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Livro

Arthur Conan Doyle

A Nova Revelação

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Prefácio

CAPÍTULO IAs Pesquisas

CAPÍTULO IIA Revelação

CAPÍTULO IIIA Vida Futura

CAPÍTULO IVProblemas e Limitações

DOCUMENTOS SUPLEMENTARES

A Outra VidaEscrita automáticaO abrigo de Cheriton

PREFÁCIO

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Muitos espíritos, mais filosóficos do que o meu, se têm,sentido atraídos pela feição religiosa deste assunto e grandenúmero de inteligências mais cientificas do que a minha têmvolvido a atenção para os fenômenos psíquicos. Até agora,porém, que eu saiba, ainda ninguém tentou demonstrar a exatarelação que existe entre os dois aspectos do problema.Entendo que se me fosse dado lançar alguma luz sobre esseponto, muito teria eu contribuído para re solver-se a questãoque mais importa à Humanidade.

Mrs. Pipper, célebre médium, proferiu em 1899 algumaspalavras que o doutor Hodgson registrou. Achando -se emestado de hipnose, ela foi levad a a falar do Espiritismoreligioso e declarou: "No século vindouro, o Espiritismo se terátornado maravilhosamente acessível ao entendimento humano.Anunciar-vos-ei, além disso, uma coisa cuja realização poderácomprovar. A evidente percepção das nossas relações com oAlém será precedida de uma guerra terrível, que abalarádiversas partes do mundo. Antes que, pela visão espiritual, osmortais possam ver o seu lado os amigos que deixaram deviver na Terra, mister se faz que o mundo inteiro sejapurificado e por aquele meio é que ele alcançará a perfeição.Amigos, refleti muito."

Tivemos a guerra terrível nas diferentes partes do mundo.Aguardamos que se cumpra o resto da predição.

AS PESQUISAS

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A questão das investigações psíquicas é uma das quemais me têm feito pensar e, entre todas, aquela sobre. A qualmais tardei em formar opinião.

De quando em quando, à medida que avançamos na vida,certos incidentes mínimos ocorrem. Que nos forçam areconhecer que o tempo voa que, primeiro a juventude, e,depois, a idade da madureza, fogem precipitadamente. O queultimamente me sucedeu. Na excelente revista Light, há umacoluna consagrada a recordar os acontecimentos que, umageração atrás, isto é, há trinta anos, se verificaram na datacorrespondente à em que nos achamos. Recentemente,percorria eu essa coluna quando de súbito depareisurpreendido com o meu nome e reli em letra de forma umacarta que escrevera em 1887, relatando interes santeexperiência verificada no curso de uma sessão espírita. Istoprova que data de longo tempo a meu interesse por esteassunto e prova também que não formei apressadamentesobre ele a minha opinião, visto que só há um ano ou dois medeclarei satisfeito com a evidência.

Ao ver-me inserindo aqui, agora, a narrativa de algumas deminhas experiências e a indicação de dificuldades que se meentulharam, meus leitores não irão supor, assim o espero queo faço por egotismo, mas sim por ser o melhor meio deassinalar pontos que provavelmente se apresentará a qualquerinvestigador. Depois de haver transposto esse campo, po dereiconsiderar algo de natureza mais geral e im pessoal.

Ao concluir, em 1882, o curso de medicina, achei -me,como sucede à maioria dos médicos jovens, um materialistaconvencido, relativamente ao nosso des tino pessoal. Jamaisdeixara de ser fervoroso deísta, por me parecer que aindaninguém respondera a esta pergunta que, numa noiteestrelada, Napoleão dirigiu a alguns professores ateus, quandoem marcha para o Egito: "Quem foi, Senhores, que fez estasestrelas?" Porque, dizer que o Universo resultou da ação deleis imutáveis equivale apenas a afastar mais para atrás aquestão, dando lugar a uma nova pergunta: "Quem é o autordessas leis?"

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Eu não acreditava, certamente, num Deus antro pomórfico,mas cria então, como agora, em uma Força inteligente,presidindo a todas ás operações da Natureza, força tão grandee tão infinitamente complexa que meu cérebro limitado nã opôde nunca ir além do reconhecimento da sua existência.Consideravam igualmente o bem e mal como fatos tão óbviosque não reclamavam nenhuma revelação divina.

Sempre, porém, que encarava a questão de saber se asnossas insignificantes personalidades sobrevi veriam após amorte, afigurava-se-me que todas as analogias da Natureza sepronunciavam contra essa sobrevivência. Consumida a vela, aluz se apaga. Quando a centelha elétrica se parte, cessa acorrente. A dissolução do corpo marca o fim da matéria. Cadaum, ao impulso do seu egoísmo, pode julgar -se com direito asobreviver; mas, quem quer que atente , diremos, num tratantede alta ou baixa hierarquia, será capaz de encontrar razãoplausível a favor da sobrevivência de tal personalidade? Issoparecia ilusão e, assim, estava convencido de que a morterealmente punha fim a tudo, se bem não achasse que este fatofosse de molde a afetar os nossos deveres para com aHumanidade, durante a nossa transitória existência.

Essa a minha maneira de pensar, quando os fenômenosespíritas me chamaram a atenção. Sempre considerara esseassunto a maior tolice da terra e, como tivera conhecimentodas fraudes de alguns médiuns, perguntava a mim mesmo deque modo podia um homem sensato crer em semelhantescoisas.

Acontecendo, entretanto, que alguns amigos meus seinteressavam pela questão, tomei parte com eles em sessõesde mesas girantes, no curso da s quais obtivemos mensagensconexas. Devo, todavia, confessar que o único efeito que emmeu espírito produziram foi o de me tornarem um tantosuspeitoso de meus amigos. Foram mensagens quase semprelongas, soletradas por meio de movimentos da mesa eimpossível era que representassem obra do acaso. Alguém decerto movia a mesa. Supus fossem meus amigos e eles,provavelmente, pensavam fosse eu. Isto me perturbava e

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afligia, porque não os podia ter na conta de pessoas capazesde um embuste e não podia compreender a transmissão dasmensagens senão por meio de uma consciente pressãoexercida sobre a mesa.

Por essa época - seria em 1886 - me caiu nas mãos umlivro intitulado: As reminiscências do juiz Edmundo. O autor eramembro da Suprema Corte dos Estados Unidos e homem degrande reputação. Na sua obra, narrava, minuciosamente,como, morta sua esposa, pudera durante anos comunicar -secom ela.

Li esse livro com interesse, mas também com absolutocepticismo. Para mim, aquilo era apenas exemplo dapossibilidade de existir uma ponta fraca na mente de umhomem de caráter firme e prático, uma espécie de reação, porassim dizer, contra os fatos positivas com que lidava na suavida cotidiana. Que espírito seria esse de que ele falava?

Suponhamos que um homem, num acidente, fra ture acaixa craniana. Seu caráter pode mudar com pletamente. Deuma natureza elevada pode tornar -se de outra muito baixa. Domesmo modo, sob a influên cia do álcool, do ópio, ou dequalquer droga semelhante, o espírito de um indivíduo podemudar inteiramente. Tudo isso me demonstrava que o espíritodepende da matéria. Tal a minha forma de raciocinar naquelaépoca. Eu não percebia então que não era o espírito que, emtais casos, se modificava e sim o corpo que lhe ser via paraexercer sua atividade. Ninguém judiciosamente invocará comaargumento contra a existência de um músico a circunstânciade não produzir seu violino senão sons desagradáveis, por sehaver estragado.

Contudo, muito estimulada fora a minha curiosi dade, desorte que continuei a ler todos os livros que me vinham àsmãos, referentes ao assunto. Causou -me espanto notar quemuitos homens eminentes, cujos nomes figuravam navanguarda da ciência, se achavam inteiramente convencidosde que o espírito independe da matéria e lhe sobrevive.Enquanto considerei o Espiritismo como uma ilusão vulgar dosignorantes, pude tratá-lo com desprezo. Desde que, porém, o

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vi amparado por sábios como Crookes, que eu sabia ser omaior químico da Inglaterra, por Wallace, o rival de Darwin, epor Flammarion, o mais conhecido dos astrônomos, já me nãofoi possível desprezá-lo.

Fácil verdadeiramente era atirar para o lado os livrosdesses homens, com as suas minuciosas investigaçõesamadurecidas conclusões, e dizer: "Bem! Há e m seus cérebrosuma ponta fraca." Mas, muito satisfeito deve ficar consigomesmo um homem se não vê chegar o dia de inquirir se oponto fraco não está no seu próprio cérebro.

Por algum tempo ainda me mantive no meu cep ticismo,considerando que muitos home ns notáveis, como o próprioDarwin, Huxley, Tindall e Herbert Spencer, zombavam dessenovo rama de conhecimento. Mas, assim vim a saber que odesdém da parte deles chegara ao extremo de não quereremao menos examiná-lo; que Spencer declarara repetidamenteter-se decidida contra ele baseada em razões a priori; queHuxley dissera não o interessar o assunto, fui forçado a admitirque, por maiores que fossem esses homens como cientistas,seu moda de proceder a tal respeito era dogmático e nadacientífico, ao passo que, os que estudavam os fenômenosespíritas e procuravam apreender as leis que os regem, essesseguiam o caminha que nos há conduzido à realização detodos os progressos do saber humano. Tendo chegado tãolonge o meu raciocínio, a minha posição de céptico já não eratão firme como dantes.

A reforçá-lo tive as minhas próprias experiências. Note -seque eu trabalhava sem médium, o que muito se assemelha aum astrônomo que não use de telescópio. Nenhuma faculdadepsíquica possuo e ainda menos os que comi go colaboravam.Entre nós apenas conseguíamos reunir força magnética - ou oque assim se denomina - em quantidade suficiente para obterda mesa suas comunicações suspeitas e, muitas vezes,estúpidas.

Ainda conservo notas dessas reuniões e cópias dealgumas, pelo menos, de tais mensagens, que nem sempreeram de todo estúpidas. Recordo -me, por exemplo, de que, de

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uma feita, tendo, em busca de provas, perguntado quantasmoedas trazia nos bolsos, a mesa respondeu: "Estamos aquipara instruir e elevar as almas, não para adivinhações." Eacrescentou: "O que queremos inculcar é um estado d a almareligioso e não de crítica." Creio que ninguém achará seja istouma mensagem pueril. Por outro Iado , perseguia-me sempre otemor de uma pressão involuntária das mãos dos assistentes.

Há esse tempo, um incidente se produziu que meperturbou e desgostou muito. Encontrando -nos certa noite emexcelentes condições, obtivéramos bom número demovimentos que pareciam independentes, em absoluto, danossa ação. Recebêramos longas e minuciosas mensagensprovindas, conforme nelas se dizia, de um Espírito que nos deuseu nome e declarou ter sido agente comercial e haver perdidoa vida recentemente no incêndio de um teatro em Exeter.Fornecendo pormenores tão precisos, pediu -nos es-crevêssemos à sua família, que vivia, segundo nos disse, numlugar chamado Slattenmere, no Condado de Cumberland.Assim fiz, mas o Correio me devolveu a carta, por serdesconhecida o lugar de seu destino. Ainda estou para saberse, naquela sessão, fomos engana dos, ou se nos equivocamosao tomarmos o endereço. Seja como for, o fato ocorreu qual oestamos narrando. Foi para mim uma decepção tal quediminuiu de muito, durante algum tempo, o meu in teresse peloassunto.

Era meu intuito estudar uma questão séria. L ogo, porém,que ela começou a dar lugar a grace jos cuidadosamentearranjados, pareceu-me ser tempo de parar. Se no mundoexiste um lugar chamado Slattenmere, mesmo agora, muito mealegraria sabê-lo.

Clinicava eu então em Southsea, onde residia o generalDrayson, homem de caráter muito distinto e um dos pioneirosdo Espiritismo neste país. Confiei -lhe o embaraço em que mevia e ele me ouviu com grande paciência. Não ligouimportância às minhas críticas acerca da nece ssidade dealgumas daquelas mensagens e da absoluta falsidade deoutras.

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"A verdade fundamental ainda não a apreendes tes", disse-me. "Essa verdade consiste em que cada espírito encarnadopassa para o outro mundo exatamente como é neste, semtransformação alguma. O mundo que habitamos está ch eia defracos e néscios e o outro mundo também. Nenhumanecessidade tendes de vos envolverdes com os de lá, comonão tendes a de vos misturardes com os daqui. Cada umescolhe seus companheiros. Mas, que aqui na terra umhomem, tendo vivido sempre só em su a casa, nãofreqüentando pessoa alguma, afinal se lem brasse de chegar àjanela para ver em que espécie de lugar se achava. Quepoderia acontecer? Que alguns garotos malcriados lhedissessem grosserias. O que ele não lograria era conhecercoisa alguma da sabedoria ou da grandeza do mundo. Sairiada janela crente de encontrar -se num lugar ordinaríssimo. Foiprecisamente o que vos sucedeu. Numa reunião heterogênea,sem objetivo definida, metestes a cabeça para observar o outromundo e destes com uma turba de garotos malcriados.Prossegui e tratai de obter coisa melhor." Assim falou ogeneral Drayson e, conquanto a sua explicação me nãohouvesse satisfeito, no momento, acabei por compreender queele asperamente me aproximara da verdade.

Tais foram os meus primeiros passos no Espiri tismo.Continuava céptico, mas já era um investigador, e, quando aqualquer crítico da escola antiga ouvia dizer que ali nada haviaa explorar, que tudo era embuste, ou que um prestidigitadorbastaria para tudo desmascarar, já não t inha dúvida de queinsensatez era dizer isso. Verdade é que as provas por mimreunidas até aquele momento ainda não haviam bastado parame convencerem. Entretanto, das minhas con tínuas leiturastirei a conclusão de que outros já tinham aprofundado muito aquestão e reconheci que os testemunhos em favor doEspiritismo eram tão poderosos quais nenhum outromovimento religioso, no mundo, poderia apresentar que selhes comparassem. Isso não provava que ele fosse à verdade,mas, pelo menos, provava que devi a ser tratada com respeitoe não atirada para o lado.

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Tomemos, como exemplo, um só fato, que Wallacequalificou, com razão, de "milagre moderno". Esco lho-o por serdos mais incríveis. Refiro -me à façanha de D. D. Home - que,seja dito de passagem, não era, como geralmente se supõe,um aventureiro pago e sim homem de boa família - atirando-sede uma janela a outra, a uma altura de setenta pés (1) do solo.

Não pude acreditar. Informado, porém, de que trêstestemunhas oculares atestavam o fato e que es sastestemunhas eram lorde Dunraven, lorde Lindsay e o capitãoWayne, todos homens honrados e de grande reputação, osquais mais tarde assentiram em afirmar o sucedido sobjuramento, fui obrigado a admitir que a evidência, nesse caso,era mais direta do que com re lação a qualquer dos longínquosacontecimentos que todo o mundo conveio em aceitar por ver -dadeiros.

Continuei sempre, durante todos esses anos, a fazersessões de mesas falantes, cujos resultados foram, muitasvezes, nulos; de outras, insignificantes e, de algumas,surpreendentes. Ainda guardo as notas dessas sessões e voureunir aqui os resultados de um a em que foram bem definidos,dando-me, acerca da vida de além -túmulo, informes tãoopostos às minhas idéias a tal respeito que, então, mais medivertiram do que edificaram.

Tão intimamente concordantes, entretanto, os acho agoracom as revelações de Raymond (2) e com outras maisrecentes, que muito diversamente os con sidero. Sei que todasessas narrativas da vida no Além diferem nas particularidades -como diferem, creio, muitas das que se fazem da vida terrena,mas, em geral, há entre elas grande semelhança. No caso quevou relatar, o que de semelhante havia nas infor maçõesrecebidas longe estava do conceito que, sobre aquela vida,formávamos as duas senhoras que comigo compunham ocírculo das minhas sessões e eu.

