa igualmente uma concepção a respeito do mundo da sociedade, bem como uma tomada de posição a propósito da criação de obras para a infância. Nessa medida, está corporificando no sítio um projeto estético envolvendo a literatura infantil e uma aspiração política brasileira. (LAJOLO; ZILBERMAN, 1991, p.56)
Umas das marcas registradas das obras de Monteiro Lobato, e que aqui
já foi citado, é de que sua escrita é de forma crítica aos acontecimentos no
Brasil e uma de suas passagens cita o abandono em relação à saúde pública
que não tinha dinheiro para sobreviver, mas que poderia se utilizassem
financeiramente os recursos minerais, em particular o petróleo.
Mas, como íamos contando, naquele dia Pedrinho começou a ler o jornal à moda americana, com os pés em cima da grade. Em certo momento interrompeu a leitura para dizer em voz alta falando consigo mesmo: ─ Bolas! Todos os dias os jornais falam em petróleo e nada do petróleo aparecer. Estou vendo que se nós aqui no sítio não resolvermos o problema o Brasil ficará toda vida sem petróleo. Com um sábio da marca Visconde para nos guiar, com ideias da Emília e com uma força bruta como a do Quindim, é bem provável que possamos abrir no pasto um formidável poço de petróleo. Por que não? (LOBATO, 1982, p. 8)
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Em particular na obra: O poço de Visconde é perceptível visualizar a
manifestação que Lobato tem a fim de encontrar petróleo no Brasil, mostrando
os benefícios que esta descoberta traz para o país, mas isso só seria possível
se as autoridades do governo se preocupassem e investissem na mesma.
─ E por que o Brasil também não produz milhões e milhões de barris? Será que não existe petróleo aqui? ─ Não existem perfurações, isso sim. Petróleo o Brasil tem para abastecer o mundo inteiro durante séculos. Há sinais de petróleo por toda a parte em Alagoas, no Maranhão, em toda a costa nordestina, no Amazonas, no Pará, em São Paulo, no Paraná, em Santa Catarina, no Rio Grande, em Mato Grosso, em Goiás. A superfície de todos esses Estados está cheia dos mesmos indícios de petróleo que levaram as republicas vizinhas a perfurar e a tirá-los aos milhões de barris. Os mesmíssimos sinais... ─ Então por que não se perfura no Brasil? ─ Porque as companhias estrangeiras que nos vendem petróleo não têm interesse nisso. E como não têm interesse nisso foram convencendo o brasileiro de que aqui, neste enorme território, não havia petróleo. E os brasileiros bobamente se deixaram convencer... (LOBATO, 1982, p. 26)
As obras de Monteiro Lobato não soam apenas como críticas sem que
haja um efeito, mais que isso eles apontam problemas sociais, econômicos,
como também políticos que o país estava passando. Sendo a literatura uma
maneira de dar voz às criticas do autor e quem sabe contribuir de alguma
forma para a conscientização e um também posicionamento crítico e reflexivo
sobre a sociedade.
Em sua obra “Sítio do Picapau Amarelo”, Monteiro permite que tudo
possa acontecer, fazendo com que suas obras infantis transformem o sítio em
algo que permita acolher personagens de diversas tradições. Fora isso, os
livros infantis produzidos por Lobato, organizam-se em histórias que seguem
uma determinada repetição de grupo de personagens e de um mesmo espaço,
o que garante a fidelidade daqueles que os leem. (LAJOLO, 1985)
Também criou na sua literatura, personagens que vivem no mundo e na mente, tanto das crianças como na mente dos adultos, personagens que se eternizaram no mundo infantil. Assim, Monteiro Lobato valorizava o contexto histórico propondo reflexões acerca da realidade em que estamos inseridos, alternando em suas publicações obras para adultos e para crianças. Prolongando as aventuras dos seus personagens em muitos outros livros em torno do Sítio do Picapau Amarelo. (LOPES, 2012, p. 31)
37
Figura 6 – Livro: O sítio do picapau amarelo
Fonte: https://sebodomessias.com.br/imagens/produtos/21/210372_928.jpg
As obras de Monteiro proporcionam aos seus leitores uma experiência
real e mágica, de poder fazer parte daquilo que está lendo, quanto o que se
passa no cotidiano, seria uma ponte trazendo o imaginário ao real. O autor que
se vê voltado ao público infantil, se dedica também ao adulto, com o objetivo de
valorizar o contexto histórico traçando linhas com o imaginário e o real, sem se
ausentar de explorar a imaginação daquele que se lê.
