LITERATURA PORTUGUESA II - QUEIRÓS, E. DE - O Crime do Padre Amaro (ANÁLISE 2)

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    Introduo

    O traba lho a seguir tem o objetivo de analisa r, sem esgotar todas as possibilidades, aobra O Crime do Padre Amaro de Ea de Queirs.

    Publicada pela primeira vez em 1875, essa obra , sem sobra de dvidas, a maispo lmica de todas as e scritas por Ea de Que irs. tambm, uma das mais famosas,pois trata do com portam ento nocivo e corrupto no s dos padres, mas do clero emgeral. Alm disso , nesse romance, percebe -se, claram ente, o comba te aos valoresticos e morais vigentes na sociedade portugue sa da poca, que eram consideradoscomo fundamentais para as pessoas e famlias de bem.

    Com o se v, essa ob ra no tem sim plesm ente a inteno de contar a histria amorosade Am aro e Amlia . Muito pelo contrrio, seu objetivo analisar o comportamentodominador e corrupto do clero e do Governo sobre a atrasada e h ipcrita sociedadeportuguesa da poca, encontrar os motivos da decadncia dessa mesma sociedade eprovar que os indivduos que a com pem so vtimas desse sistema injusto e cruel.

    Assim, pode-se dizer, que o Crime do Padre Amaro um Romance de Tese, pois nelefica claro que o meio social e o instinto de terminam o m odo de agir dos indivduos,que, por isso, no so ma is indivduos, pois so reduzidos a uma massa semcaractersticas particulares.

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    Biografia de Ea de Queirs

    Jos Maria Ea de Queirs, cons ideradoum dos m aiores romancistas portuguesesdo sculo XIX, nasceu a 25 de novembro

    de 1845 na cidade de Pvoa de Varzim.

    Devido ao casam ento no oficial de seuspa is, Ea foi criado na zona rural para nocomprometer a carreira de seu pai. Aosdez anos fo i estudar na cidade do Porto,ao s 16, ingres sou na Faculdade de Direitoem Coimbra, e aos 21 estava formado.

    Em Co imbra conheceu e tornou-se amigode Antero de Quental, Te filo Braga e dosdemais integrantes da chamada "gerao

    de 70", que revolucionou a literaturapo rtuguesa . Apesar de ser simpatizante da"Ques to Co imbr", manteve-se alheio aela e foi vora, onde d irigiu um jornalque fazia oposio ao governo.

    No fina l de 1867 vai para Lisboa , conhece o Pos itivismo e o Socialismo e passa a viajarpe lo mundo exercendo a funo de rep rter. Em 1871 participa de forma brilhante das"Conferncias Dem ocrticas", assumindo de vez os ideais defendidos pela "gerao de70".

    Ainda ne sse ano funda "As Farpas", um folheto mensal que criticava a sociedade

    portuguesa da po ca. No ano seguinte nomeado cnsul, passando a viver fora dePo rtuga l. Ea de Queirs casou-se em 1886, com 41 anos de idade, e faleceu a 16 deagos to de 1900 na Frana.

    A obra de Ea de Que irs geralmente dividida em trs fases: A primeira fase corresponde ao s textos iniciais de sua carreira, publicados em

    folhetim e reunidos em um nico volume intitulado "Prosas brbaras"; A segunda fase , ou fase rea lista inicia-se em 1875 com a publicao da obra "O

    crime do padre Amaro" e vai at 1888 com a publicao de "Os m aias"; A partir da inicia-se a terceira fase , ou fase ps-realista, na qual destacam-se

    as obras "A ilustre casa de Ramires" (1900) e "A cidade e as serras" (1901).

    Das obras escritas por Ea de Que irs des tacam-se ainda "Uma Campanha Alegre"(1871), "O Primo Bas lio" (1878), "A Relquia" (1887), "Correspondncia de FradiqueMendes" (1900).

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    Resumo da Obra

    Leiria, vista geral da cidade.

    O romance O Crime do Padre Amaro inicia-se com a morte de Jos Miguis, proco dacidade de Leiria. Para ocupar o seu lugar designado , graas a influncias polticas, o

    jovem Amaro Vie ira, que havia sado do seminrio h pouco tempo.

    A indicao de Amaro agradou muito ao Cnego Dias, que, alm de ser seu ex-professor de Moral, ficou incumbido , a pedido do prprio Amaro, de arranjar-lhe umlugar para se hospeda r. Assim, o Cnego instalou-o na casa da sua amiga S.Joaneira. Essa idia no agradou m uito ao Mendes , Coad jutor da S, pois eleacreditava que a convivncia, na me sma casa, do jovem padre com a be la Amlia,

    filha de S. Joaneira, poderia gerar comentrios maldosos .Apesa r disso, o Cnego no deu importncia ao Coadjutor, pois com esse arranjo eleno precisaria m ais ajudar financeiramente a sua amiga, uma vez que o dinheiro doaluguel pago por Amaro cobriria os gastos de ssa g e n e r os a c a r i d a d e .

    Ao chegar a Leiria Amaro hospeda -se na casa da S. Joaneira e l conhece Amlia.Amaro passa ento a desfrutar das rega lias disponveis na casa (comida , bebida,companhia etc.). Em seu quarto, Amaro l maquina lmente suas oraes, pois suaateno est voltada totalmente ao t i q ue - t aq ue d as b o t i n a s de A ml i a e o rudod a s s a i a s e n g om a d a s q u e el a s a c u d i a a o d es p i r - s e .

    Em seguida temos dois longos flash-backs (corte no tempo narrativo), que so

    importantssim os pa ra o entendim ento globa l da obra, pois neles nos so revelados asorigens de Amaro e Am lia.No flash-ba ck de Amaro de scobrimos como foi a sua infncia e Adolescncia. Almdisso , podem os obse rvar que o meio em que Amaro foi formado determinou seucarter fraco, sensual e mentiroso.

    Amaro na sceu em Lisboa e ficou rfo de pa i aos cinco anos e de me aos seis. Comoseus pa is eram criados da marquesa de Alegros, e sua me uma q u ase am iga dam a r q u e s a , sua educao passou a ser vigiada pela m arquesa, que decidiu fazer

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    Amaro ingressar na vida eclesistica. Afinal, s u a f i g u r a a m a r e l a d a e m a g r i t a p e d i a a q u e l e d e s t i n o r e c o l h i d o : e r a j a f e ioada s co i s a s d e ca p e l a , o s e u e n c a n t o e r a e st a r a n i n h a d o a o pde mu l h e r e s , n o c a l o r d a s s a i a s u n i d a s ,ou v i n d o f a l a r d e sa n t os .

    Amaro foi educado e m casa. A marquesa receava as c a m a r a d a g e n s i m or a i s .Tmido e m edroso as criadas f e m i n i z a v a m - n o ( . . . ) v es t i a m - n o d e m u l h er etambm o usavam em suas intrigas. Assim, Amaro tornou-se muito mentiroso eextremamente preguioso.

    Com onze anos Amaro passa a ajudar na m issa. Um dia, quando tinha 13 anos, aMarquesa falece, deixando no seu tes tamento uma determinao para ele entre noseminrio ao completar 15 anos e se o rdene padre. Ama ro ento enviado para acasa de um tio, em Estrela, onde , alm de se r detestado por todos, obrigado atraba lhar duro na me rcearia do tio.

    Amaro, triste e m altratado , desejava o seminrio, como um libertamento. (Aqui

    fica claro que Amaro ingressou no seminrio sem ter nenhuma vocao. Facilmentedominvel, ele aceitou, pass ivam ente, o dese jo da marquesa. Em seguida o seminriotorna-se uma maneira de libe rtar-se da es tupidez do tio. Alm disso, tornar-se padre,era, para Amaro, uma espcie de profisso, que lhe garantiria alguns luxos, comidafarta e, sobretudo, a opo rtunidade de voltar a viver entre as mu lheressent ir- l hes oc a l o r p en e t r a n t e ).

    Um ano antes de ingressa r no sem inrio, o tio dispensa -o do balco para estudarLatim. Esse foi um perodo muito feliz para Amaro: P e l a p r i m e i r a v ez n a s u a e x i s t n c i a , Am a r o p os s u i u L i b e r d a d e . I a s e s co l a , p a s s ea v a p e l a s r u a s . V i u a c i d a d e , o ex e r cc i o d e i n f a n t a r i a , e s p r e i t o u s po r t a s d o s c a f s , l e u o sc a r t a z e s d os t e a t r o s . So b r e t u d o c om ea r a a r e p a r a r m u i t o n a s m u l h e r es . . . Nessa poca, pensando na impossibilidade de casar-se, comea a afastar-se da vida

    de padre. No entanto, ingressa no seminrio, onde logo faz amizades e submete-se ssuas regras. O sem inrio, ento, mais lhe parece u m a p r i s o, com os t di os d eum a es c ol a e Amaro vai, pouco a pouco, sendo dominado pelo seu instinto:na suacela havia uma imagem da virgem. No entanto, Amaro v i a a p e n a s d i a n t e d e si um a l i n d a m oa l o u r a ; am a v a - a ; s u s p i r a v a ; d e s p i n d o - s e o l h a v a - a d e r e vsl u b r i c am e n t e ; e m e sm o a s u a c u r i o s i d a d e ou s a v a e r g u e r a s c a s t a s d a t n i c a a z u l d a i m a g em e s u p or f or m a s , r e d on d e z a s , um a c a r n e b r a n c a . J u l g a v a en t o

    v e r os ol h o s d o T en t a d o r l u z i r n a e s c u r i do d o q u a r t o ; a s p e r g i a a c am a d e g u a b en t a ; m a s no se a t r ev i a a r ev el a r es s es d el r i os. (Repare como, pouco apouco, o instinto vai tomando conta de Amaro).

    Amaro, entediado, ouvia a s pregaes dos mestres que , em geral, alertavam ossem inaristas contra os perigos da Serpente, no caso a mulher, e do dever devencer a natureza. (vencer a na tureza significa no se entregar aos instintos).

    Finalmente Amaro ordena -se padre e nomeado p roco de Fe iro , uma parquiamuito pobre localizada na se rra de Beira Alta. Desconte com sua parquia, procura afilha ma rquesa de A l e g r o s , que se tornara condessa e, por meio de sua influncia, designado para ser o novo proco da populosa cidade de Leiria.No incio do captulo IV o flash-back interrompido e o na rrador retoma a linhacrono lgica do tempo, voltando onde tinha parado. Boa parte desse captulo usadapara ironizar com portamento dos habitantes da cidade de Leiria, que viviam vigiando a

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    vida do s outros e fazendo fofocas: No outro dia, na cidade, falava-se da chegadado proco novo, e todos sabiam j que tinha trazido um ba de lata; que eramagro e alto, e que chamava padre-mestre ao cnego Dias.

    Em Leiria Amaro instala-se na casa da S. Joaneira. Ele e a jovem Amlia comeam, a

    se envolverem em uma pa ixo de senfreada, que terminar tragicamente. Essa paixofoi desencadeada pe lo fato de um dia, antes de dormir, por um acaso, o padre Amaroter visto Am lia despir-se Vira num relance Amlia, em saia branca a desfazer oatacador do colete; estava junto do candeeiro, e as mangas curtas, o decoteda camisa deixavam ver os seus braos brancos, o seio delicioso. Amlia, aoperceber a presena de Amaro, deu um pequeno grito e correu para o seu quarto.Amaro ficou imve l pensado que a moa es tava ofendida. No entanto, ela perguntou,de dentro do quarto, o que ele queria. O proco disse que veio buscar gua e tudoficou esclarecido. Amaro desceu para o seu quarto e os dois permaneceram se mdormir, ouvindo os passos um do outro.Depois disso , inicia-se um novo Flash-back , no qual nos mostrado a formao viciosade Amlia.