Dois foram os espíritas que se comunicaram conosco enos transmitiram mensagens. Do primeiro a mesa soletrou onome: "Doroteia Poslethwaite", nome que de tododesconhecíamos. Disse que mor rera havia um lustro, em

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Melbourne, na idade de dezesseis anos; que era então feliz;que trabalhava e que freqüentara a mesma escola que umadas senhoras presentes. A meu pedido, a senhora indicadaretirou as mãos da mesa e citou uma série de no mes. Ao serpronunciado o nome exato da diretora da escola, a mesa seinclinou, o que nos pareceu uma prova. O Espírito disse mais:que a esfera em que vivia circundava a terra; que conhecia osplanetas; que habita Marte uma raça muito mais adianta da doque a nossa e que os canais ali existentes são artificiais; quena esfera onde se achava não há males corporais, mas apenasansiedade mental; que os espíritos eram governados etomavam alimentos; que fora católica e ainda o era. Nem porisso, entretanto, se via melhor tratada do que os protestantes.

Disse mais que, entre os da sua esfera, havia budistas emaometanos, mas que todos tinham igual tratamento. Nuncavira o Cristo, nem dele sabia mais do que quando estava naterra, porém acreditava na sua influência. Os es píritos, referiu,moravam e morriam na esfera em que se encontravam antesde passarem a outra; que lhes eram proporcionados praze rescomo, por exemplo, o da música. Estava numa região de luz ealegria. Acrescentou que os espíritos não eram nem ricos nempobres e que as condições gerais da existência erammuitíssimo mais venturosas do que as do viver terreno.

Esse espírito nos deu boa-noite e logo uma outra influênciamuito mais enérgica se apoderou da mesa, que entrou amover-se violentamente. Em resposta às minhas perguntas,disse ser o espírito de um homem, a quem chamarei Dodd,que fora famoso jogador de críquete e que comigo tivera umaséria conversação no Cairo, antes de subir o Nilo, ondeencontrara a morte na expedição Dongolesa. Deva observarque, na progressão de meus estudos, já nos achamos no anode 1896.

Nenhuma das duas senhoras comigo sentadas à volta damesa conhecia Dodd. Comecei a interrogá -Io exatamentecomo se o tivera sentado defronte de mim e ele a meresponder com presteza e decisão por vezes respostas tão emoposição ao que eu esperava, que nenhuma suspeita poderia

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haver de que o meu pensamento o influenciava. Disse -nos serfeliz e não desejar voltar a terra. Fora livre-pensador, mas daínenhum sofrimento lhe adviera na outra vida. Reconhecia,contudo, que a prece é muito salutar porque nos põe emcontacto com o mundo espiritual. Se houvesse orado mais,teria chegado a maior altura nesse mundo.

Cumpre-me assinalar que isto me pareceu em contradiçãocom o que ele antes declarara - "que nenhum sofrimento lheadviera do fana de ter sido li vre-pensador", acrescendo quemuitos, sem serem livres-pensadores, pouco se lembram deorar.

Voltemos a Dodd. Morrera sem sofrimento. Re cordou amorte de Polwhele, jovem oficial, que antes dele desenc arnara.Ele, Dodd, quando morreu, rece beu as boas-vindas de muitosespíritos que vieram ao seu encontro. Entre estes, porém, nãovira Polwhele. Fora informado da queda de Dongola, mas nãoestivera presente em espírito ao banquete que depois serealizou no Cairo. Lembrou-me a nossa conversação nestacidade. Disse ter que trabalhar e que possuía conhecimentosmuito mais amplos do que quando na vida terrena. Informouque a duração da vida lá, onde se achava, era mais curta doque na terra. Não vira o general Gordon, nem qualquer outraespírito famoso Os espíritos viviam em famíli as ecomunidades. Os esposos não se encontravam forçosamente.Reuniam-se de novo os que se amavam.

Fiz este resumo de uma comunicação, para mostrar deque gênero eram as que obtínham os, se bem que a amostraapresentada seja das mais favo ráveis, quer em extensão, querem coerência. Serve, entretanto, para demonstrar que não éjusto dizer-se, como fazem muitos críticas, que só seconseguem mensagens vazias de senso. Nestas, nenhumainsensatez se nota, a menos que assim qualifiquemos tudo quenão se adapte às nossas idéias preconcebidas.

Mas, por outro lado, que provas possuímos da veracidadedaquelas afirmações? Não tendo meio de comprová -Ias, elasme deixaram simplesmente deso rientada. Agora, entretanto,que uma experiência mais larga me permitiu verificar que

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informações da mesma natureza foram dadas a muitaspessoas, desconhecidas umas das outras e de paísesdiferentes, creio que a concordância dos testemunhosconstitui, até certo ponto, como em todos os casos deinvestigação, um argumento a favor da veracidade de taisinformes. Naquela época, não me era possível harmonizar se -melhante concepção da vida futura com o meu sis tema defilosofia. Limitei-me par isso a anotá-la e passei adiante.

Continuei a ler muito sobre o assunto e pude apreciar cadavez mais a infinidade dos testemunhos existentes e quãometiculosos tinham sido em suas experiências os que osdavam. Isso me impressionava muito mais do que os limitadosfenômenos que lograva obter nas minhas sessões. Então, oupouco depois, li uma obra do Sr. Jacolliot sobre os fenô menosde ocultismo na Índia. Jacolliot era presidente do tribunal dacolônia francesa de Chandernagor. Espírita de feitio muitojurídico, nutria prevenções contra o Espiritismo. Efetuou umasérie de experiências com faquires, que nele depositavamconfiança pela simpatia que inspirava e porque lhes falava noidioma deles. No seu livro, Jacolliot descreve as múltiplasprecauções que tomou para evitar toda es pécie de fraude.

Resumindo a sua longa narrativa, direi que entre osfaquires se lhe depararam todos os fenômenos da maisadiantada mediunidade européia, tudo, por exem plo, o queHome realizara. Observou a levitação do corpo, a imunidadecontra o fogo, o movimento de objetos à distância, rápidocrescimento de plantas, levantamento de mesas. Explicando aprodução desses fenômenos, diziam os faquires que quem osoperava eram os Pitris, ou espíritos, sendo que a únicadiferença notada entre aqueles processos e os nossos pareciaconsistir em que lá faziam maior uso da evo cação direta.Pretendem os faquires que tais poderes lhes foram outorgadosdesde tempos imemoriais e remontavam aos caldeus.

Tudo isso me causou enorme impressão, porquanto osfaquires chegavam aos mesmos resultados que nós, sem quese lhes pudesse imputar os em bustes tão freqüentes naAmérica, ou a vulgaridade atual, como se costumava fazer

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amiúde com relação aos fenômenos semelhantes que seproduziam na Europa.

Também na mesma época fui infl uenciado pelo relatório daDialectical Society, relatório muito antigo, datando de 1869. Eum trabalho convincente e, con quanto tenha sido ridiculizadoem uníssono pelos jornais ignorantes e materialistas daqueletempo, constitui um documento de grande va lor.

A Dialectícal Society se compunha de certo número depessoas distintas e imparciais, desejosas de investigar osfenômenos físicos do Espiritismo. O relatório a que aluda fazuma exposição minuciosa das experiências que realizam e dasprecauções que adotaram contra as fraudes. Atentando nasprovas de que ele dá conta, ninguém compreenderá de quemoda seus autores teriam podido chegar a uma con clusãodiversa da que proclamaram, isto é: que os fenômenos eramsem dúvida alguma autênticos e in dicavam a existência de leise forças que a ciência ainda não explorara.

Há no caso um fato singular a ser notado e é que, se aconclusão fora contrária ao Espiritismo, o rela tório teria sidosaudado como o golpe de morte no movimento espírita; masporque, em vez disso, assegurou a realidade dos fenômenos,cobriram-no de ridículo. O mesmo, aliás, sucedeu a muitasoutras investigações, desde as que se fizeram em Hydesville,no ano de 1848, e a que se verificou quando o pro fessor Hare,de Filadélfia, se atirou como S. Paulo outrora, contra a verdadee teve que se curvar diante dela.

Por volta de 1891, eu me fiz membro da PsychicalResearch Society, o que me facultou ler todos os seus relatos.Muito deve o mundo à infatigável diligência dessa Sociedade eà sobriedade de suas exposições, embora eu reconheça queestas são, às vezes, de impacientar e que, no propósito deevitarem o cunho de maravilhosas, desanimam o público,levando-o a desinteressar-se de um esplêndido trabalho e detirar dele proveito. A terminologia mei o científica de que usamtambém desnorteia o leitor comum. Assim é que, depois daleitura daqueles relatórios, se podem dizer a que, em certaocasião, me disse um caçador americano das Montanhas

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Rochosas com referência a um membro de uma universidade aquem ele escoltara durante toda uma estação de caça: "Eratão sábio que se não conseguia compreender o que dizia." Adespeito, porém, dessas pequenas esquisitices, todos os que,na obscuridade, hão buscada a luz a têm encontrado nosmetódicos trabalhos dessa Sociedade, cuja influência foi umdos fatores da atual orien tação de minhas idéias. Além dessa,entretanto, outra influência se fez sentir profundamente emmim.

Inteirara-me até ali das admiráveis experiências realizadaspelos grandes investigadores, m as ainda não descobrira daparte deles qualquer esforço para elaborar um sistema que asabrangesse e contivesse todas. Foi então que lia obramonumental de Myers - Human Personality (A PersonalidadeHumana) - obra de cujas formidáveis raízes se há de ergue rtoda uma árvore de conhecimentos.

Myers não pôde apresentar nenhuma fórmula queenvolvesse todos os fenômenos ditos " espíritas".

Contudo, discutindo a ação, a que deu o nome detelepatia, da mente sobre a mente, a expôs e estabeleceu demodo tão claro e completo, apoiando-se em numerososexemplos, que, para todos, exceto para os quedeliberadamente cerram os olhos à evidência, aquela açãopassou a figurar entre os fatos cien tíficos.

Foi um grande passo dado. Se a mente podia atuar, adistância, sobre a mente, é que existia no homem poderes detodo independentes da matéria, tal coma a temoscompreendido sempre.

O terreno fugia debaixo dos pés do materialista e a minhaposição de outrora fora destroçada. Eu dissera que, consumidaa vela, a chama se apagava. Surgiu-me uma chama muitoafastada da vela e agindo por si mesma. A analogia, portanto,era evidentemente falsa. Se a mente, o espírito, a inteli gênciado homem podia operar à instância do corpo, é que era coisaindependente deste. Por que então não poderia continuar aexistir, mesmo depois de haver perecido o corpo? E não sóessas impressões se produziam, a distância, no caso dos que

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tinham morrido, como também o mesmo fato provava queaquilo donde elas provinham revestia as aparências da pessoamorta, demonstrando que eram transmiti das por alguma coisaexatamente semelhante ao cor po, mas que obravaindependente deste e que lhe so brevivia.

Ininterrupta se apresentava a cadeia das provas, desde osimples caso de leitura do pensamento, num extremo, até amanifestação mesma do espírita sem o carpo, no outraextrema. As frases se sucediam sem hiato. Esta circunstânciame pareceu conter os primei ros elementos de um sistemacientifico, de uma classificação do que até ali não passara demera coleção de fatos confusos e mais ou menos discordantesuns dos outros.

Por aquela mesma época tive ensejo de participar deinteressante experiência, como um dos três comis sionadaspela Psychical Society para passarem a noite numa casaassombrada. Era um caso de poltergeist (3), um desses casosem que, durante anos, se ouvem barulhos estranhos,pancadas inexplicáveis, muita parecido, em suma, como casoclássico da família de John Wesley, em Epworth, no ano de1762, ou ainda com o da família Fox, em Hydesville, perto deRochester, em 1848, e que foi o ponto de partida do modernoespiritualismo.

Nada de extraordinário assinalou a nossa viagem, que,todavia, não foi de todo improfícua. Na primeira noite, nenhumincidente. No decorrer da segunda, ouvimos formidáveisbarulhos semelhantes aos que se produzem batendo -se numamesa com uma bengala. Nós nos cercamos, está visto, detodas as precauções, mas não pudemos descobrir a causa doruído. Contudo, não ousaríamos, no momento, jurar quealguém não estivesse habilmente a div ertir-se conosco. E ocaso permaneceu assim.

Decorridos alguns anos, encontrei um membro da famíliaque residia naquela casa e por ele me foi dito que, depois danossa visita, descobriram-se no jardim os ossos de umacriança, enterrada evidentemente desde muito tempo. Hão deconvir que seja este um fato digno de nota. Raras são os casos

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assombradas e não menos raras devem ser, suponho, as quenos seus jardins tenham restos humanos enterrados. Reunirnuma casa essas duas circunstâncias excep cionais, semdúvida, constitui argumento em prol da autenticidade dofenômeno. É interessante lembrar que também na c aso dafamília Fox se falou da desco berta de ossos enterrados nacava, provando que um assassínio ali se cometera, sem queentretanto se tivesse podido verificar a hipótese de um crimerecente.

Não duvido de que, se a família Wesley houvesseconseguido chegar à fala com seus perseguidores, tambémteria conhecido o motivo da perseguição. Isto quase pareceindicar que, quando uma vida é cortada violenta eprematuramente, certa quantidade de energia vital nãoconsumida permanece em condições de se manifestar demodo estranho e maléfico. Mais tarde observei um outrofenômeno do mesmo gênero que descre verei no fim destetrabalho.

Desde então, até que estalou a guerra, continuei aconsagrar as horas de lazer de uma existência muito laboriosaao estudo atento deste assunto. Assisti a uma série desessões que deram surpreendentes resultados, inclusive váriasmaterializações visíveis numa meia obscuridade. Como,porém, pouco depois o médium foi surpreendido em fraude,deixei de considerar probantes aquelas sessões. Penso,entretanto, não ser a presunção de que, pelo fato de algunsmédiuns, como Eusápia Paladino, se tornarem culpa dos defraude, quando lhes sucede falharem as faculdades quepossuem, de outras vezes não produzam fenômenos cujaautenticidade se possa provar.

A mediunidade, nas suas formas menos elevadas, é umdom puramente físico, que nenhuma relação tem com amoralidade; em muitos casos é intermite nte e não pode sergovernada à vontade. Pelo menos duas vezes Eusápia foiapanhada a cometer fraudes grosseiras e estúpidas, ao passoque de outras muitas sofreu demorados exames, feitos emcondições de excluírem toda suspeita de embuste, por

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comissões cientificas compostas dos homens mais eminentesda França, da Itália e da Inglaterra.

Não obstante, prefiro riscar do rol das minhas observaçõestodas as experiências realizadas com um médiumdesacreditado e tenho para mim que os fenômenos físicosproduzidos no escuro necessariamente perdem muito do seuvalor, a menos que sejam acompanhados de comunicaçõesinteiramente comprobatórias.

Pretendem os que costumam criticar-nos que, seexcluirmos os médiuns que se tornaram suspeitos, teremosque abrir mão da maior parte das provas em que nosapoiamos. Absolutamente não é assim. Eu, até então, aindanão travara relações com um médium profissional e, noentanto, já reunira algumas provas. O mais notável de todos osmédiuns, D. D. Home, produziu fenômenos à plena luz do dia eestava sempre disposto a submeter -se a todas as verificaçõese jamais contra ele se pode levantar qualquer acusação defraude. E, como esse, muitos outros.

Cumpre ainda ponderar que, quando um médium públicoserve de reclamo aos que andam a busca de notoriedade, aosdetetives amadores e a repór teres ávidos de noticias desensação; quando intervém na produção de fenômenosobscuros e inelucidáveis, tendo que se defender perante júris ejuízes que, de ordinário, nada conhecem do que influencia asmanifestações mediúnicas, seria prodigioso que lograsseescapar de um escândalo ocasional.

Também importa reconhecer que o sistema, em geraladotado presentemente, de pagar -se ao médium conforme osresultados obtidos, nada recebendo ele se nada produzir, é opior possível. Somente quando se assegurar ao médiumprofissional um honorário determinado, independente dosresultados que com ele se consigam, estará afastadadefinitivamente a tentação de substituir por pretensosfenômenos os que não se produzam.