Segundo Lopes (2012) Monteiro Lobato, foi um homem que optou
assumir uma posição acerca de vários assuntos recorrentes de sua época. É
uma de suas características mais marcantes de sua literatura é a luta por um
Brasil modernizado.
Suas histórias não tinham apenas o objetivo de conscientizar seus
leitores de lutarem por um país melhor e moderno, mas outra preocupação que
Lobato tinha era com a didática, fazendo com que se dedique a várias matérias
escolares, como: Aritmética da Emília (1935), Geografia de Dona Benta e
Histórias das invenções, entre outros contos que trabalham com diversas
matérias contidas no currículo escolar. (LOPES, 2012)
Com todos objetivos traçados por Lobato é inevitável perceber o quanto
ele amplia o universo cultural de seus leitores, fazendo com que o ato de ler
seja um momento prazeroso. Dessa forma seus leitores iam criando
38
progressos no ato da leitura, fazendo com que suas experiências tivessem o
real sentido e compreensão.
1.2 Monteiro Lobato e a literatura para crianças no Brasil
A literatura infantil teve início na primeira metade do século XVIII, apesar
das primeiras obras terem surgido na França, foi na Inglaterra que ocorreu sua
difusão. Pelo fato do país estar crescendo por conta da industrialização, a
literatura infantil passa a ser vista como uma mercadoria, pois antes disso não
se produzia para as crianças sendo elas consideradas pequenos adultos. Elas
são vistas com outros olhos, mas tudo era apenas de natureza simbólica.
A criança passa a deter um novo papel na sociedade, motivando o aparecimento de objetos industrializados (o brinquedo) e culturais (o livro) ou novos ramos da ciência (a psicologia infantil, a pedagogia ou a pediatria) de que ela é destinatária. Todavia, a função que lhe cabe desempenhar é apenas de natureza simbólica, pois se trata antes de assumir uma imagem perante a sociedade, a de alvo da atenção e interesse dos adultos, que de exercer uma atividade econômica ou comunitariamente produtiva, da qual adviesse alguma importância política e reivindicatória. (LAJOLO; ZILBERMAN, 1991, p.17)
Perante o desenvolvimento que as cidades estavam tendo naquela
época, o livro se torna favorável entre os grupos tanto da burguesia como os
grupos mais inferiores, sendo a literatura o caminho que os faz espelhar na
escolarização e cultura, com base nisso entende-se que o livro transmite
valores moldando assim as crianças e jovens.
Segundo Lajolo e Zilberman (1991) com o século XVIII, a tipografia é
aperfeiçoada se expandindo a produção de livros, permitindo que os gêneros
literários se proliferassem se adequando com o desenvolvimento recente e
inovador. Assim, se a literatura trabalha sobre a língua escrita, esta fica
dependente da capacidade da leitura dos alunos, supondo que os mesmos
tenham passado pela instituição escolar e dessa forma, faça uso da leitura.
É nesse momento que começa a ligação entre literatura e escola, a
literatura sendo o que uni a criança e sociedade, e de outro lado à escola, que
tem como objetivo promover e estimular condições que possibilitem a
circulação da literatura.
Tornou-se valorizado a instrução e a escola, a preocupação agora era
com a literatura e para as crianças brasileiras, evidenciando a importância do
39
hábito de ler para a formação do cidadão. Dessa forma, houve uma
sensibilização entre intelectuais, jornalistas, e professores começam a criar
livros para à consolidação do projeto de um Brasil moderno (LAJOLO e
ZILBERMAN, 1991).