    A jovem no conheceu seu pa i, que fora militar e faleceu muito jovem. Sua me,desde ento , passa a ser mu ito visitada po r padres. Quando Amlia e ra criana,ouvia m uitas his trias de freiras e do convento. Lembrava-se com clareza, e aindaimpressionada, da histria de uma freira que m o r r e r a d e a m o r , e c u j a alma a in da em c e r t a s n o i t e s p e r c o r r i a o s c or r e d or e s , s ol t a n d o g em i d o s d o l o r os o s e c l a m a n d o : - A u g u s t o! A u g u s t o! . Amlia foi sempre uma boa me nina: adorava asfes tas na igreja e a convivncia do s santos. Chegou at a desejar ser freira.Desdepequena teve uma educao religiosa deformada, pois aprendeu a ver Deuscomo u m se r q u e s sa b e da r s o f r im en t o e a m o r t e , e q ue nece s sr i o a b r a n d a r o s p a d r e s . P o r i s s o , s e s v e z es a o d e i t a r l h e es q u e c i a u m a s a l v e - r a i n h a , f a z i a p e n i tn c i a n o ou t r o d i a , p o r q u e t em i a q u e De u s l h e m a n d a s s e se ze s ou f i z e s s e c a i r n a e s c a d a .

    Amlia teve aulas de msica, seu m estre, apelidado de tio Cegonha , uma vez lhecontou a histria de um h om em q u e t i v er a em n o v o um a g r a n d e p a i x o p or um a f r e i r a ; e l a m o r r e r a n o c on v e n t o d a q u e l e am o r i n f e l i z ; e l e, d e d or e d e s a u d a d e; f i z er a - s e f r a d e f r a n c i s c a n o . . . . No dia em que ouviu essa histria, Amliaficou menstruada pe la primeira vez e, enquanto dormia, teve sonhos erticos: eraum vasto cu negro, onde duas almas enlaadas, giravam, levadas por umvento mstico; mas desvaneciam-se como nvoas, e na vasta escurido ela viaaparecer um grande corao em carne viva, todo trespassado de espadas eas gotas de sangue que caam dele enchiam o cu de uma chuva escarlate.Tudo indica que Ea de Que irs pretende, nessa passagem , ressa ltar que Amlia uma pessoa dominada pe lo instinto sexual.

    Ainda nesse captulo, Am lia lembra-se de seu primeiro namorado: Agostinho Brito,que era comprome tido com outra. Ao saber de tal fato, Amlia pensa novamente emtornar-se freira. No entanto, es sa id ia afastada quando conhece Joo Eduardo, comquem comea a namorar, apesar de no se interessar verdadeiramente por ele.A s s im v i v e r a Am l i a a t a chega da d e Am a r o .

    Em Leiria, de sde os prime iros dias, o padre Amaro sentiu-se feliz, pois passou adesfrutar do conforto da casa da S. Joaneira, e le, pela prime ira vez, tinha boa mesa,c o l c he s m ac i o s , e a co n v i v nc i a m e i g a d e mu l h e r e s . Alm disso, ele e Am lia

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    tinham u m a f a m i l i a r i d a d e p i c a n t e . Tais confortos faziam Amaro afastar-se desuas atividades na igreja, pois ele j no ce l e b r a v a a s m i s s a s c omo n o sp r i m ei r o s t em p o s , agora e le as celebrava sem devoo, e a pressadam ente, poissentia a necessidade de voltar para casa e reencontrar Amlia:" E q u a n d o , d e p oi s d e t er b e i j a d o o a l t a r , Am a r o v i n h a d o a l t o d o s d e g r a u s d a r

    a b no , er a j pen sa nd o na a l e g r i a d o a lm oo , n a c l a r a s a l a d e j a n t a r d a S .J o a n e i r a e na s boa s t o r r a d a s . que l a h o r a j Am l i a o esp e r a v a c om o ca be l o c ado so b r e o pen t e a d o r , t e n d o na pe l e f r e s c a u m bom che i r o d e sa bo deam n doa s . "

    Aos poucos Amaro e Amlia vo se tornando cada vez mais ntimos e ambos passam agostar desse re lacionamento . Enquanto estavam juntos Amaro se esquecia que erapadre e s p e n s a v a e n t o n a d ou r a i n f i n i t a d e l h e d a r u m b e i j o n a b r a n c u r a d o pe s c oo , o u mo r d i c a r - l h e a o r e l h i n h a . " Amaro vai, pouco a pouco, se degradando, as segundas e quartas-feiras, quando JooEduardo vinha visitar Amlia, Ele sentia tantos cimes que at chegava a espionarcasal: Co r r e u a e s p r e i t a r p e l a f e ch a d u r a , c r a v a n d o os d e n t e s n o b e io , d e

    c i m e . A c a n c e l a b a t e u , Aml i a s u b i u c a n t a r o l a n d o b a i x o .- Mas a se n sao do am o r m s t i c o q u e o pene t r a r a um m omen t o , ol h a n d o an o i t e , p a s s a r a ; e d e i t o u - s e , c om um d e s ej o f u r i o so d el a e d o s se u s b ei j o s ." Nesses m ome ntos Amaro inveja Joo Eduardo. Inveja, no s o seu bonito bigodepreto mas sim sua liberdade e, sobretudo, o seu direito de amar.

    Em uma de terminada tarde , Amaro flagra uma cena ntima entre o Cnego Dias e a S.Joaneira: A S. Joaneria, em saia branca, atacava o colete; e, sentado beirada cama, em mangas de camisa, o cnego Dias resfolegava grosso!. Sem sernotado, Amaro sa i de casa e, a inda confuso, comea a desejar as mesmas regalias docnego Dias: ser o amante da rapariga, como o cnego era o amante da me!Imaginava j a vida escandalosa e regalada; enquanto em cima a grossa S.Joaneira beijocasse o seu cnego cheio de dificuldades asmticas, Amlia

    desceria ao seu quarto, p ante p, apanhando as saias brancas, com um xalesobre os ombros nus... Com que frenesi a esperaria! E j no sentia por ela omesmo amor sentimental, quase doloroso; agora a idia muito magana dosdois padres e as duas concubinas, de panelinha, dava quele homemamarrado pelos votos uma satisfao depravada! Ia aos pulinhos pela rua.Que pechincha de casa!.Alguns dias de pois, Amaro e o cnego Diasforam jantar com o abade de Cortegaa.Ea de Que irs, ao narrar esse acontecimento , extremamente irnico, pois durante arefeio , enquanto os padres com iam do bom e do m elho r, falavam sobre a misriaque os rodeava. - M u i t a p o b r e z a p o r a q u i , m u i t a p o b r e z a ! d i z i a o b om a b a d e D i a s , m a i s e st e b o c a d i n h o d a a s a ! Alm disso, Ea traa um perfil impiedoso dos padres, que vivem condenando a faltade moral, mas so os primeiros a de srespeitar os mandamentos de Deus e utilizarem aconfisso e os m ilagres como forma de conseguir votos para os seus candidatos.O p a d r e N a t r i o n a l t i m a e l e io t i n h a a r r a n j a d o o i t e n t a v o t o s !

    - Csp i t e ! D i sse r am .- I m a g i n em v o cs c om o ? Com um m i l a g r e ! - Com um m i l a g r e?- r e p et i r a m es p a n t a d o s .- S im , s e n h o r es .

    T i n ha - s e en t end i d o com u m m i s s i onr i o , e na v spe r a d a e l e ior e c eb e r am - s e n a f r e g u e s i a c a r t a s v i n d a s d o Cu e a s s i n a d a s p e l a V i r g em

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    Ma r i a , p e d i n d o , c om p r omes sa s d e sa l v ao e am eaas d o I n f e r n o , v o t o s p a r a o c a n d i d a t o d o g o v e r n o. D e c h u p e t a , h em ?

    Depois do jantar Amaro, enquanto caminhava, encontra Amlia , que o convida paraconhecer a sua quinta. Como a cancela estava fechada , ela sugeriu que ambos

    pulassem o valado. Ele pulou e quando ela sa ltou f o i c a i r - l h e s ob r e o p e i t o com um g r i t i n h o . Am a r o r e s v a l o u , f i r m o u - s e - e s e n t i n d o en t r e os b r a o s o c or p o d e l a , a p e r t o u - a b r u t a l m e n t e e b e i j o u - a c om f u r o r n o p e s c oo Am l i a d e s p r e n d e u - s e , f i c ou d i a n t e d el e , s u f o c a d a , c om a f a c e em b r a s a ,com pon do n a ca bea e em r oda do pescoo , com a s m os t rm u l a s , as p reg asd a m a n t a d e l. Am a r o d i s s e - l h e :

    - Am e l i a z i n h a ! " Am lia, no entanto, foge assus tada , m as ela , como o proco, tambm no consegueresistir aos dese jos carnais, da mesma forma que Amaro tambm no resistiu quandoa abraou e a beijou no pescoo:" E s t a v a h m u i t o n am o r a d a d o p a d r e Am a r o - e s v e ze s, s , n o s eu q u a r t o ,d e s e s p e r a v a - s e p o r im ag i n a r q u e el e no pe r c e b i a n o s s eu s o l h o s a con f i s so

    d o s eu a m o r ! D e sd e os p r i m e i r o s d i a s , a p e n a s o ou v i a p e l a m a n h p e d i r d e b a i x o o a l m oo , s en t i a um a a l e g r i a p e n et r a r t o d o o s eu s e r s em r a zo , p u n h a - s e a c a n t a r o l a r c om um a v ol u b i l i d a d e d e ps s a r o. D ep o i s v i a - o um p o u c o t r i s t e . Po r q u? No conh e c i a o se u p a s s a d o ; e l em b r a d a d o f r a d e de v o r a ,p e n s o u q u e e l e s e f i z e r a p a d r e p o r um d e s g os t o d e am o r . I d e a l i z o u - o e n t o : s u p u n h a - l h e um a n a t u r e z a m u i t o t er n a , p a r e ci a - l h e q u e d a s u a p e s s oa a i r os a e pl i d a s e de sp r e n d i a um a f a s c i n a o . De sej o u t - l o p o r c o n f e s s or : c omo

    se r i a e s t a r a j o el h a d a a o s ps de l e , n o con f e s s i o nr i o , v e n d o de pe r t o os s e u so l h o s n e g r o s , s en t i n d o a s u a v o z s u a v e f a l a r d o Pa r as o ! G os t a v a m u i t o d a f r e s c u r a d a su a b o ca ; f a z i a - s e pl i d a i dia de o pode r a b r aa r n a su a l o n g a b a t i n a p r e t a ! Q u a n d o Am a r o s aa , i a a o q u a r t o d el e , b ei j a v a a t r a v e ss ei r i n h a ,g u a r d a v a o s c a b el o s cu r t o s q u e t i n h am f i c a d o n os d e n t e s d o p e n t e . A s f a c es a b r a s a v a m - s e- l h e q u a n d o o ou v i a t oc a r a c a m p a i n h a .