Tenho assim esboçado a evolução de minhas idéias atéquando rebentou a guerra. Creio poder pretender se reconheçaque ela foi bem cautelosa e que nenhum traço apresenta

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dessa credulidade de que nos fazem carga os nossosadversários. Foi mesmo por demais demorada, pois que mesinto culpado de lentidão em atirar à balança da verdade apouca influência de que porventura goze. Sem a guerra,provavelmente houvera passado o resto de minha vida qualsimples investigador dos problemas psíqui cos, demonstrandouma atitude de simpático diletantismo para com este assunto,como se tratasse de alguma coisa impessoal, como setratasse, por exemplo, da exist ência da Atlântida ou dacontrovérsia Baconiana.

Mas, veio a guerra e, fervor das almas, nos obrigou a olharmais intimamente para as nossas crenças, a fim de lhesrenovarmos o valor. Em face de um mundo que agonizava,ouvindo narrar diariamente como morria a flor da nossa raça,nos primeiros albores da sua juventude, observando, à volta denós, às esposas e as mães sem fazerem idéia clara do destinoque teriam tido os seres a quem amavam, de pronto se meafigurou que o assunto com que desde tanto tempo eubrincava não se resumia apenas no estudo de uma força queescapava aos preceitos da ciência, que nele havia algumacoisa verdadeiramente tremenda; o desabar de muralhas entredois mundos, uma mensagem inegável vinda diretamen te doAlém, um brado de esperança e de encaminhamento para ogênero humano, na hora da sua mais viva aflição.

O lado objetivo da questão deixou de me interessar.Convencido, afinal, da sua veracidade, não havia mais por queprosseguir. Seu lado religioso apre sentava importânciainfinitamente maior. A campai nhada do telefone é coisa em simesmo pueril, mas pode dar -se que seja a chamada para umacomunicação de vital interesse. Afigurou -se-me que todosesses fenômenos, grandes e pequenas, eram campainhadasde telefones que, sem significação em si mesmas, bradavamaos homens: "Levantai -vos! Alerta! Atendei! Estes sinais sãopara vós outros! Eles vos previnem da mensagem que Deusvos quer enviar!"

O que tem valor real é a mensagem, não os sinais.Pareceu-me que uma Nova Revelação estava em via de ser

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dada ao mundo, embora ainda se achasse num ponto quepodemos comparar ao de S. João Batista com relaç ão aoCristo e sem que ninguém possa saber se chegaremos algumdia a recebê-la com maior precisão e clareza. Na minhaopinião, os fenômenos psíquicos, verificados até à evidênciapar todos os que hão tido o cuidado de estudá -los, em si nadavalem; o justo valor deles está em que servem de base, dando -lhe uma realidade objetiva, a um imenso corpo de doutrina quehá de modificar profundamente as nossas anteriores idéiasreligiosas e que, quando bem compreendido e assi milado, faráda religião alguma coisa de muito real, não mais simplesmatéria de fé, pórém de experimen tação e de fato.

Para este lado da questão é que me voltarei agora,aditando, todavia, ao que acabo de dizer das minhasexperiências pessoais, que, desde que a guer ra começou,tenho tido algumas oportunidades excepcionais de verconfirmado o conceito que já formara quanto à verdade dosfatos gerais sobre que se apóiam minhas opiniões.

Tais oportunidades nasceram da circunstância de haveruma senhora das nossas relações, Miss L. S., demonstrad opossuir a faculdade de escrever automaticamente. A meu ver,de todas as formas da mediunidade, esta é a que precisa serprovada mais rigorosamente, pois que mais facilmente sepresta a ocasionar, não tanto uma decepção qualquer, mas asua própria, o que é infinitamente mais sutil e peri goso. É elamesma quem escreve? Ou há, como afirma, um poder que adirige, conforme afirmava o cronista dos israelitas, na Bíblia?

No caso de Miss L. S., não há negar que se reconheceraminexatas algumas das mensagens por ela transmitidas.Especialmente em matéria de tempo não podiam ser levadasem conta. Douto lado, o número das que se reconheceramexatas excedia a tudo o que qualquer conjetura oucoincidência pudesse explicar. Assim, quando o "Lusitânia"submergiu e os jornais do dia anunciaram que, tanto quanto sesabia, não houvera perda de vida, o médium es creveuimediatamente: "É terrível, terrível; e terá grande influência naguerra." Com efeito, isso foi o que mais fortemente impeliu a

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América a entrar no grande conflito. A comunicação, pois, foraexata, a ambos os respeitos.

Doutro vez, Miss L. S. predisse o recebimento de umtelegrama importante em determinado dia e indi cou o nome doexpedidor, a pessoa de quem menos se poderia esperá -lo.Inegável se tornou a rea lidade da sua inspiração, conquantofossem notórios os equívocos havidos. Foi como sehouvéssemos recebido excelente comunicação através de umaparelho telefônica imperfeito.

Um outro incidente acorrido no princípio da guerra se mefixou na memória. Em certa cidade de província morreu umasenhora por quem eu me in teressava. Era uma doente crônicae ao lado de seu leito mortuário encontraram morfina, o quedeu motivo a um inquérito judiciário, que a nenhum resultadochegou. Passados oito dias, realizei u ma sessão com o Sr.Vout Peters. Depois de me dizer muitas coisas vagas e nadaconcludentes, declarou ele de súbito: "Está aqui uma senhoraamparada por outra mais idosa. Persiste em dizer morfina. Já orepetiu três vezes. Seu cérebr o se acha obscurecido. Ela não ofaz conscientemente." Estas foram, quase que textual mente,suas palavras. A telepatia nada teve que ver com essacomunicação, porquanto muitos outros eram os meuspensamentos e não contava com semelhante comunicado.

O movimento espírita há de adquirir muita intensidade, nãosó por efeito das experiências pessoais, mas também devido àadmirável literatura a que tem dado nascimento nestes últimosanos. Se, contudo, não existissem mais livros espiritualistas doque os cinco que apareceram recenteme nte, esses bastariam,em minha opinião, para convencer dos fatos qualquerinvestigador imparcial. Os liv ros a que me refiro são: Raymon d,do professor Lodge; Psychical Invesfiga tions (InvestigaçõesPsíquicas), de Arthur Hill; Reality of Psychical Phenomen a(Realidade dos Fenômenos Psíquicos), do professor Crawford;Threshold of the Unseen (Limiar do Invisível), da professorBarret; e Ear of Dionysius (Ouvido de Dionisio), de GeraldBalfour.

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Antes de abordar a questão de uma nova reve laçãoreligiosa, de explicar como é obtida e em que consiste, quiseradizer uma palavra sobre outro as sunto. Da parte dos nossosadversários tem havido sempre duas maneiras de atacar -nos.Uma delas se reduz à afirmação de que são falsos os fatos emque nos baseamos. A essa já atendi. A outra é a de quepisamos terreno proibido, do qual nos deveríamos afastarimediatamente. Com relação a mim, esta obje ção jamais tevesignificação alguma, pois que parti de um ponto relativamentematerialista. Desejo, entretanto, submeter uma ou duasconsiderações aos que possam ser por ela atingidos.

A principal dessas considerações é que Deus não nos háconcedido faculdade alguma de que nos não devamos servirnunca, em nenhuma circunstância. O simples fato de apossuirmos é prova de que es tamos na obrigação de estudá-lae desenvolver. Verdade é que, se perdermos o critério daproporção e da razão, poderemos ser levados a abusar dessafaculdade, como de qualquer outra. Mas, repito, o simples fatode a possuirmos constitui forte razão de que nos é lícito emesmo obrigatória usar dela.

Não esqueçamos também que a pecha de "co nhecimentosilícitos", apoiada em textos mais ou menos apropriados, selançou sempre contra todos os progressos do saber humano.Lançou-se contra Galvani e a eletricidade. Lan çou-se contraDarwin, que certamente houvera sido condenado à fogueira, sevivera alguns séculos antes. Até contra Simpson, por terempregado o clorofórmio em casos de parto, ela foi lançada,sob o pretexto de que a Bíblia diz: "Parireis com dor." É fora d edúvida que um argumento de que se tem usado tantas vezes eque tantas vezes tem sido abandonado, já não pode sertomado a sério.

Todavia, àqueles para quem o ponto de vista teológicoconstitui uma pedra de tropeç o, eu recomendaria a leitura dedois livrinhos, escritos ambos por clérigos. O primeiro, dopastor Fielding Ould, se intitula - Is Spiritualism of the Devil? (OEspiritismo é do Diabo?). O outro tem por autor o pastor ArthurChamber e por título: Our selt alter death (Nós mes mos depois

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da morte). Posso também recomendar os escritos do pastorCharles Tweedale sobre essa matéria. Acrescentarei que,quando comecei a tornar públicas minhas idéias acerca destaquestão, uma das primeiras cartas de felicitações que recebifoi do hoje falecido arcediácono Wilberforce.

Teólogos há que não se limitam a fazer oposição aoEspiritismo unicamente como doutrina; que vão mesmo aoponto de dizer que os fenômenos e as comunicações provêmdos demônios, que se fazem passar pelos nossos mortos, oupor instrutores celestes. Não se pode admitir que os queemitem semelhantes opiniões tenham experimentado algumavez pessoalmente os efeitos consoladores e verdadeiramenteelevados que tais comunicaçoes produzem-nos que asrecebem. Ruskin deixou registrado que a sua convi cção acercada vida futura lhe viera do Espi ritismo, embora acrescentando,com certo ilogismo e muita ingratidão, que, tendo alcançado oque queria, nada mais tinha que ver com isso.

Considerável, no entanto, é o número - quorum pars parvasum - dos que, sem reserva alguma, podem declarar quepassaram do materialismo à crença na vida futura, com tudoquanto essa crença implica, apenas estudando o assunto. Seisso é obra do diabo, será forçoso confessar que o diabo é umobreiro muito inábil, pois que os resultados que consegue sãodiametralmente opostos aos que se deve crer que ele deseje.

2A REVELAÇÃO

Posso agora, com certo desafogo, abordar um aspectomais impessoal desta importante questão. Aludi à constituiçãode uma nova doutrina. Donde nos vem ela? Vemprincipalmente pela escrita automática, que a mão do médiumtraça, quando este a tem governado, seja pelo suposto espírito

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de um ser humano já morto, como no caso de Miss Júlia Ames,seja por um suposto instrutor invisível, como no de StaintonMoses.

Essas comunicações escritas hão sido comple tadas porgrande número de exposições feitas pelo médium em estadode transe e por mensagens dadas verbalmente pelos espíritos,servindo-se estes dos órgãos vocais do médium. Algumasvezes, até, têm vindo sem intermediário, falando os espíritosdiretamente, como nos diversos casos que o almiranteUsborne Moore refere no seu livro The Voices (As Vozes). Nãoraro também têm sido reveladas a alguns círculos familiares,por meio da mesa girante, como nos dois cas os que acimarelatei, tratando das minhas experiências pessoais. Doutrasvezes, como no caso citado por Morgan, têm sido transmitidaspela mão de uma criança.

Logo certamente se nos faz esta objeção: Como sabeisque essas mensagens vêm de fato do Além? Com o podeissaber que o médium não escreve cons cientemente, ou,admitido que isto seja improvável, que não escreve apenas,sem que de tal se aperceba, o que lhe é ditado pelo seusubconsciente? É esta uma objeção perfeitamente razoável eque devemos ter em conta diante de qualquer caso, porquanto,se o mundo viesse a encher -se de profetas sem valor, cada umalardeando suas idéias acerca do novo do mínio religioso eapoiando-as unicamente nas suas próprias afirmações,volveríamos aos obscuros tempos da fé cega.

Devemos responder que reclamamos provas cujaautenticidade podemos testificar e que não aceitamosasserções cuja veracidade se não possa provar. Ou trora sepedia ao profeta um sinal atestador do que dizia. Era umaexigência absolutamente justa e que ho je também o é. Sealguém me trouxesse uma descrição da vida em qualqueroutro mundo, sem mais credenciais que não as suas própriasafirmações, longe de colocar esse trabalho sabre a minhamesa de estudos, atirá-lo-ia à cesta dos papéis inservíveis. Avida é por demais curta para aferirmos do valor desemelhantes produções.

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Se, porém, como se deu com Stainton Moses em seusEnsinos Espiritualistas, as doutrinas apresen tadas comovindas do Além são acompanhadas da manifestação demúltiplas faculdades anormais - e Stainton Moses foi a todosos respeitos um dos mais notáveis médiuns que a Inglaterra jáproduziu - então encaro o assunto com mais seriedade.

Igualmente, desde que Miss Júlia Ames logrou, da sua vidaterrena, revelar a Stead particularidades que ele não podiaconhecer e que, depois de muitas investigações, verificouserem exatas, naturalmente qualquer pessoa se sentiráinclinada a admitir como verdadeiras outras revelações cujaexatidão se não pode provar. Assim, também, desde que umRaymond nos pode descrever uma fotografia, da qualnenhuma cópia havia chegado à Inglaterra e que depois severifica ser exatamente como fora descrita; desde que esseRaymond, por boca de estranhos, nos trans mite toda sorte dedetalhes da sua vida familiar, de talhes que seus parentesverificaram e atestaram ser exatos; fora despropositado dar -lhecrédito quando ele descreve o gênero de vida que tem noAlém, no momento mesmo em que se comunica conosco?

Ainda mais: quando Sir Arthur Hill recebe men sagens depessoas de quem nunca ouvira falarem e verifica que taismensagens são verdadeiras em todos os seus pontos, não éjusto deduzir-se que essas entidades dizem a verdade quandonos elucidam sobre as condições em que se encontram?

Conta-se por muitos os casos desta naturez a. Apenasmenciono alguns. Mas, penso que todo o sistema que elesformam, desde o fenômeno físico do simples ruído numa mesaaté a mais inspirada alocução de um profeta, constitui um todocompleto, uma cadeia cujos elos se ligam uns aos outros eque, se o extremo inferior dessa cadeia veio ter às mãos daHumanidade, foi para que esta, por seus esforços e pelo usoda razão, encontrasse o caminho a seguir até chegar àrevelação que a esperava no extremo superior.

Não mofeis do fato de lhe terem servido de iní cio as mesasgirantes ou as pranchetas a flutuarem no ar, embora essesfenômenos possam ter sido muitas vezes enganosos ou

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simulados. Lembremo-nos de que a queda de uma maçã nosdeu a lei da gravidade; de que da panela a ferver nos veio àmáquina a vapor; de que a contração da pata de uma rã abriucaminho às elucubrações e experiências que nos levaram àdescoberta da eletricidade. Do mesmo modo as gros seirasmanifestações de Hydesville deram em resul tado interessarpelo assunto a plêiade dos mais eminente s intelectuaisdaquele país, durante os últimos vinte anos, estando, a meuver, destinadas a imprimir às experiências humanas o maiordesenvolvimento que já o mundo presenciou.

Personalidades cujas opiniões têm na mais alta conta,especialmente Sir Will iam Barrett, afirmaram que ainvestigação psíquica é coisa inteiramente dis tinta da religião.Isso é incontestável no sentido de que um mau indivíduo pode,no entanto, ser excelente investigador dos fenômenospsíquicos. Mas, os resultados dessas pesquisas, as deduçõesque delas podemos tirar e as lições que podemos colher nosensinam à sobrevivência da alma, a natureza dessasobrevivência e como o nosso proceder neste mundo ainfluencia. Se isto é coisa distinta de religião, con fesso que nãocompreendo bem a distinção. Para mim, é religião, é aessência mesma da religião.

Não quer, entretanto, dizer que esses resultados virãonecessariamente a cristalizar -se numa nova religião.Pessoalmente confio que tal não se dará. Já nos achamossobejamente divididos. Antes, vejo neles a grande forçaunificadora, a única coisa provável em conexão com qualquerdas religiões, cristã ou não, formando uma sólida base comumsobre a qual cada uma delas, admitido que o deva fazer, erijaum sistema particular em correspondência com os vários tiposde mentalidades.