A justificativa para tantos apelos nacionalistas e pedagógicos, estimulando o surgimento de livros infantis brasileiros, era o panorama fortemente marcado por obras estrangeiras. É nas duas ultimas décadas do século passado que se multiplicam as traduções e adaptações de obras infantis; antes de 1880, circulavam no Brasil, aparentemente, apenas traduções do na Europa bem-sucedido em vendas Cônego (Christoph) Von Schmid: O canário (1856), A cestinha de flores (1858) e Os Ovos de Páscoa (1860). (LAJOLO; ZILBERMAN, 1991, p.29)
Diante das circunstâncias, a falta de material didático brasileiro era
justificada pelas histórias europeias que eram traduzidas e circulavam em
edições portuguesas, sendo que as crianças não sabiam da origem do idioma,
ou seja, essa literatura oferecida se distanciava da língua materna dos leitores
brasileiros.
É nesse sentido que Monteiro Lobato vê a necessidade de escrever para
as crianças numa linguagem que surtisse real interesse, foi então que ele
liderou uma nova expressão literária, rompendo com qualquer padrão de
literatura que se originou na Europa.
Lobato sendo um homem público e se submetendo assumir frente aos
problemas de sua época, tem também seu grande compromisso com o seu
tempo.
Lobato luta por um Brasil que modernize em moldes capitalistas, tendo, ao menos durante boa parte de seus livros, a sociedade norte-americana como modelo de sua utopia social. Mesmo suas lutas pelo petróleo e demais minérios, sua impaciência em fazer do atraso brasileiro parte de um modelo burguês capitalista para o qual a eficiência e a racionalização são mandamentos supremos. (ROCHA, 1981, p.102)
Além de defender uma sociedade moderna, Monteiro Lobato não segue
padrão na linguagem que utiliza em suas criações, em vez disso assumiu uma
nova forma de literatura para o Brasil, utilizando assim personagens brasileiras
para suas obras. Dessa forma, Lobato arrastou o público leitor para um
universo maravilhoso e fantástico, fazendo possível que eles tenham essa
oportunidade de poder utilizar a leitura para explorar o que quiserem e, em
troca, adquirem mais conhecimento e cultura.
40
Há muitas histórias infantis, além dos contos de fadas, que mobilizam a atenção, o encantamento, a imaginação, o estranhamento das crianças diante delas e que podem contribuir para a troca de experiências e compreensão da realidade. Nesse universo, impõe-se a figura de Monteiro Lobato que, por meio de suas narrativas, cria caminhos de fantasia capazes de conduzir seus leitores ao encontro com eles mesmos, com a aventura e com a liberdade de escolher, de pensar e de sentir. Podemos dizer que o autor, a partir dos anos 1920, inaugura na literatura infantil brasileira, uma nova forma de ver a infância e de escrever para ela. (TRAVASSOS, 2013, p.13)
Foi graças à luta de Monteiro Lobato, que veio da vida do campo,
descontente com os acontecimentos no Brasil e assumindo posições sobre
todos estes assuntos. Fez uso de uma das melhores ferramentas possíveis
para tentar mudar o futuro do Brasil, foi quem criou a literatura infantil, a qual
transmite informações e conhecimentos didáticos e culturais para seus leitores.
41
CAPÍTULO IV
FÁBULAS DE MONTEIRO LOBATO
1 ANÁLISE DAS FÁBULAS
Neste trabalho foram analisadas algumas fábulas contidas no livro de
Monteiro Lobato: “Fábulas”, lançada pela primeira vez em 1922. Este livro
contém as personagens do Sítio do Picapau Amarelo que reconta fábulas de
Esopo e La Fontaine, publica também algumas de sua própria autoria. As
fábulas apresentadas no livro contêm em cada final, diálogos entre as
personagens do Sítio através de perguntas e críticas com base na fábula
apresentada.
Utilizou-se como critério de escolha as fábulas que contribuem para
aprendizagem das crianças do Ensino Fundamental, cada fábula apresentará
uma análise que irá ao encontro desta aquisição de conhecimento e
experiência de vida.