    Depois desse dia , Amaro, com medo de um possvel escndalo, decidiu mudar de casa.O cnego Dias o apo iou plenamente, po is ass im poderia ter de volta a sua privacidade,ou se ja, ele poderia voltar a encontrar a S. Joaneira com a freqncia e o sossego deantigamente.Na sua nova casa, um quarto sujo e mofado na rua do Sousas, Amaro passa a ter umavida montona e melanclica. no ite, ficava imaginando o que Amlia estaria fazendo.Morria de raiva s em pensa r que ela e Joo Eduardo poderiam e star juntos.

    Aqui Ea fa z uma brilhante relao espao/personagem. Repare, na passagem abaixocomo, que, a mudana para um quarto frio e sujo, faz com que Amaro fique entediadoe solitrio. como se o e spao determinasse o m odo de ser do ser humano.

    Ao lado a Vicncia servia, tesa e enorme, como seu corpo de soldado vestidode saias, sempre costipada; e de vez em quando, desviando a cabea,assoava-se ao avental com rudo. Era muito suja; as facas tinham o cabomido da gua gordurosa das lavagens. Amaro, desgostoso e indiferente, nose queixava; comia mal, pressa; mandava o caf, e f icava horas esquecidassentado mesa, quebrando a cinza docigarro borda do prato...Os dias de Amlia no eram muito dife rentes dos de Amaro: passava os dias sonhandocom Amaro. Um dia, viu Joaninha Gomes , uma ex -amante de um padre, sendoridicularizada na rua, decidiu ento aproveitar a separao, esquecer Amaro;lembrou-se mesmo de apressar o casamento com Joo Eduardo.

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    Um d ia Amaro encontra Amlia e a sua m e na igreja. A S. Joaneira repreendeu oproco por ter desaparecido e o convida para estar com eles noite. Amaro aceita oconvite e vai at a casa da S. Joane ira. no ite, enquanto todos se divertiam, JooEduardo fica isolado a um canto, ia folheando o velho lbum.Amaro recom eou a freqentar a casa de Amlia. A cada dia que passava ele saia de l

    cada vez ma is a paixonado e Joo Eduardo, instintivamente, pa ssou a odi-lo. JooEduardo reclam ou das atenes que Amlia dava ao padre e ela comentou com Amaroque e les deveriam ser ma is discretos.Enciumado , Joo Eduardo escreve um artigo que denuncia os envolvimentos polticos eamorosos dos padres. Alm disso , esse artigo ins inua a relao entre Amaro e Amlia.O Dr. Godinho, dono do jornal Voz do Distrito, no pe rmite que o artigo se japublicado como um artigo da redao. Assim, o texto publicado como um

    comunicado assinado por Um Liberal. importante obse rvar a armao poltica do Dr. Godinho: Ele que r criticar a Igreja,mas no dese ja ataca-la diretam ente, pois sabe que precisar dela nas eleies. Porisso, no permite que o a rtigo se ja a ssinado pela redao do peridico.

    Ao ler o comunicado o cnego Dias e os padres Natrio, Brito e Amaro sereconhecem no a rtigo, bem como os seus pecados. Alguns dias depois, o cnego eAmaro f icam sabe ndo, po r inte rm dio de Natrio, que o padre Brito fora transferido e osenho r Chantre pretendia tomar s rias providncias contra os padres para moralizar oclero. Naquela noite, sob uma chuva fina e ins istente, os trs padres saem da casa daS. Joane ira abatidos e p reocupados.

    Nessa passagem o espao parece refletir o es tado interior dos trs padres:...Amarocaminhava de cabea cada, num abatimento de derrota; e, enquanto os trspadres, assim agachados sob o guarda-chuva do cnego, iam chapinhando aspoas pela rua tenebrosa, por trs a chuva penetrante e sonora ia-osironicamente fustigando!Algum tempo depo is, o P adre Natrio, repentinamente, faz as pazes com o Padre

    Silvrio. Todos atribuem esse acontecimento ao fato de Silvrio ser o confessor damulher de Godinho. Logo e m seguida, o Padre Natrio descobre que o autor docomunicado e ra Joo Eduardo.Repare que Natrio s se reconciliou com Silvrio porque sabia que Ele poderiadescobrir, por intermdio da esposa de Godinho, o autor do comunicado.Rap idamente Natrio conta a Amaro a novidade e ambos decidem acabar com ocasamento de Joo Edua rdo. Natrio queria tambm fazer o moo perder o emprego.Queria v-lo pedindo esmolas na Rua.No largo, Natrio parou.- Resumindo: o Dias fala S. Joaneria, e voc fala pequena. Eu por mim meentenderei com a gente do Governo Civil e com o Nunes Ferral. Encarreguem-se vocs do casamento, que eu me encarrego do emprego! E batendo noombro do proco jovialmente: - o que se pode dizer ataca-lo pelo corao epelo estmago! E adeusinho, que as pequenas esto espera para a ceia!Coitadinha, a Rosa tem estado com um defluxo!... fraquita, aquela rapariga,d-me muito cuidado... Que eu em a vendo murcha at perco logo o sono. Quequer voc? Quando se tem bom corao... At amanh, Amaro.Repare como o padre Natrio irnico: Depois de planejar a des truio de JooEduardo, diz que tem bom corao.No outro d ia, a tia de Am lia faleceu e Amaro aproveitou a ocas io para contar a suaamada que o autor do comunicado era Joo Eduardo. Amaro acusou-o, injustamente,

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    de ate smo e de se r viciado em jogos e bebida . Amaro, aproveitando a fragilidade deAmlia, deu-lhe um longo e profundo be ijo.Ficaram imveis, colados num s beijo, muito longo, profundo, os dentescontra os dentes.No outro d ia, Amaro pe de a irm do cnego Dias que o ajude a fazer com que Amlia

    passe a se confe ssar com ele. Dia s depo is, Amlia rompe o noivado com Joo Eduardo.O rapaz procura a juda do Dr. Godinho, que d iz no poder fazer nada sobre aqueleassunto. Ento , Joo Edua rdo pe de pa ra publicar mais artigos no jornal. O Dr. Godinhose irrita e chama-o de brio. Desesperado e cheio de clera, Joo Eduardo agrideAmaro com um soco e vai preso . Amaro, no entanto , vai polcia e pede para que oseu agressor seja solto.Aps esse ato Amaro passa a se r visto com adorao por Amlia e pelas demais beatasda parquia. J , Joo Edua rdo, perde o seu emprego e passa a ser tratado em Leiriacomo um ex comungado.Vale lem brar que Amaro s pediu para que Joo Edua rdo no fosse preso, pois temiaser envolvido em m ais um escndalo.

    Alguns dias de pois, a empregada do Padre Amaro adoece e substituda pela irm,Dionsia, famosa por se r alcoviteira. Um dia, Amaro e Amlia voltaram sozinhos dacasa do Cnego Dias, que passara m al. Amaro, sob o pretexto de esperar o tempomelho rar, levou Am lia para a casa de le. Amaro ento dispensou Dionsia e, naquelemomento, finalmente, os do is tiveram sua primeira relao sexua l.No d ia seguinte, Dionsia aconselha o padre a tomar ma is cuidado e sugere que o

    casal passe a se encontra r na casa do s ineiro, tio Esguelhas, que tinha uma filhaparaltica, ape lidada de To t. Amaro, em conversa particular com o Tio Esguelhas, dizque precisa da sua casa para preparar um a jovem que dese ja se r freira. J para a S.Joaneira e as demais beatas da cidade , a desculpa para as sadas de Amlia era que amoa praticava um a enorme caridade ao alfabetizar Tot e, ainda, ensinar-lhe algumasrezas.

    Por algum tempo o casa l passa a se encontrar regularmente. Tot, no entanto,pe rcebe o que se passava e comea a od iar Am lia : Quando ela chegava, comeava agritar: Es t o a p ega r - se os ces! . Po r causa disso, Amlia comea a sentir remorsos. Quando estava junto de Amaro,esquecia-se de tudo e se entregava a ele . Depois as perturbaes voltam e ela tinhasurtos de nervosismo. P reocupada com a filha, a S. Joaneria pede a cnego queinvestigue a paraltica, po is essas pe rturbaes s poderiam estar relacionadas quela

    endemoniada.O Cnego faz uma visita a T to e ela lhe conta sobre os encontros amorosos de Amliae Amaro. O cnego am eaa denunciar aquele e scndalo , mas obrigado a calar-se,po is Amaro, revelando o seu cinismo, lembrou-o dos encontros ilcitos que o cnegomantinha com a S. Joaneira.O Padre-mestre que j tem idade agarra-se velha, eu que sou novoarranjo-me com a pequena. triste, mas que quer? a natureza que manda.Somos homens. E como sacerdotes, para honra da classe, o que temos fazercostas!.Algum tempo depois, Amlia engravida. Amaro, em pnico, pede a ajuda ao CnegoDias, que o a juda prontam ente, pois teme que o e scndalo possa atingi-lo e porquereceia pe rder o conforto que goza com a S. Joane ira. A prime ira idia que os doiseclesisticos tm foi a de casar Am lia com Joo Eduardo. Amaro, alegando quemesmo depois do casamento os encontros secretos entre eles continuaram a existir,convence a moa a casa r-se com o ex-no ivo.

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    Todos com eam a procurar o rapa z pela cidade , mas logo descobrem que o rapaz foipara o Bras il.Alguns dias depois, D. Josefa, a irm do cnego, fica doe nte e os m dicos aaconselham a passar um a tem porada em uma Quinta afastada da cidade. Amaro entotem a id ia de mandar Amlia acompanha r D. Josefa, enquanto que o Cnego Dias e a

    S. Joane ira iriam pa ra a p raia, como era de costume. Para que a irm do cnegoaceitasse a companhia da moa naquela situao, o Padre Amaro diz a ela que umhomem casado engravidou a jovem. Pa ra que um escndalo fosse evitado, a moadaria luz no perodo em que estivesse na quinta.Logo depois da partida de todos, Tot m orre, e Amaro vai acalmar tio Esguelhas.

    Seguindo as orientaes do cnego Dias, Amaro fica as primeiras semanas sem visitarAmlia. Amaro, solitrio e impaciente, a fasta-se cada vez mais dos seus hbitos edeveres de padre e passa os dias fumando alucinadamente. Amlia, melanclica emseu exlio , era maltratada pe la madrinha, que no perdoava o seu crime. Como seno bastasse, no ite ouvia vozes , rudos inexplicveis, e passou a temer a morte e oscastigos do infe rno. A nica coisa a que a confo rtava eram as visitas do abade Ferro.

    O abade d iz a Amlia que suas pe rturbaes no eram um castigo divino e sim umprob lema de conscincia e que, se ela quises se , a confessaria para aliviar-se. Amliaaceita o convite do Abade e passa a confessar-se com ele . Simultaneamente a moapassa a receber tambm a visita do Dr. Gouveia.

    Amaro de scobre, por inte rmdio da Dionsia , que Joo Eduardo no partiu para o Brasile que vivia nos Poia is, local prx imo de onde Amlia estava hospedada, trabalhandocomo educador dos filhos do senhor Morgado . Amaro ento vai visitar a m oa.Chegando na Ricoa, recebido com muito entusiasmo pela D. Josefa, que reclamamuito por ele ter a abandonando nas m os daque le abade relaxado e com poucareligio . Depo is de ficar muito tem po ouvindo a conva lescida, Amaro, ao despedir-se,tenta beijar Am lia, mas e la se recusa, dizendo querer morrer sem cometer maispecados.