Efetivamente, as raças meridionais preferirão sempre, emoposição às do Norte, o que seja menos austero; as do Oesteserão sempre mais analistas do que as do Leste. Ninguémpoderá conduzir todas a uma perfeita igual dade de nível.Todavia, se forem aceitas as amplas premissas que o

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ensinamento vindo do Além nos oferece, a Humanidade teráavançado grandemente para a paz religiosa e para a unidade.

Logo, porém, esta outra questão se nos apresen ta: De quemaneira atuará o Espiritismo sobre as an tigas religiõesexistentes e sobre os diferentes siste mas filosóficos que têminfluenciado as ações dos homens. A resposta é que só a umadessas religiões ou filosofias a nova revelação seráabsolutamente fatal: ao Materialismo. Não digo isto comespírito de hostilidade aos materialistas, que, comocoletividade organizada, é tão sérios e morais coma qualqueroutra classe. Porém, é manifesto que, se o espírito pode viversem a matéria, desaparece a base mesma do materialismo,acarretando o desmoronamento de todas as suas teorias.

Pelo que toca às outras crenças, forçoso será admitir que aaceitação do ensino que nos vem do Além modificariaprofundamente o Cristianismo con vencional. Essasmodificações, entretanto, não se fariam no sentido decontradição, mas no de explicação e desenvolvimento. Aqueleensino corrigiria as graves dissensões que sempre chocaram arazão dos pensadores, confirmando e tornando absolutamentecerto o fato da continuação da vida após a morte, fundamentode todas as religiões. Confirmaria as des graçadasconseqüências do pecado, mas mostrando que elas não sãoeternas. Confirmaria a existência de seres superiores, até aquichamados anjos, e a de uma hierarquia ascendente acima depós, na qual tem seu lugar o espírito do Cristo, colocado a umaaltura do infinito a que associamos sempre a idéia de oni -potência, ou seja, de Deus. Confirmaria, enfim, a idéia de umcéu e de um estado penal transitório, ponderado mais aopurgatório do que ao inferno.

Assim, a nova revelação, na maioria de seus pon tosessenciais, não se apresenta como destruidora das velhascrenças. Ela, pais, seria recebida pelos fiéis, realmentefervorosos, de todos os credos, antes como uma aliadapoderosa, do que como um perig o inimigo engendrado pelodiabo.

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Examinemos, por outro lado, os pontos em que oCristianismo deverá ser modificado pela nova re velação.

Antes de tudo direi uma coisa, óbvia para muitos, que, noentanto, muito a deploram: o Cristianismo tem que evolver ouperecer. É lei da vida que o que não se adapta perece. OCristianismo já deferiu demais a sua transformação; deferiu -atanto que as suas igrejas já se acham meio vazias; que asmulheres lhe constituem o principal sustentáculo; que, assim,de um lado, os membros mais instruído s da coletividadehumana, como, de outro, os mais pobres, quer na cidade, querno campo, se separaram completamente dela. Procuremosdescobrir a razão deste estado de coisas. Ele é patente emtodas as seitas do Cristianismo. Deriva, portanto, de algumaprofunda causa comum.

As gentes se afastam porque francamente não podem terpor verdadeiros os fatos tais coma lhes são apresentados.Semelhante coisa lhes ofende igual mente a razão e o senso dajustiça. Ninguém, com efeito, pode vislumbrar justiça numsacrifício feita em substituição, nem num Deus cuja clemênciasó por esse meio se consiga. Sobretudo, muitos há que nãologram compreender o que signifiquem expressões como"remissão do pecado", "purificação pelo san gue do Cordeiro" eoutras.

Enquanto perdurou a questão da queda do homem, haviapelo menos, para tais frases, certa explicação. Desde que,porém, ficou demonstrado que jamais o homem caiu; desdeque, graças ao progresso da ciência, se nos tornou possívelreconstituir a nossa ascendência ancestral e, passando pelohomem das cavernas e pelo homem nômade, remontar àsépocas sombrias e distantes em que o macaco -homem evol-veu lentamente para o homem-macaco; se lançamos um olharretrospectivo sobre essa longa sucessão da vida verificamosque ela se vai sempre desdobrando passo a passo, sem queencontremos nunca qualquer prova de queda. Ora, se quedanunca houve, a que ficam reduzidas às doutrinas da expiação,da redenção, do pecado original? Numa palavra, que resta deuma grande parte da filosofia místi ca do Cristianismo?

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Dado que aquelas doutrinas tivessem sido tão racionaisem si mesmas, quanto presentemente são absurdas, elasestariam, apesar de tudo, em oposição aos fatos.

Acresce que muito exagero houve, ao que pare ce, comrelação à morte do Cristo. Morrer alguém por uma idéia não éfato fora do comum. Todas as religiões tiveram se us mártires.Constantemente morrem homens pelas suas convicções.Milhares de nossos mancebos estão fazendo isso, nestemomento, em França. Daí vem que a morte do Cristo, sublime,aliás, como a descreve o Evangelho, assumiu uma impor tânciainjustificada, como se constituísse fen8meno singularsacrificar-se um homem pela realização de uma reforma.

No meu entender, à morte do Cristo se atribuiu excessivovalor, ao passo que muito pouca se tem dado à sua vida.Entretanto, nesta é que se encontram a verdadeira grandeza ea verdadeira lição. Mesmo imperfeitamente descrita como o é,foi uma vida ande nenhum traço se descobre que não sejaadmirável; uma vida plena de tolerância para com todos, desuave caridade, de ampla moderação, de serena coragem;vida sempre votada ao progresso e aberta a todas as idéiasnovas; vida sem nenhuma nota de azedume contra as idéiasque ele realmente suplantava, se bem manifestasse justificadodesgosto ante a estreiteza de espírita e a tartufice dos que asdefendiam. Particularmente notável era nele a agudeza comque penetrava o espírito mesmo da religião, pondo de lado ostextos e as fórmulas. Não há exemplo de igual bom senso,nem de tanta simpatia para com os fracos. Em verdade, suavida foi a mais maravilhosa de quan tas se conhecem, o quenão se dá com a sua morte, que, não obstante, forma o pontocentral da religião cristã.

Consideremos agora quanta luz os nossos guias espirituaishão lançado sobre a questão do Cristianismo. Lá na Além asopiniões não são absolutamente uniformes, como não o s ãoaqui na terra. Contudo, se lê certo número de comunicaçõessobre esse assunto, vê-se que tudo se reduz a isto:Juntamente com os nossos mortos, há muit os espíritos maiselevados, variando entre eles os graus de elevação.

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Chamemos-lhes "anjos" e nos teremos aproximado da antigaconcepção religiosa.

Acima de todos esses espíritos se acha o maior Espíritoque eles conhecem e que não é Deus, pois que Deus, sendoinfinito, não lhes está ao alcance da percepção. É o espíritomais próximo de Deus e que, até certo ponto, o representa: oEspírito do Cristo. A Terra é o objeto de toda a sua solicitude.Ele a ela baixou numa época de grande depravação, numaépoca em que o mundo era quase tão perverso quanto agora,a fim de dar o exempla de uma vida ideal. Em seguida, voltou àmorada celestial que lhe é própria, tendo legado aos homensensinamentos que ainda por vezes são postos em prática. Eisa história do Cristo, conforme a narram os espíritos. Nela nadahá de expiação, nem de redenção. Encerra, porém, a meu ver,um sistema perfeitamente racional e realizável.

Se esta maneira de conceber a Cristianismo fossegeralmente aceita, tenda a corroborá -la a certeza e ademonstração que nos vêm do outro mundo pela NovaRevelação, então possuiríamos uma crença que uni ficariatodas as igrejas, que estaria de acordo com a ciência, quedesafiaria todos os ataques e sustentaria indefinidamente a fécristã. A razão e a fé se reco nciliariam finalmente; todos noslivraríamos de um pesadelo atroz e reinaria a paz espiritual.

Não entrevejo a consecução desses resultados por efeitode uma conquista rápida ou de uma violenta revolução. Elesadvirão por meio de uma penetração pacífica, do mesmo modoque certas idéias abstrusas, qual, por exemplo, a de um infernoeterno, se vão lentamente apagando, já nos tempos quecorrem. Mas, é quando a alma humana se acha trabalhada etorturada pela dor que se devem espalhar as sementes da ver -dade. Se assim fizemos, destes dias em que vivemosdespontará no futuro uma abundante colheita espi ritual.

Quando leio o Novo Testamento com o conheci mento quetenho do Espiritismo, fico profundamente convencido de que osensinos do Cristo, sob vários pontos de vista muitoimportantes, a Igreja primitiva as perdeu, de sorte que nãochegaram até nós. Todas as alusões, que ele encerra, à

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possibilidade de triunfar-se da morte, nada significam, ao queme parece, na atual filosofia cristã. Entretanto, para os que jávira alguma coisa, ainda que obscuramente, através do véuque nos encobre o mundo invisível; para os que já tocara m,ainda que ligeiramente, as mã os que se nos estendem doAlém, para esses a morte já foi vencida.

Quando ele nos fala de fenômenos que se nos tornaramfamiliares, tais como as levitações, as lín guas de fogo, asventanias, os dons espirituais, em suma - de milagres,reconhecemos que o fato capital entre todos, o da continuidadeda vida e da comunicação com os mortos, era plenamenteconhecido naquela época. Se nos deparam ditos como este:"Aqui ele não fez milagres parque o povo carecia de fé." Istonão está de perfeito acordo com a lei psíqui ca queconhecemos? Noutro ponto lemos que o Cristo, tenda sidotocado pela hemorroíssa, exclamou: "Quem me tocou? Sintoque de mim saiu uma virtude." Pudera ele te r dito maisclaramente o que um médium curador diria hoje, apenasempregando a palavra "poder" em lugar do termo "virtude"?

Mais ainda. Quando lemos: "Experimentai os es píritos,para saberdes se eles são de Deus", não en contramos aí oaviso que hoje daríamos ao neófito que quisesse tomar partenuma sessão?

Excessivamente vasta é esta questão para que me sejapossível mais do que enflorá-la. Creio, no entanto, que esteassunto, que as igrejas cristãs mais rigoristas presentementeatacam com tanto furor, constitui realmente a ensino básico dopróprio Cristianismo. Aos que quiserem ir mais longe nestaordem de idéias, recomendo muito a Feitura do livro do doutorAbraham Wallace, Jesus de Nazar é, caso não esteja esgotadaa edição dessa valiosa obrinha. Seu autor demonstra, de modoconvincente, que os milagres da Crista estavam todos nocampo de ação da psíquica, como a compreendemos hoje, ese conformavam, ainda nas menores particularidades, co m osprincípios precisos dessa lei.

Dois exemplos já foram citados. Muitos outros sãoapontados no opúsculo a que me refiro. O que me convenceu

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da veracidade da tese sustentada nele foi que, se aapreciamos de conformidade com aquela lei, a história damaterialização dos dois profetas, no monte, se nos patenteiaextraordinariamente exata. Há primeiramente a notar queJesus escolheu para o acompanharem a Pedro, Tiago e João,os mesmos que formavam o círculo psíquico na ocasião emque o morto foi chamado de novo à vida e que, provavelmente,do grupo dos discípulos, eram os mais apro priados aofenômeno. Houve depois a preferência pelo ar puro damontanha, a sonolência que atacou os três médiuns, atransfiguração, as vestes resplan decentes, a nuvem, aspalavras: "Construamos três tabernáculos", que também sepodem ler: "Construamos três tendas ou gabinetes", meio idealde se produzirem às materializações pela concentração dospoderes psíquicos.

Tudo isto compõe uma teoria muito sólida da natureza dosprocessos. Quanto ao mais, os dons que S. Paulo indica comode necessidade que o discípulo cristão reúna, em si, sãoidênticos aos que um médium poderoso deve possuir,compreendidas as faculdades de profetizar, de curar, de operarmilagres (ou fenômenos físicos), de clarividência e outros.(Epístola aos Corintios, Xll, 8, 11.)

A primitiva igreja cristã viveu saturada de Espiri tismo e nãoparece que tenha atendido às proibições do Velho Testamento,as quais objetivavam reservar esses poderes para uso eproveito do clero.

3A VIDA FUTURA

Deixando de parte este assunto, vasto e possivel mentelitigioso, das modificações que as novas reve lações poderãoproduzir no Cristianismo, tentarei esboçar o que sucede aohomem depois da morte. As provas relativas a este pon to sa-ofortes e cabais.

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Em muitos países e em épocas diversas, numero sasmensagens se têm recebido dos mortos, as quais m antêm,com referência a este mundo, grande cópia de informes cujaexatidão se verificou. Assim sendo, parece -me razoável seconsidere também coma verdade o que, de tais mensagens,escape à nossa veri ficação. Demais, deparando-se-nos umauniformidade realmente notável entre essas mensagens e nãomenor concordância nas particularidades que encerram e quede nenhum modo correspondem a q ualquer ordem de idéiaspreexistentes, julgo que com muita firmeza se pode presumirda veracidade delas. Custa -me a crer que sejam falsas vinteou trinta comunicações, recebidas de várias origens e acercadas quais possuo notas por mim mesmo tomadas,concordantes todas; nem vejo como se possa supor que osespíritos falem verdade quando tratam do nosso mundo ementem quando se referem ao em que se acham.

Ultimamente, na mesma semana, recebi duas descriçõesda vida no Atém, a primeira por intermé dio de um parentepróximo de alto dignitário da Igreja, a segunda pela esposa deum operário mecânico da Escócia. Nenhuma dessas criaturastinha conhecimento da existência da outra e as duasdescrições se assemelham tanto qu e praticamente sãoidênticas.

As mensagens, a este respeito, parecem -me infinitamentetranqüilizadoras, quer se refiram: ao nosso próprio destino,quer aos dos nossos amigos. Todos os que hão daqui partidosão concordes em dizer que a passagem para o Além é, regrageral, ao mesmo tempo fácil e sem sofrimento e seguida deenorme reação de paz e bem-estar. Cada um lá se encontrarevestido de um corpo espiritual, reprodução exata do queficou aqui na terra, com a só diferença de não apresentar aenfermidade, a fraqueza e a defor midade que havia nesteúltimo. Esse corpo espiritual, ao dar -se o desprendimento, seconserva imóvel ou flutuando ao lado do de corpo, conscienteda existência deste, bem coma da presença das pessoas queo cercam.

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Nesse momento, o morto se acha mais próximo da matériado que o estará dali per diante em qual quer ocasião. Daí vemque então é quando, principalmente, se dão os casos em que,dirigindo-se o pensamento do morto para alguém que se achedistante, o corpo espiritual acompanha o pensamento eaparece a esse alguém. Em cerca de duzentos e cinqüentadesses casos cuidadosamente estudados pelo Sr. Gurney,cento e trinta e quatro de tais aparições ocorreram no instantemesmo da dissolução, isto é, quando, ao que imaginamos, porse achar talvez o corpo espiritual ainda mu ita materializado, émais visível para os alhos humanos de uma pessoa amiga doque o será depois.

Essas aparições, todavia, são muito raras em comparaçãocom o número total dos que morrem. Ao que suponho, a maiorparte das vezes, aquele que morre se encon tra por demaispreocupada com o que de extraordinário lhe sucede em talcircunstância para pensar nos outros.

Com grande surpresa, começa por notar que, apesar detodos os seus esforços para se comunicar com os que ali vê,sua voz e seu tato etéreos nenhuma impressão causam aoorganismo humano, que só vibra de harmonia com estímulosmais grosseiros. Belo tema para especulação é o investigar seum conhecimento mais profundo dos raios luminosas quesabemos existir de cada um dos lados do espectro, ou dossons cuja realidade se pode provar pelas vibrações de umdiafragma, conquanto sejam muito sutis para ouvidos mortais,não será de molde a nos levar a mais amplos conhecimentospsíquicos.