Figura 7 – Livro Fábulas
Fonte:https://d1pkzhm5uq4mnt.cloudfront.net/imagens/capas/47cf712479abcb8e0a6b6f
8f84d7bb6a1cc16d86.jpg
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Ao se questionar sobre a formação do caráter e da conduta das crianças na sala de aula, percebe-se que há a necessidade de se inserir a literatura na formação intelectual e moral dos educandos; sendo do gênero textual, as fábulas poderão ser utilizada como alternativa metodológica que permite esclarecer de forma agradável "uma verdade" a fim de ensinar virtudes aos alunos pois, desde a antiguidade, a moral implícita nas fábulas tem contribuído para o desenvolvimento da criança, além de esta ser um recurso de entretenimento capaz de trabalhar a formação de valores dentro e fora da escola. (ARRUDA, 2010, p.1)
A fábula é útil para a formação do aluno, já que está é utilizada como um
recurso didático, a qual enfatiza a valorização da transmissão e construção de
conhecimentos, sem esquecer ainda que a fábula contribui para a formação de
atitudes e valores nas crianças, resultando no processo de ensino e
aprendizagem de uma forma significativa e prazerosa para aquele que
aprende.
As fábulas que foram analisadas apresentarão observações que irão
contribuir ainda mais para a formação do aluno e aquisição de conhecimentos.
Uma vez que a fábula por si só já contribui para esta formação, se ela for
analisada e posta em observação e discussão, mostra ainda mais a
importância de que este gênero deve ser trabalhado da melhor forma possível
e que assim contribua para a formação do aluno.
Figura 8 - O leão e o ratinho O leão e o ratinho
Ao sair do buraco viu-se um ratinho entre as patas de um leão. Estacou, de pelos em pé, paralisado pelo terror. O leão, porém, não lhe fez mal nenhum. — Segue em paz, ratinho; não tenhas medo do teu rei. Dias depois o leão caiu numa rede. Urrou desesperadamente, debateu-se, mas quanto mais se agitava mais preso no laço ficava. Atraído pelos urros, apareceu o ratinho. — Amor com amor se paga – disse ele lá consigo e pôs-se a roer as cordas. Num instante conseguiu romper uma das malhas. E como a rede era das tais que rompida a primeira malha as outras se afrouxam, pode o leão deslindar-se e fugir.
“Mais vale paciência pequenina do que arrancos de leão.”
Fonte: Livro: Fábulas. LOBATO, Monteiro, página 166 – 17ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1969.
fonte:www.google.com.br
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No caso desta moral citada na fábula de Lobato, “Mais vale paciência
pequenina do que arrancos de leão”, pode-se abordar o conflito em sala de
aula sobre a paciência, pois muitas das crianças não sabem esperar sua vez, e
sendo assim, elas acabam tumultuando a sala. A partir disso, deve se ter o
olhar de ensiná-las que tudo tem seu tempo, e que não adianta ser rude para
conseguir o que almeja e sim ter a paciência e compreensão que tudo se
resolverá da melhor maneira possível.
Figura 9 – A rã e o boi Fonte: https://img00.deviantart.net/999d/i/2015/123/3/6/ carutoons-d2b2qyo.jpg
A rã e o boi Tomavam sol à beira dum brejo uma rã e uma saracura. Nisto chegou um boi, que vinha para o bebedouro. – Quer ver — disse a rã — como fico do tamanho deste animal? – Impossível, rãzinha. Cada qual como Deus o fez. – Pois olha lá! — retorquiu a rã estufando-se toda. Não estou “quase” igual a ele? – Capaz! Falta muito amiga. A rã estufou-se mais um bocado. – E agora? – Longe ainda!… A rã faz novo esforço. – E agora? – Que esperança!… A rã, concentrando todas as forças, engoliu mais ar e foi-se estufando, estufando, até que PLAF! Rebentou como um balãozinho de elástico. O boi que tinha acabado de beber lançou um olhar de filósofo sobre a rã moribunda e disse: “Quem nasce para dez réis não chega a vintém.” Fonte: Livro: Fábulas. LOBATO, Monteiro, página 9 – 17ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1969.
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Analisando esta fábula, chega-se à conclusão que essa moral traz
consigo uma rica reflexão para se expor e trabalhar atualmente, pois existem
diversas informações e conhecimentos de mundo que se têm dentro e fora da
sala de aula, a criança convive e lida com padrões que são impostos pela
sociedade em que vive. Sendo assim, a sensibilidade do professor em abordar
esse tipo de situação é fundamental para o desenvolvimento social e moral da
criança.
