Literatura portuguesa ii eça de queiroz

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO EÇA DE QUEIROZ ANDRÉ VICENTE MOREIRA RAMOS - 2930811 MARCELO TAVARES DOS SANTOS - 5414709 PAULO EDUARDO MIRANDA - 6833282 PAULO JOSÉ LEITE LIMA - 6920693

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

EÇA DE QUEIROZ

ANDRÉ VICENTE MOREIRA RAMOS - 2930811MARCELO TAVARES DOS SANTOS - 5414709

PAULO EDUARDO MIRANDA - 6833282PAULO JOSÉ LEITE LIMA - 6920693

SÃO PAULO2010

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

EÇA DE QUEIROZ

Trabalho apresentado na disciplina de Literatura Portuguesa II, sob a orientação da Profa. Dra. Flávia Maria Corradin

SÃO PAULO2010

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Sobre o autor

José Maria de Eça de Queirós nasce em 1845. Possui uma relação bastante interessante com

o Brasil. Seu avô – Joaquim José de Queirós – exercera magistratura na cidade do Rio de Janeiro,

no começo do século XIX. José Maria de Almeida Teixeira de Queirós. Seu genitor nasceu em

nossas terras. Sua ama-de-leite foi uma costureira pernambucana: Ana Joaquina Leal de Barros.

De posse do diploma de bacharel em Direito pela Universidade de Coimbra, obtido em

1866, é nomeado cônsul, seis anos depois, para Havana. Exerce a diplomacia também na Inglaterra

e França. Porém, um pouco antes, vê-se envolvido numa polêmica com jornalistas de Recife, onde

teve a revista da qual participa – “As Farpas” – publicada sem autorização. Faz diversas críticas

irônicas e sarcásticas aos portugueses que aqui residiram e até a Dom Pedro II.

Em 1875, publica sua primeira aparição romanesca: “O crime do padre Amaro”. Três anos

se passaram, surge “O primo Basílio”, capaz de originar nova polêmica, agora com Machado de

Assis, em virtude das críticas que o livro recebe por este. Outrossim, é apresentado nas terras

tupiniquins sob a forma teatral.

No fim dos anos 80, torna-se diretor da “Revista de Portugal”. Há escritos sobre a

inquietação causada pelas ideias republicanas no Brasil, onde assinala que a queda da Monarquia

não causava surpresa e sobre a possibilidade de fragmentarmos em diversas repúblicas. Seu nome é

cogitado para ser cônsul na Bahia e ministro de Portugal por aqui.

É reverenciado por Olavo Bilac e Raimundo Correia. O mestre luso falece em 1900, a 16 de

agosto na Cidade Luz.

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Desenvolvimento

1. O QUE É INTERTEXTUALIDADE? O QUE É PALIMPSESTO? JUSTIFIQUE A

RELAÇÃO PROPOSTA PELO LIVRO, ENTRE PALIMPSESTO E INTERTEXTUALIDADE.

Segundo a professora Brandão:

a intertextualidade abrange os tipos de relações que uma formação discursiva mantém com outras formações discursivas. Pode ser interna quando um discurso se define por sua relação com discurso(s) do mesmo campo (...) ou externa quando um discurso se define por sua relação com discurso(s) de campos diferentes... (Brandão, p. 108).

Dito isto, a partir da perspectiva da análise do discurso; em suma é a propriedade que um

texto tem de dialogar com outros textos os mais diversos, assim sendo nenhum texto é

genuinamente original, na medida que sempre retomará outros.

Já a definição de palimpsesto encontra-se na história das edições, segundo a edótica no

período histórico dos papiros e pergaminhos que eram, devido à escassez de materiais, reutilizados

para nova escrita (espécie de reciclagem) onde se apaga a escrita original para escrever-se uma

nova; o papiro segundo o professor Spina:

sempre foi muito caro; daí explicar-se o fenômeno do “palimpsesto”, que consistia em lavrar a escrita primitiva da membrana, ou mais frequentemente raspá-la, para ser reescrita. Por isso mesmo se diz também rescrito (lat. codex rescriptus), denominação usada pelos paleógrafos dos séculos XVIII e XIX, mas suplantada pelo termo grego. Tal prática foi extremamente funesta porque obras importantes da literatura clássica pagã se perderam... (Spina, p. 31).

É interessante a relação entre os termos intertextualidade/palimpsestos, enquanto o primeiro

retoma, numa relação algo subjetiva, textos diversos, o outro retoma, numa relação algo

objetiva/física, textos diversos, já que literalmente um texto era escrito sobre o outro.

É genial o livro do professor Silveira porque ele funde os dois termos numa obra

extremamente “original” (se é que se pode usar a palavra original em algum contexto).

Literalmente ele escreve “sobre” o texto dos autores ali arrolados, e quando se diz “sobre” a

preposição é em dois sentidos, tanto “a respeito de” e “quanto em cima/por cima de”.

Assim sendo, o texto de Silveira, calcado na intertextualidade, é (metaforicamente) ele

próprio um palimpsesto, na medida em que se “raspando-se” a superfície descobre-se outros textos

por debaixo. Obra inspirada, amálgama de intertexto e palimpsesto, dir-se-ia palimptexto.