    Amaro faz outras visitas a Amlia. Nelas , o seu desejo pela antiga amante volta acrescer enquanto que Am lia mostra-se indife rente. Numa dessas visitas Amaro ficaaborrecido, pois sabe que Amlia passou a se confessar com o abade Ferro.

    Nesse m eio tempo, Joo Eduardo, que continuava apa ixonado por Amlia, conhece oabade Ferro, que tem a id ia de cas-lo com a jovem. Amaro, face indiferena damoa, usa a seguinte es tratgia: comea a despreza-la, pois sabe que ela voltar aprocur-lo. Dito e feito, algum tempo depois, Amlia volta a entregar-se ao homemque a seduzira.

    A hora do parto de Amlia se aproxima. Amaro, no sabe ndo o que fazer com acriana, procura Dionsia. Ela lhe diz que ex istem duas possibilidade s possveis: aprime ira se ria entregar a criana a uma am a-de-le ite; a outra, entreg-la a Carlota,uma tecede ira de anjos, ou seja, uma mulher que transformava as crianas recm-nascidas em anjinhos do senhor. A princpio, Amaro escolhe a p rimeira opo. Noentanto, como tinha pouco tem po e como seria m ais conveniente que seu rebentodesaparecesse , optou por entregar o filho a Carlota.

    Chega o m omento do parto, que feito pe lo Dr. Gouveia. Nasce um menino, que ime diatamente entregue a Ca rlota. Amaro, no e ntanto, pede-lhe que a criana seja

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    mantida viva. Para isso , paga um ano de despesas ad iantado. Depo is de dar a luz,Amlia exige a prese na do filho e, diante das negativas de Dionsia, tem convulses e,apesar de todo o esforo do Dr. Gouveia, morre.

    No dia seguinte , Am aro esperou Dionsia , que lhe traria notcias de Amlia. Como ela

    no veio, teve que ir S batizar o filho do Guedes.Repare na ironia dessa passagem. Amaro ba tizava uma criana enquanto que seu filhoacabara de ser entre a uma tecede ira de anjos.Ao retornar para sua casa o padre Ama ro fica sabendo da m orte de Amlia.Desesperado, procura Ca rlota para tirar-lhe a criana e entreg-la a outra ama. Essatentativa v, pois o beb j havia falecido.

    Desnorteado, Amaro escreve uma carta, sem detalhes, ao senhor cnegocomunicando-lhe os acontecimentos. Em seguida, pede afastamento ao senhor vigrio-geral, alegando ter uma irm beira da morte, e viaja para Lisboa.

    Am lia enterrada no dia seguinte . O enterro, que foi ce lebrado pelo Abade Ferro,

    teve o acom panhamento de apenas algumas pessoas do local e de Joo Eduardo, quechorou m uito, ao ver seu grande am or sendo enterrado.

    Amaro, vivendo em Lisboa, passa muito tem po sem ter notcias de Leiria. Certo diaencontra-se, casua lmente no Largo do Loreto, junto esttua de Came s, com oCnego Dias. Os dois conversaram sobre tudo o que aconteceu em Leiria. O cnegodisse que S. Joane ira f ina lmente aceitara a morte da filha e que Joo Eduardo pareciaes tar ts ico. Amaro, po r sua vez, disse que os sentimentos de remorso e tristeza com amorte de Amlia j estavam superados e que ago ra e le estava tranqilo, confessandoapenas mulheres casadas.

    Logo em seguida juntou-se a eles o Conde de Ribama r. Os trs conversam sobre omassacre da Com una de Pa ris, quando foram mortos, pe lo governo francs, cerca de

    25.000 operrios rebeldes. O Conde de R ibamar fez aos dois padres um discursocontra os rebe ldes e e logiou Portugal que mantinha a ordem e a paz.

    Meus senhores, no adm ira realmente que sejam os a inveja da Europa!

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    Estrutura

    A obra O crime do Padre Amaro composta por uma nota da segunda edio,publicada , como o prprio nome diz , a partir da segunda edio e 25 captulos, apenasnumerados , sem receber titulao. O romance pode ser estruturado da seguinte

    maneira:

    Nota Introdutria:Nessa nota Ea de Que irs de fende-se da acusao de que O crime do Padre Amaro uma imitao da obra La faute de labb (editada em portugus com o ttulo de

    O crime do Padre Moure t) do escritor francs mile Zola.

    Confira abaixo uma delas:

    "O Crime do Padre Amaro revelou desde logo as tendncias literrias do Sr. Ea de Queirs e a escola a queabertamente se filiava. O Sr. Ea de Queirs um fiel e esperrmo discpulo do realismo (...) e eu que nolhe nego a minha admirao, temo a peito dizer-lhe francamente o que penso, j da obra em si, j dasdoutrinas e prticas cujo indicador na prtica de Alexandre Herculano e no idioma de Gonalves Dias. (...)

    O prprio Crime do Padre Amaro imitao do romance de Zola, La faute de labb Mouret. Situaoanloga, iguais tendncias, diferena do meio, diferena do desenlace, idntico estilo, algumasreminiscncias, como o captulo da missa e outras; Enfim, o mesmo ttulo. Quem os leu a ambos nocontestou de certo a originalidade do Sr. Ea de Queirs, porque ele a tinha, e tem e a manifesta de modoafirmativo. Creio at que essa mesma originalidade deu origem ao maior defeito de O Crime do PadreAmaro. O Sr. Ea de Queirs alterou naturalmente as circunstncias que rodeavam o padre Mouret,administrador espiritual de uma parquia rstica, f lanqueado de um padre austero e rspido; o padre Amarovive numa cidade da provncia, no meio de mulheres, ao lado de outros que do sacerdcio s tm a batina eas propinas; v-os concupiscientes e maritalmente estabelecidos, sem perderem um s atomo de influnciae considerao. Sendo assim, no se compreende o terror do padre Amaro, no dia em que do seu rro lhenasce um filho, e muito se compreende que o mate. (...) Ora bem compreende-se a ruidosa aceitao de OCrime do Padre Amaro. Era realismo implacvel, consequente, lgico, levado puerilidade (...). Vamosaparecer na nossa lngua um realista sem rebua, sem atenuaes, sem melindres, resoluto a vibrar com omartelo no mrmore da outra escola, que aos olhos do Sr. Ea de Queirs parecia uma simples runa (...).No se conhecia no nosso idioma aquela reproduo fotogrfica e servil das cousas mnimas e ignbeis. Pelaprimeira vez aparecia um livro em que o escuso (...) e o homem em quem o escuso torpe eram tratados

    com um carinho minucioso e relacionados com uma exaco de inventrio. A gente de gsto leu com prazeralguns quadros, excelentemente acabados, em que o Sr. Ea de Queirs esquecia por minutos aspreocupaes da escola; e ainda nos quadros que lhe destoavam, achou mais de um rasgo feliz, mais deuma expresso verdadeira; a maioria, porm, atirou-se ao inventrio. Pois que havia de fazer a maioriaseno admirar a fidelidade de um autor que no esquece nada e no oculta nada? (...) Quanto aco emsi, e os episdios que a esmaltam, foram um dos atractivos de O Crime do Padre Amaro, e o maior dles;(...) e tudo isto saindo das mos de um homem de talento, produziu o sucesso da obra".

    Machado de Assis

    Nessa nota, alm de levantar vrios argumentos para sua defe sa, Ea apela para amitologia grega pa ra ironizar as pessoas que o acusam de plagio.Eu podia, enfim, ter penetrado no crebro, no pensamento do Sr. Zola, e teravistado, entre as formas ainda indecisas das suas criaes futuras, a f igura

    do abade Mouret - exatamente como o venervel Anquises no vale dos Elseospodia ver entre as sombras das raas vindouras flutuando na nvoa luminosado Lete, aquele que um dia devia ser Marcelo.

    Segundo mitologia grega Enias, que era filho de Anquises e Afrodite, desce at oinferno (o Lete) para consultar seu pa i sobre o futuro depois da destruio da cidadede Tria.

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    At hoje ainda existe muita dvida sobre a questo de Ea ter imitado ou no mileZola . O prprio fa to de ele ter publicado uma de fesa to bem elaborada colocou aindamais lenha nessa fogueira. No entanto, isso tudo s serviu para transformar OCrime do Padre Amaro em um dos grandes C lssicos da Literatura Portuguesa.

    Introduo: (captulo I ao captulo V) nessa parte temos: Morte do padre Jos Migueis; Apresentao dos personagens principais; Amaro nomeado proco da cidade de Leira e , graas indicao do Cnego

    Dias, hospe da-se na casa de S. Joane ira onde conhece Amlia. Flash-back retratando a vida de Amaro desde sua infncia at aquele momento; Flash-back retratando a vida de Amlia.

    Complicao: (captulo VI)A complicao ocorre quando Amaro e Amlia tornam-se ntimos e ficam apaixonados.

    Dinmica: (captulo VI ao XXIII) nessa parte temos:

    Os cimes que Amaro sentia de Am lia ao v-la junto com Joo Eduardo; Amaro descobre as relaes ilcitas entre o cnego Dias e S. Joaneira; Amadurecimento do amor entre Amaro e Amlia e o primeiro beijo entre

    ambos; Amaro muda de casa teme ndo o e scndalo; Amaro retorna a freqe ntar a casa da S. Joane ira. Recomeam as trocas de

    olhares entre e le e Amlia; Joo Edua rdo, enciumado , publica no jorna l Voz do Distrito, um comunicado

    assinado sob o pseudnimo de Um Liberal. Nesse artigo, denuncia osenvolvimentos polticos e am oroso s dos padres. Alm disso, insinua a relaoentre Ama ro e Amlia;

    Amaro descobre, por intermdio do padre Natrio, quem era o autor docomunicado e os do is padres des troem a vida de Joo Eduardo (ele perde a

    noiva, o em prego e passa a se r tratado como um excomungado at mudar-sede cidade);

    Amaro passa encontrar-se freqentemente na casa do sineiro com Amlia, ondepassam ter relaes sexuais;

    Amlia engravida; (essa parte pode ser conside rada tambm como um anti-clmax);

    Ama ro e o cnego Dias passam a procurar por Joo Edua rdo, pois pretendemcas-lo com Amlia;

    Amlia, sob o p retexto de fazer companhia a sua madrinha, D. Josefa, queestava doente, vai para a Quinta da R icoa, onde teria o seu filho;

    O cnego Dias e D. Jose fa, que no sabia da gravidez da filha, vo passar overo na praia;

    Amlia passa a receber as visitas do a bade Ferro e do Dr. Gouveia; Amaro descobre que Joo Eduardo est vivendo na mesma regio onde Amlia

    se encontrava; Amaro faz os preparativos para entregar o seu filho a uma ama -de-leite.

    Clmax: O parto de Amlia e o destino do seu filho (captulos XXIII e XXIV)

    O parto de Amlia muito complicado. No fina l, a criana nasce bem e Amaro aentrega a um a tecede ira de anjos;

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    Amlia, depo is do parto e xige a presena da criana, como ela no lhe entregue , comea a ter convulses e falece;

    Amaro, ao saber da m orte de Am lia, tenta recuperar o filho, mas j tarde, acriana tambm j havia morrido.