Figura 10 – A cabra, o cabrito e o lôbo
Fonte: http://4.bp.blogspot.com/-eDZZ4WFLOf0/ _b2Vsw/s1600/o+lobo+e+o.JPG A cabra, o cabrito e o lôbo
Antes de sair a pastar, a cabra, fechando a porta, disse ao
cabritinho: - Cuidado, meu filho. O mundo anda cheio de perigos. Não abra a
porta a ninguém antes de pedir a senha. - E qual á a senha, mamãe? - A senha é: “Para os quintos do inferno o lôbo e toda a sua raça
maldita”. Decorou o cabritinho aquelas palavras e a cabra lá se foi,
sossegada da vida. Mas o lôbo, que rondava por ali e ouvira a conversa, aproximou-se
e bateu. E disfarçando a voz repetiu a senha. O cabritinho correu a abrir, mas ao pôr a mão no ferrolho
desconfiou. E pediu: - Mostre-me a pata branca, faça o favor... Pata branca era coisa que o lôbo não tinha e, portanto não, podia
mostrar. E, assim, de focinho comprido, desapontadíssimo, o lôbo não teve remédio senão ir-se embora como veio – isto é, de papão vazio.
Desse modo salvou-se o cabritinho porque teve a boa idéia de “Confiar, desconfiando.”
Fonte: Livro: Fábulas. LOBATO, Monteiro, página 102 – 17ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1969.
45
A fábula citada traz à tona uma característica diferente, ela esta
centrada em um só conflito, que é o de não confiar em quem não se conhece.
Esta é uma das fábulas com a moral mais marcante que se analisou
neste trabalho, pois é um ponto delicado a ser discutido com as crianças.
Saber explicar o conceito de confiança e sua utilidade é importante para
que a criança cresça sabendo em qual situação e em quem confiar ou
desconfiar.
Usar obras de Lobato para compreender esse tipo de situação, faz com
que a criança não se sinta pressionada, ela tem liberdade de aprender de
forma fantasiosa uma coisa que não é tão agradável nessa idade.
[...] a literatura tanto gera comportamentos, sentimentos e atitudes, quanto, prevendo-os, dirige-os, reforça-os, matiza-os, atenua-os; pode revertê-los,alterá-los. É, pois, por atuar na construção, difusão e alteração de sensibilidades, de representações e do imaginário coletivo, que a literatura torna-se fator importante na imagem que socialmente circula, por exemplo, de criança e de jovem. (LAJOLO,1994, p. 26 - 27)
É preciso que o professor leve a criança a ter intimidade com a leitura
em geral, fazendo com que esta torne parte do dia a dia do aluno, se tornando
tão importante quanto tantas outras coisas em sua vida.
A leitura da fábula ajuda no desenvolvimento das crianças
proporcionado informação, conhecimento e resolução de conflitos vividos em
seu cotidiano que nas fábulas são retratadas de maneira fantasiosa.
Figura 11 – A raposa e as uvas Fonte: https://peregrinacultural.files.wordpress.com/2012/04/le-renard-et-les-raisins_jacot.jpg
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A raposa e as uvas Morta de fome, uma raposa foi até um vinhedo sabendo que ia encontrar muita uva. A safra tinha sido excelente. Ao ver a parreira carregada de cachos enormes, a raposa lambeu os beiços. Só que sua alegria durou pouco: por mais que tentasse, não conseguia alcançar as uvas. Por fim, cansada de tantos esforços inúteis, resolveu ir embora, dizendo: – Por mim, quem quiser essas uvas pode levar. Estão verdes, estão azedas, não me servem. Se alguém me desce essas uvas eu não comeria. “Às vezes deixamos de aceitar ou corrigir nossas deficiências, assim como a Raposa inventou que as uvas estavam verdes e azedas, e
começou a desdenhar o que não se conseguiu conquistar.” Fonte: Livro: Obra Infantil Completa. LOBATO, Monteiro, página 452
– v.3. São Paulo: Brasiliense, 1994.
