Litoral Sul paraibano ganha projeto de recuperação da Mata ... · aspectos positivos, devemos ter...

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Área do assentamento Teixeirinha afetada pela ação do homem em prol do “desenvolvimento”. Boletim Informativo do Serviço Pastoral dos Migrantes - SPM PB Ano I – Edição n.º 01 – Agosto de 2007 Litoral Sul paraibano ganha projeto de recuperação da Mata Atlântica s assentamentos de Re- forma Agrária Apasa, Nova Vida, Teixeirinha e Capim de Cheiro, localizados nos muni- cípios de Pitimbú e Caaporã, foram contemplados com um projeto de recuperação de áreas degradadas do Serviço Pastoral dos Migrantes – SPM PB (ver história na pág.04). O projeto chama-se Preservar e produzir: uma possibilidade real . Tem como objetivo reflorestar 80 hectares de Mata Atlân- tica na região dos quatro assentamentos e capacitar os agricultores(as) para desenvolverem práticas Agroecológicas na agricul- tura familiar. Segundo Arivaldo José Sezystha, coordena- dor do projeto, o Preservar e Produzir “é um projeto ambicioso de educação ambiental que visa à recu- peração de áreas degra- dadas de Mata Atlântica. Na prática nós teremos re- florestamento de algumas áreas e também produção agro- ecologica, por isso nós dizemos que preservar e produzir é uma possibilidade real”. Como surgiu? Há aproximadamente um ano o Ministério do Meio Ambiente(MMA) promoveu uma capacitação para agentes dos movimentos sociais, ONG’s e outras entidades, ou seja, a socie- dade civil organizada para forma- tação de Projetos Demonstrativos (PDA). Dentre as organizações, o SPM também esteve presente, pois estudava meios de contribuir na melhoria das condições de vida dos agricultores/as, visando o combate às causas da migração forçada. Assim sendo, o SPM elaborou e enviou o projeto em questão, que acabou sendo se- lecionado pelo MMA pela sua viabilidade técnica e por sua proposta inovadora, de articula- ção das entidades e movimentos sociais que atuam na região e de produção aliada à preservação. Porque esse projeto? Desde o inicio da colo- nização do Brasil a região de Mata Atlântica tem passado por um processo de conversão das florestas naturais para outras finalidades. Na região do litoral sul paraibano, a floresta sofre pela extração indiscriminada de madeira; especulação imobiliária, degradação agrícola pelo uso da monocultura e com uso indis-cri- minado de agrotóxicos. Diante dessas constata- ções, o SPM elaborou o projeto ao MMA, apontando uma alternativa viável para recuperar áreas de Mata Atlântica de nosso Esta- do, garantindo renda e segurança alimentar para centenas de famílias. Equipe Técnica A Pastoral dis- ponibilizou três de seus agentes para estarem à frente das atividades: Arivaldo José Sezyshta (Coordenador), Darcy Lima(Jornalista) e José Carlos Gomes (Enge- nheiro Agronômo). Atividades O projeto tem a duração de dois anos e meio. Ao longo deste tempo serão realizadas diversas ações de educação am- biental, tais como: cursos sobre defensivos naturais, implantação de viveiro de mudas e refloresta- mento. DARCY LIMA

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Área do assentamento Teixeirinha afetada pela ação do homem em prol do “desenvolvimento”.

Boletim Informativo do Serviço Pastoral dos Migrantes - SPM PBAno I – Edição n.º 01 – Agosto de 2007

Litoral Sul paraibano ganha projeto de recuperação da Mata Atlântica

s assentamentos de Re-forma Agrária Apasa, Nova

Vida, Teixeirinha e Capim de Cheiro, localizados nos muni-cípios de Pitimbú e Caaporã, foram contemplados com um projeto de recuperação de áreas degradadas do Serviço Pastoral dos Migrantes – SPM PB (ver história na pág.04). O projeto chama-se Preservar e produzir: uma possibilidade real. Tem como objetivo reflorestar 80 hectares de Mata Atlân-tica na região dos quatro assentamentos e capacitar os agricultores(as) para desenvolverem práticas Agroecológicas na agricul-tura familiar. Segundo Arivaldo José Sezystha, coordena-dor do projeto, o Preservar e Produzir “é um projeto ambicioso de educação ambiental que visa à recu-peração de áreas degra-dadas de Mata Atlântica. Na prática nós teremos re-florestamento de algumas áreas e também produção agro-ecologica, por isso nós dizemos que preservar e produzir é uma possibilidade real”.