    Desfecho: (captulo XXIV at o final) Amaro deixa Leiria e pa rte para Lisboa para levar uma vida annima; Amlia enterrada; Amaro e cnego Dias se encontram em Lisboa e, sem de monstrar qualquer

    remorso ou constrangimento, conversam sobre as ltimas novidades de Leiria.

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    Anlise dos Personagens

    ProtagonistasPADRE AMARO Nasceu em Lisboa , filho de um casal de criado s da Marquesa deAlegros. Aos se is anos ficou rfo e foi adotado pe la Marquesa, que decidiu educ-lo

    em casa, pois temia a a impiedade dos tempos e a s camaradagens imorais.

    "Considerado pe los criados da casa como uma mosquinha morta, Amaro, que cresceuem um am biente fem inizado, tornou-se medroso e pregu ioso. Desde pequeno tevecontato com a vida eclesistica: "Aos onze anos ajudava missa , e aos sbadoslimpava a capela".

    Quando tinha treze anos, a Marquesa falece, deixando em testamento umadeterminao para que Amaro, quando completasse quinze anos, seja enviado paraum seminrio.Embora no tivesse vocao, Amaro se torna padre, da mesma forma que se tornariaqualquer outra coisa (advogado, pedreiro etc.) ou qualquer outra coisa que lhe

    de terminassem . A natureza pass iva, facilmente dominvel de Amaro o impede de ircontra o destino que um documento lhe impe.

    Aos quinze anos ingressa no seminrio e sa i de l mais forte e bonito: o seu rosto eraoval e de pe le trigueira e os seus cabelos eram pretos, levemente ane lados.Fraco e sem vocao para o sa cerdcio, Amaro dominado por seus instintos naturaise v Am lia no como a mulhe r que ama, mas s im como um meio de realizar desejos.

    AMLIA Filha de dona Augusta Caminha (a S. Joaneira), no conheceu o pai e foieducada em um ambiente clerical, po is sua me recebia freqentes visitas de padres ede outros m embros da igreja. Amlia teve uma educao religiosa deformada, poisaprende u a ver Deus como um ser que s sabe dar sofrimento e a m orte, e que necessrio abrandar os padres.

    Quando o padre Amaro chega a Leiria, Amlia tem 22 anos e descrita assim: T i n h a u m v e st i d o a z u l m u i t o j u s t o a o s e i o b o n i t o ; o p e s c oo b r a n c o e c h e i o s aa d um co l a r i n h o v o l t a d o ; en t r e o s b eio s ve rm e l h o s e f r e s c o s o e sma l t e d o sd e n t e s b r i l h a v a ; e p a r e c eu a o pr o c o q u e um b uo z i n h o l h e p u n h a a o s c a n t o s d a b o c a um a s om b r a s u t i l e d oc e .

    Amlia tem como noivo o Sr. Joo Eduardo. No entanto, apa ixona-se por Amaro,entrega-se a ele, fica grvida e termina falecendo.

    Rom ntica e sonhadora, pode-se dizer que a pe rsonalidade de Amlia um reflexo desua criao. Ela ama a figura do padre e no o hom em.

    Nota:Ao Ana lisa r um pouco melhor os pe rsonagens protagonistas, percebe-se que a escolhados seus nome s (Amaro e Amlia) no foi casua l.

    Amaro significa, sim bo licamente, amargo , azedo, que causa desgosto. Amlia significadoce, terna. Com base nessa opos io de sign ificados pode-se deduzir o desfecho daobra: Amlia ama Amaro, que po r ser incapaz de am ar, faz a m oa sofrer. Amarocausa tanto de sgosto a moa, que ela, como uma boa personagem Romntica que ,acaba morrendo.

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    Antagonista:O personagem antagonista, em uma obra literria, aquele que age em oposio aopersonagem protagonista, ou se ja, d ificulta que o protagonista realize suas vontades.

    No caso da obra O crime do Padre Amaro o antagonista , ou melhor, so todosaqueles que dificultam as relaes sexua is entre Amaro e Amlia. Assim, pode-se dizerque, em um prime iro momento, o antagonista fo i Joo Eduardo, depois Tot e, emseguida, o Abade Ferro.

    Pe rcebe-se ento que na obra O C rime do Padre Ama ro noexiste um personagemantagonista especfico. O que existe realmente um a situao antagnica,representada pelo amor proibido entre Amaro e Amlia. Todos aqueles quedificulta rem ou impedirem a concretiza o desse amor acabam se transformando emantagonistas.

    Secundrios:JOO EDUARDO Rapaz a lto, pe le branca e um be lo bigode pequeno muito negro,caido aos cantos, que e le costumava mordicar com os de ntes." Traba lhava comoescrevente no cartrio do Nunes e era noivo de Am lia, que, por sua vez no estavaverdade iram ente inte ressada pe lo rapaz. Joo Eduardo detestava o clero e freqentavaa igreja somente para ag radar Amlia e sua m e.Quando de sconfia do envolvime nto de Amlia com Amaro, faz uma crtica annima aoclero no jornal "A Voz do Distrito". Esse ato, quando descoberto, faz com que o rapazperca o em prego, a noiva, e passe a ser tratado como um excomunga na cidade deLeiria. Sua situao s no ficou p ior, pois comeou a traba lhar com o educador dosfilhos do senhor Morgado , que tambm no gos tava muito do clero.

    Esse personagem tambm usado por Ea para denunciar o jogo de interesses e apoliticagem , pois sem pre sonhou em conseguir um e mprego m elhor por me io defavores de pessoas influentes.

    S. JOANEIRA Era gorda, a lta, m uito branca, de aspecto pachorrento. Os seus olhospretos tinham j em redor a pe le engelhada , os cabelos arrepiados, como um enfeite,eram raros a os cantos da testa e no comeo da risca, ma is percebiam os braosrechonchudos , um colo copioso e roupas asseadas. O seu verdadeiro nome AugustaCaminha, mas ficou conhecida como S. Joane ira por ser natural de S. Joo da Foz.Aps ficar viva, passa a ser muito visitada por me mbros do clero, sobretudo peloCnego Dias, que se torna seu amante e passa a sustent-la com uma mesadamensal.

    CNEGO DIAS homem gordo e relaxado, foi o mes tre de moral de Amaro durante oseminrio, razo pe la qual o jovem padre tratava-o por padre-mestre. Amante da S.Joaneira, sua ma ior preocupao era com suas terras, que eram arrendadas, e emcomo manter o confo rto e privilg ios que a sua posio na igreja lhe proporcionar.

    ABADE FERRO Padre po r vocao, uma espcie de contra ponto aocomportamento vicioso dos demais membros do clero apresentados na obra. Ao

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    contrrio dos outros padres , que de fendem a id ia da existncia de um Deus punidor,o Abade Ferro a cred ita em um Deus misericordioso e bom. Por isso, ao invs imporpenitncias e jejuns, procurava entender os prob lemas dos seus fieis e os aconselhavada m elhor maneira possvel.

    Na poca da gravidez de Amlia , o Abade Ferro passou a ser seu confessor e chegouat a tentar uni-la a Joo Eduardo. O seu nico de feito e ra o gosto pe la caa.

    DOUTOR GOUVEIA Mdico de fam lia, o porta-voz da cincia, pois a v de formasupe rior a qualquer forma de crena . Devido as suas dias deterministas e darwinistaspode ser considerado como um legtimo representante do Rea lismo.

    Ateu, o Dr. Gouveia trava muitas discusses com o abade Ferro . Nesses debates,combate a Re ligio e de fende a cincia.

    Durante a gravidez de Am lia o doutor Gouveia quem lhe assiste. ele tambmquem lhe faz o parto.

    DIONSIA foi a segunda empregada que traba lhou na casa de Amaro. Apsdescobrir o e nvolvimento am oroso entre Ama ro e Am lia, a juda o casal a disfarar oromance. Ela a juda Amaro a encontrar um a ama de leite que poderia receber o filhodo padre. Alm disso, a juda no trabalho de pa rto de Am lia.

    CARLOTA a ama de leite, ou m elhor, a tecedeira de anjos a quem Amaroentrega o se u filho. Ela causa a morte do filho de Amaro.

    PADRE NATRIO " . . . er a u m a c r i a t u r a b i l i o s a , s ec a , c om d o i s ol h o s en c ov a d o s , e m u i t o m a l i g n o s" q u e v i v i a c om d u a s s ob r i n h a s , s q u a i s c h a m a v a d e a s f l o r es d o m eu j a r d i m . Durante a obra ele se revela umexemplo de tudo o que um padre convicto no deve ser, pois era uma pessoa

    rancorosa , agressiva e extremam ente vinga tiva. Um bom exemplo disso quando fazde tudo para a rrasar a vida de Joo Eduardo quando descobre que o rapaz era o autordo Comunicado publicado no jornal A Voz do Distrito.

    PADRE BRITO - o padre ma is estpido e forte da diocese. Aps a divulgao doCom unicado, transferido para outra localidade.

    TIO ESGUELHAS - conhecido como o s ineiro da s , era um hom em coxo, que viviapara cuidar de sua filha, a Tto. iludido por Amaro e em presta sua casa para que opadre a Amlia realizem seus encontros ilcitos.

    TOT - filha do sineiro. Paraltica e com problemas pulmonares, tem acessos

    inexplicveis de fria. Por isso, ficou conhecida e m Le iria como a endemoniada.To rna-se um estorvo na vida de Amaro e Am lia, po is ao perceber a relao amorosaentre e les, grita m uito e cham-os de ces.

    DR GODINHO Che fe do jornal a Voz do Distrito. Detestava os padres, por issopermitiu que Joo Eduardo publicasse o Com unicado no Jornal. No entanto, no queriater um a guerra declarada contra o clero, po is era casado com uma beata e desejavamanter a harmonia em sua casa. Quando Joo Eduardo o procura para pedir-lhe ajuda,ele lhe d as costas.

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    LIBANTINHO o beato mais a tivo de Leiria, freqentava as rodas beatas, eraamigo de todos . Era hom ossexual, pois foi encontrado em situao comprometedoracom um Oficial.

    MARQUESA DE A LEGROS - A me de am aro era uma q u a s e am i g a d a m a r qu esa d e A l e g r o s . Por isso, aps a morte de seus pa is, a marquesa adota-o, cuida da suaeducao e de cide o seu futuro.Um dia , quando Amaro tinha 13 anos, a Marquesa falece, deixando no seu testamentouma de terminao para que Amaro entre no sem inrio ao comp letar 15 anos e seordene padre.

    CONDE DE RIBAMAR - marido da filha mais velha da marquesa de Alegros. Por meiode suas influncias sociais e polticas, Amaro consegue ser trans ferido pa ra Leiria.

    Como personagens podemos citar ainda:Gansosos: irms que freqentavam a casa de S. Joaneira;D. Maria da Assuno: mulher muito religiosa , rica e cole cionadora de caras imagensde santos;D. Josefa Dias: irm do cnego Dias;Padre Silvrio: confessor bondoso, que teve atritos com o padre Natrio;Sr. Gouveia Ledesma: secretrio-geral, representante da lei na cidade;Escolstica: terceira empregada da casa de Amaro;Agostinho Pinheiro: traba lhava com o Dr. Godinho como reda tor do jornal. Faziadenuncias contra o clero.