Diante desta moral exibida, pode-se observar que o escritor defende a
ideia de que as crianças não devem ser submetidas a tal moralidade de forma
crua e direta, mas, sim, a partir de fábulas e todas suas características –
narrativas curtas, animais como personagens, ações com princípios (moral,
político, ético).
De forma que o professor possa abordar a situação citada nela, como
por exemplo, a falha que ocorre em certas atividades que são propostas para a
criança, ao invés dela solicitar ajuda, ela por sua vez acaba desistindo e
dizendo muitas vezes que não gostou da atividade.
Cabe ao professor fazer a intervenção necessária, explicando que para
cada situação sempre haverá uma saída que favorecerá ambas as partes.
Figura 12 - O cavalo e o burro
Fonte: http://1.bp.blogspot.com/-zki7iSsZ39E/VESLEjekMEI/ -%2BEMug4H8.jpg
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O cavalo e o burro O cavalo e o burro seguiam juntos para a cidade. O cavalo contente da vida, folgando com uma carga de quatro arrobas apenas, e o burro — coitado! Gemendo sob o peso de oito. Em certo ponto, o burro parou e disse: — Não posso mais! Esta carga excede às minhas forças e o remédio é repartirmos o peso irmãmente, seis arrobas para cada um. O cavalo deu um pinote e relinchou uma gargalhada. — Ingênuo! Quer então que eu arque com seis arrobas quando posso tão bem continuar com as quatro? Tenho cara de tolo O burro gemeu: — Egoísta, Lembre-se que se eu morrer você terá que seguir com a carga de quatro arrobas e mais a minha. O cavalo pilheriou de novo e a coisa ficou por isso. Logo adiante, porém, o burro tropica, vem ao chão e rebenta. Chegam os tropeiros, maldizem a sorte e sem demora arrumam com as oito arrobas do burro sobre as quatro do cavalo egoísta. E como o cavalo refuga, dão-lhe de chicote em cima, sem dó nem piedade. — Bem feito! Exclamou o papagaio. Quem mandou ser mais burro que o pobre burro e não compreender que o verdadeiro egoísmo era aliviá-lo da carga em excesso? Tome! Gema dobrada agora…
“Devemos ser justos com nossas obrigações, pois o egoísmo não nos leva a lugar algum. Assim como aconteceu com o cavalo mais cedo ou mais tarde nossas ações podem nos trazer sérios problemas.”
Fonte: Livro: Obra Infantil Completa. LOBATO, Monteiro, página 447
– v.3. São Paulo: Brasiliense, 1994.
Com base na fábula apresentada é preciso que seja trabalhado com
as crianças dinâmicas e atividades que mostram o real sentido e função da
cooperação, mostrando-lhes que vivem em uma sociedade com diferentes
povos e culturas e para que haja uma vivência harmônica é necessário que
todos contribuam para tal.
A fábula também permite que seja trabalhada ainda com os alunos, a
ideia de que eles são responsáveis por suas atitudes, pensamentos e decisões
e para terem esse senso critico, devem pensar direito antes de agir, não pensar
apenas em si, mas para o bem comum, uma vez que uma decisão mal tomada
pode atingir a si mesmo.
Por isso é de suma importância trabalhar de forma responsável
assuntos como estes que serão passados aos alunos, os quais irão formar o
senso critico da criança, o que eles julgam serem certo ou errado e,
consequentemente, estará sendo criado o futuro do país.
48
Figura 13 – O homem e a cobra
Fonte:http://3.bp.blogspot.com/-02Dpe8yHiZQ/T8yBCOy4EgI/ / %2Btinha%2Bolhos.gif
O homem e a cobra Certo homem de bom coração encontrou na estrada uma cobra entanguida de frio. – Coitadinha! Se fica por aqui ao relento, morre gelada. Tomou-a nas mãos, conchegou-a ao peito e trouxe-a para casa. Lá a pôs perto do fogão. – Fica-te por aqui em paz até que volte do serviço à noite. Dar-te-ei então um ratinho para a ceia. E saiu. De noite, ao regressar, veio pelo caminho imaginando as festas que lhe faria a cobra. – Coitadinha! Vai agradecer-me tanto… Agradecer, nada! A cobra, já desentorpecida, recebeu-o de linguinha de fora e bote armado, em atitude tão ameaçadora que o homem enfurecido exclamou: – Ah, é assim? É assim que pagas o benefício que te fiz? Pois espera, minha ingrata, que já te curo… E deu cabo dela com uma paulada.