Palimpsestos é um obra com o objetivo de atrair a atenção dos jovens para uma prazerosa

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descoberta da História e da literatura portuguesas. Com criatividade, pelo procedimento

intertextual, aguça a curiosidade e convida seu leitor a penetrar e desvendar os mistérios da palavra

escrita em todos os seus níveis e potencialidade. Ludicamente, o atrai a adentrar ao mundo da

pesquisa e da autoconstrução de seu conhecimento, a refletir, a criticar, enfim a pensar autores,

textos e contextos histórico-literários

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2. POR QUE SAMIR SAVON É APRESENTADO COMO “REINVENTOR DE PROTEU

A DIDEROT”? PARA RESPONDER, LEIA “À GUISA DE ORELHA” E CONSULTE, A

PROPÓSITO, PARADOXO SOBRE O COMEDIANTE (IN DENIS DIDEROT TEXTOS

ESCOLHIDOS, SP, ABRIL/CULTURAL, 1979, PP. 159-192 – TEXTO NA PASTA 6).

O comentário acima pertence à prefaciação do livro Palimpsestos, obra de Silveira,

curiosamente ele fala sobre o seu pseudônimo (quiçá ¿“personagem”?) “Samir Savon” como

reinventor de Proteu a Diderot; ora Proteu, personagem mitológica, tinha entre outras habilidades a

de metamorfosear-se em diferentes figuras a fim de afugentar aqueles que aborreciam-no a procurá-

lo para saber o futuro e só revelando-lhes a sorte se eles fossem corajosos; já Diderot na sua obra

“Paradoxo sobre o comediante” afirma que o verdadeiro ator é aquele que consegue interpretar os

mais variados personagens (principais e coadjuvantes) e não especializar-se em apenas um

personagem, além de saber delimitar e separar o seu “eu” do “eu-do-personagem”.

Samir Savon, a maneira de Proteu, transmuta-se em diversos autores seguindo a risca a

filosofia dramática de Diderot, sendo o mais eclético possível, ambos comportamentos revelam

(como Proteu no final) o paradoxo/ o contrario dele → “Novas Rimas”. ¿Algo semelhante à Pessoa

nos seus heterônimos? Em parte sim, com algumas diferenças, Pessoa dá vida aos seus heterônimos,

mas aparta-se da filosofia de Diderot porque se especializa em cada um desses personagens, não

indo além deles; diferentemente de Samir Savon que toma a vida dos autores e a partir dela,

metamorfoseando-se, cria e recria.

Reinventor, poeta, ator? Para definir Savon poderíamos novamente recorrer a Pessoa auto

psicografado, e diremos “ator” e não “poeta”, “O ator é fingidor / Finge tão completamente / Que

chega a fingir que é dor/ A dor que deveras sente...”

Samir Savon é o reinventor de Proteu a Diderot, pois pela primeira vez um autor

metamorfoseai-se em autores da literatura portuguesa. Além de recontar uma história da literatura

na voz dos que a escreveram, fazendo o uso da clássica imitação recriadora dos bons autores, e

captando o cerne da mundividência de um autor, recria-lhe poeticamente, o estilo. Na função de

poeta e comediante, Samir Savon atinge por outras vias (a Diderot e não a Fernando Pessoa) a

síntese dramaticamente desejável em um criador de literatura: ser a(u)tor. Eça é descrito com

incisivo e cuidadoso (ourives) em seus textos bem escritos (conhecer os segredos artesanais da

escrita) .

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3. QUAL A VISÃO QUE O AUTOR ESCOLHIDO TEM DE SUA VIDA E OBRA? Para

responder à questão, recorra, ao Palimpsestos: uma história intertextual da literatura portuguesa e

à bibliografia crítica em torno do autor escolhido.

Eça de Queirós era muito consciente de sua obra, o escrever, o compor, o efeito, a função/o

engajamento de sua literatura, a busca pela qualidade da forma.

Inserido na sociedade de então, ou mesmo longe da pátria (quando do serviço diplomático, o

que lhe proporcionou uma visão de uma perspectiva diferente), soube, com maestria e rigor, criticar

a sociedade, ou antes, os costumes viciados dela, seus defeitos, sua hipocrisia.

Quanto à linguagem é escusado dizer da primazia, sua prosa tornou-se paradigma dentro e

fora de Portugal: “Para expressar adequadamente sua visão de mundo, Eça criou um estilo solto,

livre e transparente, em uma linguagem expressiva, que, incorporando a língua corrente em Lisboa,

também contribuiu para aumentar seu público.” (Cereja, p. 124).

Mesmo quando conscientemente procurava retratar o mais fielmente possível o que via, o

que poderia ter abafado sua criatividade, vê-se a grande veia artística do escritor.

Em sua trajetória passou a princípio pelo “romantismo social”, seguindo após por “romances

de tese” que para ele formavam o “inquérito da vida portuguesa” atacando abertamente a Igreja, a

burguesia e a monarquia, em suma seguia os moldes positivistas, lembramos que “O crime do padre

Amaro” (1875) é considerado o marco inicial do Realismo-Naturalismo em Portugal; no fim de sua

carreira, assim como outros componentes do grupo que ficou conhecido como “os vencidos da

vida”, algo decepcionado, se volta para as raízes genuinamente portuguesas, deste cunho são suas

últimas obras.