Deixemos, porém, isto de lado e acompanhemos a sortedo espírito que se vai. Ele observa que, no aposento ondeexpirou, outras seres se encontram além dos que deixou vivasno mundo e, entre esses outros, que lhe parecem tãosubstanciais como os vivos, surgem figuras que lhe sãofamiliares e sente que Ihe apertam as mãos e lhe beijam asfaces os que ele amara e perdera. Então, na companhia destese amparado e guiado por um ser mais radioso que, também alipresente, aguardava o recém-chegado, este, cada vez mais

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surpreendido, parte, atraves sando todos os obstáculosmateriais, e entra na sua nova vida.

Aqui está uma exposição precisa e o que todos repetemcom uma persistência que nos força a crer. Como se vê, muitoisto difere do que ensina a velha teologia. O espírito não é,pois, nem um anjo glori ficado, nem um duende condenado ,mas sim a própria pessoa que daqui se foi, conservando aforça ou a fraqueza, a sabedoria ou a loucura, que lhe erampeculiares, exatamente como conserva a aparência corpóreaque tinha.

Bem se poderia acreditar que, intimidados por tãotremenda experiência, os mais frívolos e insensa tos semodificassem para melhor; porém as impres sões recebidaslogo se embotam, o natural próprio do indivíduo retoma o seuascendente no novo meio a que ele se transferiu e os frívoloscontinuam a subsistir, como o podem atestar algumas dasnossas sessões particulares.

Antes, contudo, de entrar em a sua nova vida, passa oespírito recém-chegado no Além por um pe ríodo deadormecimento, cuja extensão varia, pois que, mal existindopara uns, para outros dura semanas ou meses . Raymond dizque esse período foi para ele de seis dias. Também foi omesmo para um outro espírito, num caso de que tiveconhecimento pessoal. Por outro lado, disse Myers que muitoprolongado fora para ele o período de torpor.

Imagino que a duração desse estado é regulada pelo graude perturbação ou de preocupação mental que a vida terrenacause naquele que acaba de de sencarnar. Um repouso maisprolongado oferece o meio de escoimá -lo de taispreocupações. Uma criança provavelmente nenhumanecessidade tem de atravessar esse período. Esta última notanão passa de simples observação especulativa; considerável,porém, é o acervo de opiniões no sentido da existência de umperíodo de esquecimento, seguindo -se à primeira impressãoque o espírito recebe da sua nova vida e antecedendo omomento em que entra nela definitivamente.

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Ao despertar desse sono, o espírito se sente fraco como acriança que acaba de nascer. Logo, entretanto, lhe voltam àsforças e a nova vida começa. Isto nos leva a considerar o céue o inferno.

A idéia do inferno, posso dizer, se vai dissipandototalmente, como de há muito se dissipou da mente de todosos que raciocinam. Tão odiosa concepção, blasfematória, noseu objetivo, do Criador, se originou dos exageros dafraseologia oriental. Talvez tenha prestado serviço em erasprimitivas, quando o fogo aterrorizava os homens, como oviajante amedronta as feras.

No sentido de um lugar permanente, o inferno não existe.Mas, a idéia de punição, de castigos puri ficadores, quais os dopurgatório, o que se nos diz do Além a confirma. Sem punição,não haveria justiça no Universo, porquanto fora impossíveladmitir-se que a sorte de um Rasputin seja idêntica à de umPai Damião. O castigo é realmente certo e muito sério, se bemque, nas suas formas menos severas, consista unicamente emserem as almas mais grosseiras co locadas em esferasinferiores, sabendo que foram suas próprias ações que lhesacarretaram essa situação, nutrindo contudo a esperança deque a expiação e a ajuda dos que lhes estão acima aseducarão e elevarão ao mesmo nível das demais. A essa obrade salvação se votam em parte os espíritos mais ele vados.

Miss Júlio Ames, na sua bela obra póstuma, inseriu estasmemoráveis palavras: "A maior alegria do céu consiste emesvaziar o inferno."

Postas de parte essas esferas de provações, que antesdeveriam talvez ser tidas como hospitais para almas fracas, doque como penitenciárias, as comuni cações que nos vêm dooutro mundo são acordes em declarar agradáveis as condiçõesda vida no Além.

Dizem elas que os que se assemelham se atraemreciprocamente, que os que se amam ou têm interessescomuns se reúnem, que a existência lá é cheia de atrações eocupações e que nenhum deles desejaria de modo algumvoltar à Terra. Todas essas notícias são efetivam ente de molde

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a nos proporcionarem grande alegria e repito que não dãomotivo para uma fé ou uma esperança vagas, que, aocontrário, são amparadas por todas as leis da evidência, leissegundo as quais, sempre que muitas testemunhas, semligação alguma entre si, fazem depoimentos similares, justo ése considere como verdadeiro o que dizem.

Se no que narram falassem de almas glorificadas,instantaneamente expurgados de todas as fraquezas humanase de um constante êxtase de adoração em derredor do tronodo onipotente, poder-se-ia suspeitar que suas narrativasfossem mero reflexo dessa teo logia popular que todos osmédiuns aprenderam na infância. Elas, entretanto, divergemprofundamente de qualquer doutrina preexistente. Além disso,têm a apoiá-Ias, como já o fiz notar, não só a conformidadeque apresentam, mas também o fato de serem o resultado finalde longa série de fenômenos, todos atestados como reaispelos que cuidadosamente os observaram.

A propósito dessa questão, em geral, da conti nuação davida após a morte, poder objetar que já pela fé se tinha ciênciadela. Mas a fé, conquanto cheia de beleza quando apreciadano individuo, tem sido sempre, nos corpos coletivos, uma armade dois gumes. Tudo estaria bem, se uma só fosse à fé econstantes as intuições do gênero humano.

Fé significa crença absoluta numa coisa que se não podeprovar. Um diz: "A minha fé é isto." Outro diz: "A minha fé éaquilo." Nenhum dos dois pode provar o que afirma ser a suafé, mas contendem sempre, ou mentalm ente, ou, por fim,fisicamente. O que for mais farte se mostrará disposto aperseguir o outro, até obrigá-lo a partilhar da verdadeira fé.Porque a fé de Filipe II era forte e positiva, ele, com absolutalógica, exterminou algumas centenas de mi lhares de mouros,na esperança de que, dentre estes, os que restassem com vidaabraçariam a suprema verdade.

Presentemente, se reconhecesse não ser razoável, demaneira alguma, exigir que os outros acre ditem no que nãopossa ser provado, seriamos todas levados a observar osfatos, a meditar sobre eles e talvez se chegasse a um comum

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acordo. Essa a razão por que o movimento psíquica se mostratão importante. Ele assenta nalguma coisa de mais sólido doque textos, tradições ou intuições. E religião, de um duploponto de vista, do de dois mundos, em vez de o ser porquederive das antigas tradições de um mundo só.

Não podemos considerar o outro mundo como graciosojardim de uma praça holandesa, tão limita do que seja possíveldescrevê-lo facilmente. É provável que os mensageiros quevêm ter conosco se achem todos, mais ou menos, em estadode desenvolvimento e representem uma como vaga de vidaque se afasta das nossas praias. As comunicações,geralmente, procedem dos que daqui partiram não há muitotempo e tendem a enfraquecer -se, como é de esperar. A estepropósito vem de molde notar que as reaparições do Cristo aseus discípulos ou a Paulo se verificaram, ao que consta,quando ainda muito poucos anos haviam decorrido depois desua morte e que os primeiros cristãos nunca pretenderam tê-lovisto posteriormente.

Não são abundantes os caso s de manifestação deespíritos que tenham desencarnado há longo tempo e quedêem provas aceitáveis de autenticidade. Na vida do Sr.Dawson Roger se conta o de um espír ito que disse chamar-seMantone que pretendia ter nascido em Lawrence Lydiard e tersido enterrado em Stoke Newington , no ano de 1677. Ficoudepois claramente demonstrado que existiu um homem assimchamado e que fora capelão de Oliver Cromwell. Tanto quantoo que tenho lido me permite saber, é o es pírito mais antigo cujamanifestação se pôde registrar.

Em regra, os que nos vêm falar daqui se foram muitorecentemente. Daí se segue que os informes que obtemos nãovão além do que alcancem os co nhecimentos dos quepertenceram a uma geração anterior à n ossa, se tanto, e quenão podemos tomar como completas as informações que nosdão, mas apenas como parciais.

Que os espíritos podem ver as coisas sob aspec tosdiferentes, de conformidade com os progressos que realizemno outro mundo, é fato que Miss Júlia Ames tornou patente.

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Ela, que a princípio se mostrou impressionada pelanecessidade da fundação de um escritório de comunicações,passados quinze anos, reconheceu não haver no Além, dentreum milhão de espíritos, nenhum que ainda quisessecomunicar-se conosco, desde que já tivesse junto de siaqueles a quem amava. Miss Júlia se equivocara porque, aochegar no Além, todos os que encontrou estavam lá tambémde pouco tempo.

Parciais, pois, devem ser as narrações que con seguimos,porém, mesmo assim, são bastante substanciosas eextraordinariamente interessantes, visto que se referem aosnossos próprios destinos e aos daqueles a quem amamos.

Todos os espíritos que nos fornecem concordam em que avida no invisível é de duração limitada, que em seguida elespassam a outras fases, entre as quais aparentemente há maiscomunicação do que entre nós e o mundo espiritual. Os queestão nos planos inferiores não podem ascender aos planossuperiores, mas os que nestes se acham podem baixarlivremente ao meio daqueles.

Lá, a vida apresenta estreita analogia com a deste mundo,no que esta tem de superior. Entretanto, ao passo que esta écorporal, aquela e eminentemen te uma vida mental, isenta, porconseguinte, das preocupações de alimentação, de dinheiro,de luxúria, de sofrimento, etc., etc., votada sobretudo ao cultivodas artes, da música, de todos os conhecimen tos intelectuais eespirituais e a todos os progressos. Os seres vivem vestidos,como era de esperar, porquanto nenhuma razão há para querenunciem à decência sob as novas formas que tomam. Estasnovas formas são a reprodução fiel das humanas, masaperfeiçoadas, envelhecendo os jovens e remoçando osvelhos, quanto seja necessário a que todos ve nham a ficarnum meio-termo normal.

Vivem em comunidades, como fora de supor, desde queentre os que se assemelham há atração. O espírito masculinolá encontra a sua companheira, se bem não haja sexualidade,no sentido grosseiro da palavra, nem, portanto, nascimentos.

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Uma vez que as ligações se mantêm e que os que seacham no mesmo grau de desenvolvimento se ombreiam, lícitoé imaginar que as nações se conser vem rigorosamenteseparadas umas das outras, em bora não forme barreira postaentre elas à diversidade dos idiomas, por isso que a linguagemdo pensamento é a de que ss servem os espíritos para secomunicarem.

Da íntima ligação que existe no Além entre as almas afins,temos notável exemplo no modo por que Myers, Gurney eRoden Noel, que na terra foram amigos e colaboradores,juntamente nos transmitiram mensagens por i ntermédio daSra. Holland, que os não tinha conhecido, sendo a mensagemde cada um perfeitamente c aracterística para quem oconhecera como homem. Outro exemplo é o dos profes soresVerrall e Butcher, famosos sábios gregos, que, d e colaboração,produziram o Problema grego, analisado, em O ouvido deDionísio, pelo Sr. Gerald Balfour, que, com a sua grandeautoridade, declarou não poder tal resultado ser obtido pornenhumas outras entidades que não fossem Verrall e Butcher.

De passagem, devemos fazer notar qu e estes e outrosexemplos claramente mostram que os espíritos, ou dispõem deexcelente biblioteca a que se reportam, ou, então, possuemuma memória que, por assim dizer, os torna oniscientes. Anenhuma memória humana seria possível fazer tantas citaçõesexatas quantas se nos deparam nas comun icações insertasem O ouvido de Dionísio.

Tais são, grosseiramente traçadas, as linhas ge rais da vidano Além, na sua mais simples expressão. Dizemos - na suamais simples expressão - porque nem tudo nela é simples.Infinitos círculos inferiores se sucedem até às trevas, comoinfinitos outros se escalonam até à glória, todos progressivos,todos obedecendo a uma destinação, todos cheios de vidaativa, dos quais mal nos chegam pálidos vislumbres.

Os nossos informantes são unânimes em dizer quenenhuma das religiões terrenas leva vantagem a qualquer dasoutras, que o caráter e a pureza dos sentimentos são tudo.Concordam, porém, ao mesmo tempo, em considerar boas

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todas as religiões que inculcam a prece e recomendam quevolvamos os olhares para o Alto, de preferência a tê -los postosnaquilo que se acha ao nosso nível. Neste sentido, que não emoutro, como um amparo para a vida es piritual, todas as formasreligiosas tem a sua utilidade. Assim, bom éincontestavelmente que a tibetano passe parte da seu tempo afazer girar um cilindro de bronze, desde que isso o leva aadmitir a existência de alguma coisa mais elevada do que asmontanhas do seu país e mais preciosa do que seus bois.Nada temos que criticar nesse terreno.

Há ainda um ponto de que devemos tratar aqui e que,assustador à primeira vista, se impõe ao nosso raciocínio,quando sobre ele refletimos. É a afirmação constante que nosfazem do Além de que os que lá chegam não sabem quemorreram e que muito tempo decorre , tempo às vezesbastante longo, antes que se inteirem desse fato. Dizem todosque esse estado de desorientação é prejudicial e atrasa oespírito e são acordes em que o possuir desde aqui um certoconhecimento da verdade ora revelada ao mundo constitui oúnico meio seguro de evitar semelhante situação no invisível.

Não é de admirar que os espíritos, reconhecendo sereminteiramente diversas das que os seus conheci mentoscientíficos ou religiosos os faziam esperar, as condições emque se encontram, considerem como um sonho as novassensações que experimentam. E quanto mais rigidamenteortodoxas tenham sido suas opiniões, tanto mais difícil lhesserá aceitar o novo meio a que passaram com tudo o que eleenvolve. Por esta razão e muitas outras, a nova revelação éuma necessidade para o gênero humano. Ressalta dai comoponto de importância prática, que obra útil realizariam osvelhos enriquecendo de conheci mentos seus espíritos,porquanto, se lhes não restasse mais tempo de tirar nestemundo proveito dos mais recentemente adquiridos, eles seconservariam como parte integrante da sua bagagem mentalno outro.

Quanto às particularidades mínimas da outra vida, melhorserá talvez não tratar delas, pela excelente razão de serem

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mínimas. Conhecemos por nós mesmos, dentro em pouco; sóuma vã curiosidade nos levaria a interrogar os mortos a esserespeito.

Uma coisa é positiva: há no Al ém inteligências elevadas,para as quais é de manejo corrente a química sintética, quenão se elabora a substância como também modela as f ormas.Temo-Ias visto operar nas sessões, de maneira perceptível aosnossos sentidos materiais, servindo -se dos mais vulgaresmédiuns. Se podem executar simulacros em uma sessão naTerra, que não devemos esperar que façam quando traba lhamcom objetos etéreos, nesse éter que é o meio próprio deles!

De um modo geral se pode dizer que têm a pos sibilidadede fazer alguma coisa de análogo a tudo quanto existe naTerra. De que jeito chegam a fazë -lo pode bem não passar deconjetura e especulação para os espíritos menos adiantados,como os fenômenos da ciência moderna para nós. Se um denós fosse de súbito chamado por um habitante d e qualquermundo subumano para explicar com exati dão o que vem a sera gravidade, ou o magnetismo, como se veria desamparado!

Ficaríamos então na posição desse jovem en genheirosoldado Raymond Lodge, que tenta expor uma teoria damatéria no Além, teoria que muito provavelmente serácontraditada por qualquer outro espírito que também seentregue a conjeturar de coisas que se acham acima de suacapacidade. Perde ele estar certo e pode estar errado. O quenão sofre dúvida é que se esforça por dizer o que pensa, comoo faríamos nós mesmos em análoga circunstância. Ele crê queos químicos transcendentes são capazes de tudo fazer e quemesmo a produção de substâncias como o álcool e o tabacopode estar ao seu alcance, podendo, todavia, ser também daalçada de espíritos não regenerados.