Como surgiu? Há aproximadamente um ano o Ministério do Meio Ambiente(MMA) promoveu uma capacitação para agentes dos movimentos sociais, ONG’s e

outras entidades, ou seja, a socie-dade civil organizada para forma-tação de Projetos Demonstrativos (PDA). Dentre as organizações, o SPM também esteve presente, pois estudava meios de contribuir na melhoria das condições de vida dos agricultores/as, visando o combate às causas da migração forçada. Assim sendo, o SPM elaborou e enviou o projeto em

questão, que acabou sendo se-lecionado pelo MMA pela sua viabilidade técnica e por sua proposta inovadora, de articula-ção das entidades e movimentos sociais que atuam na região e de produção aliada à preservação.

Porque esse projeto? Desde o inicio da colo-nização do Brasil a região de

Mata Atlântica tem passado por um processo de conversão das florestas naturais para outras finalidades. Na região do litoral sul paraibano, a floresta sofre pela extração indiscriminada de madeira; especulação imobiliária, degradação agrícola pelo uso da monocultura e com uso indis-cri-minado de agrotóxicos. Diante dessas constata-ções, o SPM elaborou o projeto

ao MMA, apontando uma alternativa viável para recuperar áreas de Mata Atlântica de nosso Esta-do, garantindo renda e segurança alimentar para centenas de famílias.

Equipe Técnica A Pastoral dis-ponibilizou três de seus agentes para estarem à frente das atividades: Arivaldo José Sezyshta

(Coordenador), Darcy Lima(Jornalista) e José Carlos Gomes (Enge-nheiro Agronômo).

Atividades O projeto tem a duração de dois anos e meio. Ao longo deste tempo serão realizadas diversas ações de educação am-biental, tais como: cursos sobre defensivos naturais, implantação de viveiro de mudas e refloresta-mento.

DARCY LIMA

ma das molas mestre do projeto é o Viveiro de Mudas que já está sendo construído no Assentamento Nova

Vida, pois será dele que sairam as plan-tas nativas e frutíferas que serão usadas no reflorestamento. Durante o mês de agosto foi realizada toda a limpeza e preparação do terreno onde está sendo construído o viveiro. Segundo a equipe do SPM a construção deve acontecer até o final de setembro. Ele terá uma capacidade produtiva de 50.000 mudas por ano, tem área de 32X50 metros e está localizado ao lado da casa de farinha no Assentamento Nova Vida (Pitimbú). Além da produção de mudas, o viveiro também servirá de base para algumas das capacitações e cursos oferecidos pelo projeto. O primeiro curso que será realizado é o de produção de mudas em viveiro. A proposta inicial é capacitar 30 jovens dos assentamentos. Os participantes irão trabalhar

Agricultores de Nova Vida trabalham na construção do viveiro

02 SPM PB - Agosto de 2007

EXPEDIENTEPublicação trimestral do Serviço Pastoral dos Migrantes por meio do projeto PDA/

MMA: Preservar e Produzir: uma possibilidade real.

REDAÇÃO E SECRETARIA DO SPM PBR.:Desembargador José Peregrino, nº 50

Centro – João Pessoa/PB.CEP.: 58013 – 500

Tele-fax: (83) 3241-2232E-mail: [email protected] [email protected]

CONSELHO EDITORIALArivaldo Sezyshta

Darcy LimaJosé Carlos Gomes

JORNALISTA RESPONSÁVEL Darcy Lima ( DRT-PB 2625)TIRAGEM: 1000 Exemplares

IMPRESSÃO: Oficina das Placas

Sejam bem-vidos e bem-vindas ao novo canal de comunicação que tem como meta difundir a educação ambiental e o desenvolvi-mento sustentável, pautados pelos princípios da agroecologia. É com imensa satisfação que nós do Serviço Pastoral dos Migrantes, publicamos a edição de N.º 1 do Preservar e Produzir:uma possibilidade real. Nesse nosso primeiro contato faremos uma breve apresentação do projeto de recu-peração de áreas degradadas – Preservar e produzir: uma possibilidade real ; Ele é uma realização do Serviço Pastoral dos Migrantes e faz parte do Subprograma Projeto Demonstra-tivo (PDA) do Ministério do Meio Ambiente e da cooperação Brasil Alemanha. Nesta edição vocês irão conferir que a recuperação de áreas degradadas que propo-mos é baseada no Sistema de Agroflorestas, irão acompanhar o que aconteceu nestes três primeiros meses de execução do projeto e, por fim, poderão conhecer um pouco sobre a história de luta do Serviço Pastoral dos Migrantes aqui na Paraíba. Este informativo, bem como todo pro-jeto, têm o objetivo de mostrar, por isso ele é demonstrativo, à sociedade que é possível pro-duzir respeitando o meio ambiente. O Preservar e Produzir é meu, é seu e de todos nós que acreditamos em alternativas mais solidárias de Desenvolvimento Econômico e Comunicação Social. Obras de construção do