    "O Crime do Padre Amaro" pretende se r um pa inel da sociedade portuguesa do final do

    XIX. Po r isso , encontramos , no desenrola r da obra, uma sria de personagens que tmuma atuao to discreta que sua ausncia no alteraria o conjunto da obra. Comoex em plo pode-se citar: Vicncia, primeira empregada de Amaro e a Rua, empregadada casa de Amlia.Por isso, no sero tecidos maiores comentrios sobre esses personagens, muitoembora exeram um papel importante para os ideais Realistas.

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    Foco Narrativo

    No romance ho predomnio da narrativa em 3 pessoa onisciente e onipresente,ou se ja, o narrador no participa da histria, no se envolve com a trama, mas sabe oque se passa com os personagens e o que pensam e sentem.

    Na obra fica evidente qual a posio ideolgica do narrador. Suas crticas eopinies es to presentes no texto em sua prpria voz ou nos pensamentos e atitudesdos personagens. A forma despreziva e irnica com que ele expe os de feitos dospersonagens faz com que o leito r acabe sendo adverso a eles. Como exemplo pode-secitar a forma com que o narrador de screve a passividade de Amlia ao entregar-se aAmaro:E Amlia, resignando-se vontade de Deus em tudo, ia deixando cair assaias.

    No trecho abaix o o padre Natrio ex trem am ente irnico, po is, depois de planejar adestruio de Joo Eduardo, ainda diz que tem bom corao.

    - Resumindo: o Dias fala S. Joaneria, e voc fala pequena. Eu por mim meentenderei com a gente do Governo Civil e com o Nunes Ferral. Encarreguem-se vocs do casamento, que eu me encarrego do emprego! E batendo noombro do proco jovialmente: - o que se pode dizer ataca-lo pelo corao epelo estmago! E adeusinho, que as pequenas esto espera para a ceia!Coitadinha, a Rosa tem estado com um defluxo!... fraquita, aquela rapariga,d-me muito cuidado... Que eu em a vendo murcha at perco logo o sono. Quequer voc? Quando se tem bom corao... At amanh, Amaro.

    O narrador ainda faz vrias crticas ao misticismo exacerbado, ao apego s imagens desantos, aos rituais das m issas e tc. Com isso, pode -se dizer que estamos bem longede narrador ingnuo e que se limita apenas narrar os fatos.

    Na obra h o predomnio do discurso direto. No entanto, pode-se obse rvar queexistem os trs tipos de discurso:

    Direto (caracterizado pelos dois pontos e pe lo travesso com os quais o narradordeixa o s personagens falarem): porta do ptio, Joo Eduardo disse-lhe ainda:- Vossa excelncia ento desculpe, senhor doutor...- No h de que... Manda a rua da Misericrdia ao diabo! (p.169)

    Indireto (ocorre quando o na rrador utiliza sua s prprias pa lavras para descrever aessncia do pensamento do personagem):

    Logo ne ssa no ite ele falou S. Joaneira da ida a Vieira...

    Indireto Livre (as falas dos personagens se fundem palavras do na rrador)E, continuando a arrumar a sua roupa, o proco desesperava-se agoracontra a resoluo que tomara. A pequena evidentemente no tinha aberto obico!

    Nessa obra ainda podem ser encontradas narrativas em primeira pessoa. Comoexemplo pode-se citar as cartas trocadas e ntre a lguns personagens:"Se tu soubesses como eu te quero, querida Ameliazinha, que at s vezes meparece que te podia comer aos bocadinhos! Responde pois e dize se no te

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    parece que poderia arranjar-se a vermo-nos no Morena/, pela tarde. Pois euanseio por te exprimir todo o fogo que me abrasa, bem como falar-te decoisas importantes, e sentir na minha mo a tua que eu desejo que me guiepelo caminho do amor, at aos xtases duma felicidade celestial. Adeus, anjofeiticeiro, recebe a oferta do corao do teu amante e pai espiritual,

    Amaro."

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    Tempo

    Leiria, vista da S - final do sc. XIX ecomeo do sc. XX

    O tempo narrativo rigorosamentecronolgico e linear. A histria sepassa no sculo XIX e dura,

    aproximadamente, dois anos, entre1870 e 1871.No entanto, deve-se levar emconsiderao as recordaes dasinfncias de Amaro e Amlia, que soapresentadas ao leito r por meio de doislongos e importantes flash-backs.Po r meio das recordaes das origensde Amaro e Am lia, Ea, seguindo osmodelos rea listas, mostra o me io emque o carter fraco e sensua l dospersonagens foi formado.

    Amaro, apesa r de no ter vocao , entra pa ra o convento por imposio de uma beata.Amlia, educada entre beatas e padres, acostuma-se a essa vida. Com base nopassado e presentedos personagens, o autor tem os fundam entos necessriospara e nvolve-los sexua lmente e para comprovar, cientificam ente, que o futuro deambos previsvel e determinvel.

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    Espao

    A histria se passa, em quase toda a suatota lidade , na cidade provinciana de Leiria,interior de Po rtuga l. Ass im, pode-se dizer

    que o am biente rea l, com pessoas quelevam uma vida norma l. Os locais maiscomuns so: casa da S. Joaneira; casa doPadre Amaro na rua dos Sousas; Casa doSineiro; Quinta da Ricoa.

    O espao, como na maioria dos romancesRealistas, ocupa um papelimportantssimo, pois determina ocomportamento humano. QuandoAmaro vai morar em um quarto frio e sujona rua dos Sousas o seu com portamento

    se altera e ele sente-se entediando esolitrio.

    Mapa de Portugal

    Leiria - 2 metade do sc. XIX

    . . . a s f a c a s t i n h a m o c a b o m i d o d a g u a g or d u r os a d a s l a v a g en s . Am a r o,

    d e s g o s t o s o e i n d i f e r e n t e , no se

    q u e i x a v a ; c om i a m a l , p r e s s a ; m a n d a v a v i r o ca f , e f i c a v a h o r a s e s q u e c i d a s s e n t a d o m esa ,q u e b r a n d o a c i n z a d o c i g a r r o n a b o r d a do pa r t o , p e r d i d o n u m t d i o mu do . . . (p. 98-99)

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    Leiria, a praa - f ina l do s c. XIX e comeodo sc. XX

    Quando Amlia e st recolhida na Ricoa,por causa da sua gravidez, a jovem acabapor tornar-se triste e me lanclica. Napassagem aba ixo a descrio do espaoretrata o estado interior da jovem Amlia:

    . . . p el a s d u a s j a n e l a s r e ce b i a a i m p r e s so t r i s t e d a p a i s a g em q u e se e s t e n d i a d e f r o n t e ; um a ond u l aom ont ona de t e r r a s es t r i e s coma l g u m a m ag r a r v o r e a qu i e a l m ; um

    a r a b a f a d o em q u e p a r ec i a e r r a r c o n s t a n t emen t e a ex a l t ao de pa u i s p r x i m o s e d e b a i x a s m i d a s , e q u e n e ,m o sol d e set em b r o d i s s i p a v a o t om s ezont i c o . (p.261)

    sezontico ! sezo - Febre intermitente ou peridica (Dicionrio Aurlio)

    Lisboa . Largo do Loreto (Chiado) - meadosdo sc. XIX

    No captulo final o cenrio em destaque a movimentada cidade de Lisboa , ma isprecisamente o Largo do Loreto, onde ficalocalizada uma e sttua de Cam es.

    E com grande gesto mostrava-lhes o Largo do Loreto, que quela hora, numfim de tarde serena, concentrava a vida da cidade.Tipias vazias rodavamdevagar; pares de senhoras passavam, de cuia cheia e taco alto, com osmovimentos derreados, a palidez clortica duma degenerao de raa;nalguma magra pileca, ia trotando algum moo de nome histrico, com a faceainda esverdeada da noitada de vinho; pelos bancos de praa gente estirava-se num torpor de vadiagem; um carro de bois, aos solavancos sobre as suasaltas rodas, era como smbolo de agriculturas atrasadas de sculos; fadistasgingavam, de cigarro nos dentes; algum burgus enfastiado lia nos cartazes oanncio de operetas obsoletas; nas faces enfezadas de operrios havia comoa personificao das indstrias moribundas... E todo este mundo decrpito semovia lentamente, sob um cu lustroso de clima rico, entre garotosapregoando a lotaria e a batota pblica, e rapazitos de voz plangenteoferecendo o Jornal das pequenas novidades: e iam, num vagar madrao.Entre o largo onde se erguiam duas fachadas tristes de igreja, e o renque

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    comprido das casarias da praa onde brilhavam trs tabuleiros de casas depenhores, negrejavam quatro entradas de taberna, e desembocavam, com umtom sujo de esgoto aberto, as vielas de todo um bairro de prostituio e decrime.

    Vejam, ia dizendo o conde: vejam toda esta paz, esta prosperidade, estecontentamento... Meus senhores, no admira realmente que sejamos a invejada Europa!

    Repare com o a descrio do largo do Loreto entra em conflito com a fala do Conde deRibama r, po is a decadncia de Portugal, em contraste com a presena de Cames,rea la a diferena entre dois Portugais: o glorioso P ortugal exaltado em OsLus adas; e Po rtugal daquele mom ento, pobre e decadente. Essa crtica direcionadacontra as pessoas que ex altam uma p tria que no existe mais e, por no perceberemisso, essas pessoas do as costas as possibilidades futuras.

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    Tema

    O tema da obra O crime do Padre Amaro comportam ento pe rnicioso* no s dospadres, bem como do clero em geral, e o falso discurso moralista da sociedadeportuguesa da poca.

    * Mau, nocivo, ruinoso (dicionrio Aurlio)

    Cena do filme O Crime do Padre Amaro

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    Assunto

    Amaro, um jovem padre, sem o menor carter, se envolve e seduz a beata (Amlia)at lev-la a m orte.

    Cena do filme O Crime do Padre Amaro

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    Mensagem

    A principal mensagem transm itida pe la obra O crime do Padre Amaro que todasociedade composta por bons valores morais e ticos. No caso da obrapercebe-se que a sociedade portuguesa da poca perdeu muitos de seus valores

    fundamentais, como, po r exem plo, a famlia, o casame nto etc. Prova disso so ospersonagens do Dr. Gouveia , Abade Ferro e Joo Eduardo, que, por terem princpiosticos, no so to criticados. Ea de Queirs quis demonstrar por meio dessespersonagens que nem tudo est pe rdido , pois ainda existem indivduos descentes, ouse ja, verdade iras ex cees , no m eio da podrido que corroia a sociedade da poca.

    Pode -se d izer ento que, apesar de todo o seu sarcasm o e ironia, Ea de Queirsmostra-se uma pessoa profundame nte preocupada com a perda dos bons valoresticos e m orais de sua sociedade.

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    Ideologia

    Na obra O crime do Padre Amaro Ea de Queirs tenta montar um painel dasociedade portuguesa da poca. No entanto, o autor parece no conhecerprofundam ente as camadas inferiores da sociedade e seu relato fixa-se nas classes

    sociais que conhecia melhor. Pode-se dizer ento que O crime do Padre Amaro umaanlise crtica e impiedosa de um burgus sobre os trs grupos sociais dominantes:Igreja, Burguesia e Monarquia.

    Nessa an lise , Ea usa a conduta condenvel dos personagens que representam essasclasses sociais para combater os valores que essa sociedade decadente consideravacomo fundamentais. Por outro la do, as id ias de fendidas pelo autor so apresentadaspor personagens que possuem um carter quase que irrepreensvel. o exemplo doDr. Gouveia e do Abade Ferro.