Isto divertiu a tal ponto os críticos que, lendo -se-lhes oscomentários, se diria que aquele livro de quat rocentas páginascompactas nada mais encerra além dessa proposição.Raymond pode estar certo e pode estar errado; mas, na minhaopinião, o incidente prova tão-só a inquebrantável coragem e a

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honestidade daquele que o provocou, sabendo que espécie d earma colocava nas mãos de seus inimigos.

Muitos há que protestam porque o outro mundo, conformede lá no-lo descrevem, é demasiado mate rial para o gostodeles. Não era assim que o deseja vam. Seja! Há neste mundomuitas coisas que parecem discordantes dos nossos desejos,mas que nem por isso deixam de existir. Quando nos dispomosa examinar essa pecha de materialismo e tentamos erigir umsistema qualquer que satisfaça aos idealis tas, vemos que atarefa se apresenta dificílima. De veríamos talvez tornar-nosmeras paveias de gasosa felicidade a flutuarem no ar. Pareceque esta é a idéia de tais críticos.

Mas se lá no Além não tivéssemos corpo seme lhante aoque aqui temos, se nada conservássemos do caráter que aquinos individualiza, como desejariam aqueles crí ticos, então nosextinguíamos. Que diria uma mãe a quem mostrassem, comosendo seu filho, um ser glorioso, mas impessoal? Diria: "Estenão é o filho que perdi; quero seus cabelos dourados, seusorriso vivaz, seus modos gráceis, que eu tão bem conheço." Éisso o que ela quer isso, creio, o que terá, não todavia porqualquer sistema que de nós elimine tudo a que nos reste dematerial e nos transporte para uma vaga região de flutuantesemoções.

Em oposição a esta, há uma outra escola de críticas paraos quais a dificuldade em aceitar a vida espiritual, como nos édescrita, está em serem lá muito agudas as percepções, muitofortes as emoções e muito compacto o meio ambiente, todofeito de tão diáfano material. Lembremo -nos de que tudodepende da comparação que estabeleçamos com as coisasque nos cercam.

Se conhecêssemos um mundo mil vezes mais denso, maispesado e mais sombrio do que o nosso, facilmentereconheceríamos que a seus habitantes ele pareceria o que aTerra nos parece a nós, porquan to a força e a contextura delesseriam proporcionados ao seu habitat. Se, entretanto, oshabitantes de tal mundo se pusessem em contacto conosco,considerar-nos-iam como seres extraordinariamente aéreos,

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vivendo numa estranha atmosfera luminosa e espiri tual. Nãose dariam conta de que, estando os nossos seres de harmoniae em proporção com o nosso meio ambiente, também nóssentimos e agimos exatamente como eles o fazem.

Consideremos agora o caso de um outro domínio de vidatão acima de nós quanto abaixo estivesse à coletividadepesada de que acabamos de falar. Parecer-nos-ia também queos seres lá existentes, os espíritos, como lhes chamamos,vivem quais sombras num meio vaporoso. Não nosapercebemos de que também lá tudo é proporcionado eharmônico, de sorte que a região, onde se movem ou habitamos espíritos, parecendo-nos a visão de um sonho, é tão realpara eles como o são para nós o cenário em que nosmovemos e o meio que habitamos e que o corpo de um é tãotangível para outro espírito como os nossos corpos terrenos osão para os nossos amigos.

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PROBLEMAS E LIMITAÇÕES

Deixando, por agora, de aduzir mais amplas con sideraç8esem favor da estrutura desta revelação e das provas inegáveisda sua validade, deter -me-ei na apreciação de algumasparticularidades que me forçaram a atenção enquantoexplanava o assunto principal. A esfera onde se encontram osnossos mortos parece estar muito próxima de nós, tão próximaque de contínuo, são eles que o dizem, os visitamos durante osono.

Grande parte da serena resignação que temos observadoem pessoas que hão perdido entes caros, pessoas que,supuséramos, enlouqueceriam por efeito de tais perdas - édevida ao fato de terem visto os seus mortos. Conquanto sejacompleto o esquecimento, ao ponto de essas pessoas não

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poderem lembrar-se do que quer que lhes haja ocorridoespiritualmente durante o sono, elas experimentam grandealivio que lhes traz o seu subconsciente. O esquecimento,como disse acima, é completo; porém, às vezes, por umarazão qualquer, ele se interrompe durante uma fração desegundo: é quando o sonhador desperta do seu sonho "e nvoltoem nuvens de glória". Que se originam também os sonhosproféticos, muitos dos quais se têm realizado.

Comigo mesmo ocorreu ultimamente um desses fatos,que, embora ainda não esteja t alvez inteiramente verificado, é,mesmo assim, bastante notável. A 4 de abril do ano passado,1917, despertei com a impressão de que uma comunicação mefora feita, da qual só uma palavra ficara a me martelar acabeça. Essa palavra era - "Piave". Que me lembrasse, jamaisouvira semelhante nome. Como me soasse a guisa do de umlugar, logo que me levantei do leito fui ao meu escritórioconsultar o índice de um Atlas.

Lá encontrei "Piave" e a indicação de que assim sechamava um rio da Itália cerca de quaren ta milhas atrás dalinha de frente do exército italiano, que, então, avançavavitoriosamente. Nada haveria para mim, nessa ocasião, demais inverossímil do que ima ginar que a guerra viesse adesenvolver-se às margens do Piave e não me podia passarpela mente que qualquer acontecimento de ordem militar ali sedesse. Tão impressionado, porém, fiquei, que escrevi umanota, assinalando que um sucesso daquela natureza aliocorreria e, tendo-lhe posto a data de 4 de abril, fi -la assinarpelo meu secretário e por minha mulher, como testemunhas.

Ora, é fato histórico que, seis meses depois, toda a linhaitaliana foi quebrada, abandonou suces sivas posições àsmargens de diversos rios e se deteve próximo àquele curso dáágua, posição que, no dizer de críticos mili tares, era,estrategicamente, quase insustentável. Mesmo que nada maissuceda (estou escrevendo estas linhas a 20 de fevereiro de1918), a referencia ao nome "Piave" se acha plenamentejustificada. Presumo que algum amigo do Além me tenhaquerido avisar de futuros acontecimentos da guerra. Nutro,

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contudo, a esperança de que ele haja desejado dizer -me maisalguma coisa, de que uma estrondosa vitória dos Aliadosnesse ponto venha posteriormente justificar melhor o modoestranho por que tal nome se me meteu na cabeça.

Não faltará talvez quem clame contra esta teoria do sono,invocando como razão que os sonhos gro tescos, monstruosose absurdos que nos afligem não podem provir de uma origemelevada. Sobre este ponto tenho opinião bem definida,porventura digna de discussão. Entendo que há duas espéciesde sonhos e somente duas: os que resultam das experiênciasque faz o espírito libertado e os que provêm da ação confusadas faculdades mais íntimas que per manecem no corpoquando o espírito está ausente. Os da pr imeira espécie sãobelos, mas raros, porque não guardamos lembrança deles. Osda segunda são comuns e variados, porémextraordinariamente fantásticos ou ignóbeis. Notando o quefalta nos nossos sonhos grosseiros, podemos dizer quais sãoas qualidades de que estivemos privados e desse modo apre -ciar a parte de nós mesmos que vai com o nosso espírito.Assim é que observamos a ausência de ale gria em taissonhos, pois que vemos coisas cujo ridículo depois nos chocae que nos não divertiram. Reconhecemos tamb ém a ausênciado sentido de proporção, de ponderação e de aspiração. Emsuma, ausência de tudo o que há em nós de mais elevado e oque há de mais baixo, os sentidos do medo e das impressõessensuais, o instinto da conservação, a funcionarem com maiorvivacidade, visto que livres do governo das faculdadessuperiores.

A quem se entregue a estes estudos, a questão se impõeda limitação dos poderes dos espíritos. É freqüente ouvir -sedizer: "Se os espíritos existem, por que não fazem isto ouaquilo?" A resposta habitual é que não fazem porque nãopodem, o que no-los mostra com uma bem determinadalimitação de poderes, como se dá conosco. É o que se meafigura ter ficado muito cla ramente assinalado nasexperiências de correspondência-cruzada, nas quais diversosmédiuns escreventes, trabalhando distantes uns dos outros e

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com inteira independência, chegaram a re sultados tãoconcordantes que escapavam à possibi lidade de uma simplescoincidência.

Ao que parece, os espíritos sabem com exatidão o queimprimem nas mentes dos encarnados, mas não sabem atéque ponto penetram nestes as instru ções que lhes dão. Eintermitente o contacto deles conosco. Daí vem que, nasexperiências de correspondência-cruzada, continuamente osvemos perguntar:

"Apanhou isto?" ou: "Estava direito?" Algumas vezes têmconhecimento do que se como, por exemplo, quando Myersdiz: "Eu via o circulo, mas não estava muito certo do triângulo."É evidente, ao demais, que os espíritos, mesmo os daquelesque, como Myers e Hodgson, se relacionaram d e modoespecial com as questões psíquicas e presenciaram todos osfenômenos que se podiam produzir, se acham em dificuldadesempre que pretendem tomar conhecimento de uma coisamaterial, tal como um documento escrito. Creio que sómaterializando-se em parte poderiam consegui-lo, mas falece-lhes o poder de se materializarem.

Esta observação lança alguma luz sobre o caso célebre,tantas vezes citado pelos nossos antagonis tas, em que Myersnão logrou dizer qual a palavra ou frase que fora escrita ecolocada dentro de uma caixa selada. Evidentemente, daposição em que se encontrava, ele não podia ver o documentoe, falhando-lhe a memória, teria muito provavelmente in corridoem erro.

Penso que muitos equívocos podem ser explica dos destemodo. Já foi dito do Além, e a asserção se me afigura racional,que, quando eles se referem às suas próprias condições, falamdo que sabem e podem de pronto e com segurança discutir; aopasso que, quando insistimos, somo algumas vezes temas quefazer, em lhes pedir testemunh os de natureza terrena, osarrastamos para coisas de um outro plano, colo cando-os numaposição extremamente difícil, em que ficam sujeitos a errar.

Um outro argumento que pode ser utilizado con tra nós éeste: Os espíritos encontram a maior dificul dade em nos

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declinarem nomes, sendo isso o que torna tão vagas e poucosatisfatórias suas comunicações. Giram em volta de uma coisae não dizem nunca à palavra que cortaria a questão.

Temos exemplo desse fato numa recente comuni caçãopublicada em Light, a propósito da qual essa revista descreveos esforços feitos por um jovem oficial, morto havia pouco,para transmitir, pelo método das vozes diretas, a que se prestaa médium Mrs. Susana Harris, uma mensagem a seu pai. Nãoconseguiu dizer como se chamava. Apenas pôde indicar comclareza que seu pai era membro de Kildare Stret Club, emDublin. Procedendo-se a indagações, chegou-se a descobrir opai do oficial e por ele se veio a saber que já havia recebidoem Dublin uma comunicação do Além, informando-o de queem Londres se faziam pesquisas a seu respeita.

Não sei se o nome do indivíduo na terra é coisa puramenteefêmera, que nenhuma conexão guarda com a personalidade,e, como tal, a primeira a ser abandonada na outra vida.Possivelmente o nosso comércio com o Além é regulado porleis que não permitem seja ele muito direto, deixando o quequer que seja aos esforços da nossa própria inteligência.

Esta idéia da existência de alguma lei que torna acomunicação indireta com o Além mais fácil do que a diretaencontra forte apoio nas correspondên cias-cruzadas, em asquais as circunlocuções substi tuem constantemente asasserções. É o que verifica, na correspondência de S. Paulo,assunto do opúsculo de julho da Psychical Research Society.O nome de São Paulo tinha que ser escrito por um médiummecânico e transmitido a mais dois, separados um do outro,achando-se um destes na Índia. O espírito do Dr. Hodgson foio designado para presidir a essa ex periência. Está visto que assimples palavras "São Paulo", escritas pelos diversas médiuns,teriam bastado. Tal, porém, não se deu. O espírito teve derecorrer a toda sorte de alusões indiretas, falando a respeitodesse apóstolo em cada uma das mensagens e fazendo cincocitações de seus escritos.

Este fato exclui qualquer expl icação por mera coincidênciae é de todo ponto convincente. Mas também mostra o curioso

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processo de que se servem os espíritos: o de lançarem mão decircunlóquios em vez de irem diretamente ao fim que sepropõem. Apreenderia perfeitamente o caso quem imagi nasseum anjo cauteloso a dizer aos espíritos: "Não torneis muitofáceis às coisas a essa gente. Deixai que eles usem um poucoda inteligência própria. Se lhes fizer des tudo, tornar-se-ãosimples autômatos." Seja qual for à explicação, o fato é dignode notar-se.

Há um outro ponto, no que concerne às comu nicações dosespíritos, merecedor da nossa atenção. Refiro -me à incertezaque eles sempre revelam quanto às épocas em que osacontecimentos ocorrerão. Quase invariavelmente erram naapreciação do tempo. A idéia de tempo na terra éprovavelmente diversa da que fazem os habitantes do mundoespiritual. Daí a confusão.

Como já tive ocasião de dizer, nós gozávamos davantagem de contar, entre os que compunham o nosso grupo,uma senhora que era médium escrevente muito desenvolvida,e que se mantinha em constante comu nicação com três irmãosseus mortos na guerra. Nas mensagens que recebia deles,raramente se observavam erros com relação aos fatos, mas,por outro lado, era muito raro que as datas estivessem certa s.Todavia, uma exceção houve, muito sugestiva em si mesma.Profetizando sempre os acontecimentos pú blicos com atrasode semanas e até de meses, certa vez anunciou, com exatidãode data, o recebimento de um telegrama da África. Otelegrama fora efetivamente expedido, mas ficara retardado emcaminho, donde parece lícito inferir -se que ela podia anunciar odesenrolar de acontecimentos que se achavam em curso ecalcular o tempo que gastariam para chegarem a seu termo.Doutro parte, devo convir que confiden cialmente nos profetizoua fuga de seu quarto irmão, prisioneiro dos alemães, e que ofato se deu. Em suma, ainda não tenho opinião segura acercados poderes e limitações dos espíritos no tocante às pro fecias.

Postas de parte todas essas limitações, temos,infelizmente, que nos voltar com absoluto sangue -frio para asinteligências perversas e maliciosas que se manifestam. Quem

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quer que se haja entregado as investigações psíquicas terátido, eu o creio, casos de cruel decepção, que ocasionalmentese misturam com as boas e verdadeiras comunicações. Semdúvida, foi com referência a tai s mensagens que o Apóstoloescreveu: "Não acrediteis, ó bem -amados, em todos osespíritos; tratai de: saber se os espíritos são de Deus."

Estas palavras indicam claramente não s ó que osprimeiros cristãos praticavam o Espiritismo, como nó s oentendemos, mas que também e sbarravam nas mesmasdificuldades que nós outros. Não há o que mais perturbe doque o fato de receber alguém uma longa e conexa narrativa,cheia de minudências, e verificar depois que tudo aquilo nãopassa de um enredo. Não obstante, devemos ter em menteque, se em um caso tudo se obtém absolutamente exato, eleprevalece sobre muitos outros em que tenh a havidomistificação. Dá-se tão o que se daria com o recebiment o deum telegrama sem nenhum erro: a certeza de que houve umalinha e um aparelho que o transmitiram, embora ambos,depois, se tivessem quebrado.

Cumpre, porém, reconhecer que o fato é descon certante ede molde a levar uma pessoa a duvidar das mensagensrecebidas, enquanto a autenticidade destas não fica provada.Dessas falsas influências são parentes próximos todos asMiltons que não podem versejar, todos os Shelleys que nãopodem rimar, todos os Shakespeares que não podem pensar etantas outras personificações absurdas, que lançam o ridículosobre a nossa causa.