Viveiro de Mudas

Autor: Darcy LimaTitulo: Vida e Missão neste Chão

Início de uma Agrofloresta em Capim de Cheiro: encontramos diversas culturas, como: Banana, Mandioca e Urucum.

SPM PB - Agosto, de 2007 03

istema Agroflorestal é uma forma de uso da terra diferente das formas tradicionais, devido a duas características básicas. Uma é a combinação, na mesma área, de plantas perenes e lenhosas com culturas agrícolas ou animais. Outra característica é a grande interação ecológica e/ou econômica

entre as diferentes espécies usadas no Sistema. Os Sistemas Agroflorestais podem ser classificados de muitas maneiras, todos com suas falhas e vantagens. Desta forma, podemos citar: Sistemas Silvi-Agrícolas (combinação de árvores ou arbustos com espécies agrícolas); Sistema Silvipastoril (convênio de árvores ou arbustos com plantas forrageiras herbáceas e animais); e o Sistemas Agrosilvipastoris (criação ou manejo de animais em consórcios silvi-agrícolas).

Sistemas Agroflorestais - SAF´s

Pontos de reflexão: aspectos positivos e negativos Muitos são os benefícios gerados pelos Sistemas Agroflo-restais (SAF’s), aqui dividimos em dois aspectos: biológicos e socioeconômicos. Os benefícios biológicos podem ser percebidos: 1. Na otimização do uso do solo pelo aproveitamento dos diferentes estratos vegetais ou porte das plantas – o que resulta numa maior produção de biomassa (quantidade de matéria orgânica gerada pelas plantas);2. Melhoramento das caracterís-ticas químicas, físicas e bioló-gicas do solo. Essas melhorias ocorrem devido à decomposição da matéria orgânica e penetração das raízes das árvores no solo; 3. Produção total obtida na mistu-ra de árvores e culturas agrícolas, que é maior que na plantação de monocultura; 4. Maior facilidade em se adaptar a um manejo agro-ecológico, dispensando o uso de agrotóxicos e adubos químicos; 5. Reduz o risco de perda total da cultura principal, pois as pragas e doenças são divididas entre as várias espécies, permitindo o uso econômico das sombras. Quanto aos aspectos socioeconômicos que podem ser percebidos des-tacamos: A) Fornecimento de uma maior variedade de produtos e/ou ser-viços na mesma área de terra;

B) Promoção e distribuição mais uniforme do serviço e da renda gerada, devido às diversas colhei-tas; C)A diversidade de produtos colhidos reduz o impacto econô-mico resultante das oscilações do mercado; D) A associação de culturas anuais ou de ciclo curto juntamente com árvores reduz o custo de implantação do Sistema Agroflorestal. Mesmo diante de tantos aspectos positivos, devemos ter a clareza que a multiplicação dos Sistemas Agroflorestais é complexa e isso tem apresentado algumas restrições à sua implan-

tação pelos agricultores/as e técnicos, devido principalmente, aos conhecimentos científicos ainda limitados sobre o assunto.Por que utilizar? No projeto optamos por trabalhar a recuperação de áreas degradadas em remanescentes de Mata Atlântica, através de SAF’s tendo em vista que os as-sentamentos de Reforma Agrária do litoral sul paraibano, possuem lotes ou parcelas individuais re-presentadas por pequenas áreas (variando entre 01 e 10 ha.) em sua maioria, por isso a necessida-de de otimização do uso da terra de forma sustentável. Outro ponto importante é a relação dos Sistemas com os princípios agroecológicos (não uso de agroquímicos, a maior interação do homem com a na-tureza, dentre outros). Assim, os Sistemas Agro-florestais passam a ser a estra-tégia chave de nossa proposta de educação ambiental, na recu-peração de áreas degradadas, possibilitando alternativas de composição de renda familiar, na maior participação de mulheres e jovens como atores reais de suas comunidades e no comba-te à prática da monocultura nos assentamentos participantes no projeto.