Eça, como os outros pioneiros do Realismo português, era no fundo um “romântico”,

entenda-se por romântico não a estilística nem a poética, mas o idealismo, o utopismo; “sonhou”

que poderia acordar a sociedade portuguesa, mostrando-lhe seus erros, defeitos e vícios, buscava

“castigare mores”. Romântico → mais romântico que os próprios românticos, utópico sim mas

realista / consciente.

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4. QUAL A VISÃO QUE SAMIR SAVON TEM DO AUTOR ESCOLHIDO POR VOCÊS?

O poema que Savon dedica a Eça, “Profissão de fé”, revela o que aquele pensa deste, a

“profissão” é de Eça, o que ele acreditava: no labor literário (¿algo semelhante a Drummond que

lutava com as palavras, ou a Chico Buarque que diz que o fazer poético não se trata de inspiração,

mas sim de transpiração?), o labor com as palavras assim como o ourives com o cinzel; cultua uma

nova Deusa, assim com quem tira da concha aquela Vênus, a deusa do amor (¿Luísa, uma nova

Vênus? ou ¿a Realidade, uma nova Vênus?); eis Eça no “Parnaso beneditino”, a arte pela arte, a arte

pela crítica, a “Relíquia” pela crítica, a “Relíquia” pela arte.

Eça se define, na boca de Savon, “Realista arrependido e descrente, deixo a prosa bárbara de

cruezas, a narrar milagres do Deus menino...” (Silveira, p. 43). Em seu percorrer, no ideal →

romântico, na crueza → realista, na arte rigorosa → parnasiano. Eça / artista e a busca pela Verdade.

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5. COM BASE NO CONHECIMENTO ADQUIRIDO EM TORNO DO AUTOR

ESCOLHIDO POR VOCÊS, DISCUTIR A PARTINÊNCIA DAS VISÕES APRESENTADAS

PELO AUTOR ESCOLHIDO POR VOCÊS E POR SAMIR SAVON.

Eça é chamado de “ourives” por Savon, o que vem muito a propósito do fazer literário dele,

o rigor, a precisão, a qualidade de sua prosa.

Savon chama-lhe de “médico”, de fato Eça queria realmente curar a sociedade portuguesa,

descobrindo a causa das doenças, pondo o dedo na ferida dos vícios, “dissecando o cadáver da

sociedade”. (p. 41).

Eça, por Savon, era um “padre-social” (¿socialista?) a apontar em tudo o pecado da gula,

pecado tão capital, ou melhor, tão urbano, a gula aqui é um eufemismo, para ser realista diríamos

luxúria. Era um monge no “claustro do gabinete” (p. 42), inserido e aparatado da sociedade. Era

chic, inglês, francês; um genuíno português, amante-médico-juiz da nação que ele tanto queria,

entre a serra e a cidade.

Realista em dar atenção as questões antes não citadas na literatura, como um médico ao

dissecar um cadáver, Eça buscava descobrir novos aspectos a serem citados dentro da literatura:

explorar, descobrindo novas perspectivas sobre a sociedade e as relações humanas. Após escrever

aspectos realistas, optou por seguir outro caminho: abandonou o “prato-feito” das carnalidades

realistas, mudou de pena, saiu da tendencia das visões realista e cientificista da época, a religião da

Ciência. Começou a adotar rimas, tendo um novo estilo, como uma lima ou uma fruta gerada da

mistura, tendo ainda em sua nova literatura aspectos realistas. Talvez, influenciado pelas viagens

com a função de representar Portugal em outros países, entre eles a Inglaterra, Cuba e França, ao se

referir a Teodorico, rei dos godos orientais, que também percorreu várias regiões. Tentou conciliar

os aspectos realistas a uma forma rebuscada e com rimas ou torreões, em uma vida confortável, mas

longe de Portugal. Foi alguém que modificou seu estilo, tentando manter aspectos realistas,

viajando por diferentes regiões e escrevendo sempre a fim de manter um laço com suas origens

portuguesas.

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Referências

BRANDÃO, Helena Hathsue Nagamine. Introdução à análise do discurso. 2ª ed. Campinas: Ed.

da Unicamp. 2004.

CEREJA, William Roberto; MAGALHÃES, Thereza, Anália Cochar. Panorama da literatura

portuguesa. 2ª ed. São Paulo: Ed. Atual. 1997.

FARO, Arnaldo. Eça e o Brasil. São Paulo: Edusp, 1977.

SILVEIRA. Francisco Maciel. Palimpsestos: uma história intertextual da Literatura

portuguesa (Os papéis de Samir Savon). 2ª ed. São Paulo: Ed. Paulista. 2008.

SPINA, Segismundo. Introdução à Edótica: crítica textual. 2ª ed. São Paulo: Ars Poética: Ed. da

Universidade de São Paulo. 1994.

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em: <http://pt.wikipedia.org>. Acesso em: 03 em nov. 2010.