Ao que penso, há fraudes deliberadamente pra ticadas,assim do lado de cá, do nosso mundo, como do de lá, domundo invisível. Dizer, porém, que elas invalidamcompletamente toda a questão é uma in sensatez tão grandequanto à de pretendermos anular o nosso próprio mundoporque aí encontramos pessoas que nos desagradam.

Uma coisa posso em verdade afirmar e é que, a despeitode todas as mensagens falsas, desde que explano esteassunto, ainda se me não deparou uma que fosseblasfematória, grosseira ou obscena. Tais incidentes devem

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ser de natureza muito excepcional. Penso também que o quese alega contra o Espiritismo como causador da loucura, daobsessão e por ai adiante não passa d e asserções totalmenteimaginárias. As estatísticas dos hospícios não as justificam eos médiuns vivem tanto, em média, quanto qualquer indivíduo.Julgo, todavia, que o abuso das sessões pode esgotá -los.

Desde que, portanto, vos acheis convencido da veracidadedos fenômenos, as sessões de experimen tações físicasperderam sua razão de ser e aquele que, homem ou mulher,se ponha a sair de uma sessão para outra corre o risco detornar-se um maníaco. Aqui, como em todas as outras práticas,há o perigo da forma eclipsar a re alidade.

Aquele que se empenhe em levar sempre mais e maislonge as provas físicas pode vir a esquecer -se de que o objetoreal de todos esses fatos é, como já assinalei, dar a certezaquanto ao futuro e, quanto ao presente, a força espiritualnecessária a apreendermos devidamente a natureza transitóriada matéria e a importância absoluta do que é imaterial.

Assim, pois, a conclusão que tiro das minhas longaspesquisas da verdade é que, apesar das frau des ocasionais,que os espiritistas deploram, a des peito da desorientação dasidéias, que eles não apóiam, há no movimento espiritualista umnúcleo grande e sólido de demonstrações infinitamente maispróximas da prova positiva do que em qualquer sis temareligioso que eu conheça.

Conforme mostrei, esse movime nto surge menos comocoisa inteiramente nova do que como o resta belecimento deuma coisa já existente. Porém, para esta época dematerialismo, o resultado é o mesmo. Passaramindubitavelmente os tempos em que às opiniões amadurecidase refletidas de homens quais Crookes, Wallace, Flammarion,Richet, Lodge, Barrett, Lombroso, os generais Drayson eTurner, o sargento Ballantyne, W. T. Stead, o juiz Edmundo, oalmirante Usborne Moore, o falecido arcediácono Wilberfarce etodo um enxame de outras testemunhas, podiam serdesprezados como "coisas morrinhentas", ou como "arengasfastidiosas".

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Segundo bem o disse Mr. Arthur Hill, chegamos a umponto em que se tornou supérfluo buscar mais pro vas e emque o peso das negações recai todo sobre os que negam.Acontece mesmo que os que clamam por provas adotam comonorma não se darem ao incômodo de examinar as que jáexistem. Cada um parece entender que o assunto deve todoser considerado de novo, porque quer informar -se a seu res-peito.

O método seguido pelos nossos cont raditores consiste emagarrarem-se àquele que por último formulou a questão - nestemomento creio que é Sir Oliver Lodge - e tratá-lo como seexpendesse opiniões novas, apoiando-as nas suas própriasafirmativas, sem levarem em conta a cooperação de muit osinvestigadores que o precederam. Não é um método honestode crítica, porque em cada caso a concor dância dostestemunhos constitui o verdadeiro funda mento da convicção.

Todavia, há, de fato, casos em que um único testemunhobasta para firmá-la. Se, por exemplo, o conhecimento de forçasaté então desconhecidas nos adviesse tão -somente daspesquisas feitas pelo doutor Crawford, de Belfast, que,colocando o seu médium amador na cadeira de uma balança,com os pés isolados do chão, conseguiu observar nele u madiferença de peso correspondente ao de muitas libras (4 ) du-rante a produção dos fenômenos, resultado que obteve eregistrou com as cautelas de um espírito verdadeiramentecientífico, não vejo coma se possa vacilar. Os fenômenosestão e hão estado desde muito tempo firmemente provadospara quem quer que se mostre despido de prevenções. Sente -se que o período da investigação passou e que se abriu hámuito o da construção religiosa.

Com efeito, devêramos satisfazer -nos com a observaçãodos fenômenos, sem atentarmos no que eles significam,exatamente como faria um grupo de selvagens quecontemplasse uma instalação telegrá fica sem, se preocuparcom apreciar as mensagens que ela transmite; ou cumpre quetomemos a resolução de aplicar-nos a definir essas sutis ehábeis comunicações do Além, para com elas construirmos um

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sistema religioso, que resulte assente, pelo nosso lado, sobre arazão humana e, pelo outro, sobre a inspiração espírita?

Passou a época em que tais fenômenos consti tuíam umdivertimento frívolo. Agora se apresentam como discutívelnovidade científica. Vão tomando ou tomarão de futuro a feiçãode fundamentos de um sistema preciso de idéias religiosas, deuma parte, confirmativo dos antigos sistemas e, de outra, intei -ramente novo. As provas sobre que se apóia esse sistema sãotão abundantes que só conside rável biblioteca poderia conter .Além disso, as testemunhas dos fatos não são pessoasobscuras que vivam imersas nas sombras do passado,inacessíveis, portanto, ao nosso exame. São, ao contrário,contemporâneos nossos, homens de caráter e inteligência,respeitados por todos.

A situação, a meu ver, pode resumir -se numa simplesalternativa. Ou se admite que houve uma epidemia de loucuraque se alastrou por duas gerações humanas e dois grandescontinentes, atacando homens e mulheres que a todos osoutros respeitos se conservaram eminentemente sãos; ouentão se há de admitir que nestes últimos anos temos rece-bido, de fontes divinas, uma nova reve lação, que representa omaior acontecimento religioso verificado depois da morte doCristo (visto que a Reforma não foi mais do que uma novadisposição dada ao que já existia e não a revelação de novosprincípios) e que muda completamente o aspecto da morte e odestino do homem. Entre essas duas hipótese s nenhuma outraposição firme existe. As teorias segundo as quais noEspiritismo tudo é fraude ou ilusão não encontram provas emque se apóiem. Ou é mera loucura, ou uma revolução nasidéias religiosas, revolução que nos dá como fruto umaextrema intrepidez em face da morte e imensa consolaçãoquando sobre aqueles que nos são caros desce o véu.

Muito me apraz acrescentar aqui algumas brevesobservações práticas àqueles que reconhecem a ver dade doque digo. Achamo-nos em presença de uma manifestaçãoimensa e nova, da mais considerável de que nos dá notícia ahistória do gênero humano.

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Como usar dela? Penso ser para nós dever de honraexternar a nossa crença, especialmente aos que so frem. Feitoisto, não devemos forçar a e sim deixar que do resto seencarregue uma sabedoria mais elevada do que a nossa. Nãoqueremos subverter religião alguma. Desejamos tão -somenteatrair os inclinados à materialidade, tirá -los do vale apertadoem que se encontram e trazé-los ao cume onde respirarão armais puro e contemplarão outros vales e outros cumes. Asreligiões se mostram em grande parte petrificadas edecadentes, abafadas pelas fórmulas e sufocadas pelosmistérios. Podemos provar que não há necessidade nem deuma coisa nem de outra. Tudo o que é essencial é ai mesmotempo muito simples e muito positivo.

Os que mais claramente reclamam o nossa auxílio são osque sofreram a perda de entes amados e anseiam por entrarem comunicação com eles. Mister se faz, contudo, quetambém nisto não haja exagero. Se tivésseis um filho naAustrália, não pretenderíeis que continuamente abandonasse oseu trabalho para vos escrever extensas cartas a todopropósito. Desde que obtivestes a pro va, moderai vossasexigências. E justo que não vos deis por satisfeitos comqualquer prova sem valor; mas, se alcançastes o que desejá -veis, podeis, creio, aguardar que transcorra o breve períodoque nos separa do momento em que todos estaremos de novoreunidos.

Mantenho, presentemente, relações com treze mães quese acham em comunicação com seus filhos desencarnados. E,dos maridos dessas mulheres, aqueles que estão vivosconfirmam a exatidão da prova obtida. Ao que sei, apenas umadessas famílias já antes da guerra tinha conhecimento dosfenômenos psíquicos.

Alguns desses casos apresentam certas peculia ridadesdignas de nota. Em. dois deles as figuras dos rapazes mortosapareceram em fotografias ao lado das de suas mães. Noutro,a primeira mensagem dirigida ,à mãe do morto lhe veio ter àsmãos por intermédio de um estrangeiro, a quem o endereço damulher foi dado com a maior exatidão. Depois, as

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comunicações se tornaram diretas. Num terceiro caso, ométodo adotado para a transmissão das mensagens consistiuem fazer referências a determinadas páginas e linhas de livrosesparsos por diversas bibliotecas, compondo esses fragmentosuma comunicação. Este processa afasta todo receio de açãotelepática. Com efeito, não há possibilidade de que umaverdade seja provada por quem ainda não teve dela a prova.

Como proceder? Aí é que está toda a dificulda de. Háhomens sinceros e há fraudes. Cumpre obrar com prudência.Não vos será difícil saber até ande vão os médiunsprofissionais. Mesmo com os melho res, pode dar-se que nãoconsigais senão coisas in teiramente confusas. As condiçõessão muito enganosas. Todavia, alguns obtêm resultadosimediatos. Não podemos, pois, rejeitar as leis, porque alei atuado outro lado exatamente como deste.

Quase todas as mulheres são médiuns não de senvolvidos.Que elas experimentem a sua faculdade para a escritaautomática. Ainda aqui é necessária a maior precaução paranas não expormos a decepções, convindo guardar uma atitudereverente e devocional. Se assim fizerdes, alguma coisalograreis, porquanto do Além provavelmente alguém estaráempregando esforços correspondentes aos vosso s.

Pessoas há que condenam as comunicações sob opretexto de que embaraçam o progresso dos que daquipartiram. Nada prova que tal se dê. O que, muito ao contrário,os espíritos dizem é que se sentem amparados e fortalecidos,se conseguem comunicar-se com aqueles a quem amam.Poucas páginas conheço mais comovedoras, na simplicidadeda sua juvenil eloqüência, do que aquelas em que Raymondpinta os sentimentos dos espíritos de muitos mance bosdesejosos de se comunicarem com seus parentes e que o nãopodem fazer parque a ignorância e os preconceitos, da partedestes, opõem intransponível obstáculo. "Penoso vos é, dizele, pensar que vossos filhos morreram; entretanto, umaporção de gente assim pensa. Revoltante, porém, é ouvir estesjovens se queixarem de que ninguém jamais lhes fala da í. Istome magoa profundamente.

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Antes de tudo convém ler o que se tem escrito sobre esteassunto. Disso muito se hão descuidado não só osmaterialistas, como também os crentes. Impregnai -vos destagrande verdade. Familiarizai -vos com a inegável evidência.Deixai de lado os fenômenos e assimilai os ensinos de livrosadmiráveis como After Death (Depois da Morte) ou como SpiritTeachings (Ensinos dos Espíritos) de Stainton Mo ses. Asabras deste gênero, de valores diferentes, mas tod as formandouma média elevada enchem uma biblioteca inteira. Alargai eespiritualizai as vossas idéias. Mostrai os efeitos delas navossa. Maneira de viver. A abnegação é a chave do progresso.Realizai-o considerando-o, não como imposição de crença ouartigo de fé, mas como fato tão tangível quanto às ruas deLondres, reconhecendo que cami nhamos a passos largos parauma outra vida, onde todos serão verdadeiramente felizes, eque as únicas coisas capazes de obstarem ao gozo dessafelicidade ou de o retardarem são a loucura e o egoísmo prati -cados nestes poucos anos de passagem pela Terra.

Cumpre repetir que se a nova revelação pode parecerdestruída ora para os que sustentam os dogmas cristãos comextrema rigidez, efeito inteiramente oposto ela produz nos qu e,como sucedeu a tantos dos modernos pensadores, hãochegado a considerar toda a contextura do Cristianismo umagrandíssima ilusão. Já ficou evidenciado claramente que, entrea nova revelação e a antiga, apesar de esta se achardesfigurada pelo tempo e mu tilada pela ação do homem e domaterialismo, tantas semelhanças há que denotam ser, emgeral, o mesmo esquema de ambas e terem as duas,indubitavelmente, uma origem co mum.

Verifica-se que as idéias aceitas de uma outra vida após amorte; da existência de espíritas superiores e inferiores; deuma relativa felicidade dependente do nosso proceder; daexpiação pelo sofrimento; de espíritos guardiões; de altosinstrutores; de um infinito poder central; de círculos que,sobrepondo-se, cada vez mais se aproxim am desse centro;verifica-se, dizemos, que todas essas concepções surgem denovo, mas agora confirmadas por muitos testemunhos.

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Foram somente as pretensões à infalibilidade e aomonopólio, a hipocrisia e o pedantismo dos teó logos e ainda osritos instituídos pelos homens, que desviaram a vida das idéiasinspiradas por Deus. Foi isso unicamente o que adulterou averdade.

Não posso terminar melhor este pequeno volu me do queme servindo de palavras mais eloqüentes do que quantas eupudesse escrever e que compõem esplêndido modelo não sódo estilo como também do pensamento ingleses. Elas são dogrande pensador e poeta Gerald Massey e datam de muitosanos.

"O Espiritismo foi para mim, do mesmo modo que paramuitos outros, como que uma elevação do meu horizontemental e a entrada do céu. Foi como que a fé a se formar dosfatos. Tanto assim que a vida, sem ele, eu 'só a possocomparar a uma travessia feita, a bordo de um navio com asescotilhas fechadas, por um prisioneiro, que vivesse todo otempo alumiado pela luz de uma vela e a quem de súbito,numa esplêndida noite estrelada, permitissem subir pelaprimeira vez ao tombadilho, para contemplar o prodigio somecanismo do firmamento, flamejando a glória de Deus."

DOCUMENTOS SUPLEMENTARES

1

A OUTRA VIDA

Assinalei no texto o modo notável por que as narraçõesfeitas da vida futura, embora provenientes das mais variadas edistintas fontes, concordavam nos pontos essenciais,concordância que par vezes se estende às minudências. Adiversidade aparece nelas quando a visão, por mais completa,abrange e descreve mais de um plano. Porém as descrições

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dessa região feliz a que o comum dos mortais pode aspira rmuito conformes.

Depois que escrevi o que ficou para trás, li três novasdescrições, sem ligação alguma entre si , que confirmam o queacabo de dizer. Uma delas foi dada por A King s Counsel, noseu recente livro heard a Voice (Ouvi uma Voz), querecomendo aos pesquisadores, se bem se lhe note um fortependor para o catolicismo romano, o que m ostra quãopersistentes são em nós as primeiras diretrizes dos nossospensamentos.

A segunda se encontra no livrinho The Light on the Future(A Luz sobre o Futuro) dando, acerca do Além, informaçõesminuciosas e interessantes, obti das por um círculo sério erespeitável de Dublin.

A terceira consta de uma carta particular que me dirigiu Mr.Huber Wales e é de todas, penso, a mais instrutiva. Mr. Walesé um investigador caute loso e mais céptico do que crédulo,tanto que com incredulidade rejeitou as comunicações queconseguira obter ele próprio, por meio da escrita automá tica.Tendo lido o que eu publicara acerca das des crições feitas davida no Além, foi buscar ao seu arquiva os escritos a que tãopouco valor tinha dado outrora, quando saíram da sua pena, eeis a que a respeita me escreveu:

"Depois de ler o vosso artigo, senti -me abalado, quaseassombrado, pela circunstância de as narrati vas que mehaviam sido transmitidas, relativamente às condições daexistência após a morte, coincidirem , creio que até nasmínimas particularidades, com as que apresentastes comoresultado do colecionamento, que fizestes, de materialrecebido de várias procedências. Não descubro nas minhasprecedentes leituras o que quer que possa explicar essacoincidência. Afirmo que ainda nada lera do que t endespublicado sobre o assunta. P ropositadamente evitara lerRayrrond e outros livros semelhantes para que o que eualcançasse não se ressentisse da influência dessa leitura. OsProceedings, que há esse tempo eu tinha lido, da S. P. R., nãotratam, como sabeis, das condições da vida de além-túmulo.