JOSÉ CARLOS GOMESAs técnicas agroflorestais são usadas há muito tempo, porém só recentemente despertou a atenção do meio

científico. Para se ter uma idéia, só em 1977 é que o Centro Internacional para Pesquisa Agroflorestal, em Nairobi, Quênia, sendo este o primeiro centro de referência mundial em pesquisas agroflçorestais.

04 SPM PB - Agosto de 2007

Serviço Pastoral dos Mi-grantes – SPM é uma

entidade vinculada ao Setor Pastoral Social da CNBB - Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. Engajado

na luta por Outro Mundo Pos-sivel, o SPM articula e anima

trabalhos com e através dos migrantes, na perspectiva de despertar o protago-nismo dos excluídos, denunciando as violações dos direitos humanos, as causas que estão na raiz das migrações forçadas, como a concentração fundiá-ria, as condições indignas de trabalho e moradia, o desemprego, a discriminação e todas as formas de preconceito e rejeição aos migrantes. Na Paraíba o SPM tem atuado desde 1994 e desde seu escritório em João Pessoa acompanha os trabalhadores que se deslocam do sertão e do agreste do estado para a Zona da Mata da própria Paraíba e de Pernambuco, para o corte da cana-de-açúcar. A grande maioria do cultivo dessa monocultura se dá em áreas de Mata Atlântica. Dessa forma, há 12 anos o SPM tem acom-panhado de perto as sérias conseqüências que a expansão dessa monocultura tem trazido para o país, especialmente no que se refere à degradação do meio ambiente e à super-exploração da mão-de-obra dos trabalhadores, que em muitos alojamentos sobrevivem em situações análogas às de trabalho escravo. O SPM, articulado com outras entidades, Universidades, Movimentos e Pastorais Sociais, têm denunciado, entre outras coisas, a contaminação do meio ambiente, pelo uso extensivo de agrotóxicos, e a destruição da Mata Atlântica, pelo avanço das

<<JUNHO>>

Início oficial do projeto. Foram realizadas diversas reuniões e vi-sitas de campo com os moradores dos quatro Assentamentos.

Estréia dos quadros: “Comentá-rio Social, Recanto da Poesia, Reflexão Ecológica e De olho na mídia”. Eles fazem parte do programa de rádio Preservar e Produzir: o canal direto com o agricultor consciente, veiculado, todo último domingo do mês, pela Alhandra FM, às 16 horas.

<<JULHO>> Parceria SPM e o Laboratório e Oficina de Geografia da Paraíba (LOGEPA). Beneficios: otimi-zar recursos e somar forças na implementação de atividades que valorizem as práticas agro-ecológicas. O LOGEPA tem um projeto no assentamento Apasa que pretende estimular e valorizar a produção e comercialização dos produtos orgânicos.

<<AGOSTO>>

Quem é o SPM?Serviço Pastoral dos Migrantes

áreas de plantio da monocultura. Preocupado em minimizar os dramas cau-sados pela migração sazonal, o SPM, desde 1999, sem deixar de acompanhar os trabalhadores na Zona da Mata, tem se ocupado no fortalecimento de articulações locais na origem desses migrantes, trabalhando por políticas que minimizem as causas dessa migração forçada. Destaca-se, nesse traba-lho, a contribuição na organização e mobilização das comunidades para o acesso ao patrimônio hídrico e na educação para a convivência com a realidade semi-árida. Conseqüência disso, em sua atuação principalmente no agreste da Paraíba, o SPM já construiu mais de 800 cisternas de placa, capazes de armazenar cerca de 16 mil litros de água da chuva cada uma. Esse trabalho, no ano de 2004, chegou até a Mata Atlântica através da construção de cister-nas para armazenar água da chuva para consumo humano e para irrigação de Hortas Agroecológicas de Quintais em áreas de Assentamento de Reforma Agrária. Articulado com outros parceiros, o SPM, ao fortalecer a Agricultura Familiar, tem contribuído na preservação da Mata Atlântica, combatendo os dissabores gerados pela monocultura da cana-de-açúcar, consolidando experiências exitosas em Agroecologia, garantindo que o/a agricultor/a viva com dignidade na e da sua terra, onde é sujeito de seu próprio processo de libertação: dos agrotóxicos que o condenavam a uma vida sem saúde, dos atravessadores que o exploravam e dos antigos patrões que o submetiam a uma vida de servidão, sem autonomia e sem direitos.

ARIVALDO JOSÉ SEZYSHTA

@ Mais informações: http://www.migracoes.com.br