“Fazei o bem, mas olhe a quem.”
Fonte: Livro: Obra Infantil Completa. LOBATO, Monteiro, página 448 – v.3. São Paulo: Brasiliense, 1994.
Esta fábula trata um assunto bem delicado de ser trabalhado com as
crianças, porém importante para a construção do ser, já que cita a bondade
que precisa haver um para com o outro, fazendo com que este sentimento seja
recíproco. Precisa que haja o ensino para os alunos em receber a bondade e
saber oferecer, sem que exista mal nisso. Deve ressaltar que o ato de ser bom
não pode ser em exagero, já que infelizmente algumas pessoas não sabem
49
receber este sentimento e aproveita da ocasião para realizar alguma
malvadeza.
Atividades com dinâmicas e brincadeiras que abrange este tema ajudam
para a construção deste saber, entendendo que cada um interpretará de um
jeito, estas atividades devem ser elaboradas e postas em pratica da melhor
forma possível.
O ato de ler proporciona a descoberta da leitura, um mundo totalmente novo e fascinante. Entretanto, a sua apresentação à criança deve ser feita de forma atrativa, estabelecendo uma visão prazerosa sobre a mesma, de modo que torne um hábito contínuo. A leitura desenvolve a capacidade intelectual do individuo devendo fazer parte de seu cotidiano e desenvolve a criatividade e sua relação com o meio externo. (GONÇALVES, 2014, p.13)
Diante das fábulas apresentadas é possível entender a grandiosidade
dos assuntos que ela atribui, por isso deve ser trabalhado com a devida
importância, a fim de contribuir de forma eficaz para a aquisição de
conhecimento da criança, o que acarretará para seu desenvolvimento como
individuo no mundo em que esta inserida.
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CONCLUSÃO
O trabalho apresentou por meio de pesquisas bibliográficas que a fábula
retrata situações do cotidiano em geral, e logo em seguida, apresenta sua lição
de moral. O contato com as fábulas em qualquer fase da aprendizagem ajuda
as crianças a resolverem os seus conflitos, contribui ainda para o seu
desenvolvimento cognitivo e social.
Busca-se também o conceito de literatura, sua finalidade e contribuições
para a formação do aluno, possibilitou constatar que a leitura e a literatura são
ferramentas necessárias à escola no quesito de formação de leitores.
No desenvolvimento da criança, a leitura ganha um papel essencial, ela
se realiza como um diálogo e a este é atribuído um tempo e um espaço e uma
situação, que vão gerar momentos de descontração, criatividade e imaginação.
Quando professor realiza a leitura, ele precisa ir além do texto, buscando
sempre a compreensão do que está lendo, para tornar a leitura prazerosa e
significativa.
Entretanto, não é somente ler para os alunos, e sim, ajudá-los a
interpretar o que se está lendo, é neste momento que o papel do professor é
fundamental para fazer a intervenção correta, por isso é necessário que o
profissional tenha um vasto conhecimento sobre o gênero apresentado.
Desse modo, a escola, os professores e até os pais devem reconhecer
esse valor que a leitura e a literatura têm para as crianças e para a sociedade.
É preciso entender que a escola é a maior pioneira da leitura no país,
pois é por meio da intervenção desta, que a criança fica hábil na leitura.
Ao citar as obras de Monteiro Lobato neste trabalho, percebe-se sua
preocupação com a realidade em que vivia. Desde sua juventude preocupou-se
com as questões que o país estava passando.
Por meio de suas obras literárias buscou ajudar de forma significativa,
ao trazer para a criança personagens criadas em meio à fantasia do mundo
infantil possibilitando ampliar o imaginário dos pequenos leitores.
Desenvolvendo por meio do gênero fábula, o qual foi citado e analisado
em relação as suas contribuições o qual permite que a criança adquira o
conhecimento de resolver conflitos quando se vê em frente um, fazendo isso de
forma sútil, fantasiosa e muito prazerosa.
51
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