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Seja como for, obtive, em épocas difer entes (como o mostramas notas que escrevia no mesmo momento), informações deque, nessa fase posterior da existência, os seres têm cor posque, conquanto imperceptíveis pa ra os nossos sentidos, sãopara eles tão sólidos como as nossos para nós; que essescorpos apresentam as carac terísticas gerais dos nossos,porém aformoseadas; que os espíritos não têm idade, nemsofrimento; que entre eles não há ricas nem pobres; que usamvestuários e se alimentam; que não dormem, se bem aquelasinformações falem de ocasional passagem por um estado desemi consciência a que dão o nome de "adormecimento",estado que, segundo me parece, se assemelha fortemente aode hipnose; que, transcorrido um período em geral mais curtado que a média da vida na terra, eles entram numa nova fasede existência; que os que se assemelham pelo pen samento,pelos gostos e pelos sentimentos, gravitam agrupados; que osesposos não se reúnem forçosamente, mas que o amor entreeles subsiste, escoimado dos elementos que, na terra, muitasvezes obstam à sua perfeita realização; que logo depois damorte terrena os espíritos passam por uma fase de repousosemi consciente, de duração variável; que são inaptos paraexperimentarem sofrimentos corporais, porém suscetíveis desentirem, por vezes, ansiedades mo rais; que o que se chamamorte dolorosa é coisa "absolutamente desconhecida" deles;que as crenças religiosas nenhuma diferença determinam nascondições do viver espiritual; que a vida para eles é, no seuconjunto, intensamente feliz, não alimentando, nenhum deles,o desejo de voltar à Terra.

"Nenhuma referência me foi feita ao trabalho" dosespíritos, tomado esse termo na acepção que lhe é própria;mas, ao que dizem os informantes, eles se interessam porvárias ocupações. Isto, provavelmente, não passa de umaoutra maneira de dizer a mesma coisa. Trabalho, entre nós,significa habitualmente "trabalhar para viver" e esse, comoenfaticamente me informaram, não é para e les o caso, vistoque são "providos", por misteriosa forma, de tudo quanto à vidareclama.

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"Também nenhuma alusão me fizeram a qualquer "estadapenal temporário". Colhi, entretanto, que os espíritos começama sua vida no Além do ponto de desenvolvimento in telectual emoral em que deixaram à vida terrena. E, pois que a felicidadedeles se baseia principalmente na simpatia, os que lá chegamem condições morais pouco elevadas, se vêem por tempomais ou menos longo privados da capacidade de apreciar essafelicidade e de gozá-la."

Acrescentarei a este último testemunho um outro livrinho,que me passou pelas mãos, intitulado Do Thoughts Perish?(Morrem os Pensamentos?). Em bora tenha guardado oanonimato, seu autor é evidentemente uma mulher de muitaexperiência e superior caráter. As datas das comunicações queo volume encerra mostram que elas foram dadas na mesmaépoca em que Raymond deu as suas, mas sem nenhumarelação com estas. Todavia, as d escrições capitais do quesentem e experimentam os man cebos que desencarnaramcomo soldados são abso lutamente idênticas às de Raymond .Que dirá a crítica hostil dessa concordância entre as narrativasde duas testemunhas absolutamente independentes uma daoutra?

2

ESCRITA AUTOMÁTICA

Esta forma da mediunidade produz o s melhoresresultados. Entretanto, pela sua natureza, é suscetível decausar decepções. Escrevemos usando nós mes mos denossas mãos, ou um poder estranho as dirige? Só pelacomunicação recebida podemos dizê -Io e mesmo assim temosque atribuir uma larga parte do resultado conseguido aosconhecimentos do nosso próprio subconsciente. Talvezconvenha mencionar aqui um caso que me pareceinteiramente probante, pelo qual pode qualquer investigador

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verificar a toda evidência que as mensagens obtidas po r essamaneira não provêm daquele que as escreve. Esse caso écitado no recente livro Man is a Spirit (O homem é um Espírito)de Mr. Arthur Hill, tendo dito chamar -se capitão James Burtono que serviu de intermediário para a comunicação. Creio seresse o mesmo médium (amador) por quem foram transmitidasas comunicações graças às quais se pode determinarrecentemente a posição das ruínas subterrâneas deGlastonbury.

"Uma semana depois dos funerais de meu pai, refereBurton, estava eu escrevendo uma carta de negócios, quandome pareceu que alguma coisa se interpusera entre minha mãoe os centros motores do meu cérebro e aquela escreveu, demodo espantoso, uma carta a que apos a assinatura de meupai, indicando que vinha dele. Fiquei completamenteperturbado. Meu braço direito e todo esse lado de meu corpose tornaram frios e dormentes. Durante um ano recebi dessascartas freqüentemente e sempre quando menos o esperava.Só as examinando com uma lente lograva inteirar -me do quecontinham. A caligrafia era microscópica. T ratavam de grandecópia de assuntos dos quais me era impossível estar a par.

"Sem que eu o soubesse, minha mãe, que residia longe demim cerca de sessenta milhas, perdera um cão que ela muitoestimava e lhe fora dado por meu pai. Na mesma noite em queisso acontecera recebi deste uma carta enviando pêsames àminha mãe e declarando que o cão agora estava com ele."Tudo o que amamos e concorre para a nossa felicidade nessemundo, disse, vem a estar conosco aqui." Um fato ocorridoanos antes do meu nascimento e que só ele e minha mãeconheciam, a respeito do qual ambos guardaram sempre omais absoluto sigilo, me foi então revelado com estarecomendação: "Dize isto à tua mãe e ela saberá que sou eu,teu pai, quem escreve." Minha mãe, que, até então, recusaraacreditar na possibilidade do fenômeno, quando ouviu de mimo que me fora comunicado, desmaiou. Daí por diante as cartasse tornaram para ela a maior consolação d e sua vida, pois queambos se amaram sempre, durante os quarenta anos que

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viveram casados, tendo-lhe a morte do marido despedaçado 0coração.

"Pelo que me to a, estou tão convencida de que meu paicontinua a existir com a sua personalidade original, como seainda se achasse a portas fechadas no seu gabinete deestudo. Ele não estava mais morto do que o estaria se vivessena América. "Comparei o estilo e a vocabulário de tais cartascom os de que uso quando escrevo, senda que me torneiconhecido como colaborador de uma revista, e nenhum pontode semelhança descobri entre uns e outros."

Mais provas existem da autenticidade deste caso, pelo querecomendo ao leitor o próprio livro donde extraí o que aquideixo transcrita.

3O ABRIGO DE CHERITON

Num dos capítulos deste volume aludi a um re cente casode poltergeist, ou seja, de manifestação de um espí ritomalévolo. Essas entidades parecem que pertencem a umacategoria inferior e que se acham mais próximas dascondições terrenas do que quaisquer outras que conheçamos.Esta relativa materialidade que apresentam as coloca muitoabaixo na escala dos espí ritos e torna indesejáveis as suas co -municações, dando-lhes, entretanto, um valor especial, par noschamarem a atenção para esses gros seiros, mas inegáveisfenômenos, que nas forçam a reconhecer que há no Universooutras formas de vida.

Tais forças, existentes nas fronteiras da terra, hão nopassado atraído ocasionalmente a atenção geral, em diversasépocas e lugares, produzindo os casos de perseguição dafamília Wesley em Epworth, do tambor d e Tedworth, dos sinosde Bealing, etc., que alarmaram o P ais durante algum tampo,representando cada um deles a atuação de forças desconhe -cidas sobre a vida humana.

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Quase simultaneamente ocorreram o de Hydes ville, naAmérica, e o das desordens de Cideville, em França, tãoassinalados que não puderam passar desperce bidos. Deles seoriginou o atual movimento espiritualista que, por meio doraciocínio, partindo das pequeninas coisas para chegar àsgrandes, das mais grosseiras para atingir as mais elevadas,dos fenômenos para alcançar as mensagens, está des tinado adar à religião as bases mais firmes sobre que ela jamaisdescansou.

Assim, por insignificantes e estúpidos que possam parecer,foram eles a origem de um amplo desenvol vimento e sãodignos de que lhes dispensemos res peitosa atenção, aindaquando os olhemos como críticos.

Muitas dessas manifestações se têm produzido nestesúltimos anos em vários pontos do globo, tra tando de cada umdeles a imprensa em tom mais ou menos zombeteiro,aparentemente convicta de que o emprego da palavra -"fantasmas" - lança o descrédito no fato e põe termo a todadiscussão. Note-se que cada um desses casos é consideradocomo fenômeno inteiramente único, de modo que o leitorcomum nenhuma idéia chega a fazer deles como parte de umconjunto de provas acumuladas. No caso particular do abrigode Cheriton os fatos se passaram da maneira seguinte:

Mr. Jaques, juiz de paz, homem educado e in teligente, quereside em Embrook House, Cheriton, perto de Folkestone,mandou fazer, defronte de sua casa, um abrigo contra osataques aéreos. Cumpre dizer que a casa era muito velha,tendo sido em. Parte construída por uma antiga fundaçãoreligiosa do décimo quarto século. O abrigo foi construído nabase de um pequeno penhasco, sendo de grés friável o fundo.Encarregou-se da execução do trabalho um em preiteiro deconstruções chamado Rolfe, a quem servia de ajudante umrapaz. Logo depois de haver encetado a obra, Rolfe se viuconstantemente molestado por punhados de areia que lheeram atirados ao rosto e que apagavam a candeia de que seservia. Imaginou que esses fenômenos fossem devidos a des-prendimentos de gases ou à eletricidade. Tão fre qüentes,

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porém, se tornaram que lhe estorvavam completamente otrabalho. Ele se queixou a Mr. Ja ques, que ouviu a história comabsoluta incredulidade.

A perseguição, entretanto, continuou aumentando deintensidade. Já agora eram rajadas de vento tão fortes quedeslocavam o material, objetos de peso considerável, taiscomo pedras e pedaços de tijolos, que passavam voando pelafrente do construtor e iam bater violent amente de encontro àsparedes. Mr. Rolfe, sempre em busca de uma explicação físicapara semelhantes fatos, foi ter com Mr. Hesketh, ele tricistamunicipal de Folkestone, homem instruído e inteligente. Mr.Hesketh visitou o lugar onde os fe nômenos se davam e osobservou por maneira a se convencer de que eramperfeitamente autênticos e inexplicáveis pelas leis ordináriasda ciência.

Um soldado canadense que se achava alojado em casa deMr. Rolfe, ouvindo deste a narrativa dos sucessos, declarouestar convencido de que o construtor tinha "macaquinho nosótão" (sic) e partiu para e abrigo, donde acabou fugindohorrorizado, tais a violência e a continuidade com que osfenômenos se produziram. A criada grave da casa tambémpresenciou o movimento dos tijolos sem que ninguém nelespusesse as mãos.

Mr. Jaques, cuja incredulidade decrescera gra dualmentediante da evidência dos fatos, foi sozinho ao abrigo, quandoninguém lá se achava. Ao sair, cinco pedras atiradas do interiorvieram bater na porta. Ele tornou a ab ri-la e viu as cinco pedrasno chão. Sir William Harrett também lá foi, mas não pôdeapreciar coisa alguma, tão pouco tempo se demorou no lugar.Eu, por minha vez, fiz quatro visitas à gruta, cada uma decerca de duas horas, porém nada de extraordinário ob servei, anão ser que a construção de tijolos estava toda esburacada emconseqüência das pedradas que recebera. As forçasprodutoras do fenômeno nenhum interesse tinham, ao queparece, nas pesquisas psíquicas, p ois que jamais semanifestaram a qualquer investigador, se bem houvessemdemonstrado sua existência e sua ação a, pelo menos, sete

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observadores e deixada, conforme eu disse aci ma, sinaisdessa ação, arrancando pedras de blocos de alvenaria decimento, destinados a formar o pa vimento, e arrumando-as empequenas pilhas cuidadosamente dispostas. A suposição deque o rapaz, ajudante do construtor, era quem se compraziaem praticar aquela malvadeza, teve que ser posta de lado,visto que o fato se dava mesmo ele ausente.

Também um conceituado cientista v isitou rapidamente olocal e pretendeu explicar que os movi mentos eram produzidospela emanação de gases dos pântanos, a que nada adiant ou.As perturbações continuam e ainda esta manhã (21 defevereiro de 1918) recebi uma carta do e ngenheiro Mr.Hesketh, dando-me informações completas dos fatos mais re -centes que lá se têm verificado.

Qual é a explicação real do caso? O que posso dizer é queaconselhei Mr. Jaques a mandar fazer escavações no lo caionde está sendo construído o abrigo. Eu mesmo procediaalgumas investigações no cume do penhasco e me convencide que a superfície do terreno ali fora há tempos revolvida atéà profundidade de cinco pés no mínimo. Deduzo destacircunstância que naquele lugar qualquer coisa foi enterrada,de longa data, sendo provável, como no caso que referi nocarpo desta obra, que exista ligação entre esse fato e o que sepassa no abrigo. Provavelmente, Mr. Rolfe, sem que o saiba, émédium de efeitos físicos. Quando se encontra no limitadoespaço da cava, está verdadeiramente n um gabinete dentro doquais seus poderes magnéticos ficam acumu lados, emcondições de serem utilizados e naturalmente algum agente,que lá também se acha, deles se aproveita. Dai os fenômenos.Quando Mr. Jaques foi sozinho à gruta, o poder deixado porMr. Ralfe, que ali passara toda a manhã, ainda não se tendoextinguido, tornou possível algumas manifestações. Esta aminha opinião. Bom é, porém, que não se seja dogmático emtais questões. Se fizerem sistemáticas escavações, conto quea história terá um epílogo.

Enquanto este livro se imprimia, chegou ao meuconhecimento um outro caso muito notável de polter geist. Não

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posso, sem trair uma confidência, revelar particularidades e osfenômenos estão em curso. O que há também de curiosoneste novo caso é que dele tive ciência porque um dos queestão sendo vítimas dos ataques invisíveis, uma senhora, leuas observações que publiquei acerca do abrigo de Che riton eme escreveu, pedindo conselho e assistência. É distante olugar onde esses novos fatos ocorrem pres entemente e porisso ainda não pude lá ir. Mas, pelas informações que heirecebido, parece que apresentam todas as características quese nos tornaram familiares e são acompanhados do fenômenoda escrita direta. Tenho sob as vistas alguns espécimes dosescritos produzidos.

Dois pastores tentaram pôr termo a essas mani festações,que por vezes são extremamente violentas, mas sem nenhumresultado. Sirva de consolação a outros que estejam sofrendotão estranhos castigos o saberem que nos muitos casos dessanatureza, cuidadosamente observados, não há exemplo de tersido causado nenhum mal físico, seja às pessoas, seja aosanimais.

Depois que escrevi o que acima se lê com relação aoúltimo caso a que me refiro, um terceiro pastor, que tem certoconhecimento das ciências ocultas, interveio e conseguiu, pormeio de ponderações feitas bondosamente e de preces, queentidade invisível prometesse não mais atormentar o dono dacasa. Resta ver até quando ficará esta em sossego.

FIM

Notas de Rodapé

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(1)-Cerca de 20 metros.(2)-Referência ao livro de Sir Oliver Lodge, assim

intitulado.(3)-Espírito perturbador, que se compraz em

manifestações ruidosas e desordenadas.(4)-Uma libra equivale a 453 gramas.