    Dentre os principais ideais discutidos na obra destacam-se:

    "#

    crtica ao comportamento religioso dos membros do cleroEa critica abertamente o comportamento nocivo e vicioso dos membros da igreja. Osatos de Amaro e de outros padres chocam -se com os discursos e e nsinamentos daigreja, ou seja, os padres , durante o se rmo, pregam uma coisa, mas, em suas vidas,agem de forma totalmente contrria a esses ensinamentos. O trecho abaixo, extradode um dilogo entre Ama ro e cnego Dias, exem plifica m uito bem o que foi dito:

    E s e m e v em a g o r a c om c o i s a s d e m o r a l , i s s o f a z -m e r i r . A m o r a l pa r a a e s c ol a e pa r a o se rm o . C na v i d a e u f ao i s t o , o s e n ho r f a z a q u i l o , os o u t r o s f a z em o q u e p o d em . O p a d r e -m e st r e q u e j t em i d a d e a g a r r a - s e v e l h a , e u q u e s o u n o v o a r r a n j o -m e c om a p e q u e n a . t r i s t e , m a s q u e q u e r ? a n a t u r e za q u e m a n d a . Somo s h ome n s . E c om o s a c e r d o t e s , p a r a a h o n r a d a c l a s s e , o q u e

    t emos f a ze r c o s t a s . (p. 232)

    Repare ago ra, no fragmento aba ixo, como a vida mundana (Dada a gozos ou prazeresmateriais) dos padres se contrape aos ensinamentos pregados pe la igreja.

    . . . De r e s t o no l h e d e sa g r a d a v a se r p a d r e . De sd e que sar a da s r e z a s p e r pt ua s de Ca r c a v e l o s c on se r v a r a o se u m edo do I n f e r n o , m as p e r d e r o

    f e r v o r d o s s a n t o s; l em b r a v am - l h e p orm o s p a d r e s q u e v i r a em c a s a d a s en h o r a m a r q u e sa , p e ss oa s b r a n c a s e b em - t r a t a d a s , q u e c om i am a o l a d o d a s f i d a l g a s e t om a v am r a p em c a i x a s o u r o ; e c on v i n h a - l h e a q u e l a p r o f i s so emq u e s e f a l a b a i x o c om a s m u l h e r e s v i v e n d o en t r e el a s , c o ch i c h a n d o ,s en t i n d o - l h e s o c a l o r p e n et r a n t e. . . (p.33)

    Dentre os outros vrios exemplos do pssimo comportamento do clero pode-se destacar:

    O fato de os padres no se importarem nenhum pouco com a questodo celibato clerical e manterem relaes sexuais freqentes: prime iroAmaro de ixa de se r virgem ao ter relaes sexuais com uma pastora de Feiro(p. 39). Em Leiria, Amaro o amante de Amlia e o cnego Dias da S.Joaneira; Em Lisboa Ama ro s confessa mulheres casadas , insinuando que

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    continua m antendo relaes sexuais, mas agora, para evitar possveisescndalos, s com mulheres casadas.

    O uso da confisso como recurso de controle de conscincias emanipulao. Repare na fa la do padre Natrio, transcrita abaixo, quais so as

    verdade iras intenes dos padres quando confessam os fiis:

    - Es c u t em , c r i a t u r a s d e Deu s ! Eu no que r o d i z e r q u e a co n f i s so sej a um a b r i n c a d e i r a ! I r r a ! E u no s o u p ed r e i r o - l i v r e ! O q u e q u e r o d i z e r qu e um m e i o d e pe r s u a so , d e sa be r o qu e se pa s s a , d e d i r i g i r o r e b a n h o p a r a a q u i o u p a r a a l i . . . E , q u a n d o pa r a o s e r v io d e D eu s ,

    um a a r m a . A est o q u e : a a b so l v i o um a a r m a !

    Nessa outra passagem , veja como Amaro usa os bilhetes de confisso de JooEdua rdo pa ra convencer a m oa de que o seu namorado no era uma pessoareligiosa. . . . A m en i n a n o conh e ce e s s e hom em . En t o , b a i x o , c on t o u - l h e o que

    s a b i a d e J oo Ed u a r d o , p o r N a t r i o ; a s s u a s n o i t a d a s c om A g o s t i n h o , a s s u a s i n j r i a s c on t r a o s p a d r e s , a s u a i r r e l i g io . ..- P e r g u n t e - l h e s e e l e s e co n f e s s a h se i s a n o s , e p ea - l h e os b i l h e t e s d a con f i sso!( p.147)

    sentimento anti-cristo e falta de fOs padres s pensavam em si m esmos: o cnego s se preocupava com suasterras, que eram arrendadas, e em manter o conforto e os privilgiosconseguidos graas a sua posio. J o padre Natrio mostrou-seex trem am ente vingativo quando descobriu que Joo Eduardo fora o autor docomunicado. Ao invs de pe rdoa-lo, conduta a se r tomada por um verdadeiropadre, Natrio s pensava em vingar-se. O p a t e t a es t a v a p a r a s er em p r eg a d o n o Gov er n o Ci v i l , p r i m e i r o am a n u e n s e, h em ? P o i s v o u - l h e d e sm a n c h a r o a r r a n j i n h o ! .. . E o Nu n e s Fe r r a l q u e dos m eu s , h omem de b oa s i d i a s , v a i p- l o f o r a d o ca r t r i o . . . E qu e es c r e v a en t o Comu n i c a d o s ( . . . )

    - Re sum i n d o : o D i a s f a l a S . J o a ne i r a , e v o c f a l a pequ ena . Eu p o r m i m m e en t e n d e r ei c om a g e n t e d o g o v e r n o Ci v i l e c om o Nu n e s F er r a l .

    E n c a r r e g u em - s e v o cs do ca sa m en t o , q u e eu me en ca r r e g o doemp r e g o ! .

    Alm disso, os padres demonstram claramente que no acreditam nossacramentos da igreja. Repare na passagem abaixo como o Padre Natriodemonstra sua falta de f no sacramento da confisso :

    . . . O senho r , p o r e x em p l o , q u e a ca ba de a l m oa r , q u e com eu pot o r r a d o , t om o u s e u c a f , f um o u s eu c i g a r r o , e q u e d e p o i s s e se n t a r n o con f e ss i on r i o , s v ezes p r eocupa do com neg c i o s de f am l i a ou comf a l t a s d e d i n h e i r o , o u c om d o r e s d e ca b ea o u c om d o r es d e b a r r i g a ,i m a g i n a o s en h o r q u e e s t a l i c om o um De u s p a r a a b s ol v e r ?

    O a r g um en t o s u r p r e en d e u .

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    O cnego D i a s , p o u sa nd o o t a l h e r , e r g u e u o s b r aos , e c om u m as o l en i d a d e cm i c a e x c l a m o u : - Ha e r r e t i c u s e s t ! he r e g e ! (p.84)

    crtica a vida mundana que os membros da igreja levavam Os padres levam uma vida che ia de vcios, muito contrria aos mandamentos daIgreja. Como exem plo pode-se citar o prprio padre Amaro que , entre outrascoisa s, tinha o vcio do fum o; J o padre Jos Migueis era chamado de comilo doscomile s por comete r cons tantem ente o pe cado da gula; o chantre era viciado emrap (tabaco em p para cheirar) etc.

    "# aliana entre a igreja e os polticos

    Est claro o envolvim ento do clero com os po lticos. A igreja utiliza a sua influncia e oseu poder de persuaso para conseguir votos para o s seus candidatos. Repare, napassagem abaix o, como o Padre Natrio, utilizando-se de um falso milagre, conseguiuvotos para o seu candidato:

    O p a d r e N a t r i o n a l t i m a e l e io t i n h a a r r a n j a d o o i t e n t a v o t o s ! - Csp i t e ! D i sse r am .

    - I m a g i n em v o cs c om o ? Com um m i l a g r e ! - Com um m i l a g r e?- r e p et i r a m es p a n t a d o s .- S im , s e n h o r es .

    T i n ha - s e en t end i d o com u m m i ss i on r i o , e na v sp e ra da e l e io recebe ra m -s e n a f r e g u e s i a c a r t a s v i n d a s d o Cu e a s s i n a d a s p e l a V i r g em Ma r i a , p e d i n d o ,c om p r om e s sa s d e s a l v ao e ame aa s d o I n f e r n o , v o t o s p a r a o c a n d i d a t o d o

    g o v e r n o . D e c h u p e t a , h em ? (P. 82)

    Alm disso , em um di logo entre o Conde de Ribamar e um ministro do Governo, ficouclaro que os polticos contavam com o apo io dos padres para influenciar o povo naaceitao pacfica das medidas impostas pelas autoridades governamentais, quegeralmente visavam os interesse s dos poderoso s. Assim, o clero e o governo agiam deforma a m anter uma situao que e ra confortvel para os dois lados.

    . . . e ss a c o l o c ae s n a s b o a s p a r q u i a s d e v e n a t u r a l m e n t e s e r r e com p e n s a d a s dos b ons se r v ios . n ecessr io o es t m u l o . . .- P e r f e i t am e n t e r e p l i c o u o co n d e - , m a s s e r v io s r el i g i o s os , p r o f i s s i o n a i s ,

    se r v ios I g r e j a , no se rv ios aos g ov e rn os .O hom em da s sobe r ba s su as neg ra s t e ve u m ges t o de ob j eo .

    - No a ch a? pe r g u n t o u - l h e o co nde .R es p e i t o m u i t o a o p i n io d e Vo s s a E x c e ln c i a , m a s s e m e p e rm i t e .. . S i m , d i g o e u , o s pro co s n a c i d a d e so - n o s d e um g r a n d e se r v io na s c r i s e s el e i t o r a i s .D e um g r a n d e s e r v io ! ( p 4 1 )

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    "# troca de favores para conquista de benefcios

    Esse tipo de denncia fica claro quando Amaro designado padre da cidade de Leiriagraas a indicaes polticas.Do i s m eses depo i s s o u be - s e em Lei r i a q u e es t a v a nom eado ou t r o pro co .

    D i z i a - s e q ue e r a um hom em m u i t o n o vo , s ado ap ena s d o sem i n r i o . O seunom e er a A m a r o V i e i r a . A t r i b u - s e a su a e s c o l h a a i n f l u nc i a s p o lt i c a s . . . ( p . 2 0 )

    Outro exem plo dessa troca de favores o fato de Joo Edua rdo almejar um cargo noGoverno civil. Ele tambm tentava conseguir esse cargo por meio de favores de umpoltico influente.

    E n f i m a c o r d o u - s e t a c i t am e n t e em e s p e r a r , a t qu e el e ob t i v e s se o l u g a r d e am a n u e n s e d o Go v e r n o Ci v i l , r a s g a d am e n t e p r om e t i d o p el o d ou t o r Go d i n h o o t em i d o d o u t o r Go d i n h o . (p68)

    "# crtica a falsa literatura religiosa

    Ea de Que irs critica a literatura religiosa ao atribuir um dup lo sentido ao livrocntico a Je sus, que Amlia ganhou de presente de Amaro:

    " um a o b r a z i n h a b e a t a , e s c r i t a c om um l i r i sm o eq uv o co , q u a s e t o r p e - q u e d a o r ao a l i n g u a gem de l u x r i a : J e s u s in v o ca d o , r e c l am ad o com a ss of r e g u i de s b a l b u c i a n t e s d e um a c o n c u p i s cn c i a a l u c i n a d a : " O h ! v em ,am a d o d o me u c o r ao , c or p o a d o rv e l m i n h a a l m a im p a c i e n t e q u e r - t e ! Amo - t e c om p a i x o e d e s es p e r o ! A b r a s a - m e ! Q u eim a -m e ! V em ! e sm a g a - m e !

    P o s s u i -m e !" E um am o r d i v i n o , o r a g r o t e s co p e l a i n t e no , or a o b s c en o p e l a m a t er i a l i d a d e, g em e, r u g e , d ec l a m a a s s i m em c em pg i n a s i n f l a m a d a s , o n d e a s pa l a v r a s g o zo , d e lc i a , d e lr i o , x t a s e , v o l t am a ca d a m omen t o , c om um ape r s i s t nc i a h i s t r i ca . E , dep o i s d e mon l og os f r ent i c os de ond e se ex a l a u mb a f o d e c i o mt i c o , v m e n to im b e c i l i d a d e s d e s a c r i s t i a , n o t a z i n h a s b e a t a s r e s o l v e n d o ca s o s d i f ce i s d e j e j u n s e or a es pa r a a s d o r e s d e pa r t o . . . " (p. 74)

    "# valorizao da cincia e das teorias vigentes na poca

    Na obra O Crime do Padre Amaro as id ias determinis tas e darwinistas vigentes napoca so valorizadas. Em contra ponto, a religio desvalo rizada . Na maioria dasvezes Ea utiliza-se do personagem do Dr. Gouveia para de fende r suas idias. Nocaptulo XXIII h um dilogo entre o Dr. Gouveia e o Abade Ferro no qua lencontram os algumas das teses em voga na poca. Com base nesse dilogo Ea deQueirs consegue um e feito muito interessante, pois expe teses em um tom dedebate, tornando-as ma is claras e m elhor fundame ntadas.

    Segundo o Dr. Gouveia o indivduo est submetido, desde o nascimento at amorte, a duas foras dominadoras, que exercem um papel fundamental naformao do seu carter e lhe ditam, por toda a vida, as regras de condutasocial.

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    Uso de termos cientficos como: linfticos, hctico

    Linftico Relativo a LinfaLinfa Lquido transparente, amarelado ou incolor, de rea o a lcalina, quecontm em suspenso glbulos brancos, p rincipalmente linfcitos e com

    freqncia glbulos de gordura, e circula no organ ismo em vasos p rprios,chamados vasos linfticos. (Dicionrio Aurlio)Na ma ioria das vezes, o termo linfticos usado com sentido de Apatia.

    Hctica - Relativo a, ou que sofre de hctica.Hctica - Consumpo por febre lenta, consecutiva a doena crnica.

    "# crime sem castigo

    Com o se pode ver, Amaro cometeu vrios crimes , dentre eles o de assassinato, pois foiresponsvel pe la morte de seu filho . No entanto, o padre no punido, pois se mudou

    para Lisboa onde continuou gozando dos privilgios de sua posio social.A pergunta que fica : Por que no houve punio, uma vez que Ea de Queirsprocurou denunciar o comportamento nocivo dos membros da Igreja?A resposta sim ples: Apesa r do aparente ceticismo do autor ao documentar a derrotado bem pe lo mal, a punio ex istiu. Quem foi punido foi a sociedade, que continuarse r com posta po r pessoas imorais e dominadoras. Por isso, pode-se dizer que O Crimedo Padre Am aro uma obra de carter transformador, ou seja, mostra as falhas dasociedade com a inteno fazer o leitor se ind ignar e muda r o seu comportamento.

    "# homossexualismo

    Ea Queiros usa a figura do beato Libantinho para denunciar a existncia dohomossexualism o. Ao longo da obra Ea vai, pouco a pouco, nos dando indcios de queo beato Libantinho o m ais ativo da cidade de Leiria homosse xual. No ltimocaptulo, em um dilogo entre Amaro e cnego Dias, revelado que o beato foiencontrado em situao comprometedora com um Oficial.

    . . . E s t o u d e ser v io no qu a r t e l . . . No t e r i a s , p a r o c oz i n h o , q u e es t o u l

    f a z en d o m u i t a v i r t u d e . . . M et o- m e com o s s ol d a d i n h o s ; f a l o - l h e s d a s c h a g a s d e C r i s t o . . .- A n d a s a c on v e r t e r o r e g i m e n t o d i s s e Am a r o q u e m e x i a n o s p a p i s d a m e sa , p a s s e a v a , n u m a i n q u i e t a o d e a n im a l p r e s o .- No pa ra as m i n ha s f o ras , proco , qu e se eu pu desse ! . . . O l h a , a go r a v ou

    eu l e v a r a u m s a r g e n t o u n s b e n t i n h o s . .. F or am b e n z i d os p e l o S a l d a n h i n h a ; v o c h ei o s d e v i r t u d e . O n t em d e i ou t r o s i g u a i s a u m a n s p ea d a , p e r f e i t o

    r a p a z , um am or d e r a p a z . P u s - l h os eu m e sm o p o r b a i x o d a c am i s ol a . P e r f e i t o r a p a z ! . . .( . . . ) E p u l o u p e l os d e g r a u s a i r l e v a r a v i r t u d e a o b a t a l ho (p.295)

    - E d i g a l, p a d r e -m e st r e , o L i b a n t i n h o ?

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    - Eu e s c r e v i - l h e a e s s e r e s p e i t o d i s s e o cnego r i n d o .O p a d r e Ama r o r i u t am bm ; e d u r a n t e um m ome n t o os d o i s s a c e r d o t e s p a r a r a m , a p er t a n d o a s i l h a r g a s .- P o i s v e r d a d e d i s s e en f im o cnego . A co i s a t i n h a s i d o r e a lm en t e es c a n d a l o s a . . . P or q u e , en f i m , r e p a r e o am i g o q u e o p i l h a r a m c om o sa r g e n t o,

    d e t a l m o d o q u e no h a v i a a d u v i d a r . . . (p. 317)

    "# crtica ao Romantismo

    No decorrer da histria encontram-se vrias crticas aos modos sentimentais eRom nticos da poca. Confira, na passagem abaixo , o modo at certo ponto patticoque Ea retrata o personagem Arthur, que interpreta a cano Adeus, na qual o eu-lrico sofre e morre por amor.

    A r t h u r p i g a r r e ou , c u s p i l h o u ; e , d a n d o s u b i t am e n t e f a c e um a e x p r e sso

    d o l o r os a , er g u e u a v o z l u g u b r em e n t e :

    A d e u s , me u a n j o ! Eu v o u p a r t i r s em t i !

    E r a u m a ca no do s t emp o s r omn t i c o s d e c i n qen t a e um , O Ad eu s ! D i z i a um a s u p r em a d e sp e d i d a , n u m b o sq u e , p or um a t a r d e pl i d a d e ou t on o ;

    d e p o i s , o h om em s o l i t r i o e p r e c i t o , q u e i n s p i r a v a um am o r f u n e st o , i a e r r a r d e sg r e n h a d o b e i r a d o m a r , h a v i a um a s ep u l t u r a e s q u e ci d a n um v a l e d i s t a n t e, b r a n c a s v i r g e n s v i n h am c h or a r c l a r i d a d e d o l u a r . ( p 5 4 )

    ( . . . )

    M a s A r t h u r , c om a m o s ob r e o p e i t o , a o u t r a e g u i d a n o a r , n um g e s t o

    d e s ol a d o e v e em e n t e , s ol t o u a l t i m a e s t r o f e :

    E um d i a , e n f i m , d e s t e v i v er f a t a l ,R e p o u s a r e i n a e s c u r i d o d a c am p a !

    Na pgina 170, em um di logo entre Joo Eduardo e Gustavo, encontramos uma novacrtica ao Romantismo. Repa re como Gustavo critica o spleen (palavra de o rigeminglesa , muito usado pelos romnticos, que tem o significado de melancolia) eaconselha Joo Eduardo a e squecer o spleen e estabilizar-se.

    - P o r q u ? As co i s a s no cor r e r am bem ? Tu r r a s c om a be s t a d o Nune s , h em? Pe r g u n t o u - l h e .- No , um boca do d e sp l een .- I s s o d e sp l e en co i s a d e i n g ls ! Oh , m en i n o , h a v i a s d e v e r o Tab o r d a noAm o r L on d r i n o ! . . . D ei x a l o s p l e en . d e i t a r l a s t r o p a r a d e n t r o e c a r r e g a r n o l q u i d o(p170)

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    d e i t a r l a s t r o p a r a d e n t r o e c a r r e g a r n o l q u i d o significa, a grosso modo, beberpara estab ilizar-se , po is lastro tudo o que colocado no poro dos navios para lhedar estabilidade .

    Na passagem abaixo temos mais um crtica ao Roamantismo: . . .O Ve l h o c ar a em g r a n d e me l a n c o l i a e g r a n d e m i sr i a ; e p o r p i e d a d et i n h a m - l h e d a d o um em p r e g o n o ca r t r i o d a c m a r a ec l es is t i c a . E r a um a f i g u r a t r i s t e d e r om a n c e p i t or e sc o (p.58)

    Nessa passagem , Romance Pitoresco significa um romance, ge ralmente cmico, noqual a personagem principal uma pe ssoa ridcula que chega a passar fome.

    "# bisbilhotice

    Ea critica, em vrios trechos da obra, o a vida cotidiana em Leiria, onde todo mundosabe da vida dos outros e faz mexericos e intrigas. Abaixo seguem alguns exemplos

    desse tipo de atitude dos personagens:

    N o Ou t r o d i a , n a c i d a d e , f a l a v a - s e d a c h e g a d a d o pr o c o n o v o , e t o d o s

    s a b i am q u e t i n h a t r a z i d o um b a d e l a t a , q u e er a m a g r o e a l t o, e q u e c h am a v a p a d r e- m es t r e a o c n e g o Di a s (p. 47)

    No p o d emo s c o n t i n u a r a q u i a f a l a r . . . e s t a l i j a d o n a M i c a e l a a c o c a r .Er a u m a v el h a , q u e l ev a n t a r a a c or t i n a d e c a ss a n u m a j a n e l a b a i x a e

    e sp r e i t a v a c om os ol h i n h o s r e l u z e n t e s e g u l o s os , a f a c e t o d a r e s s eq u i d a e n co s t a d a so f r e g am en t e v i d r a a . Sepa r am - s e en t o e a v e l h a d e sc on s ol a d a d e i x o u c a i r a c o r t i n a . (p109)

    "# misria

    Para cham ar a ateno do leitor sobre essa id ia, Ea fa z um comparativo entre a boavida levada pe los padres com a vida dos mendigos, que viviam como animais. Reparea ironia de Ea de Queirs ao descrever os padres comendo enquanto falam sobre amisria do povo.

    De i x a l, p ad re Na t r i o , de i x a l! d i s se o ab ad e . O l h e qu e h pob rezad e v e r a s . P o r a q u i h f am l i a s , h om em , m u l h e r e ci n c o f i l h o s , q u e d o rm e n o

    ch o com o p o rc os e n o com em seno erv as .- En t o que d i a b o que r i a s t u q u e e l e s c om es sem ? e x c l am ou o cnego D i a s

    l a m bend o os dedo s depo i s d e t e r e s b u r g a d o a a s a d o ca po . Que r i a s q u ecom essem p e ru ? Cad a u m com o qu em !O b om a b a d e p u x o u , r ep o l t r e a n d o - s e